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Na última década, Jim Womack compartilha seus pensamentos e descobertas com a Comunidade Lean, enviando artigos mensais, capturando insights de suas visitas regulares ao gemba de várias empresas no mundo. Em Caminhadas pelo Gemba, ele selecionou, revisou e organizou seus artigos por temas, estabeleceu um contexto e escreveu um novo material em uma série de tópicos adicionais. Caminhadas pelo Gemba apresenta os insights de Womack sobre assuntos que vão desde o uso correto de ferramentas específicas, o papel da liderança nas transformações lean até o papel da gestão em sustentar e melhorar continuamente as empresas lean. O livro revela aos leitores uma extensão de princípios lean e traz suas práticas fundamentais “vá ver, pergunte por quê, demonstre respeito”. Em Caminhadas pelo Gemba, um dos pioneiros em trazer a empresa lean para o mundo compartilha uma década de aprendizado que causará uma profunda repercussão tanto para a Comunidade Lean como para qualquer pessoa que esteja seriamente engajado em aprimorar qualquer atividade que cria valor. Foto da última capa: O autor faz uma caminhada pelo gemba da fábrica do Modelo T em Highland Park, templo da produção em fluxo de Henry Ford, fundada em 1914, onde muitos conceitos lean foram desbravados. (Veja o artigo Uma Caminhada Lean pela História, na página 301 para mais explicação). (Foto de John Shook). Outras obras de Jim Womack The Future of the Automobile, com Alan Altshuler, Martin Anderson, Daniel T. Jones e Daniel Roos A Máquina que Mudou o Mundo, com Daniel T. Jones e Daniel Roos A Mentalidade Enxuta nas Empresas, com Daniel T. Jones Enxergando o Todo, com Daniel T. Jones Soluções Enxutas, com Daniel T. Jones CAMINHADAS PELO GEMBA GEMBA WALKS de Jim Womack Prefácio de John Shook Prefácio da edição brasileira de Cid Lopez Traduzido por Tamiris Masetto Manzano Revisado por José Roberto Ferro Lean Institute Brasil São Paulo, SP, Brasil lean.org.br 1ª Edição Outubro, 2011 © Copyright 2011 Lean Enterprise Institute, Inc. Todos os direitos reservados. O Lean Enterprise Institute e seu leaper são marcas registradas do Lean Enterprise Institute, Inc. Fevereiro, 2011 Lean Enterprise Institute, Inc. One Cambridge Center Cambridge, MA 02142 617-871-2900 • fax: 617-871-2999 • lean.org Todos os direitos sobre textos e ilustrações reservados ao Lean Enterprise Institute. Para Dan, com profunda gratidão por mais de 30 anos de caminhadas juntos no gemba. Agradecemos a colaboração de Christopher Thompson, Diogo Kosaka, Odier Araujo, Ivan Carratu e João Vitor Sampaio na tradução para versões anteriores de alguns dos artigos que compõem este livro. Lean Institute Brasil. PREFÁCIO A linguagem lean está repleta de termos japoneses. Considere o termo kaizen, que hoje é entendido como uma abordagem inexorável e estruturada para continuamente aprimorar cada esforço — mesmo além dos círculos lean. O uso do termo gemba pode ser um pouco menos difundido, mas não menos importante para o lean. Gemba (também escrito com “n”, genba) significa “local real” em japonês. Pensadores lean usam o termo para denotar local real, coisa real ou ainda local de criação de valor. A Toyota e outras empresas japonesas frequentemente complementam o gemba com seu termo relacionado genchi gembutsu para enfatizar o significado literal — genchi, como gemba, significa local real e gembutsu significa coisa real. Esses termos enfatizam a realidade, ou o empirismo. Como o detetive do antigo programa de TV Dragnet costumava dizer, “Apenas os fatos, senhora”. Portanto, o gemba é o local aonde você vai com o intuito de entender o trabalho e liderar. Também é o local para aprender. Nos últimos 10 anos, Jim Womack tem feito suas caminhadas pelo gemba com ambas as finalidades. Nestas páginas, ele divide conosco o que aprendeu de uma nova maneira. A primeira vez que eu caminhei pelo gemba com Jim foi no chão de fábrica de um fornecedor da Toyota. Jim já era famoso como o autor do livro A Máquina que Mudou o Mundo; eu era o gerente sênior americano do Centro de Suporte aos Fornecedores da Toyota. Meus colegas da Toyota e eu estávamos um pouco nervosos em mostrar nossas recentes tentativas de implementação do Sistema Toyota de Produção para o “Dr. James Womack”. Não tínhamos ideia do que esperar desse famoso pesquisador acadêmico. Meu chefe era um dos melhores especialistas do TPS, senhor Hajime Ohba. Alugamos um pequeno avião para a semana, assim poderíamos aproveitar o máximo de nosso tempo, caminhando pelo gemba do maior número de plantas possível. Enquanto chegávamos ao primeiro fornecedor, caminhando pela área de expedição, o senhor Ohba e eu fomos surpreendidos quando o Dr. Womack logo observou uma atividade que o levou a uma questão instigante. O fornecedor estava produzindo componentes para diversas fábricas da Toyota. Eles pretendiam entregar a mesma peça a dois destinos. Dr. Womack, de imediato, notou algo curioso. Franzindo a testa enquanto confirmava que o componente em questão era, de fato, exatamente o mesmo em cada contêiner, Dr. Womack perguntou por que peças com destino a Ontário estavam em pequenos contêineres retornáveis, ao passo que o mesmo componente a ser entregue na Califórnia estava em uma caixa grande de papelão. Esse não era o tipo de observação que esperávamos de um visitante acadêmico em 1993. O tamanho e a configuração do contêiner era uma questão simples (e aparentemente trivial) que geralmente escapava de exames minuciosos, mas que poderia causar consequências inesperadas e imensamente indesejadas. Era exatamente nesse tipo de detalhe que incentivávamos nossos fornecedores a se concentrarem. Na verdade, neste fornecedor em particular, as configurações diferentes de contêineres tinham sido recentemente apontadas como um problema. E, neste caso, o fornecedor não era a causa do problema. Era o cliente — a Toyota! Pedidos diferentes de diferentes plantas fizeram com que o fornecedor embalasse os produtos acabados em quantidades variadas (causando variações desnecessárias nas séries de produção), preparasse e mantivesse materiais em embalagens variadas (gastando e ocupando mais espaço), enfim, resultando em flutuações na entrega e, portanto, em exigências para a produção. A questão trivial não era tão trivial como parecia. Nós não havíamos estado no chão da fábrica quando o Dr. Womack levantou essa questão. A maioria dos visitantes focava nos produtos, na tecnologia, na escala de operações etc. Ohba-san olhou para mim e abriu um sorriso, como se dissesse “Deve ser interessante”. Isso aconteceu anos antes de Jim começar a escrever suas eletters, antes mesmo do nascimento do Lean Enterprise Institute (LEI). O panorama do lean mudou drasticamente nos últimos dez anos, mudou espelhado nos artigos de Jim. De uma ênfase nas várias ferramentas lean para a simples eliminação de desperdícios nas fábricas, a atenção foi firmemente voltada para focar nos princípios, nos sistemas e nas práticas básicas da gestão, que geram um sucesso sustentável em qualquer tipo de organização. Além disso, o impacto do lean continua crescendo, movendo-se de indústria em indústria, de país em país, liderado por um número crescente de praticantes e acadêmicos e outros pensadores lean. Hoje, tem-se levantado questões to-talmente novas sobre lean, como resultado da prática da Comunidade Lean, que, em sua maioria, foi transformada pelo trabalho de Jim. Recebendo elogios por tudo que ele havia realizado, inspirando o movimento lean, que transformou uma quantidade imensurável de desperdício em valor, Jim sempre responde usando a mesma frase: “Eu nunca inventei nada. Eu apenas caminho, comento o que vejo e incentivo as pessoas a tentar”. “Eu apenas caminho, comento o que vejoe incentivo as pessoas a tentar”. Hmm, parece familiar. O Chairman da Toyota, Fujio Cho, diz que os líderes devem fazer três coisas: “Ir ver, perguntar por quê e demonstrar respeito.” Sim, Jim faz várias caminhadas, como ele aqui descreve. Com isso, ele nos oferece observações sobre fenômenos que simplesmente não enxergamos ou não conseguimos enxergar. Ele tem uma habilidade notável de elaborar questões de novas maneiras, perguntando por que as coisas estão como estão, fazendo com que pensemos como nunca pensamos antes. Saul Bellow chamou esse tipo de observação de “percepção extrema”. Etnógrafos a ensinam como uma ferramenta profissional. Praticantes lean a entendem como uma competência central. Mas simplesmente enxergar — e comunicar — as práticas lean é apenas uma das maneiras que Jim utiliza para inspirar os outros. Jim encoraja no sentido real do termo: coragem para tentar coisas novas. Ou tentar coisas antigas de formas diferentes. Desconheço uma personificação mais forte de demonstração de respeito que oferecer aos outros a coragem para tentar. Sem o encorajamento de Jim, eu certamente não estaria aqui no Lean Enterprise Institute. Eu provavelmente não teria tido coragem de deixar a Toyota muitos anos atrás para descobrir novas maneiras de explorar muitas coisas que aprendi ou as quais fui exposto na Toyota. Mas sou apenas um dos incontáveis indivíduos que Jim inspirou nas últimas duas décadas. E com essa coleção de 10 anos de observações de caminhadas pelo gemba, esteja preparado para ser inspirado mais uma vez. John Shook Chairman e CEO Lean Enterprise Institute Cambridge, MA, EUA Fevereiro, 2011 PREFÁCIO DA EDIÇÃO BRASILEIRA Em 2002, quando dirigia a área técnica industrial de uma grande multinacional, tive a experiência muito privilegiada de realizar minha primeira caminhada pelo gemba. Digo privilegiada, pois muitos praticantes da filosofia lean não têm a oportunidade de percorrer as áreas fabris sob suas responsabilidades acompanhados por James Womack, José Roberto Ferro, John Shook e Daniel Jones. Já no início de nossas atividades lean na planta, havia caminhado pelo gemba acompanhado do Professor Ferro, e posso dizer que, num primeiro momento, não considerei uma experiência muito agradável. Ao ouvir seus comentários durante a caminhada e também um resumo de suas impressões ao final, fui tomado por uma sequência de sentimentos: no início, ofensa (“Como ele pode falar isto de minha fábrica?”), após algum tempo, reflexão (“Vou pensar melhor sobre esses comentários!”) e, por fim, decepção comigo mesmo (“Como não enxerguei tanto desperdício antes?!”). Esta caminhada inicial me preparou para o que estava por vir, com visitantes tão experientes ao mesmo tempo. Infelizmente, não preparou meu chefe, nem o chefe de meu parceiro de direção do site industrial que eu era responsável. De forma muito assertiva e direta, como deve ser a postura de um praticante do lean, problemas foram expostos, desperdícios e mais desperdícios foram mostrados, justificativas não foram permitidas e aquela pergunta ficou no ar: Por que não enxergamos os problemas e não tratamos de eliminá-los? Apesar do clima péssimo, dois dias depois, percebemos que esta vista nos proporcionou o apoio explícito de nossos chefes para as primeiras experiências com o lean em nossa organização. Jim, como é chamado dentro da comunidade lean, relata, neste livro, suas experiências, percepções, diálogos, mas principalmente as dificuldades dos gestores de conduzirem os processos de transformação lean em suas organizações. Foram mais de 30 anos de caminhadas ao longo dos mais diversos fluxos de valor, as quais são, aqui, descritas, sempre referenciadas aos conceitos fundamentais do lean. Este livro serve também como um manual de perguntas que devem sempre ser feitas ao se caminhar por um fluxo de valor, além de ressaltar a importância do inconformismo com os problemas e desperdícios observados. A experiência de Jim em fazer a pergunta certa na hora certa leva sempre seus interlocutores a uma reflexão. Na sequência dos capítulos, podemos entender que a construção sólida de um processo de mudança cultural nas organizações (a jornada lean é essencialmente isto) depende de quatro colunas de sustentação: • A clara definição do propósito do seu negócio. Se não está claro, redefina antes de mudar. Saber aonde queremos chegar e o que os nossos clientes esperam de nós guiarão nossos passos. • O entendimento de como seu processo flui. Dê estabilidade a ele antes de mudar. • O respeito às pessoas. Não julgue seu pessoal, julgue primeiro o seu processo. Se ele for ruim, as pessoas não poderão dar o melhor de si. • O pensamento dos gestores responsáveis pelo processo de transformação. São fazendeiros que regam suas plantações (colaboradores) para que cresçam e floresçam sadias, ou são heróis que não se preocupam com o desenvolvimento de seus colaboradores? Somente com esta base sólida, inicie a transformação lean! Este livro deve ser entendido como uma longa caminhada, repleta de exemplos e experiências das boas práticas para aqueles que querem implantar o lean como sistema de gestão. Caminhe com os olhos de quem quer enxergar, e não com os olhos de alguém que quer apenas ver. Bom proveito! Cid Fontana Lopez Gerente de Projetos Lean Institute Brasil São Paulo, SP, Brasil Agosto, 2011 CONTEÚDO INTRODUÇÃO PROPÓSITO Propósito, Processo, Pessoas Consumo Lean Redefina o Propósito antes de Reestruturar PROCESSO Caminhando pelo Fluxo de Valor da Empresa A Criando Estabilidade Básica O Poder de um Processo Preciso Gestão Lean de Informações A Maravilha do Sistema Puxado Nivelado PESSOAS Pessoas Ruins ou Processos Ruins? Fazendo de Todos um Todo Menos Heróis, Mais Fazendeiros O Problema com o Trabalho Criativo e a Gestão Criativa Respeito às Pessoas GESTÃO Das Ferramentas Lean à Gestão Lean O que Aprendi sobre Planejamento e Execução São Necessários 2 (ou mais) para um A3 O Problema da Sustentabilidade De Funcionários Conduzindo Programas a Gerentes de Linha Resolvendo Problemas A Mente do Gerente Lean Homicídio como Exemplo? O Trabalho da Gestão Gestão Moderna vs. Gestão Lean TRANSFORMAÇÃO À Procura de um Sensei A Sequência ‘Certa’ para Implementar o Lean Substituindo Dinheiro pela Gestão do Fluxo de Valor Temos Pensado (Lean) Duelo de Sensei e a Necessidade de um Sistema Operacional Padrão Mura, Muri, Muda? Kaizen ou Retrabalho? A Pior Forma de Muda A Constância de Propósito Tornando-se Vertical em um Mundo Horizontal DIFUSÃO Lean Além da Fábrica Gerenciar o Contrato ou Melhorar o Fluxo de Valor? Pensando do Início ao Fim O Elo Perdido Lean em Viagens Aéreas Criando Lean na Saúde A Virada Encantado por um Greenfield A GRANDE RECESSÃO A Bolha do Megamura Uma Onda tão Grande que Tomba Todos os Barcos MAL-ENTENDIDOS Desconstruindo a Torre de Babel Como o Lean se Compara ao Seis Sigma, BPR, TOC, TPM Etc. Just-in-Time, Just-in-Case e Just-Plain-Wrong 237 Mudar suas Operações para China? Faça alguns Cálculos Lean Antes Produto Interno Bruto vs. Desperdício Interno Bruto Adicionando Custos ou Criando Valor? Criando Valor ou Transferindo Riqueza? DESVENTURAS O Valor dos Erros Necessário mas Insuficiente A GRANDE CORRIDA Um Conto de Dois Sistemas de Negócio O Caminho Lean a Seguir na Ford Por que a Toyota Venceu e Como Ela Pode Perder O Fim de uma Era UMA HISTÓRIA QUE NÃO É BOBAGEM Uma Caminhada Lean pela História Belo Carro, Longa Jornada Respeite a Ciência, Particularmente em uma Crise O Fim do Início Hansei Otimista: Reflexões sobre uma Década de Caminhadas pelo Gemba CAMINHADAS PELO GEMBA GEMBA WALKS INTRODUÇÃO Gemba. Que palavra maravilhosa.O lugar — qualquer um em qualquer organização — onde os seres humanos criam valor. Mas como entendemos o gemba? E, mais importante, como fazemos dele um lugar melhor — onde poderemos criar mais valor com menos desperdício, variações e sobrecargas (também conhecido, respectivamente, como muda, mura e muri)? Estive pensando sobre essas questões por muitos anos e aprendi há muito tempo que o primeiro passo é caminhar pelo gemba para entender a condição atual. Na Comunidade Lean, dizemos “Vá ver, pergunte por quê, demonstre respeito”. Eu sempre soube disso intuitivamente, mesmo antes de eu ter um método padrão e mesmo quando eu trabalhava no mundo universitário, onde era natural aprender por meio da coleta de dados à distância e da avaliação desses dados em uma sala através das lentes da teoria. Agora, trabalho de uma maneira oposta, verificando a realidade no gemba e usando isso para criar hipóteses de testes sobre como as coisas podem funcionar melhor. Aprendi, há muito tempo, que o modo mais produtivo de caminhar é seguir uma única família de produtos, um projeto de produto ou um processo voltado para o cliente do começo ao fim. Enquanto eu faço isso, olho para cada etapa sob a ótica do cliente e sob a perspectiva daqueles que estão realmente criando valor; pergunto como conseguir mais com menos. Nos últimos 30 anos, tentei caminhar o máximo possível no maior número de “fluxos de valor” que pude. Por volta de 10 anos atrás, com as consequências do 11 de Setembro, senti que os membros da Comunidade Lean deveriam ter mais contato e, então, comecei a escrever e dividir meus pensamentos e observações sobre essas caminhadas. Eles adotaram a forma de minhas eletters mensais que foram enviadas para mais de 150.000 leitores ao redor do mundo nos últimos anos. Às vezes, elas eram baseadas em apenas uma caminhada, mas geralmente são insights aprofundados de muitas. Ao entregar o bastão da liderança do LEI a John Shook em 2010, minha intenção era juntar as descobertas dessas caminhadas pelo gemba. Organizei essas eletters pelos temas mais importantes e agora as apresento à Comunidade Lean em um único volume. Lendo meus artigos, encontrei um tópico crítico — a gestão lean — sobre o qual não escrevi tudo que gostaria. Então, eu compus dois novos artigos, O Trabalho da Gestão e Gestão Moderna vs. Gestão Lean, e os posicionei ao final da seção Gestão. Vi-me, também, refletindo sobre onde tem estado o movimento lean e no que preciso focar em minhas futuras caminhadas. Meus pensamentos são apresentados em um ensaio final inédito, intitulado Hansei Otimista. Tenho tentado tratar minhas eletters como artefatos históricos, produzidos em um tempo específico e apoiados por uma visita a um certo lugar. Por isso, tenho resistido à tentação — sentida por todo autor — de melhorá-las. Entretanto, retirei alguns materiais que não são mais relevantes e corrigi alguns erros ou fatos. Mais importante, descobri, lendo as eletters, que, em certos pontos, eu não havia sido tão claro como pensava e como deveria ter sido ao explicar minhas ideias. Hoje, após uma reflexão e um pouco de kaizen — os passos C e A no processo de melhoria PDCA do Dr. Deming — espero ser. Dito isso, é importante alertá-los que essas eletters nunca foram escritas seguindo um grande plano. Elas foram guiadas por problemas que eu escutava da Comunidade Lean em um dado momento ou pelo que eu encontrava no gemba, muitas vezes acidentalmente enquanto buscava outra coisa. Por isso, há repetições de temas. E algumas questões importantes — notavelmente o trabalho padronizado e a contabilidade lean — não receberam tanta atenção. Além disso, as eletters não são apresentadas na sequência cronológica de sua composição. Eu as agrupei por categorias que criei após ler a coleção completa. Embora eu pense que essa organização seja mais útil para o leitor, muitas eletters — inclusive a primeira Propósito, Processo, Pessoas — poderiam ser facilmente realocadas em outras categorias, porque elas se remetem a mais de um tópico. Para lidar com essa dificuldade, apresentamos aos leitores com questões específicas em mente um índice de temas, tópicos, termos, indivíduos e organizações abordadas nas eletters ao final deste livro. Acredito que essas eletters — às quais me referirei neste livro por artigos para denotar sua modesta modificação das originais — resistem ao tempo. Mas a maioria precisa ser contextualizada: por que este tópico neste momento para remeter a esta questão? Qual a conexão deste artigo com os outros? Elaborei um contexto com comentários antes ou depois de cada artigo. Nessas breves passagens, refleti sobre o porquê de um dado tópico ser importante ou proporcionar percepções adicionais que adquiri após minhas caminhadas e após meus artigos originais. Um livro que relata as caminhadas pelo gemba não poderia jamais ser escrito sem um gemba para caminhar. Sem qualquer um dos meus, exceto o LEI, tive que pedir ajuda a muitos membros da Comunidade Lean. E vocês foram invariantemente úteis em conceder-me o que era conhecido — antigamente quando estávamos no Ensino Médio — como “passe livre”, uma permissão para andar livremente por sua organização e fazer perguntas embaraçosas com frequência. Serei sempre grato pela ajuda que recebi de muitos e espero ter sido fiel a minha promessa de não revelar nada que seja indelicado sobre quaisquer tentativas suas que são identificadas pelo nome em meus artigos. (Claro, encontrei muitas coisas para criticar anonimamente e muitas mais para comentar em particular durante ou após minhas visitas, espero um final feliz). Nunca poderia ter tido visitas tão produtivas sem outras pessoas para caminhar comigo, pessoalmente ou em um diálogo intelectual. O principal dentre estes é Dan Jones, meu coautor frequente, às vezes ‘cocaminhador’ e constante ‘copensador’ sobre todas as coisas lean por mais de 30 anos. Muitas de minhas caminhadas e artigos delas resultantes abordaram um certo tópico, tomaram uma forma específica ou me levaram a uma certa conclusão após uma reflexão lean feita com Dan. E algumas resumem nosso trabalho em conjunto nos livros que escrevemos. Eu realmente fui abençoado em ter esse amigo por mais da metade de minha caminhada pela vida. Tive sorte novamente há quase 20 anos quando conheci John Shook. Eu não teria feito muitas caminhadas sem o estímulo de John, talvez não tivesse feito a minha mais memorável caminhada pela vazia fábrica do Modelo T da Ford em Highland Park, Michigan (veja a última capa). E, em muitas outras caminhadas, eu não teria notado o ponto mais importante sem a orientação do sensei John. Além do mais, muitos dos artigos contêm essencialmente a contribuição de John na promoção do mapeamento do fluxo de valor e do pensamento A3. Ainda caminhamos juntos a medida que John assume a liderança do LEI e eu me junto a Dan no papel de senior advisor. Acredito que ainda faremos nossas caminhadas pelo gemba por muitos anos. Finalmente, qualquer pessoa que me conhece sabe que eu precisei de muita ajuda simplesmente para encontrar o ponto inicial de minhas caminhadas. Por muitos anos, a equipe do LEI tem se empenhado diariamente para me manter na direção certa. Agradeço a todos, mas sou especialmente grato a: Helen Zak e Rachel Regan me ajudaram a escolher qual gemba visitar, principalmente quando muitos membros da Comunidade Lean sugeriam seus gemba e meu tempo era limitado. Elas também leram e organizaram, para minha análise, os muitos comentários que recebia. Jean Kruli descobriu como chegar lá, comprou minhas passagens aéreas, encontrou hotéis e me deu orientações gerais. Ela também foi meu refúgio quando as coisas se desviavam do caminho certo, e isso acontecia com frequência. (Viagem aérea não é um processo robusto). Jon Carpenter calculou os custos e, delicadamente,absteve-se de perguntar (embora fosse seu direito como CFO do LEI) se os benefícios foram sempre maiores do que meus custos. Tom Ehrenfeld editou minhas eletters mensais por quase 10 anos que venho escrevendo e me deu um apoio inestimável para criar este livro. É difícil aguentar um editor que constantemente diz que você pode fazer melhor, mas tentei acatar os conselhos de Tom sorrindo, pensando nos benefícios que traria a meus leitores. Chet Marchwinski, como diretor de comunicações do LEI, e Josh Rapoza, diretor de operações web do LEI, prepararam as eletters para envio e tentaram captar quaisquer erros. George Taninecz, como gerente de projetos, orientou este livro do começo ao fim com uma programação que olhava com firmeza para mim, enquanto eu pensava em outras coisas mais fáceis a se fazer. Thomas Skehan, como a praticamente todas as publicações do LEI, deu a este volume seu olhar e sentimento. A alta qualidade visual e tangível de nossas publicações nestes 13 anos de organização deve-se totalmente a Thomas e nada a mim. Jane Bulnes-Fowles teve o papel final e decisivo no LEI de coordenar efetivamente e eficientemente o planejamento da produção, distribuição e lançamento do livro. Espero que você aproveite estes artigos. Eles têm sido uma alegria real para mim, porque as caminhadas nas quais eles são baseadas foram meus meios primários de aprendizado. Espero que você tenha ou desenvolva um método similar que proporcione uma satisfação e uma percepção similar. E espero que, enquanto você tiver interesse em criar valor, continue indo ao gemba, em caminhadas periódicas, pergunte o porquê e demonstre respeito. Continuarei minhas caminhadas, agora como senior advisor do LEI, então, espero vê-lo em breve! Jim Womack Senior Advisor Lean Enterprise Institute Cambridge, MA, EUA Fevereiro, 2011 PROPÓSITO Meu propósito em uma caminhada é simples: enxergar e entender quanto de valor pode ser criado a mais com menos desperdício. Mas qual o propósito do fluxo de valor pelo qual eu caminho? Isto é, qual valor deveria ser proporcionado para seus clientes? Essa é uma questão essencial para o pensador lean, pois aprofundar-se em “arrumar” um processo (um fluxo de valor) para que ele forneça o “valor” errado só pode ser um exercício de frustração. Contudo, acredito que muitos praticantes lean parecem estar atentos a esta questão. Os três artigos desta seção são distintos dos demais, porque neles eu tento resolver a questão do propósito do fluxo de valor antes de dar o primeiro passo da caminhada. Na verdade, nestes artigos eu nunca coloquei meus sapatos de caminhadas. Em vez disso, tentei explicar por que os pensadores lean devem começar com um claro entendimento do propósito — o valor que precisa ser criado — antes que eles possam proveitosamente fazer uma caminhada. Estando o propósito entendido, torna-se fácil prosseguir com as questões mais familiares de como criar o melhor processo para se alcançar este propósito e como engajar as pessoas de forma criativa na implementação, na operação e na melhoria deste processo. Mas o propósito vem antes e isso faz desta seção o lugar certo para se começar este compêndio. Propósito, Processo, Pessoas Frequentemente, tenho ouvido vários membros da Comunidade Lean querendo saber como avaliar os esforços lean em suas empresas. “Como sabemos o quão lean estamos?” “Qual parâmetro devemos usar para medir nosso progresso?” “Somos ‘classe mundial’ em termos lean?” (Não importa o que ‘classe mundial’ quer dizer!). Já que tenho recebido ligações desse tipo há anos, e parece que vou continuar recebendo, deixe-me compartilhar minha resposta. Sempre começo perguntando o propósito do cliente: o que seus clientes querem que hoje você não pode fornecer? Preços mais baixos, o que é impossível já que seus custos são altos? Qualidade melhor? Respostas mais rápidas aos pedidos? Suporte melhor após a entrega do produto? Projeto dos produtos mais robusto e flexível? Ou, talvez, uma definição nova de valor para resolver melhor os problemas de suas vidas? E quanto ao propósito da organização? Acredito que, no mínimo, é sobreviver. Então, do que sua organização precisa para sobreviver e ainda prosperar? Margens mais altas? A habilidade de explorar rapidamente novas oportunidades para crescer? Uma maneira nova de resolver verdadeiramente os problemas do consumidor e expandir para novos mercados? O propósito tem sempre dois aspectos: o que você precisa melhorar para satisfazer seus clientes e o que precisa fazer melhor para sobreviver e prosperar como empresa. Felizmente, resolvendo o problema anterior, geralmente resolve-se o próximo, mas, quando começar, você deve saber qual é a lacuna entre o desejo do seu cliente e o que você pode oferecer a ele. Por exemplo, há alguns anos, quando visitei a operação de elaboração da apólice de seguro de vida da Jefferson Pilot, os gerentes me diziam de imediato o propósito de seus negócios. O intuito era reduzir o tempo necessário para elaborar a apólice de 30 dias para um dia. Isso beneficiou tanto os segurados quanto os vendedores de apólice; estes que só recebiam sua comissão quando a apólice fosse entregue ao cliente. Mas do ponto de vista da empresa, serviços superiores faziam com que agentes independentes selecionassem a Jefferson Pilot como o seguro preferido a se vender, e isso permitiria a JP um rápido crescimento nas vendas sem redução de preços em um mercado outrora estagnado. Eu ainda fico espantado, pois parece existir pequena ou nenhuma conexão entre os projetos lean atuais e qualquer propósito do negócio claramente identificado. A redução de set-up tem sido buscada, pois é uma coisa lean correta a se fazer. Sistemas puxados estão sendo implementados, porque empurrar é ruim e puxar é bom. Vinte e quatro eventos de kaizen serão realizados neste trimestre, 50% a mais que no anterior, criando uma verdadeira “meta de expansão”. Entretanto, os clientes não estão mais felizes e as empresas não estão melhor financeiramente. Portanto, inicie com a necessidade do negócio, definida tanto para seu cliente como para sua empresa, e pergunte sobre a distância entre onde você está e onde você precisa estar. Os clientes, obviamente, só se importam com o produto específico deles, não com a média de todos os seus produtos. Por isso, é importante fazer essa análise por famílias de produtos para produtos específicos, resumindo as lacunas das necessidades do negócio às quais seus esforços lean devem ser direcionados. Com o propósito do negócio definido, é hora de avaliar o processo, fornecendo o valor que o cliente está procurando. Um “processo”, com o significado que uso esse termo, é simplesmente um fluxo de valor — todas as ações requeridas do começo ao fim, respondendo ao cliente, mais a informação, controlando essas ações. Lembre-se de que todo o valor é o resultado final de algum processo e que os processos podem somente produzir o que estão projetados para produzir — nunca alguma coisa melhor e geralmente algo pior. Os mapas do fluxo de valor do estado atual são as ferramentas mais úteis para avaliar o estado de qualquer processo. Eles devem mostrar todos os passos do processo; questionar se cada etapa é válida, capaz, disponível, adequada e flexível; e mostrar se o fluxo de valor segue de uma etapa para a outra puxado pelo cliente, após o nivelamento apropriado da demanda. Mas, por favor, note que o mapa deve ser interpretado conforme o propósito do negócio. Não é toda etapa que pode ser eliminada ou corrigida imediatamente, além disso muitas etapas podem ser adequadas para as condições atuais, mesmo não estando totalmente lean. Então, trabalhe nas etapas e nas questões que são relevantes para o cliente e para o sucesso do seu negócio. Sei, por experiência própria, como é fácil confundire perseguir o que pode ser chamado de voz do profissional lean em vez do propósito do negócio. Anos atrás, quando estava envolvido em uma pequena empresa de bicicletas (veja O Valor dos Erros, p. 261), soldávamos e montávamos oito bicicletas por dia, entregues uma vez por dia e pedíamos novas peças uma vez por dia. (Isso foi um avanço revolucionário comparado ao estado anterior da empresa). Mas eu estava determinado a ser perfeitamente lean. Sugeri que montássemos as bicicletas na sequência em que os pedidos eram recebidos, frequentemente trocando de um modelo para o outro na sequência ABABCBAB. Isso foi profundamente satisfatório. Mas só fazíamos entregas e pedidos uma vez por dia! A sequência AAABBBBC atenderia nossos clientes e nossos fornecedores igualmente bem e nos pouparia de cinco trocas diárias, exigindo esforço humano do qual precisávamos para outros propósitos. Tive uma experiência semelhante quando visitei uma empresa em que o tempo de set-up de uma máquina enorme foi reduzido de oito horas para cinco minutos. Um grande kaizen foi desenhado no mapa do estado atual próximo a esta etapa com tempo alto de set-up. Uma dramática redução pareceu ser uma meta valiosa para a equipe de melhorias. Entretanto, quando fiz algumas perguntas, descobrimos que a máquina trabalhava com um única peça e nunca trabalharia com mais de uma! A redução de set-up nesta máquina — para reduzir os tempos de troca das peças — era completamente irrelevante para o propósito do negócio, não importando quão “lean” significavam os cinco minutos de set-up na teoria. A equipe lean justificou o curso de suas ações apontando quão desafiador tecnicamente foi a redução do set-up e quanto cada um aprendeu para aplicação em projetos futuros. Mas isso era exatamente o que eu havia pensado na fábrica de bicicletas, onde cada centavo ajudava a apoiar as necessidades atuais do negócio. Agora sou mais experiente e sábio. Processos brilhantes localizados no propósito organizacional não acontecem por acaso. Eles são criados por equipes lideradas por um responsável. E são operados continuamente por equipes maiores, nas quais todos estão próximos ao processo e são liderados pelos gerentes do fluxo de valor. Então, a próxima pergunta a se fazer é sobre as pessoas: todo processo importante em sua empresa tem um responsável para avaliar continuamente aquele fluxo de valor de acordo com o propósito do negócio? Todos os que têm contato com o fluxo de valor estão ativamente comprometidos em operá-lo corretamente e a continuamente melhorá-lo a fim de adequá-lo aos propósitos do negócio? A minha fórmula para avaliar seus esforços lean é, portanto, muito simples: examine o propósito, depois o processo e, então, as pessoas. Note que isso é completamente diferente dos indicadores que os membros da Comunidade Lean frequentemente buscam: quantos kaizen foram feitos? Quanto o lead time foi reduzido? Quanto do estoque foi eliminado? E como tudo isso se compara com os concorrentes ou, até mesmo, com um padrão absoluto? Um bom desempenho em qualquer um desses indicadores “lean” pode ser um objetivo importante, mas torná-los indicadores “lean” abstratos sem levar em conta o propósito do negócio é um grande erro. Na melhor das hipóteses, elas são medidas funcionais para a função de implementação lean. O que se faz realmente necessário são indicadores do negócio para cada fluxo de valor. Esses indicadores devem ser desenvolvidos e amplamente compartilhados por um gerente responsável pelo fluxo de valor e devem ser entendidos e apoiados por toda a equipe do fluxo de valor. 12 de junho de 2006 Há um tempo, entendi que uma grande fraqueza do movimento lean era considerar que valor para o cliente é algo determinado, perguntando como podemos prover mais valor, a um custo menor, com mais qualidade e respostas mais rápidas para várias demandas. Enquanto fluir, tudo bem. Mas e se o cliente quiser algo extremamente diferente do que nossa organização está oferecendo? Por exemplo, suponha que sua empresa fabrique carros e você propõe aplicar os métodos lean para gerar menores custos e menos defeitos, entregando exatamente as opções que os clientes desejam com um lead time curto. Mas, e se os clientes realmente quiserem resolver seu problema de mobilidade ao trabalhar com os fornecedores que colocam o veículo certo (com as opções certas, a preços atrativos e sem defeitos) na garagem, ao mesmo tempo em que cuidam da manutenção, reparo, inspeção, segurança, finanças, reciclagem e novos veículos, se necessário? Esses clientes não querem um carro em si. Pelo contrário, o carro é parte do meio para um fim complexo. Esse é um propósito do cliente muito diferente, que pode resultar em clientes mais felizes se for criativamente dirigido a uma organização mais bem-sucedida em crescimento. Mas entender e então prover precisamente o que os clientes realmente desejam exige uma declaração diferente do propósito do fornecedor, se ele realmente quiser alcançar esse desejo. E isso geralmente requer colaboração com muitas organizações que atualmente não se interagem entre si. Após anos de reflexão sobre essa questão, fui trabalhar com meu coautor de anos Dan Jones, para repensar valores e propósitos. O artigo a seguir, baseado em nosso livro Soluções Enxutas, é um resumo desse processo diferente de pensamento.1 Consumo Lean Enxergo todas as empresas criadoras de valor como uma coleção de processos primários (envolvendo vários passos que devem ser dados apropriadamente na sequência e no tempo certo): um processo de desenvolvimento de produtos e processos, desde o conceito indicando a necessidade do cliente até um fluxo de valor acabado/equipado/estabelecido. Um processo de atendimento, desde o pedido, passando pela produção até a entrega. Um processo de suporte ao cliente, de vendas e entregas ao longo da vida útil do produto. A isso devem ser adicionados inúmeros processos suporte para tornar os processos primários possíveis: um processo de gestão do fornecedor para obter partes necessárias. Um processo de recursos humanos para contratar as pessoas certas, com habilidades certas, no lugar e no tempo certos para operarem os processos primários. Um processo de melhoria para tornar os processos primários e os processos suporte constantemente melhores. E assim por diante. De fato, tudo que fazemos em nosso trabalho deveria ser criar valor em algum processo. Senão, por que estamos fazendo isso? Muita energia mental na Comunidade Lean é consumida para pensar em formas de eliminar etapas do processo que não criam valor. Isso é ótimo, mas ainda não é a história toda. Por anos, Dan Jones e eu temos registrado cuidadosamente nossas experiências como consumidores. Sabemos, intuitivamente, que o consumo também é um processo desempenhado pelo cliente para resolver os problemas da vida. Por exemplo, a maioria de nós tem um problema pessoal com computador que podemos resolver buscando um computador pessoal, comprando, instalando, integrando a outros equipamentos eletrônicos e softwares, fazendo sua manutenção, reparando, atualizando e, depois, reciclando. Essa é outra forma de descrever um processo de consumo com sete grandes etapas: procurar, obter, instalar, integrar, manter, reparar, reciclar. E cada grande etapa consiste em muitas pequenas etapas. O problema é que o processo de consumo típico não funciona muito bem. Geralmente, não conseguimos encontrar o que procuramos, quando procuramos, onde procuramos. E o processo de instalação, integração, manutenção, reparo e reciclagem é normalmente frustrante e consumidor de tempo quando lidamos com estranhos que parecem não ter o mínimo de interesse em nossas dificuldades. A causa raiz é que o processo de provisão criado por fornecedores não combina com o nosso processo de consumo. E issocria grandes oportunidades para os pensadores lean em qualquer empresa. Para ajudar, Dan e eu propusemos alguns princípios básicos para o consumo lean que toda organização fornecedora de serviços ou bens de consumo deveria considerar: • Resolva o problema do cliente por completo, assegurando que tudo funcione logo da primeira vez. Nenhum cliente deseja ligar para um disque-ajuda, então transforme esses canais em kaizen para identificar e eliminar a causa raiz da ligação do cliente. • Não perca o tempo do cliente. Por exemplo, evite a necessidade de filas de qualquer espécie. Você descobrirá que as filas sempre desperdiçam o tempo do cliente e o dinheiro do fornecedor. • Forneça exatamente o que o cliente deseja. A falta de estoque de produtos certos e o excesso de estoque de produtos errados é muito comum em quase todos os aspectos do negócio. Essa frustração dos clientes podem ser quase que completamente evitada com os sistemas de reabastecimento lean, utilizando princípios puxados. • Forneça valor onde o cliente desejar. A maioria dos fornecedores deseja que o cliente venha até eles. Por exemplo, o melhor preço é geralmente do estilo Walmart, que exige que os clientes viajem quilômetros para ter acesso a ele. No entanto, a maioria dos clientes quer exatamente o contrário, mercadorias a preços atraentes convenientemente disponíveis mais próximas. A aplicação dos princípios lean pode prover mais valor quando se quer um custo menor. • Forneça valor quando o cliente deseja. A maioria das vendas atuais e sistemas de produção incentivam os clientes a fazerem os pedidos em cima da hora. Isso torna os níveis de carga dos sistemas de produção impossíveis. Porém, a maioria de nós realmente planejamos com antecedência, principalmente para itens caros, tais como computadores, carros e produtos da linha branca. Alguns princípios lean básicos podem transformar estranhos em parceiros que planejam antes com seus fornecedores, reduzindo drasticamente os custos para os clientes e fornecedores. • Reduza o número de problemas dos clientes. A maioria de nós gostaria de lidar apenas com alguns fornecedores para resolver nossos grandes problemas — informática e comunicação, mobilidade, saúde, gestão financeira, habitação, logística pessoal (mais conhecido como shopping). No entanto, temos andado em direção oposta na indústria. Empresas que seguem os princípios lean estão pedindo a um número menor de fornecedores para resolverem problemas muito maiores, assim como os clientes estão pedindo a mais estranhos que resolvam problemas pequenos de uma só vez, perdendo tempo e criando frustração. Os princípios lean mostram uma forma de se fazer muito melhor. Dan e eu percebemos que o próprio termo “consumo lean” parece estranho. Mas esperamos que você tenha isso em mente. Nós acreditamos que o consumo lean combinado com a provisão lean é o próximo grande salto para a Comunidade Lean. 7 de março de 2005 Leituras e áudio adicionais: James P. Womack e Daniel T. Jones, Consumo Lean. Harvard Business Review, março de 2005. James P. Womack e Daniel T. Jones, Soluções Enxutas. São Paulo: Editora Campus, 2006. Disponível em livro e áudio. (Áudio apenas em inglês). Considerei a questão do propósito organizacional particularmente importante na recente crise econômica, ainda que raramente esse tópico foi discutido na mídia. Neste último artigo desta seção, proponho algumas reflexões sobre “a redefinição de propósito” das organizações antes de se engajar em reestruturações ou melhorias de processo, tomando como exemplo a General Motors e a Toyota. Redefina o Propósito antes de Reestruturar Uma das minhas perguntas favoritas ao me reunir com líderes seniores de empresas é: “Qual é o propósito da sua organização?” A resposta típica e imediata é: “Ganhar dinheiro e crescer”. “Mas”, respondo, “essa resposta não tem nada a ver com os seus clientes, que fornecem o dinheiro de que sua organização precisa para lucrar e crescer”. Então, repito minha pergunta, mas de forma detalhada: “O que a sua organização faz para solucionar os problemas dos clientes melhor que os concorrentes, de forma que os clientes novos e antigos paguem um bom dinheiro pelos seus serviços e produtos e comprem mais ao longo do tempo?” Nos últimos anos, uma alternativa moderna para “ganhar dinheiro e aumentar as vendas” era focar o propósito organizacional no aumento contínuo de valor para o acionista. Mas agora o rei do valor para o acionista, Jack Welch, Presidente aposentado do Conselho da General Electric, reconheceu — ainda bem — que isso é um resultado, não uma estratégia para atingir esse resultado.2 Agora que os investidores e clientes estão em greve durante a grande crise financeira, todo o mundo gerencial está sendo forçado a repensar o propósito sob o ponto de vista do cliente. É particularmente doloroso assistir a confusão sobre o propósito no colapso da General Motors, porque essa empresa foi tão brilhante por tanto tempo em definir claramente seu propósito. Em 9 de junho de 1921, o grande líder da GM, Alfred Sloan, elaborou um memorando simples sobre o tópico “Política de Produtos” que definiu o propósito da General Motors para as próximas gerações. Sloan declarou que a GM iria fornecer uma linha de produtos cuidadosamente customizada para “cada bolso e propósito”, de Chevrolets usados na extremidade inferior do mercado (com financiamento das concessionárias para veículos oferecidos em troca) a um Cadillac “totalmente equipado” na extremidade superior. Esse simples memorando racionalizava a caótica linha de produtos da GM, de tal forma que não haveria sobreposição dos seus veículos no mercado. Em vez disso, cada um deles teria uma posição claramente definida em uma hierarquia de status e seria sempre mais refinado, um pouco mais “elegante” com um preço maior que os produtos dos concorrentes em cada segmento de mercado. Esse memorando sobre a política de mercado foi muito mais do que a familiar segmentação de mercado e proposta de valor para cada segmento. Sloan fez algo muito mais importante ao redefinir o propósito central da GM, como criar um elevador de aspirações para cada cliente ao longo do ciclo de vida. Isso do Chevrolet usado, como sua primeira compra, ao Cadillac sofisticado, como a sua última (muitas vezes acabando como um carro fúnebre — Cadillac — no seu trajeto para o cemitério!). E isso funcionou brilhantemente. A General Motors provavelmente nunca foi tão eficiente na produção quanto a Ford e raramente foi um líder tecnológico. Mas fornecia uma sequência de produtos clara na jornada de vida do cliente. Os clientes abraçaram esse propósito e abriram suas carteiras para pagar preços maiores por produtos mais refinados em cada segmento de mercado. Poucos anos após o memorando de Sloan, a GM se tornou a maior e mais bem-sucedida corporação na história do mundo. Mais adiante, é triste observar a tentativa da GM para lidar com a crise. Com exceção do híbrido Volt (uma tecnologia não comprovada para um mercado não testado a ser produzido em um volume minúsculo nos primeiros anos), o plano é totalmente sobre “reestruturação” e redução. Ou seja, sobre algo que a General Motors não é. Ela não é uma marca Saab ou Hummer ou Saturn [ou Pontiac]. Ela não tem uma rede de concessionárias tão grande. Ela não é uma fabricante com uma presença norte-americana significativa fora de Michigan e Ohio. Etc. O instinto natural dos gerentes seniores em qualquer crise é reestruturar e promover a redução de tamanho. Mas a questão é sempre: “Reestruturar e reduzir para quê?” Nenhum cliente se importa com a estrutura de uma empresa. Nem com a redução de tamanho. Os clientes só se importam com uma empresa que resolva seus problemas ao longo de sua vida. Portanto, aqui vai o meu conselhopara os novos líderes da GM: Antes de você reestruturar, redefina o propósito da GM. Atualmente ninguém sabe. Faça isso em um memorando simples. De fato, faça isso em uma única página no formato A3. Sloan precisou de poucas páginas em 1921, portanto, pratique a melhoria contínua para chegar a uma! E lembre-se de que nenhuma reestruturação sem um propósito claro e convincente irá salvar esse gigante ferido (ou qualquer outra empresa em declínio). Para finalizar, parece haver uma confusão sobre o propósito da Toyota também. Até meados da década de 1990, o propósito claro da Toyota era ser a melhor organização do mundo no fornecimento de produtos de “valor” refinados e duráveis em todos os segmentos de mercado. Isso significava poucos defeitos e durabilidade superior no uso prolongado. A premissa era que o crescimento viria naturalmente, e ele veio. Mas, então, o propósito parece ter mudado para se tornar a maior empresa automobilística o mais rapidamente possível, agregando capacidade em todas as partes, um propósito com o qual nenhum cliente se importa. Ao mesmo tempo, os concorrentes, liderados pela Hyundai, preencheram a lacuna no propósito original da Toyota e todos estão fazendo híbridos no qual a Toyota inicialmente tomou a dianteira. Um A3 para a redefinição do propósito da Toyota é certamente de que o novo presidente, Akio Toyoda, também precisa. 9 de abril de 2009 1. James P. Womack e Daniel T. Jones, Soluções Enxutas. São Paulo: Editora Campus, 2006. 2. Francesco Guerrera, Welch Denounces Corporate Obsessions. Financial Times, 13 de março de 2009. PROCESSO Se gemba é uma palavra maravilhosa, processo é seu complemento igualmente maravilhoso. Por processo, eu entendo todos os passos, em sua maioria ações humanas, exigidas para colocar uma dada quantidade de valor nas mãos do cliente. Aprender a enxergar um processo requer um esforço considerável, particularmente quando um processo que cria um tipo de valor (seja um produto ou um serviço ou uma combinação dos dois) é misturado com muitos outros enquanto flui dentro de uma organização. Um objetivo fundamental do movimento lean é ensinar a todos a simplificar processos complicados intangíveis, a fim de enxergar claramente o processo específico que eles gerenciam ou encontram durante o fluxo do começo ao fim. Então, com um claro entendimento do estado atual do processo, eles devem melhorar seu desempenho para que todos melhorem — clientes, funcionários, fornecedores, investidores. Fazer isso requer um método, e este será o assunto dos artigos a seguir. Estes artigos começam com a ação de determinar o estado atual de um processo e criar um plano de ação para melhorá-lo. Eles progridem em sequência por meio das medidas que serão necessárias para criar um fluxo de valor lean. Caminhando pelo Fluxo de Valor da Empresa A Na semana passada, estava caminhando em uma empresa que tinha perguntado o que eu pensava sobre suas tentativas lean até então. Fiz uma visita para descobrir e me ocorreu, enquanto estava voando para casa, que você pode encontrar alguma utilidade no meu método e no meu checklist em suas próprias atividades de melhoria. Então, compartilharei isso com você. Como sempre, quando eu cheguei à fábrica, os gerentes seniores queriam começar em uma sala de reunião com uma visão geral prolongada de quem eles são e o que eles estão fazendo para melhorar, focando no programa “lean” atual. Após alguns minutos, sugeri — mais educadamente possível, mas com firmeza — que deveríamos postergar nossa discussão até que todos tivéssemos feito uma caminhada juntos. Depois, sugeri que selecionássemos uma família de produtos e seguíssemos seu fluxo de valor do pedido do cliente ao recebimento de materiais. Uma vez que selecionamos uma família de produtos e começamos a caminhar, fiz 10 questões muito simples: 1. Quais são as questões do negócio deste produto? Retorno inadequado do investimento? Qualidade baixa? Incapacidade de cumprir as datas de entrega? Inflexibilidade perante os mercados voláteis? Se uma empresa não sabe quais são suas questões do negócio, como vão saber o que melhorar? [Isso, naturalmente, é uma simples reformulação das questões do propósito que eu coloquei na seção anterior]. 2. Quem é responsável pelo fluxo de valor para este produto? Se ninguém é responsável por nada e todos são responsáveis por tudo, como a empresa pode melhorar? 3. Como os pedidos dos clientes são recebidos? 4. Onde está o processo puxador, acionado pelos pedidos desses clientes? 5. Quão capazes, disponíveis, adequadas e livres de desperdícios são as atividades de montagem? 6. Quão capazes, disponíveis, adequadas e livres de desperdícios são as atividades de fabricação que alimentam a montagem? 7. Como os pedidos são transportados ao longo do fluxo de valor a partir do processo puxador? 8. Como os materiais são enviados aos processos de montagem final e de fabricação? 9. Como os materiais chegam dos fornecedores? 10. Como os funcionários são treinados e engajados nas práticas lean e motivados para aplicá-las? Após 30 minutos de caminhada para responder as 10 questões, descobri tudo de que precisava para poder dizer aos gerentes seniores exatamente onde eles estavam no progresso em direção ao verdadeiro sistema de produção lean. Enquanto olhávamos para um único fluxo, sabia, por experiência própria, que as questões encontradas estariam presentes em todos os outros. (Outra caminhada seria necessária, no entanto, para responder as questões paralelas de quão lean o desenvolvimento de produtos e processos e os processos de suporte aos clientes estavam, levando a uma sequência de amostras de projetos de produtos da concepção do lançamento e depois em uso pelo cliente). As Respostas da Empresa A Pensei que você pudesse achar interessante as respostas dessas questões para a empresa real (porém disfarçada) que eu recentemente visitei. Eles faziam o que pode parecer uma lista bem abstrata e bastante concreta. Entretanto, é importante notar que eles são um fabricante de peças na indústria automotiva, com alto volume e variedade relativamente baixa. Se fosse uma empresa de serviços financeiros ou da área da saúde, as questões precisas teriam sido levemente modificadas. Os aspectos da criação de valor guiadas pelas questões não. 1. Quais são as questões do negócio desta família de produtos? Em razão da pressão contínua de preços de dois clientes para o produto, a Empresa A estava perdendo dinheiro mesmo tendo um alto padrão de qualidade e entregando no tempo certo. Concluiu-se que os custos precisavam ser reduzidos. 2. Quem é responsável pelo fluxo de valor para este produto? Essa questão era fácil também: ninguém. O produto (e o pedido) simplesmente percorria seu caminho pelos departamentos e áreas — vendas, controle de produção, montagem, fabricação, compras — da melhor forma possível sem ninguém ter a responsabilidade de gerenciar e melhorar o fluxo total de valor. Ao mesmo tempo, um grupo corporativo de melhoria — a “Equipe Lean” — estava fazendo diversas intervenções no fluxo de valor da família de produtos em pontos isolados para melhorar práticas desperdiçadoras. 3. Como os pedidos dos clientes são recebidos? A Empresa A estava recebendo uma previsão mensal e uma programação semanal de seus dois clientes para esta família de produtos. As entregas eram controladas por um kanban físico trazido por motoristas de milk-run enviados pelos clientes. Frente a isso, o simples uso do kanban para as entregas parecia “lean”. Mas quando olhamos para a situação real, descobrimos que o kanban não era um kanban e que lean não era lean. Um cliente mandava um kanban a cada duas horas, prestando muita atenção para o nivelamento da demanda para que as variações de produção no curto prazona planta do cliente não afetassem as operações na planta do fornecedor. Outro cliente mandava seu kanban de forma irregular com grandes janelas de coleta. Um rápido olhar para o padrão de kanban que chegava mostrou que este cliente estava amplificando as variações na produção em suas próprias plantas, em seus pedidos para seus fornecedores. O fornecedor respondeu a essas duas diferentes abordagens dos clientes de forma que fosse fácil enxergar: a área para entrega para o primeiro cliente era muito rápida, contendo apenas os produtos que estavam sendo montados para o próximo embarque. A área para o segundo cliente era mais lenta (mesmo sendo a média de demanda a mesma) e continha muito mais do que era necessário para a próxima entrega. Isso permitia que a Empresa A lidasse com as variações no fluxo do pedido enquanto alcançava 100% de entregas no tempo certo. 4. Onde está o processo puxador? Outra resposta simples: não havia puxador. Em vez disso, a Empresa A usava uma programação mestre desenvolvida a cada final de semana, a partir dos programas semanais dos clientes, e enviava esses programas para cada uma das áreas de fabricação e montagem ao longo do fluxo. Isso era inevitavelmente suplementado durante a semana pelo gerente da área, reordenando os pedidos para lidar com mudanças na demanda e com problemas de produção ao longo do fluxo de valor. Isso não era lean. Não havia uma imagem takt (uma medida visual da taxa de demanda do cliente) e nenhuma habilidade para saber, em poucos minutos, se as operações estavam apoiando os clientes. 5. Quão capazes, disponíveis, adequadas e livres de desperdícios são as atividades de montagem? Um kaizen recente na Empresa A tinha criado uma célula de montagem combinando um número de atividades de montagem e submontagem previamente conduzido em áreas diferentes da planta. As etapas de processamento tinham sido alocadas muito próximas em uma área em forma de U e o gerente da área de montagem afirmou que a Empresa A já tinha alcançado a montagem em fluxo contínuo. Entretanto, uma simples observação momentânea me mostrou que o trabalho era pouco balanceado na célula, com pouca evidência de um verdadeiro trabalho padronizado, e que pequenas pilhas de estoque se acumulavam entre cada etapa. Além disso, o quadro de análise da produção próximo à célula mostrou claramente que os produtos estavam variando de hora em hora. As explicações na margem do quadro mostraram que as máquinas de processamento eram capazes e confiáveis, mas que a escassez de materiais frequentemente parava a célula. Meus olhos, de imediato, disseram-me que a célula deveria ser capaz de executar de forma constante seu produto planejado, baseado no tempo takt, com aproximadamente metade do esforço dos operadores. Isso teria um enorme efeito sobre os custos. 6. Quão capazes, disponíveis, adequadas e livres de desperdícios são as atividades de fabricação? Um kaizen recente feito pela equipe lean da Empresa A também criou duas células de fabricação para o produto, com a primeira célula alimentando a segunda, de forma que elas fossem ligadas como uma única célula. Entretanto, uma observação momentânea e uma breve observação ao quadro de análise de produção para ambas as células apontaram problemas grandes de capacidade e disponibilidade. Na verdade, juntas, as células pareciam estar paradas — tanto por causa da produção de peças defeituosas como pela incapacidade de produzir — cerca de 20 minutos a cada hora. Como consequência, uma grande quantidade de horas extras foi necessária e um considerável número de pulmões de estoques em processo foi mantido após a primeira célula e ao final da segunda. Evidentemente, era necessário que a equipe lean focasse imediatamente na qualidade e na manutenção, para que os custos fossem reduzidos. 7. Como os pedidos são transportados ao longo do fluxo de valor a partir do processo puxador? As observações dos gerentes da área de montagem e fabricação apontaram que o elemento principal de seu trabalho era continuamente adaptar a programação para lidar com as mudanças no final das demandas e problemas no início do processo. Em vez disso, era necessário um simples sistema de supermercado em cada etapa com um sistema puxado simples para acionar o trabalho pelo processo fluxo acima somente quando o processo final precisasse dessas peças. Fazer isso reduziria a quantidade total de estoques necessários e direcionaria a atenção da gestão para outras melhorias no fluxo de valor. 8. Como os materiais são enviados aos processos de montagem final e de fabricação? O gerente de controle da produção e logística mostrou orgulhosamente o novo sistema de movimentação de materiais (carrinhos puxando as peças em uma rota padrão em um intervalo padrão) para fornecê-los para as áreas de fabricação e montagem a partir de um supermercado no recebimento. O movimentador de materiais circulava pela planta a cada hora para entregar materiais necessários a cada área de produção e para coletar produtos acabados e transportá-los à área de expedição. O que pode ser mais lean? Na verdade, tudo. O movimentador de materiais não era envolvido na distribuição das ordens de produção e tinha apenas uma ideia vaga do que cada área de produção necessitaria. A solução da equipe de melhoria tinha sido colocar um amplo estoque de praticamente todas as peças no longo trem puxador para que qualquer peça necessária seja estoque. Um armazém móvel! Além disso, havia uma confusão considerável nos locais de armazenagem para cada número de peça e nenhum plano para cada peça (PPCP) mostrando exatamente como ela seria pedida, embalada, entregue, recebida, localizada no supermercado e distribuída. Embora algumas entregas de peças possam ter sido eliminadas pelo novo sistema de entrega de materiais, estavam alcançando somente uma fração de seus benefícios potenciais. 9. Como os materiais chegam dos fornecedores? As entregas dos fornecedores foram solicitadas pela programação mestre da Empresa A, a qual estava sendo ajustada a cada hora. Consequentemente, o gerente da área de recebimento estava trabalhando continuamente com os gerentes das áreas do chão da fábrica e de compras para mudar os pedidos para os fornecedores e manter a produção em execução. Esse gerente parecia ser muito proficiente nessa tarefa, mas por que isso era necessário? Não poderiam os fornecedores ser colocados em um sistema puxado com o nivelamento apropriado, de tal forma que qualquer variação de curto prazo no desempenho da planta não infligisse a eles próprios? E não poderiam as entregas ser feitas por milk runs frequentes em pequenas quantidades, e não por entregas diretas do fornecedor para a planta em menor frequência e em quantidades maiores? 10. Como os funcionários são treinados e engajados nas práticas lean e motivados para aplicá-las? Esse era, talvez, o aspecto mais chocante das operações da Empresa A. A maioria dos colaboradores eram, na verdade, funcionários de uma empresa de recursos humanos que trabalhavam com contratos de curto prazo. Isso mantinha os salários sob controle e desencorajava esforços recentes de diversos sindicatos para organizar a planta. Mas essa abordagem também significava que era difícil manter o trabalho padronizado, que era difícil implementar a polivalência e que não se podia esperar a contribuição para as atividades de kaizen de ninguém associado à produção. Observando os esforços das pessoas associadas à produção, conclui que reduzir os custos por hora de trabalho não compensava a baixa produtividade durante cada hora trabalhada. Essas questões envolvem somente a produção, e eu gostaria de ter caminhado também pelo desenvolvimento de produtos e processos e pelo fluxo de apoio aos clientes, além da fábrica. Entretanto, o ponto para o propósito atual é que uma caminhadade apenas 30 minutos foi suficiente para avaliar quão “lean” a Empresa A estava em sua fábrica e para criar uma lista de etapas que ela, logo, deveria seguir. Um Plano de Ação para a Empresa A Quanto ao “lean” nesta empresa, minha conclusão foi: “Mal começado e sem um plano claro”. Meu plano de ação proposto foi o seguinte: 1. Identifique claramente todos os seus fluxos de valor e determine, de forma clara, as questões do negócio confrontando cada uma. Para o fluxo de valor específico que observamos, estabelecer um objetivo de redução de custos produzirá um retorno adequado. 2. Designe um gerente de fluxo de valor para cada família de produtos, a fim de gerenciar e aprimorar o processo de criação de valor, direcionando as questões do negócio, bem como as operacionais. 3. Trabalhe com os clientes para suavizar a demanda e eliminar a amplificação. (E, no mínimo, use produtos acabados com um pulmão para suavizar o início do fluxo de produção na expedição ao final da planta). 4. Envie ordens de produção ao fluxo de valor por meio de ciclos de puxada, com nivelamento do processo puxador na célula final de montagem. 5. Transforme as células de montagem e de fabricação em células reais, lidando com as questões de capabilidade, disponibilidade e utilização da mão de obra. 6. Estabeleça um sistema de retirada ritmada para materiais recebidos dos fornecedores, com curtos intervalos (talvez 20 minutos) e um PPCP rigoroso. 7. Trabalhe suavemente com os fornecedores para transmitir a demanda tranquilamente e para ter entregas frequentes em uma programação precisa e em pequenas quantidades. Essa lista é apenas o começo para a Empresa A, obviamente. Mas é um começo real que os guia em direção a uma verdadeira empresa lean, em vez de outro programa envolvendo intervenções isoladas com resultados duvidosos. 12 de março de 2003 Os próximos três artigos desta seção descrevem a sequência de medidas necessárias para se implementar as ações do plano de melhoria. Estas começam alcançando a estabilidade básica em cada etapa do processo. Criando Estabilidade Básica Em caminhadas recentes em diversas empresas, tive uma importante conclusão. Tenho suposto que, na maioria das empresas, as etapas do processo em um fluxo de valor típico são tão suficientemente estáveis que torna-se prático introduzir fluxo, puxada e produção nivelada de imediato. Por “estável”, entendo que cada etapa do processo é capaz. Isto é, é possível produzir uma boa parte ou todo o resultado todas as vezes que for necessário. Quero dizer que cada etapa é capaz de operar todas as vezes que for necessário. Combinar capabilidade e disponibilidade proporciona o que eu chamo de estabilidade básica. Sei, há tempos, que, na Toyota, um novo processo de montagem seria lançado com disponibilidade operacional de cerca de 97% sem quase nenhum defeito ou retrabalho, e eles se empenhariam para alcançar os 100% por meio do kaizen. E mesmo nas mais complexas linhas transfer, como usinagem do blocomotor, a Toyota alcança e mantém disponibilidade operacional de 85% ou mais sem quase nenhum defeito ou retrabalho no processo. Essa é uma boa definição de estabilidade básica. Mas em minhas últimas caminhadas, fiquei surpreso ao descobrir que a disponibilidade operacional na montagem celular (a qual é muito menos exigente que o longo caminho da linha de montagem de carros) não é maior que 90%, mesmo quando não existem atrasos devido à falta de materiais. E há quantidades significativas de defeitos e considerável retrabalho ao fim da célula ou da planta. Na usinagem complexa, a disponibilidade operacional é frequentemente inferior a 60% e, às vezes, inferior a 40%, com muitos defeitos descobertos e considerável retrabalho, tanto durante o processo como no final. E estes são nomes famosos, empresas globais que pretendem estar no caminho da produção lean! Com esta baixa estabilidade, tentar introduzir fluxo contínuo por meio de etapas interligadas e áreas do fluxo conectadas por sistemas puxados será certamente uma frustração. A única forma de fazer esses sistemas funcionarem é mantendo um grande pulmão de estoque em processo em cada etapa — que dificulta a melhoria ainda mais por esconderem problemas. Então, fui obrigado a concluir que muitos de nós precisamos focar na criação da estabilidade básica antes de tentarmos fluir e puxar. (Deixe-me acrescentar que este problema estende-se para além dos equipamentos das fábricas. Recentemente, fiz um exame médico e tive que adiar duas vezes, pois o complexo equipamento não funcionava. E alguém sabe como manter um finger móvel no aeroporto? Descobri, em minhas viagens, que os problemas com os fingers atrasam a chegada e a partida de um em cada 20 aviões. E como pode uma dessas simples passarelas móveis de aeroporto quebrar? Mas parece que me deparo com, pelo menos, uma passarela imóvel em cada viagem. E por que ninguém consegue manter nosso servidor de e-mail do LEI funcionando? Disponibilidade operacional baixa é universal — e pode ser evitada — em cada aspecto de nossas vidas). Estabilidade inadequada deve-se a seis tipos de problemas: 1. Downtime ou paradas, quando um processo não funciona bem (também chamado de grande quebra ou interrupção). 2. Tempo de troca de um produto para o outro. 3. Pequenas interrupções de apenas alguns segundos. 4. Flutuação do tempo de ciclo, quando um processo demora mais que o planejado. 5. Refugos, significando que alguma produção foi perdida. 6. Retrabalho; as peças devem passar de novo pela fabricação, reduzindo o tempo disponível para novas peças. Tudo isso é ruim e deve ser reduzido. Mas tenha cuidado para evitar cálculos simples que confundem disponibilidade com tempo ativo. O primeiro é sempre bom: os equipamentos devem funcionar quando você precisa. O segundo pode ser bom ou ruim: a alta utilização (tempo ativo) para a produção em excesso de itens desnecessários é uma das piores formas de desperdício. Reduzir o tempo perdido em trocas, produzindo lotes maiores, em vez de reduzir os tempos de set-up, é um grande erro. E retrabalhar produtos no fim da linha, a fim de mantê-la se movendo em uma grande fração de tempo, é uma prática igualmente ruim. O ponto crucial é que esses problemas não são eliminados com um pouco de kaizen feito ao acaso. E, com certeza, não são eliminados se as empresas estão apenas praticando a manutenção corretiva sem identificar suas tendências e determinar as causas raízes. Eles também aparecem rapidamente em novos equipamentos (às vezes comprados, pois os equipamentos antigos não funcionam para atender toda a demanda), a menos que o equipamento seja cuidadosamente projetado do ponto de vista da manutenção e, desta forma, esta seja feita sistematicamente. O desafio é criar um processo de manutenção rigoroso que envolva a todos, levante os dados certos, descubra as causas raízes e estabeleça as correções, para que os problemas conhecidos não reincidam e os novos sejam antecipados (por exemplo, consumos previstos durante o ciclo de vida do equipamento). Assim, os objetivos lean de fluxo, puxada e produção nivelada são muito mais fáceis de se alcançar. Melhor ainda, enquanto se cria estabilidade básica, muitas empresas descobrirão que não têm restrições de capacidade. Na verdade, podem descobrir que possuem muito mais capacidade do que imaginam. 25 de maio de 2004 Observação: Muito do material neste artigo foi baseado em conversas com Art Smalley, cuja carreira na Toyota foi focada na manutenção de equipamentos. Se eu estivesse escrevendo este artigo hoje, eu discutiria todos os quatro Ms necessários para se criar estabilidade básica: máquina, mão de obra, método e materiais. Estive estudando Manutenção Produtiva Total (TPM) na época em que este artigo foi escrito e restringimeu foco para a máquina. Retifico esta lacuna sobre o abastecimento de materiais no próximo artigo. O Poder de um Processo Preciso Se a estabilidade básica foi alcançada em cada etapa do processo, é hora de se criar estabilidade nas atividades de apoio ao fluxo de valor. O exemplo específico aqui discutido é o abastecimento de materiais. Quando eu comecei a estudar o Sistema Toyota de Produção anos atrás, fiquei impressionado com algo muito simples: sua precisão absoluta. Havia um lugar para cada peça e para cada ferramenta e havia trabalho padronizado para cada atividade. Havia uma quantidade padrão de estoque em cada ponto onde era necessário e uma forma padrão para enviar sinais a tudo que a produção entende como necessário, de mais peças até ajudar com um problema. Igualmente impressionante, havia um entendimento claro do estado atual de cada operação e uma visão de um estado melhor a ser alcançado rapidamente por meio de kaizen. Nada parecia acontecer por acaso e a melhoria contínua era fácil, pois a condição base era visível para todos. Mas, se o centro deste sistema é a precisão e se mais e mais gerentes dizem que o adotam, por que tem ocorrido tão pouco movimento em direção aos processos precisos? O problema maior é que a maioria dos gerentes ainda não compreende a necessidade de se ter cada etapa em cada processo precisamente especificada e corretamente conduzida a todo tempo. E mesmo se entendessem, parece muito difícil alcançar tudo de uma vez. Então, os gerentes lidam com a precisão em pontos específicos do processo, esperando que os kaizen em cada ponto irão gradualmente guiar o processo do caos para a ordem. O problema, pela minha experiência, é que eles nunca chegarão lá. Veja o caso da movimentação de materiais. Na maioria das fábricas que visitei, o sistema de movimentação de materiais era uma bagunça. Se há uma programação central (frequentemente na forma de um sistema de planejamento da necessidade de materiais), ela foca em materiais a serem entregues nos pontos de uso, em quantidades precisas e no tempo preciso nas áreas de recebimento, na área de armazenagem ou em uma atividade fluxo acima. Mas a programação está mudando continuamente e muitas das instruções centralizadas não refletem as realidades do gemba. Ou, se há um sistema puxado, ele é mal administrado, com o mesmo item armazenado em várias trocas, imprecisão nos estoques padrões e confusão sobre quem faz as entregas e quando as faz. Nos dois casos, a movimentação de materiais é amplamente reativa e ad hoc, focada em peças enviadas ao ponto de uso quando há uma falta repentina. Como resultado, quando pergunto em minhas caminhadas por que uma área programada para produzir no momento de minha visita não está produzindo, a explicação mais comum é a “falta de materiais” ou “materiais errados”. Mas note que, mesmo se a gestão acreditar na necessidade de um processo de movimentação de materiais preciso, não será possível chegar lá com kaizen pontuais, melhorando as etapas dos processos individuais. Nem será possível chegar lá com um kaizen sistêmico para um único fluxo de valor de uma família de produtos, da forma como foi popularizado pelo manual do LEI Aprendendo a Enxergar3. Em vez disso, é necessário um kaizen de sistema, no qual o sistema de movimentação de materiais para uma fábrica toda, abastecendo todos os fluxos de valor, seja reprojetado, a fim de se criar um processo de entrega que seja absolutamente preciso e estável. Tal sistema deve conter um plano para cada peça (PPCP) que documente todas as informações relevantes sobre cada peça na fábrica, incluindo os locais de armazenagem e pontos de uso. Também deve conter supermercados precisamente projetados, tanto para peças compradas como para estoque em processo, que defina um único local de armazenagem de cada peça e as quantidades mínimas e máximas de estoque. Além disso, um processo de movimentação de materiais lean exige rotas precisas de entrega com trabalho padronizado, para levar cada peça de seu local de armazenagem até seu ponto de uso exatamente quando necessário. Finalmente, um processo de movimentação de materiais exige um sistema puxado que seja absolutamente preciso ao desencadear as entregas de peças ao ponto de uso. Só quando colocamos todas as quatro etapas no lugar, podemos ter um processo verdadeiramente preciso e uma base estável para melhorar. 1 de outubro de 2003 Leituras adicionais: Steven Spear e Kent Bowen, Decodificando o DNA do Sistema Toyota de Produção. Harvard Business Review, Setembro/Outubro de 1999. Rick Harris, Chris Harris e Earl Wilson, Fazendo Fluir os Materiais. São Paulo: Lean Institute Brasil, 2004. O abastecimento de materiais lean é impossível sem um conhecimento preciso de quais materiais fornecer e quais são os próximos produtos a se fazer. Isso nos traz o tema da gestão da informação em uma empresa lean. Gestão Lean de Informações Recentemente, em uma caminhada por uma operação de manufatura, refleti sobre os princípios da gestão lean de informações. Em especial, estava refletindo sobre o controle de produção e de atendimento. A fábrica em questão era caracterizada por utilizar um cérebro central — um MRP computadorizado — que dizia a cada operação o que fazer em seguida. É o que eu chamo de um sistema cognitivo, no qual todos os retornos vão para a unidade central de processamento, utilizando algoritmos complexos que “pensam” na próxima etapa boa para todos. Mas como também é característico, as instruções enviadas pelo cérebro central frequentemente pareciam não fazer sentido aos gerentes e aos operadores no chão de fábrica. Quando o sistema lhes mandava fazer alguma peça para a qual estava faltando matéria-prima, eles simplesmente passavam por cima do sistema e faziam alguma peça que utilizasse a matéria-prima disponível. Não é necessário dizer que esta prática confunde ainda mais o cérebro central. Na época da minha visita, pareceu-me que havia uma programação oficial do MRP e um sistema de programação real conduzido manualmente pelos gerentes no chão de fábrica. Os resultados não impressionavam. Em vez disso, o que poderia ser feito? Aqui estão seis princípios simples da gestão lean de informações: 1. Simplifique cada processo para minimizar a necessidade da gestão de informações. Por exemplo, o simples ato de mudar de lugar as atividades dispostas em departamentos para um leiaute em fluxo contínuo — no qual uma peça vai automaticamente de uma etapa a outra — elimina toda a informação necessária para dizer o que cada departamento e cada etapa devem fazer em seguida. Comprimir o fluxo de valor, reposicionando as etapas do processo sequencial do outro lado do mundo para o outro lado do corredor, também elimina a necessidade de um mundo de informações. 2. Torne cada etapa do seu processo capaz e disponível. Quebras, retrocessos e falta de materiais causam aos gerentes a necessidade de gerirem ainda mais informações. Em vez de automatizar esta tarefa, tente eliminar sua necessidade. (Em uma outra caminhada recente, recebi uma explicação completa sobre sistemas de gestão de informações de uma empresa de logística. A gerência orgulhosamente explicou que seu sistema permitia apontar com exatidão onde um pacote foi perdido, de fato, milhares a cada noite. Minha pergunta foi, “Por que vocês continuam perdendo pacotes? Se vocês tivessem um processo capaz, vocês não precisariam desta rede cara de segurança. Pior ainda, a existência da rede de segurança elimina a pressão de tornar seu processo capaz. Pense no seu sistema de TI como um tipo diferente de estoque just-in-case”). 3. Programe cada fluxo de valor a partir de um único ponto. Realizar essa simples tarefa tornará a gestão de informações mais fácil por toda a operação. 4. Use um controle deprodução reflexivo fluxo acima, partindo do ponto de programação. Os pensadores lean chamam este conceito puxado de “reflexivo”, porque ele é equivalente a seus reflexos. Quando o processo fluxo abaixo utiliza o material, um pedido automático é feito para reabastecer a mesma quantidade do processo seguinte fluxo acima. Não há nenhuma necessidade de se consultar um cérebro central. 5. Envie a informação em pequenos lotes. Surpreendentemente, muitos MRPs ainda são rodados no fim de semana para produzir uma programação semanal. E muitos sistemas de gestão de pedidos e vendas ainda trabalham com lotes semanais ou de até dez em dez dias, mesmo que sua organização esteja se movendo para funcionar inclusive a noite e produzir uma programação diária. O que os gerentes precisam saber é o que fazer nos próximos 15 minutos, baseando-se no que aconteceu nos últimos 15 minutos. Empilhar informações em um grande estoque é muito ruim — talvez pior — do que empilhar grandes estoques de produtos. 6. Torne sua gestão de informações transparente e intuitiva. Talvez a coisa mais triste de se ver são bons gerentes que trabalham arduamente para passar por cima de sistemas de TI com algoritmos opacos, tornando a situação ainda pior por causa de seus esforços frenéticos. Métodos simples de gestão de informações, como cartões kanban e kanban eletrônico via web, mais algoritmos simples de heijunka, parecem simples demais para vários gerentes. Contudo são intuitivos. E as anomalias rapidamente se tornam óbvias. Então, por que gastar enorme quantidade de dinheiro para se manter no escuro? Eu não sou ingênuo em tentar fazer o mundo adotar a gestão lean de informações. Ainda não estamos no fim do pensamento de que mais informação é sempre melhor e que, se tivéssemos toda a informação possível, algoritmos perfeitos e processadores centrais na velocidade da luz, a vida seria mais fácil. Apesar de 50 anos de evidência de que isto não é verdade, estamos, agora, embarcando em uma experiência nova com a identificação por radiofrequência (RFID), na qual cada peça, em cada processo, pode ser acompanhada individualmente. Os gerentes de um varejista gigantesco que eu visitei recentemente — cujas lojas atingem quatro giros de estoque por ano, sem posições definidas de armazenamento para qualquer peça, pontos múltiplos de armazenagem para cada peça e um alto nível de falta de estoque — disseram-me que uma etiqueta RFID em cada caixa eliminaria a atual “caça ao tesouro” e garantiria um nível elevado de atendimento aos clientes. Minha pergunta era, “Por que você necessita de tanto estoque com todos esses locais de armazenagem? Se você tiver somente um local de armazenagem para cada peça — na prateleira onde o cliente retira a peça e põe no carrinho — e reabastecer todas as peças todas as noites de uma central de distribuição que serve muitas lojas, a informação que você já recolhe dos códigos de barra no momento que o cliente retira a peça da loja dirá tudo que você precisa saber”. Minha previsão é que quando a quantidade de informação RFID disponível sobrecarregar nossa habilidade de gerente de resolver o que fazer com ela (mesmo enquanto nossos processos fundamentais de criação de valor estão se deteriorando), muitos gerentes irão finalmente perceber que quanto mais simples, melhor. Enquanto isso, os pensadores lean podem economizar uma enorme quantidade de dinheiro e ficar livre de frustrações ao evitar as modernas ondas de TI e implementar os seis princípios lean da gestão de informações. 5 de novembro de 2004 A Maravilha do Sistema Puxado Nivelado Se um processo alcançou a estabilidade básica, apoiada pelo abastecimento lean de materiais e pela gestão lean de informações, é hora de juntar todas as partes. Muitos anos atrás, na cidade de Toyota, testemunhei, pela primeira vez, os dois conceitos da produção nivelada e a puxada regular de itens necessários em uma operação complexa de produção. Meu aprendizado ocorreu em um fornecedor de componentes para a planta de montagem da Toyota, a qual criou um estoque pequeno e precisamente determinado de componentes acabados próximo à doca de entrega. (E eu que pensava que os fornecedores da Toyota do Japão não tinham estoques!). Esse fornecedor usava estoque de produtos acabados para dissociar-se de qualquer oscilação diária ou horária na demanda da Toyota, expressa por meio de entregas frequentes de kanban. (E eu pensei que não havia flutuações na demanda da Toyota!). Meu guia explicou-me que o fornecedor tinha calculado cuidadosamente a demanda média de componentes da Toyota, pelo volume total e pelo mix neste total, e estava executando uma programação nivelada de produção no processo puxador (que era a montagem final dos componentes). Colocar uma quantidade de estoque precisamente calculada no final da fábrica efetivamente criou um quebra-ondas que protege todas as operações de produção fluxo acima de interrupção, devido às ondas repentinas ou depressão na demanda. Isso fez com que os estoques internos em cada ponto do processo fossem muito pequenos, levando a um total de estoques muito baixo na planta. Meu guia também apontou que a gestão de informações era “reflexiva”, no sentido de que cada etapa do processo simplesmente sinalizava sua necessidade para a próxima etapa imediata do processo. Não havia necessidade de enviar informação para um “cérebro central” na forma de um sistema MRP computadorizado que, então, diria a todos os passos do processo o que e quando fazer. A analogia que ele usou anda sempre comigo: “Quando você põe seu dedo em um forno quente, você manda a informação para seu cérebro de que isso é um forno, que ele está ligado e que seu dedo está começando a queimar, e, por isso, talvez, você deva tirá-lo de lá? Ou você deixa seus reflexos puxarem seu dedo sem incomodar seu cérebro? Então, por que você está usando um cérebro para gerenciar a informação da demanda em sua fábrica quando seus reflexos podem fazer um trabalho melhor simplesmente puxando materiais necessários do próximo processo fluxo acima?” Por causa da precisão da operação, da pouca quantidade de estoques totais e da atratividade da lógica do conceito, imaginei que levaria pouco tempo para cada fábrica de produção do mundo adotar o sistema puxado nivelado. Eu estava errado! Enquanto o tempo passava, percebi que muitos aspectos do lean eram fáceis de se implementar. Mas este não era um deles. Assim, eu estava muito feliz semana passada, quando visitei uma planta em uma cidade minúscula do México e vi um sistema puxado nivelado na operação, que se sentiria em casa na cidade de Toyota. Essa fábrica tinha: • Analisado a demanda real do cliente, baseada nos pedidos dos últimos meses, parando de usar previsões semanais e diárias de entrega de pedidos para programar a planta. • Calculado uma quantidade exata de estoques de cada produto acabado, consistindo em estoques de ciclo, pulmão e de segurança. • Nivelado a programação da produção final pelo volume e pelo mix. • Identificado um processo puxador (montagem final de componentes), como o único ponto para programar o fluxo de valor de cada família de produtos. • Entregado materiais para a montagem final enquanto expedia produtos acabados por meio de uma rota de transporte de tempo fixo, respondendo aos sinais dos kanban. • Estabelecido supermercados na frente dos processos fluxo acima com pequenas quantidades de estoques. • Utilizado kanban de sinalização para disparar a produção nos processos em lotes fluxo acima (por exemplo, injeção e estamparia). • Implementado sinais de kanban e uma segunda rota de transporte para entregar materiais, ferramentas e instruções para processos fluxo acima. • Criado um supermercado de peças compradas com um plano para cada peça, estoques decada item comprado calculado e com sinais de kanban para um próximo pedido. Enquanto repensava, percebi que se essas técnicas podem funcionar nesse local remoto e, se agora eles as estão disseminando, deve haver uma vontade generalizada hoje de se fazer a transformação para o sistema puxado nivelado que eu esperava há anos. 3 de março de 2004 Leitura adicional: Art Smalley, Criando o Sistema Puxado Nivelado. São Paulo: Lean Institute Brasil, 2004. Fui otimista quando escrevi este artigo em 2004. Hoje, ainda vejo corriqueiramente organizações fazendo melhorias aleatórias em processos que não têm estabilidade nem rigorosos processos de apoio e fluxos de informações claros, que são necessários para o sucesso duradouro. O problema não está nas técnicas. Elas funcionam. O problema está em algum lugar nas mentes e comportamentos dos gerentes e funcionários. Isso nos traz ao terceiro passo da sequência propósito-processo-pessoas. Pessoas são o assunto do próximo conjunto de artigos. 3. Mike Rother e John Shook, Aprendendo a Enxergar. São Paulo: Lean Institute Brasil, 2003. PESSOAS As pessoas devem estar engajadas em entender e melhorar os processos que criam o valor desejado pelo cliente, caso os propósitos organizacional e do cliente almejam ser alcançados. Mas como podemos, como líderes e gerentes, engajá- los? Esta seção de artigos explora esta importante questão em diversas dimensões. Começo com uma observação simples com a qual estamos todos envolvidos nos processos em tudo que fazemos na vida, seja como fabricantes ou como clientes. E geralmente reagimos mal — isto é, tornamo-nos engajados negativamente — quando nos deparamos com processos defeituosos, sem nenhum meio aparente para aprimorá-los. A questão é como podemos focar na melhoria de processos débeis, em vez de simplesmente culparmos uns aos outros. Pessoas Ruins ou Processos Ruins? Recentemente, deparei-me com uma cena maravilhosa no Aeroporto de Heathrow, em Londres. Quando fui fazer o check-in para meu vôo na segunda-feira de manhã, deparei-me com uma fila enorme que se estendia em torno do guichê. Após aguardar na fila por cerca de 45 minutos, finalmente cheguei ao canto a tempo de ver os passageiros em minha frente expressarem sua frustração. Havia seis guichês de check-in, mas apenas um agente estava trabalhando. Então, muitos passageiros pularam os guichês vazios e começaram a distribuir as cadeiras dos agentes para que os passageiros que estavam aguardando em fila pudessem se sentar enquanto esperavam. O único agente que estava lá imediatamente parou de fazer o check-in dos passageiros para impedir essa ação irregular. Um cabo de guerra se formou em uma das cadeiras e, após perder a batalha, o agente recuou a sua mesa para chamar a polícia. Para completar a cena, imaginem vários gritos em diversas línguas quando um grupo de muitos seguranças armados se aproximou. Reconheço uma bagunça “terminal” quando vejo uma fila única e desordenada em ponto de buscar o alternativo caminho do check-in “vou perder meu vôo”, que parece existir em todos os aeroportos hoje. (Pense nisso como outra forma simples de retrabalho). Quando me deparei com isso — em um canto longínquo do terminal — e conversei com os agentes, descobri que cenas desse tipo acontecem todas as segundas de manhã e sextas à noite — períodos de grande quantidade de vôos —, quando “algum passageiro fica simplesmente maluco”. Em suas mentes, era um claro caso de “passageiros ruins”. Refletindo sobre esta experiência, percebi que encontramos situações desse tipo o tempo todo. Cada dia, estamos nos envolvendo em uma série de processos — pondo nossos computadores e softwares para trabalhar, levando nossos carros para o conserto, indo ao médico, fazendo nosso trabalho no escritório ou em uma fábrica —, cujos passos devem ser desempenhados na sequência apropriada para alcançarmos os resultados que buscamos. Por exemplo, no aeroporto, a escala de funcionários e de decolagem de vôos deve ser cuidadosamente sincronizada com a demanda típica de passageiros, para criar um processo de check-in sem dificuldades. Entretanto, algumas variantes da cena que presenciei são quase inevitáveis. O que achei fascinante é que quando as pessoas boas (digo você e eu) são postas em um processo ruim, geralmente elas se tornam “ruins” como o processo — de má-fé, boca suja e, até mesmo, violentas. Pergunte a qualquer envolvido qual é o problema e ele será capaz de culpar a todos — neste caso, os passageiros malucos, o agente de check-in burocrático, o autoritário grupo de seguranças, a avarenta companhia aérea —, em vez de voltar e pensar sobre o processo em si e como ele poderia ser melhorado. A existência disseminada desses processos ruins em todas as áreas é geralmente uma grande oportunidade para os pensadores lean. Deveríamos guiar o caminho de como repensar todo processo produtor de pessoas “ruins” junto aos maus resultados. Estou muito animado com a perspectiva da Comunidade Lean avançar rapidamente neste caminho, indo muito além do nosso ponto inicial nas fábricas, para introduzir processos rigorosos, pensando na sociedade. Entretanto, espero que você se depare com bons processos repletos de boas pessoas. Se isso não ocorrer, espero que você volte um passo (provavelmente enquanto espera em uma fila), aproveite a oportunidade para aguçar o seu pensamento lean e imagine formas de melhorar qualquer processo ruim ao longo de seu caminho. 28 de julho de 2004 Se processos ruins criam funcionários ruins (e clientes malucos, também), entende-se que um processo ruim para a melhoria dos processos pode criar mais falhas e funcionários ruins de uma forma diferente. O próximo artigo explora por que isso acontece muito mais frequentemente do que muitos pensadores lean pensam e propõe uma forma de resolver o problema. Fazendo de Todos um Todo Mantive um grande sorriso em meu rosto na maior parte do mês passado. Isso porque tive a oportunidade de visitar sucessivas organizações em três continentes para acompanhar seus esforços de criação de fluxos de valor lean. Caminhar por qualquer processo, bom ou ruim, pode me levar a sorrir por qualquer um dos dois motivos. Se o processo for horrível, é fácil enxergar como melhorá-lo. E, se ele já foi bem melhorado em relação a sua condição original, fico satisfeito com o progresso e consciente de que a próxima camada de desperdícios agora está visível e pronta para ser eliminada. Entretanto, também me vi franzindo a testa recentemente quando caminhava por alguns fluxos de valor. Isso ocorreu quando escutei equipes de melhoria reclamarem da dificuldade de se conquistar e manter o engajamento e a cooperação de cada pessoa e de cada parte da organização envolvidos no processo a ser melhorado. Por exemplo, em uma caminhada por uma atividade de processamento da informação em uma grande empresa de serviços, a equipe reclamava da resistência que o departamento de tecnologia da informação tinha em mudar substancialmente o software padrão utilizado pela empresa para apoiar o processo de melhoria. Em outro caso, uma equipe estava lamentando a resistência dos funcionários experientes do setor financeiro em compartilhar detalhes de como eles lidavam com os problemas do processo atual. Em ambos os casos, as equipes deram a explicação mais confortável para a falta de engajamento: pessoas ruins. Quando isso acontece, tento tirar meu chapéu da análise técnica e colocar o da empatia humana. Pergunto, “Como os pedidos que a equipe faz aos indivíduos ou aos departamentos de tentar coisas diferentes são, por eles, entendidos?”. Enquanto isso, lembrei-me de um economista italiano, Vilfredo Pareto (1848-1923), quem nos concebeu a regra 80/20. (A primeira afirmação de Pareto era baseada em sua pesquisa, indicando que,por toda a história, 80% dos bens da sociedade eram controlados por 20% da população. Mais tarde, Joseph Juran (1941) estendeu a regra 80/20 para problemas de qualidade, estabelecendo que 80% de um problema era tipicamente causado por 20% de suas possíveis causas. E hoje, a regra dos 80/20 parece ser aplicável em praticamente qualquer atividade). Pareto teve um segundo insight de relevância direta ao que vi em minhas caminhadas. Era seu conceito de otimização da economia, o qual afirmava que qualquer ação proposta na sociedade (por exemplo, uma nova lei) deveria ser julgada a uma luz positiva, em que ninguém estivesse em uma situação pior e alguns indivíduos e organizações estivessem em melhores condições. Os analistas de políticas públicas (eu fui um no início de minha carreira) entenderam posteriormente que esse conceito aplicava-se particularmente bem na avaliação de mudanças de política pelos governos. Os resultados da “Otimização de Pareto”, como foi denominada, eram desejáveis em bases de equidade, pois ninguém estaria em situação pior e pelo menos alguns cidadãos estariam em situações melhores. E conquistá-los pela transferência de alguns dos ganhos dos vencedores para compensar os perdedores (criando a Otimização de Pareto) também tornou essas políticas muito mais exequíveis, pois os perdedores potenciais estavam muito menos dispostos a resistir à mudança. Aplicando essa ideia às melhorias do fluxo de valor que eu observava, perguntei se o departamento de TI e se os funcionários experientes estariam em situações melhores com a mudança no processo. E a resposta, após uma pequena discussão, foi claramente “não”. O departamento de TI teria superado seu orçamento atual ao atender prontamente o pedido da equipe, mas atrasaria em outros projetos. Os funcionários experientes seriam muito provavelmente substituídos por funcionários mais jovens, com salários menores e capazes de operar o novo processo sem a necessidade da solução dos veteranos. A causa raiz do problema não eram, porém, as pessoas ruins. De fato, os que foram atingidos reagiam racionalmente para proteger seus interesses, pois eles seriam afetados pelas mudanças. O problema era a falta de diálogo e negociação entre os líderes de TI e RH e as equipes de melhoria sobre como os vencedores poderiam compensar os perdedores para fazer de todos um todo. Como um observador de fora, achei surpreendente que a Otimização de Pareto pudesse ser facilmente alcançada nesses fluxos de valor por meio da realocação de ganhos conquistados por ambos os processos de melhoria. A economia total seria muito mais do que apropriada para compensar o TI pelas horas adicionais e custos incorridos da mudança rápida de software. E as economias substanciais do processo financeiro eram suficientes para dar aos funcionários experientes, a maioria dos quais estava perto de se aposentar, um pacote generoso ou transferi-los a outras funções similares disponíveis pela alta rotatividade da organização. No entanto, o pensamento implícito e não examinado das equipes de melhoria era de que todas as economias (mais a resposta positiva do cliente aos processos de melhoria) seriam capturadas pelos departamentos no final dos processos e que todos os outros deveriam se acostumar com essa nova realidade. Entender como a mudança afeta cada participante em um fluxo de valor requer um esforço extra e eu frequentemente penso que as equipes de melhoria temem o prospecto de negociações com líderes de todas as partes afetadas da organização. Mas minha experiência de muitos anos diz que tornar os esforços visíveis para fazer de todos um todo— empenhandose pela Otimização de Pareto, quando possível — é a melhor forma de fazer e manter grandes melhorias nos processos centrais. Então, por favor, dê a esse conceito uma tentativa em sua organização da próxima vez que você encontrar “pessoas ruins” atrapalhando formas de melhorias valiosas em seus fluxos de valor. 5 de novembro de 2009 Menos Heróis, Mais Fazendeiros Os dois artigos anteriores concentraram-se nos efeitos de processos ruins e processos de melhoria de pessoas boas. Mas e o comportamento dos gerentes e líderes? Por que eles acham tão difícil organizar os processos “bons” que acabariam com a criação de maus clientes e funcionários ruins? Neste artigo, argumento que uma grande parte do problema é o que nós pensamos que os líderes e gerentes deveriam fazer. Na verdade, explico que confundimos o papel do gerente com o papel do líder — infelizmente. Recentemente, encontrei-me com o chefe executivo de uma grande corporação americana organizada em unidades de negócio, cada uma com sua própria função de desenvolvimento de produtos, de produção, de compras e de vendas. Perguntei o que um CEO faz nesta situação e obtive uma resposta simples: “Eu busco líderes heroicos para estimular minhas unidades de negócio. Dou-lhes as métricas que devem ser rapidamente atendidas. Quando eles as alcançam, são abundantemente recompensados. Quando não, encontro novos líderes”. Percebi que esta empresa, como muitas outras que tenho visitado, tem um alto nível de rotatividade de seus líderes nas unidades de negócio. Então, fiz uma simples pergunta: “Por que sua empresa precisa de tantos heróis? Por que não desempenhar bem seus negócios para que novos líderes não sejam mais necessários? E por que até os seus líderes aparentemente bem-sucedidos continuam se mudando?” A resposta foi que os negócios estão difíceis, a liderança era um recurso crítico escasso e que muita rotatividade indicava uma cultura de gestão dinâmica. Mas eu não poderia concordar. Ao olhar para esta e muitas outras empresas as quais visito, enxergo três problemas aparentemente despercebidos pelo líder heroico no auge do programa mais recente de revitalização. Eles são (1) a confusão sobre o propósito dos processos centrais da organização para o negócio; (2) baixo desempenho no desenvolvimento de produtos e processos, no fluxo de atendimento, na gestão de abastecimento e nos processos de suporte aos clientes que tendem a piorar em vez de melhorar; e (3) pessoas desanimadas que operam esses processos falhos em todos os níveis da empresa. Nem preciso dizer que há também mini- heróis em todos os níveis, projetando soluções para esses processos defeituosos. Em vez disso, o que é necessário? Mais fazendeiros! Deixe-me explicar com um segundo exemplo. Recentemente, recebi um exemplar da principal revista sobre a indústria automotiva, a qual listava os 50 líderes mais influentes (“heroicos”) da indústria automotiva global: Bill Ford da Ford, Carlos Ghosn da Renault/Nissan, Rick Wagoner da GM etc. Achei impressionante a lista não conter nenhum líder da Toyota, exceto por um americano da área de marketing nos EUA. Porém, a Toyota tem sido a empresa automotiva mais bem-sucedida do mundo durante décadas. Como uma das empresas mais bem-sucedidas não tem praticamente nenhum herói? Porque seus gerentes ainda pensam como os fazendeiros em torno da matriz na região de Aichi, no Japão, onde a empresa foi criada. A função do herói é enfrentar a situação na qual tudo está fora de controle e rapidamente impor uma ordem. E, às vezes, os heróis são necessários. Taiichi Ohno, Shotaro Kamiya, Kenya Nakamura e Kiichiro Toyoda certamente tiveram atitudes de heróis nos momentos de crise da Toyota, já que os processos centrais da empresa estavam sendo definidos após a Segunda Guerra Mundial. Mas os heróis não deveriam ser necessários uma vez que a organização está transformada. Em vez disso, cada processo importante deveria ser cuidado por um “fazendeiro” (um gerente do fluxo de valor), quem continuamente faz três perguntas simples: o propósito do processo para o negócio está definido corretamente? Ações têm sido tomadas para criar valor, fluxo e puxadaem cada etapa do processo enquanto eliminam desperdícios? Todas as pessoas envolvidas no processo estão realmente engajadas em fazer melhor? Essa é a mentalidade gemba de um fazendeiro que ano após ano lavra corretamente, conserta a cerca e fica obcecado com o tempo, mesmo quando o pioneiro heroico ou caçador, que originalmente limpou a terra, se muda. Por que temos tantos heróis, poucos fazendeiros e resultados tão pobres na maioria de nossas empresas? Porque estamos cegos para o simples fato de que os heróis do negócio geralmente falham em transformar os negócios. Eles criam melhorias para o curto prazo, ao menos nas métricas oficiais. Mas esses ganhos ou não são reais ou não podem ser sustentados, porque nenhum fazendeiro os substitui para cuidar do campo. Sabiamente, esses heróis seguem em frente antes disto se tornar aparente. Ao mesmo tempo, estamos igualmente cegos para a contribuição crítica dos fazendeiros, os quais deveriam ser nossos heróis. Essas são as pessoas que proporcionam a continuidade constante e ritmada no coração de cada empresa lean. Espero que quando você pensar em seu trabalho, você se torne um fazendeiro lean, que toma as responsabilidades pelo processo em que está envolvido, e que trabalhe cada dia para lavrar, consertar a cerca e ficar obcecado pelo tempo. Esses são os reais aspectos da criação de valor da gestão. Quando presentes, eles garantem que nenhum herói será necessário no futuro. 12 de maio de 2006 Este artigo foi escrito bem antes das recentes dificuldades da Toyota. Mas é altamente relevante. Claro que a tarefa de Akio Toyoda, como presidente, é de revigorar a cultura de fazendeiros que tornou a Toyota grande, por sua atenção aos detalhes de cada processo de criação de valor no gemba. Muitos presidentes recentes da Toyota pareciam visionários heroicos. E o efeito de seu mandato era um foco em resultados dramáticos (como maior participação de mercado e retorno sobre vendas), em vez de melhorias de processo necessárias para alcançar e manter esses resultados. Muitos heróis, poucos fazendeiros. O Problema com o Trabalho Criativo e a Gestão Criativa Uma frase que sempre escuto é “os gerentes (fazendeiros) lean não podem ser criativos”. Ou seja, eles não são livres para fazer coisas novas e dramáticas sem uma interferência burocrática. E o líder heroico escondido em algum lugar em todos nós quer, sobretudo, ser criativo. Além disso, há uma crença generalizada de que apenas ações heroicas e individuais podem romper a camisa de força da inércia organizacional. Como os pensadores lean devem abordar este tópico importante é o assunto deste artigo. Anos antes, assisti a uma apresentação de alguém da Toyota explicando como introduzir o Sistema Toyota de Produção. “Comece analisando o trabalho a ser feito”. Isso significava listar todas as ações exigidas para criar o valor em um dado processo e, então, dividir essas ações em três categorias: • Trabalho criador de valor: atividades que adicionam valor diretamente ao produto, sendo determinadas pelo cliente. (Exemplos de fabricação são: a pintura do produto ou a adição de peças durante a montagem). Um teste simples é perguntar para os clientes se, apesar do produto funcionar corretamente, eles se importariam se uma dada atividade não fosse realizada. Caso se importem, a atividade agrega valor. Por exemplo, quase todos os clientes esperam que seus produtos sejam pintados com todas as peças montadas; assim, estas atividades criam valor. • Trabalho incidental: atividades que são necessárias para criar um produto, mas que não têm nenhum valor do ponto de vista do cliente. Os exemplos incluem a movimentação de materiais, dispositivos de trava, para manter o trabalho, e o retorno de cartões kanban. Nenhum cliente pagou por um produto ou ofereceu pagar mais porque todos os cartões kanban foram retornados ao ponto de programação! • Desperdício: atividades que não criam valor e podem ser totalmente eliminadas. Por exemplo, o retrabalho, armazenagem de itens entre etapas de trabalho e a busca por materiais faltantes. Nenhum cliente em qualquer lugar quer pagar por essas atividades e não há nenhuma necessidade de realizá-las se os princípios lean forem aplicados corretamente. Categorizar as etapas existentes é uma boa maneira de começar a pensar lean, e isso é muito fácil em um ambiente de fábrica ao desenhar o mapa do fluxo de valor. Mas quando os pensadores lean avançam para além da fábrica, como tantos estão fazendo hoje, é comum ocorrer confusões sobre a natureza do trabalho. Especialmente em qualquer ambiente de escritório e de saúde, manutenção, inspeção, varejo e outros ambientes de operação que não envolvem fábricas, muitos funcionários e gerentes me dizem que estão fazendo “Trabalho Criativo.” Afirmam que o resultado de cada etapa é imprevisível, que pode ser necessário alterar etapas para cada novo produto e esse trabalho não pode ser planejado claramente. Assim, não podem definir de modo fácil as etapas necessárias para se atingir um dado resultado. De suas perspectivas, a maioria das etapas atuais criam valor, não é um trabalho incidental e muito menos desperdício. Porém, quando observo seus trabalhos geralmente enxergo algo muito diferente. Poucas situações realmente exigem mudanças criativas no meio do processo — por exemplo, o paciente que tem um ataque cardíaco durante uma apendicectomia. Mas a maioria do trabalho fora da fábrica é realmente transacional. Isto é, as mesmas etapas precisam ser executadas da mesma maneira todas as vezes para se obter bons resultados. E a maioria das atividades se encaixam em famílias de produtos que devem ser executadas repetidamente: a apendicectomia padrão, o fechamento mensal dos livros, a manutenção de um 747. O trabalho parece ser “criativo”, pois as famílias de produtos não estão claramente identificadas, nenhuma das etapas está definida e muitos processos suporte necessários para executar com sucesso cada etapa estão faltando. Por exemplo, quando os instrumentos ou os medicamentos necessários em um procedimento médico estão faltando, o doutor, a enfermeira ou o técnico fazem de tudo para encontrá-los. O que parece ser aos funcionários uma grande parte do trabalho agregador de valor com um pouco de trabalho incidental, parece ser, a mim, uma pequena quantidade de trabalho agregador de valor, um pouco de trabalho incidental e uma enorme quantidade de desperdício. Mas este não é todo o desperdício que vejo. Olhando um nível atrás do ponto do trabalho primário, vejo exércitos de gerentes que tentam loucamente solucionar problemas que travam os processos. Muitas de suas “saídas” são certamente “criativas”. Mas o cliente quer pagar pelas intervenções da gerência (isto é, pelo retrabalho) nos processos que não exigiriam nenhuma intervenção se projetados corretamente? Certamente, estes são todos exemplos de criatividade que não se faz necessária, e é uma pena que poucos funcionários e gerentes percebam que, em muitos casos, a criatividade e o retrabalho são a mesma coisa. Por favor, não entenda mal: há um real trabalho criativo a ser feito dia a dia. Por exemplo, encontrando uma nova maneira engenhosa de projetar um produto. Mas esta é uma fração muito pequena do trabalho total, e a maioria do que é denominado “trabalho criativo” é realmente puro desperdício. Contrariamente, o ato realmente criativo que todos devemos realizar como funcionários e gerentes é repensar os processos que efetuamos e gerenciamos, para que as famílias de produtos sejam identificadas, cada etapa seja precisamente especificada e padronizada, o desperdício seja eliminado e o trabalho incidental reduzido. Mas até aqui temos que usar o processo padronizado de mapeamento do fluxo de valor com a análise A3. Este é o papel real para a criatividade no trabalho.10 de maio de 2005 Respeito às Pessoas Suponha que você e eu queremos liberar as energias criativas e de melhoria dos processos das pessoas que estão em contato com cada processo de sua organização. Isto é, queremos engajar todos os membros de nossa empresa na melhoria contínua. Como podemos fazer isto? Esta é uma questão profundamente humana que nos exige repensar o que realmente significa ter respeito pelas pessoas. Durante anos tenho visitado empresas que têm como elemento principal de sua filosofia corporativa o “respeito às pessoas”. Então, em muitas destas empresas, fiz uma pergunta simples. “Como vocês demonstram esse respeito?”. Normalmente, eles respondiam que os funcionários deveriam ser tratados de forma justa, informados claramente sobre as metas, confiados para alcançá-las da melhor forma possível e mantidos responsáveis pelos resultados. Por exemplo, “Nós contratamos pessoas inteligentes, damos a elas liberdade de como trabalhar, porque acreditamos nelas e as mantemos para atingir indicadores de desempenho. Isso é demonstrar respeito”. Recentemente, a Toyota transformou o “respeito às pessoas” em um dos pilares do Modelo Toyota (sendo o outro, a melhoria contínua). Então, decidi que deveria perguntar aos melhores gerentes da Toyota que conheço como eles faziam para demonstrar respeito às pessoas. A resposta que obtive foi um pouco diferente do que eu escutara em outras empresas. Foi a seguinte: Os gerentes iniciam perguntando ao funcionário quais são os problemas que ele tem ao realizar suas tarefas atuais. Em seguida, ele coloca em questão a resposta do funcionário e entram em uma discussão sobre qual é o problema de verdade (dificilmente, o problema verdadeiro está explícito). Então, o gerente pergunta o que está causando o problema e começam outra discussão sobre a causa raiz. (Uma discussão real exige que o funcionário recolha evidências no gemba para uma avaliação em conjunto). Em seguida, o gerente questiona o que deve ser feito para resolver o problema e pergunta ao funcionário por que escolheu determinada contramedida em vez de outra. (Geralmente precisa-se considerar uma série de contramedidas e deve-se buscar mais evidências). E ainda, eles perguntam como eles — gerente e funcionário — saberão se a contramedida foi alcançada e mais uma vez se engajam na conversa para determinar o melhor indicador. Finalmente, após entrarem em um consenso sobre o indicador de sucesso mais apropriado, o funcionário se prepara para implementar a contramedida. Para muitos de nós, isso não se parece muito com respeito às pessoas. Depois de tudo, o gerente não fala “Eu acredito que você resolverá o problema porque eu respeito você. Faça do seu jeito e alcance o objetivo”. E o gerente não é um “motivador” moral que diz sempre “Bom trabalho!”, mesmo quando o problema não foi completamente resolvido. Em vez disso, o gerente desafia o funcionário em todas as etapas do processo, sempre pedindo mais ideias, mais fatos e mais discussões quando o funcionário apenas quer implementar a solução escolhida. Com o passar do tempo, acabei percebendo que se engajar neste processo de solução de problemas é realmente a forma mais nobre de demonstrar respeito. O gerente está dizendo ao funcionário que a gerência não pode resolver o problema sozinha, pois a gerência não está próxima do problema o suficiente para conhecer os fatos reais. A gerência respeita de verdade o conhecimento do funcionário e a dedicação dele na busca pela melhor solução. Entretanto, o funcionário também não pode resolver o problema sozinho, porque geralmente ele está muito próximo do problema para poder enxergar o contexto e pode não fazer perguntas consistentes sobre seu próprio trabalho. Somente por meio da demonstração de respeito mútuo — um pelo outro e pela função do outro — é possível resolver os problemas, tornando o trabalho mais satisfatório e levando o desempenho organizacional a um nível mais alto. Recentemente, visitei dois centros de distribuição em uma mesma cidade, que forneciam o mesmo tipo de serviço para seus clientes. Conforme caminhava, acabei descobrindo exemplos claros da diferença que faz demonstrar respeito mútuo às pessoas. Na primeira empresa, a gerência estava focada no controle da mão de obra por meio de parâmetros individuais. Aos funcionários, era definida uma certa quantidade de trabalho a ser feito, mas eles também recebiam uma liberdade considerável sobre como fazê-lo. Eles eram avaliados ao final do dia, da semana, do mês e do trimestre se haviam sido capazes de alcançar os resultados desejados, utilizando, para isso, dados coletados por um sistema de rastreamento computadorizado. Gerentes da linha de frente estavam sempre empenhados em enfrentar os problemas que ocorriam ao redor deles, mas nenhum estava sistematicamente empenhado em realmente resolver esses problemas a fundo, até a causa raiz, com a colaboração dos funcionários. Isso era uma tarefa para a alta-gerência e a equipe de especialistas conforme o tempo permitia, geralmente sem o envolvimento do pessoal da produção. Na segunda empresa, a gerência trabalhava com os funcionários para criar o trabalho padronizado para todas as tarefas e introduziu o controle visual por meio de quadros de acompanhamento, de modo que todos poderiam ver como os outros estavam procedendo com seus trabalhos. Devido ao fato de que todo o processo estava visível a todos, os funcionários podiam ajudar uns aos outros, caso algum problema aparecesse. E como o processo de trabalho era muito estável, devido à forte aderência do trabalho padronizado, os gerentes das linhas podiam dedicar a maior parte de sua energia na solução de problemas e na melhoria, engajando o pessoal da produção em discussões para encontrarem as causas raízes e implementarem contramedidas sustentáveis. Na verdade, todos passavam quatro horas toda semana em atividades de implementação de melhorias. Qual é o resultado? Ambas empresas estão na mesma cidade, possuem funcionários com o mesmo nível educacional e pagam aproximadamente o mesmo salário. Contudo, a rotatividade anual de pessoal na primeira empresa é de 70% (o que parece ser comum em centros de distribuição), além de haver, também, uma significativa rotatividade na gerência. Enquanto isso, na segunda, a rotatividade é de aproximadamente 1% e praticamente nenhum gerente deixa seu cargo. Quando perguntei aos gerentes e funcionários no segundo centro por que isso acontece, a resposta foi simples: “O trabalho aqui é desafiador, porque estamos sempre resolvendo problemas, utilizando um método que todos nós conhecemos. E todos nós respeitamos a contribuição um do outro mutuamente”. As diferenças não param por aí: em minha estimativa aproximada, o segundo centro tem o dobro de produtividade em relação ao primeiro, mesmo com menos automação. Isso em parte acontece porque o primeiro está constantemente contratando e treinando novos funcionários, enquanto que o segundo praticamente não gasta tempo com essas tarefas. Além disso, todos os funcionários na segunda instalação são experientes e trabalham no topo de suas curvas de aprendizagem. Grandes confusões sobre qual a próxima tarefa a ser executada e a grande quantidade de retrabalho foram eliminadas. Finalmente, no segundo centro, a qualidade do serviço segundo os clientes é muito alta, mesmo tendo pouco retrabalho interno. E a quantidade total de estoque para garantir o serviço que ambas prometem a seus clientes no dia seguinte também é bem menor no segundo centro. Acredito que você possa adivinhar qual é o centro de distribuição de peças da Toyota e qual faz parte de uma empresa de distribuição empurrada (como a maioria) da era da produção em massa, com métodos de gestão baseados em comando e controle e pouca discussão sobre como os funcionáriospodem trabalhar da melhor maneira possível. Eu também acredito que todos nós queremos demonstrar respeito às pessoas. O desafio para todos nós da Comunidade Lean é adotar e explicar a verdadeira natureza do respeito mútuo às pessoas — gerentes e funcionários — para que todas as organizações possam caminhar para um novo e melhor método de resolver seus problemas. Esse é o verdadeiro caminho para aproveitar e incentivar, também, a criatividade do funcionário. 20 de dezembro de 2007 Com uma perspectiva lean sobre o propósito, o processo e as pessoas em mente, o que nos resta é colocá-los juntos em uma combinação criativa. Essa tarefa intimidadora é o papel do gerente lean e da gestão lean, o tópico da próxima seção. GESTÃO Nos últimos anos, estive, cada vez mais, pensando e escrevendo sobre gestão, cujo significado para mim é a atividade rotineira de alinhamento de pessoas e processos com o propósito do cliente. E tenho dado especial atenção à profunda diferença entre a gestão moderna, ensinada em escolas de negócio ou aprendida por meio da observação dos chefes tradicionais em empresas tradicionais, e a gestão lean, aprendida por meio da experiência no gemba sob orientação contínua de um gerente sênior lean mais experiente. A gestão é um tema vasto com muitas dimensões, por esse motivo o tenho abordado de vários ângulos: o uso correto das ferramentas lean pelos gerentes lean. O desafio da execução por meio do desdobramento da estratégia. O potencial infinito do pensamento A3. A diferença entre autoridade (cujo significado todos pensam entender) e responsabilidade (cujo significado quase ninguém conhece). A confusão frequente entre as diferentes funções da gerência e das áreas suporte para sustentar uma empresa lean. Cada artigo desta seção apresenta uma perspectiva diferente, e espero que, juntos, eles esclareçam o foco deste tema. Espero também que eles proporcionem perspectivas sobre como os gerentes lean pensam e se comportam. Começo com um panorama das diferenças entre simplesmente implementar as ferramentas lean e verdadeiramente praticar a gestão lean. Das Ferramentas Lean à Gestão Lean Estive pensando sobre o desafio da transformação lean desde que comecei a estudar a Honda e a Toyota, como parte do projeto automotivo global do MIT em 1979. Foi há muito tempo, e durante este período, assisti ao progresso da mentalidade enxuta por meio de uma série de estágios. Nos primeiros anos, a maior parte do foco era na identificação do que era específico em uma cultura. Poderia alguém fora do Japão adotar a filosofia lean? Poderia alguém fora da Toyota, da Honda e da Mazda (que tinha copiado a própria Toyota após a crise de 1973) e seus grupos de fornecedores? Além disso, havia extrema confusão sobre os elementos de um sistema lean de negócio. Isso estava apenas na fábrica? Ou era aplicável em qualquer aspecto da organização, inclusive no desenvolvimento de produtos e processos, gestão de fornecedores, suporte ao cliente e gestão geral? No livro A Máquina que Mudou o Mundo de 1990, Daniel Jones, Daniel Roos e eu argumentamos que o pensamento lean pode ser aplicado em qualquer lugar do mundo, mas que o poder total do sistema é apenas realizado quando aplicado a todos os elementos da empresa.4 Como esta visão foi aceita, o foco se voltou para como as organizações de qualquer lugar poderiam se transformar de produtores em massa para exemplos de lean. Dada a magnitude de múltiplas tarefas e suas dimensões, é compreensível que as ferramentas lean tornaram- se o primeiro plano: os 5S, a redução de set-up, os cinco porquês, o custo-alvo, a engenharia simultânea, os mapas do fluxo de valor, kanban e kaizen. Na verdade, penso no período de 1990 até metade dos anos 2000 como a Era das Ferramentas do movimento lean. A atração das ferramentas é que elas podem ser empregadas em muitos pontos dentro de uma organização, geralmente por equipes de melhoria ou consultores externos. Ainda melhor, elas podem ser implementadas isoladamente sem enfrentar a difícil tarefa de mudar a organização e suas abordagens fundamentais para gestão. Eu normalmente digo que os gerentes tentarão alguma coisa fácil que não funciona antes de tentarem algo difícil que realmente funcione, e isso pode ser considerado o resumo fiel de como aconteceu a Era das Ferramentas. Em 15 anos, todos nós aprendemos sobre muitas das ferramentas lean. Também aprendemos como implementá-las e obtivemos sucesso. Mas dificilmente criamos uma multidão de empresas lean. Por outro lado, a abordagem dominante anterior da produção em massa para a gestão — aperfeiçoada por Alfred Sloan da General Motors nos anos 20, baseando-se no avanço anterior da Ford na produção em fluxo — foi amplamente copiada com êxito em um curto período de tempo após a demonstração de sua superioridade. Felizmente, o movimento lean está enfrentando as questões fundamentais da gestão lean. Recentemente, tive inúmeras conversas em diversos países — Estados Unidos, Alemanha, China — com gerentes seniores que entenderam a necessidade de pensar mais sobre a gestão lean antes de pensar mais sobre as ferramentas lean. O que entendo por “gestão lean”? Deixe-me começar com observações gerais sobre organização e gestão: • Todo o valor criado em qualquer organização é resultado de uma sequência prolongada de etapas — um fluxo de valor. Essas etapas devem ser conduzidas apropriadamente na sequência certa e no tempo certo. • Entregar o valor certo para o cliente no tempo certo com o custo certo para a organização é a chave da sobrevivência e da prosperidade. • O fluxo de valor para o cliente é horizontal em toda a organização. • Todas as empresas são organizadas verticalmente por departamentos (engenharia, compras, produção, vendas etc.). E assim sempre será, pois essa é a melhor forma de criar e armazenar conhecimento e o modo mais prático de encarreiramento. Ademais, o valor quase sempre flui em direção ao cliente final por meio de muitas organizações independentes, cada qual organizada verticalmente e cada uma agindo verticalmente como um todo, para sustentar seus próprios interesses. • Alguém precisa enxergar, gerenciar e melhorar o processo todo da criação de valor horizontal em favor do cliente, do conceito até o lançamento, do pedido, passando pela produção até a entrega e da entrega, passando pelo ciclo de uso do produto. • Em muitas organizações ninguém é realmente responsável pelo fluxo de valor horizontal por família de produtos, apesar do que os gerentes seniores possam pensar. O fluxo de valor do produto é um órfão organizacional. • Na maioria das organizações, os gerentes de todos os níveis estão sendo classificados por fazerem seus números específicos dos departamentos. Essas são as métricas — geralmente financeiras — estabelecida por gerentes de alto nível enquanto tentam utilizar os recursos plenamente e “controlar” a organização. Cada organização independente envolvida no produto — fornecedor, fabricante, distribuidor, varejista etc. — tem sua própria métrica. • Melhorias nos fluxos de valor são gerenciadas pelos especialistas (ou consultores) que geralmente não enxergam o fluxo de valor todo, as necessidades mais urgentes dos clientes e as necessidades mais urgentes do negócio da organização. Eles usam as ferramentas com as quais se sentem mais confortáveis para resolver os problemas que parecem ser os mais fáceis. Como pode a “gestão lean” nos ajudar a fazer melhor? Aqui estão três elementos simples da gestão lean que merecem ser experimentados: 1. Tenha certeza de que todo fluxo de valor tem um responsável — um gerente do fluxo de valor — para supervisionar ele todo e continuamente melhorar cada aspecto dos processos sob a luz das necessidades dos clientes e do negócio. A questão quedeve ser feita por esse gerente do fluxo de valor é, “Como posso fazer os clientes felizes e ao mesmo tempo prover lucro, engajando todas as energias do nosso pessoal (incluindo nossos fornecedores fluxo acima e distribuidores fluxo abaixo) para melhorar este fluxo de valor?” Note que o gerente do fluxo de valor não precisa de uma grande equipe ou de autoridade sobre os funcionários engajados no fluxo de valor. Em vez disso, ele precisa negociar com os líderes departamentais sobre as necessidades dos produtos e resolver quaisquer diferenças apelando para a maioria dos gerentes seniores. Da mesma forma, nenhum funcionário deveria ter mais que um chefe. Um bom sistema de gestão do fluxo de valor dá a todos os funcionários de nível mais baixo um chefe em seu departamento, o qual tenha conversado com o gerente do fluxo de valor, a fim de determinar o que aquele departamento precisa para apoiar o fluxo. Isso evita matrizes complexas nas quais os funcionários tem dois (ou mais) chefes. 2. Em vez de desenvolver métricas complexas, pergunte aos gerentes dos fluxos de valor como eles irão melhorar o processo de criação de valor que eles estão supervisionando. Se os gerentes focam em seus processos, as métricas de desempenho sairão certas; mas se os gerentes focarem em seus números, o processo provavelmente nunca será melhorado. E observe que a maioria das métricas nada mais são do que a inspeção de qualidade no fim da linha: no final do trimestre ou no final do ano, todos olham para ver o que aconteceu em um ponto muito tempo depois dos erros serem cometidos. 3. Ensine todos os gerentes a fazer perguntas sobre seus fluxos de valor (em vez de dar respostas e ordens de níveis superiores). Transforme essas questões em experimentos, usando o método científico por meio do PDCA. Apenas a gestão pela ciência através da experimentação constante para responder as questões podem produzir melhorias sustentáveis nos fluxos de valor. O A3 (que será discutido no artigo São necessários 2 (ou mais) para um A3, na página 87) é uma ferramenta maravilhosa para essa finalidade. Por favor, entenda: as ferramentas lean são excelentes. Todos nós precisamos dominá-las e desdobrá-las e nossos esforços durante 15 anos para fazer isso não foram desperdiçados. Mas, assim como um carpinteiro precisa ter uma visão do que construir para entender todos os benefícios de um martelo, nós precisamos de uma visão clara de nossos objetivos organizacionais e melhores métodos de gestão — na verdade, de gestão lean — antes de usarmos nossas ferramentas. 11 de novembro de 2006 É muito bom falar sobre o conceito da gestão lean, mas o que os gerentes lean deveriam realmente fazer todos os dias? Uma tarefa essencial é desdobrar novas iniciativas que indiquem o propósito do cliente e da organização. Como fazer essa tarefa com êxito será o tópico do próximo artigo. O que Aprendi sobre Planejamento e Execução Na época em que fundei o Lean Enterprise Institute em 1997, vinha pensando durante anos sobre como as organizações priorizam e planejam. E dei uma boa lida na literatura do desdobramento da estratégia que emergia do Japão desde os anos 70. Então, pensei que seria fácil desenvolver e implementar tanto um plano de longo prazo como um plano de um ano. Pedi a meu amigo Pat Lancaster (o então presidente da Lantech e o tema do capítulo seis do livro A Mentalidade Enxuta nas Empresas, de minha autoria junto a Dan Jones)5 para vir a Boston para nos ajudar como um facilitador. Nossa equipe toda começou a jornada com muita energia e, dois dias depois, após uma discussão muito franca, tínhamos o nosso plano. Entramos em um consenso sobre nossa direção organizacional (nossa Estrela do Norte), selecionamos nossas maiores prioridades para os próximos anos, estabelecemos objetivos e definimos iniciativas específicas para alcançá-los. Vencemos a guerra contra o caos e a indecisão! Mas havia um problema: logo descobrimos que não tínhamos nenhuma maneira prática de implementar o plano. Especificamente, não tínhamos uma forma efetiva de atribuir responsabilidades para nossas iniciativas, as quais perpassam toda a organização. Não tínhamos nenhuma maneira exequível de medir nosso progresso. E não tínhamos nenhuma forma de determinar o porquê não alcançávamos sempre os resultados que esperávamos de nossas iniciativas e o que fazer com o que ainda faltava para implementação. Em suma, conduzimos um belo exercício de dois dias com a ajuda de um brilhante facilitador e produzimos um grande plano. Mas isso não trouxe nenhum benefício para nossa organização. Calmamente, logo abandonamos toda a abordagem e a substituímos por um simples processo de orçamento anual. Felizmente, esse simples processo foi suficiente para o LEI prosperar como uma pequena organização durante a década seguinte. Entretanto, continuei refletindo sobre por que fomos tão bons em escolher as coisas certas a se fazer (e criar nosso orçamento anual), mas fomos muito menos práticos em fazer as coisas certas. Na linguagem do PDCA, introduzido por W. Edwards Deming, fomos bons no P mas dificultamos o DCA. No ano passado, crescemos muito e o LEI se tornou uma organização muito mais complexa. De repente, nosso processo simples de orçamento não era mais adequado e, portanto, fui obrigado a rever a questão da priorização e do planejamento. Enquanto isso, em nossas atividades de pesquisa, fui assistindo a muitas organizações se esforçarem enquanto tentavam — como nós tentamos — introduzir um sistema de planejamento complexo originado de textos padrões japoneses de hoshin kanri. Fiquei satisfeito, porém, quando o ex- colaborador da Toyota, Pascal Dennis, trouxe uma sugestão de que o desdobramento da estratégia pode ser feito de um modo muito mais simples e efetivo. Durante o ano passado, enquanto eu revisava o trabalho de Pascal e tentava implementá-lo na gestão do LEI, obtive algumas percepções reais sobre como fazer o desdobramento da estratégia apropriadamente. Deixe-me compartilhá-las brevemente: • A parte P (plan - planejar) é simples. Mas é muito importante que, assim que começar, você obtenha um consenso de onde sua organização realmente está — seu estado atual. Isso significa desenvolver medidas simples e visuais do desempenho atual, que todos podem enxergar e que todos concordem. Caso contrário, o plano é ilusório. • A parte D (do - fazer) será bem-sucedida se o plano contar uma história simples e persuasiva e cada elemento do plano for facilmente compreensível por qualquer um. O método A3 da Toyota de descrever, em uma simples folha de papel, a questão para a qual cada elemento do plano está se dirigindo — e a forma que a organização resolverá isso — tem um poder surpreendente uma vez que todos aprendem a ler um A3. (Estou me surpreendendo com o que a análise A3 tem feito para nossa gestão do fluxo de valor no LEI e o que ela tem feito para desenvolver minha habilidade de comunicar a todos a direção do LEI). • A parte C (check - verificar) do plano é crítica e é quase universalmente ignorada. Ainda que não haja nenhuma questão ao desdobrar um plano, ao menos há um método padronizado para medir os resultados e o comprometimento da gerência sênior em alcançar o objetivo. • A parte A (act/adjust - agir/adaptar) é igualmente importante, mas exige resolução efetiva do problema para entender por que o plano não está alcançando os resultados desejados (como mostrado na parte C). Mesmo as organizações que checam seu progresso são geralmente muito fracas no quesito adaptação. Ainda que nenhum plano produza exatamente os resultados esperados, a adaptação é inevitável e contínua. • Todo elemento do plano precisa de um gerente de desdobramento que consiga olhar através das funções, enxergar o todo e ter responsabilidade pelos bons resultados.Como o engenheiro-chefe da Toyota. E a boa notícia é que designar um gerente de desdobramento para cada elemento do plano não exige nenhuma adaptação no projeto da organização. O desdobramento é uma simples tarefa adicional para designar gerentes seniores, a qual se tornará muito mais fácil conforme se ganha experiência ao longo dos anos. • Algumas organizações podem desdobrar os elementos do plano para o fluxo de valor de cada família de produtos, como fizemos no LEI. Porém, muitas organizações — mais do que tenho percebido recentemente — têm processos compartilhados (por exemplo, manutenção de equipamentos, suprimento de materiais, gestão de fornecedores) que carecem de estabilidade básica. Eles poderiam se aprimorar, começando com os temas de toda a organização, tais como qualidade, entrega e custos, a fim de criar estabilidade antes de mudar para uma abordagem do fluxo de valor. • Talvez o mais importante: é tudo sobre pessoas. Recentemente, tenho refletido no conceito de qualidade da Toyota, o jidoka, muitas vezes descrito como “autonomação com um toque humano”. Isso significa que os funcionários estão ativamente engajados em todos os níveis para assegurar que a tecnologia do processo — não importa quão sofisticada seja — funcione apropriadamente com um treinamento certo e suporte para os funcionários produzirem um bom resultado todo o tempo. Ocorreu-me que o desdobramento da estratégia, como deveria ser praticado, é similar. Não é um exercício com uma lógica fria, feito uma vez e esquecido. Pelo contrário, é um “hoshin kanri com um toque humano”, no qual todos na organização se tornam cientistas, participando de experimentos contínuos com cada elemento do plano por meio do PDCA. 14 de dezembro de 2006 Leitura adicional: Pascal Dennis, Fazendo Acontecer a Coisa Certa. São Paulo: Lean Institute Brasil, 2007. São Necessários 2 (ou mais) para um A3 Após a publicação do livro de Pascal Dennis sobre o desdobramento da estratégia, conscientizei-me de que o grande desafio da gestão é implementar com êxito algumas iniciativas importantes necessárias para mudar fundamentalmente o desempenho da organização. Isso, é claro, é uma das utilidades do A3, e logo estávamos trabalhando em um livro do LEI que explica como utilizar um A3. Não era apenas uma ferramenta, mas um método central da gestão lean. Acabamos de lançar o novo livro de John Shook, Gerenciando para o Aprendizado6, e estou extremamente entusiasmado. Acredito ser o trabalho mais importante que já publicamos no LEI. Isso porque John explica claramente por que o pensamento A3 é o centro do sistema da gestão lean e mostra como a ação repetitiva de criar A3 também cria gerentes lean. Mas estou tão preocupado quanto entusiasmado. Onze anos atrás, quando lançamos o manual de John e Mike Rother Aprendendo a Enxergar, esperava que os leitores usassem a maravilhosa ferramenta do mapeamento do fluxo de valor (VSM) para engajar todos os envolvidos nos fluxos de valor em uma discussão. Esperava que eles começassem com o problema do negócio, com o mapa do estado atual como uma atividade em equipe e com a definição do estado futuro, capaz de lidar com o problema enquanto engaja os melhores esforços de todos. Em vez disso, o que geralmente acontecia era que mapas do fluxo de valor eram atribuídos para os funcionários em escritórios de melhoria. Eles desenhavam mapas dos estados atual e futuro, frequentemente sem uma definição clara do problema do negócio e apenas com uma interação passageira entre os envolvidos no fluxo de valor. Então, eles assumiram que a gestão da linha adotaria o estado futuro proposto e o tornaria realidade. Geralmente nada acontecia. Ou, se qualquer coisa acontecesse, não se conseguia manter. Desta forma, o VSM se tornou um papel de parede corporativo. Então, quando todos adotarmos o A3 — e detectei um grande aumento de interesse na Comunidade Lean —, vamos ter cuidado para não cometermos o mesmo erro. Pelo contrário, vamos fazer do A3 a base da gestão lean. Para tal, temos que entender que ninguém pode criar um A3 útil sozinho. São necessários ao menos dois indivíduos e geralmente mais do que isso. Desenvolver um A3 é um drama organizacional no qual alguém identifica uma condição ou problema que necessita de atenção. Quando essa pessoa está em um nível superior, ela pode assumir uma função mentora, atribuindo a responsabilidade pela criação do A3 para alguém em um nível inferior — o autor — que esteja próximo ao gemba onde o valor é realmente criado. No entanto, o autor do A3 — em qualquer nível que esteja na organização — não pode lidar com a condição ou resolver o problema sozinho. Ele deve ir ao gemba e falar diretamente com todos os envolvidos no problema, levando em conta que a maioria dos problemas em uma organização é resultado de uma definição pobre ou de um processo malgerido compartilhado por áreas, departamentos e funções diferentes (geralmente incluindo os clientes e os fornecedores). Enquanto o autor prossegue com a análise A3, um diálogo intenso se segue entre o mentor e o autor, o qual logo inclui todos os envolvidos no difícil processo. Esse diálogo, aos poucos, esclarece o problema, sua causa raiz, a distância até as possíveis contramedidas, a contramedida aparentemente melhor, os passos que precisam ser dados (o “quem, o que, quando, onde”) para implementar esta melhor contramedida, a verificação apropriada dos resultados e a reflexão necessária nas próximas etapas (o que geralmente leva a um outro A3). A verdadeira mágica aqui é que o autor tem a responsabilidade de lidar com o problema — geralmente percorrendo a organização horizontalmente —, por meio de um diálogo intenso com indivíduos das áreas do negócio, onde ele não tem autoridade. Durante o processo A3, o autor realmente produz a autoridade para implementar as contramedidas. Entretanto, esse tipo de autoridade não é uma questão de controle delineado em um organograma. As pessoas de áreas diferentes com chefes diferentes participam com entusiasmo na implementação da contramedida, pois eles têm participado ativamente no diálogo que desenvolveu o que acreditam ser a melhor contramedida para um importante problema. O benefício adicional de um ciclo de A3 completo é que ele desenvolve o autor para torná- lo um gerente de nível maior. É por isso que John usa os termos dinâmicos “mentor” e “autor” no Gerenciando para o Aprendizado, em vez dos termos estáticos “chefe” e “responsável direto”. Ao mesmo tempo, dominar a habilidade do A3 prepara os envolvidos no processo em um nível inferior da organização para se tornarem gerentes lean. Isso ocorre quando lhes são atribuídas responsabilidades por seus próprios A3. Ou, ainda melhor, isso ocorre quando eles assumem espontaneamente a iniciativa de identificar oportunidades de melhoria, desenvolvendo A3 para a avaliação de seus mentores. Ao lançar o Gerenciando para o Aprendizado, espero que todos os membros da Comunidade Lean rapidamente consigam dominar as habilidades essenciais da gestão A3. Mas, por favor, não tente fazer um A3 sozinho! 7 de outubro de 2008 Leitura adicional: John Shook, Gerenciando para o Aprendizado. São Paulo: Lean Institute Brasil, 2008. O Problema da Sustentabilidade O desdobramento é difícil, porém ele se torna fácil se todos os gerentes de uma organização dominarem o A3. Mas muitos leitores me disseram ao longo dos anos que sustentar os ganhos, uma vez que avanços iniciais foram feitos, também é difícil. Em resposta, andei pensando sobre o problema da sustentabilidade. Recentemente, recebi um telefonema de um velho amigo que liderou uma das primeiras tentativas de implementação lean na área da saúde em meados dos anos 90. Ele se voltou para outros desafios e não tivemos a chance de mantermos contato nosúltimos anos. Então, perguntei a ele o que aconteceu com a iniciativa lean na área da saúde na organização onde ele tinha sido gerente sênior. A resposta foi a que temia. “Criamos uma equipe me melhoria lean e conduzimos uma campanha abrangente de kaizen para os fluxos de valor essenciais da organização. E obtivemos resultados consideráveis. Fluxos de pacientes mais rápidos. Melhores resultados de pacientes. Custos menores. Mas não pudemos sustentar os ganhos. Os esforços de melhoria não estavam ligados ao modo como a organização era gerenciada, e os fluxos de valor começaram a regredir assim que a equipe de melhoria saiu. Depois, deixei a organização, todo o programa chegou ao fim. Que vergonha”. Meu amigo não está sozinho. Em nossa pesquisa anual da Comunidade Lean do LEI, um problema frequente que os pensadores lean notam sobre seus esforços de melhoria é “o retrocesso às antigas formas de se trabalhar” após o progresso inicial. E a questão mais frequentemente citada é “a resistência da média gerência” à mudança. Resumindo, o movimento lean tem um problema de sustentabilidade que precisamos enfrentar. O que está no coração do nosso problema de sustentabilidade? Mais importante, o que podemos fazer sobre isso? Acredito que a causa raiz da regressão na maioria das organizações hoje é a confusão sobre as prioridades em níveis diferentes da organização, devido à falha de transformar qualquer pessoa responsável pelo desempenho contínuo de fluxos de valor importantes, enquanto estes fluem horizontalmente por toda a empresa. Para prevenir a regressão, alguém — um gerente de fluxo de valor — precisa definir periodicamente as prioridades para cada fluxo e identificar a lacuna no desempenho entre o que o cliente precisa e o que o fluxo de valor está provendo. O gerente que assumir a responsabilidade precisa, então, engajar todos os envolvidos no fluxo de valor para capturar a condição atual (o “estado atual”) do fluxo de valor que está causando essa lacuna. O próximo passo é projetar um fluxo de valor melhor e determinar quem precisará fazer o que e quando para colocá- lo em prática. Finalmente, o gerente do fluxo de valor precisa determinar o que vai comprovar que a lacuna do desempenho foi eliminada e, então, vai coletar os dados para demonstrar isso. Esse é o exercício do ciclo PDCA do Dr. Deming, conduzido repetidamente pelo responsável, idealmente empregando a análise A3. Não estou propondo uma mudança dramática no organograma para redefinir a autoridade. Na verdade, dificilmente vejo uma organização que foi melhorada por uma “reorganização”. E não estou sugerindo a criação de uma organização matricial onde todos têm um chefe vertical e horizontal. Em vez disso, alguém com outra função na organização precisa assumir a função da gerência de periodicamente (e rapidamente) auditar o fluxo de valor horizontal e chamar a atenção de todos os envolvidos no fluxo para como a organização está se desempenhando ao longo do fluxo. Perceba que auditorias periódicas dentro de áreas pequenas (por exemplo, uma célula de trabalho em fluxo contínuo ou um processo de abastecimento de materiais) são um aspecto bem estabelecido das práticas lean que chamo de “gestão padrão”. Então, auditar os departamentos e funções para examinar fluxos de valor do começo ao fim é uma expansão de nossas melhores práticas atuais, e não algo totalmente novo. Auditar todos os fluxos de valor exporá os problemas com ele mesmo e as contradições nos objetivos organizacionais. De fato, isso apresentará muitos problemas e muitas contradições. E é essa exatamente a ideia. A maioria dos fluxos de valor hoje tem lacunas substanciais no desempenho, mas a magnitude dessas lacunas e as causas precisas são difíceis para qualquer um enxergar. (Por isso a confusão e a resistência de muitos médios gerentes. Eles estão fazendo bem em um, conjunto vertical de objetivos — utilização de recursos em seus departamentos, por exemplo — quando os métodos lean exigem outro, um conjunto horizontal). E resolver as causas raízes de desempenhos pobres exigirá alguém — e muito provavelmente todos — que estão em contato direto com o fluxo para mudar seus comportamentos. Acontece que o gerente responsável precisa se engajar em um diálogo com os líderes das funções e, se necessário, com a alta gerência para obter o consenso sobre quem deve fazer o que e quando, para conseguir dar um salto sustentável no desempenho que beneficiará o cliente e toda a organização. (Um dos “o quês” é repensar os indicadores contra os quais os médios gerentes resistentes à mudança estão sendo julgados). A pessoa responsável, então, deve periodicamente revisitar o fluxo de valor, não apenas para prevenir a regressão, mas para continuamente avançar a um nível de desempenho maior. Um problema especial enquanto enfrentamos essa questão é que não podemos simplesmente copiar a Toyota atualmente. Antigamente, a Toyota passou por muitas iterações de como resolver o problema da gestão do fluxo de valor por toda organização. Mas hoje, sua organização madura depende do hoshin kanri no nível macro e com uma estrutura de gerentes de linha auditando suas áreas no nível micro. Por não haver nenhuma confusão sobre os objetivos de cima para baixo e pelos gerentes terem sido ensinados desde o início de suas carreiras a como enxergar o fluxo de valor sob sua gestão, nenhum gerente de fluxo de valor precisa ser nomeado formalmente. Outras organizações — a sua e a minha, por exemplo! — são diferentes, além do que precisamos de experimentos com a gestão do fluxo de valor. Qualquer que seja a resposta final, todos na Comunidade Lean têm uma grande participação na solução do problema da sustentabilidade. Caso contrário, a onda de interesse atual em lean pode se tornar apenas outro episódio na longa história das campanhas de melhorias insustentáveis. 30 de maio de 2007 Como tenho pensado mais sobre a sustentabilidade, percebi que uma grande parte do problema é quem está fazendo o desdobramento e quem está fazendo a manutenção. Descobri que, em muitas organizações, os processos de melhoria e manutenção são terceirizados pela gestão de linha para assessores ou consultores. E me convenci de que essa é uma missão impossível. O que é necessário, pelo contrário, é repensar o que os gerentes de linha realmente fazem, um tópico tratado no próximo artigo. De Funcionários Conduzindo Programas a Gerentes de Linha Resolvendo Problemas Recentemente, visitei uma série de organizações avançadas em suas transformações lean. Perguntei aos líderes dessas iniciativas sobre seus métodos, suas experiências até então e suas trajetórias. Então, fiz uma caminhada por muitos de seus fluxos de valor para observar o desempenho e para conversar com os gerentes de linha sobre suas perspectivas em relação ao salto lean. Aqui está uma história típica: A organização A tem um ambicioso programa lean seis sigma para toda a empresa. Como parece ser cada vez mais comum, há uma consolidação dos programas lean e seis sigma, inicialmente separados, em uma atividade unificada, com participantes reportando-se ao vice-presidente para melhoria no processo e qualidade na matriz. O programa está sendo conduzido por uma grande equipe assistida por alguns consultores externos. Muito progresso foi feito com a conciliação das abordagens lean e seis sigma, adaptando o DMAIC (definição-medida-análise- melhoria-controle) como o método PDCA de solução de problemas da organização. (Geralmente sou questionado sobre qual é o método “correto” para usar: DMAIC ou PDCA, e geralmente digo “adote um, adapte-o conforme suas necessidades, tenha certeza de que todos o entendam e siga em frente. O método certo é aquele que produz consistentemente bons resultados na sua organização, e você será capaz de julgar por sipróprio ao longo do tempo”). A equipe ofereceu um treinamento introdutório sobre a mentalidade enxuta e a capabilidade do processo para um grande número de colaboradores e conduziu certificações lean e black-belt para um número substancial de gerentes de linha. Isso tem sido feito enquanto liderava-se um grande número de atividades de melhoria rápida (chamadas de kaizen), as quais envolviam tanto os gerentes de linha como os funcionários da linha de frente que faziam parte dos fluxos de valor. Foram conduzidas também análises seis sigma sobre questões de qualidade durante um período estendido por meio da coleta e análise de grande quantidade de dados. As melhorias individuais costumam ser muito impressionantes, particularmente quando medidas em termos financeiros, usando-se a metodologia seis sigma. Mas enquanto eu falava com os gerentes de linha, descobri que as melhorias não estavam ligadas do início ao fim com os processos principais que cruzam as áreas, departamentos e funções na organização. Talvez, como consequência, os resultados do negócio para a organização sejam muito menores do que a soma das conquistas individuais sugeriram. Isso me levou a uma observação que escuto sempre: “Como podemos economizar tanto dinheiro e melhorar tanto a qualidade nas etapas do processo individual, ainda que pouco apareça nos resultados financeiros, e os clientes não pareçam mais felizes?” Mesmo essas melhorias isoladas não são facilmente sustentadas, uma vez que o foco da equipe de melhoria muda para o próximo projeto. Os gerentes de linha compreendem os conceitos que já aprenderam, mas note que eles ainda estão apagando incêndios, devido aos problemas fluxo abaixo e fluxo acima nas áreas que eles gerenciam. Isso deixa pouco tempo para eles implementarem o trabalho padronizado, a fim de sustentar o que foi alcançado, e nenhum tempo para planejarem o próximo salto. Além disso, nenhuma das métricas corporativas sob as quais eles estão sendo julgados mudou, então, é fácil obter um desempenho ruim em uma métrica, apesar de notável melhoria no processo. Finalmente, muitos gerentes notaram que eles, logo, serão realocados de sua função — como parte da alta velocidade do avanço da gestão na organização — sem uma boa forma de passarem o que aprenderam sobre o processo para alguém que vai assumir essa responsabilidade. Quando visitei a Organização A, a equipe de lean seis sigma estava refletindo sobre essas conquistas há muitos anos e pediram meu ponto de vista sobre aonde o programa deveria ir nos próximos cinco anos. Acredito que eles esperavam que eu dissesse que eles precisavam acelerar os passos da melhoria, com mais treinamentos, mais eventos de melhoria e, provavelmente, uma equipe maior. Minha resposta foi um pouco diferente: “Você precisa transitar durante esses próximos cinco anos, partindo de um programa de melhoria dirigido por uma equipe de colaboradores em direção a uma nova forma de pensar e agir dos gerentes de linha. O trabalho principal dos gerentes de linha deve ser continuamente solucionar problemas nos processos primários e suporte, do início ao fim, pelos quais eles são responsáveis. Simplificando: você precisa transitar pelos colaboradores, conduzindo um programa a gerentes de linha diariamente resolvendo problemas importantes para a organização, frequentemente com a assistência técnica de sua equipe lean”. Assegurei a eles que uma mudança no foco não reduziria a importância da equipe lean. Em vez disso, criar-se-ia uma demanda para enfrentar problemas do processo mais tecnicamente interessantes, enquanto os gerentes de linha liderariam os problemas mais fáceis. E deveria ser criado também um papel para a equipe lean de aconselhar o projeto do processo da produção para cada novo produto. Essa é uma fraqueza crítica da organização atual que rotineiramente lança produtos com processos de produção malconcebidos, liderando a necessidade imediata de um kaizen. (Na verdade, existe uma palavra japonesa para essa práticas — touzen — cujo significado é ‘kaizen que não deveria ser necessário’). Infelizmente, não poderia ser tão claro sobre o que vejo como o maior desafio da equipe lean: eles precisam mostrar para a gerência sênior que os métodos da gestão da Organização A precisam ser completamente repensados. Todos os fluxos de valor importantes precisam ter um gerente completamente responsável que fique em sua função tempo suficiente para realmente entender o processo. E as medidas corporativas do desempenho da gestão precisam ser cuidadosamente repensadas para que os gerentes sejam consistentemente recompensados por fazerem a coisa certa para o processo estendido durante um período estendido. Pode parecer difícil a equipe de funcionários mostrar isso para a gerência sênior. Mas, pergunto-me, quem poderia fazer isso se esses membros da organização com amplo conhecimento sobre os processos e com o melhor entendimento do que está acontecendo hoje não podem? Então, eu os instiguei a tentar e prometi ajudar no que fosse possível por meio de minha escrita e minha fala. Antes de terminar, por favor, entenda que não estou criticando os “programas” lean, os quais Dan Jones e eu ajudamos a popularizar no livro A Mentalidade Enxuta nas Empresas. Eles são geralmente essenciais para chamar a atenção das pessoas, tirar as organizações da estagnação e rapidamente introduzir novas ideias enquanto claramente demonstram seu potencial. Mas isso nunca é suficiente. O que toda organização deve fazer em algum ponto é converter programas lean liderados por colaboradores para o desdobramento e resolução de problemas pelos gerentes de linha. E quanto mais rápido e mais completo uma organização faz essa transição, mais sucesso ela provavelmente terá. 17 de julho de 2008 A Mente do Gerente Lean Mesmo quando o conceito da gestão lean é completamente compreendido, infortúnios podem acontecer quando os supostos gerentes lean tentam aplicar mecanicamente as ferramentas de gestão lean, particularmente o desdobramento da estratégia e o A3. Essas ferramentas são companhias maravilhosas. Mas para transitar com êxito da gestão por resultados orientados verticalmente (gestão moderna) para gestão por processos horizontais (gestão lean), os gerentes necessitam também abraçar uma forma diferente de pensar. Há muitos anos, comecei a falar sobre a necessidade de irmos além das ferramentas lean — incluindo o poderoso conceito de mapeamento do fluxo de valor — rumo à gestão lean. Ao mesmo tempo, nós do LEI começamos a publicar uma série de volumes sobre as técnicas de gestão lean. Estes consistiam: do desdobramento da estratégia, para definir prioridades a partir do topo da empresa; da análise A3, para desdobrar novas iniciativas e solucionar problemas no meio da empresa; e do trabalho padronizado, com gestão padronizada e kaizen para criar estabilidade e sustentabilidade na base da empresa, onde o valor é de fato criado. Recentemente, estive caminhando por uma série de organizações para verificar como essas técnicas de gestão lean estão sendo utilizadas. Permita-me citar diversos casos ilustrativos: Em uma organização, encontrei uma matriz de desdobramento estratégico muito bem elaborada, implementada na sede e em suas plantas. Tratava- se do diagrama familiar em formato de X com os importantes objetivos do negócio no lado esquerdo, as iniciativas necessárias para atingir os objetivos no topo, os resultados específicos a serem atingidos no ano corrente no lado direito e as medidas de sucesso na parte inferior. Além disso, havia uma lista ao lado direito mostrando quem em qual parte da organização estava assumindo a responsabilidade por cada iniciativa e que partes da organização eram afetadas por cada iniciativa. Mas identifiquei pouquíssimo êxito ao atingir as metas. Opostamente, ofoco organizacional no final do ano fiscal (que chegou no momento de minha visita) estava em explicar por que o progresso não foi o que se previu e de quem era a culpa. Em uma segunda organização, descobri que o Diretor Operacional (COO) decretou que todos os problemas de agora em diante seriam enfrentados utilizando-se a análise A3, empregando o formato padrão de oito partes. Na reunião de revisão da qual participei, cada gerente compareceu com uma folha A3 totalmente preenchida para provar que estavam dominando seu trabalho. (Apesar do fato de que os problemas a serem enfrentados com os A3 só foram distribuídos na semana anterior. Com certeza não houve tempo para visitar o gemba, falar com os envolvidos no problema e buscar as causas raízes, muito menos encontrar a melhor contramedida). E, como essa organização estava migrando de uma tradição de décadas de preparação de extensos relatórios sobre cada problema (com páginas de documentação), as fontes dos textos do A3 eram minúsculas para conseguir caber todos os detalhes que teriam sido incluídos em um relatório tradicional. Quando eles eram projetados como apresentações em PowerPoint na reunião, o resultado era que ninguém na sala conseguia lê-los de fato. Mas cada gerente tinha feito seu trabalho. Na terceira organização, encontrei todos os elementos do trabalho padronizado — padrões de trabalho, tabelas de combinação de trabalho, listas de oportunidade de kaizen — claramente afixados nas áreas de trabalho, mas nenhum trabalho padronizado e nenhuma gestão de linha de frente padronizada. Alguns minutos de observação mostraram que o trabalho não estava sendo feito da forma como os padrões exigiam, que as atividades de kaizen não estavam baseadas em uma definição clara dos problemas e que os gerentes da linha de frente estavam vagamente conscientes da condição atual dos processos os quais estavam gerindo. Ainda assim, a gerência se esforçava para me mostrar o progresso que havia alcançado com sua técnica esplêndida de padronização como parte de seu novo sistema de gestão visual. Conforme analisava essas e outras organizações, percebi que essas novas técnicas de gestão lean se transformaram em mais ferramentas — neste caso, ferramentas de gestão lean. Elas estavam sendo seguidas como um ritual corporativo sem que se refletisse sobre seu propósito real. E como sempre ocorre na vida organizacional, os meios tornaram-se os fins. Não me surpreendia. As ferramentas — para análise de processos e gestão — são maravilhosas. E absolutamente necessárias. E os gerentes as amam, pois elas parecem oferecer atalhos para realizar um trabalho melhor. Mas elas não podem atingir os resultados potenciais, muitas vezes não conseguem atingir nenhum resultado sem gerentes com uma mente lean para utilizá-las. O que eu quis dizer com ‘mente lean’? Primeiro, o gerente lean assume ansiosamente o papel de solucionador de problemas. Isso significa ir ver a situação real, perguntar sobre o desempenho, buscar a causa raiz e demonstrar respeito pelos gerentes de níveis inferiores e pelos colegas do mesmo nível organizacional, fazendo perguntas difíceis até que boas respostas surjam. Esse estado crítico e investigativo da mente permite que as ferramentas lean sejam bem utilizadas. O gerente lean aplica a ferramenta certa ao problema, e faz isso no contexto do gemba, e não de forma abstrata numa sala de reunião. O ritual vazio é substituído por um processo conceitual rígido que engaja os funcionários e impulsiona suas melhores capacidades. Em segundo lugar, o gerente lean percebe que nenhum gerente de nível mais alto pode ou deve solucionar um problema de um nível mais baixo. (E um dos piores abusos das ferramentas lean está na tentativa de fazer isso.) Em vez disso, o gerente de nível mais alto pode atribuir a responsabilidade a um gerente de nível mais baixo para enfrentar o problema por meio de um diálogo contínuo, tanto verticalmente, com o gerente de nível superior, quanto horizontalmente, com todos que efetivamente estão em contato com o processo que está causando o problema. A regra lean da vida organizacional é que problemas só podem ser solucionados onde eles estão, em conversas com as pessoas que vivem com eles e cujas ações atuais estão contribuindo para o problema. Mas isso exige apoio, incentivo e, sim, uma pressão incansável do gerente lean de nível mais alto. Em terceiro lugar, o gerente lean acredita que todo o processo de solução de problemas significa a experimentação por meio do ciclo PDCA. Ninguém pode saber a resposta antes que experimentos sejam realizados, e os muitos experimentos fracassados vão gerar um aprendizado valioso, que pode ser aplicado na próxima rodada de experimentos. Finalmente, o gerente lean sabe que nenhum problema nunca é solucionado para sempre. De fato, a introdução de uma contramedida promissora certamente cria novos problemas em algum outro ponto da organização. Isso não é ruim. É bom, desde que a mente crítica e investigativa do gerente lean continue buscando a perfeição. Em resumo, o gerente tradicional é geralmente passivo, segue rituais e aplica soluções padrões para problemas únicos. Por outro lado, dentro da mente do gerente lean reside um desejo incansável de repensar continuamente os problemas da organização, investigar suas causas raízes e conduzir experimentos para encontrar as melhores contramedidas conhecidas atualmente. Quando essa mentalidade lean é combinada com as ferramentas lean adequadas, coisas extraordinárias são sempre possíveis. 30 de julho de 2009 Homicídio como Exemplo? Ao reler o artigo anterior, percebi que concordei com tudo que escrevi. Mas uma visita recente a um gemba me fez lembrar de mais um aspecto da mentalidade da gestão lean. Ir ao gemba é uma coisa maravilhosa para todo gerente fazer com frequência, mas um espírito de ‘poder-fazer’ para enfrentar cada problema agora pode carregar uma mensagem inesperada se não contiver o respeito às pessoas, que sempre vem em primeiro lugar. Meu colega do LEI Dave LaHote adora dizer que gerentes — e principalmente gerentes seniores — superestimam sua efetividade, particularmente quando buscam melhorar suas empresas por meio de iniciativas formais. E que subestimam o impacto (geralmente negativo) de suas ações diárias causadas aos funcionários. Recentemente, presenciei um exemplo impressionante quando visitava uma planta de fundição de metal de uma multinacional em um país em desenvolvimento, que tem sua sede em um país desenvolvido. (Espero que você entenda porque eu estou preocupado em não identificar lugares que visito, a menos que eu possa os elogiar. Tento demonstrar respeito aos meus anfitriões quando eles me permitem ser um convidado em seu gemba, e eu verdadeiramente quero que eles se aperfeiçoem. Humilhação pública e culpa nunca podem ser meios efetivos para este fim). A planta estava em uma indústria inerentemente perigosa. Então, fiquei surpreso e satisfeito ao ver uma exibição visual na entrada do chão de fábrica mostrando as causas de acidentes relatados do mês passado. Era muito detalhado e atualizado. Os gerentes seniores da planta que me acompanhavam afirmaram que isso verdadeiramente focava, na mente de todos, a segurança e era parte de um programa abrangente de alerta de segurança ordenado pela matriz para reduzir acidentes. Mas, então, eu fiz algumas contas. O gráfico mostrava que no mês passado 12% dos trabalhadores da planta tinham perdido alguns dias de trabalho por causa de acidentes! E o gráfico também indicou que isso era um mês típico. A matemática simples me mostrou que a média de tempo que um funcionário poderia esperar para ser ferido e se afastar do trabalho era uma vez a cada oito meses! Parecia haver uma lacuna enorme entre os objetivos dessa iniciativa segura e seus resultados,e eu me perguntava por que enquanto continuava minha caminhada pela fábrica. Enquanto isso, a planta estava tendo um problema sério de qualidade com seus equipamentos de fundição para veículos pesados. Então, um gerente sênior da matriz tinha acabado de chegar. Nossos caminhos se cruzaram na mesa vibratória, projetada para eliminar a areia restante da peça fundida, caindo por uma calha da operação de moldagem. Enquanto eu andava em direção a ele, o gerente sênior me explicava que, para solucionar um problema, era importante localizar sua fonte, que provavelmente era a mesa vibratória. E, de repente, esse homem muito grande reuniu, de forma surpreendente, força e agilidade para se pendurar em uma barra suspensa na mesa vibratória, enquanto ela operava e peças fundidas pesadas caiam pela calha, ao passo que ele se movia rapidamente em direção à mesa. A princípio, eu pensei que isso era uma loucura que ameaçava a vida do gerente sênior. Mas, depois, quando eu me virei para ver as expressões nos rostos dos funcionários, enquanto eles o observavam, eu percebi que era muito mais provável que ele estaria arriscando a vida dos funcionários no futuro. A mensagem oficial da gerência sênior da empresa era que os acidentes eram a prioridade principal para a gestão reduzir por meio de um abrangente programa de segurança. Mas as atitudes de um gerente sênior — bem-intencionado no sentido de que gerentes devem certamente ir à fonte do problema, em vez de discutir sobre eles em uma sala de reunião — enviaram uma mensagem muito mais poderosa: “Se você quiser progredir aqui, você precisa mergulhar e tomar atitude, sem levar em consideração os riscos”. Será que isso se tornará, eu me pergunto, um caso de homicídio como exemplo? Isso foi um único caso ostensivo, é claro, e principalmente perturbador para mim, porque eu tinha acabado de dirigir por uma favela remota, onde os trabalhadores da linha de frente moravam, com poucas chances de terem bons salários senão nesta planta. Mas percebi que vejo exemplos menos notáveis e perigosos em minhas viagens. Por exemplo, recentemente, tenho visto muitos casos de gerentes tentando “virar a página” por meio do desdobramento do hoshin kanri, pensamento A3 e trabalho padronizado (inclusive para os gerentes de linha), como parte de programas lean abrangentes. E a mão de obra geralmente responde muito positivamente. Mas, depois, algo dá errado na operação ou os gerentes recém-formados em lean ficam cansados depois de um longo dia. E o gerente moderno que existe em cada um de nós, surge para dar direções, prescrever uma solução, antes que haja qualquer acordo sobre o problema, ou recorrer às soluções sem documentação, que diminuem todos os esforços para impor padrões. (Eu poderia relatar mais do que alguns exemplos de nossa própria organização envolvendo esses líderes — eu — mas me pouparei dessa dor. Basta dizer que frequentemente sou culpado da acusação). Felizmente, às vezes, vejo exemplos contrários também. Poucas semanas atrás, passei um dia com um CEO, que chamarei de Bob, já que ele se esforçava para salientar seus esforços na gestão e melhorar o processo essencial de sua empresa por meio do A3. Ele estava indo contra toda uma vida de trabalho, dando ordens de seu escritório e gerenciando por resultados, e seus A3, na verdade, não estavam muito bons. Ele se esforçou principalmente para encontrar a causa raiz. E notei que os outros elementos das iniciativas lean de sua empresa estavam muito crus também, principalmente os esforços para alcançar a estabilidade básica em processos essenciais. Mas eu fiquei comovido pela obstinação de Bob, mesmo no final de um longo dia, quando muitas coisas tinham dado errado e ele era tentado a voltar às velhas práticas. E eu vi o efeito notável que ele estava tendo em seus relatos diretos, que saiam de seus escritórios e faziam perguntas que nunca tinham feito antes, enquanto se esforçava com seus A3 bem distantes da perfeição. O que eu estava vendo era o impacto poderoso de exemplos pessoais positivos em uma situação onde os elementos formais das iniciativas lean da empresa não pareciam ainda ser sofisticados ou efetivos. Eu sabia que em um ou dois anos, a organização de Bob estaria longe do caminho de uma empresa lean, enquanto a planta de fundição ainda teria um programa brilhante de segurança sem nada para oferecer. Então, recomendo a todos, e certamente me incluo, a fazer um pouco de hansei (autorreflexão crítica) em intervalos frequentes. Pergunte-se: a mensagem que eu e os outros líderes de minha organização estamos passando por meio de regras formais, programas, iniciativas e novas ferramentas de gestão, como o A3, é a mesma mensagem que estamos passando por meio de exemplos pessoais? E se não for, o que podemos fazer para tornar nossa caminhada coerente com nosso discurso? 13 de julho de 2010 Enquanto isso acontecia, a planta de fundição sofreu uma explosão após minha visita, que deixou muito mais colaboradores feridos. Aparentemente, o programa de segurança elaborado ainda estava falhando em aumentar a segurança, apesar da visão heroica da gestão. Mas ao menos a carnificina foi mostrada claramente no quadro da entrada da planta! Enquanto nos aproximamos do final desta seção de gestão, duas questões importantes permanecem. Uma é um foco mais claro no que os gerentes realmente fazem que cria valor. A outra é uma comparação dos sistema de gestão moderna, com a qual a maioria de nós crescemos, e a gestão lean, da qual precisaremos conforme avançamos. Apesar de eu ter pensado sobre essas questões durante anos, descobri, relendo os artigos que escrevi ao longo da última década, que eu nunca realmente enfrentei esses problemas. Então, preparei dois novos artigos para este volume, o primeiro diz respeito ao que os gerentes fazem para criar valor. O Trabalho da Gestão Ao olhar para um fluxo de valor, os pensadores lean têm o conveniente hábito de perguntar, “Qual é o trabalho que deve ser feito?”. Isto é, quais das muitas atividades executadas realmente criam valor ao cliente? E quais etapas são desperdícios que podem ser eliminados? Mas acredito que raramente olhamos para o processo de gestão nas organizações da mesma forma, perguntando aos gerentes, “Qual é o trabalho que a gestão deve executar?”. Isto é, quais são as atividades criadoras de valor dos gerentes que supervisionam o fluxo de valor? Apenas sendo claras as atividades que criam valor, podemos eliminar os esforços desperdiçados dos gerentes. Qual é o trabalho da gestão? Qual valor os gerentes realmente criam? Minha resposta, apoiada por insights de John Shook, é que os gerentes criam valor — isto é, eles executam funções úteis — por meio de quatro tipos de ações: • Obtendo consenso sobre algumas coisas importantes que a organização precisa fazer. Isso significa focar em como a organização pode melhorar dramaticamente sua habilidade de criar mais valor, e o tipo certo de valor, gastando menos tempo, esforço, investimento, erros etc. Obter consenso é predominantemente o trabalho dos gerentes seniores, usando a ferramenta de gestão lean “desdobramento da estratégia”. (Mas, por favor, note que os gerentes superiores não decidem sobre algumas coisas importantes sozinhos. Pelo contrário, eles obtêm um verdadeiro consenso por meio do diálogo catchball com diferentes níveis da organização sobre problemas e oportunidades). • Desdobrando algumas iniciativas importantes selecionadas pelo desdobramento da estratégia, resolvendo problemas quando eles surgem e avaliando os propósitos dos níveis inferiores da organização. Esse é, predominantemente, o trabalho dos gerentes médios, usando a ferramenta de gestão lean “análise A3”, que coloca o ciclo PDCA em um contexto organizacional e dos clientes. • Estabilizando a organização.Isso significa tornar cada etapa em cada processo capaz, disponível, adequada e flexível, para que o fluxo de valor possa seguir de forma regular do início ao fim e as melhorias possam ser sustentadas. Esse é, predominantemente, o trabalho dos gerentes da linha de frente, usando as ferramentas de gestão lean “gestão padronizada” e “kaizen”. • Criando a próxima geração de gerentes lean. Esse é o trabalho — talvez o mais importante — de cada gerente em cada nível, usando a ferramenta de gestão lean “análise A3”. Os novos gerentes lean podem ser criados apenas com intenso diálogo entre os mentores e os responsáveis pelo problema por meio de muitos ciclos de aprendizado no gemba. Se esse é o trabalho da gerência, como minha lista compara-se com o que os gerentes realmente fazem todos os dias? Em minha experiência, não há qualquer sobreposição. A maioria dos gerentes que observei gasta a maioria de seu tempo com trabalho incidental — verificando itens, reuniões que não chegam a nenhuma conclusão prática, elaboração de relatórios, revisões pessoais que não desenvolvem as pessoas etc. E no tempo restante, eles fazem retrabalho. Quanto ao último, refiro-me ao combate de incêndios para colocar as coisas de volta em seu curso pelo mau funcionamento dos processos. A maioria dos gerentes parece acreditar que esse é seu “real” trabalho e seu valor maior para a organização. Eu enxergo a lacuna entre o verdadeiro trabalho de gestão e as coisas que os gerentes realmente fazem como muda da gestão, um vasto reservatório de esforços desperdiçados e oportunidades perdidas que todos nós precisamos enfrentar. Remover imediatamente esse muda é um dos maiores desafios do nosso movimento nos próximos anos. Novembro de 2010 (artigo original para este livro) Gestão Moderna vs. Gestão Lean Os gerentes só podem fazer seu trabalho no contexto de um sistema de gestão. Isso consiste de todas as funções e responsabilidades dos gerentes enquanto eles estão ligados a uma estrutura da organização que define a autoridade. Neste artigo, também escrito para este livro, eu contraponho dois sistemas notáveis diferentes para se conduzir o trabalho da gestão. Após muitas caminhadas por muitas organizações nos últimos anos, conclui que o maior impedimento para uma introdução bem- sucedida do lean é o sistema de gestão moderna que foi introduzido no início do século 20 pela General Motors e foi adotado por muitas organizações. Esse é o tipo de gestão que a maioria de nós tem aprendido, tanto na escola como no trabalho. Há, é claro, um sistema de gestão contrastante, iniciado pela Toyota logo após a Segunda Guerra Mundial, o qual facilita a introdução da mentalidade lean. Por essa questão ser tão fundamental para o sucesso da Comunidade Lean, pensei ser útil oferecer uma simples comparação entre os dois sistemas. Na figura da próxima página listei algumas práticas da gestão moderna à esquerda e as comparei com as práticas da gestão lean à direita. Gestão Moderna vs. Gestão Lean Autoridade v.s Responsabilidade Resultados v.s Processos Dar respostas v.s Fazer perguntas Planos v.s Experimentos Educação formal v.s Aprendizado no gemba Processos de melhoria por meio de assessores v.s Processos de melhoria pelos gerentes e equipes de linha Tomadas de decisões remotamente com dados v.s Tomadas de decisões no gemba com fatos Padronização pelos assessores v.s Padronização pelas equipes e gerentes de linha Vá rápido para ir devagar v.s Vá devagar para ir rápido Foco vertical v.s Foco horizontal Esta lista precisa de alguma elaboração, então deixe-me explicar esses pontos um por um. Em cada caso, descreverei uma prática de gestão moderna primeiro e depois a compararei com uma prática alternativa de gestão lean. Acredito que isso será útil — e interessante também — para você determinar qual o tipo de sistema de gestão que rege sua organização. Autoridade vs. Responsabilidade Gerentes modernos buscam autoridade para agir, referindo-se ao organograma. O gerente que pensa dessa forma está dizendo ao chefe, “Não me dê a responsabilidade por nenhuma ação sem me dar autoridade sobre as pessoas e recursos envolvidos”. De certo, todos nós já dissemos isso pelo menos uma vez — e provavelmente dizemos sempre — em nossas carreiras em organizações de gestão moderna. Note que enfrentar problemas importantes em todos os departamentos e funções exige reorganização. Como esperado, descobri que a reorganização infinita é um dos maiores contos de fada da prática da gestão moderna. Os gerentes lean buscam responsabilidade para enfrentar questões importantes, liderando como se não tivessem nenhuma autoridade. Liderar sem o benefício da autoridade é realmente perigoso para qualquer organização, pois mesmo em organizações baseadas na autoridade, os gerentes raramente têm controle sobre tudo que toca o processo. Entretanto, liderar sem autoridade não é visto como racional em organizações tradicionais e, inevitavelmente, resulta em conflitos. A dissociação da responsabilidade com a autoridade é, talvez, a ideia mais importante que aprendi com John Shook, que aprendeu isso durante anos como gerente na Toyota. O método que os gerentes lean usam para liderar sem autoridade é a análise A3. Enquanto trabalham no problema, na causa raiz e nas melhores contramedidas, em um diálogo com os envolvidos no processo, “fabricam a autoridade” para desenvolver melhorias sustentáveis. Resultados vs. Processos Os gerentes modernos gerenciam por resultados, para fazer com que seus esforços pareçam efetivos no final de algum período (quando os problemas já ocorreram). Infelizmente, nunca houve uma métrica inventada que, de alguma forma, não pudesse ser usada para fazer com que os resultados pareçam melhores do que eles realmente são. Como um vendedor de carros me disse uma vez sobre a métrica de satisfação do cliente, usada pela montadora que fornecia seus veículos, “É muito mais fácil atingir os números do que consertar uma loja, então é isso que eu faço, e tenho obtido muito êxito”. Os gerentes lean gerenciam por processos, conhecendo sempre a condição de seus processos (o qual produz os resultados), então, os problemas podem ser resolvidos e as melhorias implementadas antes, e não depois, dos fatos. Isso está baseado no entendimento de que um bom processo produzirá bons resultados. Claro, a fim de obter êxito, o gerente lean deve entender profundamente o processo em questão. Esse é o grande impedimento da gestão por processos que a maioria das organizações de gestão moderna veem, onde os gerentes tradicionais frequentemente parecem ter apenas a vaga noção de como os processos realmente funcionam e estão se desempenhando atualmente. Eu terei mais a dizer depois nas práticas do entendimento dos processos. Dar respostas vs. Fazer perguntas Os gerentes modernos dão respostas a seus funcionários diretos sobre a natureza de uma problema e sua solução. Os gerentes lean sugerem perguntas aos responsáveis pelo problema sobre a sua natureza e as melhores contramedidas disponíveis. Fazendo isso, automaticamente transferem a responsabilidade pelo problema do maior para o menor nível de gerente, que está mais próximo do problema. Na gestão baseada na autoridade, o gerente de maior nível mantém a ilusão de estar no controle e aceita a responsabilidade pelos resultados de seus subordinados, mesmo que a melhor coisa a se fazer seja impossível para os gerentes de maior nível. Planos vs. Experimentos Os gerentes modernos fazem grandes planos, pressupondo que funcionarão por serem longos e detalhados. As funções do colaborador de menor nível é seguir o plano, pois ele foi cuidadosamente desenvolvido por pessoas instruídas. Essa abordagem normalmente os leva a focar a avaliação da conformidadee a determinação de um culpado quando o plano falha. Os gerentes lean tratam cada plano como um experimento, com um PDCA contínuo e rigoroso. Essa abordagem leva-os a focar a descoberta rápida de como os planos estão funcionando (o C) e, então — a verdadeira ação importante (o A) —, rapidamente planejam e implementam as contramedidas, enquanto o plano, se for igual à maioria dos planos, tem problemas. Educação formal vs. Aprendizado no gemba Os gerentes modernos buscam educação formal para progredirem em suas carreiras, frequentemente fora da empresa, em escolas de gestão ou dentro da empresa por meio de educação executiva em uma “universidade” corporativa. Os gerentes lean procuram o aprendizado no gemba dentro de suas organizações, participando de ciclos frequentes de A3 durante suas carreiras, orientados por gerentes do próximo nível superior com mais experiência na empresa. Processos de melhoria por meio de assessores vs. Processos de melhoria pelos gerentes e equipes de linha Os gerentes de linha modernos melhoram os processos, terceirizando os problemas para funcionários ou consultores. Os gerentes de linha lean melhoram os processos, liderando diretamente as atividades de melhoria em um diálogo com todos que tocam o processo, trazendo assessores ou consultores apenas quando necessário em questões técnicas maiores. É com essa prática que os gerentes lean conhecem mais sobre o processo que eles estão gerenciando, e isso parece tão óbvio que fico maravilhado e preciso registrar. Ainda assim, caminhei de empresa em empresa nos últimos anos, onde os gerentes de linha não tinham nem o conhecimento nem a intenção de melhorar nada. Eles conseguiram, entretanto, adquirir habilidades avançadas para delegar aos assessores e analistas e terceirizar aos consultores! Tomadas de decisões remotamente com dados vs. Tomadas de decisões no gemba com fatos Gerentes modernos tomam decisões remotamente, analisando dados, geralmente em salas de reunião, longe do gemba. (Isto é frequentemente chamado de “gestão na sala de reunião”). Os gerentes lean tomam decisões no gemba, no local do problema, transformando os dados em fatos comprovados. O mantra agora famoso “Vá ver, pergunte por quê, demonstre respeito” captura o espírito da tomada de decisão baseada no gemba. Padronização pelos assessores vs. Padronização pelas equipes e gerentes de linha Os gerentes modernos padronizam os processos, confiando em especialistas. Ou, mais provavelmente, eles nunca se esforçam seriamente para padronizar os processos que estão gerenciando ou suas próprias práticas de gestão — o que é, por si só, um processo que exige padronização. Os gerentes lean padronizam os processos por meio do envolvimento com as próprias mãos de todas as pessoas envolvidas no processo, usando especialistas de fora apenas quando necessário. Ir rápido para ir devagar vs. Ir devagar para ir rápido Os gerentes modernos vão rápido para irem devagar, porque os problemas nunca são completamente entendidos e as contramedidas rápidas postas no lugar não enfrentam (e, de fato, não são capazes de enfrentar) a questão real, levando a retrabalhos. Os gerentes lean vão devagar para irem rápido, levando tempo no início para entender completamente o processo e seu propósito, por meio do diálogo com todos os envolvidos (muitas vezes incluindo os clientes e os fornecedores), e para entender completamente a causa raiz dos problemas e da contramedida mais promissora antes de agir. Desde a infância, tive amigos e colegas que foram “estudantes rápidos”, aparentemente capazes de analisar problemas e agir mais rápido que eu. E por anos senti-me mal por parecer ser tão lento. Então, de repente, ocorreu-me que esses guepardos eram rápidos, principalmente porque eles nunca entenderam o problema por meio de um processo ou mesmo de seus propósitos. Eles ficavam pulando para soluções e então avançavam antes que os resultados pudessem ser avaliados. Então, fiquei muito satisfeito quando um gerente lean em uma empresa que eu visitava finalmente formalizou para mim essas alternativas. Foco vertical vs. Foco horizontal Os gerentes modernos focalizavam verticalmente a organização, com todas as funções e silos orientados em direção ao CEO, no topo. Isso combina perfeitamente com a gestão baseada na autoridade, meu primeiro ponto de contraste anteriormente. Os gerente lean focalizam horizontalmente no fluxo de valor por toda a organização, do conceito inicial ao produto acabado e da matéria- prima ao cliente. Isso só pode funcionar utilizando a gestão baseada na responsabilidade, na qual os gerentes lean pensam horizontalmente para resolver problemas por meio do diálogo com muitos departamentos e funções sobre os quais eles não têm (e não podem ter) nenhuma autoridade. Perceba que este último contraste não é apenas uma questão de mentalidade. Deve ser também a forma com que os gerentes agem todos os dias se o valor para o cliente for otimizado, engajando todas as pessoas envolvidas no processo em melhorias regulares. É a chave para criativamente unir propósito, processo e pessoas em uma empresa lean. Novembro de 2010 (artigo original para este livro) Gerir e sustentar uma empresa lean, uma vez que ela foi criada, é um desafio diário. Mas criar tal empresa em uma organização apoiada na gestão moderna é um desafio maior e diferente. Eu vejo a tarefa anterior como uma função da gestão. A segunda tarefa requer liderança, a qual, por sua natureza,é transformacional. Na próxima seção de artigos, tento abordar muitos aspectos da liderança e transformação lean. 4. James P. Womack, Daniel T. Jones e Daniel Roos. A Máquina que Mudou o Mundo. São Paulo: Editora Campus, 2004. 5. James P. Womack e Daniel T. Jones, A Mentalidade Enxuta nas Empresas. São Paulo: Editora Campus, 2004. 6. John Shook, Gerenciando para o Aprendizado. São Paulo: Lean Institute Brasil, 2008. TRANSFORMAÇÃO O Juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos Oliver Wendell Holmes Jr. comentou no final do século XIX que “A vida da lei não é baseada na lógica; mas sim na experiência”. Ele quis dizer que as pessoas, inclusive os juízes, mudam sua visão com o passar do tempo sobre como as coisas deveriam ser conduzidas na sociedade baseadas na nova experiência. E, em resposta, a lei deveria mudar. Permita-me parafrasear e resumir a afirmação de Holmes para os atuais propósitos, dizendo que “A vida do lean é baseada em experimentos”. As práticas lean devem necessariamente mudar com o passar do tempo, conforme evidências experimentais quanto à ferramentas, gestão, métodos e a melhor abordagem para a transformação são acumuladas. Nos artigos desta seção, você descobrirá que eu tenho mudado gradualmente minha visão sobre a transformação lean durante a última década — baseado na observação contínua de muitos experimentos. Particularmente, adaptei meu foco primário de implementação das ferramentas para a mudança no comportamento da gerência como a questão principal na transformação. E espero que eu continue modificando minha visão no futuro, conforme as evidências continuam se acumulando. Espero que essa também seja sua expectativa e prática. Caso contrário, o lean corre o risco de morrer como um movimento criativo, transformando-se em um dogma insípido de regras a serem seguidas. À Procura de um Sensei Este artigo discute uma questão da transformação sobre a qual muitos me perguntaram repetidamente nos últimos anos, mas atualmente me perguntam bem menos: “Se eu e os outros em minha organização não possuímos o conhecimento lean necessário para prosseguir a transformação, como encontramos alguém para nos ensinar?” A questão ainda é importante, mas acredito que muitos membros da Comunidade Lean tiveram acesso ao conhecimento suficientepara avançar no lean. Porém, decidi que este artigo merecia ser incluído para aqueles que estão no começo de sua jornada. Recebo muitos pedidos para ajudar as empresas a encontrarem o conhecimento lean. Infelizmente, não posso fazer o que muitos de vocês gostariam: encontrar a pessoa certa para se juntar a sua empresa ou o consultor certo para compartilhar sua curva de aprendizado com você. O que eu posso fazer é sugerir diretrizes para você encontrar o sensei (japonês para “professor”) lean de que você precisa. 1. Comece se perguntando se você quer contratar um gerente sênior para liderar seu salto lean como um funcionário ou se contratar um consultor seria melhor. A terceira opção seria fazer você mesmo com o apoio dos gerentes que têm agora, usando os muitos manuais disponíveis e recursos de aprendizagem. 2. Se você quer contratar alguém, olhe para as empresas lean bem-sucedidas e descubra quem foi o responsável pela transformação. (Um bom recrutador especializado em lean pode ser capaz de ajudá-lo a encontrar bons candidatos). Mas tenha cuidado: tenho visto muitos casos de empresas lean, como a Toyota ou a Danaher, onde os gerentes precisam apenas manter um sistema criado por outras pessoas há algum tempo. Selecionar esses gerentes “fixos” — muito bem- sucedidos em um ambiente lean — e pedir para que eles criem ordem no caos de seu ambiente pode ser pedir mais liderança do que eles podem exercer. Então, tenha certeza de que tanto as habilidades lean como a capacidade de mudança estejam presentes antes de você fazer uma oferta. 3. Se você quer contratar um consultor, pergunte-se se você quer (a) um especialista no que Mike Rother e John Shook chamam de “kaizen de processo”, que pode aplicar técnicas específicas para problemas específicos (como projeto de células ou 5S ou trabalho padronizado), (b) um especialista no que Mike e John chamam de “kaizen de fluxo”, que pode tentar resolver o fluxo de valor todo, de uma linha modelo única a uma empresa toda, ou (c) o que eu chamo de um especialista “kaikaku” (um verdadeiro revolucionário), que mostrará a você a grande visão, lidando com todas as suas atividades, horizontais e verticais, que criam valor, tal como um sistema, para desafiar todas as suas suposições sobre sua organização (inclusive o seu sistema de gestão) e chacoalhar tudo. Possivelmente, você consiga achar uma pessoa que possa fazer os três, mas tenha certeza de quais são suas prioridades ou você provavelmente ficará desapontado com os resultados. 4. Uma vez que você tem certeza do que você quer de um consultor, verifique o trabalho anterior de seus candidatos cuidadosamente, visitando o gemba da empresa onde eles estavam envolvidos por um período considerável de tempo. Eles alcançaram resultados sustentáveis? E conseguiram difundir seu conhecimento pela empresa cliente? Ou eles se comportaram como o clássico comerciante habilidoso que resolve um problema, mas nunca diz como foi feito para que sempre seja necessário chamá-lo novamente? (Chamamos este último fenômeno de “dependência de consultor”). 5. Quando você tiver certeza de que tem o consultor certo ou o líder de transformação certo, pergunte-se como você vai incorporar o conhecimento dessa nova pessoa e difundi-lo em seu negócio. Continuo me surpreendendo ao ver muitas empresas que pensam que ao contratar um consultor com alto grau de habilidade ou um gerente com experiência lean, elas podem simplesmente estabelecer a transformação lean no piloto automático e esperar que a mentalidade enxuta seja aprofundada e disseminada. Pelo contrário, a empresa inteligente determina que alguns de seus funcionários inteligentes sigam o sensei a cada passo que ele der, anotem suas técnicas e métodos e, então, sistematicamente os disseminem por toda a organização. (Mesmo a Toyota fez isso com Taiichi Ohno, quem apresentava grande resistência para escrever os princípios e as técnicas do TPS. Uma das primeiras determinações de Fujio Cho, que chegou ao cargo de presidente, era seguir Ohno por todos os lugares e ter certeza de que tudo era anotado e compartilhado). 6. Enquanto você anota sistematicamente o que seu gerente de transformação ou sensei está fazendo, desafie-o com mais e mais atribuições para problemas cada vez mais difíceis. Parafraseando, nunca peça a seu sensei que resolva o mesmo problema duas vezes. Em vez disso, deixe o sensei resolver um problema específico uma vez e, depois, desafie seu pessoal a resolver o mesmo problema quando ele ocorrer novamente — talvez com um pouco de coaching. Essa é a melhor forma de utilizar os conhecimento de um sensei, e um bom sensei responderá bem a esse desafio. Essas são regras simples e nós sabemos que elas funcionam. Juntas, elas constituem um “processo” simples — aquela palavra mágica — para encontrar a ajuda de que você precisa. Desejo a você sorte em sua busca por um sensei! 19 de dezembro de 2001 A próxima questão tem sido levantada por membros da Comunidade Lean com mais frequência nos últimos anos. É a respeito da sequência a ser seguida na implementação do lean em suas organizações. E eles fazem essa pergunta porque recebem conselhos diferentes de sensei diferentes. (Veja: Duelo de sensei e a necessidade de um sistema operacional padrão, na página 143). Os membros da Comunidade parecem desejar profundamente uma resposta simples, uma única “forma correta” que justifique suas ações e proteja-os das críticas. Infelizmente, como menciono no próximo artigo, a sequência certa sempre depende da situação e dos recursos que você possui. A Sequência ‘Certa’ para Implementar o Lean Recentemente, visitei duas operações realmente interessantes, uma em New Hampshire, nos EUA, e a outra em Chennai, na Índia. Juntas, elas me proporcionaram uma importante lição sobre a melhor sequência para a transformação lean. Em New Hampshire, visitei a operação de injeção da Freudenberg-NOK, a qual tenho visitado diversas vezes durante os últimos anos. Essa planta começou sua transformação lean no início dos anos 90 com projetos de kaizen sob o programa GROWTTH (sigla em inglês para: “Livre-se de desperdícios por meio da harmonia da equipe”) para celularizar operações e, então, introduzir fluxo regular nas famílias de produtos por toda a planta, de célula em célula. Essa prática destacou problemas com projetos de produtos e de máquinas e os levou à iniciativa 3P (Processo de Preparação da Produção) para tornar a próxima geração da tecnologia de produtos e processos correta. E, recentemente, a planta de Manchester adotou seriamente o seis sigma, reduzindo o refugo para 0,7% (e ainda menor em alguns processos) de cerca de 7% no início dos anos 90. Perceba que a sequência para a transformação lean foi kaizen para implementar TPS (Sistema Toyota de Produção), 3P e seis sigma. Neste ano, na Índia, visitei uma notável planta de freios a ar pertencente ao TVS Group, que é uma das operações mais lean que já vi fora da cidade de Toyota. A TVS começou sua jornada no final dos anos 80 com a gestão de qualidade total (TQM), focando na capabilidade do processo. Em 1996, sua planta de freios tornou-se a primeira fora do Japão a ganhar o Deming Prize. A planta trabalhou muito no TPM (Manutenção Produtiva Total) para tornar cada máquina disponível, a fim de fabricar peças boas sempre que necessário. E nos últimos quatro anos, ela tem celularizado todas as operações, introduzido o trabalho padronizado para todos, iniciado a movimentação padronizada de materiais com rotas puxadas e introduzido um sistema puxado puro em toda a planta e para todos os seus fornecedores. Perceba que a sequência foi TQM, TPM e TPS — a ordem inversa da transformação em Manchester. Minha conclusão é que todos nós que damos um salto lean precisaremos lidar com questões de capabilidade (TQM/seis sigma) e comquestões de disponibilidade (TPM), enquanto eliminamos etapas desnecessárias e introduzimos o fluxo e a puxada em todo o fluxo de valor (TPS). Minha conclusão adicional é que não há uma ‘sequência certa’ a seguir quando enfrentamos esses problemas. Isso depende da natureza do produto, da natureza da tecnologia do processo e da natureza do negócio. Se há um “certo” vs. “errado” é na liderança e na gestão. Cada um desses sucessos foi realizado a pedido de um forte agente de mudança — Joe Day, da Freudenberg-NOK, e Mak Mahesh, do grupo TVS — e ambas as empresas focaram em fazer tudo certo em todas as famílias de produtos, perpassando todos os lugares da companhia, por meio de uma forte gestão do fluxo de valor. 11 de outubro de 2002 Substituindo Dinheiro pela Gestão do Fluxo de Valor Quando escrevi este artigo, estava começando a enxergar um padrão preocupante nos esforços da transformação lean. Quer o sensei fosse bom ou ruim, a sequência fosse certa ou errada ou o kaizen fosse aplicado no contexto apropriado, o foco parecia estar na busca por um programa rígido sem se importar com sua adaptação ao sistema de gestão. Particularmente, observei muitas evidências de que os indicadores para julgar o desempenho da gestão, que são o fundamento da gestão moderna, estavam atrapalhando a maneira certa de se fazer lean. Recentemente, visitei uma conhecida companhia americana que tentava criar uma empresa lean em todos os seus negócios após começar uma ampla iniciativa seis sigma. O que encontrei foi um padrão muito comum. Especialistas técnicos tinham conduzido centenas de projetos seis sigma por toda a empresa, muitas envolvendo análises de processos detalhadas para eliminar etapas desnecessárias e aumentar os giros de estoques. Enquanto isso, o gerente sênior de cada fábrica e de cada departamento administrativo tinha indicadores fundamentais — cada um com um objetivo de expansão para este ano — e motivados por um bônus por alcançar os objetivos. Então, o que há de errado? Minhas discussões com diversos gerentes de fábrica rapidamente apontaram os problemas. Cada gerente tem muitos fluxos de valor passando por sua unidade departamentalizada, mas os indicadores estão no nível do departamento ou da unidade. Então, conflitos naturais emergiram entre o que é melhor para o departamento ou para a unidade e o que é melhor para o produto, conforme seu fluxo de valor segue do início ao fim por entre os muitos departamentos e unidades. Mas esse não é o único problema. Em um relato de uma reunião no final de minha visita, perguntei aos gerentes como eles se sentiam. A palavra-chave foi “exausto”. Um comentário típico: “Começamos com muito entusiasmo, mas temos tantos projetos em andamento que não podemos finalizar todos. E temos um problema de regressão rápida, uma vez que um problema seja resolvido e a atenção da gestão mude para o próximo problema”. Tive muita simpatia pelos gerentes de fábrica e associados horistas, mas não muita pelos gerentes seniores que lideravam a empresa. Eles estão cometendo três pecados comuns dos quais a Comunidade Lean deveria ficar bem longe: • Eles não têm nenhum processo de desdobramento da estratégia para priorizar as iniciativas de melhoria e para definir mais claramente uma pequena lista do que pode ser racionalmente realizado e estabilizado a cada ano. • Eles não têm gerentes de fluxo de valor para olhar para o fluxo todo de cada família de produtos, para otimizar o todo em vez de otimizar as partes. • Eles confiam em muitos e, às vezes, em conflitantes indicadores para conseguirem que seus gerentes façam a coisa certa. Mas não têm dado treinamentos úteis aos gerentes sobre como melhorar o desempenho. (O momento mais triste ocorreu no almoço com um gerente competente e cheio de energia, que me trouxe o seu quadro de “objetivos expandido”, conforme eu pedi. Ele me disse que estava trabalhando 60 horas por semana e que tinha muitas iniciativas de melhoria em andamento, ainda que tenha alcançado apenas um dos 15 indicadores estabelecidos para ganhar o bônus. Como verifiquei, esse era o único indicador que estava sob seu controle. Os outros 14 exigiam a cooperação de muitos departamentos e funções corporativas). Ou seja, exortação, dinheiro e conselho de especialistas têm substituído mudanças organizacionais (em especial quanto aos indicadores), foco da estratégia e treinamento aprofundado de gerentes em técnicas lean que realmente produzam resultados. Espero que você não enxergue sua empresa neste exemplo. E, se o fizer, espero que tome as ações apropriadas para que consiga sustentar seu progresso. 13 de novembro de 2002 As observações anteriores a minhas caminhadas foram citadas em uma versão revisada (2003) de A Mentalidade Enxuta nas Empresas (1996). O próximo artigo sugere revisões para o plano de ação da transformação lean proposto no livro citado. Temos Pensado (Lean) Desde que escrevemos A Mentalidade Enxuta nas Empresas, Dan e eu tivemos muitas experiências gratificantes, assistindo a membros da Comunidade Lean implementarem resolutamente os cinco princípios lean: valor, fluxo de valor, fluxo, puxada e perfeição. Também temos sido encorajados pelos esforços que temos visto de aplicação dos 21 passos do plano de ação para alcançar a transformação lean em todos os fluxos de valor compartilhados com os fornecedores e clientes. Desde a publicação, confirmamos a solidez fundamental do plano de ação. Mas também adquirimos percepções adicionais e importantes sobre nove dos 21 passos, que devem ser compartilhadas pela Comunidade Lean: Encontre um agente de mudança: esperamos que essa pessoa seja você ou que você tenha sorte suficiente para trabalhar com um. Porém, descobrimos que existem duas funções verdadeiramente envolvidas na criação de mudanças permanentes: deixar as antigas formas de lado e implementar rigorosamente as novas formas como um sistema de negócios. Na maioria das implementações bem-sucedidas que observamos, o agente de mudanças (que chamaremos de líder) era assistido por desenvolvedores de sistemas. Estes são os gerentes lean — às vezes nos bastidores — que metodologicamente organizam todos os elementos e método da organização para que o novo sistema continue melhorando mesmo depois do agente de mudança sair de lá. Na falta de desenvolvedores de sistemas, os resultados duram geralmente apenas enquanto o agente/líder for o responsável. Adquira conhecimento: em paralelo, descobrimos que estamos avançando além da necessidade do conhecimento sobre os processos isolados — como criar verdadeiras células de fluxo contínuo, como implementar sistemas puxados simples — para a necessidade do conhecimento abrangente sobre o sistema lean. Isto é, estamos avançando do kaizen de processo para o kaizen de fluxo, que é a função dos gerentes de linha, e não de especialistas lean, operando como consultores ou localizados em um escritório de promoção lean. (Esses especialistas ainda são necessários, mas para resolver problemas mais complexos no processo, e não para repetidamente lidar com problemas simples, causados pela falta efetiva da gestão de linha). Aproveite a crise: mudar todas as suas operações de manufatura para o lugar mais barato do globo e administrá-las usando métodos tradicionais de produção em massa não significa aproveitar a crise! Pelo contrário, você está provavelmente criando uma próxima. Mapeie seus fluxos de valor: o poder desta simples regra é a coisa mais surpreendente que já aprendi nos últimos seis anos. Nós não compreendemos o quanto os gerentes precisam de nossa ajuda para aprenderem a enxergar o fluxo de valor; ou quão ansiosamente os gerentes adotariam o método simples da Toyota de mapear fluxos de informação e de material. Agora, somente se cada gerente e cada equipede mapeamento conseguir alcançar e sustentar seu estado futuro lindamente desenhado! Reorganize sua empresa por família de produtos e fluxo de valor: essa é uma ótima ideia — se você puder fazer isso sem criar uma enorme confusão. Nos últimos seis anos, descobrimos que algumas empresas precisam realmente enviar uma mensagem para suas funções (ex., engenharia, compras, vendas) para entenderem a mentalidade do fluxo de valor. Uma reorganização dramática desse tipo é certamente uma solução. No entanto, também descobrimos o poder de uma solução diferente: designar um gerente de fluxo de valor para cada família de produtos e tornar essa pessoa responsável por defender os interesses do produto, uma vez que ele faz parte de uma organização funcional. Depois, crie um diretor do fluxo de valor (talvez o diretor geral de operações) para agregar os problemas que estão sendo descobertos pelos gerentes de fluxos de valor individuais (que provavelmente serão muito similares) e levar esses problemas ao diretor executivo em reuniões com os líderes de funções. Um diretor executivo que quer confrontar uma esclerose funcional da empresa sem o caos de uma reorganização total pode ser capaz de obter o mesmo efeito por meio deste método. E, falando nisso, é assim que a Toyota conduz seu negócio predominantemente funcional, por meio do mecanismo do engenheiro-chefe para cada linha de veículos que determina o que a engenharia, compras, operações e as outras funções necessitam fazer para tornar o produto um sucesso para os clientes e para a empresa. Crie uma função de promoção lean: agora estamos ainda mais certos de que todas as empresas precisam desta função, da qual os especialistas seniores de cada aspecto de um fluxo de valor perfeito — da qualidade à disponibilidade dos equipamentos para uma puxada e um fluxo contínuo — podem ser incumbidos. Porém, também sabemos que o grupo de promoção lean nunca pode deixar de introduzir amplamente as habilidades lean para os gerentes de fluxo de valor e líderes de função. Assistimos, muitas vezes, como a “equipe lean” entrou em cena, apagando incêndios, a fim de retirar muda do caminho, enquanto os gerentes de linha, líderes de função e associados da produção assistiam a esse acontecimento passivamente. Também observamos como especialistas em competição dentro do grupo lean deram conselhos conflitantes e completamente confusos, mesmo àqueles gerentes de linha que gostariam de estar ativamente envolvidos. Nosso conselho, arduamente aprendido, é manter a equipe lean pequena e sua mensagem completamente consistente. Então, conforme o tempo passar, foque o trabalho deles em problemas de maior complexidade enquanto os gerentes de linha se tornam gerentes lean, lidando com tarefas rotineiras. Quando você tiver melhorado algo, melhore-o novamente: este é um ponto óbvio. Cada estado futuro de seus fluxos de valor, quando alcançado, deve se tornar o novo estado atual, começando o ciclo de melhoria novamente. Mas as empresas parecem se esquecer da importância desta simples máxima. Recentemente, estávamos satisfeitos ao olharmos para um processo na Freudenberg-NOK, onde cinco estados futuros sucessivos tinham sido alcançados durante uma década, com cada estado futuro avançando a operação decisivamente em relação ao custo, qualidade, flexibilidade e competitividade. Esta empresa fornece evidências notáveis de que se você pensa que consegue, você realmente consegue gerir rumo à perfeição. Utilize o desdobramento da estratégia: pensamos que este passo é o mais difícil de se controlar mesmo em nossas próprias organizações sem fins lucrativos. E também pensamos que uma falha ao rigorosamente definir e desdobrar a estratégia no início tem sido a causa raiz de cada iniciativa fracassada. Concluímos que este é, de fato, o principal trabalho árduo do CEO e que nunca será fácil enquanto a organização estiver percorrendo um mercado em mudança (o qual certamente define o caminho que todos devemos seguir). Ao mesmo tempo, pensamos que os planos tão diligentemente desenvolvidos no exercício do desdobramento logo precisrão de modificação. Como um executivo sênior da Toyota certa vez afirmou, “O planejamento [na forma de desdobramento da estratégia] é inestimável, mas os planos reais são, logo, inúteis”. Seu ponto era: o ganho real do processo de planejamento rigoroso é que cada parte da organização é forçada a se conscientizar do efeito de suas próprias ações em cada outra parte. O resultado são projetos inexequíveis excluídos no início e todos os projetos aprovados desenvolvidos, tendo em vista toda a organização. Convença seus fornecedores e clientes a adotarem os passos anteriormente descritos: nos últimos seis anos, enfrentamos mais uma moda passageira de gestão, com a fantasia de uma base infinita de suprimentos, gerenciada por leilões públicos reversos via web. (Lembre-se de que a web pode magicamente criar uma base quase infinita de suprimentos para todos se as ofertas forem aceitas de praticamente qualquer um, praticamente em qualquer lugar). E aprendemos novamente o que todos deveríamos saber: reduzir a margem é fácil, mas de pouco valor, enquanto a redução de custo real é altamente valiosa e difícil. Para ajudar todos os fluxos de valor a alcançar o baixo custo, a alta qualidade, o caminho da alta flexibilidade, temos trabalhado muito nesses últimos seis anos, para criar maneiras para que as empresas que compartilham um fluxo de valor mantenham uma conversa civilizada uma com as outras. Essa conversa deve focar exatamente em determinar o estado atual do fluxo de valor compartilhado e em pensar eventualmente em um estado ideal. Acreditamos que conseguimos a ferramenta com o mapeamento do fluxo de valor estendido, descrito em Enxergando o Todo, e esperamos que ela ganhe um amplo público. Desde que A Mentalidade Enxuta nas Empresas foi publicada em 1996, é incrível observar o quanto mudamos. Repentinamente, transitamos de um mundo onde todos os novos modelos de negócio pareciam promissores e praticamente qualquer um poderia lucrar, mesmo na manufatura. Agora, estamos presos a um mundo onde a maioria dos novos modelos de negócio parece tola. E todos em todo negócio estão se esforçando para sobreviver. A única constante nessa maré de mudanças é o conjunto dos princípios lean combinados com o plano de ação. Essas ideias funcionaram antigamente e funcionam hoje para qualquer empresa em qualquer indústria que deseja experimentá-los. 21 de maio de 2003 Leituras adicionais: Dan Jones e Jim Womack, Enxergando o Todo. São Paulo: Lean Institute Brasil, 2004. Mike Rother e John Shook, Aprendendo a Enxergar. São Paulo: Lean Institute Brasil, 2003. Jim Womack e Dan Jones, A Mentalidade Enxuta nas Empresas, capítulo 15. São Paulo: Editora Campus, 2004. Apesar de minha confiança no conjunto de princípios lean — valor, fluxo de valor, fluxo, puxada e perfeição — e no progresso do aperfeiçoamento do plano de ação, continuei encontrando situações que descrevo no próximo artigo: esforços da transformação lean frustrados por argumentos abstratos entre sensei concorrentes sobre a melhor maneira de proceder. Estes confiantes a simples proposição de que a vida do lean é constituída de experimentos. Toda autoridade para qualquer sensei flui de experimentos no gemba, não de interpretações dogmáticas de textos sagrados ou de alguns níveis de divisão dos fundadores do movimento. Em suma, lean não é uma religião, mas uma prática diária de condução de experimentos e acúmulo de conhecimento. Duelo de Sensei e a Necessidade de um Sistema Operacional Padrão Recentemente, testemunhei algo que já vi muitas vezes. Estava visitando uma empresa quando um novo sensei chegou para acompanhar a conversa lean da empresa. A primeira coisa que o sensei disse ao vice-presidentedas operações foi: “Meu método não tem nada em comum com o método de seu sensei anterior; você deve fazer tudo do meu jeito agora”. A parte triste era que ambos, o novo e o antigo sensei, têm muita experiência no Sistema Toyota de Produção e abordam a maioria dos problemas da mesma forma. Mas a impressão rapidamente criada era que o “lean” não é necessariamente “lean”, e os líderes da empresa foram lançados à confusão. Não é surpreendente que os sensei ajam desta maneira. Eles maximizam seu poder, insistindo que apenas eles entendem de lean. Acho surpreendente que muitas empresas ainda dependam de uma fonte externa para definir (e redefinir) seu sistema operacional básico, sua abordagem para a melhoria e gestão dos processos. E se eles têm, de fato, uma abordagem consistente, eles fracassam em escrevê-la de forma clara e simples para que todos os gerentes possam abordar os problemas da mesma forma. As empresas não estão inconscientes deste problema, e muitas, no passado, escreveram longos manuais — o Sistema Ford de Produção vem à mente — para registrar os métodos da empresa. Mas esses eram geralmente tão longos e complexos que poucos gerentes dominavam seus detalhes. Além disso, havia uma lacuna enorme entre os princípios mais importantes e os métodos essenciais de operação do dia-a-dia. Recentemente, a tendência parece estar em direção aos sistemas operacionais mais curtos e precisos — o Sistema de Manufatura Global da GM vem à mente —, que os gerentes acham fácil de seguir e que parece estar produzindo resultados melhores. Mas a maioria das empresas ainda tem um longo caminho a percorrer. Para medir como sua empresa está, faça a si mesmo algumas perguntas simples: • “Temos uma forma padrão e lean para conduzir as operações da fábrica, a qual todos entendem e com a qual todos concordam?” • “Temos uma forma padrão e lean para interagir com nossos fornecedores em um nível operacional que todos entendem?” • “Temos uma forma padrão e lean para interagir com nossos clientes em um nível operacional que todos entendem?” • E mais importante, “Um novo gerente que acaba de chegar à fábrica ou a uma nova área de responsabilidade saberia imediatamente o que fazer, de acordo com o prescrito por seu sistema operacional, e o faria de uma forma padronizada?” Por favor, note que isso não é uma receita para regras rígidas do topo para a base, desenvolvida por um grupo de pessoas e não relacionada às condições atuais. Pelo contrário, isso é uma prescrição para um processo do topo para a base e vice-versa — liderada por um gerente de operações sênior da empresa — para definir precisamente um sistema operacional, a fim de se chegar a um consenso com todos que atualmente conhecem a melhor forma de conduzir as operações, e para ensinar como funciona esse sistema operacional a todos os gerentes. Obviamente, é importante conduzir experimentos continuamente — isto é, kaizen — para buscar melhores métodos operacionais e para incorporar novos métodos no sistema padrão, uma vez que estes sejam comprovados superiores. É aí que um sensei externo é geralmente mais útil, para estimular o pensamento sobre melhores métodos. 11 de setembro de 2003 Como resultado de mais caminhadas pelo gemba, nas quais observei as organizações tentando implementar os métodos lean em uma base caótica, comecei a me perguntar se a maioria dos esforços de transformação estavam se iniciando no lugar errado e, por esse motivo, nunca avançavam além do ponto inicial. O próximo artigo enfrenta esse problema. Mura, Muri, Muda? Em junho de 1986, quando minha primeira filha nasceu, os jovens rapazes que eu supervisionava no Programa Internacional de Veículos Automotivos (International Motor Vehicle Program) do MIT saíram correndo do escritório para comprar um presente para ela. Eles voltaram rapidamente com uma camiseta rosa, tamanho 1, com a seguinte mensagem estampada na frente: “Muda, Mura, Muri”. Minha esposa ficou espantada — “É assim que eles dão boas-vindas a um bebê?!” Mas eu pude entender. Tínhamos feito um esforço imenso naquele ano para entender esses novos termos japoneses para desperdício (muda), irregularidade na demanda não ocasionada pelo cliente final (mura) e sobrecarga de pessoas e equipamentos (muri). Esses termos entraram em nossas vidas quando John Krafcik ingressou em nossa equipe, vindo da NUMMI — joint venture entre a Toyota e a GM na Califórnia. Os garotos só queriam compartilhar o entusiasmo deles e aproveitaram a primeira oportunidade que tiveram. Nosso entendimento naquele momento era que muda, mura, muri era uma sequência lógica de melhorias para os pensadores lean. Sugerimos começar com muda, que pode ser definida como qualquer atividade que seja desperdício, pois não agrega valor ao cliente, mas consome recursos. Convenientemente, Taiichi Ohno na Toyota tinha, há muito tempo, fornecido uma lista de sete tipos de muda, a qual era um excelente guia de ação. Então, imediatamente incentivamos os gerentes a atacarem a superprodução (além do que o próximo cliente realmente necessita) e os transportes, esperas, processamentos, movimentações, correções e estoques desnecessários. Uma vantagem adicional de se começar com muda era que muitos tipos poderiam ser removidos de uma pequena área, sem a necessidade de integrar as diversas áreas funcionais da organização. Por exemplo, máquinas poderiam ser agrupadas rapidamente em um exercício de kaizen para criar uma célula — a fim de eliminar muda de espera, transporte, estoque e movimentação. E isso poderia ser feito sem perturbar (ou sem pedir permissão para) o sistema mais amplo de produção. Acreditávamos que a eliminação progressiva de muda iria pavimentar o caminho para atacarmos mura e muri. Isso era a teoria. Mas, agora, está claro para mim quanto esforço gastamos na eliminação de muda e quão pouca atenção demos a mura e muri. Citando um caso pertinente, as empresas americanas de carros anunciaram [em julho de 2006] novos esquemas de incentivos que irão vender um grande número de veículos em poucos dias, baixando estoques excessivos. Isso levará a superprodução nas fábricas, que, por sua vez, gerará mais estoques, os quais levarão a mais incentivos, e gerará mais... [como sabemos agora, mas eu realmente suspeitei naquela época do colapso de Detroit e do resultado de mura]. Entretanto, essa irregularidade nas vendas e na produção, que quase não tem relação com o desejo expresso pelos clientes (um tipo comum de mura), irá prejudicar os esforços de toda a organização — desde vendas até compras — para eliminar muda (desperdício). E na maioria das empresas ainda vemos mura quando se tenta “fazer números” no final dos períodos de reporte dos resultados. (Os quais são, por si só, lotes de tempo completamente arbitrários). Isso faz com que a área de vendas dispare muitas ordens de produção no final do período e que os gerentes de produção tentem desesperadamente atender aos pedidos da área de vendas, deixando de fazer as atividades fundamentais para sustentar o desempenho a longo prazo. Essa onda de ordens — fazendo com que as máquinas e os funcionários trabalhem muito quando se aproxima a reta final — cria ‘sobrecarga’ (muri). Isto, por sua vez, causa paradas de produção, erros e retrabalhos — muda da espera, correção e transporte. O resultado inevitável é que mura cria muri, que prejudica os esforços anteriores para eliminar muda. Em resumo, mura e muri são agora as causas raízes de muda em muitas organizações. Pior ainda, elas podem trazer de volta muda que os gerentes e a equipe de operações já haviam eliminado. Então, eu daria um conselho diferente para os garotos do MIT se eles estivessem preparando aquela camiseta hoje. Eu diria para escreverem Mura, Muri, Muda (ainda que a mãe da criança não ficaria menosatordoada). E tenho o mesmo conselho aos gerentes — especialmente aos gerentes seniores — que tentam criar negócios lean: Olhe com cuidado para o seu mura e muri assim que começar a atacar muda. Pergunte por que deveria haver qualquer variação nas suas atividades além das definidas pelo comportamento do cliente. Pergunte, então, como a variação real restante na demanda do cliente pode ser nivelada internamente para estabilizar suas operações. Finalmente, pergunte como a sobrecarga em suas máquinas e pessoas — seja qual for a causa — pode ser continuamente eliminada. Isso será um trabalho duro e exigirá coragem, pois será necessário que você repense as políticas comerciais e as práticas gerenciais e contábeis que criam mura e muri. No entanto, se você puder eliminar mura e muri logo no início, a fim de criar um ambiente estável para suas vendas, operações e equipes de gestão de suprimentos, você irá descobrir que muda pode ser removido muito mais rápido. E uma vez removido, permanecerá removido. 6 de julho de 2006 A única coisa com a qual a maioria dos praticantes lean parecem concordar é que o kaizen é o caminho para transformar processos e organizações. E o kaizen é uma coisa maravilhosa. Mas, conforme caminhei de organização em organização, observando seus esforços de kaizen, comecei a enxergar que havia uma dimensão adicional para a transformação e um contexto apropriado para o kaizen. Esse é o assunto do próximo artigo. Kaizen ou Retrabalho? Recentemente, visitei um fabricante de produtos eletrônicos com uma incrível capacidade para kaizen — a melhoria constante de cada etapa ao longo de seus principais fluxos de valor. Dúzias de eventos kaizen estavam sendo implementados na empresa para eliminar etapas desnecessárias e para resolver problemas de qualidade, disponibilidade, adequação e flexibilidade em cada fluxo de valor. Ao mesmo tempo, as equipes de kaizen estavam tentando acelerar o fluxo contínuo e aperfeiçoar sistemas puxados quando o fluxo não era possível. Os gerentes estavam satisfeitos com seu trabalho e eu admirava suas habilidades técnicas e seu entusiasmo para rápidas melhorias, envolvendo os funcionários em cada fluxo de valor. Mas também notei que a maioria dos fluxos de valor em processo de melhoria eram os de produtos que foram lançados recentemente. Eu me perguntava por que tanto kaizen era necessário. Na verdade, ponderei se o esforço de kaizen era semelhante às antiquadas inspeções de qualidade no fim da linha e nas organizações de produção em massa. Os fluxos de valor para os novos produtos estavam sendo implementados sem o pensamento adequado sobre os princípios lean ou o rigor suficiente ao pensar sobre detalhes de cada etapa e ação. As equipes de kaizen estavam, então, inspecionando os processos na operação, que estavam longe do lean, e lançando ondas de ação corretiva. Dado que muitas práticas ruins foram criadas dentro dos fluxos de valor, esses esforços de kaizen eram necessários e altamente produtivos. Mas por que a organização não estava buscando o projeto do processo lean como parte integrante do desenvolvimento de processos? E a habilidade da organização estava, em kaizen posteriores, — isto é, seu talento para o processo de retrabalho — realmente reduzindo a pressão para as árduas conversas sobre o desenvolvimento lean de processos, o qual deveria acontecer durante o desenvolvimento de produtos? Enquanto refletia sobre essa situação, eu me perguntava se as práticas da Toyota e outros pioneiros do lean tinham sido mal interpretadas. Kaizen é uma atividade importante na Toyota e envolve todos os funcionários. Mas novos processos lançados na Toyota normalmente são extraordinariamente lean para começar, e o kaizen de pós-lançamento é uma pequena parte de sua vantagem competitiva. O segredo está no sistema lean de desenvolvimento de produtos e processos da Toyota, o qual foca em criar “fluxos de valor operacionais rentáveis” — frase favorita do falecido Allen Ward. Esses fluxos têm sido completamente “pré-kazeinados”, examinando cada etapa na produção proposta e nos processos de atendimento bem antes do lançamento. O primeiro passo é ter certeza de que alguém é responsável por pensar sobre o processo todo necessário, do pedido à entrega, para se fazer um novo produto. Ao pensar sobre o processo de produção a medida em que o projeto do produto está sendo avaliado, é possível otimizar os dois. O segundo passo é esboçar o processo no papel e considerar as diferentes maneiras que ele pode ser conduzido. Para novos tipos de produtos que exigem novos processos, é particularmente importante considerar um número de maneiras diferentes pelas quais o processo todo e cada etapa possam ser conduzidos e realizar experimentos simples para enxergar qual das maneiras funciona melhor. (Essa é a semelhança do desenvolvimento de processos do método da engenharia simultânea com múltiplas alternativas, usada para avaliar diferentes abordagens para o projeto do produto. É também um elemento básico do Processo de Preparação da Produção (3P) agora conduzido por organizações lean avançadas). O terceiro passo é testar as novas maneiras de conduzir as etapas do processo com protótipos simples — mesmo com maquetes de papelão — para verificar quão bem elas realmente funcionam. (Outro elemento do 3P). O conhecimento adquirido desses experimentos precisa ser registrado e transformado em curvas de aprendizado do tipo que a Toyota desenvolve com experimentos com simples protótipos de novos produtos. (De fato, esse conhecimento é a grande vantagem da Toyota no desenvolvimento rápido e simultâneo de produtos e processos. Neste ponto, a maioria dos processos de produção da Toyota são altamente padronizados e completamente documentados. A maioria dos novos projetos de produtos precisam apenas cumprir com requisitos bem-compreendidos do processo para lançar fluxos que seguem regularmente. Por outro lado, a maioria das organizações que visitei tem pouquíssimos processos documentados, com padrões fracos e pouco conhecimento real de trade-offs ao projetar um processo de uma maneira vs. outra. Elas precisarão dar um salto lean conscientemente e precisarão de prática para se superarem). Uma vez que o melhor processo é determinado, o qual deve resultar em mudanças para o projeto do produto também, o próximo passo é finalizar projetos de equipamentos e sistemas de gestão da informação. Finalmente, é hora de desenvolver o trabalho padronizado para cada etapa do fluxo de valor e a gestão padronizada para todo o fluxo de valor. Isso inclui um plano de treinamento para cada funcionário, um plano para cada peça e um plano de manutenção para cada parte do equipamento. Se todas essas ações foram concluídas no início da produção, o fluxo de valor deveria ser muito lean desde o primeiro item entregue. O kaizen ainda será importante, baseado no hansei (reflexão) sobre o desempenho do processo uma vez em operação. Mas ele pode começar de um nível maior em um processo mais estável, para que a melhoria rápida adicional seja realmente fácil. Minha sensação é que muitas empresas estão prontas agora para elevar seu nível de jogo. Como espero ter deixado claro, isso não implica enfatizar a ideia do kaizen, e sim executar o processo PDCA que está no coração do kaizen, dentro do processo de desenvolvimento. Isso garantirá que cada novo fluxo de valor de cada novo produto inicie sua vida produtiva como um fluxo lean. Dada a redução constante na duração da vida dos produtos, acredito que será ainda mais importante se alcançar a “qualidade do processo na fonte”. De outra forma, o produto pode estar pronto para sair da produção antes que os problemas do processo sejam enfrentados por meio de kaizen como retrabalho. 22 de agosto de 2007 Leitura adicional:Allen C. Ward, Sistema Lean de Desenvolvimento de Produtos e Processos. (São Paulo: Editora Leopardo; Lean Institute Brasil, 2011). Neste ponto, em minha observação das transformações, notei muito claramente que, para sair do ponto morto e mudar o caminho, é necessário remover um tipo específico de desperdício. O próximo artigo apresenta um exemplo bem interessante. A Pior Forma de Muda Recentemente viajei para a Índia, onde adquiri alguns souvenires para a coleção que tenho feito em cada país que visito: razões especiais pelas quais o lean se torna impossível nas condições locais. Em uma série de conferências sobre a mentalidade enxuta, alguns gerentes seniores indianos explicaram que suas organizações não têm a disciplina para criar e operar uma empresa lean. Outras solenemente me disseram que um sistema de logística lean seria quase impossível nas vias caóticas e lotadas da Índia. Os meios de comunicação — que em todo lugar parece focar nas más notícias e nas impossibilidades — pareciam concordar. Todo entrevistador começava me perguntando como os gerentes indianos indisciplinados, usando infraestruturas indianas caóticas poderia ter a expectativa de copiar a Toyota, a Honda e outras organizações lean. Isso tudo é parte do que eu penso ser a pior forma de muda: pensar que você não pode. Isso com certeza garante que você não pode. Henry Ford provavelmente explicou isso melhor do que eu quando disse, “Quer você pense que pode ou quer você pense que não pode, você está certo”. Pensar que você não pode é a pior forma de muda porque isso impede que você enfrente as outras formas mais familiares de desperdício. A graça de colecionar esses sentimentos derrotistas é que sempre é possível demonstrar em algum lugar do país em questão que eles estão completamente errados. Na verdade, essa é uma das tarefas mais importantes dos institutos lean espalhados pelo mundo. Como parte de minha viagem à Índia, visitei a fábrica da WABCO-TVS em Chennai. (Veja A Sequência ‘Certa’ para Implementar o Lean, na página 131, para observar minhas reações em uma visita anterior). Os gerentes decidiram em 2000 que eles poderiam criar uma empresa lean. Visitei essa fábrica pela primeira vez em 2002 e achei que estavam bem na forma como iam. E estou contente por relatar que, porque eles pensaram que poderiam e continuaram pensando que poderiam, eles conquistaram muito sucesso na parte de manufatura de seu negócio. No início, eles contrataram alguns consultores estrangeiros com boa formação lean, mas rapidamente incorporaram o que aqueles consultores tinham ensinado. Eles, então, iniciaram um rigoroso exercício de desdobramento da estratégia para determinar quais passos deveriam ser dados em qual ordem, baseando-se nas necessidades do negócio, a fim de transformar o que tinha sido uma operação ortodoxa de manufatura de produção em massa. Oito anos depois, eles alcançaram a estabilidade básica (capabilidade mais disponibilidade) em cada etapa da manufatura. Isso permitiu que eles, de modo bem-sucedido, ‘celularizassem’ e introduzissem o fluxo de uma peça única em todas as operações de usinagem e de montagem, acompanhadas pelo trabalho padronizado preciso. Isso também permitiu que os gerentes instalassem um sistema puxado por toda fábrica, usando kanban e homens aranha, para movimentar produtos e informações em intervalos frequentes com muito pouco estoque em processo. E ainda, controles visuais foram instalados em um nível notável, 5S é mantido e cada funcionário da produção participa do início ao fim de uma atividade de kaizen toda semana. O que sempre acho mais interessante nas transformações de manufatura é quando encontro máquinas e ferramentas feitas pela planta que são do tamanho certo, capazes, disponíveis, flexíveis e baratas. Como C. Narasimhan, o ex-diretor de operações e a força por trás da transformação, observou durante minha última viagem, “Por que engenheiros de ‘catálogos’ compram máquinas sofisticadas que imediatamente precisam de kaizen desnecessário para funcionarem apropriadamente em seu contexto? Por que não as constroem desde o início?” E esta fábrica tem feito exatamente isso, com muitos exemplos em sua operação. Além disso, fluxo abaixo em direção ao cliente e fluxo acima aos fornecedores, a WABCO-TVS tem introduzido entregas frequentes de acordo com a necessidade precisa dos clientes, usando milk runs nas rodovias indianas caóticas. Uma pequena quantidade de estoque de segurança é necessária além do que seria exigido em um ambiente menos oneroso. Mas o sistema funciona bem, reduzindo o estoque total e os custos enquanto melhora a qualidade por meio de retornos rápidos. A WABCO-TVS não é perfeita ou completa. A transformação lean no desenvolvimento de produtos, gestão de fornecedores e processos de negócio fora da produção ainda ao futuro pertence. E uma cultura de solução de problemas em cada nível de gestão ainda está sendo criada. Por isso, a equipe de gestão tem uma lista de ações adicionais a serem tomadas no próximo ano, ao passo que a empresa cresce constantemente para atender a demanda em expansão. Essas ações são claramente apresentadas em mapas simples em uma sala de simulação, divididas por tarefas específicas para cada área da organização. Isso torna visual um dos mais abrangentes e disciplinados processos de desdobramento da estratégia que já encontrei. Independente dos desafios futuros, as operações da WABCO-TVS são ‘lean’ por qualquer definição racional e estão se tornando cada vez mais lean. Essa notável proeza já foi alcançada em um país onde muitos gerentes ainda pensam que isso é impossível. Permita-me concluir com a expectativa de que você e a gestão de sua organização pensarão que podem. Todas as empresas em todos os países podem criar razões únicas para não poderem. Porém tudo que precisamos fazer para eliminar a forma mais prejudicial de desperdício do mundo — a única que nos impede de enfrentarmos os outros desperdícios — é renovar nosso pensamento e apontar resolutamente a nós mesmos a direção correta por meio da crença profunda de que nós podemos. 14 de agosto de 2008 A Constância de Propósito Após mais anos de observação de experimentos no gemba, tornou-se claro para mim que os conselhos no plano de ação original para a transformação lean que Dan Jones e eu anunciamos em 2006 precisava de modificações. Percebemos que mesmo os líderes transformacionais mais capazes precisavam de mais do que cinco anos, como havíamos determinado, para completar uma transformação lean. Conclui-se que a adesão à transformação é um elemento fundamental para o sucesso, como discutido neste artigo sobre a constância da busca pelo propósito organizacional. Fazer acontecer a coisa certa — seja ela qual for — por meio da constância no foco da gestão é fundamental para uma transformação lean bem-sucedida. O primeiro dos 14 Pontos do Dr. W. Edwards Deming é “Criar constância de propósito para a melhoria contínua de produtos e serviços para a sociedade”. Quando eu li isso pela primeira vez, há muitos anos, parecia muito simples e óbvio. Como alguém poderia não ter constância de propósito? Agora que sou mais velho e mais sábio, descobri que essa simples atitude geralmente é o elemento que falta quando os gerentes decidem criar uma empresa lean. As organizações começam com as melhores intenções, lançam um programa lean, conseguem alguns resultados iniciais, perdem seu foco (talvez como resultado de uma crise econômica quando muitos funcionários são cortados?) e voltam a seu estado original de desempenho. Eles, então, tentam de novo com as melhores intenções. O poder da constância de propósito me atingiu com muita força recentemente quando visitei uma empresa que começou sua jornada lean há 14 anos e têm praticado verdadeiramente o primeiroponto de Deming. Achei a história tão convincente que gostaria de compartilhar com vocês. É sobre Bob e Ed, apesar de esses não serem seus verdadeiros nomes. Em junho de 1995, Bob me abordou em uma conferência que eu tinha organizado e anunciou enfaticamente que ele iria criar uma verdadeira empresa lean. Por eu já ter ouvido essa declaração de boas intenções muitas vezes e porque Bob era apenas o gerente da planta em uma das unidades de uma corporação com muitos negócios e muitas plantas, eu francamente disse a ele que duvidava que ele chegaria a algum lugar. Mas designei algumas outras pessoas na conferência com quem ele poderia conversar se ele precisasse de conselhos específicos sobre como começar. E nunca esperava ouvi-lo novamente. Cerca de dois meses depois, Bob me chamou para anunciar que ele e o controller Ed haviam começado sua planta e que eles esperavam que eu examinasse o que estavam fazendo. Depois, eles queriam que eu falasse sobre algo motivador em um evento de operações, que ocorreria em uma extensa unidade de negócio, para todos os gerentes da planta, sendo este o primeiro passo deles para disseminar o conceito. Aceitei com um pouco de medo. Não há nada mais incômodo que visitar gerentes ansiosos em seu primeiro contato com o esclarecimento lean e que precisam ouvir quão pouco eles realmente estão fazendo e quão longe eles precisam chegar. Mas pelo menos não fiquei decepcionado com as oportunidades apresentadas. Sua enorme fábrica era organizada em ilhas de processo para todas as atividades de fabricação. Um MRP impreciso programava todas as operações, havia retrabalho em toda a parte (não planejado pelo MRP), não havia trabalho padronizado visível e havia grande quantidade de estoque entre cada etapa de processamento e de montagem. A planta tinha cerca de 0,5S (opondo-se aos 5S), a mão de obra primária não estava engajada e a equipe de gestão abaixo de Bob e Ed estava apagando incêndios sem focar nas grandes questões. Os resultados previstos eram lead times longos, baixo nível de entrega para os clientes, custos muito mais altos do que o necessário e uma empresa em situação financeira perigosa. Em suma, tudo que pudesse estar errado estava, exceto algumas áreas modelo onde Bob e Ed realizaram seus primeiros experimentos. A fábrica só avançava por causa da constância de propósito de Bob e Ed. Enquanto eu andava pela operação, rapidamente percebi que eu estava errado na conferência. Quando me encontrei com a equipe que eles tinham formado, percebi a ousadia de seus experimentos iniciais e senti sua intensidade, foco e tenacidade no gemba, eu sabia que eles chegariam a algum lugar e que valeria a pena o tempo que gastei observando. Então, voltei para lá quatro vezes durante os anos para verificar seus progressos. O que eles fizeram? Seu primeiro passo nos quatro anos iniciais foi identificar os fluxos de valor das famílias de produtos e criar fluxo, removendo etapas desnecessárias e alinhando as etapas restantes próximas umas das outras na sequência do processo. Conforme faziam isso, eles rapidamente aprenderam que precisavam criar estabilidade básica, tornando cada etapa capaz (em termos de boa qualidade o tempo inteiro) e disponível (no sentido de que cada parte da tecnologia fosse capaz de funcionar quando era necessário para apoiar os fluxos no processo). Alcançar isso, introduzindo um rigoroso trabalho padronizado, qualidade na fonte e um plano para cada máquina foi seu segundo passo. Isso era buscado não apenas em uma planta, mas em toda a unidade do negócio quando Bob e Ed foram promovidos para liderar a área de Operações e Melhorias em todas as fábricas. Quatro anos em sua transformação (que já durava muito mais que a maioria das jornadas lean duram), Bob e Ed estavam prontos para um terceiro passo dramático, que era introduzir um rigoroso desdobramento da estratégia em cada nível da empresa. (Hoje, seu processo de desdobramento da estratégia é o mais rigoroso e abrangente que já vi. Como recentemente conversei com aqueles que estão trabalhando com o desdobramento da estratégia deste ano em diferentes fluxos, percebi novamente que se o desdobramento da estratégia não está te deixando maluco, você não está fazendo o desdobramento da estratégia. Isso porque a ideia é detalhar para solucionar as contradições e os conflitos entre os fluxos de valor e as funções que permanecem bem escondidas na maioria das organizações). Enquanto a organização estendia o desdobramento da estratégia, também foi instituído um rápido processo de solução de problemas e redobrado o foco no trabalho padronizado. Essas são versões das três principais técnicas da gestão lean que nós defendemos no LEI: o desdobramento da estratégia, cascateando do topo com retornos, para definir a direção e obter alinhamento; a análise A3 para desdobrar as iniciativas da política de cima, resolver problemas em operações diárias e avaliar as propostas que vem de baixo; e o trabalho padronizado, com kaizen e gestão padronizada para sustentar a capabilidade e a disponibilidade enquanto melhora continuamente o desempenho. Como um quarto passo em sua transformação, Bob e Ed reorganizaram todo o negócio de um bilhão de dólares em um número de fluxos de valor horizontais com engenheiros dedicados, equipe de produção, compras etc. Seus dois últimos passos na criação da empresa lean foram transformar o desenvolvimento de produtos e processos para incorporar os princípios lean e converter uma organização de compras convencional em uma equipe de gestão de suprimentos lean. O último está sendo concluído após 14 anos de jornada. Com o completo sistema de negócios lean agora finalizado, o desafio atual para a equipe de gestão é globalizar as operações e o fluxo de suprimentos. Seu objetivo é melhorar o suporte aos clientes ao redor do mundo sem perder a habilidade da linha de visão arduamente conquistada para lidar com problemas em tempo real. Um desafio final não está muito longe — poucas organizações têm enfrentado. Como Bob, agora presidente desta unidade de negócio, e Ed, agora vice-presidente das operações, podem ensinar a jornada lean para a próxima geração de gestores enquanto se aproxima a idade para se aposentarem? A jornada de Bob e Ed é inspiradora. De fato, quando olho para os últimos 14 anos, pergunto o que teria acontecido à economia mundial se cada gerente e controller de uma planta tivesse tido sua constância no propósito para transformar toda a gestão e o sistema de negócios. E se fazendo isso cada gerente em cada empresa tivesse aumentado em quase seis vezes sua produtividade, cortado o espaço necessário por unidade de produção em 75%, alcançado uma perfeição na qualidade de quase 100%, fazendo as entregas na hora certa para os clientes, melhorado constantemente as margens de lucro e aumentado rapidamente as vendas? Estaríamos vivendo em um mundo muito diferente e melhor. Então, seguir seus passos deve ser o desafio para todos nós. Para finalizarmos, preciso enfatizar um ponto adicional, talvez o mais importante. Bob e Ed começaram sua jornada durante a maior recessão de sua indústria. Enquanto sua empresa lutava para consolidar programas de desenvolvimento em 1997, ela foi adquirida por uma empresa gigante completamente desinformada do que eles estavam fazendo e gerenciada em princípios diferentes. A maioria dos gerentes estava completamente confusa — como muitos gerentes estão hoje neste ponto traumático da história? Eles teriam perdido sua concentração, tentando passar o dia sob nova direção. Mas esses gerentes tinham definido um rumo e navegaram firmemente à frente pelo mar agitado. Esse é o verdadeiro desafio para todos nós agora — aproveitar a crise atual, definir uma rota e tornar o caos de hoje em um final útil. 11 de fevereiro de 2009 Agora que Bob e Edcomeçaram a dar apresentações públicas sobre sua jornada, posso revelar que Bob é, na verdade, Greg Peters e Ed, Martin Logde, da Goodrich Corp. Subsequentemente a este artigo, Greg foi promovido à liderança do programa de excelência operacional de toda Goodrich Corp., e Martin continuou como vice- presidente de operações da Goodrich Aerostructures. Esta última é a unidade de negócio onde Greg e Martin conduziram seus muitos experimentos, começando em 1994 quando Greg era gerente da planta e Martin o controller. Depois de caminhar pelos gemba de todos os continentes, exceto da Antártica, ainda estou refletindo no porquê das transformações serem tão mais difíceis do que deveriam. Neste último artigo sobre transformação chego em minha hipótese atual sobre a causa raiz: a natureza horizontal do processo do pensamento lean em um mundo vertical. Ou seja, trata-se das necessidades do processo (como revisto no conjunto de artigos sobre processo) enfrentando as necessidades das organizações e gerentes tradicionais (como descrito anteriormente no artigo Fazendo de Todos um Todo, na página 54). O que é necessário para preencher essa lacuna e continuar a transformação é o gerente do fluxo de valor, uma espécie rara atualmente. Tornando-se Horizontal em um Mundo Vertical Uma das minhas caminhadas favoritas é com gerentes seniores de diversas organizações que compartilham e gerenciam conjuntamente um processo de criação de valor, que se estende desde a matéria-prima até o cliente final. Tenho feito esse tipo de caminhada por mais de 20 anos e geralmente observo a mesma coisa: gerentes inteligentes, que trabalham duro, cada um tentando otimizar sua porção do fluxo de valor. Eles também se perguntam por qual motivo há tantos estoques, tantas interrupções e tantos desperdícios ao longo do fluxo, e por que é tão difícil satisfazer o cliente que nos espera no final do processo. Isso é o que normalmente vejo, porque vivemos em um mundo onde tudo é orientado verticalmente — departamentos, funções, empresas e, de suma importância, os indivíduos —, apesar do fato de que o fluxo de valor para o cliente é horizontal, passando por todos os departamentos, funções e empresas. E — aqui vai a parte mais curiosa — todo gerente e funcionário em contato com o fluxo de valor sabe, intuitivamente, que o valor flui horizontalmente e que os clientes não têm nenhum interesse nas construções verticais que interrompem o fluxo. Então, qual é o problema? Por que é tão difícil para nós agirmos horizontalmente, em vez de apenas lidarmos com os problemas enormes (ou simplesmente os ignorarmos), sendo verticais? Lamento dizer, mas o problema começa com você e comigo. Nós todos fazemos parte do fluxo, mantemo-nos firmes em nossa própria opinião e nosso primeiro objetivo é nos aprimorarmos, melhorarmos a nossa própria parte disso tudo! Dado isso, não é uma surpresa que primeiro buscamos otimizar nosso departamento (onde estão nosso chefe, nossa avaliação pessoal e a trilha de nossa carreira), depois nossa função e, por último, talvez, nossa empresa, sem sobrar energia para otimizar o fluxo todo. Mas não vamos ser tão duros com nós mesmos. Nossos objetivos pessoais, remuneração e trajetórias de carreira nos direcionam intensamente a nos aprimorarmos, por medo de fracassarmos, em vez de ficarmos olhando de um lado para o outro na esperança de fazermos melhor. Nós não somos pessoas tão ruins — pelo menos eu não! —, mas sim pessoas boas trabalhando em um processo ruim de gestão. Entretanto, a menos que projetemos uma nova estrutura de trabalho para pensarmos juntos sobre o fluxo de valor horizontal, de tal forma que isso nos proporcione uma condição melhor, continuaremos a agir como sempre. O resultado previsto será a frustração de nossas vidas profissionais e uma experiência desconfortável ao cliente. Como podemos melhorar? O primeiro passo é simples. Dê uma volta pelo fluxo para enxergar e chegar a um acordo sobre o que realmente está acontecendo e quais os problemas que o estado atual causa para os gerentes, funcionários e clientes. Então, desenhe um mapa no qual todos os envolvidos com o fluxo possam vê-lo e divulgá-lo no chão de fábrica. Esse passo sempre causa perplexidade e depois alívio por todas as disfunções e conflitos se tornarem finalmente públicos. Depois, designe alguém para liderar a equipe, envolvendo todas as funções e empresas que estão em contato com o fluxo de valor, para estabelecerem um processo de criação de valor que melhor solucione os problemas do cliente e, também, economize tempo e dinheiro. Então, pergunte-se por que isso não pode ser criado e procure a causa raiz. Parte do problema pode ser técnica e alguma ajuda externa pode ser necessária quando as habilidades são escassas. Mas, em minha experiência, os problemas críticos tendem a ser mais organizacionais nas múltiplas funções e empresas. Por exemplo, pode ser necessário gastar dinheiro em certos pontos (para instalações, treinamentos, novas embalagens de produtos etc.) e podem ser necessárias mudanças nos comportamentos em um ponto ou outro, a fim de se criar um resultado melhor para o fluxo todo. Mas por que os gerentes da fábrica, do armazém ou os varejistas fariam isso quando todo o benefício vai para um ou poucos pontos de outro lugar do fluxo? E por que os funcionários colaborariam em repensar o trabalho quando eles podem ter mais trabalho ou trabalho nenhum? A resposta é, claramente, que eles não farão isso e todos os envolvidos perderão seu tempo em explicações que a falha em melhorar o desempenho é da outra pessoa. Um clássico dilema do prisioneiro no qual todos recebem para ficar na cadeia vertical! Então, o trabalho do gerente do fluxo de valor — o qual não tem autoridade sobre a maioria e, talvez, sobre todos os departamentos e empresas envolvidas — é de assumir a responsabilidade do desenvolvimento de todo o fluxo de valor e descobrir formas de fazer com que todos avancem no fluxo todo, conforme este melhora. No fim, os líderes seniores de todos os departamentos, funções e empresas terão que concordar com o plano, organizar mecanismos de compensação para aqueles que, por outro lado, seriam perdedores e se certificar de que todos os envolvidos têm incentivos alinhados com o objetivo de otimização do fluxo. Mas o primeiro passo é conscientizar, criar a visão, evidenciar os problemas a serem superados, identificar os custos da melhoria, juntamente com os benefícios do sucesso, e descrever as formas de compensar os custos com benefícios, para obter uma solução com soma positiva. Sem esses passos iniciais, começando com uma simples caminhada juntos, nós todos iremos continuar pelo nosso caminho vertical, onde o desempenho do fluxo de valor é uma linha horizontal estagnada. 18 de maio de 2010 DIFUSÃO A transformação, como usei o termo na seção anterior, trata de líderes que convertem suas próprias organizações modernas em organizações lean. Por difusão, eu quero dizer algo um pouco diferente, notavelmente a disseminação dos conceitos lean de seu ponto de origem nas operações de manufatura a cada processo, em cada organização e em cada setor da economia. A transformação é, na maioria das vezes, o trabalho das pessoas. Às vezes, alguns heróis são realmente necessários, bem como muitos fazendeiros. Mas é melhor pensar na difusão como um processo social, no qual novas ideias que se originam no gemba da manufatura influenciam práticas em outras partes das empresas de manufatura e em outros diferentes setores da economia. Nesta seção, examino o processo da difusão — lembre-se de que a transformação e a difusão são ambos processos — no escritório dentro das empresas de manufatura, nas atividades da base de suprimentos fluxo acima e nas atividades da organização de serviços fluxo abaixo. Depois, olhopara o processo da difusão de atividades bem diferentes da manufatura, desde companhias aéreas até a área da saúde. Finalmente, pergunto por que os empreendedores não conseguem começar e sustentar cada novo negócio como uma empresa lean, em vez de criar um negócio tradicional que logo necessitará de transformação. Lean Além da Fábrica Os pensadores lean têm avançado bastante nos últimos anos ao criarem fluxos suaves para as famílias de produtos, que seguem horizontalmente por todas as operações de produção. Porém, esses processos primários na fábrica são apenas uma pequena fração do total de processos de criação de valor dentro de empresas de manufatura. E, até agora, o movimento lean tem pouco a dizer sobre os outros processos, geralmente escondidos no “escritório”. Cerca de um ano atrás [em 2003], eu falei com a direção da General Motors sobre o desafio de tornar lean os escritórios. A ocasião era o lançamento de um esforço ambicioso para implementar os princípios lean do GMS (seu Sistema de Manufatura Global) em cada processo administrativo da GM. É muito difícil tornar rapidamente lean cada processo em um vasto negócio como a GM, mas os resultados até o momento haviam sido impressionantes e me levaram a pensar na ampliação do foco do movimento lean para incluir toda a gama dos processos de negócios. Eu não havia buscado isso anteriormente por causa das lembranças horríveis da reengenharia do processo de negócios. Esse fenômeno da consultoria veio rugindo pela América do Norte e, depois, pela Europa durante a recessão de 1991– 92, quando muitas empresas grandes estavam desesperadas para cortar custos pelo menos enquanto as vendas estavam diminuindo. A ideia — como popularizada no best-seller de Michael Hammer e James Champy: Reengenharia — era para equipes especiais de reengenheiros de processos (geralmente liderados por consultores externos) para analisar os principais processos, identificar os desperdícios e rapidamente eliminá-lo para criar processos suavemente fluídos a um custo muito menor.7 O problema era que a maioria dos reengenheiros não tinham um método crível ou qualquer experiência, e eles tiveram pouca cooperação dos funcionários. No final, muitos funcionários foram desligados para atenderem às promessas dos consultores de retornos sobre investimentos quase que instantâneos. Mas poucos processos foram reprojetados com êxito. De fato, os efeitos mais duráveis deste episódio foram as tirinhas norte-americanas de Dilbert, criadas por Scott Adams, cujo assediado protagonista veio à público pela primeira vez como o obstinado sobrevivente dos esforços da reengenharia em seu escritório. Esta experiência era tão negativa que eu resistia à ideia do movimento lean enfrentar os processos de escritório até que se adquirisse experiência em como melhorar os processos da forma certa, usando um método rigoroso e com funcionários engajados. Durante o ano passado, enquanto eu assistia aos experimento da GM, eu também ouvia frequentemente dos praticantes lean, em todos os lugares do mundo, que eles estavam se mudando da fábrica para o escritório. Com efeito, conclui que agora temos o conhecimento e que é hora de expandir nosso escopo. Como em qualquer esforço lean, os passos cruciais são: • Identificar os processos fundamentais que devem ser melhorados (da mesma forma que esboçamos uma matriz da família de produtos na fábrica). • Esboçar um mapa preciso do estado atual de cada processo. • Implementar os princípios lean mais importantes para definir um estado futuro mais lean para cada processo. • Implementar este estado futuro de forma que ele possa ser sustentado. Porém, há um desafio especial logo no início. Isto é, para identificar claramente o valor emergindo de cada processo administrativo, a maioria dos quais são processos suporte sem nenhum cliente externo pagando pelos serviços. Em um caso notável na GM, a direção concluiu que um processo caro consumindo muito tempo da gerência não criava absolutamente nenhum valor para ninguém. Em vez de melhorar, a resposta certa seria eliminar. Quando você tencionar tornar lean seus processos administrativos, apenas lembre-se de que na ausência de valor, tudo é muda. 23 de março de 2004 Gerenciar o Contrato ou Melhorar o Fluxo de Valor? O artigo anterior descreve o desafio da difusão por toda empresa de manufatura, mas a difusão também é necessária fluxo acima para todo fornecedor. Isto tem se provado ser de difícil execução, como testemunhado pelo fato de que quase nunca encontro um setor de compras verdadeiramente lean. Este é o caso mesmo em empresas que têm progredido significativamente em tornar lean sua produção, seu desenvolvimento de produtos e processos e seus processos administrativos. O desafio da difusão fluxo acima é o tópico deste artigo. Por mais que eu quisesse, eu não consigo caminhar por todo tipo de fluxo de valor com frequência. Por isso, há um bom tempo tenho caminhado pelos fluxos de valor estendidos compartilhados pelos clientes da empresa e seus fornecedores. Então, quando muitas empresas recentemente me ofereceram uma chance de fazer caminhadas multiorganizacionais — do ponto de uso do cliente até o início dos processos de manufatura dos fornecedores —, fiquei encantado em pôr meus sapatos confortáveis e andar com a equipe dos clientes e fornecedores. Enquanto eu caminhava, rapidamente me lembrei de quão fácil é para todos nós focarmos em medidas formais do desempenho do fluxo de valor, como descrito em contratos: defeitos entregues aos clientes por milhões de oportunidades; preço por peça, geralmente sem a referência do que está acontecendo em relação aos volumes de clientes e aos custos de materiais fluxo acima; e desempenho de entregas, geralmente em relação a um programa do planejamento das necessidades de materiais (MRP), que tem pouca relação com as necessidades reais do cliente em seu ponto de uso. Esses indicadores podem, algumas vezes, ser úteis, mas eles sempre medem resultados após o fato, quando os erros já ocorreram. Mais importante, eles não dizem nada sobre as causas dos problemas ou como eliminá- las. Enquanto eu caminhava também me lembrei de quão difícil é para as organizações de compras clientes e as organizações de vendas fornecedoras, com as quais eles normalmente interagem, falarem em específico sobre seu processo de criação de valor compartilhado e as causas raízes dos problemas, idealmente antes que eles ocorram. Em tempos de volumes estáveis de clientes e custos oscilantes de matéria-prima para os fornecedores, o resultado é geralmente um ritual de soma zero de clientes fazendo ameaças (baseados nas cláusulas penais dos contratos) e fornecedores fazendo promessas de melhorias (baseados, na maioria das vezes, em uma esperança e em uma prece). Isso é realmente boxear o ar, pois sem uma atenção cuidadosa aos processos compartilhados e processos de produção, pouca melhoria no desempenho é possível. No curto prazo, os clientes não têm para onde ir e os fornecedores não conseguem fazer melhorias. Então, ambos os lados ficam satisfeitos com algumas lutas purificadoras na lama enquanto, na verdade, nada muda. Como todos nós podemos fazer melhor? Bem, primeiro, não podemos instantaneamente. O futuro de curto prazo é determinado por decisões tomadas há um longo tempo. Assim como os contratos com suas cláusulas de penalidade também são. Mas podemos fazer melhor no longo e médio prazo se mudarmos nosso foco de disputas sobre contratos (refletindo sobre relações abstratas legais), para gerenciar fluxos de valor compartilhados por meio da observação em conjunto do processo de suprimento real. Para isso, o cliente precisa dar o primeiro passo. Taiichi Ohno da Toyota acreditava que o chão de fábrica é um reflexo da gestão. Permita- me acrescentarum corolário: a base de suprimentos e o desempenho dos fluxos de valor compartilhados com fornecedores são um claro reflexo da gestão de compras do cliente. Uma base de suprimentos brilhante com desempenho de preços, qualidade, entrega, flexibilidade e produtos superiores não surge magicamente. E não pode ser encontrado nas prateleiras instantaneamente, visitando algum “supermercado de fornecedores” virtual. Ela é criada ao longo do tempo por uma organização de compras brilhante. Na verdade, uma base de suprimentos brilhante é a real (e única?) criação de valor feita por compras. Então, como iniciamos a transição da gestão de contratos para a melhoria dos fluxos de valor? Primeiro, o cliente precisa de um “plano para cada fornecedor”, assim como uma organização lean precisa de um plano para cada peça, cada máquina e funcionário. Isso significa definir os fornecedores certos com quem trabalhar no longo prazo e, então, entender o estado atual do projeto e do processo de produção de cada fornecedor para os itens fornecidos. Há muitos anos, quando visitei pela primeira vez a Toyota no Japão, jantei com o diretor de compras. Perguntei como ele poderia ter tanta certeza de que a Toyota teria bom desempenho de seus fornecedores, quando apenas dois deles eram utilizados por um tipo necessidade e quando a Toyota baseava-se no preço-alvo e não nas propostas dos fornecedores. “Como”, perguntei, “você sabe que não está sendo roubado?” Após um olhar incrédulo, ele respondeu, “Porque eu sei tudo — cada aspecto de cada processo de criação de valor — da matéria-prima nos fornecedores até as operações da Toyota. É meu trabalho”. Na prática, alcançar isso significa continuamente determinar a lacuna de desempenho entre o que o fluxo de valor do fornecedor é capaz de entregar e o que o cliente precisa. Depois, isso requer um plano do estado futuro para quem fará o que e quando — tanto no cliente quanto no fornecedor —, a fim de alcançar um estado futuro do fluxo de valor adequado às necessidades atuais e futuras do cliente. Mas criar um fluxo de suprimentos lean também significa que compras precisa olhar para dentro de suas próprias paredes corporativas para fazer um pouco de hansei (autorreflexão crítica) organizacional. Por que as programações da produção são tão irregulares e imprecisas? Por que os pedidos não são feitos de forma nivelada para os fornecedores? Por que a logística aceita itens de fornecedores no ponto de uso tão malgeridos? Por que as exigências do projeto para itens fornecidos são congeladas tão tardiamente no processo de desenvolvimento? Por que o processo de produção do cliente é tão mal projetado e requer kaizen imediato depois do lançamento, perturbando o processo de produção do fornecedor (cujo processo também é mal projetado, em parte por causa da falta de atenção do cliente)? A reação comum do setor de compras quando apresento esses pontos é dizer, “Espere um minuto. Obtivemos os itens necessários dos fornecedores disponíveis e negociamos muito por bons termos em contrato, que poderemos cumprir. Não temos ordem para olhar fluxo abaixo em nossa organização ou fluxo acima no que os fornecedores realmente fazem em seus fluxos de valor, a fim de atender nossas necessidades. E não podemos nos dar ao luxo de construir no longo prazo relacionamentos estáveis com fornecedores, já que o mercado muda sempre”. E respondi, “Tudo bem, mas você sempre terá uma base ruim de fornecedores com baixo desempenho e perderá seu tempo procurando peças”. Então, essa é uma questão sobre o que o setor de compras pensa que deveria fazer e o que ele pode fazer. Talvez você se lembre do provérbio de Henry Ford que você pode pensar que você pode ou você pode pensar que você não pode, e você estará certo (veja A Pior Forma de Muda na página 155). (Mas, por favor, esqueça que Henry realmente pensou que não poderia criar um processo de compras brilhante e, por isso, o integrou verticalmente!). No mundo de hoje, sabemos que a integração vertical não funciona. A não integração está aqui para ficar. Itens comprados são responsáveis por metade ou mais dos custos totais da organização mais uma grande fração dos problemas de qualidade, entrega e resposta. Por isso todos precisamos pensar que o setor de compras pode criar e sustentar bases de suprimentos brilhantes. Isso levará tempo e investimento inicial, mas o custo de não agir é muito maior com o passar do tempo. Por isso, onde quer que você esteja em sua organização e qualquer que seja a relação de sua organização com os fornecedores, espero que você dê sua mão para ajudar com a difusão do suprimento lean. 16 de setembro de 2008 Mesmo quando as organizações difundem com êxito a mentalidade enxuta fluxo acima, elas ainda estão longe do que eu chamaria de “empresas lean”. Isso porque o valor é definido pelo cliente final. Mura, muri e muda no fluxo de valor precisam ser eliminados totalmente para o cliente, e a definição de valor do cliente deve ser respeitada antes de qualquer organização ter o direito de se intitular “lean”. Os próximos dois artigos enfrentam esse problema, o qual tem provado ser difícil tanto para os líderes lean, como a Toyota e a Honda, em suas operações fora do Japão, como para outras empresas. Mesmo quando as organizações e seus parceiros fluxo acima na criação de valor desejam fazer uma caminhada estendida ao longo de seus fluxos compartilhados, acredito que seguir o fluxo por todo seu percurso até o cliente final é o grande desafio. Isso porque a produção e o suporte ao cliente são geralmente conduzidos por organizações independentes. Mas também porque a confusão sobre o valor e o propósito torna-se mais importante e aparente conforme nos aproximamos do cliente final. No próximo artigo, discuto esse problema atual, mesmo no caso das melhores empresas, e sugiro uma ferramenta para enfrentá-lo — o mapa do fluxo de valor do início ao fim. Pensando do Início ao Fim Todo fluxo de valor segue da matéria-prima, passando por todo o caminho até o cliente final. E o valor para o cliente é entregue apenas no final. Em muitas indústrias, é claro, a “matéria- prima” é informação em vez de moléculas — como os dados na solicitação de indenização processado por uma empresa de seguros. Mas a situação é a mesma. O valor só é entregue no final do fluxo. Hoje, enxergo muito progresso na implementação da mentalidade enxuta nos segmentos dos fluxos de valor, mesmo por meio de funções dentro das empresas. Mas otimizar o fluxo todo conforme ele fui entre as empresas — para verdadeiramente resolver o problema do cliente enquanto ajuda todos os fornecedores a prosperarem — ainda parece ser ilusório. Veja o caso dos veículos. Como clientes, queremos obter um objeto físico chamado carro ou caminhão. Mas o problema real que estamos sempre tentando resolver é a mobilidade pessoal: queremos chegar aos lugares com baixo custo e sem muito esforço ou perda de tempo. Então, os processos de compra do veículo e sua manutenção para uma vida estendida são partes fundamentais do fluxo de valor total. Esse fluxo total deve conectar o projeto de manufatura do carro e os processos de produção às vendas das concessionárias e processos de serviços. Estive olhando os dados coletados pela J.D. Power and Associates sobre a satisfação dos clientes, por marca de veículo, com a experiência da compra e do serviço do carro nos Estados Unidos. E andei comparando essa informação com os dados de satisfação do veículo em si. Não é uma surpresa que a Toyota continua recebendo as melhores avaliações no quesito satisfação de veículos entre as marcas vendidas nos EUA. Sua marca Lexus era a número 1 em 2006, enquanto a Toyota era a número 4, apesar de alguns problemas recentes de recall. Esses são os dados para problemas com o veículo nos primeirostrês meses de sua aquisição, e os resultados são similares após três anos. Os compradores da Lexus foram os que reportaram menos problemas, enquanto a marca Toyota está em quinto lugar entre as 37 marcas no mercado. Mas a experiência do serviço nas concessionárias da Toyota — como registrado pelo Índice de Serviço ao Cliente da J.D. Power — está na 27a posição entre as 37 marcas. (Lexus é a número 1). E a experiência de compra nas concessionárias da Toyota — registrada pelo Índice de Satisfação de Vendas da J.D. Power — está em 29a de 37. (Lexus é a número 2). O que é pior, como Dan Jones e eu citamos em nosso livro Soluções Enxutas (onde provemos dados coletados pelo Programa Internacional de Distribuição de Carros) todas as 37 marcas são terríveis para atender as necessidades do cliente a um custo razoável! Deste modo, as concessionárias da Toyota estão indo mal em uma corrida na qual ninguém está indo bem. Em suma, a Toyota resolve metade dos problemas dos clientes, entregando veículos de alta qualidade. Mas ainda está tendo dificuldades para resolver todo o problema, aperfeiçoando o fluxo de valor total do veículo mais as vendas e serviços. Como pode ser? E como o desempenho da Toyota no maior mercado que existe, nos EUA, pode ser tão diferente do seu mercado de origem no Japão, onde a experiência de compra e de serviço da Toyota é lendária pela satisfação do cliente que ela provê? O coração do problema, penso eu, é que as concessionárias da Toyota no Japão são copropriedades da Toyota. Portanto, aplicar o enfoque sistêmico nos processos de vendas e de serviços é muito mais fácil: a concessionária realmente tem que escutar. No resto do mundo, as concessionárias de veículos, de todas as marcas, inclusive a Toyota, são negócios independentes. E, pela minha experiência, a maioria das concessionárias — certamente não apenas da Toyota — são “caçadoras”. Elas focam na venda a um preço vantajoso e, depois, partem para a próxima venda. Em vez disso, necessita-se de “fazendeiros” que, cuidadosamente, estudem os processos de vendas e de serviços para resolver completamente todos os problemas dos clientes por toda a vida útil do veículo. Assim, o fato é que, porque as concessionárias da Toyota têm tido um produto superior para vender, elas poderiam se dar ao luxo de tratar mal o cliente. A combinação de um veículo de alta qualidade mais vendas e serviços inferiores — a experiência total do cliente — ainda era competitiva no mercado. Além disso, as concessionárias erroneamente acreditam que criar uma experiência de compra e uso superior deve lhes custar dinheiro. As concessionárias da Lexus, pelo contrário, tratam bem seus clientes. Mas elas parecem fazer isso gastando mais em vendas e serviços, e não por meio da criação de fluxos de valor suaves e de baixo custo. Com um produto de preço mais alto, elas podem se dar ao luxo de fazer isso, apesar dos desperdícios em seus processos. Agora sabemos que a crença de que vendas e serviços melhores custam mais é simplesmente equivocada. De fato, vendas e serviços melhores, como melhor qualidade nos produtos, na verdade, custam menos. Isso porque grandes quantidades de tempo e esforço desperdiçados para as concessionárias e para os clientes podem ser eliminadas por meio de uma análise cuidadosa do processo. Dan Jones e seus colegas da Lean Enterprise Academy, no Reino Unido, têm demonstrado isso claramente por meio de seu trabalho com o sistema de concessionárias de veículos GFS de Portugal, onde um terço dos custos de fornecimento de uma dada quantidade de serviço foi eliminado, ao mesmo tempo que o nível de serviço ao cliente melhorou drasticamente. Agora que outros fabricantes estão reduzindo as lacunas com as marcas da Toyota quanto a defeitos entregues e durabilidade do produto — veja, por exemplo, o progresso recente da Hyundai — a Toyota precisa tornar lean seu fluxo de valor total até o cliente. E não duvido de que a Toyota tentará, dada sua longa tradição de mentalidade e processos brilhantes. Mas e o resto de nós, de qualquer indústria que sejamos? Quase todas as empresas no mundo desintegrado de hoje ou não alcançam o cliente final por meio de outras empresas ou obtêm os itens de que necessitam para resolver os problemas dos clientes de muitos fornecedores. Os clientes finais — você e eu — estão interessados apenas no valor entregue no final do fluxo de valor. E certamente não queremos ouvir sobre as dificuldades que os varejistas, distribuidores, fabricantes e fornecedores estão tendo, cooperando uns com os outros, para resolver nossos problemas. Então, o desafio agora para todos nós — não importa a qual cliente vamos servir — é começar a conversar com todas as empresas sobre a otimização total dos fluxos de valor. A melhor abordagem é fazer uma caminhada juntos, de trás para frente, começando do cliente final (ou melhor, com o cliente final), a fim de esboçar um mapa preciso do fluxo de valor total com todas as suas imperfeições. Depois, é hora de conversar seriamente sobre como criar um fluxo de valor suave de baixo custo e com alta qualidade, que pode ter um resultado bom para todos: para os prestadores de serviços, os fornecedores e os consumidores, conforme todos aprendem a pensar do início ao fim. 11 de agosto de 2006 Leitura adicional: James P. Womack e Daniel T. Jones, Soluções Enxutas. São Paulo: Editora Campus, 2006. Mesmo quando há um desejo de caminhar por todo o caminho até o fim do fluxo de valor, ainda há uma necessidade de um método rigoroso para analisar e melhorar o processo de suporte ao cliente. Felizmente, muitos pensadores lean assumiram este desafio, que será o tópico do próximo artigo. O Elo Perdido Eu tenho um grande fogão, não que eu cozinhe muito. É lustroso, sofisticado e repleto de recursos, a maioria dos quais eu nunca uso. Fiquei muito feliz com este objeto brilhante e com seu fabricante por mais de cinco anos. Até as últimas semanas, quando tive que levá-lo para seu primeiro conserto. Chamei a empresa de serviços do fabricante e consegui marcar uma visita do técnico, após ter ligado muitas vezes e terem me retornado outras mais. Quando o técnico chegou, foi fácil identificar o problema. Na verdade, eu tinha descrito exatamente o problema pelo telefone. Mas o técnico não tinha essa informação e não tinha as peças substitutas corretas. Então, uma segunda visita foi agendada. Na segunda visita, o técnico pensou que as peças eram certas, mas as instruções de instalação, de alguma forma, estavam incompletas. Após uma longa discussão pelo telefone com a empresa de suporte técnico do fabricante — que eu estava pagando, pois o técnico cobrava por hora trabalhada — as peças foram instaladas. E elas falharam de imediato. Definitivamente, não eram as peças certas. Então uma terceira visita foi agendada. “Três vezes é perfeito” é uma expressão comum em inglês, apesar do mistério desse número exato, como Cinco Porquês, Seis Sigma e, até mesmo, os Sete Desperdícios. E isso parecia ser o caso. As novas peças foram instaladas, o fogão funcionou perfeitamente e o trabalho terminou. Exceto pelo fato de que o técnico — quem finalizou o trabalho enquanto eu me afastei tolamente para trabalhar um pouco — esqueceu-se de colocar o fogão pesado e difícil de se mover de volta em seu lugar na cozinha, deixando um enorme vão atrás. Assim, a quarta visita foi agendada. (Demais para a mágica dos três). Agora está tudo bem. Mas repare no tempo e no custo desnecessário, tanto para mim, consumidor, quanto para a empresa de serviços. E eu vejo esse tipo de drama toda hora: suporte técnico incerto para conectar computadores e TI no escritório. A falta de competência de manter passarelas móveis e escadas rolantes realmente funcionando. A brilhante máquina “lean” que eu examinei em umarecente caminhada pelo fluxo de valor de uma fábrica muito lean que estava indisponível por uma série de acidentes misteriosos. Minha conclusão: há um elo perdido entre os excelentes objetos do mundo — agora mais baratos e melhores, em muitos casos por causa da aplicação do lean em seus projetos e na manufatura — e o suporte para tais objetos nas mãos dos clientes durante sua vida útil. Os pensadores lean precisam agora resolver essa lacuna, e fico feliz em informar que Dave Brunt e John Kiff da Lean Enterprise Academy, no Reino Unido, em colaboração com Dan Jones, recentemente formalizaram um processo de suporte ao cliente altamente efetivo. Eles conduziram uma série de experimentos para implementar o lean nos consertos de automóveis, e o que eles aprenderam merece ser amplamente propagado, pois é muito poderoso e útil a qualquer pessoa em qualquer negócio de suporte ao cliente. Deve-se começar esboçando um mapa do estado atual do processo de manutenção de carros. Isso inclui todas as etapas — criação de valor e desperdícios — exigidas atualmente da hora em que o cliente liga para um agendamento até a devolução do veículo ao cliente no final do ciclo do conserto. Uma vez que o mapa foi traçado, é hora de perguntar quão bem o processo está funcionando ao entregar valor para o cliente, assim como bons resultados do negócio para o prestador de serviços. Determinar isso requer ir além das medidas típicas de satisfação dos clientes (“meça sua satisfação com o serviço de sua concessionária em uma escala de 1 a 10”) para descobrir com qual frequência um serviço é concluído certo na primeira vez e na hora certa (CPVHC). CPVHC raramente é medida pelas concessionárias ou empresas de automóveis, mas é a base essencial da “satisfação”. E esteja preparado para o pior: avaliações por todo o mundo pelo Programa Internacional de Distribuição de Carros mostra consistentemente que os consertos de carros são concluídos CPVHC em apenas seis de 10 casos. Isso é, 1,75 sigma! Nenhum processo pode ser melhorado se o trabalho a ser feito é uma surpresa contínua sem oportunidade de planejamento. Felizmente, com um “pré-diagnóstico” cuidadoso de veículos que chegam para o conserto, é possível prever quais veículos precisarão de qual tipo de serviço e, então, solicitar previamente as peças. O pré- diagnóstico envolve uma conversa cuidadosa com o cliente por telefone ou e-mail sobre a natureza do problema, usando um cheklist administrado por funcionários que têm conhecimento técnico. Um segundo contato com o cliente, anteriormente ao serviço, confirma que não há novos problemas (e também aumenta a probabilidade do veículo ser trazido no tempo certo). E uma inspeção do veículo no momento em que ele chega na concessionária confirma o diagnóstico e fornece ao cliente o custo preciso do conserto. Alguns tipos de trabalho respondem por uma grande fração do total de consertos de carros. Por exemplo, revisões baseadas na quilometragem ou no tempo de uso dos veículos que, por outro lado, estão funcionando bem. Criando fluxos de valor diferentes — um para serviços de alto volume, que podem ser feitos rapidamente; outro para serviços mais complexos, que podem ser corretamente pré- diagnosticados; e um terceiro para serviços em que o problema não é conhecido antes da investigação detalhada no local do conserto — é possível suavizar e acelerar o fluxo de trabalho para a maioria dos serviços com benefícios tremendos quanto ao tempo de resposta do cliente e à produtividade do processo. Mesmo com o melhor pré-diagnóstico e atribuições de serviços para o fluxo de valor correto, o fluxo ainda pode ser interrompido se as peças, ferramentas, informações técnicas e os técnicos certos não estiverem disponíveis no momento que o trabalho precisa ser feito. (Observe minha frustração com o conserto de meu fogão. Mesmo quando tentei ajudar o prestador de serviços a pré-diagnosticar meu problema, as peças certas e a informação certa ainda não estavam disponíveis. Isso fez com que o serviço parasse e necessitasse reiniciar, consumindo mais tempo). Portanto, o prestador deve ter um sistema robusto para puxar todos os itens necessários no ponto de uso na hora certa. E, finalmente, cada etapa do processo deve ser capaz, no sentido de qualidade perfeita na fonte, a fim de aumentar a velocidade, ao mesmo tempo que evita o retrabalho no final do processo ou uma vez que os problemas são descobertos pelo cliente. Alcançar todos esses objetivos exige que alguém seja responsável pelo desempenho de todo processo de serviço e que medidas visuais sejam postas no lugar, tais como programas e quadros de progresso, para que o status do processo seja, de imediato, visível e todos os problemas sejam rastreados até suas causas raízes. A consequência de se criar um fluxo lean é que a manutenção e o conserto podem ser feitos CPVHC em uma fração extremamente maior de casos a um custo mais baixo. David Brunt e John Kiff verificaram recentemente esta hipótese por meio de seus experimentos com concessionárias de veículos na Europa, aumentando CPVHC em veículos que poderiam ser pré-diagnosticados de 60% a 94%, e cortando o custo do conserto típico em 30%. Uma situação ganha-ganha para o cliente e para o prestador de serviços. Em vez de ser fatalista sobre o potencial da manutenção e do conserto lean na organização onde você trabalha, espero que ajude, liderando a implementação de técnicas lean no suporte ao cliente. Você estará construindo uma empresa forte. E quando as outras organizações seguirem o exemplo da sua empresa, este será um benefício extra. Você terá ajudado a construir uma vida mais satisfatória para você mesmo como consumidor. 7 de fevereiro de 2008 Leitura adicional: Dave Brunt e John Kiff, Creating Lean Dealers. Goodrich, UK: Lean Enterprise Academy, 2007. Se nos permitirmos sonhar por um minuto, podemos facilmente imaginar a criação de empresas lean funcionando de trás para frente, do cliente à matéria-prima, no mundo de produtos manufaturados. Mas essa grande conquista ainda não atingiria a maioria das atividades de criação de valor do mundo. A difusão se torna um fenômeno realmente sério e poderoso quando a Comunidade Lean usa esses esforços para transformar o mundo dos serviços. Por isso, dediquei muitos dos meus artigos para a difusão em diferentes setores. Companhias aéreas têm sido uma das minhas favoritas, talvez porque escrevi a maioria destes artigos enquanto voava para ou de uma caminha pelo gemba. Entretanto, difundir o lean mais e mais deste ponto de origem nunca será fácil. Lean em Viagens Aéreas Recentemente, recebi uma ligação de um assistente do presidente da American Airlines. Essa pessoa queria implementar o lean em viagens aéreas e perguntou o que eu achava de sua ideia “lean”. Acontece que a American estava fazendo planos para suavizar o fluxo de passageiros e aeronaves entre seus maiores centros em Dallas e Chicago. A ideia era disseminar chegadas e partidas para que os aviões trafegassem com uma taxa razoavelmente constante durante o dia, em vez de grandes ondas requeridas pelos clássicos sistemas tradicionais. (Eles provavelmente pensaram que isso fosse um tipo de heijunka). A nova abordagem exigiria menos funcionários nos portões e os aviões esperariam em filas menores para decolar (possivelmente permitindo que a companhia colocasse mais uma viagem por avião ao dia). O que o assistente queria era que eu certificasse que isso era “lean” em viagens aéreas. Respondi, como sempre, “Você deveria começar com o valor sob o ponto de vista do cliente. Essa proposta deixará o cliente mais satisfeito? E isso é algo pelo que o passageiro pagaria?”. E acontece que as tendências são, na verdade, projetadas para fazer melhor uso dos recursos da companhia. Agora, o passageiro, ao chegarno centro para mudar de avião, poderia esperar uma aglomeração pequena de pessoas, uma fila curta de embarque e... uma espera maior no centro para fazer conexões. Quem sabe se os passageiros achariam isso um bom negócio, mas ninguém na companhia ao menos perguntou o que é valor para o cliente em um período que a redução de custos parece ser a única abordagem de sobrevivência na maioria das companhias. Por isso, permita-me aplicar o lean em viagens aéreas fazendo duas perguntas que a American deveria ter feito: O que o passageiro de fato quer? Minha resposta é: há dois tipos muito diferentes de passageiros. Um — o passageiro a lazer, suscetível ao preço — quer o menor preço para viajar com segurança de A a B. O outro — o passageiro executivo que pensa que seu tempo vale muito dinheiro — quer o percurso mais rápido para viajar com segurança de A a B. (E observe que todos podemos ser um ou outro dependendo do propósito de nossa viagem). O problema com as companhias de sistema tradicional é que elas estão tentando servir ambos os tipos de passageiros com praticamente o mesmo produto, adicionando um assento levemente maior, bebidas grátis e uma sala VIP no aeroporto para os passageiros executivos. Como um pensador lean diria, elas estão juntando fluxos de valor que, na verdade, deveriam estar separados. Pior, essas companhias cobram do passageiro executivo, o qual não pode reservar com antecedência ou permanecer durante um sábado, várias vezes o preço por praticamente o mesmo produto. As companhias de sistema tradicional têm construído enormes quantidades de desperdício em seus fluxos de valor para os dois tipos de passageiros, pois, para viajar para qualquer lugar, o passageiro precisa tomar dois vôos — um de sua origem até o centro para o cross-docking (ou, neste caso, autotriagem) e o segundo do hub até seu destino. Quando você adiciona os longos tempos de troca nos projetos atuais de aeronaves (onde centenas de passageiros devem se apertar para entrar e sair por uma porta estreita) e o capital maciço e custos operacionais nos centros de triagem (onde eu me considero um pacote com pés), não é uma surpresa que a maioria dos passageiros estejam insatisfeitos, tanto porque o produto custa muito como porque a viagem demora muito. Em vez disso, o que o pensador lean iria propor? É realmente muito simples: 1. Desagrupe os fluxos de valor dos passageiros suscetíveis ao preço e daqueles suscetíveis ao tempo. 2. Ofereça vôos da origem ao destino usando tipos diferentes de equipamento. 3. Desenvolva tipos de aviões que possam ser rapidamente reabastecidos entre os vôos. A Southwest, JetBlue, Ryanair e easyJet têm avançado constantemente para introduzir o vôo direto para o passageiro suscetível ao preço. E podemos esperar que seus esforços continuem nos próximos anos. No entanto, pelo que experimentei nessas companhias, seus esforços estão sendo apenas pela metade. Elas servem apenas mercados que podem gerar cinco viagens completas por dia, com aviões carregando de 90 a 150 passageiros. E os tempos para reabastecimento passaram dos 15 minutos que a Southwest originalmente pretendia para os 30 minutos de hoje. Por que elas não podem oferecer o mesmo serviço de forma rentável com jatos menores para que possam servir muitos mais pontos e por que não podem trabalhar com fabricantes de aeronaves para projetarem aviões que possam ser reabastecidos em 10 minutos ou menos? (A troca de ferramentas em um dígito do Dr. Shingo aplicada para redução do set-up da aeronave). Ao mesmo tempo, por que alguém — qualquer um, por favor! — não usa jatos menores, oferecendo serviço direto programado para os passageiros executivos de aeroportos secundários (completamente subutilizados) em toda área metropolitana? Se os passageiros pudessem estacionar perto do avião, viajar rápido com segurança e evitar filas de embarque, seria possível reduzir o tempo de reabastecimento e as esperas no aeroporto para apenas alguns minutos. Na verdade, usar terminais pequenos, chegar apenas alguns minutos antes do vôo e voar direto poderia, em alguns casos, tornar possível a redução do tempo total de viagem pela metade, comparado com os sistemas tradicionais, mesmo que os aviões não voem mais rapidamente. Estas são ideias simples: pergunte o que o passageiro realmente valoriza e onde está o desperdício que evita a criação deste valor. Depois, repense os métodos operacionais e os papéis dos funcionários. (Propósito, depois processo, depois pessoas!). É maravilhoso quão fácil o lean pode ser se apenas os gerentes pudessem se esquecer de seus recursos e métodos tradicionais por um momento e dessem a eles mesmos a liberdade de sonhar. 5 de maio de 2003 Criando Lean na Saúde Após muitos anos de tentativas — gastei muito tempo, anos atrás, discutindo com um empresário que tentava criar uma companhia aérea “lean” para passageiros executivos — sou forçado a admitir que, até agora, não houve nenhum progresso. (A única coisa boa que tenho a dizer é que a duração de minhas viagens nunca parece menor, por isso eu tenho bastante tempo para escrever). No entanto, antes de declarar derrota, vamos examinar um tipo diferente de atividade econômica — a área da saúde — que, até poucos anos atrás, me parecia tão igualmente sem esperança. Em 1997, visitei um enorme complexo médico da clínica Mayo em Rochester, Minnesota. Não fui como paciente. Eu era uma espécie de antropólogo lean. Fazia minha primeira incursão em uma grande organização médica para examinar seu processo de pensamento e comportamento de uma perspectiva lean. A viagem foi marcada pelo Dr. Don Berwick, fundador e presidente do Institute for Healthcare Improvement em Boston. [Don foi recentemente designado a Diretor dos Centers for Medicare e Medicaid Services pelo Presidente Obama]. Don tinha acabado de me convencer de que eu deveria fundar o LEI como um substituto da minha antiga casa no MIT. Ele me pediu para refletir sobre uma simples questão: como um grande sistema médico consegue implementar o lean em todas as suas atividades? (Como Don disse, “Na saúde não temos uma cópia da Toyota. Nem mesmo temos um YugoNT. Então, por onde começar?”). Nota da Tradutora: Yugo foi um automóvel feito na antiga Iugoslávia e comercializado nos Estados Unidos, famoso por sua péssima qualidade. Como sempre, caminhei. Por dois dias, segui o caminho de um determinado número de pacientes, assim como o caminho de suprimentos médicos, agendamento de pacientes e espécimes nos laboratórios. (Chame esses caminhos de fluxo de valor se você preferir). E eu logo cheguei a um diagnóstico: esclerose múltipla dos caminhos dos pacientes e dos caminhos de suporte. Na Mayo (e em muitas clínicas que visitei desde então), encontrei médicos brilhantes que eram otimizadores pontuais e que focavam em suas atividades, sem muita reflexão (ou paciência) de como isso influenciava os outros. Os administradores, pelo contrário, eram otimizadores ativos, tentando manter cada dispendiosa máquina, sala do hospital e especialistas ocupados, mesmo se isso significasse atrasos para o paciente e sobrecarga para os funcionários. Os enfermeiros pensavam sobre o caminho dos pacientes e sobre os processos centrais de suporte, como movimentação de suprimentos e medicamentos. Mas eles faziam isso intuitivamente e reativamente para, de alguma forma, manter as coisas funcionando. Eles precisam de reconhecimento da importância de suas tarefas e de uma metodologia rigorosa. Juntos, os médicos brilhantes, os administradores diligentes e os enfermeiros pacientes estavam provendo saúde que custa muito mais, leva muito mais tempo e geralmente produz resultados não muito bons. Para dar o salto lean, todos na organização precisam mudar sua forma de pensar e agir. Minha prescrição foi simples: identifiquetodos os longos caminhos dos pacientes e também os fluxos de suporte. Mapeie-os do início ao fim. Depois, pergunte como cada trajeto pode estar livre de paradas, retornos e do beco sem saída para benefício do hospital, de seus funcionários e seus pacientes. Finalmente, e mais importante, pergunte quais mudanças na gestão serão necessárias para manter os caminhos livres. O que me preocupou não foi o diagnóstico ou a prescrição. Eu tinha certeza de que estava certo. O que me preocupava era o prognóstico. Minhas recomendações exigiriam que todos — médicos, enfermeiros e administradores (e fornecedores também) — mudassem seu comportamento, seu estilo de vida organizacional. E, como os profissionais da saúde sabem, mudar o estilo de vida é geralmente a parte mais difícil de qualquer tratamento. Dadas as dificuldades, finalizei minha primeira aventura na área da saúde em maio de 1997, pensando que ainda era prematuro esperar muito progresso do lean na saúde. Não retornei a Mayo até a semana passada [abril de 2007], quando passei um dia com o Dr. Henry Ting, um cardiologista com instinto natural para o foco nos processos. Olhamos atentamente para o trabalho que sua equipe realizou recentemente para acelerar os processos de pacientes a partir do ponto em que eles suspeitam estar tendo um ataque cardíaco — geralmente longe de um hospital — até o ponto em que todos os tratamentos apropriados foram aplicados. Os resultados são muito dramáticos. Repensar esse trajeto salva vidas — muitas vidas —, porque quanto mais rápido os tratamentos apropriados são aplicados, mais provável é que o paciente sobreviva e sobreviva sem maiores danos ao coração. E aqui está a verdadeira novidade animadora: um trajeto reduz custos para o hospital e torna a vida dos funcionários melhor. É um ganha-ganha. Meu ceticismo em minha visita anterior foi substituído pela esperança após essa visita. Mas eu também entendi enquanto voava para casa que a equipe do Dr. Ting desenvolveu um procedimento brilhante em um dos problemas mais fáceis de se corrigir e manter. Eles analisaram um trajeto único, no qual o valor de se ganhar tempo é tão óbvio que qualquer organização médica achará difícil não mudar seu comportamento, uma vez que o estado esclerosado do caminho é claramente revelado. (De fato, agora essa nova abordagem está sendo aplicada com êxito por toda a prática cardiológica da Mayo e por pioneiros similares ao longo de outros caminhos em muitas organizações de saúde ao redor do mundo). A parte difícil para nós é unir esses pioneiros esforços de caminhos únicos — que pareciam estar muito além de nosso alcance há apenas 10 anos. Precisamos criar uma empresa toda lean, na qual todos os trajetos tenham sido permanentemente obstruídos e o estilo de vida da organização tenha mudado. Isso exigirá mais do que técnicas lean. Exigirá novos métodos de gestão e um novo tipo de liderança transformadora. Esses são os fluxos de valor mais importantes em nossas vidas. Na verdade, eles, com frequência, determinam a duração e a qualidade de nossas vidas. Como eu disse para uma audiência australiana da área da saúde, “A Toyota cuida melhor das partes do carro que a maioria das organizações de saúde cuidam de seus pacientes”. Isso não está certo! Agora, sabemos como fazer melhor e temos uma obrigação moral de fazê-lo. Por isso, estou muito animado pelos pensadores lean da saúde estarem ao menos tentando resolver os fluxos de valor mais importantes do mundo. Mas estou também preocupado que não avançaremos com as intervenções em caminhos únicos. E estou com medo de que as melhorias nos trajetos individuais não possam ser sustentadas, pois as organizações nas quais eles estão não mudaram. De que o paciente — o sistema todo de saúde — realmente precisa é repensar a gestão e a liderança para que possamos, de fato, criar e sustentar uma saúde lean. 3 de maio de 2007 Este artigo foi escrito em uma época quando o pensamento lean estava começando a se disseminar na área da saúde. Eu acho maravilhoso que apenas três anos depois houve uma explosão de interesse devido ao entendimento de que o sistema atual não pode lidar com desafios de custo e qualidade, enquanto a geração da explosão populacional se aproxima da aposentaria e a economia se estagna em todos os países desenvolvidos. Um dos experimentos mais dramáticos em andamento é descrito no próximo artigo. A Virada Pelo meu desejo de muitos anos de implementar o lean na área da saúde, eu estava otimista demais em relação aos primeiros experimentos, começando com hospitais em Seattle na metade dos anos 90. [Veja O Problema da Sustentabilidade, página 91, para uma breve descrição do que aconteceu]. Quando esses esforços falharam, eu estava pessimista demais — apesar de dizer a mim mesmo para praticar um heijunka emocional — e comecei a me perguntar se, talvez, a saúde estava imune ao vírus lean. Mas os experimentos continuaram [veja o artigo anterior, Lean na Saúde] e, gradualmente, depois de muitos outros inícios falsos, as ideias nascidas nas fábricas foram adaptadas pelos médicos. Levou-se ainda mais tempo para se desenvolver métodos de gestão lean em uma indústria artesanal sem nenhum trabalho padronizado, poucos resultados tornados públicos e pouca habilidade para se pensar horizontalmente sobre o fluxo de pacientes durante os diagnósticos e processos de tratamento. E, até pouco tempo, o contexto econômico da saúde ainda não tinha mudado. Governos e seguradoras desejavam e eram capazes de despejar enormes quantias de dinheiro para profissionais da saúde, exigindo-se muito pouco em troca. Então, por que as organizações da área da saúde deveriam enfrentar o grande desafio da transformação lean se os provedores medíocres poderiam sobreviver e até mesmo prosperar? Agora o contexto mudou. Os Estados Unidos gastam mais de 16% de seu produto nacional bruto com a saúde — duas vezes o nível de outras economias avançadas. Porém, a demanda pela saúde se elevará rapidamente em linha espiral enquanto mais 24 milhões de cidadãos se associam ao seguro de saúde subsidiado e a geração da explosão populacional marcha para um estágio da vida em que a saúde precisa se multiplicar. Dados os limites de gastos que os EUA estão enfrentando e a resistência dos eleitores quanto a impostos adicionais, as únicas alternativas na falta de uma reforma no serviço de distribuição são o controle de preços, a redução e a negação dos serviços prometidos. Felizmente, os pensadores lean, após 15 anos de experimentos, agora têm as ferramentas para reformar os serviços de saúde. Nos últimos anos, os proponentes do lean na saúde demonstraram que os custos podem ser potencialmente reduzidos, enquanto os resultados e a experiência do paciente podem melhorar significativamente — uma proeza que se pensava ser impossível. Eles também mostraram que o progresso estável pode ser sustentado em organizações complexas de saúde. Uma das melhores demonstrações do que aprendemos são os experimentos do sistema médico da ThedaCare, descrito recentemente por Toussaint e Gerard em seu livro On the Mend8. Acredito que este volume terá um efeito profundo por resumir os princípios do lean na saúde, documentar seus benefícios com exemplos impressionantes e prover um plano de ação para outras clínicas seguirem e alcançarem resultados semelhantes. Os princípios que John e Roger implementaram na última década são simples e funcionam: 1. Foque no paciente (não na organização e em seus funcionários, na indústria de seguros, nas empresas de remédios etc.) para determinar o valor real desejado. 2. Identifique os fluxos de valor (ou os caminhos do paciente) para identificar onde o valor é realmente criado, enquanto grandes quantias de desperdício são removidas (inclusive o grande número de erros que causam retrabalhoe aumentam os custos). 3. Reduza o tempo exigido para se percorrer, do início ao fim, todo o caminho (que sempre cria mais valor ao menor custo). 4. Busque os princípios 1, 2 e 3 sempre por meio da melhoria contínua que envolve a todos — médicos, enfermeiros, técnicos, gerentes, fornecedores, pacientes e suas famílias. O ser humano tentará algo fácil que não funciona, antes de tentar algo difícil que realmente funciona, e é assim que estamos na área da saúde. Mas todas as soluções fáceis têm sido, agora, experimentadas e somente as coisas difíceis são deixadas de lado. E a parte mais difícil do trabalho duro que está por vir é que todos devem mudar seu comportamento: • O médico acostumado com os métodos artesanais sem medidas rigorosas de resultados; • Fabricantes de dispositivos médicos acostumados a fornecer novos equipamentos sem a preocupação com os custos ou a demonstração clara de seus benefícios; • Enfermeiros esperando que correções diárias e temporárias nos processos farão, de alguma forma, com que os problemas fundamentais desapareçam; • Administradores esperando que, de algum modo, os custos possam ser reduzidos com maior uso da capacidade, executando os mesmos processos falhos — seja qual for o efeito que isso cause para a experiência do paciente e dos funcionários e os erros (que aumentam muito os custos). O desafio final é que todos da área da saúde devem aprender a pensar horizontalmente [como mencionei em artigos anteriores]. Gerentes, médicos e enfermeiros devem aprender a enxergar os pacientes fluindo por organizações complexas, em vez de retomarem seus tradicionais pensamentos verticais, nos quais todo departamento e atividade é um castelo com seu fosso, evitando a busca do paciente por mais valor e menores tempos e custos. Apesar dos obstáculos à frente, mais uma vez tenho esperança de que os comprovados métodos lean disponíveis empurrarão os profissionais para um novo patamar na jornada do lean na saúde, agora que todas as soluções fáceis falharam e não há outra opção. 10 de junho de 2010 Leituras Adicionais: Dr. John Toussaint e Roger Gerard, PhD. On the Mend. Cambridge, MA: Lean Enterprise Institute, 2010. Marc Baker e Ian Taylor. Making hospitals work. Goodrich, UK: Lean Enterprise Academy, 2009. (Uma forma estimulante de tratar a questão dos fluxos horizontais de pacientes, do início ao fim, em complexas organizações verticais). É importante enfatizar que estes ainda são os primeiros dias para a saúde. A maioria dos importantes experimentos está em andamento ou ainda será executada (no caso dos fluxos de valor do início ao fim). E não queremos cometer o erro que muitos praticantes da área da saúde cometeram no passado de ignorar o método científico enquanto declaravam que a vitória havia sido alcançada, mas sem medidas rigorosas dos resultados. Seria muito mais fácil se começássemos de um rascunho sem recursos, sem maus hábitos e sem organizações em mau funcionamento. Mas, com algumas exceções — ThedaCare, por exemplo, construiu um hospital totalmente novo, começando com uma definição clara do propósito e adaptando a estrutura para apoiar o controle visual e o fluxo de valor horizontal —, não podemos. Porém, quando pudermos, deveríamos fazer isso, o que requer difundir o pensamento lean para uma última fronteira — o empreendedor. Esse é o tópico do último artigo desta seção. Encantado por um Greenfield Neste ano, em uma viagem para a América Central, avistei aquela paisagem maravilhosa para os agentes de melhoria do processo, um greenfield. E isso quer dizer literalmente um green fieldNT. Foi atrás de um hospital, administrado por uma organização nãogovernamental (ONG), onde dediquei meu tempo voluntariamente. O problema a mim designado foi acomodar 15 anos de arquivos médicos pessoais, em um país onde não havia reciclagem. A forma padrão de jogar o lixo fora neste país era simplesmente despejando-os em um desfiladeiro para formar um aterro sem nenhuma cobertura. Mas isso, felizmente, não era aceitável para os arquivos médicos, os quais continham informações pessoais sobre os antigos pacientes do hospital. Nota da Tradutora: Greenfield é uma nova planta de produção que fornece a oportunidade de introduzir métodos de trabalho lean em uma nova cultura de trabalho (Léxico Lean - 4a Ed.). O autor fez um trocadilho quando disse Green Field, que também significa Campo Verde. Então, o que fazer? A coisa certa, obviamente, teria sido criar um programa de reciclagem lean do tipo que o Lean Institute Brasil (www.lean.org.br) recentemente criou. (O programa está em uma cidade pobre próxima de São Paulo e propicia empregos a pessoas com dificuldades de acesso ao mercado de trabalho formal, por exemplo, depois de ter quitado seus direitos com a justiça). Mas o que eu tinha era somente uma semana para finalizar muitas atividades nessa ONG, e isso não seria possível. Após uma reflexão, a coisa menos prejudicial que poderia ser feita era queimar os arquivos. Então, logo, sentei-me com o gerente do almoxarifado do hospital (que tinha mantido esses arquivos em um estoque superlotado) e com um pequeno grupo para descobrir como fazer isso. O gerente sugeriu que usássemos o campo aberto de grama baixa atrás do hospital, pois não havia nenhum incinerador no local. No espírito de “ir ver” e “perguntar por quê”, fomos ao campo e perguntei para a pequena equipe o que deveríamos fazer. Ela respondeu que deveríamos remover os arquivos das pastas (que poderiam ser reutilizadas), espalhá-los pelo chão e queimá-los. Simples. Mas, logo, percebemos que isso era ineficiente, a menos que esperássemos os documentos serem queimados página por página. Deixar várias páginas de documentos queimando no chão causou uma chama branda e, assim, o fogo cessou. Felizmente, havia um velho tambor de óleo na pilha de lixo, no canto do campo, junto a alguns blocos de concreto e uma barra de aço. Em poucos minutos, nós tínhamos criado um incinerador e a equipe estava muito feliz, despejando os arquivos na parte superior do tambor. Na verdade, eles estavam despejando pilhas de documentos tão energicamente que o fogo logo se apagou pela falta de oxigênio. Uma segunda rodada de “ir ver” e “perguntar por quê” nos levou a compreensão de que os documentos precisavam ser amassados para que o ar chegasse a cada página, e não despejados em lotes. E eles precisavam ser alimentados no tambor constantemente, para justamente igualar a taxa de combustão se quiséssemos manter o fogo brando e minimizar o tempo necessário para realizarmos a tarefa. Mas como fazer isso com o mínimo de esforço? (Era um dia muito quente). A resposta foi dividir o trabalho. Uma pessoa removia os arquivos da pasta; outras duas pessoas amassavam e jogavam os papéis no fogo; uma quarta pessoa alimentava o fogo com a barra de aço, para que as cinzas fossem jogadas para fora das caixas dos arquivos e o fluxo de ar fosse mantido; e uma quinta trazia e abria mais caixas de arquivos. Enquanto tudo acontecia, se o barril estivesse exposto ao sol, longe da árvore mais próxima, mas todos ficassem debaixo da sombra da árvore, é bem provável que teríamos um fogo quente e uma força de trabalho contente. Logo — após uma terceira rodada de experimentos para padronizar e nivelar o trabalho — voila! Criamos uma linha de destruição lean e todos trabalhamos juntos em um ritmo contínuo, realizando o trabalho em horas em vez de dias, como era esperado. Esse foi um exemplo de pequena escala, porém satisfatório, de aplicação do processo da mentalidade para o trabalho no mundo. Mas realmente impressionante para mim foi a facilidade de se criar um processo relativamente lean quase que instantaneamente. A razão para isso foi que nenhum recurso inadequado e nenhum gerente ou equipe de trabalho queaprenderam cuidadosamente os maus hábitos nos atrapalharam. (Essa situação, é claro, é o que a maioria dos membros da Comunidade Lean enfrenta todos os dias.) Por que isso não poderia ser sempre assim? Neste ano, em Boston, tive uma segunda experiência que levantou a mesma pergunta em escala muito maior. Três jovens empreendedores nos perguntaram como um pensador lean poderia iniciar um negócio greenfield. Eles me convidaram para um teste local na nova rede de restaurantes, para a qual eles estavam levantando fundos, e refletimos, por meio da aplicação do lean, sobre os processos centrais desse negócio. Isso inclui seleção de funcionários e treinamentos, projeto de trabalho (inclusive a experiência de trabalho diária de funcionários), logística para receber materiais em lojas e descartar desperdícios, criação de novas lojas (porque eles querem crescer rápido, com o mínimo de dinheiro investido em lojas que não foram abertas ainda) e o processo e a experiência de consumo do cliente (o que interage com o processo de produção da loja e com a experiência dos funcionários). Em poucas horas, foi fácil pensar em formas de lançar o negócio com processos lean robustos que exigiriam menos capital. Por que, pensei, todos os novos negócios não começam lean, em vez de crescerem antes da gerência perceber que os processos fundamentais são frágeis ou cheios de desperdícios, interferindo no crescimento continuado e na rentabilidade? E em negócios maduros, por que todos os novos produtos que exigem uma nova produção e processo de entrega não começam lean logo no início? A resposta, penso eu, é que muitos de nós da Comunidade Lean adquirimos nosso conhecimento por meio de retrabalhos de processos fracassados. Fazendo isso, sentimo-nos mais confortáveis. E, talvez, não tenhamos sequer predisposição financeira e psicológica: toma-nos muito menos esforço fazer o trabalho certo desde o começo do que fazer um kaizen como retrabalho para torná-lo certo bem depois. Mas penso que nunca aprendemos a sensibilizar o empreendedor iniciante ou o engenheiro-chefe que lidera uma equipe para lançar um novo produto com um novo processo de produção. Esse pessoal geralmente tem só uma pequena noção da importância de um rigoroso projeto de processo e o poder de um verdadeiro processo lean logo no início. E a maioria das pessoas com quem conversei está convencida de que criar um processo lean logo no começo gastaria mais e tomaria mais tempo. Estou certo de que esses pontos de vista baseiam-se na ignorância e na falta de reflexão, mas até começarmos a explicar o porquê, uma grande oportunidade para a Comunidade Lean e para sociedade será desperdiçada. Agora estou engajado com vários experimentos de “projetos de sistema” para criar novos processos lean, a fim de enfrentar as necessidades dos consumidores novos, ou em processo de mudança, e da sociedade. Então, espero fazer minha parte conscientizando as pessoas por meio da publicação desses experimentos. Espero, também, que você reflita sobre essa importante questão, para que possamos criar mais valor, com menos processos de retrabalho em brownfieldsNT, os quais deveriam ter começado e permanecido como um “verde radiante”. 24 de agosto de 2010 Nota da Tradutora: Brownfield é uma instalação de produção normalmente gerenciada de acordo com a filosofia da produção em massa (Léxico Lean - 4a Ed.). 7. Michael Hammer e James Champy, Reengenharia: Revolucionando a empresa em função dos clientes, da concorrência e das grandes mudanças da gerência. São Paulo: Editora Campus, 1994. 8. Dr. John Toussaint e Roger Gerard, PhD. On the Mend. Cambridge, MA: Lean Enterprise Institute, 2010. A GRANDE RECESSÃO A notícia mais brilhante sobre a difusão na seção anterior veio, de forma inesperada, do mundo da ciência médica. Mas agora precisamos nos direcionar para uma ciência diferente — a desanimadora verdadeira ciência da macroeconomia —, a fim de focarmos, nesta seção, na Grande Recessão e no que isso significa, tanto a parte boa como a parte ruim, para o movimento lean. A Bolha do Megamura Comecei escrevendo meus artigos mensais em outubro de 2001 para falar sobre as preocupações da Comunidade Lean quando a economia mundial rumava a uma recessão. Então, este mês marca o fim de um ciclo completo — sete anos de dificuldades, fartura, e dificuldades — quando o mundo entra em uma nova recessão. Quando Dan Jones e eu escrevemos A Mentalidade Enxuta nas Empresas em 1996, acreditávamos que a propagação da produção lean iria amortecer os ciclos de negócios. Economistas sempre acreditaram que pelo menos metade da gravidade das recessões deve-se a empresas que trabalham acumulando muitos estoques e, assim, postergam a compra de mais materiais de seus fornecedores. Como as empresas lean possuem bem menos estoques em processo, estoques de matérias-primas e de produtos acabados em relação a suas vendas, pensávamos que a adoção da gestão lean de estoques teria um efeito de amortecimento da recessão em toda a economia. E, talvez, estivéssemos certos. A recessão de 2001 foi modesta comparada com a de 1991. Em todo caso, estamos encarando uma grande recessão, mesmo que estoques menores a tornem menos profunda do que ela realmente deve ser. Eu penso nesses eventos como um tipo de mura (variação), na verdade, como um megamura, afetando toda a economia. Em contraste, o tipo de mura que atraiu a maior parte da atenção dos pensadores lean é a variação dia a dia e hora a hora no volume e no mix de produtos demandados pelo cliente fluxo abaixo. Vamos chamar isso de minimura. Esse fenômeno também inclui ciclos de pedidos avançando no fluxo de valor para os fornecedores — mesmo quando a demanda do cliente final é regular —, devido à dinâmica interna do fluxo de valor. Os pensadores lean aprenderam, anos atrás, a lidar com este tipo de mura, introduzindo heijunka para nivelar a demanda em algum ponto marcador do ritmo, com sinais de puxada regulares enviados, a partir deste ponto, fluxo acima. Megamura, pelo contrário, aplica-se a grandes mudanças demoradas na demanda total dos clientes externos em toda a economia. Infelizmente, um estrondo na demanda — causado, na situação atual, pelo aumento dos preços imobiliários, alimentado por uma baixa taxa de juros e padrões de empréstimos frouxos — sempre leva a uma ruptura. A parte mais triste desses episódios — que é tão velho quanto as economias de mercado — e a razão pela qual nós podemos, de forma justa, chamá-los de mura é que eles quase nunca são causados por mudanças fundamentais nos desejos dos consumidores. Milhões de Americanos e Europeus não quiseram repentinamente ter uma casa ou comprar uma casa maior a partir de 2001. Eles sempre tiveram esse desejo, mas faltava-lhes dinheiro ou crédito imobiliário para conquistarem esse sonho. O que nós realmente precisamos, como um antídoto, é de um heijunka macroeconômico (“megaheijunka”?), em que governos cultivam a estabilidade com crescimento moderado, sem estrondos e sem rupturas. E as políticas de estabilização econômica dirigidas a este fim — fiscal e monetária — têm sido perseguidas por todos os governos modernos. Infelizmente, aprendemos que crescimentos estáveis são difíceis de serem alcançados como uma realidade política. A tentação de se fazer dinheiro rapidamente, por meio de manobras financeiras, é muito grande. E os reguladores, como generais se preparando para uma guerra igual a anterior, estão sempre criando mecanismos para evitar a última crise, mas nunca a próxima. Na minha visão, as pessoas que pensaram nestes mecanismos de refinanciamento de dívidas, nas obrigações de dívidas com garantias reais e — meu favorito — nas obrigações de dívidas com garantias reais, as quais serviram de combustível para este estrondo recente, estão agora velejando com seusiates em algum oceano tropical, pensando no próximo estrondo lucrativo. E eu não apostaria contra eles. Felizmente, as recessões que se seguem às bolhas podem ser ótimos estímulos para transformações lean, pois a necessidade é a mãe da inovação. A Toyota apenas adotou completamente a filosofia lean depois que a ruptura da economia japonesa trouxe a empresa à beira da falência em 1950. E em 1990 e 1991, a Lantech (capítulo 6 do livro A Mentalidade Enxuta nas Empresas) e a Wiremold (capítulo 7) aderiram ao pensamento lean enquanto a economia se afundava. “Uma crise criativa” foi entregue aos gerentes prontos para agarrar a oportunidade e tirar o máximo de proveito dela. Assim, talvez algo de bom ocorra em consequência da recessão atual, conforme novas empresas lean vão surgindo. Entretanto, enquanto o movimento lean amadurece e mais empresas adotam o pensamento lean, um problema diferente se apresenta. Uma empresa lean, em sua essência, é um grupo de pessoas (incluindo clientes fluxo abaixo e fornecedores fluxo acima) que aprenderam juntos como tomar as iniciativas para remover (mini)muda, mura e muri ao resolverem problemas em comum, conforme eles surgem. É este conjunto de conhecimentos, mais do que as técnicas lean especificamente, que cria a eficácia notável nestas organizações. O problema com uma recessão é que ela desafia as empresas lean enquanto elas tentam proteger seus funcionários solucionadores de problemas. Desafia-as também enquanto tentam defender suas relações de solução de problemas, construídas ao longo do tempo com clientes fluxo abaixo e fornecedores fluxo acima. A tentação em toda a crise, naturalmente, é ir atrás da otimização pontual, na qual é cada pessoa e cada empresa por si. Assim, como uma empresa lean pensa em como protegerse e proteger seu pessoal do megamura que tende a sempre estar conosco? Aqui, temos uma pequena lista de ideias: • Repense as políticas do recrutamento para criar um estoque de temporários ingressantes, que podem ser um amortecedor nas crises mais severas (definidas como aquelas quando a sobrevivência da empresa exige dispensas). Converta gradualmente os temporários em colaboradores permanentes — que podem ser protegidos em praticamente todo tipo de crise concebível — conforme eles provam seu compromisso com os métodos de solução de problemas da organização e com a organização. A alternativa é demitir pessoas de alguma maneira aleatória, geralmente começando com os funcionários mais bem- pagos, com mais tempo de casa. Isso passa a mensagem de que a lealdade não conta e perde conhecimentos valiosos da equipe. • Crie bônus aplicável à empresa para todos os funcionários, baseado na lucratividade, para ajustar os salários durante os ciclos econômicos e para defender empregados essenciais das dispensas. A maioria das empresas ainda tem compensação do tipo tudo ou nada para todos, exceto para os executivos, em um plano de bônus. Isso não dá nenhuma flexibilidade nas crises, resultando em compensação constante para aqueles que permanecem e zero para aqueles que se vão. Com compensação variável é mais provável que todos possam permanecer. • Conforme a transformação lean prossegue, converta estoques físicos em caixa, mas mantenha um estoque de dinheiro para proteger a empresa durante a baixa do ciclo. Do ponto de vista do pensamento financeiro moderno, isso não parece ser adequado. Não deveria todo o dinheiro livre ser aplicado no mercado financeiro? Mas, na crise atual, as empresas estáveis com reservas de dinheiro podem manter os programas novos que foram previstos e se fortalecerão após a crise, enquanto os concorrentes que atrasaram ou cancelaram os projetos novos perdem o terreno. Percebo que esses passos funcionam melhor se tomados bem antes da bolha estourar. Assim, o que as empresas lean, que se transformaram recentemente, mas não realizaram esses passos, devem fazer para atravessar toda esta crise atual? • Peça de volta os serviços solicitados aos fornecedores que não fazem parte do grupo principal de fornecedores que seguirá em frente. Isso pode defender empregos na empresa e aumentar o nível de compreensão do que está acontecendo na base de suprimentos. E não é necessário romper relações com os fornecedores restantes, se estiver claro que a empresa trabalhará continuamente com uma base de poucos, mas talentosos, fornecedores no futuro. • Olhe para cada produto e pergunte como este pode ser oferecido de forma mais eficaz. Por exemplo, no LEI, estamos fazendo perguntas sobre o processo de aprendizagem online e outros métodos para realizar treinamentos mais eficientes em termos de custo. • Olhe para cada produto e seu fluxo de valor para enxergar como ele pode ser oferecido de forma mais eficiente, deixando de fora desperdícios e despesas desnecessárias. A esperança, naturalmente, é que a redução cuidadosa de desperdícios pode suportar reduções de preços aos clientes, o qual irá capturar vendas adicionais e, assim, não será necessário reduzir o número de funcionários. A última coisa a se considerar é algo que os gerentes parecem adotar mais prontamente: corte de custos. Isso significa eliminar etapas e atividades que realmente criam valor na perspectiva do cliente e remover colaboradores que são realmente necessários para realizar o trabalho corretamente, utilizando o processo atual. A esperança, geralmente equivocada, é que o cliente não perceberá. Este último recurso é o que eu mais temo, porque ele é muito provavelmente justificado em nome do “lean”. Cada recessão parece produzir uma grande campanha de corte de custos vendida por consultores tradicionais. Sua promessa principal é um rápido retorno financeiro, mesmo dentro de um trimestre, e a única maneira prática de se alcançar tal objetivo é por meio de dispensas. Espero, verdadeiramente, que esta não seja conhecida na história como a recessão do “lean”, e todos da Comunidade Lean deveriam jurar evitar o impulso do corte de custos em sua própria organização. Para evitar a necessidade do corte de custos, espero que cada empresa, que deveria ser lean, atribua a alguém a responsabilidade para desenvolver um “A3 da recessão”, que cuidadosamente irá avaliar o cenário e a situação. A etapa crítica no processo do A3 será desenvolver então um conjunto de contramedidas que podem proteger a organização e seus colaboradores durante a recessão atual, enquanto prepara o terreno para uma empresa lean sustentável no futuro. 13 de novembro de 2008 Talvez, a consequência mais chocante do tsunami financeiro foi que nenhuma empresa, não importa quão lean era, parecia ser imune. Entender este fato desagradável e o que ele significa é o tema do próximo artigo. Uma Onda tão Grande que Tomba Todos os Barcos Todos nós conhecemos a frase: “uma maré alta ergue todos os barcos”, e isso foi verdade durante a bolha econômica mundial dos últimos anos. Quase qualquer firma poderia sobreviver, mesmo com um desempenho medíocre e nenhuma melhoria. Infelizmente, existe uma consequência. Uma maré realmente alta — um tsunami financeiro — pode, mesmo que momentaneamente, tombar até o barco mais robusto. A dolorosa evidência para a Comunidade Lean é o recente anúncio de que a organização consistentemente bem-sucedida e financeiramente estável — a Toyota — está neste momento perdendo dinheiro pela primeira vez em 70 anos. Como isso pode acontecer? E qual o significado deste tsunami financeiro para o movimento lean? A causa raiz dos atuais problemas da Toyota é a decisão no fim dos anos 90 de acelerar o ritmo e ganhar a posição número um entre as montadoras automotivas do mundo. A Toyota adicionou grandes quantidades de capacidade ao redor do mundo e passou a GM como líder de vendas global. No entanto, fazendo o uso do seu caixa, ela requisitou empréstimossuperiores aos níveis historicamente modestos da Toyota e tornou a empresa vulnerável a uma queda repentina na demanda. Um colapso nas vendas aparentemente não foi antecipado, mas a Toyota, mais do que qualquer outra empresa, deveria ter respeitado seu conhecimento adquirido arduamente de que as previsões — particularmente as previsões otimistas — estão geralmente erradas. Apesar do colapso na demanda em todos os grandes mercados, a Toyota não está na mesma situação desesperadora de muitas de suas rivais. Ela ainda tem crédito e pode utilizá-lo para manter os projetos de novos produtos e o P&D dentro do cronograma. De fato, se de alguma forma as coisas ficarem tão ruins a ponto de sobrar apenas uma montadora, esta empresa será a Toyota. Mas a feliz era de expansão ilimitada acabou e a Toyota, sem dúvida, tem passado muito tempo fazendo o hansei. John Shook tem sido muito feliz ao observar que a Toyota, desde o começo, sempre quis ser a melhor na solução dos problemas dos clientes, usando o mínimo de recursos e, assim, ela pôde sobreviver. Porém, no meio dos anos 90, ela mudou seu curso para abraçar a visão comum nos negócios de que o crescimento de qualquer espécie é bom e que ser o maior é melhor. Este não é o caminho lean e prevejo um retorno à tradicional visão da Toyota desse propósito. Também antecipo que a atual fase de declive provará ser uma benção por dar a Toyota tempo para reabastecer seus estoques de gestores lean. Seu crescimento exagerado diluía o seu nível de experiência gerencial e foi tornando-se um grave risco para o seu sucesso no longo prazo. Mas e o resto de nós? O fato simples é que esta adversidade irá forçar todos nós a confrontarmos as difíceis questões em nossas organizações e em nossos mercados, questões que preferiríamos evitar e, provavelmente, ter evitado por muito tempo. Para aqueles que refletem cuidadosamente, determinam as causas raízes, tomam ações criativas e focalizadas, o futuro será mais brilhante. Permita-me citar a história da Toyota como uma evidência. Esta não é a única onda financeira que a Toyota tem enfrentado, porém, pelo contrário, é a mais recente de muitas: • O colapso da demanda no mercado japonês em 1950. • A crise do petróleo de 1973, que novamente fez despencar a demanda assim como elevou o iene. • A recessão de 1981, quando a Europa e a América do Norte impuseram restrições comerciais, que reduziram as exportações da Toyota e exigiram um grande investimento em mercados estrangeiros. • A crise do iene no final dos anos 80, que derrubou o valor do iene perante o dólar de 240 para 120 em apenas poucos meses. • O colapso da economia japonesa, conduzindo para uma década de estagnação depois do rompimento da bolha imobiliária em 1990. Refletindo cuidadosamente, rastreando problemas para as suas causas raízes e tomando atitudes corajosas, a Toyota emergiu mais forte a cada momento. Apesar da melancolia de 2008, tenho, por essas razões, uma visão otimista. Aqueles da Comunidade Lean que buscam as causas raízes e tomam atitudes decisivas serão mais fortes e mais vibrantes assim que a tempestade se acalmar. E existirão mais de nós, porque os momentos de crise fazem com que muitas outras organizações abracem o lean. 31 de dezembro de 2008 Leitura Adicional: John Shook, coluna Lean management, www.lean.org. MAL-ENTENDIDOS Muitos anos atrás, quando a equipe de pesquisadores da indústria automobilística do MIT lançou o termo “lean” ao mundo, este foi o melhor rótulo que poderíamos imaginar. Ele foi projetado para capturar o que o lean faz, que é criar mais valor com menos de tudo. Mas sabíamos, então, que não poderíamos controlar o termo e ele seria objeto de muitos mal-entendidos. Estávamos cientes também de que muitos dos conceitos e termos que acompanhavam o lean também seriam vulneráveis à interpretações errôneas. E estávamos certos. Esta seção de artigos explora como muitas coisas têm sido entendidas de forma errada, com a esperança de que a discussão pública irá gradualmente esclarecer as coisas. Desconstruindo a Torre de Babel Em 1987, em meu escritório no MIT, testemunhei um momento mágico, quando um novo termo nasceu. Estávamos quase prontos para publicar o primeiro artigo sobre as descobertas do Programa Internacional de Veículos Automotivos (International Motor Vehicle Program) e precisávamos de um rótulo para descrever o fenômeno que estávamos observando em nosso estudo comparativo do desempenho da indústria automotiva global. Após experimentar muitos termos que não pareciam ser corretos, John Krafcik, um de nossos jovens pesquisadores, sugeriu que nomeássemos o sistema — incluindo seu desenvolvimento de produtos e processos, atendimento (do pedido, passando pela produção até a entrega), gestão de fornecedores, suporte ao cliente e elementos de gestão geral — pelo que ele faz. Então, escrevemos em uma lousa branca as características de desempenho do sistema de estilo Toyota/Honda, comparado com a tradicional produção em massa. Ele: • Precisava de menos esforço humano para projetar, produzir e manter os produtos. • Exigia menos investimento para uma dada quantidade de capacidade de produção. • Criava produtos com menos defeitos e menos retornos em processo. • Utilizava menos fornecedores com melhores qualificações. • Ia do conceito ao lançamento, do pedido à entrega e do problema à solução em menos tempo e com menos esforço humano. • Podia fabricar produtos rentáveis em menor volume com maior variedade para sustentar o preço no mercado, enquanto a participação crescia. • Necessitava de menos estoque em cada etapa do pedido à entrega e no sistema de serviço. • Causava menos danos aos funcionários etc. Após um momento de reflexão sobre essa lista, John disse, “Ele precisa de menos de tudo para criar uma dada quantia de valor, então vamos chamá-lo de ‘lean’”. E o termo nasceu. [Falando nisso, John veio ao MIT da joint venture Toyota- General Motors na Califórnia. Do MIT, ele passou 14 anos na Ford, onde finalmente se tornou o engenheiro-chefe de uma grande linha de SUV e hoje é presidente da Hyundai Motor America]. Parecia simples na hora. Mas logo aprendemos que criar um novo termo é como lançar uma criança ao mundo. Os pais têm ideias claras sobre como eles querem que seu descendente se comporte, mas as crianças têm sua própria opinião sobre isso! Conforme os anos se passaram, parecia que havíamos construído uma Torre de Babel lean. Escuto o termo aplicado de forma incerta e usado para significar várias coisas: objetivos (a melhor qualidade, o menor custo, o menor lead time), métodos gerais (just-in-time, jidoka), ferramentas específicas (kanban, poka-yoke) e fundamento básico (heijunka, trabalho padronizado e kaizen, construídos no processo da estabilidade). Isso tudo bem, mas fico chateado quando escuto o termo usado de forma inexata ou de alguma forma limitada que exclui partes de seu significado central. Recentemente, após ler um artigo, no qual um especialista proeminente sobre os sistemas de produção afirmou que o lean não envolve trabalho padronizado, eu pensei que deveria dizer algo. Então, aqui está o real significado do lean para mim: • Ele sempre começa com o cliente. • O cliente quer valor: o bem ou serviço certo, na hora certa, no lugar certo e com o preço certo, com perfeita qualidade para resolver seu problema. • Valor em qualquer atividade — bens, serviços ou alguma combinação — é sempre o resultado final de um processo (projeto, manufatura e serviço para clientes externos e processos de negócio para clientes internos). • Cada processo consiste em uma série de passos que precisam ser dados apropriadamente na sequência certa e no tempo certo. • Para maximizar valor para o cliente, esses passos devemser dados sem nenhum desperdício. (Acredito que você conheça os sete desperdícios: superprodução, espera, transporte em excesso, processamento extra, estoque excessivo, movimentação desnecessária e defeitos que geram retrabalho ou refugo). • Para alcançar zero desperdício, cada passo em um processo de criação de valor deve gerar valor, ser capaz, disponível, adequado e flexível, e os passos devem fluir regularmente e rapidamente de um para o outro na puxada do cliente fluxo abaixo. (É assim que eliminamos os sete desperdícios identificados pela Toyota há muitos anos). • Um verdadeiro processo lean é um processo perfeito: satisfaz o desejo do cliente com zero desperdício. • Nenhum de nós já viu um processo perfeito e a maioria de nós não irá ver. Mas os pensadores lean ainda acreditam na perfeição, a jornada infinita rumo ao processo verdadeiramente lean. Observe que identificar os passos no processo, fazendo-os fluir, deixando o cliente puxar etc. não são os objetivos dos praticantes lean. Estes são apenas passos necessários para se alcançar o objetivo do valor perfeito com zero desperdício. E observe que o kanban, o poka-yoke e outras técnicas específicas são auxílios para executar esses passos. Eles são as ferramentas fundamentais para fazer com que os métodos gerais funcionem. E é aqui onde, penso eu, geralmente nos confundimos. “Lean” deve incluir tudo disso: eles não podem funcionar uns sem os outros. Precisamos utilizar todos os objetivos, métodos, técnicas e elementos fundamentais em combinação. Por exemplo, nenhum processo pode ser capaz, disponível ou fluir regularmente sem trabalho padronizado. E não haverá nenhuma melhoria em nenhum processo sem um rigoroso kaizen. Apenas quando desdobramos todo o arsenal em busca do processo perfeito, que pode criar valor perfeito para o cliente, o termo “lean” se torna mágico. 7 de outubro de 2004 Se o significado do “lean” é confuso, sua relação com um grande número de outros termos sobre o mesmo tipo de questões também o é. Entender as similaridades, as diferenças e o que é importante é o assunto do próximo artigo. Como o Lean se Compara ao Seis Sigma, BPR, TOC, TPM Etc. É surpreendente, mas ainda recebo muitas perguntas sobre como o lean se compara ao TPS, ao seis sigma, à Manutenção Produtiva Total (TPM), à reengenharia do processos de negócio (BPR), ao fluxo da demanda, à Teoria das Restrições (TOC) e a outras abordagens de melhoria. E sempre dou a mesma resposta: no final do dia estamos todos tentando alcançar a mesma coisa: o processo perfeito, provendo exatamente o valor que o cliente precisa com zero desperdício. Aqui está o que penso sobre isso. Para criar valor para o cliente — espero que concordemos que é assim como deveríamos estar ganhando a vida — uma série de etapas deve ser conduzida apropriadamente na sequência certa. Essas etapas coletivamente são o que chamamos de fluxo de valor (processo) para cada produto. Quando caminho por qualquer fluxo de valor, pergunto sobre cada etapa: A etapa agrega valor? O cliente estaria igualmente feliz com o produto se a etapa pudesse ser eliminada? Por exemplo, há algum tipo de retrabalho? Se sim, chamo isto de muda Tipo Um. Livre-se disso o mais rápido possível! (Há um outro tipo de muda que os pensadores lean geralmente chamam de trabalho incidental. Ele envolve atividades que não criam nenhum valor do ponto de vista do cliente — por exemplo, mudar o produto de um processo em lotes desconectado para outro, quando o projeto atual do processo ainda não permite sua remoção. Chamo este de muda Tipo Dois. Ele deveria desaparecer também, mas em geral leva-se muito mais tempo para resolver. A etapa é capaz? Ela pode ser conduzida com o mesmo bom resultado todas as vezes? Este é o ponto inicial, mas nunca o ponto final, para o seis sigma. A etapa está disponível? Ela pode ser executada quando necessário, ou seu objetivo são análises e tempos de ciclo variados que você nunca tem certeza do que irá acontecer? Este é o ponto inicial, mas, de novo, não o ponto final, do TPM. A etapa é adequada? Isto é, há capacidade de executá-la exatamente quando o fluxo de valor exigir, ou há um gargalo? A análise de gargalos é, naturalmente, o ponto inicial da Teoria da Restrição. Ou, e mais provavelmente na era atual, há muita capacidade? Os pensadores lean tentam evitar isso, adicionando capacidade de produção em pequenos incrementos, e não em grandes partes, cujo volume de produção também pode ser flexionado, adicionando ou subtraindo funcionários. A etapa é flexível? Ela pode se modificar rapidamente de fazer produtos verdes para fazer produtos vermelhos? E ela pode mudar sem comprometer a capabilidade, a disponibilidade e a adequação? A flexibilidade é a chave para a resposta rápida às mudanças dos desejos dos clientes, ao mesmo tempo que evita a produção ineficiente de grandes lotes. Essa habilidade é a marca do TPS (Sistema de produção da Toyota). Se todas as etapas em seus fluxos agregam valor, são capazes, disponíveis, adequadas e flexíveis, você está no caminho certo. O que falta é aperfeiçoar a ligação entre as etapas. O produto flui de uma etapa a outra sem atraso? Henry Ford desbravou a “produção em fluxo” em 1914, movendo o processo para o produto, e não o inverso. É assim que ele criou o fluxo quase contínuo, não apenas na linha de montagem, mas também na fabricação de componentes em Highland Park. Infelizmente, ele achou o fluxo difícil de se sustentar em um mundo com demandas mutáveis e grande variedade de produtos. E foi aí que a Toyota veio com o TPS para criar fluxo regular em um baixo volume de produção com grande variedade. O produto flui apenas pela puxada da próxima etapa? Este é o ponto central do JIT, um dos pilares do TPS: os produtos deveriam fluir apenas pelo comando da próxima etapa. O fluxo está nivelado desde o cliente, por toda extensão possível, com estoque padrão de produtos acabados se necessário? O nivelamento permite que cada etapa em todo o fluxo de valor opere regularmente, enquanto um estoque em algum ponto no processo provê a flexibilidade de fornecer ao cliente o que é necessário quando necessário. Esta é outra marca do TPS. Com certeza, nenhum de nós criou um fluxo de valor perfeito. Provavelmente, nunca criaremos. Mas a energia gasta em comparar e criticar os métodos de melhoria, em vez de buscar o fluxo de valor perfeito é certamente muda Tipo Um. Este é o tipo de desperdício do qual podemos nos livrar imediatamente! 14 de julho de 2003 Just-in-Time, Just-in-Case e Just- Plain-WrongNT Os mal-entendidos que acabamos de discutir, na maioria das vezes, ocorre dentro da comunidade de praticantes dos processos. Um conjunto diferente de confusões ocorre em comentários mais populares, particularmente na mídia de negócios, e o conceito do just-in-time parece estar confundindo o público. Nota da Tradutora: Optamos por manter o título original para sustentar o sentido. Just-in-Time: Na hora certa; nem adiantado nem atrasado. Just-in-case: No caso de; prevenir-se com estoque no caso de surgir uma necessidade. Just-plain-wrong: Simplesmente errado. Quando comecei meus artigos, imediatamente após 11 de setembro de 2001, fiz isso parcialmente como uma resposta aos muitos comentaristas que afirmavam que o JIT não poderia funcionar por muito tempo, devido ao risco de interrupção nas cadeias de suprimento. Eles argumentavam que muito estoque era necessário em todos os lugares ao longo dos fluxos de valor, para permitir respostas rápidas em condições caóticas. Sabia que era um completo mal-entendido da situação. Contar com unidades acabadas e peças dispostas em muitos locais para, de alguma forma, responder às interrupções no transporte ou nas instalações mais importantes da produção seria ineficaz e prejudicialàs organizações de produção e à sociedade. Desde aquele tempo, eu tenho mantido um arquivo de materiais na imprensa sobre as razões pelas quais o JIT supostamente não pode funcionar no mundo atual. A última razão vem da primeira página de um artigo do The Wall Street Journal que leva o título de Estoques Just-In-Time Tornam os EUA Vulneráveis a uma Pandemia9. A frase principal do artigo descreve o problema da seguinte forma: “Mais fundamentalmente, a prática de negócio just-in-time amplamente adotada — a qual procura cortar custos e melhorar a qualidade, reduzindo estoques e entregando produtos quando necessário — está em desacordo com a lógica do just-in-case que promove estoques de medicamentos, intervenção do governo e, especialmente, prontidão”. Então, se alguém foi tolo o suficiente para pensar que o JIT era uma boa ideia após 11 de setembro, certamente eles retomarão seus sentidos no acontecimento da gripe aviária! Permita-me um minuto para ver se posso contar a história certa. Primeiro, o que é JIT? É uma ideia simples formulada por Kiichiro Toyoda na Toyota no fim dos anos 30. Cada etapa no fluxo de valor deveria puxar precisamente o que hoje se necessita da etapa anterior no fluxo de valor. Essa puxada deveria ser o sinal para as etapas anteriores imediatamente fazerem novos itens, a fim de que estes substituam exatamente aqueles que acabaram de ser retirados. A ideia é substituir sistemas complexos de programação — dependendo do acúmulo centralizado de informação e fórmulas complicadas — por sistemas reflexivos simples que funcionam bem melhor, ao passo que reduzem drasticamente a quantidade de estoques ao longo do fluxo de valor. A Toyota implementou seu sistema puxado por meio de regras simples. Uma era que entre cada etapa em um fluxo de valor é difícil calcular precisamente o estoque padrão. Essa é a quantidade de material que deve existir para que o cliente fluxo abaixo nunca seja desapontado. Esse estoque consiste de três elementos: estoque pulmão, estoque de segurança e estoque na expedição: Estoque pulmão são bens já acabados e mantidos à mão para lidar com picos repentinos na demanda do cliente fluxo abaixo. Estoque de segurança são itens acabados ou matérias-primas mantidas para proteger o rendimento do processo caso os fornecedores fluxo acima não responderem ao sinal da puxada de maneira oportuna ou caso o próprio processo encontre problemas (ex., baixa qualidade, equipamento quebrado etc.). Estoque na expedição são bens sendo produzidos para a próxima expedição. Uma segunda regra fundamental é selecionar um ponto ao longo do fluxo de valor como a etapa puxadora definidora do ritmo e adicionar estoque pulmão para lidar com flutuações normais na demanda do cliente. Esse pulmão é medido para lidar com todas as variações razoáveis na demanda comercial, assim o cliente nunca é desapontado. Fazendo isso, cada etapa fluxo acima a partir desta “puxada” pode operar regularmente com demanda nivelada por períodos extensos. Isso, certamente, é o heijunka. Quando feito apropriadamente, a demanda nivelada elimina completamente a necessidade de pulmão entre cada etapa e reduz drasticamente os estoques totais ao longo do fluxo de valor. Então, qual é o problema e por que os comentaristas continuam sugerindo que o JIT não pode funcionar em um mundo caótico? O problema é que interrupções severas geradas por eventos geopolíticos e catástrofes biológicas devem ser enfrentadas fora do âmbito do JIT. Os pensamentos confusos resultam apenas quando o comércio normal e as emergências extremas estão combinadas. Como essas situações deveriam ser desacopladas? Vamos observar a gripe aviária, na qual a preocupação maior é a falta de ventiladores para ajudar as vítimas a respirarem até retomarem a resistência. Os governos precisam tomar uma decisão sobre quantas unidades reserva — completas e prontas para funcionar — precisam ser mantidas para lidar com uma demanda repentina. (O artigo do Journal afirma que o governo dos EUA tem um estoque de 4.500, mas que dezenas de milhares de unidades a mais podem ser necessárias muito rapidamente de uma indústria que atualmente produz somente poucas milhares de unidades ao ano). Esses produtos deveriam ser mantidos separados dos estoques comerciais comuns, sob o controle do governo e chamados pelo próprio nome: estoques de emergência. Eles são uma simples versão física de uma apólice de seguros, exceto pelo fato de que a apólice é para a sociedade em vez de ser para um único indivíduo. Propor que estoques just-in-case localizados ao longo do fluxo de valor do ventilador poderia resolver o problema é ingênuo: o problema real é a falta de capacidade para montar as peças rapidamente em unidades acabadas. E pensar que as empresas por si só manteriam um pulmão de unidades acabadas para uma emergência é ingênuo também. Elas iriam falir se tentassem. (Os governos também precisam decidir como distribuir estoques de emergência se necessário, porque a definição de preços no mercado normal não funciona no pânico. Olhando o lado favorável, como a emergência do furacão Katrina nos mostrou, empresas de logística modernas, como FedEx e Walmart, são capazes de entregar itens necessários rapidamente em condições caóticas, mesmo quando os esforços do governo falham). O ponto a se notar é que com estoques de emergência, que esperamos que existam, o JIT funciona muito bem. Isso ajuda os sistemas de produção a lidar com variações normais na demanda comercial ao menor custo com a maior qualidade e o máximo de capacidade de resposta aos desejos dos clientes. Na verdade, os custos poupados do JIT— que nós estamos começando a alcançar ao longo de toda a economia — são uma boa maneira para a sociedade sustentar os custos dos estoques de emergência. Então, por favor, quando você ouvir pessoas bem-intencionadas, mas com pensamentos confusos atacando o JIT, quando elas deveriam estar confrontando nossa falta de estoques de emergência, faça o que puder para esclarecer as coisas. 22 de janeiro de 2006 Olhando mais amplamente, além dos termos lean, encontro muitos mal-entendidos de conceitos e palavras simples usados por todos todo dia, quando um pouco de lean pode fornecer esclarecimento e perspectiva reais. Esses são os assuntos dos artigos remanescentes desta seção. Mudar suas Operações para China? Faça alguns Cálculos Lean Antes A maioria das organizações que visito não parecem fazer a conta conta certa. Isso não quer dizer que eles não a usam para calcular o custo de projetar e manufaturar produtos em um lugar ou em outro no mundo. Mas esses cálculos parecem deixar de lado muitos custos. Neste artigo, tento esclarecer o mal-entendido, descrevendo o tipo de cálculo de custo “lean” necessário para se obter a resposta certa sobre onde se deve localizar as atividades no mundo de hoje. Sem alguns cálculos lean no início das atividades de melhoria do processo, fica fácil melhorar as coisas erradas nos lugares errados. Recentemente recebi um telefonema de um repórter do The Wall Street Journal com uma pergunta simples, mas provocativa: “Se você é um fabricante em um país com níveis salariais elevados, tal como os EUA, você consegue ser lean o suficiente para não precisar deslocar suas operações para a China?” O raciocínio do repórter era que a China tem um reservatório enorme de mão de obra em suas zonas costeiras em desenvolvimento, com 300 milhões de migrantes a mais esperado para os próximos 10 anos. Portanto, os custos de mão de obra devem permanecer nos níveis baixos de hoje durante décadas. Ele ainda argumentou que uma grande fração do custo dos bens manufaturados consiste basicamente em salários (de mão de obra mais funcionários de suporte, gerentes, engenheiros e funcionários que projetam e fazem o maquináriode processo e que extraem e processam matéria- prima). Ele, então, concluiu que não importa quanto custo uma empresa americana ou japonesa ou alemã elimine tornando-se lean, os custos na China (ou, se você preferir, na Índia), baseados na mão de obra barata, sempre serão bem inferiores. Por isso, “Você não precisará se deslocar?”. Minha resposta a essa simples pergunta também foi simples: “Faça alguns cálculos antes de se mudar e tenha certeza de que são cálculos lean”. Aqui estão os itens que você precisa incluir em seus cálculos: • Comece pelo custo da peça de um item onde você está. • Compare-o com o custo da peça do mesmo item na China ou Índia ou Vietnã ou Burkina Faso ou... (Quase sempre será mais barato). • Adicione o custo de um frete demorado para chegar ao cliente. Observe que você fez agora todos os cálculos que muitos departamentos de compras parecem fazer. Vamos chamar isso de “cálculo ‘produção em massa’”. Para chegar ao cálculo lean, você precisa adicionar alguns custos adicionais para a peça mais os custos de frete lento para tornar o cálculo mais realista: • Os custos das despesas gerais alocados na produção no local com altos salários, que geralmente não desaparecem quando a produção é transferida. Em vez disso, elas são deslocadas para os produtos remanescentes, aumentando seu custo aparente. • O custo do estoque adicional de produtos em trânsito por longas distâncias do local de baixos salários até o cliente. • O custo de estoques de segurança adicionais para assegurar um suprimento ininterrupto. • O custo de entregas aceleradas de alto preço. (Você precisará ter cuidado aqui, porque o plano para a peça em questão normalmente assume que não existe nenhum custo de transportes emergenciais, quando um pouco de empirismo casual mostrará que sempre há). • O custo de garantia é necessário se a nova fábrica ou fornecedor tem uma longa curva de aprendizado. • O custo das visitas de engenheiros ou engenheiros residentes para acertar o processo a fim do produto ser feito com a especificação correta e com qualidade aceitável. • O custo das visitas do executivo sênior para montar a operação ou estreitar relações com gerentes e fornecedores que operam em um ambiente de negócios diferente. (Note que isso pode incluir todas as formas de pagamentos e custos extras, dependendo das práticas de negócio locais). • O custo da falta de estoques e vendas perdidas causadas por lead times longos para se obter a peça. • O custo de produtos em excesso ou de estoques perdidos, que foram comprados tendo em vista previsões de longo prazo e nunca, de fato, necessários. • O custo potencial, se você está usando um fabricante contratado no local de baixo custo, de seu fornecedor que logo pode se tornar seu concorrente. Isso está se tornando uma lista enorme — e note que esses custos adicionais dificilmente são visíveis para os gerentes seniores ou para o pessoal de compras, que deslocam a produção de um item em um país de baixos salários baseados simplesmente no preço da peça mais o frete demorado. Entretanto, o cálculo lean requer adicionar mais três custos para ser completo: • Riscos da moeda que pode ser afetada de repente quando a moeda do país de fornecimento ou de recebimento muda. • Riscos do país, que também podem emergir de repente quando o país de expedição encontra instabilidade política ou quando há uma reação política no país de recebimento, enquanto o déficit comercial e o desemprego emergem como questões políticas. • Custos de conectividade de muitos tipos ao gerenciar desconexões de produtos e fluxos de informação em cadeias de suprimentos muito complexas por longas distâncias em países com diferentes práticas de negócio. Estes custos são mais difíceis de se estimar, mas, às vezes, são muito abrangentes. A única coisa que um gerente pode saber é que eles são menores ou inexistentes se os produtos forem originados perto do cliente, em vez de atravessarem o globo. Se você faz os cálculos lean, isso significa que você nunca precisará se deslocar? Claro que não. Por exemplo, se você está planejando vender em mercados com salários baixos e em alto crescimento, como a China ou Índia, você quase certamente precisará deslocar a maioria ou toda sua produção para esses mercados. Isso porque o cálculo lean funciona na direção inversa também. Custos de transporte, estoque e conectividade, e riscos de moeda e país são bem menores se você produzir dentro do próprio mercado da venda. Porém, em minha experiência, uma boa olhada na situação verdadeira dos custos, irá sugerir que o deslocamento não é a primeira linha de defesa para os produtores em países de altos salários. Pelo contrário, é adotar seriamente a transformação lean através de todo o fluxo de valor do produto em questão. Se você achar que precisa deslocar, mesmo após ter feito os cálculos lean e aplicado todo o complemento dos métodos lean, minha experiência diz que mudar todas as etapas no fluxo de valor do produto para um local adjacente em um país de baixos salários dentro da região de vendas — México para os EUA, Polônia para a Alemanha, e China ou Vietnã ou Tailândia para o Japão — provavelmente garantirá um menor custo total. 10 de janeiro de 2003 Recentemente, com os salários aumentando na China e sua moeda controlada enfrentando demandas do governo nos EUA por um realinhamento para cima, escuto que os preços dos portões das fábricas estão subindo na China, e logo subirão mais, e que a necessidade de deslocar as operações está diminuindo. Penso que isso seria bom para a economia mundial se ocorresse gradualmente, e espero que isso realmente ocorra. Entretanto, é importante acrescentar um último elemento de custo ao cálculo. Isto é, o aumento da taxa cambial e dos salários em relação à curva de aprendizado lean dos gerentes na China e em outros locais de baixos salários. De visitas recentes a China e a Índia eu sei (a) que os métodos lean funcionam bem nesses países, assim como em qualquer lugar no mundo, e (b) que a produtividade atual do trabalho da China e da Índia é péssima. Assim, deveria ser possível impulsionar dramaticamente a produtividade nos próximos anos, aplicando o lean para compensar basicamente o fortalecimento da moeda e o aumento de salários. Ainda não é hora para os fabricantes de qualquer lugar relaxarem e desacelerarem sua própria busca por operações lean. O próximo artigo analisa o mal-entendido de duas palavras simples — valor e desperdício, uma confusão que parece causar perplexidade para os economistas e para o público. Produto Interno Bruto vs. Desperdício Interno Bruto Sempre fico fascinado em como os humanos contam, especialmente como parecemos sempre contar as coisas erradas. Recentemente, estava olhando a contagem do Produto Interno Bruto (PIB). O governo dos EUA reporta que o PIB cresceu 2,6% no segundo trimestre de 2006, após ter crescido 5,8% no primeiro trimestre, e os economistas em seus comentários parecem achar que isso é bom. Nós estamos produzindo mais bens e serviços (produtos internos) per capita, o que significa que o rendimento econômico está crescendo mais rápido do que a população. Isso tudo significa que deveríamos estar mais ricos. Os governos em cada país do globo fazem o mesmo tipo de contagem com o mesmo processo de pensamento. A visão universal é que o crescimento no produto interno é bom. Fim da discussão. Mas para os pensadores lean, isso deveria ser apenas o começo da discussão. O PIB conta simplesmente toda atividade econômica. Quaisquer bens produzidos ou serviços desde que alguém pagou por seu “produto”. Assim, a onda do crescimento em suportes online e por telefone — para ajudar os clientes a usarem os produtos que não conseguem entender como instalar, que não funcionacom seus outros produtos ou que simplesmente não liga — conta como crescimento do produto interno. O mesmo acontece com os gastos com recalls de produtos defeituosos. E o mesmo com os novos armazéns para estoques desnecessários. E a construção de grandes aeroportos para atravessar passageiros pelo Ponto C quando os passageiros apenas querem ir diretamente do Ponto A ao B? Ou gastos adicionais com grandes centros médicos para deixar pacientes esperando pela próxima etapa de seu tratamento quando o trajeto do fluxo está bloqueado? Mais crescimento no Produto Interno Bruto! Claramente, o problema aqui é que uma medida chamada “produto” mistura duas coisas bem diferentes: valor e desperdício. O que realmente precisamos é medir o valor interno bruto (todos os “produtos” que realmente criam valor na percepção do cliente) e compará-lo com o desperdício interno bruto (ou, talvez, MIB, para muda interno bruto). Queremos que o primeiro cresça, mas que o segundo diminua. Esse problema de contagem tem, de fato, duas dimensões adicionais. Primeiro, mesmo no caso de bens que claramente criam valor para o cliente, como o novo computador que funciona sem precisar recorrer ao suporte, os progressos do projeto, da manufatura e da entrega do item são uma mistura de valor e desperdício. Por exemplo, montar as peças com certeza é valor, enquanto retrabalhar a unidade acabada na fábrica a tal ponto que ela finalmente funcione apropriadamente é desperdício. Mas o cliente tem que pagar pelo valor e pelo desperdício juntos. Uma segunda questão é que externalidades impostas ao ambiente pelos processos de criação de valor são atualmente contadas como produto da economia. Por exemplo, um estudo recente pelo ministério do meio ambiente do governo chinês estimou que da taxa de crescimento oficial do PIB de 2004 de 10%, 3% eram realmente gastas tentando tratar os danos ambientais para a saúde humana e para a agricultura causados pelos outros 7%!10 Neste caso, as internalidades, na forma de bens e serviços produzidos para o benefício pessoal dos clientes são confundidas com externalidades: o peso de sua produção sobre o ambiente e o público geral. Ambos contados como PIB. Estamos familiarizados com o rótulo do produto que nos diz qual fração do produto foi feito internamente, qual fração usa materiais reciclados, qual fração é gordura, proteína, carboidrato, e assim por diante. E os rótulos que mostram quantas das etapas envolvidas criam valor e quantas eram desperdícios do ponto de vista do cliente? Isto é, uma contabilidade das etapas que o cliente estava feliz em pagar comparadas àquelas que o cliente foi forçado a pagar por causa do projeto ou desempenho ruim dos processos envolvidos? E os rótulos “verdes” que mostram os custos para o ambiente que deveriam ser subtraídos do valor do produto? Mas, na verdade, isso seria um erro se fosse apenas outro exercício de contagem. A menos que o desperdício fosse realmente eliminado como resultado, esse tipo de contagem seria apenas mais muda. O que proponho, em vez disso, é que os pensadores lean ajudem outros que têm dificuldades de enxergar que o crescimento é bom, mas apenas o crescimento do valor, não do desperdício. E, então, espero que reexaminemos cada processo com os quais estamos em contato para distinguir claramente valor de desperdício. Isso, obviamente, é apenas a preparação necessária. O valor do exercício está em eliminar o desperdício, não apenas em contá-lo. Minha derradeira esperança é que algum dia nosso método atual de contar o PIB se tornará completamente exato, mesmo se não o mudarmos. Nós realmente contaremos o valor interno bruto, seja qual for sua denominação, porque teremos eliminado nosso desperdício interno bruto. 23 de outubro de 2006 Se valor e desperdício são confusos, custo e valor são ainda mais confusos, especialmente para os contadores. Resolver essa confusão é o tópico do próximo artigo. Adicionando Custos ou Criando Valor? Estive visitando empresas na semana passada, ouvindo as histórias das empresas que tentavam alcançar a transformação lean. E fiquei perplexo, como sempre, pela confusão de terminologia. As empresas que visitei pensavam que estavam “adicionando valor”, mas, na maioria das vezes, eu as via “adicionando custos”. Então, permita-me tentar esclarecer as coisas. Sempre uso o termo “criar valor”, em vez do mais familiar “adicionar valor”, porque o primeiro é a voz do cliente e o segundo é a voz do contador. As empresas adicionam seus custos — materiais comprados e gastos internos de capital e de trabalho mais suas margens —, depois subtraem o custo de itens comprados para determinar quanto “valor” eles “adicionaram”. O problema é que isso deixa de lado o cliente, quem determina valor. O que uma empresa quer dizer por “adicionar valor” é “adicionar custos”. Se o custo extra cria valor, este é de conhecimento do cliente, e muitos gerentes nunca nem perguntam isso! Um exemplo rápido: vamos supor que uma empresa compre porcas, parafusos e alguns dispositivos mecânicos, e monteos em um simples produto. Esses itens comprados são claramente custos. Então, vamos supor que a empresa tenha muita mão de obra para armazenar essas peças, levá-las ao ponto de montagem, montá-los, retrabalhar os itens defeituosos, armazenar os produtos montados, procurar os itens que estão faltando e depois entregá-los. Finalmente, vamos supor que os itens comprados custam 50 unidades e o preço de venda do produto final seja 100 unidades. Obviamente, a empresa deve “adicionar” 50 unidades de “valor”. Certo? Errado! Do ponto de vista do cliente, esta empresa pode ter apenas adicionado 50 unidades de “custo”, incluindo suas margens, e criado pouco valor. A razão é que a maioria das etapas que consomem os recursos — armazenar as peças, procurar por elas, retrabalhá-las — adicionam custo, mas não valor na perspectiva do cliente. Os clientes, na verdade, pensariam que o produto fosse mais valioso (e desejariam pagar mais) se essas etapas fossem deixadas de lado e o produto tivesse sido entregue mais rápido! Porque os produtos vem como um pacote de valor e desperdícios caros e porque as empresas na maioria das indústrias atualmente misturam os dois, os clientes geralmente não têm outra alternativa senão comprar o desperdício junto com o valor. Mas e se algumas empresas lean em sua indústria separassem valor de desperdício e eliminassem o desperdício? Se esta não for a sua empresa, tenha cuidado! As palavras não substituem a ação, mas as palavras erradas muitas vezes impedem que as ações certas sejam tomadas se os gerentes não conseguirem definir a diferença entre valor e custo. Portanto, espero que os pensadores lean afiem sua língua para focar na verdadeira criação de valor, frequentemente eliminando custos desnecessários. 4 de março de 2004 Criando Valor ou Transferindo Riqueza? Uma última confusão que eu geralmente encontro está no uso intercambiável dos termos “valor” e “riqueza”. O primeiro é significativo para o cliente, cujos problemas são resolvidos por algum uso de recursos, enquanto o último é significativo para o dono dos recursos. Penso que essa seja uma confusão prejudicial, e este último artigo desta seção tenta esclarecê-la. Como julgamos o progresso do movimento lean? Um indicador fundamental é nosso sucesso em estender o pensamento lean para novas indústrias e atividades. Nos últimos anos, fiquei muito animado pelo pensamento lean estar avançando além de suas origens na manufatura para a distribuição, varejo, manutenção e inspeção, serviços ao cliente, construção, e — talvez o mais impressionante — para a área da saúde. Na verdade, esta última pode ser a área mais energética das práticas lean atuais. No entanto, ando preocupado com nossas perspectivas para mudar o pensamento dosinvestidores e, especificamente, as organizações gigantes de investimento private-equity, que agora controlam grandes partes da economia. Por mais que tenhamos ganhado um forte apoio nos serviços financeiros, isso ocorreu no nível operacional. A maioria dos esforços até agora tem focado em como os fluxos de valor dentro das organizações financeiras podem se tornar lean — por exemplo, para o processamento de empréstimos ou para verificações de créditos. Esse é um trabalho importante, mas em um nível diferente de como as organizações financeiras pensam sobre os investimentos e, especificamente, como elas podem instigar as transformações lean nas fábricas que controlam em muitas indústrias. Fiquei, então, satisfeito quando fui contatado por uma das maiores empresas de private-equity, uma organização com dezenas de empresas em seu portfólio de investimentos, totalizando, talvez, 100 bilhões de dólares em vendas. Esse tipo de empresa levanta fundos de investimentos privados para comprar empresas, na esperança de “reviravoltas” rápidas e, então, revende essas empresas a um preço bem maior. O sócio que me contatou notou que as condições nessa indústria mudaram com a crise do crédito e os mercados de participação fracos. Em vez de vender as empresas após dois ou três anos, seria necessário mantê-las com eles por um longo tempo, mesmo uma década, antes que possam ser vendidas com lucro. Sua pergunta foi simples: “Dado que agora precisaremos manter empresas por muitos anos, como podemos ter a visão de longo prazo? Na verdade, como podemos tornar as empresas exemplos lean, a fim de maximizar seu preço quando elas forem vendidas?” Fiquei feliz em me engajar nessa conversa. Mas para evitar qualquer mal-entendido, precisei começar comparando uma “reviravolta” tradicional de private-equity com uma “transformação lean”. No primeiro, o objetivo até aqui tem sido produzir rapidamente dramáticos resultados financeiros. Isso, muitas vezes, tem significado: • “Manter” duas ou mais empresas na mesma indústria para reduzir a competição e aumentar os preços para os clientes. • Negociar salários e benefícios menores. • Cortar gastos nos projetos de desenvolvimento de longo prazo que não sejam prejudiciais para o desempenho da empresa no curto prazo. • Reduzir a quantidade de pessoas nas atividades julgadas não essenciais. • Reestruturar o balanço para adicionar a dívida bancária, geralmente criando dividendos instantâneos para a empresa de private-equity na forma de taxas de gestão, mas níveis altos de débitos de longo prazo para a empresa quando for vendida. • Renegociar preços com os fornecedores, ameaçando cortar encomendas. Essas ações transferem rapidamente a riqueza de clientes, funcionários, fornecedores e ex-donos para os novos donos. Isso pode fazer mais bem do que mal, porque, do contrário, a empresa em questão poderia falir completamente. Mas é frequentemente obscuro se algum valor adicional foi criado no sentido de satisfazer melhor as necessidades dos clientes com uma dada quantidade de esforço humano e investimento de capital. E, do ponto de vista da sociedade, a única forma de aumentar os padrões de vida é mudar a taxa de esforço humano e ida de capital às empresas para a quantidade de valor vindo. De outra forma, o resultado é basicamente zero, com alguns vencedores e alguns perdedores. Pelo contrário, o objetivo da transformação lean é analisar os processos centrais de criação de valor das organizações à luz das necessidades dos clientes (as quais poderão ter mudado) e, então, descobrir como criar mais valor com os mesmos recursos para que as organizações possam crescer e a sociedade prosperar. Esta é a diferença entre transferir riquezas de um para outro e criar mais valor, idealmente valor que possa ser compartilhado com clientes, funcionários, fornecedores e proprietários. Fiquei aliviado que, após uma discussão franca sobre as diferenças entre uma private-equity tradicional e uma “lean”, a empresa em questão ainda estava interessada em buscar o lean. Na verdade, essa empresa agora lançou uma extensa série de experimentos para os processos “lean” de seu portfólio de empresas, e outras empresas private-equity estão agora seguindo esse caminho. É muito cedo para saber quanto progresso será feito ao longo desse caminho. Mas estou animado por ver uma indústria que eu temia jamais ouvir notícias estar agora realmente escutando. 1 de maio de 2008 9. Bernard Wysocki Jr. e Sarah Lueck, Just-in-time Inventories Make U.S. Vulnerable to a P.andemic. The Wall Street Journal, 12 de janeiro de 2006. 10. Green GDP Accounting Study Report 2004, impresso pela State Environmental Protection Administration of China (SEPA) e pelo National Bureau of Statistics of China (NBS) no dia 8 de setembro de 2006. DESVENTURAS Muitos anos atrás, o escritor sobre gestão Peter Drucker redigiu uma autobiografia maravilhosa intitulada Adventures of a Bystander (Aventuras de um Observador).11 Em sua introdução, ele notou que tinha sido um observador de primeira fila em grandes momentos da história da gestão, incluindo na General Motors, quando a GM tomou seu padrão final como o exemplar da gestão moderna imediatamente após a Segunda Guerra Mundial. (Como ele explicou em seu clássico volume, The Concept of the Corporation (O Conceito da Corporação),12 a ele foi dado acesso irrestrito a cada gemba da GM para observar, mas somente observar, o comportamento gerencial). Porém, ele nunca foi diretamente envolvido nas tomadas de decisão e, por isso, sempre foi um espectador. Sempre me senti da mesma maneira quando caminhava pelo gemba das organizações onde era meramente um visitante. Felizmente, eu também tive diversas oportunidades de ser mais envolvido diretamente. Como, acredito eu, já deixei claro esse ponto, penso que a vida do lean seja experimentos. E confirmei, por meio de vários experimentos, o provérbio “é com os erros que se aprende”. Nos dois artigos seguintes, descrevo duas “desventuras” em que as coisas não saíram exatamente como o planejado e as lições aprendidas. A primeira envolve minha breve carreira como um capitalista. O Valor dos Erros13 Muitos leitores da segunda edição do meu livro, e de Dan Jones, A Mentalidade Enxuta nas Empresas me escreveram levantando uma questão interessante: “Afinal, o que aconteceu com a empresa de bicicletas sobre a qual você falou no capítulo 3? Por que seu sucesso não foi mencionado no novo capítulo 14 com as outras empresas do livro?” Aqui estão as respostas: Em 1995, associei-me a vários investidores para comprar uma pequena empresa de manufatura de bicicletas na região de Boston. Meu papel como um investidor e membro do conselho — não como um funcionário — era introduzir o conhecimento lean apropriado para melhorar o desempenho operacional. Assim que começamos, parecia incrivelmente fácil: a empresa construía suas armações de titânio de alta qualidade para os pedidos confirmados dos clientes e tinha uma reputação de entrega em uma ou duas semanas a partir do recebimento do pedido. Entretanto, para isso, a empresa tinha criado quatro meses de armações quase completas, as quais passavam pela fabricação e por ajustes finais somente antes da entrega. Além disso, por causa da mentalidade de lotes desse fornecedor principal — a empresa que fazia o tubo de titânio —, a empresa de bicicletas tinha quatro meses de estoques à mão. Adicionando quatro meses a quatro meses, era fácil enxergar que o lead time de produção para uma parte do tubo, da entrada na empresa até a entrega ao cliente, era de oito meses, e que aí estava preso o capital operacional. (O custo do tubo era 40% do custo total da bicicleta entregue, e isso era muito dinheiro). Nosso plano era eliminar os quatro meses das armações parcialmente prontas e os quatromeses de estoques de tubos e, ao mesmo tempo, manter a habilidade de entregar quase imediatamente frente as especificações do cliente. Para isso, transformamos o leiaute em ilhas de processo da fábrica para criar três células de fabricação de tubos, solda de tubos, e usinagem e ajustes finais. (Recebemos conselhos excelentes de vários sensei, desde Bill Moffit até Hajime Ohba, assim, quaisquer erros eram estritamente de minha responsabilidade). Depois, diminuímos o estoque, reduzindo o lead time de produção do primeiro corte de um tubo até a entrega do cliente para apenas dois dias para uma armação sob encomenda. Isso nos permitiu eliminar as áreas de armazenagem e alugarmos metade da planta para outra empresa. Por termos aumentado também a produtividade, enquanto tentávamos (com êxito) encontrar empregos para as pessoas que não eram mais necessárias — uma simples tarefa na crescente economia de 1996 —, parecia que todos saiam ganhando! Então, cometi alguns erros: O primeiro foi uma tentativa técnica de criar um acessório flexível de solda para qualquer bicicleta para que os soldadores pudessem transferir de uma bicicleta para outra quase instantaneamente e pudéssemos manufaturar as bicicletas na planta na sequência exata dos pedidos. Era uma coisa magnífica de se ver — e permanece em minha memória assim como a máquina de Mark Twain que consumiu sua fortuna toda e nunca funcionou! Estávamos tão obcecados pelo purismo do lean — eu estava determinado a fazer bicicletas na sequência exata dos pedidos dos clientes — que nos esquecemos de alguns limites técnicos e do fato que muitos de nossos clientes não estavam tão preocupados com um pouco de espera. Na verdade, alguns diziam que, se pudéssemos fazer uma bicicleta customizada em dois dias do recebimento do pedido, ou não deveríamos ter nenhuma demanda ou suas bicicletas teriam sido realmente retiradas do estoque, em vez de ter sido construída de forma customizada. De qualquer forma, não estávamos satisfazendo nossos clientes, que, assim como os compradores da Harley Davidson, pareciam enxergar um valor positivo em esperar. Então... intencionalmente, adicionamos duas semanas de lead time para a customização das armações! O resultado final foi que juntamos muito capital livre por meio da redução de estoques em um esforço de tecnologia projetado para servir às necessidades dos clientes que apenas nós sentíamos e que nunca conseguimos completar. No final, tivemos que aceitar a realidade que pequenos estoques nem sempre era um pecado. O que se leva disso: nunca coloque a pureza do lean na frente do que é realístico ou do que o cliente realmente quer. Nosso erro seguinte foi uma arrogância de minha parte: decidi que visitaria o fornecedor de tubo de titânio — a única empresa capaz de fazer tubos que não quebrava nossos flexores. Eu criaria um caso tão persuasivo para converter a fábrica de tubos aos métodos lean com setups mais rápidos para pequenos lotes que melhorariam o serviço com menos quantidade e menor preço. (Eu era jovem naquela época). Apenas quando cheguei em sua fábrica de tubos em Louisiana e olhei para sua tecnologia, percebi que era uma causa perdida. Perguntei se poderia sentar e assistir enquanto eles faziam uma troca completa de ferramentas em suas grandes máquinas, mas eles me alertaram que, já que eu estaria na cidade por apenas 24 horas, não teria tempo de assistir ao processo todo! Então, eles me perguntaram se eu queria comprar sua empresa também, já que eles estavam debaixo d’água, porém no mercado! (Esta foi comprada em seguida por uma empresa financeira com zero interesse nas questões operacionais). A realidade começou a afundar quando percebi que a fábrica de tubos tinha apenas quatro clientes — Boeing, Pratt & Whitney, GE Aircraft Engines e nós — e que um crescimento notável na indústria aeronáutica estava acontecendo. Em conse- quência, o fornecedor nos entregava o que eles queriam entregar, quando queriam, e o melhor que podíamos fazer era levá-los para armazenar o excesso em seu depósito de distribuição próximo a nossa planta. Já que nada de fundamental foi feito sobre os custos e a capacidade da planta estava vendida por vários anos, não foi uma surpresa — na verdade, tivemos sorte — que os preços não mudaram. O que se leva disso: o fluxo de valor estendido é fundamentalmente importante, mas consertá-lo é sempre muito mais difícil que consertar suas próprias operações. Portanto, não conte com benefícios fantasiosos de curto prazo. Nosso erro posterior foi apenas um momento ruim: como resultado da economia da bolha e a diminuição das aberturas de capital iniciais (IPO), a maioria das empresas de bicicletas vieram a público em meados dos anos 90. Assim, elas precisavam aumentar as vendas para atender às expectativas de um rápido crescimento por parte do Wall Street. E a melhor forma de fazer isso era oferecer aos varejistas termos muito favoráveis para colocarem as bicicletas no varejo sem cobrarem por custos de transporte. Era uma coisa para bicicletas de 300 dólares, mas outra para nós com nossas armações de 2.500 dólares, ainda que os varejistas quisessem nos igualar aos termos das grandes empresas. Tivemos uma brilhante ideia em 1997, que foi uma grande aposta e trocou nosso canal de vendas para a internet. Projetamos um site no qual os compradores pudessem construir suas próprias bicicletas customizadas na tela e com apenas alguns cliques mandar para nós muito dinheiro! O problema era que mudar para esse canal acarretaria uma queda provável nas vendas no curto prazo — tanto que os negociantes tradicionais percebiam que as regras haviam mudado e fechavam suas franquias — e propagaria o novo canal em publicações de alta qualidade como a GQ. Então, nosso presidente foi ao banco solicitar um empréstimo para criarmos um novo modelo de negócios. Isso desencadeou uma discussão de garantia. Em dois anos de negócio, começamos com perdas até chegar a pequenos lucros, mas tínhamos também eliminado quase todos os ativos. O estoque em processo caiu de oito meses para menos de uma semana. Recebíveis de produtos acabados eram zero já que os clientes pagavam no momento da entrega. Nosso estoque de equipamentos tinha diminuído bem, pois substituímos máquinas modernas por simples máquinas velhas (liderados pelo “antigo mandril”, cuja placa de manufatura confirmou que tinha um século). E tínhamos eliminado metade do espaço da planta. Em suma, criamos uma manufatura com baixo capital, que é exatamente o que o mundo deveria buscar. Quando nosso presidente apresentou a lógica do nosso modelo de negócio para o banco, a resposta foi simples: “Então você está nos pedindo um empréstimo para um negócio que não tem nenhum recurso?” “Correto, este é o futuro da manufatura!” “Bem... o futuro não está aqui ainda. Adeus.” O que se leva disso: não espere que os financiadores tradicionais entendam o que você está tentando fazer com sua transformação lean! Portanto, concluímos que não poderíamos chegar lá partindo daqui e chamamos um corretor. Em pouco tempo vendemos a empresa para um fabricante de equipamentos esportivos multinacional que queria se unir a outra marca de alta qualidade. E assim foi, exceto por um último detalhe desanimador: o novo dono logo concluiu que mais estoque seria necessário para atender rapidamente aos pedidos dos clientes e fez grandes lotes de armações parcialmente completas! Eles não conseguiram ganhar dinheiro com essa abordagem — surpresa — e, logo, venderam a empresa para outra organização, onde ela agora existe somente como um instrumento de marketing, um entre muitos outros. Olhando pelo lado mais animador, muitos funcionários de nossa empresa saíram para encontrar uma nova empresa e tiveram grande sucesso na indústria de bicicletas personalizadas, usando os métodos de manufaturaque nós apresentamos. E, para mim, a experiência de converter um sonhador lean em um realista lean foi inestimável: investi muito pouco; recebi muito pouco; e ganhei um ensinamento inestimável sobre o que é realmente necessário para se transformar um negócio. Espero que sua educação lean esteja avançando também e que você tenha uma maior proporção de ganho pelo esforço! 12 de agosto de 2003 Após ter mandado este artigo, fiquei surpreso com a reação. Muitos leitores me escreveram de volta reclamando que, já que cometi erros, não tinha o direito à qualquer tipo de autoridade sobre a transformação lean. Um líder da implementação lean de uma empresa aeroespacial escreveu que eu não tinha o direito de escrever mais nada, já que provei minha incompetência. Minha reação foi que essa mentalidade é uma das principais razões para as organizações acharem tão difícil melhorar: há zero tolerância para falhas e, por isso, relutância para tentar qualquer coisa nova que possa falhar. Porém, os experimentos são a única forma para as pessoas e as organizações aprenderem, e todos os experimentos valiosos têm possibilidades de falha. Minha breve carreira como um capitalista me ensinou muitas coisas. Tentando ajudar uma poderosa empresa a se tornar lean ensinou- me outra, como descrito no próximo artigo. Necessário mas Insuficiente Uma das coisas mais difíceis em minha linha de trabalho é ver uma empresa fazer um grande avanço na transformação lean e mesmo assim fracassar. Hoje o pesar é a Delphi, a gigante empresa de autopeças americana que foi uma das patrocinadoras na fundação do LEI e a qual tem sido um teste para nossas ideias e publicações durante os últimos oito anos. Como você deve saber, a Delphi pediu concordata em 8 de outubro de 2005, e está agora se reorganizando. Tenho caminhado pelas dezenas de instalações da Delphi em muitos países, e em minhas caminhadas recentes tenho visto algumas das práticas mais lean que já encontrei fora da cidade da Toyota. A Delphi tinha os melhores ex-sensei da Toyota, buscava o kaizen e o kaikaku com muita disposição e poupou bilhões de dólares em custos operacionais. Ao mesmo tempo, a qualidade foi melhorada drasticamente (diminuiu os defeitos por milhões de peças para um único dígito), a capacidade de resposta às mudanças de pedidos dos clientes foi aprimorada, as exigências de investimentos para um dado incremento de capacidade foram cortadas e os estoques, diminuídos. Em resumo, a Delphi deu todos os passos necessários para transformar seus sistema de produção, mas esses passos sozinhos não foram suficientes. Então, o que houve de errado? A Delphi foi pega por entre as promessas feitas para os funcionários, enquanto se separava da General Motors, e as demandas de seu maior cliente (GM), enquanto se esforçava para se adaptar à economia mundial hipercompetitiva de hoje. Quando a Delphi ganhou sua liberdade em 1999, a esperança era que haveria tempo para fazer a transição. A Delphi honraria os salários e os acordos de pensão com os funcionários que trabalhavam no negócio da GM na América do Norte, enquanto se diversificava gradualmente para novos negócios fora da GM, o que inicialmente foi responsável por 90% das vendas da Delphi. Depois, quando os funcionários sindicalizados da Delphi nos Estados Unidos que trabalhavam pelo altos “salários da GM” se aposentarem, eles seriam substituídos por funcionários novos com salários de “Nível Um” comparados aos competidores da Delphi na indústria de autopeças. Ao mesmo tempo, a GM reconhecia o problema de custos da Delphi em seu negócio e manteria as demandas de redução de preços de acordo com a capacidade da Delphi de reduzir custos. Por cinco anos, como a Delphi aumentou constantemente sua produtividade por meio de sua iniciativa lean e como seus funcionários de alta remuneração se aposentaram, parecia que a equação iria funcionar. Mas, depois, os preços da energia aumentaram, os segmentos dos grandes SUVs e picapes onde a GM ainda fazia boas margens se estagnaram e os competidores lean, como a Toyota, lançaram produtos em cada nicho rentável remanescente da GM. A GM respondeu, baixando cada vez mais o preço dos produtos da Delphi até um ponto em que as perdas da Delphi dispararam. (A ironia para os pensadores lean é que a líder lean Toyota bateu a GM, e a GM respondeu batendo a Delphi, a qual tinha se tornado uma das pupilos mais ávidos da Toyota. Se apenas a Delphi tivesse tido a Toyota como seu maior cliente!). Alguma coisa tinha que acontecer, e a Delphi decidiu que a falência era a única forma de lidar com os prejuízos nos Estados Unidos — mesmo quando a empresa tinha bom desempenho financeiro em qualquer lugar do mundo, isso ajudada em qualquer caso pela produção lean. Então, qual é a lição para os pensadores lean? Simplesmente consertar as operações pode não ser suficiente se os gerentes esperarem muito para começar, e os custos com alguns fatores (principalmente custos com salários e saúde nos dias de hoje) estiverem muito fora da linha. A Delphi agora passará por um processo de reorganização no qual um juiz, em vez de gerentes seniores, líderes de sindicatos ou clientes, irá decidir como dividir a dor. E aqui está uma previsão contraditória: acredito que a Delphi tem um grande futuro como líder mundial de fornecimento de peças de carros, uma vez que promessas feitas em um passado muito menos competitivo são abordadas. Isso ocorre porque a fundação do lean para o sucesso já foi implementada. Muitos observadores admitem que, obviamente, o passo principal para a Delphi será mudar praticamente todas as suas operações dos EUA e da Europa Ocidental para países de mão de obra barata. E isso pode ser parte da solução. Mas de novo, permita-me ser contrário e mostrar que esse passo, apesar de necessário em alguns casos, nunca pode ser suficiente. Afinal de contas, qualquer um pode fazer isso. Se a Delphi simplesmente mudar todas as suas operações para a China (veja Mudar suas Operações para China? na página 242) — admitindo que é a localização global de menor custo —, mas executar as operações como um produtor em massa, como a vantagem competitiva sustentável pode ser ganhada enquanto competidores perseguem a mesma estratégia à mesma taxa? De fato, a vantagem sustentável está na combinação das verdadeiras práticas lean no projeto de produto, operações e logística, compras e contato com os clientes com custos de mão de obra apropriados na localização certa para servir a clientes específicos. Quais são esses custos e onde as atividades deveriam estar localizadas depende dos clientes específicos a serem atendidos. (Você precisará de alguns “cálculos lean” para obter a resposta certa). Mas prevejo que em muitos casos o local certo para a Delphi seja mais próximo ao cliente, em vez do que a maioria dos observadores acreditam hoje. De qualquer forma, e para qualquer empresa em qualquer indústria, apenas os processos lean no local certo irão se revelar necessários e suficientes. 17 de outubro de 2005 Olhando cinco anos atrás, minhas esperanças para a Delphi se confirmaram e se frustraram. A empresa emergiu da falência, mas só depois de quatro anos, durante os quais toda indústria automotiva da América do Norte foi transformada pelo colapso da GM e Chrysler. E agora ela retornou à lucratividade com perspectivas para um futuro estável. Mas sua falência e a de seus clientes resultaram em metade das operações da empresa sendo vendida ou fechada. A Delphi é agora apenas metade de seu tamanho original e poucas dessas operações sobreviventes estão nos EUA ou Canadá. Ao mesmo tempo, as lições lean aprendidas nesses anos antes da falência têm sido lembradas e ampliadas nas operações da Delphi por todo o mundo. Apesar das rupturas de toda a empresa ao fechar plantas e realocaros funcionários restantes, os defeitos por milhões de peças entregues aos clientes caíram de 5,6 em 2005 para 2,7 em 2010 (o que é melhor do que o nível 3,4 requerido pelo seis sigma). Ao mesmo tempo, a Delphi continuou entregando aos clientes no tempo certo em um nível de 99% ou mais, os ciclos de estoques melhroraram 10%, mesmo quando os volumes caíam e a taxa de dias de trabalho perdidos dos funcionários, devido à acidentes no trabalho, caiu de 0,36 em 2005 para 0,15 em 2010. Logo após a Delphi decretar falência, escutei de muitos leitores que a falha da Delphi foi a prova de que o “lean não funciona”, uma reação repetida poucos anos depois quando a Toyota tropeçou. Mas o problema não eram os conceitos lean, que funcionam muito bem quando aplicados no contexto apropriado. E eles funcionaram brilhantemente em cada área operacional da Delphi. O problema foi a circunstância em que se encontrava a Delphi com dois sistemas de negócios colidindo na América do Norte, assunto abordado na próxima série de artigos. 11. Peter F. Drucker, Adventures of a Bystander. New York: Harper & Row, 1979. 12. Peter F. Drucker, The Concept of the Corporation. New York: The John Day Co., 1946. 13. Originalmente intitulado, Beach Reading ou, em português, Leitura de Praia. A GRANDE CORRIDA A história da Delphi da última seção é uma das pequenas partes de um drama muito maior. Durou 60 anos, desde o final dos anos 40, quando os gerentes seniores da Toyota decidiram que poderiam alcançar rapidamente a General Motors em produtividade e qualidade, a maior e mais bem-sucedida empresa da época. E esse drama é apenas uma parte de uma grande competição entre dois sistemas de negócios diferentes — gestão moderna vs. gestão lean. A história desta grande corrida no período após a publicação de A Máquina que Mudou o Mundo, em 1990, é contada neste conjunto de artigos. Um Conto de Dois Sistemas de Negócio Em 1990, Dan Jones, Dan Roos e eu concluímos A Máquina que Mudou o Mundo, nossa descrição da empresa lean. Na página 253, previmos que em 1991 ou 1992 seria o momento da crise quando todo o poder do lean (representado pela Toyota e pela Honda) ameaçaria derrubar a produção em massa (defendida pela General Motors). E na recessão de 1991-1992, a GM quase faliu. Porém, como geralmente acontece com as previsões, estávamos errado. O momento da verdade estava de fato atrasado 15 anos. O que agora parece certo é que a Toyota passará a GM em 2006 para se tornar a maior empresa industrial do mundo e a GM e a Ford passarão por uma transformação profunda, quer seja liderada pelos dirigentes atuais ou por qualquer outra pessoa. Recentemente, enquanto ouvia executivos industriais e a mídia lidando com esse evento extraordinário, notei a manifestação irrelevante da maioria dos esforços para se encontrar a causa raiz. A crise não ocorre devido a moedas desalinhadas, a subsídios do “Japão, Inc.” ou a preços de energia aumentando (apesar do último ter afetado o timing). E isso não é um simples caso de muitos aposentados para a GM e a Ford manterem. (Na verdade, isso tem sua causa e efeito no passado: a GM e a Ford têm muitos aposentados norte-americanos como funcionários para manter, pois ambas as empresas têm perdido metade do valor das ações do mercado norte- americano nos últimos 25 anos e não têm contratado quase nenhum novo funcionário em um quarto de século). A causa raiz da crise está no choque de dois sistemas de negócio, e o melhor sistema está ganhando. Como apontamos na Máquina — dedicando um capítulo para cada ponto —, uma empresa lean consiste de cinco elementos: um processo de desenvolvimento de produtos, um processo de gestão de fornecedores, um processo de suporte ao cliente, um amplo processo de gestão da empresa e um processo de produção do pedido a entrega. E cada um desses processos é superior aos processos empregados pelas mesmas tarefas no produtor em massa. O processo de desenvolvimento de produtos lean permite que a empresa produza veículos com poucas horas de engenharia e poucos meses de desenvolvimento, tendo poucos defeitos, enquanto investe menos capital e torna os clientes mais felizes. As ferramentas mais importantes são o conceito de engenheiro-chefe, o projeto com múltiplas alternativas (o qual também é simultâneo) e protótipo de alta velocidade com curvas de trade-off para que a reinvenção seja evitada. A gestão lean de fornecedores cria um pequeno número de fornecedores altamente capazes em uma parceria de longo prazo com seus clientes. Os fornecedores trabalham para atender as metas demandadas pelos clientes (de custos, qualidade, entrega confiável e novas tecnologias) e para alcançar essas metas, examinando conjuntamente o desenvolvimento e o processo de produção que eles compartilham com seus clientes. A abordagem lean tem benefícios dramáticos e previsíveis, mas se a GM e a Ford ao menos entendessem esses conceitos, perceberiam que sua notória necessidade de salvar a si mesmos, extorquindo seus fornecedores, tornou a implementação impossível. O suporte lean ao cliente cria clientes para a vida toda enquanto reduz os custos de distribuição, trabalhando a partir da experiência desejada pelo cliente até o fim das necessidades do sistema de produção. De fato, apesar da Toyota ter desdobrado esses conceitos de forma brilhante no Japão, ela falhou em sua aplicação nos Estados Unidos. Seu sistema de distribuição do Lexus criou um alto nível de satisfação dos clientes, mas a um custo substancial. Alcançar a alta satisfação e o baixo custo é o tópico principal do lançamento de meu livro Soluções Enxutas, em coautoria com Dan Jones, e oferece uma oportunidade maravilhosa para a GM e a Ford passarem a Toyota, usando seus próprios métodos. Ou, se elas falharem, isso poderia ser o ato final da tragédia, enquanto a Toyota finalmente faz seu varejo lean nos próximos anos, da forma como ela transformou suas operações de peças de serviços nos anos 90. Um sistema lean de gestão envolve gerentes de todos os níveis, encontrando os problemas principais que precisam ser resolvidos e pedindo às equipes que lideram que descubram e implementem as respostas. Essa prática de fazer as perguntas certas, em vez de fornecer as respostas certas (as quais, de qualquer forma, os chefes de alto nível não podem saber) é, talvez, o contraste mais notável entre a mentalidade enxuta e a gestão moderna ortodoxa e o mais difícil de se consertar. Colocando esses quatro elementos juntos, não é uma surpresa que os exemplos lean, Toyota e Honda, estejam avançando constantemente, enquanto os produtores em massa em recuperação, como a GM e a Ford, regridem constantemente, apesar de adotarem partes do sistema lean. E note que nem tenho mencionado o quinto elemento de uma empresa lean — operações de produção — porque a GM e a Ford são agora quase competidoras desta dimensão em termos de produtividade da mão de obra e qualidade da planta de montagem. A causa raiz da crise atual não está na fábrica. Está no resto do sistema de criação de valor. O que deveria acontecer em breve para a GM e a Ford resolverem essa crise? Reescrever o contrato social. Como a Toyota aprendeu quando foi à falência em 1950 e demitiu um quarto de sua mão de obra, nenhuma empresa em uma indústria muito competitiva pode fazer promessas aos funcionários (ou aposentados) que não são sustentáveis no mercado. Por isso, a Toyota fez um acordo: acertar o tamanho da empresa de uma só vez, adequar os salários e benefícios às condições do mercado (com as bonificações de todos os funcionários ajustadas aos lucros) e tentar defender arduamente cada funcionário que desejar adotar o novo sistema de criação de valor. Há mais de 50 anos — ao seguir cuidadosamente essas regras — a Toyota foi capaz de aumentar constantemente sua competitividade,