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Magistratura e Ministério Público CARREIRAS JURÍDICAS Damásio Educacional Disciplina: Direito Civil Professor: José Simão Aula: 3 e 4 | Data: 06/08/2015 MATERIAL DE APOIO ANOTAÇÃO DE AULA SUMÁRIO I – CAPACIDADE II - ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA. CAPACIDADE 1 – Capacidade de fato ou de exercício. É a capacidade de se praticar pessoalmente os atos da vida civil, certas pessoas não tem tal capacidade, apesar de terem a capacidade de direito. Toda teoria das incapacidades é protetiva do incapaz, ou seja, ao definir quem são os incapazes, o Código elege pessoas que terão uma proteção especial. Conclusão, todas as regras de incapacidade são interpretadas em favor do incapaz. A incapacidade decorre da perda ou redução do discernimento. Há dois tipos de incapacidade: a) Absoluta - art. 3º, CC. Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I - os menores de dezesseis anos; II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; Para o sistema, tais pessoas não tem discernimento. Como sua vontade é desconsiderada, o absolutamente incapaz é representado. O representante pratica o ato por ele. Será nulo o ato praticado por absolutamente incapaz, vide art. 166, I, CC. Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando: I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz; Página 2 de 5 b) Relativa – art. 4º, CC. Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido; III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; IV - os pródigos. Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial O relativamente incapaz tem discernimento reduzido, logo, a sua vontade é considerada e o ato é praticado pelo próprio incapaz conjuntamente com seu representante legal. Ele é assistido ou auxiliado, se o relativamente incapaz praticar o ato sem a assistência, este será anulável, vide art. 171, I, CC. Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: I - por incapacidade relativa do agente; São absolutamente incapazes: a) Os menores de 16 anos (menores impúberes). b) Os que, por enfermidade ou deficiência mental não tiverem necessário discernimento para a prática dos atos da vida civil. A regra é que com a maioridade, todos passam para o estado de capazes, logo, a incapacidade por doença exige prévia declaração judicial que decorre do processo de interdição, cujo resultado é a curatela (nomeação de curador). A idade avançada não retira capacidade. O Direito Civil não admite intervalos lúcidos, ou seja, mesmo que o ato seja praticado pelo incapaz em momento de pleno discernimento, o ato continua invalido. c) Os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. Ex: pessoa em coma. A interdição nesta hipótese pode ser levantada quando o incapaz volta a exprimir sua vontade, ou seja, lhe é restituída a capacidade plena. Não se trata de punição, mas de proteção jurídica. Página 3 de 5 Os relativamente incapazes. a) Os maiores de 16 e menores de 18 (menores púberes). b) Ébrios habituais e os viciados em tóxico, e os que, por deficiência mental, tem o discernimento reduzido. Não é o vício em si que retira a capacidade, mas a perda ou redução do discernimento. Obs: Os ébrios e os viciados em tóxico podem ser considerados absolutamente incapazes. c) Os excepcionais sem desenvolvimento mental completo. Também podem ser absolutamente incapazes, provada a ausência de discernimento. Ex: pessoas portadoras de síndrome de down. d) Os pródigos. É aquele que gasta desordenadamente, colocando em risco sua subsistência e de sua família. A curatela do pródigo é, na realidade, curatela de seu patrimônio (“cura rei”) e não de sua pessoa, nos moldes do que ocorre com a curatela dos bens do ausente. O art. 1782 indica que a curatela do pródigo se restringe à prática de atos de disposição patrimonial que não de mera administração. Contudo, para os atos pessoais, o pródigo não necessita de curado. Ex: casamento, adoção. Obs: se o pródigo quiser escolher regime de bens que não o da comunhão parcial, o fará por pacto antenupcial e, então, a assistência do curador será necessária. Obs geral1 – o termo representante legal é utilizado para as hipóteses de representação e de assistência. O Código opta por, em regra, não utilizar a expressão assistente legal. Obs geral2 – Os representantes legais dos menores serão o pai e a mãe. Se o menor for órfão ou os pais perderam o poder familiar, o menor terá um tutor. A tutela é um sucedâneo do poder familiar (substitui o poder familiar). A curatela é aplicada a todas as incapacidades que não decorrem da idade (pródigo, ébrio, deficiente, etc.). Exceções à incapacidade. 1ª – O menor com 12 anos deve concordar com a sua adoção. 2ª – O menor com 16 anos completos pode: a) Ser testemunha; Página 4 de 5 b) Ser mandatário; c) Elaborar testamento. Existem certas condutas humanas chamadas de socialmente típicas, que são toleradas pela sociedade e, portanto, o Direito não cuida de sua validade. Haupt as chama de relações contratuais de fato. Ex: menor que compra lanche ou é transportado pelo ônibus. ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA – Lei 13.146/2015 – 06/07/15 O estatuto decorre da convenção de Nova Yorque, ratificada pelo Brasil. Trata de garantir a inclusão social das pessoas com deficiência e tem grande valor. A premissa do estatuto é que a pessoa com deficiência tem uma característica, mas não uma enfermidade e, portanto, não se fala em portador nem em interdição. 1 – Efeitos do Estatuto. a) O Estatuto reforma o art. 3º do CC, passando a ter a seguinte redação. Só são absolutamente incapazes os menores de 16 anos. b) Pelo Estatuto, aqueles que não puderem exprimir sua vontade por causa transitória ou permanente, são relativamente incapazes – art. 4º, III, CC. A incapacidade relativa é inútil para tais casos, já que o incapaz não poderá exprimir sua vontade, logo, o juiz deve reconhecer a incapacidade absoluta por analogia, assim como o faz para os menores de 16 anos. c) Revogação do inciso I do art. 1.548, CC, e, portanto, passa a ser válido o casamento do enfermo mental deficiente. Obs: se a vontade for inexistente, o casamento também o será. d) O deficiente é pessoa plenamente capaz, art. 6º do Estatuto e, por isso, foram alterados os arts 3º e 4º do CC. A capacidade plena serve, inclusive, para as decisões familiares: casamento, união estável, adoção, planejamento familiar, etc. e) O deficiente é plenamente capaz, mas, pelos arts. 84, § 1º e 85, pode ter um curador, o que gera perplexidade, pois teremos um absolutamente incapaz sob curatela. O processo não é de interdição, mas de fixação de curatela – art. 1768, CC. Problema: se o deficiente capaz tiver um curador, qual é a função deste? Página 5 de 5 Primeira solução: a curatela é inócua e o deficiente pode, validamente, praticar todos os atos da vida civil. Segunda solução: o juiz analisa o grau de discernimento do deficiente e, apesar de reconhecer sua capacidade, nomeia um curador para representa-lo ou assisti-lo, dependendo do grau de discernimento. Nesta solução, os atos praticados pelo deficiente sem representação ou assistênciasão inválidos, por aplicação analógica dos arts. 1661 e 1711, CC. Obs: a solução é tecnicamente ruim, pois amplia invalidades, mas é a única que protege o deficiente sob curatela.
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