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TRABALHO RESENHA ECONOMIA POLÍTICA DO AJUSTAMENTO BRASILEIRA AOS CHOQUES DO PETRÓLEO: UMA NOTA SOBRE O PERÍODO 1974/84

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ECONOMIA BRASILEIRA
		
RESENHA 2
A ECONOMIA POLÍTICA DO AJUSTAMENTO BRASILEIRA AOS CHOQUES DO PETRÓLEO: UMA NOTA SOBRE O PERÍODO 1974/84.
 Albert Fishlow
Albert Fishlow diz que o crescimento conseguido durante o “milagre” econômico aproveitou-se de uma capacidade acumulada, com baixas taxas de poupança e investimento fixo. Fazia-se necessário, para sustentar a taxa de crescimento anual de 10% a.a, aumentar a taxa de poupança dada às mudanças estruturais que a economia teria que sofrer. Esse aumento da precisão de poupar conflitava com o incentivo ao consumo de bens duráveis que tinha sido uma característica importante dos anos do milagre.
As importações aumentavam e, no curto prazo, se acentuavam pela escassez crescente de insumos no mercado doméstico e por uma taxa de câmbio que estava sobrevalorizada. Depois de vários anos de inflação declinante, para o qual contribuía o fato de o crescimento dos salários serem inferiores a produtividade, o Brasil viu aquela situação se reverter.
Veio unir-se a esses problemas econômicos um novo; o aumento do preço do petróleo, que em outubro de 1973 após a Guerra do Yom Kippur elevou-se significativamente. Essa era realmente uma questão importante para o Brasil, já que o país dependia da importação de petróleo pra suprir cerca de 80% de sua necessidade energética. O aumento dos gastos para importar petróleo fez com que o país reduzisse as importações de outros insumos necessários ao crescimento do país como máquinas e equipamentos.
Geisel assume o governo em 1974 e procura solucionar essas influências da crise do petróleo no Brasil, ressaltando-se três fases distintas:
I) Esforçou-se em desaquecer a economia com medidas de ampliação de política monetária e fiscal ortodoxas em 1974;
II) Em seguida adota uma estratégia mais agressiva de desenvolvimento em médio prazo, objetivando atingir o duplo objetivo de sustentar taxas elevadas de crescimento ao mesmo tempo em que se geravam os ajustamentos ao choque do petróleo;
III) E, por conseguinte, foi realizada uma política macroeconômica do tipo stop-go, destinada a manter a inflação dentro de certos patamares e que exigia uma intensa preocupação com o desequilíbrio externo. Os resultados não foram inteiramente ruins, pois a taxa média de crescimento entre 1974 e 1978 foram em média 7%, esse desenvolvimento ocorreu em um momento onde as taxas de crescimento dos países industrializados tinham caído pela metade do nível de 1962/73.
O objetivo do governo Geisel era de canalizar a reação popular, para entender essa interação e a força das restrições subjacentes, exigem-se uma análise mais detalhada de cada um dos três períodos e suas diferentes prioridades.
Inicialmente Geisel tentou resolver o problema de excesso de demanda, durante a quase totalidade de 1974, as políticas fiscais e monetárias foram moderadamente contracionistas, taxa de crescimento da oferta de moeda foi reduzida para 33%, o fluxo de caixa do tesouro registrou um amplo e não planejado superávit.
Tais medidas se deram em resposta a evidencias de superaquecimento e pressões inflacionarias, e atuavam como um corretivo modesto que não envolveu uma estratégia para se atingir um crescimento acelerado no novo contexto econômico internacional, com equilíbrio interno e externo.
No início de 1975 decidiu-se retomar o crescimento econômico brasileiro. Essa opção era possível por duas razões, em primeiro lugar, uma inflação mais alta era domesticamente tolerável por causa da indexação generalizada; e, em segundo, um balanço de pagamentos mais fraco não deteria o crescimento na ocasião dado as novas condições do mercado financeiro internacional (bastante liberais em função da reciclagem de petrodólares).
E por vez, a fórmula salarial, parecia garantir os salários reais da correção inflacionária, ou seja, quanto maior era a inflação para o período fixo entre ajustes, menor seria o salário real.
Inúmeras restrições as importações foram adotadas ao longo do ano, sem qualquer efeito. Boa parte das compras antecipava a alta dos preços externos, o que colaborava para a sua efetivação.
Poucos expressavam preocupação, ao invés o financiamento externo tornava-se crescentemente um instrumento que satisfazia múltiplos objetivos. Pois ele amortecia as pressões inflacionárias internas herdadas de 1973. 
Também porque importações abundantes e relativamente baratas poderiam sustentar altas taxas de investimentos fixos, possibilitando o acesso a equipamentos necessários ao crescimento. Pode-se ainda destacar a poupança externa que resolveu o dilema do financiamento insuficiente para elevadas taxas de crescimento. Ambiciosas metas de crescimento ficaram compatíveis com elevação do consumo, já que não havia mais a necessidade de poupança doméstica.
A estratégia de Geisel para financiar o desenvolvimento brasileiro era utilizar capital estrangeiro (endividar o país). Contudo, o II PND inicialmente trazia algo diferente, sua estratégia de crescimento rápido liderado pela substituição das importações nos setores de bens intermediários e de capital, mas com a devida consideração às exportações, deu atenção apenas parcial a crise do petróleo e subestimou sua magnitude. 
O novo estilo de crescimento industrial continuou a ser propagado como favorável ao setor privado nacional em comparação com empresas estrangeiras. Seria reforçada a capacidade das empresas nacionais para participarem de grandes empreendimentos e, quando isso fosse impossível, o Plano via as estatais como a contrapartida nacional. Essa estratégia tinha claras raízes no estruturalismo brasileiro, que embora parcialmente obscuro, estava longe de ter sido erradicado.
O autor acredita que contrastando a ênfase heterodoxa do Plano, sobre o crescimento econômico e os controles do Estado com uma política mais convencional de ajustamento de mercado a elevação dos preços do petróleo. Uma resposta ortodoxa teria implicado aumentar os preços domésticos de energia até o nível de preços externos. 
Os estruturalistas que então dominavam a economia brasileira discordavam de tal programa em cinco aspectos importantes. Por um lado, confiar na desvalorização presumia respostas significativas das exportações e das importações a variação dos preços, e muitos formuladores de política no Brasil tinham confiança limitada na capacidade de absorção da demanda externa. De outro lado, os estruturalistas tomavam como bastante baixas as elasticidades das substituições internas, sendo que a elasticidade do petróleo era considerada inelástica. Em terceiro lugar, a indexação converteria a mudança inicial de preços em inflação generalizada. Juntamente com uma política monetária contracionista para desestimular a demanda reduziria a produção industrial pelo racionamento de capital. Finalmente, as maiores taxas de juros induzidas pela restrição de crédito no gerariam poupança adicional, mas poderiam desestimular o investimento real.
Geisel falhou ao dar demasiada significância à substituição de importações como forma de aliviar a restrição de divisas. E também por que a expansão do setor público impôs um crescente financiamento do déficit, proveniente de recursos externos. O Estado ampliou-se, mas se tornou economicamente mais fraco.
Pois, a substituição só funcionava no curto prazo para melhorar a situação do balanço de pagamentos, quando exige significativa margem de capacidade ociosa a ser explorada a realidade brasileira era outra. O país chegou a 1974 com maior nível de utilização da capacidade instalada de todo pós-guerra. Além disso, o Plano previa a entrada em áreas inteiramente novas, não se limitando a expandir a participação doméstica nas áreas tradicionais. A substituição das importações só poderia ocorrer desta forma, ao custo inicial de maiores importações.
Essa estratégia de industrialização que primeiramente visava ampliaro papel do setor privado terminou com uma imprevista participação do setor público. O Estado teve de canalizar recursos para as empresas privadas, subsidiando investimentos considerados necessários. A crescente centralidade do poder e a crescente dependência do destino do setor privado em relação às decisões governamentais, sobre as quais os empresários tinham controle mínimo, tornaram-se insustentáveis.
Ao final de seu mandato, Geisel adotou políticas mais moderadas de contenção, combinando instrumentos monetários e fiscais keneysianos para a política macroeconômica como instrumentos de controle administrativo.
As entradas de capital financiavam não apenas o déficit em conta corrente, mas também a acumulação de reservas. Taxas de juros mais altas contribuíam para dividir ainda mais os mercados de capital e crescia a demanda por crédito subsidiado. 
Os esforços para reduzir os gastos das estatais não foram inteiramente efetivos, e esses déficits eram cobertos por empréstimos externos, especialmente em 1978. O pagamento de juros indexados sobre a dívida pública passou a ser uma parcela crescente das obrigações totais.
Fishlow acredita que alguns retornos existiram como o aumento das exportações, devido principalmente a elevação do preço do café.Não existia, um mecanismo que assegurasse incentivos crescentes para penetrar nos mercados externos. Embora as exportações continuassem a crescer no período 1974/78. Um aumento vigoroso das exportações era um componente necessário da estratégia de ajustamento. As restrições às importações e sua substituição eram limitadas quanto ao montante de divisas que podiam ser liberadas para atender a crescente divida externa.
Durante esses anos o país tornou-se mais vulnerável, já que sua participação na economia mundial era cada vez mais assimétrica, sua integração no total mundial da divida era grande e sua participação no comercio mundial era pequena.
Há a necessidade de uma rápida e firme combinação de esforços, excluindo-se a hipótese de uma única alternativa, para enfrentar o ambiente externo mais desfavorável. Tapar os buracos foi atitude que permitiu manter os desequilíbrios resultantes dentro de certos limites, sem nada fazer para corrigi-los. Mas essa medida política foi suficiente para sustentar uma tranqüila transição para o governo Figueiredo, o sucessor escolhido. Geisel manobrou com sucesso as oposições que surgiram, assegurando a continuidade da abertura política. A nova administração podia procurar resolver o problema do ajustamento econômico.
O principio básico do governo de Figueiredo era restaurar o papel das forças de mercado e intensificar a efetividade dos instrumentos de política. Simonsen, ministro, propôs as seguintes medidas:
I) Que fossem feitas transferências fiscais explicitas para cobrir os subsídios, em lugar de seu tratamento implícito no Orçamento Monetário;
II) Exercer maior controle sobre a despesa, incluindo os dispêndios das estatais;
III) Gradual redução dos subsídios para as exportações;
IV) Modesta liberação das restrições para a importação;
V) Desaceleração do crescimento, que seria um preço temporário para a reorganização da economia brasileira.
A proposta de Simonsen gerava novas pressões inflacionarias e a tendia a uma recessão, Simonsen foi, então, substituído pelo ministro Delfim Netto.
Delfin Tentou recriar o “milagre” econômico, mas fracassou logo. Numa reversão, ele abandonou completamente suas iniciativas heterodoxas de 1979, optando pela austeridade ortodoxa em novembro de 1980. Depois de anos de insistência de que era impossível a recessão no Brasil, ela finalmente ocorreu, e foi mais duradoura do que tinha sido antecipada, em parte devido à extensão da deterioração da economia internacional.
Delfin Netto corajosamente delineou um programa para reduzir a inflação, ao mesmo tempo em que se estimulava o crescimento. Do lado real, as principais prioridades seriam para energia e agricultura, sendo que esta recebeu mais atenção e representava as esperanças da política. O rápido crescimento da agricultura reduziria o nível dos preços dos alimentos e conseqüentemente seu peso sobre a inflação geraria também exportações para assegurar o serviço da divida. 
A especial mistura heterodoxa de Delfin fracassou em 1979/80 por quatro razões:
I) Ela continha uma dose muito grande de excesso de demanda, o déficit público era entre 5 e 7% do PIB;
II) foi à lei salarial de 1979, que introduziu os reajustes semestrais, a agitação trabalhista, pressionou o governo a encontrar um novo esquema;
IIi) o monetarismo internacional não podia contar com uma pronta oferta de importações para disciplinar as elevações domésticas dos preços, conforme exigia a teoria;
IV) E finalmente, aquele não era o momento de reverter expectativas inflacionarias. 
Para Fishlow, uma política mais cautelosa teria evitado o desempenho do balanço de pagamentos, ao mesmo tempo em que se teria mantido a credibilidade interna.
As políticas eram voltadas para curtíssimo prazo e alteradas com freqüência. O governo falhou em limpar a malha de subsídios fiscais herdados do passado, estabelecendo em seu lugar verdadeiras prioridades. Delfin permaneceu no cargo porque não havia nem mesmo capacidade governamental para definir uma estratégia alternativa.
Quando o programa do Fundo foi formalizado, ele incorporou o alivio relativo que tinha sido solicitado aos bancos privados. O Brasil obrigava-se a conseguir um superávit comercial em 1983, o que foi obtido a custo de outra queda do produto, dessa vez maior do que em 1981. Outra exigência foi a de que a lei salarial deveria ser mudada. O programa do Fundo provocou críticas internas que afirmavam ser ele uma resposta inadequada às dificuldades do país.
Figueiredo tentou mostrar que o desempenho da economia brasileira era superior ao de outras latino-americanas e que havia uma modesta recuperação liderada pela exportação de manufaturados em 1984. Mas isso não foi suficiente e contribuíram para a perda do controle político de seu governo.
Coube a Tancredo Neves o papel de desenhar uma nova fase para a economia brasileira.
CONCLUSÕES FINAIS SOBRE A OBRA
Ao analisar o texto de Fishlow, pude concordar com pontos por ele destacados em seu texto como o de que o Estado brasileiro era muito fraco para comandar sozinho o processo de desenvolvimento econômico. As estatais eram um instrumento direto, mas falharam ao depender tanto de capital internacional. Apesar de o endividamento ser um componente desejável do ajustamento, mas não como um resíduo, eventualmente desordenado, do balanço de pagamentos.
Fica claro que o Estado tem papel fundamental nesse processo, mas poderia ter se dado de forma diferenciada. Acredito que a forma como as decisões que por este foram tomadas é que colocaram a economia brasileira em tal situação.

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