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BEM DE FAMÍLIA: ASPECTOS DE UMA INSTITUIÇÃO FUNDAMENTAL PARA A EXISTÊNCIA DA SOCIEDADE

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Marina Marques Simão
BEM DE FAMÍLIA: ASPECTOS DE UMA INSTITUIÇÃO 
FUNDAMENTAL PARA A EXISTÊNCIA DA SOCIEDADE
Centro Universitário Toledo
Araçatuba
2008
Marina Marques Simão
BEM DE FAMÍLIA: ASPECTOS DE UMA INSTITUIÇÃO 
FUNDAMENTAL PARA A EXISTÊNCIA DA SOCIEDADE
Trabalho de Conclusão de Curso (monografia jurídica) 
apresentado   como   requisito   parcial   para   obtenção  do 
grau de bacharel  em Direito à  Banca Examinadora do 
Centro   Universitário   Toledo,   sob   orientação   da 
Professora Rosângela Vecchia.
Centro Universitário Toledo
Araçatuba
2008
Banca Examinadora
_________________________________
Professora Ms. Rosângela Vecchia
_________________________________
Dr. Clinger Xavier Martins 
_________________________________
Drª. Érika Vilela Rodrigues
Araçatuba, 22 de Setembro de 2008
"Nenhum sucesso na vida compensa o fracasso no lar".
  Citado   por   J.   E.   McCulloch,   Home:   The   Savior   of 
Civilization (1924), p.42; Conference Report, abril de 1935, 
p.116.
Dedico o presente trabalho primeiramente a Deus,  
por  sempre  me mostrar  o  caminho,  a  minha mãe  
Lucy e a minha avó Marina, que fizeram tudo para 
que eu chegasse até aqui, aos meus irmãos Mariana 
e   Lucas   por   acreditarem   em   mim   e   ao   meu  
companheiro Luciano, pelo amor verdadeiro e pela  
compreensão nos momentos mais difíceis.
Agradeço à professora Rosângela Vecchia por não 
desistir do meu trabalho, aos meus amigos Daiane,  
Milena,   Carlos   e   Hélio   pelo   carinho   e   pela  
contribuição  com esta  pesquisa  e  a  minha amiga 
Janaína Fagá por me ensinar o verdadeiro sentido  
da palavra amizade.
RESUMO
O trabalho se propõe a apresentar uma pesquisa sobre alguns aspectos do 
Instituto  Bem de Família  no Brasil,  sem a pretensão de esgotar  a matéria  em si.  Procura 
explicar   sua   classificação:   voluntário   e   involuntário,   o   objeto,   forma,   valor,   a 
impenhorabilidade   e   a   renúncia.  O   tema  é   envolvente   por   demonstrar   a   importância   do 
vínculo familiar para a sociedade, infelizmente, nos dias de hoje é raro encontrar uma família 
propriamente dita, porém o Direito, na esperança da manutenção deste instituto, trata o bem 
de família com excepcional proteção. A presente pesquisa poderá ser utilizada para dar início 
a outros trabalhos científicos acerca do assunto. O método a ser utilizado para a elaboração e 
desenvolvimento da matéria será a pesquisa documental e bibliográfica através de fontes: leis, 
doutrinas, jurisprudências, artigos, revistas e outros materiais que possam contribuir com a 
pesquisa.
Palavras chave: Direito – Família – Mudanças – Igualdade – Bem Impenhorável – Proteção.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................................. 08
I. HISTÓRICO................................................................................................................... 10
1.1 Instituição do Bem de Família na Doutrina Internacional............................................. 10
1.2 Instituição do Bem de Família no Ordenamento Brasileiro.......................................... 13
II. INSTITUIÇÃO FAMILIAR........................................................................................ 18
2.1 Conceito......................................................................................................................... 18
2.2 Família Monoparental ................................................................................................... 21
2.3 União Homoafetiva ....................................................................................................... 22
III. DO BEM DE FAMÍLIA ............................................................................................ 27
3.1 Conceito......................................................................................................................... 27
3.2 Natureza Jurídica .......................................................................................................... 29
3.3 Classificação ................................................................................................................. 31
IV. BEM DE FAMÍLIA VOLUNTÁRIO........................................................................ 34
4.1 Do Instituidor ................................................................................................................ 34
4.2 Objeto ........................................................................................................................... 37
4.3 Propriedade do Bem ..................................................................................................... 41
4.4 Forma para a sua Constituição ...................................................................................... 43
4.5.Valor do Bem ................................................................................................................ 45
4.6 Efeitos e Extinção.......................................................................................................... 46
4.7 Caso Especial: Do Mútuo Para o Casamento................................................................ 48
V. BEM DE FAMÍLIA INVOLUNTÁRIO..................................................................... 50
5.1 Instituição...................................................................................................................... 50
5.2 Valor do Bem, Efeito e Extinção .................................................................................. 52
VI. RENÚNCIA................................................................................................................. 56
CONCLUSÃO.................................................................................................................... 61
REFERÊNCIAS................................................................................................................. 64
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INTRODUÇÃO
O valor da família para o ser humano não pode ser medido, a família é a 
base  estatal,   sua  estrutura  e  estabilidade.  No seio   familiar,  o   indivíduo   tem os  primeiros 
contatos com os conceitos básicos para a vida e é nesse ambiente que se constrói a felicidade. 
Os   entes   familiares,   pai,   mãe,   avós,   irmãos,   modelam   o   ser   humano 
contribuindo para a formação dos que ali habitam. Esse convívio familiar torna possível o 
aprendizado de cada cidadão para construir uma sociedade virtuosa e é esse um dos motivos 
pelos quais a família é tida como a base da sociedade.
Sendo assim,   a   família   ampara  o  próprio  Estado e  este   tem o  dever  de 
conferir­lhe proteção, como preceitua a Constituição Federal  de 1988, em seu artigo 226, 
caput:  “A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.” 
Nessa seara é  que são  instituídas  as normas de proteção que se  referem 
especificamente ao tema do presente trabalho: bem de família.
O presente estudo trará as linhas gerais do citado instituto e também ao bem 
de   família   voluntário   e   involuntário,   elucidando   alguns   conflitos   doutrinários   e 
jurisprudenciais, com análise de dispositivos legais, na tentativa de expor algumas questões 
controvertidas, para incitar futuras pesquisas mais aprofundadas sobre o tema.
O bem de família está regulado no sistema jurídico nacional pela Lei 8.009 
de 1990 e pelo Código Civil  de 2002, resguardando o domicílio  da família,  no intuito de 
manter sólida a sua estrutura.
O trabalho observa, no Capítulo I, o desenvolvimento do bem de família em 
outros países em uma espécie de ordem cronológica e, após isso, a introdução do mesmo no 
ordenamento brasileiro, bem como relatando brevemente sua evolução até os dias atuais.
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No CapítuloII, trará o conceito de família e entidade familiar, bem como o 
de família monoparental e homoafetiva.
O Capítulo III conceitua o bem de família na opinião de doutrinadores, tanto 
no Código Civil de 1916 quanto no de 2002. Expõe também a  sua natureza jurídica e a sua 
classificação.
O bem de  família  voluntário,   regulado pelo  Código Civil  de 2002,  bem 
como os requisitos para a sua constituição, sua extinção e caso especial são analisados no 
Capítulo IV.
No Capítulo V, teremos o bem de família involuntário,  descrito pela Lei 
8.009   de   1990   e   no   último   Capítulo   uma   discussão   sobre   a   renúncia   ao   direito   de 
impenhorabilidade
Dessa   forma,   a   nobre   finalidade   do   presente   trabalho   é   estudar   os 
dispositivos legais concernentes a esse instituto no Brasil, que visam à proteção da família.
10
I. HISTÓRICO
O bem de família  aparece indiretamente  em alguns povos antigos.  Esses 
povos acreditavam que a casa era consagrada pela presença perpétua de seus deuses, era como 
um templo, uma igreja. Nela, a família possuía seu direito à propriedade assegurado por esses 
próprios deuses. 
Entretanto  seu  início  propriamente  dito  no século XIX,  na República  do 
Texas, e foi introduzido pela então chamada Lei do Homestead, como veremos a seguir.
Atualmente,   o   bem   de   família   é   um   dos  meios   de   amparo   à   família, 
assegurando um teto quase que intocável. O instituto e suas finalidades se moldam ao artigo 
226, caput, da Constituição Federal de 1988, transcrito anteriormente, que pondera a família 
como alicerce da sociedade e merecedora de assistência privada do Estado.
1.1 Instituição do Bem de Família na Doutrina Internacional
No   início   das   civilizações,   a   propriedade   tinha   uma   feição   comunitária 
sendo   que   até  mesmo   alguns   povos   antigos   jamais   conheceram   a   propriedade   em   suas 
relações. Concebiam o direito de propriedade somente em relação aos seus rebanhos, mas não 
em relação ao solo; para outros, a terra não pertencia a ninguém e era distribuída anualmente a 
seus membros para o plantio, cuja colheita pertencia ao que laborava a terra. (COULANGES, 
1999, p.333)
Os  povos  da   antiga   Itália   e  Grécia,   ao   contrário,   sempre   estabeleceram 
propriedade privada e nem mesmo chegaram a utilizar a terra coletivamente.  Em algumas 
11
cidades da antiga Grécia, entretanto, eram obrigados a disponibilizar parte de sua colheita à 
comunidade. (COULANGES, 1999, p.334)
Os   primeiros   sinais   para   o   surgimento   do   bem  de   família   deram­se   na 
Grécia e na Itália. Praticavam a propriedade privada com base em três eventos interligados: a 
religião   doméstica,   a   família   e   o   direito   de   propriedade.  O   tripé  —   religião,   família   e 
propriedade — teve relação inseparável e fundamentava o Direito de Propriedade entre os 
povos   antigos   que   estabeleceram   de   imediato   a   propriedade   privada.   Fala­se   aqui, 
evidentemente, da religião doméstica. (COULANGES, 1999, p.334)
Para as antigas civilizações havia relação entre os deuses e o solo. A casa 
era vista como o emblema da vida sedentária, um ambiente sagrado, ela deveria permanecer 
no solo, no mesmo lugar para todo o sempre. A família ficava agrupada nesse lar, arraigada ao 
solo surgindo, seu domicílio. O lugar era propriedade de uma família inteira e seus membros e 
onde deveriam nascer, crescer e morrer. (COULANGES, 1999, p.335)
Contudo,   o   instituto   do   bem   de   família   foi   realmente   iniciado   com 
tratamento jurídico específico no século XIX, na República do Texas, em 1839, logo que este 
Estado separou­se do México, e antes de se coligar aos Estados Unidos da América em 1845. 
Em 1835, o Texas tornou­se independente do México e era uma extensão enorme de terra, 
praticamente virgem era denominado de  Big Country.   Milhares de americanos e europeus 
afluíram para aquele novo continente. (AZEVEDO, 2002, p.24)
Com a fértil condição do solo americano, desenvolveu­se em pouco tempo a 
agricultura e o comércio e, com isso, os bancos europeus logo se instalaram. Por volta de 
1830, com demasiados  pedidos de empréstimos de grandes capitais  e com descontrole  de 
emissão da  moeda,   instaurou­se uma  ilusão de  lucro  fácil,  e,  com isso,  o  povo passou a 
ultrapassar os limites da realidade. Como conseqüência, houve uma grande crise entre os anos 
12
de 1837 a  1839, iniciando­se com a falência de um banco de renome em Nova Iorque, em 
10.5.1837, que desencadeou de uma explosão no campo econômico e financeiro. Isso veio a 
conturbar toda a civilização americana. Para fazer­se uma idéia da extensão do desastre: 959 
bancos fecharam suas portas, somente no ano de  1839, e, durante a crise, entre os anos de 
1837 a  1839, ocorreram 33.000 falências e uma perda de 440 milhões de dólares, ou seja, 
perto de dois bilhões e trezentos milhões de francos, à época. (AZEVEDO, 2002, p.24)
Pouco   tempo   depois   da   separação   do   Texas   do   território   mexicano 
(constituindo­se   uma  República   independente)   recebeu   grande   quantidade   de   emigrantes 
americanos   que   almejavam   reconstruir   seus   lares   ou   iniciar   nova   vida,   ante   às   grandes 
garantias que eram oferecidas pelo governo texano. Essa emigração numerosa, a qual existiu 
ainda quando o Texas fazia parte do México e que preocupou este Governo, continuou sem 
cessar,   crescendo   de   uma   forma   inesperada,   tanto   que   a   população  do  Texas   era   quase 
totalmente formada por americanos. Em 1836, a população texana possuía menos de 70.000 
habitantes e que, em 1840, ela foi a 250.000. (AZEVEDO, 2002, p.25)
Em 26 de janeiro de 1839, foi promulgada a Lei do Homestead (Digest of 
the Laws of Texas § 3.798), neste teor: 
De e após a passagem desta lei, será  reservado a todo cidadão ou chefe de uma 
família,  nesta República,  livre e independente do poder de um mandado de  fieri  
facias ou outra execução, emitido por qualquer Corte de jurisdição competente, 50 
acres de terra, ou um terreno na cidade, incluindo o bem de família dele ou dela, e 
melhorias que não excedam a 500 dólares, em valor, todo mobiliário e utensílios 
domésticos,   provendo  para   que   não   excedam  o   valor   de   200   dólares,   todos   os 
instrumentos   (utensílios,   ferramentas)   de   lavoura   (providenciando   para   que   não 
excedam   a   50   dólares),   todas   ferramentas,   aparatos   e   livros   pertencentes   ao 
comércio ou profissão de qualquer cidadão, cinco vacas de leite, uma junta de bois 
para o trabalho ou um cavalo, vinte porcos e provisões para um ano; e todas as leis 
ou   partes   delas   que   contradigam   ou   se   oponham   aos   preceitos   deste   ato,   são 
ineficazes perante ele. Que seja providenciado que a edição deste ato não interfira 
com os contratos entre as partes, feitos até agora. (AZEVEDO, 2002, p.25)
 Com isso, surgiu o homestead no Texas, regulado pela Lei de 26 de janeiro 
de 1839 (Homestead exemption act), sendo um terreno de características agrícolas, separado 
13
do patrimônio do proprietário como uma reserva sagrada para a família. (AZEVEDO, 2001, 
p.01)
O objetivo do diploma acima transcrito,  como se pode notar,   fora ater  a 
população  à   propriedade   rural,   para   o   desenvolvimento  da   sociedade,   e   trouxe,   ainda,   a 
impenhorabilidade   tanto dos  bens  domésticos  móveis,  como também a dos bens   imóveis, 
limitados a um valor. 
Esse  homestead  estadual   espalhou­se   pelo   território   americano, 
implantando­se, em vários outros modificando a maneira,  a limitação de área ou de valor. 
Entretanto, os elementos essenciais do institutopermanecem vivos na legislação americana 
atual, nos estados que admitem sua existência. (BUSSO, 2002, p.01)
Há outras legislações que dão sustentação a existência do bem de família. 
Na  Alemanha   encontramos  o  HofrecAt,   que   se   caracteriza   pela   indivisibilidade  de   certo 
imóvel rural, a fim de transmitir­se a um dos sucessores do proprietário.  Na Suíça, o Código 
Civil o contempla como o título de "Asilo de Família". Na França, ele existe desde 1909 sem 
muito sucesso. (BUSSO, 2002, p.01)
Portanto, visível era que desde os primórdios a família era importante para a 
estabilização e o desenvolvimento do ser humano, visto que é no seio familiar que adquirimos 
os   valores   que   irão  nos   acompanhar   para   sempre:   honestidade,   solidariedade,   segurança, 
amor, e que nos ensinam a viver em sociedade. E mesmo com toda a evolução da sociedade, a 
família ainda é o seu alicerce e, por isso, o Estado passou a ter o dever de proteger a família 
de forma especial.
1.2. Instituição do Bem de Família no Ordenamento Brasileiro
14
O   bem   de   família   surgiu   no   Código   Civil   de   1916,   embora   Clóvis 
Bevilácqua não  tenha tratado dele  em seu projeto,   foi   inserido durante sua  tramitação no 
Congresso   Nacional.   Nesta   oportunidade,   muito   se   discutiu   a   respeito   do   melhor 
posicionamento para o instituto do bem de família dentro da sistemática do Código sendo 
inserido nos artigos 70 a 73 do Código de 1916, no livro dos bens, oriundo da emenda de 
Feliciano Pena, em 1912, inserido na Parte Geral.  Era permitida a instituição dos bens de 
família, ao chefe da família. (AZEVEDO, 2002, p.30)
O bem de família  não deveria  constar  na Parte  Geral  do citado Código: 
"Bem   de   família   é   relação   jurídica   de   caráter   específico   e   não   genérico.   Seu   lugar  
apropriado seria o direito de família, já que a finalidade do instituto é a proteção da família,  
proporcionando­lhe abrigo seguro". (MONTEIRO, 1995, p.158)
Com a leitura do artigo 70 caput e Parágrafo Único Código Civil de 1916 
podemos  observar  que  a   figura  do marido  era   tida  como o  chefe  da   família  e,  por   isso, 
somente ele poderia instituir o bem de família. Este se fundava na isenção de execução por 
dívidas que se colocava a permanência dessa isenção, enquanto os cônjuges fossem vivos seus 
filhos permanecessem incapazes, salvo sobre os impostos que sobreviessem sobre o imóvel. 
Deste  modo,  o  bem de   família   só   se   extinguia  quando estivessem mortos  os   cônjuges  e 
quando a prole já tivesse atingido a maioridade. 
Somente   aquele   que,   na   ocasião   da   instituição,   fosse   solvente   poderia 
instituir bem de família, porque a impenhorabilidade inerente ao bem de família poderia lesar 
os credores do instituidor. Portanto, era obrigatória a declaração de sua solvência, conforme 
artigo 71 do citado Código. 
Os artigos 72 e 73 garantiram a imutabilidade da destinação e determinaram 
que a instituição só poderia ser perpetrada por escritura pública. Contudo, o Código Civil de 
15
1916 nada disse  quanto  aos  métodos  para  a   instituição  do bem de   família,  mencionando 
apenas que deveria ser instituído por escritura pública. 
O Código de Processo Civil de 1939, no entanto, gerou as primeiras regras 
do procedimento  para a   instituição do bem de família  e,  em seguida,  a  Lei  de  Registros 
Públicos, Lei 6.015 de 1973 em seu capítulo IX, que apresentou o procedimento apropriado, 
determinando   que   deveria   ser   através   de   escritura   pública,   onde   o   instituidor   precisava 
caracterizar  o   imóvel  com as  suas  medidas  confrontantes  e  declarar,  solenemente,  sob as 
penas da lei, que era solvente. Após isso, o traslado era levado ao Cartório de Registro de 
Imóveis a que pertencia o bem e o oficial, recebendo o título, o prenotava, e publicava um 
edital na Imprensa Oficial local ou, se não houvesse, na imprensa da capital do Estado ou do 
Território. 
No edital  deveria  conter,  conforme o artigo 262, I  e II  da referida lei,  a 
escritura da instituição, ou seja, o nome dos instituidores, o imóvel e o lembrete a terceiros 
interessados que terão 30 dias, a partir da publicação do edital, para questionar a instituição do 
bem de família no caso de se julgarem lesados. 
Decorrido prazo de 30 dias, sem que fosse apresentada alguma reclamação, 
o oficial transcrevia a escritura integralmente em um livro fazia a inscrição na matrícula do 
imóvel, arquivando um exemplar do jornal em que a publicação houver sido feita e restituía o 
instrumento ao apresentante,  com a nota da inscrição, conforme artigo 263 da mesma lei. 
Caso   surgisse   uma   impugnação,   o   oficial   suspendia   o   registro,   e   devolvia   o   título   ao 
apresentante, que poderia requerer ao juiz que inscrevesse o título, apesar da impugnação. 
O instituidor poderia requerer ao juiz que ordenasse o registro, sem embargo 
da reclamação e este,  numa cognição sumária,  faria esta desta deliberação irrecorrível.  Se 
entendesse que a impugnação não tinha nenhuma base, determinaria o registro do título. Se, 
16
porém, resolvesse pela procedência da mesma, ele não registrava o título, ou poderia registrar 
o título, advertindo o impugnante sobre o direito de lidar em ação própria pela anulação da 
constituição  do  bem de   família,   se  entender   ser  uma  fraude  aos  seus  direitos  de  credor, 
consoante artigo 264 da citada lei.
O juiz poderia facultar ao impugnante,  o direito de executar a obrigação, 
incidindo a constrição sobre o bem, por ser a dívida anterior à constituição, conforme artigo 
71   do  Código  Civil,   por   ser   requisito   essencial   para   a   instituição   do   bem  de   família   a 
solvência do instituidor. 
Conforme   anteriormente   citado,   esse   procedimento   ainda   vige   quanto   à 
instituição e inscrição do bem de família, porém não é muito freqüente, e alguns dos motivos 
são os seguintes:
a)  Onerosidade  da  sua   instituição:  o  pagamento  da  escritura  pública,  do 
registro no Cartório de Registro de Imóveis, a publicação em edital, a impugnação, se houver, 
sugerem a contratação de um profissional competente, provavelmente um advogado e, não 
raramente na elaboração de uma ação judicial;
b)   Burocracia:   escritura   pública,   apresentação,   transcrição,   impugnação, 
edital, procedimento judicial, podendo levar muitos anos para se atingir a finalidade a que se 
propôs;
c) Indisponibilidade do patrimônio: muitas vezes, a venda do único imóvel 
pode ser o último recurso para o sustento da família, já que o bem de família fica inalienável, 
dependerá   de   um   alvará   judicial.   Os   brasileiros   sempre   preferiram   continuar   com   a 
disponibilidade do seu imóvel à segurança dada pela lei. (SARMENTO, 2001, p.185)
A   Lei   8009/90   foi   instituída   para   nomear   o  bem   de   família   legal.   A 
suposição era que esta   lei  havia  revogado o artigo 70 do Código Civil,   já  que os efeitos 
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pareciam os mesmos, sem que seja necessário que o proprietário praticasse ato algum. Outros 
consideravam   esta   lei   fadada   à   revogação,   por   considerá­la   protecionista   e   demagógica, 
incompatível com regras gerais do direito patrimonial.  Entretanto ela apenas instituiu uma 
nova modalidade de bem de família. (RODRIGUES, 2002, p.148)
Atualmente existem duas modalidades para o bem de família: o voluntário, 
que surge com a vontade dos instituidores; e o legal, que foi inserido pela Lei 8009/90, com 
princípios similares àquele, contudo sem os problemas acima descritos
Incidindo a constrição sobre o único imóvel do devedor, ele pode objurgar 
ser seuimóvel residencial  e retirar  a constrição, pela acima citada, que estabeleceu que o 
único imóvel residencial do devedor fosse impenhorável, ressalvadas algumas exceções a essa 
impenhorabilidade.
A instituição do bem de família evoluiu no ordenamento jurídico brasileiro. 
Primeiramente regulamentado pelo Código Civil de 1916 e, por conseguinte, pela Lei 8.009 
de 1.990 e pelo Código Civil de 2002. Foi disciplinado ainda no Decreto­Lei n. 3.200, de 19 
de abril de 1.941 e pela Lei Federal n. 6.015, de 31 de dezembro de 1973, e todos visam 
proteger o domicílio familiar, o lar de todos nós, fundamental para a sociedade. A Lei 10.406 
de 2002 inseriu o instituto bem de família no Direito de Família, e não mais na Parte Geral, 
em seus artigos 1 711 a 1 722, subtítulo IV, Do Bem de Família.
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II. INSTITUIÇÃO FAMILIAR
Atualmente, a família está sendo considerada de forma abrangente, porém 
os  entendimentos  acerca  desse  assunto  se  mostram divergentes.  Uma parte  da  doutrina  e 
jurisprudência  alcança  o viúvo ou a  viúva residindo com filhos  ou sozinhos,  ex­cônjuges 
separados judicialmente e que possuam filhos em comum e até mesmo irmãos solteiros que 
vivam juntos. Outra parte defende somente o que expressamente a lei descreve como família e 
entidade familiar. 
2.1. Conceito
A família possui uma função essencialmente social e, por isso, se reveste 
também por necessidades sociais:  garante o provimento de seus integrantes,  para que eles 
exerçam atividades produtivas para a própria sociedade, e os educa, para que tenham moral e 
valores   compatíveis   com   a   cultura   do   ambiente   em   que   vivem.  Deste  modo,   podemos 
entender que a família é instituição forte de origem biológica, todavia com caracteres culturais 
e sociais. (BOCK, 1996 p.238.)
Ainda com a evolução da sociedade, a família se modifica para manter a sua 
existência: “A família é uma entidade histórica, ancestral como a história, interligada com os  
rumos  e  desvios   da   história   ela  mesma,  mutável   na   exata  medida   em   que  mudam   as  
estruturas e a arquitetura da própria história através dos tempos”. (HIRONAKA, 1999, p.7)
A   partir   da   leitura   do   artigo   229   do   Código   Civil   de   1916,   temos   a 
percepção de que este  visava um conceito  singular  de família,  descrevendo que apenas o 
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casamento poderia legitimar a formação da família, sendo a única maneira de legitimar os 
filhos comuns antes dele nascidos ou concebidos: “Criando a família legítima, o casamento 
legitima os filhos comuns, antes dele nascidos ou concebidos” 
A   maioria   das   uniões   matrimoniais   nessa   época   tinha   finalidades 
econômicas e, como se pode notar, as leis do tempo seguiam essa linha pensamento. Nesse 
sentido o foram instituídos os seguintes artigos:
a) Artigo 230 ­ estabelecimento de vínculos patrimoniais, regime de bens;
b) Artigo 231, III ­ mútua assistência, recíproco auxílio patrimonial,
c) Artigo 231, IV ­ dever de sustentar, educar e guardar os filhos.
Além desses, havia também outros deveres do casamento: o dever de vida 
em comum no domicílio conjugal estampado no artigo 231, II, e a fidelidade recíproca, artigo 
231, I. Já o artigo 183, em seus incisos XIII, XV e XVI traz impedimentos matrimoniais que 
têm por objetivo mais uma vez a defesa do patrimônio.
Conforme o pensamento abaixo, palavras de  Fustel de Coulanges, desde a 
época de Roma Antiga o filho nascido fora do casamento era discriminado, seus direitos não 
se equiparavam aos de seus irmãos:
O laço de sangue isolado não constituía, para o filho, a família; era­lhe necessário o 
laço do culto. Ora, o filho nascido de mulher não associada ao culto do esposo pela 
cerimônia do casamento, não podia, por si próprio, tomar parte do culto. Não tinha o 
direito   de   oferecer   o   repasto   fúnebre,   e   a   família   não   se   perpetuaria   por   seu 
intermédio. (HIRONAKA, 1998, p.167­ 185)
Pela leitura dos artigos 337 e 338 do citado Código, podemos observar que, 
como em Roma Antiga, somente os filhos oriundos do matrimônio eram reconhecidos pelo 
ordenamento jurídico, incidindo a presunção “pater is est”.
O “pater is est” (Pragmatismo romano:“pater is est  quem justae nuptiae  
demonstrant”,   o  pai  é   o  marido)  é   uma  concepção  patriarcal   e   hierarquizada  da   família 
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constituída por matrimônio que produzia filhos legítimos, reavaliada na segunda metade deste 
século. Essa presunção não possui o rigor do passado, porém não foi revogada literalmente 
pelo novo Código Civil. Todavia, vem sendo impostas ressalvas, limitações, restrições, por 
jurisprudência renovadora. (VELOSO, 1997, p.198)
Com base na leitura do texto abaixo, podemos ter uma noção do padrão de 
família à época do Código Civil de 1916, 
A hostilidade do legislador pré­constitucional às interferências exógenas na estrutura 
familiar e a escancarada proteção do vínculo conjugal e da coesão formal da família, 
inda que em detrimento da realização pessoal de seus integrantes – particularmente 
no que se refere à mulher e aos filhos, inteiramente subjugados à figura do cônjuge­
varão  –   justificava­se   em  benefício   da   paz   doméstica.   Por  maioria   de   razão,   a 
proteção dos filhos extraconjugais nunca poderia afetar a estrutura familiar, sendo 
compreensível,   em   tal   perspectiva,   a   aversão   do  Código  Civil   à   concubina.  O 
sacrifício individual, em todas essas hipóteses, era largamente compensado, na ótica 
do sistema, pela preservação da célula mater da sociedade, instituição essencial à 
ordem   pública   e   modelada   sob   o   paradigma   patriarcal.   (TEPEDINO,  2001, 
p.351­352)
Os   filhos   de   relações   tidas   fora   do   âmbito   conjugal   eram   considerados 
ilegítimos   e,   por   isso,   não   possuíam  os  mesmos   direitos   privativos   dos   filhos   legítimos 
(oriundos  de  pais  unidos  pelo  matrimônio)  dos  artigos  337 a  351.  O  filho   ilegítimo  não 
poderia  nem ao menos residir  no lar  conjugal  sem o consentimento de um dos cônjuges, 
consoante artigo 359. A única forma de legitimar a prole, era pelo casamento dos pais, de 
acordo com o artigo 353 do aludido Código. 
Com a   leitura   dos   artigos   do  Capítulo,  A  Filiação  Legítima,   do   antigo 
Código, pode observar que a função da figura paterna era basicamente o sustento. Não era 
dada importância para o amor, a proteção dos filhos, mas somente ao patrimônio. 
Todavia,   com   a  Constituição   Federal   de   1988,   ficou   proibida   qualquer 
forma de discriminação, inclusive em relação aos filhos considerados “ilegítimos”. Em seu 
artigo   1°,   III   instituiu   como   um   dos   fundamentos   da  República   Federativa   do  Brasil   a 
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dignidade da pessoa humana. Com isso, a sociedade e, por conseguinte, a entidade familiar 
começam a ser conceituadas como comunidade afetiva de respeito e consideração mútuos e 
não unicamente com interesse patrimonial.
No mesmo entendimento: 
[...]   a   pessoa   humana,   o   desenvolvimento   de   sua   personalidade,   o   elemento 
finalístico da proteção estatal, para cuja realização devem convergir todas as normas 
de   direito   positivo,   em  particular   aquelas   que   disciplinam   o   direito   de   família, 
regulando as relações mais íntimas e intensas do indivíduo no social. (TEPEDINO, 
2001, p. 205)
O relacionamento familiar tornou­se democrático, onde todos os integrantes 
têm papel a cumprir e em busca da felicidade. No âmbito familiar os indivíduos adquirem 
sabedoria   para   viver   em   sociedade,   sendo   esse   convívio   a  melhor   forma   de   propagar   o 
princípio mister da Constituição: a dignidade da pessoa humana.
2.2. Família Monoparental
ACarta  Magna,   em   seu   artigo   226,   §   3°   e   §   4°   com  base   no   direito 
fundamental  da  dignidade  da  pessoa  humana,   instituiu  outras  entidades   familiares,  outras 
formas   de   criação   ou   legitimação   da   família,   as   quais:   a   união   estável   e   a   família 
monoparental. 
As famílias monoparentais estão inseridas na Constituição Federal no artigo 
226, §4º, como a “comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes”.
Essas   famílias,   por   vezes,   se   formam   pela   chamada   “produção 
independente”,   como   forma   de   realização   pessoal,   mas   na   maioria   dos   casos   por 
relacionamentos turbulentos em que acabam se separando, obrigando a um só dos pais, pelo 
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abandono do outro, cuidar dos filhos. Podem ocorrer também com a  morte de um dos pais, 
entre outros acontecimentos.
O Superior Tribunal de Justiça, antes mesmo da instituição do Novo Código 
Civil, já havia reconhecido como entidade familiar a pessoa solitária e a comunidade formada 
por parentes, principalmente irmãos, como nos julgados abaixo:
CIVIL.   PROCESSUAL   CIVIL.   LOCAÇÃO.   BEM   DE   FAMÍLIA.   MÓVEIS 
GUARNECEDORES   DA   RESIDÊNCIA.   IMPENHORABILIDADE. 
LOCATÁRIA/EXECUTADA QUE MORA SOZINHA. ENTIDADE FAMILIAR. 
CARACTERIZAÇÃO.   INTERPRETAÇÃO   TELEOLÓGICA.   LEI   8.009/90, 
ARTIGO   1º   E  CONSTITUIÇÃO  FEDERAL,  ARTIGO   226,   §   4º.   RECURSO 
CONHECIDO E PROVIDO. .O conceito de entidade familiar, deduzido dos arts. 1º 
da Lei 8.009/90 e 226, § 4º da CF/88, agasalha, segundo a aplicação da interpretação 
teleológica, a pessoa que, como na hipótese, é separada e vive sozinha, devendo o 
manto da impenhorabilidade, dessarte,  proteger os bens móveis guarnecedores de 
sua residência. (STJ, REsp n. 205.179­SP, DJ de 07.02.2000)
EXECUÇÃO.  EMBARGOS   DE   TERCEIRO.   LEI   Nº   8.009/90. 
IMPENHORABILIDADE. MORADIA DA FAMÍLIA.IRMÃOS SOLTEIROS. Os 
irmãos solteiros que residem no imóvel comum constituem uma entidade familiar e 
por isso o apartamento onde moram goza de proteção de impenhorabilidade, prevista 
na Lei nº 8.009/90, não podendo ser penhorado na execução de dívida assumida por 
um deles. (STJ, REsp n. 159.851­SP, DJ de 22.06.98)
As pessoas que antes não queriam ou estavam impedidos  de se unir  por 
matrimônio e, com isso, eram discriminadas por outros, podem desde então, dependendo do 
caso, ser legitimados pelas outras entidades.
2.3. União Homoafetiva
O artigo 226 da Constituição Federal, em seu Parágrafo 3º, reconheceu a 
união estável entre homem e mulher, mas nada expôs quanto a união de homossexuais. O 
Código civil de 2002, em seu artigo 1.565, legaliza apenas a união entre homem e mulher. 
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Não se pode, então, concluir que a lei expressamente considera a união homoafetiva como 
entidade familiar. 
Contudo, o Relator, Juiz Caetano Lagrasta da 8ª Câmara de Direito Privado 
de   São   Paulo,   na   Apelação   n.º   5525744400   de   12/03/2008   reconhece   a   união   estável 
homoafetiva, sendo que os operadores do Direito devem estabelecer parâmetros em relação à 
união de parceiros heterossexuais, tendo como base os princípios constitucionais da igualdade 
e  dignidade  da  pessoa  humana.  Arrazoa  ainda  que  o  Estado  oferece  especial  proteção  à 
Família, conforme art. 226 da CF e a analisando seu § 3°, onde se reconhece como união 
estável a entidade familiar constituída por homem e mulher, pela toponímia e dicção não pode 
ser restritiva.
O   juiz   não   deve   se   eximir   de   julgar,   a   pretexto   de   haver   lacuna   ou 
obscuridade da lei. Isso porque a própria Constituição traz princípios abertos, indeterminados 
e plurissignificativos, cujas normas dependem da interpretação sistematizada num contexto 
jurídico,   sem obediência   a  puros   critérios  de   lógica   formal   e   tampouco   reduzida  à  mera 
análise lingüística. Ao contrário, obedece a razões históricas com base no problematicismo e 
razoabilidade   do   processo   hermenêutico.   Entre   várias   interpretações   possíveis,   adota­se 
aquela que corresponder aos valores éticos da pessoa e da convivência social.  (MENDES, 
2007, p.152)
Não se pretende banalizar  a  norma do artigo  226, §  3°,  da Constituição 
Federal, mas sim, ampliar a sua eficácia com base em outros preceitos inseridos na própria 
Constituição, como os princípios da dignidade e igualdade da pessoa humana. (FUGIE, 2003, 
p.74­75)
No mesmo sentido: 
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[...] os modelos convencionais afetos às minorias sociais devem ser regulados, pois 
embora não seja inverídico que a regulação desses modelos cerceia a liberdade dos 
conviventes,   não   é   menos   verdade   que   a   falta   de   regulação   os   relega   ao 
obscurantismo,   solo   fértil   para   cultivo   da   discriminação   e   preconceito. 
(TALAVERA, 2004, p.33)
Ana Carla H. Matos completa: 
Ao lado do princípio da igualdade, está o também relevante princípio da pluralidade 
familiar a informar essas realidades. Talvez por isso, melhor seria denominar­se – o 
princípio da paridade, para ser destacado o tratamento diferenciado necessário ao 
tratamento  de realidades  sociais  próximas,  mas  diversas.  A união estável,  então, 
importa um contexto mais próximo do conteúdo da união homoafetiva ­ tendo­se em 
vista serem ambas as realidades uniões familiares. (2007, p.148)
A doutrina e a jurisprudência, como podemos observar, reconhece a união 
entre homossexuais (homoafetiva) como união estável e os conflitos relacionados a essa área 
pertencem à Vara de Família.
Seguem dois julgados sobre o assunto:
HOMOSSEXUAIS.   UNIÃO   ESTÁVEL.   POSSIBILIDADE   JURÍDICA   DO 
PEDIDO. É possível o processamento e o reconhecimento de união estável entre 
homossexuais, ante princípios fundamentais insculpidos na Constituição Federal que 
vedam   qualquer   discriminação,   inclusive   quanto   ao   sexo,   sendo   descabida 
discriminação quanto a união homossexual e justamente agora, quando uma onda 
inovadora   se   estende   pelo   mundo,   com   reflexos   acentuados   em   nosso   país, 
destruindo   preceitos   arcaicos,   modificando   conceitos   e   impondo   a   serenidade 
cientifica da modernidade no trato das relações humanas, que as posições devem ser 
marcadas e amadurecidas, para que os avanços não sofram retrocesso e para que as 
individualidades  e coletividades,  possam andar seguras na tão almejada busca da 
felicidade,   direito   fundamental   de   todos.   Sentença   desconstituída   para   que   seja 
instruído o feito. Apelação Provida. (TJRS, APELAÇÃO CÍVEL Nº 598362655, 8a 
CAMARA CÍVEL, RELATOR: DES. JOSE ATAIDES SIQUEIRA TRINDADE, 
JULGADO EM 01/03/2000)
RELAÇÕES   HOMOSSEXUAIS.   COMPETÊNCIA   DA   VARA   DE   FAMÍLIA 
PARA   JULGAMENTO   DE   SEPARAÇÃO   EM   SOCIEDADE   DE   FATO.   A 
competência para julgamento de separação de sociedade de fato de casais formados 
por pessoas  do mesmo sexo é  das  varas  de família,  conforme precedentes  desta 
Câmara, por não ser possível qualquer discriminação por se tratar de união entre 
homossexuais,   pois   é   certo   que   a  Constituição   Federal,   consagrando   Princípios 
Democráticos de Direito, proíbe discriminação de qualquer espécie, principalmente 
quanto   a   opção   sexual,   sendo   incabível,   assim,   quanto   a   sociedade   de   fato 
homossexual. Conflito de Competência acolhido. (TJRS, CCO Nº 70000992156, 8a 
CAMARA CÍVEL, RELATOR: DES. JOSE ATAIDES SIQUEIRA TRINDADE, 
JULGADO EM 29/06/2000)
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Até mesmo o Supremo Tribunal Federal acenou para que a questão se dirija 
ao Direito de Família, ao julgar a Medida Cautelar na Ação Direta de Inconstitucionalidade 
3300 ­ Distrito Federal, em 03/02/2006, onde o Ministro Celso Antônio Bandeira de Mello 
afirmou que  a união homossexualdeve ser reconhecida como uma entidade familiar  e não 
apenas como sociedade de fato.
Inúmeros projetos  de  lei   regulamentando a questão em trâmite  no Brasil 
merecem atenção especial,  como por exemplo, o Estatuto das Famílias na Câmara Federal 
(Projeto de Lei n° 2285/2007), em cuja Exposição de Motivos o deputado Sérgio Barradas 
Carneiro argumenta que a Carta Magna não veda o relacionamento homoafetivo: 
O  estágio   cultural   que   a   sociedade   brasileira   vive,   encaminha­se   para   o   pleno 
reconhecimento da união homoafetiva como entidade familiar. A norma do art. 226 
da   Constituição   é   de   inclusão   ­   diferentemente   das   normas   de   exclusão   das 
Constituições pré­1988 ­, abrigando generosamente os arranjos familiares existentes 
na   sociedade,   ainda   que   diferentes   do  modelo  matrimonial.   A   explicitação   do 
casamento, da união estável e da família monoparental não exclui as demais que se 
constituem como comunhão de vida afetiva,  com finalidade de família,  de modo 
público e contínuo.  Em momento algum a Constituição veda o relacionamento de 
pessoas   do   mesmo   sexo.  A   jurisprudência   brasileira   tenta   preencher   o   vazio 
normativo  infraconstitucional,  atribuindo efeitos  pessoais  e  familiares  às  relações 
entre essas pessoas. Ignorar essa realidade ê negar direitos às minorias, incompatível 
com o Estado Democrático.  Tratar essas relações cuja natureza familiar salta aos 
olhos como meras sociedades de fato,  como se as pessoas fossem sócios de uma 
sociedade   de   fins   lucrativos,  é   violência   que   se   perpetra   contra   o   princípio   da 
dignidade das pessoas humanas, consagrado no art. Io, III, da Constituição. Se esses 
cidadãos brasileiros  trabalham, pagam impostos,  contribuem para  o progresso do 
país, é inconcebível interditar­lhes direitos assegurados a todos, em razão de suas 
orientações sexuais. 
Em 07 de agosto de 2006, foi sancionada a Lei no 11.340/2006 (Lei Maria 
da Penha), que de tem por objetivo coibir a violência doméstica e familiar praticada contra a 
mulher.  Esta   lei   trouxe em seu interior,  especificamente  em seu artigo 5°,   II  e Parágrafo 
Único, uma novidade no nosso ordenamento jurídico:
Artigo 5°  Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra 
a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, 
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:
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II ­ no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos 
que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou 
por vontade expressa;
Parágrafo  Único.   As   relações   pessoais   enunciadas   neste   artigo   independem  de 
orientação sexual.
A sociedade deve sempre intentar para o bem da família, buscando soluções 
que visem o interesse e bem estar de todos, na tentativa de incluir todas as classes de pessoas: 
"Toda a doutrina social que visa destruir a família é má, e para mais inaplicável. Quando se  
decompõe uma sociedade, o que se acha como resíduo final não é o indivíduo, mas sim a  
família." (VICTOR HUGO apud PIZZININGA, 2008 p.01)
A base da sociedade é  a família e, por isso, deve estar sempre acima de 
tudo, visando sempre sua existência.
Ante o exposto, resta demonstrado que a família, na atualidade, é unida por 
laços   de   amor   que   é   a   razão   de   sua   existência,   deixou   de   ser   um   instituto   fechado   e 
individualista   passou   a   ser   uma   comunidade   de   afeto   e   consideração  mútuos,   base   da 
sociedade e da dignidade da pessoa humana, é democrática e verdadeira e visa à felicidade do 
ser humano.
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III. DO BEM DE FAMÍLIA
O bem de família consiste em um dos caminhos para garantir um amparo à 
família,   destinando   os   bens   desta,   tornando­se   seu   domicílio   impenhorável   e   inalienável 
estando os pais vivos e até que os filhos completem sua maioridade. 
No direito  Brasileiro  existem duas classificações,  para o bem de família, 
conforme a constituição do referido instituto, uma na forma voluntária e outra involuntária.
3.1 Conceito
O bem de família era conhecido como imóvel urbano ou rural, destinado ou 
consentido pelo chefe de  família, por escritura pública,  a ser utilizado como domicílio da 
sociedade doméstica, com a cláusula de impenhorabilidade. (FRANÇA, 1988, p.117)
Confrontando   esse   conceito   com o   artigo  226  §5º  da  atual  Constituição 
Federal, podemos observar que está desatualizado, já que o citado artigo prevê a igualdade 
entre o homem e a mulher na relação conjugal,  não mais existindo a figura do Chefe de 
Família:  “Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente 
pelo homem e pela mulher.”
A inalienabilidade é um meio para assegurar a habitação da família:
No Bem de Família, a inalienabilidade é criada em função de um outro objetivo: 
assegurar   a   residência   da   família,   sendo   esse   o   objetivo   principal,   e   a 
inalienabilidade um simples meio de atingi­lo. Trata­se de um instituto originário 
dos Estados Unidos, destinado a assegurar um lar à família. A inalienabilidade não é 
um fim, senão um meio de que o legislador se serviu para assegurar a tranqüilidade 
da habitação da família; (...) Etimilogicamente, a palavra "Homestead" compõe­se 
de duas palavras anglo­saxões: "home", de difícil tradução, cuja versão francesa é 
"chez soi", "em sua casa", e "stead", significando "lugar". Em linguagem jurídica 
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quer dizer, porém, uma residência de família, implicando posse efetiva, limitação de 
valor, impenhorável e inalienável. (LOPES, 1988, p.352­353)
Como vimos, a finalidade do bem de família é a proteção desta: “O bem de 
família tem por escopo assegurar um lar à família ou meios para o seu sustento, pondo­a ao  
abrigo de penhoras por débitos posteriores à instituição, salvo as que provierem de tributos  
relativos ao prédio, ou de despesas condominiais.” (DINIZ, 2002, p.192)
Para Carvalho de Mendonça o bem de família seria: “uma porção de bens 
definidos que a lei ampara e resguarda em benefício da família e da permanência do lar,  
estabelecendo a seu respeito a impenhorabilidade limitada e uma inalienabilidade relativa”.  
(MENDONÇA apud AZEVEDO, 2002, p.93)
Como há  de se notar,  Carvalho de Mendonça deixa de especificar  quem 
pode ser o instituidor do bem de família, bem como a forma de constituição do instituto e seu 
objeto, permitindo que nesse conceito se incluam todas as espécies de bem de família. Em sua 
visão os cônjuges estão em pé de igualdade, como o novo conceito constitucional. Ressalta, 
ainda, o caráter limitado da impenhorabilidade e inalienabilidade que incidem sobre o bem. 
O Código Civil de 1916 limitou os valores mobiliários ao valor do imóvel, 
no momento de instituição, mas podem se valorizar posteriormente, de modo a constituir, até 
várias  vezes  o  valor  do   imóvel,   sem que se abale  a  sua   impenhorabilidade.  Se o oposto 
ocorrer,   fica   autorizada   a   família   a   incrementar,  mediante   nova   escritura   pública,   novos 
valores mobiliários ao bem de família, até o diferencial de valorização alcançado pelo imóvel. 
Há   a   restrição  a  um  terço  do  patrimônio   líquido  para  o  bem de   família  como um  todo. 
(AZEVEDO, 2002, p.95)
  Para   ele   o   instituto   deveria   ser   modificado   oferecer   às   famílias   que 
necessitam um meio de se protegerem de reveses futuros:
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Esse reforço mobiliário é importante, não nego; todavia, a família que tem imóvel e 
bens mobiliários já está duplamente garantida. Entretanto, há famílias que só têm o 
imóvel; outras que são titulares de alguma economia, mas não têm imóvel; e outras 
que nada têm,a não ser os bens móveis, que guarnecessem sua residência. Para as 
famílias   proprietárias   de   imóveis,   torna­se   difícil   gravar   um   deles,   dada   a 
impossibilidade de aliená­lo, para atender a dificuldade emergencial da família, o 
que pode levar esta a viver em ótimo imóvel sem ter a possibilidade de sustento. 
Portanto, nesse caso, os valores mobiliários atrelados ao imóvel dariam melhores 
condições  de vida a poucas  famílias  privilegiadas  com esse excesso patrimonial. 
Essa possibilidade, entretanto, é extremamente útil a essas famílias que terão esse 
reforço  para  poder  pagar  os  ônus  de  manutenção  da  propriedade   imóvel,   como 
despesas de conservação, pagamento de tributos, etc. A família proprietária somente 
de valores mobiliários, que reside em imóvel alheio, ficou esquecida pelo legislador, 
pois há casos em que esses valores podem ser cadastrados e infungibilizados, como 
os veículos automotores e as ações ou cotas empresariais que se especificam e que 
constam dos livros societários. A duração desse bem de família poderia ser limitada 
e com cláusula somente de impenhorabilidade, para não paralisar a circulação destes 
bens.   Aí   estaria,   certamente,   o   bem   de   família   voluntário   móvel,   por   mim 
idealizado. (AZEVEDO, 2002, p.117)
Isto   Posto,   podemos   sintetizar   o   conceito   do  bem  de   família  como  um 
instituto   jurídico   que   submete   um  bem  imóvel   residencial   (urbano   ou   rural,   com   suas 
pertenças   e   acessórios,   podendo   abranger   valores   imobiliários)   a   um  regime   especial   de 
impenhorabilidade  e   inalienabilidade   relativa,   com o  objetivo  de  proteger   e   resguardar   a 
manutenção   de   um   lar   para   a  família,   destacando­o   e   isentando­o   dos   riscos   de   uma 
execução por dívidas, com algumas ressalvas.
3.2. Natureza Jurídica
O bem de família não é um contrato, pois contrato é o acordo de duas ou 
mais vontades e tem, por objetivo, regulamentar interesses das partes, visando criar modificar 
ou   extinguir   relações   jurídicas,   de   caráter   patrimonial.  No   bem   de   família   não   existem 
interesses  conflitantes  a   serem acalmados  contratualmente  e  a   favorecida  do  instituto  é  a 
entidade familiar, que, por não ser sujeito de direito, não possui vontade a ser expressa, não 
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podendo ser parte num contrato, ainda que unilateral, onde também se faz necessário o acordo 
de vontades para a composição. (DINIZ, 2006, p.8­9)
O bem impenhorável é a residência da família: “O bem de família é uma 
forma  de   afetação   de   bens   a   um  destino   especial,   que   é   ser   a   residência   da   família”. 
(PEREIRA, 2004. p.557)
Tal instituição não implica na transmissão do bem (a não ser que realizada 
por   terceiro)   nem   a   criação   de   um   condomínio   entre   os   membros   do   grupo   familiar 
beneficiado pela proteção do bem de família, sendo que o bem de família continua sendo de 
propriedade do instituidor, embora atrelado a uma finalidade. Sendo que a diferença principal 
do bem de família e do fideicomisso é que o instituidor do bem de família possui direitos 
iguais aos do beneficiário, a instituição incide, por atos inter vivos, sem se sujeitar a nenhuma 
condição, mas não há como mantê­la por mais de duas gerações. (PEREIRA, 2004. p.557)
Como  podemos   observar,   não   há   como   confundir   bem  de   família   com 
transmissão   ou   fideicomisso,   menos   ainda   se   deve   ponderar   o   bem   de   família   como 
condomínio, uma vez que, no momento em que ele é instituído, os familiares não ostentam a 
qualidade de co­proprietários e o instituidor não perde a propriedade do mesmo. O que ocorre 
é que o bem assume uma destinação específica.
Irineu Antonio Pedrotti diferencia o patrimônio especial do bem de família 
do patrimônio de afetação especial, das fundações: 
[...] se trata de um patrimônio especial, que, a despeito de não sair do patrimônio do 
instituidor,   diferencia­se   do   restante   do   seu   patrimônio   pela   sua   função   e   pela 
regulamentação específica a que se sujeita. Não se confunda, no caso, patrimônio 
especial com patrimônio com afetação especial, como as fundações, pois estas têm 
personalidade jurídica por determinação legal expressa. (1995, p. 155)
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Conforme visto  anteriormente,  parte  de nossa doutrina,   já  preferia  que o 
bem de família fosse tratado no campo de Direito de Família, porquanto que na área onde se 
encontrava   poderiam   ser   estudados   apenas   os   elementos   da   relação   jurídica,   como   por 
exemplo, origem, sujeito, objeto, conservação, modificação e extinção de direitos.
As citadas doutrinas são justificáveis porque, como vimos, o bem de família 
é relação jurídica de caráter específico, uma forma de afetação de bens que tem por finalidade 
a  proteção da família,  garantindo­lhe um asilo,  um lar   impenhorável.  Sendo assim,  a  Lei 
10.406/2002, que trouxe o novo Código Civil, retirou esse instituto da Parte Geral e o inseriu 
no referido Direito de Família.
3.3. Classificação 
Algumas doutrinas divergem quanto à nomenclatura das classificações do 
bem   de   família,   tratando   a   forma   voluntária,   como   especial   ou   facultativa   e   a   forma 
involuntária como legal ou obrigatória. 
O bem de família voluntário é o bem de natureza especial, que depende da 
manifestação   de   vontade   do   agente,   permitindo  que   se   destine  um   imóvel   seu   para   sua 
moradia, protegendo seu grupo familiar contra execuções por dívidas posteriores à instituição, 
com   ressalva   das   execuções   fiscais   relativas   ao   próprio   imóvel.   Isto   é,   depende   de 
manifestação de vontade e providências jurídicas especiais.  Já a forma do bem de família 
involuntária, se aplica a todas as famílias, sem distinção e independe de iniciativa para a sua 
constituição. Ambos objetivam os bens móveis e imóveis. (ALVES, 2008, p.01)
32
Com a leitura do artigo 70 do Código Civil de 1916, anteriormente descrito, 
podemos observar que já se previa o bem de família voluntário no Livro dos Bens, em sua 
Parte Geral.
Hoje,   o   bem de   família   voluntário,   encontra­se   no  Livro   do  Direito   de 
Família, e em seu artigo 1.711 está conceituado:
Artigo 1.711. Podem os cônjuges, ou a entidade familiar, mediante escritura pública 
ou testamento, destinar parte de seu patrimônio para instituir bem de família, desde 
que não ultrapasse um terço do patrimônio líquido existente ao tempo da instituição, 
mantidas as regras sobre a impenhorabilidade do imóvel residencial estabelecida em 
lei especial.
Parágrafo  Único.  O   terceiro   poderá   igualmente   instituir   bem   de   família  por 
testamento ou doação, dependendo a eficácia do ato da aceitação expressa de ambos 
os cônjuges beneficiados ou da entidade familiar beneficiada.
Assim sendo,  o  Código  Civil  de  2002  também trata  do  bem de   família 
voluntário, e mesmo sendo posterior ao Código supracitado, como podemos ver não revogou 
o   artigo   70.  Conforme   visto,   em   seu   artigo   acima   exposto,   o   atual  Código   dispõe   que 
permanecem mantidas as regras da lei especial.
O bem de família involuntário surgiu com o advento da Lei 8.009/90, e, 
com isso, o instituto do bem de família se disseminou em larga escala, já que passou a ser 
legal, independente do status social, e esta institui a impenhorabilidade como regra geral já 
em seu Artigo 1º: 
O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável e não 
responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de 
outra natureza,  contraída pelos  cônjuges ou pelos  pais  ou filhos  que  sejam seus 
proprietáriose nele residam, salvo nas hipóteses previstas nesta lei.
Parágrafo  Único.   A   impenhorabilidade   compreende   o   imóvel   sobre   o   qual   se 
assentam a construção, as plantações, as benfeitorias de qualquer natureza e todos os 
equipamentos, inclusive os de uso profissional, ou móveis que guarnecem a casa, 
desde que quitados.
Na citada lei já existia algumas exceções à regra em seu Artigo 3º:
33
Artigo 2º Excluem­se da impenhorabilidade os veículos de transporte, obras de arte 
e adornos suntuosos.
Parágrafo Único. (...)
Artigo 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, 
fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido:
I ­ em razão dos créditos de trabalhadores da própria residência e das respectivas 
contribuições previdenciárias;
II ­ pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à 
aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do 
respectivo contrato;
III ­­ pelo credor de pensão alimentícia;
IV ­ para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas 
em função do imóvel familiar;
V ­ para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo 
casal ou pela entidade familiar;
VI ­ por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença 
penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens.
Porém, a Lei 8.245/91 cria uma nova restrição, acrescendo o inciso VII ao 
Artigo 3º da Lei supracitada, tornando penhorável o bem de família do fiador locatício: “Por 
obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação.”
Portanto, existem atualmente duas classificações para bens de família: bem 
de família voluntário e bem de família involuntário. Este é regulamentado especificamente 
pela lei 8.009 de 1990 e àquele pelo atual Código Civil. 
34
IV. BEM DE FAMÍLIA VOLUNTÁRIO
O objetivo do bem de família é proteger o instituto da família em si não 
somente o direito à habitação, com isso não é qualquer pessoa que pode constituir bem de 
família.
 4.1 Instituidor
De acordo com o Artigo 70 do Código Civil de 1916 quem podia instituir o 
bem de família era o chefe de família: “É permitido aos chefes de família destinar um prédio  
para domicílio desta, com a cláusula de ficar isento de execução por dívidas, salvo as que  
provierem de impostos relativos ao mesmo prédio”.
Porém, conforme visto anteriormente, esse artigo foi inutilizado depois da 
existência do artigo 226, § 5º, da Constituição Federal de 1988, que constitui a igualdade 
entre os cônjuges, visto que não permanece mais a figura do homem como chefe de família, 
tornando  necessária   a   presença  do   casal:  Artigo  226   (...)   §   5º   ­   “Os  direitos   e   deveres  
referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.”
O artigo 1.711 do Código Civil de 2002 elucida que a instituição do bem de 
família compete aos cônjuges, à entidade familiar ou até mesmo a terceiros. Há concordância 
com o artigo 226 da Constituição Federal de 1988, pois coloca os cônjuges em condições 
idênticas.  Este artigo ainda comina à união estável e à  família monoparental  a posição de 
entidade familiar, incuindo­as no conceito de família.
35
O Parágrafo Único do citado artigo, quando permite a instituição do bem de 
família por terceiro via testamento ou doação em benefício da entidade familiar, sujeita como 
requisito essencial para o ato, a aceitação expressa dos cônjuges a serem beneficiados ou da 
entidade familiar.
O Código de 2002 inovou sobre a legitimação para a constituição de bem de 
família voluntário, que trouxe essa possibilidade de instituição por terceiros. O artigo dispõe 
que a   instituição seja   feita  por  doação ou  testamento,  e   será  eficaz  somente  se  houver  a 
concordância dos cônjuges ou da entidade familiar. 
O artigo 547 do citado Código preceitua que o doador pode estipular que os 
bens  doados  voltem ao  seu  patrimônio,   se   sobreviver  ao  donatário.  Quanto  a   isso  Maria 
Helena Diniz afirma que a doutrina se questiona se o imóvel poderia retornar ao patrimônio 
do  instituidor  quando  da  extinção  do  bem  de  família  voluntário.  Contudo,  na  opinião  da 
presente autora, uma estipulação como esta não poderia interromper a proteção conferida à 
família, pela impenhorabilidade do bem de família, só seria válida no caso de extinção natural 
do instituto. (2002, p.193)
A   união   estável   e   a   família  monoparental   já   eram   consideradas   como 
entidade familiar e a união homoafetiva é equiparada a própria união estável. Deste modo, 
tendo  por   base   esse   entendimento,   poderiam   também  instituir   o   bem  de   família.  Em   se 
tratando de união estável, a lei não determina a coabitação para sua formação, não obstante, a 
regulamentação sobre o bem de família obriga o domicílio da entidade familiar no imóvel 
para   que   se   constitua   em  bem  de   família.  Assim,   no   caso   de   união   estável   em  que  os 
conviventes não coabitem o mesmo imóvel não poderá ser instituído bem de família.
Para o Relator Juiz Aloísio de Toledo César, da 3ª Câmara de São Paulo, a 
Lei  8.009/90  não   exige  que  o   casal   seja   constituído  por  marido   e  mulher,   regularmente 
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casados,   por   autorizar   a   exclusão   da   penhora,   conforme   visto   anteriormente,   também  à 
entidade familiar.  Afirma ser  pacífico o entendimento jurisprudencial  no sentido de que a 
mulher  é   parte   legítima  para  propor  Embargos  de  Terceiros,   em hipóteses   como  o  caso 
abaixo,  e  entende que  esse  direito  se  estende  também à   concubina,   sendo  irrelevante  até 
mesmo a circunstância de o imóvel não estar em seu nome. 
Com a  leitura  do acórdão,  podemos perceber  que  o mencionado Relator 
equipara o concubinato com a união estável, em relação à  impenhorabilidade dos bens de 
família, desde que comprovada a convivência marital.
BEM   DE   FAMÍLIA­   CONCUBINA   E   LEGITIMAÇÃO   PROCESSUAL   AO 
PEDIDO DE EXCLUSÃO DA PENHORA – Imóvel residencial próprio de entidade 
familiar – Tratamento constitucional,  que reconhece a união estável concubinária 
como   entidade   familiar   ­   CF,   artigo   226,   3º   ­   Circunstância   que   legitima   a 
concubina aos Embargos de Terceiro para excluir a penhora de imóvel residencial 
do casal com fundamento na Lei nº 8.009/90 ­ Embargos de Terceiro acolhidos ­ 
Decisão mantida.  (1º  TACIVIL 3ª  Câmara;  Ap.nº 531.988­2­São Paulo;  rel.  Juiz 
Aloísio de Toledo César; j. 14.09.1993; v.u.)
 ACÓRDÃO
Vistos,   relatados   e  discutidos   estes   autos.  ACORDAM, em Terceira  Câmara  do 
Primeiro  Tribunal   de  Alçada  Civil,   por   votação  unânime,   negar   provimento   ao 
recurso.   A   r.   sentença   julgou   procedentes   os   presentes   Embargos   de   Terceiro 
ajuizados por concubina para desconstituir penhora sobre o bem residencial do casal, 
com base na Lei nº 8.009/90. Apela o embargado B. para alegar que a embargante 
deve entrar  com ação própria,  no juízo competente,  o que não ocorreu,  e que o 
imóvel objeto da penhora não está em nome da embargante, razão pela qual seria 
parte   ilegítima   na   presente   ação.   Argumenta   também   que   cabia   à   embargante
provar   que   não   foi   beneficiada   pelo   empréstimo   e   discorre,   em  bem elaborada 
petição,  sobre direito  intertemporal,  ofensa ao direito adquirido e ao ato jurídico
perfeito, pedindo, ao final, a reforma da decisão. Recurso respondido e preparado.
Processo em ordem. É o breve relatório. A Lei n.º 8.009/90 é peremptória, nos seus 
artigos 1º e 2º, ao excluir da penhora o imóvel residencial próprio do casal ou de 
entidade familiar. Não condicionamencionada lei que o casal seja constituído por 
marido e mulher, regularmente casados, até mesmo porque autoriza a exclusão da 
penhora também à entidade familiar. Ora, no caso dos autos, há prova inequívoca de 
que   a   embargante   vive  maritalmente   com   o   co­devedor   desde   1974,   com   ele 
possuindo uma filha, atualmente com 14 anos de idade. Ademais, a Constituição 
Federal consignou avanço social que se impunha, ao dispor, no seu artigo 226, § 3º, 
que:   "Para   efeito   da   proteção   do   Estado,   é   reconhecida   a   união   estável
entre  o   homem e   a  mulher   como  entidade   familiar,   devendo   a   lei   facilitar   sua 
conversão em casamento. Tendo em vista que a Lei nº 8.009/90 fala, expressamente, 
na   exclusão   da   penhora   do   imóvel   residencial   da   entidade   familiar,   impõe­se
concluir   que   é   plena   sua   eficácia   sobre   a   hipótese   em   foco,   desconstituindo   a 
penhora   que   alcançou   a   casa   onde   vivem  a   embargante,   seu  marido   e   a   filha.
Como é pacífico o entendimento jurisprudencial no sentido de que a mulher é parte 
legítima para propor Embargos de Terceiros, em hipóteses como a presente, forçoso 
concluir   que   esse   direito   se   estende   também   à   concubina,   sendo   irrelevante   a 
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circunstância de o imóvel não estar em seu nome. Enfim, não se pode considerá­la 
parte ilegítima pela circunstância, no caso irrelevante, de ser a concubina, e não a 
esposa em ligação  regularmente  constituída.  A Ação de Embargos  de Terceiros, 
portanto,   é   apropriada.   Ainda   que   se   receba   com   extremo   respeito   a   erudita 
irresignação do apelante, em seu recurso, não há como provê­lo, porque significaria 
negar   vigência   à   Lei   nº   8.009/90   e   ao   direito   que   o   Estado   reconheceu   na 
Constituição   Federal   à   união   estável   entre   homem   e  mulher.   Portanto,   nega­se 
provimento   ao   recurso.   Participaram   do   julgamento   os   juízes  Remolo   Palermo 
(Revisor)   e   Carlos   Paulo   Travain   São   Paulo,   14   de   setembro   de   1993.
Aloísio de Toledo César ­ Presidente e Relator. 
O concubino de boa­fé possui todos os direitos garantidos pela união estável 
e até mesmo os que convivem em simultaneidade familiar podem instituir o bem de família. 
(GOMES, 2007, p.03)
Maria Helena Diniz, na obra Norma Constitucional e seus Efeitos: 
[...] também os contraentes não podem instituí­lo, porque, antes do consórcio não 
existe a família, a menos que já exista a convivência na união estável. Os solteiros 
também   não   podem  pela   mesma   razão,   não   obstante   exista   jurisprudência 
outorgando   esse   direito.”   Ainda   segundo   a   professora  Maria   Helena   Diniz  “o 
objetivo da norma é proteger a família, não o devedor. (2003, p.183)
Quanto à possibilidade de instituição de bem de família voluntário no caso 
de avós que, com o falecimento do filho, ficam com a guarda dos netos isso não é possível, 
visto que não há família no sentido jurídico,  uma vez que, com o casamento dos filhos e 
nascimento   dos   netos,   nasce   uma   nova   família   da   qual   os   avós   não   são  membros.   A 
circunstância não muda com o óbito dos filhos, não podendo os avós fundar bem de família 
em prol dos netos, nem mesmo na qualidade de terceiro, pois os netos órfãos sozinhos não são 
família. Ao mesmo tempo, não necessariamente os avós terão a guarda dos netos, porquanto 
os filhos podem, por testamento, apartar os avós da tutela dos netos. (DINIZ, 2003, p.183)
4.2 Objeto
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O objeto do bem de família foi uma das modificações básicas que o Código 
Civil de 2002 fixou ao instituto, já que o artigo 70 do Código Civil de 1916 dispõe apenas a 
propósito da proteção aos imóveis (prédio)
Não   se  permite  que  o  bem de   família   recaia   sobre   terreno  porque  este, 
estando   nu,   não   serve   como   abrigo   e   proteção   para   o   grupo   familiar,   idéia   inerente   ao 
instituto. (CENEVIVA, 2005. p.561)
Bem de   família   não   pode   incidir   sobre   imóvel   comercial   ou   industrial, 
prédio de lazer ou similares. (FIORANELLI, 2008, p.01)
O artigo 1.712 do Código Civil de 2002 tem como objeto de bem de família 
o imóvel urbano ou rural, e ainda valores mobiliários, sendo que a possível renda destes será 
aplicada na manutenção do imóvel e no sustento da família:
O  bem  de   família   consistirá   em   prédio   residencial   urbano   ou   rural,   com   suas 
pertenças  e  acessórios,  destinando­se em ambos os casos  a  domicílio  familiar,  e 
poderá  abranger valores  mobiliários,  cuja  renda será  aplicada na conservação do 
imóvel e no sustento da família.
Esse dispositivo delibera acerca dos objetos passíveis de serem instituídos 
como bem de família, decide ainda finalidade dos mesmos e bem como da eventual renda 
com eles auferida. 
No primeiro momento se refere a bens imóveis, inclusive suas pertenças e 
acessórios. As pertenças somente se consideram incluídas no bem de família por força da 
expressa disposição deste artigo, uma vez que o artigo 94 do mesmo Código preceitua que: 
“Os negócios jurídicos que dizem respeito  ao bem principal  não abrangem as pertenças,  
salvo se o contrário resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das circunstâncias do  
caso”.
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Conforme artigo 93 do mesmo Código, as pertenças são aqueles bens que se 
destinam   de  modo   duradouro   ao   uso,   serviço   ou   aformoseamento   de   outro,   e   não   se 
constituem  partes   integrantes,   por   exemplo,   temos   o   ar   condicionado,   quadro,   piano   em 
relação à casa. O arado e o trator serão pertenças em relação à fazenda e o rádio em relação ao 
carro. As pertenças, via de regra, não serão somados à coisa principal, salvo por disposição 
expressa das partes ou determinação legal, como é o presente caso.
Pela regra geral do Direito os acessórios seguem o imóvel ainda que a lei 
nada diga a respeito. Essa regra foi inserida pelo artigo 59 do Código Civil de 1916: “Salvo 
disposição especial em contrário, a coisa acessória segue a principal.”
O acessório deve seguir o bem de família principal e até mesmo as pertenças 
para garantir o habitat natural da família.
Podemos observar a evolução do instituto, por admitir tanto os bens de raiz, 
destinados  à  morada  da   família,   (o  artigo  235 do  Código  Civil  de  1916  impedia  que  os 
cônjuges, independente do regime de bens, alienassem, hipotecassem ou gravassem com ônus 
reais bens imóveis, sem consentimento do outro, por seu elevado valor econômico, significam 
fonte de renda à família) quanto os valores mobiliários. 
Dentre os valores mobiliários podemos destacar os títulos da dívida pública, 
ações societárias e commercial papers, com a observância de que deverão ser instituídos ao 
lado de um imóvel que sirva de moradia à família e, ainda, não pode ultrapassar o valor deste, 
à época de sua instituição:
Art.   1.713   Os   valores   mobiliários,   destinados   aos   fins   previstos   no   artigo 
antecedente, não poderão exceder o valor do prédio instituído em bem de família, à 
época de sua instituição.
§1°   Deverão   os   valores   mobiliários   ser   devidamente   individualizados   no 
instrumento de instituição do bem de família.
§  2°  Se se  tratar  de   títulos  nominativos,  a  sua  instituição como bem de família 
deverá constar dos respectivos livros de registro.
§ 3° O instituidor poderá  determinar que a administração dos valores mobiliários 
seja confiada a instituição financeira, bem como disciplinar a forma de pagamento 
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da   respectiva   renda   aos   beneficiários,   caso   em   que   a   responsabilidade   dos 
administradores obedecerá às regras do contrato de depósito.
Com a leitura artigo 1.713do Código Civil de 2002, percebemos, como já 
dito, a determinação de que o valor do bem móvel não poderá extrapolar o valor do imóvel 
protegido.
A limitação ao preço dos valores mobiliários referidos no  caput  do artigo 
transcrito   tem por  objetivo  evitar   abusos  daqueles  que  pretendem  instituir   como bem de 
família   rendas  muito   superiores   àquelas   que   bastariam   ao   sustento   de   sua   família.  Não 
podemos esquecer que o objetivo do bem de família é a manutenção do habitat da própria 
família e não de prejudicar credor.
Pelo   Parágrafo   1º   do   artigo   acima   citado   prevê   a   necessidade   de   se 
pormenorizar   os   caracteres   dos  valores  mobiliários,   obrigando   a   sua   individualização   de 
maneira inequívoca no próprio instrumento de instituição do bem de família. 
O   instituidor   deverá  mencionar   expressamente   a   instituição   do   bem   de 
família   nos   livros   próprios   em   que   se   encontrarem   registrados   os   títulos   nominativos, 
conforme o Parágrafo 2º do citado artigo, já que não serão mais facilmente alienados: Artigo 
1.717: ”O prédio e os valores mobiliários, constituídos como bem da família, não podem ter  
destino  diverso  do  previsto   no  art.   1.712  ou   serem alienados   sem o   consentimento  dos  
interessados e seus representantes legais, ouvido o Ministério Público.” 
Ainda,   de   acordo   com   o   Parágrafo   3º,   o   instituidor   poderá   confiar   a 
administração   dos   valores   mobiliários   a   uma   instituição   financeira,   que   se   tornará   a 
depositária dos mesmos. Com isso, a referida instituição será tratada como mera detentora dos 
títulos, porque possui, em seu poder, títulos em nome de terceiro. Assim sendo, tais títulos 
estarão protegidos   já  que não  integrarão  o patrimônio  da administradora  que em caso de 
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falência,  por exemplo,  os  títulos  serão transferidos  a  outra  administradora,  nos  termos do 
artigo 1.718 do Código Civil:
Qualquer forma de liquidação da entidade administradora, a que se refere o § 3o do 
art.   1.713,   não   atingirá   os   valores   a   ela   confiados,   ordenando   o   juiz   a   sua 
transferência para outra instituição semelhante, obedecendo­se, no caso de falência, 
ao disposto sobre pedido de restituição.
Por força do artigo 1.719 do Código Civil de 2002 é possível se instituir, ab 
initio, o bem de família sobre um imóvel e, paralelo a isto, sobre  valores mobiliários  que 
forneçam o sustento familiar  e a manutenção da residência da família.  Antes era possível 
somente a substituição de um imóvel por outro imóvel de menor valor devendo­se aplicar o 
restante em valores mobiliários,   isso se pudessem demonstrar  judicialmente a necessidade 
dessa medida.  Em outras palavras o bem inicialmente instituído como bem de família era 
unicamente um imóvel (DINIZ, 2004, p.217)
Destarte, a proteção do bem móvel está infimamente ligada à existência de 
um bem de família imóvel e não pode existe isoladamente, porquanto que o objetivo de sua 
composição  é   inicialmente   a  conservação  do   imóvel  e   sustento  da   família   e  proteção  da 
mesma.
4.3 Propriedade do Bem
O artigo 1.711 de 2002 regula a obrigação de ser proprietário do bem para 
poder instituí­lo como bem de família (deve ser patrimônio próprio do instituidor). Sendo o 
instituidor um terceiro, a propriedade deve ser transferida para os  chefes da família, como 
vimos, por testamento ou doação. 
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O  Código   Civil   de   1916   não   trazia   expressa   a   necessidade   de   que   o 
instituidor do bem de família deve ser o proprietário. Porém, não há como ver essa situação de 
maneira diversa, visto que pelo Direito Civil somente o proprietário pode instituir ônus sobre 
o imóvel, ainda mais em se tratando de inalienabilidade e impenhorabilidade.
No   caso   de   instituição   por   terceiros   deve   haver   outorga   uxória   porque 
haverá transferência de propriedade, por doação ou testamento, como visto. Nos demais casos 
não há que se falar nisso, porque o patrimônio continua com o casal e não há interferência no 
regime de bens. 
A   titularidade   do   imóvel   deve   ser   exclusiva   do   instituidor   e,   por   isso, 
condômino de coisa comum pro indiviso não pode instituir bem de família sobre o bem em 
condomínio.  Os condôminos não podem instituir  o imóvel como bem de família para não 
prejudicar uma família e beneficiar a outra, deve­se resolver o condomínio primeiramente.A 
não ser o condômino da lei 4.591 de 1964, pois detém a unidade autônoma predeterminada na 
instituição condominial submetida ao regime especial de condomínio. (FIORANELLI, 2008, 
p.01)
Vimos anteriormente que o artigo 1.712 do Código Civil  de 2002 prevê 
expressamente que a destinação do bem de família deve ser o domicílio desta.
 No presente trabalho, já observamos inúmeras finalidades para o instituto 
bem de família, uma delas é que o imóvel deve se destinar ao abrigo da família quando esta 
necessitar   e   que   a   interpretação   literal   dos  dispositivos   legais   pode   lesar   o   emprego  do 
instituto. (SANTOS, 1952, p.194­197)
Se o bem residencial da família está locado, por exemplo, servindo como 
renda para a subsistência da família, nem por isso perderá a destinação de garantia familiar. 
(2º TAC/SP, 10ª Câmara. Ag. 686144­0/4, Relator. Juiz Soares Levada, v.u., j. 2542201)
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A solvabilidade do instituidor é  mais um dos requisitos essenciais  para a 
instituição   do   bem   de   família   voluntário.   Essa   solvabilidade   deve   existir   à   época   da 
instituição, como interpretação do artigo 1.715, caput do Código Civil de 2002:  “O bem de 
família é isento de execução por dívidas posteriores à sua instituição, salvo as que provierem 
de tributos relativos ao prédio, ou de despesas de condomínio.”
Por   este   artigo,   fica   determinado   que   o   bem   de   família   será   imune   à 
execução  por  dívidas   posteriores  à   sua   instituição,   a  não   ser   quando   se   tratar   de  dívida 
advinda de tributo respeitante ao mesmo imóvel ou pagamento de taxas condominiais. Esta 
exceção se trata de mais uma inovação do Novo Código Civil.
Aqui, o problema não se refere às dívidas precedentes à instituição, mas sim 
à solvabilidade. Pode haver débitos anteriores à instituição do bem de família  desde que  o 
instituidor possua patrimônio satisfatório para liquidá­las no momento da constituição. Mais 
uma vez o legislador buscou impedir  a fraude contra credores haja vista que não é este o 
desígnio   do   instituto.  Logo,   não   será   válido   o   ato  de   instituição   se   ficar   comprovada   a 
insolvência do proprietário em relação a dívidas anteriores ao bem de família voluntário. A 
instituição será anulada e a execução da dívida poderá atingir o imóvel sem nenhuma ressalva.
Clóvis Beviláqua, em obra anterior ao Novo Código Civil, afirma: “O bem 
deve   estar   totalmente   desonerado   no   momento   da   instituição,   não   cabendo,   portanto,  
instituição de bem de família sobre imóvel hipotecado.” (1956, p.159)
Nesse sentido: 
Não existe impedimento à instituição do bem de família sobre imóvel hipotecado, 
pois   neste   caso   existe   uma  dívida   anterior  à   instituição,   só   que   afiançada   pela 
hipoteca,   e,   caso   comprovada   a   insolvabilidade   do   instituidor   ao   tempo   da 
instituição do bem de família,  o  imóvel será  atingido  igualmente pela  execução. 
(AZEVEDO, 2002. p.103) 
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Por conseguinte, há a obrigação de ser proprietário do bem, destinação do 
bem de família, para poder instituí­lo como bem de família, já que, pelo Direito Civil somente 
o   proprietário   pode   instituir  ônus

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