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Ética, política e economia

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1 
 
 
2 
 
 
 
COLETÂNEA 
FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA 
 
EAD (MÓDULO 53/2019) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Brasil não é mais a sétima economia do mundo. Disponível em: https://www.istoedinheiro.com.br/brasil-nao-e-
mais-a-setima-economia-do-mundo/. Acesso em: 25 jul. 2019. 
 
 
 
 
Organizadores 
Adriana Pacheco do Amaral Mello 
Claudineia Cristina Valim 
Cristiane de Oliveira Alves 
Diego Luiz Miiller Fascina 
Márcio Ricardo Dias Marosti 
Marta Ferreira Gomes de Lima 
Vivian Elis Golfetto Ramos 
 
 
 
 
 
Coordenação 
Fabiane Carniel 
3 
 
 
 
SUMÁRIO 
APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................ 4 
PALAVRAS INICIAIS ............................................................................................................................ 5 
ÉTICA E POLÍTICA .............................................................................................................................. 6 
ÉTICA, ECONOMIA E POLÍTICA ....................................................................................................... 11 
ÉTICA E ECONOMIA: INCONCILIÁVEIS? ......................................................................................... 13 
EDITORIAL: ECONOMIA, INSTRUMENTO DE SERVIÇO ................................................................ 15 
O BRASIL DE HOJE. ÉTICA, POLÍTICA E ECONOMIA. O QUE PODEMOS FAZER OU ESPERAR?
 ........................................................................................................................................................... 17 
ATUAL SITUAÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL – CARTA DO GESTOR ........................................... 20 
A ATUAL SITUAÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL .............................................................................. 22 
A ECONOMIA BRASILEIRA EM 2019: NOVA DECEPÇÃO? ............................................................ 24 
ECONOMIA E POLÍTICA EM 2019: QUAIS SÃO AS PREVISÕES DOS ESPECIALISTAS QUE 
ESTIVERAM NA AMCHAM ................................................................................................................ 26 
DESIGUALDADE SOCIAL AVANÇA E HOJE OS POBRES PAGAM MAIS IMPOSTOS QUE OS 
RICOS ................................................................................................................................................ 30 
REFORMA NECESSÁRIA, MAS INSUFICIENTE .............................................................................. 32 
A REFORMA DA PREVIDÊNCIA VAI TRAZER DE VOLTA CRESCIMENTO DA ECONOMIA? ....... 34 
CONHEÇA PROJETOS QUE SE TORNARAM LEIS NO PRIMEIRO SEMESTRE ........................... 36 
A VELHA MÍDIA E SEU MUNDO NADA ADMIRÁVEL ....................................................................... 45 
CHARGES .......................................................................................................................................... 48 
MÚSICAS ........................................................................................................................................... 51 
FILME ................................................................................................................................................. 53 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................ 56 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
APRESENTAÇÃO 
 
A Formação Sociocultural e Ética (FSCE) compõe um dos Projetos de Ação da UniCesumar, cujo 
principal objetivo é aperfeiçoar habilidades e estratégias de leitura fundamentais para seu 
desempenho pessoal, acadêmico e profissional. Nesse sentido, esta disciplina corresponde à missão 
institucional, a qual consiste em “Promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do 
conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma 
sociedade justa e solidária”. Conforme slogan da FSCE, “Quem sabe mais faz a diferença!”, o 
conhecimento adquirido por meio da leitura é a mola propulsora capaz de formar e transformar 
sujeitos passivos em cidadãos ativos, preparados para fazer a diferença na sociedade como um todo. 
Na FSCE, você terá contato com vários assuntos e fatos que ocorrem na sociedade atual e que 
devem fazer parte do repertório de conhecimentos de todos os que buscam compreender 
criticamente seu entorno social, nacional e internacional. Em síntese, no intuito de atender ao 
objetivo desta disciplina, a FSCE está dividida em cinco grandes eixos temáticos: Ética e Sociedade 
– Ética, Política e Economia – Ética Cultura e Arte – Ética, Ciência e Tecnologia – Ética e Meio 
Ambiente. 
Este material, também chamado de Coletânea, é o principal instrumento de estudo da FSCE. 
Recebe o nome de Coletânea porque reúne vários gêneros textuais criteriosamente selecionados 
para estimular sua reflexão e análise pontuais. Textos retirados de diferentes fontes, com a 
finalidade de abordar recortes temáticos relacionados aos conteúdos de cada eixo supracitado. Tem 
como principal objetivo ser um material de apoio à sua formação geral, servindo-lhe de estímulo à 
leitura, interpretação e produção textual. Uma Coletânea como esta é organizada a cada duas 
semanas, ou seja, a realização completa desta disciplina ocorre no período de 10 semanas. 
Cada Coletânea apresenta-se, inicialmente, com uma introdução e a apresentação dos diversos 
textos referentes aos respectivos eixos. A sequência de textos normalmente é finalizada com os 
gêneros: música, poesia ou frases e charges, sendo finalmente concluída com breves considerações 
finais. 
Você tem em suas mãos, portanto, uma compilação por meio da qual terá acesso a um conteúdo 
seleto de textos basilares para sua reflexão, aprendizagem e construção de conhecimentos valiosos. 
Textos compostos por fatos, notícias, ideias, argumentos, aspectos veiculados nos principais meios 
de comunicação do país, links de acesso a entrevistas, depoimentos, vídeos relacionados ao eixo 
temático, além de respaldos teóricos e práticos acerca da linguagem que poderão servir como 
suporte à sua vida em todas as instâncias. 
 
5 
 
PALAVRAS INICIAIS 
 
 
 
Tem algum tempo que estamos enfrentando uma crise em nosso país que não é apenas 
política e econômica, mas ética também. Os casos de corrupção não param de vir à tona e, com isso, 
a credibilidade política continua a escoar pelo ralo. Nesse cenário, o país não recebe investimentos e 
também não consegue fazer que o capital circule internamente. 
A proposta desta coletânea de textos é lançar um olhar sobre como a situação política e 
econômica do país afeta nosso cotidiano. Promover a reflexão sobre a ética, a política e a economia 
do país, sobre como estas questões afetam a ordem pública e toda a sociedade, não só analisando 
as possíveis causas e consequências, mas para que possamos ficar atentos ao que pode ser feito 
para melhorar. Assim, podemos acompanhar aqueles que foram eleitos, observar se eles realmente 
cumprem com suas promessas, se atentar para o que eles fazem e como isso nos impacta e 
repensar nossas atitudes enquanto eleitores e cidadãos. 
Como afirma Medeiros, no texto “Ética e Política”, “sabemos que muito há ainda por ser feito e 
que a corrupção, talvez, dificilmente tenha fim, já que são muitas as formas de manipulação, 
utilização e desvios de verba pública para beneficiar interesses particulares e partidários. Contudo, 
há nos corações e mentes de homens e mulheres sempre uma fagulha de esperança de que é 
possível viver numa sociedade mais justa e menos desigual. E é este sentimento que nos anima e 
nos move rumoa um futuro melhor.” 
Esperamos que esta coletânea contribua com a reflexão sobre como a ética, a política e a 
economia permeiam a sociedade e no que podemos esperar e/ou fazer para que tenhamos um 
futuro melhor, mais justo e igualitário. 
 
Desejamos a você boa leitura e bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Equipe FSCE.
 
6 
 
ÉTICA E POLÍTICA 
 
Alexsandro M. Medeiros 
 
 A relação entre ética e política adquiriu formas e valores bem distintos ao longo da história da 
humanidade, desde uma forte relação entre ética e política na Antiguidade, uma ruptura entre ambas 
no Renascimento e início da modernidade, uma crise de valores característica da 
contemporaneidade até uma proposta atual de reaproximação entre ambas. 
Como é manifesto, na história da cultura ocidental encontram-se diferentes teorias acerca da relação 
entre ética e política, algumas das quais afirmam a compatibilidade, ou também a convergência, ou 
diretamente a substancial identidade dos dois termos; outras afirmam a divergência, a 
incompatibilidade ou diretamente o antagonismo (BOVERO, 1992, p. 141). 
 É sobre esta intricada relação que iremos discorrer ao longo deste texto. [...] 
 
 
Ética e Política ao longo da História 
 
 Uma marca característica da ética na Antiguidade é sua indissociabilidade com a política. 
Desde Platão e seu discípulo Aristóteles, que a ideia de constituição da polis é perpassada pelo 
princípio de que a cidade deve ser dirigida por governantes sábios, justos e virtuosos. É de 
Aristóteles, por exemplo, a afirmação de que o homem é um animal político – zoon politikon. “Trata-
se de um homem ‘essencialmente destinado à vida em comum na polis e somente aí se realiza 
como ser racional. Ele é um zoon politikón por ser exatamente um zoon logikón, sendo a vida ética e 
a vida política artes de viver segundo a razão’” (LIMA VAZ, 2004, p. 38-39 apud PANSARELLI, 2009, 
p. 13). E Hélcio Corrêa afirma que na polis grega o cidadão só é reconhecido como tal a partir de sua 
inserção na comunidade política e a razão prática que norteia a ação do cidadão grego está 
intimamente ligada ao ethos “[...] entendido este como um conjunto de tradições, costumes e valores 
próprios da vida na polis” (2011, p. 77) e, no caso de Aristóteles, “[...] as noções de ética e política se 
completam reciprocamente na teoria da justiça” (2011, p. 77). 
 Com efeito, na polis grega, tanto o estudo da ética quanto da constituição da polis (da 
política) lançam as bases para o comportamento justo do indivíduo e do cidadão. Platão (1993), 
inclusive, compara a ideia de justiça, tanto no indivíduo quanto na sociedade, como sendo a 
harmonia entre suas partes. Essa dupla perspectiva aparece já no início da obra ‘A República de 
Platão’, a partir do Livro II quando este afirma que o homem justo em nada diferirá da cidade justa e 
será semelhante a ela (435b). Para Del Vecchio (1925, p. 14) aparecem aí fundidas a norma moral e 
7 
 
jurídica, a política e a ética, inclusive a psicologia, ou seja, a vida interior do indivíduo e as relações 
sociais. 
Isso de laços entre o indivíduo e a polis, se já existe certa simetria em Platão, radicaliza-se em 
Aristóteles, o qual tratou predominantemente da justiça no livro V da ‘Ética a Nicômaco’. John Morrall 
afiança-nos: [...] como Platão na República, Aristóteles vê uma analogia entre a vida da polis e a vida 
da família, e traça semelhanças entre os modos pelos quais se podem governar famílias e estados 
[...] (1981, p.45 apud CORRÊA, 2011, p. 78). 
 A concepção de justiça para os gregos estabelece uma relação direta entre ética e política 
tanto para Platão quanto para Aristóteles, pois a justiça (dikaiosýne) é também virtude (areté). A 
justiça é tanto a ordem da comunidade dos cidadãos, quanto virtude individual que consiste no 
discernimento do que é justo ou injusto. 
 Para o filósofo grego Aristóteles, se a ética é condição de autorrealização do indivíduo ou, 
mais precisamente uma vida virtuosa com base na razão, se pode dizer o mesmo da política que é a 
condição de autorrealização da polis e uma e outra não estão separadas, assim como não estão 
separados o indivíduo e o cidadão. O projeto individualista do liberalismo moderno seria 
profundamente estranho aos pensadores gregos (MACINTYRE, 2001) que tinham por certo a 
premissa de que a liberdade situa-se, sobretudo na esfera política (ARENDT, 1981) e por isso 
Aristóteles irá afirmar que aquele que for incapaz ou não sente a necessidade de se associar em 
comunidade ou é uma besta ou um deus (ARISTÓTELES, 1998, 1253a 25). Somente na polis, na 
vida em comunidade, a felicidade (eudaimonia) pode ser alcançada, e o bem, fim último da 
existência humana, pode se realizar (HIRSCHBERGER, 1969). Não existe agir ético ou virtuoso fora 
da polis. 
E, assim, da mesma forma que, na Política escreveu Aristóteles: A finalidade e o objetivo da 
cidade é a vida boa, e tais instituições propiciam esse fim (Pol.,1280 b 40); também o filósofo não 
deixou de consignar que é preciso concluir que a comunidade política existe graças às boas ações, e 
não à simples vida em comum (Pol., 1281a1) (apud CORRÊA, 2011, p. 80). 
 Outro filósofo antigo no qual encontramos uma estreita relação entre a ética e a política é o 
romano Marco Túlio Cícero, que viveu entre 106-43 a.C. e foi uma proeminente figura da política e 
do direito romano. Cícero foi um ardoroso defensor da República Romana em torno da qual entende 
que essa República deve ser aquela fundamentada nos valores tradicionais romanos, na reta razão 
e em valores morais que devem ser seguidos com determinação, autocontrole e dever. O cidadão 
cumpridor de seus deveres é aquele que aplica tais princípios na República. Por isso o dever tem 
uma importância fundamental para o filósofo que dedicou um livro ao tema: Dos Deveres. Nesta obra 
Cícero “formula os valores políticos e éticos da sociedade romana, a partir de seu ponto de vista de 
homem de Estado” (CONEGLIAN, 2012, p. 70). Os deveres para com a vida pública incluem valores 
como a honestidade, a sabedoria, a justiça, a firmeza e a moderação. Por outro lado o cidadão 
8 
 
virtuoso deve se afastar do luxo, das riquezas, da ganância, da inveja. Merece destaque a virtude da 
justiça, sumamente importante para a vida em comunidade, pois é ela que determina o 
comportamento social. A obrigação de ser justo tem implicações civis e sociais, pois ser justo leva à 
justiça na organização da república. 
 Portanto, os gregos não possuíam essa visão que separa a ética da política como sendo a 
primeira da esfera individual e a segunda exterior ao indivíduo e ambas tratadas separadamente: 
“[...] na polis grega, o cidadão, em si, é reconhecido como tal apenas a partir de sua inserção na 
comunidade política” (CORRÊA, 2011, p. 83). Ademais, apenas na polis a felicidade (eudaimonia) é 
passível de ser alcançada e na relação entre a vida individual e a vida em comunidade uma é 
condição de realização plena da outra e vice-versa. 
 Para Alasdair Macintyre (2001) foi o liberalismo moderno que rompeu os laços com a polis, 
com a comunidade política, e enfatizou a dimensão humana do individualismo. Mas antes mesmo do 
liberalismo moderno uma ruptura ainda maior entre a ética e a política foi promovida por um dos 
maiores pensadores italianos do período renascentista e início da modernidade: aquele que é 
considerado, precisamente, o pai da ciência política, a saber, Nicolau Maquiavel. 
Até o início do século XVI, política e moral não constituíam campos separados; ao contrário, 
eram tratadas de forma indistinta, sendo as avaliações dos fatos políticos afetadas por julgamentosde valor. Algumas obras revelavam a redução total da política à moral, tal como se pode observar 
em ‘A educação do príncipe cristão’, de Erasmo de Rotterdam, livro publicado em 1515, no qual 
Erasmo traça o perfil do bom príncipe, enfatizando a relevância da magnanimidade, da temperança e 
da honestidade, enfim, de atributos definidores da retidão moral do soberano. Maquiavel rompe com 
essa forma de subordinação da política aos ditames da moral convencional e afirma que a política 
tem uma lógica própria e razões nem sempre compatíveis com princípios consagrados pela tradição 
(DINIZ, 1999, p. 61). 
 Ao rejeitar os sistemas utópicos da filosofia grega e procurar a verdade efetiva dos fatos 
(MAQUIAVEL, 1999, cap. XV), Maquiavel promove certa ruptura entre o campo do dever ser 
(determinado pela ética) e a realidade dos fatos que é objeto de estudo da política. A principal 
preocupação de Maquiavel é o Estado: não o Estado ideal imaginado na República de Platão ou nas 
utopias dos filósofos renascentistas como Thomas Morus e Tommaso Campanella, mas o Estado 
real, concreto, seguindo a trilha inaugurada pelos historiadores antigos como Tácito, Políbio, 
Tucídides e Tito Lívio. Ao desvincular o Estado ideal do Estado real Maquiavel defende a autonomia 
da política em relação à religião e à moral cristã e promove uma ruptura entre aquilo que é e o que 
deveria ser (SADEK, 1995, p. 17-18). “Maquiavel reivindica a irredutibilidade e a autonomia da 
política, a política como um campo específico do saber, a exigir um enfoque também específico, 
distinto da moral, da ética e da religião” (DINIZ, 1999, p. 60). A análise política deve se ater à 
realidade concreta dos fatos, pautar-se pelos aspectos objetivos e reais que existem na sociedade 
9 
 
devendo se desprender de considerações de caráter moral e religioso sobre como a sociedade 
deveria ser e de critérios valorativos expressos em um plano ideal. O argumento de Maquiavel 
consiste “[...] em admitir que a ótica do indivíduo e a ótica do Estado são distintas e que nem sempre 
o que é bom para o indivíduo é igualmente adequado para o Estado. Trata-se de dois sistemas de 
juízos não necessariamente coincidentes” (DINIZ, 1999, p. 61). 
 Cumpre notar, todavia, que Maquiavel não advoga a rejeição de princípios éticos. Apenas irá 
defender a autonomia da política em relação à ética e que, se necessário, um Príncipe deve 
aprender a usar de artifícios estratégicos que conflitam com a moral cristã, por exemplo, se quiser se 
manter no poder. A ética maquiaveliana tem características distintas da tradição cristã, de alguma 
forma determina a conduta do príncipe, mas não é condição necessária da organização política já 
que, dependendo da situação, um Príncipe deve saber agir pelas leis ou pela força, devendo 
empregar adequadamente o homem e o animal (MAQUIAVEL, 1999). “Podemos lembrar ainda o 
conselho que dá aos príncipes, no cap. XVIII, ressaltando que devem reunir ao mesmo tempo as 
qualidades do leão e da raposa, isto é, a força e a astúcia, se quiserem ter sucesso na condução dos 
negócios do Estado” (DINIZ, 1999, p. 60). 
 Com a ruptura promovida por Maquiavel, a ética vai cada vez mais se distanciando do campo 
da política e os filósofos modernos e contemporâneos vão cada vez mais tratando a ética de forma 
autônoma e independente da política, mas não sem exceções, como é o caso do filósofo do 
iluminismo francês Jean-Jacques Rousseau ou dos filósofos Hegel e Habermas: o primeiro em fins 
do século XVIII e início do século XIX e o segundo no século XX. 
 
Ética e Política Hoje 
 
 Embora nem sempre haja convergência entre as práticas políticas e os princípios morais, é 
fato hoje que a sociedade em geral está cansada de tantas notícias envolvendo escândalos de 
corrupção e posturas não condizentes com nossos representantes políticos (tanto na esfera do poder 
executivo quanto do legislativo) e clama por uma sociedade mais justa, no mesmo sentido em que 
desde a antiguidade Platão e Aristóteles já destacavam o importante papel que a justiça deve 
desempenhar para a vida em sociedade. Em um de seus pronunciamentos como candidato à 
presidência da República, Rui Barbosa afirmou: “Toda a política se há de inspirar na moral. Toda a 
política há de emanar da Moral. Toda a política deve ter a Moral por norte, bússola e rota” (apud 
NOGUEIRA, 1993, p. 350). Além disso, “a intensa crise política no país impõe que faça algumas 
reflexões sobre o problema da ética na política” (CHERCHI, 2009, p. 15). 
 Para alguns há uma incompatibilidade inelutável entre ética e política e ambas devem ser 
consideradas em domínios opostos. Para outros “[...] há uma forte expectativa, particularmente nos 
regimes democráticos, de que os governantes se conduzam de acordo com critérios de probidade e 
10 
 
justiça na administração dos negócios públicos” (DINIZ, 1999, p. 57). De qualquer forma é preciso 
considerar que o âmbito da esfera política não pode ser reduzido ao universo da ética e da moral, 
pois como afirma Frota (2012, p. 14): “Os valores políticos transcendem os valores éticos e o 
universo da política não pode ser confundido com o da ética”. 
 Tanto a ética quanto a política são temas de uma longa tradição do pensamento filosófico e 
continuam a permear nossa realidade contemporânea por uma razão muito simples: não há como 
pensar a vida em sociedade sem valores morais e sem organização política. A questão é: as duas 
questões estão relacionadas ou devem ser tratadas de forma independente? Como vimos, ao longo 
da história, nem sempre os filósofos tiveram a mesma opinião sobre o assunto e ainda hoje esse 
tema é motivo de conflitos de ideias. Afinal, ética e política podem convergir entre si? “Podem ser 
ambos referidos a um mesmo termo de comparação, ou pertencem a universos incomensuráveis 
porque muito distantes? Pode-se responder de um e outro modo e articular a resposta de muitos 
modos diferentes” (BOVERO, 1992, p. 143). Para Cherchi (2009, p. 15), “a ética na política, diz 
respeito à conduta de cidadãos investidos em funções públicas, que como agentes públicos são 
responsáveis por manter uma conduta ética compatível com o exercício do cargo público para os 
quais foram eleitos”. 
 Por fim vale ressaltar que a sociedade contemporânea parece, de fato, cansada de ouvir falar 
de tantos escândalos na política e a apatia e até mesmo repulsa de muitos cidadãos pela política são 
a consequência direta da forma como a política é conduzida pelos nossos governantes. Mas nem 
todos os cidadãos ficam passivos diante dos problemas que envolvem a classe política. As mais 
recentes manifestações da população brasileira como as do ano corrente ou as de 2014 ou 2013 
atestam isso. A sociedade está cada vez mais disposta a se mobilizar pela “moralidade pública”. 
Escândalos de corrupção envolvendo as mais importantes empreiteiras do país na famosa operação 
Lava-Jato, os esquemas de corrupção conhecido como Mensalão, e até mesmo décadas atrás, no 
conhecido “movimento pela ética na política” de 1992 que culminou com o impeachment do ex-
presidente Fernando Collor de Melo demonstram o quanto a população está disposta a tomar as 
ruas se for preciso para acabar com a corrupção que assola o nosso país. Sabemos que muito há 
ainda por ser feito e que a corrupção, talvez, dificilmente tenha fim, já que são muitas as formas de 
manipulação, utilização e desvios de verba pública para beneficiar interesses particulares e 
partidários. Contudo, há nos corações e mentes de homens e mulheres sempre uma fagulha de 
esperança de que é possível viver numa sociedade mais justa e menos desigual. E é este 
sentimento que nos anima e nos move rumo a um futuro melhor. 
 
 
Disponívelem: https://www.sabedoriapolitica.com.br/etica-e-politica/. Acesso em: 19 jul. 2019 
(adaptado). 
11 
 
ÉTICA, ECONOMIA E POLÍTICA 
Celso Mori 
 
O país tem que enfrentar as suas próprias verdades e ter a coragem de conviver com o que 
valoriza, sem discursos hipócritas sobre aquilo a que não dá valor. Nossas escolhas traçarão os 
nossos destinos. 
Difícil não é encontrar a verdade. Difícil, muitas vezes, é conviver com ela. A verdade, para 
quem quiser vê-la, é que o Brasil, como quase todos os outros países do mundo, sempre teve, 
dentro de sua elite política e econômica, pequenos focos de grande corrupção. Quem, por exemplo, 
ler a história da construção da Estrada de Ferro Sorocabana, de 1870 a 1922, no Império e na 
República, vai verificar sucessivos desfalques e escândalos que quase fizeram o projeto naufragar. 
Mais ou menos como acontece desde 1987 até hoje com a Ferrovia Norte-Sul. E, como o setor 
público e sociedade civil nunca são incompatíveis, é preciso ver o que acontece na sociedade civil. 
Uma grande parte da sociedade brasileira sempre assimilou com naturalidade a corrupção do 
cotidiano, na compra de bedéis, guardas de trânsito e fiscais administrativos, na adulteração de 
cadernetas escolares, notas fiscais, recibos, contabilidade e por aí a fora. Nas últimas décadas, a 
começar pela mudança de costumes em que países europeus pararam de lançar como despesas 
dedutíveis do imposto de renda as propinas pagas nos países subdesenvolvidos, e passando pela 
legislação anticorrupção dos EUA (Lei Sarbanes-Oxley - 2002 e outras) o mundo passa por uma 
acelerada evolução ética. Em muito estimulada pela revolução tecnológica das comunicações, que 
tornou a vida instantânea e transparente, aproximando fatos e consequências e a vida pública da 
vida privada. E o mundo parece que se deu conta de que a competição econômica e política, assim 
como a esportiva, dever ser ética. 
No Brasil, a positiva democratização do poder político a partir da Constituição de 1988 e a 
louvável ascensão econômica de largas faixas populacionais até então excluídas, trouxeram a 
amarga contrapartida da generalização das práticas corruptas de apropriação privada dos recursos 
públicos e do que deveriam ser interesses de Estado. Do ponto de vista ético, um desastre nacional 
de grandes proporções. Do ponto de vista econômico, nem tanto. A economia até que vinha muito 
bem, não fosse a invenção pelo governo Dilma da chamada Nova Matriz Econômica, que 
considerava a corrupção uma preocupação burguesa e acreditava que o uso infinito e populista dos 
recursos finitos do Estado poderia dar certo, desde que se fizessem manipulações eficientes da 
contabilidade pública. Do ponto de vista político, o desastre ético fez ascender uma classe de 
lúmpens, proxenetas e vendilhões de leis e do poder. Não passe sem registro a involuntária, mas 
decisiva colaboração de setores da imprensa, que em busca da notícia fácil e da atração comercial 
do escândalo, não poupou a reputação dos inocentes, para gáudio e conforto dos culpados, todos 
12 
 
igualados nas mesmas manchetes. Adicione-se a contribuição do bem intencionado Ministério 
Púbico que colocou no mesmo cesto, urdido com milhares de ações de improbidade cabidas e 
descabidas, o joio e o trigo da administração pública, reduzindo em muito à disposição dos probos 
para entrar ou permanecer na vida pública. 
Com a Lava-Jato e seus desdobramentos, chegou ao Brasil a onda mundial de ética, 
integridade e compliance. Bem-vinda e antes tarde do que nunca. Sempre com a preocupação de 
que a defesa da ética se mantenha, ela própria, em rigorosa trilha ética e de legalidade. 
Por esses e outros caminhos chegamos aonde chegamos. O aparente dilema que se coloca é 
o de escolher, nesta altura do desastre, o que queremos salvar: reconstruir a ética, banindo imediata 
e severamente a parcela corrupta da classe política e econômica, ou salvar primeiro e 
imediatamente a economia, com a ajuda supostamente necessária de políticos corruptos? 
O dilema é falso. É só uma estratégia para nos escondermos das verdades que não 
queremos ver. A verdade é que a teoria da ética e sua prática são coisas diferentes. E grande parte 
dos que defendem a prioridade urgente da salvação econômica considera a ética como uma bela 
teoria para palestras acadêmicas e conversas sociais, mas acredita que a economia tem regras 
próprias e urgências que não podem ser violadas por preocupações inoportunas com a ética. 
Há quem acredite, e parece ser uma minoria, que a prática ética deva ser diária e começar em 
cada um de nós, e nas nossas casas, e deva marcar sempre toda ação econômica e política. Sem 
tréguas. Sob pena de o país ter melhorias econômicas sazonais, e voltar sempre ao ponto de partida, 
com os interesses das economias pessoais sobrepondo-se aos interesses da economia comum e 
pública. 
Há quem acredite que a Política é indispensável e é preciso salvá-la dos maus políticos, sem 
solavancos, mas de forma determinada, urgente e jurídica. 
Digo que o dilema é falso porque acredito que a economia e a política possam ser éticas, na 
teoria e na prática. Imaginar que reformas econômicas urgentes exijam uma tolerância ética 
temporária com políticos corruptos é, na verdade, desacreditar na ética como fator decisivo e 
necessário de construção e estabilização de sociedades econômica e politicamente desenvolvidas. 
O país tem que enfrentar as suas próprias verdades e ter a coragem de conviver com o que valoriza, 
sem discursos hipócritas sobre aquilo a que não dá valor. Nossas escolhas traçarão os nossos 
destinos. 
 
 
Disponível em: https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI259698,51045-
Etica+Economia+e+Politica. Acesso em: 23 jul. 2019 (adaptado). 
13 
 
ÉTICA E ECONOMIA: INCONCILIÁVEIS? 
 
“Nunca o mundo produziu tanta riqueza, mas também nunca gerou tanta miséria” 
 
Padre Antônio Aparecido Alves 
 
O crescimento da exclusão social é um fato. Nunca o mundo produziu tanta riqueza, mas 
também nunca gerou tanta miséria. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e 
a Alimentação (FAO), a cada 3,6 segundos uma pessoa morre de fome no mundo, o que desafia a 
repensar a lógica que está por trás da geração de riquezas. 
O Papa Francisco é incisivo ao dizer “não” a uma economia de exclusão, à idolatria do 
dinheiro que governa ao invés de servir e a uma desigualdade social que gera violência. Por isso, 
para ele esse sistema é injusto em sua raiz porque promove o consumismo, a cultura do descartável 
e gera a desigualdade social. “Esta economia mata. Não é possível que a morte de frio dum idoso 
sem abrigo não seja notícia, enquanto o é a descida de dois pontos na Bolsa. Isto é exclusão”. 
(Evangelii Gaudium 53; 59). É possível uma conciliação entre Economia e Ética? Outra lógica 
econômica é possível? 
A palavra ECONOMIA vem do grego oikonomikê, que significa direção, governo e 
administração (da casa), ordenação, planejamento. Tem um sentido doméstico, de não deixar faltar 
à casa o suficiente para a vida dos convivas. Deste sentido doméstico, ela vem transposta depois 
para a administração do Estado. Assim, a finalidade da Economia não é o lucro ou aumento das 
riquezas, mas propiciar bens humanos, isto é, que não falte o necessário à vida, o que é algo natural 
ao ser humano. 
Por outro lado, existe outra forma de adquirir que não é natural, mas que visa simplesmente o 
aumento da riqueza, sem impor limites a ela, chamada de CREMASTICA (Aristóteles. Política, cap. II 
e III). Portanto, em sua origem no pensamento grego, a economia tem uma finalidade 
eminentemente ética, natural ao homem. Juntar e acumular riquezas não é natural. O que houve, 
então, para que economia e ética se separassem?A mentalidade moderna 
 
A modernidade trouxe uma autonomia para todas as ciências, desvinculando-as da Filosofia e 
da Teologia, predominantes no período anterior. No caso da economia, ela não somente se 
14 
 
desvincula destas, como também escapa da moral, convertendo aquilo que eram vícios (egoísmo, 
interesse próprio, etc) em motores do crescimento. 
Adam Smith é considerado o pai da ciência econômica. Em 1776 ele publicou ‘A riqueza das 
Nações’, onde introduz a metáfora da mão invisível, que promove um fim que não estava na intenção 
do sujeito que agia buscando somente os seus interesses. O progresso e o bem comum, segundo 
ele, não se fundamentam na virtude e no altruísmo, como afirmava o pensamento clássico, mas na 
busca do lucro. Ele está seguro de que se deixarmos cada um seguir seus próprios interesses, 
promove-se eficazmente o progresso econômico e o bem-estar de todos. Por isso ele sugere: não 
nos esforcemos muito para fazer o bem, deixemos que ele surja como consequência do próprio 
egoísmo. 
 
 
A posição do magistério social 
 
O Papa Pio XI na Encíclica Quadragesimo Anno em 1931 foi o primeiro a levantar a voz 
contra uma pretensa autonomia absoluta da economia, que ele caracterizou de “imperialismo 
internacional do dinheiro” (109) afirmando que ela deve estar submetida à ética e ter como princípio 
regulador a justiça e o amor sociais (42-43; 88). 
Esta posição se tornou emblemática e foi reafirmada em todas as encíclicas sociais e 
declarações posteriores. Segundo o magistério, a economia goza de autonomia, mas esta não é 
absoluta. Ela deve dialogar com a antropologia, com a sociologia, com a ética e outras ciências 
humanas, pois no fim do seu processo está o ser humano concreto. 
Além disso, suas decisões têm repercussões na vida das pessoas e, por isso, não podem ser 
tomadas somente de um ponto de vista técnico. A Doutrina Social da Igreja comparece no cenário 
das discussões sobre a Economia com sua verdade sobre o homem e contribui para a busca de um 
tipo de lógica econômica que respeite as necessidades humanas e se mova dentro de parâmetros 
éticos. O ser humano, sobretudo o mais pobre, é o ponto de encontro entre Ética e Economia. 
 
 
 
Disponível em: https://noticias.cancaonova.com/brasil/etica-e-economia-inconciliaveis/. Acesso em: 
26 jul. 2019 (adaptado). 
 
 
 
 
15 
 
EDITORIAL: ECONOMIA, INSTRUMENTO DE SERVIÇO 
 
O que mais de um século atrás foi tristemente previsto, tornou-se realidade hoje: o lucro do capital coloca 
fortemente em risco, e corre o risco de suplantar, a renda do trabalho. 
 
Silvonei José – Cidade do Vaticano 
 
 
Muitos o definiram um verdadeiro Vademecum para a finança ética o documento realizado 
com a aprovação do Santo Padre pela Congregação para a Doutrina da Fé em colaboração com o 
Dicastério que se ocupa do Desenvolvimento Humano Integral publicado nesta semana. 
Com o título “Oeconomicae pecuniariae quaestiones. Considerações para um discernimento 
ético sobre alguns aspectos do atual sistema econômico-financeiro”, o Vaticano sai em campo na 
tentativa de propor e restituir ética à economia e à finança. O documento, como está escrito, 
pretende dar uma contribuição ao diálogo. 
O que mais de um século atrás foi tristemente previsto, tornou-se realidade hoje: o lucro do 
capital coloca fortemente em risco, e corre o risco de suplantar, a renda do trabalho, comumente 
confinada às margens dos principais interesses do sistema econômico. Isto proporciona o fato de 
que o trabalho, - lê-se no documento - com a sua dignidade, não somente se torne uma realidade 
sempre mais em risco, mas perca também a sua qualidade de “bem” para o homem, transformando-
se em um mero meio de troca ao interno de relações sociais tornadas assimétricas. 
 
 
Os excluídos são “sobras” 
 
Exatamente nesta inversão de ordem entre os meios e os fins, em que o trabalho se torna de 
um bem em “instrumento” e em que o dinheiro se torna de um meio em um “fim”, encontra um fértil 
terreno aquela inconsciente e amoral “cultura do descarto” que excluiu grandes massas da 
população, privando-as de um trabalho digno e tornando-as “sem perspectivas e sem vias de saída”: 
“não se trata mais simplesmente do fenômeno de exploração e opressão, mas de uma realidade 
nova”: com a exclusão, fere-se, na própria raiz, a pertença à sociedade onde se vive, pois quem vive 
nas favelas, na periferia ou sem poder já não está nela, mas fora. Os excluídos não são 
“explorados”, mas resíduos, “sobras”. 
O bem-estar não é só questão de PIB, Produto Interno Bruto, destaca o documento. Nenhum 
lucro é legítimo quando falta o horizonte da promoção integral da pessoa humana, do destino 
16 
 
universal dos bens e da opção preferencial pelos pobres. Todo progresso do sistema econômico – 
lê-se no texto - não pode se considerar tal, se medido apenas com parâmetros de quantidade e 
quantidade e de eficácia na produção de lucro, mas também deve basear-se na qualidade de vida 
que produz e da extensão social do bem-estar que espalha. Um bem-estar que não pode ser limitado 
ao aspecto material. 
“O bem-estar deve ser avaliado com critérios mais amplos da produção interna bruta de um 
país (PIB), tendo em conta, em vez disso, também outros parâmetros, como a segurança, a saúde, o 
crescimento do 'capital humano', a qualidade da vida social e do trabalho". 
 
 
Parâmetros humanizadores 
 
“O lucro deve sempre ser perseguido, mas nunca a qualquer custo, nem como o referente 
totalizante da ação econômica”, destaca o documento. Daí a importância de “parâmetros 
humanizadores” capazes de estabelecer um círculo virtuoso entre lucro e solidariedade que, graças 
ao livre agir do homem, pode desencadear todas as potencialidades positivas dos mercados. 
O documento também analisa a história recente do tecido econômico mundial. “A recente 
crise financeira - é enfatizado -, poderia ser uma oportunidade para desenvolver uma nova economia 
mais atenta aos princípios éticos e para uma nova regulamentação da atividade financeira, 
neutralizando os aspectos predatórios e especulativos e valorizando os serviços à economia real”. 
Apesar dos esforços positivos em vários níveis, não houve “uma reação que tenha levado a repensar 
os critérios obsoletos que continuam a governar o mundo”. 
Um fenômeno inaceitável “é lucrar explorando a própria posição dominante com a injusta 
desvantagem de outras pessoas ou enriquecer-se gerando danos ou perturbações ao bem-estar 
coletivo”. E esta prática é particularmente deplorável, do ponto de vista moral, quando a mera 
intenção de ganhar por parte de poucos através do risco de uma especulação visando provocar 
reduções artificiais nos preços dos títulos da dívida pública, e não se preocupa em afetar 
negativamente ou agravar a situação econômica de países inteiros. 
 
 
O dinheiro deve servir 
 
Em um contexto marcado por profundas desigualdades é necessário repensar os modelos 
econômicos. É tempo de seguir com uma recuperação do que é autenticamente humano, “ampliar os 
horizontes da mente e do coração, para reconhecer com lealdade o que vem das exigências da 
17 
 
verdade e do bem”. Está cada vez mais claro que “o egoísmo no final não paga e faz com que todos 
paguem um preço alto demais”. A economia não deve ser vista como um instrumento de poder, mas 
de serviço: “o dinheiro deve servir e não governar”. 
 
 
 
Disponível em: https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2018-05/editorial-economia-
instrumento-servico.html. Acesso em: 26 jul. 2019 (adaptado). 
 
 
O BRASIL DE HOJE. ÉTICA, POLÍTICA E ECONOMIA. O 
QUE PODEMOS FAZER OU ESPERAR? 
 
 
 
 
 
 
David R Tavares 
 
Não é segredo pra ninguém que o Brasilatual passa por uma profunda mudança de seus 
hábitos e costumes comumente aceitos. Uma moral única tende a se esfarelar frente à percepção, 
por todos nós, de que há diferentes visões de mundo, comportamentos, crenças e ideologias. 
Nesta linha, a ética se torna uma matéria a ser compreendida. Afinal de contas, diferente da 
moral, a ética busca a compreensão e o entendimento das percepções individuais de cada cidadão 
18 
 
na busca pela fundamentação de uma “moral” mais coletiva, mais humana e aceita, ao menos, pela 
maioria dos cidadãos em um ambiente democrático. 
A palavra ética tem origem no termo grego ethos, o que significa aquilo que pertence aos 
“bons costumes ou hábitos” fundamentados pela razão e que se distanciam da moral que se 
fundamenta, muitas vezes, na obediência cultural e religiosa. Eis, então, parte significativa da 
confusão na atualidade política em que vivemos. Pois, de um ethos (ético) que busca um melhor 
modo de se viver entre os pares, ainda estamos sob o entendimento do mores (moral) da obediência 
aos hábitos e costumes impostos e pré-determinados por “ideias universais” que, a cada dia, não 
são possíveis de se aceitar, senão por crenças e ideologias alienantes. 
O multiculturalismo e a pluralidade de ideias e costumes, que se torna mais presente em 
nossas vidas pelo acesso tecnológico a diferentes culturas, aponta que há uma confusão sobre o 
que seria o “bem”, sendo o “bem” algo universal ou o que é de fato o “bem”; ou apenas o objeto 
desejado, de aspiração por muitos que pensam diferentemente e que priorizam a concretude das 
relações humanas como, por exemplo, o bem-estar de se viver, ou da “vida como ela é”. 
O maniqueísmo entre o “bem” e o “mal” está fortemente presente no ambiente social, político 
e econômico. É entendido, pela maioria de nós, possuidores de raízes culturais essencialmente 
religiosas, que o espírito racional é o “bem” e a matéria irracional o “mal”, numa dualidade estranha à 
primeira vista, pois, somos a própria matéria, enquanto que o espírito permeia o mundo das ideias, 
das crenças, da razão. Matéria e espírito parecem ser uma única e mesma coisa, como já dissera 
uma vez o filósofo Espinosa em sua obra “Ética”, ao afirmar que o ser é uma única e mesma coisa, 
ou seja, a natureza substancial. 
Em outras palavras, o que é certo para alguns claramente não o é para outros, pois suas 
visões de mundo muitas vezes conflitam, polarizam. Contudo, o homem é um “animal político” e vive 
dentro de uma polis, onde são (supostamente) livres e “iguais” em direitos, porém diferentes em suas 
aspirações individuais e coletivas, o que produz um encontro ético turbulento que tende a se auto-
organizar em modelos políticos temporários. 
O filósofo Fichte exigia que toda doutrina moral deveria ser reduzida à “autodeterminação do 
eu”, enquanto que para o filósofo Hegel, o objetivo das condutas humanas seria o Estado, pois o 
Estado é a totalidade ética de um povo ou uma nação, ou seja, uma eticidade. Não há verdades 
universais, este parece ser o fato a ser observado por todos nós. 
É observável que o acesso e a inclusão de muitos cidadãos que se “sentaram à mesa de 
discussão” por uma sociedade mais justa e igualitária, ocorrido nas últimas décadas, provocou uma 
mudança dos “costumes anteriormente aceitos como corretos”, causando certa diferença de 
percepção social e política. O status quo político está demorando para perceber essa mudança 
profunda nos cidadãos. 
19 
 
A política envelheceu e não atende mais as demandas dos novos movimentos que têm um 
olhar mais crítico e objetivo sobre como se deve organizar a vida em sociedade. Estaríamos vivendo 
uma revolução? Se considerarmos os aspectos de crescente evolução tecnológica que impulsiona 
as éticas individuais em uma sociedade cibertecnológica, pode ser. 
Ao invés de acatar um modus operandi envelhecido, a sociedade clama por um novo modo de 
se fazer política e que esteja em sintonia com os novos movimentos sociais mais conectados, 
compartilhados, fluídos e rápidos. Estaríamos nos encaminhando a um modelo de “democracia 
direta” que, pela tecnologia, nos permitirá que decidamos o rumo de nossas vidas em sociedade 
sem a necessidade dos atuais “representantes”? 
Aqui entramos na parte essencial dessa crítica, afinal, o que nos move, neste modelo de 
sociedade utilitarista que vivemos, são as coisas — a matéria sensível e acessível pelo “dinheiro”. 
Este último está intrincado em nossos estilos de vida, como o ar que respiramos e a água que 
bebemos. A economia, então, passa a ser a chave de aceitação, ou não, das decisões políticas em 
sociedade. 
A palavra economia vem do grego oikosnomos, ou “gestão da casa”, o que nos leva a 
entender que as decisões políticas organizam a casa ou Estado em que vivemos. Estaríamos 
inclinados a permitir que “representantes” tomem as decisões por nós no momento em que 
observamos que diferentes agentes têm diferentes visões de mundo? Assim, estaríamos inclinados a 
começar a protagonizar novos movimentos políticos mais democráticos, distributivos, e de busca por 
uma autorrepresentação? 
Parece, de fato, que será isso e uma socialização mais democrática ou então o retorno ao 
nefasto totalitarismo unilateral. Não há mais espaço para decisões que agradem uma minoria em 
detrimento de uma maioria. É só olhar para as “novas” lideranças populistas que emergem mundo 
afora com a promessa de resolver esta questão. 
O que fazer, então, com o Brasil de hoje? Estaríamos prontos, enquanto sociedade, a assumir 
esse novo modelo de fazer política? É o que veremos nos próximos anos, pois, para um desses 
lados, felizmente ou infelizmente, dependendo da percepção individual de cada um, nos 
encaminharemos. 
 
 
Disponível em: https://medium.com/neurotrix/o-brasil-de-hoje-%C3%A9tica-pol%C3%ADtica-e-
economia-o-que-podemos-fazer-ou-esperar-1439f2f319b4. Acesso em: 26 jul. 2019 (adaptado). 
 
 
 
 
20 
 
 
ATUAL SITUAÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL – CARTA 
DO GESTOR 
O Brasil e os brasileiros merecem! 
 
Nos últimos anos, vivemos a maior crise da história econômica brasileira. Perdemos 
praticamente uma década de crescimento, com o PIB caindo 8% num período de dois anos. O 
desemprego explodiu, justamente, num momento em que as famílias estavam endividadas após 
terem sido estimuladas a consumir. 
Com a economia encolhendo, a arrecadação caía, mas, mesmo assim, os gastos do governo 
cresciam. Parte por conta de despesas obrigatórias parte com subsídios e com a injeção – 
literalmente – de dinheiro na economia através dos bancos públicos. 
Não teve jeito. A conta não fechou e entramos no “cheque especial”. E, como qualquer devedor que 
está em situação financeira crítica, os juros ficaram altos! 
Juro alto é uma das maiores formas de transferir riqueza de poupadores para tomadores! 
Quem tem dinheiro para investir recebe boas taxas de retorno, enquanto quem tem dívidas paga 
altas taxas pelo dinheiro captado. E, na prática, isso acaba transferindo renda de pobres para ricos, 
aumentando a desigualdade. 
Depois de bater no fundo do poço, as equipes econômicas comandadas por Henrique 
Meireles (Ministério da Fazenda) e Ilan Goldfajn (Banco Central) conseguiram trazer a inflação para 
dentro das metas e reduzir fortemente os juros. Voltou a confiança e, imaginava-se, voltaria também 
o crescimento. Mas tanto em 2017, 2018 e (provavelmente) em 2019, essas expectativas se 
frustraram. 
Entrou o governo Bolsonaro, mudou a equipe econômica, mas não mudou a forma como a 
economia vinha sendo conduzida. 
Uma das principais diferenças entre o modelo atual e o adotado no início dessa década, era a 
mão forte do estado na economia. Quem não se lembra do PAC (Programa de Aceleração do 
Crescimento), subsídiosa setores industriais e outra série de medidas em que o estado injetava 
dinheiro na economia, tentando gerar demanda. Além de não ter funcionado, a conta surgiu logo e 
foi muito alta. 
Agora não há dinheiro público impulsionando o crescimento. Os balanços dos bancos públicos 
foram reduzidos, BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) está 
devolvendo dinheiro para a união e a expectativa é que o mercado comece a andar com suas 
21 
 
próprias pernas. O que é muito interessante – mas demora mais a ter efeitos nos números de 
crescimento. 
Isso, em parte, explica essa demora na retomada do crescimento. O governo também 
concentrou esforços na aprovação da reforma da previdência e poucas medidas de estímulo foram 
tomadas até momento. 
Agora temos a reforma da previdência – finalmente – passando pelo congresso. Mas não 
podemos esperar que de uma hora para outra o crescimento volte. Depois dessa fase será 
necessário tirar do papel uma série de projetos e propostas de estímulo à economia. 
Mas há fortes motivos para esperar que teremos pela frente um grande ciclo de crescimento. 
Os juros estruturalmente baixos, como estamos vendo agora, permitirão as empresas se financiarem 
a taxas de juros muito mais baixas. Taxas que até pouco tempo só eram acessíveis a um grupo 
seleto de “escolhidos” pelo BNDES. 
Podemos estar diante de um novo ciclo de crédito, com spreads mais baixos, novas emissões 
de ações e de títulos de empresas. Será o amadurecimento do mercado de capitais brasileiros 
aproximando-o de mercados de países mais desenvolvidos. E esse salto no mercado de capitais 
significará maior criação de empresas, expansão do mercado de trabalho e maior criação de riqueza. 
Da mesma forma que juros altos transferem renda de tomadores para poupadores, juros 
baixos servem como um grande estímulo ao investimento na economia real, ao invés de se buscar 
ganhos em ativos financeiros. 
Há uma cultura muito arraigada de que empresários são ruins e que o estado precisa cuidar 
dos seus cidadãos. Mas o fato é que o dinheiro que o estado dispõe para cuidar dos seus vem da 
arrecadação de impostos que, por sua vez, aumentam à medida que se gera mais riqueza. 
Estamos sim muito confiantes em um novo ciclo de crescimento do país. E dessa vez de uma 
forma diferente, ocorrendo por méritos próprios e com base muito mais consistente. O Brasil e os 
brasileiros merecem! 
 
 
 
Disponível: https://www.parmais.com.br/blog/atual-situacao-economica-do-brasil/. Acesso em: 22 jul. 
2019 (adaptado). 
 
 
 
 
 
 
22 
 
A ATUAL SITUAÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL 
Alberto Valle 
 
A atual situação econômica do Brasil e suas perspectivas 
 
A atual situação econômica do Brasil vem causando muita preocupação à toda parcela da 
população que depende do seu próprio trabalho para garantir seu sustento. 
Sejam empregados ou empresários, estão todos preocupados com os rumos que nossa 
economia vem tomando nos últimos tempos. 
Essa preocupação com a atual situação econômica do Brasil vem fazendo com que 
empresários adiem investimentos e novos empreendedores aguardem momentos menos incertos 
para iniciar seus projetos. 
Como em todo momento de incerteza, certa dose de pânico se confunde com a frieza dos 
números e por isso é importante termos uma visão real do que está acontecendo. 
 
O que é fato e o que é pânico 
 
 
 
Os números não deixam dúvidas sobre a gravidade da situação econômica brasileira, muito 
embora o governo tente mascarar a crise com interpretações convenientes e a negação dos dados 
captados pelas diversas consultorias econômicas, instituições de classe e até mesmo das próprias 
agências e órgãos governamentais. 
23 
 
A atual situação econômica do Brasil é tecnicamente de estagnação. A crise econômica de 
2016 não é mais apenas uma hipótese e consta como fato em toda pauta de reunião de empresários 
do país e também fora dele. Acreditar em mais uma história sobre “marolas” é negar a realidade 
econômica do país e abrir a porta para o fracasso. 
É claro que, como em toda situação de incerteza, principalmente em ano eleitoral, certa dose 
de pânico acaba se instalando. Esse também não é o caminho para a solução do problema, pois em 
momentos de histeria, decisões precipitadas podem também acabar destruindo o seu negócio. 
 
A origem do problema 
 
Os motivos que levaram a atual situação econômica do Brasil são muitos, mas alguns deles 
merecem um destaque especial. O primeiro deles é a total falta de investimentos em infraestrutura, 
que tem levado o país a perder competitividade tanto no ambiente interno quanto externo. A 
explicação para esse caos está na questão estratégica. 
O segundo grande motivo de termos chegado ao ponto em que chegamos foi a total falta de 
planejamento estratégico de longo prazo para nossa economia. O governo vem trabalhando com 
uma estratégia de reação aos fatos, uma verdadeira operação tapa buraco, onde medidas 
emergenciais são adotadas para tratarem problemas que seriam facilmente resolvidos se houvesse 
um planejamento macro. 
 
Uma mistura que não costuma dar certo 
 
O terceiro e talvez mais grave problema é a submissão da política econômica à política 
partidária. Isso tem levado a uma desestruturação da máquina pública que vem prejudicando todos 
os setores da sociedade, como a educação, saúde pública, segurança e obviamente a economia. 
O quarto motivo é a falta de credibilidade. Com escândalos se acumulando e a impunidade 
gracejando, mesmo que estivesse bem intencionado o governo não teria credibilidade suficiente para 
contar com apoio dos diversos setores da economia nacional. Este é o problema que nos deixa 
temerosos em relação ao futuro. 
Sem medidas duras e coordenadas, a situação econômica do Brasil tende a se agravar, e em 
meio a um quadro recessivo de maiores proporções, corremos inclusive o risco de o país ser 
seduzido pela heterodoxia econômica bolivariana adotada por nossos hermanos venezuelanos e 
argentinos com consequências trágicas. 
 
 
 
24 
 
Alternativas para a retomada do crescimento 
 
Que a economia brasileira vai mal, todo mundo sabe, mas a pergunta é: De que forma 
podemos nos preparar para enfrentar e vencer o desafio de levar o país de volta aos rumos do 
crescimento? No que diz respeito ao empreendedorismo nacional, como se preparar para a crise de 
2016 e estar pronto para uma eventual retomada do crescimento. 
Uma retomada da economia brasileira dependerá exclusivamente do Governo, pois segundo 
todas as análises, foi ele quem não fez seu papel em termos de fomento do desenvolvimento do 
país. Em resumo, não fez nem o seu dever diário e muito menos o dever de casa. 
Enquanto a agricultura, indústria e serviço davam seu sangue para atingir patamares de 
produtividade e competitividade, o Governo falhava no planejamento estratégico, infraestrutura e 
política fiscal. 
O ajuste fiscal é inevitável para provocarmos uma reversão da atual situação econômica do 
Brasil, pois o uso de artifícios cínicos como a chamada contabilidade criativa das contas públicas não 
dará condições para que o país volte a crescer, só jogará mais para frente uma crise maior. 
A atual situação econômica do Brasil pode ser revertida, mas se depender apenas dos 
empreendedores, sem a colaboração do governo, fica impossível. 
 
 
 
Disponível em: https://www.empreendedoresweb.com.br/atual-situacao-economica-do-brasil/. 
Acesso em: 22 jul. 2019 (adaptado). 
 
A ECONOMIA BRASILEIRA EM 2019: NOVA 
DECEPÇÃO? 
 
A continuidade de um crescimento decepcionante pode apontar uma conjuntura pior que a da famosa década 
perdida, avalia copresidente do Conselho de Economia,Sociologia e Política da FecomercioSP e professor da 
Universidade de São Paulo (USP) e da Fundação Dom Cabral, Antonio Lanzana 
 
Antonio Lanzana* 
 
Estimativas para o desempenho do PIB (Produto Interno Bruto) no início de 2018 indicavam 
um crescimento de 3%, segundo o boletim Focus, porém, as expectativas foram se deteriorando, e o 
25 
 
ano se encerrou com expansão de 1,1%. Existem muitas causas possíveis para esse 
recrudescimento no desempenho do PIB, entre elas, é válido citar: greve de caminhoneiros, 
ambiente internacional e incertezas eleitorais. 
Havendo no País uma continuidade de um crescimento decepcionante, é importante entender 
que o cenário é muito complicado. Isso significa que o Brasil estaria inserido em uma conjuntura pior 
que a da famosa “década perdida”, na qual o crescimento anual médio na década de 1980 era de 
1,6%. Ao considerar a década atual – dados consolidados de 2018 – e as previsões do boletim 
Focus para os anos que seguem –, resultaria em um crescimento médio anual de 0,9% ao ano. 
Em relação ao PIB per capita nacional, de abril de 2019 em 2018, está mais de 8% abaixo do 
observado em 2013. Isso significa que os brasileiros estão 8% mais pobres que no período em 
questão. 
O País ainda está longe de recuperar o que foi perdido nos anos recentes, e, segundo 
algumas simulações, se o PIB crescer 2% a.a., o Brasil somente atingiria o PIB per capita de 2013 
em 2025! E na possibilidade de crescer 2,5% a.a., a mesma riqueza per capita seria alcançada em 
2023. 
Tal qual observado em 2018, as estimativas para o desempenho do PIB vêm se reduzindo 
desde o início do ano: o Focus já ajustou de 2,5% para 2%; o IPEA, de 2,7% para 2%; e é importante 
entender que esses ajustes para baixo na taxa de crescimento da economia são frustrantes e 
deterioram as expectativas. 
Reverter esse cenário seria plausível caso o governo entregasse mais crescimento e emprego. 
Os primeiros indicadores de 2019 revelam que estamos crescendo a um ritmo mais lento que 
em 2018. Ou melhor, inseridos em cenário de desaceleração do ritmo de atividade. 
Em relação aos dados setoriais, o volume de vendas do comércio no Brasil, considerando o 
varejo restrito (IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), revela 1,9% na comparação 
interanual de janeiro, abaixo da média de 2018 em comparação a 2017, que era de 2,3%. Já em 
relação ao varejo ampliado, janeiro de 2019 em relação ao mesmo mês do ano passado aponta 
3,5% de alta, abaixo dos 5% oriundos da comparação anual entre 2018 e 2017. A mesma tendência 
é observada na produção industrial, sob a mesma base de comparação – e, nesse caso, não se 
pode descartar o efeito da crise Argentina, que afeta os bens manufaturados. 
O cenário global, como um todo, mostra algum desalento em relação aos resultados da 
economia brasileira. Houve certa euforia com os empresários e consumidores, sob a crença de que 
o governo poderia entregar mais do que, de fato, pode, e, por isso, há um movimento de revisão de 
expectativas. 
Entre os componentes da demanda agregada, um dos principais para puxar o crescimento da 
economia para cima neste ano é o consumo das famílias, ou seja, da demanda interna. Política fiscal 
está no caminho certo para garantir um bom cenário, mas é recessiva no curto prazo. 
26 
 
Em suma, o consumo das famílias depende da recuperação do nível de emprego, da renda, 
da confiança dos agentes e das condições de crédito. Com isso, os papéis do crédito e da retomada 
da confiança são notáveis. 
Não se pode esperar ainda redução nas taxas de juros praticadas pelo Banco Central (BC), 
pois se trata de um novo comando que ainda não tem sua credibilidade estabelecida. E é importante 
também entender que, na ausência de uma Reforma da Previdência – ou mesmo com uma reforma 
tímida –, haverá reflexo no câmbio e na inflação. 
A maior contribuição do BC ao crescimento é por meio da credibilidade e, principalmente, 
porque o Banco Central tem meta de inflação, não de crescimento! 
 
*Antonio Lanzana é copresidente do Conselho de Economia, Sociologia e Política da FecomercioSP 
e professor da Universidade de São Paulo (USP) e da Fundação Dom Cabral. 
 
 
 
Disponível em: https://www.infomoney.com.br/blogs/economia-e-politica/um-brasil/post/8172785/a-
economia-brasileira-em-2019-nova-decepcao. Acesso em: 22 jul. 2019 (adaptado). 
 
 
ECONOMIA E POLÍTICA EM 2019: QUAIS SÃO AS 
PREVISÕES DOS ESPECIALISTAS QUE ESTIVERAM NA 
AMCHAM 
 
Brasil – Analistas avaliaram Reforma da Previdência e Tributária, cenário econômico externo e composição de 
forças no governo Bolsonaro 
 
Em 2018, o PIB do Brasil cresceu 1,1% - o mesmo tanto de 2017, segundo a estatística oficial 
do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Esse resultado, apesar de estar longe do 
verdadeiro potencial da economia brasileira, mostra que o país parou de retroceder. O ano de 2018 
também foi importante na política: elegemos um novo presidente, Senado e Congresso, que terão o 
grande desafio de, nos próximos quatro anos, colocar o país de volta na rota do crescimento. 
É difícil prever o que acontecerá nos próximos quatro anos – mas, para o empresariado, é 
importante entender quais são as complexidades do cenário interno e externo que podem afetar a 
economia e os negócios do país. 
27 
 
Durante o mês de fevereiro, a Amcham recebeu diversos especialistas que compartilharam 
suas perspectivas para 2019. Veja abaixo o que os grandes especialistas que passaram por aqui 
estão pensando para os próximos meses: 
 
Cenário Internacional 
 
Durante o Comitê Estratégico de Diretores Comerciais em São Paulo (13/02), Alessandra 
Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria, lembra que o cenário econômico internacional é muito 
desafiador e que a economia mundial sofre uma desaceleração. Um dos principais motivos para isso 
é a guerra comercial entre Estados Unidos e China, além da desaceleração do crescimento chinês. 
Mesmo assim, ela cita que um maior cuidado com o endividamento por parte dos governos e a 
queda na liquidez internacional são pontos positivos. 
“Apesar dos riscos e desafios, podemos ter, no final das contas, algo que nos beneficia. O 
mundo que cresce menos de um lado, mas com condições financeiras um pouco mais folgadas do 
que antes”, comenta Ribeiro. 
 
Governabilidade moderada 
 
Para a especialista, a governabilidade de Bolsonaro ainda é um ponto sensível, já que foge 
dos modelos de coalizão que eram construídos por outros presidentes. Mesmo assim, ela acredita 
que será o suficiente para encaminhar a agenda fiscal, prioridade do governo. 
Outro ponto que deve facilitar a aprovação da agenda é a reeleição de Rodrigo Maia para 
presidente da Câmara – alguém bem articulado dentro do Congresso e que ajudou a aprovar 
medidas importantes no governo Temer. A eleição de Davi Alcolumbre para o Senado também foi 
algo positivo na perspectiva de Ribeiro – tanto Maia quanto Alcolumbre são do mesmo partido (DEM), 
o que deve facilitar a articulação entre as Casas. 
O consultor Thiago Vidal, gerente de análise política da Prospectiva, avalia que o governo 
Bolsonaro é formado por quatro grupos: dos economistas, militares, políticos e conservadores. “É 
uma visão sistêmica que ajuda a entender como o governo funciona”, argumenta, no comitê 
estratégico de Líderes Empresariais, em 21/2. 
Os economistas e os militares são os principais pilares, avalia. “O grupo de Guedes é mais 
coeso que o de Temer”, disse. Já o dos políticos é formado por parlamentares que serviram a outros 
governos. “Há políticos do DEM e MDB. Lorenzoni, Chefe da Casa Civil, é de partido tradicional”, 
exemplifica. “Chama a atenção, porque não há uma negação da estrutura políticaque ele havia 
28 
 
prometido na campanha. E não é uma crítica, porque mostra o que se pode esperar em termos de 
agenda”, disse. 
O quarto grupo é formado por especialistas que defendem uma agenda mais conservadora. 
Como exemplo, cita o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e a ministra da Mulher, da 
Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves. É um grupo com menos influência junto a 
Bolsonaro, segundo Vidal. 
“A agenda conservadora de costumes não vai prevalecer no início, porque pode ofuscar 
agenda econômica. E o que ancora as expectativas do governo é a agenda econômica.” 
 
Abertura comercial e privatizações 
 
Para Vidal, da Prospectiva, o governo deu indicações de que pretende trabalhar em um amplo 
acordo de abertura comercial com os Estados Unidos. “Bolsonaro e Guedes (Ministro da Fazenda) 
indicaram que não querem fazer uma abertura tão rápida quanto prometeram e o Custo Brasil é o 
principal componente dessa decisão. Mas vai haver preparação de uma abertura comercial sem 
precedentes. O que, na minha avaliação pessoal, é positivo”, disse. 
Em relação às privatizações, Vidal não se mostra tão confiante. Vai haver muito debate no 
Congresso sobre quais estatais podem ser vendidas sem projeto de lei. “Isso vai retardar um pouco 
o processo. A Eletrobrás, por exemplo, é um dos casos onde se vai discutir a necessidade de um 
projeto de lei. Mas as suas distribuidoras devem ser vendidas sem maiores polêmicas”, afirma. 
Além disso, vender ativos do estado não vai garantir muito caixa, acredita. “Muitas empresas 
públicas são deficitárias. O que vai dar dinheiro é o esvaziamento do BNDES (Banco Nacional de 
Desenvolvimento Econômico e Social), com a venda do BNDESPar. É na venda da participações do 
banco que estão as melhores oportunidades de fazer dinheiro.” Algumas das empresas que a 
BNDESPar tem participação acionária são a Fibria, Petrobras, Eletropaulo, Embraer, Vale e 
Eletrobrás. 
 
E a Reforma Tributária? 
 
Em pesquisa feita na Amcham em fevereiro com mais de 550 executivos, quase metade 
(48%) das pessoas colocou a simplificação e redução da carga tributária como a medida mais 
importante para aumentar a competitividade da economia brasileira. O item ficou à frente de opções 
como atração de investimentos e desburocratização, por exemplo. O levantamento mostrou a 
urgência do tema, também abordado durante o Comitê de Tributação em São Paulo (27/02). 
29 
 
Durante o encontro, Evany Oliveira, Diretora de Tax na PwC, afirmou que, pelo menos neste 
ano, não haverá uma ampla reforma tributária no país. No entanto, ela percebe que há uma vontade 
dos governos Estaduais e do Federal em reformar o ICMS (Imposto sobre Circulação de 
Mercadorias e Serviços). 
“Sinto a possibilidade de alguma mudança acontecer em função de reuniões em que participei 
com representantes das Secretarias das Fazendas dos Estados, para falar da simplificação tributária. 
Eles colocaram que o ICMS está velho, não está eficaz do ponto de vista de arrecadação e que é 
complexo do ponto de vista do contribuinte. Pelo menos desses representantes, senti o desejo de 
mudança”, relatou. A especialista também colocou que a recente reforma nos tributos corporativos 
nos EUA (Estados Unidos) pode inspirar medidas similares aqui no Brasil. 
Para Edison Fernandes, sócio do FF Law e colunista do Valor Econômico, o foco do governo 
agora é no controle da despesa pública – ou seja, todas as atenções estão voltadas para a Reforma 
da Previdência. “Antes da Reforma da Previdência, não vejo nenhuma discussão tributária no 
horizonte, até porque ainda não existe um projeto do governo. O que vem em termos de reforma 
tributária? Por enquanto, nada. A partir da previdência, discutiremos outras coisas”, analisa. 
O colunista enxerga que algumas medidas menores, que não dependem tanto do governo 
Federal, devem sair, como a unificação do PIS (Programa de Integração Social) e Cofins 
(CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL), e a tributação de 
dividendos. Sobre a alíquota de dividendos, ele faz um alerta: “Hoje, se eu faço transação na bolsa, 
meu imposto é 15%. Se colocar imposto sobre dividendos, Pessoa Jurídica ou investimento acima 
desse valor, eu, que tenho dinheiro, vou abrir um negócio ou especular na bolsa? Vou especular na 
bolsa. Isso tem que ser considerado para formular a alíquota”, indica. 
 
 
 
Disponível em: https://www.amcham.com.br/noticias/competitividade/economia-e-politica-em-2019-
quais-sao-as-previsoes-dos-especialistas-que-estiveram-na-amcham. Acesso em: 22 jul. 2019 
(adaptado). 
 
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DESIGUALDADE SOCIAL AVANÇA E HOJE OS POBRES 
PAGAM MAIS IMPOSTOS QUE OS RICOS 
 
 
 
A desigualdade na distribuição de riqueza em todo mundo está “fora de controle”, alerta um 
relatório da ONG (Organização Não Governamental) antipobreza Oxfam divulgado nesta segunda-
feira (21/01). Segundo o documento, em 2018, enquanto as camadas mais favorecidas acumulavam 
riquezas, as mais pobres ficavam ainda mais pobres, aumentando o abismo entre os dois grupos. 
A Oxfam afirma que, no ano passado, um novo bilionário surgiu a cada dois dias, enquanto o 
patrimônio dos 3,8 bilhões de indivíduos mais pobres diminuía diariamente em 500 milhões. As 
fortunas bilionárias aumentaram 12%, ou 2,5 bilhões de dólares por dia, enquanto as camadas mais 
pobres viram sua riqueza diminuir 11%. 
Segundo o relatório, os 26 indivíduos mais ricos do mundo concentram riqueza equivalente ao 
patrimônio dos 3,8 bilhões de pessoas que formam a camada mais pobre da população mundial, ou 
seja, 50% das pessoas em todo o planeta. 
Os sistemas tributários que pesam sobre as camadas mais desfavorecidas da população 
mundial aumentam a disparidade entre ricos e pobres e a insatisfação popular, afirmou Winnie 
Byanyima, diretora executiva da Oxfam International. Esse quadro traz efeitos negativos 
particularmente para as mulheres. 
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“Enquanto corporações e os super-ricos desfrutam de impostos baixos, milhões de meninas 
não têm acesso à educação de qualidade e muitas mulheres morrem por falta de cuidados na 
maternidade”, disse Byanyima. 
O relatório afirma que os governos subfinanciam cada vez mais os serviços públicos e 
subtributam os ricos. “Os pobres sofrem duplamente, com a falta de serviços essenciais e também 
ao pagar uma carga maior de impostos”, afirmou a diretora executiva da Oxfam. 
A ONG ressalta que os impostos sobre os mais ricos e as grandes empresas vêm sendo 
reduzidos nas últimas décadas. Quando os governos fracassam em taxar os mais ricos, a carga 
tributária recai sobre os mais pobres através de impostos sobre o consumo, como os impostos sobre 
o valor agregado (IVA). 
“Tributações indiretas como essa recaem sobre sal, açúcar ou sabão, recursos básicos de 
que as pessoas necessitam […]. Dessa forma, os pobres pagam uma fatia relativamente maior de 
seus rendimentos do que as pessoas ricas”, apontou Byanyima. 
Sistemas tributários mais justos podem contribuir para resolver o problema. A Oxfam afirma 
que se a camada de 1% dos mais ricos da população mundial pagasse apenas 0,5% a mais de 
impostos sobre suas riquezas, isso arrecadaria por ano mais que o suficiente para financiar os 
estudos de todas as 262 milhões de crianças que se encontram hoje fora da escola, além de garantir 
assistência médica que evitaria a morte de 3,3 milhões de pessoas. 
A ONG sugere que os governos reavaliem a tributação sobre riquezas, como os impostos 
sobre heranças de propriedades, que vêm sendo reduzidos ou eliminados em boa parte das nações 
mais desenvolvidas e sequer foram implementados nos países mais pobres. 
O relatório, divulgado pouco antes do início do Fórum Econômico Mundial de Davos, que 
reúne na Suíça lideresmundiais da política e dos negócios a partir desta terça-feira (22/01/19), é 
baseado em informações do registro de dados sobre a riqueza do banco de investimentos Credit 
Suisse e da “lista dos bilionários” da revista Forbes. 
 
 
Fonte: Deutsche Welle 
 
 
 
Disponível em: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/desigualdade-social-avanca-e-hoje-os-
pobres-pagam-mais-impostos-que-os-ricos/. Acesso em: 26 jul. 2019 (adaptado). 
 
 
 
32 
 
REFORMA NECESSÁRIA, MAS INSUFICIENTE 
Francisco Petros 
 
A economia brasileira necessita de muitas e profundas reformas para se desenvolver. 
 
A reforma da previdência social, lançada pelo governo no final de fevereiro/2019, parece ser 
uma resposta razoável às necessidades do país no que tange ao tema. A economia total em 10 anos 
deve gravitar ao redor de R$ 1,1 trilhão e virá pelo aumento a idade mínima para aposentadoria e 
pela redução do benefício, em alguns casos. Em 2018, a Previdência e Assistência social 
apresentaram um dispêndio da ordem de R$ 700 bilhões, cerca de seis vezes o que se gastou com 
saúde e dez vezes o que se gastou com educação. Assim não dá. 
As resistências às manobras legislativas que pretendem reduzir a gritante desigualdade nos 
gastos da previdência social vêm de dois segmentos muito simbólicos: de um lado a esquerda 
anacrônica que não reconhece a situação e defende o direito dos mais ricos. Marx teria calafrios, 
posso imaginar! De outro, os corporativistas, estes seres bem instalados no Congresso Nacional, 
cuja pregação sugere que todos serão injustiçados se houver reforma. De fato, os corporativistas 
desprezam os mais pobres e cuidam mesmo é de seu contracheque mensal. O discurso 
corporativista funciona apenas para segmentos das Casas Legislativas vez que a evidência 
demonstra que o funcionalismo, em geral, ganha cinco vezes mais que os "comuns" (maior parte do 
eleitorado), sendo que no caso de militares, procuradores e juízes essa diferença beira à imoralidade 
absoluta. 
Dá para ser otimista em relação à votação do tema ser proveitosa para a finança pública. A 
razão mais forte para isso é que, sem a reforma, Estados e municípios se tornarão inviáveis. Logo, 
os distintos representantes do povo e dos Estados terão de arbitrar entre (i) uma reforma 
previdenciária que torne mais isonômicos os ganhos de poucos milhões de funcionários públicos e 
(ii) uma crise federalista mais à frente. Sinceramente, acredito que suas excelências acabarão por 
preservar os cargos de prefeito e governador que sempre estão a cobiçar. Portanto, a previdência 
deve ser reformada porque finalmente aportamos no "espírito do tempo" no qual o Mefistófeles de 
plantão é o crescente déficit que engalfinha o Estado e seus asseclas. É claro que que as 
corporações, aqui e ali, tirarão nacos da reforma a seu favor. Contudo, o que estou a dizer é que, ao 
final do processo legislativo, o ganho fiscal será positivo e bom para o Brasil. 
Sem equívocos, pode-se afirmar que a reforma da previdência é condição prévia de qualquer 
reforma fiscal. O déficit previdenciário é tão avassalador que não se pode falar de reforma fiscal sem 
se falar de previdência. O que parece realmente discutível é a elaboração teórica de que a reforma 
da previdência trará inexoravelmente crescimento econômico. Isso pode acontecer ou não. É 
33 
 
verdade que os fatores de produção (capacidade instalada, empregos, etc.) estão bem desocupados 
que podemos aumentar rapidamente a produção sem que isso implique no curto prazo em aumento 
das expectativas de inflação. Por esse raciocínio a boa-nova da reforma da previdência soará como 
fator decisivo para o crescimento do consumo e do investimento. Será? 
A vontade de consumir e investir nasce do denominado "espírito animal" (conceito aristotélico 
tomado por Keynes na sua teoria econômica) daqueles que tomam no presente o risco de enfrentar 
o futuro opaco para realizar maior satisfação de consumo e lucros por investir. Ou seja, o processo 
racional de investir e consumir tem fortes componentes de expectativas. De forma breve, esse 
raciocínio parece englobar muito mais que o resultado da votação da reforma da previdência social. 
Há muito fatores que indicam que a economia brasileira perdeu tração para se desenvolver. 
Do papel letárgico do Estado para forjar o desenvolvimento por meio de políticas públicas até a 
queda sistemática da produtividade dos fatores de produção, inclusa a mão de obra influenciada pelo 
fator demográfico, há evidências de que a economia brasileira tende à estagnação. Somente com 
enorme esforço dos agentes econômicos é que será quebrada essa tendência estrutural. Assim 
sendo, muito embora a promessa liberal seja a de libertar o "espírito animal" dos empreendedores 
por meio de reformas pró-mercado (sem dúvida um aspecto positivo), parece relevante que se pense 
um modelo novo para o papel que o Estado exercerá nesse processo. Questões básicas, tais como 
a disponibilização ou facilitação do crédito, a melhora da infraestrutura, o treinamento da mão de 
obra, ainda estão pendentes de serem repensadas. Outros temas novos como a "revolução industrial 
4G", políticas de inovação tecnológica, a integração do país nas cadeias produtivas mundiais, 
necessitam de respostas eficientes e rápidas para que possamos surfar nas ondas das principais 
economias mundiais. 
O que temos verificado nos fatos disponíveis, no comportamento dos agentes públicos e 
privados, são movimentos muito desencontrados e tímidos. A economia brasileira necessita de 
muitas e profundas reformas para que possa voltar ao leito do desenvolvimento. A reforma da 
previdência social é fato essencial do processo, mas não é a revolução necessária para que o Brasil 
possa acompanhar a revolução que ocorre lá fora. 
 
 
 
Disponível em: https://www.migalhas.com.br/Decifras. Acesso: 19 jul. 2019 (adaptado). 
 
 
 
 
 
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A REFORMA DA PREVIDÊNCIA VAI TRAZER DE VOLTA 
CRESCIMENTO DA ECONOMIA? 
 
 
Quando ouvir dizer que o regime de capitalização é a salvação da Previdência, desconfie 
 
Regina Camargos 
 
Diariamente, a grande mídia e os analistas econômicos conservadores martelam nas nossas 
cabeças que sem a “reforma” da Previdência o país não voltará a crescer. A justificativa é que sem 
ela a situação financeira do governo entrará em colapso e não haverá recursos para investimentos 
em saúde, educação, segurança e infraestrutura. Como as opiniões contrárias praticamente não são 
veiculadas, a sociedade se torna refém dessa “verdade” e a aceita sem questionar. 
Uma visão diferente sobre a questão entende que a retomada do crescimento é pré-condição 
para o equilíbrio financeiro da Previdência – e não o contrário. Quando a economia se recupera, o 
nível de emprego formal volta a crescer e com ele a arrecadação das contribuições para a 
previdência, proporcionando, gradativamente, seu equilíbrio. De acordo com essa visão, a piora nas 
contas da Previdência entre 2015 e 2018 se deve à recessão – a mais grave da história do país – 
ocasionada por uma política econômica ultraliberal que promoveu drásticos cortes nos investimentos 
e gastos públicos, elevou as taxas de juros e restringiu o crédito. 
A retomada do crescimento poderia ocorrer por meio de uma política de crédito adequada, 
principalmente via bancos públicos; de uma reforma tributária que reduza impostos sobre o consumo 
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e aumente os que incidem sobre a riqueza; e da manutenção das políticas sociais para reduzir a 
pobreza e a desigualdade. 
A reforma da Previdência que está sendo proposta pelo governo Bolsonaro não promoverá a 
retomada do crescimento com distribuição de renda. Ao rebaixar os valores dos benefícios e 
dificultar

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