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325958021-SELECAO-DE-MATERIAIS-DE-INFORMACAO-PRINCIPIOS-E-TECNICAS-3-ED-2010

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Prévia do material em texto

Waldomiro Vergueiro 
Seleção de materiais 
de informação: 
princípios e técnicas 
Terceira edição 
BRIQUET DE LEMOS 
LIVROS 
© Waldomiro Vergueiro, 2010 
Todos os direitos reservados. De acordo com a lei nº 9 610, de 19/2/1998, nenhu­
ma parte deste livro pode ser fotocopiada, gravada, reproduzida ou armazenada 
num sistema de recuperação de informação ou transmitida sob qualquer forma 
ou por qualquer meio eletrônico ou mecânico sem o prévio consentimento do 
autor ou da editora. 
Primeira edição: 1995 
Segunda edição: 1997 
Este livro obedece ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 
Revisão: Maria Lucia Vilar de Lemos 
Capa: Formatos Design Gráfico Ltda. 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
Câmara Brasileira do Livro. sr, Brasil 
Vergueiro, Waldomiro 
Seleção de materiais de informação· princípios e técnicas/ Waldomiro Vergue1ro. -3. 
ed. -Brasília, OF · Briquet de Lemos/ Livros, 2010. 
ISBN 978-85-85637-41-5 
l. Bibliotecas -Serviços de aquisição 2. Livros -Seleção 3. Livros- Política de.seleção 
1. Título.
10-03633 
Índices para catálogo sistemático: 
1. Seleção: Material de informação: Biblioteconomia 025.21 
2. Material de informação: Seleção: Biblioteconomia 025.21
2010 
Briquet de Lemos / Livros 
SRTS - Quadra 701 - Bloco o - Loja 7 
Edifício Centro Multiempresarial 
Brasília, OF 70340-000 
Telefones (61) 3322 9806 / 3323 1725 
,vww.briquetdelemos.com.br 
editora@briquetdelemos.com.br 
coo 025.21 
1 
2 
3 
4 
5 
6 
Sumário 
Introdução 
A seleção: um momento de decisão 
Considerações gerais que influenciam a seleção 
O assunto 
O usuário 
O documento 
O preço 
Questões complementares 
Em busca de critérios de seleção 
Critérios que abordam o conteúdo dos documentos 
Critérios que abordam a adequação ao usuário 
Critérios relativos a aspectos adicionais do documento 
Seleção de materiais especiais e multimeios 
Periódicos 
Histórias em quadrinhos 
Livros infanta-juvenis 
Filmes, vídeos e ovos 
Discos, fitas e cos 
Diapositivos 
Outros materiais 
Seleção de documentos eletrônicos 
CD-ROMS e DVD-ROMS
Bases de dados on-line
Documentos disponíveis na internet 
Organizando o processo de seleção 
Quem seleciona? 
1 
5 
11 
13 
13 
14 
15 
15 
17 
18 
22 
23 
26 
27 
30 
32 
35 
38 
40 
42 
43 
45 
49 
51 
57 
58 
scanned by Regis Feitosa
Mecanismos para identificação, avaliação e registro 
Formulários para indicação e seleção de títulos 
Instrumentos auxiliares da seleção 
7 Política de seleção 
Componentes do documento de política de seleção 
8 Doações 
9 Reconsideração da decisão de seleção 
10 Tópicos especiais de seleção 
Seleção e formação profissional 
Seleção e censura 
Seleção e cooperação bibliotecária 
Seleção e direitos autorais 
11 O futuro da seleção 
A adequabilidade do livro 
O custo do livro 
O contexto social da informação 
A seleção de materiais na era da informação eletrônica 
12 Considerações finais 
Bibliografia complementar 
Anexos 
Índice 
vi 
63 
63 
65 
68 
71 
75 
77 
79 
80 
83 
88 
93 
99 
100 
101 
102 
103 
109 
110 
116 
119 
e 
Introdução 
JÁ FAZ MAIS DE UMA DÉCADA que a· segunda edição deste livro foi 
publicada. E acho que pelo menos uns cinco anos desde que ela se 
esgotou. Do momento da publicação do livro àquele em que a tota­
lidade de seus exemplares foi adquirida por bibliotecários ou estu­
dantes de biblioteconomia do país inteiro, várias coisas se modifica­
ram na realidade das bibliotecas e unidades de informação do país. 
Consciente dessas mudanças, eu entendi, então, que uma republica­
ção ou reimpressão da obra não seria conveniente. Para continuar 
cumprindo seus objetivos, ela necessitaria ser atualizada. 
�nicialmente, tudo pareceu relativamente fácil. Afinal, em pouco 
mais de um ano de trabalho eu havia conseguido elaborar a segun­
da edição do livro, publicada apenas três anos depois da primeira. 
Desta vez, no entanto, as coisas não correram da mesma forma. Feliz 
ou infelizmente, envolvi-me em muitas atividades profissionais nos 
últimos dez anos, dando prosseguimento à minha carreira acadêmi­
ca, exercendo por duas vezes a chefia do Departamento de Bibliote­
conomia e Documentação da Escola de Comunicações e Artes da 
Universidade de São Paulo, engajando-me na orientação de traba­
lhos acadêmicos em nível de mestrado e doutorado, dedicando-me 
a outros projetos de livros (alguns deles tampouco finalizados até 
hoje), publicando livros em outras áreas, etc. Tudo isso não me per­
mitiu a concentração necessária para dedicar-me à atualização de 
meus vários livros na área de biblioteconomia, entre os quais este se 
inclui. 
A ideia de trabalhar na terceira edição de Seleção de materiais de
informação jamais foi abandonada. Ela sempre representou um fan­
tasma a me espreitar, fantasma do qual eu sabia que não conseguiria 
fugir indefinidamente e que cedo ou tarde iria alcançar-me. Parece 
que este dia finalmente chegou. Para o bem ou para o mal. 
Lembro-me que, ao escrever a introdução da segunda edição deste 
livro eu historiei o início de minha atuação como autor na área de 
biblioteconomia, reportando-me à publicação de meu livro sobre de-
1 
senvolvimento de coleções e às portas que ele me havia aberto na 
profissão (sua segunda edição é também outro fantasma em minha 
- vida ... ). Hoje, tantos anos passados, vejo que aquilo que mencionei
sobre o livro [?esenvolvimento de coleções poderia ser aplicado a todos
os outros que tive publicados posteriormente.
Provavelmente, a forma positiva como meus livros sempre fo­
ram recebidos pelos colegas bibliotecários e por outros professores 
de biblioteconomia se deveu muito mais ao acaso do que a algum 
talento especial que eu possua. Seja quaJ tenha sido a razão, o fato é 
que, largamente adotados pelos diversos cursos do país, eles tive­
ram na profissão uma repercussão que eu jamais esperava alcançar. 
Confesso que até hoje fico impressionado com as manifestações a 
respeito de minhas obras, principalmente quando participo de even­
tos da área e faço contato com alunos ou bibliotecários mais jovens, 
que tiveram conhecimento de meus livros durante seu período aca­
dêmico. Isso me torna especialmente feliz, pois os autores escreve­
mos para sermos lidos, para que nossas reflexões possam atingir e 
modificar a vida de nossos leitores. Por isso, como falei antes, atua­
li2ar uma, obra bem-sucedida é uma tarefa particularmente espinho­
sa, pois se corre o risco de mexer exatamente naqueles pontos que 
mais agradaram aos leitores, de retirar do livro exatamente aquilo 
que foi a razão de seu sucesso. Mas são os riscos que fazem a vida 
emocionante. Por que fugir deles, então? 
Sem dúvida, muita coisa mudou no ambiente da informação des­
de a segunda edição deste livro. Em 1998, a internet ainda estava 
longe de se tornar a realidade corriqueira que hoje representa para 
bilhões de pessoas no mundo. A porcentagem de pessoas alijadas do 
mundo da informação eletrônica era então muito maior do que ago­
ra e, pelo menos em termos do grande público não-especializado, 
tinha-se uma ideia ainda relativamente vaga sobre o impacto que 
esses novos meios de comunicação eletrônica viriam a ter no futuro. 
Assim, as considexações que fiz quando comecei a refletir para 
elaborar a segunda edição do livro parecem excessivamente ingênu­
as quando vistas com os olhos de hoje: 
[ ... ) a primeira coisa que me veio à mente foi abordar as implicações 
desta nova realidade sobre as atividades de seleção. Afinal, o que esta 
verdadeira ebulição eletrônica representa para aqueles profissionais que 
2 
têm por obrigação selecionar materiais de informação para as bibliote­
cas? Estarão eles condenados ao desemprego?Serão eles dinossauros 
fadados à extinção (seremos todos nós)? As respostas para essas per­
guntas, começou a parecer-me, poderiam variar bastante, dependendo 
da forma como se busque encarar essas mudanças, sua abrangência e o 
ritmo com que elas acontecem ou irão acontecer no futuro. Achei que 
esta seria uma discussão proveitosa para ser realizada numa segunda 
edição. 1 
Embora alguns desses questionamentos continuem váJidos, alguns 
outros poderiam ser acrescentados, levando a discussão a um ponto 
cego, em que não seria mais possível vislumbrar saídas. Em um 
mundo em que a totalidade dos documentos e informações parece 
estar ao alcance das mãos de qualquer interessado, a necessidade da 
própria atividade de seleção pode ser facilmente questionada. Se 
tudo posso ter, não necessito escolher. Se a tudo tenho acesso, não 
preciso me preocupar com qualquer tipo de incompletude. De uma 
certa forma, as possibilidades de felicidade infinita prometidas por 
Borges em seu conto A biblioteca de Babel,2 em que todo e qualquer 
livro estará acessível ao interessado, em todas as suas possibilida­
des, o original e sua cópia, a cópia da cópia e todas as outras cópias imagi­
náveis, cada uma com pequenas e mínimas diferenças entre elas, parece 
ter se tornado realidade na nova ordem mundial da informação ele­
trônica. 
Vã ilusão. Como sabemos, a abundância ou mesmo a totalidade 
de informações não é necessariamente sinônimo de acesso a elas. 
Ou de permanência. Como já foi mencionado por muitos autores -
tantos que nem me dou ao trabalho de citá-los neste momento -, 
nem tudo o que hoje está acessível nas redes eletrônicas de informa­
ção continuará a se manter desta forma no futuro. Muita coisa será 
retirada do ar sem qualquer tipo de explicação ou mesmo sem moti­
vo algum. Muita coisa será substituída por outra mais recente ou 
atualizada, perdendo-se a versão anterior e, com ela, as relações so­
ciais ou pessoais que havia produzido. Isso terá consequências ain­
da não bem dimensionadas para diversas áreas, como a história, a 
sociologia, o jornalismo. 
Tudo isto me fez acreditar na necessidade de uma terceira edição 
de meu livro Seleção de materiais de informação. Assim, como procedi 
3 
da vez anterior, reli o que havia escrito antes, mantive o que entendi 
continuar com a mesma validade, reformulei as partes em que senti 
a necessidade de um enfoque diferente, acrescentei informações que 
me pareceraq1 necessárias, atualizei a bibliografia, ampliei conside­
rações que antes só havia esboçado. Acredito que acertei em algu­
mas decisões, assim como, provavelmente, equivoquei-me em ou­
tras (e espero sinceramente que o número das primeiras seja subs­
tancialmente maior que o das segundas ... ). Acredito, também, que 
deixei de seguir alternativas que talvez pudessem ser mais interes­
santes tanto para mim quanto para os futuros leitores do livro. Mas 
sobre isso não me debruço ou peço desculpas. $empre tive por nor­
ma que alguém jamais se deve arrepender daquilo que não fez. Não 
vejo motivo para mudar de opinião a esta altura da vida. 
Notas 
1 VERGUEIRO, Waldomiro. Seleção de 111aleriais de informação. 2 .cd. Brasília: Briquct 
de Lemos/ Livros, 1997, p. 4. 
2 BORGES, Jorge Luis. A biblioteca de Babel. ln:--. Ficções. São Paulo: Compa­
nhia das Letras, 2007. 
4 
1 
A seleção: um momento de decisão 
O BIBLIOTECÁRIO TALVEZ NÃO o saiba, mas há um momento em que é 
chamado para tomar uma decisão. Ou seja: um momento de deci­
são. Não que deva sentir-se uma Shirley MacLaine ou uma Anne 
Bancroft, mas a sensação talvez seja um pouco parecida com a que 
elas experimentaram no filme Momento de decisão (The turning point) 
(se alguém ainda não o assistiu, assista-o). Há um momento em que o 
poder de decisão pode estar nas mãos do bibliotecário. É quando da 
seleção. De livros, periódicos, discos, filmes. De qualquer material 
passível de fazer parte do acervo. De qualquer item cuja incorporação 
ao conjunto existente contribua para que se aproxime mais dos objeti­
vos estabelecidos para aquele agrupamento de materiais informacio­
nais. Assim, ao menos potencialmente, o bibliotecário interfere na 
vida de inúmeras pessoas. Quando um simples ato profissional de­
fine o universo de informações a que um grupo de usuários terá 
acesso, pode-se dizer que o bibliotecário detém o poder. O poder. _ 
Mas, considerando o acima exposto, alguém poderá perguntar: o 
que, exatamente, significa isso? Entre outras coisas, significa que o 
bibliotecário, queira ou não, é um elemento que está permanente­
mente interferindo no processo social. Isto, sem dúvida, é uma es­
pécie de poder: O quanto este poder interfere de fato no processo 
social já é uma outra questão, que provavelmente exigirá uma res­
posta mais elaborada. 
O universo das probabilidades é infinito: imagine-se, por exemplo, 
que um grande pesquisador necessita de uma informação sobre de­
terminado componente químico, e que essa informação lhe permiti­
rá desenvolver uma vacina contra a AIDS. Vai à bibljoteca e descobre que 
ela não possui o título que traz essa informação. Preenche um for­
mulário sugerindo a aquisição do livro e espera sua chegada. O bi-
5 
bliotecário, ao analisar o pedido, decide que aquele documento não 
está entre as prioridades da coleção e o rejeita. Infelizmente, o pes­
quisador não tem a possibilidade de utilizar outras fontes, pois al­
gum tempo depois da decisão falece em um acidente automobilístico. 
Com isso, anos de pesquisa são comprometidos e uma descoberta 
científica é atrasada. Tudo isso porque o bibliotecário não selecionou 
o material que permitiria ao pesquisador concluir sua pesquisa ...
É claro que isso tudo é um exagero. Não é o caso de se deixar
envolver pela paranoia. Esse exercício de imaginação busca apenas 
salientar que o efeito que uma decisão pode ter sobre a vida dos 
usuários é realmente inimaginável. 
Assim como se pergunta o que efetivamente é esse poder do qual 
o bibliotecário está imbuído, pode-se questionar se e quanto ele está
preparado para assumir esse papel ou utilizar esse poder (presume­
se: em benefício da sociedade). Infelizmente, deve-se admitir que a
resposta a essas perguntas, pelo menos na maioria dos casos, seria
negativa. Os motivos? Muitos e variados, indo desde a falta de co­
nhecimentos básicos sobre o mercado editorial - o que, para dizer
o mínimo, lhe possibilitaria tomar as decisões de maneira mais efi­
ciente, - até sua inconsciência sobre a importância da atividade de
seleção. Por isso, o mais das vezes, esse poder acaba se transforman­
do em fumaça. Foge. Às vezes por culpa do profissional, mas nem
sempre. Às vezes os demais personagens do sistema informacional
(superiores hierárquicos, como diretores, secretários municipais e
prefeitos; ou grupos de usuários, como os pesquisadores, os profes­
sores, etc.) assumem esse poder. E o bibliotecário fica a contempla� 
outros tomando decisões nas quais ele muito teria a contribuir. E 
travestido de ajudante de ordens, executor, escudeiro e outras deno­
minações tão ou mais degradantes quanto essas (pelo menos, sob 
este ponto de vista). Uma situação não muito agradável para um 
profissional com um perfil de nível superior, deve-se convir ... 
O que acima foi dito leva, preliminarmente, à necessidade de es­
tabelecer uma premissa básica, sem a qual toda a discussão que se 
pretende fazer a seguir perderá sua razão de ser: o bibliotecário tem 
algo a dizer no que se refere à seleção de materiais para as bibliot�­
cas (se alguém não concordar com isso, fará melhor em fechar o li­
vro nesse momento e sair para comer uma pizza ... ). Como funda­
mento a essa premissa, �evem-se salientar dois pontos: 
6 
1) o bibliotecário conhece, ou deveria conhecer, o acervo sob sua
responsabilidade, sabendo melhor do que ninguém em que aspec­
tos ele está fraco, em que aspectosele está forte, em que aspectos ele 
atingiu um estágio ideal de desenvolvimento; 
2) o bibliotecário conhece, ou deveria conhecer, o usuário cujas
necessidades informacionais tem por obrigação procurar atender, 
sabendo avaliar objetivamente suas demandas e diferenciando as 
que têm características mais duradouras, ligadas a necessidades reais, 
das que são ditadas por tendências esporádicas, influência dos meios 
de comunicação de massa ou de modismos. 
Estes deveriam ser argumentos suficientes para que os bibliote­
cários participassem mais ativamente no processo de seleção. Na 
realidade, devido aos senões apontados, isto acaba não acontecendo. 
Nem todos os profissionais conhecem suficientemente bem o acervo 
sob sua responsabilidade, de modo a poderem tomar decisões eficien­
tes a respeito de inclusões ou exclusões que poderiam ou deveriam 
ser feitas nesse acervo. O mesmo se pode afirmar em relação aos 
usuários: em número de vezes maior que o desejado, não passam de 
ilustres desconhecidos para os bibliotecários. As exceções vão sem­
pre dizer respeito àqueles usuários mais assíduos à biblioteca, que 
acabam se transformando, bem ou mal, no parâmetro para todos os 
outros. Nesses casos, a exceção é vista como se fosse a regra e as 
decisões acabam muitas vezes tendo-a por base. Desnecessário enume­
rar a variedade de distorções que podem originar-se de uma prática 
como essa. As bibliotecas já são um testemunho por demais gritante. 
Mas que não se entenda erradamente o que aqui se propõe: não se 
está defendendo a participação única e exclusiva do bibliotecário na 
seleção, alijando todos os usuários, como se eles não tivessem, por 
sua vez, nada a colaborar para o processo. Isto seria excesso de ra­
dicalismo, algo parecido com levantar a bandeira da 'biblioteca para os 
bibliotecários' que muitas vezes está por trás de um corporativismo 
malintencionado e/ou idiota. Absolutamente. Os usuários devem atuar 
no processo de seleção e em muitos casos será deles a decisão final. 
O bibliotecário deverá sempre participar com seu conhecimento da 
coleção, propondo uma direção coerente para o acervo e gq.rantindo, 
assim, que os objetivos para ela estabelecidos não se percam com o 
passar do tempo. Sua participação é essencial para evitar que a cole-
7 
ção se transforme em um agrupamento mais ou menos desajeitado 
de documentos que nem sempre têm muita coisa em comum. 
Parece também evidente que ao bibliotecário deve caber a orga­
nização da seleção de maneira racional e eficiente, estipulando re­
gras, definindo critérios ou estabelecendo responsabilidades. Assim, 
mesmo quando não é ele quem diz o sim ou o não definitivo, sua 
presença faz-se sentir durante todo o processo. Talvez se possa afir­
mar que, no que diz respeito à seleção, uma das melhores contribui­
ções do bibliotecário esteja em sua capacidade de coordenar deman­
das e necessidades conflitantes, de maneira a garantir que o resulta­
do final seja o mais harmonioso possível. Neste sentido ele é, acima 
de tudo, um negociador. 
Talvez o exemplo mais característico desta função de negociador 
do bibliotecário seja a atividade de seleção desenvolvida em bibliote­
cas especializadas ou mesmo universitárias. No Brasil, ao contrário de 
outros países, o bibliotecário não é um especialista na área em que 
atua. Isto equivale a dizer que um profissional que trabalha em uma 
biblioteca especializada em biologia ou medicina, por exemplo, não 
tem conhecimento forma], especializado, dessas áreas. Por melhores 
intenções que possua, ele é, usando-se uma expressão popular, ape­
nas um leigo no assu,nto. E provavelmente jamais passará disso, em­
bora os anos de experiência possam vir a trazer-lhe, de modo mais 
ou menos eventual, um razoável conhecimento da literatura da área 
em que atua. Mesmo querendo ser o mais otimista possível, é difícil 
acreditar que possa ir muito além disso. Daí ser possível afirmar que 
a melhor contribuição que o bibliotecário poderá prestar ao usuário 
especializado será a de coordenar as diversas demandas ou necessi­
dades existentes, balanceando o acervo segw1do a importância rela­
tiva dos assuntos, priorizando a seleção em função dos projetos em· 
desenvolvimento na instituição ou dos cursos existentes, atuando 
em conjunto com wna comissão de seleção composta por especialis­
tas nos assuntos representados no acervo. 
Nos casos em que a decisão final de seleção não pertença ao bi­
bliotecário, será necessário que ele tenha um conhecimento bastante 
preciso dos procedimentos adotados nesse processo, de modo a poder 
defender as necessidades da coleção. Talvez até se devesse dizer: é 
exatamente quando não possui o poder da decisão final que o biblio­
tecário deve ser ainda mais zeloso em suas preocupações com o de-
8 
senvolvimento da coleção. A experiência mostra que os usuários ten­
dem a enxergar de maneira bastante limitada o acervo, estabelecen­
do suas necessidades pessoais mais imediatas como o parâmetro de 
todas as decisões sobre a coleção. O bibliotecário tem condições de 
ir muito mais além. 
A objetividade no processo de seleção é uma meta sempre alme­
jada. Sem ela, existe o risco de surgirem acusações de favoritismo 
ou ineficácia da parte de cada usuário que não se sinta satisfeito 
com a escolha efetuada. Para fazer frente a essas acusações, a única 
alternativa é demonstrar que os materiais foram incluídos no acervo 
segundo parâmetros objetivos de qualidade ou de necessidade. 
Nem sempre isso será fácil de realizar. Por trás de tudo estará a 
questão de definir, entre os milhares ou milhões de materiais de in­
formação que são lançados no mercado, quais os melhores para uma 
biblioteca específica. Não simplesmente definir quais os melhores 
mas, isto sim, quais os melhores para um determinado conjunto de 
usuários, alvo de uma coleção já existente (ou não). Na raiz dessa 
questão estará embutida a necessidade de conhecer a fundo essa 
comunidade a cujas necessidades aquele conjunto de documentos 
deve atender. Na raiz dessa questão está, também, a compreensão 
de que a atividade de seleção não é realizada no vazio, mas efetuada 
dentro de um determinado contexto sociocultural, com tensões, 
ambivalências, disputas e negociações. 
Não há como fugir dessa realidade. Da mesma forma, é virtual­
mente impossível abolir a atividade de seleção das bibliotecas. Não 
existem nem existirão recursos financeiros suficientes para adquirir, 
físicos para acomodar, ou humanos para processar a quantidade de
materiais que invariavelmente chegaria às bibliotecas, por mais espe­
cializadas que fossem. Mesmo que se admitisse a hipótese absurda 
de obter todos os materiais sem despender diretamente um único 
centavo, por meio de doações, as outras dificuldades continuariam 
presentes. Não há como fugir da seleção. O sonho da biblioteca de 
Alexandria cada vez mais se configura como apenas isso: um sonho. 
Bonito, sim. Maravilhoso, talvez. Mas, ainda assim, um sonho. 
Alguns bibliotecários argumentarão que essa história de organi­
zar o processo de seleção parece coisa de teórico: na prática, no dia­
a-dia, não se tem tempo para tanta elucubração, pois as decisões 
têm que ser tomadas rapidamente. Não há tempo para estabelecer 
9 
critérios, por mais positivos que sejam. Não há tempo para avaliar 
as diversas alternativas, por mais que isto seja necessário. Não há 
tempo para a discussão nem para formar comissões, por mais que 
isto seja aconselhável. Às vezes, tudo tem que ser decidido quase 
num estalar de dedos para não se perder a possibilidade de utilizar 
uma verba destinada à aquisição; não fazer isso significaria perder 
esse valor na dotação orçamentária do ano seguinte, e não dá para se 
correr esse risco. Outras vezes, não é possível interromper as demais 
atividades da bibJjoteca para verificar um a um os itens de uma doa­
ção, escolhendoapenas os que interessam de fato ao acervo. 
Tudo isso é e não é verdade. Dizer que não se dispõe de tempo 
para estabelecer critérios de seleção é uma falácia porque, na maio­
ria das vezes, a falta de critérios também obedece a um critério, que 
não interessa ao profissional elucidar. Afirmar que os prazos para 
utilização de certas verbas são irrevogáveis pode até ser uma boa 
justificativa, mas sua credibilidade é prejudicada quando utilizada 
durante anos e anos (afinal, não existe nada mais previsível que a 
imprevisibilidade das verbas ... ). E dizer que a sistematização do pro­
cesso de seleção é preocupação de teóricos parece ser uma maneira 
de evitar tomar uma posição, preservando-se uma prática que pre­
tende justificar-se por si mesma. 
Não é verdade que as bibliotecas funcionem ou possam funcio­
nar sem a utilização de critérios de seleção. Bem ou mal, eles exis­
tem. Uma biblioteca que só armazena livros já tem um grande crité­
rio de seleção estabelecido, bastando apenas refiná-lo. O mesmo acon­
tece com a que armazena livros e periódicos, ou livros e discos, ou 
livros e filmes, e assim por diante. Pode-se afirmar que existe uma 
gradação de critérios de seleção, alguns mais amplos do que outros. 
Muitas bibliotecas limitam-se ao estabelecimento de grandes critéri­
os gerais, ligados ao tipo de publicação ou a grandes abrangências 
temáticas. Do mesmo modo, pode-se afirmar que há uma decisão ou 
um critério de seleção por trás de cada documento da biblioteca, 
como se cada um fosse o testemunho vivo da atividade de um pro­
fissional, de sua preocupação, ou descaso, com o usuário ou com 
seu papel de intermediador entre o universo do conhecimento e a 
comunidade. Como dito acima, a falta de critérios não deixa de ser 
um critério também ... A questão principal é deixá-lo em evidência. 
Não, absolutamente, negá-lo. 
10 
2 
Considerações gerais que 
influenciam a seleção 
EM MUITOS CASOS, a própria área de atuação da biblioteca implica 
um critério de seleção. Basta fazer uma relação das várias denomi­
nações que indicam a especialização das instituições bibliotecárias: 
biblioteca de química, biblioteca de física, biblioteca de comunica­
ções e artes, biblioteca de arquitetura, etc. Tem-se, então, uma pri­
meira grande subdivisão, ou, melhor dizendo, um grande critério 
de seleção: o assunto. 
Outro tipo de especialização, muitas vezes presente na denomi­
nação que as bibliotecas adotam, refere-se à definição do usuário. 
Estabelecer uma biblioteca infantil implica a seleção de títulos ade­
quados a esse público. Mais uma vez, tem-se um primeiro grande 
critério de seleção: a clientela. 
Os exemplos poderiam continuar por páginas e páginas, mas, 
para os objetivos pretendidos, já são suficientes, ou seja, demonstrar 
que existe uma graduação de critérios de seleção, de grandes (ou 
amplos) a específicos. Isto, em princípio, não parece ser uma noção 
de muito difícil entendimento para os bibliotecários, principalmen­
te se lembrarmos dos sistemas de classificação decimal, os tão co­
nhecidos sistemas Dewey e cou, que trabalham com este conceito na 
divisão do conhecimento humano, partindo do geral para o especí­
fico. 
Outra comparação possível é com uma corrida de obstáculos. 
Imaginemos todos os documentos competindo para atingir um de­
terminado objetivo (sua inclusão no acervo) e tendo que ultrapassar 
certos obstáculos que existem no caminho (os critérios de seleção). 
Alguns serão bem-sucedidos, vencendo todos os obstáculos que lhes 
foram colocados. Outros tropeçarão e terão que ser excluídos da 
11 
competição. Como em uma corrida verdadeira, na medida em que 
as dificuldades vão ficando mais complexas e as exigências se tor­
nando mais rígidas, maior é o número de candidatos que não conse­
guem chegar ao final. 
Esta pode parecer uma maneira meio irreverente de descrever a 
atividade de seleção em bibliotecas. Mas, na prática, não foge muito 
disso. A questão principal está na colocação dos obstáculos/critérios 
de seleção corretos. Se forem fáceis de ultrapassar, é provável que 
seja grande o número dos que alcançarão o objetivo final, e talvez 
isto cause problemas no futuro com a acomodação ou mesmo ma­
nutenção dos vencedores. Se os critérios forem rígidos, poucos se­
rão bem-sucedidos, o que pode gerar dificuldades de disponibilida­
de dos materiais. Infelizmente, não há uma solução simplista. Como 
em uma verdadeira corrida, cada caso tem suas peculiaridades de 
percurso, de competidor, de público, etc. Não existem respostas fá­
ceis. 
Antes de se entrar propriamente na problemática da elaboração 
de critérios (que será tratada com detalhes no próximo capítulo), é 
necessário refletir um pouco sobre os fatores gerais que influenciam 
o processo de seleção. Nunca é demais salientar que, entre outras
coisas, a forma de abordar esse processo será diretamente influencia­
da pela tipologia da biblioteca. Em bibliotecas especializadas, a pri­
meira questão a ser respondida estará ligada à definição temática do
acervo, enquanto que em bibliotecas públicas ela se ligará à defini­
ção da comunidade, caracterizando-se os usuários reais e os poten­
ciais, ou, indo mais além, os usuários preferenciais. No caso das pri­
meiras, o processo de seleção começará com a definição dos grandes
assuntos que deverão estar representados no acervo. Mas mesmo
quando a caracterização do usuário é o ponto de partida, o processo
de seleção não poderá deixar de inicialmente considerar os grandes
grupos de assuntos. Essas duas considerações estão praticamente
juntas.
Essa breve discussão leva necessariamente a se questionar sobre 
a existência de procedimentos comuns à seleção de materiais, que 
estariam necessariamente presentes em qualquer tipo de instituição 
bibliotecária. Na realidade, esses procedimentos existem. Todas as 
bibliotecas iniciam o processo de seleção com considerações abran­
gentes, que são depois refinadas e adequadas a cada uma delas em 
12 
particular. Essas considerações vão se referir ao assunto, ao usuário, 
ao documento em si e a seu preço. A ordem em que essas considera­
ções são feitas poderá variar, e em muitos casos elas são colocadas 
simultaneamente. Mas estarão presentes, de modo indispensável, 
em todas as bibliotecas. Entenda-se, portanto, que a ordem em que 
são enfocadas neste livro obedece apenas a uma distinção metodo­
lógica e não de importância. 
O assunto 
Uma das primeiras considerações a serem feitas na seleção de mate­
riais em bibliotecas enfocará a problemática do assunto, a fim de 
verificar se os materiais passíveis de incorporação ao acervo (em 
princípio, todo o universo do conhecimento já registrado em algum 
tipo de suporte) estão ou não incluídos nos parâmetros gerais de 
assunto ou áreas de cobertura da coleção. É muito difícil encontrar 
bibliotecas que não façam alguma restrição quanto aos assuntos tra­
tados nos documentos que devem fazer parte do acervo). Em segui­
da, traçam-se as prioridades de coleta para esses assuntos. O estabe­
lecimento dessas prioridades, que poderia ser encarado como um 
refinamento do critério inicial, tornar-se-á necessário devido à im­
possibilidade material de selecionar da mesma maneira todos os 
assuntos de interesse. Da mesma forma, será necessário, em um 
momento posterior da atividade de seleção, definir os assuntos que 
sejam considerados afins à área de atuação da biblioteca, que terão 
uma representação mínima em seu acervo ou poderão estar dispo­
níveis em outros lugares, a serem previstos, como uma alternativa 
de acesso. 
O usuário 
As considerações quanto às características do usuário real ou poten­
cial estão diretamente ligadas à definição do benefício que cada 
material incorporado ao acervo poderá trazer à comunidade a que a 
biblioteca almeja servir. Em geral, essas considerações iniciais esta­
rão ligadas a uma primeiraavaliação da adequação ao usuário do 
material a ser selecionado. Pouco adiantará possuir materiais de 
altíssima qualidade que jamais despertarão qualquer interesse e fi-
13 
carão mofando nas estan!es, gerando despesas com manutenção, lim­
peza, acomodação, etc. E sempre bom lembrar a anedota sobre uma 
biblioteca pública do interior que possuía, lindamente encadernada 
em couro de primeira qualidade, a coleção completa das obras de 
Goethe ... em alemão gótico. 
Enfim, a resposta correta a essa questão envolve um conhecimento 
bastante aprofundado dos usuários, suas características e preferên­
cias. Esse conhecimento não deve ser confundido com a familiarida­
de superficial que se adquire em relação a usuários mais assíduos, 
cujos interesses o bibliotecário acaba conhecendo mais detalhada­
mente que os daqueles usuários não tão assíduos (ou tão comunica­
tivos). Deve-se tomar cuidado para não confundir os interesses de 
alguns com os interesses de todos, procurando-se definir mecanis­
mos que permitam não só a avaliação global dos usuários mas que 
impeçam, também, o aparecimento de favoritismos. Neste caso, evi­
dencia-se a ligação da seleção com outra atividade do desenvolvi­
mento de coleções, o estudo de comunidade. 
O documento 
Cada documento desempenhará um papel no conjunto do acervo. 
Neste sentido, a terceira pergunta a ser feita nos procedimentos ini­
ciais de qualquer processo de seleção buscará uma definição precisa 
da necessidade de cada documento. Em outras palavras, o bibliote­
cário deverá responder (a si mesmo) se a coleção dispõe de material 
sµficiente sobre o assunto em causa, ou tipo de documento em par­
ticular, e, em caso afirmativo, se necessita de mais. Isto implicará 
uma avaliação anterior do acervo, por mais elementar que ela seja, 
sem a qual a resposta será um mero palpite. Fica claro que é preciso 
desenvolver mecanismos, ainda que mínimos ou rudimentares, que 
permitam ao responsável pela biblioteca um conhecimento objetivo 
do acervo no que concerne tanto à distribuição dos assuntos como à 
sua representatividade em relação com o número de usuários, de 
cursos ou disciplinas, de linhas de pesquisa, etc. Também neste caso 
torna-se evidente a ligação da seleção com outra atividade do de­
senvolvimento de coleções: a avaliação de coleções. 
14 
O preço 
A quarta consideração dirá respeito ao custo do material: o bibliote­
cário terá que definir se a biblioteca tem condições de arcar com o 
custo de cada documento. Sabendo-se que os recursos disponíveis 
para aquisição não são inesgotáveis (na realidade, raramente são 
suficientes) torna-se imprescindível definir quanto a biblioteca pode 
comprometer-se em relação ao preço do material. A experiência -
mostra que esta exigência, pelo menos no Brasil, acaba deixando fora 
da coleção grande parte dos documentos. Mesmo, porém, em países 
com mais recursos financeiros para as bibliotecas, as duas coisas es­
tão ficando cada vez mais pr,óximas devido ao aumento do preço
dos materiais bibliográficos. E conveniente desenvolver algum tipo 
de sistema de avaliação que permita comparar o custo do documento 
com o provável benefício que ele trará ao conjunto do acervo e aos 
usuários, interligando-se, então, todas as considerações anteriormen­
te feitas. Mais especificamente, fica clara aqui a relação da seleção 
com a atividade de aquisição de materiais. 
Questões complementares 
Outras duas considerações podem ser feitas no sentido de dimensio­
nar corretamente as anteriores. A primeira diz respeito à probabili.::--, 
dade de que o material selecionado possa vir a ser alvo potencial de 
\ 
vandalismo, furtos ou rnublações, bem como gerar objeções por parte 
dos usuários devido à sua incorporação ao acervo. Não é uma ques­
tão que leve necessariamente à recusa de seleção mas representa, 1 
sem dúvida, fatos a serem pesados na decisão. Um material muito 
valioso acarretará custos adicionais, com respeito à sua segurança, 
que talvez a biblioteca tenha dificuldades para cobrir; custos que, na 
realidade, são superiores ao preço da compra. Materiais sobre as­
suntos polêmicos também podem trazer mais problemas do que 
J benefícios à biblioteca, devendo ter sua necessidade para o acervo 
cuidadosamente estudada, visando urna decisão mais objetiva a seu 
respeito. 
A última consideração concerne a urna primeira estimativa de 
qualidade do material selecionado. Nem sempre o bibliotecário tem 
informações suficientes que lhe permitam determinar ou ao menos 
15 
fazer uma estimativa da qualidade dos documentos. Para tentar fa: 
zer essa avaliação, deverá utilizar todos os dados disponíveis, seja 
no próprio material (orelha do livro, apresentação, índice, biblio­
grafia, etc.) e da opinião de especialistas. 
Todas essas considerações são feitas cotidianamente no processo 
de seleção. São realizadas, depois de um certo tempo, quase que 
automaticamente - pode-se até dizer inconscientemente, - na me­
dida em que são incorporadas à rotina de trabalho. O que não garan­
te que sejam infalíveis. É importante, aliás, salientar que infalibili­
dade é algo que jamais existirá na seleção; esta é sempre um trabalho 
de aproximação, buscando-se dados objetivos que permitam prever 
a importância futura do documento para o usuário e para a coleção. 
Um correto estabelecimento de critérios de seleção contribuirá para 
que essas previsões sejam realizadas da forma mais acurada possí­
vel, mantendo-se o aparecimento de erros em níveis aceitáveis. Mas 
isto já é assunto para outro capítulo. 
16 
3 
Em busca de critérios de seleção 
A LITERATURA ESPECIALIZADA está repleta de critérios, muitas vezes 
repetitivos e mesmo contraditórios, destinados ao julgamento dos 
materiais a serem selecionados. De todo modo, eles visam guiar o 
bibliotecário no trabalho periódico de seleção, garantindo a coerên­
cia do acervo no transcorrer do tempo. Graças ao conjunto de _crité:_ 
rios de seleçffeo, comumente denominado política de seleção, é possí­
vel manter um direcionamento racional para a coleção à medida que 
os profissionais se incorporam ou se afastam da equipe de trabalho. 
A política de seleção procura garantir que todo material seja incor­
porado ao acervo segundo razões objetivas predeterminadas e não 
segundo idiossincrasias ou preferências pessoais. Igualmente, é ela 
que garante que as lacunas existentes no acervo não são fruto do 
descaso ou ineficiência do profissional responsável pela seleção, mas 
se coadunam com o processo de planejamento vigente na institui­
ção bibliotecária, sendo coerentes com os propósitos e objetivos es­
tabelecidos para sua atuação. 
Antes de· entrar propriamente nos critérios de seleção, é impor­
tante fazer urna advertência: a organização da atividade de seleção 
mediante o estabelecimento de critérios só é eficiente quando todos 
os envolvidos trabalham de modo racional, dispostos a discutir ob­
jetivamente a aplicação ou aplicabilidade desses critérios. Na medi­
da em que os envolvidos na problemática da seleção afastam-se do 
racional, mergulhando no terreno do passional ou do autoritarismo, 
os critérios de seleção tornam-se cada vez mais inócuos. Não existe 
critério de se)eção que possa anular ou dissuadir uma autoridade 
superior firmemente decidida a fazer valer a sua vontade ... ou um 
bibliotecário disposto a imprimir seus preconceitos pessoais ao acer­
vo sob sua responsabilidade. Neste sentido, os critérios consubstan-
17 
ciados na política de seleção devem ser vistos como uma espécie de 
constituição: não existe nenhuma que consiga resistir a g�)Vernantes 
com disposição e força suficiente para desrespeitá-la. E claro que 
isto nunca foi razão para que as constituições não fossem elabora­
das; da mesma forma, a prepotência de autoridades superiores tam­
bém não é razão para que os critérios de seleção não sejam elabora­dos. É nesses momentos que são ainda mais necessários, visando 
tornar evidente o exercício da prepotência. 
Antes de mais nada, é preciso esclarecer que os critérios que se­
rão relacionados a seguir são apenas uma sugestão. Cada profissio­
nal deverá procurar desenvolver os critérios mais apropriados para 
a coleção pela qual é responsável, que poderão ou não incluir os que 
forem aqui citados. Utilizando uma comparação não muito criativa, 
pode-se afirmar que desenvolver uma coleção é corno organizar um 
guarda-roupa pessoal: cada um tem critérios próprios para definir 
as vestimentas que dele farão parte e esses critérios variarão segun­
do características individuais, como altura, peso, etc. Os critérios 
sugeridos não são uma fórmula passível de generalização, mas ape­
nas algumas das muitas possibilidades existentes. Assim devem ser 
encarados. 
A literatura especializada costuma apresentar uma grande varie­
dade de critérios. Às vezes a diferença entre alguns é mínima, ape­
nas uma questão de enfoque ou preferência terminológica. Neste 
· texto, os critérios foram organizados de modo a que pudessem ser
mais bem assimilados didaticamente, mesmo com o risco de classi­
ficar um ou outro de forma inadequada. Assim, considerando-se os
objetivos deste livro, optou-se por.agrupar os muitos critérios utili­
zados na seleção de materiais em bibliotecas, citados na literatura
especializada, segundo o tipo de enfoque por eles adotados:
Critérios que abordam o conteúdo dos documentos 
Autoridade. Busca definir a qualidade do material a partir da repu­
tação de seu autor, editora ou patrocinador. Baseia-se na premissa 
de que o fato de um autor ter produzido materiais de qualidade no 
passado é um indicador razoavelmente confiável de sua produção 
futura. Da mesma forma, algumas editoras costumam notabilizar-se 
pela qualidade dos materiais que editam, funcionando como um ín-
18 
dice de confiabilidade do conteúdo dos documentos. Com a prática, 
o bibliotecário aprenderá a identificar as editoras de excelência nas
áreas de interesse da biblioteca, geralmente as que contam com edi­
tores ou comissões editoriais de reconhecida competência, e fará a
seleção desses materiais quase que de forma automática. Por exem­
plo, sabendo-se, que as editoras Facet Publishing, Libraries Unlirnited
e Scarecrow Press são bastante conceituadas nas áreas de biblioteco­
nomia e ciência da informação, o fato de um livro ter sido publicado
por alguma delas irá pesar favoravelmente na sua avaliação. O mes­
mo pode ser afirmado em relação a documentos patrocinados por
instituições de destaque em sua área de atuação. Documentos pa­
trocinados por instituições como a Organização das Nações Unidas
para a Alimentação e Agricultura (FAO) ou a Organização das Na­
ções Unidas para Educação, Ciência e Cultura (uNEsco) costumam
ter bom nível, merecendo, em princípio, uma avaliação favorável.
Cada biblioteca deverá identificar essas instituições ou editoras de
prestígio, cujos nomes funcionam como aval dos materiais a que dão
origem, e fazer com que essas informações estejam disponíveis aos
responsáveis pela seleção dos materiais, constando do documento
de política de seleção.
É claro, no entanto, que não existem garantias suficientemente 
seguras em relação a este critério. O fato de uma editora ter publica­
do dezenas de obras de altíssima qualidade, gozando de uma sólida 
reputação no mercado, não quer dizer que todos os materiais que 
ela publicar terão o mesmo nível. Revistas especializadas costumam 
utilizar um sistema de rodízio com relação a·seus editores responsá­
veis, mudando-os periodicamente; isso, muitas vezes, pode impli­
car queda da qualidade dos artigos. 
-P Precisão. Visa evidenciar o quanto a informação veiculada pelo 
documento é exata, rigorosa, correta. Para analisar um documento 
sob este ponto de vista, o bibliotecário precisará muitas vezes da 
opinião de um especialista, pois nem sempre a imprecisão está tão 
evidente quanto se desejaria que estivesse. 
Lembro-me de uma obra enciclopédica sobre histórias em qua­
drinhos, aparentemente exata, que, à primeira vista, deixou-me bas­
tante impressionado; no entanto, wna leitura atenta evidenciou er­
ros primários. Fiquei assustado ao ler ali que um amigo desenhista 
19 
de histórias em quadrinhos, com quem estivera na semana anterior, 
havia morrido fazia mais de dois anos ... 
Imparcialidade. Procura verificar se todos os lados do assunto 
são apresentados de maneira justa, sem favoritismos, deixando cla­
ra, ou não, a existência de preconceitos. Deve-se ter em mente, no 
entanto, que esta imparcialidade poderá, ou não, ser pré-requisito 
necessário para inclusão na coleção. 
Muitas vezes, obras não-imparciais representam uma visão al­
ternativa de um determinado assunto, funcionando como uma es­
pécie de contraponto a obras já existentes no acervo. Outras vezes, 
obras aparentemente imparciais disseminam veladamente precon­
ceitos contra determinadas camadas da sociedade, como minorias 
étnicas, de gênero, orientação sexual, etc. Durante muito tempo, por 
exemplo, acreditou-se que os livros didáticos eram obras imparciais, 
pois se limitavam a funcionar como instrumentos para a transmis­
são de conhecimentos considerados específicos para fins educacio­
nais. Análises realizadas por pesquisadores conceituados, entre os 
quais se pode destacar Umberto Eco, mostraram que essa certeza 
não passava de uma grande falácia. 
A imparcialidade nem sempre é algo muito fácil de ser definido 
e, acima de tudo, pode ser encarada tanto de um ângulo negativo 
(disseminação de preconceitos sociais) como positivo (exteriorização 
de pontos de vista minoritários). Cada profissional definirá a me­
lhor maneira para, no contexto de seu campo de trabalho específico, 
abordar essa polêmica questão. 
Atualidade. Urna informação desatualizada perde muito de seu 
valor. Para bibliotecas onde a atualidade dos dados tem muita im­
portância, este critério é decisivo. É itnportante ter esse fato bem
claro, pois afetará diretamente a atividade de seleção. 
A velocidade com que as informações se desatualizam varia con­
forme a área de conhecimento em que a biblioteca atua. Documen­
tos de algumas das chamadas ciências exatas, como a computação, 
se desatualizam rapidamente. Por isso, os bibliotecários das áreas 
de ciências exatas necessitam estar bastante atentos a este critério, 
visando minimamente acompanhar o ritmo com que novas tecnolo­
gias surgem e desaparecem. Nas ciências humanas, obras 'antigas' 
20 
costumam ser muito valorizadas pelos pesquisadores, por constituí­
rem uma contribuição já reconhecida e incorporada ao conhecimen­
to (daí, provavelmente, a importância maior que as ciências huma­
nas dão às obras monográficas). 
Convém, por exemplo, estar alerta para mudanças políticas e es­
truturais na sociedade moderna, que fazem com que mapas ou enci­
clopédias recentes logo percam sua atualidade. As mudanças ocor­
ridas ao longo da última década do século xx e na primeira década 
do século xx1 no Leste europeu, por exemplo, demonstram o adven­
to de modificações surpreendentes, que afetam o trabalho de todos 
que têm o fornecimento de informações fidedignas entre suas obri­
gações profissionais. 
No trabalho de seleção, os bibliotecários deverão manter-se aten­
tos a trabalhos que se apresentam como edições atualizadas ou re­
vistas de obras já publicadas, procurando avaliar de maneira objeti­
va quanto da informação contida nesses documentos é realmente 
informação nova e não a mesma anteriormente divulgada, apenas 
em uma diferente apresentação. 
Cobertura/Tratamento. Refere-se à forma como o assunto é tra­
tado. Na aplicação deste critério, o bibliotecário distinguirá: 
• se o texto entra em detalhes suficientes sobre o assunto ou se a
abordagem é apenas superficial;
• se todos os aspectos importantesforam cobertos ou alguns foram
tratados ligeiramente ou deixados de fora.
É importante salientar que também neste caso não existe resposta
fácil. O fato de um documento não realizar a cobertura total de um 
assunto ou fazer um tratamento apenas superficial não significa que 
não possa vir a ser de interesse para determinado acervo. A especifi­
cidade da clientela e/ou coleção deverá ser levada em conta, pois 
este critério pode ser utilizado de uma forma por uma biblioteca e 
de forma totalmente diversa por outra. Muitas vezes, para correta 
aplicação deste critério, é importante contar com a colaboração de 
um especialista. 
21 
Critérios que abordam a adequação ao usuário 
Conveniência. Intimamente ligado ao critério de cobertura/tratamen­
to. Procura verificar se o trabalho é apresentado em um nível, de 
vocabulário e visual, que seja compreensível pelo usuário. Em geral, 
neste critério são levantados aspectos relativos à idade dos usuários, 
desenvolvimento intelectual, etc. 
Na aplicação deste critério, fica evidente quanto é necessária a 
interação do bibliotecário com seu público: para analisar correta­
mente o documento, será preciso que o profissional tenha conheci­
mento profundo do usuário cujas necessidades informacionais pro­
cura atender, conseguindo determinar de modo exato suas limita­
ções e potencialidades. Pouco adiantará colocar no acervo itens ina­
dequados para o tipo de utilização pretenruda ou que é efetuada 
pelo usuário. Por exemplo, se o objetivo de um texto para a bibliote­
ca for atender à realização de trabalho em grupos, ele deve ser ade­
quado para isso, tanto em termos físicos e de conteúdo . 
Idioma, Trata-se de definir se a língua do documento é acessível 
aos usuários da coleção. 
Em muitas bibliotecas esta análise é facilmente realizada por não 
existir tão grande diversidade de publicações em sua área de inte­
resse e nem grupos de usuários com necessidades linguísticas espe­
cíficas. Em algumas bibliotecas especializadas, no entanto, esta veri­
ficação da língua de publicação terá necessariamente que ser feita 
item por item, assunto por assunto. 
Relevância/Interesse. Busca definir se o documento é relevante 
para a experiência do usuário, sendo-lhe de alguma utilidade. Da 
mesma forma, tenta-se verificar se o texto tem condições de desper­
tar sua imaginação e curiosidade. 
Alem de, como nos dois critérios anteriores, implicar a necessi­
dade de um conhecimento mais aprofundado dos usuários, não se­
ria exagero dizer que' este critério exigirá do bibliotecário algum 
conhecimento das características dos textos literários e técnicos. Ou, 
melhor dizendo, um interesse pessoal pela leitura. 
22 
Estilo. Muitas vezes o estilo utilizado não é apropriado ao as­
sunto ou ao objetivo do texto. Este critério procura verificar este fato, 
bem como constatar se ele é adequado ao usuário-alvo. Ninguém, 
por exemplo, porá em dúvida a excelência do estilo de Machado de 
Assis, mas é bastante discutível a adequação de alguns de seus li­
vros, corno Dom Casmurro ou Memórias póstumas de Brás Cubas, a uma 
clientela infanta-juvenil. 
Critérios relativos a aspectos adicionais do documento 
Características físicas. Abrangem os aspectos materiais dos itens a 
serem selecionados. 
Na aplicação deste critério, o bibliotecário, em face do uso pre­
tendido para o material e as características dos usuários, verificará 
se os caracteres tipográficos foram bem escolhidos, têm boa legibili­
dade, tamanho apropriado, etc. Verificará se a encadernação é resis­
tente para o uso em biblioteca, fazendo, inclusive, uma estimativa 
de sua durabilidade e das possibilidades ou necessidade de futuros 
reparos. Analisará também a qualidade do papel, submetendo-o a 
escrutínio semelhante ao da encadernação. 
As características físicas são muito importantes para materiais 
com previsão de alta demanda ou dirigidos para públicos específi­
cos. Em certos países, existe uma florescente indústria editorial 
dirigida para a população de terceira idade, com livr?s iI:1'1pr�ss�s 
em formato grande e com letras aumentadas. No Brasil, a mdustna 
de livros infantis tem procurado utilizar material resistente e ade­
quado para crianças, podendo-se apontar a produção de livros in­
fantis em plástico, pano, etc. 
Aspectos especiais. Neste item analisam-se a inclusão e a quali­
dade de bibliografias, apêndices, notas, índices, etc. Enfim, todos os 
elementos que contribuem para melhor utilização do documento. 
Às vezes, mais que constatar a existência desses elementos, será ne­
cessário avaliar se valorizam a obra e não constituem apenas um 
fator totalmente supérfluo para suas finalidades. 
Contribuição potencial. Este critério leva em consideração a co­
leção já existente, na qual o documento a ser selecionado deverá ocu­
par um lugar específico. 
23 
Material algum será incorporado ao acervo por simples inércia, 
mas para torná-lo mais completo. Assim, é preciso que cada item 
seja analisado do ponto de vista de sua relação com os demais, veri­
ficando-se quanto contrabalança outros trabalhos, trazendo uma 
perspectiva diferente e enriquecedora ao acervo, ou se simplesmente 
se soma ao que existe, gerando redundância de informações. Esta 
verificação será importante para se ter uma estimativa de uso futuro. 
Custo. Presumindo-se que a consideração inicial sobre a possibi­
lidade de a biblioteca arcar com o custo do material tenha sido reali­
zada e seja positiva, este critério procurará identificar alternativas 
financeiramente mais compensadoras para a biblioteca. Verificará 
se há edições mais baratas (encadernações simples, miolo em papel 
inferior ou edições de bolso), tomando cuidado para não afetar al­
guns dos critérios anteriores. Também são analisados outros fatores 
que, indiretamente, acabam afetando o custo total da obra para a 
instituição. Por exemplo, os custos com processamento técnico, ar­
mazenamento, segurança, etc. 
É conveniente que o bibliotecário procure definir um sistema de 
avaliação capaz de lhe informar com razoável confiabilidade o quanto 
é mais barato adquirir um material e incorporá-lo ao acervo, ao in­
vés de solicitá-lo por empréstimo a outra biblioteca, quando neces­
sário. Cada vez mais, a acessibilidade aos documentos por meio do 
intercâmbio com outras instituições torna-se uma alternativa viável 
à sua disponibilidade física. 
Estes são apenas alguns dos critérios comumente utilizados para 
avaliação de documentos no processo de seleção. Existem vários 
outros (dois autores norte-americanos, Mary Carter e Wallace Bonk, 
em Building library collections, chegam a relacionar mais de 150). Des­
necessário citar todos os critérios já utilizados ou mesmo apenas 
imaginados; independentemente disso, cada profissional terá que 
se defrontar, em algum mornento, com a necessidade de estabelecer 
seus próprios critérios. Importante é salientar que os critérios suge­
ridos neste livro são apenas indicativos e nem sempre podem ser 
aplicados a todos os documentos; sua aplicação dependerá do mate­
rial que se está analisando. Em obras de ficção, por exemplo, critéri­
os como a representação de um importante movimento, gênero lite­
rário ou cultura nacional, bem como características de originalidade 
24 
e apresentação artísticas são pontos que devem ser considerados. 
Em obras de não-ficção, por outro lado, a objetividade e clareza de 
apresentação acabam assumindo prioridade sobre outros aspectos. 
Os critérios de seleção aqui abordados não se aplicam apenas a 
Jjvros, mas a todos os materiais. Evidentemente, haverá critérios es­
pecíficos para certos tipos de documentos. Será preciso elaborar cri­
térios complementares para a seleção de periódicos, filmes, discos, 
diapositivo�, etc. Todos devem ser coerentes com os objetivos da 
biblioteca. E inconcebível, por exemplo, a utilização de critérios deseleção totalmente opostos para livros e periódicos, ou para livros e 
materiais audiovisuais. 
25 
4 
Seleção de materiais especiais 
e multimeios 
PARA AS FINALIDADES DESTE capítulo, são materiais especiais ou multi­
meios todos os materiais de biblioteca, à exceção dos livros. Assim, 
aqui se incluem os periódicos em geral (revistas especializadas, jor­
nais, etc.), os materiais audiovisuais (filmes, discos, fitas cassetes, 
diapositivos, etc.) e as novas tecnologias (ovos, programas de com­
putador em cos, etc.). 
. , Um ponto importante que deve ser colo;ado como pre�1ssa_ a
discussão de critérios é que os diferentes ve1culos de comumcaçao 
não podem ser encarados como adversários em uma grande disputa pela 
preferência da sociedade. Nenhuma forma d� comunicação con�olida­
da é imediatamente destruída pelo aparecnnento de novos ve1culos. 
As formas anteriores modificam-se, têm seu público diversificado e 
continuam valendo. Estratificam-se. Assim sempre tem acontecido 
e não há motivos que façam acreditar que isto virá a modificar-se em 
futuro próximo. 
Bob Usherwood, em The public library as public knowledge, lembra 
que, há alguns anos, a televisão !ngles� apresen:ou uma série s,obre 
o desenvolvimento das tecnologias da mformaçao no fmal do seculo
x1x, na qual um bibliotecário respondia a um usuário: "Não, eu não
posso verificar em um livro, senhor, ist? é uma biblioteca,, não um
museu." Isto evidencia a crença generalizada de que os ve1culos de 
informação, como os conhecemos atualmente, estão fadados a desa­
parecer. Há anos se prevê o fim dos livros com o advento d�s no�as
tecnologias informacionais, da mesma forma como se prevm o fim 
do cinema com o aparecimento da televisão, do videocassete e do 
devedê. A realidade, no entanto, mostrou que as previsões 
26 
apocalípticas eram exageradas e os antigos meios de comunicação e 
transmissão de conhecimento continuaram existindo, ainda que com 
modificações. Há 40 anos, ou talvez menos, Marshall McLuhan pre­
viu que em 1990 a palavra impressa e sua leitura seriam apenas uma 
lembrança; muita gente acreditou nele. Ao contrário, a publicação 
de livros apenas aumentou de lá para cá, incorporando vastas cama­
das da população à influência da leitura. 
Cada vez mais, novos espaços de influência são definidos. Esta 
parece ser a única constatação realmente válida. Muito do que tem 
sido afirmado pertence apenas ao campo do sonho, da previsão, da 
futurologia sem garantias de efetividade. No que concerne à área de 
atuação dos bibliotecários, o mais certo será conceituar a biblioteca 
como uma instituição armazenadora e disseminadora de informa­
ções e não de tipos de documentos específicos, pois a variedade des­
ses tende a multiplicar-se quase que em proporção geométrica. 
Não se pretenderá tratar da seleção de todos os outros tipos de 
documentos existentes no mercado. Provavelmente, à época do lan­
çamento deste texto, ele já estaria desatualizado, havendo muitos 
outros materiais dos quais não se teria tratado. O elenco a ser apre­
sentado enfocará alguns dos materiais que já podem, até que com 
relativa facilidade, ser encontrados nas bibliotecas. Na elaboração 
de critérios específicos para a seleção desses outros materiais de­
vem ser buscados critérios mais adequados para cada um, levando 
em consideração suas peculiaridades. Os critérios de seleção esta­
rão sempre diretamente ligados ao tipo de material selecionado; por 
exemplo: o custo total de qualquer obra em multimeio é afetado em 
muito maior proporção por seu custo de manutenção, do que o cus­
to de uma obra impressa comum. 
Periódicos 
A seleção de uma publicação periódica difere basicamente da de um 
livro ou monografia no sentido de que na primeira estabelece-se um 
compromisso com sua continuidade, enquanto que no livro essa 
decisão se esgota naquele momento. Fora alguns casos específicos, 
não há razão ·para a biblioteca selecionar apenas alguns fascículos 
de um periódico. Ela deverá necessariamente adquirir, e provavel­
mente conservar, o título como um todo, a partir do momento em 
27 
que optar por ele. No caso dos periódicos, o ato de seleção se repete 
de tempos em tempos, ao se tomar uma decisão pela continuidade 
ou pelo encerramento da assinatura. Fica evidente, então, o perigo 
de se fazer renovação de assinaturas por inércia, simplesmente por­
que um título vem sendo assinado há muito tempo, sem considerar 
fatores importantes como o uso ou relevância do título para o usuá­
rio atual. 
Esse compromisso com a continuidade acarretará, por exemplo, 
a necessidade de considerar atentamente as implicações do título 
para a biblioteca, em termos de utilização do espaço, algo que não é 
tão essencial quando da seleção de livros. Coleções de periódicos 
crescem e ocupam um grande espaço; isto é comum em bibliotecas 
especializadas, pois a informação veiculada em periódicos tem im­
portância muito grande para seus usuários, em geral pesquisadores 
que necessitam de informações atualizadas. 
Vinculada à avaliação do espaço disponível para acomodação dos 
periódicos está a análise global do custo desse material. Nesse senti­
do, o valor pago pela assinatura de um título não é o único custo 
com que a biblioteca está arcando ao optar por sua aquisição; exis­
tem vários custos, diretos e indiretos, que devem ser consic;Jerados. 
Mas, só para ficar no preço das assinaturas, é importante salientar 
que, em se tratando de periódicos científicos, ele tem subido muito 
acima dos índices inflacionários dos países onde são produzidos. 
Como uma assinatura de periódico representa um comprometimen­
to, por tempo indeterminado, de uma percentagem razoável do or­
çamento da biblioteca, é importante que essa análise de custo seja 
feita periodicamente. Isto é muito importante com novas assinatu­
ras, para não permitir que cresça em demasia o investimento da bi­
blioteca em novos títulos. 
Em paralelo às análises de ocupação do espaço e custo da assinatu­
ra, é importante ter-se clareza quanto à utilização futura dos títulos, 
a fim de avaliar quando vale a pena fazer uma assinatura e quando a 
melhor opção é solicitar o fasdculo por empréstimo a outra bibliote­
ca. Neste caso, estatísticas de empréstimo entre bibliotecas podem 
oferecer subsídios valiosos para a tomada de decisão (é claro que, 
em caso de títulos recém-lançados esta alternativa fica prejudicada). 
Julgar a qualidade de um periódico nem sempre é tarefa fácil. 
Fora a opinião do especialista, sempre uma ajuda indispensável, há 
28 
outros indicadores que permitem ao bibliotecário uma avaliação 
satisfatória. Vários desses indicadores constam da contracapa ou das 
páginas iniciais do fascículo, principalmente em periódicos especi­
alizados. Um deles é a existência de um comitê editorial, cuja fun­
ção é apreciar os artigos submetidos a publicação, um dado tido como 
garantia de qualidade. lsto significa que um artigo, para ser publica­
do em um periódico que possua comissão editorial, será examinado 
por um ou vários especialistas, que decidirão se o trabalho atende 
aos requisitos ou critérios de qualidade estabelecidos. Quando esse 
comitê é composto por especialistas de instituições ou países dife­
rentes, supõe-se que a garantia de qualidade seja ainda maior, ca­
racterizando uma publicação onde não existe endogenia de grupos 
ou linhas de pensamento. 
De certa maneira, quando se verifica a existência e composição 
de comissões editoriais e se considera este dado na seleção de publi­
cações periódicas, está-se trabalhando com o critério da autoridade:
acredita-se que os especialistas da comissão editorial emprestam sua 
reputação ao periódico. 
Pode-se dizer que o mesmo critério está sendo utilizado quando, 
conhecendo-se o rigor com que os títulos são indexados em bases de 
dados especializadas, aceita-se como subsídio para a tomada dede­
cisão a presença de um periódico nessas bases. Supõe-se que quanto 
maior for o número de bases que indexam o periódico, maior será a 
garantia de sua qualidade. Assim, quando se tem que decidir entre 
dois periódicos, ambos com o mesmo nível de interesse para a biblio­
teca, pode-se utilizar, como critério de desempate, o fato de um de­
les ser indexado por bases de dados da área. Há razões para acredi­
tar que um periódico indexado terá maior probabilidade de ser utili­
zado, na medida em que as bases de dados funcionarão como fontes 
secundárias, permitindo ao usuário ter acesso ao conteúdo dos peri­
ódicos ali indexados. 
Ao se utilizar a presença em bases de dados como critério de 
seleção, deve-se atentar para títulos recentes, para os quais ainda 
não houve tempo de serem avaliados e indexados em bases de da­
dos, embora possuam qualidade para isso. Em geral, essas bases, 
antes de incluir novos títulos, adotam a política de aguardar até que 
tenham mais elementos para aferir sua qualidade. 
No caso de periódicos em línguas estrangeiras inacessíveis aos 
29 
usuários, a presença de um resumo em idioma acessível, em geral o 
inglês, deve ser considerada na seleção. Leva-se esse dado em conta 
não apenas porque com o resumo as informações ficam disponíveis 
e a probabilidade de utilização é maior, mas também porque isso 
indica que o título propõe-se a uma circulação internacional, uni­
verso onde as exigências são maiores. 
Todos esses critérios terão maior aplicabilidade nas bibliotecas 
especializadas ou universitárias, devido aos objetivos dessas insti­
tuições e às características específicas de seus usuários. Para biblio­
tecas públicas deve-se reconhecer que sua utilidade é limitada, pois 
nem sempre a questão será colocada com tal nível de especificidade, 
de modo a exigir a aplicação de padrões de qualidade utilizados na 
avaliação de periódicos científicos. Nelas, os critérios mais relevan­
tes serão provavelmente os que dizem respeito à adequação dos pe­
riódicos aos usuários. 
Histórias em quadrinhos 
Ultimamente, vem sendo dada grande atenção às histórias em qua­
drinhos, com a imprensa mundial registrando um incremento no 
número de artigos, resenhas, reportagens e entrevistas com autores 
especializados nesse material. Mesmo, e talvez principalmente, em 
nosso país, uma busca em jornais e revistas revelará um interesse 
maior em relação às histórias em quadrinhos. Isto, aos poucos, veio 
influir nas bibliotecas brasileiras, na medida em que o público passoü 
a buscar essas publicações e solicitar que fizessem parte do acervo. 
Tradicionalmente, a maioria das bibliotecas sempre manteve os 
quadrinhos afastados de suas prateleiras. Muitas vezes os bibliote­
cários partilharam com o público, ou com algumas parcelas desse 
público, os preconceitos que existiam contra essas publicações. Sabe­
se hoje que esses preconceitos foram uma das maiores injustiças co­
metidas contra um meio de comunicação de massa não só legítimo 
mas também de grande penetração popular. A evolução dos tempos 
tem mostrado que a maioria das barreiras levantadas contra as his­
tórias em quadrinhos baseava-se em opiniões preconcebidas, elitistas, 
carentes de qualquer argumento lógico. Pesquisas sérias e bem-co­
ordenadas têm colocado por terra todas as alegações de que os qua­
drinhos levavam as crianças à preguiça mental, afastavam-nas dos 
30 
estudos, desviavam-nas de salutares hábitos de leitura, prejudica­
vam seu desenvolvimento intelectual, etc. Por todos esses motivos, 
parece apropriado refletir um pouco sobre os critérios de seleção 
queyoderão e deverão ser aplicados a esses materiais. 
A primeira vista, as histórias em quadrinhos limitar-se-iam às 
vendidas em bancas de jornais, os tradicionais gibis ( daí o apareci­
mento de um novo substantivo na área biblioteconômica de língua 
portuguesa - gibitecas: bibliotecas de histórias em quadrinhos). De 
fato, os gibis existem em grande número, com enorme variedade de 
temas e gêneros. Com certeza, constituirão a maioria de qualquer 
acervo dedicado a esse material; há gibis infantis, adultos, de super­
heróis, de aventuras, eróticos, pornográficos, etc. O bibliotecário 
deverá, com base no conhecimento que tem de seu público e na ava­
liação de suas demandas, definir os gêneros que farão parte do acer­
vo. 
As mesmas considerações acerca da disponibilidade de espaço 
para periódicos, feitas antes, aplicam-se às histórias em quadrinhos. 
Em geral, talvez seja arriscado optar pela exaustividade em relação 
ao material quadrinhístico. A produção brasileira, para não falar da 
norte-americana ou espanhola, é grande, e isto comprometeria, em 
curtíssimo prazo, a disponibilidade de espaço. É importante que cada 
biblioteca defina de maneira clara a quais tipos de histórias em qua­
drinhos irá dedicar seus esforços de coleta e disseminação. 
Além dos gibis, em geral impressos em papel de qualidade infe­
rior, de pouca resistência, o mercado também oferece a opcão de 
álbuns e graplúc novels, publicações muitas vezes de maiores dimen­
sões e de apresentação mais luxuosa, que são resistentes e duráveis. 
Nas bibliotecas, onde o manuseio do material será mais frequente, a 
opção por uma edição em álbum ou graphic novel talvez seja uma 
alternativa mais viável. Considerações referentes a armazenamento 
e acomodação, bem como outras relativas ao custo de aquisição, 
podem reforçar, ou não, esta conclusão. 
Quanto maior for a variedade de histórias em quadrinhos que a 
biblioteca incorporar a seu acervo maiores as implicações para os 
profissionais, em termos de tratamento, recuperação, cuidados es­
peciais e armazenamento: bem como um conhecimento mais apro­
fundado desse material. A medida que os quadrinhos são incorpo­
rados às bibliotecas, maiores se tornam as exigências dos leitores, 
31 
que passam a solicitar as tiras de jornais, os fanzines (revistas elabo­
radas por fãs de histórias em quadrinhos), as revistas alternativas, 
os livros e artigos especializados. Por isso, antevê-se a necessidade 
de os bibliotecários se familiarizarem com esses materiais, a fim de 
conhecerem melhor as particularidades e os tipos de suportes em 
que as histórias em quadrinhos são veiculadas, para poderem for­
mular critérios adequados para sua seleção. 
Livros infanto-juvenis 
As bibliotecas públicas costumam ter uma grande quantidade de 
materiais de informação voltados para crianças e jovens, principal­
mente textos de literatura infanta-juvenil. As bibliotecas escolares, 
ainda que sejam tão poucas no Brasil, também possuem esse tipo de 
publicação, utilizando-o para o processo didático e incentivo às ati­
vidades de leitura, e colocando-o à disposição dos estudantes em 
seus momentos de lazer e entretenimento. 
O Brasil possui uma grande produção editorial voltada para o 
público infanto-juvenil, que abrange de livros paradidáticos a textos 
traduzidos de inúmeros idiomas. O mercado é muito dinâmico, com 
um fluxo constante de novas produções e autores. Alguns autores 
atingem vendas estrondosas e são muito solicitados por crianças e 
jovens nas bibliotecas. 
Profissionais da informação que atuam junto ao público mais jo­
vem identificam os autores de maior popularidade pela simples ve-· 
rificação do estado físico de suas obras, que com frequência exigem 
reparos e/ou reencadernação e logo atingem tal desgaste que exige 
seu descarte e substituição (quando isso é possível). São casos fáceis 
para o bibliotecário responsável pela seleção, pois muitas crianças 
tendem a ler e reler os títulos e autores que mais lhes agradam, bus­
cando sempre os mesmos livros ou solicitando que lhes contem re­
petidas vezes as mesmas histórias, como se a cada vez estivessem 
reencontrando um velho e querido amigo, em quem confiam e por 
quem têm especial carinho. 
A afirmação acima apenas reitera o fato de queprofissionais que 
atuam na seleção de materiais de informação para crianças e jovens 
precisam ter um contato bem próximo com seu público, para conhe­
cer as peculiaridades e idiossincrasias de cada leitor. Não basta co-
32 
nhecer sua comunidade por meio de dados estatísticos ou perfis mais 
ou menos genéricos. É preciso estar no meio do público, conhecer e 
conversar com crianças e jovens que frequentam a biblioteca, esta­
belecer um diálogo proveitoso com os pais, avós ou outros parentes 
que acompanham as crianças, visitar as escolas e discutir com os 
professores os livros que recomendam. Se, para os bibliotecários isto 
já é importante, para os responsáveis pela definição dos títulos a 
que o público infanto-juvenil terá acesso na biblioteca é vital. A in­
fância e adolescência são os períodos em que se alicerça a formação 
integral de qualquer indivíduo, e as bibliotecas públicas e escolares 
podem dar uma grande contribuição nesse sentido, tanto pela pos­
sibilidade de acesso a materiais informacionais adequados a esse 
público como pelas atividades que desenvolvem em torno deles. 
Essa é uma responsabilidade muito grande e não deve ser vista 
de maneira leviana. Selecionar materiais que atendam às necessida­
des do público infanta-juvenil está no cerne desta questão, pois a 
produçã? editorial é muito variada e nem sempre de qualidade apro­
priada. As vezes, por trás de figuras atraentes e histórias divertidas 
estão a disseminação de preconceitos e o velado incentivo a discri­
minações de ordem étnica, cultura] ou social. Os bibliotecários de­
vem estar atentos a essas obras, familiarizando-se com suas caracte­
rísticas mais marcantes, que incluem: 
• a ausência de minorias étnicas, como se a sociedade fosse com­
posta por urna população homogênea de indivíduos 'brancos';
• a representação negativa das minorias, seja retratando-as como
figuras caricatas, seja colocando-as como personagens antipáti­
cos, quando não são escolhidos como os vilões da história, seja
reservando para elas papéis considerados de menor importância
social ( como empregadas domésticas, criados, trabalhadores não­
qualificados, mendigos, etc.);
• a colocação da figura feminina em situação de dependência em
relação ao homem, tanto em termos econômicos e sociais (a dona
de casa que não é responsável pelo sustento da família) como
_emocionais (é o homem quem toma as decisões importantes, dei­
xando para ela apenas as questões que não têm grande significa­
ção);
33 
• representação positiva das classes sociais dominantes, retratadas
como pessoas simpáticas, bonitas, felizes e modelos de compor­
tamento a serem seguidos pelas crianças.
Dezenas de outros exemplos poderiam ser citados, mas talvez seja 
mais interessante deixar aos bibliotecários a tarefa de identificá-los 
em sua prática diária de seleção. Como subsídio a essa atividade, a 
leitura do texto de Fúlvia Rosemberg,1 que trata da relação entre 
literatura infantil e ideologia, e a dos livros de Maria de Lourdes 
Chagas Deiró2 e Umberto Eco,3 sobre a disseminação de preconcei­
tos em obras didáticas, pode ser bastante proveitosa. 
Atenção especial deve ser dada a materiais infanta-juvenis edita­
dos pela indústria de comunicação de massa, presentes em grande 
quantidade no mercado. É muito comum que desenhos animados 
ou seriados televisivos sejam transplantados para o formato impres­
so, em produções muitas vezes realizadas às pressas, com o simples 
intuito de tirar o máximo proveito da popularidade momentânea 
dos personagens (enfim, de lucro, puro� simples). Em geral, o re­
sultado é pobre, com histórias insignificantes e desenhos abaixo da 
crítica. Representam apenas o deslavado aproveitamento de ima­
gens produzidas para outro meio de comunicação, às quais se acres­
centa um texto que nem sempre consegue lhes dar muita coerência 
narrativa. Deve-se, no entanto, ter em mente que haverá sempre al­
gumas exceções a essa regra, e a identificação e incorporação ao acer­
vo de obras que fujam à mesmice da produção de massa serão uma 
das tarefas a serem desenvolvidas pelo responsável pela seleção. 
Alguns dos critérios gerais de seleção citados no capítulo anterior 
deverão ser objeto de adaptação, quando aplicados a livros infanto­
juvenis. O critério de autoridade, por exemplo, irá relacionar-se tan­
to ao autor do texto como ao ilustrador, quando forem diferentes, 
baseando a decisão de seleção em obras anteriores realizadas indi­
vidualmente ou em conjunto, ou até mesmo da coleção em que o 
livro foi publicado (como as séries Vaga-Lume, da editora Ática, e 
Veredas, da editora Moderna, para apenas citar duas das mais co­
nhecidas). 
O critério da conveniência levará em conta a faixa etária da crian­
ça, analisando a adequação do texto ao desenvolvimento intelectual 
de seu usuário potencial. Além disso, a avaliação das características 
34 
físicas dos livros considerará principalmente a resistência do mate­
rial empregado, dando-se, quando possível, preferência a material 
mais resistente, de major durabilidade. 
É importante desenvolver critérios que levem em conta a especi­
ficidade do público e as características da literatura infanta-juvenil, 
a relação entre texto e ilustrações, a apresentação gráfica, etc., a fim 
de estabelecer uma política de seleção adequada. 
Além dos pontos mencionados, deve-se, sempre que possível, 
buscar o apoio de especialistas da área, que já desenvolveram parâ­
metros críticos para julgamento da qualidade da produção editorial 
destinada a crianças e jovens. Uma comissão especial de seleção, 
composta por especialistas em literatura infanta-juvenil e por biblio­
tecários que atendem a esse público, é uma boa alternativa para ga­
rantir o nível de excelência do acervo. 
Existem alguns instrumentos auxiliares para a seleção de livros 
infanta-juvenis produzidos no Brasil. São em geral bibliografias, 
muitas vezes com resenhas críticas, elaboradas por instituições liga­
das à área. Nem sempre estão atualizadas ou abrangem muita coisa 
do imenso universo de publicações infanta-juvenis. Constituem, 
apesar dessas limitações, fontes valiosas para identificação de itens 
que devem ser acrescentados ao acervo. 
Filmes, vídeos e ovos 
A presença de filmes e vídeos em bibliotecas não é novidade em 
outros países. Em bibliotecas norte-americanas, principalmente es­
colares, há muito tempo vem sendo discutida a incorporação de fil­
mes a seus acervos, salientando-se sua importância no processo di­
dático-pedagógico. Em paralelo, uma indústria produtora de filmes 
com essa finalidade desenvolveu-se nos países mais adiantados, aten­
dendo a um mercado consumidor de dimensões e poder aquisitivo 
suficientes para justificar sua existência. 
No Brasil, a utilização de filmes no processo educacional acabou 
prejudicada por preços muitas vezes proibitivos tanto do material 
como da aparelhagem necessária à exibição (não se descartando cer­
ta dose de preconceito dos professores na utilização desses meios). 
A popularização do videocassete modificou essa situação, com mui-
35 
tas escolas hoje tendo aparelhos de reprodução e produtos educativos 
em utilização no ambiente escolar. 
Devido em grande parte à questão econômica, a discussão sobre 
a presença de filmes em bibliotecas brasileiras guiou-se inicialmen­
te pela incorporação de fitas de videocassete. Antes de entrar na busca 
de critérios, deve-se discutir o papel que esse material representará 
no conjunto do acervo. Sua abertura para outros tipos de materiais 
não deve ser fruto de modismos ou de um esforço irrefletido para 
tornar popular a biblioteca. Nem representar o velho chamariz para 
o livro impresso, como muitas vezes se costuma fazer com os cursos
de corte e costura, croché e outras atividades.
As bibliotecas públicas não existem para competir com a iniciati­
va privada, atuando paralelamente

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