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Ciência Política TEORIAS DEMOCRÁTICAS: ESBOÇOS DE MAPEAMENTO 1 Sumário Introdução ...........................................................................................................................................2 Objetivos ..............................................................................................................................................2 1. Teoria democrática ....................................................................................................................2 1.1. Definição de democracia ...................................................................................................2 1.2. Teorias democráticas: esboços de mapeamento ...........................................................3 Exercícios .............................................................................................................................................8 Gabarito ...............................................................................................................................................9 Resumo ................................................................................................................................................9 2 Introdução Olá, seja bem-vindo (a) a mais um estudo sobre a Ciência Política. Na apostila “Outras Narrativas sobre Poder e Política” estudamos sobre poder e política, e pensando na importância de tais temas, a partir desta seremos introduzidos ao universo do debate democrático. Assim estudaremos o conceito de democracia e analisaremos o artigo Teoria Democrática Atual: Esboço de Mapeamento do professor, Luis Felipe MIGUEL, publicado na Revista Brasileira de Informação Bibliográfica. Objetivos • Conceituar democracia. • Introduzir o aluno ao contexto do debate democrático situando os diferentes autores e obras dentro do campo da teoria democrática. 1. Teoria democrática 1.1. Definição de democracia O Brasil, assim como diversos países é um país democrático, no qual a Constituição Federal de 1988 confere ao povo escolher os seus governantes, bem como interferir no que diz respeito aos seus interesses como cidadão, direitos esses que em geral são garantidos constitucionalmente, ou seja, assegurando a democracia. Mas, afinal o é democracia? A expressão democracia é a união das palavras gregas: demos que significa povo e kratos que significa poder, logo segundo o professor Adriano Gianturco, que cita o ex-presidente americano Abraham Lincoln, democracia pode ser sintetizada como poder do povo, pelo povo e para o povo. Contudo, a ideia de democracia remonta os primórdios gregos, pois os filósofos gregos Péricles, Heródoto já faziam referência ao que seria a democracia. Importante destacar que ao longo dos séculos diversos autores buscaram conceituar e classificar a democracia sendo tal definição e classificação debatida até os dias atuais. Na visão do professor Reinaldo Dias, a democracia pode ser definida como um conjugado de normas que estabelecem quem está possibilitado a adotar decisões e sobre que procedimentos. 3 SAIBA MAIS! 1.2. Teorias democráticas: esboços de mapeamento Em seu artigo “Teoria Democrática Atual: Esboço de Mapeamento”, o professor Luís Felipe Miguel mapeou o entendimento de diversos autores sobre o que é a democracia. Segundo Luís Felipe Miguel existe diversas teorias que classificam a democracia, entre as quais se destaca a divisão entre a “democracia direta” e a “democracia representativa”. Para o professor em questão ainda que democracia direta sirva como contraponto, não é capaz de orientar a mudança dos sistemas políticos da atualidade. O autor ainda destaca a classificação de democracia empírica e a racional apresentada pelo cientista político italiano Giovanni Sartori. Para Sartori a democracia empírica (descritiva) engloba as construções teóricas que visam organizar as linhas constitucionais dos regimes eleitorais ocidentais. Já a democracia racional (prescritiva), frisa todos os modelos que sinalizam as carências das democracias existentes propondo meios de aprofundamento relativo à presença dos cidadãos comuns na política. IMPORTANTE! O professor Luís Felipe Miguel, aponta ainda em seu artigo “Teoria Democrática Atual: Esboço de Mapeamento” diversos modelos de classificação sobre a democracia, tais como: 1. Democracia protetora de Bentham e James Mill: o direito de voto serve somente como segurança contra a tirania dos governantes; Para ampliar os seus conhecimentos sobre o conceito e a evolução conceitual de democracia sugerimos a leitura das seguintes obras: • Ciência Política (DIAS, 2013) • A democracia (KELSEN, 1993). • Ciência política (BONAVIDES, 2007) Para Giovanni Sartori uma conceituação ajustada da democracia deve ser descritiva e prescritiva. 4 2. Democracia desenvolvimentista de John Stuart Mill: centrado na qualificação dos cidadãos por seu aprofundamento na esfera pública; 3. Democracia segundo Jon Elster dividida em: 3.1 Concepção dominante de democracia: o processo político é apenas instrumental; 3.2 Método democrático: resume-se a um modo de associação de escolhas individuais, tidas como prévias e estabelecidas no setor privado; A 1ª vertente da contestação do método democrático é a democracia participativa: refere-se a visão de Macpherson e Held. A 2ª contestação é a da democracia deliberativa: inspirada na teoria desenvolvida por Jürgen Habermas teoria essa que nega o caráter privado da formação de escolhas, focando a necessidade do debate público. Para Jon Elster as classificações sobre a democracia enquadram se na área da democracia representativa, visto que qualquer proposta referente à democracia direta para as sociedades contemporâneas é ilusória. 4. Democracia liberal pluralista O cientista político Joseph Schumpeter em seu livro “Capitalismo, socialismo e democracia”, redefiniu o sentido da palavra democracia, redefinição essa que contribuiu para a atual concepção liberal de democracia. Segundo Schumpeter a democracia seria uma forma de suscitar uma minoria governante legítima, neste sentido o governo seria formado pela conquista dos votos populares. FIQUE ATENTO! De acordo com a teoria liberal pluralista, compete aos cidadãos formar o governo, mas não governar. Nesse sentido a teoria concorrencial favorece a uma redução do alcance da democracia, visto que para ela o resultado do processo eleitoral não aponta a formação de nenhum tipo de vontade coletiva, visto que diz A batalha de votos, diz respeito a uma competição eleitoral, ou seja, a teoria desenvolvida por Joseph Schumpeter refere-se à democracia de equilíbrio. Convém destacar que o cientista político Crawfor Brough Macpherson defendeu a democracia liberal em oposição à democracia utópica (precedente ao século XIX previa uma divisão da sociedade em classes). 5 respeito à mera soma de preferências manipuladas, preconceitos e decisões instintivas. O cientista social Marcur Olson, defensor da teoria da escola racional em seus estudos, inverteu a acusação da irracionalidade defendida por Schumpeter, pois, de acordo com Olson, a desinformação e a apatia seriam respostas racionais no contexto em que o peso do eleitor é ínfimo. Já segundo o sociólogoSeymour Lipset a apatia e o absenteísmo indicariam a satisfação do eleitor com o governo vigente. Para Giovanni Sartori a pequena participação política é a chave para a realização da democracia como meritocracia ou processo seletivo dos mais capazes a governar. Segundo William Riker a manipulação dos mecanismos decisórios interfere nos resultados eleitorais, assim a ideia de um governo do povo é imaginária. Já de acordo com a teoria poliárquica de Robert A. Dahl a presunção do desinteresse do eleitorado é relativizada, visto que o eleitor ao perceber que um de seus interesses é objeto da discussão política mover-se-á politicamente. As eleições são o ponto central da teoria poliárquica, pois elas favorecem o aumento e variedade das minorias, cujos interesses, em verdade, devem ser considerados pelos governantes. Contudo, para o cientista Luiz Felipe Miguel a corrente desenvolvida por Dahl possui defeitos, no qual um, é o traço do liberalismo e o outro, é à percepção pluralista da democracia – redução da política a um processo de escolha. SAIBA MAIS! 5. Democracia Deliberativa Desde o enfoque nos mecanismos discursos da prática política, a corrente deliberativa defendida pelo sociólogo Jürgen Habermas é responsável por incorporar uma parte do ideal participacionista. Em seus estudos, o sociólogo Habermas reproduziu as premissas dos teóricos liberais do contrato social que possibilitou o Para ampliar os seus conhecimentos sobre as transformações da democracia confira o vídeo disponibilizado pelo Instituto Legislativo Brasileiro - ILB sobre as metamorfoses de democracia segundo análise do professor Caetano Ernesto Pereira, disponível no Youtube 6 desenvolvimento da sua teoria a partir do modelo utópico da situação da fala ideal, segundo o qual não poderia ocorrer a exclusão, em consequência de tais regras: 1. Os participantes deveriam apresentar questões que tivessem relação com o debate; 2. Deveria aprecia-se a argumentação racional; 3. Os participantes têm por finalidade a busca pelo consenso. FIQUE ATENTO! 6. Republicanismo cívico Os historiadores Quentin Skinner e J.G.A. Pocock destacam-se como impulsores da revalorização do republicanismo cívico, e tal destaque deve-se principalmente a partir dos pensamentos proferidos por pensadores, como Maquiavel, Guicciardini, Cícero, Lívio, Salústio e outros. Com relação a corrente do republicanismo cívico, convém destacar que ela visa à revalorização da ação na cidade e do sentimento de comunidade defendida por filósofos como Hannah Arent. Além disso, convém destacar que uma das vertentes do republicanismo cívico desemboca no comunitarismo. A política deve buscar o bem comum, no qual o meio que une a realidade ao dever ser é o reavivamento do sentido de comunidade, com a reafirmação dos vínculos de solidariedade e identidade que unem o indivíduo ao seu grupo. De acordo com o artigo “Teoria democrática atual: esboço do mapeamento” em estudo a crítica ao comunitarismo balanceia entre censurar o liberalismo pela atomização do indivíduo (Lasch) ou assinala como incorreta a visão liberal de uma sociedade de indivíduos atomizados, indicando a continuação e a importância dos laços comunitários (Rawls). A democracia deliberativa defendida por Habermas e pelo filósofo político John Ralws busca a discussão sobre as decisões políticas, nesse sentido todas as pessoas de modo igualitário podem apresentar argumentos racionais sobre os assuntos debatidos, a fim de que afinal haja um consenso, pois durante a discussão é possível que as partes mudem suas preferências. 7 PRATIQUE! 7. Democracia participativa Segundo o doutrinador, Luiz Felipe Miguel somente em períodos eleitorais é possível perceber um maior interesse por parte dos cidadãos sobre as questões políticas, fato esse que não deveria ocorrer, visto que cada cidadão deveria ter constantemente um maior interesse sobre assuntos políticos, favorecendo assim a democracia. Nesse sentido em seu artigo “Teoria democrática atual: esboço do mapeamento” o professor Luiz Felipe Miguel destacou a diferença na atuação dos democratas participativos em relação aos participacionistas (Rousseau e John Stuart Mill). Segundo o professor Luiz, os democratas buscam fomentar a participação popular no tocante à política, ao contrário dos participacionistas que não buscam a restauração da democracia direta, mas sim a possibilidade de aperfeiçoamento da representação por meio da qualificação política de cada cidadão. Assim, de acordo com a teoria participativa, a democracia é vista e apreciada como um processo educativo. IMPORTANTE! 8. Multiculturalismo ou política da diferença A corrente do multiculturalismo floresceu nos campos acadêmicos norte- americanos, que a partir de uma análise social nas sociedades contemporâneas, Em seu artigo Teoria democrática atual: esboço do mapeamento, o professor Luiz Felipe Miguel destacou as classificações sobre a democracia na visão do filosofo Michael Walzer. Assim confira no artigo em estudo como Michael Walzer classificou as correntes relativas a democracia. Em suma a democracia participativa destaca as necessidades de aumento dos espaços da decisão coletiva na vida diária, não devendo ser limitada ao período eleitoral, mas que cada cidadão participe ativamente no seu dia-a-dia da política. 8 constatou-se a diversidade de valores e estilos de vida, e devido tal diversidade, em diversos casos, fomenta os conflitos. O multiculturalismo defende a relevância e legitimidade na atuação de cada grupo no campo da política. Segundo tal corrente, existem grupos denominados dominados e os oprimidos, no qual o grupo dominado designa as condições institucionais que evitam a participação do indivíduo na determinação de suas ações. E o grupo oprimido diz respeito aos processos institucionais que obstam que os indivíduos desenvolvam suas capacidades. Em consequência disso, ambos os grupos necessitam ser protegidos e terem seus direitos resguardados. O multiculturalismo tem como premissa, a afirmação das características distintas de diferentes grupos que existem em uma sociedade, sendo o seu foco produzir uma teoria da justiça. EXEMPLO Em seu artigo “Teoria Democrática Atual: Esboço de Mapeamento” o professor Luíz Felipe traçou um paralelo sobre as distintas vertentes sobre a democracia, bem como o significado e as possibilidades da democracia. Ao final de seu estudo o professor percebeu que as vertentes estudadas não são capazes de esgotar a teoria democrática contemporânea, pois não possuem fronteiras definidas entre si. O artigo em verdade contribui como guia de estudo para a atual situação da teoria democrática, por isso antes de finalizamos é importante destacar que segundo o jurista Luigi Ferrajoli todos os direitos fundamentais, além de direitos individuais são poderes e contra-poderes sociais capazes de equilibrar e os poderes das maiorias, garantindo efetividade à representação política. Exercícios 1. Explique a teoria poliárquica segundo Robert Dahl. 2. Considerando as distintas correntes democráticas é correto afirmar: Países como Austrália e Canadá constituídos a partir de diferentes povos, são conhecidos mundialmente como multiculturais. 9 a) Para Marcur Olson defensor da teoria da escola racional a desinformação e a apatia seriam respostas irracionais no contexto em que o peso do eleitor é elevado.b) Segundo o sociólogo Giovanni Sartori a apatia e o abstenseísmo indicariam a satisfação do eleitor com o governo vigente. c) Para o cientista político Seymour Lipset a pequena participação política é a chave para a realização da democracia como meritocracia ou processo seletivo dos mais capazes a governar. d) Segundo William Riker a manipulação dos mecanismos decisórios interfere nos resultados eleitorais, assim a ideia de um governo do povo é imaginária. 3. Qual é a premissa do multiculturalismo? Gabarito 1. De acordo com a teoria poliárquica de Robert A. Dahal a presunção do desinteresse do eleitorado é relativizada, visto que o eleitor ao perceber que um de seus interesses é objeto da discussão política mover-se politicamente, sendo as eleições é o ponto central da teoria poliárquica, visto que as eleições favorece o aumento e variedade das minorias, cujos interesses em verdade devem ser considerados pelos governantes. Contudo, para o cientista Luiz Felipe Miguel a corrente desenvolvida por Dahal possui defeitos, no qual um é o traço do liberalismo e o outro é à percepção pluralista da democracia – redução da política a um processo de escolha. 2. d) Segundo William Riker a manipulação dos mecanismos decisórios interfere nos resultados eleitorais, assim a idéia de um governo do povo é imaginária. 3. O multiculturalismo ou política da diferença tem como premissa a afirmação das características distintas de diferentes grupos que existe em uma sociedade, sendo o seu foco produzir uma teoria da justiça. Resumo Nesta apostila tivemos a oportunidade de conhecer a origem e definição da democracia, como sendo a união das palavras gregas: demos, que significa povo, e kratos, que significa poder, ou seja, poder do povo. A definição de democracia foi essencial para que juntamente com o professor Luís Felipe Miguel pudéssemos esmiuçar o seu artigo Teoria Democrática Atual: 10 Esboço de Mapeamento e assim estudarmos as distintas vertentes teóricas referentes a democracia. Vimos que a “Democracia protetora de Bentham e James Mill” fala sobre o direito de voto contra a tirania, que na “Democracia desenvolvimentista de John Stuart Mill” é essencial a qualificação dos cidadãos na esfera pública. Já a “Democracia segundo Jon Elster” pode ser dividida em “Concepção dominante de democracia” e “Método democrático”. Para Jon as classificações enquadram se na área da democracia representativa. A " Democracia liberal pluralista” diz que compete aos cidadãos formar o governo, mas não governar. O que favorece uma redução do alcance da democracia. Na teoria poliárquica a presunção do desinteresse do eleitorado é relativizada e as eleições são o ponto central. Porém para Luís Felipe Miguel possui defeitos, no qual um, é o traço do liberalismo e o outro, é à percepção pluralista da democracia – redução da política a um processo de escolha. Ao estudarmos a “Democracia Deliberativa”, vimos que a vertente busca a discussão sobre as decisões políticas, para que todas as pessoas de modo igualitário possam apresentar argumentos racionais sobre os assuntos debatidos, para enfim chegar a um consenso. Vimos ainda que a teoria do “Republicanismo cívico” visa à revalorização da ação na cidade e do sentimento de comunidade. A “Democracia participativa” defende a necessidade do aumento dos espaços de decisão coletiva, não se restringindo ao período eleitoral, mas que possa haver participação ativa dos cidadãos na política. E, por fim, vimos que a vertente do “Multiculturalismo” defende a relevância e legitimidade na atuação de cada grupo na política, assumindo que há diversos grupos na sociedade e intentando produzir uma teoria de justiça. 11 Referências bibliográficas BONAVIDES, Paulo. Ciência política. São Paulo: Malheiros, 2007. DIAS, Reinaldo Ciência Política – 2. ed. – São Paulo: Atlas, 2013. FERRAJOLI, Luigi, Poderes selvagens: a crise da democracia italiana; (tradução Alexander Araujo de Souza). – São Paulo: Saraiva, 2014 (Coleção saberes críticos). GIANTURCO, Adriano. A Ciência da Política - Uma Introdução. Rio de Janeiro: Forense, 2017. KELSEN, Hans. A democracia. São Paulo: Martins Fontes, 1993. MIGUEL, Luis Felipe. Teoria Democrática Atual: Esboço de Mapeamento. in Bib, São Paulo, n. 59, p.5- 42, set. 2005.
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