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Comunicação e Linguagem Mito

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COMPORTAMENTOS E ATITUDES
Vamos começar o nosso texto, entendendo o que Calvet (2002, p. 68-69) diz sobre o Preconceito Linguístico:
"se os usos variam geograficamente, socialmente e historicamente, a norma espontânea varia da mesma maneira: não tem as mesmas atitudes lingüísticas na burguesia e na classe operária, em Londres ou na Escócia, hoje e cem anos atrás. Aqui, o que interessa à Sociolingüística é o comportamento social que essa norma pode provocar."
Entendemos, que em todas as comunidades existem variedades consideradas superiores e outras inferiores, que valem como reflexo do poder e da autoridade que têm nas relações econômicas e sociais.
Há, assim, variedades de prestígio (que são aquelas em que a língua falada é a língua de quem está com o poder) e as variedades não prestigiadas (que usa o restante do povo, destituído de poder).
Eis umas primeiras palavras que servem para nos provocar.
"só existe língua se houver seres humanos que a falem."
"O ser humano é um animal político" (Aristóteles)
 
Aristóteles1 
  Isso resulta em:
"tratar da língua é tratar de um tema político", já que também é tratar de seres humanos. 
O preconceito linguístico está ligado, em boa medida, à confusão que foi criada, no curso da história, entre língua e gramática normativa. Nossa tarefa mais urgente é desfazer essa confusão.
Tenhamos em mente a seguinte imagem: a imagem do igapó na Amazônia. É a imagem da época da cheia, em que os rios transbordam, alagando as margens, durante a época das chuvas na Amazônia. Veja dois pequenos exemplos: 
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Pois bem, para Marcos Banho, Igapó é a gramática, com água parada, aguardando próxima enchente; a Língua é rio caudaloso, longo, largo, que nunca se detém em seu curso.
E o que fazemos com essa imagem? Tentemos entender que a gramática precisa ser renovada! Vamos tentar apressar a próxima enchente!
Mas, há um desafio que toca essa questão: "Se explicar a gramática normativa e sua lógica é desafio, desafio maior é somar a essa explicação a lógica da norma não-padrão." 
A batalha entre os deuses e os titãs 1600, de Joachim Wtewael4
 
 
Fontes
1Aristóteles - Fonte: http://projetophronesis.wordpress.com/2009/01/10/o-homem-e-um-animal-social-aristoteles/
 http://3.bp.blogspot.com/_1vaBEsuDsw8/SBJ0wxXjmLI/AAAAAAAABHw/6IGk9mR1lCg/s400/amazonia9.jpg 
 http://3.bp.blogspot.com/_1vaBEsuDsw8/SBJ0wxXjmLI/AAAAAAAABHw/6IGk9mR1lCg/s400/amazonia9.jpg
4 A batalha entre os deuses e os titãs 1600, de Joachim Wtewael - Fonte: http://3.bp.blogspot.com/_6TjOhYxBhmE/  SmUa4l3ROtI/AAAAAAAAAjA/Xyw04lWrSos/s400/duelo+dos+deuses.jpg
	
I.     A MITOLOGIA DO PRECONCEITO LINGUÍSTICO
Há hoje uma tendência em se lutar contra o preconceito, que é resultado de ignorância, intolerância ou de manipulação ideológica.
TV, rádio, jornal, revista, gramática normativa e livro didático são responsáveis pelo ensino do "certo" e do "errado"; consequentemente, a propagação do preconceito linguístico.
 
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É isso que vamos ver nessas dois textos com Conteúdo Web.
Vamos, então, agora, ao primeiro mito!
 
Fontes
http://1.bp.blogspot.com/_jBjst0WcFFk/SZmk6fIoyxI/AAAAAAAAEYE/V5I_2DMGsfU/s400/gramatica_primeira.jpg
Fonte: http://www.weno.com.br/blog/archives/jornal.gif
Fonte: http://www.uff.br/obsjovem/mambo/images/stories/radio-internet_1.jpg
Fonte: http://www.rnnoticias.com.br/SPN/bancoimagem/Brasil/televisao.jpg
MITO Nº 1 - "A LÍNGUA PORTUGUESA FALADA NO BRASIL APRESENTA UMA UNIDADE                       SURPREENDENTE"
Não é qualquer um que difunde esse mito. Há pessoas de renome que já o fizeram (não sei se o fazem ainda).
Será que os personagens das três figuras falam exatamente da mesma maneira no Brasil?
 91011
É claro que não! Gaúchos, Nordestinos (em geral e na especificidade de cada estado), Cariocas, Paulistas, nenhum deles fala como o outro!
Continuemos com o texto:
"É de assinalar que, apesar de feitos pela fusão de matrizes tão diferenciadas, os brasileiros são, hoje, um dos povos mais homogêneos lingüística e culturalmente e também um dos mais integrados socialmente na Terra. Falam uma mesma língua, sem dialetos" (Darcy Ribeiro. Folha de S. Paulo, 5/2/95).
Até mesmo aqueles que não deviam-no divulgar, o fazem, como os estudos filológicos e gramaticais, que também têm divulgado esse (pre)conceito irreal.
Entendemos que divulgar esse tipo preconceito é prejudicial à educação porque, ao não reconhecer a verdadeira diversidade, a escola tenta impor sua norma lingüística como se fosse a língua comum a todos os brasileiros, independentemente de idade, origem geográfica, situação socioeconômica, grau de escolarização, etc.
Se formos pensar que a educação é privilégio de poucos e é com ela que se aprende a língua portuguesa, então podemos concluir que há milhões de brasileiros sem-língua, não é mesmo?
 A figura a seguir tenta representar um pouco das diferenças entre pobres e ricos, mas temos consciência de que as imagens podem ser completamente falsas, em relação ao que estamos dizendo!
 
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Maurício Gnerre, em seu livro Linguagem, escrita e poder, diz que a Constituição afirma que todos os indivíduos são iguais perante a lei, mas essa mesma lei é redigida numa língua que só uma parcela pequena de brasileiros consegue entender. A discriminação social começa, portanto, já no texto da Constituição. Já tinha parado para pensar nisso?
 
Parâmetros Curriculares Nacionais13
Os Parâmetros Curriculares Nacionais, para quem não conhece, são documentos que servem  de parâmetro (como o próprio nome já diz), para nós professores nos guiarmos naquilo que devemos fazer enquanto professores de uma disciplina X, no meu caso a língua portuguesa.
Esse documento, entre outras coisas, fala que a variação é constitutiva das línguas humanas, ocorrendo em todos os níveis. Ela sempre existiu e sempre existirá, independentemente de qualquer ação normativa. Assim, quando se fala em "Língua Portuguesa", está se falando em uma unidade que se constitui de muitas variedades. [...] A imagem de uma língua única, mais próxima da modalidade escrita da linguagem, subjacente às prescrições normativas da gramática escolar, dos manuais e mesmo dos programas de difusão da mídia sobre "o que se deve e o que não se deve falar e escrever", não se sustenta na análise empírica dos usos da língua.
E o que fazer em relação a essa questão: escrever uma constituição em palavras mais simples, que todo mundo entenda, ou ensinar o povo a ler a constituição do jeito que ela está escrita?
Passemos ao mito número 2.
 
Fontes
Fonte: http://blogdofavre.ig.com.br/wp-content/uploads/2008/06/gaucho.gif/
Fonte: http://verblogando.files.wordpress.com/2008/01/trio-nordestino.jpg/ 
Fonte: http://media.josevitor.blog.br/Imagens/Programas/samba.jpg
Fonte: http://eletrolost.files.wordpress.com/2009/06/rico-e-pobre1.jpg
13Parâmetros Curriculares Nacionais - Fonte: http://user.img.todaoferta.uol.com.br/X/2/0O/ZJZGDI/1196877433005_bigPhoto_0.jpg
MITO Nº 2 - "BRASILEIRO NÃO SABE PORTUGUÊS / SÓ EM PORTUGAL SE FALA BEM PORTUGUÊS"
Veja só mais gente importante fazendo afirmações, que não passam de preconceito linguístico. Agora, veremos palavras de Sérgio Nogueira Duarte, professor de português do quadro "Soletrando", do programa "Caldeirão do Huck", à cargo do apresentador Luciano Huck, na TV Globo.
"Sempre me perguntaram onde se fala o melhor português. Só pode ser em Portugal! Já viajei muito pelo Brasil e já estive em todas as regiões. Sinceramente, não sei onde se fala melhor. Cada região tem suas qualidades e seus vícios de linguagem."             (Língua Viva: uma análise simples e bem-humorada da linguagem do brasileiro, Sérgio Nogueira Duarte. Coluna publicada no Jornal do Brasil).
 
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Além de Sérgio Nogueira Duarte, temos agora um ex-presidente da Academia Brasileira de Letras: Arnaldo Niskier. Ele presidiu a ABL em 1998 e 1999, e, uma vez, disse que se pode registrar o fato, facilmente comprovável, de que nunca se escreveu e falou tão mal o idioma deRuy Barbosa.
           Ruy Barbosa16
O que você acha dessa afirmação? Concorda com ela? Discorda? Será que já não é hora de atualizarmos a nossa gramática e deixarmos a que usamos atualmente na história?
E o ex-presidente da ABL continua: "[...] A classe dita culta mostra-se displicente em relação à língua nacional, e a indigência vocabular tomou conta da juventude e dos não tão jovens assim, quase como se aqueles se orgulhassem de sua própria ignorância e estes quisessem voltar atrás no tempo." (Folha de S. Paulo, 15 jan. 1998).
Vejamos mais uma dessas opiniões, agora vinda de um filólogo.
Filólogo, segundo o dicionário Houaiss, é o estudioso ou conhecedor de filologia.
Filologia, por sua vez, é:
1      o estudo das sociedades e civilizações antigas através de documentos e textos legados por elas, privilegiando a língua escrita e literária como fonte de estudos
2      (1815) o estudo rigoroso dos documentos escritos antigos e de sua transmissão, para estabelecer, interpretar e editar esses textos
3      (sXX) o estudo científico do desenvolvimento de uma língua ou de famílias de línguas, em especial a pesquisa de sua história morfológica e fonológica baseada em documentos escritos e na crítica dos textos redigidos nessas línguas (p.ex., filologia latina, filologia germânica etc.); gramática histórica
4      estudo científico de textos (não obrigatoriamente antigos) e estabelecimento de sua autenticidade através da comparação de manuscritos e edições, utilizando-se de técnicas auxiliares (paleografia, estatística para datação, história literária, econômica etc.), esp. para a edição de textos
Fiquemos com a acepção número 3. O filólogo de que estamos falando é o famoso Cândido de Figueiredo. Ele disse o seguinte, em seu livro O que não se deve dizer, que, só pelo título, já se mostra preconceituoso:
Quanto mais progressiva é a civilização de um povo, mais sujeita é a sua língua a deturpações e vícios, sob a variada influência das relações internacionais, dos novos inventos, das travancas da ignorância, e até dos caprichos da moda. [...] Sábios e romancistas, poetas e prosadores, e nomeadamente a imprensa periódica, parece haverem conspirado para dar curso às mais extraordinárias invenções e enxertos de linguagem.
(O que não se deve dizer, 1903).
Você prestou atenção na data em que ele escreveu o livro? Faz mais de 100 anos! Acho que ele está perdoado, certo? Será que ele diria isso hoje? Você concorda com ele?
Agora é a vez de um gramático famoso! Você até pode ter um dos livros dele em casa: trata-se de Luiz Antonio Sacconi. Em sua gramática, ele diz: "A Lua é mais pequena que a Terra. Eis aí uma frase corretíssima, que muitos imaginam o contrário. Mais pequeno é expressão legítima, usada por todos os portugueses, que usam menor quando se trata de idéia de qualidade: poeta menor, escritor menor etc."
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E agora? O que você faz com essa informação? Complicou tua vida? Espero que não!
Mas, ele não para por aí. Ele diz que "O uso do gerúndio empobrece o texto. Lembre que não existe gerúndio em português falado em Portugal."
O que ele quer que nós escrevamos: "Nesse exato momento, estou a ler um texto chato que o professor de Comunicação e Linguagem escreveu"? Ah, tenha a santa paciência, hem! (risos)
Será que você já ouviu, na sua vida, o seguinte com relação a aulas de língua estrangeira: "Os alunos já não sabem português, imagine se vão conseguir aprender outra língua"? Ouviu ou não? Aposto que, se você não ouviu, pelo menos conhece quem tenha ouvido!
Neste último exemplo, quem o fala (ou escreve) está fazendo a velha confusão entre língua e gramática normativa. E a explicação é que, em vez de buscar as causas da dificuldade de ensino na metodologia empregada, nas diferenças de aptidão individual para o aprendizado de línguas ou na competência do próprio professor, é muito mais cômodo jogar a culpa no aluno ou na incompetência linguística "inata" do brasileiro.
Vamos agora ao mito 3.
 
Fontes
Fonte: http://www.solocristao.com.br/images/Foto%20-%20Mapa%20do%20Brasil.png
http://www.achetudoeregiao.com.br/portugal/portugal.gif/mapa_de_portugal.jpg
Ruy Barbosa - Fonte: http://www.onspeed.com.br/blog/wp-content/uploads/2009/04/rui-barbosa.jpg
Fonte: http://amaralnascimento.com/blog/lua_terra.jpg
MITO Nº 3 - "PORTUGUÊS É MUITO DIFÍCIL"
Essa é outra afirmação de que dá para ter certeza que você já ouviu, não é mesmo?
Aliás, eu acho é que você também acha isso! Acertei?
Pois então pasme: a gramática que compramos e que nos é ensinada é praticamente a norma gramatical de Portugal! Aí fica mesmo difícil, não é mesmo? Como o português, ainda mais agora, é uma língua unificada (pelo menos, na escrita), então nada mais justo do que usarmos as mesmas gramáticas!
Na realidade, as gramáticas não são iguais; já vimos o caso do gerúndio e do mais grande, coisas que não dá para engolir! Mas, ainda há muito na gramática que aprendemos como se fôssemos portugueses! Você já ouviu dizer, por exemplo, que não podemos iniciar orações com o pronome pessoal oblíquo átono? Putz, isso é horrível! Não precisa ir procurar o que significa isso, em uma gramática, não! Eu dou o exemplo, e tudo fica mais fácil!
Traduzindo, então, o tal do pronome não pode iniciar oração em casos como: Te amo! Isso! Simplesmente, você não pode dizer isso, pois está gramaticalmente errada! Você deveria dizer, como um bom falante do português, Amo-te! Tenho certeza de que a outra pessoa daria uma bela de uma gargalhada na tua frente, e de você ainda por cima!
Pois, tal regra está nas nossas gramáticas. Algumas mais avançadas já dizem que isso é permitido na oralidade, mas não na escrita. E quem foi que permitiu? Será que alguém permitiu para uns gramáticos e não permitiu para outros? Se você souber quem foi, me avisa, hem!! Ou melhor, avise-me!
Ironias à parte, as regras que aprendemos na escola em boa parte não correspondem à língua que realmente falamos e escrevemos no Brasil. E, se é difícil aprendermos esse português gramatical, visto que não o usamos, por que não se leva em conta o uso brasileiro do português?
É por isso que, depois de 11 anos de estudo (1ª a 8ª séries + 1º a 3º colegiais), os brasileiros se sentem incompetentes para redigir o que quer que seja. Ou vai me dizer que você se sente completamente seguro para escrever uma redação ou um texto acadêmico qualquer? Eu torço para que você não tenha medo do papel em branco e que você não tenha os famosos "brancos" que dá na hora de escrever, ou mais: que você domine a gramática da mesma maneira que domina o..., a... Você domina o quê, afinal de contas?
 18
 
Vamos, então, ao mito 4.
Ele está no Conteúdo Web 2.
 
Fontes
Fonte: http://www.brassar.se/suecia/images/stories/escola.gif
MITO Nº 4 - "AS PESSOAS SEM INSTRUÇÃO FALAM TUDO ERRADO"
O que você acha que tem a ver o título desse mito 4 e a tabela abaixo?
Pense um pouco...
	PORTUGUÊS PADRÃO
Branco
Brando
Cravo
Dobro
Escravo
Fraco
Frouxo
Grude
Obrigar
Praga
Prata
Prega
	> 
> 
> 
> 
> 
> 
> 
> 
> 
> 
> 
> 
> 
	ETIMOLOGIA
BLANK
BLANDU
CLAVU
DUPLU
SCLAVU
FLACU
FLUXU
GLUTEN
OBLIGARE
PLAGA
PLATA
PLICA
	ORIGEM
Germânico
Latim
Latim
Latim
Latim
Latim
Latim
Latim
Latim
Latim
Provençal
Latim
  
Imperador Júlio César1
 
Início do Império Romano2
Fonte: http://europa.eu/abc/european_countries/images/flags/italy_map.gif
Bem, a tabela mostra que as palavras faladas em português hoje e consideradas cultas (coluna da esquerda), já foram, um dia, na história da língua, consideradas mal faladas, coisa de gente inculta, coisa de gente que falava um latim vulgar, estropiado; não era, definitivamente, coisa de gente culta, estudada.
E o que fazemos com essa informação? Usamos, claro, a nosso favor!
Se um dia o português foi uma língua mal falada e hoje é língua culta, por que, então, a língua mal falada de hoje não pode vir a ser a língua culta de amanhã? Sei que é difícil pensar nisso, pensar em que o português mal falado por milhões de brasileirospode vir a ser a língua oficial, culta, daqui a 100, 200, 300 anos, por que não?
Veja, Camões escreveu em Os Lusíadas as seguintes palavras: ingrês, pubricar, pranta, frauta, frecha. E como você acha que Camões é considerado: um culto ou um inculto? Está entendendo aonde eu quero chegar?
 
Jeca Tatu3
Fonte: http://4.bp.blogspot.com/_6XvZ4HOj2j8/R9FlZwytUxI/AAAAAAAACkY/yXwULYVg8Lw/s400/Z.jpg
A tabela vista, mostra que na variedade não-padrão dos falantes do latim, há cerca de mil anos, era difícil para eles a pronúncia do L após uma outra consoante, e isso virou o Português! Da mesma maneira, na variedade não-padrão de muitos brasileiros não existe o encontro consonantal com L. E muitos de nós tira sarro dos que falam praca, atrântico, Cráudia, Frávio, etc., não é verdade?
Cráudia, praca, pranta é considerado "errado" hoje no português, enquanto frouxo, escravo, branco, praga, são considerados palavras "certas"; a questão aqui não é só lingüística, mas também social e política.
Esse processo da troca do L por R chama-se rotacismo. Resumindo, o rotacismo participou da formação da língua portuguesa e ainda continua vivo e atuante!
Você já tirou sarro ou viu alguém tirando sarro de alguém que fala o número 8 desta forma [oytšu]? Muita gente diz que é simplesmente ridículo falar um "ch" depois de "i"+"t"? 
Mas por que muitos de nós não acha ridículo pronunciar titia desta forma [tšitšia]? não é. Por que não é ridículo pronunciar um "ch" entre o "t" e o "i"? Pense nisso!
E vamos ao quinto mito!
 
Fontes
1Imperador Júlio César
2Início do Império Romano - Fonte: http://europa.eu/abc/european_countries/images/flags/italy_map.gif
3Jeca Tatu - http://4.bp.blogspot.com/_6XvZ4HOj2j8/R9FlZwytUxI/AAAAAAAACkY/yXwULYVg8Lw/s400/Z.jpg
MITO Nº 5 - "O LUGAR ONDE MELHOR SE FALA O PORTUGUÊS NO BRASIL É O MARANHÃO"
Qual estado brasileiro você acha que fala melhor o português?
É claro que você já está influenciado pelo título da página! Achava que era o Rio Grande do Sul, porque eles falam o "tu"? ou seria Santa Catarina? Quem sabe sul do Paraná? Baixada Santista? Rio de Janeiro?
Todos esses lugares  usam realmente o "tu" para se comunicar com uma segunda pessoa, enquanto o restante do país, exceto alguns lugares do nordeste, usam "você".
O Maranhão é um desses estados que usa "tu". A diferença entre o Maranhão e os demais é que no Maranhão usa-se o "tu" juntamente com o verbo conjugado!!! "Tu vais, tu queres, tu podes", etc. Que legal, não? Então, eles realmente são o estado que melhor fala o português!
Eu diria que nesse aspecto, sim! Porém, há outros aspectos envolvidos, e, nesses aspectos, eles cometem "pecados" tanto quanto nós, senão mais! Veja isso que é falado lá: "Esse é um bom livro para ti ler". Você fala assim? Não creio que fale!
Olhe só o que o professor Pasquale falou uma vez a respeito do assunto: "a São Paulo que fala 'dois pastel' e 'acabou as ficha' é um horror. Não acredito que o fato de ser uma cidade com grande número de imigrantes seja uma explicação suficiente para esse português esquisito dos paulistanos. Na verdade, é inexplicável". (Pasquale Cipro Neto)
  4  5
Vai dois pastel e um chopps aí?
Poxa, é preciso abandonar essa ânsia de tentar atribuir a um único local ou a uma única comunidade de falantes o "melhor" ou o "pior" português e passar a respeitar igualmente todas as variedades da língua, que constituem um tesouro precioso de nossa cultura
 
6
Todas elas têm o seu valor, são veículos plenos e perfeitos de comunicação e de relação entre as pessoas que as falam. Se tivermos de incentivar o uso de uma norma culta, não podemos fazê-lo de modo absoluto, fonte do preconceito. Temos de levar em consideração a presença de regras variáveis em todas as variedades, a culta inclusive.
Vamos ao sexto mito!
 
Fontes
Fonte: http://serveja.files.wordpress.com/2008/06/chopp.jpg/ 
http://1.bp.blogspot.com/_HWP0o_BKFck/SZr1Sx4dfRI/AAAAAAAAALY/jRhVi2oR-jw/s400/pasteis03.jpg
Fonte: http://www.quetalviajar.com/images/mapas/mapa-maranhao.jpg
MITO Nº 6 - "O CERTO É FALAR ASSIM PORQUE SE ESCREVE ASSIM"
É tendência dizer que se deve pronunciar do modo como se escreve, já ouviu isso?
Seria mais justo e democrático dizer ao aluno que ele pode dizer BUnito ou BOnito, mas que só pode escrever BONITO, porque é necessária uma ortografia única para que todos possam ler e compreender o que está escrito.
 7
Você já parou para pensar que realmente não falamos do modo como escrevemos? O que você acha que deveríamos fazer: começar a pronunciar exatamente como escrevemos ou então passar a escrever do modo como pronunciamos? Como ficariam os outros brasileiros com essa história? Será que a internet, principalmente os programas de bate-papo, como ICQ, Yahoo Messenger, Google Messenger, MSN Messenger, tem ajudado nessa evolução, já que "si skrevi mais o menus du jeitu ki a genti fala?"
Não pense muito, pois estamos chegamos ao mito número 7.
 
Fontes
http://4.bp.blogspot.com/_EFkgFFV44lU/R_7jiRX2qcI/AAAAAAAAAGo/X3K_6iBTJwc/s200/boca%2Bfalando.jpg
MITO Nº 7 - "É PRECISO SABER GRAMÁTICA PARA FALAR E ESCREVER BEM"
Para exemplificar o absurdo desse mito, mais um pouquinho do professor Pasquale, juntamente com um amigo seu, gramático também, Ulisses Infante. Dizem eles: "A Gramática é instrumento fundamental para o domínio do padrão culto da língua" (Cipro e Infante).
Sabe que eu sou obrigado a aceitar o que eles dizem? Pelo menos, de um ponto de vista.
Realmente, a gramática é instrumento fundamental para que nós dominemos o padrão culto da língua. Agora, diga-me uma coisa: qual é o padrão culto da língua? Quem é que determina qual será esse padrão?
A gramática nasceu de pessoas descrevendo o modo como a língua funciona e tudo bem! Nos livros, constavam a estrutura da língua usada, o modo como era falada, como eram conjugados os verbos, etc.
Com o passar do tempo, a gramática deixou de ser "descritiva" e passou a ser usada como um livro de regras que as pessoas deviam seguir, se quisessem usar a boa língua! A gramática passou a ser "normativa", que dita regras!
Mas, para saber gramática é preciso saber escrever bem e falar bem?
Mário Perini, também gramático, responde por nós: "não existe um grão de evidência em favor disso [desse mito]; toda a evidência disponível é em contrário". Se fosse assim, todos os gramáticos seriam bons escritores e todos bons escritores, especialistas em gramática.
É claro que eu concordo com ele!
Pense, agora, no que diz Celso Pedro Luft (outro gramático): "Um ensino gramaticalista abafa justamente os talentos naturais, incute insegurança na linguagem, gera aversão ao estudo do idioma, medo à expressão livre e autêntica de si mesmo"
 
 
É possível ver que há duas linhas de gramáticos: aqueles que têm um modo mais conservador de ver a gramática e aqueles que a vêm linguisticamente, ou seja, lembrando-se de sua origem: obra que descreve a língua no estágio em que ela se encontra.
Mário Perini continua dando uma força, esclarecendo que, quando dizemos que se ensina a gramática para que se escreva melhor, estamos prometendo uma mercadoria que não podemos entregar.
Aqui está mais um trecho de texto que Cipro e Infante dizem e com o qual é necessário, de certa forma, concordar: "A Gramática normativa estabelece a norma culta, ou seja, o padrão lingüístico que socialmente é considerado modelar [...] As línguas que têm forma escrita, como é o caso do português, necessitam da Gramática normativa para que se garanta a existência de um padrão lingüístico uniforme [...]".
O que tem acontecido é isso mesmo: a gramática tem estabelecido qual é a norma culta. Mas, os linguistas, bem como novos gramáticos, entendem que não se deve estabelecer uma norma culta, por meio do surgimento de gramáticas, mas justamente o contrário: a norma culta deve ser a que usam os considerados cultos no país, sejam eles graduados, especialistas, mestres, deputados, senadores, empresários, administradores. Então, o que essas pessoas falam é que deveria ser transcrito para um livrochamado gramática, para que fosse observado, não seguido, pois, em poucas décadas, essa norma culta já teria mudado, e a gramática teria que acompanhá-la! 
É claro, concordo, que a existência de uma gramática, como é nos moldes de hoje, acaba impedindo um pouco que essa norma culta (falada) desembeste e se afaste muito da norma culta (escrita).
Acontece que já existe um abismo entre essas duas formas de manifestação linguística. Nada mais justo, então, que essa distância fosse diminuída, para que os brasileiros pudessem "errar" menos quando falam e quando escrevem, já que nossa gramática tem o mesmo modelo há mais de 100 anos!
Para começar a fechar com chave de ouro, vejamos o que Domingos Pascoal Cegalla (outro gramático) fala: "Este livro pretende ser uma Gramática Normativa da Língua Portuguesa do Brasil, conforme a falam e escrevem as pessoas cultas na época atual".
Muito bonito o discurso dele. Acontece que a gramática que ele se propõe escrever é exatamente igual às outras. Ou seja, ele propõe registrar o que as pessoas falam e escrevem na época atual, mas insere orações e frases completamente artificiais ou provindas da literatura clássica brasileira ou portuguesa. Assim, não dá!
Veja o que Cagliari diz sobre o que já dissemos: "A gramática normativa foi num primeiro momento uma gramática descritiva de um dialeto de uma língua. Depois a sociedade fez dela um corpo de leis para reger o uso da linguagem. Por sua própria natureza, uma gramática normativa está condenada ao fracasso, já que a linguagem é um fenômeno dinâmico e as línguas mudam com o tempo; e, para continuar sendo a expressão do poder social demonstrado por um dialeto, a gramática normativa deveria mudar." (Luiz Carlos Cagliari).
 
Esse é também o nosso pensamento!
Direto, agora, para o último mito: o oitavo!
 
Fontes
Fonte: http://www.aromadaterra.com/blog/uploaded_images/orador-711327.gif
Fonte: http://www.portasdacidade.com/images/empresa.jpg
Fonte: http://www.aceav.pt/blogs/fpereira/Lists/Fotografias/%C3%A1tomo.gif
MITO Nº 8 - "O DOMÍNIO DA NORMA CULTA É UM INSTRUMENTO DE ASCENSÃO SOCIAL"
Chegamos ao nosso oitavo mito.
Vocês acham mesmo que dominar a norma culta nos faz subir na vida?
Quem dera! Que dera! Eu estaria "bem na fita" agora! Mas, não é bem por aí.
Primeiramente, é preciso garantir a todos os brasileiros o reconhecimento (sem o tradicional julgamento de valor) da variação linguística, porque o mero domínio da norma culta não é uma fórmula mágica que, de um momento para outro, vai resolver todos os problemas de um indivíduo carente.
Fonte: http://www.qdivertido.com.br/sininho.gif
 
É preciso favorecer esse reconhecimento, mas também garantir o acesso à educação em seu sentido mais amplo, aos bens culturais, à saúde e à habitação, ao transporte de boa qualidade, à vida digna de cidadão merecedor de todo respeito.
Fonte: http://1.bp.blogspot.com/_0FAKc4BJfjQ/R6DpwTtZ-OI/AAAAAAAAALg/DQNrFY0SgQw/s320/LogosoStatus-full.jpg 
 
Basta pensar um pouco nos indivíduos que detêm o poder no Brasil: não são (quando são) apenas falantes da norma culta, mas são, sobretudo, em sua grande maioria, homens, brancos, heterossexuais, nascidos/criados na porção Sul-Sudeste do país ou oriundos da oligarquias feudais do Nordeste.
Fonte: http://www.rotasedestinos.com.br/imagens/destinos/d8b5b026efdfa9528402a852d664c77b.jpg
Não podemos nunca nos esquecer de que, se há gramática padrão, há também gramática não-padrão. Enquanto o português não tiver uma só gramática para a escrita e para a oralidade, teremos que ter em mente as duas gramáticas com as quais já convivemos (para não dizer as dezenas delas)!
Espero que nosso semestre seja bem proveitoso!
Abraços!
Professor Marcelo Silveira

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