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Acentuação Cristiane Rodrigues de Oliveira Introdução Certamente, ao redigir um texto, você já deve ter questionado se determinada palavra levaria acento ou não, correto? É muito provável também que, inúmeras vezes, tenha lhe ocorrido outra dúvida: há crase ou não há crase? Nesta aula, abordaremos as regras básicas de acentuação, assim como as particularida- des do uso da crase. Objetivos de aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • compreender as regras básicas de acentuação; • entender as particularidades do uso da crase. Bons estudos! 1 Os principais sinais de acentuação Na escrita, para reproduzirmos as palavras, empregamos sinais gráficos, aos quais deno- minamos letras do alfabeto. No entanto, além das letras, também nos valemos dos sinais auxi- liares, que têm a função de indicar a pronúncia correta das palavras. Estes sinais são chamados, tecnicamente, de notações lexicais. Neles estão inclusos os acentos, que podem ser: agudo ( ´ ); grave ( ` ); e circunflexo ( ^ ) (CUNHA, CINTRA, 2001). Figura 1 – A acentuação é um recurso para a correta pronúncia das palavras. Fonte: Kellie L. Folkerts/Shuttersctock.com EXEMPLO Nas palavras “sábia”, “sabia e “sabiá”, caso não houvesse a correta acentuação, não seria possível distinguir o significado entre elas, uma vez que as suas grafias são idênti- cas. Perceba que a acentuação é um recurso importantíssimo para a produção textual. O acento agudo é empregado para marcar: • as vogais tônicas fechadas (i e u). Ex.: “açúcar”; “baú”; “lúgubre”; • as vogais tônicas abertas e semiabertas (a, e, o). Ex.: “amável”; “pó”; “exército”. Por sua vez, o acento grave é usado para indicar a crase, marca que indica a fusão entre a preposição “a” com a forma feminina do artigo (a, as) e com os pronomes demonstrativos “a(s)”, “aquele(s)”, “aquela(s)”, “aquilo”. Ex.: “à”; “às”; “àquilo”. Por fim, temos o acento circunflexo que é utilizado para indicar o som fechado das vogais tônicas (a, e, o). Ex.: “pêsames”; “capô”; “ânimo” (CUNHA, CINTRA, 2001). FIQUE ATENTO! ! As palavras são acentuadas de acordo com a sua tonicidade. Entenda por tonici- dade o ato de pronunciarmos uma sílaba com maior ou menor intensidade vocal. Quando dizemos que a sílaba é tônica, estamos pronunciando-a com maior intensi- dade. Nas palavras, há somente uma sílaba tônica, as demais são átonas (pronun- ciadas com menor intensidade). Dominar as regras de acentuação em língua portuguesa é, entre outros, um recurso para escrever corretamente. Agora, que já sabemos o porquê da importância de acentuar as palavras e já vimos quais são os sinais gráficos que atuam para indicar a pronúncia correta das palavras, vamos verificar quais regras devem ser aplicadas para a acentuação. 2 Regras de acentuação As palavras são acentuadas de acordo com a posição da sílaba tônica. Dizemos que são oxítonas as palavras cuja sílaba tônica recai na primeira (contado da direita para a esquerda); paroxítonas, na segunda; e quando a sílaba tônica é a terceira, classificamos como proparoxítona. A seguir, conheceremos as especificidades de cada uma das classificações. 2.1 Acentuação das oxítonas As palavras oxítonas são acentuadas quando: • terminam em “a” aberto, “e” e “o” semiabertos, seguidos ou não de ‘s’. Ex.: “cajá”; “pés”; “jacaré”; • terminam em “e” e “o” semifechados, seguidos ou não de “s”. Ex.: “lês” e “avô”; • terminam em “em/ens”. Ex.: “alguém” e “vinténs”. • são monossílabos tônicos. Ex.; “lá”; “pé”; “pó”. Com a implementação do atual Acordo Ortográfico, não houve qualquer modificação nas regras de acentuação das oxítonas. Vale lembrar que as discussões sobre as tentativas de unifi- cação da ortografia estão em longos debates desde 1943, entre Portugal e os países falantes da língua portuguesa, com exceção do Brasil. Em 1971, acentos circunflexos diferenciais foram abo- lidos, mantendo-se apenas o da forma verbal “pôde”. Em 1990, todos os países falantes da língua portuguesa conseguiram promulgar a unificação, no entanto, no Brasil, ele foi assinado somente em 2008, por meio de decreto (PROENÇA FILHO, 2008; PATROCÍNIO, 2011). FIQUE ATENTO! Nesta regra, incluem-se as formas verbais em que, depois de “a”, “e”, “o”, troca-se o “r”, “s”, e “z” verbais pelo “l” dos pronomes “lo”, “la”, “los”, “las”. Veja: “dá-lo”; “fazê-lo”; trazê-lo. 2.2 Acentuação das proparoxítonas Quanto à acentuação das proparoxítonas, a regra é única: todas são acentuadas. Por exem- plo: “monossílabo”; “término”; “fúnebre”; “lânguido” (PATROCÍNIO, 2011). SAIBA MAIS! Para aprofundar seu conhecimento sobre a acentuação, leia “Uso da acentuação gráfica”, de Luiz Agostinho Cadore. No livro, o autor trata do tema de maneira prática, didática e bastante simplificada. Acentuam-se as oxítonas monossílabos tônicos e as terminadas em: Acentuam-se todas as proparoxítonas a/as (Sabará/sabiás) (príncipe) e/es (Você/vocês) (patético) em/ens (Vintém/vinténs) (câmara) Quadro 1 – Oxítonas e proparoxítonas Fonte: Elaborado pela autora, 2016. Agora que já conhecemos as particularidades das regras de acentuação das oxítonas e das proparoxítonas, vamos entender as regras de acentuação para as palavras paroxítonas. 2.3 A acentuação das paroxítonas As paroxítonas são as palavras em maior quantidade na língua portuguesa, no entanto, nem todas são acentuadas. A regra é acentuar as paroxítonas terminadas em: “l”, como em “frágil”; “i(s)”, como em “oásis”; “n”, como em “hífen”; “u(s)”, como “bônus”; “r”, como “pôster”; “x”, como em “fênix”; “ps”, como em “fórceps”; “ão(s)”, como “órfão” e “órfãos”; “ã(s)”, como em “órfã”; “um/uns”, como em “fórum”; e “ditongo + s”, como em “fósseis” (PATROCÍNIO, 2011). Veja que a acentuação gráfica tem por objetivo apresentar uma orientação ao leitor quanto à pro- núncia correta da palavra e, também, quanto ao seu significado, em alguns casos (PATROCÍNIO, 2011). A partir do atual Acordo Ortográfico, ocorreram algumas mudanças na acentuação de pala- vras paroxítonas. Desde então, aboliram-se os acentos: • das paroxítonas terminadas em ditongo aberto “éi” e “ói”. Ex.: “ideia”, “assembleia”; “heroico”; “paranoico”; • no “i” e no “u” tônicos quando precedidos de ditongos. Ex.: “feiura” e “baiuca”; • na distinção entre paroxítonas que possuem, respectivamente, vogal tônica aberta ou fechada, ou que sejam homógrafas de palavras átonas (que possuem grafia idênti- cas). Ex.: “para” (verbo) e “para” (preposição); “pela” (verbo) e “pela” (combinação com preposição e artigo); “pelo” (substantivo) e “pelo” (combinação de preposição e artigo); “pera” (substantivo) e “pera” (forma arcaica da preposição “por”); “polo(s)” (substantivo) e “polo(s)” (combinação antiga e popular de “por e lo(s)); • das paroxítonas terminadas em “oo” e “ee”. Ex.: “creem”, “deem”, “leem” e “veem”. Aten- ção: as formas verbais “crê”, “dê”, “lê” e “vê” continuam acentuadas. FIQUE ATENTO! Cedilha, apóstrofo e til não são acentos, são sinais gráficos. Os sinais gráficos mar- cam: a nasalização, como em “coração”; o som, como em “açúcar”; e a “aglutinação”, como se vê em “d’Os Lusíadas”. Estes sinais podem ou não incidir em uma sílaba tônica, mas, tecnicamente, não se tratam de acentos que marcam a tonicidade das sílabas (BECHARA, 2015). Foi mantido o acento diferencial usado para distinguir as formas verbais “pode” (presente do indicativo) e “pôde” (pretérito perfeito do indicativo) (FARACO, 2012). EXEMPLO Quando redigimos “ela pode sair mais cedo”, querendo indicar que a ação verbal está no passado, e não colocamos o acento diferencial, haverá um problema com a transmissão da mensagem, uma vez que se entende que o verbo está no presente. Regra das paroxítonas l (ágil) r (caráter) ã(s) (ímã) i(s) (táxi) x (-látex) um/uns (álbum/álbuns) n (pólen) os (bíceps) ditongosorais seguidos ou não de “s” (cárie) u(s) (vírus) ão(s) (órgão) Quadro 2 – Acentuação das paroxítonas Fonte: Elaborado pela autora, 2016. Agora, que já conhecemos as regras de acentuação das palavras, vamos entender como se faz a indicação da crase. 3 A crase e as suas particularidades Como vimos, a crase indica a fusão entre duas letras idênticas, por exemplo, a que ocorre entre “a” (preposição) e “a/as” (artigo feminino) (PATROCÍNIO, 2011). A crase, portanto, não é sinal gráfico e não é acento, no entanto, sua indicação é marcada com o acento grave (à). Marcamos a crase, obrigatoriamente, quando temos preposição + artigo (a/as) diante de palavra feminina. Veja: “O rio é paralelo à (a + a) estrada”. Podemos fazer um método prático para saber se há ocorrência de crase ou não: trocamos a palavra feminina por uma masculina equiva- lente. Se aparecer antes da masculina a contração “ao”, coloca-se crase antes da feminina. Veja: “Esse produto é prejudicial à saúde/Esse produto é prejudicial ao corpo”. Também temos obrigatoriedade do uso da crase antes de locuções femininas: adverbiais (à noite, às escuras, à vontade, às claras, à vista); prepositivas (às pressas, às custas de, à altura de, à frente de, à beira de); e conjuntivas (à medida que, à proporção que) (PATROCÍNIO, 2011). A crase está proibida: • antes de verbos (não há crase em “ele se pôs a falar”); • antes de pronomes de tratamento (não há crase em “Trouxe isso a Vossa Senhoria); • antes de pronomes demonstrativos, quando o “a” está no singular (preposição) + e a palavra seguinte, no plural (não há crase em “Vamos a festas no fim de semana”); • antes de pronomes pessoais (não há crase em “solicitei a ela que trouxesse as provas”, “Você não sairá a esta hora da noite” e “Agradecerei a quem me trouxer flores”); • antes de substantivos masculinos (não há crase em “Ele veio a pé” e “Não vende- mos a prazo”); • antes do artigo indefinido “uma” (não há crase em “Joaquim foi a uma festa”); • diante de substantivos no plural (não há crase em “A nota máxima foi dada a alunos que se destacaram”); • antes de números cardinais (não há crase em “Vamos sair daqui a 30 minutos”); • antes de palavras repetidas (não há crase em “caso a caso”, gota a gota, frente a frente). “Fui a, volto da, crase há; fui a, volto de, crase por quê?” Figura 4 – Dica prática para verificar a existência da crase. Fonte: Vinne/Shutterstock.com Há, ainda, um caso particular de uso da crase. Veja: não usamos crase antes de nome de cidade sem especificador. Em “Viajou a Teresina”, não há adjetivo que especifique a cidade, nem a palavra cidade implícita, logo não há a ocorrência de crase. Devemos, ainda, nos atentar quanto ao uso da crase diante das palavras “casa” e “terra”. Veja: se a palavra “casa” estiver empregada no sentido de “lar”, não há a ocorrência de crase (“Ele foi a casa”). Agora, quando a palavra “casa” vem acompanhada de um especificador, um adjetivo, deverá haver o emprego da crase (“Fui à casa de meus pais”). Em relação à palavra “terra”, quando ela estiver empregada no sentido de “terra firme”, não sendo especificada por um adjetivo, não haverá a ocorrência da crase (“Nós marinheiros voltamos a terra”). Mas se a palavra “terra” estiver especificada ocorrerá a crase (“Voltamos à terra de meus antepassados”) (BECHARA, 2015). Além disso, a crase poderá ser facultativa: • antes de pronomes possessivos. Ex.: “Não dei atenção às suas palavras/Não dei atenção as suas palavras”; • antes de nome de mulher. Ex.: “Visitei à Maria/Visitei a Maria”. Mas fique atento: em caso de nomes de pessoas famosas, não usamos o artigo definido (por exemplo: “Marco Antônio foi o amor de Cleópatra”), logo não haverá ocorrência de crase; • depois da palavra até (“A trilha da mata vai até à cachoeira/A trilha da mata vai até a cachoeira”). SAIBA MAIS! Deve-se tomar cuidado em relação ao uso da crase, uma vez que seu emprego inadequado gera graves equívocos. Leia a matéria publicada na revista EXAME, que traz uma série de dicas úteis para o emprego correto da crase. Acesse: <exame.abril.com.br/carreira/noticias/como-usar-a-crase-corretamente>. Veja que as regras de acentuação gráfica das palavras são de fácil entendimento. Porém somente a prática da leitura e da escrita serão capazes de fundamentar o conhecimento de como e quando devemos acentuar as palavras. Fechamento Concluímos a aula relativa à acentuação e as particularidades da crase. Nesta aula, você teve a oportunidade de: • conhecer a importância da acentuação correta das palavras; • entender como se acentuam as palavras oxítonas, proparoxítonas e paroxítonas; • perceber em que casos foram abolidos os acentos diferenciais, depois da implementa- ção da nova ortografia; • verificar o que é a crase; • reconhecer quando devemos ou não fazer o uso do sinal gráfico indicativo da crase. Referências BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 38. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015. CUNHA, Celso; CINTRA, Luis F. Lindley. Nova gramatica do português Contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. FARACO, Carlos Alberto. Novo Acordo Ortográfico. São Paulo: Parábola Editorial, 2012. PATROCÍNIO, Mauro Ferreira do. Aprender e praticar gramática. São Paulo: FTD, 2011. PROENÇA FILHO, Domício. Quem tem medo do novo acordo ortográfico? ABL, 2008. Disponível em: <www.academia.org.br/artigos/quem-tem-medo-do-novo-acordo-ortografico>. Acesso em: 23 set. 2016. ZUINI, Priscila. Como usar a crase corretamente? EXAME.com, 2012. Disponível em: <http://exame.abril. com.br/carreira/noticias/como-usar-a-crase-corretamente>. Acesso em: 12 set. 2016.
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