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Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, 2012 56 SOBRE A AÇÃO DE AUTOMORFISMOS DE GRUPOS Natália Caroline Lopes da Silva1; Marco Antonio Travassos2; Antonio Carlos Tamarozzi3 1Aluna do curso de Lic. em Matemática da UFMS e bolsista do Programa de Educação Tutorial/SESU – Matemática – UFMS ‐ Campus de Três Lagoas. 2Aluno do curso de Lic. em Matemática da UFMS e bolsista do Programa de Educação Tutorial/SESU – Matemática – UFMS ‐ Campus de Três Lagoas. 3Professor associado do curso de Matemática da UFMS e tutor do Programa de Educação Tutorial/SESU – Matemática – UFMS ‐ Campus de Três Lagoas. E‐MAIL: (nataliacaroline2006@yahoo.com.br) RESUMO Para o desenvolvimento da Matemática, a comparação entre estruturas algébricas é de fundamental interesse para a obtenção de informações e extensão de propriedades. Este processo de comparação é em geral feito através de aplicações bijetoras que preservam as operações das estruturas, os chamados isomorfismos. Em particular, para a Teoria dos Grupos, o estudo dos automorfismos pode revelar propriedades de impacto para a análise de um Grupo. O desenvolvimento do trabalho requereu o estabelecimento de técnicas e ferramentas de abordagem costumeiramente utilizadas nesta área de pesquisa, dentre as quais subgrupos normais, grupos quocientes e subgrupos característicos. A definição de subgrupos característicos ocupa uma posição crucial no contexto de automorfismos, haja vista que, a partir dos mesmos podemos restringir propriedades a subgrupos de interesse. Os principais resultados obtidos versam sobre os teoremas do homomorfismo, a definição de automorfismos internos e alguns grupos quocientes que derivam desta análise. Palavras‐chave: Isomorfismo de grupos; Subgrupos normais; Subgrupos Característicos; Teorema de Lagrange; INTRODUÇÃO E OBJETIVOS Ao longo dos anos constatou‐se que a idéia de Grupo era muito importante em várias áreas da matemática, tanto que o estudo de grupos foi considerado o início da Álgebra Abstrata, quando passou‐se a utilizar variáveis para representar números. As três principais áreas onde os estudos realizados motivaram a definição de grupo foram: a geometria do início do século XIX, a teoria dos números do fim do século XVIII, e a teoria das equações algébricas do fim do século XVIII. A Teoria dos grupos surge naturalmente em muitas áreas da matemática com implicações estendidas a outras ciências. O objetivo principal deste trabalho é introduzir alguns conceitos e explorar resultados da Teoria dos Grupos. Neste desenvolvimento, apresentamos as principais propriedades de isomorfismos de grupos e as consequências obtidas para as estruturas avaliadas. METODOLOGIA O desenvolvimento deste trabalho requer o estudo das principais técnicas da Teoria dos Grupos, dentre as quais subgrupos normais, grupos quocientes e subgrupos característicos. A definição de Colloquium Exactarum, vol. 4, n. Especial, jul-dez, 2012 Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, 2012 57 subgrupos característicos ocupa uma posição crucial no contexto de automorfismos, haja vista que, a partir dos mesmos podemos restringir propriedades a Subgrupos de interesse, sendo possível, em alguns casos, derivar propriedades para o Grupo original. Observação similar pode ser feita a partir da utilização dos automorfismos internos, haja vista a intrínseca relação dos automorfismos internos com o Subgrupo Z(G), o centro de um grupo G. Sem perda de generalidade, utilizaremos a notação multiplicativa para todos os grupos aqui abordados, em particular eG e x‐1 representam, respectivamente, o elemento neutro e o inverso de um elemento genérico xG. RESULTADOS Definiremos inicialmente alguns conceitos que, embora introdutórios, são importantes para acompanhamento dos resultados posteriores. Definição: Uma função φ: G → L , entre os grupos G e J, diz‐se um homomorfismo se φ(xy) = φ(x) φ(y), para todos os elementos x,y de G. Um isomorfismo é um homomorfismo bijetor. Proposição: Se φ: G → L é homomorfismo, então: i. φ(eG) = eL ii. φ(g‐1) = [φ(g)]‐1 para todo g G. iii. Im (φ) = {y L | y = φ(g) para algum g G} é um subgrupo de L chamado imagem de φ. Proposição: Se φ: G → L é um homomorfismo, H é subgrupo de G e K é subgrupo de L, então φ(H) é subgrupo de L e φ‐1(K) é subgrupo de G. Os teoremas do Isomorfismo Seja φ: G → L um homomorfismo, o conjunto N(φ):= {g G| φ(g) = eL} é um subgrupo normal de G chamado núcleo do homomorfismo φ. O núcleo é também conhecido por ker (φ), o kernel de φ. A proposição seguinte, mostra a importância de N(φ) para os propositos deste trabalho. A sua demonstração é clássica e pode ser encontrado em [1]. Teorema: (Primeiro teorema de isomorfismo) Seja f: G → H um homomorfismo de grupos. Então, a função induzida φ: G/N → f(G) aN f(a) onde N = ker(f), é um isomorfismo. Colloquium Exactarum, vol. 4, n. Especial, jul-dez, 2012 Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, 2012 58 Demonstração: Primeiramente, devemos verificar que φ é uma função bem definida, isto é, se aN = bN então temos f(a) = f(b). Suponhamos aN = bN. Isso implica que b‐1a N e, portanto, f(b‐1a) = eH. Mas f(b‐1a) = f(b‐1)f(a) = f[(b)]‐1f(a). Logo, f[(b)]‐1f(a) = eH e f(a) = f(b). De onde φ é de fato, uma aplicação. Agora φ é claramente uma função sobrejetora e, para a, b G, obtemos φ[(aN)(bN)] = φ(abN) = f(ab) = f(a)f(b); assim φ é um homomorfismo. Agora, ker(φ) = {aN | f(a) = eH} = {aN | a N} = N; assim ker(φ) = {eG/N} ou seja, a função é injetiva. Corolário: Se f: G → H é um homomorfismo sobrejetor de núcleo N, então G/N H. Teorema: (Segundo teorema de isomorfismo) Sejam H e K subgrupos de G. Se H é subgrupo normal, então HK é subgrupo de G. Demonstração: Vamos mostrar que HK = KH. Seja = hk HK. Temos = hk = kk‐1hk = k com := k‐1hk H, pois H G; portanto = k KH. Provamos então que HK KH. Para provarmos a inclusão contrária, seja = kh = khk‐1k = k com := khk‐1 H, pois H G; portanto = k HK. De onde, HK = KH. Motivados pelos resultados apresentados por [2], inserimos dois corolários provenientes do Segundo Teorema de isomorfismos. Corolário: No caso em que H e K são subgrupos normais de G, H∩K é subgrupos normal Demonstração: Façamos H∩K = M. Provemos que xM = Mx, x G: y xM y = xm; m H∩K y = h’x = k’x E, então, h’ = k’ = m’, isto é, y = m’x Mx. Analogamente, y Mx y xM. Corolário: Sejam H G e K G. Então, K/H∩K KH/H. Demonstração: Já que H G, sabemos que KH é um subgrupo de G e que HK = KH. Claramente, H G H KH e, portanto, faz sentido considerar o grupo quociente KH/H. Considere o Colloquium Exactarum, vol. 4, n. Especial, jul-dez, 2012 Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, 2012 59 homomorfismo canônico KH KH/H e seja |K a sua restrição ao subgrupo K < KH, isto é: |K: K → KH/H k kH. Claramente, ker (|K) = {k K | kH = H} = H∩K. Seja agora KH/H; temos = (kh)H para algum k K e algum h H; logo = (kh)H = kH = |K(k) e portanto |K é sobrejetor. Aplicando agora o primeiro teorema de isomorfismo ao homomorfismo |K, obtemos KH/H K/H∩K. Teorema: (Terceiro teorema do isomorfismo) Sejam K H G com K G e H G. Então (G/K) / (H/K) G/H. Demonstração: Considere o homomorfismo: G/K → G/H, tal que gKgH. A função é bem definida; de fato aK = bK implica que a = bk para algum k K, e portanto vemos que aK = bkH = bH pois temos k K H. Claramente, é sobrejetor e ker () = H/K. Aplicando o primeiro teorema de isomorfismos ao homomorfismo , obtemos (G/K) / (H/K) G/H. Automorfismo de grupos Proposição: Sejam G e H grupos e f: G → H , um homomorfismo. Então f é injetora se, e somente se, ker(f) = {e}, onde e é o elemento neutro de G. Denotamos o conjunto de todos os automorfismos de um grupo G por Aut(G). Note que um automorfismo preserva qualquer propriedade teórica do grupo. A saber, se φ Aut(G) então para quaisquer dois subgrupos H e K de G tais que K H, temos: φ(H) H e |φ(H) : φ(K)| = |H:K|. Proposição: Aut(G) é um grupo sob a operação de composição de funções. As discussões que apresentamos a partir de agora, são baseadas nos trabalhos de [4] e [1]. Construiremos um caso particular de automorfismo: Dados um grupo G e g G podemos definir uma função : G → G Colloquium Exactarum, vol. 4, n. Especial, jul-dez, 2012 Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, 2012 60 x gxg‐1 Observe que é: i. Um homomorfismo, pois para todo x, y G, temos que (xy) = g(xy)g‐1 = (gxg‐1) (gyg‐1) = (x) (y); ii. Injetora, pois se x ker() temos que gxg‐1 = e gx = g x = e; iii. Sobrejetora, pois escolhendo a G, existe um elemento b G tal que (b) = a. Tome b = g‐ 1ag G. Logo, (b) = (g‐1ag) = g(g‐1ag)g‐1 = a. Portanto, é um automorfismo de G. Isto sugere a definição: Definição: Se g é um elemento de um grupo G, então o automorfismo x gxg‐1 é chamado automorfismo interno induzido por g, que denotamos por g. O teorema a seguir nos dá importantes resultados, discutidos em [3] e [4]. Teorema: O conjunto dos automorfismos internos de G, Inn(G) = {g | g G}, é: i. Um subgrupo normal de Aut(G); Demonstração: Que Inn(G) é um subgrupo de Aut(G) segue do seguinte: 1. Id Inn(G): Id: 1: G → G x x1 = x 2. Se g, h Inn(G) então gh = gh Inn (G). 3. Se g Inn(G) então (g)‐1 = , pois g = Id = g. Com isso já temos que Inn(G) Aut(G). Mostraremos que Inn(G) é normal em Aut(G). Sejam Aut(G) e g Inn(G). Para todo x G temos: ( ○ g ○ ‐1) (x) = ○ g(‐1(x)) = (g‐1(x)g‐1) = (g) x (g)‐1 = (g) (x) o que implica que ○ g ○ ‐1 = (g) Inn(G), como queríamos. ii. Isomorfo ao grupo quociente G/Z(G), onde Z(G) = {x G | xg = gx, g G} é o centro de G. Ou seja, Inn(G) G/Z(G). Demonstração: Basta observar que a aplicação, : G → Aut(G) Colloquium Exactarum, vol. 4, n. Especial, jul-dez, 2012 Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, 2012 61 g g: G → G g xg = gxg‐1 é um homomorfismo tal que: Im() = Inn(G) e ker() = Z(G). De fato, já sabemos que é um homomorfismo, porém g G está em ker () se, e somente se, g = Id, ou seja, g(x) = x, para todo x G. Logo, gx = xg. Sendo assim ker () = Z(G). Portanto, pelo teorema do homomorfismo temos que Inn(G) G/Z(G). Corolário: Se Z(G) = {e} então Inn(G) G. Definição: O grupo quociente Aut(G)/Inn(G) é dito o grupo das classes dos automorfismos externos e denotados por Out(G). Subgrupos Característicos Definição: Um subgrupo H de G, é um subgrupo característico (denotado por H G) se ele é estável por todos os automorfismos de G, isto é, se (H) = H, � Aut(G). car Proposições: i. Se (H) H, para � Aut(G), então H G. car Demonstração: Basta mostrarmos que H (H), para � Aut(G). Temos que (H) H, para � Aut(G) em particular para ‐1(H) = H. Aplicando temos: ‐1((H)) (H) H (H). Logo H G. car ii. Se H G, então H G. car Demonstração: Queremos provar que � g � G e � h � H, gHg‐1 = H. Temos que (H) H para � Aut(G) em particular para g. Logo g (H) = H � gHg‐1 = H, para � g � G. Logo H G. iii. Se H K e K G, então HG. car Demonstração: Precisamos mostrar que g(H) = H g G. Temos que g = gKg‐ 1 = K, pois K G. Logo g Aut (K). Colloquium Exactarum, vol. 4, n. Especial, jul-dez, 2012 Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, 2012 62 Assim g(H) = H, pois H K. Portanto HG. car iv. Se H K e K G, então H G. car car car Demonstração: Mostraremos que (H) H, para � Aut(G). Temos da hipótese, que (K) = K, � Aut(G). Assim podemos afirmar que Aut(K). Logo (H) = H, pois H K. Portanto H G. car car Proposição: Seja G um grupo. Então {e}, G, Z(G) e G’ são subgrupos característicos de G. Seja H = {e}. Verifiquemos que H G. car De fato! Para � Aut(G) temos; : G → G g (g) Mas, H = {e} e (e) = e, � Aut(G) e, portanto (H) = H � Aut(G). Verifiquemos que G G. De fato, para � Aut(G) e todo N G segue que, |N| = |(N)|. Como G G, então |G| = |(G)|. Logo G = (G), � Aut(G). car Verifiquemos agora que Z(G) G, ou seja (Z(G)) Z(G) � Aut(G). Para isso consideremos um elemento genérico x (Z(G)). Daí x = (z); para algum z Z(G). Para g G arbitráro temos g = (y); y G. e car xg = (z) (y) = (zy) = (yz) = (y) (z) = gx Portando x Z(G). Logo, Z(G) G. car Verificamos que G’ G, ou seja, (G’) G’, Aut(G). Lembremos que G’ = < C > onde car C = {[x, y] = x‐1y‐1xy: x, y G}. Seja x (G’). Daí x = (g’); g’ G’. Assim; x = ( ) onde gi C e i {1, 2,..., n}. Segue que: x = ( ) = ( )... ( ) = = Basta provarmos que ( ) C. Colloquium Exactarum, vol. 4, n. Especial, jul-dez, 2012 Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, 2012 Colloquium Exactarum, vol. 4, n. Especial, jul-dez, 2012 63 Mas, ( ) = (x1) (y1) C. Logo x G’ e, portanto G’ G. car Proposição: Se H é o único subgrupo de ordem n de um grupo G, então H G. car Demonstração: Seja |H| = n. Para � Aut(G) e K ≤ G temos que |K| = |(K)|. Logo, |H| = |(H)|. Mas, pela hipótese, N ≤ G com N ≠ H tal que, |N| = n. Portanto (H) = H, para � Aut(G), ou seja, H G. car DISCUSSÃO Os três “Teoremas do Homomorfismo” aqui apresentados, constituem recurso importante na descrição de diversas propriedades da Teoria dos Grupos. Essencialmente possibilitam a análise de subgrupos e quocientes que apontam repercussões para o próprio grupo. Na mesma direção, o estudo dos automorfismos de um grupo, combinado com o conceito de subgrupos característicos, simplifica a abordagem de diversos problemas da área. CONCLUSÃO O desenvolvimento da matemática e da Álgebra em especial, requer a comparação entre estruturas algébricas. Neste sentido o estudo dos isomorfismos permite obter informações entre as estruturas isomorfas analisadas, com implicações importantes para a descrição de propriedades dentro e fora da matemática. REFERÊNCIAS [1].DOMINGUES, HYGINO H.; IEZZI, G. Álgebra Moderna. 4.ed. reform. São Paulo: Atual, 2003. [2].GARCIA, A.; LEQUAIN, Y. Elementos de Álgebra. 6.ed. Rio de Janeiro:IMPA, 2012. [3].GONÇALVES, A. Introdução à Álgebra. 5.ed. Rio de Janeiro: IMPA, 2012. [4].FONSECA, Daila S. S. M. Grupos e seus automorfismos. Disponível em: <http://tiny.cc/z52skw>. Acesso em 6 set. 2012.
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