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Universidade de São Paulo – Escola Politécnica – Departamento de Hidráulica PHD 5023: Obras Fluviais, Prof. Eng. Dr. Giorgio Brighetti. pág. 1 Índice Retificação de Cursos D’água 1. Introdução.................................................................................................................... 3 1.1 Considerações Gerais sobre Rios e Meandros ...................................................... 3 1.2 Relações do Meandro.............................................................................................. 6 2 Retificação de Rios ...................................................................................................... 9 2.1 Dimensionamentos................................................................................................ 10 2.1.1 Dimensionamento do Canal Retificado .......................................................... 11 2.1.1.1Equação de forma....................................................................................... 12 2.1.1.2Equação do escoamento............................................................................. 14 2.1.1.3Equação de sedimentos.............................................................................. 15 2.1.1.4Equação de estabilidade ............................................................................ 16 a) Velocidades Críticas ...................................................................................... 16 b)Tensões Críticas ............................................................................................. 18 c) Revestimento Protetor................................................................................... 19 2.1.1.5Para atender à navegação .......................................................................... 25 2.2 Métodos Construtivos........................................................................................... 28 2.2.1 Retificação Direta.............................................................................................. 28 2.2.2 Canal Piloto ....................................................................................................... 28 2.2.3 Obras Complementares.................................................................................... 30 Universidade de São Paulo – Escola Politécnica – Departamento de Hidráulica PHD 5023: Obras Fluviais, Prof. Eng. Dr. Giorgio Brighetti. pág. 2 3.3 Dragagem............................................................................................................... 30 4 Referências................................................................................................................. 39 Universidade de São Paulo – Escola Politécnica – Departamento de Hidráulica PHD 5023: Obras Fluviais, Prof. Eng. Dr. Giorgio Brighetti. pág. 3 Retificação de Cursos D’água 1. Introdução O rio transforma energia potencial em cinética, ou seja, deriva da energia potencial proveniente da precipitação nos divisores d’água e a converte em cinética para movimento sendo dissipada na erosão e deposição de sedimentos do leito e margens, além do atrito em partículas do fluido e com o leito, evaporação, etc. Esta dissipação de energia resulta num aumento na entropia (Lepoldo, Ref. [3]). As intervenções humanas locais no curso d’água, como a retificação, interferem no conjunto de suas características locais e o rio no seu conjunto 1.1 Considerações Gerais sobre Rios e Meandros Pode-se afirmar, de maneira geral, que não existem cursos d’água naturais retilíneos mas sim meandrados, isto é, o rio procura o seu equilíbrio, que também é dinâmico, aumentando a extensão, erodindo, depositando e diminuindo, conseqüentemente, a sua declividade longitudinal. O curso d’água retilíneo é instável. Rio do Formoso e Tocantins, TO (Themag) Os alongamentos de traçado devido aos meandros podem ser consideráveis, resultando em acréscimos freqüentes de 10 a 20% no comprimento, podendo, em alguns casos, ultrapassar os 100% em rios excessivamente “serpenteados”. A natureza oferece facilidades para que um curso d’água mude de direção: disposição geológica local, sedimentos, acidentes geológicos, acidentes naturais, como: queda de árvores, desbarrancamentos, ou artificiais, com a intervenção humana. O mecanismo de formação do meandro compreende a capacidade em erodir, transportar e depositar material do meio fluvial, especialmente em curvas onde o gradiente de velocidade, aliado à conformação física e geológica do leito, causa correntes secundárias com movimento rotacional contra as margens, originando processos erosivos e de deposição (o material é erodido da parte côncava, externa, transportado para jusante e depositado na parte convexa, interna). Universidade de São Paulo – Escola Politécnica – Departamento de Hidráulica PHD 5023: Obras Fluviais, Prof. Eng. Dr. Giorgio Brighetti. pág. 4 Nas curvas a linha d’água não é horizontal devido à força centrígufa. A diferença de nível entre as margens será: 1 2m 2 R R log g V 3,2z =D (Grashof), onde R1 e R2 são os raios onde Z=0m; Vm= velocidade média. Cabe notar que o valor de Dz é pequeno. Linhas de fluxo na curva fluvial. Processo de deposição e erosão nas curvas fluviais A seção transversal do rio em curvas, em geral, é triangular, com a profundidade maior junto à margem côncava (Linsley, Ref.[5]). Universidade de São Paulo – Escola Politécnica – Departamento de Hidráulica PHD 5023: Obras Fluviais, Prof. Eng. Dr. Giorgio Brighetti. pág. 5 Processo erosivo na curva, rio Doce, MG (Themag). Processo de sedimentação na curva, rio Tocantins, TO (Themag). Fargue, 1863, há três séculos, apresentou uma teoria para melhorar a navegabilidade do rio Garone (França), num trecho de 170km, com largura média de 10 a 150m, e capacidade de escoamento média e máxima de, respectivamente, 275 e 4.450m3/s (ordem de grandeza do rio Tietê, trecho urbano, São Paulo), definindo leis válidas para este rio de planície: 1a. Lei dos afastamentos: as profundidades máximas e mínimas correspondem aos vértices e inflexões das curvas, respectivamente, deslocados ligeiramente para jusante. Esta afirmação é importante para os projetos de Tomadas D’água; 2a. Lei das fossas: a profundidade da fossa é tanto maior quanto maior a curvatura do vértice correspondente; 3a. Lei dos desenvolvimentos: visando a maior profundidade média e a máxima do trecho, a curva não deve ser nem curta nem longa; 4a. Lei dos ângulos: para desenvolvimentos iguais das curvas, a profundidade média é tanto maior quanto maior o ângulo externo formado pelas tangentes (curvatura média da curva); 5a. Lei da continuidade: toda mudança brusca de curvatura provoca uma redução brusca da profundidade. O perfil do fundo só é regular quando a curvatura varia de forma contínua; 6a. Lei da inclinação dos fundos: se a curvatura varia de forma contínua, a inclinação da tangente à curva das curvaturas determina, em qualquer ponto, a declividade do fundo. Universidade de São Paulo – Escola Politécnica – Departamento de Hidráulica PHD 5023: Obras Fluviais, Prof. Eng. Dr. Giorgio Brighetti. pág. 6 Estas leis empíricas foram verificadas no Córrego de Bordeaux e validadas por métodos estatísticos recentes. A evolução de curvas meândricas pode ser esquematizada na figura a seguir e mostra o mecanismo de meandramento, com estágios de desenvolvimento do processo. 1.2 Relações do Meandro A análise das curvaturas meândricas originou-se de observações em meandros típicos de rios, constatando-se que não acompanham exatamente nenhuma geometria familiar. A determinação de uma curva teórica que melhor se adapte ao meandro é realizada por meio de técnicas de “caminho ao acaso” (percurso descrito por movimentos sucessivos em uma superfície, em que cada movimento tem unidade fixa de direção mas a distância é determinadapor algum processo ao acaso), fixando os pontos extremos e comprimento e deixando o percurso livre. Universidade de São Paulo – Escola Politécnica – Departamento de Hidráulica PHD 5023: Obras Fluviais, Prof. Eng. Dr. Giorgio Brighetti. pág. 7 A curva que satisfaz a essa condição é denominada curva seno-gerada definida pela equação: pw=q 2 M S sen , onde : q= ângulo de desvio de uma tangente no final do segmento, na distância S, em relação à direção média de jusante; w= ângulo máximo de desvio que a curva faz sem a sua trajetória em relação à direção média de jusante; S= segmento da trajetória correspondente à distância da curva meândrica até o ponto inicial e M= distância total da curva meândrica, medida num trecho correspondente a um comprimento de onda. Através da utilização desta equação pode-se gerar formas meândricas típicas que se aproximam de um meandro real. Em linha geral, o canal retificado deve manter ou melhorar a relação hidráulica com o rio meandrado. Os estudos sobre meandros e retificação fluvial estão consolidados no exterior e datam do início do século XVIII, principalmente nos EUA e Europa. Relações de dimensões L= comprimento retificado de uma curva do meandro; Rc= raio da curva do meandro; D ou 2a= altura ou amplitude da curva do meandro; l= projeção horizontal do comprimento; B= comprimento da base do canal; H= profundidade. Estas relações são importantes pois as combinações mais freqüentes correspondem aos estados prováveis em que o sistema meândrico procura manter o equilíbrio em função dos fatores intervenientes, como também é relevante a ciência que os equacionamentos são empíricos habilitados aos dados disponíveis de cada pesquisador, como se pode observar pelas fórmulas apresentadas a) Sinuosidade Relação entre o comprimento de onda do canal, L, e o comprimento da onda, l, com valor entre 1,3 e 4. b) relação entre comprimento de onda, l, e largura do canal, B: l=6,6 B0,99 (Inglis, 1949); l=10,0 B1,01 (Leopold e Wolman, 1960); l=10,0 B1,025 (Zelter, 1967); l=10,0 B (Dury, 1969). c) relação entre amplitude do meandro, D, e a largura do canal, B: D=18,6 B0,99 (Inglis, 1949); D=10,9 B1,04 (Inglis, 1949); D=2,7 B1,1 (Leopold e Wolman, 1960); D=4,50 B1,0 (Zeller, 1967). d) relação entre comprimento de onda, l, e o raio de curvatura, RC: l=4,7 RC0,98 (Leopold e Wolman, 1960); Universidade de São Paulo – Escola Politécnica – Departamento de Hidráulica PHD 5023: Obras Fluviais, Prof. Eng. Dr. Giorgio Brighetti. pág. 8 e) relação entre o raio de curvatura, RC, e a largura do canal, B: RC= 2 a 3 B (Bagnold, 1960 e Scheidegger, 1970). Outros cientístas publicaram relações completas de um curso d’água meandrado: f) Leopoldo e Wolman relações: ï ï ï ï ï ï ï î ï ï ï ï ï ï ï í ì = @ l = = l = l = l - 44,0 0 C C Q06,0I 5,2 a2 3a2 B R 4a3,1 L 7a3 R 11a7 B I<Io = leito meandrante e I>Io = leito retilíneo g) Chitale relações: ï ï î ï ï í ì ÷ ø ö ç è æ ÷ ø ö ç è æ= ÷ ø ö ç è æ ÷ ø ö ç è æ= l - - - 09,0 471,0 471,0 65,0 052,0 77,0 H D I H B 48299 B a2 H B I H D 429,1 L I= declividade longitudinal (104); D= diâmetro do sedimento; H= profundidade. h) Ripley ( ) ( ) ï ï ï ï ï ï ï ï ï ï ï î ïï ï ï ï ï ï ï ï ï ï í ì -=÷ ø ö ç è æ +-= ++= =££®-= ££®= ú û ù ê ë é ÷÷ ø ö çç è æ --= = == 2 * 0 * 2 3 2 * * 0 *máx 5,02 **máx S i i * 2 S 0 * 2 0 s S S x41 3 y2 y;x 12 1 x y 3 8 yy ) 12 1 x(xx B R R;24C16 C R x 650,1a445,1 B A ay x x 3 1 1x41y´Y B ´Y y erficialsupuraarglB B ´X x ÁLVEO Universidade de São Paulo – Escola Politécnica – Departamento de Hidráulica PHD 5023: Obras Fluviais, Prof. Eng. Dr. Giorgio Brighetti. pág. 9 2 Retificação de Rios Retificar um rio, além da mudança geométrica do traçado, significa melhorar as condições de escoamento e estabilidade, possibilitar o rebaixamento da linha d’água das cheias, viabilizar a navegação, recuperar o terreno marginal, etc. A finalidade da retificação é: melhoria do traçado para a Navegação, Construção de Avenidas de Fundo de Vale ou Marginais, Recuperar o Terreno Marginal, Utilização da Várzea para a Agricultura Irrigada (rio São Francisco), Reversão (rio Pinheiros, SP), Utilização das Lagoas para Tratamento de Esgoto (São José dos Campos, SP), Aqüicultura, Controle de Cheias, Interligação de Sistemas de Reservatórios, etc. A retificação pode ter um traçado retilíneo ou curvilíneo dependendo da sua finalidade e das características locais. O processo de retificação, devido ao dinamismo fluvial, ocorre na natureza, buscando o equilíbrio, no caso específico aumentando a declividade longitudinal. Há motivos secundários que podem resultar na retificação de um rio: otimizar o transporte de sedimentos, diminuir a evapotranspiração, aumentar a velocidade de passagem a montante e reduzir os efeitos das ondas de cheia a jusante, etc. Deve-se, sempre que possível, preservar as pontes existentes, principalmente as ferroviárias, pois as mudanças implicam em altos custos. A desapropriação, os “bota-foras” e os obstáculos legais envolvidos (Área de Segurança, Refinarias, ETA’s, ETE’s, Linhas de Transmissão, Subestações, Coletor Tronco, Adutoras, Áreas de Proteção Ambiental, Indígenas, etc.) devem ser ponderados e equalizados. O corte de um meandro influencia consideravelmente o perfil do rio, assim toda cautela é valiosa. O abaixamento do leito a montante e o conseqüente rebaixamento Universidade de São Paulo – Escola Politécnica – Departamento de Hidráulica PHD 5023: Obras Fluviais, Prof. Eng. Dr. Giorgio Brighetti. pág. 10 do nível d’água, pode baixar sensivelmente o lençol freático, com conseqüências para a agricultura. Verifica-se, também, que a retificação conduz ao transporte de grandes volumes de material sólido que podem ocasionar consideráveis dificuldades a jusante. Há, ainda, a considerar que os cortes sistemáticos de meandros aumentam as velocidades das ondas de enchentes, podendo, em conseqüência, fazer coincidir as descargas críticas do curso principal com a de seus afluentes, de forma diversa a que ocorreria naturalmente, provocando situações calamitosas conforme observados na literatura técnica (Almeida, Ref. [12]). 2.1 Dimensionamentos O dimensionamento do canal retificado deverá preservar e melhorar o estado do rio natural nos aspectos de capacidade de escoamento, estabilidade, retenção ou acumulação, profundidades, ambiental e ecológico, etc. Os critérios de dimensionamento do canal retificado podem ser hidráulicos ou de navegação ou ambos. Os critérios hidráulicos visam obter uma seção ótima que atenda a finalidade, as vazões previstas e estabilidade do leito e margens. Tratando-se do controle de cheias, o dimensionamento hidráulico poderá contemplar a vazão mínima (sanitária ou de base, período de retorno de 1,5 ou 2anos – cheia anual) para evitar deposições, crescimento de vegetação, otimização de áreas adjacentes durante a estiagem, etc., e a máxima (período de retorno de 50anos) preservando a capacidade de retenção ou amortecimento, isto é, procura-se imitar a natureza com uma calha menor principal para vazões costumeiras e a calha maior para cheias ou vazões extraordinárias. Os critérios visando a navegabilidade do canal retificado, objetivam o dimensionamento para as vazões mínimas, velocidade do fluxo limite, ondas, traçado navegável (curvas e contra-curvas suaves, trechos retilíneos, largura mínima, profundidade mínima, etc.) e estabilidade da margem e fundo. Universidade de São Paulo– Escola Politécnica – Departamento de Hidráulica PHD 5023: Obras Fluviais, Prof. Eng. Dr. Giorgio Brighetti. pág. 11 2.1.1 Dimensionamento do Canal Retificado A seção retificada do futuro leito do rio deverá atender às necessidades do curso d’água, sem prejuízo na capacidade de vazão, estabilidade, navegabilidade e dos aspectos ambientais e legais envolvidos. Recomenda-se projetar um alargamento na interligação entre o rio meandrado e o canal retificado, conforme esquema de retificação, com A=1,1*B, numa extensão entre 2 e 3 vezes a largura da seção junto aos reforços para compensar as irregularidades remanescentes, visto que parte da remoção é subaquática cujo controle é difícil e algumas vezes parcial. É também usual, localizar a embocadura próxima ao vértice da curva onde a erosão é mais pronunciada e o transporte de sedimentos é mínimo, o que facilita a manutenção do canal na fase inicial. A remoção dos alguns septos da retificação do rio Tietê, SP, foi parcial, resultando em controles não previstos, tipo corredeira. Esquema de Retificação. Como em qualquer obra fluvial, recomenda-se uma borda livre, “free board”, que oscila entre 0,30m para pequenos canais e de 0,60 a 1,20m para grandes canais. Como regra, pode-se tomar ¼ da profundidade. É, no entanto, indispensável ter em conta as circunstâncias que podem levar à modificar estas indicações, para mais ou menos (Lencastre, Ref. [8]). Geralmente há três as incógnitas: largura, profundidade e declividade longitudinal através das equações de forma, escoamento e transporte de sedimentos que induzem à análise em termos de graus de liberdade: 1o. Grau de Liberdade: margem e leito fixas (seção transversal revestida por exemplo) com a utilização da equação de escoamento; 2o. Graus de Liberdade: margem fixa (estável) e leito móvel com a utilização das equações de escoamento e transporte de sedimentos; 3o. Graus de Liberdade: margem e leito móveis (canais naturais) com a utilização das equações de escoamento, transporte de sedimentos e forma da seção; 4o. Graus de Liberdade: margem e leito móveis em conformação meandrante com a utilização das equações de escoamento, transporte de sedimento, forma da seção e equilíbrio de meandros. Soluções podem ser adotadas para reduzir a ação indesejável do escoamento com repercussões na estabilidade, como: · seção mista com um canal inferior menor para as vazões comuns com período de retorno de 1 a 2anos (cheia anual) e outro superior maior para vazões Universidade de São Paulo – Escola Politécnica – Departamento de Hidráulica PHD 5023: Obras Fluviais, Prof. Eng. Dr. Giorgio Brighetti. pág. 12 extraordinárias com período de retorno (cheias com 25, 50 ou 100anos) compatível com a finalidade da retificação, podendo conviver com revestimentos ou proteções diferenciadas para cada canal e, nos grandes projetos, o aproveitamento do leito maior para lazer e outras atividades durante a estiagem; · diminuir o raio hidráulico, RH., ou profundidade, H; · alteração da declividade longitudinal, i, aumentando-se o percurso, com o aumento da profundidade; · degraus para diminuir a energia do escoamento, aumentando a profundidade; · rampas longitudinais que alterem a macro declividade do curso d´água; · espigões transversais para a condução controlada do fluxo, desviando o ataque do escoamento aos locais preferenciais; · reservatórios de retenção de cheias “in-line” ou “off-line”; · revestindo com materiais capazes de oferecer resistência ao escoamento; · ou, o que é mais usual, com um conjunto de medidas formadas pelas alternativas anteriores, que atendam à finalidade, com menor custo. Proteção com vários elementos (pedras, pedras em trincheira cicatrizante, dique com eucalipto e com revestimento) 2.1.1.1 Equação de forma A geometria da seção deve considerar o material que compõe a margem e o leito, a declividade longitudinal e, por conseqüência, a inclinação de seus taludes. Universidade de São Paulo – Escola Politécnica – Departamento de Hidráulica PHD 5023: Obras Fluviais, Prof. Eng. Dr. Giorgio Brighetti. pág. 13 Seção do rio e retificada A equação de Gluskov, 1981, é empírica, resultante da análise de centenas de seções estáveis com variados materiais do leito, e procura definir uma seção “geometricamente” estável, constituindo-se, assim, numa primeira alternativa geométrica: Gluskov (1981): ê ê ê ê ê ê ê ê ê ê ê ê ê ê ë é ï î ï í ì ® ® ® = =d= @ ú ú ú ú û ù ê ê ê ê ë é ÷ ø ö ç è æ - d d = = soltosmuitoleitoeemargm20a16 móvelleitoe)fixaemargm(coesivomaterial4a3 )coesãosem(arenososemargm/leito12a8 K densidade;médiodiâmetrod 7,0 H 1d 72,0m:V1 H K B .m 1,0 s .m Estabilidade de Canais – Inclinação de Talude (1V:mH) Natureza do Talude Inclinação (1V:mH) Rocha dura, alvenaria comum, concreto 0 a 0,50 Rocha fissurada, alvenaria de pedra seca 0,50 Argila Dura 0,75 Aluvião compacto 1,00 Cascalho Grosso, matacão, pedras de mão 1,50 Enrocamento, Solo, Areia grossa 2,00 Terra mexida, areia normal 3,00 Solo Cimento 1,00 a 4,00 Densidade (d) Natureza do Material d (t/m3) Basalto 2,9 Granito 2,6 Calcário compacto 2,6 Traquito (lava solidificada) 2,5 Seixos rolados 2,3 Arenito 2,3 Calcário mole 2,2 Pedra porosa 1,7 Concreto 2,5 “Por vezes interessa determinar, para algumas formas geométricas, qual a seção que, em igualdade de área, tem a maior capacidade de vazão. É evidente que, para a mesma área, A, a vazão será máxima quando o raio hidráulico, RH, for máximo, e, Universidade de São Paulo – Escola Politécnica – Departamento de Hidráulica PHD 5023: Obras Fluviais, Prof. Eng. Dr. Giorgio Brighetti. pág. 14 conseqüentemente, por ser A constante, quando o perímetro molhado, P, for mínimo” (Lencastre, Ref. [8]). A seção circular, apesar de geométrica e hidraulicamente ótima, é de difícil execução, sendo preferida a trapezoidal. A seção com capacidade de vazão máxima, num trapézio isósceles (“m” iguais), é aquela que circunscreve uma semicircunferência cujo diâmetro coincide com a superfície livre. ï ï ï î ïï ï í ì ++ + = ++= += 2 H 2 m1H2B )mHB(H R m1H2BP )mHB(HA A seção de máxima vazão ou mínimo custo não necessariamente atende à navegabilidade, estabilidade e/ou procedimentos construtivos e operacionais. 2.1.1.2 Equação do escoamento As vazões transportadas pelo curso meandrado, inclusive com a capacidade de retenção, devem ser transferidas com segurança adotando-se uma expectativa de superação (período de retorno) pelo canal retificado. equação Manning: ï ï ï ï î ï ï ï ï í ì <<®÷÷ ø ö çç è æ @ h = h = = 4000 K R 4 d 1 26 1 K R 1 C iRACQ S H 6/1 65 S 6/1 H H Q= vazão; C= coeficiente de rugosidade de Chézy; A= área molhada; RH= raio hidráulico; i= declividade longitudinal; h= coeficiente de rugosidade de manning; KS= coeficiente de rugosidade de Strickler; d65= diâmetro que corresponde a 65% de material com diâmetro inferior. Coeficiente de Rugosidade de Manning (h) Natureza da Superfície h Concreto 0,011 a 0,018 Concreto, mal acabado 0,015 a 0,020 Solo, seção uniforme e estabilizada, limpa 0,018 a 0,020 Solo, seção uniforme e estabilizada, grama curta, pouca vegetação 0,020 a 0,027 Solo, seção bem uniforme, sem vegetação 0,022 a 0,025 Solo, seção bem uniforme, paredes limpas, fundo com seixos 0,030 a 0,040 Rocha lisa e uniforme 0,035 e 0,040 Rocha áspera e irregular 0,040 e 0,045 Canal dragado 0,025 a 0,033 Canal com fundo de solo e taludes com pedras 0,028 a 0,035 Gabião manta 0,022 a 0,030 Universidade de São Paulo – Escola Politécnica – Departamento de Hidráulica PHD 5023: Obras Fluviais, Prof. Eng. Dr. Giorgio Brighetti. pág.15 2.1.1.3 Equação de sedimentos Outro aspecto relevante é o tratamento da estabilidade no escoamento com o transporte de sedimentos. O equacionamento proposto por Lancey, 1958, obteve maior difusão, recomendada para rios com taxa de transporte de sedimentos baixa, inferior a 500ppm, admitindo que o canal seja retangular e bastante largo para que o raio hidráulico e a largura sejam praticamente iguais à profundidade e ao perímetro molhado: Lancey: ï ï ï ï î ïï ï ï í ì = = = = = = - - 3/56/1 3/13/1 H 3/16/5 2/1 S 3/16/1 5,0 fQ000302,0i fQ472,0R fQ27,2A Q84,4B fQ439,0V d7,55f f= fator de sedimentação de Lancey; d= diâmetro do material do leito; Q= vazão modeladora; BS= largura superficial ou perímetro molhado; A= área molhada; RH= raio hidráulico; i= declividade da linha de energia. Outras contribuições surgiram posteriormente mas sem mudanças significativas nos resultados. Quando o transporte sólido é mais significativo, superior a 500ppm, o equacionamento é empírico, com pouca comprovação dos resultados: Engelund-Hasen (1966): ï ï ï ï î ï ï ï ï í ì ÷ ø ö ç è æ = ÷ ø ö ç è æ= ÷ ø ö ç è æ= - - - - 571,0 S527,0212,0 286,0 S21,0317,0 H 286,0 S106,0 Q Q dQ8,12i Q Q dQ108,0R Q Q Qd0849,0A QS= vazão sólida total. Brownlie (1981): ( ) ( ) ï ï ï ï î ï ï ï ï í ì ÷ ø ö ç è æ ï ï þ ï ï ý ü ï ï î ï ï í ì ÷÷ ø ö çç è æ g g - =÷ ø ö ç è æ ÷ ø ö ç è æ= - 33,0 H66,0 98,1 5,0 S` CRS 389,0 529,1 H 5,03 H d R i gd VV 0090,0 Q Q i d R 57,4 gd VR Gluskov (1981): ï ï ï ï ï î ïï ï ï ï í ì ÷ ø ö ç è æ= ÷ ø ö ç è æ= ÷ ø ö ç è æ= = - - - 749,0 S531,0 098,0 S06,0362,0 H 238,0 S146,088,0 43,1 Q Q Qd8,13i Q Q dQ119,0R Q Q dQ0788,0A H9,13B Universidade de São Paulo – Escola Politécnica – Departamento de Hidráulica PHD 5023: Obras Fluviais, Prof. Eng. Dr. Giorgio Brighetti. pág. 16 2.1.1.4 Equação de estabilidade O requisito final para obter uma retificação regularizada é que os taludes e o fundo sejam estáveis por um período apropriado. Os fatores de instabilidade, basicamente, podem ser hidráulicos e geotécnicos. A estabilidade hidráulica, como doravante exclusivamente será tratada, pode ser garantida, com um possível risco, pelas equações de Resistência ou da Teoria do Regime que atendam a finalidade da retificação. O resultado ideal é a estabilidade do canal sem revestimento ou proteção, o que pode implicar, de acordo com a finalidade, em amplas áreas molhadas, para que as velocidades sejam compatíveis com a do material constituinte do canal, nem sempre disponíveis ou a custos desejáveis. A estabilidade hidráulica do material do canal é função da sua resistência às forças hidrodinâmicas geradas pelo escoamento, sendo que as condições em que as partículas do material iniciam o deslocamento são denominadas como críticas: velocidades, VCR, ou tensões tangenciais críticas, tCR. a) Velocidades Críticas A maioria dos casos práticos não é possível determinar, com rigor, a velocidade crítica no fundo, sendo assim a maioria das análises de estabilidade baseia-se na velocidade média crítica para diversos materiais bem como os fatores corretivos para canais não retilíneos (Lencastre, Ref. [8]). Universidade de São Paulo – Escola Politécnica – Departamento de Hidráulica PHD 5023: Obras Fluviais, Prof. Eng. Dr. Giorgio Brighetti. pág. 17 As experiências de Hjulström, 1953, ilustra a estabilidade das partículas com diâmetro uniforme em função da velocidade crítica, U=VCR. Universidade de São Paulo – Escola Politécnica – Departamento de Hidráulica PHD 5023: Obras Fluviais, Prof. Eng. Dr. Giorgio Brighetti. pág. 18 Neil, sugeriu uma equação conservadora para o dimensionamento de canais com material com fundo não coesivo: Neil (1967): ï ï î ïï í ì Þ÷ ø ö ç è æ= ÷ ø ö ç è æ - d d - - )m(He)mm(d H d 10*5,2 d1 V 20,04 s 2 CR b) Tensões Críticas A estabilidade do canal retificado está ligada as tensões de arraste máximas do escoamento, ou seja, quando tCR>tM, ocorrerá instabilidades com erosões, arraste de material e deposições, onde tM. é a tensão do material constituinte do canal. Para o escoamento bidimensional num canal retangular de largura infinita a tensão tangencial exercida no fundo é: iRhCR g=t . A tensão tangencial máxima do escoamento difere entre o fundo e o talude (leito e margem) sendo, para efeito prático, utilizado: tfundo=g Rh i e ttalude=0,76g Rh i (Lencastre, Ref. [8], Chow, Ref. [9]). A tensão de arraste de cálculo deve considerar ainda um coeficiente de segurança multiplicador entre 1,1£KS£1,5. Universidade de São Paulo – Escola Politécnica – Departamento de Hidráulica PHD 5023: Obras Fluviais, Prof. Eng. Dr. Giorgio Brighetti. pág. 19 Forças erosivas atribuídas ao materiais: Material t (N/m2) areia grossa 10 pedregulho 15 revestimento vegetal 20 a 30 faxinas 50 colchões 70 revestimento de tijolos 100 enrocamentos de pedra 160 grandes blocos de pedra 210 alvenaria seca 60 revestimento de concreto 60 revestimento de concreto armado 800 a 1000 grandes gabiões até 1500 c) Revestimento Protetor O processo usual de garantir a estabilidade do canal é o de proteger com revestimento. O revestimento deve ser flexível para se adaptar à superfície sobre a qual é colocado; relativamente impermeáveis para evitar que materiais finos sejam carreados e resistir as forças do fluxo (Linsley, Ref. [5]). O revestimento implantado abaixo do nível normal ou abaixo do lençol freático apresenta um grau de dificuldade maior que é superado com a utilização de tapetes de proteção (esteira ou mantas, etc.). O recobrimento poderá ser: simples (limpeza, substituição do solo, pintura asfáltica, gramagem), enrocamento lançado, enrocamento arrumado, blocos artificiais tipo esteira ou manta (tapete), gabiões tipo colchão ou manta, solo-cimento, valas de espera, estruturas de madeira, gabião tipo saco, concreto ou asfalto, pneus, espigões, etc. Quando a seção não possuir resistência ao fluido deve-se protegê-la, geralmente com revestimento. Os espigões podem ser considerados como elemento protetor, geralmente implantado para desviar, dirigir ou dissipar a energia do escoamento. O revestimento mais empregado, desde que haja material disponível local a custo módico, é o enrocamento, que se ajusta às acomodações do terreno. Entre as fórmulas empregadas para determinação dos diâmetros de revestimento para proteção com enrocamento, é usual a de Isbach, Ref. [10], que pondera o peso do material granular em relação à velocidade máxima do escoamento com camada de espessura 2*Dmédio: Universidade de São Paulo – Escola Politécnica – Departamento de Hidráulica PHD 5023: Obras Fluviais, Prof. Eng. Dr. Giorgio Brighetti. pág. 20 ( ) ( ) )m/tf(g*2*44,1 V De g*2*74,0 V D 3 O2H O2H 2 mín O2H O2H 2 máx =gg-g g = g-g g = Outra forma de proteção de fundo é o das soleiras cicatrizantes que consistem em depósitos de material granular ou elementos artificiais que limitam ou acomodam a capacidade erosiva do escoamento. Proteção com enrocamento Outros tipos de revestimento são utilizados, principalmente no exterior, mas sem respaldo científico ou normalização, pelo menos nacional, exceto o gabião, originando, na comunidade envolvida, receio em aplicá-los além de, geralmente, possuírem custos superiores aos dos revestimentos em enrocamentos. Universidade de São Paulo – Escola Politécnica– Departamento de Hidráulica PHD 5023: Obras Fluviais, Prof. Eng. Dr. Giorgio Brighetti. pág. 21 Proteção com sacos preenchidos com solo-cimento Proteção com pneus Universidade de São Paulo – Escola Politécnica – Departamento de Hidráulica PHD 5023: Obras Fluviais, Prof. Eng. Dr. Giorgio Brighetti. pág. 22 Proteção com solo-cimento Proteção com Gabião Universidade de São Paulo – Escola Politécnica – Departamento de Hidráulica PHD 5023: Obras Fluviais, Prof. Eng. Dr. Giorgio Brighetti. pág. 23 Espigões com estacas em madeira Proteção com “jacks” Universidade de São Paulo – Escola Politécnica – Departamento de Hidráulica PHD 5023: Obras Fluviais, Prof. Eng. Dr. Giorgio Brighetti. pág. 24 Proteção com cortinas de madeira (dique) Custo da Proteção Proteção ou Método Custo (US$/m3) Fonte enrocamento lançado 8 Themag Engenharia Ltda. manta de concreto articulado dique transversal de enrocamento 10 Themag Engenharia Ltda. pneus fixados 23 Revista Saneamento Ambiental, 1997 gabião manta 40 PMSP gabião caixa 110 PMSP gabião saco 90 PMSP Solo-Cimento 20 Themag Engenharia Ltda. Concreto compactado a Rolo 30 Themag Engenharia Ltda. Universidade de São Paulo – Escola Politécnica – Departamento de Hidráulica PHD 5023: Obras Fluviais, Prof. Eng. Dr. Giorgio Brighetti. pág. 25 2.1.1.5 Para atender à navegação Poucos são os cursos d’água que, em condições naturais, em trechos longos, características que possibilitem o tráfego contínuo e seguro de embarcações de porte, com capacidade de transporte comercial. Entre as excessões mais conhecidas pode-se citar os maiores rios do mundo: Mississipe, Niger, Congo, Reno, Volga, Danúbio, Amazonas, Paraná, Paraguai, São Francisco, que são navegáveis naturalmente por centenas ou milhares de quilômetros. O rio navegável só tem sentido quando definido o tipo e dimensões da embarcação que deve trafegar. O conceito de navegabilidade está intimamente ligado ao aspecto econômico do transporte, variando dentro de grandes limites em função da região considerada. Assim uma certa região desprovida de outros meios de transporte pode ser econômico transportar 50 ou 60 t/ano, enquanto em outras com outros transportes concorrentes, será econômico utilizar embarcações de mais de 1.000t/ano. O conceito de navegabilidade é relativo e deve ser encarado com as devidas reservas. As deficiências que um curso pode apresentar quanto à navegabilidade, podem ser classificadas em: Ø deficiência de profundidade devido aos obstáculos naturais, alargamentos acentuados, corredeiras, etc. As deficiências de profundidade podem também decorrer da redução da vazão nas épocas e estiagem; Ø deficiências em planta, largura inferior ao mínimo necessário à passagem segura de embarcações e curvas muito pronunciadas que impeçam a evolução normal das mesmas; Ø outras deficiências entre as quais a velocidade elevada ou direção inconveniente da corrente, canais divagantes que dificultam a fixação do canal de navegação, más passagens no desenvolvimento da rota de navegação (passagem brusca do talvegue do rio de uma para outra margem). Para contornar estas deficiências utilizam-se a regularização das vazões e o melhoramento do leito. Do ponto de vista da via navegável é necessário apenas conhecer as dimensões principais da embarcação tipo: comprimento, boca e calado e atender as características: Ø profundidade mínima: calado mais folga . Deve ter em conta que profundidades menores do que 2 vezes o calado da embarcação provocam redução do rendimento propulsivo com redução de velocidade e aumento do consumo de combustível, assim o mínimo indicado deve ser admitido em trechos restritos do canal; Ø largura mínima: considera-se em trechos retos a largura mínima necessária para permitir o cruzamento seguro e sem redução de velocidade de duas embarcações ou seja, 4,4 vezes a boca. Sem cruzamento a largura pode ser reduzida à metade; Ø área mínima de seção molhada: para não haver redução de rendimento propulsivo a área da seção molhada de uma via navegável deverá ser no mínimo 6 vezes a área da seção transversal da embarcação. Eventualmente poderá ser tolerável uma redução de até 5 vezes desta; Universidade de São Paulo – Escola Politécnica – Departamento de Hidráulica PHD 5023: Obras Fluviais, Prof. Eng. Dr. Giorgio Brighetti. pág. 26 Ø raio de curvatura: para que não haja restrições de velocidade nas curvas, o raio de curvatura deverá ser no mínimo 10 vezes o comprimento da embarcação. Raios menores podem ser admitidos desde que a largura da seção seja aumentada de uma sobre largura conforme a expressão: C 2 R/LS = , onde L= comprimento da embarcação e RC= raio de curvatura. Raios de curvatura menores do que 10L obrigam à redução de velocidades, aproximadamente iguais a tabela: Raio Velocidade 10L 1V 8L 0,875V 7L 0,750V 6L 0,626V 5L 0,500V 4L 0,375V Ø vão livre nas pontes, em trechos retos, a distância entre pilares deverá ser igual à largura mínima do canal acrescida de 5m de folga. No caso de não ser previsto cruzamento no vão, pode-se admitir uma largura mínima de duas vezes a boca da embarcação. Em trechos em curva, a largura entre pilares deve ser estudada para cada caso particular. No que diz respeito à altura livre sobre o nível d’água, o assunto é difícil em regiões densamente povoadas devido sobretudo as interferências com as estradas de ferro, deve-se adotar 15m como valor conveniente para a passagem de grandes comboios. No Tietê, foi adotado a altura mínima de 7m que é muito baixo para os modernos comboios de empurra. Nas vias em que a altura mínima é insuficiente, tem se utilizado o recurso da cabine de comando retrátil. Ø velocidade máxima, contra a corrente a velocidade máxima da água em que as embarcações podem trafegar depende da potência de seus motores. Normalmente a velocidade máxima maximorum é da ordem de 5m/s que corresponde a velocidade da embarcação em águas paradas de 18km/h . A favor da corrente a dificuldade é de controle de direção da embarcação sendo da mesma ordem de grandeza da velocidade da água que permite o tráfego seguro em linha reta. A velocidade máxima maximorum só pode ser aceita em pontos localizados. ao longo de grandes extensões se a velocidade da água é grande, o transporte fica anti-econômico. De maneira geral as velocidades máximas admissíveis para a navegação são: Ø fluxo paralelo à rota e embarcação trafegando: a favor da corrente: VC= 2,5m/s; contra a corrente, em áreas restritivas: VC= 1,8m/s. Ø correntes transversais (900) à rota: VC=0,7m/s. Ø correntes inclinadas (300 a 450) à rota: VC=1,2m/s A determinação da curva é fundamental para garantir a navegação esportiva, laser, ou de cargas, tanto no seu traçado em planta (raios, sobrelarguras, transições, etc.) quanto em corte (profundidade do leito, da lâmina d’água). Universidade de São Paulo – Escola Politécnica – Departamento de Hidráulica PHD 5023: Obras Fluviais, Prof. Eng. Dr. Giorgio Brighetti. pág. 27 Dimensões de uma Curva para a navegação Planta ï ï î ï ï í ì ap == ÷÷ ø ö çç è æ p = = 2tan x2 RR x2 x cosay 0 mínimo0x 0 0 Corte ( ) ï ï ï ï ï ï ï ï ï î ïï ï ï ï ï ï ï ï í ì ÷ ø ö ç è æ= - - ++= ¹Þ= d d Þ= -= ++= = d d Þ== d d Þ= 2 0 10 2 00 0 00 2 00 0 r R yH yH g2 V yZH 0y0 R Z cteZ r R lnyH 3 2 Z g2 V yZH cte r Z 0cte r y ctey Considera-se, ainda, o comprimento mínimo retilíneo igual a 2B entre curvas e uma sobre largura na curva entre 4B/3 e 7B/3, segundo Jamme, Ref. [7]. Universidade de São Paulo – Escola Politécnica – Departamento de Hidráulica PHD 5023: Obras Fluviais, Prof. Eng. Dr. Giorgio Brighetti. pág. 28 Sobre-largurase comprimento na curva navegável 2.2 Métodos Construtivos A retificação inclui as etapas limpeza do terreno, escavação, estocagem do material removido, tratamento do canal retificado, remoção dos septos, fechamento dos braços antigos e recuperação de terrenos inundáveis, quando necessário. A escolha do método construtivo depende da análise das características locais, principalmente tipo de solo, dos objetivos e dos custos pertinentes envolvidos. Na limpeza do terreno, destocamento, em terreno arborizado, costuma-se utilizar trator com arrasto de corrente para arrancá-las. A lagoa do Município de Carapicuíba, SP, oriunda da exploração de areia e da retificação, possui mais de 20m de profundidade, e é um dos “bota-foras” previstos no projeto de rebaixamento da calha rio Tietê, visto que no trecho urbano e retificado, as suas antigas alças, após utilizadas como depósito de material removido, encontram-se urbanizadas. 2.2.1 Retificação Direta A retificação direta envolve, em geral, com raras exceções, escavações “a seco” e subaquática. A escavação “a seco” é executada com equipamentos de terraplanagem convencionais, que dependendo do porte da obra e do prazo de execução, podem ser “motoscrapers” e caminhões “fora de estrada”, conservando-se as extremidades como ensecadeiras. A escavação “a seco”, normalmente é dificultosa devido ao fundo do canal situar-se abaixo no nível do lençol freático, o que leva a realizar a obra nos períodos de estiagem mas apresenta a vantagem de facilitar a fixação das margens. A escavação subaquática é realizada através de dragagem partindo-se de montante para jusante. As etapas da retificação são constituídas pela limpeza da superfície (destocamento); escavação com equipamentos de terraplanagem até a cota do lençol freático e, abaixo do lençol freático, subaquática com draga (sucção e recalque ou caçamba). Dependendo da composição do leito pode ser necessário o derrocamento. 2.2.2 Canal Piloto Muitas vezes o corte do meandro é efetuado através da abertura de um canal piloto de pequena dimensão, procurando-se, através da energia da água, produzir a abertura do restante do corte e assoreamento da alça abandonada. Universidade de São Paulo – Escola Politécnica – Departamento de Hidráulica PHD 5023: Obras Fluviais, Prof. Eng. Dr. Giorgio Brighetti. pág. 29 SEÇÃO PRETENDIDA CANAL PILOTO t>tc Canal Piloto É o método preferencial por ser econômico e de fácil execução. Pode-se controlar a vazão que passa em cada braço (canal piloto e antiga alça) pela abertura sistemática do controle de montante, conjugado com o fechamento do controle de jusante, para se obter assoreamento da alça e controlando a erosão do canal piloto de forma a causar o mínimo acréscimo de descarga sólida a jusante. O método permite o gradual rebaixamento do lençol freático e um certo controle, através do controle da seção do corte, do perfil final obtido. Há conseqüências que precisam ser avaliadas neste método construtivo quanto ao volume e destino do material erodido e lançado a jusante e, principalmente, a garantia da seção pretendida. Por motivos econômicos é conveniente abrir o canal piloto com uma seção mínima que pode ser determinada, de forma aproximada, pela relação entre velocidades do meandro e do canal piloto, ou seja: ï ï ï ï î ï ï ï ï í ì = = = mH m p 2 m 2 p pH m p p m ppH mmH p m R L L V V R L L I I I*R I*R V V onde: Vm, RHm, Lm, Im= velocidade média, Raio hidráulico, extensão, declividade do meandro e Vp, RHp, Lp, Ip= velocidade média, Raio hidráulico, extensão, declividade do canal piloto. Fixada a Vp, velocidade do canal piloto, que deve ser superior à necessária para erodir o material do qual o mesmo é constituído, obtém-se o RHp, raio hidráulico, que permite a determinação da área do canal piloto. Há estudos sobre valas ou estaqueamentos limitantes desenvolvidos principalmente nos rios Missouri e Mississipi, EUA, para garantir a seção pretendida, isto é, com valas laterais preenchidas com material granular que quando atingidas pelo processo erosivo tendem a cair sobre o talude do canal piloto criando, assim, um tapete de proteção que impede o avanço da erosão ou cortinas estaqueadas formando obstáculos à erosão. Universidade de São Paulo – Escola Politécnica – Departamento de Hidráulica PHD 5023: Obras Fluviais, Prof. Eng. Dr. Giorgio Brighetti. pág. 30 SEÇÃO PRETENDIDA CANAL PILOTO t>tc MATERIAL GRANULAR LIMITANTE SEÇÃO PRETENDIDA CANAL PILOTO t>tc ESTAQUEAMENTO LIMITANTE Canal Piloto Limitante 2.2.3 Obras Complementares As principais obras complementares são o aterro da alça e a proteção do canal retificado. O aterro da alça quase sempre é necessário para o aproveitamento do terreno ou motivos sanitários e ambientais. Parte desse aterro pode ser obtido pelo assoreamento provocado pelo próprio rio desde que a retificação seja controlada e as condições naturais sejam favoráveis. O restante do aterro é realizado com dificuldades exigindo transporte de material visto que há carência nas várzeas aluvionares. A proteção do canal retificado incluindo o antigo leito é quase obrigatória para evitar a tentativa das águas refazerem o meandro em busca do equilíbrio morfológico. 3.3 Dragagem As dragagens fluviais quase sempre destinam-se a melhorar as condições de navegabilidade ou a melhorar o escoamento das águas sob o ponto de vista de Universidade de São Paulo – Escola Politécnica – Departamento de Hidráulica PHD 5023: Obras Fluviais, Prof. Eng. Dr. Giorgio Brighetti. pág. 31 inundação, tomadas d’água, irrigação, drenagem (rebaixamento do lençol freático), obras (portos, espigões, barragens), retificações, etc. Entende-se por dragagem a retirada, transporte e deposição de material submerso por processos mecânicos ou hidráulicos (sucção), onde o custo e os impactos ambientais potenciais devem ser considerados. Os métodos tradicionais são aplicados para materiais poucos resistentes, como os sedimentares, mas, eventualmente, pode-se dragar rochas friáveis (decompostas) e/ou rochas sãs, depois do desmonte por derrocamento. As dragagens fluviais diferem das marítimas, apesar de usarem equipamentos similares, apresentam peculiaridades: pequenas profundidades (4 a 5m), águas tranqüilas mas as correntes podem atingir valores significativos e volumes movimentados pequenos. A retirada ou remoção do material pode ser de dois tipos: a) mecânica, menos seletiva quanto ao material mas com operação descontínua, com a utilização de caçambas (retroescavadeira, “drag-line”, pás carregadeiras, alcatruzes, “dipper”, “clamshell”) ou b) hidráulica, ou seja, por sucção e recalque da mistura água (80%) e sedimentos (20%), que é seletiva mas com operação contínua (com desgregador, arrasto, autotransportadora). A remoção mecânica retira maior quantidade de materiais sólidos do que a hidráulica, porém apresenta limitações quanto ao alcance vertical e horizontal. Na remoção hidráulica, com draga de sucção, como a bomba é do tipo centrífuga, suporta materiais finos com alguma consistência (argilas, areias), mas apresenta problemas com desagregados e lixos, sendo, em alguns casos, indicado um escarificador (desagregador giratório) para triturar e pré-qualificar o material succionado. Escavação “a seco” A dragagem, quando o material é rocha (taguá ou sã), é complexa e portanto cara, precisando de um derrocamento com explosivos ou percussão. O taguá ou rocha fraturada ou em decomposição quando derrocado com explosivos não propaga a onda de choque, mas a rocha sã sim, sendo então recomendada a explosão direta na rocha sã, que fragmentará o taguá, sendo removido um composto formado por solo, taguá e rocha. O derrocamento utilizando a percussão consiste num martelete, tipo bate-estacas, indicado para rocha commoderada dureza, calcária e arenítica por exemplo, sendo que o gnaisse e o granito oferecem muita resistência quando não fraturados. Universidade de São Paulo – Escola Politécnica – Departamento de Hidráulica PHD 5023: Obras Fluviais, Prof. Eng. Dr. Giorgio Brighetti. pág. 32 A dragagem utilizada para a retificação, dependendo da dimensão do canal retificado, utiliza equipamento flutuante ou nas margens com “drag-line”, “dipper- line” ou torre. A fixação da profundidade a ser dragada é sobretudo um problema econômico ligado aos problemas específicos a serem equacionados. Para navegação a profundidade é fixada para a estiagem. A experiência revela que é difícil e oneroso garantir, através de dragagem fluvial, o aumento permanente de profundidade de mais de 1,5m em rios médios e grandes, visto que parte do material retorna e pelo transporte do material sólido normal do rio. A concepção da dragagem deve envolver, Ref. [13}: Ø a identificação e quantificação do material a ser dragado são importantes na determinação dos locais para deposição, via de regra, um dos maiores obstáculos de planejamento com alta ponderação no custo final da dragagem. O conhecimento do regime hidrológico fluvial e a sua tendência de equilíbrio devem ser conhecidos para equacionamento adequado da quantificação; Ø identificação das características físicas e químicas dos sedimentos determinam o equipamento e a sua deposição. A identificação e quantificação é importante que deve levar em conta as características geotécnicas que consideram a resistência do material envolvido. Para o trabalho no rio Tietê, o I.P.T. estabeleceu três categorias, considerando a dificuldade de operação de dragagem e as características geológicas e geotécnicas através do índice de resistência a penetração do amostrador “Therzaghi-Standart”: 1a. Categoria: constituído por aluviões quartenários incoerentes e de assoreamentos recentes, representados por argilas orgânicas moles, solos de alteração de rocha, arenoso e silte-arenoso, com Universidade de São Paulo – Escola Politécnica – Departamento de Hidráulica PHD 5023: Obras Fluviais, Prof. Eng. Dr. Giorgio Brighetti. pág. 33 índice de penetração inferior a 41 golpes por 0,50m iniciais do barrilhete amostrador; 2a. Categoria: argilas terciárias de cor cinza e verde, independente do índice de penetração obtido na sondagem ou solos de alteração de rochas arenosas e silte-arenosas, com índice de penetração superior a 41 golpes por 0,30m iniciais e 3a. Categoria: todos aqueles cuja resistência é superior à 2a. Categoria e portanto cuja remoção só é possível com desmonte prévio com explosivos; Ø seleção do equipamento de drenagem, Ref. [13]: a) “Hopper Dredges”: são, geralmente, autopropelidos com comprimentos entre 55 e 200m destinados a grandes movimentos de sedimentos como dos náuticos, podendo ser classificados segundo a sua capacidade de reservação: grande (>4.600m3); média (entre 1.500 e 4.600m3) e pequena (entre 1.500 e 390m3). A velocidade de percurso da embarcação está entre 1 e 1,5m/s considerando-se a profundidade de dragagem entre 3 e 25m. Apresenta as vantagens: indicado para grandes regiões abertas (estuários, mar, oceano ou grandes áreas fluviais) com grande volume sedimentar estacionário; não interfere no trafego e as desvantagens ou limitações: atua em águas calmas; a operação não é contínua; a quantidade de material removida ou a espessura de remoção não pode ser determinada com certo grau de precisão; é econômico para materiais de baixa densidade com problemas para remoção de material compacto; não é operacional em locais que exijam controle de espaço como estruturas hidráulicas; b) “Cutterhead Dredges”: equipamento com sucção do material dragado, configurando-se no mais utilizado no meio fluvial para sedimentos baixa densidade e diâmetros menores (areias, siltes, e seixos). Quando aclopado com o cortador rotativo ou desagregador (“cutterhead”) pode ser indicado para material aluvionar coesivo ou rocha em decomposição. Possui capacidade de transportar sedimentos por longas distâncias, inclusive ao depósito. A proporção de mistura entre sedimentos e fluido é de 0,25. As vantagens: indicadas para o meio fluvial; versatilidade e capacidade de remover vários tipos de materiais sedimentares e transporta-los a grandes distâncias; operação contínua; disposição de uma grande variedade de bombas e capacidades e as desvantagens ou limites: as tubulações de transporte e drenagem são rígidas causando problemas operacionais principalmente com ondas na superfície d’água; o cortador e os sistema de Universidade de São Paulo – Escola Politécnica – Departamento de Hidráulica PHD 5023: Obras Fluviais, Prof. Eng. Dr. Giorgio Brighetti. pág. 34 recalque exigem manutenção constantes, principalmente em função do material granular maior ou de lixo; podem ser impeditivos a navegação; Universidade de São Paulo – Escola Politécnica – Departamento de Hidráulica PHD 5023: Obras Fluviais, Prof. Eng. Dr. Giorgio Brighetti. pág. 35 c) “Dustpan Dredges”: é um equipamento de sucção com uma “vassoura” e jato de pressão para agitar os sedimentos para serem capturados, sendo indicados para meios fluviais com sedimentos entre a areia e seixos sem ondas superficiais, operando com baixa capacidade de remoção e alta capacidade de sucção e pequenas distâncias de transporte sem “boosters” (250 a 300m). A produção fica comprometida para profundidades de sedimentos superiores a 1,8m. As vantagens: é auto propelido podendo movimentar-se rapidamente para locais ou emergência com certa liberdade; não interrompe a navegação e pode atingir grandes produções para material aluvionar não coesivo e desvantagens ou limitações: limitação quanto a distância de transporte do material dragado; Universidade de São Paulo – Escola Politécnica – Departamento de Hidráulica PHD 5023: Obras Fluviais, Prof. Eng. Dr. Giorgio Brighetti. pág. 36 d) “Sidecasting Dredges”: é um equipamento hidráulico de succão, indicado para áreas marítimas ou estuárias onde o material dragado pode ser relançado no meio líquido para re-sedimentação ou auto transporte. As vantagens: é auto propelido podendo movimentar-se rapidamente para locais ou emergência com certa liberdade; não interrompe a navegação e pode atingir grandes produções para material aluvionar não coesivo e desvantagens ou limitações: sensíveis às flutuações do nível d’água e correntes do fluxo; pressupõe que o material não é contaminado e não produzirá efeitos ambientais prejudiciais; e) “Dipper Dredges”: constituí-se, basicamente, numa balsa com uma escavaderia. Normalmente operam com caçambas de 6 a 9 m3 de capacidade em profundidades não superiores a 15m. Quando em alta produtividade podem operar com ciclos horários entre 30 e 60. Indicados para material compactos, pesados, coesos, remoção de margens e próximos as estruturas hidráulicas devido ao controle operativos permitido. As vantagens: remove material consistente, inclusive obras remanescentes no curso d’água (espigões, soleiras, portos, pontes, tomadas d’água, eclusa, etc.), aplicável em pequenas áreas e baixos volumes e as desvantagens ou limitações: não opera com material não coesivo submerso, produção relativa baixa e não recomendada para áreas com material a ser removido contaminado devido a dispersão, raramente é autopropelido; f) “Bucket Dredges”: é um equipamento que utiliza um “bucket” (“clamshell”, “orangepeel”, “dragline”) apoiados sobre balsa. O “bucket” possui capacidade entre 0,75 e 9m3 A sua produção varia em função do material e da espessura mas 20 a 30 ciclos por hora são valores típicos. A profundidade limitante é de 30m. Aplicável a vários materiais, exceto aos muito coesivos e rochas. Apresenta uma perda considerável de material dragado por fluidez estimado em 35% dependendo da sua natureza. Universidade de São Paulo – Escola Politécnica– Departamento de Hidráulica PHD 5023: Obras Fluviais, Prof. Eng. Dr. Giorgio Brighetti. pág. 37 Indicados para a remoção de margens e próximos as estruturas hidráulicas (espigões, pontes, tomadas d’água, soleiras, eclusas, portos, etc.) devido ao controle operativo permitido. As vantagens e desvantagens: apresenta as mesmas vantagens e desvantagens do “Dipper”, exceto pelo pela incapacidade de dragar material compacto ou rocha. Ø alternativas potenciais de deposição do material dragado: A escolha da alternativa de deposição deve considerar os aspectos econômicos agregados aos impactos ambientais referentes à operação e o destino do material dragado. O transporte do material dragado pode ser realizado por dutovia, rodovia, ferrovia ou hidrovia (barcaças) sendo definido, basicamente, pelo tipo de draga utilizada, ou seja, quando a remoção é hidráulica, é adequado o transporte por dutos e nos demais tipos de remoção, como o material deve ser armazenado provisoriamente para secagem do lodo para depois transportá-lo definitivamente, prevalecem as demais opções de transporte. O projeto de desassoreamento do rio Tietê foi pré-concebido com uma dutovia até Santana do Parnaíba numa barragem de rejeitos, mas devido à grande variedade granulométrica e, principalmente, ao lixo, foi inviabilizada esta alternativa. Uma das premissas importantes, que deve ser contemplada nos projetos de retificação, é o local para lançamento, “bota-fora”, provisório ou definitivo, quanto à questão ambiental, principalmente no aspecto de poluição (visual, do solo, sanitário), visto que o material dragado possui, geralmente, metais (alumínio, manganês e ferro), pesticidas, excesso de material orgânicos, etc. O destino dos despejos é uma das parcelas significativas do custo da dragagem, principalmente as suas conseqüências ambientais, mas há basicamente quatro métodos de transporte: depósito em cisternas da draga (auto transportadoras); colocação em batelões; lançamento na água corrente, fora da área de interesse (dragagem de agitação) e recalque por tubulação. O emprego de dragagem com despejo em auto transportadoras quase sempre é empregado em grandes volumes e em obras marítimas que permitem calados maiores. A utilização de batelões possui inconvenientes relativos às manobras operacionais tais como o seu descarregamento, sendo justificável quando o “bota-fora” é muito distante, o que normalmente não ocorre em rios. A dragagem por agitação só apresenta vantagens com material muito fino e o escoamento fluvial é favorável. A dragagem com recalque por tubulação é amais utilizada, inclusive com a Universidade de São Paulo – Escola Politécnica – Departamento de Hidráulica PHD 5023: Obras Fluviais, Prof. Eng. Dr. Giorgio Brighetti. pág. 38 utilização de estações intermediárias (“busters”) que permitem conduzir o material retirado à longa distância. A medição e o controle dos trabalhos executados é um dos sérios problemas que, em princípio, pode ser feita no corte, no “bota-fora” ou no transporte. No corte a medição é sujeita às imprecisões decorrentes do retorno do material dragado, pelos sedimentos transportados naturalmente pelo curso d’água e de empolamentos do fundo produzidos pelo alívio das tensões devido à retirada da camada dragada. No “bota-fora” a medição produz valores menores do que no corte devido a fatores incontroláveis tais como: perdas de material em suspensão, compactação, recalque no terreno de suporte do depósito, fuga de material por percolação ou intempéries. A medição durante o transporte é a mais utilizada, apesar de não espelhar o estado do leito do rio. Ø identificação dos fatores sociais, ambientais e institucionais envolvidos; Ø plano de dragagem. Produção de Equipamentos de Dragagem Fluvial Equipamento Produção (m3/h) escavadeira com drag-line PH-955A 60 escavadeira com drag-line 71B 80 draga King 500/600 650t/h IHC- Beaver 1600, comprimento 33m, largura 22m, calado 2,5m, profundidade de dragagem máxima com jato= 40m e com cortador= 16m, 145t. 800t/h escavadeira com drag-line, caçamba de 1,5m3, eixo 900 150 escavadeira com drag-line, caçamba de 1,5m3, eixo 1800 120 escavadeira com shower, caçamba de 1,5m3, eixo 900 180 escavadeira com shower, caçamba de 1,5m3, eixo 1800 150 A produção e o custo dependem da profundidade de dragagem, equipamento disponibilizado e, principalmente, do material a ser retirado o que reflete diretamente no custo. Universidade de São Paulo – Escola Politécnica – Departamento de Hidráulica PHD 5023: Obras Fluviais, Prof. Eng. Dr. Giorgio Brighetti. pág. 39 Custo internacional para dragagem fluvial de material granular fino não coesivo é de US$1/m3, podendo multiplicar-se por dezenas de vezes quando o material é coesivo, com granulometria maior ou consistente. Há interesse, devido aos custos envolvidos, em manter a operação contínua da dragagem mas as dificuldades operacionais do período noturno, como iluminação, tripulação, alinhamento e despejo, acabam reservando a noite para manutenção dos equipamentos, determinado um período produtivo máximo de 12 a 14h/dia e 24dia/mês. Para o cálculo do rendimento final da dragagem é necessário considerar as perdas de tempo devido às variações de nível d’água, velocidades das correntes e outras características do rio. A produção das dragas de sucção é determinada pela descarga da bomba para uma certa altura manométrica multiplicada pela concentração do material sólido na mistura. A concentração é variável podendo-se admitir o valor máximo de 0,20m3 de material sólido por m3 de mistura. 4 Referências [1] Leopold, Luna B. , Wolman M. G., River Flood Plains, some observations on their formation, U. S.Geological Survey, Professional Paper 282-B, 1957; [2] Chitale. Proceedings of the American Society of Civil Engineers, Jan., no 96, HY1, 1970; [3] Lepold, Luna B. A View of the River, Havard University Press, Cambridge, London, England; [4] Amaral, Podalyro. Anotações de Aula de Pós Graduação, 1998; [5] Linsley, Ray K. , Franzini, Joseph B. Engenharia de Recursos Hídricos, 1964; [6] Petersen, S. Margaret. River Engineering, 1986; [7] Jamme, G. Travaux Fluviaux, 1974; [8] Lencastre, Armando. Hidráulica Geral, Portugal, 1983; [9] Chow, Ven Te. Open-Channel Hydraulics. Mc Graw Hill Book Company, EUA, 1959; [10] Isbach. Hydraulics of River Channel Closure; [11] Ramos, Carlos Lloret. Erosão Urbana e Produção de Sedimentos. Drenagem Urbana, ABRH, 1995; [12] Almeida, Carlos Eduardo de, Brighetti, Giorgio. Notas de Aula, PHD 502: Navegação Interior e Portos Marítimos, Fascículo I; [13] Dredging and Dredged Material Disposal, Engineer Manual, Department of Army Corps of the Chief of Engineers, EM 1110-2-5025, Washington, EUA, 1983; [14] .Tocantins-Araguaia, Uma hidrovia para sustentar o desenvolvimento do Brasil Central, AHITAR – Administração da Hidrovia Tocantins Araguaia, junho /2000.
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