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Estudos_Socioantropologicos

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Apresentação da disciplina 
 
Caro (a) Aluno (a), 
 
Seja bem-vindo (a) aos estudos de mais uma disciplina fundamental em seu curso. 
Área das Ciências Humanas, a Sociologia e a Antropologia possuem a grande missão de analisar 
o comportamento humano nos seus mais variados meios e funções a partir da articulação de 
grupos, instituições vinculados e da cultura. São duas ciências que possuem grande diversidade 
no diálogo que as demais áreas do conhecimento, no sentido de oferecer riquezas de estudos 
metodológicos, culturais, políticos, religiosos e epistemológicos. Seu principal método é o da 
observação e da inferência a partir de bases teóricas. Nesta disciplina, você terá a oportunidade 
de conhecer o contexto histórico de evolução desta Ciência, bem como os seus principais 
estudiosos e os resultados na atualidade. 
Aproveite todas as orientações de estudos apresentadas neste material, faça as leituras e 
pesquisas indicadas e não deixe de esclarecer as suas dúvidas. Por isso, bons estudos! 
 
 
 
 
UNIDADE 1: O QUE É SOCIOLOGIA? 
 
 
 
• Compreender a evolução do conceito de Sociologia, suas especificidades enquanto 
ciência, sua linguagem e as principais contribuições; 
• Conhecer o contexto histórico do surgimento da Sociologia, sua problemática e as 
principais abordagens. 
• Analisar os novos conceitos relacionados a este campo do conhecimento, as 
abordagens positivistas e relacionar às problemáticas contemporâneas. 
 
 
1. O QUE É SOCIOLOGIA? 
 
O mundo moderno edificado ao longo da história com o desenvolvimento da indústria e 
da ciência e de uma diversidade de modos de ser agir é, por excelência, o ambiente onde nasceu 
e se desenvolve a sociologia. A globalização estreitou as fronteiras do mundo e generalizou os 
valores ocidentais; o estilo de vida e de consumo do capitalismo está em toda parte do planeta. 
É um mundo que muda numa velocidade que muitas vezes os nossos sentidos não conseguem 
captar. 
A incerteza parece ser o signo de nossa modernidade. As novas tecnologias, 
possibilitadas pelo avanço científico criou uma arquitetura social profundamente diferente 
daquela dos nossos pais e avós. Quando falta energia elétrica um dia ou quando nosso 
computador dá uma pane geral ficamos totalmente sem chão, não conseguimos conceber a vida 
de outro modo. É um mundo cheio de consequências: preocupa-nos o crescimento das 
desigualdades sociais e tantos daqueles para quem esse mundo ainda é distante, os problemas 
ambientais se agravam com o uso indiscriminado das tecnologias que nos trazem conforto, com 
crescimento das cidades uma multidão de problemas sociais se avoluma, a falta de moradia, o 
abastecimento, a violência urbana. 
 
 
 
 
Todavia na vida moderna temos condições de controlar nosso destino e moldar nossas 
vidas de uma maneira impensável para as gerações anteriores. Como esse mundo surgiu? Como 
se desenhará o nosso futuro? Como podemos influenciar conscientemente a direção dessas 
mudanças? A sociologia, presença marcante na vida intelectual moderna procura explicar e ao 
mesmo formular tantas outras perguntas que nos leve a compreensão desse mundo moderno. 
A sociologia é a ciência da sociedade. Nas universidades brasileiras tem o nome de 
ciências sociais (inclui a antropologia e a ciência política). O sociólogo, portanto, é um cientista 
social. O objeto de estudo do sociólogo são as relações sociais, as interações sociais. É verdade 
que tudo o que é social interessa ao sociólogo. Porém a sociologia emprega o termo social e 
sociedade num sentido mais restrito do que aquele empregado pelo senso comum: “sociedade 
amigos de bairro”, “na festa de formatura precisa vestir traje social”, “sociedade protetora dos 
animais”, “tal pessoa demonstra forte preocupação social”, “numa reunião social não vamos 
falar em negócios”. Esses são alguns exemplos da amplitude do adjetivo social. 
 Para o sociólogo, social tem a ver com a qualidade das interações sociais e inter-relações 
sociais, que envolve sempre significados, reciprocidade e expectativas que o sociólogo procurará 
compreender. A sociedade está repleta de acontecimentos sociais, a dinâmica das interações 
sociais dentro dos grupos sociais e entre os grupos sociais, as diversas maneiras das pessoas 
representarem sua vida de acordo com cada cultura, a vida social cotidiana. Para usar um termo 
de Émile Durkheim que iremos ver adiante, sociedade pode ser entendida como um complexo 
de “fatos sociais”, e uma situação “social” pode ser compreendida como aquela em que as 
pessoas orientam suas ações umas em relação às outras, como bem expressa Max Weber, outro 
sociólogo que iremos estudar. 
Essa “trama de significados, expectativas e conduta que resulta dessa orientação mútua, 
constitui o material de análise sociológica” (BERGER, 1986, p. 37). Como podemos perceber a 
sociologia estuda o homem como um ser social. A vida social não pode estudada num 
laboratório, como um biólogo estuda uma célula, por exemplo. Também não é possível aplicar 
injeções e testar substâncias nos homens para compreender seu comportamento social, como 
se faz nos ratinhos. O laboratório do sociólogo é toda a sociedade, são as vivencias nos grupos, 
os conflitos existentes, ou seja, a vida com toda sua riqueza de manifestações. 
 
a) A Sociologia e o senso comum 
Chegamos numa questão de crucial importância: para fazer sociologia é preciso 
se distanciar do senso comum. O senso comum, aliás, é objeto de estudo da sociologia. 
Não façamos uma ideia puramente negativa do senso comum, como é recorrente entre 
as pessoas. Imagine uma dona de casa: ela vai à feira e compra tudo o que precisa, 
 
 
 
 
pechincha aqui e acolá, economiza muito, conversa com todos os feirantes, analisa com 
muita atenção cada produto agrícola antes de comprar; é pouco provável que essa dona 
de casa tenha sido formada em economia ou agronomia, no entanto, o seu senso comum 
lhe guia firme e confiante em suas ações. 
Veja um índio na floresta, sabe classificar, de acordo com sua cultura, todas as 
árvores e plantas, conhece os hábitos dos animais que lhe garante boa caça. No entanto, 
esse índio não é botânico ou zoólogo, a não ser que tenha cursado uma universidade. 
Quando vamos a uma festa ou um bar, num encontro de amigos, vamos com nosso senso 
comum. Salvo num momento ou outro, quando um sociólogo chato resolve dar aulas para 
todo mundo na mesa do bar. O que estamos dizendo é que o senso comum não é 
sinônimo de ignorância, na verdade é o ar que respiramos parte constitutiva de todas as 
relações sociais. 
Todavia o senso comum pode ser fonte de muitos erros e preconceitos. É 
superficial porque emite opiniões sem aprofundamento, sem o devido conhecimento. É 
imediatista porque chega a uma verdade de maneira superficial e se contenta com as 
aparências. É acrítico porque emite uma sentença sem crítica e autocrítica, não faz a 
devida reflexão, não duvida, não desconfia da veracidade de nossas supostas certezas. É 
fonte de preconceitos porque faz um juízo de algo de algo ou alguém reproduzindo 
verdades tidas por absolutas. 
É ametódico, ou seja, não usa método, chega às conclusões por caminhos 
tortuosos, que não pela razão e método científico. É dessa forma que ouvimos: “político 
é tudo farinha do mesmo saco” ou “a família é uma realidade natural criada pela 
natureza”. Não ocorre refletir que o nosso modo de organizar a família não é o único e 
que em outras culturas encontraremos outras relações de parentesco. Generalizar um 
juízo sobre os políticos não ajuda muito a compreender a vida política de uma sociedade, 
não se apercebe que o homem é um ser político, porque vive em sociedade. Por muito 
tempo,durante toda idade média europeia acreditou-se na aparência (senso comum) em 
relação ao universo. 
Quando olhamos para o céu parece mesmo que o sol é menor que a terra e parece 
mesmo que é ele que está se movendo em torno da terra. Ele nasce e se põe e o 
percebemos na aparência do senso comum. Na idade média acreditava-se que a terra era 
o centro e que o sol se movia em torno dela: era a chamada teoria Geocêntrica. Depois a 
astronomia com Nicolau Copérnico (1473-1543) e Galileu Galilei (1564 -1642) a partir de 
observações astronômicas chegou à conclusão que a terra se move em torno do sol e sol 
é que está no centro do sistema solar: a chamada teoria Heliocêntrica. 
 
 
 
 
Percebemos então, que o senso comum não pode ser a base de nenhuma ciência. 
A sociologia a exemplo de outras ciências estuda os fenômenos sociais, desvinculando-os 
das sugestões do senso comum, através da observação, experimentação, comparação e 
classificação. Como dissemos o laboratório do sociólogo é toda a sociedade, ele procura 
regularidades nas relações sociais, geralmente o método comparativo substitui a 
experimentação. 
Enquanto o físico, biólogo, químico faz experimentações controladas em seu 
laboratório, observa atentamente as fases de sua pesquisa, classifica cada um dos 
fenômenos e chega a uma lei científica de validade geral, o sociólogo faz uma 
experimentação indireta, através da comparação com outros grupos, sociedades ou de 
outras variações dentro da mesma sociedade ou grupo social. Também classifica os 
fenômenos, pois, a ciência se comunica através de conceitos científicos e formula uma 
explicação que tem uma validade geral. 
Observe que o pensamento científico não persegue uma verdade absoluta, mas 
uma validade que pode ser questionada por outras pesquisas e outras teorias mais 
competentes. Dessa forma quando um sociólogo chega a um conceito ele procurara 
verificar a sua validade explicativa para determina sociedade e para outras sociedades. É 
isso que vamos ver quando estudarmos o desenvolvimento da sociologia. De qualquer 
forma o raciocínio científico procura sempre a objetividade, ou seja, uma explicação 
baseada em princípios teórico-metodológicos científicos. Queremos salientar aqui essa 
necessidade de desenvolver um olhar sociológico que não se confunde com o saber 
popular, isto é, o senso comum. 
A maioria de nós vê o mundo a partir de características familiares a 
nossas próprias vidas. A sociologia mostra a necessidade de assumir 
uma visão mais ampla sobre por que somos como somos e por que 
agimos como agimos. Ela nos ensina que aquilo que encaramos como 
natural, inevitável, bom ou verdadeiro, pode não ser bem assim e que 
os “dados” de nossa vida são fortemente influenciados por forças 
históricas e sociais. Entender os modos sutis, porém complexos e 
profundos, pelos quais, nossas vidas individuais refletem os contextos 
de experiência social é fundamental para a abordagem sociológica” 
(GIDDENS, 2005, p. 25) 
 
b) A imaginação sociológica 
A sociologia lança uma luz nova sobre aquilo que muitas vezes consideramos 
como “óbvio”, natural, inevitável, a realidade social adquire um novo colorido, a vida 
social se redimensiona em nossa consciência. Aprender a pensar sociologicamente 
 
 
 
 
consiste em cultivar a imaginação, alargar horizontes de nossa visão, ser capaz de sair da 
imediatidade das circunstâncias. 
O sociólogo C. Wright Mills (1916-1962) usou a expressão imaginação sociológica, 
para se referir ao trabalho do sociólogo como um artesanato intelectual. Fazer sociologia 
é “pensar em termos de vários pontos de vista, e assim, deixamos nossa mente se 
transforme num prisma móvel, colhendo luz de tantos ângulos quanto possível” (MILLS, 
1975, p.230-231). 
Vamos exercitar nossa imaginação sociológica. Pensemos numa xícara de café. 
Uma xícara de café representa muito mais que uma xícara de café se a encararmos para 
além de nossas rotinas familiares, para além do senso comum. Quando sento para tomar 
um café com meus amigos estou sem perceber reforçando os laços de solidariedade e 
amizade nesse bate papo regado à café. Ao participar de uma reunião de negócios aquela 
xícara de café tomou novos contornos, pois se transformou numa ocasião importante 
para fechar um contrato de serviços. Quando compro um cafezinho estou movimentando 
toda uma economia de importância internacional, influencio sem perceber, a vida de 
produtores distantes, mas que me relaciono desta forma. 
O café, considerado o “ouro verde” do Brasil no século XIX representou uma 
riqueza nacional e modelou uma complexa economia baseada na mão de obra escrava. A 
escravidão, por sua vez, marcou profundamente a sociedade brasileira, em rituais 
autoritários que persistem atualmente e foram sedimentados nas relações de dominação 
senhor-escravo, quando falamos “com quem você pensa que está falando” reflete, sem 
nos darmos conta, o momento fundamental de uma sociedade profundamente 
hierarquizada. As desigualdades raciais e os preconceitos raciais ainda consistem em 
desafios para a sociedade brasileira. Você viu como o cafezinho foi redimensionando, 
problematizado, pela imaginação sociológica? 
O mesmo podemos dizer de alguns fenômenos sociais como o divórcio ou o 
desemprego. Aparentemente o desemprego é um problema individual, todavia se atingiu 
uma taxa alta tornou-se um problema sociológico. O divórcio, aparentemente é uma 
tragédia individual, mas se o percentual de divórcio atinge uma taxa alta pode 
comprometer a estrutura familiar com consequências negativas para uma dada 
sociedade. O desemprego pode ser só uma faísca para pensar o mundo trabalho e a 
sociedade capitalista. O divórcio pode ser uma simples gota para eu pensar o oceano das 
relações sociais que envolvem família, preconceitos e a vida moderna. São alguns 
exemplos de como funciona a imaginação sociológica. 
 
 
 
 
A imaginação sociológica precisa ser o tempo todo alimentada com a matéria 
prima da criatividade e da sede de saber. O sociólogo contemporâneo Peter Berger 
diferenciou problemas sociais de problemas sociológicos. O primeiro diz respeito a tudo 
o que o senso comum entende por isso, como vimos ao tratar do adjetivo “social”. Um 
buraco da rua, com certeza atrapalha o trânsito, é um problema social, todavia, não é um 
problema sociológico. O problema sociológico diz respeito à compreensão sociológica das 
interações sociais. Vamos entender melhor isso. O ponto de vista do sociólogo diferencia-
se de outros pontos de vista. Por exemplo, enquanto o advogado, com o seu quadro de 
referência conceitual, próprio do Direito, perceberá como crime tudo o que estiver 
prescrito na lei; para o sociólogo será igualmente importante compreender como o 
criminoso considera a lei, como que determinados atos passaram a ser considerados 
criminosos. 
A sociedade pode ser vista como a estrutura oculta de um edifício, cuja fachada 
torna invisível as colunas, as ferragens, o alicerce. Como observa Peter Berger a 
perspectiva sociológica quer ver para além dessas fachadas da sociedade oficial, da lei, 
das relações aparentes, ou seja, para além das estruturas ocultas do edifício. Não quer 
simplesmente descrever as relações dentro de uma empresa segundo sua organização 
formal, de acordo com seu estatuto interno e seu organograma, quer compreender como 
se estabelece as relações de dominação nessa empresa, quais seus fundamentos. Não 
quer simplesmente ver a estrutura oficial de poder, mas a estruturas informais de poder. 
Voltemos ao conceito de estrutura social. A sociedade, como dissemos, pode ser 
vista como a estrutura de um edifício. As relações sociais são estruturadas, padronizadas, 
seguimos determinadospadrões de comportamento que se repetem, existem 
regularidades observáveis pelo sociólogo: a maneira de tomar o cafezinho se repete; esse 
ritual social poder observado com frequência. Todavia a estrutura da organização social, 
diferentemente do edifício é dinâmica, não é imóvel, está em constante processo de 
padronização. O indivíduo embora aja de forma padronizada, respeitando normas, regras 
e valores de sua cultura, ele não é totalmente determinado. 
Embora saibamos que os determinantes estruturais existam. Uma estrutura social 
baseada em reações sociais desiguais entre brancos e negros, mesmo que encoberta pela 
ideologia oficial e pela legislação que estabelece a igualdade formal entre todos, 
influenciará na distribuição social das oportunidades sociais, como no sistema 
educacional, por exemplo. Todavia os indivíduos podem, com suas ações, provocar 
reestruturações e alterar essas relações desiguais. 
 
 
 
 
O sociólogo, portanto, procurará sempre um ponto de vista relativo. O indivíduo 
cético em relação à religião pode se converter num fervoroso religioso. A relatividade na 
análise da sociedade é importante para o sociólogo, pois os indivíduos através de suas 
ações estão o tempo todo estruturando novos modos de viver e ver o mundo provocando 
mudanças e rearranjos sociais. Os papeis sociais (que é o nosso jeito padronizado de agir) 
estão em constante processo de construção e redefinição e estruturação. 
Um conceito sociológico interessante a esse respeito é o de alternação, como 
explica Peter Berger, o indivíduo pode alternar entre um sistema de significado e outro. 
O homem não é uma presa inerte dos controles sociais (padrões de comportamentos 
valorizados socialmente, normas, regras, valores, sanções sociais, a lei, o Estado). Se um 
sistema de significados, de crença religiosa, por exemplo, não lhe proporciona mais uma 
explicação plausível para a sua existência ele pode procurar outra religião. Caso um 
partido político não satisfaça suas convicções, poderá escolher outro partido. 
A alternação é essa margem de liberdade do indivíduo diante dos controles sociais 
e das exigências sociais, quando indivíduo salta de um mundo para outro. No entanto sem 
fazer esse salto é possível respirar. No trabalho, por exemplo, o indivíduo vivencia 
situações que ele não pode se desvencilhar então ele cria uma espécie de distanciamento, 
cria seu “mundo próprio”, que interage com o mundo da empresa desempenhando seus 
papeis numa espécie de reserva mental. A sociedade com suas normas, regras, valores, 
pesa sobre nós, todavia não somos um simples joguete das estruturas sociais. 
Por fim salientemos que sociologia é uma forma de consciência. “A perspectiva 
sociológica constitui um panorama amplo, aberto e emancipado da vida humana” 
(BERGER, 1986, p. 64) O estudante aberto ao saber sociológico, disposto a alimentar e 
exercitar a sua imaginação sociológica identificará os temas relevantes da sociedade em 
que vive e não menosprezará aqueles temas que embora não tenham talvez a mesma 
amplitude, diz respeito ao modo como vivemos nosso cotidiano. 
Poderá ampliar seu olhar crítico às políticas sociais. A consciência sociológica não 
nos deixa indiferentes aos debates como a ampliação da cidadania indígena e negra na 
sociedade brasileira, sobre os impactos da universalização da educação para a maioria 
dos brasileiros a partir da constituição de 1988, ou ainda, sobre as consequências do 
nosso modelo econômico para a vida do planeta. Sempre terá uma postura de dúvida 
(uma dimensão importante do raciocínio científico é a dúvida) e de reflexão crítica. Como 
os negros foram integrados à sociedade brasileira após o fim da terrível instituição da 
escravidão? Quais são entraves atuais para a ampliação da cidadania negra no Brasil? 
 
 
 
 
A universalização do direito à educação foi acompanhada de uma qualidade 
equivalente do ensino? É possível o desenvolvimento de uma consciência planetária em 
que o homem não se sinta morador deste ou daquele país, desta ou daquela nação, mas 
morador de uma pátria única chamada Planeta Terra? É possível transformar o nosso 
modelo econômico e industrial numa perspectiva planetária? Fazer boas perguntas ao seu 
objeto de interesse sociológico traz resultados favoráveis na formação da consciência 
sociológica. A sociologia, neste sentido nos fornece um auto esclarecimento, uma auto 
compreensão que nos possibilita interagir de forma consciente e propositiva em relação 
ao nosso próprio universo interior e com a sociedade de maneira geral. 
 
2. O DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO SOCIOLÓGICO 
 
Podemos vislumbrar traços de pensamento sociológico em diferentes momentos 
históricos. Na Grécia antiga, por exemplo, filósofos Platão e Aristóteles já procuravam 
compreender a sociedade e o mundo em que viviam fornecendo explicações para os problemas 
que enfrentavam. Na Idade Média igualmente, os teólogos forneciam explicações com traços 
sociológicos. Todavia, o estudo objetivo e sistemático da sociedade desenvolveu-se no ambiente 
moderno e industrial que emergiu com Revolução Industrial Inglesa que se espalhou por toda 
Europa durante os séculos XVIII e XIX transformando significativamente o modo tradicional de 
vida que ainda respirava os valores da sociedade feudal. 
A industrialização e urbanização crescente trouxeram um conjunto de novos problemas 
que a sociologia procurou formular com diferentes abordagens teóricas. Todavia a necessidade 
de explicar a nova situação social com o advento do capitalismo industrial foi um fio condutor 
comum em todo desenvolvimento sociológico. 
A Revolução Francesa de 1789 que prolongou suas consequências por todo século XIX 
foi outro acontecimento pano de fundo do desenvolvimento da sociologia. De alguma forma 
todos os fundadores da sociologia procuraram compreender e explicar esse mundo secular, em 
que a religião havia perdido sua preeminência na explicação da existência humana. 
Novos conhecimentos científicos, novas tecnologias industriais, a queda dos governos 
absolutistas, em que o rei justificava seu poder pelo direito divino, desenharam um novo mundo. 
Praticamente a Revolução Industrial e a Revolução Francesa em seus desdobramentos, 
contribuíram para minar a fonte de poder da nobreza possuidora de terras e títulos. Os filósofos 
das Luzes foram na sua absoluta maioria anti-absolutistas e a favoráveis a um poder 
constitucional, baseados em leis aprovadas por uma assembleia de deputados. 
 
 
 
 
O iluminismo nutria uma confiança sem igual na história, na razão, no homem como 
protagonista de seu destino, a luz natural da razão queria varrer todo misticismo e todos os 
obstáculos levantados pela teologia ao desenvolvimento da ciência. Foi um movimento social e 
cultural irresistível, disposto a tirar das sombras todos os valores até então sufocados pelo 
império da religião sobre todas as outras formas de saber. “Indivíduo, Cidadão, Razão, Natureza, 
Progresso, Felicidade são palavras chaves desta filosofia combatente. Combate das luzes da 
razão contra as trevas da ignorância, dos preconceitos, da superstição. ” (JEAN-SIMON, 1994, p. 
112). 
A linguagem moderna das luzes falava de cidadão, de soberania do povo, de governo 
constitucional. A burguesia francesa levará esses valores até as últimas consequências durante 
a Revolução Francesa, instituindo uma nova ordem social – a burguesia se torna a protagonista 
da história. Jean Jacques Rousseau (1712-1778) publica em 1755 o seu famoso ensaio Discurso 
sobre a origem das desigualdades entre os homens em que identifica no surgimento da 
propriedade privada a origens de todos os males e vícios, quando um primeiro homem cercando 
um terrenodisse: “isto me pertence”. 
Em 1757 publica Do Contrato Social. Aborda temas que terão repercussão duradoura 
para a história. Os franceses o elegeram patrono da grande Revolução. Partindo do artifício de 
um estado natural e original de bondade, corrompido a partir do surgimento da propriedade 
privada e das relações de dominação, procurou explicar o surgimento da sociedade civil, das leis 
e do governo e a sua legitimação. 
Ao perder sua condição natural, os homens passam a precisar de leis, precisam 
estabelecer um pacto social. Rousseau na contramão de um governo monárquico em que o rei 
era o soberano absoluto fala em sua obra de soberania do povo, em que o governante passa a 
ter que respeitar a vontade geral, as leis instituídas para todos. Antes de Rousseau temos a 
presença marcante de Montesquieu (1689-1755) que publica em 1748 O espírito das leis onde 
faz a distinção de três poderes, Legislativo, Judiciário, Executivo que se combinam e se 
equilibram para garantir a estabilidade de uma ordem social e evitar um poder absoluto e 
despótico. 
Neste ambiente intelectual surge um personagem que é considerado de importância 
crucial na fundação da sociologia: o francês Saint-Simon (1760-1825). Embora não usasse o 
nome “sociologia”, como veremos o termo foi inventado por Augusto Comte, que inclusive 
trabalhou como secretário de Saint-Simon, já se expressava em termos verdadeiramente 
sociológicos. Em seus estudos via a necessidade de criar uma ciência nova para explicar um 
mundo moderno que já não era possível ser compreendo só em termos filosóficos. Essa ciência 
nova ele chamava de ciência do homem ou ciência das sociedades, ou ainda Fisiologia Social. 
 
 
 
 
Saint-Simon já identificava a sociedade como uma realidade singular, não era uma 
simples aglomeração de indivíduos cada uma agindo por conta própria sem relação com o todo, 
pelo contrário a “sociedade, é, sobretudo, uma verdadeira máquina organizada na qual todas as 
partes contribuem de uma maneira diferente para a marcha do conjunto”. (JEAN-SIMON, 1994, 
p. 185). Seus escritos demonstravam lucidez nas análises e uma confiança sem igual na 
sociedade industrial. Ele usava o termo classe industrial para se referir a todos os que produziam 
independentemente da posição, trabalhadores urbanos, agricultores, empresários todos em sua 
visão formavam uma classe útil. O futuro estaria nas mãos dessa classe industrial que unidas por 
laços orgânicos e harmônicos poria fim às infindáveis desordens da sociedade após a Revolução 
Francesa e construiria uma ordem social de prosperidade e felicidade. Ele chamava aqueles que 
nada produziam, a classe governamental, de classe parasitária e defendia um governo dominado 
por industriais talentosos. 
Os trabalhadores se organizariam em associações de livres produtores onde a única 
desigualdade existente seria a baseada nos talentos e nas capacidades. Uma nova ordem social 
organizada por cientistas e industriais, que substituiriam os grandes proprietários de terras, os 
altos funcionários, o clero (membros da Igreja), os chefes de governo e até mesmo o rei, pois 
representavam uma sobrevivência da sociedade feudal e dos governos absolutistas que a 
Revolução Francesa destruiu. Saint-Simon, por suas ideias é considerado um socialista utópico, 
como o Karl Marx o classificará no “Manifesto Comunista”, por basear a sua reforma da 
sociedade numa união entre classes conflitantes. 
Vamos agora navegar nas águas do pensamento de muitos autores: Augusto Comte, 
Émile Durkheim, Karl Marx, Max Weber. Todos se aproximam em procurar compreender, cada 
um ao seu modo, a sociedade industrial que se edifica no contexto histórico da Revolução 
Industrial e da Revolução Francesa. Cada um ao seu modo dará a sua contribuição para o 
desenvolvimento da sociologia. Mais do que procurar uma resposta única, o importante é 
perceber que o ser humano tem uma vida social dinâmica e não comporta uma resposta 
absoluta e exata sobre seu comportamento e sobre o modo como se organiza socialmente. 
Aprender a ver as sociedades a partir de vários prismas, de forma relativa consiste em estimular 
nossa imaginação sociológica. 
 
3. AUGUSTE COMTE (1798-1857) 
 
Sabemos que uma ciência é uma construção coletiva e histórica e que podemos 
encontrar como vimos traços de pensamento sociológico em muitos pensadores ao longo da 
história. Todavia, confere-se a Augusto Comte o mérito de ter fundado a sociologia. Foi ele que, 
 
 
 
 
de fato inventou a palavra, inicialmente dando-lhe o nome de física social e depois, como havia 
outros pensadores que usavam esse nome forjou o termo unindo dois radicais de origens 
diferentes: socius do latim e logos do grego. Nascia assim a palavra que se tornaria muito 
divulgada e passou a expressar uma nova área de saber, ou seja, a ciência da sociedade. 
Augusto Comte nasceu em Montpellier, na França no ano de 1798. Desde adolescente 
foi aluno brilhante em Matemática. Aos dezesseis anos entrou para a Escola Politécnica de Paris, 
tentou sem sucesso ser professor efetivo dessa reputada escola, mas não teve sucesso. Foi 
secretário e colaborador de San-Simon durante sete anos onde teve seus primeiros contatos 
com preocupações sociológicas. Após desentendimentos intelectuais e de vaidade, rompe com 
o antigo mestre e a partir de 1824 realizará sua obra como “intelectual marginal”, sem posição 
social e de origem humilde. Morre em 1857, como pontífice da Religião da Humanidade, por ele 
mesmo criada. Escreveu e publicou no período de 1830 a 1842 Curso de Filosofia Positiva, e de 
1851 a 1854 Sistema de Política Positiva e Catecismo Positivista em 1852. 
Profundamente influenciado pelos acontecimentos de sua época – a intensificação da 
industrialização e o processo político ainda em curso inaugurado com Revolução Francesa que 
causavam constantes abalos, reviravoltas e destruição das formas tradicionais de sociabilidade 
– atribuirá à sociologia a missão de contribuir para reorganizar o edifício social em ruína. Para 
tanto a sociologia deveria desenvolver-se como uma ciência positiva longe das especulações 
filosóficas sem fundamento científico. Sua máxima positivista ver para prever foi incorporada 
por ele e marcou a sua obra, o saber científico como forma de prever e agir sobre o presente e 
o futuro. 
Desde sua juventude, como aponta o sociólogo Raymond Aron Augusto Comte tinha 
dois objetivos principais: reformar a sociedade e estabelecer a síntese dos conhecimentos 
científicos (ARON, 1993, p.107). Otimismo ainda sobrevivente do iluminismo adaptado ao 
mundo industrial e cientificamente avançado que ele presenciava no século XIX que tenderia a 
progredir numa marcha civilizatória progressiva. 
O mundo social, segundo Comte é uma extensão do mundo natural e igualmente 
governado por leis universais que sociologia deve desvendar. Essas leis só podem ser alcançadas 
através do mesmo rigor científico das ciências naturais. A sociedade é governada por leis 
invariáveis tal como no mundo físico. Sua inspiração são os gênios da ciência que ele elevou à 
divindade em sua religião positivista: Francis Bacon (1561-1626), René Descartes (1596-1650), 
Galileu Galilei (1564-1642), Isaac Newton (1642-1727) dentre outros expoentes que lançaram 
as bases do método científico, ou seja, a observação, a experimentação, a comparação e a 
classificação. Imaginemos um biólogo em seu laboratório. Para que uma vacina seja tida como 
eficiente ele precisará realizar muitas observações, testar, experimentar esse soro em animais 
 
 
 
 
ou mesmo em seres humanos, descrever e classificar cada etapa de sua pesquisa, comparar 
resultados. A sociologia, na perspectiva comtiana deve se espelhar no métodocientífico das 
ciências naturais. 
Galileu, por exemplo, no século XV, contribuiu imensamente para o progresso das 
ciências ao provar, através de suas observações e cálculos a validade da teoria heliocêntrica, ou 
seja, o sol é o centro do universo e a terra é que gira em torno do sol e não ao contrário como 
pensavam os teóricos ligados à Igreja Católica, adeptos da teoria geocêntrica, isto é, que a terra 
era um corpo imóvel e perfeito no centro do universo. Sabemos também que a lei da gravitação 
universal criada por Newton tem validade universal para todo o universo físico. René Descartes, 
por sua vez lembrava que as ciências só avançam através da postura racional de dúvida perante 
os fenômenos, sendo a única certeza que somos seres pensantes e que existimos: “penso, logo 
existo” era a sua máxima racionalista. O cientista através de uma postura racionalista e metódica 
atinge as evidências e as certezas. Francis Bacon, por sua vez, dizia que era preciso combater os 
ídolos na ciência, isto é, as falsas noções impregnadas de teologia que impediam o 
desenvolvimento da ciência. A pesquisa científica deve basear-se no método indutivo, isto é, 
partindo de dados da experiência objetiva para se chegar às conclusões gerais, inaugurando 
assim, o método experimental. 
A perspectiva sociológica de Comte, portanto, é a da ciência positiva. O que sociologia 
tem em comum com a química, física, biologia? O método, responde Comte. O sociólogo, no 
grande laboratório que é a sociedade humana deverá proceder de forma idêntica, com o mesmo 
rigor metodológico que esses cientistas em relação ao mundo físico, embora a experimentação, 
nas ciências sociais se dê de forma indireta, através do método comparativo. O positivismo de 
Comte é essa confiança na razão e na ciência. Comte acreditava ter descoberto uma lei universal 
que explicaria finalmente o progresso do espírito humano: a lei dos três estados (estágios). 
Sustentava que a humanidade em sua marcha, teria passado por três estados diferentes e 
sucessivos: o estado teológico ou fictício; o estado metafísico ou abstrato; por fim, o estado 
positivo ou científico. 
No estado teológico a humanidade compreendia o mundo natural e social através de 
forças sobrenaturais, eram explicações mitológicas e religiosas que buscavam respostas 
absolutas. Subdivide-se por sua vez animismo ou fetichismo, politeísmo e monoteísmo. 
Podemos encontrar exemplos do animismo ou fetichismo nas comunidades primitivas em que 
os homens depositavam suas crenças em espíritos ou forças sobrenaturais que residiam em 
determinadas regiões, pessoas, materiais ou animais; exemplos do politeísmo podemos 
encontrar na Grécia antiga com a crença em uma diversidade de deuses, nos mitos e nos 
oráculos que explicavam o destino dos homens; O monoteísmo herdado dos hebreus da 
 
 
 
 
antiguidade, cria raízes sólidas na Idade Média europeia com o desenvolvimento do 
cristianismo, o poder espiritual que exercia a Igreja Católica através de sua doutrina, 
sacramentos e da crença em um único Deus. 
Em seguida vem o estado metafísico, as forças sobrenaturais são substituídas por 
entidades abstratas e igualmente absolutas, procurava-se atingir as causas primeiras, a essência, 
a natureza íntima dos seres, a origem e destino de todas as coisas. A natureza substitui entidades 
divinas. A especulação filosófica caracteriza esse estado metafísico. Finalmente, no estado 
positivo impera a razão e a ciência, os fenômenos do mundo natural e social são compreendidos 
através de explicações objetivas, e baseadas na observação dos fatos. A indústria que avança no 
ritmo do saber científico e tecnológico e realiza uma mudança fundamental na relação do 
homem com a natureza representa, para Comte a criação mais consequente do estado positivo. 
Vejamos nas palavras de Comte: 
No estado positivo, o espírito humano, reconhecendo a impossibilidade 
de obter noções absolutas, renuncia a procurar a origem e a 
destinação do universo, e a conhecer as causas íntimas dos fenômenos, 
para se dedicar a descobrir, pelo uso combinado do raciocínio e da 
observação, suas leis efetivas, isto é, suas relações invariáveis de 
sucessão e similitude [semelhança]. A explicação dos fatos, reduzida 
então a seus termos reais, nada mais é, doravante, do que a vinculação 
estabelecida entre os fenômenos particulares e alguns fatos gerais, dos 
quais tendem os progressos da ciência a reduzir cada vez mais. (Comte, 
1989, p. 148). 
O termo positivo significa para Comte, como bem expressa o sociólogo Pierre Jean-
Simon: “o real por oposição ao quimérico, o útil em contraste com o ocioso, o certo que se opõe 
ao indeciso, o preciso que rejeita o vago. É também a capacidade de organizar, de construir, ao 
contrário da aptidão para destruir do negativo. É enfim, sobretudo o relativo que se substitui ao 
absoluto” (JEAN-SIMON, 1994, p.258) 
O estado metafísico é intermediário entre o primeiro e o último, serviu para preparar 
esse momento positivo. Podemos exemplificá-lo, historicamente, no modo de pensar dos 
filósofos do iluminismo que através de suas críticas corroíam as bases do antigo regime. Quando 
um filósofo como Jean Jacques Rousseau (1712-1778) fala em um estado imaginário de natureza 
em que o homem era desprovido de maldade, era um “bom selvagem” e que com o advento do 
mundo urbano e industrial ele adquire vícios e passa a precisar de leis, regras, ou seja, um 
contrato social baseado no consentimento do povo soberano, o que faz esse filósofo, senão, 
com suas ideias revolucionárias, abalar as estruturas do antigo regime. 
Da mesma forma todos os filósofos que atacaram o poder da Igreja Católica, 
particularmente o satírico e bem-humorado Voltaire (1694-1778). Charles de Montesquieu 
(1689-1755), por sua vez, advogava uma divisão de poderes entre executivo, legislativo e 
 
 
 
 
judiciário, num ambiente onde os reis eram divinos e absolutos. Todos esses filósofos citados, 
sem exceção, condenavam um poder absoluto nas mãos de um rei divino como era o caso da 
França na época da Revolução de 1789. Esses filósofos das Luzes contribuíram cada um com o 
seu modo de pensar, com sua linguagem filosófica própria, para a chegada, segundo Comte, do 
estado positivo, colocando em crise o velho mundo onde a religião, as classes nobres, as 
corporações de trabalhadores urbanos e as comunidades rurais viviam em uma relativa 
harmonia. No entanto, na perspectiva de Comte, o positivismo quer superar essa especulação 
filosófica e formular uma explicação científica da sociedade. 
Esse mundo desorganizado por esses abalos sísmicos causados pelo pensamento 
revolucionário e incendiário dos filósofos e por essas revoluções sociais, políticas e econômicas 
precisa de uma explicação científica, ou seja, sociológica. É o que Comte faz ao elaborar os 
conceitos de estática e dinâmica. A sociologia estática estuda os fenômenos sociais em sua 
estabilidade e permanência, isto é, em sua ordem social. A sociologia dinâmica estuda a 
sociedade sob o aspecto da mudança, do movimento, da evolução. 
Estática e dinâmica reflete as preocupações políticas de Comte. A sociedade do antigo 
regime (antes da Revolução Francesa) vivia em relativa estabilidade que foi abalada pelos 
movimentos revolucionários. 
No estágio positivo da humanidade essas revoluções tempestuosas, essa crítica 
filosófica que destrói e não constrói nada no lugar, esse individualismo exagerado dos 
economistas liberais, cede espaço para o progresso do espírito humano, em direção à 
positividade da ciência e da indústria baseada nas trocas pacíficas, na ilustração do espírito que 
atingirá a todos e romperá com os conflitos abertos e permanentes e possibilitará a harmonia 
entre as classes.A dinâmica estende sua visão para o futuro porque seu solo é a ciência e a 
indústria que não para de se desenvolver e a estática resgata valores do passado, como a vida 
moral familiar e comunitária, traduzidos agora, numa linguagem positivista. 
Por um lado, Comte valoriza a crítica corrosiva dos filósofos do iluminismo, mas quer 
superá-los e buscar uma ordem social para o caos político que presencia na sociedade francesa 
de sua época. Por outro lado, valoriza as ideias politicamente conservadoras, como as de 
Edmund Burke (1729-1797) que realizava uma crítica contundente à corrosão dos valores 
tradicionais, comunitários e familiares, das ideias absurdas dos filósofos das luzes que teriam 
desorganizado uma sociedade edificada durante séculos no respeito à ordem e à religião. 
Dinâmica significará para Comte mudança, movimento, progresso em direção à 
industrialização e constante renovação do saber científico e tecnológico, ou seja, em direção ao 
estado positivo, todavia sem revoluções tempestuosas e negativas, portanto, dentro da ordem 
(estática). No plano político o bom governo é aquele que governa através da ordem e do 
 
 
 
 
progresso, isto é, um governo positivista é aquele iluminado com a razão científica e, portanto, 
um governo de sábios e tecnocratas. Essa visão política conservadora e essa perspectiva 
sociológica teve audiência entre os militares e republicanos brasileiros: o lema de Comte, Ordem 
e Progresso, (estática e dinâmica) está estampado em nossa Bandeira Nacional. 
Na escala hierárquica das ciências, cinco haviam alcançado o estágio de positividade, ou 
seja, utilizavam métodos positivos em suas pesquisas: a Matemática, a Astronomia, a Física, a 
Química e a Biologia. Os critérios para essa hierarquia consistiam em verificar o maior ou menor 
grau generalidade de uma ciência, seu poder de abstração, sua autonomia e dependência. A 
matemática figura entre as primeiras pelo seu grau de simplicidade e generalidade e autonomia 
frente às demais. A matemática é a base de todas as ciências naturais. A sociologia, para Comte, 
é a última das ciências na escala evolutiva, todavia é a mais importante: é menos geral, mais 
dependente de outras ciências, pois sem o exemplo do raciocínio e do método das ciências 
naturais não teria atingido o estágio de positividade. 
Todavia, a sociologia é a mais complexa de todas, deve reunir, refletir e sintetizar todo 
conhecimento científico para a organização e felicidade da humanidade. É também mais 
complexa, porque o homem é o objeto de estudo mais complicado, a sociedade é esse 
organismo vivo e complexo que a sociologia da estática e dinâmica deve perceber e explicar 
cientificamente em seu processo evolutivo e progressivo, desde a família que é a célula 
elementar do organismo social aumentando em complexidade social até os níveis da indústria e 
das estruturas de poder do Estado. 
Após a perda de seu grande amor Clotilde de Vaux, Augusto Comte entra num momento 
de introspecção e funda a Religião da Humanidade em que Clotilde é santificada, como símbolo 
da virgem, da pureza, da guardiã da família e da feminidade (ordem) que viria a contrabalançar 
os valores masculinos da força e virilidade (progresso). O culto à Humanidade, quer dizer, à razão 
é sintetizado na doutrina: O amor por princípio, a Ordem por base e progresso por fim. 
Permeada de rituais e hierarquicamente estruturada com seus sacerdotes-sociólogos e um 
panteão de divindades que são na realidade os heróis da humanidade, os grandes nomes da 
ciência, da filosofia e da arte. No Brasil essa Igreja Positivista está presente e atuante até os dias 
atuais. 
 
 
 
 
4. ÉMILE DURKHEIM (1858-1917) 
 
 
 
 
 
Émile Durkheim nasceu em Epinal, França em 15 de abril de 1858 e morreu em 15 de 
novembro de 1917. Cursou a Escola Normal Superior e foi professor em várias escolas 
provincianas e mais tarde irá lecionar na Universidade de Bordeaux no cargo de ensino da 
Pedagogia e Ciência Social e a partir de 1902 é nomeado para a Universidade de Sorbonne na 
cadeira de Ciências da Educação transformada em 1913 em Ciências da Educação e Sociologia, 
o primeiro departamento universitário na França a receber essa designação anos depois de 
Comte ter inventado o nome. 
Durkeim é uma referência necessária e obrigatória na sociologia contemporânea e na 
vida de todos os estudantes universitários de vários cursos. Foi um sábio profundamente 
apaixonado e convencido de sua missão: fundar a sociologia em base científica e sólida e 
consolidá-la como disciplina acadêmica. Teve um êxito inegável, atestado pela importância atual 
que a sociologia adquiriu em praticamente todas as universidades e colégios do mundo todo. 
Suas principais obras são: A divisão do Trabalho Social (1893), As regras do método sociológico 
(1894), O suicídio (1897), As formas elementares da vida religiosa (1912). 
 
O QUE É UM FATO SOCIAL? 
 
 Embora compartilhe com Augusto Comte a preocupação em tornar a sociologia uma 
ciência positiva, ou seja, que se baseia no mesmo rigor das ciências naturais (observação, 
experimentação, comparação, classificação) no estudo dos fenômenos sociais, se distancia 
deste na maneira de entender como a sociologia deve proceder. Em Regras do método 
sociológico Durkheim delimita seu objeto de estudo, não é a Humanidade toda como entendia 
Augusto Comte, mas os fatos sociais. 
A Humanidade é um objeto de estudo muito vago, mais impreciso ainda é procurar 
desvendar as leis de sua evolução em linha geométrica, porque o desenvolvimento das 
sociedades se dá de maneira desigual, umas progredindo em alguns aspectos outras nem sequer 
se colocam a necessidade de progredir de um determinado jeito. É mais provável que a evolução 
tenha se dado em forma de uma árvore, com seus ramos e raízes em sentidos históricos 
diferentes e muitas vezes opostos. Traduzindo, o que Durkheim está falando é que o que existe 
são sociedades particulares, cada uma com sua história, sua vida material e social, sua cultura, 
seu modo de ser e entender o mundo. 
São essas sociedades particulares que o sociólogo irá estudar e observar. Também 
estudar as sociedades particulares de maneira indiscriminada e aleatória surtiria poucos 
resultados positivos, portanto, mais precisamente os sociólogos estudam os fatos sociais. O que 
 
 
 
 
são os fatos sociais? Vamos ler o texto a seguir para continuarmos a conversa. É importante 
conhecer e se familiarizar com a linguagem do próprio autor: 
Estamos, pois, diante de uma ordem de fatos que apresenta caracteres 
muito especiais: consistem em maneiras de agir, de pensar e de sentir 
exteriores ao indivíduo e dotadas de um poder de coerção em virtude 
do qual se lhes impõem. (...) Devemos, portanto, considerar os 
fenômenos sociais em si mesmos, desligados dos sujeitos conscientes 
que, eventualmente, possam ter as suas representações; é preciso 
estudá-los como coisas exteriores, porquanto é nesta qualidade que 
eles se nos apresentam. (...) O fato social é reconhecível pelo poder de 
coerção externa que exerce ou é susceptível de exercer sobre os 
indivíduos; e a presença deste poder é reconhecível, por sua vez, seja 
pela existência de alguma sanção determinada, seja pela resistência 
que o fato opõe a qualquer empreendimento individual que tenta 
violá-lo. (...) É fato social toda maneira de agir fixa ou não, suscetível 
de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou então ainda, que 
é geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando uma 
existência própria, independente das manifestações individuais. 
(DURKHEIM , 1978. pp., 88, 90, 91, 92, 93, 100). 
Para fazer sociologia, para desenvolver um olhar sociológico temos que sair do senso 
comum,afastar as pré-noções, tudo isso porque a sociologia é uma ciência e o olhar deve ser 
científico. Durkheim estabelece como regra sociológica primordial que o fato social deve ser 
visto como coisa. Ele não está dizendo, que os seres humanos devem ser tratados como uma 
coisa qualquer e muito menos que os seres humanos para os sociólogos não passam de coisas 
como madeiras, pedras. Imaginemos um biólogo em seu laboratório: ele observa uma célula no 
seu microscópio objetivamente, assim como no mundo da física, da biologia, da química há 
coisas observáveis também se pode dizer o mesmo em sociologia. No sentido sociológico, tratar 
os fatos sociais como coisas é compreendê-los como objetos de estudo. 
Para Durkheim, como vimos, o objeto de estudo dos sociólogos, por excelência, são os 
fatos sociais: a religião, a educação, as relações econômicas etc. são fatos sociais, são exteriores 
à consciência dos indivíduos e devem ser estudados como objetos de estudo, de forma objetiva, 
impessoal, sem julgamento de valor. 
 O mesmo distanciamento e objetividade que um biólogo deve ter para com o seu objeto 
de estudo, ou seja, os seres vivos, o sociólogo não foge à regra. Caso pretendamos, por exemplo, 
estudar objetivamente uma determinada religião, não podemos estar armados com nossos 
preconceitos, nossos pontos de vista pessoais, isto é, com nossos juízos de valor, porque, agindo 
assim não estaremos sendo sociólogos e não produziremos nenhuma explicação válida e 
importante sobre as crenças e a maneira de ser, de agir e de se organizar desses fiéis. Tire a 
religião do exemplo e coloque uma escola, um sindicato, na empresa privada, uma repartição 
pública ou uma simples volta pelo mercado municipal de uma cidade. 
 
 
 
 
Durkheim ensina que para atingir objetividade científica no estudo da vida social, para 
se produzir algo digno de ser lido por outros e apreciado como importante para a sociedade que 
você vive é recomendável, ou melhor, é regra científica que você tome o devido distanciamento 
do seu objeto de estudo, estude os fatos sociais como coisas. Na natureza só há coisas e o 
cientista natural estuda seus fatos como coisas. Os fatos que ocorrem na sociedade, igualmente, 
devem ser compreendidos objetivamente, como coisas, afastando todo tipo de preconceito do 
senso comum. O sociólogo deve ter uma postura científica, racionalista no estudo dos fatos 
sociais. 
Designamos como social uma multidão de ocorrências. Todos os indivíduos comem, 
bebem, dormem, raciocinam, tem pensamentos que são comuns ou realizam um movimento 
repetido e mecânico, como bocejar quando alguém próximo de nós o faz. Com certeza são 
ocorrências sociais, mas não são fatos sociais no sentido dado por Durkheim. Fato social deve 
apresentar três características: 
 É exterior às consciências e manifestações individuais; 
 Deve ter um caráter de generalidade; 
 Tem um poder de coerção sobre as consciências e manifestações individuais. 
Vamos compreender melhor tudo isso. Vamos supor que você entre em um culto 
religioso e observe a conduta das pessoas. Os indivíduos estão se relacionando sem a 
preocupação de calcular cada gesto ou cada centímetro de sua atitude. Aliás, pareceria um louco 
quem assim agisse. O modo de ser e de se comportar dos indivíduos presentes no culto religioso 
seguem convenções e regras sociais que eles não se dão conta, fazem isso ou aquilo porque é 
assim que precisa ser feito. 
A sociedade, com suas normas, sua cultura e, sobretudo com sua moral social, à medida 
que partilhamos coletivamente esses valores passa a ter uma existência própria, uma 
independência em relação aos indivíduos. Percebemos que não é um indivíduo que age de 
determinado modo no culto, muitos têm condutas que se assemelham, se aproximam, há uma 
regularidade nas condutas dos fiéis, é geral na extensão do grupo religioso que eu estou 
observando. 
As pessoas não sentem o poder de coerção, de pressão dos fatos sociais. Os fieis desse 
grupo religioso que estamos observando não se sentem coagidos ou obrigados por nada, 
relacionam-se como se só existissem indivíduos com vontade própria, não nos damos conta, 
mas a sociedade está presente com sua moral, suas normas e regras em cada membro ali 
presente. Imaginemos agora que um indivíduo se comporte de maneira reprovável durante o 
culto, receberá a censura dos demais. 
 
 
 
 
Nesse momento negativo percebe-se mais claramente o poder imperativo da sociedade, 
isto é, dos fatos sociais, porque o indivíduo violou regras de conduta consideradas importantes 
para a coesão do grupo religioso e recebeu da parte do grupo uma sanção, que pode ser uma 
simples censura, um olhar de reprovação ou algo mais forte, mais grave, por exemplo, a 
expulsão daquela congregação religiosa. A sociedade, salienta Durkheim, é uma realidade sui 
generis, isto é, singular, única. Portanto, um fato social, dirá Durkheim, só pode ser explicado 
por outro fato social. Aumentaremos nossa compreensão dos fatos sociais no item seguinte. 
 
CONSCIÊNCIA COLETIVA E SOLIDARIEDADE SOCIAL 
 
Durkheim viveu uma época em que a França e a Europa de maneira geral passavam por 
muitas mudanças sociais. A industrialização, as novas tecnologias aplicadas a indústrias, novas 
fontes de energia como a eletricidade e o petróleo e a crescente urbanização e aglomeração das 
pessoas nas grandes cidades; em poucas palavras o desenvolvimento do capitalismo, trazia 
consigo uma série de desafios sociais que ele procurou abordar em suas obras. Vamos ler agora 
um fragmento extraído de seu livro Da divisão do Trabalho Social, vejamos: 
O conjunto de crenças e dos sentimentos comuns à média dos 
membros de uma mesma sociedade forma um sistema determinado 
que tem sua vida própria; poderemos chamá-lo: a consciência coletiva 
ou comum. (...) é completamente diversa das consciências particulares, 
se bem que se realize somente entre os indivíduos. (...) Há em cada 
uma de nossas consciências (...) duas consciências: uma, que é comum 
a nós e ao nosso grupo inteiro e que, por conseguinte, não é nós 
mesmos, mas a sociedade inteira que vive e age em nós; a outra, que, 
ao contrário, só nos representa no que temos de pessoal e distinto, no 
que faz de nós um indivíduo.[Solidariedade Mecânica]: A solidariedade 
que deriva das semelhanças se encontra em seu apogeu quando a 
consciência coletiva recobre exatamente nossa consciência total e 
coincide em todos os pontos com ela. Mas, nesse momento, nossa 
individualidade é nula. Ela [a individualidade] só pode nascer se a 
comunidade ocupa menos lugar em nós. (...) Nas sociedades em que 
essa solidariedade é muito desenvolvida o indivíduo não se pertence 
(...) ele é literalmente uma coisa de que a sociedade dispõe. 
[Solidariedade Orgânica]: Bem diverso é caso da solidariedade 
produzida pela divisão do trabalho. Enquanto a precedente implica que 
o os indivíduos se assemelham, esta supõe que eles diferem uns dos 
outros. A primeira só é possível a medida em que a personalidade 
individual é absorvida na personalidade coletiva; a segunda só é 
possível se cada um tiver uma esfera de ação própria, por conseguinte 
uma personalidade. É necessário, pois, que a consciência coletiva deixe 
descoberta uma parte da consciência individual, para que nela se 
estabeleçam essas funções especiais (...). Pertence à natureza das 
tarefas especiais escapar à ação da consciência coletiva; pois, para que 
uma coisa seja objeto de sentimentos comuns, a primeira condição é 
 
 
 
 
que ela seja comum, isto é, que esteja presente em todas as 
consciências e que todos possam representá-la de um único e mesmo 
ponto de vista. (...) Mesmo no exercício de nossa profissão, 
conformamo-nos a usos, a práticas que são comuns a nós e atoda 
nossa corporação. Mas, mesmo nesse caso, o jugo que sofremos é 
muito menos pesado do que quando a sociedade inteira pesa sobre 
nós. [No tipo de solidariedade orgânica] a individualidade do todo 
aumenta ao mesmo tempo que a das partes; a sociedade torna-se mais 
capaz de mover em conjunto, ao mesmo tempo em que cada um de 
seus elementos tem mais movimentos próprios. (DURKHEIM, 2008. pp. 
50,104,106,107,108.). 
A consciência coletiva, como vimos, são as crenças, os valores, os sentimentos comuns 
presentes à média dos indivíduos de uma determinada sociedade, faz parte do indivíduo, mas 
vai além dele. A consciência coletiva é, portanto, um fato social, tem um poder de coerção sobre 
as consciências individuais. Podemos perceber a força da consciência coletiva, por exemplo, na 
representação que em nossa sociedade tem da relação entre pais e filhos. 
Os pais devem educar os filhos e dar-lhes carinho, devem ser severos quando preciso, 
mas ponderados e tolerantes quando necessário, os filhos, por sua vez, devem tratar os pais de 
forma respeitosa e amorosa. Se numa comunidade qualquer os papéis que os pais devem 
desempenhar não são cumpridos, ou seja, os filhos numa determinada família são tratados 
violentamente ou de forma intolerável ou inversamente, se os filhos tratam os seus pais de 
forma que fere os sentimentos coletivos de como deve ser os filhos para com os pais, a 
consciência coletiva age com suas sanções num sentido moral, os vizinhos, a escola ou o próprio 
poder público manifestam-se. A educação dos filhos, a família são coisas sociais e a consciência 
coletiva não fica indiferente. 
A consciência coletiva é uma dimensão moral da sociedade. São correntes de 
pensamento e sentimentos que perpassam invisíveis o corpo social, só a percebemos em casos 
limites como em nosso exemplo, mas ela está presente nas relações afetivas, nas relações 
profissionais ou familiares, etc., ou seja, em tudo o que é social a sociedade está presente. No 
trabalho eu me comporto de determinada maneira, à mesa uso talheres, cumpro as obrigações 
de irmão, namorado, esposo, cidadão, honro compromissos que contraí na compra de um bem 
qualquer, comunico-me através da língua falada em minha cultura, tudo se passa com 
naturalidade. 
A consciência coletiva pesa sobre nós, no entanto não a sentimos como uma força 
estranha. A organização social, o funcionamento da sociedade só é possível pela presença da 
consciência coletiva. A sociedade para Durkheim não é uma simples soma de indivíduos, é um 
corpo orgânico em analogia a um organismo vivo, cada órgão deve cooperar com os demais para 
o corpo como um todo funcione harmonicamente. As consciências particulares precisam estar 
 
 
 
 
combinadas e associadas para formar uma individualidade psíquica de novo gênero, ou seja, a 
consciência coletiva que depende do indivíduo, mas, tem existência própria. 
Os conceitos de solidariedade mecânica e solidariedade orgânica nos faz entender 
melhor o que Durkheim está dizendo por consciência coletiva. A sociedade moderna, industrial, 
capitalista, passa por um processo de crescente diferenciação social, ou seja, uma crescente 
especialização das funções, que, por sua vez é consequência da divisão do trabalho social. 
Percebemos isso claramente quando visualizamos o interior de uma fábrica; cada operário 
realiza uma função, cada seção compõe-se de um determinado número de trabalhadores. 
Pensemos em uma indústria automobilística: uma seção produz o motor, outra monta o carro, 
outra verifica a qualidade do que foi produzido, isso tudo falando simplificadamente. São muitas 
as empresas, os operários se diferenciam pelos vários ramos da indústria. 
Façamos o mesmo exercício de pensamento para a sociedade de modo geral: existe na 
política o poder executivo, o poder legislativo, o poder judiciário; nos serviços uns são 
educadores, médicos, advogados, eletricistas, pedreiros, merceeiros e assim por diante. A 
diferenciação se estende infinitamente, no estilo de vida, no tipo de gosto, na moda, etc. Pois 
bem, Durkheim dirá que essa nova realidade produz uma nova solidariedade, um novo tipo de 
laço entre as pessoas, que ele chama de solidariedade orgânica. Numa fábrica, que pode ser 
comparada a um organismo vivo, cada operário coopera com o outro, cada seção especializada 
coopera com a outra para realizar o produto final, o carro, por exemplo. Na sociedade em geral 
também, sem nos damos conta dependemos um do outro, cooperamos, para que seja possível 
a organização social. O médico, o professor, o eletricista, o merceeiro, cada qual 
desempenhando sua função constrói a arquitetura social caracterizada pela interdependência 
tanto na esfera econômica, como na política e nas relações em geral. 
A solidariedade mecânica, por sua vez, é característica de sociedades “simples” se 
comparadas com a sociedade industrial moderna. Numa sociedade indígena, de cultura 
tradicional, por exemplo, a divisão do trabalho social é mais simples: há uma divisão sexual do 
trabalho: os homens fazem determinadas tarefas, por exemplo, caçam e pescam e as mulheres 
cuidam dos trabalhos domésticos e da agricultura. 
Os homens são educados para serem guerreiros e caçadores, as mulheres são educadas 
para procriar e cuidar da casa. Uns são feiticeiros e adivinhos, os velhos representam uma 
autoridade, constituem um conselho de anciãos. Essa imagem ultra simplificada de uma 
sociedade indígena tradicional nos ajuda a compreender o conceito de solidariedade mecânica: 
é própria de um organismo social mais “simples”, onde a diferenciação social e, portanto, a 
divisão do trabalho social é menos extensa, baseada no sexo e na idade. Podemos estender essa 
 
 
 
 
imagem para uma cidade do interior, onde a diferenciação social também é muito diferente de 
uma cidade metropolitana. 
O que tudo isso tem a ver com consciência coletiva? Vamos entender: Em uma sociedade 
onde vigora uma intensa e crescente divisão do trabalho social, ou seja, onde há mais 
diferenciação social a consciência coletiva é mais fraca, mais frouxa, mais elástica, mais flexível, 
portanto a margem de liberdade das pessoas é grande, há mais individualidade, a consciência 
coletiva, a moral social, não pesa tanto, embora não deixe nunca de existir. Costumamos dizer 
que tal indivíduo é moderno, querendo dizer que ele tem um estilo de vida próprio da sociedade 
moderna e industrial, também é mais livre, tem mais autonomia se comparado com sociedades 
mais tradicionais, onde a religião, por exemplo, ainda tem um peso grande na conduta das 
pessoas. Numa sociedade moderna, a religião, embora continue tendo o seu papel, não cobre 
todas as dimensões de existência do indivíduo, sua liberdade de pensamento tem amplo terreno 
para crescer e vicejar. 
Numa sociedade em que vigora a solidariedade mecânica o peso da consciência coletiva 
é maior, isto é, há menos individualidade, a moral social é mais rigorosa, podemos dizer que a 
tradição, aqueles valores e regras respeitados há muito tempo, influencia mais o 
comportamento das pessoas, o indivíduo tem que se movimentar ao ritmo do corpo social como 
um todo; os desvios em relação ao comportamento padrão são mais facilmente percebidos. 
Exagerando ao extremo, numa sociedade onde impera absolutamente a solidariedade mecânica 
e a consciência coletiva a individualidade é nula. Essa seria uma situação limite. 
O mundo moderno desenvolve, por seu lado, aspectos disfuncionais. As rápidas 
mudanças vindas com o mundo moderno, o enfraquecimento da religião, crenças e valores 
tradicionais, podem criar um extremo individualismo, uma elasticidade exagerada da 
consciência coletiva e a destruição dos laços de solidariedade, podem criar disfunções nocorpo 
social que Durkheim caracteriza como anomia (ausência de regras sociais) um vazio social, um 
sentimento de desespero e angústia ou uma ética puramente utilitária que desvaloriza o outro 
ou vê no outro um simples meio de obter vantagens. 
Uma situação inquietante em que pode de desenvolver uma solidariedade negativa, 
anômica. É importante lembrar, nas palavras de Dukheim que existe em nós duas consciências 
que se combinam, uma que nos força mais para a individualidade, a ser nós mesmos, a outra 
que nos movimenta mais em direção do coletivo, é a própria sociedade dentro de nós. Embora 
seja uma só consciência e ambas se equilibram, o desequilíbrio extremado pode causar uma 
situação de anomia. 
Vamos a um exemplo, que igualmente iremos exagerar: Numa cidade do interior, 
fortemente marcada por laços face a face, as pessoas são mais próximas umas das outras, na 
 
 
 
 
praça central visualizamos todos os poderes constituídos; a igreja, a delegacia, o fórum, o prédio 
da prefeitura. 
Uma via central e a disposição da maior parte do comércio local neste pequeno centro, 
as relações de vizinhanças são mais estreitas. Geralmente os valores sociais e a moral social 
costuma ser mais rigorosa. Comportar-se mais livremente, por exemplo, em relação ao estilo de 
vida, ser “moderno” de mais pode chocar a consciência coletiva dessa pequena cidade, que 
responde a essa afronta com sanções, reprovações, alguém pode até chamar a polícia. Já numa 
cidade grande o estilo de vida é mais diversificado, as pessoas se vestem de inúmeras maneiras, 
vivem uma vida sexual mais livre, ou seja, tem mais individualidade, portanto, a consciência 
coletiva é mais flexível. Podemos sintetizar o dissemos num pequeno esquema. Leia em linha 
horizontal considere os sinais de mais (+) e menos (–) indicando a intensidade de cada elemento 
que combinados dão um resultado (=): 
 
(–) 
Divisão do 
Trabalho Social 
(–) 
Diferenciação 
Social 
(–) 
Individualidade 
(+) 
Consciência 
Coletiva 
(=) 
Solidariedade 
Mecânica 
(+) 
Divisão do 
Trabalho Social 
(+) 
Diferenciação 
Social 
(+) 
Individualidade 
(–) 
Consciência 
Coletiva 
(=) 
Solidariedade 
Orgânica 
 
 
Vamos dar mais um exemplo que Durkheim usou muito para ilustrar o que ele pretendia 
dizer por fato social e consciência coletiva. O crime é um fato social, não existe uma sociedade 
que não exista crime, a não ser uma sociedade de santos, portanto, do ponto de vista 
sociológico, crime é um fato normal. 
Todavia como definir crime, se uma simples ofensa numa sociedade pode ser tratada 
severamente e noutra é vista como falta leve ou mesmo nem é considerado um ato delituoso. 
Crime então, no sentido sociológico, pode ser definido como todo ato que ofenda a consciência 
coletiva e que, por sua vez, reclama por parte destes sentimentos coletivos ofendidos uma 
determinada pena. Neste sentido muitas reações da sociedade que costumamos a chamar de 
pena apresentam semelhanças e diferenças captáveis pela observação e possível de ser definido 
na categoria crime. Neste sentido crime não será só aquilo que prescreve a lei jurídica e formal, 
mas tudo o que ofende a consciência coletiva e reclama por parte desta uma reação que se 
chama pena. 
Veja que é bem diferente de uma visão em que crime é o que está previsto na lei. É mais 
que isso. A própria lei é uma expressão dos sentimentos sociais. É a sociedade, portanto, que 
pune uma ofensa realizada contra ela, por meio da consciência coletiva, que em última análise 
 
 
 
 
pode se expressar nos aparelhos repressivos institucionais, o Direito, a Justiça, mas também em 
sanções de reprovações e censuras. 
Quando o crime deixa de ser um fato normal? Quando ele atinge uma taxa muito 
elevada ou quando determinado crime é sentido como algo desorganizador da vida social com 
intensidade desmedida. Tudo depende da conjuntura social que se está analisando. Durkheim 
dirá que, sociologicamente, ele será considerado um fato patológico, isto é, o organismo social 
está doente, as regras sociais e morais, em determina conjuntura, não estão funcionando 
adequadamente, estão falhando, os laços de solidariedade estão esgarçados, a sociedade está 
desorganizada. 
Essa situação pode piorar, desenvolvendo-se uma doença mais crônica, desenvolvendo 
uma situação de anomia quando a imunidade do organismo social não está dando conta dos 
milhões de vírus que estão lhe atacando. Um exemplo da ficção nos ajuda a compreender o 
crime numa situação de anomia: quando, por exemplo, o crime organizado se embrenha no 
aparelho do Estado, elegendo deputados, governadores, como bem mostra o filme Tropa de 
Elite, dirigido por José Padilha (Brasil, 2007), em que Wagner Moura protagoniza o Capitão 
Nascimento, destemido comandante do BOPE, Batalhão de Operações Especiais, uma ficção 
com forte apelo à verossimilhança. De maneira geral o crime é um fato normal. Essa perspectiva 
sociológica de Durkheim pode ser entrevista no pensamento do sociólogo brasileiro Sérgio 
Adorno: 
As infrações contra o patrimônio cometidas por adolescentes 
infratores, no período de 1993-96, representam 51,1% (no período 
anterior, 1988-91, representavam 49,5%. Entre esses crimes, o roubo 
tomou a dianteira antes ocupada pelo furto. Os registros relativos ao 
uso e porte de droga representam 4,30%, enquanto as relativas ao 
tráfico representam 2,90%. É muito pouco significativa a ocorrência de 
homicídios (1,30%), embora essa modalidade de infração tenha a 
faculdade de exercer ampla mobilização da opinião pública e estimular 
o imaginário coletivo de medo e insegurança. É significativo que 
11,70% de todos os registros refiram-se a lesões corporais resultantes 
de agressões, uma proporção quase três vezes maior que o porte ilegal 
de armas e do que as infrações relativas ao porte, consumo e tráfico 
de drogas. (Adorno, Sergio. Adolescentes na Criminalidade Urbana em 
São Paulo, Brasília, Ministério da Justiça, Secretaria do Estado dos 
Direitos Humanos, 1999.) 
 Observe que embora algumas modalidades de crimes cometidos por adolescentes 
tenham taxas mais altas, os homicídios cometidos por eles chocam mais a consciência coletiva, 
e faz crescer o sentimento de medo e insegurança, pois, no imaginário popular a criança, os 
adolescentes representam a continuidade da sociedade, dizemos geralmente “a juventude é o 
futuro da nação”. 
 
 
 
 
 
SUICÍDIO: UM ESTUDO EXEMPLAR. 
 
 Em seu estudo sobre O suicídio publicado em 1897, e no seu intuito de fundar a 
sociologia como ciência autônoma, diferenciando-a de outras ciências, notadamente da 
psicologia. Durkheim escolhe como objeto de estudo um objeto curioso, o suicídio. Por mais 
individual que seja uma pessoa tirar a própria vida, pode ser tratado como um fato social, ou 
seja, podemos perceber a influência da sociedade neste tipo de atitude. Estudando e 
interpretando os dados estatísticos da França da época Durkheim elabora uma explicação 
eminentemente sociológica. Classifica o suicídio relacionando com suas ideias sobre a 
solidariedade social e pelo maior ou menor grau de integração de um indivíduo na sociedade: 
 O suicídio egoísta é explicado pela baixa integração do indivíduo na sociedade, 
pelo seu isolamento, a sociedade está fracamente representada em sua 
consciência. O casamento, a religião e outras situações, fornecendo ao indivíduo 
um sentido para a sua vida, lhe protege e integra. 
 O suicídio altruísta ocorre quando o indivíduo está integrado de mais, sua 
individualidade está submersa no coletivo a exemplo dos pilotos japoneses, os 
kamikazes que durante a segunda guerra mundial se atiravam suicidamente sobre 
os seus alvos americanos ou os “homensbomba” islâmicos, nesses casos uma 
causa, uma missão se eleva acima do indivíduo. 
 Por fim o suicídio anômico, causado pela falta regulação social. Em determinas 
situações, crises econômicas, transformações muito abruptas, divórcio, e muitas 
outras, o indivíduo não sente o chão sob os seus pés e as regras sociais não 
funcionam mais como referência na situação conturbada. 
 
 
REPRESENTAÇÕES COLETIVAS 
 
 Em todas as suas obras Durkheim procura abordar as representações coletivas elevadas 
à condição de fato social e produtoras de fatos sociais. Através das manifestações religiosas, por 
exemplo, o indivíduo deposita sua força em uma força que o transcende, que vai além dele e 
que em última análise para é a própria sociedade. Através dos rituais religiosos as pessoas 
reforçam o seu pertencimento ao grupo. 
A religião consiste na demarcação, por parte das representações religiosas de dois 
campos, o sagrado e profano. As crenças religiosas são, portanto, representações que 
prescrevem, num sentido moral, ao indivíduo, como deve ser o seu comportamento em relação 
 
 
 
 
ao campo do sagrado. Quando juntos numa mesma atmosfera religiosa os indivíduos reforçam 
seus laços sociais de solidariedade e a sociedade se edifica em verdadeira potência que é 
adorada. 
As representações religiosas são representações coletivas que 
exprimem realidades coletivas; os ritos são maneiras de agir que 
surgem unicamente no seio dos grupos reunidos e que se destinam a 
suscitar, a manter, ou a refazer certos estados mentais desses grupos. 
(Durkheim, 1989. p. 38). 
Alguns fatos sociais, como o crime, para retomar o nosso exemplo anterior, 
redimensiona nosso entendimento. Uma representação observa Durkheim, não é 
simplesmente uma imagem da realidade, uma sombra inerte projetada em nós pelas coisas. O 
crime por representar um estado contrário aos nossos sentimentos, justamente aqueles que 
nos são mais caros, contrário ao que entendemos por ordem social, introduz uma 
desorganização e provoca por parte da consciência coletiva uma reação emocional. 
A imagem da Medusa entre os gregos da antiguidade provocava a petrificação de quem 
à via de frente. Simboliza as forças da desordem que deveríamos evitar e combater, enquanto 
Apolo era o deus que simbolizava as forças da harmonia. 
Observe que representações coletivas é coisa diferente de consciência coletiva. Quando 
representamos nossa vida social através das crenças religiosas ou de nossas ideias do 
entendemos por ordem social em oposição à desordem, estamos alimentando nossa 
consciência dos elementos sociais mais diversos. 
O pão representa o corpo de Cristo, o vinho representa o sangue. A cruz representa o 
sacrifício. A missa reforça esse pertencimento do grupo e revive o momento fundamental da 
vida cristã católica. A consciência coletiva é o motor e o idioma de nossa ação, são os 
sentimentos comuns, as crenças e valores comuns, uma força moral que nos faz agir nesta ou 
naquela direção. 
As representações coletivas são manifestações sociais, consistem em veículos das 
crenças e sentimentos, exprime uma realidade coletiva. Falando de outro modo, podemos dizer, 
a consciência coletiva é integrada por representações coletivas, ou ainda, a consciência coletiva 
é a totalidade das representações coletivas organizadas de uma determinada maneira, por 
exemplo, pelo campo do sagrado, quando os indivíduos interagem e compartilham os valores 
religiosos da sociedade ou de uma determinada Igreja ou grupo religioso. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Quais as características do senso comum? Quais as características da atitude 
científica? O que caracteriza a sociologia como ciência? Você já experimentou olhar 
sociologicamente para fatos a que você não dava tanta importância, seguindo o 
exemplo do cafezinho? Qual a distinção entre problema sociológico e problema 
social e individual? As estruturas sociais determinam completamente o 
comportamento humano? 
Clique aqui e leia o artigo que complementa os estudos sobre a influência dos 
positivistas na ciência 
 
DE LACERDA, G. B. AUGUSTO COMTE E O “POSITIVISMO” REDESCOBERTOS. REVISTA 
DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 17, Nº 34 : 319-343 OUT. 2009. Disponível em 
<http://www.scielo.br/pdf/rsocp/v17n34/a21v17n34.pdf> Acesso em agosto de 2016 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Nesta unidade compreendemos a evolução do conceito de Sociologia, suas 
especificidades enquanto ciência, sua linguagem e as principais contribuições; 
 Conhecemos o contexto histórico do surgimento da Sociologia, sua 
problemática e as principais abordagens. 
 Finalizamos com a análise dos novos conceitos relacionados a este campo do 
conhecimento, as abordagens positivistas e relacionar às problemáticas 
contemporâneas. 
 
 
 
 
 
 
 
ADORNO, Sergio. Adolescentes na Criminalidade Urbana em São Paulo, Brasília, Ministério 
da Justiça, Secretaria do Estado dos Direitos Humanos, 1999. 
 
ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 1993. 
 
BERGER, Peter. Perspectivas sociológicas: uma visão humanística. Petrópolis: Vozes, 
1986. 
 
BERGER, Peter e LUCKMANN, Thomas. A Construção Social da Realidade. São Paulo: Vozes, 
1985. 
 
BERGER, Peter L. e BERGER, Brigitte. Socialização: como ser um membro da Sociedade. 
In: FORACCHI, Marialice Mencarini e MARTINS, José de Souza (orgs.). Sociologia e Sociedade: 
leituras de introdução à sociologia. Rio de Janeiro: São Paulo: LTC – LivrosTécnicos e Científicos 
Editora Ltda, 1977. 
 
DURKHEIM, Émile. Regras do Método Sociológico. São Paulo: Abril Cultural, 1978. 
 
____________. Da divisão do trabalho social. São Paulo: Martins Fontes, 2008. 
 
_____________. Émile. Formas elementares da vida religiosa: o sistema totêmico na 
Austrália. São Paulo: Edições Paulinas, 1989. 
 
GIDDENS, Anthony. Sociologia. Porto Alegre. Artmed, 2005. 
 
JEAN-SIMON, Pierre. História da Sociologia. Porto, Portugal: Rés-Editora, 1994. 
 
MILLS, C. Wright. A imaginação sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1975. 
 
 
 
 
UNIDADE 2: PENSAMENTO SOCIOLÓGICO 
 
 
• Compreender as duas perspectivas sociológicas: a concepção materialista da 
história de Karl Marx e a sociologia compreensiva de Max Weber; 
• Reconhecer o desenvolvimento de linhas teóricas diferentes na história do 
pensamento sociológico e verificar a validade científica destas perspectivas. 
• Relacionar pontos de vistas diferentes da sociedade observando seus pontos 
convergentes e divergentes. 
 
 
 
1. KARL MARX (1818-1883) 
 
RELAÇÕES DE PRODUÇÃO E CONTRADIÇÕES SOCIAIS 
 
Karl Marx nasceu em 5 de maio de 1818 em Treves na Alemanha e morre em 1883 em 
seu eterno exílio político em Londres na Inglaterra. Formado em Direito, nunca exerceu a 
profissão, dedicando-se aos estudos que extrapolaram em muito sua formação, interesses 
filosóficos, econômicos, políticos etc. Seus estudos, ricos em percepções sociológicas 
influenciou, incontestavelmente no processo de desenvolvimento da sociologia. 
Sua obra é ampla, sendo o Manifesto Comunista de 1848, um dos documentos históricos 
mais conhecidos do mundo. Outras obras como O 18 Bumário de Luís Bonaparte de 1851-1852 
refletindo sobre os conflitos de classe na França e, sobretudo sua obra máxima O Capital cujo 
primeiro volume foi publicado em 1867. Em muitas outras obras é visível o interesse sociológico 
embora nunca tenha usado essa expressão para indicar seus estudos. 
O ponto de vista sociológico de Marx está fundamentado em sua concepção materialista

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