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Internveções Urbanas América Latina - Bassani e Nobre - Copia

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INTERVENÇÕES URBANAS EM ÁREAS 
EM TRANSFORMAÇÃO DE CIDADES DA 
AMÉRICA LATINA 
 
 
 
 
 
 
 Organização 
 Eduardo Alberto Cusce Nobre 
 Jorge Bassani 
 
 
 
 
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO 
Prof. Dr. Marco Antônio Zago – Reitor 
Prof. Dr. Vahan Agopyan – Vice-Reitor 
 
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO 
Profª Drª Maria Ângela Faggin Pereira Leite – Diretora 
Prof. Dr. Ricardo Marques de Azevedo – Vice-diretor 
 
NAPPLAC 
Núcleo de Apoio à Pesquisa: Produção e Linguagem do Ambiente Construído 
Prof. Dr. Eduardo Alberto Cusce Nobre – Coordenador científico 
Profª Drª Maria de Lourdes Zuquim – Vice-coordenadora científica 
 
COMITÊ EDITORIAL 
Prof. Dr. Eduardo Alberto Cusce Nobre (FAUUSP) 
Prof. Dr. Jorge Bassani (FAUUSP) 
Profª Drª Camila D’Ottaviano (FAUUSP) 
Profª Drª Maria de Lourdes Zuquim (FAUUSP) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Serviço de Técnico da Biblioteca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP 
 
 
In8 Intervenções urbanas em áreas em transformação de cidades da América 
Latina / Organização de Eduardo Alberto Cusce Nobre e Jorge Bassani – São 
Paulo: FAUUSP, 2015. 
240 p. : il. 
 
ISBN: 978-85-8089-058-7 
ISBN: 978-85-8089-084-6 e-book 
 
1. Planejamento Territorial Urbano – América Latina 2. Urbanização 
(Aspectos Sociais) – América Latina I. Título 
 
 CDD: 711.08 
C
D
D
:
 
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8 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
5 APRESENTAÇÃO: INTERVENÇÕES URBANAS EM ÁREAS 
EM TRANSFORMAÇÃO DE CIDADES DA AMÉRICA LATINA: 
O QUE APRENDER COM ELAS? 
Eduardo Nobre e Jorge Bassani 
 
 
 PARTE 1: 
MEGAEVENTOS ESPORTIVOS E INTERVENÇÕES URBANAS: 
IMPACTOS DA COPA DO MUNDO FIFA 2014 
 
17 A REFORMA DO ESTÁDIO DO MARACANÃ PARA A 
REALIZAÇÃO DA COPA DO MUNDO 2014: IMPACTOS 
SOCIAIS E URBANOS 
Fabricio Leal de Oliveira, Fernanda Sánchez, Glauco 
Bienenstein, Giselle Tanaka, Rosane Rebeca de Oliveira Santos, 
Mariana do Carmo Lins, Felippe Fideles, Felipe Carvalho Nin 
Ferreira, Janaína Pinto e Lucas Faulhaber 
 
 
37 PORTO ALEGRE: URBANISMO PÚBLICO E PROJETOS 
URBANOS NA COPA 2014 
João Farias Rovati 
 
 
71 COPA DO MUNDO E LEGADO PARA QUEM? O FURACÃO 
COPA EM FORTALEZA – CEARÁ 
Larissa Viana 
 
 
 
 
 PARTE II: 
INTERVENÇÕES URBANAS EM ÁREAS CENTRAIS: ESTRATÉGIAS 
PARA O REFORÇO DA CENTRALIDADE. 
 
95 LA RECONSTRUCCIÓN DEL PASEO DE LA REFORMA EN 
LA CIUDAD DE MÉXICO 2000-2015: LAS 
CONTRADICCIONES DEL URBANISMO NEOLIBERAL 
Lisett Márquez López 
 
121 O PROJETO NOVA LUZ EM SÃO PAULO: ENTRE 
PROCESSOS DE EXCLUSÃO E RESISTÊNCIA POPULAR 
Simone Gatti 
 
141 TRANSFORMACIONES RECIENTES EN EL CHALLAO 
(ARGENTINA): ESCALAS Y DIMENSIONES URBANÍSTICAS 
Maria Jimena Sanhueza 
 
 PARTE III: 
INTERVENÇÕES URBANAS NAS ÁREAS DE FRONTEIRA DO 
CAPITAL: EXPANSÃO URBANA E REQUALIFICAÇÃO AMBIENTAL. 
 
163 EMPREENDIMENTOS DA “NOVA BELÉM” NA FORMAÇÃO 
E CONSOLIDAÇÃO DA EXPANSÃO URBANA DE BELÉM 
DO PARÁ 
José Júlio Ferreira Lima, Raul da Silva Ventura Neto e Rebeca 
Silva Nunez Lopes 
 
189 O CASO PROSAMIM: O PROGRAMA SOCIAL E AMBIENTAL 
DOS IGARAPÉS DE MANAUS 
Selma Paula Maciel Batista 
 
215 EL FERROCARRIL EN SANTA FE: UNA MODERNIDAD 
DESBORDADA 
Ricardo Robles 
 
233 SOBRE OS AUTORES 
 
 
Eduardo Nobre 
Jorge Bassani 
5 
 
APRESENTAÇÃO: 
INTERVENÇÕES URBANAS EM ÁREAS EM 
TRANSFORMAÇÃO DE CIDADES DA AMÉRICA LATINA: O 
QUE APRENDER COM ELAS? 
 
Eduardo Nobre e Jorge Bassani 
 
Desde o final do Século XX, os processos produtivos em vários 
países do mundo vêm passando por grandes transformações. A crise advinda do 
esgotamento da expansão econômica do Pós-Guerra ocasionou mudanças 
estruturais no modelo de desenvolvimento capitalista. Na procura incessante por 
maiores taxas de acumulação, um novo período de internacionalização do capital 
se iniciou, possibilitado pela associação do desenvolvimento das 
telecomunicações e da tecnologia da informação com a desregulação econômica 
promovida pelo Estado Neoliberal. A facilidade desses fluxos de capital tem 
ocasionado a transferência de empresas, indústrias e capital para qualquer lugar 
onde mão-de-obra e infraestrutura a custo baixo estiverem disponíveis, processo 
esse vulgarmente conhecido por globalização. 
Essas transformações impactaram fortemente as cidades de vários 
países do mundo, principalmente os de capitalismo avançado, onde os custos de 
produção ocasionaram um processo de perda das atividades econômicas, 
principalmente industriais, e levaram as cidades a competir entre si para atrair 
investimentos e empregos. 
Na política urbana, o resultado dessa transformação foi a mudança 
no paradigma do planejamento urbano, passando do modelo tradicional, 
compreensivo e racionalista, com sua visão global e integrada de cidade, para o 
planejamento estratégico, baseado em intervenções urbanas pontuais, 
fragmentárias e localizadas em áreas específicas. Diferentemente dos planos 
diretores do período anterior, a intervenção urbana passa a ser pensada na 
escala do projeto urbano, por vezes desconsiderando a sua relação com o todo, 
para atender ao objetivo específico do desenvolvimento econômico, apoiado no 
aproveitamento de uma pretensa infraestrutura ociosa ou recuperação urbano-
ambiental. 
Os governos locais passaram a adotar a cartilha neoliberal, unindo-
se a grupos empresariais com o objetivo de atrair capitais, mudando do controle 
 
6 Apresentação: intervenções urbanas em áreas em transformação de cidades da América Latina: 
o que aprender com elas? 
 
 
à produção de um ambiente construído “balanceado” para o estímulo ao 
mercado imobiliário, atuação essa que o geógrafo inglês David Harvey definiu 
como “empresariamento” urbano (Harvey, 1996). A articulação dos capitais 
financeiro e imobiliário, ocasionada pela facilidade de obtenção de empréstimos 
bancários a baixas taxas de juros, associada à desregulação urbanística e ao 
estabelecimento de parcerias público-privadas vêm permitindo o 
desenvolvimento de grandes projetos de intervenção urbana em diversas 
cidades, ocasionando grandes ciclos de desenvolvimento imobiliário. 
As áreas em transformação, isto é, as áreas produtivas obsoletas 
desse processo (distritos industriais, áreas portuárias, orlas ferroviárias etc.), os 
centros históricos abandonados, os terrenos vagos ou subutilizados vêm dando 
lugar a grandes complexos imobiliários, com a construção de novos centros de 
negócios, comerciais e de turismo, com suas torres de escritório, shopping 
centers sofisticados, hotéis e complexos habitacionais de luxo, centros de 
convenções, marinas, restaurantes e parques temáticos como nos casos iniciais 
do Inner Harbor de Baltimore, London Docklands em Londres, Battery Park 
City em Nova Iorque, La Defènse em Paris e Vila Olímpica em Barcelona. 
Contudo, na maior parte dos casos, existe um grande 
descompasso entre os objetivos formalmente declarados e os resultados 
obtidos, mascarados pela ideologia dominante. Desde o final dos anos 1980, 
vários autores dos países de capitalismo avançado vêm apontando para o fato de 
existirem “vencedores” e “perdedores” nesses processos (Fainstein, 2001; Judd 
e Parkinson, 1990; Smith e Feagin, 1987; Robinson, 1989; Robson, Parkinson e 
Bradford, 1994). Os principais beneficiários teriam sido os proprietários de terra 
e os empreendedores imobiliários, enquanto os perdedores seriam os 
moradores de baixa renda, cujas necessidades legítimas de emprego, melhores 
condições de moradia, saúde e educação não foram atendidas, pois em muitos 
casos tais políticas resultaramno desvio de recursos da política social para o 
suporte aos negócios. 
Até mesmo o pretendido efeito trickle down1, a ideia de que os 
benefícios dos grandes projetos urbanos também podem beneficiar a população 
 
1
 Trickle down foi um conceito da teoria econômica neoliberal usado pelos governos Margareth 
Thatcher no Reino Unido e Ronald Reagan nos Estados Unidos, que pregava que a diminuição dos 
impostos, especialmente para as grandes empresas e investidores, poderia estimular a economia 
como um todo. Para maiores informações, ver: The Guardian, 2014. Revealed: how the wealth 
 
Eduardo Nobre 
Jorge Bassani 
7 
 
local, não ocorreu (Robson, Parkinson e Bradford, 1994). Mais do que isso, no 
longo prazo, a implementação desses projetos geralmente traz consigo a 
“expulsão” da população mais pobre, que não consegue conviver com o 
incremento nos valores do preço dos imóveis, e é gradualmente substituída por 
classes sociais mais ricas, processo esse que ficou conhecido pelo termo 
gentrificação2 (Bidou-Zachariasen, 2006; Glass, 1964). 
No Brasil e na América Latina, o processo da reformulação das 
políticas urbanas ocorreu a partir dos anos 1990, como resultado da ação 
combinada das agências multilaterais (BID, Banco Mundial e FMI) e de urbanistas 
consultores internacionais, principalmente catalães, baseados no sucesso das 
intervenções para os Jogos Olímpicos de 1992 em Barcelona (Vainer, 2000). 
A crise econômica da Década Perdida trouxe a justificativa 
ideológica necessária aos governos de diversas esferas para a adoção do 
neoliberalismo e do monetarismo. Da mesma forma que nos países de 
capitalismo avançado, os ditames da cartilha urbana neoliberal aportaram nas 
cidades latino-americanas, ocasionando a desregulação urbanística e o 
estabelecimento de parcerias público-privadas na implementação das grandes 
intervenções urbanas, estimulando o mercado imobiliário, em projetos tais 
como: Puerto Madero em Buenos Aires; a recuperação urbana do Pelourinho 
em Salvador; as operações urbanas Faria Lima e Água Espraiada em São Paulo; 
os projetos para os Jogos Pan-Americanos de 2007 e Jogos Olímpicos de 2016 
na cidade do Rio de Janeiro; e, mais recentemente, o Cais Estelita no Recife. 
Contudo, no contexto do capitalismo periférico, o descompasso 
entre o discurso e a prática se torna mais evidente, pois as cidades se 
estruturaram historicamente de maneira fragmentada, concentrando 
investimentos nas áreas mais ricas, com enormes diferenciações espaciais e 
déficits sociais, os quais as políticas urbanas nunca chegaram a resolver. Dessa 
forma, os impactos sociais das grandes intervenções urbanas tendem a ser mais 
fortes e mais graves. Assim sendo, parece ser extremamente importante avaliar a 
prática dessas intervenções urbanas tomando como balizador a contribuição para 
 
gap holds back economic growth. Disponível em: 
http://www.theguardian.com/business/2014/dec/09/revealed-wealth-gap-oecd-
report?CMP=fb_gu. [Acesso em: 14 de maio de 2015]. 
2
 Do inglês gentrification – proveniente da palavra gentry, termo que identifica a classe social logo 
abaixo da nobreza, cuja tradução mais próxima para o português seria “enobrecimento”. 
 
8 Apresentação: intervenções urbanas em áreas em transformação de cidades da América Latina: 
o que aprender com elas? 
 
 
a promoção de cidades menos ou mais fragmentadas e desiguais no contexto 
latino americano. 
Foi justamente em função das questões levantadas e da 
necessidade de compreensão de qual é o significado da implementação desse 
tipo de intervenção urbana recente no contexto Latino Americano, que o 
NAPPLAC-USP (Núcleo de Apoio à Pesquisa: Produção e Linguagem do 
Ambiente Construído) lançou a chamada para o livro “Intervenções urbanas em 
áreas em transformação de cidades da América Latina”. 
Laboratório vinculado à Reitoria da Universidade de São Paulo, o 
NAPPLAC constituiu-se, no início dos anos 1990, com o intuito de promover 
pesquisas sobre a produção e apropriação do espaço urbano, trabalhando-o 
enquanto construção social, procurando desvendar a lógica de sua produção e 
localização das redes de infraestrutura, do setor imobiliário e do setor da 
Construção Civil. Atualmente, uma das ênfases das pesquisas em curso é o 
estudo das recentes transformações urbanas latino-americanas, através da 
identificação de elementos, processos e questões relativas à produção e 
apropriação do espaço urbano no plano teórico – identificando conceitos e 
grades conceituais correspondentes a diferentes disciplinas ou campos 
disciplinares - e no plano empírico - examinando os processos sociais e seus 
correspondentes espaciais em projetos urbanos concretos. 
Dessa forma, pesquisadores das mais diversas formações 
acadêmicas, de diversas instituições e laboratórios de pesquisa nacionais e latino-
americanos submeteram trabalhos referentes ao tema do livro. Os artigos aqui 
apresentados representam um espectro da produção intelectual crítica a respeito 
do tema com visões das intervenções que ocorreram em cidades de várias 
regiões do Brasil, da Argentina e do México. O livro está dividido em três partes, 
pois os artigos foram agrupados conforme temas preponderantes. 
A primeira parte, “Megaeventos esportivos e intervenções urbanas: 
impactos da Copa do Mundo FIFA 2014”, traz três artigos que procuram 
compreender os impactos das intervenções urbanas que foram realizadas para 
adaptar as cidades do Rio de Janeiro, Porto Alegre e Fortaleza para a realização 
da Copa do Mundo FIFA 2014 no Brasil. O evento foi publicizado como a 
grande oportunidade do país para renovar áreas e infraestruturas urbanas 
obsoletas e ineficientes, nos moldes do que ocorreu com as cidades que 
acolheram grandes eventos esportivos desde a emblemática Olimpíada de 1992, 
 
Eduardo Nobre 
Jorge Bassani 
9 
 
em Barcelona. Vários setores criaram grandes expectativas em relação ao 
“legado” da Copa. No entanto, em sua grande maioria, essas expectativas foram 
frustradas. Os artigos deste capítulo lançam luz e promovem reflexões a respeito 
dos processos específicos de cada cidade, que conduziram a essas frustrações. 
O primeiro deles nos traz os contornos da reforma do maior ícone 
do futebol brasileiro, o estádio construído para abrigar a malfadada final da 
primeira Copa realizada no Brasil, em 1950. Trata-se de “A reforma do Estádio 
do Maracanã para a realização da Copa do Mundo 2014: impactos sociais e 
urbanos” de Fabricio Leal de Oliveira, Fernanda Sánchez, Glauco Bienenstein, 
Giselle Tanaka, Rosane Rebeca de Oliveira Santos, Mariana do Carmo Lins, 
Felippe Fideles, Felipe Carvalho Nin Ferreira, Janaína Pinto e Lucas Faulhaber, 
realizado com base em pesquisa concluída pelo grupo em 2014. 
Para compreender o impacto da reforma do Estádio Jornalista 
Mario Filho (o Maracanã) em termos urbanos e sociais, o artigo tensiona as 
relações entre os “grandes projetos urbanos” e os processos de estruturação e 
apropriação social do espaço urbano. Com esta finalidade, apresenta aspectos 
do projeto de reforma e do contexto sociopolítico de sua execução a partir de 
pesquisas que se desenvolvem em torno de uma leitura do empreendimento 
em sua relação com aspectos políticos, institucionais, simbólicos, arquitetônico-
urbanísticos, socioambientais, fundiários e econômico-financeiros. Em 
contraponto à noção de “legado”, fundamental no discurso oficial de legitimação 
de megaeventos, busca-se apreender o alcance da reforma do Maracanã em 
suas interfaces com diferentes aspectosda realidade social. 
“Porto Alegre: urbanismo público e projetos urbanos na Copa 
2014” de João Rovati aborda a presença da Copa na capital gaúcha. O artigo se 
propõe a sustentar a hipótese de que os projetos urbanos gestados durante os 
preparativos da Copa do Mundo de 2014 indicam a emergência de um novo 
programa para o urbanismo público no país, legitimado essencialmente no 
“direito à acumulação de riqueza”. A hipótese proposta pelo artigo é 
desenvolvida tendo como base a observação de que o novo programa politiza 
ao extremo as ações e operações realizadas pelos governos em nome do 
interesse público, enfraquece o urbanismo como campo do conhecimento e, 
aos poucos, condena os urbanistas que o servem à invisibilidade. A sustentação 
das bases analíticas colocada pelo artigo consiste de um apanhado histórico das 
relações existentes entre o urbanismo público e coalisões políticas em Porto 
Alegre como pano de fundo. 
 
10 Apresentação: intervenções urbanas em áreas em transformação de cidades da América Latina: 
o que aprender com elas? 
 
 
O último artigo deste capítulo apresenta os impactos das 
intervenções para a Copa do Mundo FIFA 2014 em uma cidade do Nordeste 
brasileiro. De autoria de Larissa Viana é intitulado, “Copa do mundo e legado 
para quem? O furacão copa em Fortaleza – Ceará”. A pergunta colocada de 
início é a questão número um dos grandes projetos urbanos: quem ganha e 
quem perde com a sua implantação? Para abordar a questão, Larissa busca 
compreender os impactos causados com a realização do megaevento na vida da 
população de baixa renda da cidade de Fortaleza – CE. Inicialmente propõe 
compreender o processo pelo qual as grandes cidades brasileiras estão passando 
no intuito de adentrar à chamada globalização. Em seguida, coloca as obras para 
a Copa na perspectiva de formulação dessa imagem globalizada de cidade por 
meio de investimentos em grandes equipamentos e infraestrutura para receber 
eventos na escala internacional. Conclui que, com os investimentos por parte do 
poder público, a população pobre e excluída da sociedade é a grande perdedora 
no processo, pois está sendo removida para áreas distantes, não usufruindo, 
assim, desses investimentos e agravando a sua situação de precariedade. 
A segunda parte, “Intervenções Urbanas em Áreas Centrais: 
estratégias para o reforço da centralidade”, apresenta três artigos dedicados a 
investigar a atuação do poder público da Cidade do México, São Paulo e 
Mendoza, na Argentina, nas tentativas de reafirmação de áreas dessas cidades 
como principal centro das atividades terciárias de comércio, serviços e turismo. 
Dois deles, Cidade do México e Mendoza trazem como situação áreas de 
expansão urbana e os esforços para as caracterizarem como novas centralidades. 
O artigo sobre São Paulo estuda as polêmicas tentativas de projeto para o 
histórico bairro da Luz, junto ao Centro da cidade, com a mesma finalidade de 
reafirmação da condição de centralidade, tendo como condição necessária a 
renovação funcional e populacional da área. 
O primeiro destes artigos é “La reconstrucción del Paseo de la 
Reforma en la Ciudad de México 2000-2015: las contradicciones del urbanismo 
neoliberal” de Lisett Márquez López. Ele traz reflexões sobre o projeto de 
intervenção sobre sítio de longa história (em termos latino-americanos). O 
Paseo cumpriu papel protagonista no desenvolvimento econômico e na 
expansão territorial da Cidade do México desde 1866. Ao longo de sua história 
sofreu uma série de transformações passando por períodos de apogeu e de 
decadência. Nos últimos 14 anos, tem sido objeto de intervenções promovidas 
 
Eduardo Nobre 
Jorge Bassani 
11 
 
pelo capital imobiliário no âmbito da aplicação das políticas urbanas e 
econômicas neoliberais. O artigo desenvolve análises das contradições do 
ambicioso projeto de renovação urbana para transformação do Paseo em um 
moderno corredor urbano terciário, sob a lógica da acumulação do capital, 
exclusivo e excludente, gerador de fortes desigualdades sócio-territoriais. 
Paradoxalmente, essas atividades coexistem espacialmente e cotidianamente 
com as manifestações de protesto e reinvindicações dos movimentos sociais e 
políticos de oposição. 
O artigo, “O Projeto Nova Luz em São Paulo: entre processos de 
exclusão e resistência popular” de Simone Gatti, apresenta uma análise do 
Projeto Nova Luz, lançado pela Prefeitura Municipal de São Paulo, em 2005, 
com o objetivo de renovar um perímetro composto por 45 quadras no distrito 
central de Santa Ifigênia, a partir da aplicação de um instrumento urbanístico sem 
precedentes na legislação brasileira, a Concessão Urbanística. A principal 
questão abordada por Simone é a participação da sociedade civil no Conselho 
Gestor de uma Zona Especial de Interesse Social (ZEIS-3), prevista para a área 
no Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo de 2002. Único veículo 
de participação social efetiva formado durante o projeto, ele foi responsável pela 
introdução de um processo de resistência popular e pela formulação de medidas 
mitigadoras em prol da inclusão social e de garantias de atendimento habitacional 
da população residente. 
Finalizando a segunda parte, o artigo “Transformaciones recientes 
en El Challao (Argentina): escalas y dimensiones urbanísticas” de Maria Jimena 
Sanhueza. Ele se propõe abordar os processos de transformação na cidade de 
Mendoza a partir de uma perspectiva sociológica. O objeto de estudo é a região 
de El Challao, na região metropolitana de Mendoza, Argentina. Historicamente, 
constituiu-se de uma área de descanso e culto, mas que tem sofrido profundas 
transformações geradas pelos movimentos populacionais e pelas políticas 
urbanas recentes. Recentemente, o foco dos governos provincial e municipal 
voltou-se para essa zona a partir de um “Plano de Desenvolvimento Turístico 
Sustentável”. O artigo confronta as múltiplas escalas das transformações, da 
nacional à local, no intuito de demonstrar como a reprodução de mecanismos já 
conhecidos de gentrificação evidencia a complexidade alcançada pelos 
fenômenos urbanos. 
A terceira parte, “Intervenções urbanas nas áreas de fronteira do 
capital: expansão urbana e requalificação ambiental”, traz três exemplos que 
 
12 Apresentação: intervenções urbanas em áreas em transformação de cidades da América Latina: 
o que aprender com elas? 
 
 
tratam das questões ambientais na cidade de formas bem diferentes. Dois deles, 
no contexto específico da Região Norte do Brasil, um em Belém e outro em 
Manaus, onde as grandes intervenções urbanas ocorrem em áreas com 
características fundiárias e ambientais bastantes específicas e com toda a 
complexidade do ecossistema amazônico. O terceiro, em outra linha de 
requalificação ambiental, trata de estudo sobre a reciclagem de estruturas 
urbanas abandonadas, no caso a linha ferroviária, configuradas como fronteiras 
entre territórios intraurbanos, e suas estações em Santa Fé, Argentina. 
“Empreendimentos da “Nova Belém” na formação e consolidação 
da expansão urbana de Belém do Pará” de José Júlio Ferreira Lima, Raul da Silva 
Ventura Neto e Rebeca Silva Nunez Lopes é o primeiro dos artigos da Região 
Amazônica. O artigo se inicia com uma análise mais abrangente sobre o 
processo de urbanização recente no Brasil e na América Latina, onde as 
interações entre o capital imobiliário e as ações do Estado têm como objetivo a 
acumulação do capital, seja renovando áreas de ocupação obsoleta, seja abrindo 
novas frentes imobiliárias. A partir daí, analisa o que tem ocorrido na cidade de 
Belém, capital do estado do Pará, norte do Brasil, ao focar duas porções da área 
de expansão nacidade, denominadas como “Nova Belém”. O artigo traz a 
discussão sobre as condições financeiras, fundiárias e infraestruturais criadas para 
a instalação de empreendimentos imobiliários, com ênfase na origem pública da 
terra utilizada para a construção de condomínios fechados, shopping centers e 
estabelecimentos de varejo e nas alterações fundiárias promovidas nas 
propriedades, inclusive com desalienação de terras públicas e privadas nos 
bairros de Val de Cães e Parque Verde. Os resultados demonstram que estaria 
em curso, já há algum tempo, uma coalização entre gestores municipais e 
empreendedores que, dentro dos limites de interesse de cada um dos lados, 
tem definido a forma fragmentada e altamente especulativa de expansão urbana 
na Região Metropolitana de Belém. 
Também da Amazônia, o artigo “O Caso PROSAMIM: o programa 
social e ambiental dos igarapés de Manaus”, de Selma Paula Maciel Batista, 
desenvolve questões ambientais em outra escala. O artigo apresenta os 
resultados gerados pelo Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus – 
PROSAMIM realizado pelo Governo do Estado do Amazonas em parceria com 
o Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID, para intervenções 
urbanísticas, habitacionais e ambientais em cursos d’água da bacia hidrográfica do 
 
Eduardo Nobre 
Jorge Bassani 
13 
 
Educandos e São Raimundo, em Manaus. Com as primeiras ações iniciadas no 
ano de 2004 e, ainda em andamento, a autora analisa o período entre 2004 e 
2012. O texto fundamentado em fontes documentais primárias e secundárias 
divide-se em quatro partes. Na primeira, contextualiza a evolução urbana de 
Manaus. A segunda, apresenta exemplos de modelos de renaturalização e 
aborda as ações do PROSAMIM, como uma possibilidade de recuperação dos 
recursos hídricos. Na terceira parte descreve as características da área do 
projeto, com dados referentes ao cenário anterior e posterior a intervenção, 
descrevendo os principais produtos gerados. Na quarta parte, com base na 
expectativa de resultados previstos pelo BID, fundamenta a discussão sobre os 
benefícios gerados e os custos da transferência do ônus socioambiental a partir 
dos fatos e dados apurados. 
No terceiro artigo desta parte, Ricardo Robles destaca, 
incialmente, o processo de obsolescência das ferrovias nas cidades argentinas 
(processo recorrente em todo o continente), seguido da posterior degradação 
da estrutura existente e sua condição atual de fronteira urbana. Seu título é “El 
ferrocarril en Santa Fe: una modernidad desbordada” e se dedica a estudar os 
impactos urbanos das infraestruturas ferroviárias na cidade de Santa Fe desde o 
século XIX, mas com especial interesse nas suas condições atuais sob a 
perspectiva de possibilidades de intervenções urbanas. Considerando que 
atualmente os espaços da ferrovia têm um significado social complexo, produto 
da diversidade de situações reconhecidas em todo o processo - abandono, 
subutilização, invasões e novas intervenções estatais - o autor apresenta parte de 
estudo pormenorizado de algumas das estações com o intuito de gerar uma 
compreensão mais profunda do assunto, considerando a importância das 
diferentes escalas urbanas envolvidas e a troca dos fluxos nesses espaços. Como 
resultado, tem sido identificado problemas e potencialidades no que poderiam 
ser considerados espaços com a grande capacidade de mudança para um 
desenvolvimento local e metropolitano. 
A seleção dessa diversidade de temas e de localidades do livro 
fornece ao leitor uma visão panorâmica e instigante sobre as intervenções 
urbanas recentes em áreas em transformação de cidades da América Latina. 
Com isso, o livro espera poder contribuir com a discussão atual que vem 
ocorrendo sobre as estratégias e os impactos das políticas e dos projetos 
urbanos contemporâneos. Desejamos a todos uma boa leitura. 
 
 
14 Apresentação: intervenções urbanas em áreas em transformação de cidades da América Latina: 
o que aprender com elas? 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 
Bidou-Zachariasen, C. (org.), 2006. De volta à cidade: dos processos de 
“gentrificação” às políticas de "revitalização" dos centros urbanos. São Paulo: 
Annablume. 
Fainstein, S., 2001. The city builders: property development in New York and 
London 1980-2000. Oxford: Blackwell Publishers. 
Glass, R., 1964. London: aspects of change. Londres: MacGibbon & Kee. 
Harvey, D., 1996. Do gerenciamento ao empresariamento: a transformação da 
administração urbana no capitalismo tardio. Espaço & debates, v. 39, NERU, pp. 
48-64. 
Judd, D., Parkinson, M. (orgs.), 1990. Leadership and Urban Regeneration. 
Newburry Park: Sage Publications. 
Smith, M. e Feagin, J. (orgs.), 1987. The capitalist city: global restructuring and 
community politics. Oxford: Blackwell Publishers. 
Robinson, F., 1989. Urban Regeneration Policies in Britain in the late 1980s: 
Who Benefits? New Castle upon Tyne: Centre for Urban and Regional 
Development Studies, University of New Castle upon Tyne. 
Robson, B., Parkinson, M. e Bradford, M. G., 1994. Assessing the impact of 
urban policy. Londres: HMSO. 
The Guardian, 2014. Revealed: how the wealth gap holds back economic 
growth. Disponível em: 
http://www.theguardian.com/business/2014/dec/09/revealed-wealth-gap-oecd-
report?CMP=fb_gu. [Acesso em: 14 Maio 2015] 
Vainer, C., 2000. Pátria, empresa e mercadoria: notas sobre a estratégia 
discursiva do planejamento estratégico. In: Arantes, O., Vainer, C. e Maricato, E. 
A cidade do pensamento único: desmanchando consensos. São Paulo: Editora 
Vozes, pp. 75-103. 
 
 
 
PARTE I: 
MEGAEVENTOS ESPORTIVOS E INTERVENÇÕES 
URBANAS: IMPACTOS DA COPA DO MUNDO FIFA 2014 
 
 
 
 
 
 
 
Fabricio Leal et al. 17 
 
 
A REFORMA DO ESTÁDIO DO MARACANÃ PARA A 
REALIZAÇÃO DA COPA DO MUNDO 2014: IMPACTOS 
SOCIAIS E URBANOS 
 
LA REFORMA DEL ESTADIO “MARACANÔ PARA LA 
REALIZACIÓN DEL MUNDIAL DE FUTBOL 2014: 
IMPACTOS SOCIALES Y URBANOS 
 
 
Fabricio Leal de Oliveira, Fernanda Sánchez, Glauco Bienenstein, Giselle Tanaka, 
Rosane Rebeca de Oliveira Santos, Mariana do Carmo Lins, Felippe Fideles, 
Felipe Carvalho Nin Ferreira, Janaína Pinto e Lucas Faulhaber 
 
18 A Reforma do Maracanã para a realização da Copa do Mundo de 2014: impactos sociais e 
urbanos. 
 
RESUMO 
Este artigo discute os impactos urbanos e sociais da reforma do 
Estádio Jornalista Mário Filho (Maracanã) no Rio de Janeiro, com base em 
pesquisa concluída em 2014. O objetivo é trazer novos elementos para o 
debate sobre grandes projetos urbanos e sua relação com os processos de 
estruturação e apropriação social do espaço urbano. Após uma apresentação 
sintética do projeto de reforma do estádio e do contexto sociopolítico carioca, 
são apresentadas as principais conclusões da pesquisa, que se desenvolve em 
torno de uma leitura do empreendimento em sua relação com aspectos 
políticos, institucionais, simbólicos, arquitetônicos-urbanísticos, socioambientais, 
fundiários e econômico-financeiros. Em contraponto à noção de “legado”, 
fundamental no discurso oficial de legitimação de megaeventos, busca-se 
apreender o alcance da reforma do Maracanã em suas interfaces com diferentes 
aspectos da realidade social. 
Palavras-chave: Megaeventos, Copa do Mundo 2014, Rio de 
Janeiro, Maracanã, planejamento urbano. 
 
RESUMEN 
Este artículo analiza los impactos urbanísticos y sociales de la 
reforma del Estadio Periodista Mario Filho (Maracanã) en Río de Janeiro, en base 
a la investigación realizada en el año 2014. El objetivo es traer nuevos elementos 
al debate sobre los grandes proyectos urbanos y su relación con los procesos de 
estructuración y apropiación del espaciourbano. Tras una breve presentación 
del proyecto de renovación del estadio y del contexto sociopolítico de Río, se 
presentan las principales conclusiones de la investigación, que se desarrolla en 
torno a una lectura del referido proyecto en su relación con los aspectos político, 
institucional, simbólico, arquitectónico, urbano, social, ambiental y económico-
financiero. En contrapunto con la noción de "legado", clave en el discurso oficial 
de la legitimación de los mega-eventos, buscamos comprender el alcance de la 
reforma del Maracanã en sus interfaces con diferentes aspectos de la realidad 
social. 
Palabras clave: Mega Eventos, Mundial de Fútbol 2014, Río de 
Janeiro, Maracanã, planificación urbana. 
 
Fabricio Leal et al. 19 
 
INTRODUÇÃO 
No século XXI, a cidade do Rio de Janeiro ganhou visibilidade no 
cenário nacional e internacional em função de ter sido escolhida como sede dos 
Jogos Pan-americanos de 2007, da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas 
2016, além de outros eventos realizados na cidade, como a Jornada Mundial da 
Juventude e a Copa das Confederações, em 2013, e a Conferência das Nações 
Unidas Rio + 20, realizada em 2012. 
Este artigo, que tem como base pesquisa realizada sobre impactos 
urbanísticos e socioeconômicos da reforma do Estádio Jornalista Mário Filho1 
(Maracanã), busca trazer novos elementos para o debate sobre grandes projetos 
urbanos e sobre sua relação com os processos de estruturação e apropriação 
social do espaço urbano. Após uma apresentação inicial do contexto carioca e de 
algumas informações básicas sobre a reforma que envolve o estádio e o seu 
entorno, são apresentadas as principais conclusões da pesquisa que se 
desenvolvem em torno de uma leitura do empreendimento em sua relação com 
aspectos políticos, institucionais, simbólicos, arquitetônico-urbanísticos, 
socioambientais, fundiários e econômico-financeiros (Vainer et al, 2012). 
 
O “NOVO MARACANÔ: PRINCIPAIS TRAÇOS DE UMA REFORMA 
EM CURSO 
Competitividade, inserção na economia global e promoção da 
imagem da cidade são as palavras de ordem que melhor definem as orientações 
para a política urbana municipal carioca desde que Cesar Maia assume a 
Prefeitura do Rio de Janeiro, em 1993. Os prefeitos Luiz Paulo Conde e, mais 
tarde, Eduardo Paes, dão continuidade a essa orientação política e ideológica e 
compõem, juntos, um longo período2 de estreita articulação entre poder público 
e empresariado na definição de prioridades e políticas urbanas, que se 
 
1
 A pesquisa foi desenvolvida no período entre agosto de 2013 e fevereiro de 2015 por 
professores e pesquisadores do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da 
Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPPUR/UFRJ) e da Escola de Arquitetura e Urbanismo da 
Universidade Federal Fluminense (EAU/UFF), como parte do projeto Contribuição da 
Universidade Federal do Rio de Janeiro para o acompanhamento e avaliação das obras destinadas 
à Copa do Mundo 2014: levantamento de oportunidades e cadeias produtivas, executado pela 
UFRJ com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq. 
2
 Entre 1993 e 2014, foram prefeitos do Rio de Janeiro Cesar Maia (1993-1996 e 2001-2008), 
Luiz Paulo Conde (1997-2000) e Eduardo Paes (de 2009 em diante). 
 
20 A Reforma do Maracanã para a realização da Copa do Mundo de 2014: impactos sociais e 
urbanos. 
 
estenderá, pelo menos, até 2016. A realização de megaeventos, com suas 
promessas de promoção da cidade, atração de investimentos e transformação 
urbana, é uma das formas de expressão dessa forma de gestão pública, 
defendida não apenas pelos prefeitos cariocas, mas, também, pelo atual governo 
estadual. 
A maior parte dos gastos envolvidos são públicos e compreendem 
principalmente investimentos federais (investimentos diretos ou empréstimos 
subsidiados), mas há importantes gastos estaduais e municipais. Os ganhos, por 
sua vez, geralmente premiam estratégias de acumulação de agentes 
internacionais e nacionais, além de ações oportunistas de agentes locais. 
Por um lado, grandes empresas brasileiras empreiteiras de obras e 
serviços públicos como Odebrecht e OAS, entre outras, ampliam ainda mais seu 
poder sobre a cidade, vencem licitações e estão envolvidas na maior parte dos 
projetos relacionados à Copa do Mundo ou às Olimpíadas, como a implantação 
de sistemas rodoviários de Bus Rapid Transit em grandes vias, a ampliação do 
metrô, a reforma do Estádio do Maracanã e a renovação da área portuária (IMD, 
2014). 
Por outro lado, desde que o Rio de Janeiro emergiu como cidade 
olímpica, o recurso às remoções de comunidades de baixa renda parece ter se 
constituído na opção preferencial da política urbana, o que tem favorecido 
estratégias locais de valorização fundiária. Na imagem internacional que a 
Prefeitura quer projetar do Rio Olímpico não há lugar para esta justaposição de 
tecidos (formal e informal) tão comuns na cidade (Sánchez, 2014). 
Para agravar a situação, os partidos políticos que controlam os 
governos municipal, estadual e federal são aliados desde 2009, a partir da 
primeira eleição de Eduardo Paes, o que silenciou quase toda a oposição 
institucional às ações governamentais. Contudo, há resistências, como aquela 
que se constitui por meio do Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas, uma 
esfera pública de denúncia e resistência às remoções e a outras ações 
relacionadas ao processo de realização desses eventos. 
A reforma do Maracanã, concluída em abril de 2014, traz mais 
insumos e permite atualizar o debate sobre os megaeventos, em especial no 
que se refere à sua relação com a implementação de políticas públicas que 
aumentam a concentração de poder e renda e a privatização de espaços e 
serviços públicos. O principal agente público, nesse caso, é o Governo do 
Estado do Rio de Janeiro, proprietário do Estádio do Maracanã e responsável 
 
Fabricio Leal et al. 21 
 
pelo processo de reforma e concessão privada da gestão do equipamento. O 
momento político também é outro, enriquecido pelas manifestações de junho 
de 2013 que exigiram, pelo menos no início, uma mudança de postura da 
administração pública estadual. 
 
O Complexo do Maracanã 
O chamado “Complexo do Maracanã” é formado pelo Estádio do 
Maracanã e por um conjunto de equipamentos públicos situados na mesma 
quadra no bairro do Maracanã, na zona norte carioca. A construção do Estádio 
se inicia em 1948, e o complexo esportivo – que inclui o ginásio Maracanãzinho, 
o Estádio de Atletismo Célio de Barros e o Parque Aquático Júlio Delamare - é 
concluído apenas em 1965. Compõem ainda o Complexo Maracanã a Escola 
Municipal Friedenreich, o antigo Museu do Índio e os prédios inicialmente 
ocupados por órgãos do Ministério de Agricultura. 
Inaugurado em 1950, o Maracanã foi projetado inicialmente para 
receber 150 mil pessoas3. Ao longo dos anos, sucessivas reformas, iniciadas 
ainda no início da década de 1980, viriam a reduzir a capacidade do estádio à 
metade. Em 1999, foram feitas reformas para atender a exigências da FIFA para 
a realização do Mundial de Clubes de 2000. Posteriormente, para a adequação 
do estádio aos Jogos Pan-Americanos de 2007, as mudanças foram maiores e 
mais radicais, e incluíram a supressão da “geral”, setor com ingressos populares 
onde as pessoas assistiam ao jogo em pé. Começava, assim, uma tendência 
progressiva de elitização dos torcedores, que viria a se completar com a última 
reforma, concluída em 2014. 
 
O “Novo Maracanã” 
Poucos meses após os jogos Pan-Americanos, a FIFA anunciou o 
Brasil como a sede do Mundial de 2014, e um novo períodode adaptação do 
Estádio começou. O projeto de reforma então elaborado obedecia às exigências 
constantes nos cadernos de encargo entregues pela FIFA às cidades-sede. 
Além das modificações no estádio de futebol, o projeto previa a 
demolição do estádio de atletismo Célio de Barros, do parque aquático Júlio 
Delamare, além da escola municipal Friedenreich e do prédio do antigo Museu 
 
3
 Esses números seriam recorrentemente superados e, em muitas ocasiões, o estádio recebeu 
mais de 190 mil torcedores. 
 
22 A Reforma do Maracanã para a realização da Copa do Mundo de 2014: impactos sociais e 
urbanos. 
 
do Índio, ocupado pelo movimento indígena intitulado “Aldeia Maracanã”4. Entre 
as justificativas para essas demolições destacavam-se a construção de 
estacionamentos e de um shopping center, que fariam com que o estádio 
atendesse às exigências da FIFA por vagas para carro, além de se tornarem um 
importante atrativo comercial para que a iniciativa privada finalmente se 
interessasse pela concessão da administração do Estádio, elemento fundamental 
da estratégia do governo do estado para a manutenção do equipamento. 
O Novo Maracanã, como tem sido chamado, foi totalmente 
reformulado, ficando com sua capacidade reduzida para 79 mil espectadores. 
Entre as principais modificações, estão a implantação de uma cobertura de 
membrana tencionada, a reconstrução total das arquibancadas, o aumento da 
área de camarotes e áreas “Vips” e a separação do público em um número 
maior de setores. Também foram reformulados os vestiários, salas de imprensa, 
banheiros públicos, lanchonetes e demais serviços. O gramado foi rebaixado, e 
um novo sistema de drenagem com muito maior capacidade foi instalado. O 
resultado de todas essas modificações foi o vertiginoso aumento do preço dos 
ingressos e uma mudança radical no perfil do público que passou a frequentar o 
Maracanã. Os ingressos mais baratos, em meados de 2014, estavam na faixa de 
R$70,00, o que tornava praticamente inviável a presença da população de baixa 
renda. 
 
O entorno do estádio 
A região de implantação do Estádio do Maracanã é bem servida 
por transporte público de massa, com estações de trem e metrô próximas ao 
estádio, situado a menos de 15 minutos de distância do centro da cidade por 
transporte coletivo. Ao longo da linha férrea, que separa os bairros de classe 
média, ao sul, da favela da Mangueira, ao norte, se desenvolve um dos mais 
importantes eixos rodoviários da cidade, composto por largas avenidas que 
fazem a conexão entre o centro e a zona norte. 
Entre os elementos que compõem o entorno imediato do estádio 
podem ser destacados o campus da Universidade Estadual do Rio de Janeiro 
(UERJ), a favela Metrô-Mangueira, parcialmente removida, e, do outro lado da 
 
4
 A ocupação do Museu por grupos indígenas de diversas etnias começou em 2006, com apoio de 
movimentos sociais e ativistas autônomos (CPCORJ, 2014). 
 
Fabricio Leal et al. 23 
 
linha férrea, a favela da Mangueira, os conjuntos habitacionais do programa 
Minha Casa Minha Vida Mangueira I e Mangueira II e a Quinta da Boa Vista. 
 
Figura 1: Estádio do Maracanã e elementos do entorno. 
 
Base: Google Earth, 2014. Elaboração dos autores. 
 
“Impactos” sociais e urbanísticos da reforma do Maracanã 
A discussão em torno do “legado” da Copa do Mundo – e também 
das Olimpíadas – no Brasil é a forma como os discursos oficiais dos governos 
federal, estaduais e municipais têm se referido aos supostos efeitos econômicos 
dos megaeventos e aos seus resultados materiais e imateriais. Segundo Novais e 
Soares (2011): 
“A noção de legado indicaria que os esforços e vultosos recursos 
empregados garantem efeitos benéficos perenes em diferentes 
áreas (esportiva, segurança pública, urbanística, entre outras). 
Supõe um gasto público objetivado, portanto, mensurável, ou seja, 
 
24 A Reforma do Maracanã para a realização da Copa do Mundo de 2014: impactos sociais e 
urbanos. 
 
que pode se distinguir do argumento mais abstrato (dinamização da 
economia local) por seu grau de elaboração e acuidade” 
O “legado” geralmente é associado a efeitos positivos 
supostamente gerados pelos grandes projetos que fazem parte do portfolio dos 
megaeventos e a sua eficácia discursiva é avaliada em função da promoção do 
consenso em torno da realização do evento, da legitimação de determinados 
investimentos públicos e prioridades e, certamente, da prevenção e/ou 
eliminação de conflitos e tensões sociais (Novais et al., 2011). 
A perspectiva crítica, por sua vez, ilumina não apenas as 
possibilidades “virtuosas” dos projetos, mas, também, esforça-se por apreender 
o alcance dos projetos em suas interfaces com diferentes aspectos da realidade 
social. É essa orientação metodológica que irá informar a análise e que permitirá 
a identificação de relações gerais ou específicas entre os megaeventos/projetos 
com os processos de reprodução e apropriação social do espaço urbano. Essas 
relações frequentemente são percebidas como “impactos” e podem ser lidas a 
partir de diferentes ênfases, conforme o aspecto que se pretende iluminar 
(Vainer et al., 2012). Como veremos nos tópicos a seguir, os “impactos” sociais 
e urbanos se impõem definitivamente como resultados da reforma do Maracanã, 
enquanto os benefícios pontuais ou específicos apequenam o suposto “legado” 
da Copa. 
 
Decisões governamentais e resistências 
As decisões públicas envolvendo recursos, espaços e 
equipamentos públicos relacionados à Copa do Mundo 2014 são tomadas e 
implementadas sem os devidos processos legais. Os projetos não são 
apresentados para o debate público, e os processos que envolvem as decisões e 
as contas públicas não são transparentes. Documentos supostamente públicos 
não são disponibilizados à sociedade, sequer quando solicitados formalmente. 
Grupos de atingidos pelas obras somente foram ouvidos depois da 
realização de diversas iniciativas envolvendo ações judiciais, pressões sobre o 
legislativo, atos e denúncias públicas, veiculadas principalmente na mídia 
internacional, uma vez que a mídia local raramente cede espaço para a 
publicação desses acontecimentos. 
Antes das manifestações de junho de 2013, o governo estadual era 
inflexível sobre a reforma do Complexo do Maracanã. Foram promovidas várias 
 
Fabricio Leal et al. 25 
 
mobilizações contra a concessão privada do estádio, a expulsão dos ocupantes 
da Aldeia Maracanã, a remoção da favela Metrô-Mangueira e a demolição de 
equipamentos esportivos e da Escola Municipal Friedenreich. Grande parte 
dessas manifestações foi organizada pelo Comitê Popular da Copa e das 
Olimpíadas5. Por outro lado, atletas se manifestavam contra a incoerência da 
destruição de equipamentos esportivos como parte dos preparativos dos 
megaeventos. Mas nada afetava as decisões já tomadas ou a popularidade do 
governador Sergio Cabral, que gozava de apoio do governo federal. Protestos 
foram reprimidos com violência, especialmente no caso da Aldeia Maracanã, mas 
a trajetória do governo parecia incólume. 
Com as manifestações de junho de 2013 e a extrema violência da 
repressão policial – uma coisa reforçando a outra -, o governador se tornou um 
dos principais focos de demandas, e “fora Cabral” era um dos slogans mais 
ouvidos nas ruas. Sua popularidade despencou, boatos de renúncia se 
espalharam, e casos antigos de apropriação privada de recursos públicos 
(especialmente o uso de helicópteros do governo para passeios familiares) 
voltaram aos jornais. 
E o que parecia impossível aconteceu: acuado, o governadorveio a 
público dizer que não ia mais demolir os equipamentos esportivos. A luta política 
mudava o curso dos acontecimentos e alterava as decisões de demolição do 
Estádio Célio de Barros (parcialmente iniciada, com a destruição do campo de 
treinamento e sua transformação em estacionamento) e do Parque Júlio 
Delamare. Pouco depois, a decisão de demolição da Escola Friedenreich 
também era cancelada. 
Essas conquistas, porém, não podem ser vistas como definitivas. As 
promessas e compromissos do Governo do Estado com relação à reconstrução 
do Estádio de Atletismo não foram formalizadas, e não há prazo para o seu 
início. O Parque Júlio Delamare não foi demolido, mas encontra-se fechado, e 
os funcionários foram demitidos a poucas semanas da Copa. Por outro lado, já 
foram concretizadas perdas irreparáveis, como o fim dos setores populares do 
estádio do Maracanã, a remoção violenta de parte das famílias da comunidade 
Metrô Mangueira e a expulsão dos indígenas e outros residentes do antigo 
Museu do Índio. 
 
5
 O Comitê é um espaço de articulação política, composto por movimentos sociais urbanos, 
organizações não-governamentais, sindicatos, mandatos parlamentares, entidades de pesquisa e 
organizações comunitárias, além de pessoas sem vínculo institucional (CPCORJ, 2014). 
 
26 A Reforma do Maracanã para a realização da Copa do Mundo de 2014: impactos sociais e 
urbanos. 
 
 
Exceções e inovações institucionais 
Enquanto o processo de decisão relacionado à elaboração e gestão 
dos projetos relacionados à Copa se mostrou impermeável à interferência da 
população em geral, a participação de grupos empresariais na gestão pública 
permaneceu acolhida de forma privilegiada, como mostram os espaços de 
interlocução criados no contexto da realização da Copa do Mundo e a 
articulação, no Rio de Janeiro, da Prefeitura e do Governo do Estado com 
grandes empreiteiras de obras públicas na gestão de serviços públicos e na 
promoção de grandes projetos. 
Desde o anúncio da conquista do direito de sediar a Copa do 
Mundo 2014, o governo brasileiro tornou evidente sua decisão de criar 
condições especiais para os contratos e licitações públicas vinculados aos 
megaeventos (Oliveira et al., 2014: p.100), como mostram, por exemplo, as leis 
voltadas para flexibilizar o limite de endividamento dos municípios, alterar 
disposições tributárias ou instituir o Regime Diferenciado de Contratações 
Públicas nos casos relacionados a obras da Copa do Mundo e das Olimpíadas6 . 
A Lei Geral da Copa, Lei federal n. 12.633/2012, estabelece um conjunto de 
exceções à ordem jurídica vigente abrangendo desde a exploração de direitos 
comerciais, concessão de vistos, até a venda de ingressos (idem: p. 101). 
Já no nível estadual, destacam-se as medidas para concessão 
administrativa de gestão, operação e manutenção do Complexo Esportivo do 
Maracanã e a implantação da Unidade de Polícia Pacificadora no Complexo da 
Mangueira, com efeitos significativos na apropriação social dos equipamentos 
esportivos e do espaço urbano, nas remoções realizadas no entorno e nos 
processos de valorização fundiária e de gentrificação. 
No nível municipal, as medidas relacionadas diretamente à Copa 
do Mundo envolvem alterações significativas na estrutura administrativa. Foram 
criadas a Secretaria Especial da Ordem Pública (SEOP), a Secretaria Especial da 
Copa 2014 e Rio 2016 (SERIO), extinta em 2011, e inovações institucionais 
como o Conselho do Legado da Cidade, com participação de representantes do 
poder executivo municipal e estadual, empresas públicas, comitês organizadores 
da Copa e das Olimpíadas, associações empresarias e organizações não-
governamentais. 
 
6
 Lei nº 12.348/2010, Lei nº 12.350/2010 e Lei nº 12.462/2011. 
 
Fabricio Leal et al. 27 
 
Já o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Sustentável, 
aprovado em 2011, definiu que as áreas objeto e sob influência de 
equipamentos para a Copa do Mundo 2014 e os Jogos Olímpicos Rio 2016 
estão incluídas como “áreas sujeitas à intervenção”, o que as credencia como 
prioritárias para planos, projetos, obras ou instalação de regimes urbanísticos 
específicos – ou excepcionais -, suscetíveis de serem definidas como Áreas de 
Especial Interesse Urbanístico (AEIU) ou incluídas em Operações Urbanas 
Consorciadas (OUC). 
 
Disputas em torno dos sentidos e da apropriação social do “Novo Maracanã” 
A recuperação da história do Maracanã permite realçar sua 
importância como símbolo da cidade do Rio de Janeiro, reconhecido por 
sujeitos do mundo dos esportes, da política e da cultura. Tal reconhecimento 
transcendeu escalas e, desde a década de 50, se impôs, no Brasil e no mundo, 
como elemento central da nacionalidade e do futebol na cultura popular 
brasileira. 
 Diante da força simbólica que o constituiu enquanto patrimônio 
material e imaterial, tanto sua feição arquitetônica quanto sua inscrição 
urbanística como parte de um complexo de equipamentos estão imbricados, nas 
representações e práticas sociais ao longo de sua história, ao esporte público e 
popular. Assim, o Maracanã e sua apropriação social são marcados por disputas, 
desde a época da discussão em torno da efetiva necessidade de construí-lo, até 
as escolhas locacionais para inscrevê-lo, se deveria ser tombado ou não e, uma 
vez tombado, o que de fato deveria ser preservado e o que precisaria ser 
modernizado. 
Nos dias atuais, o questionamento e os conflitos à sua volta 
centraram-se no elevado investimento de recursos públicos e no modelo de 
concessão empregados em sua reforma e modernização para a Copa do Mundo 
de 2014. Estas disputas estão referenciadas às possibilidades de apropriação por 
parte de diferentes grupos sociais, na defesa de seus interesses, cada qual 
construindo seus próprios argumentos relacionados aos ganhos e perdas, 
“legados” e “rupturas” advindos de sua reconfiguração socioespacial. 
Se, por um lado, o discurso legitimador do projeto do Novo 
Maracanã se valeu de argumentos como a necessidade de cumprir com 
responsabilidades assumidas junto à FIFA, por outro lado, conforme tratado 
anteriormente, a sociedade civil, organizada ou não, tem denunciado a 
 
28 A Reforma do Maracanã para a realização da Copa do Mundo de 2014: impactos sociais e 
urbanos. 
 
descaracterização, não apenas arquitetônica, do edifício, mas também os modos 
como estas alterações têm rebatido diretamente na relação dos seus usuários 
mais tradicionais com o espaço. 
A diminuição gradativa da capacidade de público do estádio, a 
extinção da chamada “geral”, a consequente elevação do preço dos ingressos, a 
criação de mais “áreas vips” vinculadas à concepção das chamadas arenas para 
um público world class e a imposição de uma “cartilha de comportamento do 
torcedor”, são as condicionantes praticadas pelos seus gestores e promotores 
como tentativas de ressignificação do Maracanã, condições estas contestadas 
pelos sujeitos, coletivos e movimentos que, ao representá-lo, atualizam, nas 
lutas sociais, seu consagrado caráter popular e democrático. 
As intervenções feitas no estádio, assim como a logística e a 
disposição espacial do aparato militar implementado no seu entorno durante os 
jogos da Copa do Mundo reafirmaram, na materialidade das ações e nas suas 
ordens de legitimação, o caráter seletivo e excludente do processo de 
requalificação do espaço. 
Entretanto, as disputas de sentidos em torno ao usufruto do 
estádio e do Complexo do Maracanã continuam em pauta no contexto pós-
Copa do Mundo 2014 e de preparação dos Jogos Olímpicos 2016.A descaracterização do estádio e a disputa em torno do tombamento pelo 
IPHAN 
O processo de tombamento do Maracanã teve início no ano de 
1983, com a realização de estudos sobre os grandes estádios de futebol do país, 
no intuito de contextualizar o estádio entre os exemplares arquitetônicos 
existentes. 
Em 1997, quando se discutiam intervenções para atender às 
exigências da FIFA para o Mundial de Clubes, em 2000, surgem preocupações 
com a descaracterização do complexo do Maracanã, uma vez que se 
considerava a demolição de alguns dos equipamentos esportivos. É então 
sugerida a delimitação do Estádio Mario Filho como bem tombado e uma 
poligonal que engloba os demais edifícios do complexo como elementos do 
entorno a serem também protegidos. 
Em 1999, as instituições responsáveis são oficialmente 
comunicadas do tombamento provisório do bem, consolidando a delimitação 
acima descrita. Um ano depois, em 2000, após parecer favorável do Conselho 
 
Fabricio Leal et al. 29 
 
Consultivo do IPHAN, o tombamento definitivo do Maracanã é homologado 
pelo Ministério da Cultura, sendo a obra inscrita no Livro de Tombo 
Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico. 
O histórico de intervenções, no entanto, não iria parar por aí. Já na 
preparação para a realização dos Jogos Pan-Americanos de 2007, atendendo 
exigências das entidades organizadoras, muitas mudanças foram realizadas, 
inclusive a supressão da “geral”, o que abriu um importante precedente para que 
intervenções maiores na arquitetura do estádio fossem realizadas. 
Na reforma para a Copa do Mundo de 2014, o significado do 
tombamento se tornou um dos pontos polêmicos centrais. As obras foram 
iniciadas em 2010 e, já com elas em andamento, foi alegado o 
comprometimento da estrutura da cobertura de concreto das arquibancadas, e 
então sugerida a sua substituição por uma estrutura de aço e lona tensionada. 
No parecer emitido à época sobre as modificações na cobertura, a 
Superintendência Regional do IPHAN no Rio de Janeiro não se opõe, com base 
no argumento de que o tombamento considerava apenas o caráter cultural 
imaterial, uma vez que o estádio foi inscrito no livro de tombo Arqueológico, 
Etnográfico e Paisagístico e não do livro das Belas Artes, onde figuram os 
exemplares reconhecidos pela relevância arquitetônica. 
Mais tarde, em agosto de 2011, quando da apresentação do 
projeto de reforma ao Conselho Consultivo do IPHAN, muitos conselheiros 
criticaram as intervenções realizadas e os argumentos utilizados para aceitá-las, e 
manifestaram sua decepção com o desrespeito ao tombamento do estádio, 
devido à total descaracterização do objeto efetivamente tombado. Contudo, 
como não caberia ao Conselho Consultivo deliberar em nome da instituição, a 
reunião terminou apenas com um registro em ata de uma posição de censura à 
Superintendência Regional do Rio de Janeiro7. 
Em 2011, uma ação civil pública movida pelo Ministério Público 
Federal contra o IPHAN e a Empresa de Obras Públicas (EMOP), afirma que a 
demolição da marquise descaracteriza o estádio e viola o tombamento do 
Maracanã. No entanto, a acusação é negada pela 6ª Vara Federal, que, entre 
outros argumentos, destaca os laudos técnicos que condenam a marquise do 
estádio. O Ministério Público recorreu da decisão, e o processo ainda não tinha, 
em dezembro de 2014, um desfecho final na justiça. 
 
7
 De acordo com a Ata da 68ª Reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural (IPHAN, 
2014). 
 
30 A Reforma do Maracanã para a realização da Copa do Mundo de 2014: impactos sociais e 
urbanos. 
 
Processos de transformação e valorização fundiária 
As tendências e as possibilidades de transformação fundiária na 
região do Maracanã devem ser lidas no contexto geral da dinâmica imobiliária 
carioca, que, vinculada a fatores mais abrangentes de caráter global e nacional 
(crise imobiliária de 2008, ampliação do crédito habitacional, etc.), é também 
impulsionada pelos investimentos realizados para a adequação da cidade às 
Olimpíadas e à Copa do Mundo. Certamente, as obras do Complexo do 
Maracanã e as ações complementares empreendidas no entorno influenciam em 
alguma medida a distribuição de investimentos privados, potencializam 
transformações e modificam expectativas e demandas dos moradores locais, 
assim como possivelmente afetam, de diferentes maneiras, as representações 
sociais atribuídas ao Maracanã e a áreas e bairros do seu entorno. Com exceção 
das ações de despejo, remoção e reassentamento realizadas, contudo, não é 
possível atribuir à reforma do Complexo a responsabilidade maior pelas 
transformações em curso, especialmente no que diz respeito à dinâmica 
imobiliária formal ao sul da via férrea. 
Ao norte da via férrea, entretanto, a reforma do Maracanã pode 
ter sido bem mais decisiva na transformação do uso do espaço, especialmente se 
consideramos a influência da Copa nas medidas complementares implementadas 
ou previstas na região. A instalação de uma Unidade de Política Pacificadora - 
UPP no Complexo da Mangueira, as expectativas de melhorias de saneamento 
na favela, a melhoria da acessibilidade para a região, advinda da construção de 
novas passarelas sobre os trilhos e a construção dos conjuntos Mangueira I e II, 
certamente podem ser diretamente relacionados a processos de valorização 
fundiária em curso. 
Mesmo essas transformações, contudo, não são observadas apenas 
no entorno do Estádio, mas são compartilhadas por uma quantidade expressiva 
de outras favelas da cidade, que, por diferentes razões – entre elas, a visibilidade 
na mídia, a localização em áreas de interesse do capital imobiliário ou a 
proximidade com as regiões de implantação de equipamentos e estruturas 
relacionadas à realização dos megaeventos -, vêm recebendo Unidades de 
Política Pacificadora e recursos significativos do Programa de Aceleração do 
Crescimento para urbanização. Tudo indica que a realização dos megaeventos 
no Rio de Janeiro influenciou de forma decisiva a distribuição de recursos 
federais para a cidade, assim como reorientou as ações do governo estadual, 
especialmente no que diz respeito à política de segurança e mobilidade urbana. 
 
Fabricio Leal et al. 31 
 
Em suma, a não ser nos casos já apontados, não é possível 
distinguir, no intenso dinamismo do mercado imobiliário da região, o que pode 
ser atribuído especificamente às obras de reforma do Complexo Esportivo do 
Maracanã, ainda que as intervenções no entorno permitam especulações acerca 
da influência da reforma na valorização fundiária ou na apropriação social do 
espaço. 
 
Impactos socioambientais 
A reforma do Maracanã implicou uma série de mudanças que 
afetaram de forma diferente os moradores do entorno e os usuários dos 
equipamentos esportivos. 
O acesso social e o controle público sobre os equipamentos 
existentes no Complexo do Maracanã se deterioraram após a reforma, que 
implicou a redefinição das formas de apropriação social do Estádio, de forma a 
excluir a participação da população de baixa renda. Por outro lado, as atividades 
realizadas no Estádio Célio de Barros e no Parque Aquático Júlio Delamare 
foram extintas e a sua posterior dispersão para outras áreas se deu de forma 
reduzida e precária, com danos irreparáveis para atletas e usuários beneficiados 
pelas políticas sociais desenvolvidas nesses equipamentos. 
Como visto, as mobilizações sociais, das quais participaram 
trabalhadores e usuários dos equipamentos existentes, lograram reverter a 
decisão de demolição dos equipamentos esportivos e da Escola Municipal 
Friedenreich, mesmo que não seja ainda conhecida plenamentea extensão nem 
a estabilidade dessa vitória. Os funcionários, pais e alunos da Escola Friedenreich 
ainda estão vigilantes quanto a novas reformas relacionadas à realização das 
Olimpíadas 2016 e os atletas, usuários e os diversos apoiadores que se 
mobilizaram contra a demolição dos equipamentos esportivos ainda não têm 
informações sobre a reforma que será realizada pela concessionária Maracanã S. 
A. e estão apreensivos com relação à possibilidade de retomada plena das 
atividades anteriormente realizadas. 
As pressões para a desocupação da favela Metrô-Mangueira e do 
antigo Museu do Índio envolveram ações de violação de direitos humanos e o 
desrespeito a convenções internacionais sobre processos de remoção e 
reassentamentos. Os processos violentos de remoção observados tiveram 
impactos duradouros e negativos sobre parte da população da favela (os que 
aceitaram imediatamente a remoção estão hoje morando a dezenas de 
 
32 A Reforma do Maracanã para a realização da Copa do Mundo de 2014: impactos sociais e 
urbanos. 
 
quilômetros de distância) e sobre os ocupantes do Museu. Ao final, as famílias 
de Metrô-Mangueira que resistiram às propostas de reassentamento na periferia 
distante foram beneficiadas pela mudança da estratégia da Prefeitura que passou 
a oferecer conjuntos habitacionais próximos e bem localizados junto ao 
Complexo da Mangueira nos conjuntos habitacionais Mangueira I e Mangueira II. 
Já as mobilizações sociais em torno da Aldeia Maracanã não foram suficientes 
para garantir a permanência dos ocupantes, ainda que tenham impedido a 
demolição do prédio, que será restaurado pelo governo estadual. 
Certamente, ainda restam muitas questões a serem resolvidas com 
relação à remoção da favela Metrô-Mangueira. A precariedade no acesso à 
moradia na cidade fez com que parte das casas vazias fosse novamente ocupada 
por famílias sem-teto, o que gerou novos conflitos que evoluíram até chegar ao 
confronto e à repressão violenta por parte da polícia militar. Até o final de 2014, 
apesar dos compromissos assumidos de reassentamento da população 
residente, a situação de Metrô-Mangueira era ainda de extrema insegurança e 
precariedade, com moradores convivendo com o lixo e o entulho dos prédios 
demolidos. 
Para os moradores do Complexo da Mangueira, a maior mudança 
foi a instalação da Unidade de Polícia Pacificadora que, se logrou melhorar as 
condições de segurança, é alvo de críticas generalizadas pelas lideranças locais. 
As operações da UPP, classificadas pelos moradores entrevistados na pesquisa 
como truculentas, desrespeitosas ou abusivas, vieram acompanhadas pela 
regularização e formalização dos serviços existentes, com o aumento das tarifas 
cobradas, especialmente no que se refere à energia elétrica. De acordo com a 
população entrevistada na Mangueira e nos conjuntos habitacionais, o principal 
“legado” das obras do entorno do Complexo do Maracanã não é a UPP, mas a 
construção de uma passarela ligando o norte da via férrea às estações de Metrô 
e trem do Maracanã. 
Finalmente, cabe registar que a dinâmica de valorização fundiária 
observada nos bairros do Maracanã e entorno se encarregará de operar uma 
elitização na apropriação social do espaço, sem eliminar ou diminuir, contudo, a 
segregação socioespacial existente, mas reforçando, ao sul e ao norte da via 
férrea, diferentes processos de gentrificação. 
 
 
Fabricio Leal et al. 33 
 
Gastos públicos, gestão privada e efeitos econômicos 
De acordo com a Controladoria Geral da União, o preço final da 
reforma do Estádio do Maracanã, calculado em 2013, foi de R$ 
1.050.000.000,00 (um bilhão e cinquenta milhões de reais) (Brasil, 2014). Se 
somarmos todos os gastos com as reformas realizadas a partir de 1999, 
contudo, os custos chegariam a R$ 2,4 bilhões de reais. 
A licitação realizada pelo governo estadual para a administração do 
complexo por 35 anos foi vencida pela Concessionária Maracanã S.A, composta 
pelas empresas Odebrecht Properties, IMX Venues e Arenas, joint-venture 
entre os Grupos EBX e IMG Worldwide, e a empresa americana AEG, 
operadora de mais de cem arenas em 14 países8. 
O grupo irá pagar 34 parcelas anuais de R$ 5,5 milhões, corrigidas 
pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e se 
comprometeu a investir R$ 594,2 milhões em obras no entorno do Maracanã, o 
que incluía inicialmente a demolição do estádio de atletismo, do parque aquático 
e do Museu do Índio. Mais tarde, essas definições foram alteradas por meio da 
celebração de um primeiro aditivo ao contrato, que exclui a previsão de 
demolição das edificações e obriga a concessionária a reformar os equipamentos 
esportivos. 
O governo federal, mais especificamente setores do Ministério dos 
Esportes, avalia que a Copa de 2014 foi um bom negócio, conforme se pode 
depreender pelo fragmento de uma matéria recentemente publicada (Costas, 
2014): 
“O Mundial é uma oportunidade histórica para promovermos 
desenvolvimento socioeconômico no âmbito local e nacional", 
disse, por exemplo, Joel Benin, assessor para Grandes Eventos do 
Ministério dos Esportes, no início do ano. “Ele gerará 3,6 milhões 
de empregos, movimentará bilhões e deixará um legado 
importante na área econômica”” [Aspas no original] 
Contudo, nessa mesma reportagem é afirmado que: “consultorias 
econômicas, como a Tendências e a Capital Economics, fizeram seus cálculos e 
concluíram que o seu efeito geral sobre o PIB foi nulo ou insignificante. Mas 
poucas esperavam um impacto negativo”. 
 
8
 Informações do sítio oficial do Maracanã em http://www.maracana.com/site/. 
 
34 A Reforma do Maracanã para a realização da Copa do Mundo de 2014: impactos sociais e 
urbanos. 
 
Por outro lado, o alegado impacto positivo da Copa sobre a 
economia brasileira, mereceu críticas do próprio Ministro da Fazenda Guido 
Mantega que, em entrevista a respeito dos efeitos de evento 2014 no PIB 
brasileiro (Costas, 2014), afirmou: 
““(A Copa) foi um sucesso do ponto de vista de organização. Do 
ponto de vista da produção e do comércio, prejudicou”, disse 
Mantega em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo e ao site de 
notícias UOL há pouco mais de uma semana. “(Durante o evento) 
tivemos muito poucos dias úteis. A produção industrial caiu e o 
comércio cresceu pouco. De fato, não foi um bom resultado.”” 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
O processo de transformação do Maracanã e de seu entorno ainda 
está em curso e não se encerra nessa reforma nem com o fim da Copa do 
Mundo 2014. A realização das Olimpíadas 2016 traz novas possibilidades e 
incertezas sobre o projeto final do Maracanã. A instalação de um shopping 
center em área próxima ou anexa ao complexo, por exemplo, como já foi 
cogitado pelo governo estadual, pode gerar uma nova centralidade capaz de 
atrair ainda mais investimentos. Esse novo equipamento, somado às obras do 
entorno do estádio, ao grande potencial de renovação do espaço construído das 
vizinhanças e à elaboração de novas diretrizes e leis urbanísticas, certamente 
poderia transformar ainda mais a região. Assim, descontinuidades mais 
importantes no processo de produção e apropriação social do espaço, mais 
diretamente relacionadas às intervenções locais, poderiam ser observadas. 
Contudo, espera-se que o desenvolvimento desse processo seja 
acompanhado e transformado pelos mesmos movimentos sociais de resistência 
que conseguiram alterar decisões públicas após as jornadas de junho de 2013. 
Com a realização das Olimpíadas de 2016, novamente o Rio concentrará a 
atenção da mídia internacional, e os resultados dessa exposição – como nos 
mostrou aexperiência da Copa das Confederações – são imprevisíveis. 
 
 
 
Fabricio Leal et al. 35 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
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Rio de Janeiro, Letra Capital. 
 
João Farias Rovati 37 
 
PORTO ALEGRE: URBANISMO PÚBLICO E PROJETOS 
URBANOS NA COPA 2014 
 
PORTO ALEGRE: URBANISMO PÚBLICO Y PROYECTOS 
PÚBLICOS URBANOS EN LA COPA 2014 
 
 
João Farias Rovati 
 
 
38 Porto Alegre: urbanismo público e projetos urbano na Copa de 2014. 
 
RESUMO 
A hipótese do artigo é a de que os projetos urbanos gestados 
durante os preparativos da Copa do Mundo de 2014 indicam a emergência de 
um novo programa para o urbanismo público no país, legitimado essencialmente 
no “direto à acumulação de riqueza”. O novo programa politiza ao extremo as 
ações e operações realizadas pelos governos em nome do interesse público, 
enfraquece o urbanismo como campo do conhecimento e, aos poucos, 
condena os urbanistas que o servem à invisibilidade. Tendo como pano de 
fundo um apanhado histórico das relações existentes entre o urbanismo público 
e coalisões políticas em Porto Alegre, o artigo debate a tese da falta de 
planejamento no Brasil. 
Palavras-chave: urbanismo público, projeto urbano, Porto Alegre, 
Copa do Mundo. 
 
RESUMEN 
La hipótesis del artículo es que los proyectos urbanos gestados 
durante los preparativos para la Copa Mundial de 2014 indican la aparición de un 
nuevo programa para la urbanización pública en el país, esencialmente 
legitimado el "derecho a la acumulación de la riqueza". El nuevo programa 
politiza las acciones y operaciones extremas llevadas a cabo por los gobiernos en 
el interés público, que debilita el urbanismo como campo de conocimiento y 
gradualmente condena los planificadores que o sirven invisibilidad. En el contexto 
de una visión histórica de la relación entre la planificación urbana y las coaliciones 
políticas públicas en Porto Alegre, el artículo debate la tesis de la falta de 
planificación en Brasil. 
Palabras-clave: urbanismo, urbanismo público, proyecto urbano, 
Porto Alegre, Copa del Mundo. 
 
 
João Farias Rovati 39 
 
URBANISMO PÚBLICO 
A noção de urbanismo público está no centro da reflexão proposta 
neste artigo. Ela raramente é empregada no Brasil. Por exemplo, não 
encontramos qualquer referência ao termo nos números da “Revista Brasileira 
de Estudos Urbanos e Regionais” publicados desde 2004; nesse período, 
entretanto, com ou sem adjetivações, a palavra urbanismo foi ali mencionada 
960 vezes. 
Em trabalho publicado em 2005, Max Walch Guerra refere-se ao 
termo e ao tema. O urbanismo público, nascido na Europa no século 19, foi: 
“implementado como um conjunto de instrumentos de atuação do 
poder público sobre o âmbito privado, baseado em um Estado 
central ou poder local, posteriormente também regional, que 
planifica regulando o desenvolvimento urbano e territorial e 
intervém através de leis, investimentos diretos e mecanismos 
indiretos de regulação fiscal” (Guerra, 2005: 9-10). 
O programa do urbanismo daquela fase industrial, “embora nunca 
tenha sido inteiramente cumprido, hoje, em grande parte, é coisa do passado” 
(Guerra, 2005: 10). Agora, o urbanismo público precisa “encontrar soluções 
para um tipo de desenvolvimento, de cidades e regiões, diferente e que recém 
está se perfilando”; a emergência de novos fenômenos e de “novas condições 
de regulação política alteraram profundamente aquilo que um dia justificou 
chamar de ‘urbanismo público’ o campo político de intervenções no 
desenvolvimento espacial” (Guerra, 2005: 10). Verificou-se, por exemplo, e 
citamos Guerra sempre em tradução livre: 
“(...) uma notável diminuição relativa ou absoluta das funções 
industriais; uma substancial redução do peso das decisões e 
intervenções públicas no desenvolvimento urbano e territorial;

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