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O CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DIFUSO ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE O SISTEMA NORTE-AMERICANO E O BRASILEIRO

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” 
FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS 
 
HELEN ROSE CARLOS RODRIGUES GUIMARÃES 
 
 
 
 
 
 
 
 
O CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DIFUSO: ANÁLISE 
COMPARATIVA ENTRE O SISTEMA NORTE-AMERICANO E O BRASILEIRO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FRANCA 
2018 
 
 
HELEN ROSE CARLOS RODRIGUES GUIMARÃES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DIFUSO: ANÁLISE 
COMPARATIVA ENTRE O SISTEMA NORTE-AMERICANO E O BRASILEIRO 
 
 
 
Artigo científico apresentado como 
requisito para a conclusão da disciplina 
“As organizações internacionais sociais 
em face da globalização econômica: 
estudo sobre a evolução da cidadania 
social no âmbito internacional”; vinculada 
ao programa de pós-graduação em Direito 
da Faculdade de Ciências Humanas e 
Sociais - Universidade Estadual Paulista 
“Júlio de Mesquita Filho”. 
 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
O sistema de controle de constitucionalidade brasileiro é um sistema 
híbrido ou eclético, ou seja, se constituiu sob a influência de dois sistemas 
estrangeiros. O modelo norte-americano influenciou o controle de 
constitucionalidade difuso, exercido pelo Poder Judiciário como um todo, 
enquanto o modelo europeu (austríaco) serviu de inspiração para o controle de 
constitucionalidade concentrado, exercido pela jurisdição de uma corte 
constitucional. 
Sendo uma estrutura eclética, que combinou duas influências em um 
sistema único, é de singular importância o estudo de tais ingerências. Primeiro, 
em razão da necessidade de contextualização. A origem de tais sistemas se dá 
em contexto diverso à sua implantação no ordenamento jurídico de um outro 
país. Ademais, não parece sensato supor que um modelo produz resultados 
iguais para onde quer que seja importado: há um contexto histórico e cultural 
nos quais estão/são inseridos. 
Assim, é justificável – e desejável – que se investigue o contexto de 
origem e as peculiaridades de cada sistema, bem como as circunstâncias de 
sua implantação em outros locais. Neste exercício, evita-se que equívocos 
possam surgir da constatação acrítica da influência estrangeira em outros 
ordenamentos jurídicos. 
Este estudo propõe uma investigação jurídica-comparativa (GUSTIN, 
2010, p. 28), que possibilita a identificação de similitudes e diferenças de 
normas e instituições em dois ou mais sistemas jurídicos. Por meio de uma 
análise micro-comparada (VADI, 2015, p. 20), entre a origem do controle de 
constitucionalidade norte-americano e controle de constitucionalidade difuso 
brasileiro. A terminologia micro-comparação esclarece que será analisada 
apenas uma parte de dois ordenamentos jurídicos distintos (o controle de 
constitucionalidade). Tal proposta direciona para um foco específico dentro de 
dois sistemas jurídicos, sem a intenção de estuda-los como um todo, apenas 
investigando sobre o controle de constitucionalidade difuso. 
Na lição de Ovídio (1984, p. 179): 
Através da análise e comparação de ordenamentos jurídicos 
distintos, será possível não só encontrar os seus pontos comuns 
e evidenciar as suas particularidades como, também, captar as 
características básicas dos diversos países, o espírito do seu 
povo, as suas instituições, o seu projeto histórico, etc. 
Como o modelo norte-americano é puramente difuso, a investigação 
destacou o controle difuso do modelo brasileiro a fim de realizar a comparação. 
Importante esclarecer que este recorte é possível, haja vista que as duas 
formas de controle de constitucionalidade no ordenamento jurídico brasileiro 
têm influências diversas, permitindo o estudo separado de cada uma delas. Por 
outro lado, não faria sentido analisar comparativamente o paradigma e o 
paragonado, se este último contemplasse aspectos estranhos ao exemplo de 
inspiração. 
Opta-se por deixar a investigação da influência europeia (em sede de 
controle abstrato de constitucionalidade) para outro momento, dada a natureza 
deste trabalho, que requer certa objetividade na condução da pesquisa dado o 
número de páginas reduzido. 
Por meio de uma análise comparada, este artigo busca demonstrar um 
estudo qualitativo sobre o surgimento do controle de constitucionalidade norte-
americano e o controle de constitucionalidade abstrato brasileiro. O método 
comparativo igualmente permite identificar convergências e distinções, 
contribuindo para uma melhor compreensão sobre o sistema de controle de 
constitucionalidade em ambos países. 
2 A CONSTRUÇÃO DO PRINCÍPIO DE SUPREMACIA CONSTITUCIONAL E 
DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 
 Tratar sobre controle de constitucionalidade pressupõe a existência de 
uma Constituição escrita e de um princípio de supremacia da Constituição. Nos 
Estados Unidos da América, o campo para o assentamento da ideia de 
supremacia constitucional se deu antes mesmo da promulgação de uma 
Constituição escrita. Estabelece Cappelletti: 
[...] a maior parte das Colônias foi regida por “cartas o estatutos 
de la Corona”. Estas “Cartas” podem ser consideradas como as 
primeiras Constituições das Colônias, sejam porque eram 
vinculatórias para a legislação colonial, seja porque regulavam 
as estruturas jurídicas fundamentais das próprias Colônias. 
Então, estas Constituições amiúde expressamente dispunham 
que as Colônias podiam, certamente, aprovar suas próprias 
leis, mas sob a condição de que estas leis fossem “razoáveis” 
e, como quer que seja, “não contrárias s leis do Reino da 
Inglaterra” e, por conseguinte, evidentemente, não 
contrárias à vontade suprema do Parlamento inglês.” (1984, 
ps. 60-1, grifo nosso). 
A observância da compatibilidade entre os estatutos coloniais e as leis 
do reino da Inglaterra era fiscalizada pelos juízes das colônias, conforme 
determinação do Conselho Privado do Rei. Esta submissão das cartas 
coloniais às leis do reino contribuiu para a conformação de uma supremacia da 
lei positiva. Pode-se compreender, portanto, que o princípio da supremacia do 
parlamento da Inglaterra deu azo à compreensão posterior de supremacia da 
Constituição. 
Aliás, no início do século XVII, a Inglaterra se encontrou sobre a 
influência do pensamento de Sir Edward Coke, jurista inglês, responsável pela 
difusão da ideia de autoridade do juiz como árbitro entre o rei e a nação 
(CAPPELLETTI, 1984, p. 60). A doutrina de Coke foi tida como uma luta contra 
o absolutismo do rei e do parlamento, de acordo com seu pensamento, o 
common law é um direito superior, isto é, quando as leis desrespeitarem um 
direito ou uma razão comum, serão nulas e destituídas de eficácia (SARLET; 
MARINONI; MITIDIERO, 2012, p. 709). Porém foi abandonada na Inglaterra 
com a Revolução Gloriosa de 1688, mas não deixou de influenciar as colônias 
inglesas na América do Norte. A ideia de um juiz como árbitro e uma certa 
limitação aos atos do parlamento estava, de certa forma, difundida. 
Por ocasião da independência, as cartas e estatutos que regiam as 
colônias foram substituídas por leis fundamentais. As colônias se constituíram 
Estados independentes, no entanto, a necessidade de fortalecer a união para 
enfrentar a Inglaterra, deu origem ao Articles of Confederation, formando uma 
confederação a partir dos estados que se originaram das antigas colônias. 
Posteriormente, a convocação da Convenção da Filadélfia aprovaria a primeira 
Constituição Americana e, por força do pacto constituinte de 1787, foi criada a 
primeira República Federativa e Presidencialista (SARLET; MARINONI; 
MITIDIERO, 2012, p. 44) – estabelecendo uma unidade nacional das antigas 
colônias inglesas (SOARES, 1998, p. 139). 
Importantedestacar, nesta conjuntura, que por ingerência do modelo, o 
ordenamento jurídico nos Estados Unidos foi baseado no common law: 
The most significant feature of the common law, past and 
present, and the essential element in its historic growth, the fact 
that it is preeminently a system built up by gradual accreation of 
special instances. With the common law, unlike the civil law 
and its Roman law precursor, the formulation of general 
principles has not preceded decision. In its orign, it is the law 
of the practitioner rather than the philosopher. Decision had 
drawn the inspiration and its strength from the very facts which 
frame the issues for decision. Once made, the decision 
controls the future judgments of courts in like or 
analogous cases. General rules, underlying principles, and 
finally legal doctrine, have successively emerged only as 
the precedents, accumulates through the centuries, have 
been seen to follow a pattern, characteristically not without 
distortion and occasional broken threads, and seldom 
conforming consistently to principle. (STONE, 1936, p. 6, 
grifo nosso). 
Conforme estabelece Stone, a construção da lei no sistema common law 
se dá, portanto, por meio de precedentes (stare decisis), ou seja, a partir das 
decisões da Suprema Corte que passam a regular os demais órgãos do poder 
judiciário (BINENBOJM, 2014, p. 34). 
A existência de uma Constituição escrita e a resolução do famoso caso 
Marbury x Madison1 consagraram, finalmente, o princípio da supremacia da 
Constituição. A decisão do caso constituiu o primeiro marco da jurisdição 
constitucional, como assinala Binenbojm: 
 [...] o célebre aresto de John Marshall, proferido pela Suprema 
Corte no caso William Marbury vs. James Madinson, em 1803, 
que entraria para a história como o marco primeiro da 
jurisdição constitucional, não foi um gesto de improvisação, 
mas o resultado de um longo amadurecimento doutrinário e 
jurisprudencial. A partir dele, entretanto, o controle judicial da 
constitucionalidade das leis de incorporou definitivamente à 
experiência constitucional dos Estados Unidos. (2014, p. 29). 
 
1 Sobre o desdobramento do caso Marbury vs. Madison vide BINENBOJM, Gustavo. A nova 
jurisdição constitucional. Legitimidade democrática e instrumentos de realização. 4ª ed. 
Revista, ampliada e atualizada, Rio de Janeiro : Renovar, 2014, ps. 29-31. 
Em breve síntese, ao julgar uma preliminar de incompetência da Corte 
Suprema, o juiz John Marshall definiu que “as competências da Suprema Corte 
estavam taxativamente elencadas na Constituição, sendo insuscetíveis de 
ampliação por lei” (BINENBOJM, 2014, p. 31). Do mesmo modo, Marshall 
estabeleceu a competência do poder judiciário para rever os atos do executivo 
e do legislativo, à luz da Constituição (BARROSO, 2012, p. 31). Esta 
perspectiva edificou a ideia de Constituição como limitadora dos atos de 
governo e da legislatura, ou seja, não poderiam ser tais atos válidos, se 
incompatíveis com texto constitucional. 
Por meio de uma construção argumentativa, a Suprema Corte norte-
americana construiu a noção de judicial review e da supremacia da 
Constituição. Neste aspecto, convém destacar o que afirmou Favoreu, ao 
estudar as cortes constitucionais (2004, p. 20): “Nos Estados Unidos a 
Constituição é sagrada”. 
A divergência entre as bases do ordenamento jurídico norte-americano 
(common law) e brasileiro (civil law) é fundamental para entender a origem da 
supremacia constitucional e, por conseguinte, a revisão judicial em ambos 
países. Como visto, a construção do controle de constitucionalidade norte-
americano se deu por meio da jurisprudência, ou seja, se deu sem previsão 
normativa constitucional, mas por meio de precedente – que é a fonte precípua 
do sistema do common law (influência anglo-saxônica). 
No Brasil, a colonização portuguesa trouxe a tradição milenar do direito 
romano-germânico, fundado no civil law. Wolkmer ensina que: 
Houve a desconsideração de práticas jurídicas mais antigas de 
um direito comunitário, nativo e consuetudinário, impondo uma 
cultura legal proveniente da Europa e da Coroa 
Portuguesa. Esta estrutura jurídica formal, fundada nas 
Ordenações portuguesas visava “garantir que os impostos e 
os direitos aduaneiros fossem pagos, e na formação de um 
cruel (...) código penal para se prevenir de ameaças diretas ao 
poder do Estado.” [...] um código civil estatal se daria somente 
nas primeiras duas décadas do século XX. Entretanto, 
refletindo bem a preocupação predominava no bojo de um 
Estado agrário e escravocrata, “(...) somente o Código Penal e 
o Código de Processo Penal foram realmente concluídos no 
Império.”. Ora, no período da colonização, o Direito Estatal 
predominante foi basicamente o Direito oficial da autoridade 
instituída, que, com as devidas adaptações era extraído e 
elaborado a partir da legislação portuguesa. (2001, ps. 85-6, 
grifo nosso). 
 A codificação do direito, portanto, se constituiu na estrutura jurídica 
adotada no Brasil, assentando como fonte do direito o texto da lei. Assim 
diferentemente do modelo norte-americano, o sistema legal foi precipuamente 
fundado no civil law – não em precedentes. 
 Em 1824, ainda no Império, foi promulgada a primeira Constituição 
brasileira. Nascida “de cima para baixo”, isto é, imposta pelo rei ao “povo” 
(FAUSTO, 1997, p. 149), seguia uma influência francesa e não previa nenhum 
controle de constitucionalidade, estabelecendo ao poder legislativo a função de 
zelar pelo texto constitucional. Assim como nas colônias inglesas, permanecia 
a prevalência do princípio da supremacia do parlamento (BINENBOJM, 2014, 
p. 121). 
 Apenas em 1891, com a promulgação da Constituição da República, é 
que se implementou o controle de constitucionalidade: 
[...] o controle de constitucionalidade foi introduzido no Brasil 
com a República, tendo recebido previsão expressa na 
Constituição de 1981 (arts. 50 e 60). Da dicção dos dispositivos 
relevantes extraía-se a competência das justiças da União e 
dos Estados para pronunciarem-se acerca da invalidade das 
leis em face da Constituição. O modelo adotado foi o 
americano, sendo a fiscalização exercida de modo incidental e 
difuso. Com alterações de pequena monta, a fórmula 
permaneceu substancialmente a mesma ao longo de toda a 
República, chegando à Constituição de 1988. (BARROSO, 
2012, p. 85) 
A forma difusa de controle de constitucionalidade, como primeiro modelo 
adotado no Brasil, reflete a inspiração no modelo norte-americano na primeira 
Constituição da República. Como lecionam Sarlet, Marinoni e Mitidiero: 
Foi a grande influência do pensamento de Rui Barbosa sobre a 
Constituição de 1891; essa foi fortemente carregada com as 
tintas do direito estadunidense. Assim, não foi por acaso que 
o controle de constitucionalidade foi com ela sedimentado, já 
que a sua semente foi lançada na “Constituição Provisória da 
República”, de 1890 – Dec. 510, de 22.06.1890, arts. 58, §1º e 
59. (2012, p. 741, grifo nosso). 
 A supremacia da Constituição foi prevista no seu próprio texto, por 
ocasião das alíneas a) e b) do §1º no artigo 59 da Constituição (BRASIL, 
1891). Pode-se entender, desta forma, que a construção da ideia de controle 
de constitucionalidade e, consequentemente, da supremacia do texto 
constitucional no ordenamento jurídico brasileiro, não decorreu de uma 
fundamentação argumentativa, mas de previsão normativa constitucional. 
Cabe aqui o registro de uma outra importante diferença entre as 
constituições brasileiras e a americana. A Constituição Americana, em vigor 
desde 1789, possui 7 (sete) artigos e foi acrescida de 27 (vinte e sete) 
emendas. É classificada, portanto, como uma constituiçãosintética, como 
ensinam Souza Neto e Sarmento (2012, p. 37). Os autores explicam que a 
aquela Magna Carta se limitou a definir princípios gerais que orientam a 
organização do Estado e estabelecer alguns direitos individuais – característica 
tipicamente de modelos constitucionais liberais. 
Já no Brasil, tivemos desde 1824 a promulgação de muitas 
constituições, permanecendo a atual de 1988. A influência do civil law fez com 
que as constituições minuciassem e fixassem detalhadamente os institutos 
jurídicos constitucionalizados. Atualmente, sem fugir desta tradição, a 
Constituição de 1988 é tida como uma das mais extensas do mundo na lição 
daqueles autores, sendo classificada como analítica e prolixa (SOUZA NETO; 
SARMENTO, 2012, p. 37) 
Para facilitar a compreensão sobre as condições em que se 
implementou o controle de constitucionalidade difuso em ambos países, se 
apresenta o seguinte quadro: 
Modelo de Controle de 
Constitucionalidade Norte-Americano 
Modelo de Controle de 
Constitucionalidade Abstrato Brasileiro 
Sistema Common Law Sistema Civil Law 
Justificação do controle de 
constitucionalidade por meio de um 
precedente 
Justificação do controle de 
constitucionalidade por vontade do 
Constituinte 
Constituição escrita sintética Constituição escrita analítica 
Quadro elaborado pela autora. 
As distinções até agora apresentadas contextualizam a afirmação de 
Binenbojm: 
Não se deve olvidar, entretanto, que o referido sistema [de 
controle de constitucionalidade difuso] foi plagiado da matriz 
norte-americana, vinculada à tradição do common law. Assim 
representando embora inegável avanço, do ponto de vista 
democrático, pelo acesso direto à Constituição que proporciona 
às partes em litígio e aos juízes e tribunais, tal sistema exibiu, 
desde logo, algumas deficiências e outras tantas 
inconveniências, decorrentes de sua adoção em um país 
herdeiros da tradição jurídica romano-germânica. (2014, p. 
124). 
3 STARE DECISIS X SÚMULA VINCULANTE 
A característica essencial do controle de constitucionalidade difuso é a 
sua forma desconcentrada. Todos os juízes da organização judiciária nos EUA 
podem exercer o controle de constitucionalidade. A Suprema Corte norte-
americana é o ponto mais alto do poder judiciário, cuja competência é recursal. 
Como competência recursal (que pode eventualmente avocar cases de 
instâncias inferiores), ela vincula todas as demais instâncias judiciárias por 
meio do precedente (stare decisis), que atua como harmonizador do sistema, 
promovendo a segurança jurídica: 
Esta expressão [stare decisis] designa o fato de que, a 
despeito de exceções e atenuações, os julgados de um tribunal 
superior vinculam todos os órgãos judiciais inferiores no âmbito 
da mesma jurisdição. Disso, resulta que a decisão proferida 
pela Suprema Corte é obrigatória para todos os juízes e 
tribunais. E, portanto, a declaração de inconstitucionalidade em 
um caso concreto traz como consequência a não aplicação 
daquela lei a qualquer outra situação, porque todos os tribunais 
estarão subordinados à tese jurídica estabelecida. De modo 
que a decisão, não obstante referir-se a um litígio específico, 
produz efeitos gerais, em face de todos (erga omnes). 
(BARROSO, 2012, p. 71). 
No Brasil, o controle de constitucionalidade difuso também ocorre de 
modo incidental: em casos cujo objeto da lide não é a declaração de 
inconstitucionalidade, porém esta é uma questão prejudicial no processo e influi 
na razão de decidir. Assim, a declaração incidental de inconstitucionalidade é 
feita no exercício normal da função jurisdicional, que é a de aplicar a lei 
contenciosamente (BARROSO, 2012, p. 72). 
Não há o instituto do stare decisis no cenário brasileiro, muito embora 
exista a súmula vinculante (introduzida pela emenda n. 45 de 2004). Todavia, 
ao contrário dos EUA, onde o precedente se origina simplesmente de uma 
decisão em um caso concreto e vincula os órgãos judiciários inferiores, a 
súmula vinculante só pode ser criada se cumpridos os requisitos de reiteradas 
decisões e aprovação dos ministros do STF (art. 103-A, caput, Constituição 
Federal de 1988) – e esta vincula não só os órgãos do poder judiciário, mas 
também do executivo e legislativo (LEAL, 2006, p. 128). 
Há um certo dissenso a respeito da aplicação da súmula vinculante, que 
frequentemente é comparada com o stare decisis do common law: 
[,,,] a súmula vinculante seria uma forma de adaptação 
brasileira da noção de stare decisis, conceito presente do 
direito anglo-saxônico e que permite a obrigatoriedade da 
repetição do precedente. (SOUZA, 2014, p. 713) 
Para Barroso (2012, p. 103), a súmula vinculante “alinha-se com a 
crescente tendência de valorização da jurisprudência no Direito 
contemporâneo”. Nas linhas do autor, o aumento da litigiosidade justifica sua 
aplicação, bem como o fato de uma mesma controvérsia jurídica originar 
inúmeras demandas. Seria um modo, portanto, de racionalizar e simplificar o 
processo decisório, onde há litígios em massa. A súmula vinculante contribui, 
assim, para a celeridade e eficiência da Justiça, diminuindo a quantidade de 
recursos que chega ao Supremo. 
Contudo, Souza (2014, p. 713) sintetiza três principais aspectos nos 
quais se concentram as críticas da súmula vinculante. Primeiramente, a súmula 
vinculante cercearia a independência do magistrado, obrigando-o a julgar 
conforme posicionamento de Tribunais Superiores. Nesta perspectiva, haveria 
um engessamento das próprias teses jurídicas, que não poderiam ser alteradas 
para melhor atender à realidade social e temporal. Noutro tanto, o poder 
judiciário não poderia elaborar enunciados com efeitos semelhantes ao de lei, 
posto que não possui legitimidade democrática. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Apesar da inspiração norte-americana na instituição do controle de 
constitucionalidade difuso no ordenamento jurídico brasileiro, há divergências 
estruturais que decorre das diferentes bases do direito de ambos países. 
De início, talvez seja possível afirmar que a cultura de um sentimento 
constitucional existente nos EUA tenha sido possível diante da natureza 
sintética de sua Constituição, e da construção de uma ideia de supremacia do 
texto constitucional que foi construída por um longo período, como a 
investigação pode constatar. 
Já no Brasil, parece difícil assentar um sentimento constitucional a partir 
de uma Constituição prolixa e analítica. Além disso, a instabilidade do texto 
constitucional faz parte da história brasileira: foram promulgadas oito 
constituições; enquanto nos EUA, a Constituição Americana se mantém há 
mais de 200 anos, com poucos artigos e algumas emendas. A Constituição 
brasileira de 1988, em trinta anos de vigência, estava com 99 emendas até 
dezembro de 2017. 
Com uma Constituição analítica, a instituição de um controle de 
constitucionalidade esteve sempre prevista no texto constitucional das 
Constituições brasileiras. Deste modo, diferentemente da justificação 
principiológica do judicial review, o controle de constitucionalidade difuso no 
Brasil foi instituído por vontade do constituinte e expressamente consagrado na 
Magna Carta de 1891, prevalecendo até a atual Constituição de 1988. 
Finalmente, com a investigação de ambos sistemas, foi possível 
constatar que as decisões em sede de controle difuso no Brasil não surtiram o 
efeito que se alcançava do modelo de origem, uma vez que o stare decisis não 
faz parte do sistema brasileiro. Considerando que a declaração de 
inconstitucionalidade alcançava apenas as partes, é inevitável negar que havia 
uma certa instabilidade ou insegurança jurídica em relação às decisões. 
A emenda 45 de 2004 procurou adaptar o stare decisisno cenário 
brasileiro, com a obrigatoriedade de aplicação do precedente, por meio da 
chamada súmula vinculante. No entanto, questiona-se a legitimidade 
democrática de um corpo de magistrados determinar uma decisão de força 
vinculante obrigatória, similar a uma lei, uma vez que não foram eleitos para 
tanto. 
Aliás, sobre a legitimidade democrática, nisto há certa convergência 
entre os países. Nos EUA se questiona a justificação do próprio judicial review 
e, por conseguinte, do stare decisis: uma vez que a construção da ideia de 
controle de constitucionalidade norte-americano se deu por uma decisão da 
Suprema Corte, como já anteriormente assinalado. 
Já no Brasil, também se questiona a atuação do Supremo Tribunal 
Federal, embora haja previsão normativa constitucional que o confere a 
competência para exercer o controle de constitucionalidade. Sem pretender 
aprofundar no debate, cabe ressaltar que tanto o Supremo Tribunal como a 
Suprema Corte pronunciam a última palavra institucional no âmbito da 
Constituição – e tem força vinculante, seja pelo precedente, seja pela súmula. 
Porém, nem um, nem outro, submetem suas decisões a um controle 
democrático posterior, sendo juiz de sua própria autoridade. (BINENBOJM, 
2014, p. 49). Esta convergência problemática pode indicar o compartilhamento 
de teorias de ambos os países na busca de uma solução para esta clássica 
questão acerca da legitimidade da jurisdição constitucional, no contexto da 
democracia. 
REFERÊNCIAS 
BARROSO, L. R. O controle de constitucionalidade no direito brasileiro: 
exposição sistemática da doutrina e análise crítica da jurisprudência. 6ª 
ed. rev. e atual. São Paulo : Saraiva, 2012. 
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do 
Brasil: promulgada em 05 de outubro de 1988. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. 
Acesso em 29 abr. 2018 
BRASIL. Constituição (1891). Constituição da República dos Estados 
Unidos do Brasil de 1891: promulgada em 24 de fevereiro de 1891. 
Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao91.htm. Acesso em 
28 abr. 2018. 
CAPPELLETTI, M. O controle judicial de constitucionalidade das leis no 
direito comparado. Tradução de Aroldo Plínio Gonçalves. Porto Alegre : 
Fabris, 1984. 
FAUSTO, B. História do Brasil. 5ª ed. São Paulo : Editora da Universidade de 
São Paulo : Fundação do Desenvolvimento da Educação, 1997. 
FAVOREU, L. As cortes constitucionais. Tradução Dunia Marinho Silva. São 
Paulo : Landy Editora, 2004. 
GUSTIN, M. B. S.; DIAS, M. T. F. (Re)pensando a pesquisa jurídica. 3ª ed. 
rev. e atual. pela NBR 14.724, de 30/12/05, da ABNT. Belo Horizonte : Del Rey, 
2010. 
LEAL, R. S. O efeito vinculante na jurisdição constitucional. São Paulo : 
Saraiva, 2006. 
OVÍDIO, F. Aspectos do Direito Comparado. In: Revista da Faculdade de 
Direito da Universidade de São Paulo, vol. 79, 1984. Disponível em: 
http://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/viewFile/67009/69619 Acesso em 27 
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