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POSITIVISMO JURÍDICO - BOBBIO

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POSITIVISMO JURÍDICO – BOBBIO
Norberto Bobbio
(Filósofo, escritor e senador vitalício italiano )
1909 - 2004
Filósofo, escritor e senador vitalício italiano nascido na cidade industrial de Turim, norte da Itália, considerado um dos filósofos mais importantes do século 20 e chamado pelo presidente italiano, Carlo Azeglio Ciampi, de mestre da liberdade. Filho de Luigi, um médico cirurgião, e de Rosa Cavilia, foi educado (1919-1927) no Ginnasio e depois no Liceo Massimo d'Azeglio, em Turim. Estudou Giurisprudenza na Università di Torino (1927-1931), formando-se em Filosofia e Direito. Estagiou em Marburg Alemanha (1933) e voltando a Turim, especializou-se (1932-1933) em filosofia defendendo a tese Husserl e la fenomenologia e, no ano seguinte, obteve a livre docência em filosofia do direito. Chegou a ser detido, por sua oposição ao regime fascista (1935), acusado de integrar o grupo Giustizia e Libertà, período em que começou a escrever suas primeiras obras filosóficas. Ensinou na Facoltà di Giurisprudenza na Università di Camerino (1937-1938) e, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) atuou no movimento de resistência antifascista e integrou o Partido de Ação, grupos de radicais de esquerda que mais tarde ajudaram a moldar a política pós-guerra. Neste período foi professor na Università di Siena (1939-1942) e, em seguida, ensinou na Università di Padova e casou-se com Valeria Cova (1943). Alternando períodos entre Turim e Pádua, voltou definitivamente para a sua terra natal (1948) para assumir a cadeira de Filosofia do Direito na universidade local, lá permanecendo por quase duas décadas e meia. Com uma larga produção bibliográfica mudou-se (1972) para a recém fundada Facoltà di Scienze Politiche di Torino, onde continuou sua intensa atividade intelectual. Iniciou em seu país (1975) um debate sobre socialismo, democracia, marxismo e comunismo, que influenciou as novas gerações de toda Europa. Foi nomeado senador vitalício (1984-2001) pelo então presidente (1978-1985) Sandro Pertini. Nos anos 90, quando foram abertos alguns arquivos da era fascista, foi encontrada uma carta dele ao líder fascista Benito Mussolini (1883-1945), na qual o filósofo elogiava o regime fascista, mas seus defensores afirmaram que a carta era a única forma de o intelectual salvar sua pele na época. Também nos anos 90 foi considerada a possibilidade de ser candidato à presidência italiana, um cargo de pouco poder político, mas de grande autoridade moral. Professor benemérito da Universidade de Turim, onde deu aulas de Filosofia do Direito, Ciências Políticas e Filosofia da Política durante várias décadas, escreveu para vários jornais e revistas, incluindo o Corriere della Sera, principal diário do país. Ao longo de sua carreira, escreveu centenas de livros, ensaios e artigos. Um de seus livros mais importantes foi Política e Cultura (1955) que vendeu mais de 300 mil cópias só na Itália e foi traduzido para 19 idiomas. Também foi sucesso internacional seu ensaio Destra e Sinistra (1994), uma de suas obras mais vendidas, e De Senectute e altri scritti autobiografici (1996). Recebeu o título doutor honoris causa diversas vezes, na Itália e em outros países. Viúvo (2003) depois de 60 anos de casamento, morreu no hospital Molinette, em Turim, onde esteve internado por mais de um mês com problemas respiratórios, aos 94 anos. 
Estudos realizados – 1960-1961
- H.L.A.Hart
- Alf Ross – Direito e Justiça
PARTE I – AS ORIGENS HISTÓRICAS DO POSITIVISMO JURÍDICO
Direito Natural e direito positivo no pensamento clássico
A expressão positivismo jurídico não deriva daquela de positivismo em sentido filosófico.
Positivismo jurídico = direito positivo em contraposição a expressão direito natural.
Todo pensamento jurídico ocidental é dominado pela distinção entre direito positivo e direito natural 
Os gregos (Platão e Aristóteles) já possuíam a necessidade de conceituar e distinguir as referidas correntes
- aquilo que é por natureza
- aquilo que é por convenção ou posto pelos homens.
Dois são os critérios pelos quais Aristóteles distingue o direito natural e o positivo:
1) o direito natural é aquele que tem em toda a parte a mesma eficácia enquanto o direito positivo tem eficácia apenas nas comunidades políticas em que é posto;
2) O direito natural prescreve ações cujo valor não depende do juízo que sobre elas tenha o sujeito, mas existe independentemente do fato de parecerem boas a alguns ou más a outros. Prescreve ações cuja bondade é objetiva.
O direito positivo é aquele que estabelece ações que são reguladas por lei (aquilo que é correto e necessário)
No direito romano “jus gentium” e o “jus civile, o primeiro natural e o segundo positivo."
Nessa linha o direito natural é imutável e o direito positivo mutável
- o direito natural é universal e imutável enquanto o civil é particular (no tempo e no espaço)
- do direito natural estabelece aquilo que é bom enquanto o civil estabelece aquilo que é útil; o direito natural funda-se num critério moral e o direito positivo num critério econômico e utilitário.
(Antígona – Sófocles)
2. Direito Natural e Direito Positivo no pensamento medieval
Séc. XI – Abelardo: direito positivo = direito posto pelos homens
Direito natural = não é posto pelos homens, mas por algo ou alguém que está além dos homens, como a natureza (ou Deus)
Essa distinção é utilizada pelos teólogos, filósofos e canonistas deste período.
3. Direito natural e direito positivo no pensamento dos jusnaturalistas dos sécs XVII e XVIII
A distinção mais importante entre direito positivo e direito natural é devida a Grócio.
O direito natural é um ditame da justa razão. Os atos em virtude dos quais decorrem a justa razão são obrigatórios ou ilícitos por si mesmos.
O direito civil é aquele derivado do poder civil (compete ao Estado) e tem por fim gozar os próprios direitos e buscar a utilidade comum.
4. Critérios de distinção entre direito natural e direito positivo.
Critérios de distinção:
antítese universalidade/particularidade
antítese imutabilidade/mutabilidade (Aristóteles não considera que o direito natural é imutável; ele acredita na mutabilidade dos direitos naturais)
fonte do direito e funda-se na antítese natura-potestas populus;
o direito natural é aquele que conhecemos através de nossa razão – concepção racionalista da ética; direito positivo é uma declaração da vontade alheia
os comportamentos regulados pelo direito natural são bons ou maus enquanto àqueles regulados pelo direito positivo assumem uma certa qualificação porque foram disciplinados de certo modo pelo direito positivo
direito natural estabelece aquilo que é bom e o direito positivo aquilo que é útil.
PRESSUPOSTOS HISTÓRICOS
Até o final do século XVIII o direito foi definido em duas espécies: natural e positivo;
Na época clássica o direito natural não era considerado superior ao positivo. – o direito positivo prevalecia sobre o natural sempre que ambos estivessem em conflito (Antígona)
Na época medieval - o direito natural é considerado superior ao direito positivo (direito natural contido na lei mosaica do Velho Testamento)
O Positivismo Jurídico é aquela doutrina segundo a qual não existe outro direito senão o positivo.
O contexto histórico do positivismo jurídico. A posição do juiz quanto à formação do direito antes e depois do surgimento do Estado Moderno.
A passagem da concepção jus naturalista para a concepção positivista está diretamente ligada à formação do Estado Moderno e a dissolução da sociedade medieval.
Sociedade Medieval - pluralidade de agrupamentos sociais, cada um dispondo de um ordenamento jurídico próprio – direito como fenômeno social, produzido não pelo Estado, mas pela sociedade civil.
Com a formação do Estado Moderno – o Estado concentra em si todos os poderes. Poder de criar o direito – através da lei – (concepção monista). Estamos tão habituados a considerar direito e Estado uma coisa só que temos dificuldade em conceber o direito postopela sociedade civil.
No Estado primitivo não havia a preocupação em produzir normas jurídicas e o juiz, quando dirimia as controvérsias, fixava as regras a serem aplicadas ao caso.
Quando há a intervenção de um terceiro, para decidir os conflitos há a presença do direito em sentido estrito. Quando não há a intervenção do terceiro estamos diante dos usos e costumes.
Na formação do Estado moderno o juiz de livre órgão da sociedade passa a órgão do Estado, um funcionário do Estado. Daí o direito natural e o direito positivo não serem tratados no mesmo nível. O direito positivo é o verdadeiro direito
Eventos históricos do direito romano
Justiniano – Júris Corpus Civilis – vontade do príncipe.
Considera-se o direito romano como um direito imposto pelo Estado, pelo Imperador Justiniano.
Escola Jurídica de Bolonha. O direito romano penetrou na Alemanha
Os juristas medievais justificavam a validade do direito romano ponderando que esse o direito do Império Romano que tinha sido reconstituído por Carlos Magno com o nome de Sacro Império Romano
Assumiam o direito romano como uma espécie de direito natural e com a vantagem de ser escrito e codificado em uma seleta legislativa.
Commom Law e statute law na Inglaterra: EDWARD Coke e Thomas Hobbes.
Na Inglaterra o contraste se coloca entre common law (direito comum ou consuetudinário) e a statute law (direito estatutário ou legislativo).
Commom Law – direito consuetudinário – surge das relações sociais e é acolhido pelos juízes nomeados pelo Rei.
Direito Estatutário – é posto pelo poder Soberano – Rei juntamente com o Parlamento.
Na Inglaterra o poder do Rei e do Parlamento devia ser limitado pelo common law. A monarquia inglesa nunca detinha um poder ilimitado.
Edward Coke – defendeu o direito comum – common law
Thomas Hobbes – Teórico do Poder absoluto e fundador da primeira teoria sobre o Estado Moderno
HOBBES – Precursor do positivismo jurídico.
Como bom jus naturalista estuda a formação do Estado e suas leis considerando a passagem do estado de natureza para o estado civil.
No estado de natureza, segundo Hobbes, existem leis (direito natural); mas tais leis são obrigatórias?
Segundo Hobbes, o homem é levado a respeitá-las em consciência, mas e em relação aos outros?
Para Hobbes não é a sapiência mas sim a autoridade que cria a lei. O direito é fruto da razão ou da vontade?
“Direito é o que aquele ou aqueles que detêm o poder soberano ordenam aos seus súditos, proclamando em público e em claras palavras que coisas eles podem fazer e quais não podem”.
Dois caracteres típicos do positivismo podemos encontrar:
1) formalismo: a definição do direito é dada apenas com base na autoridade que põe as normas (forma). Não há preocupação com o conteúdo, com a finalidade do direito.
2) Imperativismo: O direito é definido como um comando. O soberano ordena ou proíbe determinados comportamentos aos seus súditos.
Hobbes propõe eliminar o conflito entre as várias igrejas eliminando a causa mais profunda do conflito, isto é, a distinção entre o poder do Estado e o poder da Igreja. Ele quer que exista somente o poder do Estado e a religião deve ser reduzida a um serviço.
Outra resposta era possível –a liberal – baseada na idéia de tolerância religiosa.
Codificações não são um produto do absolutismo, mas da concepção liberal do Estado, do Iluminismo.
Para impedir as arbitrariedades do legislador o pensamento liberal investigou alguns expedientes constitucionais, dentre eles:
1) separação de poderes: poder legislativo é atribuído a um colegiado e não a um príncipe. O governo fica submetido à lei.
2) a representatividade: o poder legislativo é a expressão de uma nação: poder exercido por todo um povo.
Montesquieu – Teoria da Separação de poderes
Beccaria – princípio da estrita legalidade no direito penal. A teoria do silogismo, segundo a qual o juiz ao aplicar as leis deve fazer como aquele que deduz a conclusão de um silogismo
A sobrevivência do direito natural nas concepções jus filosóficas do racionalismo no séc. XVIII. As lacunas do direito.
O direito natural se aplica, subsidiariamente, no caso de lacunas da lei.
PARTE II – A DOUTRINA DO DIREITO POSITIVO
As características fundamentais do Positivismo Jurídico podem ser resumidas em sete problemas:
1) O que é o Direito? (Como ver o Direito)
2) Definição do Direito
3) Fontes do Direito: Teoria da Legislação como fonte preeminente do Direito – (admite o costume segundo a lei) Não admite o costume contra legem e, eventualmente, o praeter legem (falta da lei)
4) Teoria da Norma Jurídica – O positivismo jurídico considera a norma como um comando, formulando a Teoria Imperativista do Direito.
5) Teoria do Ordenamento Jurídico – Considera a estrutura da norma inserida num sistema (teoria da coerência e da completitude do ordenamento jurídico)
6) Método da Ciência Jurídica – Como deve ser realizada a interpretação pelo jurista.
7) Teoria da Obediência –
Em síntese:
O Positivismo Jurídico pode ser considerado sob três aspectos:
A) um certo modo de abordar o estudo do direito (item 1)
B) uma certa teoria do direito (item 2 a 6)
C) uma certa ideologia do Direito (item 7)
O Positivismo Jurídico como abordagem avalorativa
O positivismo jurídico considera o direito como um fato e não como um valor. O direito é um conjunto de fenômenos ou de dados sociais análogos àqueles do mundo natural;
O cientista deve estudar o direito sem formular juízos de valor;
O direito é avalorativo.
Deste comportamento deriva a Teoria do Formalismo Jurídico (não precisa explorar o conteúdo)
Ciência do Direito - a principal característica é a avaloratividade. Leva-se em consideração os juízos de fato (conhecimento da realidade) e não os juízos de valor (tomada posição frente à realidade)
Ciência – pretende ser um conhecimento puramente objetivo da realidade.
Austin – O positivismo jurídico estuda o direito tal como ele é e não como deveria ser.
O direito, objeto da ciência jurídica, é aquele que se manifesta na realidade histórico-social.
Validade - indica a qualidade de existência de uma norma
O valor – está atrelado a um direito ideal
Para os Jusnaturalistas para uma norma ser válida ela precisa ser justa.
Ciência do Direito e Filosofia do Direito.
A Filosofia quer investigar o fundamento. 
O Direito pode ser definido como avalorativo ou atrelado às questões não valorativas.
Positivismo Jurídico = norma Válida – Kelsen
Realismo Jurídico = eficácia
O direito pode ser definido como norma válida ou como norma eficaz.
O Positivismo Jurídico define o direito como uma norma válida. Não há preocupação com a eficácia.
Na contemporaneidade a norma não pode ser somente atrelada à existência, mas sim à validade com a eficácia.
Escola realista do direito - o direito é o conjunto de regras que são efetivamente seguidas numa determinada sociedade.
Validade = mundo do dever ser
Eficácia = mundo do ser
Qual é o verdadeiro ordenamento?
O Direito é aquele que é aplicado pelos juízes (realistas)
Escola formalista do direito – prevalece a forma como característica da definição jus positivista do Direito.
II) A Definição do Direito em Função da Coação
O positivismo Jurídico é caracterizado pelo fato de definir o direito em função da coação.
Vale também para a função coercitiva do Estado.
O Juspositivismo define o direito em função do elemento da coação, de onde deriva a Teoria da Coatividade do Direito.
Qual a distinção entre coação e coerção. O Estado tem o poder de coerção.
Definição coercitiva – funda-se numa concepção estatal do direito.
Direito _ coercitivo
Moral – não é coercitiva
O direito sem coação ( fundado na equidade)
Austin define o direito como um comando, mas caracteriza esta na sanção.
Rudolf Von Ihering – A finalidade do direito – relação de meio e fim.
Direito/Coação/Estado – três elementos que estão sempre ligadosA teoria da coação está vinculada a uma teoria legalista do direito.
Visão estatal-legalista do direito = positivismo jurídico
Críticas à teoria da coação
A coação está ausente no costume;
Normas de direito público e constitucional – as atividades dos órgãos supremos do Estado não são garantidos pela coação
Direito internacional – não existem meios para fazer valer coercitivamente as normas que regulam as relações entre os Estados.
Moderna formulação da teoria da coação: Kelsen e Ross
Teoria Clássica: a coação é o meio mediante o qual se fazem valer as normas jurídicas 
Teoria Moderna: a coerção é o objeto das normas jurídicas. O direito é um conjunto de normas que regulam o uso da força coativa.
Ross – O direito é um conjunto de regras que têm por objeto a regulamentação do exercício da força numa sociedade.
O direito estabelece quem deve usar a força; quando, como e a quantidade de força, que deve ser utilizada.
III)Teoria das Fontes do Direito: A Lei como única fonte de qualificação
Fontes do Direito: são aqueles fatos ou atos aos quais um determinado ordenamento jurídico atribui a competência ou a capacidade de produzir normas jurídicas.
O problema das fontes diz respeito à validade da norma.
A doutrina distingue duas categorias de normas: 
- normas de comportamento;
- normas de estrutura ou de organização
Os ordenamentos jurídicos, em geral, são complexos. Possuem várias fontes do direito.
- o ordenamento deve ser hierarquicamente organizado:
Lei;
Costumes;
Precedentes Judiciários;
Regras da Ciência Jurídica
Escolha das Normas 
- critério cronológico
- critério hierárquico
Os costumes podem encontrar o fundamento de validade no povo ou no poder do juiz – quando utiliza os costumes para fundamentar as suas decisões.
Relações históricas entre lei e costume
- o costume é superior à lei; (commom Law)
- o costume e a lei estão no mesmo plano (direito canônico)
- o costume é inferior à lei (formação do Estado Moderno – positivismo)
A decisão do juiz como fonte do Direito – A Equidade
Equidade – fonte delegada= o juiz decide segundo a consciência ou com base no sentimento de justiça (pode aplicar a norma de acordo com o Direito Natural)
equidade substitutiva (falta norma legislativa)
equidade integrativa (quando existe lei, mas ela é extremamente genérica)
equidade interpretativa – o juiz define o conteúdo da norma ( a doutrina positivista não admite
A fonte formal é o juiz.
IV) Teoria Imperativista da Norma Jurídica.
A norma jurídica tem uma estrutura de comando.
Concepção legalista-estatal do direito . Estado como a única expressão do Poder Normativo do Estado.
Não se pode configurar como comando a norma consuetudinária (comando= manifestação de uma vontade determinada e pessoal)
A concepção imperativista do direito não surgiu com o positivismo.
Há uma distinção entre comando e conselho.
Os Escolásticos exploraram bem a distinção acima:
Para Santo Tomás de Aquino: comando= necessidade moral
Conselho= deixa ao destinatário uma liberdade de escolha.
Para Hobbes:
Comando: O Estado dá comandos
Conselho: A Igreja só pode dar conselhos
Aqui se justifica a subordinação da Igreja ao Estado.
Thomasius – utiliza os dois conceitos para distinguir direito positivo e direito natural.
Seis características sobre a distinção entre comando e conselho:
1) Quanto ao sujeito ativo
comando: exige autoridade
conselho: exige respeitabilidade
2) Quanto ao sujeito passivo
Comando: destinatário está na posição de obrigação
Conselho: destinatário está na posição de faculdade
3) O Motivo pelo qual devemos obedecer
Comando: se obedece pelo valor formal
Conselho: se obedece pelo valor substancial
4) Em relação ao fim
Comando: é dado no interesse daqueles de quem procede;
Conselho: é dado no interesse daqueles a quem é dirigido.
5) Em relação às conseqüências do acatamento
Comando – se seu cumprimento causa conseqüências negativas, é responsável por estas não aquele que acatou a prescrição, mas aquele que impôs;
Conselho – responde por eventuais conseqüências negativas aquele que o cumpriu e não quem deu.
6) Conseqüências no inadimplemento
Comando = sanção
Conselho = conseqüência natural; não desejada e não efetivada pelo conselheiro
Caracterização dos imperativos jurídicos:
As normas jurídicas são imperativos de um determinado tipo?
Imperativo categórico = deve realizar A
Imperativo hipotético = Se quiser B, deve realizar A
V) A Teoria do ordenamento Jurídico
Unidade, coerência e completitude do sistema.
unidade
Para os jus naturalistas o direito é uma unidade substancial ou material, relativo ao conteúdo das normas;
Para os jus positivistas o direito é uma unidade formal, relativo ao modo pelo qual as normas são postas.
Para Kelsen o ordenamento pode ser estático ou dinâmico. Estático = jusnaturalismo;
Dinâmico = positivismo
Coerência
Três são os critérios para solucionar as antinomias;
- critério hierárquico;
- critério cronológico;
- critério da especialidade.
E quando há conflito entre os próprios critérios?
1) conflito entre critério cronológico e hierárquico, prevalece o hierárquico.
2) conflito entre critério da especialidade e critério cronológico, prevalece o critério da especialidade;
3) conflito entre critério hierárquico e critério da especialidade – Não há consenso na aplicabilidade do critério.
Lacunas
O juiz não pode criar o direito e o juiz não pode recusar-se a resolver uma controvérsia qualquer.
A utilização da analogia, dos princípios gerais do direito não é um ato criativo, mas interpretativo e, mais exatamente integrativo do direito.
VI) A Função Interpretativa do Direito
Na atividade do direito podemos distinguir dois momentos:
momento ativo ou criativo do direito – fazer leis
momento teórico ou cognoscitivo – jurisprudência/ciência -
O positivismo jurídico concebe uma atividade voltada não para produzir o direito, mas para reproduzir o direito.
O positivismo jurídico considera a tarefa da jurisprudência não a Criação, mas a interpretação do direito.
Juspositivismo (gnoseologia realista) natureza cognoscitiva; atividade declarativa ou reprodutiva – estudo passivo contemplativo.
Teses contrárias (gnoseologia idealista) natureza cognoscitiva é atividade criativa; conhecimento ativo de um objeto q. o sujeito cognoscente contribui para produzir.
Positivismo Jurídico – atividade para reproduzir o direito; meios lógico-racionais do conteúdo das normas jurídicas. (atividade de interpretação do direito)
O que é interpretar?
Remontar o signo à coisa significada – compreende a significado do signo – Há certo desajuste entre a idéia (rica, complexa) e a palavra.
Compreender o significado do signo.
A interpretação é uma atividade complexa que pode ser concebida de diversos modos.
Interpretar segundo a lei/ segundo o espírito da lei
Meio hermenêutico do positivismo jurídico: interpretação declarativa, interpretação integrativa (a analogia).
A interpretação é textual – nunca irá contra a vontade da lei;
Meio de interpretação – reconstruir a vontade do legislador:
meio léxico – interpretação gramatical
meio teleológico – fim almejado pela lei
meio sistemático – estabelecer o conteúdo de uma norma em relação a todas as outras.
Meio histórico – utilização de documentos históricos diferentes do texto legislativo, para reconstruir a vontade do legislador;
Analogia – raciocínio lógico, do tipo silogístico.
Formalismo científico – segurança jurídica/ visão dogmática do direito/ conceitos jurídicos abstratos/ deduções lógicas.
Jurisprudência dos conceitos/ jurisprudência dos interesses
VII – O positivismo jurídico como ideologia do direito
A ideologia é a expressão do comportamento avaliativo que o homem assume face à realidade, consistindo num conjunto de juízos de valores relativos a tal realidade, juízos estes fundamentados no sistema de valores acolhidopor aquele que o formula e que tem o objetivo de influir na realidade.
Teoria – juízos de fato (cognoscitiva) = função de informar
Ideologia – Juízos de valor = comportamento avaliativo que o homem faz em relação a realidade.
Uma teoria é verdadeira ou falsa
Uma ideologia é conservadora ou progressista
No início da obra o Positivismo Jurídico mencionamos que a ambição do Positivismo Jurídico é assumir uma atitude neutra diante do direito, para estudá-lo como é e não como deveria ser. Mas, podemos dizer que a doutrina não conseguiu ser integralmente fiel a esse posicionamento.
Bentham – críticas ao direito não para descrevê-lo, mas para ser modificado de acordo com as concepções ético-políticas 
Austin – quando descreve o direito como um comando estabelecido pelo Soberano, não se limita a mera observação de uma realidade, mas formula um juízo de valor, considerando positivo o fato de o direito ser um comando e não uma regra consuetudinária. Há uma valoração, ainda que discreta.
Escola da exegese – valoram, no sentido do exagero à aplicação da lei.
Segunda metade do séc. XX – visão ideológica ganha força: concepção hegeliana de Estado. (Estado ético)
Adoração pelo Estado
Críticos ao positivismo:
Realismo Jurídico (jurisprudência sociológica)
Jusnaturalismo (crítica aos aspectos ideológicos do direito) conseqüências funestas – surgimento de regimes totalitários
O positivismo jurídico foi considerado uma das causas que provocou ou favoreceu o advento dos regimes totalitários europeus e em particular o regime nazista.
Ideologia do positivismo: dever absoluto ou incondicional de obedecer a lei enquanto tal.( estamos diante de uma doutrina ética do direito) Seria mais correto falar em Positivismo ético – direito estatal legislativo é critério único e exclusivo para a valoração do comportamento social do homem. Obedecer a lei não é só uma obrigação jurídica, mas também uma obrigação moral.
É correto falar em uma ideologia típica de todo o positivismo? Dever absoluto ou incondicional de obedecer à lei = plano ideológico
Positivismo ético – ideologia positivista ( “Obediência às leis enquanto tais”)
Historicamente – formação do Estado Moderno – lei (única fonte do direito)
Direito estatal-legislativo
Dever de obedecer à lei = incondicional e absoluto
Pensamento tradicional – o dever de obedecer as leis enquanto justas.
Justiça – critério integrante do conceito de lei ( jusnaturalismo)
Validade – critério integrante do conceito de lei (juspositivismo)
Positivismo ético extremista – o direito é meio que serve para realizar determinado bem, ordem da sociedade ( obediência ao direito)
Positivismo ético moderado – se em det. momento histórico há um valor superior à ordem existente, devemos romper a ordem para prevalecer tal valor.
CONCLUSÃO
Parte I – Formação histórica do direito
Parte II – Doutrina do Direito
Sete pontos:
modo de estudar o direito
definição de direito – Teoria da Coatividade do Direito
Fontes do Direito – Lei
Teoria Imperativista da Norma – comando/conselho
Teoria do Ordenamento Jurídico
Teoria Interpretativa
Ideologia do direito
Do item 2 a 6 = Teoria do Direito
As críticas feitas aos três primeiros itens não procedem, mas as críticas feitas aos itens seguintes são procedentes, pois o direito não é absolutamente coerente e completo.
Positivismo jurídico como método. – para fazer ciência é preciso adotar um método.
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