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Organização do Estado e Direitos Fundamentais - FGV

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ROTEIRO DE CURSO
 2014.2
5a EDIÇÃO
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO 
E DIREITOS FUNDAMENTAIS
AUTORES: ÁLVARO JORGE E GUSTAVO SCHMIDT
COLABORADORA: CECÍLIA MARIA BARCELLOS ZERBINI
NOTA INTRODUTÓRIA ......................................................................................................................................................................4
AULA 1 – ORGANIZAÇÃO DOS PODERES ............................................................................................................................................5
AULA 2 – ORGANIZAÇÃO DOS PODERES ............................................................................................................................................7
AULA 3 – ORGANIZAÇÃO DOS PODERES ............................................................................................................................................9
AULA 4 – ORGANIZAÇÃO DOS PODERES – QUEM É QUEM? ................................................................................................................11
AULA 5 – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA - PRINCÍPIOS ..........................................................................................................................14
AULA 6 – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA – CONTROLE ...........................................................................................................................15
AULA 7 – FEDERAÇÃO ....................................................................................................................................................................17
AULA 8 – FEDERAÇÃO - COMPETÊNCIAS ..........................................................................................................................................19
AULA 9 – CONSTITUIÇÃO ESTADUAL ...............................................................................................................................................21
AULA 10 – FEDERAÇÃO – LEI ORGÂNICA E MUNICÍPIO .....................................................................................................................23
AULA 11 – FEDERAÇÃO - INTERVENÇÃO ..........................................................................................................................................25
AULAS 12 E 13 - COMO E POR QUE IDENTIFICAR DIREITOS FUNDAMENTAIS NA CONSTITUIÇÃO? ..........................................................28
AULA 14 - COLISÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS: A PONDERAÇÃO NO CASO LEBACH .........................................................................30
AULA 15 - DEVIDO PROCESSO LEGAL E PROVAS ILÍCITAS...................................................................................................................33
AULA 16 E 17 - EXIGIBILIDADE EM JUÍZO DOS DIREITOS SOCIAIS PRESTACIONAIS. O CASO DO DIREITO À SAÚDE E 
O FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS ...........................................................................................................................................35
AULA 18 – PROCESSO LEGISLATIVO E REFORMA DA CONSTITUIÇÃO – CLÁUSULAS PÉTREAS ................................................................38
AULA 19 – PROCESSO LEGISLATIVO ORDINÁRIO ..............................................................................................................................40
AULA 20 – CONTROLE JUDICIAL DO PROCESSO LEGISLATIVO ............................................................................................................43
AULA 21 – TIPOS DE INCONSTITUCIONALIDADE E CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE ...................................................................45
AULA 22 – CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE – TIPOS ...............................................................................................................49
AULA 23 – CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE – CONTROLE JUDICIAL REPRESSIVO DIFUSO ..........................................................53
AULAS 24, 25 E 26 – CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE – CONTROLE JUDICIAL CONCENTRADO .....................................................55
AULA 27 - ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL ........................................................................................59
AULAS 28 E 29 – REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS ...............................................................................................................................62
AULA 30 – OMISSÃO INCONSTITUCIONAL E MANDADO DE INJUNÇÃO ................................................................................................64
Sumário
Organização do Estado e direitos fundamentais
FGV DIREITO RIO 3
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E DIREITOS FUNDAMENTAIS
NOTA INTRODUTÓRIA
Esta aula inicia o curso de Direito Constitucional II – Organização do Estado e dos Direitos Fundamentais 
(“Curso”). Após o Curso de Teoria do Direito Constitucional ter apresentado os principais problemas e funda-
mentos teóricos do Direito Constitucional, passa-se, aqui, a aprofundar esses conceitos com o estudo específico 
da engenharia constitucional brasileira e seu objetivo primeiro. Em outras palavras, considerando o alicerce 
teórico desenvolvido em Direito Constitucional I – Teoria do Direito Constitucional, o curso pretende analisar 
e discutir os dois objetivos principais para os quais o Direito Constitucional foi construído: a organização do 
Estado/Poderes e a proteção aos Direitos Fundamentais.
Como leciona Canotilho, o conceito ideal de constituição deve consagrar um sistema de garantias da liber-
dade e o princípio da divisão dos poderes1. Tal indicação, entretanto, não se dá sem motivo, pelo simples fato de 
que não se pode fugir da idéia de que a constituição, como visto em Direito Constitucional I, é o documento 
que organiza o poder com um fim específico, qual seja, o de proteger os direitos dos cidadãos.
É da essência da tarefa libertadora da constituição assim fazê-lo. Quando tal não ocorre, como diria Montes-
quieu, tudo está perdido. Não existe proteção, nem há que se falar em constituição2. Assim, neste curso, deve a 
organização do Poder Estatal ser analisada a partir da sua finalidade primeira acima referida.
Em termos “geográficos”, o curso vai simultaneamente apresentar e debater os Títulos III e IV (Organização 
do Estado e Organização dos Poderes), da Constituição Federal de 1988, e o sistema de direitos estabelecido 
pela Carta Política, discutindo os prós e contras do modus operandi e da estrutura criadas pelo constituinte para 
a proteção dos Direitos Fundamentais. 
O curso encontra-se dividido em cinco blocos principais: (i) o primeiro, que vai tratar da organização dos Po-
deres; (ii) o segundo, que vai trabalhar com a idéia de Federação e a sua arquitetura específica na Constituição; (iii) 
o terceiro, que vai aprofundar o estudo dos Direitos Fundamentais declarados na Constituição, e dos instrumentos 
metodológicos envolvidos na sua identificação e aplicação; (iv) o quarto, que vai estudar os mecanismos institu-
cionais e modelos de controle de constitucionalidade; e (v) o quinto, que cuida das formas processuais – ou ações 
– previstas na Constituição para a proteção dos Direitos Fundamentais.
Passemos ao primeiro.
FGV DIREITO RIO 4
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E DIREITOS FUNDAMENTAIS
• É possível encontrarmos outros exemplos para fundamentar as idéias de Montesquieu, além da
Constituição da Inglaterra? 
Prepare-se para o debate em sala buscando aplicar as idéias de Montesquieu ao caso da aula. Procure compre-
ender o papel da Constituição em toda esta discussão. A Constituição concede “passes livres” aos juízes? E para 
os demais Poderes? Afinal, o que é e para que serve a separação dos Poderes? Não se esqueça que o caminho para 
estas respostas está na bibliografia indicada.
Caso
A juíza Cláudia Valéria foi convocada em 2002, pelo deputado–presidente da Comissão Parlamentar de 
Inquérito do Narcotráfico, para depor.Os membros da CPI exigiam que a juíza prestasse esclarecimentos sobre 
a revogação da prisão preventiva que concedera a dois cidadãos possivelmente envolvidos no tráfico de drogas. 
Devido à percepção social de que o narcotráfico se tornara um problema prioritário, profundamente agravado 
pela impunidade, a imprensa e a sociedade a princípio louvaram a iniciativa da CPI.
Imediatamente, o juiz Fernando da Costa Tourinho Neto impetrou habeas corpus em favor da juíza Cláudia 
Valéria, alegando que sua convocação estava ferindo o princípio da independência de poderes. Apreciando o 
pedido formulado por Tourinho Neto, o ministro Nelson Jobim, do STF, asseverou que “as decisões judiciais 
só podem ser revistas pelos recursos processuais próprios”. É o que estabelece em detalhes o artigo 41 da Lei 
Complementar nº 35/1979 (Lei Orgânica da Magistratura Nacional), que protege a independência do exercício 
da jurisdição:
“Art. 41. Salvo os casos de impropriedade ou excesso de linguagem, o magistrado não pode ser punido ou 
prejudicado pelas opiniões que manifestar ou pelo teor das decisões que proferir.”
Nesse contexto, reflita: a convocação feita pela CPI é constitucional? 
Conceitos
• O Poder Estatal e a sua fragmentação; fragmentação do poder e proteção da liberdade; o poder freia 
o poder; tripartição. 
Bibliografia
• MONTESQUIEU, Charles L. S. O espírito das Leis. Tradução Jean Melville, 2002, editora Martin 
Claret pp. 164-176
• Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789
AULA 1 – ORGANIZAÇÃO DOS PODERES
Nota ao Aluno
No meio e no final deste semestre você prestará contas daquilo que aprendeu. Vai ser submetido a uma prova. 
O síndico do seu prédio fará o mesmo na assembléia de condomínio. Nas próximas eleições, os membros do 
Congresso Nacional prestarão contas aos seus eleitores. O presidente da República também não vai fugir deste 
compromisso.
Se olharmos ao nosso redor, diversos são os exemplos de pessoas e instituições prestando contas. Mas e o juiz 
do caso analisado: por que ele não deve prestar contas ao Congresso? Ele está livre para fazer o que quiser? Ao 
decidir, o Supremo Tribunal Federal simplesmente protegia um membro da magistratura, aplicando o chamado 
“espírito de corpo”, ou pensava em algo mais? Qual é o bem jurídico tutelado pela decisão?
O objetivo desta aula é discutir a idéia de fragmentação do Poder Estatal. Tomando por base o texto clássico 
de Montesquieu (que deverá ser atentamente estudado), você deve buscar entender o porquê da idéia de frag-
mentação. Procure refletir:
• Que realidade norteou Montesquieu na construção de seu texto?
• Suas premissas são corretas? Ainda são válidas nos dias de hoje?
• O que mudou no mundo desde que o texto foi escrito? 
FGV DIREITO RIO 5
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E DIREITOS FUNDAMENTAIS
Por conseguinte, a Assembléia Nacional reconhece e declara, em presença e sob os auspícios do Ser Supremo, 
os seguintes direitos do Homem e do Cidadão:
I - Os homens nascem e ficam iguais em direitos. As distinções sociais só podem ser fundamentadas na uti-
lidade comum.
II - O fim de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem.
III - O princípio de toda a Soberania reside essencialmente na Nação; nenhuma corporação, nenhum indi-
víduo pode exercer autoridade que não emane diretamente dela.
IV - A liberdade consiste em poder fazer tudo quanto não prejudique o próximo; assim, o exercício dos di-
reitos naturais de cada homem não tem limites senão os que assegurem o gozo desses direitos. Tais limites não 
podem ser determinados senão pela lei.
V - A lei só tem direito de proibir as ações prejudiciais à sociedade. Tudo quanto não é proibido pela lei não 
pode ser impedido e ninguém pode ser obrigado a fazer o que ela não ordena.
VI - A lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o direito de concorrer, pessoalmente ou por 
seus representantes, para a sua formação. Ela deve ser a mesma para todos, quer ela proteja, quer ela castigue. 
Todos os cidadãos, sendo iguais aos seus olhos, sendo igualmente admissíveis a todas as dignidades, colocações 
e empregos públicos, e sem outra distinção do que a de suas virtudes e seus talentos.
VII - Nenhum homem poder ser acusado, sentenciado, nem preso se não for nos casos determinados pela 
lei e segundo as formas que ela prescreveu. Os que solicitam, expedem, executam ou fazem executar ordens ar-
bitrárias, devem ser castigados; mas todo cidadão chamado ou preso em virtude da lei deve obedecer no mesmo 
instante; ele se torna culpado pela resistência.
VIII - A lei só deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessárias, e ninguém pode ser punido senão 
em virtude de uma lei estabelecida e promulgada anteriormente ao delito e legalmente aplicada.
IX - Todo sendo considerado inocente até que tenha sido declarado culpado, se se julga indispensável detê-lo, 
todo rigor que não for necessário para garantir sua detenção deve ser severamente proibido pôr lei.
X - Ninguém pode ser molestado por suas opiniões, mesmo religiosas, contanto que não perturbem a ordem 
pública estabelecida pela lei.
XI - A livre comunicação de pensamentos e de opinião é um dos direitos mais preciosos do homem; todo 
cidadão pode, pois, falar, escrever e imprimir livremente, respondendo pelo abuso dessa liberdade nos casos 
previstos pela lei.
XII - A garantia dos direitos do homem e do cidadão necessita da força pública; esta força é instituída para o 
benefício de todos e não para a utilidade particular daqueles aos quais foi confiada.
XIII - Para o sustento da força pública e para as despesas da administração, uma contribuição comum é in-
dispensável. Ela deve ser igualmente repartida entre todos os cidadãos em razão das suas faculdades.
XIV - Cada cidadão tem o direito de verificar, por ele mesmo ou por seus representantes, a necessidade de 
contribuição pública, de consenti-la livremente, de acompanhar o seu emprego, de determinar a cota, a estabi-
lidade, a cobrança e a duração.
XV - A sociedade tem o direito de exigir contas a qualquer agente público de sua administração.
XVI - Qualquer sociedade na qual a garantia dos direitos não for assegurada, nem a repartição de poderes 
determinada, não tem constituição.
XVII - Sendo a propriedade um direito inviolável e sagrado, ninguém pode dela ser privado, a não ser 
quando a necessidade pública, legalmente reconhecida, o exigir evidentemente e sob a condição de uma justa e 
anterior indenização.
Anexo
DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO
(Votada definitivamente em 2 de Outubro de 1789)
Os representantes do Povo Francês, constituídos em Assembléia Nacional, considerando que a ignorância, 
o esquecimento e o menosprezo aos Direitos do homem são as únicas causas dos males públicos e da corrupção 
dos governos, resolvem expor em uma declaração solene os direitos naturais, inalienáveis, imprescritíveis e sagra-
dos do homem, a fim de que esta declaração, sempre presente a todos os membros do corpo social, permaneça 
constantemente atenta a seus direitos e deveres, a fim de que os atos do Poder Legislativo e do Poder Executivo 
possam ser a cada momento comparados com o objetivo de toda instituição política e no intuito de serem por 
ela respeitados; para que as reclamações dos cidadãos, fundadas daqui por diante em princípios simples e incon-
testáveis, destinem-se sempre à manutenção da Constituição e ao bem-estar de todos.
FGV DIREITO RIO 6
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E DIREITOS FUNDAMENTAIS
AULA 2 – ORGANIZAÇÃO DOS PODERES
Nota ao Aluno
Na primeira aula você discutiu a idéia de que a fragmentação do Poder do Estado é fundamental para a pro-
teção da liberdade. Mas, afinal, a simples divisão do Poder é capaz de garantir a liberdade? 
No caso apresentado, vemos o Poder Executivo exercitando uma prerrogativa sua. Mas seria essa compatível 
como princípio da separação dos poderes? Teria sido este princípio violado? Afinal, não cabe ao Poder Legisla-
tivo legislar? O que legitima o Poder Executivo a “criar” leis? O que dizem os textos indicados sobre esta “desca-
racterização” da separação de poderes estudada na aula passada?
Como você verá, da leitura dos textos percebe-se que, além da idéia de divisão dos Poderes, outra noção 
é fundamental para a compreensão deste desenho institucional. Trata-se da constatação de que o Estado tem 
determinadas funções a serem cumpridas e que tais funções encontram-se distribuídas entre os diversos Po-
deres do Estado. Procure refletir:
• Seria essa uma distribuição perfeita, ou seja, a cada Poder corresponderia uma função? Procure esta 
 resposta na Constituição e traga exemplos para o debate em sala.
• Como a Constituição Federal de 1988 realizou a distribuição das funções estatais entre os Poderes?
• Quais as vantagens e desvantagens da fórmula adotada?
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de manejar os conceitos de separação de poderes e separação de funções, 
bem como de identificar na Constituição Federal de 1988 funções típicas e atípicas de cada um dos Poderes.
Caso
No dia 31/05/1990, o presidente da República editou a Medida Provisória nº 190, tendo por objeto os re-
cursos em dissídios coletivos de natureza econômica ou jurídica. 
Algum tempo depois da edição da norma, o procurador-geral da República propôs Ação Direta de Inconsti-
tucionalidade atacando o seu artigo 1º e parágrafo único, que determinam o seguinte:
“Art. 1º. Nos dissídios coletivos de natureza econômica ou jurídica, para evitar grave lesão à ordem ou à 
economia públicas, o Presidente do Tribunal Superior do Trabalho, a pedido da parte interessada, poderá sus-
pender, em despacho fundamentado, total ou parcialmente, a execução das decisões dos Tribunais Regionais do 
Trabalho, até o trânsito em julgado da decisão proferida em respectivo recurso.
Parágrafo Único – A competência atribuída neste artigo ao Presidente do Tribunal Superior do Trabalho se 
extinguirá dentro de 180 dias, a contar da publicação desta Medida Provisória.”
Segundo o procurador-geral da República, o conteúdo da MP impugnada seria idêntico ao dos artigos 
2º e 4º da Medida Provisória nº 1854, editada em 04/05/1990 – medida essa que fora integralmente rejei-
tada pelo Congresso Nacional no dia anterior à reedição.
O fundamento constitucional da argumentação construída na ADIn estaria nos princípios do Estado 
Democrático de Direito e da independência e harmonia dos Poderes, previstos respectivamente nos artigos 
1º, caput e parágrafo único e 2º, da Constituição Federal:
“Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela União indissolúvel dos Estados e Municípios e do 
Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
FGV DIREITO RIO 7
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E DIREITOS FUNDAMENTAIS
Parágrafo Único – Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou direta-
mente, nos termos desta Constituição.
Art. 2º. São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.”
Ao editar medida provisória de teor idêntico ao da medida anteriormente rejeitada pelos representantes do 
povo, o chefe do Poder Executivo nacional teria exercido competência legislativa fora dos limites expressamente 
previstos na Constituição.
Justamente por isso – continua a argumentação dos autores da ADIn – é que, para adquirir esta-
bilidade normativa e ser convertida em lei, toda medida provisória deve ser submetida à apreciação e 
aprovação do Legislativo. Trata-se de uma garantia da separação de poderes – caso contrário, o Executivo 
estaria livre para assumir indiretamente (por edição de MPs), e sem controle do Congresso Nacional, 
uma função que é não é precipuamente sua, mas do próprio Legislativo. Esta manifestação do Poder Le-
gislativo para estabilização das MPs é “insubstituível e insuprimível”, como pode ser constatado a partir 
do artigo 62 da Constituição:
“Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias , 
com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional”.
Que argumentos você usaria para contestar a posição da Procuradoria Geral da República?
Conceitos
• Funções estatais; funções típicas e atípicas; freios e contrapesos 
Bibliografia
• LOEWENSTEIN, K. Teoria de la Constitucion. Ariel Derecho, Barcelona, 1965. (trechos selecionados 
 pelo professor)
• KELSEN, H. Teoria Geral do Direito do Estado. Martins Fontes, São Paulo, 1990. (trechos selecionados 
 pelo professor)
• SILVA, J. A. da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 24ª ed. Malheiros, São Paulo, 2005, pp. 106 – 112.
Questões de Concursos
1) Prova preliminar para ingresso para a Magistratura estadual/1999- RJ
É possível a delegação de funções entre os Poderes? Resposta fundamentada.
FGV DIREITO RIO 8
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E DIREITOS FUNDAMENTAIS
AULA 3 – ORGANIZAÇÃO DOS PODERES
Nota ao Aluno
Nas duas primeiras aulas sobre o tema Organização dos Poderes foram debatidas as 
idéias de fragmentação do Poder com vistas à proteção da liberdade, divisão das tarefas entre 
instituições distintas dentro da estrutura do Estado e, por fim, funções típicas e atípicas de 
cada um dos Poderes.
Você já percebeu que a chamada Independência dos Poderes não quer dizer liberdade 
para fazer o que bem entender. Pelo contrário, foram vários os exemplos de que a organiza-
ção constitucional não deixa cada Poder fazer o que bem entende.
Na aula de hoje, vamos aprofundar um conceito que materializa aquela idéia de que a 
independência dos Poderes não significa ausência de controles. Vamos discutir a engenharia 
constitucional necessária para a implementação do chamado sistema de freios e contrapesos. 
Leia a bibliografia indicada, o caso gerador e o voto do ministro Cezar Pelluso sobre a 
criação do controle externo da magistratura. Lembre-se das aulas anteriores e crie um qua-
dro de freios e contrapesos relativos aos três Poderes, procurando refletir:
• Quais as vantagens e desvantagens deste sistema?
• Você acha que os Constituintes de 1988 tiveram as mesmas discussões que os Federalistas?
Ao final, tente colocar no papel o conceito que você entende como o mais correto sobre 
o que vem a ser a independência e harmonia previstas no art. 2° da Constituição Federal.
Caso1
Há alguns anos, a Assembléia Legislativa da Paraíba resolveu incluir na Constituição 
Estadual o seguinte dispositivo:
“Art. 147. O Conselho Estadual de Justiça é órgão de fiscalização da atividade adminis-
trativa e do desempenho dos deveres funcionais do Poder Judiciário, do Ministério Público, 
da Advocacia Geral do Estado e da Defensoria Pública.
§1º - O Conselho de Justiça será integrado por dois desembargadores, um representante 
da Assembléia Legislativa do Estado, o Procurador-Geral da Justiça, o Procurador-Geral do 
Estado e o Presidente da Secional da OAB.
§2º - Lei complementar definirá a organização e o funcionamento do Conselho Esta-
dual de Justiça”.
A criação de um órgão de fiscalização do Poder Judiciário, ainda que em âmbito estadu-
al, tem sido um dos temas mais intensamente debatidos no Brasil desde que a Reforma do 
Judiciário começou a ser proposta.
As reações de setores tradicionalmente refratários ao controle externo não demoraram. 
Pouco tempo após a publicação da emenda, a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) 
propôs Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIn) contra o novo artigo 147 da Consti-
tuição do Estado da Paraíba.
O argumento básico da AMB era o de que a norma impugnada feriria os princípios da 
separação de poderes e da independência do Poder Judiciário – cláusulas pétreas da Cons-
1 Caso baseado na ADIN 135-3 
PB – Criação de Conselho Es-
tadualde Controle Externo do 
Poder Judiciário pela Constitui-
ção Estadual.
FGV DIREITO RIO 9
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E DIREITOS FUNDAMENTAIS
tituição Federal, nos termos do artigo 60, §4°. Além disso, a função fiscalizadora do órgão criado pela Emenda 
pertencia originariamente do Tribunal de Contas do Estado.
Defendendo a constitucionalidade do artigo 147, a Assembléia Legislativa da Paraíba alegou que o Conselho 
criado não violaria qualquer dos princípios fundamentais da Constituição. Aliás, argumentava a Assembléia, 
a própria Constituição a autorizava a implementar tal órgão, na medida em que “recobriu-se de modernidade, 
insculpindo em seu seio, e permitindo que as Cartas Estaduais o fizessem, institutos correspondentes aos avanços sociais 
e aos justos anseios comunitários da mudança.”
Como você se posicionaria acerca da criação de um órgão de fiscalização do Poder Judiciário? Procure cons-
truir argumentos favoráveis e contrários à constitucionalidade desse órgão.
Conceitos
• Freios e contrapesos.
Bibliografia
• LOEWENSTEIN, K. Teoria de la Constitucion. Ariel Derecho, Barcelona, 1965. (trechos selecionados 
 pelo professor)
• HAMILTON, A. O Federalista. Editora Líder, Belo Horizonte, 2003, pp. 298 – 309 ( Artigos XLVII e LI)
• Voto do ministro César Peluso na ADIN 3367-1 (ver Apêndice 1) 
FGV DIREITO RIO 10
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E DIREITOS FUNDAMENTAIS
AULA 4 – ORGANIZAÇÃO DOS PODERES – QUEM É QUEM?
Nota ao Aluno
Nas aulas anteriores, você estudou a idéia de separação de poderes. Deve ter com-
preendido que o sistema montado para garantir a independência dos Poderes é, em 
verdade, um sistema de controles mútuos e não um sistema de independência absoluta. 
Viu também como os Poderes detêm funções típicas e atípicas e como estas idéias se 
materializam por meio da criação de um sistema de freios e contrapesos expresso na 
Constituição.
Agora é hora de aprofundar o estudo particular de cada um dos Poderes, com ênfase 
em algumas de suas funções respectivas, sejam elas típicas ou atípicas. Esta aula procura 
analisar um pouco mais detalhadamente os Poderes Legislativo e Judiciário, particular-
mente no que concerne às suas respectivas estruturas. De carona, devido à sua inserção 
no cenário institucional a partir de 1988, o Ministério Público também será estudado.
Não é necessário maior detalhamento do tema, uma vez que o mesmo será objeto de 
disciplinas específicas a partir do quarto período. Mas é fundamental que a estrutura dese-
nhada pela Constituição para esses Poderes seja compreendida por você.
O caso gerador discute o poder das Comissões Parlamentares de Inquérito. Essas 
comissões buscaram, na vigência da nova Constituição, agigantar os seus poderes de 
investigação, mas acabaram tendo muitas de suas decisões revistas pelo Poder Judi-
ciário, que passou a delimitar o âmbito de atuação das mesmas. Em conjunto com o 
caso, a bibliografia indicada aprofunda a discussão sobre os limites da competência de 
tais comissões, cuidando também de apontar o novo ator no teatro das instituições: 
o Ministério Público.
Busque identificar nos textos e no caso estudados a materialização da idéia de freios e 
contrapesos. Traga para o debate em sala exemplos que você pôde retirar das leituras.
Caso2
Em 17 de novembro de 1999, um advogado, Dr. Artur, teve seu escritório e sua residên-
cia revistados por agentes da Polícia Federal. Quando o advogado exigiu que mostrassem a 
autorização judicial para realizar a medida, os policiais informaram que estavam cumprindo 
um Mandado de Busca e Apreensão expedido pelo deputado Federal Magno Malta, na 
condição de presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), criada para o Avanço 
e a Impunidade do Narcotráfico.
Durante a busca, foram apreendidos bens necessários ao exercício profissional de Artur, 
como, por exemplo, computadores – nos quais estavam armazenadas diversas informações 
sobre clientes e processos de Artur – e inúmeros documentos relativos a casos em que tra-
balhava na época.
Sentindo-se extremamente lesado tanto moral, como materialmente, o advogado impe-
trou mandado de segurança contra a medida “abusiva, autoritária e ilegal” do presidente da 
CPI, com o intuito de reaver os bens apreendidos.
Inquirido sobre o assunto, o deputado federal Magno Malta afirmou que “a CPI tem se 
pautado por preservar os direitos dos cidadãos, principalmente quando da prática de atos graves, 
como a busca e apreensão”. Com relação aos bens apreendidos, explicou que “depois de uma 
primeira análise nos serviços de informática da Câmara dos Deputados, que já implicou certa 
2 Caso baseado no MS nº 
23.642/DF – Determinação de 
busca e apreensão em domicí-
lio por Comissão Parlamentar 
de Inquérito.
FGV DIREITO RIO 11
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E DIREITOS FUNDAMENTAIS
demora, a CPI concluiu que, seja nesta Casa, seja no Senado Federal, o Poder Legislativo não dispunha de equipamen-
tos e técnicos que pudessem fazer essa perícia”, fato que teria ocasionado a “entrega de todo o material de informática 
aos peritos da Polícia Federal”. 
Diante dos fatos acima expostos, responda: a Comissão Parlamentar poderia ter ordenado a narrada busca 
e apreensão?
Conceitos
• Poder Legislativo; Congresso Nacional; Comissões Parlamentares de Inquérito; 
 Tribunal de Contas; Poder Judiciário; Ministério Público.
Bibliografia
• SILVA, J.A. Curso de Direito Constitucional Positivo. 24ª ed. Malheiros, SP,
 pp. 509 – 517; 553 - 557
• BARROSO, Luís Roberto. Comissões Parlamentares de Inquérito e suas Competências: Política,
 Direito e Devido Processo Legal. Disponível nos sites:
o http://direitopublico.com.br/pdf/REVISTA-DIALOGO-JURIDICO-01-2001-LUIS-R-BARROSO.pdf
o www.presidencia.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_15/Art_Luis.htm. 
• FALCÃO, J. A. Os Novos Políticos. Correio Braziliense, 30/07/1999.
Jurisprudência
HC 83515 - RS
EMENTA: HABEAS CORPUS. INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA. PRAZO DE VALIDADE. ALE-
GAÇÃO DE EXISTÊNCIA DE OUTRO MEIO DE INVESTIGAÇÃO. FALTA DE TRANSCRIÇÃO 
DE CONVERSAS INTERCEPTADAS NOS RELATÓRIOS APRESENTADOS AO JUIZ. AUSÊNCIA 
DE CIÊNCIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO ACERCA DOS PEDIDOS DE PRORROGAÇÃO. APU-
RAÇÃO DE CRIME PUNIDO COM PENA DE DETENÇÃO. 1. É possível a prorrogação do prazo de 
autorização para a interceptação telefônica, mesmo que sucessivas, especialmente quando o fato é complexo a 
exigir investigação diferenciada e contínua. Não configuração de desrespeito ao art. 5º, caput, da L. 9.296/96. 
2. A interceptação telefônica foi decretada após longa e minuciosa apuração dos fatos por CPI estadual, na 
qual houve coleta de documentos, oitiva de testemunhas e audiências, além do procedimento investigatório 
normal da polícia. Ademais, a interceptação telefônica é perfeitamente viável sempre que somente por meio 
dela se puder investigar determinados fatos ou circunstâncias que envolverem os denunciados. 3. Para fun-
damentar o pedido de interceptação, a lei apenas exige relatório circunstanciado da polícia com a explicação 
das conversas e da necessidade da continuação das investigações. Não é exigida a transcrição total dessas 
conversas, o que, em alguns casos, poderia prejudicar a celeridade da investigação e a obtenção das provas 
necessárias (art. 6º, § 2º, da L. 9.296/96). 4. Na linha do art. 6º, caput, da L. 9.296/96, a obrigação de cien-
tificar o Ministério Público das diligências efetuadas é prioritariamente da polícia. O argumento da falta de 
ciência do MP é superado pelo fato de que a denúncia não sugere surpresa, novidade ou desconhecimento 
do procurador, mas sim envolvimento próximo com as investigações e conhecimento pleno das providências 
tomadas. 5. Uma vez realizada a interceptação telefônica de forma fundamentada, legal e legítima, as infor-
mações e provas coletas dessa diligência podem subsidiar denúncia com base em crimes puníveis com pena 
de detenção, desde que conexosaos primeiros tipos penais que justificaram a interceptação. Do contrário, a 
interpretação do art. 2º, III, da L. 9.296/96 levaria ao absurdo de concluir pela impossibilidade de intercep-
tação para investigar crimes apenados com reclusão quando forem estes conexos com crimes punidos com 
detenção. Habeas corpus indeferido.
FGV DIREITO RIO 12
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E DIREITOS FUNDAMENTAIS
MS N. 23.639-DF3
RELATOR:MIN.CELSO DE MELLO
EMENTA: COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO - QUEBRA DE SIGI-
LO ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADA - VALIDADE - EXISTÊNCIA SIMUL-
TÂNEA DE PROCEDIMENTO PENAL EM CURSO PERANTE O PODER JUDICI-
ÁRIO LOCAL - CIRCUNSTÂNCIA QUE NÃO IMPEDE A INSTAURAÇÃO, SOBRE 
FATOS CONEXOS AO EVENTO DELITUOSO, DA PERTINENTE INVESTIGA-
ÇÃO PARLAMENTAR - MANDADO DE SEGURANÇA INDEFERIDO. A QUEBRA 
FUNDAMENTADA DO SIGILO INCLUI-SE NA ESFERA DE COMPETÊNCIA IN-
VESTIGATÓRIA DAS COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO.
A quebra do sigilo fiscal, bancário e telefônico de qualquer pessoa sujeita a investigação 
legislativa pode ser legitimamente decretada pela Comissão Parlamentar de Inquérito, des-
de que esse órgão estatal o faça mediante deliberação adequadamente fundamentada e na 
qual indique a necessidade objetiva da adoção dessa medida extraordinária. Precedente: MS 
23.452-RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO (Pleno).
PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA RESERVA DE JURISDIÇÃO E QUEBRA 
DE SIGILO POR DETERMINAÇÃO DA CPI.
O princípio constitucional da reserva de jurisdição - que incide sobre as hipóteses de 
busca domiciliar (CF, art. 5º, XI), de interceptação telefônica (CF, art. 5º, XII) e de decre-
tação da prisão, ressalvada a situação de flagrância penal (CF, art. 5º, LXI) - não se estende 
ao tema da quebra de sigilo, pois, em tal matéria, e por efeito de expressa autorização dada 
pela própria Constituição da República (CF, art. 58, § 3º), assiste competência à Comissão 
Parlamentar de Inquérito, para decretar, sempre em ato necessariamente motivado, a excep-
cional ruptura dessa esfera de privacidade das pessoas.
AUTONOMIA DA INVESTIGAÇÃO PARLAMENTAR.
O inquérito parlamentar, realizado por qualquer CPI, qualifica-se como procedimen-
to jurídico-constitucional revestido de autonomia e dotado de finalidade própria, circuns-
tância esta que permite à Comissão legislativa - sempre respeitados os limites inerentes à 
competência material do Poder Legislativo e observados os fatos determinados que ditaram 
a sua constituição - promover a pertinente investigação, ainda que os atos investigatórios 
possam incidir, eventualmente, sobre aspectos referentes a acontecimentos sujeitos a inqué-
ritos policiais ou a processos judiciais que guardem conexão com o evento principal objeto 
da apuração congressual. Doutrina.
Questões de concursos
1) Prova preliminar para o ingresso na Magistratura estadual/1999 - RJ 
O disposto no art. 58, § 3º, da Constituição da República autoriza comissão parlamen-
tar de inquérito decretar a prisão de pessoa por ela investigada?
2) 17º Concurso - Ministério Público Federal/ 1999
DISSERTAÇÃO
As Comissões Parlamentares de Inquérito: criação, fins, poderes de investigação e limites 
constitucionais.
3 Noticiado no Informativo do 
STF n. 210.
FGV DIREITO RIO 13
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E DIREITOS FUNDAMENTAIS
AULA 5 – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA - PRINCÍPIOS
 
Nota ao Aluno
Esta aula é dedicada ao estudo da Administração Pública, notadamente no que toca aos princípios que 
devem reger a sua atuação. A idéia da aula é discutir a série de condicionamentos aos quais está submetida à 
atividade administrativa pública. Seriam os mesmos razoáveis?
É importante que você compreenda como estes princípios da Administração Pública podem servir como 
uma forma de controle da mesma.
No entanto, uma questão permanece: o conteúdo de tais princípios está definido? Como o operador do 
direito deve argumentar para aplicá-los a favor de suas teses? Pense em exemplos.
 A partir do caso concreto, analise o que vem a ser princípio da moralidade. Procure refletir:
• Seria possível propor uma ação fundamentada apenas nesse princípio? Por quê?
• Que outros exemplos de violação ao princípio da moralidade você poderia dar?
• Existe alguma ligação lógica entre esses princípios, em especial com o princípio
 da legalidade?
• Algum destes princípios seria aplicável aos particulares?
 Caso
Para auxiliar o chefe de gabinete da Presidência da República, o presidente, Fernando Henrique Cardoso, 
nomeou sua filha, gerando protestos gerais.
O Sindicato dos Servidores Públicos Federais alegou que o ato do presidente feria o princípio da morali-
dade (artigo 37, CF). A Advocacia Geral da União, por sua vez, alegou que a filha do presidente não estava 
diretamente subordinada ao primeiro mandatário da nação, pelo que não haveria violação àquele princípio.
E você? O que acha? Afinal, qual é o conteúdo do princípio da moralidade?
Conceitos
• Poder Executivo; estrutura do Poder Executivo; responsabilidade do presidente da República; princípios da 
Administração Pública: princípio da legalidade; princípio da impessoalidade; princípio da moralidade; princípio 
da publicidade; princípio da eficiência; poder discricionário; improbidade administrativa; princípio licitatório.
Bibliografia
• SILVA, J.A. Curso de Direito Constitucional Positivo. 24ª ed. Malheiros, SP,
 pp. 666 – 676
• MORAES, Alexandre. Direito Constitucional. 10ª ed. Atlas, SP, pp. 306-318 
• MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 27ª ed. Malheiros, SP, pp. 87-89
Questões de concursos
1) 20º Concurso - Magistratura Estadual/ 2000 - MS
Na Constituição Federal, o que é o princípio da eficiência na Administração Pública? Quais são os novos 
mecanismos introduzidos na constituição tendentes a promover o cumprimento desse mesmo princípio? Des-
creva-os e comente-os, afirmando se o conceito desse princípio é jurídico ou econômico. Fundamente.
FGV DIREITO RIO 14
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E DIREITOS FUNDAMENTAIS
AULA 6 – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA – CONTROLE
Nota ao Aluno
Na aula passada você viu que determinados princípios constitucionais norteiam a 
atuação da administração pública. Indicam como a mesma deve se portar e servem como 
instrumentos de controle do poder público pelos administrados.
O objetivo desta aula é aprofundar a importância daqueles princípios, particularmen-
te no que toca à restrição que os mesmos impõem aos poderes especiais detidos pela 
administração para a implementação do interesse público. 
Você considera essa avaliação fundamental? Se olharmos ao redor, veremos que os po-
deres que detêm a administração estão presentes no nosso dia-a-dia, baseando decisões que 
influenciam diretamente as nossas vidas.
De fato, imagine a sua vinda para a faculdade. Se você vem de ônibus, saiba que foi a 
Administração Pública que aprovou o traçado da linha; se ela vai passar ou não em frente 
a sua casa. O metrô também é uma concessão pública que foi outorgada para um particu-
lar por um processo licitatório. E cabe à Administração Pública determinar se um número 
maior ou menor de vagões vai circular em determinado horário. O guarda que controla o 
trânsito também vai exercer poderes ligados à Administração Pública que podem afetar o 
seu horário de chegada na aula. 
Mas qual é o limite desses poderes da administração? Como os princípios estudados 
na aula anterior controlam tais poderes?
O caso gerador mostra como o Judiciário se portou diante do exercício de uma prerro-
gativa detida pelo administrador público, no caso, o presidente da República.
Coloque-se nas duas posições: de agente da Administração Pública e do sr. Salvador. 
Reflita:
• Não lhe parece que ambas as posições são razoáveis?
• O que diz a Constituição sobre a questão?
• Quais são os princípios envolvidos? Faça uma relação dos mesmos para auxiliar no 
debate em classe.
• Os princípios analisadosforam corretamente aplicados pela decisão?
Caso4
Salvador Alfredo Veja Canjura, cidadão salvadorenho, mudou-se para o Brasil com a 
intenção de fugir dos sucessivos conflitos armados em seu país. Aqui chegando, começou a 
construir nova vida. Arrumou emprego fixo de professor em firma própria, saindo da situa-
ção antiga de crise financeira. Algum tempo depois, sua companheira ficou grávida. A nova 
vida de Salvador parecia ser perfeita.
Contudo, em 17 de outubro de 1994, o então presidente da República, Itamar Franco, decre-
tou a expulsão de Salvador do Brasil, com base no processo nº 08410-001.486/86, do Ministério 
da Justiça, em virtude de não ter ficado comprovado que seu filho dependia economicamente 
dele, visto que Salvador havia se separado de sua companheira e não sustentava a criança.
Salvador imediatamente procurou um advogado para reverter sua situação. Este pro-
curou o Ministério da Justiça para reverter o problema administrativamente, ameaçando 
recorrer ao Judiciário, caso o decreto do presidente fosse mantido. 
4 Caso baseado no HC 72082/RJ 
– Expulsão de filho de brasi-
leiro, sem a observância, pelo 
Decreto Presidencial, da neces-
sária motivação.
FGV DIREITO RIO 15
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E DIREITOS FUNDAMENTAIS
A consultoria jurídica do Ministério da Justiça informou ao advogado que a decisão do presidente era irre-
versível e que não adiantaria buscar o Judiciário, uma vez que era uma decisão discricionária do presidente, que 
não poderia ser revista por aquele outro Poder.
E agora? Procurado por aquele advogado para elaborar um parecer, que argumentos você traria para auxiliá-
lo no caso? Procure responder às questões propostas no texto introdutório para se preparar para o debate em 
sala. Se preferir, escolha um papel para defender. Analise sempre a questão pensando na natureza e nos limites 
do poder discricionário da Administração Pública. 
Conceitos 
• Poderes da administração pública; poder discricionário; improbidade administrativa
Bibliografia
• Responsabilidade Administrativa e Impeachment – Sérgio Sérvulo Cunha (trechos selecionados pelo professor)
• MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 27ª edição, Malheiros, SP. pp. 114-116
• SILVA, J.A. Curso de Direito Constitucional Positivo. 24ª ed. Malheiros, SP, pp. 547-552. 
FGV DIREITO RIO 16
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E DIREITOS FUNDAMENTAIS
AULA 7 – FEDERAÇÃO
 
Nota ao Aluno
Nesta aula, vamos iniciar o estudo da organização federativa prevista na Constituição. 
Esta será uma seqüência de aulas sobre a Organização do Estado Brasileiro, sendo o fio con-
dutor a idéia de que organização do Estado está diretamente ligada à proteção dos direitos 
dos cidadãos. O conceito de Federação e seus princípios básicos devem passar a integrar o 
seu vocabulário profissional, sendo os textos de apoio muito importantes para tal fim. Por-
tanto, não deixe de lê-los antes da aula.
Lembre-se que, em Direito Constitucional I, você estudou a influência da Constituição 
dos Estados Unidos de 1787 no modelo republicano adotado pelo Brasil, por meio da 
Constituição de 1891. Particularmente em relação à estrutura federal, pense no que aproxi-
ma e no que distancia as duas constituições.
Leia o caso gerador e reflita sobre qual é o problema central. Anote os artigos pertinentes 
ao caso para facilitar o debate em sala.
Ao final da aula, você deverá ter compreendido o que vem a ser o princípio federativo, o 
modo de formação da Federação brasileira e os traços básicos do Estado Federal, apresenta-
dos no texto do ministro Velloso.
Caso5
Em 1990, João, morador de uma cidadezinha de Goiás, obteve a aprovação em um con-
curso público para trabalhar para o Estado de Goiás, assumindo seu cargo na administração 
pública estadual no mês de março. Para sua surpresa e felicidade, sem saber bem o porquê, 
viu que seu salário aumentava um pouquinho a cada mês.
O que estava ocorrendo em Goiás era que os vencimentos e salários, em virtude de legis-
lação estadual, foram atrelados aos salários pagos a cargos equivalentes em âmbito federal. 
Assim, o reajuste era automático: uma vez alterada a remuneração do cargo-padrão no nível 
federal, ocorria uma modificação reflexa na remuneração no nível estadual.
Diante desse quadro, a gestão administrativa e financeira do Poder Executivo de Goiás se 
viu totalmente “quebrada”. Afinal, os salários pagos pelo Estado eram alterados, no fim do 
dia, pela vontade da União. Mas seriam os aumentos concedidos constitucionais?
Suponha que o governador do Estado tenha, por meio da Procuradoria do Estado, pro-
curado o seu escritório para elaborar um parecer contrário aos referidos reajustes. Que argu-
mentos constitucionais você utilizaria em seu parecer? 
Conceitos
• Princípio federativo; formação da Federação brasileira; auto-organização.
Bibliografia
• HAMILTON, A. O Federalista. Editora Líder, Belo Horizonte, 2003, pp. 84 – 89. 
 (trechos selecionados pelo professor)
• SILVA, J.A. Curso de Direito Constitucional Positivo. 24ª ed. Malheiros, SP,
 pp. 608 – 617; 666 – 676
5 Caso baseado na Representa-
ção nº 1419-3 (Goiás).
FGV DIREITO RIO 17
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E DIREITOS FUNDAMENTAIS
• VELOSO, Carlos M. Temas de Direito Público. Editora Del Rey, Belo Horizonte. (trechos selecionados 
 pelo professor)
• The Federal Commerce Power – “Substantially affecting” (U.S. v. Lopez)
 http://caselaw.lp.findlaw.com/cgi- bin/getcase.pl?navby=case&court=US&vol=514&invol=549
FGV DIREITO RIO 18
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E DIREITOS FUNDAMENTAIS
AULA 8 – FEDERAÇÃO - COMPETÊNCIAS
Nota ao Aluno
Na aula passada, iniciamos o estudo da Federação brasileira por meio da discussão dos 
princípios básicos do sistema federativo. Dentre as idéias estudadas, a mais importante foi 
a de autonomia dos Estados-membros, subdividida nos institutos da auto-gestão, do auto-
governo e da auto-organização. 
Mas seria a declaração de autonomia dos Estados-membros em relação à União sufi-
ciente para desenhar o modelo federativo? Como resolver os conflitos de interesse entre os 
Estados? Não é importante saber qual é o galho de cada macaco? Mas como?
O conceito fundamental que você deve compreender ao fim da aula é o da predominân-
cia do interesse como princípio guia da repartição de competências. Ou seja, qual a lógica 
por trás da repartição de competências estabelecida pela Constituição.
Prepare-se para o debate em sala identificando o que vêm a ser os interesses geral, 
regional e local. Reflita:
• Como a Constituição tratou deste tema? Separe alguns exemplos e traga-os para
 o debate em sala.
• Compare a forma de positivação de tais competências no Brasil e nos Estados Unidos.
 São iguais ou distintas?
• O que essa comparação pode nos dizer acerca das preocupações dos constituintes de um
 e de outro país?
Caso6
As Leis federais 6.538/1978 e 10683/2003 atribuíram ao Ministério das Comunicações 
a responsabilidade pela prestação dos serviços postais à população brasileira, sendo que, nos 
termos destas normas, a exploração deveria ser realizada por meio de uma empresa pública 
criada para tal fim.
Em 19/09/2000, a Assembléia Legislativa do Estado de Santa Catarina promulgou a Lei 
11.561, cujo objetivo era garantir a todos os cidadãos residentes no território catarinense 
“as condições de acessibilidade e de prestação dos serviços postais”. Nesse sentido, foram estabe-
lecidas regras como as seguintes:
a) a obrigatoriedade da entrega de correspondência no endereço residencial ou comercial 
indicado pelo remetente;
b) a vedação do uso, pelo concessionário encarregado da distribuição domiciliar de cor-
respondência, de caixas postais comunitárias ou de qualquer outro instrumento que substi-
tua a entrega direta do correio nas residências; e
c) a realização de trabalho conjunto, envolvendo o concessionário de serviços pos-
tais, órgãospúblicos competentes e associações de moradores, para a identificação e a 
organização de endereços residenciais nas comunidades populares de baixa renda ou 
em áreas de difícil acesso, de modo a viabilizar a distribuição de correspondências pelos 
carteiros.
Contudo, em 2004, o Ministério das Comunicações representou ao procurador-geral da 
República para a proposição de uma ADIn atacando a Lei estadual. O principal argumento 
do governo era o de que o ato normativo em questão estaria invadindo a competência pri-
vativa da União.
Seria tal argumento correto? O Estado não teria o direito de defender o interesse de sua 
população, impondo condições que melhorassem a qualidade dos serviços prestados?
6 Caso baseado na ADI 3080-9 
– Santa Catarina
FGV DIREITO RIO 19
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E DIREITOS FUNDAMENTAIS
Você é o ministro relator do processo no Supremo Tribunal Federal. Diante do exposto, procure construir a 
solução mais adequada para o caso.
Conceitos
• Competências; Poderes dos Estados-membros; Organização dos governos estaduais
Bibliografia
• COMPARATO, Fábio K. Horário de funcionamento de farmácias e drogarias e o princípio constitucional de 
 proteção ao consumidor. Revista de Direito Público n° 98, abril/junho de 1991. 
Questões de concursos
1) Prova preliminar para o ingresso na Magistratura estadual/ - RJ 
Discorra sobre a técnica e o critério de partilha de competências adotados na Constituição para os entes que 
fazem parte da Federação brasileira (aproximadamente 15 linhas).
2) Magistratura Estadual/ 2000 – DF
Que é Federação? Descreva seus requisitos de existência, ou seja, as características jurídicas que a definem.
3) Magistratura Estadual/ 2003 - MG
O que se entende por federalismo simétrico e por federalismo assimétrico?
FGV DIREITO RIO 20
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E DIREITOS FUNDAMENTAIS
AULA 9 – CONSTITUIÇÃO ESTADUAL
Nota ao Aluno
No Curso de Direito Constitucional I você estudou a teoria do poder constituinte. Lem-
bra-se? Foram vistos os conceitos de poder constituinte originário e do poder constituinte 
derivado. De forma tangencial, também foi mencionada a existência de um terceiro tipo de 
poder constituinte. 
Este poder está ligado à capacidade de os Estados-membros auto-organizarem-se. É o 
chamado poder constituinte decorrente.
O objetivo da presente aula é discutir a forma de atuação e os limites desse poder cons-
tituinte decorrente. A partir dos textos de leitura prévia, procure refletir:
• Se existe uma lei maior que funda todo o sistema (a Constituição Federal), o que 
 significa “que os Estados organizam-se e regem-se pela Constituição e leis que
 adotarem” (art. 25)?
• Haveria algum condicionamento à forma como os \Estados irão ser organizar? 
 Se existe, qual a razão de sua existência?
• Existem alguns valores que a Constituição Federal quer que o Estados comunguem? 
 Que valores ou princípios seriam esses? 
• Compare a Constituição Federal com a Constituição do Estado do Rio de Janeiro. 
 Traga para aula exemplos de questões que estão tratadas de forma semelhante e 
 distinta em cada um dos documentos.
• Como se dá o procedimento de fusão, subdivisão e desmembramento?
Leia o caso e procure responder às perguntas acima levantadas, tentando entender a 
pertinência das mesmas – e da bibliografia – para o caso.
Caso7
Adalberto, policial aposentado de 65 anos, morador do Rio de Janeiro, obteve 
sua aposentadoria compulsória antes da promulgação da Constituição Federal de 
1988. Na época, vigorava a Lei Complementar nº 51, que dispunha, em seu artigo 
1º, que o funcionário público policial seria aposentado compulsoriamente, com pro-
ventos proporcionais ao tempo de serviço, aos 65 anos de idade. Tal dispositivo tinha 
aplicação imediata e direta aos Estados – ao completar 65 anos, o policial cessaria 
imediatamente suas atividades, independentemente de ato oficial determinando sua 
aposentadoria.
Em 1989, foi promulgada a Constituição Estadual do Rio de Janeiro. O artigo 78 do seu 
ADCT (Ato das Disposições Constitucionais Transitórias) previa o seguinte:
“Art. 78. Fica assegurado direito de reversão ao serviço ativo aos policiais que, embora 
hajam completado sessenta e cinco anos, não tiveram formalizada sua aposentadoria com-
pulsória até a data da promulgação da Constituição da República.”
Nesse sentido, mesmo não podendo mais dar o melhor de sua energia à comunidade, 
Adalberto optou por voltar à atividade policial. Descobrira que sentia falta de colaborar 
com o combate ao crime no Rio de Janeiro e que a tranqüila vida de aposentado poderia 
esperar mais um pouco.
7 Caso baseado na ADIN 250-3 
– Rio de Janeiro (Federação)
FGV DIREITO RIO 21
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E DIREITOS FUNDAMENTAIS
Em 1990, já na vigência da nova Constituição Federal, o governador do Estado do Rio de Janeiro propôs 
uma ADIn atacando o artigo 78 da ADCT da Constituição Estadual. Seu argumento básico era o de que tal 
artigo violaria o artigo 2º da Constituição Federal.
Além disso, ao garantir a volta dos policiais inativos ao trabalho, a norma estaria criando na verdade um novo 
cargo dentro da corporação policial. 
Você foi procurado pela associação de policiais seniores para elaborar um parecer contrário à pretensão do 
governador. Que argumentos você utilizaria? 
Conceitos
• Poder constituinte decorrente; inconstitucionalidade de Lei estadual; formação de Estados (fusão,
 subdivisão, desmembramento); princípios federais extensíveis; princípios sensíveis e estabelecidos; 
 intervenção federal.
Bibliografia
• SILVA. J.A. Curso de Direito Constitucional Positivo. 22ª ed. Malheiros, SP (págs. 617-622)
• Incidente de Deslocamento de Competência n° 1 – PA (2005/0029378-4), Rel. Min. Arnaldo Lima 
 (Caso Dorothy) – ver apêndice 
• Preâmbulo da Constituição do Estado do Rio de Janeiro 
Anexo
Preâmbulo da Constituição do Estado do Rio de Janeiro
Nós, Deputados Estaduais Constituintes, no pleno exercício dos poderes outorgados pelo artigo 
11 do Ato das Disposições Transitórias da Constituição da República Federativa do Brasil, promul-
gada em 5 de outubro de 1988, reunidos em Assembléia e exercendo nossos mandatos, em perfeito 
acordo com a vontade política dos cidadãos deste Estado quanto à necessidade de ser construída 
uma ordem jurídica democrática, voltada à mais ampla defesa da liberdade e da igualdade de todos 
os brasileiros, e ainda no intransigente combate à opressão, à discriminação e à exploração do ho-
mem pelo homem, dentro dos limites autorizados pelos princípios constitucionais que disciplinam 
a Federação Brasileira, promulgamos, sob a proteção de Deus, a presente CONSTITUIÇÃO DO 
ESTADO DO RIO DE JANEIRO
FGV DIREITO RIO 22
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E DIREITOS FUNDAMENTAIS
AULA 10 – FEDERAÇÃO – LEI ORGÂNICA E MUNICÍPIO 
Nota ao Aluno
A Constituição Federal de 1988 inovou na estruturação jurídico-política do país e in-
cluiu o município entre os membros da Federação brasileira. Com efeito, o município 
nunca fez parte da concepção clássica federalista, que se limitava a definir como integrantes 
da Federação a União e os Estados.
Nesse sentido, ou seja, na qualidade de membro do pacto federativo, também são 
garantidas ao município as capacidades de auto-organização, auto-administração e 
auto-governo, estudadas anteriormente neste bloco.
O objetivo central da aula é que você compreenda a dimensão das citadas capaci-
dades em nível municipal e como a Constituição regula as mesmas.
Anteriormente foi estudada a regra do interesse. A idéia é que você saiba responder 
quando é que um dos “interesses” envolvidos no pacto-federativo prevalece.
Leia o caso gerador e, a partir dos textos, reflita:
• De quem é a competência para a prestação dos serviços de tratamento de água e esgoto?
• Como distinguir entre o interesse local, regional e geral?
•O fato da Constituição estadual prever a criação da região metropolitana influi 
 nessa distinção?
Procure compreender também a forma constitucional prevista para a criação ou des-
membramento dos municípios. Você não ouviu falar do movimento “Rio Cidade-Estado”. 
Pois bem, o que a Constituição tem a dizer aos organizadores do mesmo? 
Não se esqueça que não é um debate sobre o que “você” pensa simplesmente. Mas sobre 
o que você pensa, a partir do que a Constituição diz.
Caso
Em 1997, o Estado do Rio de Janeiro criou, por lei estadual, a chamada Região 
Metropolitana do Rio de Janeiro (“Região”). Esta região abrange diversos municípios 
e sua competência está prevista constitucionalmente7. 
A lei estadual de criação definiu que os serviços públicos de saneamento básico 
a serem prestados dentro da “Região” seriam de competência do Estado do Rio de 
Janeiro, e não dos municípios. 
O prefeito de um dos municípios incluídos na “Região”, entretanto, entendeu que 
a criação da Região Metropolitana usurpava funções de estrita competência munici-
pal, mais especificamente no que toca à competência para a prestação dos serviços de 
distribuição de água e o tratamento do esgoto sanitário.
A discussão sobre competências é bastante recorrente no Brasil, na medida em que a 
Constituição Federal garantiu a autonomia tanto dos Estados quanto dos municípios.
O citado prefeito procurou a assessoria jurídica do diretório regional de seu par-
tido político, de modo a obter orientação de como atacar a lei que criou a Região 
Metropolitana. 
Na qualidade de advogado do partido, estude o caso e indique ao prefeito quais 
seriam os argumentos jurídicos que ele poderia utilizar para derrubar a lei.
7 Art. 25, § 3º - Os Estados 
poderão, mediante lei com-
plementar, instituir regiões 
metropolitanas, aglomera-
ções urbanas e microrregiões, 
constituídas por agrupamen-
tos de municípios limítrofes, 
para integrar a organização, o 
planejamento e a execução de 
funções públicas de interesse 
comum.
FGV DIREITO RIO 23
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E DIREITOS FUNDAMENTAIS
Conceitos
• Competências municipais; auto-organização municipal; governo municipal; 
 formação de municípios
Bibliografia
• MEIRELES, Hely Lopes. Direito Municipal Brasileiro. 2ª ed. Revista dos Tribunais. 
 (trechos selecionados pelo professor)
• SILVA, J.A. Curso de Direito Constitucional Positivo. 24ª ed. Malheiros, SP, pp. 639 – 648;
Questões de concursos
1) Prova preliminar para o ingresso na Magistratura estadual/1998 - RJ 
Discorra sobre as atribuições do município na Federação brasileira. (aproximadamente 15 linhas) 
2) 37º Concurso – Magistratura Estadual/2003 – RJ
 No Município X a Câmara de Vereadores aprovou projeto de lei, imediatamente sancionado pelo Prefeito, 
obrigando todas as empresas instaladas em seu território a fornecerem, a todos os seus empregados, diariamente, 
café-da-manhã nutritivo e constituído de número mínimo de calorias.
A empresa Y, inconformada com a nova obrigação que lhe foi imposta, ingressou perante o Juízo da Comarca 
com medida judicial discutindo a constitucionalidade de lei comunal.
Aprecie a hipótese, sucintamente, apenas sob o ângulo da adequação da lei ao sistema constitucional vigente.
3) XLII Concurso – Ministério Público Estadual - RS
O Município poderia adotar o sistema de governo parlamentar em face da Constituição vigente? Explique 
cabalmente a resposta, citando, se for o caso, dispositivos constitucionais e infraconstitucionais, sem, contudo, 
transcrevê-los.
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AULA 11 – FEDERAÇÃO - INTERVENÇÃO
Nota ao Aluno
Esta aula encerra o bloco sobre a Federação brasileira. Até aqui você estudou o que vem 
a ser a autonomia dos entes federados, como foi a mesma concebida, quais são seus instru-
mentos de efetivação etc. 
Chegou a hora do contraponto. O tema da aula de hoje é intervenção. Em outras pala-
vras, a quebra da autonomia dos entes federados, que, em regra, se dá do órgão mais abran-
gente para o menos. Assim, cabe à União intervir nos Estados e a estes nos municípios.
Mas o que justifica a quebra da autonomia de um ente federativo por outro? Não é 
incoerente se falar em autonomia e intervenção ao mesmo tempo? Por que o texto constitu-
cional previu tal agressão ao princípio da autonomia?
 Leia o caso gerador pensando nessas perguntas. O texto constitucional existente lhe parece sufi-
ciente para resolver a questão apresentada no caso gerador? No caso de uma intervenção ser necessária, 
qual o procedimento a ser seguido? Prepare-se para responder esta questão na sala de aula.
Caso8
Em 2 de dezembro de 1986, os funcionários e diretores da empresa Solidor Industrial 
Ltda., localizada em Boa Vista de São Roque, no Município de Quedas do Iguaçu, Paraná, 
foram surpreendidos por uma ação do Movimento dos Sem Terra (“MST”). A propriedade na 
qual a empresa se localizava foi invadida por integrantes do movimento. Imediatamente, foi 
ajuizada ação de reintegração de posse. Em pouco tempo saiu a decisão favorável à empresa.
A decisão do Juízo de Direito da Comarca de Quedas do Iguaçu, porém, não pôde ser 
cumprida. Não havia força policial disponível para remover os sem-terra da propriedade. 
O número de invasores aumentava a cada dia, sendo que os mesmos já tinham inclusive 
começado a remodelar, a lotear a propriedade para o cultivo das famílias que lá estavam.
Na qualidade de advogado da empresa Solidor, o que você faria? Que medida(s) você 
indicaria para o seu cliente e qual o fundamento da(s) mesma(s)? 
Conceitos
• Intervenção; princípios constitucionais sensíveis e estabelecidos; hipóteses,
 procedimento da intervenção federal; intervenção estadual nos municípios; ação
 direta interventiva.
Bibliografia
• SILVA, J.A. Curso de Direito Constitucional Positivo. 24ª ed. Malheiros, SP,
 pp. 484 – 491;
Questões de concursos
1) 36º Concurso – Magistratura Estadual/ 2002 - RJ 
Qual é o instrumento normativo utilizado para aprovar a intervenção federal nos Esta-
dos? Quem tem legitimidade para aprová-la
8 Caso baseado na Intervenção 
Federal nº 103 - Paraná
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2) 36º Concurso – Magistratura Estadual/ 2002 - RJ 
O modelo constitucional vigente prevê a existência de um controle político sobre o ato interventivo? 
Fundamente.
3) 36º Concurso – Magistratura Estadual/ 2002 - RJ 
Pode o legislador constituinte estadual ampliar os casos de intervenção estadual nos Municípios? Justifique.
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AULAS 12 A 16 - DIREITOS FUNDAMENTAIS
Introdução ao Bloco de Direitos Fundamentais
No curso de Direitos Humanos, ministrado simultaneamente com esta disciplina, os 
alunos entrarão em contato com bibliografia voltada para a definição e a formação dos di-
reitos que hoje são considerados essenciais – por meio de normas internacionais – para a 
existência humana plena. Assim, na presente disciplina, não procuraremos oferecer justifi-
cativas ou fundamentações para a existência de tais direitos, nem discutiremos se eles são 
declarados ou instituídos pela sua positivação. O ponto de partida será o fato de que a nossa 
Constituição reconhece a existência de direitos fundamentais (o Título II é dedicado aos 
“Direitos e Garantias Fundamentais”), que expressamente condicionam à atuação dos po-
deres públicos. Essa premissa embasará a discussão dos seguintes cinco problemas principais 
do bloco:
• Quais direitos da Constituição são fundamentais? (Aulas 12 e 13)
• Quem está vinculado aos direitos fundamentais? (Aula 14)
• Como resolver colisões de direitos fundamentais? (Aula 14)
• Quando não podemos restringir ou ponderar direitos fundamentais? (Aula 15)
• Qual conteúdo ou parte do conteúdo desses direitos é passívelde ser exigido judicial-
mente? (Aula 16)
Assim, a perspectiva será eminentemente dogmática/pragmática: como podemos ope-
racionalizar as normas que versam sobre direitos e garantias fundamentais? Que efeitos po-
dem extrair delas? Quais são os seus destinatários e quem deve responder pelo seu descum-
primento? São questões práticas, e é natural que o sejam. Afinal, se os direitos fundamentais 
devem ser mais do que declarações de boa vontade e boas intenções do constituinte, e se a 
Constituição deve ser respeitada como norma jurídica vinculante e não mero conselho às 
futuras gerações, então os operadores do direito devem ser capazes de determinar qual o 
conteúdo de “dever ser” dos dispositivos constitucionais sobre direitos fundamentais.
O professor deve ter em mente e deixar claro para os alunos que as teorias sobre direitos 
fundamentais nascem e morrem com os regimes políticos, as ideologias da época, os defen-
sores de determinada concepção de Estado e de sociedade e assim por diante.9 Não se quer 
apenas enumerar teorias sobre direitos fundamentais, mas sim capacitar os alunos a utilizar 
tais teorias para formular sólidas e eficazes respostas diante de casos concretos.
9 BONAVIDES, Paulo. Curso de 
Direito Constitucional.
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AULAS 12 E 13 - COMO E POR QUE IDENTIFICAR DIREITOS FUNDAMENTAIS
NA CONSTITUIÇÃO?
Nota ao Aluno
Direitos fundamentais e a organização do poder estatal são a essência mesma do consti-
tucionalismo; pode-se afirmar inclusive que a organização do poder estatal é um meio para 
se atingir as liberdades estabelecidas pelos direitos fundamentais. Atualmente, pode-se afir-
mar, inclusive, que longe de serem apenas limites (direitos ditos “de primeira geração”) ou 
metas indispensáveis (direitos ditos “de segunda geração”) ao exercício do poder, os direitos 
fundamentais são verdadeiros critérios de legitimação do poder estatal e da ordem constitu-
cional como um todo10. Não basta ao Estado respeitá-los; é preciso promovê-los.
Contudo, não é simples identificar quais os dispositivos constitucionais que consa-
gram os direitos fundamentais. Não há nenhum critério que não seja problemático. Se-
riam “fundamentais” apenas os direitos do artigo 5o? Os direitos e garantias do artigo 5o? 
Os direitos dos artigos 5o, 6o e 7o e seu incisos? Todo e qualquer direito assegurado pela 
Constituição? Você já parou para pensar de quantas formas diferentes podemos enfrentar 
esta questão?
Este é um problema com conseqüências práticas importantes. Em especial, vale notar 
que, nos termos do artigo 60, §4o da Constituição, não será sequer apreciada emenda 
constitucional que tenda a abolir “os direitos e garantias individuais”. Afinal, o que está 
incluído nesta vedação? Quais os direitos, ou quais as categorias de direitos? Dizer que um 
determinado dispositivo constitucional constitui cláusula pétrea é algo muito sério, pois 
as cláusulas do gênero representam uma excepcional restrição ao poder que as gerações 
futuras têm de traçar o seu próprio destino e criar suas próprias leis e instituições sob a 
égide da Constituição de 1988.
Caso
No julgamento da ADI 939-7, em 1993, o Supremo precisou interpretar pela pri-
meira vez o alcance do artigo 60, §4o no que se refere à expressão “direitos e garantias 
individuais”. O que se questionava era a constitucionalidade da Emenda Constitucional 
n.03/93, que instituía o IPMF. Nos termos do art. 2o da Emenda, este tributo não estaria 
sujeito ao princípio da anterioridade11 (ou seja, poderia gerar efeitos e ser cobrado com re-
ferência ao mesmo exercício fiscal em que fosse instituído), nem às imunidades tributárias 
previstas no artigo 153 da Constituição (de modo que poderia ser cobrado inclusive de 
entidades que o Poder Constituinte originário tinha colocado fora do alcance de qualquer 
tributação, como igrejas e templos religiosos, por exemplo).
Em uma decisão surpreendente, o Supremo entendeu que tanto a anterioridade, quan-
to as imunidades tributárias estariam abrangidas pela expressão “direitos e garantias indi-
viduais”, nos termos do artigo 60, §4o. Após a leitura dos textos indicados para esta aula 
e dos trechos dos votos dos Ministros na ADIn 939-7, reflita: você concorda ou discorda 
com os argumentos utilizados na interpretação do Supremo? Por quê?
Bibliografia
• SARLET, Ingo. A Eficácia dos Direitos Fundamentais. (pgs. 42 a 72).
10 SARLET, Ingo. A Eficácia 
dos Direitos Fundamentais 
(1998:61).
11 Constituição Federal, Art. 
150 – Sem prejuízo de outras 
garantias asseguradas aos con-
tribuintes, é vedada á União, 
aos Estados, ao Distrito Federal 
e aos Municípios: III – cobrar 
tributos, b) no mesmo exercí-
cio financeiro em que haja sido 
publicada a lei que os instituiu 
ou aumentou.
FGV DIREITO RIO 28
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Conceitos
• Concepções formais e materiais para a definição dos direitos fundamentais; direitos 
de primeira, segunda e terceira geração; direitos e garantias individuais; direitos econômicos 
e sociais; direitos difusos; direitos de defesa; direitos a prestações positivas; limites ao poder 
de reforma constitucional.
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AULA 14 - COLISÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS: A PONDERAÇÃO NO 
CASO LEBACH
Nota ao Aluno
Independentemente do seu conteúdo específico, a expressão “direitos fundamen-
tais” não deixa dúvidas: estamos diante de bens jurídicos extremamente importantes. 
São fundamentais na medida em que, sem eles, nenhum outro direito poderia fazer 
sentido. Você consegue pensar em uma sociedade na qual a liberdade de locomoção 
não estivesse minimamente garantida? E a liberdade de expressão? E o direito à vida? 
Atualmente, a própria noção de Estado de Direito traz consigo a idéia de que a atu-
ação dos poderes públicos encontra seu limite e seu objetivo na proteção a certos 
direitos dos cidadãos.
Não é difícil deslizar da afirmação da fundamentalidade desses direitos para a 
afirmação de que eles são absolutos. Você certamente já deve ter ouvido ou talvez 
pensado algo parecido: direitos fundamentais são tão importantes que são absolutos. 
Não há bons motivos ou razões suficientes para simplesmente deixá-los de lado, caso 
contrário não fariam sentido chamá-los de “direitos fundamentais”. Esta visão parece 
ser persuasiva. Mas será verdadeira?
Pare para pensar nas inúmeras limitações que os nossos direitos suportam diaria-
mente. Afinal, normas penais punindo a lesão corporal, a injúria e a difamação não 
parecem limitar a liberdade que cada um de nós tem? A existência de zonas militares, 
de entrada restrita, é compatível com um direito fundamental absoluto de ir e vir? 
A partir de constatações como essas, doutrina e jurisprudência reconhecem que, a 
despeito de sua importância, os direitos fundamentais em nosso país não são nem 
poderiam ser absolutos. Como já observou o ministro Celso de Mello:
“OS DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS NÃO TÊM CARÁTER AB-
SOLUTO. Não há, no sistema constitucional brasileiro, direitos ou garantias que se 
revistam de caráter absoluto, mesmo porque razões de relevante interesse público ou 
exigências derivadas do princípio de convivência das liberdades legitimam, ainda que 
excepcionalmente, a adoção, por parte dos órgãos estatais, de medidas restritivas das 
prerrogativas individuais ou coletivas, desde que respeitados os termos estabelecidos 
pela própria Constituição. O estatuto constitucional das liberdades públicas, ao deli-
near o regime jurídico a que estas estão sujeitas - e considerado o substrato ético que 
as informa - permite que sobre elas incidam limitações de ordem jurídica, destinadas, 
de um lado, a proteger a integridade do interesse social e, de outro, a assegurar a 
coexistência harmoniosa das liberdades, pois nenhum direito ou garantia podeser 
exercido em detrimento da ordem pública ou com desrespeito aos direitos e garantias 
de terceiros.”12
Assim, 1) o interesse da coletividade ou 2) outros interesses individuais dignos de pro-
teção podem condicionar e na prática condicionam a aplicação das normas de “direitos 
fundamentais”. Eles têm limites que precisam ser respeitados. Nesta aula, nós analisaremos 
um caso específico que se enquadra na segunda hipótese:
12 MS 23452 / RJ. Rel: Min. 
CELSO DE MELLO. Julgamento: 
16/09/1999. Órgão Julgador: 
Tribunal Pleno Publicação: DJ 
DATA-12-05-2000.
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Direitos fundamentais são protegidos por meio de normas jurídicas, que, naturalmente, podem colidir umas 
com as outras, colocando seus destinatários e o julgador em uma situação insustentável: como devemos agir 
quando a proteção exigida pela norma A parece ser incompatível com a conduta necessária à proteção exigida 
pela norma B? Quando ocorre uma antinomia do gênero, isto é, quando parece ser impossível atender a dois 
direitos fundamentais em uma mesma decisão, dizemos estar diante de um caso de colisão de direitos.
Não há um critério mecânico e de simples aplicação para a solução de colisões do gênero. Pelo princípio da 
unidade da Constituição, as colisões de direitos não podem ser resolvidas com o simples sacrifício de um direi-
to em detrimento do outro, sem maiores justificativas; é preciso levar a sério o dever de determinar qual delas 
deve prevalecer em cada caso. Assim, nas últimas décadas, doutrinadores e juízes têm discutido a possibilidade 
de se estabelecer um método ou um parâmetro mínimo para a solução de tais conflitos de forma adequado à 
Constituição.
 Nesse sentido, o Tribunal Constitucional da Alemanha, ao decidir o Caso Lebach em 1973, lançou mão 
de um procedimento chamado ponderação para resolver um conflito entre a liberdade de expressão e outros 
interesses que também demandavam tutela constitucional.
Caso
Em 1972, uma grande emissora de televisão alemã se planejou para exibir um filme documentário sobre o 
assassinato de soldados da polícia alemã na cidade de Lebach. O crime foi praticado enquanto as vítimas dor-
miam e tinha como objetivo a subtração de armas do local, que seriam utilizadas posteriormente na prática de 
outros delitos. Na época de sua execução, o assassinato assumiu grande repercussão, já que resultou na morte de 
quatro soldados do Exército Federal, lotados em um depósito de munições.
Ocorre que, na época programada para a exibição do documentário, um dos participantes do crime estava 
prestes a deixar a prisão, depois de ter cumprido pena em regime fechado por 3 anos. Ele considerou que a exibi-
ção do referido documentário iria violar seus direitos à honra e à privacidade, além de dificultar profundamente 
sua ressocialização, pois seu nome seria novamente mencionado na mídia televisiva, com sua fotografia apare-
cendo em todos os lares alemães. Seu pedido tinha suporte fático: todos sabem do estigma que um ex-presidiário 
carrega ao sair da prisão. Torna-se mais difícil encontrar emprego, e até mesmo ser aceito pela família e pelos 
amigos se constitui em algo complicado.
Após as várias negativas das instâncias inferiores, que acataram os direitos à informação e à liberdade de 
imprensa da emissora de televisão e permitiram a divulgação do documentário, foi ajuizado um recurso à Corte 
Constitucional Alemã.
Leia agora os trechos selecionados do Caso Lebach e procure refletir:
• Podemos considerar a liberdade de imprensa como absoluta? E o direito à informação? Por quê?
• Neste caso específico, como o Tribunal Constitucional resolveu o conflito? Quais foram os
 argumentos utilizados?
• Você concorda com a decisão do Tribunal? Que circunstâncias fáticas precisariam ser alteradas
 no caso, para fazer você mudar sua opinião?
Conceitos
• Regras e princípios; ponderação; colisão de direitos fundamentais; deveres de
 proteção; dimensões objetiva e subjetiva dos direitos fundamentais; eficácia
 horizontal dos direitos fundamental.
Bibliografia
• ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. (trecho a ser selecionado pelo professor)
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• BARROS, Suzana de Toledo. O Princípio da Proporcionalidade e o controle de onstitucionalidade das
 leis restritivas de direitos fundamentais. 3ª ed. Brasília Jurídica. (págs. 172-177).
• Caso Lebach (trechos traduzidos do espanhol, selecionados pelo Professor)
Questões de Concursos
1) Ministério Público Estadual/ 2001 – CE
Discorra sobre a incidência dos direitos fundamentais nas relações entre particulares. Resposta (mínimo de 
20 e máximo de 35 linhas)
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AULA 15 - DEVIDO PROCESSO LEGAL E PROVAS ILÍCITAS
Nota ao Aluno
 Na aula passada, vimos como o Tribunal Constitucional Alemão vem utilizando o recurso da ponderação 
para resolver casos de colisão entre princípios que consagram direitos fundamentais – em casos nos quais não 
poderíamos contar com os critérios tradicionais de solução de antinomias.
 Conforme os trechos selecionados das decisões do Supremo, a doutrina da ponderação tem sido 
utilizada pela jurisprudência brasileira. Ainda assim, trata-se de um recurso argumentativo que só pode 
ser considerado pertinente ou não diante do caso concreto, não sendo, portanto, uma simples “fórmula” a 
apontar para a decisão correta. Se assim não fosse, afirmam muitos doutrinadores, os juízes teriam em suas 
mãos um poder excessivo, pois, a princípio, poderiam relativizar a aplicação de qualquer regra jurídica, em 
qualquer caso, mesmo as de hierarquia constitucional. O que não pode ser admitido em um Estado Demo-
crático de Direito. Assim, ponderar é sobretudo argumentar – argumentar para mostrar que os elementos 
do caso concreto permitem que se fale da prevalência desta ou aquela regra, mas também para mostrar que 
o caso pode ser resolvido com recurso à ponderação.
 Analise o caso abaixo e procure resolvê-lo por meio da noção de ponderação.
Caso
 Em fevereiro de 1999, seguindo denúncias telefônicas anônimas, policiais civis da Delegacia de Repressão 
a Entorpecentes do Rio de Janeiro prenderam Ana Christina da Cruz Campos, residente na rua do Riachuelo. 
Cumprindo mandando judicial de busca, os policiais encontraram no interior de sua residência diversos papéis 
e manuscritos contendo descrições de tipos de armas, munições e compradores e fornecedores de material bélico 
dentro e fora do país.
 Ainda naquela manhã, na delegacia, Ana Christina afirmou que trabalhava para o Sr. Francisco Agathos 
Trivelas (conhecido como “Chico”), fazendo cobranças de valores referentes à vendas de armas. Os principais 
clientes do negócio seriam alguns dos grandes traficantes em atividade no Rio de Janeiro.
 Ana afirmou, ainda, que às 14h daquele mesmo dia, tinha um encontro marcado com “Chico” na estação 
do metrô de Copacabana. Na hora e local combinados, Francisco apareceu e, no lugar de Ana Christina, encon-
trou a polícia esperando por ele.
 Levado à delegacia, os policiais começaram a conversar informalmente com Francisco. A conversa foi gravada 
pelos policiais, com autorização do delegado, que estava presente na sala. Na gravação, Francisco admitiu que há vários 
anos vendia para os principais traficantes em atividade no Rio de Janeiro armas de uso exclusivo das forças armadas.
 No dia seguinte, as autoridades policiais pediram ao juiz competente que determinasse a prisão temporária 
de Francisco, para que pudessem terminar de efetuar o inquérito e colher as informações necessárias ao ofere-
cimento da denúncia pelo Ministério Público. O juiz indeferiu o pedido dos policiais, por considerar que não 
havia necessidade de se prolongar o inquérito. Francisco foi solto.
 Alguns dias depois, o advogado de Francisco impetrou

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