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i UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA Estimativa de porosidade e permeabilidade para o reservatório siliciclástico do Campo de Peregrino, Bacia de Campos. Mateus de Godoy Krettelys Orientador: Prof. Dra. Sueli Yoshinaga Pereira Coorientador: Armando Zaupa Remacre Campinas-SP Julho de 2015 ii UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA Estimativa de porosidade e permeabilidade para o reservatório siliciclástico do Campo de Peregrino, Bacia de Campos. Mateus de Godoy Krettelys Trabalho de conclusão de curso apresentado em 8 de Julho de 2015 para obtenção do título de Bacharel em Geologia pelo Instituto de Geociências da UNICAMP. Banca Examinadora: Prof. Dra. Sueli Yoshinaga Pereira (Orientadora) Prof. Dr. Alexandre Campane Vidal Msc. Bruno César Zanardo Honório iii Este trabalho é dedicado a minha mãe Silvia e meu irmão Marco. iv AGRADECIMENTOS Agradeço principalmente à minha família pelo apoio durante estes longos anos de graduação. Minha mãe Silvia e irmão Marco que sempre estiveram ao meu lado mesmo em momentos que não precisavam e sempre me colocaram em primeiro lugar. Agradeço à minha orientadora Sueli Yoshinaga Pereira pelo voto de confiança, orientações e por fazer parte da minha jornada acadêmica. Agradeço ao professor Armando Zaupa, meu co-orientador, pelos conselhos e por me fornecer uma oportunidade de crescimento que talvez nunca tivesse. À Profa. Dra. Frésia di-Branco por ajudar e se preocupar com o meu desenvolvimento. Ao Moacir Cornetti por nos auxiliar nas demandas técnicas e práticas do estudo. Sou grato à Sinochem Petróleo Brasil Limitada que forneceu todos os recursos ao Projeto P&D - Análise de Incertezas Integradas. À todos os funcionários da Halliburton que nos foram muito atenciosos nos momentos de aprendizado com o software. À todos os funcionários e professores do Instituto de Geociências da Unicamp. Obrigado aos meus amigos, Jackie, Camis, Dé, Rodrigo, Ju, Babi por estarem presentes em todos os momentos acadêmicos e de lazer. Sou grato a toda a turma 09 pelos momentos repartidos. Um obrigado especial aos meus parceiros, amigos e em muitas vezes orientadores de laboratório, Mesquita, Du, Oton, Jaume e Flávio, que me acompanharam em meu aprendizado. Agradeço a todos meus amigos da grandiosa Amparo: Caio, Felipe, Rato e Saissu que apesar da vida nos ter nos distanciado ainda os levo no coração. Ao meu amigo Danilo que nos deixou tão cedo, mas que me acompanha de longe. À Ana Rossi, que apesar de não estarmos mais juntos nessa jornada, sou grato por todos os anos que me deu força para continuar. v RESUMO Durante todo o Cretáceo Superior, a Bacia de Campos recebeu um grande aporte sedimentar originada de fluxos turbidíticos, que em função de seu processo de deposição e composição geraram grandes e importantes reservatórios de petróleo. A caracterização de reservatórios é uma importante fase na exploração de petróleo, pois permite o entendimento de suas heterogeneidades e assim possibilita o desenvolvimento do melhor plano de prospecção e exploração do campo. Este trabalho tem como objetivo central a obtenção das propriedades petrofísicas das rochas constituintes do reservatório tais como porosidade, permeabilidade e saturação de água, junto com espessura e litologia. Estas propriedades foram adquiridas a partir das descrições de testemunhos e da suíte de perfis geofísicos principais: raios gama (GR), neutrônico (NPHI), resistividade (ILD), sônico (DT), densidade (RHOB). Para melhorar a estimativa da permeabilidade, foram realizadas regressões exponenciais dos dados laboratoriais com a finalidade de comparar os valores estimados pela perfilgem e assim determinar o melhor modelo para a modelagem geoestatística. O método utilizado para cálcular valores de porosidade efetiva se mostrou adequado para o reservatório, obtendo-se os valores para as fácies próximos aos medidos em plugs. Palavras-chave: Bacia de Campos, fluxos turbíditos, reservatório, perfis geofísicos, porosidade, permeabilidade, modelagem geoestatística. vi ABSTRACT Throughout the Late Cretaceous Period, the Campos Basin received a significant amount of sediments originated from turbidite current events, that as a function of the depositional process and its composition produced important hydrocarbon reservoirs. Reservoir characterization is an important study as a part of the development of the development plan, which allows a better understanding of the heterogeneities and the exploration of the field. The main objective of this work is the acquisition of the petrophysical properties permeability, porosity, water saturation of reservoir rocks, together with thickness and lithologies. These properties were measured from plug descriptions and suit of the principal geophysical logs: gamma ray (GR), neutron (NPHI), resistivity (ILD), sonic (DT), density (RHOB). To improve the permeability estimation, exponential regretion has been done from data obtained from samples of the formation, to compare with the values calculated from logging and determinate a more realistic scenario for the geostatistical modeling. The method employed for calculating the effective porosity was adequate for the reservoir, and the computed values for the facies and plugs were close. Key words: Campos Basin, turbidities currents, reservoir, well logs, porosity, permeability, geostatistical modeling. vii SUMÁRIO 1 Apresentação 1 1.1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 1 2 Materiais e Métodos 5 2.1 ÁREA DE ESTUDO ................................................................................................. 5 2.2 MÉTODO ............................................................................................................... 6 2.3 PERFIS GEOFÍSICOS DE POÇOS .............................................................................. 7 2.3.1 Perfil de Raio Gama (GR) ............................................................................ 7 2.3.2 Perfil de Densidade (ρb) ............................................................................. 10 2.3.3 Perfil Neutrônico (Nφ) ............................................................................... 12 2.3.4 Perfil de resistividade (ILD) ....................................................................... 15 2.3.5 Perfil Sônico (DT) ...................................................................................... 18 2.4 PROPRIEDADES PETROFÍSICAS ............................................................................ 20 2.4.1 Porosidade Efetiva ...................................................................................... 20 2.4.2 Saturação de Archie .................................................................................... 20 2.4.3 Gráfico dePickett ....................................................................................... 22 2.4.4 Porcentagem de Volume de Água (Bulk Volume Water) .......................... 23 2.4.5 Permeabilidade ........................................................................................... 24 2.4.6 Relação Permeabilidade-Porosidade .......................................................... 26 2.5 GEOESTATÍSTICA ................................................................................................ 27 viii 2.5.1 Semivariograma Cruzado e Cokrigagem .................................................... 28 3 Geologia Regional 29 3.1 CAMPO DE PEREGRINO ....................................................................................... 36 4 Resultados 38 4.1 RESULTADOS PETROFÍSICOS ESTIMADOS ........................................................... 38 4.1.1 Poço 08 ....................................................................................................... 38 4.1.2 Poço 06 ....................................................................................................... 41 4.1.3 Poço 05 ....................................................................................................... 43 4.1.4 Poço 07 ....................................................................................................... 45 4.1.5 Poço 04 ....................................................................................................... 47 4.1.6 Poço 03 ....................................................................................................... 49 4.1.7 Poço 01 ....................................................................................................... 52 4.1.8 Poço 02 ....................................................................................................... 54 1.1 ESTIMATIVAS DOS PARÂMETROS PETROFÍSICOS DAS FACIES 1, 2 E 3 .................. 56 4.2 RESULTADOS GEOESTATÍSTICOS ......................................................................... 59 5 Discussão 60 5.1 DISCUSSÃO DAS PROPRIEDADES PETROFÍSICAS................................................... 60 5.2 DISCUSSÃO GEOESTATÍSTICA ............................................................................. 64 6 Conclusões 65 7 Referências 66 ix LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA 1.1-1 - SUBDIVISÃO ESQUEMÁTICA DE UMA CORRENTE DE TURBIDEZ (D'AVILA ET AL, 2008). ................................................................................................................... 3 FIGURA 2.1-1 - MAPA DE DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DOS POÇOS. ......................................... 5 FIGURA 2.3-1 - PERFIL DE RAIOS GAMA EM POÇOS (RIDER, 2002). .................................... 9 FIGURA 2.3-2 - PERFIL DENSIDADE-NEUTRÃO EM DIFERENTES LITOLOGIAS (RIDER, 2002). ................................................................................................................................. 14 FIGURA 2.3-3 - ESQUEMA REPRESENTANDO AS ZONAS DE INVASÃO DE UM POÇO (RIDER, 2002). ....................................................................................................................... 17 FIGURA 2.3-4 - PERFIL R(LLD) E R(LLS) COMBINADOS (RIDER, 2002). ......................... 18 FIGURA 2.4-1 - GRÁFICO DE PICKETT (MODIFICADO DE ASQUITH E GIBSON, 1982). ....... 22 FIGURA 2.4-2 - GRÁFICO DE BUCKLES ............................................................................. 23 FIGURA 2.4-3 - GRÁFICO DE PERMEABILIDADE VS. POROSIDADE (TIAB E DONALDSON, 2004) ........................................................................................................................ 27 FIGURA 2.5-1 - BACIA DE CAMPOS (RANGEL E MARTINS, 1998; APUD MILANI ET AL., 2001). ....................................................................................................................... 30 FIGURA 2.5-2 - CARTA ESTRATIGRÁFICA DA BACIA DE CAMPOS (MODIFICADO DE WINTER ET AL., 2007). ........................................................................................................... 34 FIGURA 4.1-1 - GRÁFICO DE PICKETT PARA O POÇO 08 .................................................... 38 FIGURA 4.1-2 - PERFILAGEM GEOFÍSICA DO POÇO 08 ....................................................... 39 FIGURA 4.1-3 - GRÁFICO DE BUCKLES PARA O POÇO 08 .................................................. 40 FIGURA 4.1-4 - PERFILAGEM GEOFÍSICA DO POÇO ............................................................ 41 FIGURA 4.1-5 - GRÁFICO DE BUCKLES PARA O POÇO 06 .................................................. 42 FIGURA 4.1-6 - PERFILAGEM GEOFÍSICA DO POÇO 05 ....................................................... 43 FIGURA 4.1-7 - GRÁFICO DE BUCKLES PARA O POÇO 05 .................................................. 44 FIGURA 4.1-8 - PERFILAGEM GEOFÍSICA DO POÇO 07 ....................................................... 45 FIGURA 4.1-9 - GRÁFICO DE BUCKLES PARA POÇO 07 ..................................................... 46 FIGURA 4.1-10 - PERFILGEM GEOFÍSICA DO POÇO 04 ....................................................... 47 FIGURA 4.1-11 - GRÁFICO DE BUCKLES PARA O POÇO 04 ................................................ 48 FIGURA 4.1-12 - GRÁFICO DE PICKETT PARA O POÇO 03 .................................................. 49 x FIGURA 4.1-13 -- PERFILAGEM GEOFÍSICA DO POÇO 03 ................................................... 50 FIGURA 4.1-14 - GRÁFICO DE BUCKLES DO POÇO 03 ....................................................... 51 FIGURA 4.1-15 - PERFILAGEM GEOFÍSICA DO POÇO 01 ..................................................... 52 FIGURA 4.1-16 - GRÁFICO DE BUCKLES PARA O POÇO 01 ................................................ 53 FIGURA 4.1-17 - PERFILAGEM GEOFÍSICA DO POÇO 02 ..................................................... 54 FIGURA 4.1-18 - GRÁFICO DE BUCKLES PARA O POÇO 02 ................................................ 55 FIGURA 4.2-1 - GRÁFICO DE DISPERSÃO PARA A FÁCIES 1 ............................................... 57 FIGURA 4.2-2 - GRÁFICO DE DISPERSÃO PARA A FÁCIES 2 ............................................... 58 FIGURA 4.3-1 - VARIOGRAMA VERTICAL (ESQUERDA) E VARIOGRAMA GLOBAL PARA A POROSIDADE ............................................................................................................. 59 FIGURA 4.3-2 - VARIOGRAMA VERTICAL (ESQUERDA) E VARIOGRAMA GLOBAL (DIREITA) PARA A PERMEABILIDADE ......................................................................................... 59 xi LISTA DE TABELAS TABELA 3-1 – DENSIDADE EM DIFERENTES LITOLOGIAS (RIDER, 2002)........................... 11 TABELA 3-2 - VELOCIDADE DE PROPAGAÇÃO DE ONDAS EM DIFERENTES LITOLOGIAS E MINERAIS (RIDER, 2002). .......................................................................................... 19 TABELA 3-3 - TÍPICOS VALORES DE COEFICIENTE DE TORTUOSIDADE (A), COEFICIENTE DE CIMENTAÇÃO (M) E EXPOENTE DE SATURAÇÃO (N) NAS ROCHAS (ASQUITH E GIBSON, 1982). ....................................................................................................................... 21 TABELA 4-2 - PROPRIEDADES CALCULADAS PARA O POÇO 06 .......................................... 42 TABELA 4-3 - PROPRIEDADES CALCULADAS PARA O POÇO 05 .......................................... 44 TABELA 4-4 - PROPRIEDADES CALCULADAS PARA O POÇO 07 .......................................... 46 TABELA 4-5: PROPRIEDADES CALCULADAS PARA O POÇO 04 ........................................... 48 TABELA 4-6 - PROPRIEDADES CALCULADAS PARA O POÇO 03 ..........................................49 TABELA 4-7 - PROPRIEDADES CALCULADAS PARA O POÇO 01 .......................................... 53 TABELA 4-8 - PROPRIEDADES CALCULADAS PARA O 02 ................................................... 55 TABELA 4-10 - VALORES DE PERMEABILIDADES ESTIMADAS POR REGRESSÃO LINEAR (MDARCY) ................................................................................................................ 58 1 1 Apresentação 1.1 Introdução A caracterização de reservatórios é de crucial importância para a implantação de um plano de exploração e produção de um campo de petróleo. Os modelos de propriedades permitem o entendimento das heterogeneidades do reservatório em estudo com a oportunidade de realizar uma distribuição quantitativa e qualitativa do campo. A Bacia de Campos localiza-se na região norte do litoral do Estado do Rio de Janeiro e sul do litoral do Estado do Espírito Santo, é limitada a norte pelo Arco de Vitória e a sul pelo Arco de Cabo Frio. Com uma área de aproximadamente 100.000 km², é a maior produtora de petróleo das bacias brasileiras (Winter et al. 2007). Durante o Cretáceo Superior, especificamente desde o Albiano, a bacia recebeu um maciço aporte sedimentar originada por fluxos hiperpicnais. Em função de seu processo deposicional a partir de correntes de turbidez, apresentam grande relevância econômica por gerarem grandes e importantes reservatórios de petróleo. Os turbiditos da Bacia de Campos compreendem cerca de 80% das reservas e de produção de hidrocarbonetos, sendo os grandes responsáveis pela atual autossuficiência de petróleo do Brasil (Fetter, 2007). Segundo a literatura, os turbiditos são depósitos complexos e heterogêneos. São sistemas pouco preservados em afloramentos, sendo difícil sua caracterização geométrica (Fetter, 2007). A exploração adequada muitas vezes é afetada devido à grande dificuldade para a caracterização geométrica e o reconhecimento das heterogeneidades dos reservatórios deste sistema deposicional. A dinâmica da deposição de sedimentos em águas profundas é dominada por diversos processos, como fluxos gravitacionais, fluxos gravitacionais de sedimentos de massa e correntes de fundo. Devido a maior importância no transporte de sedimentos em águas profundas e desenvolvimento de turbiditos, destacam-se os processos de fluxos gravitacionais de sedimentos, uma vez que correntes de fundo e fluxos gravitacionais de massa são considerados agentes modificadores de depósitos preexistentes. Segundo Middleton e Hampton (1973) os fluxos gravitacionais podem ser divididos em fluxo de detritos, fluxo de grãos, fluxo fluidizado e correntes de turbidez (D’Avila et al., 2008). 2 O fluxo de detritos apresentam alta viscosidade, ricos em sedimentos saturados em água, com comportamento plástico devido à presença de argila e silte. Esse tipo fluxo origina depósitos por congelamento coesivo, depositando sedimentos mal selecionados, por vezes maciços, onde uma matriz lamosa ou areno-lamosa sustenta os clastos maiores pela combinação de forças coesivas, boiância e colisão intergranular (D’Avila et al., 2008). Em alguns fluxos, há uma perceptível diminuição do tamanho dos clastos com o aumento da distância da área fonte, com a melhora da seleção. Quando a matriz é menos coesa pode ocorrer o maior choque entre os clastos, podendo levar a desintegração para clastos menores (D’Avila et al., 2008). No Fluxo de grãos o sedimento é mantido em suspensão devido pela própria colisão entre os grãos, ocorrendo o efeito de pressão dispersiva. No choque entre as partículas maiores em uma suspensão densa, se freqüente, a pressão dispersiva poderá suportar os grãos. Se os clastos forem muito grossos e a colisão intensa, poderá ocorrer à gradação inversa na carga de fundo; esse efeito pode ser encontrado caso ocorra à filtragem cinética, caracterizado pela queda dos grãos menores entre os maiores (D’Avila et al., 2008). Fluxos de grãos podem ocorrer tanto em ambientes subaéreos como subaquosos, são constituídos geralmente por arenitos e conglomerados limpos, maciços e com vários intervalos com gradação inversa e podem estar associadas às correntes de turbidez de alta densidade (D’Avila et al., 2008). Os fluxos fluidizados e/ou liquefeitos são dispersões muito concentradas de grãos e fluidos, onde os grãos são mantidos em suspensão devido à alta pressão de poro do fluido e de seu movimento ascendente. Do mesmo modo que os fluidos são expulsos em direção ao topo do fluxo, os grãos maiores tendem a decantar para o fundo, deste modo o fluxo é marcado por uma competição entre os grãos maiores e menores, aumentando a pressão até que o fluido escape pelos espaços intergranulares (D’Avila et al., 2008). O conceito de turbiditos tem evoluído muito desde a original definição realizada por Kuenen e Migliorine em 1950 (Mutti et al., 2009). Sua descrição tem passado por diversas mudanças, porém ainda existe todo um paradigma sobre sua definição. A grande problemática é do fato de que são considerados turbiditos desde depósitos de 3 lamitos silto-laminados de poucos centímetros de espessura à mega acamamentos seixo- arenosos de vários metros (Stow e Mayall, 2000). Correntes de turbidez podem ser desencadeadas por diversas razões, incluindo falhas em sedimentos, terremotos, altas taxas de sedimentação, evolução tectônica e inundações (Stow e Mayall, 2000). Atualmente o conceito de correntes de turbidez mais aceito classifica como um tipo de fluxo gravitacional bipartido, onde uma camada basal granular flui devido a sobrepressão de poros e as condições inerciais, e uma camada superior mais diluída e turbulenta que eventualmente retrabalhará e ultrapassará a porção mais basal (D’Avila et al., 2008). Uma corrente de turbidez pode ser subdividida em três partes: a porção frontal, mais rápida e espessa que o resto do fluxo, onde são transportados os grãos maiores; o corpo, localizado na porção central da corrente, onde o fluxo é relativamente mais uniforme, e a calda da corrente, onde há o afinamento do fluxo, predominando grãos menores (Figura1.1-1). A presença de grãos menores em um fluxo de turbidez é importante por aumentar a densidade da corrente, que devido à mistura com a água desenvolve maior turbulência na camada do fluxo, além de proporcionar maior lubrificamento dos grãos maiores, permitindo que ao fluxo carregar sedimentos mais longe. Ao perder o material fino, ocorrem mais choques entre os grãos aumentando o atrito e o fluxo desacelera depositando material areno-cascalhosa (D’Avila et al., 2008). Figura 1.1-1 - Subdivisão esquemática de uma corrente de turbidez (D'Avila et al, 2008). Com base na proporção de sedimentos com granulometria diferentes, pode-se distinguir uma corrente de turbidez em dois tipos: correntes de turbidez de baixa 4 densidade e correntes de turbidez de alta densidade. Correntes de turbidez de baixa densidade são constituídas, em sua maioria por grãos na granulometria de argilas à areia média, que podem estar suspensos individualmente devido à turbulência do fluxo. A deposição desse tipo de corrente ocorre quando há a desaceleração do fluxo, iniciando com areias, depositadas sob tração, finalizando com depósitos de silte e argila com feições de tração e suspensão. Após o fim da corrente de turbidez, depositam-se os sedimentos hemipelágicos e pelágicos oriundos da carga muito fina em suspensão (D’Avila et al., 2008). Correntes de turbidez de alta densidade incluem todos os tamanhos de grãos. Com a desaceleração da corrente são desenvolvidas ondas de sedimentação, após sucessivas reduções da densidade que provocam ainstabilização dos grãos que não podem ser transportados devido à baixa energia, iniciando o depósito com grãos maiores e finalizando com os menores (D’Avila et al., 2008). No geral correntes de turbidez frequentemente iniciam tendo alta densidade e evoluem progressivamente para correntes de baixa energia. A forma da bacia, o clima e o relevo da área fonte influenciam no tipo de corrente de turbidez. As geradas por fluxos hiperpicnais aceleram apenas nas encostas e deposita toda sua carga na plataforma, antes de atingir o talude e sofrer aceleração catastrófica (Mutti et al., 2009). A complexidade dos depósitos turbiditicos geram grande heterogeneidades no reservatório. Estimar as propriedades resultantes deste processo, como porosidade e permeabilidade torna-se essencial para a exploração de petróleo. Este trabalho terá como objetivo o estudo do reservatório do Campo de Peregrino, formado por depósitos da Formação Carapebus, onde através da geoestatística será possível realizar a distribuição das principais variáveis referentes à caracterização do reservatório. . 5 2 Materiais e Métodos 2.1 Área de Estudo A área de estudo está inserida no Campo de Peregrino pertencente à Bacia de Campos. Os poços utilizados no trabalho estão dispostos na Figura 1, a ausência de coordenadas e identificação deve-se a confidencialidade dos dados da área. Figura 2.1-1 - Mapa de distribuição espacial dos poços. 6 2.2 Método Os dados utilizados neste trabalho consistem em descrições de testemunho e perfilagem de seis poços (Poço 03, Poço 04, Poço 05, Poço 06, Poço 07 e Poço 08); perfilagem de dois poços (Poço 01 e Poço 02) e informações geológicas e de propriedades de rochas e fluidos, presentes no relatório de desenvolvimento do Campo de Peregrino da empresa Statoil. Para a realização das atividades, o trabalho contou inicialmente com a revisão bibliográfica sobre o Campo de Peregrino, perfilagem geofísica de poços e técnicas de caracterização de propriedades petrofísicas. Os poços utilizados contam com perfis de densidade (RHOB), neutrão (NPHI), raios gama (GR), resistividade (ILD) e sônico (DT). A partir de seu comportamento e características, foram utilizados em conjunto com as descrições de testemunhos na interpretação geológica das fácies do reservatório e determinação do topo e base que delimitaram a área de estudo e o intervalo onde seriam realizados os calculos de porosidade e permeabilidade. A porosidade efetiva para a formação foi calculada utilizando os valores derivados do perfil de densidade, neutrão e do volume de argila (Tiab e Donaldson, 2004). Os parâmetros para a volume de argila foi obtido utilizando o valor máximo e mínimo para o reservatório de 135 e 60 API. A porosidade de densidade (φd) foi obtida utilizando a densidade do grão em 2,66 g/cm 3 e do fluido em 0,95 g/cm3, ambas medidas em laboratório (Statoil, 2013). Por meio dos valores de porosidade efetiva em conjunto com a resistividade, é possível estimar a resistividade da água da formação, necessária para o calculo da saturação de água do reservatório, que associada à porosidade, permitirá a delimitação da saturação irredutível. A delimitação de zonas de saturação irredutível é um importante fator de um reservatório. Para a estimativa da permeabilidade através da perfilagem, deve-se inicialmente análisar se as formações se encontram nesta zona, caso contrário a estimativa se torna incerta. 7 Além dos modelos derivados da perfilagem, valores de permeabilidade foram obtidos a partir da regressão exponencial dos gráficos de permeabilidade por porosidade de alguns níveis dos poços 03, 04 e 08. Após todos os calculos, foi realizada a análise dos dados e a construção de variogramas para as propriedades no poço (vertical) e no campo (horizontal), que após terem seus parâmetros ajustados e de seu cruzamento foi aplicado o método geoestatístico de cokrigagem para a interpolação dos dados e a estimativa da distribuição das variabilidades internas e espaciais do reservatório em um modelo em três dimensões. Todos os dados utilizados foram cedidos pela Sinochem Petróleo Brasil Ltda. para o projeto de P&D “Análise de Incertezas Integradas”. Para a realização das análises, interpretações e cálculos foi utilizado o software DecisionSpace Geosciences® 8.3 - Halliburton/Landmark. Na realização da modelagem geoestatistica do reservatório foi utilizado o software Isatis®, ambos com as licenças disponíveis no Laboratório Análise de Incertezas Integradas no Instituto de Geociências - UNICAMP. 2.3 Perfis Geofísicos de Poços Os principais perfis geofísicos de poços utilizados no presente estudos são: Raio Gama (GR), Neutrão (NPHI), Densidade (RHOB), Resistividade (ILD) e Sônico (DT). Seus usos são diversos no processo de interpretação geológica e cálculos de propriedades petrofísicas, mas para a melhor utilização deve-se sempre estar associado ao em conjunto com descrições de testemunhos e informações geológicas. 2.3.1 Perfil de Raio Gama (GR) O perfil de raio gama é o registro da radioatividade emanada naturalmente dos elementos urânio, tório e potássio presentes na rocha. A unidade mais aceita para perfis de de radioatividade é API (American Petroleum Institute) e é a somatória de cada um dos elementos fonte de radioatividade quee emitem raios gama espontaneamente em forma de fóton sem nenhuma massa., porém grande energia. No caso do urânio, tório e potássio o espectro ocorre na faixa de 0-3 MeV (million eléctron volts). Uma das características do raio gama é que quando ultrapassa por qualquer material a sua energia é progressivamente absorvido, este efeito é conhecido com espalhamento Compton e 8 acontece devido à colisão entre o raio gama e os elétrons do material, e consequentemente um decréscimo de energia (Rider, 2002). Em perfis de poços, quando a radiação é absorvida pelo equipamento, o raio gama registrado já ultrapassou a formação e provavelmente a lama de perfuração, ambos causando o espalhamento Compton. Assim, o nível de energia que o raio gama emitiu torna-se reduzido e é observado um espectro contínuo de valores. Quando cada mineral radioativo está presente na rocha, suas radiações são somadas e resultam em um espectro muito complexo, que mesmo após o espalhamento Compton, irá conter picos diagnósticos de cada um, sendo o potássio em 1,46 MeV, o urânio em 1,76 MeV e o tório em 2,62 MeV, usados para identificar a fonte original de radiação (Rider, 2002). No equipamento de raio gama há uma sensível detector consistindo de um cintilômetro e um fotomultiplicador. O cintilômetro é tipicamente um cristal de iodeto de sódio com uma pequena impureza de tálio em sua estrutura, que ao ser atingido pelo raio gama causa um flash que será coletado pelo fotomultiplicador e armazenados em um condensador. A energia acumulada durante o tempo constante é o valor do detector na profundidade pelo tempo (Asquith e Gibson, 1982; Rider, 2002). Em poços perfilados de petróleo, a radioatividade natural é comumente encontrada em folhelhos, onde um valor alto de raio gama está associado a rochas que tenham alta composição de minerais de argila. Uma análise de folhelhos por um espectro de raio gama mostra que cada um dos três elementos, U, Th e K, contribuem relativamente com a radioatividade geral, porém o comportamento individual de cada elemento em minerais em argilas é diferente (Rider, 2002). O potássio é muito presente na maioria dos folhelhos, sendo geralmente a soma de diversos tipos de minerais de argilas, como ilita,glauconita, caulinita e esmectita. Apesar de o potássio estar presente em grande quantidade em minerais de argila, é encontrado também em minerais detríticos como os feldspatos, que podem estar associados a arenitos, e, portanto, não deve ser utilizado sozinho como um “indicador de folhelhos” (Rider, 2002). A distribuição de urânio é bastante irregular devido a sua afinidade com componentes secundários, mas principalmente por sua precipitação estar relacionada a ambientes ácidos (pH 2,5-4,0), redutores (pH 0-0,4), e de adsorção por matéria orgânica. Sua presença é tipicamente relacionada a folhelhos negros, devido a grande 9 quantidade de matéria orgânica, e sua contribuição na radioatividade geral chega a 10%- 30%. O comportamento do tório em folhelhos não é totalmente compreendido, apesar de seu conteúdo variar em minerais de argila, tem um valor constante em quase todos os folhelhos. Com uma média de 12 ppm, para um típico folhelho, sua contribuição na radiação geral é de 40%-50% (Rider, 2002). Em arenitos, o perfil de raio gama frequentemente mostra baixos valores de raio gama, embora alguns minerais associados apresentem radioatividade. Os minerais mais comuns são os feldspatos, micas, minerais pesados e fragmentos líticos, sendo que os dois primeiros possuem potássio, o terceiro tório e o último geralmente contém argila. Os carbonatos “limpos” não apresentam radioatividade, porém em alguns casos podem conter matéria orgânica, frequentemente associada ao urânio (Figura 2.3-1) (Rider, 2002). Figura 2.3-1 - Perfil de raios gama em poços (Rider, 2002). O perfil de raio gama para folhelhos puros tende a ser constante. Deste modo se considerar a máxima média dos valores de raio gama para ser 100% folhelho, e o menor 10 valor para indicar 0% de folhelho, é possível através desta escala que cada valor de raio gama fornecerá o volume de folhelho ou índice de raio gama por um simples cálculo (Asquith e Gibson, 1982, Rider, 2002): Equação 2.3.1-1 Onde: IGR = Índice de raios gama GR (log) = Raio gama lido na formação GR (min) = Raio gama mínimo (arenito “limpo” ou carbonato) GRmax = Raio gama máximo (folhelho) 2.3.2 Perfil de Densidade (ρb) O perfil de densidade é um registro continuo da densidade da formação próxima ao poço, representando a densidade volumétrica da rocha, incluindo matriz sólida e os fluidos que preenchem os poros. Em um arenito sem nenhuma porosidade, por exemplo, terá densidade de 2,65g/cm3 que representa a densidade do quartzo puro. Em uma porosidade de 10%, o mesmo arenito possuirá uma densidade de 2,49 g/cm3, representando a soma de 90% dos grãos de quartzo (2,65g/cm3) e 10% de água (1 g/cm3) (Rider, 2002). A técnica do equipamento do perfil de densidade consiste no bombardeamento focalizado de raios gama de energia médio-alta e na mediação de sua atenuação entre a fonte do equipamento e os detectores. A relação física desta atenuação (espalhamento Compton) e a energia incidente dos raios gama é uma relação entre o número de elétrons que a formação contém (densidade de elétrons – elétrons/cm3), que por sua vez é muito próximo com a densidade comum da formação (g/cm3) (Asquith e Gibson, 1982; Rider, 2002). O equipamento de densidade utiliza de uma fonte de raio gama, geralmente composta por elementos radioativos como o Cs-137 e Co-60, e dois detectores (próximo e distante) que permitem a compensação para o efeito do poço, quando suas leituras são combinadas e comparadas no cálculo das razões (Asquith e Gibson, 1982; Rider, 2002). 11 Pesquisas no equipamento de densidade mostram que 90% de sua resposta derivam dos 13 cm distância ou menos do equipamento. Consequentemente o equipamento deve ser afetado pelas condições do poço, sendo que em zonas porosas, onde o equipamento tem sua principal utilidade petrofísica, há grandes probabilidades de seu registro compreender a zona invadida pela lama de perfuração (Rider, 2002). Mesmo em investigações em profundidades, o equipamento de densidade consegue uma alta resolução em sedimentos. Em uma velocidade média de perfilagem (400 m/h), densidades verdadeiras podem ser lidas em camadas menores que 60 cm, já em perfilagens de velocidades lentas é possível aumentar a resolução de densidade para camadas menores que 15 cm (Rider, 2002). As densidades das litologias mais comuns são raramente usadas com diagnóstico para a identificação de rochas, uma vez que há diversas razões para existir variação na densidade em um registro, como composição e textura da formação, como plasticidade e compactação (Rider, 2002). Tabela 2-1 – Densidade em diferentes litologias (Rider, 2002). Litologia Densidade (g/cm 3 ) Matriz (g/cm 3 ) Argilas e folhelhos 1,8 – 2,75 Variado Arenitos 1,9 – 2,65 2,65 Carbonatos 2,2 – 2,71 2,71 Dolomitos 2,3 – 2,87 2,87 Variações de densidades totais em arenitos geralmente indicam mudanças em suas porosidades, sendo considerada em arenitos de quartzo puro uma densidade dos grãos de 2,65 g/cm3, porém na realidade arenitos assim são raros. Mudanças na densidade dos grãos mudarão dependendo de constituintes que não sejam quartzo, como misturas com feldspatos, micas, fragmentos líticos e fragmentos de rochas (Rider, 2002). Uma das grandes utilidades do perfil de densidade é o cálculo de porosidade e densidade de hidrocarbonetos. Para o cálculo da porosidade pelo perfil de densidade é necessário o conhecimento das densidades dos materiais envolvidos individualmente, como a densidade do grão e do fluído intersticial, sendo os valores aplicados na fórmula (Asquith e Gibson, 1982; Rider, 2002): 12 Equação 2.3.2-1 Onde: φd= Porosidade derivada da densidade ρb = Densidade volumétrica da formação ρma = Densidade da matriz ρf = Densidade do fluido 2.3.3 Perfil Neutrônico (Nφ) O perfil neutrão é o registro continuo da reação da formação ao bombardeamento por nêutrons acelerados, geralmente citados como “unidades de porosidade neutrão” uma vez que é relacionado com o índice de hidrogênio da formação (Rider, 2002). O equipamento do perfil neutrão geralmente consiste de uma fonte de nêutrons, geralmente feita de plutônio-berílio (PuBe) ou amerício-berílio (AmBe) e dois detectores, que medirão a perda de energia da partícula ao passar pela formação (Asquith e Gibson, 1982; Rider, 2002). Os nêutrons são partículas subatômicas eletricamente neutras, mas que possuem massa essencialmente igual ao do núcleo de hidrogênio. Eles interagem com a matéria de dois modos, por colisões, que ocorrem principalmente em estados de maior energia, e por absorções, que ocorrem em estados de baixa energia. A perda de energia de nêutrons rápidos ocorre principalmente devido ao espalhamento elástico que ocorre nas colisões com partículas de mesma massa dos nêutrons, no caso da perfilagem o hidrogênio. Colisões de nêutrons com partículas mais pesadas, chamadas de espalhamento inelástico, não causa grandes perdas significantes de energia (Asquith e Gibson, 1982; Rider, 2002). Tanto as reações elásticas quanto as inelásticas são consideradas as causas para a perda de velocidade dos nêutrons, sendo chamadas de slowing-down length ou abrandamento do comprimento. Esse abrandamento é proporcional à raiz quadrada da distância do ponto de emissão até o ponto onde alcança o limite inferior da zona epitermal (alta energia e velocidade) (Rider, 2002). 13 Os nêutrons emitidos possuem uma velocidade inicial de 4 MeV, a uma velocidade inicial de aproximadamente 2800 cm/μseg. Com essa energia e velocidade, os nêutrons possuemconsiderável capacidade de penetração na formação, porém após alguns microssegundos e sucessivas colisões, a velocidade original do nêutron decai do nível epitérmico para o nível térmico (baixa energia e velocidade). Em situações de baixas energias, o nêutron é pensado em termos de difusor, em vez de velocidade, significando que em níveis térmicos o nêutron difundirá aleatoriamente por um período de tempo até momento em que sofrer interações de absorção, isto é, quando forem capturados por outros núcleos (Rider, 2002). Quando uma formação é bombardeada por nêutrons, este perde rapidamente sua velocidade devido às colisões com os núcleos de hidrogênio presentes na água (H2O). O perfil é, portanto a medida do conteúdo de água da formação, sendo está presente como água adsorvida, água da cristalização ou água intersticial na rocha. Este conteúdo de hidrogênio é chamado de índice de hidrogênio (IH), que é definido pelo peso (%) de hidrogênio da formação pelo peso (%) de hidrogênio da água, onde IH é igual a um (Asquith e Gibson, 1982; Rider, 2002). O uso do perfil neutrão para a identificação de litologias depende do conhecimento da distribuição do índice de hidrogênio em materiais naturais. O hidrogênio detectado ocorre de duas maneiras, uma na combinação entre hidrogênio e carbono (hidrocarbonetos), e uma na combinação entre hidrogênio e oxigênio (água). Os hidrocarbonetos podem ocorrer em forma de gás (metano, etc.), liquido (óleo, betume, etc.) ou sólido (carvão, matéria orgânica), já a água pode ocorrer como água livre (poros), íons adsorvidos (em argilas), como água de cristalização (como em evaporitos) ou combinadas (como em rochas ígneas). Geralmente o perfil neutrão, erroneamente, indica altas porosidades em intervalos e de folhelhos e argilas, devido principalmente por essas formações terem a presença de água livre, adsorvida e presente na estrutura dos minerais (Rider, 2002). 14 Figura 2.3-2 - Perfil densidade-neutrão em diferentes litologias (Rider, 2002). Tanto o uso da densidade quanto do neutrão são difíceis de serem usados na identificação de litologias, porém uma vez combinados tornam-se grandes indicadores de reservatório e estimadores de porosidade. Em arenitos, quando os perfis de densidade e neutrão são plotados em escalas verticais compatíveis, haverá uma separação negativa das duas curvas, uma vez que a densidade será afetada pela densidade, pela porosidade e pelo fluído da rocha, e o perfil neutrão responderá aos fluídos que preenchem os poros (Figura 2-.3-2) (Rider, 2002). A combinação densidade-neutrão será usada como instrumento para o cálculo de porosidade, e também para determinar a litologia e detecção de zonas de gás. Através dos perfis é possível descobrir valores médios de porosidade para a formação pela simples fórmula (Asquith e Gibson, 1982): Equação 2.3.3-1 Onde: φm= porosidade média nφ= porosidade neutrão φd= porosidade derivada da densidade 15 2.3.4 Perfil de resistividade (ILD) O perfil de resistividade é o registro da resistividade da formação, ou seja, a resistência da passagem de corrente elétrica. A maioria da matriz e grãos de rochas tem comportamentos isolantes, enquanto os fluídos que as preenchem são condutores, com exceção aos hidrocarbonetos que são infinitamente resistivos (Asquith e Gibson, 1982; Rider, 2002). A teoria envolvendo a técnica de resistividade baseia-se na ideia de que a corrente na terra é análoga a um circuito elétrico. Assim como a unidade de medida da resistência é ohms, a resistividade é medida em unidades de ohms m 2 /m, ou seja, a resistência com dimensões normalizadas (Rider, 2002). Dois tipos de testes podem ser aplicados sobre uma formação, uma medida direta, consistindo em uma corrente entre dois eletrodos com a diferença de potencial fornecendo a resistividade do fluído presente na rocha, e uma medida indireta, consistindo na indução de uma corrente alternada na formação, onde a variação no campo magnético criará correntes secundárias e induzirá um sinal ao receptor, onde o sinal será proporcional à resistividade. (Asquith e Gibson, 1982; Rider, 2002). Rochas são essencialmente isolantes, porém raramente consistem apenas de materiais rochosos, também sendo encontrados poros e vazios. Os poros muitas vezes são preenchidos por água, que naturalmente pode variar de água doce a muito salina (Rider, 2002). A presença de fluídos tem grande importância na resistividade de uma rocha, porém a textura e mais especificamente a geometria dos poros e suas conexões tem um papel fundamental na passagem de corrente elétrica. Em rochas, a facilidade com que a corrente percorre o caminho entre poros, define a expressão de Fator de Resistividade da Formação, sendo quando o fator é baixo, a rocha é passiva a passagem de corrente, quando o fator é alto, a rocha possui um grande efeito inibidor a passagem de corrente (Rider, 2002). Segundo Archie (1942) o Fator de Resistividade da Formação é a razão entre a resistividade da formação coma resistividade do fluído que contem: Equação 2.3.4-1 Onde: 16 F = Fator de resistividade da formação Rw = Resistividade da água que satura uma rocha Ro = Resistividade da Rocha com poros preenchidos somente por água Como a resistividade esta intrínseca a passagem de correntes em poros, o fator de resistividade é uma função do tipo de rocha e da porosidade. Em seu trabalho, Archie achou a relação entre F e porosidade pela equação: Equação 2.3.4-2 Onde: F = Fator de resistividade da formação φ= Porosidade média m= Fator de cimentação a= Coeficiente de tortuosidade Sendo o fator de cimentação dependente do tipo de rocha, mais relacionado com a textura de com cimentação e o coeficiente de tortuosidade uma função da complexidade do caminho que o fluído de passar pela rocha, relativo à porosidade, sendo menor que 1 para rochas com porosidade intergranular e maior que 1 para rochas com porosidade de “juntas” (Rider, 2002). Combinando as equações 2.3.4-3 e 2.3.4-4 pode-se chegar ao um valor de resistividade aparente da água que satura os poros da formação pela equação: Equação 2.3.4-5 Onde: Rw = Resistividade da água que satura uma rocha Ro = Resistividade da Rocha com poros preenchidos somente por água a= Coeficiente de tortuosidade 17 φ= Porosidade média m= Fator de cimentação Em perfilagem, a noção de zonas invadidas é de total importância para a compreensão da resistividade medida em poços (Figura 2.3-3). Atrás do revestimento do poço, a zona invadida, onde a lama filtrada oriunda da perfuração substitui o volume original de fluídos, alterando a resposta do perfil de resistividade. Gradualmente longe da perfuração haverá cada vez menos volumes preenchidos pela lama, até o momento que haverá apenas os fluídos originais da formação. A substituição constante dos fluídos a partir do poço fornece uma variação paralela da resistividade da formação em função da distância da perfuração (Asquith e Gibson, 1982; Rider, 2002). Figura 2.3-3 - Esquema representando as zonas de invasão de um poço (Rider, 2002). Planejado para medir a resistividade verdadeira da formação em perfurações preenchidas por lamas salinas, o equipamento de resistividade Laterolog gera uma corrente elétrica que é forçada na formação por meio de eletrodos focados. Os eletrodos emitem correntes com a mesma polaridade, prevenindo que a corrente medida flua pela lama salina. A eficiência da investigação em profundidade depende de quão focada é a corrente na formação, sendo o Laterologprofundo (LLD) muito mais focado que o Laterolog raso (LLS) (Asquith e Gibson, 1982). 18 No campo do petróleo a análise dos perfis combinados podem ser úteis na identificação de zonas com presença de hidrocarbonetos. Quando a lama filtrada penetra e substitui o óleo e o gás imediatamente o envolto do poço, o hidrocarboneto só irá ser encontrado na formação virgem. O perfil de resistividade em zonas invadidas registrará uma resistividade de moderada a baixa, em zonas de formação virgem, com alta saturação em hidrocarbonetos, irá ter valores de resistividade alta. Deste modo o perfil mostrará um grande aumento de resistividade longe do poço, sendo a separação entre as curvas geradas pelo equipamento raso (LLS) e profundo (LLD), plotados na mesma escala vertical, considerado um bom diagnóstico de hidrocarbonetos (Figura 2.3-4) (Rider, 2002). Figura 2.3-4 - Perfil R(LLD) e R(LLS) combinados (Rider, 2002). 2.3.5 Perfil Sônico (DT) O perfil sônico fornece o tempo de trânsito intervalar da formação (Δt) em microssegundos por pé (μs/ft). Esse registro mede a capacidade da formação transmitir ondas compressionais sonoras, sendo que essa característica varia para cada tipo de litotipo, estruturas, porosidade e fluídos (Rider, 2002). A técnica é baseada na medição do tempo necessário para um pulso viajar entre o transmissor e receptor. O pulso utilizado para gerar o perfil constitui de ondas 19 compressionais ou onda P, de modo que as partículas vibram no sentindo da propagação da onda (Rider, 2002). O equipamento de perfil sônico consiste de um transmissor piezoelétrico que tem a capacidade de converter um sinal elétrico em vibração sônica. Os receptores, também piezoelétricos, convertem as ondas compressionais em sinais eletromagnéticos que pode ser amplificados, produzindo o sinal do perfil (Rider, 2002). A velocidade medida em rochas sedimentares raramente é utilizada para a descriminação de litologias, este fato se deve principalmente a grande variação de cada rocha e a sobreposições entre elas (Tabela 3-2). Apesar disso, grandes velocidades são geralmente são associadas a carbonatos, médias velocidades com arenitos e folhelhos e baixas velocidades com folhelhos e camadas de carvão (Rider, 2002). Tabela 2-2 - Velocidade de propagação de ondas em diferentes litologias e minerais (Rider, 2002). Δt ma (μ/ft) V (m/s) V (ft/s) Arenitos (compactados) 55,5 – 51 5490 – 5950 18000 – 19500 Quartzo 55,1 5530 18150 Carbonatos 53 – 47,6 5800 – 7000 19000 – 23000 Calcita 46,5 6555 21500 Dolomito 45 – 38,5 6770 – 7925 22200 – 26000 Dolomita 40 7620 25000 Folhelho 167 – 62,5 1600 – 5000 5000 – 16000 Apesar do perfil sônico não ser ideal para a identificação litológica, sua resposta é muito sensível a texturas de rochas, sendo a viagem do som intimamente associado com a matriz, à distribuição dos grãos, cimentação e fraturas (Rider, 2002). Deste modo a porosidade pode ser encontrada utilizando a fórmula proposta por Wyllie et al. (1958) (Asquith e Gibson, 1982): Equação 2.3.5-1 Onde: φsônico= porosidade derivada do sônico Δt log = intervalo de tempo de trânsito da formação Δt ma = intervalo de tempo de trânsito da matriz Δt f = intervalo de tempo de trânsito do fluido 20 2.4 Propriedades Petrofísicas . Alguns métodos combinados são utilizados a fim de obter as propriedades das rochas como saturação, saturação irredutível, porcentagem de volume de água e permeabilidade (Asquith e Gibson, 1982). 2.4.1 Porosidade Efetiva O volume total de espaço poroso que possa ser preenchido por fluidos é denominado porosidade efetiva (φe), sendo que se esses poros não estiverem interconectados, não existirá permeabilidade. Devido à propriedade dos perfis de densidade e neutrão responderem a densidade da rocha e o conteúdo de fluídos respectivamente, geralmente em níveis argilosos, com a presença de água intersticial ou adsorvida, podem apresentar altos valores de porosidade neutrão, resultando em uma porosidade média calculada não correspondente a realidade. Embora existam muitos métodos para correção de porosidade na literatura, pode-se apenas considerar a porosidade média dada pelo valor médio entre as curvas de densidade/neutrão corrigida pelo conteúdo de argila (Tiab e Donaldson, 2004). Equação 2.4.1-1 Onde: φe= Porosidade efetiva φm= Porosidade média Igr= Índice de raio gama da formação 2.4.2 Saturação de Archie Em seu trabalho Archie (1942) estudou a variação da resistividade de arenitos devido à porcentagem de água contida nos poros. A saturação de água da formação virgem de um reservatório pode ser calculada por: Equação 2.4.2-1 21 Onde: Sw = Saturação da água na formação Rw = Resistividade da água que satura uma rocha Ro=Resistividade da Rocha com poros preenchidos por água e hidrocarbonetos φ= Porosidade a = Coeficiente de tortuosidade m = Coeficiente de cimentação n = Expoente de Saturação O expoente de saturação representa a dependência da presença de fluídos não condutíveis nos poros e se relaciona com a molhabilidade da rocha. Os valores tipicos para os coeficientes são mostrados na Tabela 3-3. Tabela 2-3 - Típicos valores de coeficiente de tortuosidade (a), coeficiente de cimentação (m) e expoente de saturação (n) nas rochas (Asquith e Gibson, 1982). Litologia a m n Carbonatos 1 2 2 Arenitos consolidados 0,81 2 2 Arenitos inconsolidados 0,62 2,15 1,5 Arenitos 1,45 1,54 1,54 Arenitos argilosos 1,65 1,33 1,33 Arenitos calcários 1,45 1,70 1,70 A saturação por água em zonas não invadidas medidas pela equação de Archie é um dos parâmetros mais importantes calculados na análise petrofísica. Porém a informação de saturação sozinha não provem informações para a avaliação do reservatório, sendo ainda necessário caracterizar outros parâmetros importantes (Asquith e Gibson, 1982). 22 2.4.3 Gráfico de Pickett O gráfico de Pickett é um dos métodos mais simples e úteis usados nos calculos petrofísicos. O método criado por Pickett (1966) consiste na observação da resistividade da formação (Rlld) em função da porosidade (φ), da resistividade da água da formação (Rw) e o do fator de cimentação (m) (Asquith e Gibson, 1982). O gráfico é construído ao se plotar valores de porosidade efetiva (φe) com valores de resistividade da formação (Rlld) em um gráfico log-log (Figura 2.4-1). Ao cruzar os dados, a zona com valores de Rw, m e Sw iguais a 100% fornecerão pontos de dados tendendo a uma única linha reta. O valor da resistividade da água poderá ser estimado pela reta quando está incidir no eixo x superior, sendo o ponto igual a “a *Rw” (Asquith e Gibson, 1982; Doveton, 1994). Figura 2.4-1 - Gráfico de Pickett (Modificado de Asquith e Gibson, 1982). A reta gerada pelos dados representa a resistividade da formação preenchida por água (Ro), sendo que a inclinação da reta será igual ao fator de cimentação (-m). Os pontos plotados que estiverem tendendo a reta à cima de Ro representarão saturações menores que 100% (Asquith e Gibson, 1982; Doveton, 1994). 23 2.4.4 Porcentagem de Volume de Água (Bulk Volume Water) Buckles em 1965 fez uma extensiva análise numérica das propriedades do reservatório e concluiu que em certos casos, há uma função hiperbólica quadrilateral entre a saturação (Figura 2.4-2) (Doveton, 1994): Equação 2.4.4-1 Onde: BVW= Porcentagem de volume de água φe = porosidade efetiva Sw= Saturação de água da formação Ou representada pela forma linearizada:Equação 2.4.4-2 Figura 2.4-2 - Gráfico de Buckles 24 Buckles concluiu que se os pontos plotados, se mantivessem constantes ou muito próximos a constantes, indicariam que a formação pertenceria a uma zona de saturação irredutível (Swirr). Quando uma formação pertence a esta zona, a água calculada para a formação será imóvel devido à tensão superficial dos grãos e da pressão capilar. Deste modo a produção de hidrocarbonetos em zonas de saturação irredutível será livre de água (Asquith e Gibson, 1982; Doveton, 1994). Baixos valores de BVW (Porcentagem de Volume de Água) refletem que a rocha possui poros maiores; altos valores são associados a rochas com tamanhos de poros menores. Buckles (1965) fundamentou esse comportamento empiricamente associando os resultados diretamente a área da superfície interna, relacionada ao tamanho dos grãos. Ao verifica que a formação pertence a uma zona de saturação irredutível é possível relacionar a saturação com a porcentagem de volume de água (BVW) (Doveton, 1994): Equação 2.4.4-3 Onde: BVW= Porcentagem de volume de água φe = porosidade efetiva Swirr= Saturação irredutível de água da formação 2.4.5 Permeabilidade A permeabilidade é a responsável pelo deslocamento de fluídos pelos poros da rocha. É uma das mais importantes propriedades petrofísicas de um reservatório, podendo ser avaliada através de análises de laboratório ou estimada através de métodos geofísicos. Na avaliação da formação usando a permeabilidade derivada de perfilagem, os valores encontrados de permeabilidade, quando possível, podem ser comparados com valores de poços produtores (Asquith e Gibson, 1982). Para que a estimativa da permeabilidade de um reservatório seja válida, deve-se considerar se a formação de interesse está em uma zona de saturação irredutível. Se a formação está ou não em tal zona, dependerá da relação da porcentagem de volume de água (BVW=Sw*φe) (Asquith e Gibson, 1982). Ao confirmar a zona de saturação 25 irredutível, haverá a possibilidade de aplicar vários modelos para inferir a permeabilidade baseados nos cálculos de porosidade. A relação empírica geral proposta por Willie e Rose (1950), relaciona a permeabilidade, K, com a porosidade, φ, e a saturação irredutível, Swirr, pela expressão: Equação 2.4.5-1 Onde: a, b e c = Parâmetros estatisticamente determinados Segundo Torskaya (2007) baseado nessa expressão geral, varias relações empíricas foram propostas para o calculo de permeabilidade para valores de porosidade e saturação de água irredutível derivadas de perfilagens, como (Torskaya et al 2007): Tixier (1949): Equação 2.4.5-2 Timur (1968): Equação 2.4.5-3 Coates (1981): 26 Equação 2.4.5-4 Onde as unidades de permeabilidade é Darcy (D) e as unidades de porosidade e saturação estão expressas em termos de volume de espaços porosos e de porcentagem de volume de água respectivamente. Segundo o manual do software DecisionSpace Geoscience® a fórmula da permeabilidade de Coates pode ser reescrita pela expressão: Equação 2.4.5-5 Onde: K= Permeabilidade φe = Porosidade efetiva Swirr = Saturação de água irredutível 2.4.6 Relação Permeabilidade-Porosidade Um gráfico pode ser gerado a partir de dados de porosidade e permeabilidade obtidos atráves de um grande número de amostras de uma formação de arenito. Mesmo quando a formação é considerada homogênia e uniforme, pode não haver uma linha de tendência definida entre a permeabilidade e a porosidade. Deste modo é possível haver rochas com altas porosidades, porém, sem nenhuma permeabilidade. A situação contrária com valores baixos de porosidade e altos valores de permeabilidade também é possível (Tiab e Donaldson, 2004). Apesar deste problema, há uma frequente relação entre as duas propriedades que pode pode ser encontrada. Utilizando um gráfico semi-log de permeabilidade versus a porosidade é possivel chegar a uma relação exponencial entre as duas grandezas (Figura 2.4-3) (Tiab e Donaldson, 2004). 27 Figura 2.4-3 - Gráfico de Permeabilidade vs. Porosidade (Tiab e Donaldson, 2004) 2.5 Geoestatística Métodos estatísticos clássicos de dados geralmente parte do pressuposto que as realizações das variáveis aleatórias são independentes entre si, não ocorrendo à influência das vizinhas umas sobre as outras (Guimarães, 2004). Porém fenômenos naturais apresentam geralmente uma certa ordem estrutural nas variações entre vizinhos, concluindo que as variações não são aleatórias e, portanto apresentam uma dependência espacial. Neste contexto, surgiu a geoestatística como meio de analisar as variações dos dados distribuídos no espaço (Guimarães, 2004). É de conhecimento geral entre os autores de geoestatística que quanto maior o número de pontos, maior será a estimativa das semivariânicas, que quando relacionado à distância cria um semivariograma. O semivariograma pode ser definido matematicamente pela função: Equação 2.4.6-1 Onde o Var[Z(t) – Z(t+h)] é a variância dos dados separados por uma distância h dividida por dois, assim chamada de semivariância. O divisor 2 da variância é deduzido e simplificado matematicamente (Guimarães, 2004). 28 Analisando a expressão, pode-se concluir que quanto mais próximos estiverem os dados, maior será a semelhança entre eles e, consequentemente menor a semivariância. A distância h a partir no qual γ(h) se torna aproximadamente constante é chamada de alcance da dependência espacial, sendo as medições realizadas a distâncias maiores que este alcance são independentes entre si, marcando o “patamar C” (Guimarães, 2004). A utilização de dados amostrais na estimativa da semivariância e na construção do semivariograma mostra frequentemente que γ(0) ≠0. Neste caso o variograma possui efeito pepita (C0). (Guimarães, 2004). 2.5.1 Semivariograma Cruzado e Cokrigagem Os semivariogramas cruzados têm como objetivo descrever a variação espacial de duas variáveis aleatórias. Em certos casos, a delimitação de variáveis é cara e de difícil aceso, neste caso tende-se a identificar uma variável que apresente uma boa correlação espacial. Com a determinação pode-se fazer a estimativa utilizando de uma delas usando-se informações de ambas expressas no semivariograma cruzado, por meio do método de cokrigagem (Guimarães, 2004). Uma vez que exista uma dependência espacial para cada variável Z1 e Z2 e entre elas, então é possível utilizar a co-krigagem para estimar valores. Para a estimativa de uma variável Z2, por exemplo, para qualquer t0, e que a estimativa deva ser uma combinação linear de ambos Z1 e Z2, ou seja, Equação 2.5.1-1 O sistema da co-krigagem pode ser escrito em notação matricial como, Equação 2.5.1-2 Cuja solução é 29 Equação 2.5.1-3 Onde [γ]-1 é o inverso da matriz de coeficientes [γ], [λ] é a matriz dos pesos procurados, λ1i e λ2j, e [b] é o lado direito do sistema de equações (semivariância do ponto a ser estimado (t0) e o ponto observado (t12 ou t21) (Guimarães, 2004). 3 Geologia Regional As bacias sedimentares da margem divergente da América do Sul estão associadas ao evento de ruptura do supercontinente Gondwana durante o Mesozoico. As orientações das tensões regionais deste evento e a deriva continental das placas Africana e Sul-Americana indicam três domínios distintos na margem: um predominantemente distensivo, entre o sul da Argentina e o extremo nordeste brasileiro; uma região transformante, noAtlântico Equatorial; e a região da Foz do Amazonas, onde novamente predominam processos distensivos (Milani e Thomas Filho, 2000; Milani, et al., 2001). Sobre o embasamento pré-cambriano da Faixa Ribeira, a margem divergente do Atlântico Sul é marcada por diferentes fases tectônicas e sedimentares. A fase rifte, com predomínio de processos distensivos, é marcada pelo afinamento litosférico, associado a extrusões vulcânicas e grandes falhas normais, associadas à semi-grabens preenchidos por sedimentos continentais e lacustrinos (Milani, et al., 2001; Mohriak, 2003). Na Bacia de Campos as grandes extrusões vulcânicas são definidas por basaltos fraturados e vesiculares da Formação Cabiúnas. Depositados discordantemente ao embasamento, o derrame ígneo é sobreposto por depósitos sedimentares do Grupo Lagoa Feia inferior, composto pelas formações: Itabapoana, Atafona e Coqueiros (Winter et al., 2007). 30 Figura 2.5-1 - Bacia de Campos (Rangel e Martins, 1998; apud Milani et al., 2001). A Formação Itabapoana, depositada no Andar Barremiano, é representada por depósitos proximais de borda de bacia e de borda de falhas. São caracterizados por conglomerados polimíticos, arenitos, siltitos e folhelhos avermelhados depositados na forma de leques, típicos em todo o Cretáceo Inferior (Winter et al., 2007). Representando os sedimentos mais distais da bacia, a Formação Atafona é representada por arenitos, siltitos e folhelhos associados a depositados em ambientes lacustres intercalados com carbonatos. Os arenitos e siltitos apresentam geralmente minerais de talco e estevensita, relacionados à deposição química de lagos alcalinos com atividade hidrotermal (Winter et al., 2007). Depositada desde o Barremiano superior, a Formação Coqueiros, está representado por intercalações de camadas de folhelhos geradores de hidrocarbonetos (folhelho Jequiá) e carbonatos de origem lacustre, formados principalmente por moluscos bivalves. Esses depósitos de conchas se formaram em ambiente de alta energia e constituem espessas camadas reservatórios (Winter et al., 2007). Ao final do rifteamento, o centro de espalhamento mesoatlântico anteriormente distribuído em ampla área da região do rifte, focaliza-se para o centro de espalhamento na cordilheira. Evidenciado por vulcanismos subaéreos em várias bacias da margem, nessa fase, também ocorrem reativações de grandes falhas e erosão de blocos de rifte, que arrasam a topografia anterior e separam os ambientes de sedimentação continental lacustrinos de rifte de ambientes transicionais e marinhos da fase pós-rifte (Mohriak, 2003; Winter et al., 2007). 31 A supersequência de pós rifte corresponde à seção sedimentar superior do Grupo Lagoa Feia, compreendendo as formações Itabapoana, Gargaú, Macabu e Retiro depositados no andar Aptiano médio e superior (Winter et al., 2007). A Formação Itabapoana, representada por conglomerados e arenitos de borda de bacia, nessa sequência, possui padrões progradantes, passando então a um padrão retrogradante até o topo da sequência (Winter et al., 2007). Mais ao centro e sul da bacia, representada predominantemente por rochas pelíticas, como folhelhos, siltitos e margas, intercalados por arenitos e calcilutitos, a Formação Gargaú depositada em ambiente costeiro raso, com eventuais aportes siliciclásticos arenosos e conglomeráticos, grada distalmente para sedimentos calcários estromatolíticos e lamitos microbiais da Formação Macabu depositados em ambiente árido e raso (Winter et al., 2007). Formada pela a invasão marinha e limitada na base pela discordância entre os evaporitos e a sequência sedimentar transicional, a Formação Retiro é caracterizada por evaporitos depositados no ambiente marinho/lagunar, árido. De modo geral, a formação é disposta com os sais mais solúveis localizados nos depocentros deposicionais, com a sequência de anidrita, anidrita+ halita, anidrita + halita + carnalita/silvinita (Winter et al., 2007). A sequência é coberta predominantemente por sedimentos de plataforma de águas rasas do Grupo Macaé ao final da deposição evaporítica. Compreendendo a fase drift da margem, a deposição ocorre em um regime de subsidência térmica associada a tectonismo adiastrófico (Mohriak, 2003; Winter et al., 2007). A sequência sedimentar compreende a Formações Goitacás (proximal) e Quissamã (distal), Outeiro, Imbetiba e Namorado. A Formação Goitacás litologicamente, ao longo da borda oeste da bacia, é caracterizada por associações de leques aluviais, leques deltaicos, fandeltas (clástico) e bancos e lagunas calco pelíticos (Winter et al., 2007). Nas porções intermediárias predominam sedimentos carbonáticos da Formação Quissamã depositados em ambiente de alta energia a moderado, representada por bancos de calcarenitos oolíticos, oncolíticos e micro-oncolíticos; na porção mais distal é característico por um aumento significativo no teor de argila. A base da seção é caracterizada por um sistema carbonático de planície de maré, com subambientes de supramaré, intermaré e lagunar. Em sua porção proximal, a formação 32 Quissamã/Membro Búzios é constituída por estratos dolomíticos com sistema poroso complexo composto por brechas, vugs, grutas e cavernas (Winter et al., 2007). A Formação Outeiro é composta por calcilutitos com biota plantônica, principalmente foraminíferos (proximal e mediano) e sobrepõe estratigraficamente a Formação Quissamã. Em águas profundas há um considerável enriquecimento em folhelhos e margas, com aumento de foraminíferos planctônicos, cocólitos e radiolários (Winter et al., 2007). Marcando a porção superior do Grupo Macaé, a Formação Imbetiba é construída por margas e pelitos do Cenomaniano e ocorrem praticamente em toda a bacia. Marcando a transição do Cretáceo Inferior e Cretáceo Superior esses pelitos compõe uma grande cunha clástica que selou definitivamente a ocorrência de carbonatos na bacia (Winter et al., 2007). Os depósitos arenosos de sistemas originados por fluxos hiperpicnais compõe a Formação Namorado, que representa reservatórios encaixados em baixos estruturais gerados pela tectônica salífera (Winter et al., 2007). Modelos que enfatizam a importância da tectônica do sal na deposição de sedimentos recebem grande atenção, principalmente por ser relacionada a reservatórios potenciais. Apesar de eventos de reativação transcorrente ser de grande importância para a bacia, o padrão principal dos falhamentos parece ser relacionada principalmente a tectônica gravitacional, apesar do notável estilo tectônico de sal ser associada falhas antitéticas. (Mohriak et al, 2003). Em Cabo Frio, a falha antitética favoreceu o grande aporte sedimentar de sedimentos siliciclásticos associados ao soerguimento da Serra do Mar e da Mantiqueira, sobrecarregando a camada de sal e resultando em sua mobilização. As estruturas formadas junto aos domos de sal, relacionadas a falhas lístricas, afetaram toda a deposição carbonática do Grupo Macaé, enquanto que as calhas serviram como semi- bacias para a deposição distais arenosas de fluxos hiperpicnais desde o Albiano (Mohriak et al., 2003). Do Coniaciano a Mesocampaniano, essas semi-bacias acolheram a sequência sedimentar marcada pelo Grupo Campos. Esse grupo é caracterizado por um maciço aporte sedimentar das formações Ubatuba, Carapebus e Emboré, associados à intensa atividade vulcânica. As deposições dessas sequências ocorreram em ambiente progressivamente mais profundo, de batial superior a médio, sendo que os depósitos 33 arenosos proximais são encontrados confinados nas calhas intra-taludes, com padrão retrogradante, típico deuma megasequência marinha transgressiva (Winter et al., 2007). Em sua porção proximal, a sequência é caracterizada por sedimentos arenosos avermelhados neríticos, típicos de ambiente plataformal raso, como depósitos de fandelta. Nas porções intermediárias, predominam folhelhos e nas distais margas intercaladas com corpos arenosos (Winter et al., 2007). As formações Ubatuba e Carapebus, representadas por pacotes siliciclásticos finos com raros corpos arenosos, tem origem em fluxos hiperpicnais turbidíticos de ambiente marinho profundo (batial inferior). A Formação Emboré, caracterizada por arenitos plataformais avermelhados, foi depositada em ambiente de plataforma costeira, nerítico raso, em sistema do tipo fandelta (Winter et al., 2007). 34 Figura 2.5-2 - Carta estratigráfica da Bacia de Campos (Modificado de Winter et al., 2007). 35 Sendo um dos principais sistemas petrolíferos da bacia e associado ao Campo de Peregrino, o sistema petrolífero Lagoa Feia-Carapebus é formada por rochas geradoras de folhelhos calcíferos da Formação Lagoa Feia e de rochas turbidíticas reservatórios da Formação Carapebus (Milani e Araújo, 2003). Depositados no ambiente lacustre salobro/salino da fase rifte da bacia, os folhelhos Lagoa Feia são rochas com teor de carbono orgânico que podem chegar a 9%, espessura máxima de 300 metros e preenchidas com querogênio do tipo I. As rochas geradoras atingiram a condição ideal de maturação e expulsão de óleo durante o Paleógeno e saturaram com petróleo rochas-reservatório posicionadas em diversos níveis estratigráficos da bacia, desde os basaltos fraturados (Formação Cabiúnas), coquinas da fase rifte (Formação Coqueiros), carbonatos do Cretáceo e Paleógeno (Grupo Macaé) e corpos turbidíticos posicionados em diversos níveis, alguns deles muito rasos, próximos ao fundo do mar (Milani e Araújo, 2003). Para os reservatórios pós-sal, a migração secundária deu-se por falhas normais lístricas, que conduziram o óleo para níveis estratigráficos mais elevados, encontrando “janelas” abertas na camada de selante evaporítico, geradas pelo fluxo sedimentar no sentido das regiões profundas localizadas a leste (Milani e Araújo, 2003). Sendo um dos reservatórios mais expressivos da bacia de campos, os turbiditos da Formação Carapebus são capeados pelos folhelhos da Formação Ubatuba. As trapas desenvolveram associadas à evolução da halocinese sinsedimentar na bacia, sendo de um caráter misto estratigráfico-estrutural (Milani e Araújo, 2003). O Sistema Petrolífero Lagoa Feia-Carapebus foi o responsável pela origem dos maiores campos descobertos no Brasil, tais como Marlim, Albacora, Roncador, Barracuda e Marimbá, todos em turbiditos (Milani e Araújo, 2003). Os óleos da Bacia de Campos apresentam densidades entre 14º e 32º API, apresentando misturas entre petróleos biodegradados e outros não submetidos à degradação bacteriana. Tais misturas devem-se pelos sucessivos pulsos de migração secundária da bacia (Mello et al. 1994; Guardado et al. 2000, Milani e Araújo, 2003). 36 3.1 Campo de Peregrino O Campo de Peregrino é localizado a margem leste do Alto de Cabo Frio, que separa as Bacia de Campos e a Bacia de Santos. O Alto de Cabo Frio, representado por uma elevada área do embasamento, é constituído por rochas ígneas e metamórficas que foram soerguidas e expostas à erosão durante o Cretáceo Inferior, associado à atividade vulcânica alcalina do alinhamento Poços de Caldas- Cabo Frio pós-rifte (Cobbold et al, 2001; Thomaz Filho, 2008). A maior parte das sucessões Cretáceas está ausente no Alto de Cabo Frio, sugerindo grandes momentos de erosão e sedimentação by-pass. No Maastrichtiano a linha de costa localizava-se a sudeste do Campo de Peregrino, onde a subida relativa do mar causou a transgressão e mudança de posição da linha de costa, onde a Formação Carapebus foi depositada em um padrão onlap sobre os carbonatos do Grupo Macaé (Statoil, 2013). Os turbiditos da Formação Carapebus pode ser divididos em três fácies. Originalmente a classificação de fácies foi baseada em descrições de testemunho, sendo mais tarde adicionada a análise de perfilagem geofísica, cálculos de porosidade e conteúdo em argila (Statoil, 2013). Fácies 1: Consiste em arenitos maciços, e ocasionalmente estratificados, podendo ter seleção de pouco à moderada com granulometria de média a muito grossa. A composição do arenito é em sua maioria quartzo, com poucos feldspatos e fragmentos de rochas, sendo difícil a identificação de estruturas internas. A fácies 1 não apresenta bioturbação ou traço de fósseis, com exceção da presença ocasional de Ophiomorph, no Campo de Peregrino é a fácies com as melhores porosidades (>22%), conteúdo de argila menor que 20% e permeabilidades altas, constituindo o melhor reservatório de hidrocarbonetos (Statoil, 2013). Fácies 2: Os arenitos desta fácies são pouco bioturbados com granulometria de média a grossa e pouco a moderadamente selecionada, com a presença de lama em alguns casos. O nível de bioturbação é baixo, sendo comum a presença de Palaeophycos, Ophiomorpha e Planolites. Os arenitos desta fácies são frequentemente pouco consolidados com porosidades variadas, conteúdo de argila menor que 50% e permeabilidades inferiores que as Fácies 1, constituindo assim o segundo melhor reservatório do Campo de Peregrino (Statoil, 2013). 37 Fácies 3: Esta fácies consiste de arenitos argilosos fortemente bioturbados, com um caráter bem homogêneo. O conteúdo de argila nos arenitos pode variar entre 10 e 40% e misturado de uma maneira bem homogênea, sendo os acamamentos não reconhecidos devido a grande bioturbação. A interpretação de seu ambiente de formação é inconsistente devido a dados esparsos, porém a grande quantidade de traços de bioturbação sugere um ambiente que alternava entre tempo bom e tempo de tempestade. O conteúdo de argila na Fácies 3 é definido como maior que 50%, sendo a sua porosidade e permeabilidade muito inferior as Fácies 2 e Fácies 3, não sendo um reservatório de hidrocarbonetos (Statoil, 2013). 38 4 Resultados 4.1 Resultados Petrofísicos Estimados 4.1.1 Poço 08 O poço 08 possui 99,8 metros de espessura do reservatório Carapebus, sendo sua seção marcada principalmente pela Fácies 1 em duas porções. Entre 2350 a 2370 metros de profundidade e de 2375 a 2410 metros de profundidade. As fácies 2 e 3 intercalam com diversas espessuras na porção superior do poço, ocorrendo entre 2310 a 2350 metros de profundidade (Figura 4.1-2) No intervalo entre 2350 e 2400 metros do poço foi gerado o gráfico de Pickett com os valores de resistividade (LLD), variando entre 0,24 e 0,7 ohm.m. e porosidade efetiva variando entre 0,18 e 0,28. Através do prolongamento da reta, e coeficiente angular igual 1,85, estimou-se a resistividade da água da Fácies 1 (Rw) próximo a 0,03 ohm.m. (Figura 4.1-1) Figura 4.1-1 - Gráfico de Pickett para o poço 08 39 Figura 4.1-2 - Perfilagem geofísica do poço 08 40 Tabela4-1 - Propriedades calculadas para o poço 08 PHIE (%) Sw (%) BVW Swirr K-Coates (mDarcy) Fácies 1 28,70 27,30 0,06 0,20 936,44 Fácies 2 10,70 64,10 - - 571,36 Fácies 3 7,80 58,50 0,12 0,78 5,06 (PHIE= Porosidade efetiva, Sw = Saturação de Água, BVW= Porcentagem de volume de água, Swirr = saturação Irredutível, K-Coates = Permeabilidade de Coates). No gráfico de Buckles para o poço (Figura 4.1-3) é verificado a presença de uma família
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