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ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE SISTEMA INFRACIONAL 1) INTRODUÇÃO - Crianças e adolescentes como objeto de tutela do mundo adulto; foco de controle social Imputabilidade penal no Brasil: Código Criminal do Império (1831): art. 10 - maioridade aos 14 anos; se o menor de 14 anos “obrou com discernimento” poderia ser recolhido nas casas de correção até 17 anos Código Penal da República (1890): art. 27 maioridade: aos 9 anos entre 9 e 14 anos “sem discernimento”: não criminosos entre 9 e 14 anos “com discernimento”: considerado criminoso e recolhido em “estabelecimento disciplinar industrial” para pena de “prisão disciplinar Neste contexto entra em vigor o Código de Menores de 1927 (Mello Matos) 1) INTRODUÇÃO Código Penal (1940): art. 23 (redação original) - "irresponsabilidade penal" até os 18 anos e expressa submissão a legislação especial. Reforma de 1984 - art. 27; inimputabilidade Código de Menores de 1979: contexto da ditadura militar; doutrina da “situação irregular”, com a equiparação legal da situação de risco e da prática de ato infracional como fundamentos para institucionalização 1) INTRODUÇÃO FINAL DOS ANOS 1980-INÍCIO DOS 1990 ONU (1989/1990): Convenção Direitos da Criança (reconhecimento como pessoa e sujeito de Direito no plano internacional) Brasil (1986 - 1990): Assembleia Constituinte com Movimento Meninos e Meninas Moradores de Rua; movimento para o voto aos 16 anos; dispositivos constitucionais expressos reconhecendo crianças e adolescentes e a imputabilidade penal. Constituição Federal (1988): direito à igualdade veda diferenciação entre crianças e adolescentes que tenham praticado ou não ato infracional Estatuto da Criança e do Adolescente (1990): ruptura expressa com o menorismo e adoção da proteção integral, inclusive para crianças e adolescentes autores de ato infracional 2) DISPOSIÇÕES DO DIREITO MATERIAL - Textos legais: ECA (arts. 103 a 128) e Lei do SINASE (Lei n. 12.594/2012) Conceito de ato infracional: CRIME = FT + AJ + pessoa culpável ATO INFRACIONAL = FT + AJ + pessoa inculpável pela inimputabilidade em razão da idade (único critério absoluto de inimputabilidade) 2) DISPOSIÇÕES DO DIREITO MATERIAL Consequências jurídicas da prática de ato infracional: considera-se a idade da criança/adolescente à data do fato: a) Crianças (0 a 12 anos incompletos): medida de proteção (art. 105, ECA) - ou seja, considera-se que a criança que pratica ato infracional está em situação equiparada à de risco: Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas: I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade; II - orientação, apoio e acompanhamento temporários; III - matrícula e freqüência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental; IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio e promoção da família, da criança e do adolescente; V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial; VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos; VII - acolhimento institucional; VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar; IX - colocação em família substituta 2) DISPOSIÇÕES DO DIREITO MATERIAL b) Adolescentes (12 a 18 anos incompletos): medidas socioeducativas OU medidas de proteção (alternativamente ou cumuladas), salvo acolhimentos familiar e institucional, e família substituta: Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas: I - advertência; II - obrigação de reparar o dano; III - prestação de serviços à comunidade; (6 meses MAX) IV - liberdade assistida; (6 meses MIN) V - inserção em regime de semi-liberdade; (SEM PRAZO DETERMINADO) VI - internação em estabelecimento educacional; (SEM PRAZO DETERMINADO, mas MAX 3 ANOS) VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI. - Medida pode se estender até os 21 anos no caso da internação - desintegração compulsória (arts. 2º, §único e 121, § 5º, ECA) 2) DISPOSIÇÕES DO DIREITO MATERIAL Critério de aplicação (art. 112, §1º): considera-se a capacidade do adolescente de cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade da infração. Ou seja: não é o fato praticado, mas sim o melhor interesse do adolescente que pauta a escolha da medida Art. 112, §3º: Os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental receberão tratamento individual e especializado, em local adequado às suas condições. - SINASE: atendimento integral à saúde, inclusive mental (art. 60, III, SINASE); disposições específicas nos arts. 64 e 65 (execução de terapêutica específica; abordagem multidisciplinar; referência à Lei Antimanicomial - n. 10.216/2001) 2) DISPOSIÇÕES DO DIREITO PROCESSUAL Dos Direitos Individuais (arts. 106 a 109, ECA) Privação de liberdade: somente por ordem judicial ou em flagrante de ato infracional, caso em que o adolescente tem direito à identificação dos responsáveis pela sua apreensão, e à informação acerca de seus direitos. A apreensão em flagrante: comunicação imediata à família (ou pessoa indicada pelo adolescente) e ao juiz da infância e juventude, para que verifique a possibilidade de liberação imediata (sob responsabilidade de adulto). Internação provisória: prazo máximo de quarenta e cinco dias, devendo haver indícios suficientes de autoria e materialidade, e somente em caso de necessidade imperiosa da medida. O adolescente civilmente identificado não será submetido a identificação compulsória pelos órgãos policiais, de proteção e judiciais, salvo para efeito de confrontação, havendo dúvida fundada. 2) DISPOSIÇÕES DO DIREITO PROCESSUAL Das Garantias Processuais (arts. 110. e 111) Embora não se trate de Justiça Criminal, são assegurados ao adolescente garantias processuais como sujeito de Direito, quais sejam: Direito ao devido processo legal, necessariamente judicializado: única forma admissível para determinar a privação de sua liberdade; Direito à informação: saber qual o ato infracional atribuído, mediante citação ou meio equivalente; Direito à igualdade na relação processual: igualdade de oportunidade de manifestação e produção de provas; Direito a defesa técnica por advogado: constituído nos autos ou indicado pelo juiz, se necessária assistência judiciária gratuita e integral; Direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade competente; Direito de solicitar a presença de seus pais ou responsável em qualquer fase do procedimento. 2) DISPOSIÇÕES DO DIREITO PROCESSUAL PROCEDIMENTO DE APURAÇÃO DE ATO INFRACIONAL Pode iniciar de 3 maneiras: flagrante, ordem judicial ou indícios de participação em crime praticado por adulto. Flagrante: adolescente é apreendido enquanto pratica o ato ou logo após. Ordem judicial: juiz determina a apreensão de adolescente por ter notícia de prática de ato infracional. Indícios de participação em crime de adulto: remessa do relatório das investigações e documentos ao MP. Nos três casos, ao ingressar no sistema de justiça, o adolescente será apresentado ao MP para que este decida se dará remissão, arquivamento ou representará iniciando o processo. OBS: não há regulamentação para apuração de ato infracional praticado por criança; verifica-se qual a medida de proteção/ pertinente aos pais mais adequada. 2) DISPOSIÇÕES DO DIREITO PROCESSUAL Flagrante de ato infracional (apreensão pela autoridade policial, de preferência especializada, separando adolescentes de adultos em suas dependências) - possibilidades: (i) liberação imediata: qualquer dos pais ou responsável assina termo de compromisso para apresentação ao MP (art. 174) OU (ii) não liberação (por não comparecimento dos pais ou por ato infracional violento e de repercussão social): encaminhamento à unidade de atendimento em até 24 horas, paraque esta providencie a apresentação ao MP. OBS: Com o não comparecimento do adolescente, o representante do Ministério Público notificará os pais ou responsável para apresentação do adolescente, podendo requisitar o concurso das polícias civil e militar. (art. 179 § único). 2) DISPOSIÇÕES DO DIREITO PROCESSUAL Procedimento de apuração de ato infracional Da apresentação ao MP – possibilidades (art. 180) Arquivamento: juiz deve homologar (ou remeter ao Procurador-Geral de Justiça). a) estiver demonstrada, desde logo, a inexistência do fato; b) não constituir o fato ato infracional; ou c) estiver comprovado que o adolescente não concorreu para a prática do fato. Caso se encerra. Remissão (art. 126 a 128): causa de exclusão do processo (art. 126, caput, CF/88), ou seja, a sua concessão obsta o ajuizamento da ação sócio-educativa, pode ser concedida qualquer que seja a natureza do ato infracional, desde que observados fatores como circunstâncias e conseqüências do fato, ao contexto social, bem como à personalidade do adolescente e sua maior ou menor participação no ato infracional. Representação: breve resumo dos fatos e a classificação do ato infracional, não sendo necessária prova pré-constituída da autoria e materialidade. Processo de conhecimento: a ação socioeducativa (art. 186) Oferecida representação pelo MP, há nova possibilidade de remissão pelo juiz. Não ocorrendo remissão, advogado do adolescente apresenta defesa prévia, seguem-se oitiva de testemunhas, debates do MP e defesa e prolação de sentença. Art. 188: o juiz pode aplicar a remissão como extinção ou suspensão do processo em qualquer fase da ação, antes da sentença. Art. 189: O juiz não aplicará medida alguma se reconhecer estar provada a inexistência do fato; não haver prova da existência do fato; não constituir o fato ato infracional; não existir prova de ter o adolescente concorrido para o ato infracional. 2) DISPOSIÇÕES DO DIREITO PROCESSUAL A execução da medida socioeducativa (arts. 35 a 48 da Lei do SINASE) - Elaboração do Plano Individual de Atendimento por equipe multidisciplinar (SP: pedagogia, psicologia, saúde, segurança pública e assistência social) - Reavaliação pela equipe ao menos a cada 6 meses (SP: trimestral) - Relatórios são enviados ao juiz da infância, que decidirá pela manutenção ou extinção da medida, ouvido o MP 2) DISPOSIÇÕES DO DIREITO PROCESSUAL - Extinção - art. 46, SINASE: Art. 46. A medida socioeducativa será declarada extinta: I - pela morte do adolescente; II - pela realização de sua finalidade; III - pela aplicação de pena privativa de liberdade, a ser cumprida em regime fechado ou semiaberto, em execução provisória ou definitiva; IV - pela condição de doença grave, que torne o adolescente incapaz de submeter-se ao cumprimento da medida; e V - nas demais hipóteses previstas em lei 2) DISPOSIÇÕES DO DIREITO PROCESSUAL Finalidades legais da medida socioeducativa: § 2º Entendem-se por medidas socioeducativas as previstas no art. 112 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), as quais têm por objetivos: I - a responsabilização do adolescente quanto às consequências lesivas do ato infracional, sempre que possível incentivando a sua reparação; II - a integração social do adolescente e a garantia de seus direitos individuais e sociais, por meio do cumprimento de seu plano individual de atendimento; e III - a desaprovação da conduta infracional, efetivando as disposições da sentença como parâmetro máximo de privação de liberdade ou restrição de direitos, observados os limites previstos em lei.
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