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Cardiopatia Isquêmica A cardiopatia isquêmica (CI) é a principal causa de morte no mundo tanto para homens como para mulheres (no total, 7 milhões por ano). A CI é a designação genética para um grupo de síndromes fisiologicamente relacionadas que resultam da isquemia do miocárdio – um desequilíbrio entre o suprimento (perfusão) e a demanda do coração por sangue oxigenado. A isquemia abrange não apenas uma insuficiência de oxigênio, mas também uma disponibilidade reduzida de substratos nutrientes e uma remoção inadequada de metabólitos (Cap. 1). Por esta razão, a isquemia geralmente é menos tolerada pelo coração do que a hipoxia, tal como ocorre na anemia grave, cardiopatia cianótica ou doença pulmonar avançada. Em mais de 90% dos casos, a causa da isquemia miocárdica é uma redução do fluxo sanguíneo coronariano em razão de uma obstrução aterosclerótica nas artérias coronárias. Assim, a CI é frequentemente denominada de doença arterial coronariana (DAC) ou doença cardíaca coronariana. Na maioria dos casos, há um longo período (mais de décadas) de aterosclerose coronariana lenta, progressiva e silenciosa antes do aparecimento desses sintomas. Dessa forma, as síndromes da CI são apenas as manifestações tardias da aterosclerose coronariana que, provavelmente, se iniciou durante a infância ou adolescência (Cap. 11). A CI apresenta-se com uma ou mais das seguintes manifestações clínicas: Infarto do miocárdio, a forma mais importante de CI, no qual a isquemia provoca a morte do músculo cardíaco. Angina pectoris, na qual a isquemia não é grave o suficiente para provocar infarto, mas pode ser uma ameaça para o infarto do miocárdio. CI crônica com insuficiência cardíaca. Morte súbita cardíaca. Além da aterosclerose coronariana, a isquemia do miocárdio pode ser causada por embolia coronariana, bloqueio de pequenos vasos sanguíneos do miocárdio e pressão sanguínea sistêmica baixa (p. ex., choque). Além do mais, no cenário de obstrução arterial coronariana, a isquemia também pode ser agravada por um aumento da demanda do coração por energia (p. ex., como ocorre na hipertrofia do miocárdio ou frequência cardíaca aumentada [taquicardia]), pela menor disponibilidade de sangue ou oxigênio devido ao choque, ou por hipoxemia. Algumas condições apresentam vários efeitos danosos; por exemplo, a taquicardia aumenta a demanda por oxigênio (por causa do maior número de contrações por unidade de tempo) e diminui o suprimento (pela diminuição do tempo relativo da diástole, quando ocorre a perfusão cardíaca). Epidemiologia. A CI, em suas várias formas, é a principal causa de morte tanto de homens como de mulheres nos Estados Unidos e em outras nações industrializadas. A cada ano, cerca de 500.000 norte-americanos morrem de CI. Por mais impressionantes que esses números possam ser, eles representam uma melhoria com relação à prevalência de 2 a 3 décadas atrás. Desde o seu pico, em 1963, a taxa global de mortes por CI nos Estados Unidos caiu aproximadamente 50%. Esse declínio constitui um feito espetacular que resultou basicamente de (1) prevenção, realizada pela modificação dos determinadores de risco, como o tabagismo, a elevação do colesterol sanguíneo e a hipertensão e (2) avanços diagnósticos e terapêuticos que permitem tratamentos mais precoces, mais eficazes e mais seguros. O último inclui novos medicamentos, unidades coronarianas, trombólise para tratamento do IM, angioplastia coronariana transluminal percutânea, stents intravasculares, cirurgia para enxerto de bypass de artéria coronária (CABG) e melhor controle de insuficiência cardíaca e arritmias. Uma redução adicional do risco pode ser potencialmente associada à manutenção de níveis sanguíneos normais de glicose nos pacientes diabéticos, ao controle da obesidade, e ao tratamento profilático com anticoagulante tipo aspirina em homens de meia-idade. Entretanto, a continuação desse progresso no século XXI será particularmente desafiadora, em vista da previsão de duplicação do número de indivíduos com mais de 65 anos de idade em 2050 e do aumento da longevidade dos “baby boomers”, da “epidemia de obesidade” e de outros fatores. De modo interessante, os determinantes genéticos da aterosclerose coronariana e CI podem não serem idênticos, pois o IM ocorre em apenas uma pequena fração dos indivíduos com doença coronariana. Por exemplo, o risco de IM, mas não de aterosclerose coronariana, está associado a variações genéticas que modificam o metabolismo do leucotrieno B4. 44 Patogenia. O evento dominante nas síndromes da CI é a perfusão coronariana diminuída com relação à demanda miocárdica, decorrente de um estreitamento aterosclerótico progressivo e crônico das artérias coronárias epicárdicas, e de vários graus de alteração aguda da placa sobreposta, trombose e vasoespasmo. Os elementos individuais e suas interações serão discutidos adiante. Aterosclerose Crônica. Mais de 90% dos pacientes com CI têm aterosclerose em uma ou mais das artérias epicárdicas. As manifestações clínicas da aterosclerose coronariana são, em geral, resultantes da progressiva invasão do lúmen que leva a uma estenose (obstruções “fixas”) ou da ruptura aguda da placa acompanhada de trombose, ambas comprometendo o fluxo de sangue. Uma lesão obstrutiva fixa ocluindo 75% ou mais do lúmen geralmente é necessária para provocar uma isquemia sintomática induzida por exercícios físicos (a maioria manifestada por dor no peito, conhecida como angina); com esse grau de oclusão, a vasodilatação arterial coronariana compensatória não é mais suficiente para satisfazer até mesmo os aumentos moderados da demanda miocárdica. A obstrução de 90% do lúmen pode levar a um fluxo sanguíneo coronário inadequado mesmo no repouso. A isquemia miocárdica progressiva induzida por oclusões que se desenvolvem lentamente estimula a formação de vasos colaterais ao longo do tempo, os quais podem proteger o coração contra a isquemia e infarto do miocárdio e mitigar os efeitos de estenoses de alto grau. 45 Embora apenas um único tronco coronariano epicárdio principal possa estar afetado, duas ou três artérias coronárias – a descendente anterior lateral (DAL), a circunflexa esquerda (CE) e a artéria coronária direita (ACD) – estão frequentemente envolvidas na aterosclerose. Clinicamente, placas muito estenosantes podem estar localizadas em qualquer lugar dentro desses vasos, mas tendem a predominar dentro dos primeiros centímetros da DAL e CE e ao longo de toda a extensão da ACD. Algumas vezes, os ramos principais epicárdicos secundários também estão envolvidos (i.e., ramos diagonais da DAL, ramos marginais obtusos da CE ou ramo posterior descendente da ACD), mas a aterosclerose dos ramos intramurais (penetrantes) é rara. Alteração Aguda da Placa. O risco do desenvolvimento individual de CI clinicamente importante depende, em parte, do número, distribuição, estrutura e grau de obstrução das placas ateromatosas. Entretanto, as diversas variações nas manifestações clínicas da CI não podem ser explicadas pela doença anatômica somente. Isso é particularmente verdade para as síndromes coronarianas agudas, angina instável, infarto do miocárdio agudo e morte súbita. As síndromes coronarianas agudas iniciam-se através de uma conversão súbita e imprevisível da placa aterosclerótica estável em uma lesão aterotrombótica potencialmente fatal com ruptura, erosão superficial, ulceração, fissuramento ou hemorragia profunda (Cap. 11). Na maioria dos casos, a alteração da placa provoca a formação de trombos sobrepostos que ocluem parcial ou completamente a artéria afetada. 46,47 Esses eventos agudos estão frequentemente associados à inflamação intralesional que, conforme você lembrará, medeia a iniciação, progressão e complicações agudas da aterosclerose (Cap. 11). Para simplificar, o espectro de alterações agudas nas lesões ateroscleróticas será chamado de ruptura da placa ou alteração da placa. Consequênciasda Isquemia Miocárdica. Nessa síndrome, a consequência mais importante é a isquemia miocárdica abaixo da região do trombo. A angina estável resulta de aumentos da de- manda de oxigênio pelo miocárdio que ultrapassam a capacidade das artérias coronárias acentuadamente estenosadas de elevar a oferta de oxigênio, mas ela geralmente não está associada à ruptura de placas. A angina instável deriva de uma alteração súbita na morfologia da placa, que desencadeia uma agregação plaquetária particularmente oclusiva ou a formação de um trombo mural e, de uma vasoconstrição que provoca reduções intensas, mas transitórias do fluxo sanguíneo coronariano. Em alguns casos, podem ocorrer microinfartos distais, secundários à tromboembolia. No IM, a alteração aguda da placa produz uma oclusão trombótica total e subsequente morte do músculo cardíaco. Por último, a morte súbita cardíaca envolve uma lesão aterosclerótica na qual a placa rompida provoca isquemia miocárdica regional que induz à arritmia ventricular fatal. Cada uma dessas síndromes importantes será discutida em detalhes adiante, seguida da análise das consequências importantes para o miocárdio. ANGINA PECTORIS A angina pectoris (literalmente, dor no peito) é caracterizada por ataques paroxísticos e geralmente recorrentes de desconforto torácico precordial ou subesternal (descritos de modo variado como constritivos, em aperto, asfixiantes ou semelhantes a uma facada), causados por isquemia miocárdica transitória (1 segundo a 15 minutos) que não chega a provocar a necrose celular que define o infarto. Os três padrões de angina pectoris – (1) angina estável ou típica, (2) angina variante de Prinzmetal e (3) angina instável ou em crescente – são causados por variações combinadas de demanda aumentada do miocárdio, diminuição da perfusão do miocárdio e patologia arterial coronariana. Além disso, nem todos os eventos isquêmicos são percebidos pelos pacientes (isquemia silenciosa). 48 FIGURA 12-9. Representação esquemática da progressão sequencial das lesões na artéria coronária e sua associação a várias síndromes coronárias agudas. A angina estável, a forma mais comum, é por esta razão denominada de angina pectoris típica. É causada pela redução da perfusão coronariana (devido à aterosclerose estenosante crônica) com relação à demanda do miocárdio, tal como aquela produzida pela atividade física, excitação emocional ou por qualquer outra causa de sobrecarga cardíaca. A angina pectoris típica geralmente é aliviada pelo repouso (que diminui a demanda) ou pela nitroglicerina, um potente vasodilatador (que aumenta a perfusão). A angina variante de Prinzmetal consiste em um padrão incomum de angina episódica que ocorre no paciente em repouso e é resultante de um espasmo da artéria coronária. Embora os indivíduos com essa forma de angina possam ter aterosclerose coronariana significativa, os ataques anginosos não estão relacionados com a atividade física, frequência cardíaca ou pressão arterial. A angina de Prinzmetal geralmente responde de modo imediato a vasodilatadores, como a nitroglicerina e os bloqueadores do canal de cálcio. A angina instável ou em crescente refere-se a um padrão de dor que ocorre com uma frequência crescente, frequentemente de duração prolongada que é precipitada por esforços progressivamente menores ou que ocorre mesmo em repouso. Na maioria dos pacientes, a angina instável é causada pela ruptura da uma placa aterosclerótica com trombose parcial (mural) superposta e, possivelmente, formação de êmbolos ou vasoespasmo (ou ambos). A angina instável então serve de alerta para um iminente IM agudo; além disso, essa síndrome algumas vezes é denominada de angina pré-infarto. INFARTO DO MIOCÁRDIO (IM) O IM, também conhecido como “ataque cardíaco” consiste na morte do músculo cardíaco resultante de isquemia grave prolongada. É de longe a forma mais importante de CI. Cerca de 1,5 milhão de pessoas nos Estados Unidos sofrem IM anualmente. Incidência e Fatores de Risco. O IM pode ocorrer em qualquer idade, mas sua frequência eleva-se progressivamente com o aumento da idade e na presença de fatores que predispõem à aterosclerose. Cerca de 10% dos infartos do miocárdio ocorrem em pessoas com menos de 40 anos, e 45% ocorrem em pessoas com menos de 65 anos. Negros e brancos são igualmente afetados. Durante toda a vida, os homens têm um risco significativamente maior de sofrer um IM do que as mulheres. 49 Além disso, com exceção daquelas que possuem uma condição que predispõe à aterosclerose, as mulheres estão grandemente protegidas contra o IM durante o período reprodutivo da vida. Entretanto, a diminuição do estrogênio que se segue à menopausa pode permitir o rápido desenvolvimento da doença arterial coronariana (DAC), e a CI é a principal causa de morte entre as mulheres idosas. A terapia de reposição hormonal pós- menopausa não protege as mulheres contra aterosclerose e CI (Cap. 11). 53 Patogenia. Analisaremos agora as bases da isquemia e as consequências da isquemia do miocárdio. Oclusão Arterial Coronariana. No caso de um IM típico, a seguinte sequência de eventos sucedem esta condição (veja Cap. 11 para mais detalhes): O evento inicial consiste em uma alteração súbita da morfologia de uma placa ateromatosa, que pode consistir em hemorragia no interior da placa, erosão ou ulceração, ou ruptura ou fissuramento. Quando são expostas ao colágeno subepitelial e ao conteúdo necrótico da placa, as plaquetas dão início aos processos de adesão, agregação, ativação e liberação de potentes agentes agregadores para formar o microtrombo. O vasoespasmo é estimulado por mediadores liberados das plaquetas. O fator tecidual ativa a cascata da coagulação, aumentando o volume do trombo. Frequentemente, dentro de minutos, o trombo evolui e oclui completamente o lúmen do vaso. A evidência dessa sequência é irrefutável e provém (1) do estudo de necropsia de pacientes que morreram de IM, (2) de estudos angiográficos que mostram uma alta frequência de oclusão trombótica imediatamente após o IM, (3) da alta taxa de sucesso da revascularização coronariana (i.e., trombólise terapêutica, angioplastia, colocação de stent e cirurgia) e (4) da demonstração de lesões ateroscleróticas rompidas residuais por meio da angiografia após a trombólise. A angiografia coronariana realizada dentro de 4 horas do início do IM mostra uma artéria coronária trombosada em quase 90% dos casos. Entretanto, quando a angiografia é adiada em até 12 a 24 horas após o início do IM, a oclusão é vista em apenas cerca de 60% das vezes, sugerindo que algumas oclusões desaparecem devido à lise do trombo, relaxamento do espasmo, ou ambos. Em aproximadamente 10% dos casos, o IM transmural ocorre na ausência de uma patologia vascular coronariana típica. Nesses casos, outros mecanismos podem ser responsáveis pela redução do fluxo sanguíneo coronário, incluindo: Vasoespasmo com ou sem aterosclerose coronariana, talvez associado à agregação plaquetária ou devido ao uso de cocaína. Êmbolos provenientes do átrio esquerdo, associados à fibrilação atrial, a um trombo mural situado no lado esquerdo ou à endocardite vegetante ou infectante, material protético intracardíaco; ou êmbolos paradoxais provenientes do lado direito do coração ou das veias periféricas que passam para a circulação sistêmica, através de um forame oval patente, e causam oclusão coronariana. Isquemia sem aterosclerose e trombose coronariana detectáveis pode ser causada por desordens de pequenos vasos intramurais coronarianos, tais como vasculites, anormalidades hematológicas tais como a doença falciforme, deposição de amiloide nas paredes vasculares e dissecção vascular; baixa pressão sistêmica (choque); ou “proteção” do miocárdio inadequada durante cirurgia cardíaca. Resposta do Miocárdio. A obstrução da artéria coronariana compromete o suprimento sanguíneo a umaregião do miocárdio (Fig. 12-10) provocando isquemia, disfunção do miocárdio e potencial morte celular. A região anatômica irrigada por essa artéria é denominada de área de risco. O prognóstico depende predominantemente da gravidade e duração da privação do fluxo (Fig. 12- 11). FIGURA 12-10 Angiograma post-mortem que mostra a face posterior do coração de um paciente que morreu durante a evolução de um infarto do miocárdio agudo, demonstrando oclusão total da artéria coronária direita distal por um trombo agudo (seta) e uma grande zona de hipoperfusão do miocárdio envolvendo a parte posterior dos ventrículos direito e esquerdo, conforme indicado pelas cabeças de setas e que apresenta um enchimento de capilares quase ausente. O coração foi fixado perfundindo-se as artérias coronárias com glutaraldeído e foi limpo com salicilato de metila, seguido de injeção intracoronariana de um polímero de silicone (amarelo). A fotografia é cortesia de Lewis L. Lainey . (Reproduzida com permissão de Schoen FJ: Interventional and Surgical Cardiovascular Pathology: Clinical Correlations and Basic Principles. Philadelphia, WB Saunders, 1989, p. 60.) FIGURA 12-11 Sequência temporal dos primeiros achados bioquímicos e progressão da necrose após o início de uma isquemia miocárdica grave. A, Alterações iniciais incluem perda de trifosfato de adenosina (ATP) e acúmulo de lactato. B, Por aproximadamente 30 minutos após o início até da isquemia mais grave, a lesão do miocárdio é potencialmente reversível. Após esse período, ocorre perda progressiva da viabilidade que se completa em 6 a 12 horas. Os benefícios proporcionados pela reperfusão são maiores quando ela se instala precocemente e diminuem progressivamente à medida que ela é atrasada. (Modificada com a permissão de Antman E: Acute Myocardial infartion. In Braunwald E, Zipes DP, Libby P (eds): Heart Disease: A Textbook of Cardiovascular Medicine, 6th ed. Philadelphia, WB Saunders, 2001 pp. 1114-1231.) A consequência bioquímica imediata da isquemia do miocárdio é a cessação do metabolismo aeróbico em um período de segundos, levando à produção inadequada de fosfatos de alta energia (p. ex., fosfato de creatinina e trifosfato de adenosina) e ao acúmulo de produtos de degradação potencialmente nocivos (como o ácido lático) (Fig. 12-11A). Por causa da extrema dependência da função do miocárdio do oxigênio, a isquemia grave induz a perda de contratilidade dentro de 60 segundos. Esse fato pode precipitar o aparecimento de uma insuficiência cardíaca aguda bem antes do início da morte das células do miocárdio. Conforme detalhado no Capítulo 1, alterações ultraestruturais (incluindo o relaxamento miofibrilar, a depleção de glicogênio e a tumefação mitocondrial e celular) também desenvolvem-se dentro de poucos minutos do início da isquemia. Entretanto essas alterações iniciais são potencialmente reversíveis e a morte celular não é imediata. Como demonstrado por estudos clínicos e experimentais, apenas a isquemia intensa que dura pelo menos 20 a 30 minutos ou mais leva a um dano irreversível (necrose) de alguns miócitos cardíacos. Evidência ultraestrutural de lesão de miócito irreversível (defeitos estruturais primários no sarcolema) desenvolve-se apenas após uma isquemia do miocárdio intensa e prolongada (tal como a que ocorre quando o fluxo sanguíneo é 10% ou menos do que o normal). Uma característica importante que marca as fases iniciais da necrose celular é o rompimento da integridade do sarcolema, que permite que macromoléculas intracelulares saiam das células e cheguem ao interstício cardíaco e, por último, para o interior da microvasculatura e dos vasos linfáticos na região do infarto. Os testes que avaliam os níveis de proteínas do miocárdio no sangue são importantes no diagnóstico e no tratamento do IM (veja adiante). Com a isquemia grave prolongada, segue-se a lesão da microvasculatura. A progressão temporal desses eventos está resumida na Tabela 12-4. TABELA 12-4 Tempo Aproximado até o Início dos Eventos-chave nos Miócitos Cardíacos Isquêmicos ATP, trifosfato de adenosina. Característica Tempo Início da depleção de ATP Segundos Perda da contratilidade <2 min Redução do ATP até 50% do normal 10 min até 10% do normal 40 min Lesão celular irreversível 20–40 min Lesão microvascular >1 h Na maioria dos casos de IM agudo, o dano permanente ao coração ocorre quando a perfusão do miocárdio está gravemente reduzida por um intervalo extenso (geralmente em 2 a 4 horas) (Fig. 12-11B). Esse retardo no início da lesão do miocárdio permanente fornece a base para o diagnóstico rápido no IM agudo – para permitir a intervenção coronária precoce, com a proposta de estabelecer a reperfusão e salvar o miocárdio “em risco” o máximo que for possível. A progressão da necrose isquêmica no miocárdio está resumida na Figura 12-12. A isquemia é mais pronunciada no subendocárdio; então, uma lesão irreversível dos miócitos isquêmicos ocorre primeiro na zona subendocárdica. Com a isquemia mais extensa, uma frente de onda de morte celular se move através do miocárdio e penetra cada vez mais na espessura transmural da zona isquêmica. A localização precisa, tamanho e características morfológicas específicas de um IM agudo dependem: Do local, intensidade e taxa de desenvolvimento das obstruções ateroscleróticas coronarianas devido a aterosclerose e trombose. Do tamanho do leito vascular irrigado pelos vasos obstruídos. Da duração da oclusão. Das necessidades metabólicas e de oxigênio do miocárdio em risco. Da quantidade de vasos sanguíneos colaterais. Da presença, local e intensidade de espasmo arterial coro-nariano. De outros fatores, tais como frequência cardíaca, ritmo cardíaco e oxigenação sanguínea FIGURA 12-12 Progressão da necrose do miocárdio após oclusão da artéria coronária. A necrose começa em uma pequena zona de miocárdio abaixo da superfície do endocárdio no centro da zona isquêmica. A área que depende do vaso ocluído para perfusão é o miocárdio “em risco” (sombreada). Note que uma zona muito estreita do miocárdio imediatamente abaixo do endocárdio é poupada da necrose, pois pode ser oxigenada por difusão a partir do ventrículo. A necrose geralmente completa-se em 6 horas após o início da isquemia do miocárdio grave. Entretanto, nos casos em que o sistema colateral arterial, estimulado pela isquemia crônica, está bem desenvolvido e, portanto, mais efetivo, a progressão da necrose pode seguir um curso mais lento (possivelmente 12 horas ou mais). O conhecimento das áreas do miocárdio perfundidas pelas três artérias coronarianas principais ajuda a correlacionar as regiões de obstrução vascular com as regiões de infarto do miocárdio. Comumente, o ramo descendente anterior esquerdo da artéria coronária esquerda (ACE) irriga a maior parte do ápice do coração (extremidade distal dos ventrículos), a parede anterior do ventrículo esquerdo e os dois terços do septo ventricular. Por convenção, a artéria coronariana (tanto a artéria coronariana direita [ACD] quanto a artéria circunflexa esquerda [CE]) que perfunde o terço posterior do septo são chamadas de “dominantes” (mesmo que a ACD e a ACE juntas perfundam a maioria do miocárdio ventricular esquerdo). Na circulação dominante direita, presente em aproximadamente 4/5 dos indivíduos, a ACE geralmente perfunde apenas a parede lateral do ventrículo esquerdo, e a ACD irriga toda a parede livre do ventrículo direito, a parede posterobasal do ventrículo esquerdo e o terço posterior do septo ventricular. Então, as oclusões da ACD (bem como da artéria coronariana esquerda) podem provocar dano ventricular esquerdo. As artérias coronárias direita e esquerda atuam como artérias terminais, embora anatomicamente a maioria dos corações apresente numerosas anastomoses intercoronarianas (conexões chamadas de circulação colateral).Pouco sangue circula através da circulação colateral no coração normal. Entretanto, quando uma artéria está muito estreitada, o sangue passa pelas colaterais por um sistema de alta a baixa pressão e provoca a ampliação dos canais. Assim, a dilatação progressiva e o crescimento de vasos colaterais, estimulados pela isquemia, podem desempenhar um papel no fornecimento de fluxo sanguíneo para áreas do miocárdio que estão desprovidas de perfusão adequada. Infarto Transmural versus Subendocárdico. A distribuição da necrose do miocárdio está correlacionada com a localização e causa da redução da perfusão (Fig. 12-16). A maioria dos infartos do miocárdio é transmural, no qual a necrose isquêmica envolve toda ou quase toda a espessura da parede ventricular na distribuição de uma única artéria coronária. Esse padrão de infarto geralmente está associado à combinação de aterosclerose coronariana crônica, alteração aguda da placa e trombose superposta (conforme discutido anteriormente). Em contraposição, o infarto subendocárdico (não transmural) constitui uma área de necrose isquêmica limitada ao terço inferior interno à metade da parede ventricular. Como a zona subendocárdica é normalmente a última região perfundida do miocárdio, essa área é a mais vulnerável a qualquer redução do fluxo coronário. Um infarto subendocárdico pode ocorrer como resultado do rompimento de uma placa seguido por um trombo coronário que se torna lisado antes da necrose do miocárdio se estender ao longo de toda espessura da parede; nesse caso, o infarto estará limitado à região irrigada pela artéria coronária que foi atingida pela alteração na placa. Entretanto, os infartos subendocárdicos também podem resultar da redução prolongada e intensa da pressão arterial sistêmica, como ocorre no choque, muitas vezes superposta a estenoses coronarianas crônicas, mas não críticas. Nos casos de hipotensão global, os infartos subendocárdicos resultantes geralmente são circunferenciais, em vez de estarem limitados à região irrigada por uma única artéria coronária importante. De acordo com as alterações do eletrocardiograma resultantes de isquemia/necrose do miocárdio em várias regiões, os infartos transmurais frequentemente são denominados de “infartos de elevação ST” e os infartos subendocárdicos são conhecidos como “infartos de não elevação de ST”. FIGURA 12-16 Consequências da isquemia miocárdica seguida de reperfusão. A, Ilustração esquemática da progressão da lesão isquêmica miocárdica e sua modificação decorrente da restauração do fluxo (reperfusão). Os corações que sofrem curtos períodos de isquemia, < 20 minutos seguidos de reperfusão, não desenvolvem necrose (lesão reversível). Uma isquemia de curta duração seguida de reperfusão produz atordoamento miocárdico. Se a oclusão coronariana dura mais de 20 minutos, com o passar do tempo uma frente de onda de necrose progride desde o subendocárdio até o subepicárdio. A reperfusão instalada antes de 3 a 6 horas da isquemia salva o tecido isquêmico, porém viável. Esse tecido salvo também pode exibir atordoamento miocárdico. A reperfusão após 6 horas não reduz de modo significativo o tamanho da área infartada. B, Aspecto macroscópico do miocárdio modificado pela reperfusão. C, Aspecto microscópico do miocárdio modificado pela reperfusão. B, Infarto agudo do miocárdio grande e intensamente hemorrágico que atingiu a parede anterior de paciente com trombo na artéria descendente anterior esquerda tratado com estreptocinase, um agente fibrinolítico (corte de coração corado com cloreto de trifeniltetrazólio). Peça orientada com a parede posterior para o alto. C, Necrose do miocárdio com hemorragia e faixas de contração, visíveis como faixas escuras que atravessam algumas miofibras (seta). Esta é a aparência característica do miocárdio acentuadamente isquêmico que sofreu reperfusão. Morfologia. A evolução temporal das alterações morfológicas no IM agudo e subsequente cicatrização estão resumidas na Tabela 12-5. TABELA 12-5 Evolução das Alterações Morfológicas do Infarto do Miocárdio Tempo Caracterfsticas Macroscópicas Microscópio Óptico Microscópio Eletrônico LESÃO REVERSÍVEL 0-½ h Sem alteração Sem alteração Relaxamento das miofibrilas, perda de glicogênio; tumefação mitocondrial LESÃO IRREVERSÍVEL ½-4 h Sem alteração Geralmente sem alteração; ondulação variável das fibras na borda Ruptura do sarcolema; mitocôndrias com densidades amorfas 4-12 h As vezes mosqueamentoescuro Início da necrose por coagulação; edema; hemorragia Continuação da necrose por coagulação; picnose dos núcleos; 12-24 h Mosqueamento escuro miócitos com hipereosinofilia; necrose marginal com faixas de contração; início do infiltrado neutrofílico 1-3 dias Mosqueamento com a area central do infarto de cor amarelo- acastanhada Necrose por coagulação, com perda dos núcleos e das estriações; infiltrado intersticial vigoroso de neutrófilos 3-7 dias Borda hiperêmica; amolecimento central amarelo-acastanhado Início da desintegração das miofibras mortas, com morte de neutrófilos; fase inicial da fagocitose das células mortas pelos macrófagos na borda da area infartada 7-10 dias Amolecimento e coloração amarelo- acastanhada em grau máximo, com margens deprimidas vermelhho- acastanhadas Fase avançada da fagocitose das células mortas, fase inicial da formação do tecido de granulação fibrovascular nas margens 10-14 dias Area infartada com bordas deprimidas vermelho-acinzentadas Tecido de granulação bem organizado com novos vasos sanguíneos e deposição de colágeno 2-8 semanas Cicatriz cinza- esbranquiçada, que progride da borda para o centro da área infartada Aumento da deposição de colágeno, com diminuição da celularidade >2 meses Cicatrização completa Cicatriz colagenosa densa Quase todos os infartos transmurais envolvem pelo menos uma região do ventrículo esquerdo (comprometendo a parede livre e septo do ventrículo) e envolvem quase toda a zona de perfusão da artéria coronariana ocluída, salvo uma borda estreita (de aproximadamente 0,1 mm) de miocárdio subendocárdico que é preservada, mantida por meio de difusão de oxigênio e nutrientes do lúmen ventricular. Dos IMs provocados por obstrução da coronária direita, 15% a 30% se estendem da parede posterior livre da porção septal do ventrículo esquerdo para dentro da parede do ventrículo direito adjacente. O infarto isolado do ventrículo não é comum (1% a 3% dos casos), assim como o infarto do átrio. As frequências de envolvimento de cada um dos três troncos arteriais principais e as regiões correspondentes às lesões do miocárdio resultantes de infarto (no coração direito dominante típico) são apresentadas a seguir (Fig. 12-13A): • Artéria coronária descendente anterior esquerda (40% a 50%): a área de infarto envolve a parede anterior do ventrículo esquerdo, próximo ao ápice; a parte anterior do septo ventricular e o ápice de modo circular • Artéria coronária direita (30% a 40%): a área de infarto envolve a parede inferior/posterior do ventrículo esquerdo; a parte posterior do septo ventricular; e a parede livre inferior/posterior do ventrículo direito em alguns casos • Artéria coronária circunflexa esquerda (15% a 20%): a área de infarto envolve a parede lateral do ventrículo esquerdo, com exceção do ápice FIGURA 12-13 Distribuição da necrose isquêmica do miocárdio correlacionada com a localização e natureza da perfusão reduzida. À esquerda, as posições dos infartos agudos transmurais resultando de oclusões das artérias coronárias principais; de cima para baixo, artérias descendente anterior esquerda, circunflexa esquerda e coronária direita. À direita, os tipos de infarto que resultam de uma oclusão parcial ou temporária, hipotensão global ou oclusões de pequenos vasos intramurais.Às vezes, são encontrados outros locais de lesões arteriais coronarianas críticas, tais como a artéria coronária principal esquerda, os ramos secundários da artéria coronária descendente anterior esquerda, ou os ramos marginais da artéria coronária circunflexa esquerda. O aspecto macroscópico e microscópico de uma área de infarto à necropsia depende da duração da sobrevida do paciente após o IM. As áreas lesadas passam por uma sequência progressiva de alterações morfológicas que consistem em típica necrose isquêmica por coagulação (o mecanismo predominante de morte celular no IM, embora também ocorra apoptose), seguida de inflamação e reparo que se assemelham muito às respostas teciduais à lesão em outros locais. A identificação precoce das áreas de infarto agudo do miocárdio pode ser difícil, particularmente quando a morte ocorre poucas horas após o início dos sintomas. As áreas de infarto do miocárdio com menos de 12 horas geralmente não são visíveis ao exame macroscópico. Contudo, em muitos casos, é possível realçar a área de necrose que surge primeiro após 2 a 3 horas do infarto por meio da imersão de cortes de tecido em uma solução de cloreto de trifeniltetrazólio. Essa coloração histoquímica dá uma cor vermelho- tijolo ao miocárdio intacto não infartado, onde a atividade desidrogenase (p. ex., lactato desidrogenase) está preservada. Pelo fato de as desidrogenases extravasarem através das membranas lesadas das células mortas, um infarto aparece como uma zona pálida e descorada (Fig. 12-14). Posteriormente, dentro de 12 a 24 horas, a área do infarto pode ser identificada nas fatias macroscópicas fixadas de modo rotineiro devido à coloração vermelho-azulada provocada pelo sangue aprisionado e estagnado. Depois disso, a área do infarto transforma-se progressivamente em uma área mais bem definida amarelo- acastanhada e um pouco amolecida. Dentro de 10 dias a 2 semanas, ela é margeada por uma zona hiperêmica de tecido de granulação altamente vascularizado. Nas semanas seguintes, a região lesada evolui para uma cicatriz fibrosa. FIGURA 12-14 Infarto agudo do miocárdio, localizado predominantemente na face posterolateral do ventrículo esquerdo e demonstrado, por histoquímica, pela falta de coloração pelo cloreto de trifeniltetrazólio (TTC) das áreas de necrose (seta). A falha na coloração é decorrente do vazamento das enzimas que ocorre após a morte celular. Observe a hemorragia miocárdica na borda da área do infarto associada à ruptura do coração e a cicatriz anterior (cabeça de seta), indicativa de infarto antigo. A peça está orientada com a parede posterior para o alto. As alterações histopatológicas também apresentam uma sequência bastante previsível (resumida na Fig. 12-15). As alterações típicas da necrose por coagulação se tornam detectáveis nas primeiras 6 a 12 horas. “Fibras onduladas” podem estar presentes na periferia da área do infarto; essas alterações resultam provavelmente do esforço sistólico vigoroso realizado pelas fibras viáveis imediatamente adjacentes às fibras mortas não contráteis, que em consequência, sofrem alongamento. Uma outra alteração isquêmica, porém subletal, pode ser observada nas margens das áreas de infarto: a chamada degeneração vacuolar ou miocitólise, que origina grandes espaços vacuolares no interior das células, os quais provavelmente contêm água. O músculo necrosado produz uma inflamação aguda (mais acentuada em 1 a 3 dias). Após os macrófagos removerem os miócitos necrosados (mais pronunciada em 3 a 7 dias) e a zona lesada é progressivamente substituída por um tecido de granulação altamente vascularizado que cresce para o interior da área lesada (mais acentuado em 1 a 2 semanas) e se torna progressivamente menos vascularizado e mais fibroso. Na maioria dos casos, a cicatrização já está bem avançada perto do final da sexta semana, mas a eficiência do reparo depende do tamanho da lesão original. FIGURA 12-15 Características microscópicas do infarto do miocárdio e do seu reparo. A, Área de infarto com um dia de duração que mostra necrose por coagulação e fibras onduladas (alongadas e estreitas, ao serem comparadas com as fibras normais adjacentes, à direita). Os espaços ampliados entre as fibras mortas contêm líquido edematoso e neutrófilos dispersos. B, Infiltrado denso de leucócitos polimorfonucleares na área de infarto agudo do miocárdio com 3 a 4 dias de duração. C, Remoção quase completa dos miócitos necrosados por fagocitose (aproximadamente 7 a 10 dias). D, Tecido de granulação caracterizado por colágeno frouxo e capilares abundantes. E, Área do infarto do miocárdio bem cicatrizada com substituição das fibras necrosadas por cicatriz colagenosa densa. Presença de algumas células cardíacas residuais. Visto que a cura requer a participação de células da inflamação que migram para a região lesada através dos vasos sanguíneos intactos, que frequentemente sobrevivem apenas nas margens da área do infarto, o processo de cura da área do infarto inicia-se nas bordas e caminha em direção ao centro. Assim, uma área de infarto grande pode não se curar tão rapidamente nem tão completamente quanto uma área de infarto pequena. Uma área de infarto curado pode ter um aspecto não uniforme, exibindo uma cura mais avançada na periferia. Quando a lesão está completamente curada, é impossível determinar sua idade (i.e., a cicatriz de tecido fibroso denso de uma lesão de 8 semanas e a de uma lesão de 10 anos pode ter um aspecto semelhante). As áreas de infarto podem expandir-se através de suas bordas por um período de dias a semanas por um processo de necroses sucessivas em regiões adjacentes (extensão). Nesses casos, o exame do coração revela, com frequência, uma zona central de infarto cuja cura está mais avançada do que aquela da margem da área do infarto. Esse fato contrasta com o aspecto de uma área única de infarto descrita anteriormente, na qual o reparo se encontra em fase mais avançada na periferia da lesão. A área do infarto pode se estender devido à propagação retrógrada de um trombo, de vasoespasmo proximal, da contratilidade cardíaca progressivamente deficiente que proporciona um fluxo de sangue extremamente reduzido por meio estenoses moderadas, do depósito de microêmbolos de plaquetas e fibrina, ou do aparecimento de uma arritmia que afeta ou funcionamento do coração. Agora, iremos considerar as intervenções que tendem a limitar o tamanho do infarto pelo salvamento do miocárdio que ainda não está necrótico. Modificação da Área de Infarto por meio da Reperfusão. O modo mais eficaz de “salvar” um miocárdio isquêmico ameaçado por um infarto consiste em restaurar a perfusão tecidual o mais rápido possível, um processo conhecido como reperfusão. 51 Contudo, apesar da possibilidade de salvar o miocárdio isquêmico, a reperfusão também pode ativar complicações danosas, incluindo arritmias, hemorragia do miocárdio com faixas de contração, dano celular irreversível na área de lesão isquêmica original (lesão por reperfusão), lesão microvascular, e disfunção isquêmica prolongada (atordoamento miocárdico); estes serão discutidos posteriormente e resumidos nas Figuras 12-16 e 12-17. A intervenção coronariana ( i.e., trombólise, angioplastia, instalação de stent ou cirurgia de enxerto de bypass de artéria coronária [CABG]) frequentemente é usada na tentativa de dissolver, alterar mecanicamente ou sobrepor a lesão que iniciou o IM agudo. A proposta desses tratamentos é restaurar o fluxo sanguíneo nas áreas de risco para infarto e salvar o músculo cardíaco isquêmico (mas ainda não necrosado). Como a perda da viabilidade do miocárdio no infarto é progressiva, ocorrendo por um período de várias horas (Figs. 12-11B e 12- 17A), a reperfusão precoce pode salvar o miocárdio e, portanto, limitar o tamanho do infarto, com consequente melhora da função a curto e longo prazo e sobrevida. O benefício potencial dareperfusão está relacionado com (1) a rapidez em que a obstrução coronária é removida (as primeiras 3 a 4 horas iniciais são críticas) e (2) a extensão de correção da oclusão vascular e da lesão subjacente que foi gerada. Por exemplo, a trombólise pode remover um trombo que oclui uma artéria coronária, mas não altera a placa aterosclerótica subjacente que iniciou sua formação. Por outro lado, a angioplastia coronariana transluminal percutânea (ACTP) com instalação de stent não apenas elimina a oclusão trombótica, mas também é capaz de eliminar parte da obstrução original causada pela placa subjacente. O CABG proporciona um fluxo ao redor de um vaso bloqueado. FIGURA 12-17 Efeitos da reperfusão na viabilidade e função do miocárdio. Após a oclusão da artéria coronária, a função contrátil é perdida dentro de 2 minutos e a viabilidade começa a diminuir após aproximadamente 20 minutos. Se a perfusão não for restabelecida (A), quase todo o miocárdio da região afetada morrerá. B, Se o fluxo for restabelecido, alguma necrose poderá ser evitada, e o miocárdio será salvo e pelo menos alguma função retornará. Quanto antes a reperfusão for estabelecida, maior o grau de salvamento. Entretanto, o processo de reperfusão por si só pode provocar algum dano (injúria por reperfusão), e o retorno da função do miocárdio salvo pode ser retardado por horas a dias (disfunção ventricular pós-isquêmica). Vale lembrar que (1) a isquemia intensa não causa morte celular imediata mesmo nas regiões do miocárdio mais intensamente afetadas, e (2) nem todas as regiões do miocárdio tornam-se igualmente isquêmicas. Portanto, o que ocorre após a restauração do fluxo pode variar de região para região. Conforme indicado na Figura 12-16A, a reperfusão do miocárdio dentro de 20 minutos após o início da isquemia pode impedir todo o processo necrosante. A reperfusão após um longo intervalo de tempo pode não impedir todo o processo necrosante, mas pode salvar pelo menos alguns miócitos que teriam morrido. O aspecto típico do miocárdio isquêmico que em seguida sofreu reperfusão está ilustrado na Figura 12-16B e C. A área de infarto reperfundida geralmente apresenta hemorragia porque a vasculatura que foi lesada durante o período da isquemia vaza quando o fluxo é restaurado. O exame microscópico revela que os miócitos que foram lesados de modo irreversível no momento da reperfusão frequentemente apresentam feixes de contração, que são “stripes” intracelulares intensamente eosinófilicas compostas de sarcômeros extremamente comprimidos. Isso resulta da contração exagerada das miofibrilas no instante em que perfusão é restabelecida, pois, nesse momento, a parte interna de uma célula já morta, cujas membranas foram danificadas pela isquemia, é exposta a uma alta concentração de íons cálcio do plasma. Assim, a reperfusão não apenas salva as células com lesão reversível, mas também altera a morfologia das células que já se encontravam danificadas de modo irreversível no momento do refluxo. Além desses efeitos benéficos, a reperfusão também pode ter alguns efeitos danosos no miocárdio isquêmico vulnerável (lesão por reperfusão; Fig. 12-17B). 52 A importância clínica da lesão do miocárdio por reperfusão é incerta. Conforme discutido no Capítulo 1, a lesão por reperfusão pode ser mediada pelo estresse oxidativo, sobrecarga de cálcio e inflamação importante iniciada durante a reperfusão. A lesão microvascular induzida pela reperfusão provoca não apenas hemorragia, mas também edema epitelial que oclui capilares e pode limitar a reperfusão de miocárdio lesado de modo crítico (chamado de não refluxo). As alterações bioquímicas também podem persistir por um período de dias a várias semanas nos miócitos que são salvos da isquemia pela reperfusão. Acredita-se que essas alterações provoquem o fenômeno do miocárdio atordoado, um estado de insuficiência cardíaca reversível que geralmente se mantém por vários dias. 53 A reperfusão também frequentemente induz arritmias. O miocárdio que foi submetido à isquemia subletal crônica também pode entrar em um estado de metabolismo e função reduzidos que é denominado de hibernante. 54 A função do miocárdio hibernante pode ser restabelecida pela revascularização (p. ex., pela cirurgia CABG, angioplastia ou instalação de stent). Paradoxalmente, a isquemia transitória repetida de curta duração pode proteger o miocárdio do infarto (um fenômeno conhecido como pré- condicionamento) por mecanismos que não são bem conhecidos. 55 Aspectos Clínicos. O diagnóstico clássico do IM compreende os sintomas típicos, testes laboratoriais para detectar a presença de proteínas do miocárdio no plasma, e alterações características no eletrocardiograma. Pacientes com IM frequentemente apresentam pulso fraco e rápido e transpiração profusa (diaforese). A dispneia decorrente da contratilidade deficiente do miocárdio isquêmico e a congestão e edema pulmonares resultantes são comuns. Entretanto, em cerca de 10% a 15% dos pacientes o início é totalmente assintomático e a doença é descoberta apenas por alterações no eletrocardiograma ou testes laboratoriais que mostram evidência de lesão no miocárdio (ver adiante). Esses IMs “silenciosos” são particularmente comuns nos pacientes idosos e naqueles com diabetes melito. A avaliação laboratorial do IM baseia-se na avaliação dos níveis sanguíneos de proteínas que vazaram dos miócitos que morreram; essas moléculas incluem a mioglobina, troponinas T e I cardíacas e fração MB da creatina-cinase (CK-MB), lactato desidrogenase e muitas outras (Fig. 12-18). 56 O diagnóstico da lesão miocárdica é estabelecido quando os níveis sanguíneos desses biomarcadores cardíacos estão aumentados no curso clínico da isquemia aguda. A velocidade de detectação desses marcadores na circulação periférica depende de vários fatores, incluindo sua localização intracelular e peso molecular, fluxo sanguíneo e drenagem linfática na área do infarto e a velocidade de eliminação do marcador do sangue. FIGURA 12-18 Liberação de proteínas de miócitos no infarto do miocárdio. Algumas dessas proteínas (p. ex., troponina I, C, ou T e creatina fosfocinase, fração MB [CK-MB]) são usadas como biomarcadores para o diagnóstico. Os marcadores mais sensíveis e específicos da lesão do miocárdio são proteínas específicas do coração, particularmente as troponinas I e T (proteínas que regulam a contração mediada por cálcio do músculo esquelético cardíaco). As troponinas I e T não são normalmente detectadas na circulação. Após o IM, os níveis de ambas começam a aumentar em 2 a 4 horas e atingem um pico em 48 horas. Considerada anteriormente como “padrão-ouro”, a creatina-cinase continua sendo útil. A creatina-cinase, uma enzima que está presente no cérebro, miocárdio e músculo esquelético, é um dímero composto por duas isoformas designadas “M” e “B”. Os homodímeros MM são encontrados predominantemente nos músculos esquelético e cardíaco; homodímeros BB, no cérebro, pulmão e muitos outros tecidos; e heterodímeros MB, principalmente no músculo cardíaco, com quantidades menores também sendo encontradas no músculo esquelético. Como resultado, a forma MB da creatina-cinase (CK-MB) é sensível, mas não específica, pois ela também está elevada quando o músculo esquelético foi lesionado. A CK-MB começa a elevar-se dentro de 2 a 4 horas do início do IM, e os picos são atingidos em cerca de 24 horas, retornando ao normal em aproximadamente 72 horas. Embora as sensibilidades diagnósticas das avaliações de troponina cardíaca e CK-MB sejam similares nos estágios iniciais de IM, os níveis elevados de troponina persistem por aproximadamente 7 a 10 dias após o IM agudo, bem depois dos níveis CK-MB retornarem ao normal. Os níveis de troponina e CK-MB atingem o pico mais rapidamente em pacientes que tiveram sucesso na reperfusão, pois as proteínas são retiradas do tecido necrosado mais rapidamente. A ausênciade alteração dos níveis de CK-MB e troponina após 2 dias exclui a possibilidade de diagnóstico de IM. Consequências e Complicações do IM. Um progresso extraordinário tem sido obtido no tratamento dos pacientes após um IM agudo. Simultaneamente à redução da mortalidade total por CI desde os anos de 1960, a taxa de morte hospitalar declinou de cerca de 30% para aproximadamente 7% em pacientes que estão em tratamento. Metade das mortes associadas ao IM agudo ocorre dentro de 1 hora do início; a maioria desses indivíduos nunca chega ao hospital. As terapias administradas de rotina no curso do IM agudo incluem aspirina e heparina (para impedir trombose adicional); oxigênio (para minimizar a isquemia): nitratos (para induzir vasodilatação e reverter o vasoespasmo); inibidores beta-adrenérgicos (betabloqueadores, para diminuir a demanda de oxigênio do coração e reduzir o risco de arritmias); inibidores da enzima conversora de angiotensinogênio (ACE) (para limitar a dilatação ventricular); e manobras para abrir os vasos bloqueados, incluindo a administração de agentes fibrinolíticos, angioplastia coronariana com ou sem stent e cirurgia CABG. A escolha da terapia depende do quadro clínico e do médico da instituição de tratamento. A angioplastia é altamente eficaz em mãos habilidosas, ao passo que a terapia fibrinolítica pode ser administrada com quase a mesma eficácia de uma infusão simples. Em geral, fatores associados ao prognóstico ruim incluem idade avançada, gênero feminino, diabetes melito e como resultado da perda cumulativa da função do miocárdio, história de IM anterior. Apesar dessas intervenções, muitos pacientes apresentam uma ou mais complicações após o IM agudo, incluindo as seguintes (algumas delas estão ilustradas na Fig. 12-19): Disfunção contrátil. Os infartos do miocárdio produzem anormalidades na função do ventrículo esquerdo aproximadamente proporcional ao seu tamanho. Geralmente, ocorre algum grau de insuficiência ventricular esquerda com hipotensão, congestão vascular pulmonar e transdução para o interior dos espaços pulmonares intersticiais, que podem progredir para edema pulmonar com dificuldade respiratória. Uma “insuficiência da bomba” intensa (choque cardiogênico) ocorre em 10% a 15% dos pacientes após um IM agudo, geralmente naqueles com uma área de infarto grande (> 40% do ventrículo esquerdo). O choque cardiogênico tem uma taxa de mortalidade de 70% e é responsável por dois terços das mortes hospitalares. Arritmias. Muitos pacientes apresentam irritabilidade miocárdica e/ou distúrbios de condução após o IM que levam a arritmias potencialmente fatais. As arritmias associadas ao IM incluem a bradicardia sinusal, bloqueio cardíaco (assístole), taquicardia, contrações ventriculares prematuras ou taquicardia ventricular e fibrilação ventricular. Pelo fato de algumas partes do sistema de condução atrioventricular (feixe de His) estarem localizadas no miocárdio inferosseptal, as áreas de infarto situadas nessa região também podem estar associadas a um bloqueio cardíaco. Ruptura do miocárdio. As síndromes da ruptura cardíaca resultam do enfraquecimento mecânico que ocorre no miocárdio necrosado e subsequentemente inflamado, e compreendem (1) ruptura da parede ventricular livre (mais comum), com hemopericárdio e tamponamento cardíaco (Fig. 12-19A); (2) ruptura do septo ventricular (menos comum), que leva a um DSV agudo e a um shunt da esquerda para a direita (Fig. 12-19B); e (3) ruptura dos músculos papilares (a menos comum) que resulta em início agudo de intensa regurgitação mitral (Fig. 12-19C). A ruptura da parede livre é mais frequente 3 a 7 dias depois do IM, quando a necrose por coagulação, infiltração de neutrófilos e lise do tecido conjuntivo cardíaco já enfraqueceram de modo considerável o miocárdio (média, 4 a 5 dias; intervalo, 1 a 10 dias). A parede anterolateral na região medioventricular é a região mais comum para ruptura de parede livre após o infarto. Os fatores de risco para ruptura de parede livre incluem idade acima dos 60 anos, sexo feminino e hipertensão preexistente. Essa complicação ocorre com menos frequência em pacientes sem história anterior de IM porque a cicatrização fibrótica associada tende a inibir a laceração do miocárdio. As rupturas agudas da parede livre geralmente levam à morte muito rapidamente. Contudo, uma aderência pericárdica estrategicamente localizada que interrompe uma ruptura pode levar à formação de um falso aneurisma (hematoma localizado que se comunica com a cavidade ventricular). A parede do falso aneurisma consiste apenas em epicárdio e pericárdio parietal aderente e, assim, muitas podem acabar se rompendo. Pericardite. Uma pericardite fibrinosa ou fibrino-hemorrágica (síndrome de Dressler) geralmente desenvolve-se por volta do segundo ou terceiro dias após um infarto transmural, como resultado da inflamação do miocárdio subjacente (Fig. 12-19D). Infarto do ventrículo direito. Embora o infarto isolado do ventrículo direito seja incomum, o infarto do miocárdio do ventrículo direito frequentemente acompanha a lesão isquêmica do ventrículo esquerdo posterior adjacente e do septo ventricular. Uma área de infarto do ventrículo direito de um ou outro tipo pode causar insuficiência cardíaca aguda direita associada à formação de uma coleção de sangue na circulação venosa e hipotensão sistêmica. Extensão da área do infarto. Uma nova necrose pode ocorrer adjacente a uma área de infarto preexistente. Expansão da área do infarto. Devido ao enfraquecimento do músculo necrosado, pode haver estiramento desproporcional, adelgaçamento e dilatação da região do infarto (especialmente nos casos de áreas de infarto anterosseptais), que frequentemente estão associados a um trombo mural (Fig. 12-19E). Trombo mural. Em qualquer infarto, a combinação entre uma anormalidade na contratilidade miocárdica local (que causa estase) e um dano endocárdico (que produz uma superfície trombogênica) pode estimular a trombose mural (Cap. 4) e, potencialmente, o tromboembolismo. Aneurisma ventricular. Ao contrário dos falsos aneurismas mencionados anteriormente, os verdadeiros aneurismas da parede ventricular são limitados pelo miocárdio cicatrizado. Uma complicação tardia, os aneurismas da parede ventricular resultam muitas vezes de uma grande área de infarto anteros-septal transmural (frequentemente uma que sofreu expansão) que cicatriza formando uma grande região de tecido cicatricial delgado, que paradoxalmente se projeta durante a sístole (Fig. 12-19F). As complicações dos aneurismas ventriculares compreendem o trombo mural, as arritmias e a insuficiência cardíaca, porém não ocorre ruptura da parede fibrosada. Disfunção dos músculos papilares. Conforme mencionado anteriormente, a disfunção de um músculo papilar pode ocorrer após IM. Com maior frequência, a regurgitação mitral após o infarto resulta da disfunção isquêmica inicial de um músculo papilar e do miocárdio subjacente e, mais tarde, da fibrose e do encurtamento dos músculos papilares ou da dilatação ventricular (ver adiante). A insuficiência cardíaca progressiva tardia será discutida a seguir, na seção sobre CI crônica. FIGURA 12-19 Complicações do infarto do miocárdio. Síndromes da ruptura cardíaca (A-C) . A, Ruptura do miocárdio anterior em um infarto agudo (seta) . B, Ruptura do septo ventricular (seta) . C, Ruptura completa de um músculo papilar necrosado. D, Pericardite fibrinosa que mostra a superfície escura e áspera do epicárdio sobrejacente a uma área de infarto agudo. E, Expansão inicial de área de infarto anteroapical com adelgaçamento da parede (seta) e trombo mural. F, Grande aneurisma apical em ventrículo esquerdo. O ventrículo esquerdo está à direita nesta vista apical das quatro câmaras cardíacas. (A-E, Reproduzidas com permissão de Schoen FJ: Interventional and Surgical Cardiovascular Pathology: Clinical Correlations and Basic Principles, Philadelphia,WB Saunders, 1989; F, Cortesia de William Edwards, MD, Mayo Clinic, Rochester, MN.) A propensão para complicações específicas e o prognóstico após um IM dependem basicamente do tamanho da área, do local e da espessura do infarto (infarto subendocárdico ou transmural). Os infartos transmurais grandes possuem maior probabilidade de causar choque cardiogênico, arritmias e ICC tardia. Os pacientes com infartos transmurais anteriores apresentam um risco muito grande de ruptura da parede livre, expansão do infarto e formação de trombos murais e aneurismas. Por outro lado, é mais provável que os infartos transmurais posteriores apresentem, como complicação, graves bloqueios de condução, envolvimento do ventrículo direito, ou ambos, e quando os defeitos agudos do septo ventricular ocorrem nessa área, eles são de difícil tratamento. No geral, contudo, os pacientes com infartos anteriores têm um curso clínico substancialmente pior do que aqueles com infartos inferiores (posteriores). Nos infartos subendocárdicos, apenas raramente ocorrem pericardite, ruptura e formação de aneurismas. Além da sequência de reparo dos tecidos infartados descrita anteriormente, as áreas do ventrículo que não sofreram infarto sofrem hipertrofia e dilatação; o conjunto dessas alterações é chamado de remodelamento ventricular. A hipertrofia compensatória do miocárdio não infartado é, inicialmente, hemodinamicamente benéfica. Entretanto, o efeito adaptativo do remodelamento pode ser sobrepujado pela dilatação ventricular (com ou sem aneurisma ventricular) e pela maior demanda por oxigênio, que pode exacerbar a isquemia e deprimir a função cardíaca. Também podem existir alterações na forma e espessura do ventrículo devido à formação de cicatriz e hipertrofia que depois reduzem a função cardíaca. Alguns desses efeitos colaterais parecem ser reduzidos por inibidores de ACE, que diminuem a dilatação ventricular que ocorre após o IM. O prognóstico a longo prazo após um IM depende de muitos fatores, e os fatores mais importantes são a qualidade da função do ventrículo esquerdo residual e a extensão das obstruções vasculares presentes no interior dos vasos que irrigam o miocárdio viável. A mortalidade total global dentro do primeiro ano é de cerca de 30%. Daí em diante, há uma mortalidade de 3% a 4% entre os sobreviventes a cada ano que passa. A prevenção do infarto por meio do controle dos fatores de risco nos indivíduos que nunca sofreram um IM (prevenção primária) e a prevenção do reinfarto naqueles que se recuperaram de um IM agudo (prevenção secundária) são estratégias importantes que receberam muita atenção e têm alcançado sucesso considerável. A relação das causas, a fisiopatologia e as consequências do IM estão resumidas na Figura 12-20, incluindo os possíveis resultados de CI crônica e morte súbita, que serão discutidos a seguir. FIGURA 12-20 Representação esquemática de vários mecanismos da progressão da cardiopatia isquêmica (CI), mostrando as inter-relações entre a doença arterial coronariana, alteração da placa aguda, isquemia do miocárdio, infarto do miocárdio, CI crônica, insuficiência cardíaca congestiva e morte súbita cardíaca.
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