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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE-FURG Instituto de Letras e (ILA) Fundamentos Sócio-filosóficos da Arte e da Educação Profa. Marlen de Martino SHAKESPEARE, William. Rei Lear. Tradução de Millôr Fernandes,Porto Alegre, Coleção L&PM POCKET: v.39, 2013. Por Yasmin Costa Corrêa 04 de julho de 2019 Graduanda de Artes Visuais Universidade Federal do Rio Grande Rei Lear é o monarca da Grã-Bretanha, e como todo soberano espera integral devoção de seus súditos, em especial de suas três filhas Goneril, Regana e Cordélia. A idade avançada unida ao egocentrismo monárquico fez com que seu discernimento a respeito da falsidade e sinceridade humana seja prejudicado, sendo assim, sua visão sobre quem era realmente verdadeiro em suas ações e palavras foi distorcida. Devido ao avanço de sua idade, Lear decide repartir seu reino entre suas filhas. Para isso ele instiga uma competição entre elas, pois, aquela que mais expressasse amor pelo pai em suas palavras mereceria uma parcela maior do reino, sendo assim o tamanho da herança seria calculado pelo o quanto cada uma amasse se pai, segundo o entendimento do próprio. As duas filhas mais velhas, Goneril e Regana se mostram hábeis aduladoras, e com palavras lisonjeiras convencem Lear de seu amor incondicional, ambas juram amar seu pai acima de qualquer coisa. As línguas aduladoras de Goneril e Regana lhes garantem sua herança, as duas já eram casadas com os duques da Albânia e da Cornualha. Já Cordélia, a mais jovem que até então era a favorita do rei, não consegue competir com as irmãs, porque ao contrário delas é incapaz de falar algo apenas para agradar a seu pai, sua sinceridade se torna um golpe no ego de um rei acostumado a bajulações. Quando Lear pergunta se Cordélia tem algo a dizer que a faça merecer um terço mais opulento que o de suas irmãs, ela apenas responde “nada”, ele responde que “nada virá do nada”, em outras palavras, ela seria deserdada se não dissesse exatamente o que o rei desejava ouvir. E mesmo tendo a chance de garantir sua parte do reino, Cordélia se mantém fiel aos seus princípios, ainda que isso contrarie as expectativas de seu pai ela dá a ele a resposta mais sincera que consegue “Infeliz de mim que não consigo trazer meu coração até minha boca. Amo vossa majestade como é meu dever, nem mais nem menos.” (p.10). O que Cordélia diz é que seu amor não pode ser medido por palavras e que ela ama o rei como uma filha deve amar seu pai, diferente de suas irmãs que disseram que amavam unicamente ao pai ela fala que quando se casasse também amaria seu marido. Esse comentário deixa o rei enfurecido,ele não aceita que sua filha não o ame tanto quanto as outras duas filhas disseram amar. Lear deserda Cordélia e a renega como filha, o conde de Kent também é expulso ao tentar intervir a favor de Cordélia. Kent era devotado e leal ao rei, e por saber que Lear cometeria um mau passo ao colocar sua própria tutela nas mãos de suas filhas ambiciosas não pode se calar, além disso, Kent sabia que Cordélia fora a mais sincera das três porque falou exatamente o que tinha no coração. Cordélia tinha dois pretendentes a sua mão, o Conde de Borgonha que desistiu do compromisso assim que Cordélia foi deserdada, e o rei da França que se impressiona com a com a postura franca de Cordélia e a leva consigo como esposa mesmo sem dote nenhum. Borgonha vê no casamento a oportunidade de aumentar seu patrimônio, e assim como todos, tem a ambição de ficar com uma parte da Bretanha para si, por isso, quando Cordélia é deserdada seu interesse por ela acaba. O rei da França por outro lado já tem seu próprio reino, e seu único interesse nessa união é a paz entre os dois reinos. Lear divide seu reino entre suas filhas mais velhas e seus genros, ele também decide que ficar´apenas com um séquito de cem guardas e passará um mês com cada filha. Em paralelo a trama de Lear e de suas filhas se desenrola a história do Conde de Gloucester, que assim como o Rei Lear, é ludibriado pelas palavras de um de seus filhos. Apesar de amar seus filhos igualmente, o herdeiro era o filho legítimo Edgar, Edmundo filho ilegítimo era ganancioso, com cobiça do irmão ele trama para que Gloucester pense que Edgar planeja matá-lo para ficar com seus bens. Edgar consegue fugir se esconder em uma cabana e se disfarça de Tom, um mendigo louco, Gloucester fica decepcionado com seu filho e o deserda fazendo de Edmundo seu herdeiro legítimo, mas para Edmundo a fortuna do Conde Gloucester não é o suficiente, ele começa então a conspirar com Goneril e Regana com intuito de chegar ao trono da Bretanha. Kent também se disfarça para continuar servindo Lear. O rei que estava na casa de sua filha Goneril, começa a perceber que não é mais respeitado e obedecido como antes, tanto por sua filha quanto pelos serviçais de Goneril que destratam Lear a amando de sua senhora. Para Lear que era habituado a ser venerado, a nova realidade na qual ele é apenas um velho monarca desapossado de seu poder se mostra chocante, mas a realidade mais dura para ele é perceber que as filhas que ele julgava serem as que mais o amavam mostram-se frias e insensíveis com o pai já tão idoso. Decepcionado com Goneril, Lear decide procurar abrigo na casa de sua filha Regana, na esperança de que Regana ficaria contra sua irmã, e o apoiaria incondicionalmente, acontece que, Goneril havia escrito a sua irmã e a instruído para que não recebesse seu pai. Regana e o Conde da Cornualha se hospedam na casa do Conde de Gloucester para não receber Lear. Em meio a uma tempestade terrível Lear se vê desabrigado na companhia de kent e do bobo. A tempestade representa a confusão mental de alguns dos personagens da história, pois , é durante ela que Lear se mostra mais atormentado com os atos de suas filhas e com seus próprios atos, quando recorda que renegou Cordélia apenas por sua sinceridade. Edgar disfarçado Tom também está fora de si durante a tormenta, os caminhos dos personagens se cruzam em uma choupana, onde ambos se mostram confusos. Gloucester não reconhece Edgar ao vê-lo. Ao retornar a seu castelo Gloucester descobre a última traição de Edmundo, ele havia contado a Regana, Cornualha e Goneril que seu pai estava ajudando a Lear, e como punição arrancam-lhe os olhos, ele é ajudado por seu filho Edgar, e acaba morrendo quando o mesmo se revela a ele. Em Dover, eles acabam encontrando o exército francês liderado por Cordélia, em um esforço para salvar a dignidade do seu pai. Edmundo aparentemente se envolve com as filhas mais velhas do rei, Goneril e Regana, cujo marido, o Duque de Albânia, é cada vez mais simpático à causa de Lear. Ambos conspiram para matar o Duque. Gloucester está cego, como jáfoi dito. A sua infelicidade é tamanha que o suicídio parece ser o seu destino, mas Edgar o salva. Enquanto isso, as tropas inglesas, lideradas por Edmundo, derrotam o exército francês liderado por Cordélia. Lear e Cordélia são capturados. Na batalha, Edgar duela e mata Edmundo. As duas irmãs (mais velhas) lutam entre elas e se aniquilam. E Cordélia é condenada à morte. Albânia, Edgar e o idoso Kent são deixados para cuidar do reino sob uma nuvem de penumbras e arrependimentos. Não é apenas a perda do poder pátrio sobre os filhos, mas, o fato de se sentir obsoleto, Greenblatt (2011) faz um longo levantamento de diferentes representações da aposentadoria utilizadas por por Shakespeare em seus personagens e especula sobre qual seria a visão de velhice e recolhimento com a qual Shakespeare compartilhava. Referências SHAKESPEARE, William. Rei Lear. Tradução de Millôr Fernandes,Porto Alegre, Coleção L&PM POCKET: v.39, 2013. GREENBLATT, Stephen. Como Shakespeare se tornou Shakespeare. Tradução de Donaldson M. Garschagen e Renata Guerra. São Paulo, Companhia das Letras, 2011.
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