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HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO

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Mario Cruz

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Prévia do material em texto

HISTÓRIA DO 
PENSAMENTO 
ECONÔMICO
Professora Me. Carla Fabiana de Andrade Gonçalves Iori
GRADUAÇÃO
Unicesumar
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a 
Distância; IORI, Carla Fabiana de Andrade Gonçalves. 
 
 História do Pensamento Econômico. Carla Fabiana de Andrade 
Gonçalves Iori. 
 Maringá-Pr.: UniCesumar, 2018. 
 Reimpressão
 198 p.
“Graduação - EaD”.
 
 1. Pensamento. 2. História. 3. Economia. 4. EaD. I. Título.
 ISBN 978-85-459-0584-4
CDD - 22 ed. 330.9
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário 
João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828
Impresso por:
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de EAD
William Victor Kendrick de Matos Silva
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
NEAD - Núcleo de Educação a Distância
Direção Executiva de Ensino
Janes Fidélis Tomelin
Direção Operacional de Ensino
Kátia Coelho
Direção de Planejamento de Ensino
Fabrício Lazilha
Direção de Operações
Chrystiano Minco�
Direção de Polos Próprios
James Prestes
Direção de Desenvolvimento
Dayane Almeida 
Direção de Relacionamento
Alessandra Baron
Head de Produção de Conteúdos
Celso Luiz Braga de Souza Filho
Gerência de Produção de Conteúdo
Diogo Ribeiro Garcia
Gerência de Projetos Especiais
Daniel Fuverki Hey
Supervisão do Núcleo de Produção 
de Materiais
Nádila Toledo
Supervisão Operacional de Ensino
Luiz Arthur Sanglard
Coordenador de Conteúdo
Silvio César de Castro
Qualidade Editorial e Textual
Daniel F. Hey, Hellyery Agda
Design Educacional
Amanda Peçanha dos Santos; Yasminn Talyta 
Tavares Zagonel
Iconografia
Ana Carolina Martins Prado
Projeto Gráfico
Jaime de Marchi Junior; José Jhonny Coelho
Arte Capa
Arthur Cantareli Silva
Editoração
Ellen Jeane da Silva
Revisão Textual
Kaio Vinicius Cardoso Gomes
Ilustração
Bruno Cesar Pardinho
Viver e trabalhar em uma sociedade global é um 
grande desafio para todos os cidadãos. A busca 
por tecnologia, informação, conhecimento de 
qualidade, novas habilidades para liderança e so-
lução de problemas com eficiência tornou-se uma 
questão de sobrevivência no mundo do trabalho.
Cada um de nós tem uma grande responsabilida-
de: as escolhas que fizermos por nós e pelos nos-
sos farão grande diferença no futuro.
Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar 
assume o compromisso de democratizar o conhe-
cimento por meio de alta tecnologia e contribuir 
para o futuro dos brasileiros.
No cumprimento de sua missão – “promover a 
educação de qualidade nas diferentes áreas do 
conhecimento, formando profissionais cidadãos 
que contribuam para o desenvolvimento de uma 
sociedade justa e solidária” –, o Centro Universi-
tário Cesumar busca a integração do ensino-pes-
quisa-extensão com as demandas institucionais 
e sociais; a realização de uma prática acadêmica 
que contribua para o desenvolvimento da consci-
ência social e política e, por fim, a democratização 
do conhecimento acadêmico com a articulação e 
a integração com a sociedade.
Diante disso, o Centro Universitário Cesumar al-
meja ser reconhecido como uma instituição uni-
versitária de referência regional e nacional pela 
qualidade e compromisso do corpo docente; 
aquisição de competências institucionais para 
o desenvolvimento de linhas de pesquisa; con-
solidação da extensão universitária; qualidade 
da oferta dos ensinos presencial e a distância; 
bem-estar e satisfação da comunidade interna; 
qualidade da gestão acadêmica e administrati-
va; compromisso social de inclusão; processos de 
cooperação e parceria com o mundo do trabalho, 
como também pelo compromisso e relaciona-
mento permanente com os egressos, incentivan-
do a educação continuada.
Diretoria Operacional 
de Ensino
Diretoria de 
Planejamento de Ensino
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está 
iniciando um processo de transformação, pois quando 
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou 
profissional, nos transformamos e, consequentemente, 
transformamos também a sociedade na qual estamos 
inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu-
nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de 
alcançar um nível de desenvolvimento compatível com 
os desafios que surgem no mundo contemporâneo. 
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de 
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo 
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens 
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica 
e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con-
tribuindo no processo educacional, complementando 
sua formação profissional, desenvolvendo competên-
cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em 
situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado 
de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal 
objetivo “provocar uma aproximação entre você e o 
conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento 
da autonomia em busca dos conhecimentos necessá-
rios para a sua formação pessoal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cresci-
mento e construção do conhecimento deve ser apenas 
geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos 
que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou 
seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente Virtual de 
Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista 
às aulas ao vivo e participe das discussões. Além dis-
so, lembre-se que existe uma equipe de professores 
e tutores que se encontra disponível para sanar suas 
dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendiza-
gem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e 
segurança sua trajetória acadêmica.
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U
TO
R
A
Professora Me. Carla Fabiana de Andrade Gonçalves Iori
Mestrado em Desenvolvimento Regional e Agronegócio - Universidade 
Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), especialização em Gestão Financeira 
e Contábil, Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Paranavaí (FAFIPA) 
e graduada pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) em Ciências 
Econômicas. Atua como professora de Economia na Unicesumar desde 
2009. Foi instrutora de matemática financeira com utilização da calculadora 
financeira hp-12c no SENAC. De 2002 a 2011 atuou na instituição financeira 
HSBC Bank Brasil S/a Banco Múltiplo como gerente de negócios. Desenvolve 
pesquisas na área de Economia Política.
<http://lattes.cnpq.br/9999135590410897>
SEJA BEM-VINDO(A)!
Olá caro(a) aluno(a), seja bem vindo(a) ao livro de História do Pensamento Econômico. 
É uma imensa satisfação apresentar a você esse material. Ele é fruto do encontro viven-
ciado durante minha atividade estudantil e profissional. Isso porque é uma temática 
que me encanta desde a graduação em Ciências Econômicas na Universidade Estadual 
de Maringá, passando pela minha experiência em instituição financeira, quando pude 
perceber que o mercado obedece à “leis econômicas universais” e na carreira acadêmica, 
ao observar que a história é ferramenta explicativa de muitas realizações do presente. 
Trata-se de um trabalho de cunho exploratório e bibliográfico para atender a uma de-
manda de caráter didático informativo. Para isso fizemos uso de uma série de manuais 
de História do Pensamento Econômico que em muito contribuíram para que fosse pos-
sível essa compilação de assuntos. Obras como a de Stanley L. Brue, Hunt, Roberson 
de Oliveira e Adilson Gennari nos acompanharam durante todo o processo de desen-
volvimento da pesquisa. Ainda é importante expor que, pelo caráter interdisciplinar da 
economia, fizemos uso, por muitas vezes, da obra de Marilena Chaui: Convite à filosofia. 
Será uma viagem temporal entre a Antiguidade clássica e os dias atuais. Iremos nos re-
meterà Xenofonte (primeira metade do século IV a. C.) com o seu tratado de ética. Co-
nhecendo uma abordagem fundamental, possibilitando o resgate da noção ética em 
economia, como já tratado por Sen (1999). De modo que a proposta é que a economia 
precisa ser reavaliada para um sentido que transcende as finanças, ou seja, a riqueza não 
é o fim em si mesma. E sim, a economia é um meio de ordenar a produção e a distribui-
ção. Reavaliar o propósito hedonístico ao maximizar o bem individual em prol de uma 
noção mais ampla com vistas à sociedade.
Você perceberá que a economia é uma disciplina dinâmica e, desse modo, novas ideias 
se desenvolvem a todo tempo nesse contexto. Assim, será possível, querido(a) leitor(a), 
perceber que um pensamento é estendido e ampliado mediante outro. Mesmo permea-
do por críticas, um está necessariamente ligado ao outro. Em termos teóricos, nem sem-
pre, mas um atrás do outro vai obedecendo à temporalidade, submetido aos contextos 
presentes em cada espaço temporal. 
Assim, conhecerá a Escola Clássica, Escola Marxista, Neoclássica e Keynesiana. Todas 
elas, impreterivelmente, estavam sujeitas à expansão e concorrência de ideias, que nem 
sempre produziram “verdades” no sentido científico da palavra, mas generalizaram um 
grupo de princípios básicos da economia quase que universalmente aceitos. Esses prin-
cípios estão sempre surgindo e se renovando, contudo, muitas vezes, com o pé no pas-
sado. E dessa maneira percebemos que novas ideias raramente levam ao abandono da 
herança já existente e, isso é muito bom!
APRESENTAÇÃO
HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO
Por fim, é um trabalho introdutório e simplificado diante da proporção que é, de 
fato, o pensamento econômico nas suas mais diversas vertentes, que não podemos 
abordar por aqui por uma questão didática. É certamente um trabalho realizado 
com muita dedicação e seriedade por parte da Unicesumar, representada aqui pelo 
professor Silvio Castro, coordenador do curso de Ciências Econômicas, que confiou 
a mim esse trabalho, ao qual sou grata por ter a possibilidade de compartilhar meu 
conhecimento com vocês. Bons estudos!
APRESENTAÇÃO
SUMÁRIO
09
UNIDADE I
O PENSAMENTO ECONÔMICO NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA
15 Introdução 
16 O Papel da História na Ciência Social 
18 Os Primeiros Filósofos 
23 Os Romanos 
25 A Teologia e a Análise Econômica 
31 O Sistema Feudal e uma Análise Crítica 
45 Mercantilismo 
51 A Escola Fisiocrática 
56 Considerações Finais 
62 Referências 
63 Gabarito 
UNIDADE II
A ESCOLA CLÁSSICA
69 Introdução 
70 Visão Geral da Escola Clássica 
75 Adam Smith 
85 Thomas Malthus 
90 David Ricardo 
SUMÁRIO
10
98 Os Utilitaristas e a Utilidade 
106 Considerações Finais 
111 Referências 
112 Gabarito 
UNIDADE III
ESCOLA MARXISTA
115 Introdução 
116 A Teoria da História de Marx 
123 Teoria do Valor - Trabalho 
126 A Teoria da Exploração 
128 O Acúmulo de Capital 
131 O Conflito de Classes 
133 Considerações Finais 
138 Referências 
139 Gabarito 
SUMÁRIO
11
UNIDADE IV
A ESCOLA NEOCLÁSSICA
143 Introdução 
144 Os Marginalistas 
157 A Escola Neoclássica 
167 Considerações Finais 
172 Referências 
173 Gabarito 
UNIDADE V
A ESCOLA KEYNESIANA E OS DIAS ATUAIS
177 Introdução 
178 Contexto Histórico e Biografia de Keynes 
179 A Teoria de Keynes 
188 Neoliberalismo 
188 Escola de Chicago 
191 Considerações Finais
196 Referências 
197 Gabarito 
198 CONCLUSÃO 
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Professora Me. Carla Fabiana de Andrade Gonçalves Iori 
O PENSAMENTO 
ECONÔMICO NA 
ANTIGUIDADE CLÁSSICA
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Compreender a importância da história para as ciências sociais.
 ■ Conhecer a origem da economia por meio do pensadores gregos.
 ■ Refletir o relevante papel da teologia na análise econômica.
 ■ Analisar as características do sistema feudal.
 ■ Verificar as característica do Mercantilismo.
 ■ Demonstrar a relevância da questão agrária
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ O papel da história na ciência social
 ■ Os primeiros filósofos
 ■ Os romanos
 ■ A teologia e a análise econômica
 ■ O sistema feudal e uma análise crítica
 ■ Mercantilismo
 ■ A escola fisiocrática
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a)! A Unidade I deste material é responsável por nos remeter à 
importância da análise histórica para o pensamento econômico. Você vai per-
ceber, por exemplo, a relação intrínseca entre economia e filosofia.
É fundamental para todos aqueles que buscam compreender, ainda que de 
forma geral, o mundo/sociedade em que vivemos ser apresentado ao seu pas-
sado, de maneira a preservar a memória, à medida que conhecemos a importância 
de cada pensador que se ocupa em contribuir para o pensamento econômico. 
Destarte, podemos desenvolver um processo de reflexão para assumirmos o 
papel de tomadores de decisão dentro de um ambiente econômico em que somos 
todos co-responsáveis.
Trata-se de um caminho pontuado pela dimensão temporal que nos levará 
a perceber que a economia nasceu de um tratado sobre ética, no qual procu-
rava orientar o proprietário rural em como utilizar corretamente sua riqueza, 
fornecia informações acerca de agronomia, identificava as virtudes e qualida-
des necessárias para conduzir a família. E finaliza, ainda, em um tempo com a 
questão rural como centro das atenções.
A você, caro(a) aluno(a), será revelado que até o século XVIII a economia 
(como a conhecemos hoje) ainda estava em processo “gestacional” sob a ótica de 
pensadores gregos e pela Igreja Medieval. A partir da civilização grego-romana, 
no ano 1000 a.C., passa-se a notar uma preocupação pelos assuntos econômi-
cos, surgindo estudos embrionários sobre riqueza, valor econômico e moeda. 
Aprenderemos ainda sobre as ideias de: Platão, Aristóteles, os romanos, Santo 
Tomás de Aquino, Santo Agostinho, Lutero e João Calvino. Pensadores funda-
mentais da história antiga da economia. 
E na evolução do pensamento, será relevante tratar do papel do Mercantilismo 
e da primeira Escola da Economia, a Escola Fisiocrática.
Neste entretempo, o problema agrário era relevante. O sistema feudal é o 
ponto de partida para o entendimento do nosso sistema atual de produção. 
Ótima leitura!
Introdução
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O PENSAMENTO ECONÔMICO NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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O PAPEL DA HISTÓRIA NA CIÊNCIA SOCIAL
A história tem como objeto de estudo o “fato”, ou seja, tem um compromisso de 
trabalhar com aquilo que aconteceu (passado). Pode ter sido algo que ocorreu 
recentemente ou em tempos de escassos registros. Mais especificamente, trata-
-se de preservar a memória, apropriando-se do fator tempo, da cronologia dos 
fatos. A nossa aventura, caro(a) leitor(a), é adentrarmos no desenvolvimento do 
pensamento da economia. Para tanto, vamos conhecer datas, pensadores, enfim, 
vamos percorrer o pensamento econômico, para que o estudo possa contribuir 
com alternativas ao estado da atual ciência econômica. Portanto, é no campo 
da dimensão temporal do pensamento econômico; evolução das ideias econô-
micas, que você irá caminhar neste trabalho.
A partir do século XVIII, os filósofos estabeleceram que os humanos dife-
rem-se da natureza graças ao pensamento, à linguagem, ao trabalho e à ação 
voluntária livre, conforme Chauí (2014). Sob a perspectiva histórica, nos pauta-
mos na narrativadas “lutas reais dos seres humanos que produzem e reproduzem 
suas condições materiais de existência”. Em outras palavras, o trabalho é o que 
O Papel da História na Ciência Social
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caracteriza o ser social. A interação dos seres humanos se dá, por conta de sua 
especificidade de realizar transformações concretas na natureza para ter condições 
de existência. É por meio da atividade laborativa que o homem se desenvolve de 
um estágio pré-hominídeo para a noção de humanidade (ENGELS, 2015, p. 215). 
A aplicação do esforço humano (trabalho), buscando obter, por meio de 
bens ou de serviços, a satisfação das necessidades, para Gastaldi (2006), é o que 
caracteriza a atividade econômica. Estamos tratando, portanto, do modo como, 
em condições determinadas e não escolhidas por eles, os homens produzem 
materialmente (pelo trabalho, pela organização econômica) sua existência e dão 
sentido a essa produção material.
Temos aqui um ponto de chegada e partida. A partir da contextualização 
da importância da dimensão histórica temporal dos fatos; da diferenciação entre 
humanos e natureza; da noção da categoria trabalho, para a humanidade; e da 
relação trabalho/atividade econômica, podemos buscar o significado da pala-
vra economia.
O termo vem do grego oikonomikos e resulta da composição da palavra oikos 
(que significa casa ou unidade doméstica) com o radical semântico nom (que 
significa regulamentar, administrar, organizar). O sentido que essa palavra teve 
até meados do século XVIII foi estabelecido pela obra de Xenofonte (pensador 
grego que viveu entre 431 a.C. -355 a.C.) Ho oikonomikos, escrita na primeira 
metade do século IV a.C. é basicamente um tratado de ética. Para os gregos era 
inconcebível a ética fora da comunidade política (GENNARI, 2009).
As considerações do autor não constituem uma análise econômica pro-
priamente dita, pois não há, por exemplo, preocupação com os problemas da 
eficiência da produção ou da comercialização, mas apresenta noções de ges-
tão dos bens, do domínio sobre o núcleo familiar e os escravos. Tem expressões 
objetivas de como se estruturava uma “unidade familiar” entre os gregos anti-
gos. Trata-se de uma espécie de cartilha registrando noções de como ter uma 
vida boa. Com caminhos para o proprietário rural saber o que seria uma vida 
boa, a maneira correta de se utilizar a riqueza. Também identifica as virtudes e 
qualidades necessárias ao “senhor” para dirigir bem a sua casa e fornece orien-
tações rudimentares de agronomia. Ainda aborda sobre a educação e as virtudes 
das mulheres e, além disso, como os escravos devem ser dominados e educados.
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O PENSAMENTO ECONÔMICO NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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Esse conhecimento é relevante no entendimento da evolução do pensar eco-
nômico. Isso pois, estamos tratando do primeiro registro acerca de assuntos, 
considerados hoje, pertinentes à área econômica.
OS PRIMEIROS FILÓSOFOS
Momento relevante do nosso trabalho: podemos imaginar que a partir daqui 
nossa trilha vai se tornando mais nítida, em que os pensadores apresentam 
contribuições próprias para o pensamento econômico.
PLATÃO
A abordagem de Platão (428-27 a.C.- 348 - 47 a.C.), con-
temporâneo de Xenofonte, também trata da ética, mas sob 
o foco da pólis (é a cidade, não como conjunto de edifí-
cios, ruas e praças, e sim como “espaço cívico”). Deve-se 
à Platão a primeira análise que atribui a divisão social 
do trabalho o papel de promover a coesão da comuni-
dade. Chauí (2014) mostra que para o filósofo grego: “os 
sábios legisladores devem governar, os militares, subor-
dinados aos legisladores, devem defender a cidade e, os 
membros da classe econômica, subordinados aos legisladores, devem assegurar 
a sobrevivência da pólis”.
Para o filósofo, por meio da educação dos cidadãos (homens e mulheres) é 
que se poderia atingir a realização da “cidade justa”. Esta, sob a perspectiva platô-
nica é governada pelos filósofos, administrada pelos cientistas, protegidas pelos 
guerreiros e mantida pelos produtores. Para a situação de uma cidade governada 
pelos proprietários (que não pensam no bem comum da pólis e lutariam por 
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Os Primeiros Filósofos
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interesse próprios), ou na dos militares (que mergulharam a cidade em guerras 
para satisfazer seus desejos particulares de honra e glória) retrataria a situação de 
uma “cidade injusta”. Somente os filósofos apresentariam o interesse de cuidar do 
bem geral da pólis e somente eles podem governar com justiça (CHAUÍ, 2014).
Se para Platão a preocupação era a educação e formação do dirigente polí-
tico (o governante filósofo), para seu pupilo, Aristóteles (384 a.C. -322 a.C.) era 
a qualidade das instituições políticas (assembleias, tribunais, forma da coleta de 
impostos e tributos, distribuição da riqueza, organização do exército etc.) que 
assumia destaque, no que se referia à política de modo geral. 
ARISTÓTELES
Podemos elencar, caro(a) leitor(a), como sendo esse um ponto fundamental do 
nosso entendimento sobre a importância do legado do pensamento grego, como 
berço do pensamento ocidental das ideias econômicas. Aristóteles formulou con-
ceitos-chave que influenciaram todo o pensamento econômico produzido nos 
séculos seguintes. O filósofo se debruçou sobre as causas que levaram ao surgi-
mento da pólis, as relações entre o cidadão e a cidade, tratou dos tipos de governo 
e das condições de sua conservação e subversão. A abordagem dos temas econô-
micos aparece na obra quando ele trata das condições necessárias 
para a subsistência da família e da cidade (GENNARI, 2009).
As relações de troca com a natureza e com a comunidade, em 
geral, é, para Aristóteles a arte da aquisição. Haja vista que essa 
transação é determinante para a sobrevivência de cada família 
em particular e da cidade como um todo. Segundo sua análise, 
existem dois tipos de arte da aquisição: a aquisição natural ou eco-
nomia e a aquisição artificial.
A agricultura, pastoreio, caça, saque, troca, compreendem o 
que Aristóteles chama de aquisição natural. Para o filósofo, esse 
conjunto de atividades não fazem relação com comércio e troca. E 
sim, representam a dinâmica desenvolvida pelas famílias (econo-
mia doméstica) ou pela cidade (economia política) para obtenção 
O PENSAMENTO ECONÔMICO NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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dos meios necessários à vida. Para Aristóteles, os produtos obtidos diretamente 
da natureza, sem os quais a vida não é possível, constituem a verdadeira riqueza, 
e apenas eles são objetos da ciência econômica.
A aquisição artificial ou especulativa é caracterizada como todo tipo de ativi-
dade que elege o aumento da riqueza como um fim em si mesmo. Sem estabelecer 
limites de acumulação. Nessa perspectiva não se adquire coisa para consumir, 
mas sim, para voltar a trocar, comercializar. Nesse contexto, Aristóteles investi-
gou a origem e desenvolvimento da troca (GENNARI, 2009).
Ainda em Gennari (2009), entendemos que a troca advém do aparecimento 
da propriedade e do excedente econômico. As transações caracterizam a ocor-
rência de sobra para uma família ou tribo, enquanto para outra havia a falta. 
Naturalmente, essas trocas envolviam o problema da proporção em que, os pro-
dutos eram transacionados, istoé, implicavam relações de valor.
As necessidades de consumo são caracterizadas como fundamento da natu-
reza humana. No entanto, o comércio é uma modalidade de troca que consiste 
em comprar para vender mais caro, tem como meta o enriquecimento por isso 
contraria os fins da natureza.
Ao mesmo passo da ampliação do intercâmbio, surgiu a necessidade de 
um meio para facilitar as trocas, a criação da moeda. A análise monetária de 
Aristóteles contempla o valor intrínseco da moeda, o valor de face (nominal).
Ele também percebeu que ela assumiu outras funções à medida em que seu uso 
se generalizou. Além do meio de troca, tornou-se reserva de valor (riqueza) e 
meio de enriquecimento (capital usurário) (GENNARI, 2009).
Essa análise associativa do dinheiro à dupla função (meio de troca e reserva 
de valor) pode ser utilizada para se obter mais riqueza, particulariza uma “aqui-
sição inestimável no campo da análise econômica”, conforme Gennari (2009, 
p. 10), pois foi a primeira vez que se estabeleceu a diferença entre o dinheiro e 
o capital (dinheiro empregado para se obter mais dinheiro). Outra conclusão 
importante de seus estudos sobre a moeda, com decisiva influência no pensa-
mento econômico posterior, foi o reconhecimento de que o papel desempenhado 
pela moeda não está associado às características naturais e físicas, sendo muito 
mais resultado de uma convenção fixada pelo costume entre os agentes envol-
vidos na atividade de troca.
Os Primeiros Filósofos
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 Podemos perceber em Gennari (2009) que à medida em que o filósofo con-
sidera como “natural” obter a subsistência da família e da comunidade por meio 
da relação com a natureza, buscando obter os alimentos e os meios necessários 
à vida, subjetivamente, temos a noção de trabalho Aristóteles afirma que o “tra-
balho” deve ser mais valorizado quanto mais arte e a habilidade humana possam 
modificar o estado em que se encontra na natureza (ao acaso). Podemos susci-
tar, aqui, a ideia de que está posta a base de raciocínio para outros pensadores, 
que, na sequência, vão estudar a relação entre trabalho e valor das mercadorias.
Vale o destaque, dentro do contexto do trabalho para a ideia grega, que o 
labor estava relacionado com a miséria humana, portanto, desprezado. O trabalho 
estava ligado com o campo da necessidade. Tratava-se de uma nítida separa-
ção entre o mundo do “labor”, da “necessidade” e o mundo regido pela “razão”, 
tendo em vista que os sábios (como eram considerados os filósofos) tinham 
máxima importância para o pensamento grego. Assim, a única atividade digna 
dos homens livres era o “ócio”.
Sobre o problema da distribuição da riqueza, Aristóteles admitia que uma 
desigualdade excessiva entre os cidadãos colocava em risco a estabilidade polí-
tica e a coesão da comunidade, condições fundamentais para que ela pudesse 
atingir os seus fins mais elevados, isto é, a realização plena do cidadão. Para o 
pensador grego era de extrema importância evitar níveis extremos de desigual-
dade na distribuição da riqueza. A estabilidade da cidade dependia também da 
existência de uma numerosa “classe média”, que teria o papel de mediar as rela-
ções entre os ricos e os pobres, atenuando os conflitos e garantindo a coesão 
social (GENNARI, 2009).
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Figura 1 - Os filósofos gregos e a formação do conceito de comunidade cristã.
Fonte: adaptada de Gennari (2009).
É também merecedor de destaque o entendimento de que estamos tratando de 
satisfazer as necessidades humanas, como alimentação, vestuário, moradia etc. 
Os filósofos se ocuparam, também, em buscar a vida justa e feliz, dessa maneira, 
estamos tratando, prezado(a) aluno(a), propriamente da vida humana, digna 
de seres livres, então, é inseparável da ética. Você pode observar que Aristóteles 
desdobra a “economia”, tal como a entendemos, da política e da ética. Nesse sen-
tido, o filósofo analisa o problema da justiça/injustiça, especialmente no âmbito 
do que ele chama da “justiça particular” e, como elas se manifestam nas rela-
ções de troca. De acordo com sua abordagem, a “justiça particular” divide-se 
em distributiva e corretiva.
À medida em que o sistema escravocrata é exigência para que o cidadão 
possa exercer as funções políticas; a troca representa uma obrigatoriedade para 
o bem-estar do cidadão e da pólis; a equivalência nas trocas naturais (realizadas 
com outros homens), uma questão de justiça; a submissão à lógica da acumu-
lação, uma inversão entre meios e fins que se afasta da virtude; a distribuição 
equilibrada da riqueza e da propriedade, um requisito da coesão social da pólis. 
Apresenta-se um cenário em que a tradição passa a reconhecer as esferas de 
produção, troca ou comercialização, distribuição e consumo. Essas quatro áreas 
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representam a dinâmica da realização da participação política, da justiça, bem-
-estar e ética (GENNARI, 2009).
Analisada a questão para os filósofos, passamos para o momento em que se 
revela a importância de Roma, para a história mundial.
OS ROMANOS
Entre os romanos, os interesses estão relacionados, mais precisamente, com as 
questões de propriedades e riquezas dos cidadãos. Para tanto, vamos avançar na 
nossa investigação do pensamento econômico. É sobre a República aristocrática 
governada pelos grandes senhores de terras, os patrícios, e pelos representan-
tes eleitos pela plebe, os tribunos da plebe, que se desenvolve o nosso trabalho.
A contribuição de Chauí (2014) para nosso entendimento sobre a criação 
da República Romana (II a.C. a V d.C) é fundamental. Podemos caracterizá-la 
pelo poder atribuído ao “Senado” e ao “Povo Romano”. Essa instituição pode, 
em certas circunstâncias previstas na lei, receber “homens novos”, isto é, os ple-
beus que, por suas riquezas, casamentos ou feitos militares, passam a fazer parte 
do grupo governante.
Esse novo momento apresenta 
um deslocamento no papel da cidade 
e no sentido de vida comunitária nos 
termos em que foram formulados 
por Aristóteles. Em Gennari (2009), 
entendemos que há um novo tipo 
de associação que passa a enfati-
zar a defesa de direitos e interesses 
comuns definidos em lei e garan-
tidos pela justiça. O sentido ético 
se desprende em benefício de uma ©shutterstock
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inovadora concepção de cidade. Os cidadãos estão unidos por um conjunto de 
leis fundadas numa nítida e rígida separação entre res pública (coisa pública) e res 
privada (latim PRIVATUS, “colocado à parte, pertencente à si mesmo, antônimo 
da coisa pública) e, as instituições desempenham funções precisas de controle, 
justiça e operacionalização da vida na urbe (cidade). A lei é o “fio condutor” da 
comunidade, regula a economia, garante a autonomia e a liberdade do cidadão 
na esfera privada.
Uma administração centralizada, deliberada a partir da conciliação entre 
as leis da cidade (o direito romano) e as tradições jurídicas dos territórios con-
quistados, formaram a organização de um corpo jurídico comum, o jus gentium. 
Esse conceito é fundamental tanto na constituição jurídica e política do Ocidente 
quanto na formação do pensamento econômico moderno. Os juristas romanos 
foram os que mais tiveraminfluência na composição do pensamento econô-
mico. Merecem destaque, dois elementos cruciais do jus gentium para a história 
econômica:
1. Um direito de propriedade quase sem limites (propriedade privada legal).
2. Liberdade contratual semelhante aos padrões que vigoram atualmente.
Em Roll (1971, apud GENNARI, 2009) torna-se perceptível que os romanos 
consideravam o comércio e indústria, ocupações inferiores, dignas apenas de 
escravos, estrangeiros e plebeus, esses traços do direito romano são uma evidên-
cia da importância do comércio e da expressão do interesse privado durante o 
período do Império.
Essa contextualização estabelecida pelo direito romano promoveu a soberania 
do proprietário sobre seus bens e, por consequência, uma condição de entidade 
independente e autônoma. Dessa forma, à medida em que se potencializou a supe-
rioridade do indivíduo, ficou estabelecida a base do individualismo moderno.
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Figura 2 - O individualismo moderno como fruto do Direito Romano 
Fonte: adaptada de Gennari (2009).
A TEOLOGIA E A ANÁLISE ECONÔMICA
O poderio da Igreja cresce ao passo da deterioração e desmoronamento do 
Império Romano. Esse crescimento deve-se, primeiramente, à expansão do 
cristianismo pela obra de evangelização dos povos, realizada pelos padres nos 
territórios pertencentes ao poder de Roma e para além deles. E, um segundo 
motivo é o esfacelamento de Roma, que resultou numa formação socioeconô-
mica que ficou conhecida como feudalismo. É aqui, estimado(a) leitor(a), que 
destacamos como início da Idade Média.
Esse panorama é representado pela concentração de uma “classe”:
[...] de camponeses ligada à terra e vinculada aos aristocratas pelas 
obrigações em espécie e em trabalho, como contrapartida pela prote-
ção, produziu uma ordem social rigidamente hierarquizada e diferen-
ciada. Ao mesmo tempo, as guerras, os saques frequentes e a violência 
indiscriminada aceleravam a desarticulação do poder central que até 
então ordenava a vida, a justiça, a produção e a troca, compondo um 
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quadro no qual o homem se via isolado, impotente e frágil, vítima fácil 
de circunstâncias sobre as quais não tinha o menor controle. GENNA-
RI (2009, p. 18).
No período medieval, a Igreja, encontra nos argumentos de Aristóteles a base 
para condenar a acumulação de riqueza pelo comércio e, principalmente, pela 
usura (aquisição artificial ou caráter especulativo). Com o crescimento de seu 
poder econômico, obtido com a aquisição de parcelas imensas de terras e com a 
proeminência que ela exercia no plano cultural e espiritual, a Igreja reuniu con-
dições para exercer ampla hegemonia política na Europa Ocidental. Um dos 
pontos de vista decisivos dessa particularidade foi a grande empreitada dos seus 
principais teólogos, que realizaram um imenso esforço para tornar a religiosi-
dade cristã uma referência que fosse além da vida espiritual e mostrasse uma 
nova visão de mundo integrando a filosofia, a conduta humana (a ética) e os fenô-
menos da natureza e, que, inclusive, regulasse os processos da vida econômica. 
É apresentado um momento caracterizado pela falência de um modelo de 
civilização, de insegurança e de pessimismo em relação às possibilidades terrenas 
de realização humana. Do ponto de vista econômico, a ruralização que induziu à 
retração da agricultura mercantil e estimulou a produção destinada ao consumo a 
ponto de ela tornar-se hegemônica. No tocante à política, houve uma fragmentação 
do poder e da autoridade em uma infinidade de domínios que deram aos senhores 
feudais, na Europa Ocidental. Na esfera 
social, surgiu uma ordem rigidamente 
hierarquizada e desigual, reconhecida e 
aceita como natural e justificada por uma 
determinação divina, por meio dos ensi-
namentos dos Evangelhos dos primeiros 
teólogos e da filosofia clássica, que era 
valorizada por oferecer um modelo sofis-
ticado de articulação entre moral, ética e 
“análise econômica”.
Nesse espaço temporal, Santo Agostinho 
elaborou sua teologia e formulou suas consi-
derações sobre a “vida econômica”.
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SANTO AGOSTINHO (354-430)
Possivelmente, o mais destacado pensador cristão de toda a pri-
meira fase da Idade Média foi Santo Agostinho. A história atribui 
a ele a primeira formulação teológica abrangente e orgânica refe-
rente à fase de transição entre o mundo antigo e o medieval. 
A perspectiva agostiniana expressa uma profunda descrença 
no poder da cidade de promover as potencialidades humanas 
(visão grega) e de garantir a justiça e os interesses dos cidadãos 
(visão dos romanos). Ao pessimismo antropológico, em relação 
às possibilidades de realização humana elevada num ambiente 
terreno caótico e violento, correspondeu a potencialização das 
esperanças de realização espiritual, traduzida na possibilidade 
de salvação da alma.
Para Santo Agostinho, a concepção de justiça verdadeira só se efetiva no 
âmbito do cristianismo, de modo que confere uma concepção teocrática de 
poder, em que a Igreja cristã tem toda a legitimidade sobre a Sociedade Política.
Santo Agostinho pouco acrescentou às formulações dos juristas romanos. 
O comércio e o lucro comercial continuaram a ser condenados pelo teólogo, 
pois afastavam o homem do desejo de encontrar Deus. A atividade econômica 
deveria ser realizada atendendo aos requisitos do preço justo, como na análise 
de inspiração aristotélica. 
SÃO TOMÁS DE AQUINO (1225 - 1274)
 Você e eu sabemos que o poderio da Igreja foi determinante, no período Medieval, 
para o pensamento econômico. Não somente pela ideia de que recriminava o 
acúmulo de riquezas (por meio de empréstimo e juros), mas também pela con-
tribuição inestimável da escolástica, e São Tomás de Aquino é responsável por 
um imenso empreendimento teológico.
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A corrente tomista com orientação aristotélica contempla os atos huma-
nos de acordo com uma lei natural que, segundo o filósofo, é a participação da 
criatura racional na lei eterna. Conclui-se daí que Tomás de Aquino relaciona o 
agir humano e a norma moral de maneira transcendental. A Suma Teológica do 
pensador apresenta a conjugação harmônica do natural e sobrenatural, a ordem 
social e a transcendência da pessoa, a lei natural e a liberdade humana, o bem 
comum e o bem privado.
 O pensamento econômico de Tomás de Aquino é inseparável da com-
preensão do Direito Natural. Uma ética derivada da observação das normas 
fundamentais da natureza humana. Considerava a sociedade econômica como 
um sistema que deveria seguir os princípios da justiça cumulativa e distributiva 
e operar baseado na cooperação. Os componentes dessa sociedade eram consi-
derados partes especializadas e interdependentes que, deveriam se submeter às 
regras, operar de maneira cooperativa e ser coordenados por associações ou grê-
mios. O princípio fundamental para a sociedade econômica era preservar seu 
equilíbrio e respeitar o preço justo definido por Santo Tomás, tanto do ponto de 
vista formal quanto prático, e o Estado só deveria intervir no sistema em casos 
de absoluta necessidade.
A influênciada tradição aristotélica em Santo Tomás vai se manifestar em 
vários outros aspectos de seu “pensamento econômico”, em especial na maneira 
como via a riqueza, as relações entre indivíduo e coletividade, a propriedade, 
o comércio e a usura. As transações econômicas, de acordo com o pensador, 
deveriam ser consideradas dentro de seu contexto, desde que aconteçam como 
tentativas humanas de obter as matérias que a natureza proporciona para alcan-
çar certos fins. 
Para São Tomás, a riqueza e a propriedade poderiam trazer coisas boas 
mas também efeitos nocivos. Nessa perspectiva, o interesse individual deveria 
estar subordinado ao coletivo. Daí o repúdio à avareza, à cobiça, enfim, às prá-
ticas que conduzissem à exploração e a desigualdade no interior da comunidade 
(GENNARI, 2009).
A doutrina tomista avançou, à medida que expôs que a remuneração do 
comerciante pelo seu trabalho, numa proporção que garantisse a sua subsistência 
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e a da sua família, não violava a justiça, estabelecendo, pela primeira vez, que a 
“troca desigual” não é necessariamente injusta.
A ÉTICA PROTESTANTE: MARTINHO LUTERO E JOÃO CALVINO
O desenvolvimento da economia de mercado também influenciou o pensamento 
dos teólogos reformadores. Sob essa ótica, tanto a teologia católica como as ideias 
de Martinho Lutero e João Calvino, considerados teólogos protestantes, tiveram 
que fazer um enfrentamento ao sistema econômico vigente face às formulações 
teológicas tradicionais (GENNARI, 2009).
Martinho Lutero (1483-1546), no que se refere aos juros, assumiu as formula-
ções dos mais tradicionais teóricos canônicos da Igreja, criticando as alterações 
e as inúmeras exceções que foram elaboradas para acomodar a doutrina aos 
novos tempos.
O francês João Calvino (1509-1564), teólogo, também reformador do referido 
espaço temporal, defendeu a valorização do trabalho e o apego aos valores da 
vida simples e sem ostentação em detrimento do ócio. 
Calvino também acreditava que era possível identificar os seletos de Deus. 
Para ele, os destinados à salvação eram, necessariamente, portadores de uma 
graça divina que os diferenciava dos demais mortais e, esse “toque” 
divino se expressava por meio de uma vocação. Conforme Gennari 
(2009), o teólogo francês avaliou que os ganhos nos negócios, os 
lucros sob risco e as boas obras praticadas pelo cristão, podiam ser 
considerados expressão da vocação e, por consequência, a mate-
rialização da graça divina. Mas Calvino fazia questão de ressaltar 
que os sinais da escolha deveriam ser desfrutados com discrição, 
sem ostentação, luxo ou consumo excessivo. 
Calvino aprovava a cobrança de juros desde que regula-
das pelas autoridades públicas, estabelecendo limites nas taxas. 
Reconheceu ainda, a legitimidade do empréstimo desde que regu-
lado pelos princípios da equidade (regras iguais para todos) e da 
caridade.
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Para finalizar essa breve abordagem da temática teológica, com sua pro-
funda importância na história do pensamento econômico, faz-se pertinente 
evidenciar que há vinculação entre as ideias calvinistas e o processo de forma-
ção do capitalismo. Sem fazer salto histórico, mas considerando a importância 
do entendimento desse movimento da Reforma da Igreja. O sociólogo ale-
mão Max Weber apresentou uma visão aprofundada e precisa dessas relações 
nos seus ensaios publicados em 1904 e 1905 e, depois reeditados numa versão 
ampliada, em 1920, com o título de A ética protestante e o espírito do capita-
lismo. Segundo o autor, a Reforma contribuiu decisivamente para a dissolução 
de uma série de valores religiosos, morais e éticos. Esse contexto foi fundamen-
tal para “desobstruir” o caminho para as transformações econômicas e políticas 
que se sucederam ao final da Era Medieval.
Figura 3 - Protestantes e a riqueza segundo Calvino
Fonte: Rosa (2013). 
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O SISTEMA FEUDAL E UMA ANÁLISE CRÍTICA
Finalmente podemos entender que o sistema que passa a vigorar a partir do 
declínio do Império Romano, estava emoldurado em 
uma hierarquia feudal na qual o servo ou camponês 
era protegido pelos senhores feudais, que, por sua vez, 
deviam fidelidade e eram protegidos por senhores mais 
poderosos. Essa estrutura se estendia, indo até o rei. 
“Os fortes protegiam os fracos” (HUNT, 1989, p. 29), 
mas o faziam a um alto preço. Em troca de pagamento 
em moeda, alimentos, trabalho ou fidelidade militar, 
os senhores garantiam o feudo a seus vassalos. Como 
escora desse sistema, estava o servo, que cultivava a 
terra. Nesse contexto, a Igreja era muito forte e, maior 
proprietária de terras.
A sociedade medieval era predominantemente 
agrária. A hierarquia social era baseada nos laços do indivíduo com a terra e a 
ordem social, na íntegra, era agrícola. No entanto, os aumentos da produtivi-
dade agrícola constituíram o rompante para um encadeamento de profundas 
mudanças ocorridas ao longo de vários séculos e que resultaram na decompo-
sição do feudalismo medieval e no início do capitalismo. 
O mais importante avanço tecnológico da Idade Média foi a substitui-
ção do sistema de plantio de dois campos para o sistema de três cam-
pos. Embora haja evidência de que o sistema de três campos tenha sido 
introduzido na Europa já no oitavo século, seu uso não se generalizou 
antes do século XI. O plantio anual da mesma área esgotava a terra e 
acabava por torná-la inútil. Assim, no sistema de dois campos, metade 
da terra era sempre deixada ociosa, de modo que se recuperasse do 
plantio do ano anterior. Com o sistema de três campos, a terra arável 
era dividida em três partes iguais. [...] dessa mudança aparentemente 
simples na tecnologia agrícola resultou um dramático aumento do pro-
duto agrícola (HUNT, 1989, p. 32).
O espaço temporal que estamos falando envolve melhoramentos na agricultura 
e, por consequência, crescimento do comércio. O avanço das vilas e cidades con-
duziu ao desenvolvimento da especialização rural urbana. Outro importante 
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elemento é a ampliação do comércio de longa distância. Iremos percorrer agora, 
um cenário de estabelecimento de cidades industriais e comerciais para ser-
vir à essas transações. O crescimento dessas cidades, bem como seu crescente 
controle por capitalistas comerciantes, provocou importantes mudanças, tanto 
na agricultura quanto na indústria. Cada uma dessas áreas, particularmente a 
agricultura, teve enfraquecidos e, por fim, rompidos seus laços com a estrutura 
econômica e social feudal. 
Nessa trajetória do conhecimento histórico, estimado(a) leitor(a), a busca 
por aprender sobre a construção do homem e seu tempo está nos levando para 
um momento de expansão do comércio de longa distância. A partir do século XI, 
as cruzadas deram força a uma marcante expansão do comércio. Provavelmente 
você já conhece esse termo, mas vale lembrar, em breves linhas, a relevância 
desse movimento na história. A expressão “Cruzada” não era conhecida por 
esse nome no período em que ocorria. Os termos usados eram “Guerra Santa” e 
“Peregrinação” e faziam referência ao movimento de tentativa detomar a “Terra 
Santa” dos mulçumanos. Tratavam-se de tropas ocidentais enviadas à Palestina 
para recuperar a liberdade de acesso dos cristãos à Jerusalém. Dessa maneira, as 
Cruzadas não podem ser vistas como fator externo ou acidental no desenvolvi-
mento da Europa. Elas oportunizaram o renascimento do comércio na Europa. 
Muitos cavaleiros, ao retornarem do Oriente, surrupiaram cidades e organizaram 
pequenas feiras nas rotas comerciais. Houve, portanto, um significativo reaque-
cimento da economia no Ocidente.
Em Hunt (1989), vemos que as indústrias que apareciam nas novas cidades 
eram basicamente indústrias de exportação, nas quais o produtor estava distante 
do comprador final. No sistema artesanal feudal, o produtor (o mestre artesão) 
era também o vendedor, eles vendiam seus produtos aos comerciantes que, por 
sua vez, os transportavam e revendiam. Outra diferença importante é a de que 
o artesão feudal, de modo geral, eram também fazendeiros. O novo artesão das 
cidades desistiu da terra para dedicar-se inteiramente ao trabalho com o qual 
ele poderia obter uma renda monetária que poderia ser usada para satisfazer 
suas outras necessidades. 
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Conforme o comércio se desenvolvia e se expandia, aumentava a necessidade 
de manufaturados e mais confiança na oferta levava a um crescente controle do 
processo produtivo pelo capitalista comerciante. Aproximadamente no século 
XVI, o artesão que era proprietário de sua oficina, das suas ferramentas e maté-
rias-primas e, funcionava como um pequeno produtor independente, teve seu 
papel modificado pelo sistema de trabalho doméstico. Nesse ponto, predomina-
vam as indústrias de exportação, em outras palavras, o trabalhador já não vendia 
um produto acabado ao comerciante, vendia somente seu próprio trabalho.
O trabalhador já não vendia um produto acabado ao comerciante. Ven-
dia somente seu próprio trabalho. As indústrias têxteis estavam entre 
as primeiras em que o sistema de trabalho doméstico se desenvolveu. 
Tecelões, fiandeiros, tintureiros se encontravam numa situação em que 
sua ocupação e, portanto, sua capacidade de sustentar a si mesmo e 
suas famílias, dependia dos capitalistas comerciantes, que tinham que 
vender o que os trabalhadores produziam a um preço suficientemente 
alto para pagar salários e outras contas e ainda obter lucro (HUNT, 
1989, p. 10). 
Dessa forma, o controle capitalista se apresentava à medida que foi estendido ao 
processo de produção. Simultaneamente, foi criada uma força de trabalho que 
possuía pouco ou nenhum capital e nada tinha a vender, a não ser sua força de 
trabalho. Para Hunt (1989), essas duas características marcam o surgimento do 
sistema econômico do capitalismo. Desse modo, o Capitalismo não era apenas 
um sistema de produção de mercadorias, mas um sistema de acordo com o qual 
a força de trabalho transformara a si própria em uma mercadoria e se vendia e 
comprava no mercado, como qualquer outro objeto de troca. É importante res-
saltar a particularidade especial da força de trabalho: é a única mercadoria que 
cria outra mercadoria (IORI, 2014).
Ao examinar a história do capitalismo, Dobb (1983) situa a fase inicial 
deste sistema no período da segunda metade do século XI e início do século 
XII, na Inglaterra. Apresenta-se, nesse momento, uma generalização do grande 
comércio. Sua penetração combinou-se com o crescimento da produção local, 
destinada ao mercado com a progressiva substituição das oficinas confiadas aos 
servos na reserva senhorial, para a fabricação de objetos de uso corrente pelas 
oficinas urbanas. 
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Falar de “capitalismo” antigo ou medieval, porque haviam financistas 
em Roma e mercadores em Veneza, é um abuso de linguagem. Esses 
personagens jamais dominaram a produção social de sua época, asse-
gurada em Roma pelos escravos e na Idade Média pelos camponeses, 
sob diversos estatutos da servidão (VILAR, 1975, p. 40).
O capital começou a penetrar na produção em escala considerável, seja na forma 
de uma relação bem amadurecida entre capitalista e assalariados, em que pese, 
uma forma menos desenvolvida da subordinação dos artesãos domésticos, que 
trabalhavam em seus próprios lares, a um capitalista, própria do assim chamado 
“sistemas de encomendas domiciliar” (IORI, 2014).
Com efeito, a crise geral do feudalismo, nos séculos XIV e XV, deixa que 
flutuam algumas ilustres prosperidades urbanas, algumas brilhantes fortunas 
mercantis, essa visão é mais uma aparência que uma realidade. É o tempo do 
luxo, das grandes construções, dos mecenas das artes. Mas não é o auge produ-
tivo. As grandes burguesias enriquecidas vivem, daí em diante, de rendas, ou 
compram terras feudais, imitam os grandes senhores. Pode-se observar que são 
elas que sustentam sempre os senhores quando se produzem as guerras campo-
nesas. No interior das comunidades, as lutas de classe agravam-se e os sistemas 
representativos, que sempre foram oligárquicos, transformam-se. Por último, as 
cidades que haviam realizado as mais importantes “repúblicas mercantis”, as do 
Mediterrâneo, caem em decadência, pelo menos relativa, devido ao fato da con-
quista do Oriente pelos turcos e diante do próximo triunfo das rotas comerciais 
do Atlântico. Será agora em Flandres, na Inglaterra, em Portugal e Espanha onde 
aparecerão as novidades decisivas para a transformação do Ocidente europeu.
De fato, a primeira etapa da formação do capitalismo, depois da crise dos 
séculos XIV e XV, não poderia fundar-se senão por um avanço das forças pro-
dutivas: o que ocorreu entre meados do século XV e XVI. Foi precisamente ao 
longo da crise geral do feudalismo, que numerosas invenções vieram modificar 
o nível das forças de produção. O uso da artilharia obrigou a impulsionar a pro-
dução de metal. A difusão do pensamento humano com a invenção da imprensa, 
os progressos da ciência e da navegação desempenharam um papel não menos 
importante. Observa-se que, pela primeira vez, técnicas industriais e técnicas de 
comunicação ultrapassam a técnica agrícola. É o começo de um processo que 
colocará a indústria no primeiro plano do progresso. Apresenta-se um impulso 
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econômico para o momento que será interrompido pela injeção de riqueza externa 
oriunda da expansão marítima e colonial. A circunavegação da África, o desco-
brimento da rota das Índias por Vasco da Gama, o da América por Colombo e 
a volta ao mundo por Magalhães elevaram o nível científico e ampliaram a con-
cepção do mundo na Europa.
O grande comércio de produtos exóticos, de escravos e metais preciosos, vol-
tava a ser aberto e extraordinariamente ampliado. Uma nova era abria-se para 
o capital mercantil, mais fecunda que a das repúblicas mediterrâneas da Idade 
Média, porque dessa vez constituía-se um mercado mundial e seu impulso afe-
tava todo o sistema produtivo europeu e, porque grandes Estados (e não mais 
simples cidades) iriam aproveitar-se daí, para se constituírem (VILAR, 1975).
Ernest Mandel (1982) afirma que o modo de produção capitalista não se 
desenvolveu “em meio a um vácuo, mas no âmbito de uma estrutura sócio-e-
conômica específica, caracterizada por diferenças de grande importância”, por 
exemplo, na Europa ocidental, Europa oriental, Ásia continental, Américado 
Norte, América Latina e Japão. O sistema mundial capitalista é, em grau conside-
rável, precisamente uma função da validade universal da lei de desenvolvimento 
desigual e combinado.
Caro(a) leitor(a), um requisito histórico era a concentração da propriedade 
dos meios de produção em mãos de uma classe, consistindo de apenas uma parte 
pequena da sociedade e o aparecimento consequente de uma classe destituída 
de propriedade, para a qual a venda de sua força de trabalho era a única fonte 
de subsistência. Mandel (1982, p. 29) descreve que: “O movimento efetivo do 
capital manifestamente começa a partir de relações não capitalistas e prossegue 
dentro do quadro de referência de uma troca constante, exploradora, metabó-
lica, com esse meio não capitalista.” A atividade produtiva era por isso suprida 
por ela, não em virtude de compulsão ou obrigação legal, mas na base de um 
contrato salarial. 
Torna-se claro que tal definição exclui o sistema de produção artesanal inde-
pendente, no qual o artesão possuía seus próprios e modestos implementos 
de produção e empreendia a venda de seus próprios artigos. Não existia qual-
quer divórcio entre a propriedade e o trabalho, a não ser nos o artesão recorria 
em qualquer medida ao emprego de diaristas, era a venda e compra de artigos 
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inanimados, e não da mão de obra humana, no que constituía sua preocupação 
primária. O que diferencia o uso dessa definição quanto às demais é que a exis-
tência do comércio e do empréstimo de dinheiro, bem como a presença de uma 
classe especializada de comerciantes ou financistas, ainda que fossem homens 
de posses, não bastava para constituir uma sociedade capitalista. Os homens de 
capital, por mais aquisitivos, não bastam. É fundamental apreender que o capi-
tal tem de ser usado na sujeição da força de trabalho à criação da mais-valia na 
produção (DOBB, 1983).
Busca-se a definição de um sistema econômico na intenção de perceber 
que cada período histórico é modelado sob a influência preponderante de uma 
forma econômica única, mais ou menos homogênea e deve ser caracterizado 
de acordo com a natureza desse tipo predominante de relação socioeconômica. 
Cada etapa apresenta uma característica nas situações históricas que, simulta-
neamente, propicia a homogeneidade de configuração a qualquer tempo dado, 
e torna os períodos de transição, quando existe um equilíbrio de elementos dis-
cretos, inerentemente instáveis. Isto, pois, a sociedade se acha constituída de 
maneira que o conflito e interação de seus elementos principais, ao invés do 
crescimento simples de algum único elemento, formam o fator principal de 
movimento e mudança, pelo menos no que diz respeito às transformações prin-
cipais. Se esse for o caso, uma vez que o desenvolvimento tenha atingido certo 
nível e os diversos elementos que constituem aquela sociedade estejam dispos-
tos, de certo modo, os acontecimentos deverão marchar com rapidez incomum, 
não apenas no sentido de crescimento quantitativo, mas no de uma alteração de 
equilíbrio dos elementos constituintes, resultando no aparecimento de compo-
sições novas e alterações ou mudanças mais ou menos abruptas na tessitura da 
sociedade. É como se em certos níveis de desenvolvimento, fosse acionado algo 
como reação em cadeia.
A transformação da forma medieval de exploração do trabalho excedente para 
a moderna não foi processo simples que possa ser apresentado como uma tabela 
genealógica de descendência direta, mas ainda assim, entre os redemoinhos desse 
movimento a vista pode distinguir certas linhas de direção do fluxo. Tais linhas 
incluem não apenas modificações na técnica e o aparecimento de novos instru-
mentos de produção, que aumentaram grandemente a produtividade do trabalho, 
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mas uma crescente divisão do trabalho e, por consequência, o desenvolvimento 
das trocas, bem como uma crescente separação do produtor quanto à terra e aos 
meios de produção e seu aparecimento como um proletário. Dessas tendências 
orientadoras na história dos cinco séculos passados, Dobb (1983), assevera que 
uma importância especial se prende à última, não só porque foi tradicional-
mente atenuada e decentemente encoberta por fórmulas acerca da passagem de 
status para contrato, mas porque no centro do palco histórico trouxe consigo 
uma forma de compulsão ao trabalho para outrem, que se mostra puramente 
econômica e “objetiva”, lançando assim uma base para aquela forma peculiar e 
mistificadora pela qual uma classe ociosa pode explorar o trabalho excedente dos 
outros e que é a essência do sistema moderno ao qual chamamos capitalismo. 
Na Inglaterra, a pequena propriedade e o gozo dos direitos contribuíram para 
desenvolver, a partir do século XIV, uma classe rural precocemente comprome-
tida na produção artesanal e na comercialização dos produtos. Por essa mesma 
razão, a diferenciação entre aldeões ricos e pobres e o incentivo de grandes lucros 
conseguidos sobre os campos de pastagem, devido à extensão da indústria de 
lã, trouxeram, como consequência, uma expulsão em massa dos pequenos agri-
cultores durante os séculos XV e XVI e uma apropriação sistemática de suas 
parcelas, concomitantemente a das terras comunais, pelos grandes proprietá-
rios. A legislação foi impotente contra esse movimento, e foi contra os pobres, 
desocupados e vagabundos que a lei acabou voltando suas armas. A primeira 
“lei dos pobres”, no reinado de Elizabeth, preparou, sob o pretexto de ajuda obri-
gatória, essas futuras “casas de trabalho” nas quais o pobre “que não tinha onde 
cair morto” seria colocado à disposição do produtor industrial (VILAR, 1975).
Expropriação e proletarização são os dois termos da “acumulação primitiva” 
no estado puro, a perfeita separação, mediante a violência legalizada, do pro-
dutor com seus meios de produção. Por isso, Marx elegeu o exemplo inglês dos 
séculos XV e XVI como símbolo. É no século XVIII que o processo é concluído 
e somente na Inglaterra apresenta-se de uma maneira radical. Vilar (1975) des-
creve que a colonização europeia, em escala mundial, determina outro aspecto da 
acumulação primitiva. Ela se realiza por mecanismos bastante variados, a saber:
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Os saques - delicadas joias arrebatadas dos índios das ilhas, imensos tesouros 
dos príncipes mexicanos e incas; tudo foi diretamente transferido para a Europa. 
É correto que os “conquistadores” espanhóis e o imperador Carlos V dedicaram, 
essencialmente, esses primeiros lucros a suas empresas militares ou suntuárias, 
mas o ouro passou às mãos dos mercadores, dos banqueiros que, converteram-
-se nos intermediários da aventura colonial.
É imaginável, conforme Dobb (1983), que uma economia não pode basear-
-se durante muito tempo no simples e puro saque, tampouco deve-se crer que 
se tratou de um breve episódio. Os holandeses, que difundiram uma versão das 
crueldades espanholas na América, não foram menos cruéis nas ilhas do Extremo 
Oriente, as quais ocuparam no século XVII e nem os ingleses na Índia (século 
XVIII). Além do que, desde o tempo de Elizabeth, uma das grandes fontes de 
enriquecimento da corte real inglesa foi a pirataria, a pilhagem direta dos car-
regamentos espanhóis. A essa economia de pilhagem, a colonização acrescenta 
uma exploração contínua e sistemática.
Historiadores constataram, na Europa do século XVI, uma chegadaem massa 
de ouro e de prata, isto vai desencadear uma “revolução nos preços”; o preço dos 
produtos europeus sobe, Dobb (1983) estima que o aumento seja na proporção 
de 1 para 4. Como os salários sobem muito menos, produz-se uma “inflação de 
lucros”, é o primeiro grande episódio de criação capitalista. 
No século XVI, a quantidade de ouro e prata em circulação na Europa 
aumentou por consequência do descobrimento das minas americanas, 
mas ricas e fáceis de explorar. O resultado foi que o valor do ouro e da 
prata diminui em relação ao de outros artigos de consumo. Continu-
ava-se a pagar aos trabalhadores os mesmos salários por sua força de 
trabalho. Seu salário-dinheiro manteve-se estável, mas seu salário di-
minuiu, porque em troca da mesma quantidade de dinheiro recebiam 
uma quantidade menor de bens. Este foi um dos fatores que favore-
ceu o crescimento do capital e o Ascenso da burguesia no século XVI 
(DOBB, 1983, p. 80).
 Essa situação representa apenas um dos fatores que favoreceu o avanço produ-
tivo no século XVI. Marx considera ainda que, nesse período, primeiramente, 
a quase totalidade da produção não é obtida sob o regime de assalariamento (a 
economia é feudal ou artesanal); é a alta dos preços que vai favorecer a instalação 
do assalariamento (fase preparatória do capitalismo, na acumulação “primitiva”). 
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Uma segunda consideração é que o lucro capitalista é apenas facilitado, não é 
medido pela distância que se estabelece entre preços e salários; depende, com 
efeito, do tempo de trabalho incorporado numa determinada mercadoria, com-
parado com o tempo de trabalho incorporado no salário do trabalhador que o 
produziu, mas esse tempo de trabalho depende de condições muito complexas 
(intensidade, organização, aparelhagem técnica) e não somente de variações 
monetárias; por último, os preços europeus não sobem no século XVI porque 
o ouro e a prata são “mais abundantes”, sobem porque o preço de custo do ouro 
e da prata diminuem; portanto, os lucros são extraídos mais do trabalho dos 
mineiros americanos que da exploração crescente dos trabalhadores europeus.
Vilar (1975) descreve que o trabalho na América, em suas diferentes formas 
(escravismo, encomienda, mitas, compromisso entre esse trabalho forçado e um 
salário), foi extenuante; os índios das ilhas (São Domingos, Cuba) pereceram 
em massa; a população do México, por sua vez, também caiu; por isso, a partir 
de 1600, o preço de custo do metal precioso aumentou e, portanto, o preço das 
demais mercadorias começou a baixar na Europa. Os lucros eram então obti-
dos com menos facilidades e, no século XVII a acumulação primitiva de capital 
foi menos intensa que no século XVI; voltou a subir no século XVIII, quando 
o Ascenso demográfico e a exploração colonial reorganizada permitiram nova-
mente que fossem diminuídos os preços de custo da extração mineira (ouro do 
Brasil, minas mexicanas): desse modo, vemos que a intensidade da acumula-
ção monetária na Europa, condição para a instalação do capitalismo, dependeu 
do grau de exploração do trabalhador americano. Isso não vale somente para as 
minas. O ouro e a prata são mercadorias. O açúcar, o cacau, o café, as madei-
ras tintoriais podem provocar fenômenos análogos. A acumulação primitiva 
do capital europeu dependeu tanto do escravo cubano quanto do mineiro dos 
Andes. “O escravismo velado dos assalariados europeus, não podia instalar-
-se senão sobre o escravismo sem disfarce dos trabalhadores do Novo Mundo” 
(KARL MARX, 1989, p. 91).
Diante desse panorama, contextualiza-se o capital usurário e o capital mercan-
til em que a acumulação monetária é obtida, a princípio por meio do empréstimo 
usuário para o consumo: no nível mais baixo, em cada aldeia, o homem que tem 
disponibilidades monetárias, pode emprestar, com juros muito elevados, ao 
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camponês que não tem do que viver, o necessário para comprar a semente ou uma 
ferramenta, ou para pagar o imposto; no nível mais alto, os grandes mercadores 
ou banqueiros emprestam aos grandes senhores ou aos príncipes; é mais peri-
goso; pode haver falências, confiscos, mas ao mesmo tempo é remunerador. A 
especulação sobre a escassez é outro modo de acumulação: as carestias são peri-
ódicas, e aqueles que podem acumular grão, o vendem, no momento oportuno, 
a quem oferece mais. Esses “açambarcadores” são detestados, mas enriquecem. 
Uma terceira situação é a especulação comercial a partir dos produtos valiosos, 
que alimenta o capital mercantil propriamente dito, relacionando pontos do globo 
nos quais as condições de produção são completamente distintas e monopoli-
zando pequenas quantidades de produtos de grande valor, o mercador da Idade 
Média realizava operações aventureiras, mas lucrativas. Os primeiros mercado-
res portugueses e espanhóis, que colocaram Lisboa e Sevilha em relação com o 
Extremo Oriente e com a América, não fizeram outra coisa. Os conquistadores 
e colonos dos primeiros tempos estavam dispostos a dar muito ouro (lhes cus-
tava pouco) em troca de azeite, vinho ou tecidos chegados da Europa. Foi esse 
primeiro contato entre condições coloniais e condições europeias o que, em pri-
meiro lugar, causou a alta de preços. Todos os mercadores do continente afluíram 
às feiras da Península Ibérica. Foi o maior boom histórico do capital mercantil 
(VILAR, 1975).
Mas um movimento de tal envergadura levava em si sua própria contradi-
ção: em primeiro lugar, aqueles países onde os preços subiram demasiado foram 
eliminados pela concorrência; foi o caso da Espanha, onde o afluxo de dinheiro 
traduziu-se numa pirâmide de dívidas, rendas e censos tão perfeitamente para-
sitários, que a economia espanhola atingiu seu auge e foi eliminada do processo 
capitalista, do qual fora o ponto de partida. Por outra parte, quanto mais dinheiro 
circula, mais difícil é exigir lucros usurários. Dobb (1983) é incisivo ao afirmar 
que a usura não morreu pelas inúteis condenações lançadas pela igreja; mor-
reu devido à circulação de dinheiro. Por último, na medida em que a navegação 
progredia, o “mercado mundial” passava a ser uma realidade cotidiana e, con-
sequentemente, desapareceram cada vez mais as oportunidades para a grande 
especulação comercial. Os preços tendem a igualarem-se.
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Apresenta-se um aspecto dialético do fenômeno: a acumulação primitiva de 
capital engendra sua própria destruição. Numa primeira fase, a alta dos preços, o 
aumento dos impostos reais, os empréstimos grandiosos estimulam os usurários 
e os especuladores, mas, no final, em graus diferentes, segundo os países, as taxas 
médias de juros e dos lucros tendem a igualar-se e a diminuir. Então, é necessá-
rio que o capital acumulado busque outro meio de reproduzir-se. É preciso que 
os homens de dinheiro – que se haviam mantido relativamente à margem da 
sociedade feudal – invadam todo o corpo social e tomem o controle da produção.
É no curso do século XVII, menos favorável aos lucros extraídos das colô-
nias, que os mercadores, aproveitando as dificuldades do artesanato corporativo 
e o excesso de mão de obra existente no campo, põem-se a distribuir primeiro 
a matéria-prima e logo após instrumentos de produção (matérias têxteis), tanto 
a domicílio entre os camponeses, quantoàs grandes oficinas (em geral privi-
legiadas pelo Estado). Dobb (1983), considera a época da “manufatura”, uma 
importante etapa em direção ao capitalismo. E classifica em três dimensões, a 
saber, primeiramente, porque realiza na indústria, a separação entre produtor e 
meio de produção; concorre a duras penas com o artesanato corporativo e, por 
último, organiza a divisão do trabalho, que aumenta de modo considerável a 
produtividade do trabalho individual.
O domínio do capital mercantil corresponde, na Europa Ocidental, a uma 
nova estrutura do Estado. Às vezes, como na França, esse Estado favorece dire-
tamente à manufatura. Os impostos, cuja importância aumenta, são cobrados 
geralmente mediante o sistema de fermes, ou seja, por companhias de financistas 
privados, que guardam para si grande parte dessas cobranças feitas a partir do 
produto nacional, é uma importante fonte de acumulação monetária. A organi-
zação do crédito e o aparecimento dos primeiros bancos estatais se fazem baixar 
as taxas de juros usurários, em contrapartida, mobilizam o dinheiro dos “capi-
talistas” nas mãos de grupos restritos e poderosos. Por último, o Estado protege 
a produção nacional por intermédio das aduanas e da marinha nacional, pelos 
“atos de navegação” (que lhe reservam os transportes).
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A finalidade de todas estas medidas é bastante consciente; é expresso amiúde 
pelos economistas “mercantilistas”, que representavam, como mostrou perfei-
tamente Marx, a forma primitiva e ingênua, do capitalismo: a finalidade de 
qualquer atividade é “fazer dinheiro”, a nação é rica se tem um saldo positivo 
de metais preciosos; pouco importa como é distribuído esse saldo, confundem-
-se “lucro nacional” e lucro dos comerciantes (que, por sua vez, se confundem 
com os industriais).
O país mais característico dessa fase é a Inglaterra do final do século XVII. 
A evolução que sofreu desde o século XV – concentração da propriedade agrá-
ria, proletarização da mão de obra, atividade marítima e colonial – permitiu-lhe 
superar definitivamente os países dos primeiros descobrimentos – Espanha e 
Portugal, paralisados pelo excessivo afluxo de dinheiro e o parasitismo das ren-
das – e evoluir mais depressa que a Holanda (privada de recursos industriais) e a 
França (onde a estrutura agrária resistiu ao movimento de concentração das pro-
priedades e de “cercamento” das terras comunais). Marx expressou esse avanço 
da Inglaterra com a seguinte frase:
os diferentes métodos de acumulação primitiva, que a era capitalista faz 
aparecer, dividem-se, primeiro, por ordem mais ou menos cronológica, 
entre Portugal, Espanha, Holanda, França e Inglaterra, até que esta úl-
tima combina-os todos, no último terço do século XVII, num conjunto 
sistemático que inclui por sua vez o regime colonial, o crédito público, 
as finanças modernas e o sistema protecionista (MARX, 1989, p. 71).
Será também na Inglaterra que aparecerão, no curso do século XVIII, as novidades 
que caracterizam de forma decisiva a nova era, a era capitalista. O aparecimento 
do maquinismo: a partir de 1730, e, sobretudo a partir de 1760, ocorre uma série 
de invenções que irão substituir a
[...] “manufatura” pela “maquinofatura”, ou seja, que permitirão por sua 
vez multiplicar a produtividade do trabalho humano, reduzir este mes-
mo trabalho a um mecanismo cada vez mais abstrato, cada vez menos 
unido ao objeto produtivo (de forma contrária ao trabalho artesanal), 
e, por último, utilizar uma mão de obra de força reduzida: é a mobili-
zação maciça do trabalho de mulheres e crianças. Estas invenções são 
as que concernem à metalurgia (fundição do carvão) e, por último, à 
máquina a vapor. Este avanço das forças produtivas é necessário para 
subverter as estruturas econômicas e sociais. Daí em diante, a produ-
ção industrial em massa será a fonte essencial do capital, pela distância 
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estabelecida entre o valor produzido pelo operário e o valor que lhe é 
restituído sob a forma de salário por aqueles que dispõem dos novos 
meios de produção (máquinas, fábricas). A era da “acumulação primi-
tiva” terminou. Tudo irá tornar-se “mercadoria” e as relações sociais se 
estabelecerão exclusivamente em termos de dinheiro. Já não há mais 
“feudalismo” (VILAR, 1975, p. 47-48).
As etapas finais da transformação desse período, portanto, abrangem o controle 
do capital mercantil sobre a produção industrial, o papel dos primeiros Estados 
nacionais e a acumulação primitiva e por último o novo avanço das forças de 
produção: produção industrial em massa e “nova agricultura” no século XVIII.
A exploração cada vez mais acentuada do trabalho humano é sua consequ-
ência e seu preço. Por uma parte, o século XVIII é um século de alta geral dos 
preços e, já falamos da fonte colonial desse fenômeno; é, ainda, o século das gran-
des fortunas edificadas sobre o ouro do Brasil, da prata mexicana, do açúcar e do 
rum das ilhas, do algodão da América e da Índia, tudo isso extraído do trabalho 
dos povos colonizados. Na Europa, a alta dos preços tem como consequência 
uma diminuição do salário individual diário real, da qual o capital aproveita-se. 
Constata-se, contudo, que o século XVIII, especialmente nos países mais avan-
çados como a Inglaterra, vê desaparecer senão a carestia e a falta de pão, pelo 
menos as fomes mortais. Como se explica isso? Deve-se em primeiro lugar, a 
que os operários trabalham mais (mais dias ao ano) e as mulheres e crianças são 
postas a trabalhar também. O salário familiar aumenta até o mínimo de subsis-
tência, mas por uma quantidade de trabalho extraordinariamente aumentada.
A revolução agrícola e a liberdade do comércio de grão, permitem que sejam 
alimentados um maior número de homens e com maior regularidade, nos paí-
ses mais adiantados, suprime-se o pousio (descanso destinado à terra cultivada, 
interrompendo uma cultura até outra) e planta-se mais leguminosas e tubérculos. 
Isso faz com que diminuam os antigos lucros da especulação, quando se tirava 
proveito das crises de alimentação. O capital mercantil de tipo antigo ressente-
-se, mas o capital industrial, cada vez que pode diminuir o conteúdo-valor da 
alimentação mínima do operário, assegura um lucro sempre maior. Vemos com 
clareza de que maneira, daí por diante, o capitalismo industrial, que nesse caso 
merece simplesmente o nome de capitalismo, substitui as modalidades primiti-
vas de formação do capital. Mas ainda, nos países avançados como a Inglaterra, 
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a agricultura, nas mãos dos capitalistas, adapta-se à produção em massa para a 
venda, ou seja, ao capitalismo.
Deve-se esclarecer que nem todos os países entram desde o século XVIII 
nessa fase decisiva. Por diversas características, a França se encontra bastante atra-
sada em relação à Inglaterra. A Europa oriental e meridional ainda irão demorar 
muito para criar as aglomerações urbanas dedicadas completamente à indús-
tria, como Manchester, que durante bastante tempo será um símbolo. Somente 
no século XIX, o capitalismo industrial se propagará tal como havia nascido na 
Inglaterra a partir de 1760.
Resta considerar que um regime social não está constituído, exclusivamente, 
por seus fundamentos econômicos. A cada modo de produção corresponde, 
não somente um sistema de relações de produção, como também um sistema 
de direito, de instituições ede formas de pensamento.
Um regime social em decadência serve-se precisamente desse direito, dessas 
instituições e desses pensamentos já adquiridos, para opor-se com todas as suas 
forças às inovações que ameaçam sua existência. Isso provoca a luta das novas 
classes, das classes ascendentes, contra as classes dirigentes que ainda acham-se 
no poder e, determina o caráter revolucionário da ação e do pensamento que 
animam essas lutas.
O regime feudal, conforme Vilar (1975), não morreu sem defender-se. E o 
ataque que ele sofreu não começou somente com as formas mais desenvolvidas 
dos novos modos de produção. Essas formas, com efeito, só puderam triunfar 
quando já tinham se liberado dos inconvenientes, dos entraves que as instituições 
de tipo feudal necessariamente lhes opunham. Isto é, a história das revoluções 
burguesas.
É muito importante se atentar, caro(a) leitor(a), para a relevância do século 
XVI para a História Européia. Esse espaço cronológico representa a tênue linha 
divisória entre a ordem feudal decadente e o sistema capitalista que surgia.
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MERCANTILISMO
 Após 1500, importantes mudanças econômicas e sociais começaram a ocorrer:
1. A Classe Trabalhadora, sistematicamente privada do controle sobre o pro-
cesso de produção, vendia força de trabalho para sobreviver.
2. A população da Europa Ocidental aumentou quase um terço, chegando 
a 70 milhões em 1600.
3. Movimento do cercamento.
4. O despertar intelectual que promoveu o progresso científico.
5. Entrada de ouro, extraída pelos portugueses da Costa do Ouro, na África.
6. Aumento dos preços entre 150 e 400%, dependendo do país ou região.
Percebemos, aqui, uma série de modificações de ordem econômica e social que, 
juntas conduziram ao capitalismo. Hunt (1989) indica que a questão do aumento 
populacional foi acompanhado pelo movimento do cercamento, que começou 
na Inglaterra, já no século XIII. A nobreza feudal, cada vez mais necessitada de 
dinheiro, cercava ou fechava terras que antes eram usadas como pasto comum, 
utilizando-a, então, como pasto de ovelhas, para satisfazer à explosiva procura de 
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lã pela indústria têxtil lanífera inglesa. As ovelhas davam bons lucros e exigiam 
um mínimo de trabalho nas pastagens. O movimento de cercamento atingiu seu 
ponto máximo nos séculos XV e XVI, quando, em algumas áreas, os habitantes 
foram expulsos do campo e forçados a buscar sustento nas cidades.
Os cercamentos e o crescimento populacional destruíram os laços feu-
dais remanescentes, criando uma grande e nova força de trabalho - uma 
força de trabalho sem terra, sem quaisquer instrumentos de produção, 
apenas com a força de trabalho para vender (HUNT, 1989, p.15).
Esta migração representava:
Figura 4 - A nova força de trabalho sem instrumentos de produção
Fonte: a autora.
A desorganização do feudalismo foi determinantemente marcada pela Guerra 
dos Cem Anos (1337-1453), a peste bubônica (1348), a fome e as revoltas cam-
ponesas tiveram como consequência uma redução na esfera do poder privado 
da nobreza feudal, um enfraquecimento dos laços de servidão, a desurbaniza-
ção e a retração das atividades comerciais que vinham se desenvolvendo desde 
o século XI.
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Nesse contexto, de maneira generalizada, com a nobreza feudal enfraque-
cida, organiza-se uma nova forma de governar. Apresenta-se a convergência de 
esferas de poder para a figura de um monarca, expressão da unidade do reino. O 
primeiro instrumento de afirmação da autoridade real caracteriza-se pela força 
militar permanente, com poder suficiente para promover a ordem interna e a 
defesa dos domínios. 
No entanto, a população estava desacreditada em um poder que pudesse 
trazer uma nova coesão social. Daí, surge a ideia de forças mercenárias. Os exér-
citos não mais iriam lutar por uma ideologia e sim objetivando pagamento. A 
necessidade de metais preciosos para remunerar as tropas, que eram o susten-
táculo do poder real, da ordem interna e da defesa do reino, é fundamental para 
compreender o conjunto das análises e práticas econômicas que surgiram nessa 
etapa inicial da organização do Estado Moderno (GENNARI; OLIVEIRA, 2009).
Algumas características são fundamentais à serem destacadas com relação 
ao novo formato de Estado:
1. Força militar permanente.
2. Sistemas centralizados de arrecadação.
3. Burocracia.
Esse conjunto de transformações estruturou uma nova esfera de poder, que 
possibilitou uma nova linha de reflexão sobre os fenômenos da produção, da 
distribuição e do consumo, ou seja, da atividade econômica. 
Séculos depois, com o Estado Nacional mais forte, uma situação conflitante 
se apresenta, conforme afirma Gennari (2009), a moral cristã que é contra os 
juros, por exemplo, e o Estado com sua demanda financeira.
Em síntese, estamos diante de um processo no qual a influência dos va-
lores inspirados na moralidade cristã sobre a vida econômica começa-
va a ser ameaçada, de forma irreversível, pelos valores comprometidos 
com o fortalecimento de uma nova forma de poder, o Estado moderno.
(GENNARI, 2009, p. 33).
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Em 1515, Claude de Seyssel. Em La grande monarchie de France, apresenta 
a formulação metalista. Ela afirmava que o “poder do país depende das reservas 
de ouro e prata”. Anos depois, na Espanha, Luís Ortiz, na obra Para que a moeda 
não saia do reino, de 1558, defendia um conjunto de medidas buscando garantir 
o acúmulo de metais preciosos. Estamos diante de um ponto de vista histórico, 
em que o poder do Estado era função direta da riqueza do reino, cuja grandeza 
se definia pelo acúmulo de metais preciosos. 
No espaço cronológico que abrange fins do século XVI e início do século XVII, 
muitas das grandes cidades da Inglaterra, França, Espanha e dos Países Baixos 
(Bélgica e Holanda) haviam prosperado em economias capitalistas, dominadas 
pelos mercadores, que controlavam não só o comércio, mas também grande parte 
da indústria. Nas modernas nações-estado, coalizões de monarcas e capitalistas 
tinham retirado o poder efetivo da nobreza feudal de muitas áreas importantes, 
principalmente nas relacionadas com a produção e o comércio. Essa época do 
início do capitalismo é conhecida, geralmente como mercantilismo. 
Florescem as artes, a poesia e as ciências. O período, também conhecido 
por sistema mercantil, assenta-se em bases de análise econômica e do pensa-
mento econômico de maneira autônoma, a partir desse movimento histórico. 
Entendemos, em conjunto com (Gastaldi, 2006), que a organização comercial 
passa a ser o centro da atividade econômica ou da vida econômica e a riqueza, 
o centro da vida social, por isso, a palavra latina mercator (mercador), pois o 
comércio era a base fundamental para o aumento das riquezas.
A acumulação de moedas e de metais preciosos é o que vai definir, no mer-
cantilismo, a arte de governar. Em linhas gerais, a finalidade básica do Estado, no 
entender mercantilista, deveria ser a de encontrar os meios necessários para que o 
respectivo país adquirisse a maior quantidade possível de ouro e prata. Nesse cami-
nho, vários regulamentos foram estabelecidosobjetivando disciplinar a indústria 
e o comércio, impedindo ao máximo as importações e favorecendo as exporta-
ções. A proposta dos mercantilistas era que a balança comercial (Exportações 
menos importações) fosse sempre a mais favorável possível. Isso porque, para eles, 
exportar mais que importar, representaria, uma compensação em ouro e prata. 
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O mercantilismo prevaleceu até o início do século XVII, quando ocorreu 
uma reação contra os excessos de absolutismo e das regulamentações. Durante 
seu predomínio, apresentou-se como mercantilismo espanhol, também conhe-
cido por bulionismo, mercantilismo inglês e o mercantilismo francês. Conforme 
quadro abaixo:
Quadro 1 - Características do mercantilismo
FORMA CARACTERÍSTICA DESCRIÇÃO
mercantilismo espanhol 
(bulionismo)
builionista Preconizava a proibição da 
exportação de lingotes de 
ouro para incremento da 
riqueza.
mercantilismo inglês mercantilismo 
comercialista
Preconizava o balanço 
mercantil favorável, pelo 
incentivo às exportações, 
por meio de contratos de 
importações com cláusula 
obrigando o país vendedor 
a adquirir certos volumes 
de mercadorias inglesas.
mercantilismo francês mercantilismo 
industrialista
Preconiza estimular a 
indústria interna, por meio 
de monopólios estatais. 
Fonte: a autora.
O mercantilismo era um preceito e, por consequência, ação intervencionista que 
se dava entre os Estados Soberanos. Além disso, estendia essas relações aos seus 
respectivos domínios coloniais.
À essa relação de dominação político-econômica entre as metrópoles e suas 
respectivas colônias, deu-se o nome de sistema colonial. Essa organização das 
metrópoles européias tinha várias formas, afinal os espanhóis, portugueses, ingle-
ses ou franceses exerciam seus domínios de maneira peculiar. 
De qualquer modo, o objetivo principal de política mercantilista era a pro-
moção do poder do Estado. No sentido de que a colônia desempenhava o papel 
de complementar a economia metropolitana, oferecendo metais preciosos ou 
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produtos que reduzissem as importações e incrementassem as exportações para 
outras nações. Em outras palavras, exploravam os metais preciosos da colônia 
para enriquecer a metrópole, e a cidade central exercia monopólio sobre a colônia.
O sistema era organizado visando transferir a maior parte do lucro co-
mercial e do excedente econômico produzido na colônia para a me-
trópole, potencializando a acumulação da burguesia mercantil e as re-
ceitas do Estado, que patrocinava a reprodução do sistema. O Estado 
e o intervencionismo mercantilista constituíam-se, assim, em pressu-
postos de uma política colonialista eficaz. Entretanto, como parte da 
acumulação proporcionada pela exploração colonial era apropriada 
pelo Estado e empregada na ampliação dos dispositivos naval, militar, 
burocrático e fiscal, o sistema contribuía para incrementar o poder e o 
intervencionismo estatal, integrando-se plenamente aos objetivos es-
tratégicos da política mercantilista. (GENNARI, 2009, p. 43).
As políticas portuguesas voltadas para o Brasil, nitidamente, caracterizam-se 
políticas mercantilistas. É bastante claro para nós, caro(a) leitor(a), que o Brasil-
colônia foi influenciado pelo mercantilismo, o qual obrigava o comércio colonial 
exclusivamente por intermédio das metrópoles. Com a chegada de D. João VI 
ao Brasil foram eliminadas as restrições mercantilistas, permitindo a instalação 
de indústrias nativas e o comércio direto com as demais nações. 
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A ESCOLA FISIOCRÁTICA
Estamos, caro(a) aluno(a), cronologicamente em 1756 e, 
justamente nesse período que finaliza o pensamento mer-
cantilista, surge na França, os fisiocratas, esse marco é 
caracterizado pela publicação do primeiro artigo de François 
Quesnay em 1758: Grande Encyclopedie.
Fisiocracia é uma palavra formulada a partir do grego 
physis, “forma, ordem natural, origem”, mais krátos, “regra, 
força, valor”. Temos então um termo grego que podemos 
atribuir como “poder sobre a natureza”. Para os fisiocratas, 
as nações tiveram riqueza da natureza, por meio do setor 
agrícola. O expoente dessa escola econômica foi Quesnay, 
era cirurgião e médico, e seu modelo complexo da economia 
pode ser atribuído, de modo geral, à circulação do sangue 
no corpo humano.
Os fisiocratas adotaram a visão contrária aos mercantilistas. Esses achavam 
que o Estado deveria se comportar como um comerciante, ampliando os negó-
cios, comprando ouro e interferindo na economia com impostos, subsídios e 
privilégios monopolistas. Aqueles afirmavam que a economia regulava-se natu-
ralmente e precisava apenas de proteção contra más influências. Eles defendiam 
o livre comércio, impostos baixos, direitos de propriedade garantidos e dívida 
pública baixa.
Conforme Napoleoni (2000) o objeto de investigação dos fisiocratas é o 
sistema econômico em seu conjunto. Podemos, aqui, pensar que esses estu-
diosos tinham uma preocupação com o sistema, de forma geral, focando no 
“macroeconômico”. Queriam explicar a organização da economia considerando 
unitariamente como um organismo regido por leis necessárias e, por isso mesmo, 
cientificamente relevantes. A proposição que baseia o discurso é a afirmação de 
que existe uma “ordem natural” para a sociedade à semelhança da ordem que 
rege a natureza física. 
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Essa escola era formada por um grupo de reformadores sociais franceses, 
discípulos intelectuais de Quesnay. Estavam interessados em reformar a França, 
que estava passando por desordens econômicas e sociais, causadas principal-
mente por uma combinação heterogênea de muitas das piores características 
do feudalismo e do capitalismo comercial. A tributação estava desordenada e 
era ineficiente, opressiva e injusta. A agricultura ainda usava a tecnologia feu-
dal, feita em pequena escala, ineficiente, e continuava sendo uma fonte de poder 
feudal que inibia o avanço do capitalismo. O Governo era responsável por um 
intrincado complexo de tarifas, restrições, subsídios e privilégios nas áreas da 
indústria e do comércio. Nesse panorama, o resultado não poderia ser outro se 
não o caos econômico e social, conforme apresenta Hunt (1989). Por consequ-
ência dessa desordem estrutural deu-se a Revolução Francesa.
Com a intenção de demonstrar como uma sociedade deveria ser estrutu-
rada, a fim de refletir a lei natural, os fisiocratas defendiam, de modo geral, uma 
reforma política pautada na: abolição das corporações de ofício e a remoção de 
todas as tarifas, impostos, subsídios, restrições e regulamentações existentes que 
prejudicassem a indústria e o comércio. Propuseram a substituição da agricul-
tura em pequena escala e ineficiente, então vigente, pela agricultura capitalista 
em grande escala. Na prática, por conta desse princípio da prevalência da agri-
cultura como fonte de riqueza, a principal reforma proposta foi o imposto único. 
Os fisiocratas são amplamente caracterizados, justamente por essa atribuição 
também conhecida por teoria do imposto único, na qual a recomendação era de 
que toda a renda do Governo fosse obtida por meio de um único imposto paratodo o país, sobre as atividades agrícolas. Esse imposto deveria incidir sobre a 
renda da terra, na modalidade de tributo territorial. Esses pensadores se dedi-
caram de forma integral à análise dos problemas econômicos, formulando pela 
primeira vez, de forma sistemática e lógica, uma teoria econômica do libera-
lismo: A Fisiocracia (governo da natureza). Difundiram a célebre frase: “Laissez 
faire, laissez passer”(deixar fazer deixar passar), que serviu de bandeira contra 
o intervencionismo estatal.
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O “quadro econômico” de Quesnay mostra a circulação da riqueza entre 
agricultores, proprietários e artesãos. Foi a primeira tentativa de explicar como 
funciona uma economia nacional.
O sistema fisiocrático de circulação, apresentado no Quadro econômico 
de Quesnay, publicado e revisado várias vezes de 1758 a 1767, trata-se de um 
diagrama que ilustrava, com uma série de linhas cruzadas e ligadas, o fluxo de 
dinheiro e bens entre três grupos sociais: proprietários de terras, agricultores e 
artesãos. Os bens são produtos agrícolas e manufaturados (produzidos por agri-
cultores e artesãos). Era o Tableau Économique. Embora tenha usado o milho 
como exemplo de produto agrícola, Quesnay disse que essa categoria poderia 
incluir qualquer coisa produzida na terra, inclusive minérios. 
Utilizando o exemplo encontrado em O Livro da Economia, podemos pensar 
que cada um dos três grupos comece com $ 2 milhões. Os proprietários de terra 
não produzem nada. Gastam seus $2 milhões igualmente com produtos agrí-
colas e artesanais e os consomem por inteiro. Recebem $ 2 milhões de aluguel 
dos agricultores - estes podem pagar, visto que são o único grupo que produz 
um excedente - de modo que os proprietários voltam para onde começaram. Os 
agricultores são o grupo produtivo, de um ponto inicial de $ 2 milhões, eles pro-
duzem produtos agrícolas no valor de $ 5 milhões, acima do que eles próprios 
consomem. Desses, $ 1 milhão é vendido aos proprietários para seu consumo. Eles 
vendem $ 2 milhões aos artesãos, metade para consumo e metade como maté-
ria-prima, para os bens que os artesãos produzem. Isso lhes deixa $ 2 milhões 
para ser usados no cultivo no ano seguinte. Quanto à produção, eles voltaram 
ao ponto inicial, todavia, eles também têm três milhões das vendas, dos quais 
gastam $ 2 milhões em aluguel e $ 1 milhão nos produtos artesanais (ferramen-
tas, implementos agrícolas etc). 
Portanto, Quesnay atribuiu à classe dos agricultores como único setor pro-
dutivo, por produzir uma quantia que ultrapassa o consumo dos agricultores. Os 
fisiocratas consideravam esse excedente um presente da natureza e achavam que 
só por meio do contato direto com a natureza, na produção extrativa ou agrícola, 
é que o trabalho humano poderia produzir um excedente. Os agricultores eram, 
portanto, chamados de classe produtiva. Os produtores de mercadorias indus-
trializadas eram chamados de classe estéril, não pelo fato de não produzirem, 
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mas porque supostamente a produção era igual aos custos necessários de maté-
rias-primas, mais os necessários salários de subsistência dos produtores. Não se 
achava que pudesse sobrar qualquer excedente ou lucro na atividade industrial. 
Havia, poranto, três classes:
1. Produtiva: capitalistas e trabalhadores dedicados à produção agrícola.
2. Classe estéril: capitalistas e trabalhadores ligados à indústria.
3. Classe ociosa: donos de terras que consumiam o excedente produzido 
pela classe produtiva.
As ideias dos pensadores franceses sobre a produtividade e a improdutividade 
dos setores reapareceram ao longo da história do pensamento econômico. O 
modelo representado pelo Tableau Économique mostra os processos de produ-
ção, circulação da moeda e das mercadorias e a distribuição da renda. O centro de 
atenção nesse sistema, como vimos, é a agricultura. Além disso, ilustra o fato de 
que a alocação de insumos e produtos requerem a circulação contínua da moeda. 
Os fisiocratas se anteciparam a T. R. Malthus, Karl Marx, J. M. Keynes e muitos 
outros economistas posteriores, os quais mostraram como o entesouramento 
da moeda ou, a criação de pontos de estrangulamento ou, ainda, desequilíbrios 
no processo de circulação monetária poderiam atrapalhar a alocação de insu-
mos e de produtos, provocando crises ou depressões econômicas. Os conceitos 
de excedente e capital de Quesnay tornaram-se a chave do modo como os eco-
nomistas clássicos analisavam o crescimento econômico. Um modelo clássico 
típico centra os três fatores de produção: terra, trabalho e capital. Os proprietá-
rios recebem aluguéis e podem se permitir luxos, já os trabalhadores aceitam os 
salários disponibilizados no mercado e, se estes sobem, podem fazer mais filhos, 
por exemplo. Contudo, os empreendedores têm lucro e o reinvestem na indús-
tria produtivamente. Assim, o lucro incentiva o crescimento, e o desempenho 
econômico depende de setores da economia que geram excedentes. Portanto, de 
maneira generalizada, Quesnay antecipou as ideias sobre o crescimento das eco-
nomias. Gennari (2009) afirma que os fisiocratas apresentam um papel crucial na 
trajetória da economia enquanto Ciência. Como veremos na próxima unidade.
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O Livro da Economia da Editora Globo, 2013. É um excelente material di-
dático como fonte de informações adicionais sobre o quadro esquemático 
construído pelos fisiocratas.
Fonte: a autora.
A teoria contemporânea tem as cicatrizes dos problemas do passado agora 
resolvidos, os erros do passado agora corrigidos e, não poderá ser comple-
tamente entendida, exceto como um legado do passado.
(Mark Blaug)
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta extensa unidade, caro(a) aluno(a), foi possível realizar uma viagem tem-
poral. Na Antiguidade, percebemos que a economia possui uma relação estreita 
com a ética. É relevante perceber que ética e economia são, respectivamente, mãe 
e filha. E à medida em que a filha vai crescendo, vai criando maturidade e cami-
nhando com suas próprias pernas.
É assim que podemos pensar a economia. Seu nascimento está associado 
à obra de Xenofonte, recebe uma atenção em Platão e, de forma especial, em 
Aristóteles. Na sequência, com a ascensão do Império Romano, a economia 
toma lugar em um ambiente pensado por meio das leis. Com um salto tempo-
ral, vamos até à descrição do sistema feudal. Como você pôde perceber, tratou-se 
do processo de acumulação primitiva de capital, o qual, na sequência, se reve-
lará no início de um novo sistema: o capitalismo.
Podemos, aqui, associar o mercantilismo como representação do primeiro 
período do capitalismo, tempo de metais e ouro. Imaginem um mundo que era 
pequeno, relativamente e, se tornou grande. Isso porque as grandes navegações 
possibilitaram essa ampliação de horizontes, e a questão era enriquecer o estado. 
Tratava-se, como vimos, de um Estado Absoluto.
Finalizando nossa unidade, vimos que a escola fisiocrata representou uma 
reação contra o empirismo e o estatismo mercantilista, defendendo a plena liber-
dade da atividade econômica. Notava-se a necessidade de procurar a explicação 
científica para os fenômenoseconômicos. Em meados do século XVIII se afirma 
a reação científica, sob a forma de teoria, e, apresenta-se a primeira escola eco-
nômica. Na França ela surgirá com o nome de fisiocrata. De qualquer modo, 
somente a terra ou natureza representavam um fator econômico produtivo. Nesse 
contexto, François Quesnay foi o expoente dessa escola que trabalhou com fatos 
e fenômenos econômicos propriamente científicos. Na próxima unidade, vere-
mos como os fisiocratas foram importantes para a Escola Clássica.
57 
1. As relações de troca com a natureza e com a comunidade, em geral, é, para Aris-
tóteles a arte da aquisição. Haja vista, que essa transação é determinante para a 
sobrevivência de cada família em particular e da cidade como um todo. Segun-
do sua análise, existem dois tipos de arte da aquisição: a aquisição natural ou 
economia e a aquisição artificial. A partir dessa contextualização, avalie as 
asserções a seguir e a relação proposta entre elas:
I. Todo tipo de atividade que elege o aumento da riqueza como um fim em si 
mesmo é objeto da ciência econômica.
PORQUE
II. Trata-se da arte da aquisição natural, conforme Aristóteles, a busca da verda-
deira riqueza, sem limites para a acumulação.
A respeito dessas asserções, assinale a opção correta:
a. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa correta 
da I.
b. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa 
correta da I.
c. A asserção I é uma proposição verdadeira e a II é uma proposição falsa.
d. A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.
e. As asserções I e II são proposições falsas.
2. “Na história da civilização de Roma vamos encontrar muitos dos elementos que 
caracterizam o moderno capitalismo. Embora a história romana tenha se evi-
denciado mais por lutas de conquistas, construindo em primeiro estágio uma 
República e depois um Império mundial, dominando toda a área do Mediterrâ-
neo, incluindo Ásia Menor, norte da África, França (Gália), Espanha, abrangendo 
partes da Europa Central até o Rio Danúbio e chegando à Inglaterra e à Escócia, 
suas contribuições culturais, políticas e econômicas não podem ser subestima-
das” (GASTALDI, 2006, p. 39). 
Com base nesse fragmento de texto e com o que você pôde apreender da 
Unidade I, infere-se que a sociedade romana: 
a. Teve uma expansão territorial pífia (pequena, insignificante).
b. Atribui o poder à uma instituição chamada “Senado e Povo Romano”. 
c. Apresenta uma história irrelevante para a constituição jurídica e política do 
Ocidente.
d. A queda de Roma, em nada relaciona-se com o contexto agrícola.
e. A desestruturação do Império resultou na concentração de poder nas mãos 
da monarquia e se distanciou do poderio da Igreja.
58 
3. Com base no seu conhecimento, discorra sobre as Cruzadas.
4. A fase do mercantilismo foi uma decorrência do crescimento do capitalismo co-
mercial, representando, com o capitalismo industrial do início do século XVIII, a 
economia política pré-clássica. Com relação ao período que trata do mercan-
tilismo, avalie as afirmações a seguir:
I. O mercantilismo predominou até o início do século XVII, quando ocorreu uma 
reação contra os excessos do absolutismo e das regulamentações.
II. Uma das características desse período era a relação: metrópole e colônia.
III. O mercantilismo foi um regime de nacionalismo econômico.
IV. A riqueza era o principal objetivo para o Estado.
É correto o que se afirma em:
a. I, apenas.
b. II, apenas.
c. I e III, apenas.
d. II e III, apenas.
e. I, II e III.
5. Discorra sobre a Escola Fisiocrática.
59 
PARA UMA CRÍTICA DA ECONOMIA POLÍTICA
O objeto a considerar em primeiro lugar é a produção material. Indivíduos que produ-
zem em sociedade, ou seja, a produção de indivíduos socialmente determinada: eis na-
turalmente, o ponto de partida. O caçador e o pescador individuais e isolados, com que 
começam Smith e Ricardo, fazem parte das ficções pobremente imaginadas do século 
XVIII; são robinsonadas que, pese embora aos historiadores da civilização, não expri-
mem de modo nenhum uma simples reação contra um refinamento excessivo e um re-
gresso aquilo que muito erradamente se entende como vida natural. O “contrato social” 
de Rousseau, que estabelece conexões e laços entre sujeitos independentes por natu-
reza, tampouco se baseia em tal naturalismo. Esse naturalismo não é senão a aparência 
e, aparência puramente estética das grandes e pequenas robinsonadas. Na realidade, 
trata-se antes de uma antecipação da “sociedade civil”, que se preparava desde o século 
XVI e que no século XVIII marchava a passos de gigante para a maturidade. Nessa so-
ciedade de livre concorrência, cada indivíduo aparece desligado dos laços naturais etc., 
que, em épocas históricas anteriores, faziam dele parte integrante de um conglomerado 
humano determinado e circunscrito.
O indivíduo do século XVIII é produto, por um lado, da decomposição das formas de 
sociedade feudais e, por outro, das novas forças produtivas desenvolvidas a partir do 
século XVI. E, aos profetas do século XVIII, quanto mais recuamos na história, mais o 
indivíduo - e portanto o produtor individual - nos aparece como elemento que depende 
e faz parte de um todo mais vasto; faz parte, em primeiro lugar e, de maneira ainda in-
teiramente natural, da família e essa família ampliada que é a tribo; mais tarde, faz parte 
das diferentes formas de comunidades provenientes do antagonismo entre as tribos e 
da fusão dessas. Só no século XVIII, na “sociedade civil”, as diversas formas de conexão 
social aparecem face ao indivíduo, como simples meios para alcançar os seus fins pri-
vados, como uma necessidade exterior a ele. Contudo, a época que gera este ponto de 
vista, esta ideia do indivíduo isolado, é exatamente a época em que as relações sociais 
(universais, segundo esse ponto de vista) alcançaram o seu mais alto grau de desenvol-
vimento. O homem é, no sentido mais literal, um zoon politikon (animal político), não 
simplesmente um animal social, é também um animal que só na sociedade se pode 
individualizar. A produção realizada por um indivíduo isolado, fora do âmbito da socie-
dade - fato excepcional, mas que pode acontecer, por exemplo, quando um indivíduo ci-
vilizado, que potencialmente possui já em si as forças próprias da sociedade, se extravia 
num lugar deserto - é um absurdo tão grande como a ideia de que a linguagem se pode 
desenvolver sem a presença de indivíduos que vivam juntos e falem uns com os outros.
Por conseguinte, quando falamos de produção, trata-se da produção num determi-
nado nível de desenvolvimento social, trata-se da produção de indivíduos que vivem 
em sociedade. Assim, poderia parecer que, para falarmos de produção, seria necessá-
rio ou descrever o processo de desenvolvimento histórico nas suas diferentes fases, ou 
declarar de início que nos referimos a uma determinada época histórica bem definida, 
como por exemplo à produção burguesa moderna, que é na realidade o nosso tema 
60 
específico. Não obstante, todas as épocas da produção têm certos traços e certas de-
terminações comuns. A produção em geral é uma abstração, mas uma abstração que 
possui um sentido, na medida em que realça os elementos comuns, os fixa e assim nos 
poupa repetições. Contudo, esses caracteres gerais ou esses elementos comuns, des-
tacados por comparação, articulam-se de maneira muito diversa e desdobram-se em 
determinações distintas. Alguns desses caracteres pertencem a todas as épocas; outros, 
apenas a algumas. Certas determinações serão comuns às épocas mais recentes e mais 
antigas. São determinações sem as quais não se poderia conceber nenhuma espécie 
de produção. Certas leis regem tanto as línguas mais desenvolvidas como outras mais 
atrasadas; no entanto, o que constitui a suaevolução são precisamente os elementos 
não gerais e não comuns que possuem. Indispensável fazer ressaltar claramente as ca-
racterísticas comuns a toda a produção em geral, isto porque, uma vez que são sempre 
idênticos o sujeito (a humanidade) e o objeto (a natureza), correríamos o risco de esque-
cer as diferenças essenciais. Neste esquecimento, reside, por exemplo, toda a “sapiên-
cia” dos economistas políticos modernos, os quais tentam demonstrar que as relações 
sociais existentes são harmoniosas e eternas. Um exemplo: não pode haver produção 
sem um instrumento de produção, nem que seja simplesmente a mão; não pode ha-
ver produção sem haver um trabalho acumulado no passado, mesmo que esse traba-
lho consista na habilidade que, pelo exercício repetido, se desenvolveu e concentrou 
na mão do selvagem. O capital também é um instrumento de produção, um trabalho 
passado, objetivado. Logo, o capital seria uma relação natural, universal e eterna, mas 
só o seria se puséssemos de parte o elemento específico que transforma “instrumento 
de produção” e “trabalho acumulado” em capital. Assim, toda a história das relações de 
produção aparece, como uma falsificação malevolamente organizada pelos governos. 
Se não existe produção em geral, também não há uma produção geral. A produção é 
sempre um ramo particular da produção, por exemplo, a agricultura, a criação de gado, 
a manufatura - ou uma totalidade.
Fonte: Marx (1989, on-line)1. 
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
História do Pensamento Econômico
Roberson de Oliveira e Adilson Marques Gennari 
Editora: Saraiva
Sinopse: o livro apresenta a história do pensamento 
econômico desde o século V a.C até os dias atuais. Em uma 
linguagem de fácil compreensão acessível ao público em 
geral e não somente a economistas, mostra os autores mais 
importantes das principais escolas e suas infl uências na 
realidade brasileira.
Odisséia no Espaço
Ano: 1968
Sinopse: desde a “Aurora do Homem” (a pré-história), 
um misterioso monolito negro parece emitir sinais de 
outra civilização interferindo no nosso planeta. Quatro 
milhões de anos depois, no século XXI, uma equipe de 
astronautas liderados pelo experiente David Bowman 
(Keir Dullea) e Frank Poole (Gary Lockwood) é enviada à 
Júpiter para investigar o enigmático monolito na nave 
Discovery, totalmente controlada pelo computador HAL 
9000. Entretanto, no meio da viagem HAL entra em pane e 
tenta assumir o controle da nave, eliminando um a um os 
tripulantes.
REFERÊNCIAS
BLAUG, M. La metodologia de la economia. Trad. Ana Martinez Pujana. Madrid: 
Alianza Editorial, 1985.
CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2014.
DOBB, M. H. A evolução do capitalismo, Rio de Janeiro: Zahar, 1983.
ENGELS, F. Anti-Duhring. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2015.
GASTALDI, J. P. Elementos de Economia Política. São Paulo: Saraiva, 2006.
GENNARI, A. M.; OLIVEIRA, R. História do Pensamento Econômico. São Paulo: Sa-
raiva, 2009.
HUNT, E. História do Pensamento Econômico. 7. ed. Rio de Janeiro: Campus,1989.
IORI, C. F. A. G. O sentido oculto do valor do trabalho e sua implicação no setor 
bancário: um estudo de caso para a cidade de Maringá-Pr e sua região metropoli-
tana em 2000 a 2010. Dissertação, 140 f. Universidade Estadual do Oeste do Paraná 
(Unioeste).Toledo, Paraná, 2014.
MANDEL, E. O capitalismo tardio. São Paulo: Abril Cultural, 1982.
MARX, K. O Capital: crítica da economia política: livro I: o processo de produção do 
capital. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1989.
NAPOLEONI, C. Smith, Ricardo e Marx. Rio de Janeiro: Graal, 2000.
ROLL, E. História das doutrinas econômicas. São Paulo: Nacional, 1971.
ROSA C. S. M. O Livro da Economia. São Paulo: ed. Globo, 2013.
VILAR, P. A transição do capitalismo ao feudalismo. In: SANTIAGO, Theo (org. e 
introd.) Capitalismo: Transição. São Paulo: Mora, 1975.
REFERÊNCIAS ON-LINE
1 Em: <http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/criticadaeconomia.pdf>. Acesso 
em: 9 dez. 2016.
GABARITO
63
1. E.
2. B.
3. As Cruzadas representaram a reação dos países católicos, que, a partir do ano 
1096, objetivaram a reconquista da Terra Santa e a abertura do sul do Mediter-
râneo aos povos ocidentais, fechado pelos islamitas, ou muçulmanos. Tiveram 
significativa importância, ampliando as possibilidades de comércio com a Ásia 
Menor e o norte da África possibilitando o retorno do medievalismo à economia 
urbana.
4. E.
5. Fisiocracia significa governo da natureza. Foi o primeiro sistema científico em 
economia a substituir o empirismo dos mercantilistas. Representa o individualis-
mo econômico, gerador do liberalismo capitalista.
ANEXOS
64
Figura 5 - Descrição dos impérios na antiguidade
Fonte: a autora.antilismo
Figura 6 - Quadro esquemático do período Mercantilista e Escola Fisiocrática
Fonte: a autora.
ANEXOS
65
Quadro 2 - Características econômicas da Antiguidade até o Período Medieval
PERÍODO CARACTERÍSTICAS CONSEQUÊNCIAS ALGUNS 
PENSADORES
Antiguidade 
Clássica - 1ª 
fase. 
(4000 a 1000 
a.C)
Trabalho escravo: 
ausência de moeda; 
comércio incipliente.
Regimes teocráticos
Ausência de um 
pensamento econô-
mico
Não há
Antiguidade 
Clássica - 2ª 
fase. 
(1000 a.C ano 
500 da era 
Cristã)
Início da preocupa-
ção pelos fatos eco-
nômicos. Conceitos 
embionários sobre a 
riqueza, valor econô-
mica e moeda.
Fase inicial da eco-
nomia agrária, se-
guida da economia 
urbana. Gradativo 
desenvolvimento do 
comércio interna-
cional e embriões da 
empresa. Queda do 
Império Romano do 
Ocidente, surgimen-
to do feudalismo e 
retorno à economia 
agrária.
Xenofonte (440-
355 a.C), Platão 
(427-347 a.C), 
Aristóteles (384-
322 a.C), Catão 
(234-149 a.C), 
Varrão (116-27 
a.C), Plínio, o An-
tigo (23-79 d.C), 
Columela (fl, c. 65 
A.D.) etc.
Idade Média 
(500 a 1500 
d.C)
Sistema feudal; 
economia artesanal 
e regime corporativo. 
Regime da servidão; 
economia fechada 
(sistema feudal). 
Perdurou até o 
século X. Ressurgi-
mento das cidades; 
nascimento do ofício 
(trabalho ambulan-
te). A partir do século 
XIII, início do regime 
corporativo.
Regulamentos 
rigorosos sobre a 
produção e o consu-
mo. Predominância 
da doutrina canô-
nica (condenação 
ao empéstimo de 
riquezas). 
Subordinação da 
economia à moral 
(justo preço, justo 
salário, justo lucro). 
Economia a serviço 
do homem; ecomba-
te à escravidão.
Santo Tomás de 
Aquino (1225-
1274), Oresmo 
(1328-1382), 
Alberto Magno, 
Pennafort e 
outros.
Fonte: a autora.
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Professora Me. Carla Fabiana de Andrade Gonçalves Iori
A ESCOLA CLÁSSICA
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Compreender o papel fundamental da escola clássica como um todo 
para a ciência econômica.
 ■ Entender a teoria de Adam Smith.
 ■ Conhecer a teoria da população de Thomas Malthus.
 ■ Reconhecer a importância de David Ricardo até os dias atuais.
 ■ Verificar o processo de quantificar a questão da utilidade das diversas 
mercadorias para os utilitaristas.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ Visão geral da escola clássica
 ■ Adam Smith
 ■ Thomas Malthus
 ■ David Ricardo
 ■ Os utilitaristas e a utilidade
Introdução
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INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a)! A economia carrega consigo uma universalidade de situações 
que envolvem as mais diversas áreas: história, sociologia, matemática, psicolo-
gia entre outras. Nesta unidade, caro(a) aluno(a), isso vai ficar muito nítido para 
você. Isso porque vamos tratar da Escola Clássica.
Caracteriza-sehistória à medida que precisa fazer uso da dimensão tempo-
ral e do registro dos fatos para que possa compreender os fenômenos sociais, 
faz uso da sociologia, principalmente no sentido de que estuda o trabalho e, tra-
balho é um ato social. Faz uso da matemática, pois precisa de ferramenta para 
compreender de forma lógica as abstrações dos mais diversos raciocínios. E, par-
ticularmente, nesta Unidade II, a psicologia. 
Mas por que a psicologia? A Escola clássica, como você poderá ver, caro(a) 
leitor(a), trata de assuntos que passam de ordem moral a comportamentos. Mais 
especificamente, você aprenderá que os indivíduos econômicos tomam decisões 
a partir da sua racionalidade. Agem de forma egoísta, como vai nos apresentar 
Adam Smith.
Vamos aprender que a economia clássica racionaliza as práticas em que estava 
envolvida ao transformar as pessoas em empreendedores. Ela justifica a queda 
das restrições mercantilistas, que não eram mais úteis. E isso se deu mediante a 
noção de que o Governo deveria intervir o mínimo possível. A concorrência era 
um fenômeno crescente e a confiança nela como a grande reguladora da econo-
mia era um ponto de vista sustentável. 
Os economistas clássicos forneceram a melhor análise do mundo econô-
mico até a sua época, ultrapassando, de longe, as análises dos mercantilistas e 
dos fisiocratas. Eles lançaram a base da economia moderna como uma ciência 
social e, as gerações que se seguiram se beneficiaram de suas intuições e con-
quistas. A doutrina clássica é normalmente chamada de liberalismo econômico. 
Seja muito bem vindo(a) à nossa trilha do pensamento econômico. Ótimo 
estudo!
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A ESCOLA CLÁSSICA
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VISÃO GERAL DA ESCOLA CLÁSSICA
 A escola clássica apresenta como marco o ano de 1776, quando 
Adam Smith publicou seu trabalho Uma investigação sobre 
a natureza e a causa da riqueza das nações (amplamente 
conhecido como A Riqueza das Nações), e terminou em 
1871, quando W. Stanley Jevons, Carl Menger e Leon Walras, 
publicaram, independentemente, trabalhos expondo as teo-
rias neoclássicas, como veremos nas próximas unidades. 
Neste momento do nosso trabalho, vamos nos ater ao con-
texto precursor da escola clássica.
O contexto relativo à escola clássica envolve a revolução 
na ciência. Em 1687, Isaac Newton (1642-1727) promo-
veu significativamente leis científicas sobre o movimento 
dos planetas de Kepler e as leis matemáticas de Galileu, 
em relação aos movimentos dos corpos na terra. Newton 
apresentou a lei da gravitação universal - uma revolução 
científica que causou impacto incomensurável. O cientista 
que popularizou a ideia, já existente, de que o universo é governado por leis 
naturais. Estamos falando de um momento histórico em que os cientistas con-
fiavam intensamente na evidência experimental. Newton e seus contemporâneos 
não acreditavam em conhecimento nato derivado somente de raciocínio e sim 
na experiência. Essas ideias, por consequência, modificaram substancialmente 
o pensamento econômico.
A noção de “ordem natural”, suscitadas pela revolução científica, permite 
que “verdades inquestionáveis” possam ser discutidas, de modo que as pessoas 
passam a considerar a possibilidade de debaterem ideias até então tidas como 
incontroversas. Por exemplo, a questão de os juros serem pecados, ou a herança 
de seu status na vida. A sociedade seria melhor atendida se as pessoas fossem 
livres para seguir a lei natural do interesse próprio. O pensamento newtoniano, na 
economia clássica, propiciou uma ideologia que justificou as rendas da proprie-
dade. Brue (2016) contribui para o entendimento da relação entre o pensamento 
clássico e a lei natural, à medida em que:
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Uma lei natural é melhor quando deixada desobstruída e como a pou-
pança privada e a moderação contribuem para o bem da sociedade, a 
renda, o juro e os lucros são apenas recompensas para a propriedade e 
o uso produtivo da riqueza (BRUE, 2016 p. 48).
Nessa conjuntura de prevalência da ordem natural, a teoria clássica também é 
conhecida como liberalismo econômico. Muitos de nós já nos deparamos com o 
termo liberal... Ah! Fulano tem ideias liberais... Ciclano é neoliberal...
No que consiste propriamente esse termo?
O fundamento do liberalismo econômico encontra-se, basicamente, em 
cinco princípios:
1. Liberdade pessoal.
2. Propriedade privada.
3. Iniciativa individual.
4. Empresa privada.
5. Interferência mínima do governo.
 Conforme Brue (2016), o termo liberalismo não pode ser analisado fora do con-
texto histórico: as ideias clássicas eram liberais, em contraste com as restrições 
feudais e mercantilistas sobre a escolha de profissões, transferências de terra, 
comércio e por aí vai. Uma pessoa que defende o liberalismo econômico pode 
ser chamada de “conservadora” nos dias atuais.
Temos, nesse ponto, uma dimensão temporal importantíssima para a história 
do pensamento econômico: duas “revoluções”. Em Brue (2016, p. 46) temos que 
trata-se de “uma relativamente madura e a outra apenas no início”. A Revolução 
Científica à medida em que propiciou a contestação de “verdades”, abriu espaço 
para a segunda transformação econômica-social: a Revolução Industrial. Com 
o fim do feudalismo e o processo transitório do mercantilismo, o modo de pro-
dução capitalista em ascendência passa a revelar claramente características 
sócio-econômicas intrínsecas na Revolução Industrial.
A Inglaterra é o berço da Revolução Industrial, isso porque, entre 1700 e 
1770, os mercados externos para os produtos ingleses cresceram muito mais 
rapidamente do que os mercados internos ingleses. Conforme Hunt (1989), 
entre 1700 e 1750, a produção das indústrias internas aumentou 7%, enquanto 
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a das indústrias de exportação aumentou 76%. Para o período de 1750 a 1770, 
os respectivos aumentos foram de 7% e 80%. Esse crescimento acelerado sobre 
a demanda externa de produtos industrializados ingleses propiciou a Revolução 
Industrial. Ela, por sua vez, determinou uma das “transformações mais funda-
mentais da História da vida humana”. (HUNT, 1989, p. 60).
Tanto a Revolução Industrial como a Economia Política Clássica se desen-
volveram inicialmente na Inglaterra. Smith e seus contemporâneos que viveram 
durante os primeiros estágios da Revolução Industrial, não puderam identificar 
de forma adequada a representatividade desse fenômeno e a direção que esse 
desenvolvimento tomaria.
O crescimento substancial da indústria alterou profundamente a vida das 
pessoas. O crescimento do comércio, o aumento substancial da manufatura, e das 
invenções, além da divisão do trabalho, caracterizaram, a princípio, a Inglaterra 
do século XVIII, em uma economia de mercado bem desenvolvida. Nessa con-
juntura, o preconceito tradicional contra o mercado capitalista, em termos de 
atitudes e ideologia, já estava muito enfraquecido. Na Inglaterra daquela época, 
maiores quantidades de produtos industrializados a preços mais baixos signifi-
cavam lucros sempre crescentes. Deu-se um “surto” de atividades inventivas, à 
medida em que a procura externa crescia, os empresários viram as possibilida-
des de maiores lucros, dessa maneira, era necessário inovar tecnologicamente. 
Nesse sentido, a mais relevante e marcante das inovações foi o desenvolvimento 
do motor a vapor.
Em 1769, James Watt projetou um motor com especificações tão exatas, 
que o simples movimento de umpistão podia ser transformado em 
movimento giratório. Um fabricante de Birmingham, chamado Boul-
ton, associou-se a Watt e, com os recursos financeiros de Boulton, eles 
conseguiram iniciar uma produção, em larga escala, de motores a va-
por. No fim daquele século, o vapor estava substituindo rapidamente a 
água como principal fonte de energia na indústria. O desenvolvimento 
da energia a vapor levou a profundas mudanças econômicas e sociais 
(Hunt, 1989, p. 62).
 A partir dessa invenção, iniciou-se o estágio mais decisivo da Revolução Industrial. 
Isso porque, o vapor permitiu o abundante crescimento e desenvolvimento da 
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indústria em larga escala. Haja vista o vapor não dependia, como o uso da água, 
da localização geográfica das fábricas e dos recursos locais. Sempre que pudesse 
comprar carvão a preço razoável, poderia ser construído um motor a vapor. 
Houve uma multiplicação de fábricas. Originam-se as “escuras” cidades indus-
triais (HUNT, 1989).
Em 1776, como não poderia deixar de ser, a Inglaterra era o país mais eficiente 
e poderoso do mundo. Ela beneficiou-se, grandemente com o livre comér-
cio internacional, em face do início da Revolução Industrial. Nesse ínterim, os 
empresários foram se fortalecendo e não mais precisavam contar com a ajuda 
do governo, com privilégios de monopólios, e com a proteção tarifária.
Em conjunto ao desenvolvimento das fábricas, os artesãos perdiam sua 
vantagem competitiva. Essa situação os levou ao mercado de trabalho como 
trabalhadores assalariados. A alta taxa de natalidade e a taxa de mortalidade 
em queda aumentaram a população e os trabalhadores infantis e os campone-
ses irlandeses falidos, que chegavam à Inglaterra, também aumentavam a oferta 
de mão de obra. Essa circunstância gerou empatia por parte dos empresários à 
doutrina laissez-faire. Os salários estavam baixos, por conta da oferta em dema-
sia, o Governo não precisava intervir.
No longo prazo, a economia clássica atendeu à toda sociedade, porque a 
aplicação de suas teorias promovia o acúmulo de capital e o crescimento econô-
mico. Apresenta-se um novo tempo para os empresários. Agora, o status para os 
mercadores e industriais foi promovido ao que Brue (2016) chama de promoto-
res da riqueza da nação. Eles estavam certos de que, ao buscar o lucro, estavam 
atendendo à sociedade. Ainda em Brue (2016), percebemos que essas doutri-
nas, privilegiaram materialmente os proprietários e gerentes das empresas, pois 
as ideias clássicas ajudaram a promover o clima político, social e econômico que 
estimulou a indústria, o comércio e o lucro.
Os economistas clássicos ofereceram a melhor análise do mundo econô-
mico até a sua época. Essa escola é responsável pela base da economia moderna, 
ou seja, da economia enquanto ciência social. Abaixo, o quadro explicativo dos 
principais dogmas da escola clássica:
 
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Quadro 1 - Principais dogmas da escola clássica
DOGMA DESCRIÇÃO
Envolvimento Mínimo 
do Governo
É o primeiro princípio da escola clássica. O melhor 
governo governa o mínimo. As forças do mercado livre 
e competitivo guiariam a produção, a troca e a distri-
buição. A economia era considerada auto-ajustável 
caminhando na direção do emprego total sem inter-
venção do governo. A atividade do governo deveria 
ser limitada à aplicação dos direitos de propriedade 
e ao fornecimento da defesa nacional e da educação 
pública.
Comportamento 
Econômico de auto-in-
teresse
Os economistas clássicos supunham que o compor-
tamento de auto-interesse é básico para a natureza 
humana. Os produtores e os mercadores forneciam 
bens e serviços para obter salários e os consumidores 
compravam produtos como uma maneira de satisfazer 
seus desejos.
Harmonia de Interesses Com exceção importante de Ricardo, os clássicos 
enfatizavam a harmonia natural de interesses em uma 
economia de mercado. Ao correr atrás de seus inte-
resses individuais, as pessoas atendiam aos melhores 
interesses da sociedade.
Importância de todos 
os recursos e atividades 
econômicas
Os clássicos notabilizam que todos os recursos 
econômicos - terra, mão de obra, capital e habilidade 
empresarial - , bem como as atividades econômicas 
- agricultura, comércio, produção e comércio interna-
cional - contribuíam para a riqueza de uma nação. Os 
mercantilistas tinham dito que a riqueza derivava do 
comércio, os fisiocratas acreditavam que a terra e a 
agricultura eram as fontes de riqueza.
Leis Econômicas A escola clássica deu grandes contribuições para a eco-
nomia ao concentrar a análise em teorias econômicas 
explícitas ou “leis”. Exemplos incluem a lei da vantagem 
comparativa, a lei de rendimentos cada vez menores, a 
teoria da população de Malthus, a lei dos mercados (lei 
de Say), a teoria da renda de Ricardo, a teoria quantita-
tiva da moeda e a teoria do valor-trabalho. Os clássicos 
acreditavam que as leis da economia são universais e 
imutáveis.
Fonte: adaptado de Brue (2016).
Adam Smith
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Podemos listar aqui várias das “leis” clássicas que são ensinadas como “princí-
pios” econômicos: 
1. Lei dos rendimentos decrescentes.
2. Lei da vantagem comparativa.
3. Noção de soberania do consumidor.
4. Importância do acúmulo de capital para o crescimento econômico.
5. Mercado como mecanismo para reconciliar os interesses dos indivíduos 
com os interesses da sociedade.
Conforme Gennari (2009), um aspecto essencial desse contexto precursor da 
escola clássica é a total liberdade da ação dos indivíduos no ambiente de mer-
cado, de modo que as interferências externas ao mercado eram consideradas 
maléficas, principalmente aquelas oriundas do Estado.
A partir da visão geral que circunda a chamada pré economia clássica é que 
vamos adentrar ao nascimento da economia como ciência social, propriamente.
ADAM SMITH
No começo dessa unidade comentamos que a Escola Clássica tem como funda-
dor Adam Smith. Ele é considerado o Pai da Economia Política.
O maior dos escoceses foi o primeiro economista, Adam Smith. Os 
economistas não têm grande fama de concordar uns com os outros - 
porém, numa coisa há unanimidade total. Se a economia teve um fun-
dador, esse sem dúvida alguma foi Smith. Ele nasceu, ou pelo menos foi 
batizado, na pequena cidade portuária de Kirkcaldy, ao norte de Firth 
of Forth, no ano de 1723. O pai do homem cujo nome ficaria para sem-
pre ligado à liberdade de comércio era um funcionário da alfândega 
(GALBRAITH, 1979, p. 4).
 
A ESCOLA CLÁSSICA
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IIU N I D A D E76
Após completar seus estudos secundários, foi 
admitido na Universidade de Glasgow em 1737, onde 
estudou os clássicos, Teologia, Matemática e Filosofia. 
Após quatro anos, optou por prosseguir seu bacha-
relado em Balliol College, Oxford. Após terminar os 
estudos, retornou à Escócia em 1746.
O Iluminismo foi o período intelectual que ser-
viu de panorama para o pensamento de Smith. Esse 
movimento intelectual geral da sua época, se ergueu 
sob dois pilares: a habilidade de raciocínio das pes-
soas e o conceito de ordem natural, conforme tratado 
anteriormente. Outra influência importante para Smith foi dos fisiocratas. Ele 
elogiou o sistema fisiocrático “com toda a sua imperfeição” como“talvez o mais 
próximo da verdade que já tivesse sido publicado sobre o assunto da economia 
política”. O ataque dos fisiocratas ao mercantilismo e suas propostas para remo-
ver as barreiras comerciais ganharam sua admiração. A partir desses pensadores, 
ele descreveu o tema da riqueza como “os bens de consumo produzidos anual-
mente pelo trabalho da sociedade”, a desejável interferência mínima do governo 
na economia e o conceito do processo circular de produção e distribuição.
Com Adam Smith, a história da economia deu seu maior passo. Eric Roll 
(1971 apud Gennari, 2009 p. 68) escreveu a seu respeito, “o apóstolo do libera-
lismo econômico falou em termos lúcidos e persuasivos”, dirigindo-se a 
um público que estava pronto para receber sua mensagem e sua voz era 
a voz de industriais ansiosos por eliminar todas as restrições sobre o 
mercado e sobre a oferta de mão de obra – os resquícios do antiquado 
regime do capital mercantil e dos interesses dos proprietários de terras. 
(ROLL, 1971 apud GENNARI, 2009 p. 68).
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Várias são as razões que levaram o pensa-
mento de Adam Smith ser considerado o 
fundador da ciência econômica, e o próprio 
Smith a ser considerado o “pai” da disci-
plina. Pode ser que a mais importante seja 
o fato de que sua obra consolidou de forma 
espetacular a síntese do novo pensamento 
moderno, ou pensamento burguês, no campo 
da economia. 
Incorporou as idéias de Hobbes de que os homens em seu egoísmo inato 
seriam tragados a um estado bestial, caso não houvesse a força coerciti-
va de um poder maior, que poderia ser o poder do Estado. Entretanto, 
no pensamento de Smith, o egoísmo e a competição generalizada assu-
miram uma interpretação e uma importância inusitadas como aspectos 
benéficos e inatos ao homem (GENNARI, 2009, p. 60).
O pensador quis saber como as ações de indivíduos livres resultavam em um 
mercado ordenado e estável, em que se pudesse fazer, comprar e vender o que 
quisesse. Nesse sentido, o pensador ressaltou que os participantes da economia 
tendem a ir atrás de seus interesses pessoais.
Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que 
esperamos nosso jantar, mas da consideração que eles têm pelo seu 
próprio interesse. Dirigimo-nos não à sua humanidade, mas à sua au-
toestima, e nunca lhes falamos das nossas próprias necessidades, mas 
das vantagens que advirão para eles (SMITH, 1996, p. 74).
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Para o escocês, o Ocidente embarcara numa grande revolução antes do 
século XVIII, quando as sociedades agrárias ou agrícolas tornaram-se comer-
ciais. Durante a Idade Média, as cidades se desenvolveram e aos poucos foram 
ligadas por estradas. As pessoas levavam mercadorias e produtos agrícolas fres-
cos para as cidades e, os mercados – com sua compra e venda – tornaram-se 
parte da vida. A inovação científica criou padrões de medida confiáveis, junto 
com novos jeitos de fazer as coisas e da mistura de principados que pontilha-
vam a Europa formaram-se Estados centralizados. O povo usufruía uma nova 
liberdade e passava a trocar bens para ganho pessoal, não só para o seu senhor.
Em 1776, Smith publicou sua obra An inquiry into the nature and causes of 
wealth of nations (A Riqueza das Nações), que tinha iniciado na França, dez anos 
antes. A obra possui o significado de manifesto de uma nova ciência. O sucesso 
do livro foi imediato e isso estabeleceu definitivamente o prestígio de Smith. Um 
dos aspectos históricos mais relevantes dessa obra é sua atualidade em relação à 
economia capitalista moderna, haja vista que a dimensão temporal revelava um 
momento marcado por grandes transformações econômicas e sociais impulsio-
nadas pela primeira revolução industrial, cujo epicentro foi o Reino Unido como 
já tratamos anteriormente. O texto cumpriu o singular papel de instrumento de 
uma ideologia triunfante no século subsequente, o liberalismo.
Smith foi um daqueles pensadores que extraíram da noção de direito natu-
ral (jusnaturalismo) uma particularidade sobre o fazer material do homem. De 
modo a associar tanto o apelo à razão e a inspiração nas descobertas newtonianas, 
quanto o afastamento da órbita do Estado, em contraposição ao conhecimento 
administrativo característico do mercantilismo, assim como a atenção aos pro-
blemas correntes dos preços, câmbio e moeda. De modo geral, A Riqueza das 
Nações é uma síntese da temática típica da reflexão econômica dos séculos XVII 
e XVIII, reunindo, de modo original e em uma trama coerente, os fios antes dis-
persos da cena material e cultural do capitalismo nascente.
Em outras palavras, ele quis saber como as ações de indivíduos livres resul-
tavam em um mercado ordenado e estável, de modo que a corrente Smithiana 
destaca que os participantes da economia tendem a ir atrás de seus interesses 
pessoais. O homem, com sua liberdade, rivalidade e desejo de ganhar, é guiado 
por uma:
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[...] mão invisível a promover um objetivo que não fazia parte de suas 
intenções. Aliás, nem sempre é pior para a sociedade que esse objetivo 
não faça parte das intenções do indivíduo. Ao perseguir seus próprios 
interesses, o indivíduo muitas vezes promove o interesse da sociedade 
muito mais eficazmente do que quando tenciona realmente promovê-
-lo (SMITH, 1996, p. 437).
Em Smith, em vez da necessidade de um poder externo coercitivo do Estado, 
havia no próprio mecanismo de mercado uma força muito mais poderosa que 
orientaria o egoísmo de cada indivíduo ao bem-estar geral da sociedade: o poder 
da “mão invisível”. Desse modo, o livre mercado, com sua oferta e demanda 
(mão invisível), promoveria um estado de bem-estar para toda a sociedade. Tais 
ideias ganharam imediatamente um caráter revolucionário, num contexto que 
predominava o poder crescente de um Estado absolutista e a nova classe bur-
guesa lutava e almejava mais liberdade para desenvolver novas formas de busca 
de riqueza: o comércio e a indústria nascentes, ou seja, a acumulação de capital. 
Tais ideias eram frontalmente contrárias à defesa da intervenção do Estado na 
atividade econômica preconizada pelos ideais mercantilistas.
O raciocínio de Smith parte da ideia de que o aumento da riqueza e da pro-
dutividade do trabalho tem início com os processos ligados à divisão social do 
trabalho. E, curiosamente o pensador vai usar o exemplo do alfinete! Sim, ao 
invés de iniciar sua grande obra tratando do ouro, terra, comércio internacio-
nal ou bancos, ele vai falar do alfinete!
Smith argumenta, que a principal fonte de aumento da riqueza reside no 
aumento da produtividade por meio de uma maior divisão do trabalho. Isso 
no sentido de tratar da divisão dos processos de produção, em partes menores, 
especializadas. Ele afirma que isso aumenta a produtividade de três maneiras: 
em primeiro lugar, ao repetirem as mesmas uma ou duas tarefas, os trabalhado-
res melhoram mais rapidamente sua capacidade (“a prática leva à perfeição”). 
Em segundo lugar, ao se especializar, o trabalhador não precisa perder tempo 
se movimentando – física e mentalmente – entre diferentes tarefas (reduzindo 
os “custos de transição”). E, ainda, uma subdivisão mais detalhada do processo 
torna cada passo mais fácil de ser automatizado e, assim, ser realizado a uma 
velocidade próxima à mecanização (CHANG, 2015).
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Nas palavras de Smith (1996, p. 41):
[...] esse grande aumento da quantidade de trabalho, que, em conse-
qüência de sua divisão, o mesmo número de pessoas é capaz de realizar, 
explica-se por três circunstâncias distintas: em primeiro lugar, devido à 
maior destreza existente em cada trabalhador; em segundo, à poupança 
daquele tempo que, geralmente, seria costume perder ao passar de um 
tipo de trabalho para outro; finalmente, como resultado da invenção de 
um grande número de máquinas que facilitam e abreviam o trabalho, 
possibilitando a uma única pessoa executá-lo, que, de outra forma, te-
ria de ser feito por muitas.
Para o escocês, o avanço da produtividade tinha a capacidade de se espraiar para 
todos os ofícios e, assim, produzir uma riqueza universal que se estenderia às 
camadas mais baixas da população.
A TEORIA DO VALOR PARA SMITH
A teoria do valor de Smith é indispensável pois, entre outras coisas, possibilitou 
caminhos tanto para as análises neoclássicas, baseadas na teoria do valor-uti-
lidade, quanto para o pensamento e para a escola relacionados a Karl Marx, 
baseados na teoria do valor-trabalho (GENNARI, 2009).
Na discussão de Smith, o importante é observar que a palavra valor tem 
dois significados: 
às vezes designa a utilidade de um determinado objeto, e, outras, o po-
der de compra que o referido objeto possui em relação a outras merca-
dorias. O primeiro pode chamar-se valor de uso e o segundo, valor de 
troca (SMITH, 1996, p. 61).
Smith examinou as regras que regulam o valor de troca das mercadorias. 
Primeiramente, qual é o critério ou a medida real do valor de troca ou em que 
consiste o preço real de todas as mercadorias. Em segundo lugar, 
quais são as diferentes partes ou componentes que constituem esse pre-
ço real. Finalmente, quais são as diversas circunstâncias que, por vezes, 
fazem subir alguns desses componentes, ou todos eles, acima do natu-
ral ou normal e, às vezes, fazem descer abaixo desse nível, ou seja, quais 
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são as causas que às vezes impedem o preço de mercado, isto é, o preço 
efetivo das mercadorias, de coincidir exatamente com o que se pode 
chamar de preço natural (SMITH, 1996, p. 61).
É importante que possamos conhecer o conceito de preço natural para Smith; 
para entendê-lo, é preciso saber que “quando a quantidade colocada no mercado 
coincide exatamente com o suficiente e necessário para atender à demanda efe-
tiva, muito naturalmente o preço de mercado coincidirá com o preço natural”.
Segundo Smith todos os bens têm um preço natural, que reflete apenas o 
esforço para fazê-los. A terra usada para produzir um produto deveria ganhar 
sua renda natural. O capital utilizado na sua fabricação deveria auferir seu lucro 
natural. A mão de obra usada deveria ganhar seu salário natural. Os preços e 
margens de lucro do mercado podem diferir de seus níveis naturais em certos 
períodos, como na escassez. Nesse caso, as oportunidades de ganho surgirão e 
os preços aumentarão, mas só até a concorrência trazer novas empresas ao mer-
cado e os preços caírem ao seu nível natural. Se a demanda em uma indústria 
começa a sofrer queda, preços e salários cairão, mas, com o aparecimento de 
outra indústria, essa oferecerá salários mais altos para atrair trabalhadores. No 
longo prazo, diz Smith, os preços de “mercado” e os “naturais” serão os mesmos 
– os economistas modernos chamam isso de equilíbrio.
A concorrência é essencial para que os preços sejam justos. Smith atacou 
os monopólios que ocorrem no âmbito do sistema mercantilista, que exigiu dos 
governos o controle do comércio exterior. Quando há apenas um fornecedor de 
um bem, a empresa que o fornece pode segurar o preço permanentemente acima 
do nível natural. Consequentemente, para Smith (1996, p. 85):
[...] o preço natural é como que o preço central ao redor do qual conti-
nuamente estão gravitando os preços de todas as mercadorias. Contin-
gências diversas podem, às vezes, mantê-los bastante acima dele e, nou-
tras vezes, forçá-los para baixo desse nível. Mas, quaisquer que possam 
ser os obstáculos que os impeçam de fixar-se nesse centro de repouso e 
continuidade, constantemente tenderão para ele.
Ele entendia que as coisas que tinham muito valor de uso possuíam frequen-
temente pouco ou nenhum valor de troca e vice-versa. Menciona o famoso 
exemplo da água e do diamante para ilustrar tal idéia. A água possui muito valor 
de uso e pouco valor de troca, já com o diamante ocorre exatamente o contrário.
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Aqui, também é ponto de extrema relevância para a teoria do valor de Smith: 
a determinação do trabalho. Segundo Smith, o valor de qualquer mercadoria, 
para a pessoa que a possui, mas não tenciona usá-la ou consumi-lá, senão trocá-
-la por outros bens, é igual à quantidade de trabalho que essa mercadoria lhe dá 
condições de comprar. Consequentemente, o trabalho é a medida real do valor 
de troca de todas as mercadorias (GENNARI, 2009).
Smith, porém, faz notar a existência de graus diferentes de dificuldades e de 
engenho aplicados no trabalho, que geralmente são considerados quando se atri-
bui valor a algo. Outro aspecto relevante apontado pelo autor é que, geralmente, 
é mais natural estimar o valor de troca de uma mercadoria pela quantidade de 
outra mercadoria do que com base no trabalho que ela pode comprar. Na ver-
dade, a dificuldade apresentada por Smith (1996, p. 66) é que “o trabalho é o 
valor real das mercadorias; o dinheiro é apenas o preço nominal delas”.
Ao buscar desembaraçar-se do problema, ele afirma que “pode-se dizer que o 
trabalho, da mesma forma que as mercadorias, têm preço real e um preço nomi-
nal”. O preço real consiste na quantidade de bens necessários que se permutam 
em troca dele e o preço nominal, na quantidade de dinheiro.
 Sendo o trabalho a medida do valor de troca, Smith (1996, p. 77) entende que:
[...] se, em uma nação de caçadores, abater um castor custa duas vezes 
mais trabalho do que abater um cervo, um castor deve ser trocado por 
– ou, então, vale – dois cervos. É natural que aquilo que normalmente 
é o produto do trabalho de dois dias ou de duas horas valha o dobro 
daquilo que é produto do trabalho de um dia ou uma hora.
Concluindo, Smith (1996, p. 78) pensa que “fica, pois, evidente que o trabalho 
é a única medida universal e a única medida precisa de valor, ou seja, o único 
padrão pelo qual podemos comparar os valores de mercadorias diferentes, em 
todos os tempos e em todos os lugares”.
 Para Smith, as fontes originais de todas as rendas são o salário do trabalhador, 
o lucro do empresário e a renda da terra dos proprietários, e, desse modo, de todo 
valor de troca. Quanto ao lucro e à renda da terra, a análise de Smith apresenta a 
idéia de que “o trabalho mede o valor não somente daquela parte do preço que se 
desdobra em trabalho efetivo, mas também daquela representada pela renda da 
terra e daquela que se desdobra no lucro devido ao empresário” (Id., p.79).
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O lucro, no entanto, é regulado por princípios específicos, ou seja, “é total-
mente regulado pelo valor do capital ou patrimônio empregado, sendo o lucro 
maior ou menor em proporção com a extensão desse patrimônio” (Id., p.78) , já 
quea terra se tornou propriedade privada e os proprietários exigem uma renda 
para permitir que outros cultivem suas terras.
Para o pensador, as economias de mercado geram rendimentos justos que 
podem ser gastos em bens, num “fluxo circular” sustentável, em que o dinheiro 
pago em salários volta para a economia quando o trabalhador paga pelos bens 
e será devolvido em salários, repetindo o processo. O capital investido em ins-
talações de produção ajuda a aumentar a produtividade da mão de obra, o que 
implica os empregadores poderem arcar com salários mais altos. E, se puderem 
pagar mais, eles pagarão, porque têm de competir entre si pelos trabalhado-
res. Quanto ao capital, Smith disse que o volume de lucro com que o capital 
pode esperar ganhar com investimentos é quase igual à taxa de juro. Isso por-
que os empregadores concorrem para pedir recursos emprestados e investí-los 
em oportunidades lucrativas. Com o tempo, a taxa de lucro em qualquer área 
cai, pois o capital se acumula e as oportunidades de lucro se esgotam. Os alu-
guéis aumentam aos poucos, à medida em que as rendas sobem e mais terra é 
usada. A concepção de Smith da interdependência entre terra, mão de obra e 
capital foi um avanço real. Ele observou que os trabalhadores e os proprietários 
tendem a consumir sua renda e os empregadores eram mais econômicos, inves-
tindo sua poupança no estoque de capital. Ele percebeu que os salários variavam 
conforme os graus de “habilidade, destreza e discernimento” e que havia duas 
formas de mão de obra: produtiva (engajada na agricultura ou manufatura) e o 
que ele chamou de “improdutiva” (prestando serviços necessários para apoiar a 
mão de obra principal). Os resultados muito desiguais do sistema de mercado 
atual ficam a dever ao que Smith previu.
Smith afirmou que a própria mão invisível estimula o crescimento econômico. 
A fonte de crescimento tem dois lados. Um é a eficiência obtida pela divisão do 
trabalho, conhecido entre os economistas como o “crescimento smithiano”. Como 
se produzem e consomem mais bens, a economia e os mercados crescem. Com a 
expansão dos mercados vêm oportunidades para a especialização do trabalho. A 
segunda força de crescimento é a acumulação de capital, movida pela poupança 
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e pela oportunidade de lucro. Smith disse que o crescimento pode ser reduzido 
por fracassos comerciais, falta de recursos necessários para estabilizar o estoque 
de capital, um sistema monetário inadequado (há mais crescimento com papel 
moeda do que com ouro) e uma proporção alta de trabalhadores improdutivos. 
Ele alegou que o capital é mais produtivo na agricultura do que na indústria, 
que é mais alto que no comércio ou no transporte. Em última análise, a econo-
mia vai crescer até atingir um estado rico, estacionário. Smith subestimou aí o 
papel da tecnologia e da inovação. Conforme discorda Schumpeter (1997, p. 47).
Conforme Gennari (2009), para Smith o bem-estar humano sempre esteve 
presente em sua teoria. Para o fundador da economia política, o bem-estar eco-
nômico estaria relacionado ao livre jogo das forças de mercado que comandaria, 
por meio de uma mão invisível, as ações egoístas dos indivíduos, que, buscando 
seus interesses individuais, atingiriam, como por derivação, o bem-estar geral 
da sociedade.
Segundo Smith, todos os indivíduos estão empenhados em realizar da maneira 
mais vantajosa possível a aplicação de seu capital, ou seja, realizar sua atividade 
buscando como resultado o maior valor possível. Além disso, os indivíduos 
procuram empregar seu capital o mais próximo possível “de sua residência”, 
fomentando, assim, preferencialmente, a atividade nacional. Dessa maneira, 
guiado pela mão invisível, suas atividades individuais geram, assim como exter-
nalidades, o bem-estar de toda a sociedade (GENNARI, 2009).
A noção de bem-estar econômico faz relação à quantidade do produto do 
trabalho anual e do número dos consumidores de tal produto e dependeria fun-
damentalmente de uma ética relacionada ao egoísmo. Smith, nas palavras de 
Napoleoni (2000, p. 46):
[...] individualiza uma zona do proceder humano na qual um compor-
tamento correspondente ao objetivo egoísta justifica-se tomando por 
base o próprio princípio da utilidade: trata-se da esfera na qual ocor-
rem a formação e o desenvolvimento da riqueza, já que, quando um 
indivíduo se esforça por conseguir a maior vantagem pessoal na troca, 
vai mais além de sua própria vontade, de tal sorte que seja máxima a 
disponibilidade de bens para todos.
A harmonia dos interesses dominou com um mercado livre e competitivo, for-
çando cada indivíduo a servir a sociedade enquanto serve a si mesmo. 
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Após a morte de Smith, três grandes nomes, todos praticamente contem-
porâneos, um francês e dois ingleses, surgiram para aperfeiçoar e ampliar a sua 
obra: Jean Baptiste Say (1767-1832), Thomas Robert Malthus (1766-1834) e David 
Ricardo (1772-1823). Todos eles, de maneira especial Malthus e Ricardo, convi-
veram com a Revolução Industrial já plenamente desabrochada e, refinando o que 
Smith fizera, buscaram trazer a economia a par dessa gigantesca transformação. 
Com eles nasceu a economia de ordem industrial. Smith foi, claramente, mais 
otimista sobre o futuro do que Thomas Malthus, tema do nosso próximo tópico.
THOMAS MALTHUS
Thomas Robert Malthus (1766-1834) era filho de uma 
família inglesa de posses. Foi educado na Universidade 
de Cambridge. Lá, obteve também extensa formação em 
letras clássicas e modernas. Em 1805, foi nomeado para 
o corpo docente da faculdade da Companhia das Índias 
Orientais. E ocupou a primeira cátedra de Economia 
Política da Inglaterra.
 Malthus desenvolveu suas reflexões numa época de 
intensos conflitos de classes e suas obras refletem sua posi-
ção com relação à essas transformações econômicas e sociais.
É importante destacar, caro(a) leitor(a), que esse cenário histórico e intelec-
tual de controvérsias, na Inglaterra, aproximadamente em 1798, apresentava duas 
peculiaridades que chamavam a atenção de Malthus. A primeira foi o aumento 
da pobreza e controvérsia sobre o que fazer com isso. A segunda era sobre a lei 
dos cereais.
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A descrição sobre essas questões encontra-se no quadro abaixo:
Quadro 2 - Características do contexto da teoria de Malthus
CARACTERÍSTICA DESCRIÇÃO
Aumento da 
pobreza
Em 1798, alguns dos efeitos negativos da Revolução Indus-
trial, bem como a urbanização crescente, estavam começan-
do a aparecer. O desemprego e a pobreza já eram proble-
mas, criando necessidades de tratamento reparador. Deu-se 
um debate caloroso. Sua principal preocupação era com a 
inquietação dos trabalhadores e com os esquemas que esta-
vam sendo defendidos por intelectuais radicais, com relação 
à reestruturação da sociedade, a fim de promover o bem-
-estar e a felicidade dos trabalhadores. No entanto, a classe 
proprietária inglesa negava qualquer responsabilidade pela 
pobreza e se opunha ativamente a leis que favoreciam a 
distribuição de renda.
Lei dos cereais Quando Napoleão foi capturado, em 1813, os donos de 
terras ingleses, que dominavam o Parlamento, ficaram extre-
mamente preocupados, imaginando que um novo surto de 
grãos importados desvalorizaria o preço dos bens agrícolas 
e reduziria enormemente a renda com aluguéis da terra. As-
sim, eles determinaram que os preços mínimos vigentes de 
grãos importados fossemaumentados. Os interesses comer-
ciais, no entanto, falavam contra tarifas mais altas sobre os 
grãos e eram a favor da anulação total das leis dos cereais.
Fonte: a autora.
A TEORIA DA POPULAÇÃO
O cenário que ocupou o trabalho de Malthus era o de uma jornada de trabalho 
das crianças inglesas que durava de 14 a 18 horas, com direito a míseros vinte 
minutos para a refeição. Os protestos e motins se alastraram por toda a primeira 
metade do século XIX. Malthus, então, reservou para si a tarefa de refletir sobre 
como melhorar a sociedade, e, assim, colocou no centro de suas preocupações 
a questão da reprodução da população e da possibilidade de crise de superpro-
dução na sociedade contemporânea, tornando-se referência clássica obrigatória 
nos estudos de população e da dinâmica do capitalista até os dias de hoje.
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Para o pensador inglês, o progresso da sociedade fazia sentido à medida em que 
houvesse equilíbrio entre a população e os meios de subsistência. Para tanto, era 
imprescindível compreender quais os fatores que possibilitaram tal equilíbrio. 
Creio que posso razoavelmente colocar dois postulados. Primeiro que: 
o alimento é necessário à existência do homem. Segundo: que a paixão 
entre os sexos é necessária e permanecerá aproximadamente em seu 
presente estado (MALTHUS, 1982, p. 282).
Desse modo, o economista britânico, defendia que o crescimento da população 
condena a sociedade à pobreza. Malthus dizia que o impulso sexual humano cau-
sava o aumento, cada vez mais rápido, do povo. A produção de alimentos não o 
acompanharia. Contudo, há uma força contrária: Malthus achava que a má nutri-
ção e as doenças causadas por uma oferta alimentar mais limitada ocasionaram 
uma mortalidade crescente e evitariam o descontrole do desequilíbrio. Menos 
alimento para o mundo também implicaria sustento menor para as crianças e 
o índice de natalidade cairia. Isso reduziria a pressão sobre a terra, restituindo 
os padrões de vida.
Além de evitar a fome total, a mudança nos índices de natalidade e mortali-
dade faz a população não mais se beneficiar de altos padrões de vida por longo 
tempo. Suponha que a economia tenha um golpe de sorte com a descoberta de 
terra. Mais terra dá um incentivo único à produção de mais alimento para cada 
pessoa, cada uma fica mais saudável, e o índice de mortalidade cai. Um padrão de 
vida mais alto permite mais filhos. Juntos, esses fatores fazem a população cres-
cer. A produção de alimentos não segue o ritmo e a economia retoma o padrão 
de vida anterior, mais baixo. A isso chama-se armadilha malthusiana: padrões 
de vida mais altos são sempre sufocados pelo aumento da população. Assim, 
aconteça o que acontecer, a economia sempre volta a uma produção de alimen-
tos que sustente uma população estável (HUNT, 1989).
Malthus previa uma estagnação econômica, com o povo lutando para sobre-
viver e seu crescimento sendo refreado por fome e doenças. Porém, esse modelo 
- uma economia de agricultores que labutam com ferramentas simples num lote 
imutável de terra - já estava defasado na virada do século XVIII. Novas técnicas 
já permitiam maior produção de alimentos com a mesma quantidade de terra 
e de mão de obra. Novas máquinas e fábricas proporcionavam uma produção 
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maior de bens por trabalhador. O progresso tecnológico implicou padrões de 
vida cada vez mais altos para o povo. Em 2000, a população da Grã-Bretanha 
mais do que triplicou em relação à época de Malthus, com renda dez vezes maior 
(HUNT, 1989).
Com o tempo, a tecnologia superou as restrições agrícolas e demográficas. 
Malthus não previu isso. Hoje, suas ideias se refletem no receio de que o nível 
populacional pressione a capacidade da Terra de um modo que a nova tecnolo-
gia não consiga superar.
Figura 1 - A teoria de Malthus de forma genérica
Fonte: Rosa (2013).
As ideias de Malthus inspiraram muitos economistas conservadores modernos 
na elaboração de suas teorias acerca da impossibilidade e inutilidade de uma 
política de bem-estar social que tivesse no seu cerne a distribuição de renda. 
Para que distribuir renda, se os pobres, vistos como imorais, gastariam todo o 
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acréscimo de renda em futilidades, vícios e orgias? Seria melhor manter a renda 
concentrada, pois pessoas frugais iriam poupar o excedente que mais tarde se 
transformaria em investimentos e progresso geral da sociedade. Nós, na periferia 
brasileira, conhecemos bem as teorias do crescimento do bolo, muito utilizadas 
nos anos 1970, segundo a qual não seria interessante para a sociedade proceder 
a uma distribuição equitativa da renda, pois, segundo essa tese, iria se distri-
buir a pobreza, e não a riqueza. Desse modo, a teoria do crescimento do bolo 
advogava que o bolo, ou seja, a renda, deveria primeiro crescer para depois ser 
distribuído. O fato estarrecedor é que a economia brasileira figura, há muito, 
entre as dez primeiras economias do mundo, em termos de magnitude do pro-
duto; entretanto, as classes desfavorecidas estão sempre na expectativa de uma 
política de rendas efetivamente redistributivas, ou seja, aguardam a chegada do 
momento da distribuição do “bolo”.
Por fim o entendimento de Galbraith (1979, p. 24) sobre Malthus é bastante 
esclarecedor:
Malthus deu-nos o Princípio da População. Afirmava esse princípio 
que, dada “a paixão entre os sexos” (coisa extremamente prejudicial 
que ele por vezes achou que poderia ficar sujeita à “restrição moral”, e 
contra a qual sugeriu que os pregadores admoestassem seus fiéis por 
ocasião do casamento), a população cresceria sempre numa propor-
ção geométrica – isto é, 2, 4, 8, 16 e assim por diante. Enquanto isso, 
na melhor das hipóteses, a alimentação aumentaria apenas aritmetica-
mente – ou seja, 2, 3, 4, 5... daí veio o resultado inevitável: em virtude 
da provável ausência de restrições morais, a população ficaria sujeita 
única e exclusivamente aos repetidos e medonhos impedimentos im-
postos pela fome ou pela guerra ou por uma catástrofe natural. Re-
fletindo sobre as recompensas oferecidas pela liberdade de comércio, 
a consequente defesa dos próprios interesses e a divisão do trabalho, 
Adam Smith, refletindo sobre as vantagens da liberdade de comércio, 
as resultantes da defesa do alto interesse e a divisão de tarefa, tinha uma 
concepção geralmente otimista quanto às perspectivas da humanidade. 
Não Malthus. Também David Ricardo jamais foi considerado um oti-
mista. Foi graças a Malthus e Ricardo que a economia se transformou 
numa ciência triste e melancólica.
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IIU N I D A D E90
DAVID RICARDO
Smith é considerado o fundador da escola clássica, no entanto, David Ricardo 
(1772-1823), contemporâneo de Malthus, foi a figura principal na promoção do 
maior desenvolvimento das ideias da escola. Ricardo demonstrou as possibilidades 
de utilizar o método abstrato de raciocínio para formular as teorias econômicas. 
Ele ampliou o escopo da investigação econômica para a distribuição da renda. 
À sua volta, reuniu-se um grupo de estudiosos que, com entusiasmo, dissemi-
naram suas ideias. Esses seguidores aperfeiçoaram e estenderam sua maneira de 
pensar a economia, direcionando-as para as idéias neoclássicas, motivo de tra-
balhoda nossa Unidade IV.
É peculiarmente importante a biografia de Ricardo, haja vista que foi o ter-
ceiro de 17 filhos de imigrantes judeus que se mudaram da Holanda para a 
Inglaterra. Seus pais eram ricos. Aos 21 anos casou-se e abandonou as tradições 
judaicas. Antes dos seus 30 anos, Ricardo acumulou grande fortuna sendo acio-
nista na bolsa de valores e fez riqueza maior que a de seu pai.
As escolas Marxista e a Marginalista, receberam forte influência do pen-
samento de Ricardo, principalmente no aspecto do valor - trabalho e valor 
- utilidade, respectivamente (GENNARI, 2009).
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Os gastos públicos devem ser financiados por empréstimos ou impostos? Essa 
questão foi abordada em detalhe primeiro pelo economista britânico durante as 
custosas Guerras Napoleônicas com a França (1803-15). Em seu livro de 1817, 
Princípios de economia política e tributação, Ricardo disse que o método de finan-
ciamento não fazia diferença. Os contribuintes devem perceber que o empréstimo 
tomado hoje pelo governo levará a mais tributação no futuro. Em todo caso, eles 
serão tributados, de modo que devem poupar a quantia que seria cobrada hoje a 
fim de cumprir essa eventualidade. Ricardo afirmou que as pessoas compreen-
dem as restrições, do orçamento público e continuam a gastar como sempre, seja 
a decisão, do governo tributar ou tomar emprestado, porque sabem que afinal 
lhes custará o mesmo. Essa ideia ficou conhecida como equivalência ricardiana.
Imagine uma família com um pai viciado em jogos de azar, que tira dinheiro 
dos filhos. O pai diz aos filhos que os deixará ficar com o dinheiro neste mês, 
porque ele pegou emprestado do seu amigo Marcos. Caio, o caçula, sossegado, 
gasta seu dinheiro extra. O sagaz filho mais velho, Silvio, percebe que no mês 
seguinte o empréstimo terá de ser pago com juros, e é provável que seu pai lhe 
peça o dinheiro. Guarda o dinheiro extra de hoje, sabendo que terá de dá-lo ao 
pai em um mês. Silvio nota que sua riqueza não muda e não tem porque alte-
rar seus gastos hoje.
Ricardo estava teorizando e nunca disse que a equivalência ricardiana seria 
óbvia no mundo real. Ele achava que os cidadãos comuns sofrem da mesma ilusão 
fiscal que Caio, do nosso exemplo, e gastam todo o dinheiro que têm. No entanto, 
alguns economistas modernos afirmam que os cidadãos não têm essa ilusão.
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Figura 2 - Equivalência ricardiana
Fonte: adaptado pela autora de Rosa (2013). 
David Ricardo é considerado por Galbraith (1979, p. 73) a figura mais obscura 
da história da sua disciplina. Isso se explica pelo fato de Ricardo não ter uma 
linguagem clara e acessível. Inclusive, aconselha o leitor: “ [...] após o exaustivo 
exercício de compreendê-la (a obra de Ricardo), pode sentir uma certa liber-
dade de escolher no que ele prefere acreditar”. Essa consideração também é 
semelhante no manual de Hunt (1989), que destaca ser Ricardo, o mais rigoroso 
economista clássico. Em que a capacidade do pensador britânico de construção 
de um modelo abstrato de como funcionava o capitalismo e dele deduzir todas 
as suas implicações lógicas, foi, em sua época, insuperável.
É tão representativa, caro(a) leitor(a), a contribuição de David Ricardo para 
história do pensamento econômico, que sua teoria econômica estabeleceu um 
estilo de modelo próprio que perdura na ciência econômica até os dias atuais. 
Napoleoni (2000 p. 85) atribui à Ricardo a seguinte definição para a Economia 
Política:
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[...] a ciência que se ocupa da distribuição do produto social entre as 
classes nas quais se acha dividida a sociedade. [...] a Economia se ocupa 
com a distribuição do produto entre salários, lucros e renda fundiária 
(NAPOLEONI, 2005, p. 35).
Para buscarmos o entendimento do pensador inglês, partimos da noção de que 
há, na teoria ricardiana, três elementos fundamentais, a saber:
1. Teoria do valor trabalho.
2. Teoria dos rendimentos decrescentes.
3. A teoria das vantagens comparativas.
A TEORIA DO VALOR TRABALHO PARA RICARDO
Para tratar da teoria do valor trabalho em Ricardo, é fundamental considerar a 
questão da utilidade das mercadorias.
 A utilidade, portanto, não é a medida do valor de troca, embora lhe 
seja absolutamente essencial. Se um bem não fosse de certo modo útil 
[...], seria destituído de valor de troca, por mais escasso que pudesse 
ser, ou fosse qual fosse a quantidade de trabalho necessário para pro-
duzi-lo.
 Possuindo utilidade, as mercadorias derivam seu valor de troca de 
duas fontes: de sua escassez e da quantidade de trabalho necessária 
para obtê-las (RICARDO, 1982, p. 43).
A noção inicial é a de que para que uma mercadoria tenha valor de troca, 
necessariamente deve ter valor de uso. A utilidade (satisfação subjetiva de uma 
necessidade) não é a medida de valor de permuta, embora seja essencial para ela. 
Possuindo utilidade, as mercadorias emanam seu valor de troca de duas origens:
1. Escassez.
2. Quantidade de trabalho exigida para obtê-las.
Em que pese os trabalhos de arte raros, livros clássicos, vinhos de quali-
dade peculiar, em que o único determinante é a escassez, a maioria das 
mercadorias é reprodutível. E é sobre esse contexto de mercadorias que 
Ricardo adotou sua teoria de valor do trabalho.
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De acordo com Ricardo: o valor de troca de uma mercadoria depende do 
tempo de trabalho necessário para produzi-la. O tempo de trabalho não inclui 
apenas o esforço empreendido na fabricação da própria mercadoria, mas tam-
bém o trabalho incluído na matéria-prima e nos bens de capital consumidos no 
processo de produção.
Você pode estar se questionando acerca de que essa teoria do valor não 
explica, por exemplo, o fato de um funcionário muito eficiente gastar menos 
tempo para a produção de uma mercadoria em relação a outro funcionário com 
menos habilidade. Ricardo reconheceu que nem toda mão de obra é de igual qua-
lidade. Trabalhadores altamente eficientes podem produzir mais em uma hora 
de trabalho do que trabalhadores pouco eficientes. Diferentes mercadorias são 
produzidas com grandes variações nas combinações de tipos de mão de obra 
empregada. No entanto, no mercado, o valor relativo de troca é igual.
TEORIA DOS RENDIMENTOS DECRESCENTES
A modesta compreensão desse enigmático pensador britânico, passa, essencial-
mente, por três considerações elementares, sobre a contextualização da sua teoria:
1. Aspecto essencialmente rural, ou seja, caráter fundiário do seu pensamento.
2. A lei dos cereais. Já citamos anteriormente sobre a proibição por parte 
da Inglaterra em importar grãos. Ricardo vai considerar inconveniente 
as restrições às importações.
3. O conceito de rendimentos decrescentes na agricultura remonta à fisio-
cracia. Em 1815, Malthus, Ricardo e outros pensadores, reformularam o 
princípio e o aplicaram ao aluguel da terra.
É a partir de Ricardo que a economia recebeu sua primeira formulação de um 
princípio marginal. Ao utilizar a ideia de rendimentos decrescentes, com seu 
alto nível de abstração, bom domínio da lógica e no uso de raciocínio dedutivo. 
Muito embora, a expressão teoria dos rendimentos decrescentes não pode ser 
encontrada literalmentena obra de Ricardo. Ela é derivada da interpretação de 
suas ideias pelos estudiosos, que dali, abstraíram tal conceito.
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Em um país dotado de terras disponíveis ricas e férteis não seriam cobradas 
rendas da terra. A diferença de qualidade das terras dá origem à renda, regulada 
pela intensidade dessa diferença.
Supondo-se a existência de três faixas de terras, em que o emprego da mesma 
quantidade de fatores produtivos, dá ensejo à produção de 100, 90 e 80 unida-
des de cereais. Conforme a figura abaixo.
100 90 80
Figura 3 - Rendimentos decrescentes
Fonte: Rosa (2013). 
A produção da terra marginal trará uma receita suficiente para cobrir todas as 
despesas da produção mais a taxa média de lucros sobre o investimento na mão 
de obra e no capital. Caro(a) leitor(a), a própria definição de Ricardo é a seguinte, 
segundo suas próprias palavras: 
é apenas [...] porque a terra não é limitada em sua quantidade nem 
uniforme em sua qualidade e porque, com o aumento da população, é 
preciso usar terra de qualidade inferior, que se paga renda pelo seu uso. 
Quando com o progresso da sociedade, se cultivam terras do segundo 
grau de fertilidade, a terra de primeira qualidade começa imediatamen-
te a dar renda e o volume desta renda dependerá da diferença de qua-
lidade das duas terras. Quando se começa a cultivar a terra de terceira 
categoria, a terra de segunda categoria começa logo a dar renda, que é 
determinada, como antes, pela diferença de sua capacidade produtiva. 
Ao mesmo tempo, a renda da terra de primeira categoria aumentará, 
pois terá sempre que estar acima da renda da segunda, por causa da 
diferença entre seus produtos com determinada quantidade de capital e 
trabalho. Toda vez que a população aumenta, o país é obrigado a recor-
rer à terra de pior qualidade para poder aumentar a oferta de alimentos, 
e a renda de toda a terra mais fértil aumenta (RICARDO, 1982, p. 35).
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Segundo Ricardo, a razão pela qual há aumento no valor comparativo dos 
produtos agrícolas é o emprego de mais trabalho para produzir a última porção 
obtida e não o pagamento de renda ao proprietário da terra.
Nessa perspectiva comparativa, Ricardo foi o primeiro economista a argu-
mentar coerentemente que o livre comércio internacional poderia beneficiar 
dois países, mesmo que um deles produzisse todas as mercadorias comerciali-
zadas mais eficientemente do que o outro.
O pano de fundo desse período era de significativo desenvolvimento econô-
mico capitalista na Inglaterra por conta da Revolução Industrial e das radicais 
transformações advindas com a Revolução Francesa. A indústria têxtil era respon-
sável por significativa fração das exportações britânicas. Ricardo justificava que:
[...] cada país naturalmente se especializa nos ramos em que tem maio-
res vantagens, isto é, em que seus custos de produção são menores do 
que os de seus parceiros. Na divisão internacional de trabalho, cada 
país apresenta vantagens naturais (solo, clima, minério etc.) ou artifi-
ciais (mais capital acumulado, melhor infraestrutura), que determinam 
os produtos que pode obter com menor custo. Dessa maneira, os gran-
des beneficiados pelo comércio internacional são os consumidores dos 
países importadores, pois podem dispor de produtos do mundo inteiro 
pelos menores preços. (RICARDO, 1982, p. 103).
 A inquietação de Ricardo com o crescimento da taxa de lucro é constante. De 
forma especial, no tocante aos capitalistas industriais. Isso fica claro nas suas 
palavras:
é tão importante para o bem da humanidade que nossas satisfações 
sejam aumentadas pela melhor distribuição do trabalho — produzin-
do cada país aquelas mercadorias que, por sua situação, seu clima e 
por outras vantagens naturais ou artificiais, encontra-se adaptado, tro-
cando-as por mercadorias de outros países — quanto aumentar nossas 
satisfações por meio de uma elevação na taxa de lucros. (RICARDO, 
1982, p. 96).
Para que haja o aumento da taxa de lucros, é necessário uma redução dos salá-
rios. Para que haja essa queda, é necessário uma queda dos preços dos gêneros 
de primeira necessidade, nos quais os salários são gastos. Se, portanto, por 
uma ampliação do comércio exterior, ou por melhoramentos na maquinaria, 
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os alimentos e os bens necessários ao trabalhador puderem chegar ao mercado 
com preços reduzidos, os lucros aumentarão.
Nesse sentido, Ricardo era contra a Lei dos Cereais. Ele defendia o livre 
comércio internacional, de modo que para aumentar os lucros dos capitalistas, 
seria necessário reduzir os salários e uma maneira de obter tal redução seria a 
importação de víveres ou bens para a classe operária com preços mais baixos do 
que os produzidos internamente. Assim, a vantagem do comércio internacional 
se daria principalmente para os capitalistas que teriam seus lucros aumentados, 
bem como para os operários que não teriam seus salários reduzidos, necessa-
riamente, com tal aumento dos lucros (GENNARI, 2009).
Dessa maneira, para Ricardo (1982, p. 97), “num sistema comercial perfeita-
mente livre, cada país naturalmente dedica seu capital e seu trabalho à atividade 
que lhe seja mais benéfica. Essa busca de vantagem individual está admiravel-
mente associada ao bem universal do conjunto dos países”.
Ricardo vai utilizar como exemplo elucidativo a comparação entre a produ-
ção de vinho em Portugal com a produção de tecidos na Inglaterra. Nas trocas 
entre vinho e tecidos, a ideia da troca determinada pela quantidade de traba-
lho fica comprometida, pois trata-se de dois países com grau de produtividade 
e condições de trabalho desiguais. Dessa maneira, “a quantidade de vinho que 
Portugal deve dar em troca dos tecidos ingleses não é determinada pelas respec-
tivas quantidades de trabalho dedicadas à produção de cada um desses produtos, 
como sucederia se ambos fossem fabricados na Inglaterra ou ambos em Portugal”. 
É sobre a quantidade relativa de horas de trabalho para a produção das merca-
dorias objeto do comércio que repousa o aspecto crucial da teoria das vantagens 
comparativas, nas palavras de Ricardo (1982, p. 98):
[...] em Portugal, a produção de vinho pode requerer somente o traba-
lho de 80 homens por ano, enquanto a fabricação de tecido necessita 
do emprego de 90 homens durante o mesmo tempo. Será, portanto, 
vantajoso para Portugal exportar vinho em troca de tecidos. Essa troca 
poderia ocorrer mesmo que a mercadoria importada pelos portugueses 
fosse produzida em seu país com menor quantidade de trabalho que na 
Inglaterra. Embora Portugal pudesse fabricar tecidos com o trabalho 
de 90 homens, deveria ainda assim importá-los de um país onde fosse 
necessário o emprego de 100 homens, porque lhe seria mais vantajoso 
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aplicar seu capital na produção de vinho, pelo qual poderia obter mais 
tecido da Inglaterra do que se desviasse parte de seu capital do cultivo 
da uva para a manufatura daquele produto (RICARDO, 1992, p. 98).
Isto posto, a Inglaterra poderia exportar tecidos e importar vinho de forma mais 
vantajosa do que se dedicasse tempo de trabalho para a produção de vinho, des-
perdiçando horas de trabalho, que de outro modo, como na produção de tecidos, 
tornariaa indústria têxtil mais produtiva e teria mais tecidos e vinho do que se 
produzisse ambos. Do mesmo modo, a indústria de Portugal seria benéfica para 
ambos os países se produzisse vinho e trocasse pelos tecidos ingleses.
OS UTILITARISTAS E A UTILIDADE
É muito comum nos tempos atuais desejarmos ao outro FELICIDADE. Gianetti 
(2002) entende como intrínseco ao ser humano o propósito de alcançar uma 
vida feliz. Isso porque queremos, também, ser felizes. Para alguns a felicidade é 
ter casa própria, um carro específico, ter saúde, ter paz de espírito, ganhar uma 
medalha olímpica... O fato é que estamos sempre em busca da tal FELICIDADE!!!!
 Não vamos discutir o que é ser FELIZ! Não é nosso objetivo agora... Embora 
entendo que isso seja muito particular... Sem 
conceito específico. Estamos aqui para tratar 
de economia. E o que economia tem relação 
com felicidade? Tem sim... E muito!!!
Somos dotados do precioso dom da 
vida! Lutamos a cada instante pela sobre-
vivência. Para que isso ocorra, precisamos 
satisfazer nossos desejos, nossas necessidades. 
Essas necessidades podem ser de alimenta-
ção, vestuário, saúde, transporte etc. Para 
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que possamos cuidar dessas questões, precisamos de recursos... De dinheiro! 
Ganhamos nosso dinheiro mediante a venda da nossa força de trabalho, ou da 
atividade produtiva que resolvo empreender, ou do aluguel de um imóvel da 
minha propriedade, ou do serviço que presto para a sociedade como gestor finan-
ceiro, cabeleireira, como alfaiate, eletricista, economista etc.Tudo isso, lembro, em 
busca da felicidade, que passa, necessariamente pela satisfação dos meus desejos.
Em economia, a felicidade esteve em pauta desde seus primórdios: “Bentham, 
Mill e Smith incorporaram a busca da felicidade em seus trabalhos” (Graham, 
2005, p. 5 apud CAMPETTI, 2013, p. 5, on-line)1. Já estudamos a questão da 
moral e o autointeresse em Smith. Vamos, neste ponto do nosso trabalho, estu-
dar Bentham (1984), Say (1983), e Mill (1996) como pensadores relevantes e que 
muito contribuíram para a Escola clássica.
O nosso intuito, por ora, não é tratar de economia da felicidade, embora seja 
um assunto que ganhou novo tônus nas discussões econômicas. Vamos traba-
lhar sobre os utilitaristas e a questão do hedonismo.
JEREMY BENTHAM
Na economia tradicional, bem-estar é compreendido no sen-
tido utilitarista e hedonista, sendo equiparado às condições 
materiais de vida dos indivíduos (renda e consumo) ou, 
no caso de uma nação, à renda agregada gerada em deter-
minado período. De acordo com esta visão, o bem-estar é 
medido por meio de indicadores objetivos (CONCEIÇÃO; 
BANDURA, 2008 apud CAMPETTI, 2013, p. 5).
A concepção hedonista remete à ideia de que as pes-
soas perseguem as coisas que dão prazer e evitam as que 
provocam dor ou sofrimento. Todos os indivíduos procu-
ram alcançar seu prazer total. Nesse caminho é que nos 
colocamos, economicamente falando, para tratar do pen-
samento de Jeremy Bentham (1748-1832).
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O pensador tinha como tema central o chamado utilitarismo ou princípio 
da felicidade maior. O utilitarismo se sobrepôs ao hedonismo (doutrina ética 
que tratamos acima) à medida em que reconheceu uma função positiva para a 
sociedade e moderou a perspectiva hedonista de caráter extremamente indivi-
dualista. Se um indivíduo persegue apenas o prazer pessoal, sua ação promoverá 
um bem geral? Não necessariamente, pensou Bentham. A sociedade, porém, tem 
seus próprios métodos de obrigar os indivíduos a promover a felicidade geral.
A principal contribuição de Bentham para o desenvolvimento da econo-
mia não está no nível de suas análises, mas sim no âmbito de sua filosofia moral 
que concebeu a ação humana como um cálculo de prazeres e sofrimentos e que 
trouxe o princípio da utilidade para o centro das discussões. O utilitarismo cons-
titui uma doutrina ética de acordo com a qual o bem se identifica com o que é 
útil. Com J. Bentham, contudo, esse pensamento se consolida como um sistema 
filosófico, segundo o qual a felicidade consiste em se obter aquilo que é útil e, 
ao mesmo tempo, em se afastar do sofrimento, tornando-se próximo do prazer.
A idéia principal é que os seres humanos buscam maximizar a utilidade de 
maneira que buscam o máximo de prazer e, ao mesmo tempo, o mínimo de dor. 
Segundo Bentham, “a natureza colocou a humanidade sob o domínio de dois 
mestres soberanos, a dor eo prazer. Só eles podem mostrar o que devemos fazer. 
O princípio da utilidade reconhece esta sujeição e a aceita como fundamento de 
sua teoria social” (BENTHAM, 1984, p. 10).
Bentham argumentou que a riqueza é uma medida de felicidade, mas tem 
uma utilidade marginal decrescente à medida que aumenta.
De duas pessoas que têm fortunas desiguais, aquela que tem a maior 
riqueza deve, por um legislador, ser considerada como tendo a maior 
felicidade. Mas a quantidade de felicidade não continuará aumentando, 
em qualquer coisa, quase na mesma proporção que a quantidade de ri-
queza: dez mil vezes a quantidade de riqueza não trará com ela dez mil 
vezes a quantidade de felicidade. Será até mesmo assunto de dúvida, se 
dez mil vezes a riqueza em geral trará com ela duas vezes a felicidade. 
O efeito da riqueza na produção de felicidade continua diminuindo, 
enquanto a quantidade pela qual a riqueza de um homem excede à 
daquele outro continua a aumentar: em outras palavras, a quantidade 
de felicidade produzida por uma pequena parte da riqueza (cada parte 
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sendo da mesma magnitude) será menor em cada parte. O segundo 
produzirá menos do que o primeiro, o terceiro menos do que o segun-
do e assim por diante (BENTHAM, 1948 apud BRUE, 2016, p. 125).
Aqui, Bentham introduziu a ideia da utilidade marginal do dinheiro, da mesma 
forma que Ricardo tratou da ideia da produtividade marginal em sua teoria da 
renda. Essa noção é fundamental para nosso entendimento ao tratar dos mar-
ginalistas na Unidade IV.
É importante destacar que Brue (2016) assinala que, apesar dos seus aspec-
tos positivos (no sentido de que a grande devoção de Bentham era para o bem da 
maioria das pessoas), a filosofia e o pensamento econômico do pensador sofre-
ram muitas críticas. Haja vista que as estimativas de prazer e de sofrimento são 
subjetivas. Elas variam de pessoa para pessoa.
No decorrer do nosso trabalho do pensamento econômico, descobriremos 
que a análise da economia contemporânea não depende do pequeno “cálculo da 
felicidade” de Bentham (cálculo sofrimento-prazer) como uma base filosófica. 
Atualmente, a teoria econômica considera outros motivos e outros padrões de 
comportamento. A maioria dos economistas modernos também rejeita as com-
parações de utilidade interpessoal. Apesar disso, poucos observadores negariam 
que uma grande parte do pensamento econômico contemporâneo, com sua 
ênfase sobre a escolha racional feita pela comparação dos custos e dos benefí-
cios, tenha suas raízes firmemente plantadas no conceito do comportamento 
humano desenvolvido por Bentham. De qualquer modo, a maioria dos econo-
mistas modernos vê o comportamento humano como uma atividade intencional. 
O que tem acontecido, de fato, é um movimento, na disciplina, em analisar racio-
nalmente áreas pouco comuns, tais como adiscriminação, o casamento, o crime 
e o vício. Bentham estava certo quando afirmou: “Mas, eu plantei a árvore da 
utilidade. Plantei-a profundamente e espalhei-a totalmente”.
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JEAN BAPTISTE SAY
Jean-Baptiste Say (1767-1832) foi um francês que popularizou 
as ideias de Adam Smith no continente. Teve como principal 
trabalho A treatise on political economy, publicado em 1803. 
A carreira de Say foi temporariamente interrompida, pois 
Napoleão se irritou com suas opiniões exageradas sobre o lais-
sez-faire. Depois de algum tempo da derrota de Napoleão em 
Waterloo, Say trabalhou como professor de Economia e criou o 
ensino dessa disciplina na França. Tentou separar a economia 
da política e se reconhecia como herdeiro das ideias dos mer-
cantilistas, dos fisiocratas e das obras clássicas de Adam Smith.
Segundo a definição de Say, a produção não é uma criação de matérias, mas 
uma criação de utilidades. Ele se opôs à teoria do valor do trabalho da escola 
clássica, substituindo-a pela oferta e demanda que, por sua vez, são reguladas 
pelos custos da produção e da utilidade. Sobre a teoria do valor, nas palavras de 
Say (1983, p.10):
[...] a utilidade é o fundamento do valor. O preço é a medida da uti-
lidade. Quando não existem obstáculos à livre concorrência, nem in-
tervenções estatais, os preços do mercado refletem adequadamente 
os valores reais, ou seja, a utilidade dos diversos produtos. O custo da 
produção não é mais do que uma limitação imposta ao produtor, um 
limiar aquém do qual ele se absterá de produzir, mas que não determi-
na, de modo algum, o valor dos produtos. [...] trata-se, aqui, de uma 
total rejeição da teoria do valor-trabalho, assim como, também, de toda 
a distinção entre o valor de uso e o valor de troca. O valor de Say é um 
valor mercante que só define pela troca.
Para Say, em sua teoria da utilidade, é atribuída ao consumidor uma importân-
cia essencial, pois a procura é determinante para o estabelecimento do equilíbrio 
econômico. A demanda é o que define o que deve ser produzido. Os indivíduos 
vão ao mercado com o objetivo de maximizar sua utilidade e trocam os bens 
necessários por seu trabalho ou serviço, terra ou seu capital. O empresário, por 
sua vez, ocupa um lugar de relevância na sociedade, na medida em que está sem-
pre objetivando atender à oferta desejada pela demanda e, assim, maximizar seu 
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lucro. Nesse ambiente teórico, o Estado não tem papel determinante algum, ape-
nas deve abster-se de intervir no livre jogo das forças de mercado, ou seja, da 
oferta e da procura, que, se deixadas livremente, irão necessariamente estabele-
cer e manter o equilíbrio econômico (GENNARI, 2009).
Say(1983) afirma que “a demanda dos produtos em geral é tanto maior 
quanto mais ativa for a produção” ou “os produtos criados fazem nascer deman-
das diversas”.
Nas palavras mais conhecidas pelos economistas acerca da lei de Say: “Toda oferta 
cria sua própria demanda”. A abordagem do pensador pressupõe que a economia 
esteja em equilíbrio, e, portanto, as crises econômicas são fenômenos passageiros ou 
desequilíbrios temporários em determinados mercados. O entesouramento parece-
-lhe absurdo, pois, no seu entender, o objetivo da poupança é sempre o investimento.
Assim, os desequilíbrios parciais possuem a capacidade de autocorreção. Em 
última instância, o que reestabeleceria o equilíbrio seriam condutas racionais 
dos agentes econômicos em busca da máxima satisfação de suas necessidades 
pessoais, ou sua maximização (GENNARI, 2009).
JOHN STUART MILL
John Stuart Mill (1806-1873) foi o último grande economista da 
escola clássica, para Brue (2016), não há dúvida que Mill foi o maior, 
depois de Ricardo (1823). A escola clássica já estava em declínio 
durante a maturidade de Mill e ele partiu de alguns dos concei-
tos chave construídos na estrutura clássica por Smith e Ricardo. 
A grande obra de Mill, Principles of political economy, publicada 
pela primeira vez em 1848 foi o principal compêndio até a publi-
cação de Principles of economics, de Alfred Marshall, em 1890. 
Mill declarou-se discípulo de Bentham e Ricardo. Podemos pensar 
também que Mill foi o principal continuador e difusor do pensa-
mento de Bentham. Hunt (1989) apresenta Mill como precursor 
da escola econômica neoclássica marshalliana, de modo a defender 
reformas liberais e, de certo modo, a intervenção governamental.
A ESCOLA CLÁSSICA
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Podemos perceber que Mill, diferentemente de Bentham, não acreditava 
que todos os atos fossem motivados pelo interesse próprio. Só acreditava que 
a maioria das pessoas, cujas personalidades fossem moldadas por uma cultura 
capitalista concorrencial, é que agiria com base no interesse próprio, em seu com-
portamento econômico. Nessa perspectiva, Hunt (1989) entende que, apesar de 
um ponto de vista utilitarista e o fato de que o utilitarismo influenciou signifi-
cativamente suas ideias, ele não era, afirma, um utilitarista convicto. 
Pensamos que um motivo para essa questão da convicção utilitarista de Mill 
seja porque na primeira obra, ele parece defender a visão de que devamos sempre 
maximizar a felicidade geral para todas as pessoas; na segunda, por outro lado, 
sustenta que a sociedade pode interferir na liberdade dos indivíduos somente 
para prevenir danos a terceiros, ou seja, não deveria haver interferência mesmo 
quando tal tenha a possibilidade de produzir grandes ganhos globais em felicidade.
Na filosofia moral e política de Mill, destaca-se a liberdade e a espontanei-
dade humana. Nas palavras de Mill (1996, p. 268):
Depois de assegurados os meios de subsistência, a necessidade pessoal 
mais forte dos seres humanos é a liberdade; e (ao contrário das neces-
sidades físicas, as quais, à medida que a civilização progride, se tornam 
mais moderadas e mais fáceis de controlar) a necessidade de liberdade 
aumenta de intensidade, em vez de diminuir, à medida que a inteli-
gência e as faculdades morais se desenvolvem mais. A perfeição tanto 
das estruturas sociais como da moral prática, consistiria em assegurar 
a todas as pessoas independência e liberdade completas de ação, não 
sujeitas a nenhuma outra restrição senão a de não causar dano a ou-
tros; a educação que ensinou ou as instituições sociais que exigiram que 
as pessoas trocassem o comando de suas próprias ações por qualquer 
soma de conforto ou influência, ou abdicassem à liberdade em função 
da igualdade, privaram as pessoas de uma das características mais ele-
vadas da natureza humana. 
A teoria do valor em Mill consistia simplesmente no trabalho transformando 
os recursos naturais, nesse sentido, muito próximo à concepção de Ricardo, até 
porque Mill se considerava discípulo de Ricardo.
Mill propôs, sob o aspecto internacional, que a oferta e a procura exterior 
poderiam ser analisadas com base na premissa de que cada país sempre seria 
forçado a equilibrar seu balanço internacional de pagamentos. De modo que a 
receita das exportações deveria ser igual às despesas com as importações.
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Como verifica Sen (2007), autores como Adam Smith, John Stuart Mill, Karl 
Marx, se preocuparam mais com questõeséticas do que os escritos de William 
Petty, François Quesnay, David Ricardo, que se concentraram nos assuntos de 
logística e engenharia na Economia. Temos que, Stuart Mill pode ser conside-
rado um autor de transição, sob a perspectiva do pensamento que dá maior foco 
aos aspectos ligados à produção da riqueza (pensamento antigo) e o pensamento 
econômico moderno que tem como objetivo de pensamento os aspectos ligados 
à distribuição da riqueza. É diante desse cenário que vamos conhecer um pensa-
dor fundamental para a análise do sistema capitalista de produção: Karl Marx.
David Hume (1711-1776) nasceu na Escócia 12 anos antes de seu compa-
triota e amigo Adam Smith. Quando Smith publicou The theory of moral 
sentiments, Hume, utilizando um humor sardônico, escreveu que sob o 
ponto de vista do lucro que o livro causaria, era um bom livro. 
Fonte: Brue (2016).
 As ideias são inerentemente conservadoras. Elas não recuam diante do ata-
que de outras ideias, mas, sim, diante do ataque maciço de circunstâncias 
contra as quais não conseguem lutar.
(J. K. Galbraith)
A ESCOLA CLÁSSICA
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Prezado(a) aluno(a)! Essa unidade apresenta uma peculiaridade explicativa 
da economia atual. O pensamento que vigora tradicionalmente está pautado 
na escola clássica. Por isso, foi fundamental nosso conhecimento no tocante 
aos diversos pensadores como Adam Smith, Thomas Malthus, David Ricardo, 
Bentham, Say e Mill.
Você deve ter percebido, que Adam Smith foi o fundador da economia como 
ciência. É, talvez, o mais conhecido economista da história. Ele vai escrever em 
um cenário histórico com forte clima intelectual da época: o iluminismo. Esse 
movimento intelectual se ergueu sob dois pilares: a habilidade de raciocínio das 
pessoas e o conceito de ordem natural. Conforme vimos na unidade anterior, a 
revolução científica associada a Newton estabeleceu que a ordem e a harmonia 
caracterizavam o universo físico. É muito clara a influência de Quesnay em Smith, 
de modo que chega a elogiar o “sistema fisiocrático” “com toda a sua imperfeição”. 
Em Malthus, o cenário histórico era de aumento substancial da pobreza e a 
questão da lei dos cereais, de modo a impor tarifas aos grãos importados. Você 
deve ter compreendido que a teoria da população de Malthus implicava em con-
trole preventivo da população e, sobre as questões políticas, teve que rever a lei 
dos pobres. Haja vista que publicou primeiramente que o governo não deveria 
oferecer ajuda aos pobres e, nas edições posteriores teve que se desculpar.
Nosso trabalho tratou também de David Ricardo, figura importantíssima 
que tem um trabalho que perdura até os dias atuais. Com grande destaque para 
a teoria dos rendimentos decrescentes e da renda.
Nos utilitaristas, apresenta-se a questão que vimos, do hedonismo. Em que 
temos que maximizar o prazer e minimizar a dor. Essa teoria foi a base do que 
trataremos na unidade IV ao abordar Alfred Marshall. Nesse momento, nossa 
dimensão temporal está cercada de crises e pobreza, nesse ínterim surge a escola 
socialista, motivo de estudo da nossa próxima unidade.
107 
1. Discorra sobre o conceito de preço natural.
2. Qual a função do Estado em relação à economia no pensamento de Adam Smith?
3. Discorra sobre a teoria de Malthus.
4. Apresente as principais ideias da filosofia hedonista que inspiraram os utilitaris-
tas.
5. A Ciência Econômica apresenta profunda inter-relação com outras ciências. Tra-
ta-se de um campo autônomo que relaciona política, história, geografia, psico-
logia, sociologia, matemática, estatística entre outras áreas. Sobre esse estudo, 
analise as afirmativas abaixo:
I. Na chamada pré-economia, antes da Revolução Industrial do século XVIII, 
que corresponde ao período da Idade Média, a atividade econômica era vista 
como parte integrante da Filosofia, Moral e Ética.
II. O início do estudo sistematizado da Economia coincidiu com os grandes 
avanços na área da Física e Biologia nos séculos XVIII e XIX.
III. Adam Smith é considerado o pai da Economia Política.
É correto o que se afirma em:
a. I, apenas.
b. II, apenas.
c. I e III, apenas.
d. II e III, apenas.
e. I, II e III.
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LIBERALISMOS E EDUCAÇÃO. OU PORQUE O BRASIL NÃO PODIA IR ALÉM DE 
MANDEVILLE
Bernard Mandeville, nascido e educado em Filosofia e Medicina na Holanda, transferiu-se 
depois para Londres com o propósito de estudar inglês. Em 1688 ou 1689 decidiu 
fixar-se na Inglaterra. A Fábula das abelhas, que foi sendo construída por partes no pe-
ríodo de 1705 a 1729, é sua obra mais conhecida. Duramente criticada e até abominada 
por uns, exerceu grande influência, embora raramente reconhecida de forma explíci-
ta. O ponto de partida foi o livreto anônimo de 1705 intitulado The Grumbling Hive: or, 
Knaves Turn’d Honest (A colmeia barulhenta ou a redenção dos trapaceiros). Esquecido 
por cerca de 10 anos, esse texto reapareceu em 1714 como parte de um livro anônimo 
intitulado The Fable of the Bees: or, Private Vices, Public Benefits (A fábula das abelhas: ou 
vícios privados, benefícios públicos), o qual teve grande repercussão, suscitando inten-
so debate. Uma grande colmeia, repleta de abelhas que viviam no luxo e no conforto, 
afamada por suas leis e por sua população, constituía-se num grande viveiro das ciên-
cias e da indústria. As abelhas não eram escravas da tirania nem eram regidas por louca 
democracia, mas por reis cujo poder era limitado por leis. Esses insetos viviam como 
homens, realizando em pequeno todos os atos humanos. Cada parte (cada profissão: 
das menos conhecidas às dos advogados, dos médicos, dos sacerdotes, dos soldados, 
dos governantes, dos juízes etc.) estava cheia de vícios, mas o conjunto era um paraíso; 
os próprios pecados da colmeia contribuíam para a sua grandeza. Mas é vã a felicida-
de dos mortais! Ignorando os limites da bem aventurança, esses bichos murmurantes 
não mais se contentaram com seus ministros e governo. Antes, a cada infortúnio, quais 
criaturas perdidas sem remédio, maldiziam seus políticos, exércitos e frotas, ao grito de 
“Morram os trapaceiros!”, até que finalmente Júpiter, movido de indignação, prometeu 
libertar da fraude a uivante colmeia. E assim o fez. Nesse mesmo instante, a fraude ces-
sou e todos os corações se encheram de honradez. Foi grande e súbita a mudança. O 
preço da carne baixou em meia hora em toda a nação. Os tribunais ficaram sem serviço, 
porque todos passaram a pagar de boa vontade as dívidas, até mesmo aquelas de que 
os credores se haviam esquecido. Da mesma forma nas demais atividades, mesmo entre 
os grandes ministros e os pequenos funcionários do rei: todos haviam passado a viver 
dos seus soldos. Na gloriosa colmeia combinavam agora honradez e comércio. Mas os 
sóbrios que haviam restado queriam saber não mais como gastar, mas como viver. Na 
taberna, ao pagar a conta, decidiam não mais voltar. A saciedade matara a indústria. 
109 
Haviam restado na colmeia tão poucas abelhas que só podiam dar conta da centésima 
parte frente aos embustes das outras colmeias. Mesmo sem mercenários, lutaram com 
bravura pelo que era seu, obtendo a coroa da vitória. Mas a que preço: calejadas de 
tanto trabalho e exercícios, agora consideravam vício o próprio descanso. E, para evitar 
extravagâncias, repletas de contentamento e honradez, emigraram para um tronco oco 
(Mandeville, 2001, p. 11-21). A moral da fábula é clara: Deixai, pois, de queixar-vos: so-
mente os idiotas se esforçam para fazer de uma grande colmeia uma colmeia honrada. 
Querer gozar dos benefícios do mundo e ser famosos na guerra e viver com folga, sem 
grandes vícios, é vã utopia assentada no cérebro. Fraude, luxo e orgulho devem viver en-
quanto desfrutamos de seus benefícios: a fome é,sem dúvida, uma praga terrível, mas, 
sem ela, quem prospera ou se alimenta? [...] Segundo Kaye (apud Mandeville, 2001, p. 
65-77), a influência da obra de Mandeville se deu em três campos. Na literatura, a influ-
ência foi superficial. No domínio da ética, o impacto foi forte, figurando Mandeville entre 
os principais promotores do desenvolvimento do utilitarismo moderno. Foi no campo 
da economia que sua influência mais se destacou (embora raramente reconhecida de 
forma explícita!) e isso particularmente em dois pontos: “na formulação da famosa teoria 
da divisão do trabalho, que Adam Smith converteu numa das pedras angulares do pen-
samento econômico moderno”, e “como uma das principais fontes literárias da doutrina 
do Laissezfaire”. Mandeville antecipa, por assim dizer, duas formulações importantes do 
liberalismo econômico clássico: a noção de divisão de trabalho e a noção de liberdade 
econômica ou liberalismo econômico. Aliás, muito provavelmente Smith deve a Mande-
ville esses conceitos de divisão do trabalho e de liberdade econômica, tão centrais em 
sua obra A riqueza das nações, de 1776. É sumamente interessante.
Fonte: Ravanello (2009, on-line)2.
MATERIAL COMPLEMENTAR
Queimada
Sinopse: um provocador inglês enviado à ilha fi ctícia de 
Queimada para incitar uma revolta de escravos contra o 
colonialismo português. Os ingleses servem-se dos sentimentos 
independentistas dos escravos para se apropriarem, eles 
próprios, do comércio do açúcar, mas a revolta dos escravos 
ganha pernas próprias e prova-se difícil de controlar. Marlon 
Brando é irrepreensível no papel de William Walker, um cínico 
mercenário inglês que compreende demasiado bem à lógica do 
lucro e à desumanidade do colonialismo para lhes ser indiferente.
A edição crítica das obras de Ricardo foi organizada por Piero Sraff a com a colaboração de 
Maurice Dobb: The Works and Correspondence of David Ricardo. Seus 11 volumes foram lançados 
entre o fi nal as décadas de 1950 e 1970. 
Disponível em: <http://www.pensamentoeconomico.ecn.br/economistas/david_ricardo.html>.
REFERÊNCIAS
111
BENTHAM, J. Uma introdução aos princípios da moral e da legislação. São Paulo: 
Nova Cultural, 1984.
BRUE, S. História do Pensamento Econômico. São Paulo: Cengage Learning, 2016.
CHANG, H. Economia: modo de usar - um guia básico dos principais conceitos eco-
nômicos. São Paulo: Portfólio-Penguin, 2015.
GALBRAITH, J. A era da incerteza. São Paulo: Universidade de Brasília, 1979.
GENNARI, A. M.; OLIVEIRA, R. História do Pensamento Econômico. São Paulo: Sa-
raiva, 2009.
GIANNETTI, E. Felicidade: diálogos sobre o bem-estar na civilização. São Paulo: 
Companhia das Letras, 2002.
 HUNT, E. História do Pensamento Econômico. Rio de Janeiro: Campus,1989.
MALTHUS, T. Ensaio sobre a população. São Paulo: Abril Cultural, 1982.
MILL, J. Princípios de Economia Política. São Paulo: Abril Cultural, 1996.
NAPOLEONI, C. Smith, Ricardo e Marx. Rio de Janeiro: Graal, 2000.
RICARDO, D. Princípios de economia política e tributação. São Paulo: Abril Cultu-
ral, 1982.
ROLL, E. A History of Economic Thought. Nova York: Prentice-Hall, 1971.
ROSA C. S. M. O Livro da Economia. São Paulo: Editora Globo, 2013.
SAY, J. Tratado de economia política. São Paulo: Abril Cultural, 1983.
SCHUMPETER, J. Teoria do desenvolvimento econômico: uma investigação sobre 
lucros, capital, crédito, juro e o ciclo econômico. São Paulo: Abril Cultural, 1997.
SMITH, A. A riqueza das nações: investigação sobre sua natureza e suas causas. São 
Paulo: Abril Cultural, 1996.
SEN, A. Sobre ética e economia. São Paulo: Schwarcz, 2006.
REFERÊNCIA ON-LINE
1 Em: <http://www.ihu.unisinos.br/images/stories/cadernos/ideias/195caderno-
sihuideias.pdf>. Acesso em: 26 set. 2016.
2 Em: <http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v14n41/v14n41a09.pdf>. Acesso em: 12 
dez. 2016.
GABARITO
1. Trata-se do preço no longo prazo, abaixo do qual os empresários não continua-
riam a vender seus bens. Nas palavras de Smith: “Preço natural é como o preço 
central ao redor do qual continuamente estão gravitando os preços de todas as 
mercadorias”.
2. Para Smith o Estado não deve intervir na economia. De modo que a “mão invísi-
vel” se ocupa em organizar o bem-estar para toda a sociedade. 
3. Para Malthus, a população devia sempre ser mantida no nível dos meios de sub-
sistência. Segundo Malthus, o progresso da sociedade dependia do equilíbrio 
entre a população e os meios de subsistência, e, desse modo, tornava-se primor-
dial compreender quais o fatores que possibilitaram tal equilíbrio.
4. A ideia fundamental do hedonismo é a de que os homens estão sempre perse-
guindo as coisas que provocam ou aumentam o prazer e sempre tentando evitar 
as coisas que provocam a dor ou sofrimento.
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Professora Me. Carla Fabiana de Andrade Gonçalves Iori
ESCOLA MARXISTA
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Conhecer a teoria da história de Marx.
 ■ Compreender a teoria do valor do trabalho para Marx.
 ■ Estudar a questão da acumulação no sistema capitalista.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ A teoria da história de Marx
 ■ A teoria do valor - trabalho
 ■ A teoria da exploração
 ■ O acúmulo de capital
 ■ O acúmulo de capital e a crise
 ■ A centralização do capital e a concentração de riqueza
 ■ O conflito de classes
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a), nesta unidade você perceberá que a escola Marxista surgiu 
entre 1840 e 1860 e podemos pensar que seu início foi marcado pela publicação 
das obras de Marx. Esse pensador formulou ideias tanto sobre questões intelec-
tuais quanto sobre questões práticas, poucos são os intelectuais que tenham tido 
impacto equivalente às ideias dele. Apresentou sistema intelectual integrado, com 
argumentação contextualizada.
Para que Marx pudesse se debruçar sobre seus estudos, contou com o apoio, 
inclusive e, principalmente financeiro, de Friederich Engels. Em 1867, publica 
sua magnus opus O Capital. Desenvolveu uma ferrenha crítica ao sistema capi-
talista de produção.
Você verá que Marx tenta descrever a sociedade em seis estágios, a saber: 
comunismo primitivo, imperialismo escravocrata, feudalismo, capitalismo, socia-
lismo e comunismo. Nessa escola, o objeto de estudo é a luta de classes, de modo 
que ele via o conflito de classes como a força central da história. Você poderá per-
ceber que na sua teoria há uma abordagem sob o aspecto histórico. Conforme 
Chang (2015), Marx deu atenção ao trabalho como tal. No sentido de que é o 
trabalho que caracteriza o ato social. Dessa forma, a crítica de Marx se voltava, 
entre outras, à desumanização do ser humano. O que vale no sistema de mercado 
é a exploração do trabalho, o clima da concorrência, em detrimento da pessoa. 
Isso se apresenta à medida que o trabalho é mercadoria. Acontece que é uma 
mercadoria especial, pois gera valor para o capitalista. De modo a possibilitar a 
acumulação. E como você poderá perceber, esse processo gera uma tendência à 
queda da taxa de lucro proporcionando um cenário de alteração dessa tendên-
cia por parte dos capitalistas.
Trata-se de uma abordagem fundamental para o entendimento de forma 
crítica do modo de produção capitalista, em que pese a teoria de Marx e sofra 
críticas por vários pensadores.
Vamos em frente. Bons estudos!
Introdução
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ESCOLA MARXISTA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIIU N I D A D E116
A TEORIA DA HISTÓRIA DE MARX
Marx nasceu na Prússia, em uma família judaica que se converteu 
ao protestantismo durante sua infância.Estudou direito, história 
e filosofia nas Universidade Vonn, Berlim e Jena e, aos 23 anos, 
recebeu o grau de doutor em filosofia. Casou-se com Jenny von 
Westphalenm, filha de um barão que ocupava um alto cargo no 
governo. Ela foi a companheira devota de Marx durante todos 
os embaraçosos momentos de sua carreira.
Os cargos universitários sempre estiveram fechados a Marx 
devido ao seu radicalismo. Assim, ele se tornou jornalista, exi-
lou-se na Alemanha e foi para Paris, onde estudou socialismo 
francês e economia política inglesa. Durante seu exílio em Paris, 
conheceu Engels, estabeleceram uma estreita relação de amizade, 
na qual Engels passa a se tornar, inclusive, colaborador e protetor 
financeiro de Marx. Juntos, Engels e Marx escreveram o Manifesto do Partido 
Comunista, em 1848. No quadro 1, temos os detalhes da biografia, intensa, diga-
-se de passagem, da vida do pensador.
Quadro 1 - Biografia de Karl Marx
ANO FATO HISTÓRICO
1818 Nascimento de Karl Marx em Trier, na Renânia.
1836 Ingressou na Universidade de Bonn e depois continuou seus estudos na 
Universidade de Berlim.
1842 Tornou-se redator chefe da Gazeta Renana.
1843 Emigrou para Paris.
1848 Publicação de O manifesto comunista.
1848 Caía a monarquia de Luís Filipe e foi proclamada a República com a participa-
ção efetiva do movimento operário.
1848 Marx e Engels voltaram para a Alemanha e fundaram a Nova Gazeta Renana.
1849 Expulso da Alemanha, transferiu-se para a França, de onde também foi expul-
so, estabelecendo-se em Londres e, ali, passou a frequentar o Museu Britâni-
co e a estudar as obras clássicas de economia política.
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A Teoria da História de Marx
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ANO FATO HISTÓRICO
1852 Publicou O 18 Brumário de Luís Bonaparte, em que analisa os acontecimen-
tos na França, entre 1848 e 1951, que culminaram com o golpe de Estado.
1864 Participou da fundação da Primeira Internacional em Londres com o lema “a 
emancipação da classe operária deve ser obra dos próprios operários”.
1866 Concluiu o primeiro volume de O capital.
1870 As tropas de Luís Bonaparte foram derrotadas por forças prussianas. Paris foi 
sitiada. A população proclamou a República e declarou-se em comuna, isto é, 
em governo autônomo, contando com o apoio dos operários.
1871 Em A guerra civil na França, Marx defendeu que a comuna era a forma política 
finalmente encontrada pelos trabalhadores. A comuna foi esmagada por 
outro governo burguês que fez um acordo com os prussianos.
1875 Marx participou do partido Social-Democrata Alemão.
1876 A Internacional dissolveu-se oficialmente.
1883 Falecimento de Marx.
Fonte: a autora.
A dimensão temporal em que Marx está contextualizado era meados do século 
XIX. Adam Smith, David Ricardo e seus seguidores afirmaram ser de ordem natu-
ral uma sociedade econômica na qual os homens possuíssem as coisas – fábricas, 
maquinaria, matérias-primas, bem como a terra – com as quais os bens eram 
produzidos. Os homens possuíam o capital ou meios de produção. Nesse sen-
tido Karl Marx rompe com a maioria desses pensadores. Constrói a mais famosa 
descrição da teoria do valor-trabalho em sua obra magna O Capital. Essa noção 
de trabalho será discutida adiante, por ora, o fato, é que essa teoria implica na 
manifestação da existência da propriedade. E se revela a separação entre pro-
prietários dos meios de produção e forças produtivas, isto é, entre as condições 
e instrumentos do trabalho, e o próprio trabalho. O autor apresenta um sistema 
intelectual integrado e completo, que inclui concepções bem elaboradas sobre 
ontologia, e epistemologia, a natureza humana, a natureza da sociedade, a rela-
ção entre o indivíduo e o todo social e a natureza do processo da História Social. 
É tamanha a relevância desse autor que Galbraith (1979, p. 71) trata da dissidên-
cia de Karl Marx com os economistas anteriores nas seguintes palavras:
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empreguei a palavra maciça para descrever a sua furiosa investida. Se 
concordarmos que a Bíblia é uma obra coletiva, apenas Maomé rivaliza 
com Marx no número de professos e devotados seguidores recrutados 
por um único autor. E a competição não é realmente acirrada. Os se-
guidores de Marx agora superam em muito os filhos do Profeta.
 Beluzzo (2013) nos apresenta, que para Marx a socialização dos indivíduos se dá 
mediante o mercado, mas, no capitalismo, o mercado não é uma relação paralela 
entre vendedores e compradores. Isso implica uma abordagem diferenciada dos 
economistas anteriores a ele, que acreditavam na Lei de Say que “toda oferta cria 
sua própria demanda”, (Unidade II). As relações econômicas fundamentais estão 
constituídas, dessa maneira, por uma assimetria de poder entre os que possuem 
os meios de produção e os que, para sobreviver, são obrigados a vender livre-
mente sua força de trabalho. A história do capitalismo é a narração da crescente 
subordinação do trabalho e do “empobrecimento” do indivíduo.
Marx era um admirador do caráter progressista da burguesia e do capitalismo, 
ao mesmo tempo em que é um crítico impiedoso de uma estrutura social que 
desenvolve formas de dominação econômicas cada vez mais abstratas e distan-
tes do alcance do indivíduo despossuído, mutilado e cerceado em sua atividade 
criativa. A questão não é propriamente monetária, no sentido de ter mais ou 
menos dinheiro no bolso. O indivíduo é mais pobre, à medida que o desenvolvi-
mento capitalista “cria” necessidades e as ajusta diante do contexto de ampliação 
do lucro, “a qualquer custo”, na troca de mercadorias e em outros aspectos, que 
veremos adiante. Nas palavras de Beluzzo (2013, p. 15):
a automação crescente do processo de trabalho e a tendência à concen-
tração e centralização das forças produtivas assumem diretamente, em 
sua forma material, o automatismo da acumulação e seu caráter auto 
referencial, determinando o “empobrecimento” e a submissão da sub-
jetividade dos indivíduos “livres” e de seu mundo da vida. Ao contrário 
do prometido, eles não conseguem escolher o seu destino, mas são tan-
gidos por forças que lhe são estranhas, senão hostis.
Marx acreditava que a opressão das formas econômicas que se apresentam como 
“naturais”, entra frequentemente em conflito com as aspirações do indivíduo 
moderno e isso abre a possibilidade da ação transformadora. O pensamento 
original de Karl Marx causa assombro até os dias de hoje, tanto para os liberais 
e os defensores do capitalismo, quanto para os intelectuais e trabalhadores que 
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se opõem ao status quo. Desde o século XIX, sua influência vem se estendendo 
a todos os campos das ciências humanas. Na sociologia, na economia, na psi-
canálise, na teoria da administração, na antropologia entre outras. Podemos 
encontrar adeptos da escola marxista. Talvez o principal motivo esteja na pro-
fundidade e agudeza da crítica empreendida e desenvolvida ao longo de toda a 
obra. Nenhum trabalho de filosofia, de ciência natural, literatura ou pensamento 
social escapou aos estudos e à avaliação crítica de Karl Marx.
Karl Marx não se limitou a estudar e entender a realidade histórica com os 
olhos de seus contemporâneos. Foi além e criou seu próprio método de aborda-
gem: o materialismo histórico e dialético. Por sua originalidade e contundência, 
o método criado por Marx é considerado revolucionárioaté nossos dias, sendo 
estudado e utilizado por todos os intelectuais que se consideram pertencen-
tes à Escola Marxista. Diante da vasta obra e relevância do autor para a história 
econômica, nosso desafio é pontuar os traços mais característicos do desenvol-
vimento do pensamento do autor.
Para desenvolver sua teoria de história, Marx combinou a dialética e o mate-
rialismo. Esses termos são fundamentais no estudo sobre Marx. Em cada época 
histórica, os métodos predominantes ou as forças de produção produzem um 
conjunto de relações de produção que os suportam. Porém, as forças materiais de 
produção (tecnologia, tipos de capital, nível de habilidade de mão de obra) são 
dinâmicas: estão em constante mudança. Essas forças contrastam com as rela-
ções materiais de produção (regras, relações sociais entre as pessoas, relações 
de propriedade), que são estáticas e reforçadas pela superestrutura. Essa supe-
restrutura consiste em arte, filosofia, religião, literatura, música, pensamento 
político etc. Todos os elementos da superestrutura mantêm a conjuntura. Para 
Marx, a história é um processo por meio do qual as relações estáticas de produ-
ção entram em conflito com as condições dinâmicas de produção. O resultado? 
O conflito revoluciona o sistema, de modo que novas relações de produção pos-
sam permitir maior desenvolvimento das forças produtivas. O mecanismo de 
deposição das antigas sociedades é o conflito de classes. tem-se, dessa forma, a 
teoria materialista.
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É importante observar com atenção que, a cada modo de produção, a cons-
ciência dos seres humanos se transforma. Um exemplo clássico é que há apenas 
128 anos foi abolida a escravatura no Brasil (Lei Áurea em 13 de maio de 1888). 
Antes disso, era normal comprar e vender pessoas, hoje, esse tipo de prática é con-
siderado com toda razão, um absurdo. As transformações constituem a maneira 
como, em cada época, a consciência interpreta, compreende e representa para 
si mesma o que se passa nas condições materiais de produção e reprodução da 
existência. Sobre essa teoria materialista, nas palavras de Marx 1982, p. 14): “Não 
é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, ao contrário, é o seu 
ser social que determina sua consciência.
Nesse sentido, a contribuição de Chauí (2014) é esclarecedora, pois mostra 
que Marx e Engels, ao contrário do que se pode pensar, não são as ideias huma-
nas que movem a história, mas são as condições históricas que produzem as 
ideias. Ainda em Chauí (2014, p. 481):
Materialismo porque somos o que as condições materiais (as relações 
sociais de produção) nos determinam a ser e a pensar. Histórico porque 
a sociedade e a política não surgem de decretos divinos nem nascem 
da ordem natural, mas dependem da ação concreta dos seres humanos 
no tempo.
O materialismo histórico consiste na afirmação de que a sociedade é constituída 
a partir de circunstâncias materiais de produção e da divisão social do trabalho. 
As mudanças históricas são determinadas pelas transformações naquelas condi-
ções materiais e naquela divisão do trabalho. E, ainda, é necessário afirmar que 
a consciência humana é determinada a pensar as ideias que pensa por causa das 
condições materiais instituídas pela sociedade. 
Atente-se:
Materialismo: não tem relação com o sentido ético à medida que se busca 
de forma de medida por bens materiais. A ideia de materialismo é que somos 
o que as condições materiais (as relações sociais de produção) nos determinam 
a ser e pensar. Histórico, porque a sociedade e a política não surgem do nada, 
dependem da ação concreta dos seres humanos no tempo.
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A história é dinâmica à medida que é caracterizada por um processo de trans-
formações sociais determinadas pelas contradições entre os meios de produção 
(a forma da propriedade) e as forças produtivas (o trabalho, seus instrumentos, 
as técnicas). Para Karl Marx, uma questão fundamental é a luta de classes. Nesse 
contexto, é esse conflito expresso nas contradições sociais que é o motor da his-
tória. Por afirmar que o processo histórico é movido por contradições sociais, 
o materialismo histórico é dialético. Em o manifesto comunista, Marx chega a 
afirmar que “a história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem 
sido a história da luta de classes” (Marx, 2000, p. 8).
Nesse panorama de contradições (dialética), Marx via a sociedade envolvida 
em seis estágios, conforme Quadro abaixo:
Quadro 2 - Os seis estágios da história para Karl Marx
ESTÁGIO DA HISTÓRIA DESCRIÇÃO
Comunismo primitivo Não havia classes antagônicas. As pessoas possuíam 
terras em propriedade comum e cooperavam para 
obter seu sustento básico da natureza.
Imperialismo Escravocrata A eficiência da produção chegou a tal ponto que 
os trabalhadores poderiam produzir mais do que 
o necessário para a própria subsistência. Assim, o 
trabalho escravo tornou-se lucrativo e surgiram a 
exploração e os conflitos de classes.
Feudalismo Os servos tinham permissão para trabalhar algumas 
horas da semana nas terras que lhe foram desig-
nadas, mas eram forçados a trabalhar na terra do 
senhor durante os outros dias. Isso era exploração 
clara. Os servos tinham mais estímulo ao trabalho 
que os escravos e o feudalismo trouxe maior desen-
volvimento para as forças produtivas da sociedade.
Capitalismo Grande aumento na produtividade e na produção 
desencadeado por ele. As técnicas de produção 
tornam-se cada vez mais concentradas e centraliza-
das e o sistema de propriedade privada de capital 
torna-se um obstáculo ao progresso. Tornam-se 
evidentes o aumento do desemprego e o empo-
brecimento da classe trabalhadora, provocando a 
revolta dos trabalhadores. O Estado torna-se um 
instrumento de força utilizado pelo sistema contra 
os trabalhadores.
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ESTÁGIO DA HISTÓRIA DESCRIÇÃO
Socialismo A propriedade privada das mercadorias é permiti-
da, mas o capital e a terra pertencem ao governo 
central, às autoridades locais ou à cooperativas 
promovidas e controladas pelo Estado. A produção 
é planejada, assim como a taxa de investimento, 
Tendo a força motriz do lucro e o mercado livre 
eliminados como força orientadoras da economia.
Comunismo Sociedade sem classes. O mundo se uniria para o 
bem comum.
 Fonte: a autora.
Valendo-se dessa teoria da história como perspectiva, Marx se ocupou em “expor 
a lei de movimento econômico da sociedade moderna”. Ele não traçou um esboço 
do socialismo; esse não era seu objetivo. Pelo contrário, procurou analisar as for-
ças variáveis de produção em uma sociedade capitalista. Em outras palavras, ele 
quis determinar o processo por meio do qual as forças de produção, no capita-
lismo, produziram sua antítese e inevitável queda, assim, como aconteceu com 
a escravidão e o feudalismo no passado. 
Brue (2016) apresenta de forma ordenada os conceitos inter-relacionados 
para construir a teoria do capitalismo:
1. A teoria do valor - trabalho.
2. A teoria da exploração.
3. O acúmulo de capital.
4. O acúmulo de capital e a crise.
5. A centralização do capital e a concentração de riqueza.
6. O conflito de classes.
Vamos procurar descrever cada um desses conceitos em uma modesta apresentação.
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TEORIA DO VALOR - TRABALHO
É por meio da análise das “mercadorias” que Marx inicia seu Capítulo I, da obra 
O Capital (2012, p. 57):
a riqueza das sociedades onde rege a produção capitalista configura-
-se ‘imensa acumulação de mercadorias’, e a mercadoria, isoladamente 
considerada, é a forma elementar dessa riqueza. Por isso, nossa investi-
gação começa com a análise da mercadoria.
A mercadoria é, antes de mais nada, um objeto externo, uma coisa que, 
por suas propriedades, satisfaz necessidades humanas, seja qual for a 
natureza, a origem delas, provenham do estômago ou da fantasia. Não 
importa a maneira como a coisa satisfaz a necessidade humana, se di-
retamente, como meio de subsistência, objeto de consumo, ou indire-
tamente, como meio de produção.
Cada coisa útil, como ferro, papel etc., pode ser considerada sob duplo 
aspecto, segundo qualidade e quantidade. Cada um desses objetos é um 
conjunto de muitas propriedades e pode ser útil de diferentes modos. 
Constituem fatos históricos a descoberta dos diferentes modos, das 
diversas maneiras de usar as coisas e a invenção das medidas, social-
mente aceitas, para quantificar as coisas úteis. A variedade dos padrões 
de medida das mercadorias decorre da natureza diversa dos objetos a 
medir e também da convenção. A utilidade de uma coisa faz dela um 
valor-de-uso. Mas essa utilidade não é algo aéreo. Determinada pelas 
propriedades materialmente inerentes à mercadoria, só existe através 
delas. A própria mercadoria, como ferro, trigo, diamante etc., é, por 
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IIIU N I D A D E124
isso, um valor-de-uso, um bem. Esse caráter da mercadoria não depen-
de da quantidade de trabalho empregado para obter suas qualidades 
úteis. [...] na forma de sociedade que vamos estudar, os valores de uso 
são, ao mesmo tempo, os veículos materiais do valor-de-troca. O valor 
de troca revela-se, de início, na relação quantitativa entre valores de 
uso de espécies diferentes, na proporção em que se trocam, relação que 
muda constantemente no tempo e no espaço.
É importante aqui perceber que a mercadoria é um objeto externo ao homem, 
algo que pela suas peculiaridades satisfaz uma necessidade humana qualquer, 
material ou espiritual - a sua utilidade, determinada pelas suas propriedades, 
faz dela um valor de uso.
A mercadoria é produzida por ter um valor de uso, mas que está destinada à 
troca. Se fosse produzida para autoconsumo, por exemplo: o móvel que um mar-
ceneiro produz para sua própria casa, não são mercadorias. Somente, um bem 
que satisfaz uma necessidade. É nesse sentido que o valor de uso é o veículo do 
valor de troca. E o valor de troca, implica, necessariamente, na faculdade que 
uma mercadoria tem em ser trocada ou vendida. Assim, portanto, a mercado-
ria é uma unidade que sintetiza valor de uso e valor de troca.
Para que haja produção de mercadorias, é necessário que haja divisão social 
do trabalho e propriedade privada dos meios de produção.
Para que as mercadorias sejam produzidas, faz-se necessário que o tra-
balho seja repartido em diferentes homens, ou diferentes grupos de homens. 
Caracterizando a divisão social do trabalho. Essa é uma pré-condição para que 
haja produção no sistema capitalista. Mas não somente! Para Marx essa questão 
deve se articular à propriedade privada dos meios de produção. Ou seja, impre-
terivelmente para que haja produção, é necessário a divisão social do trabalho e 
a propriedade dos meios produtivos.
Historicamente, a produção mercantil é um fruto tardio do processo 
de constituição da sociedade humana- suas primeiras formas surgem 
quando a comunidade primitiva se desintegrou. Ela aparece no modo 
de produção escravista, fazendo com que em inúmeras sociedades 
assentadas sobre o escravismo exista um segmento, maior ou menor, 
de relações mercantis. No modo de produção feudal, esse segmento 
cresceu significativamente, em especial a partir do século XVIII (como 
vimos na Unidade I sobre as Cruzadas e o comércio). todavia , nem 
o escravismo, nem o feudalismo podem ser considerados modos de 
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produção de mercadorias; rigorosamente, apenas o modo de produção 
capitalista caracteriza-se como um modo de produção de mercadorias 
(NETTO, 2012, p. 93).
Caro(a) leitor(a), agora você está num ponto importantíssimo para o entendi-
mento da teoria do valor do trabalho para Marx. Eu e você vimos os conceitos de 
valor de uso e valor de troca. Mas o que determina o valor de uma mercadoria? 
A expressiva resposta de Marx: o tempo de trabalho socialmente necessário embu-
tido na mercadoria. Ou seja, considerando-se as condições normais de produção, 
a competência média e a intensidade do trabalho no tempo. O tempo de traba-
lho socialmente necessário inclui, o trabalho direto na produção da mercadoria, 
o trabalho embutido no equipamento e na matéria-prima utilizados durante o 
processo de produção e o valor transferido à mercadoria durante esse processo. 
Suponha que o tempo de trabalho médio contido em uma bicicleta seja de 10 
horas. Esse trabalho socialmente necessário determinará o valor da bicicleta. 
Se um trabalhador for incompetente e precisar de 20 horas para produzir uma 
bicicleta, esse valor ainda será de 10 horas. Imagine que um trabalhador ou um 
funcionário lidere o campo da tecnologia e eficiência e produza uma bicicleta em 
cinco horas de trabalho. Seu valor, no entanto, é 10 horas, o custo médio do tra-
balho para toda a sociedade, isto é, o tempo de trabalho socialmente necessário.
Conforme Brue (2016) a teoria do valor do trabalho de Marx difere da teoria 
de Ricardo em um ponto importante: para Marx, o tempo de trabalho determina 
o valor absoluto de produtos e serviços; no caso de Ricardo, eram os valores rela-
tivos de diferentes mercadorias proporcionais ao tempo de trabalho.
Quando a teoria do valor-trabalho dominava o pensamento econômico, en-
frentou uma série de críticas baseadas em questões paradoxais: se os caste-
los de areia resultam de trabalho, por que não têm valor? A resposta de Marx 
foi que nem tudo feito pelo trabalho tem valor, o trabalho pode ser despen-
dido em bens que ninguém quer. É claro que isso é uma exceção à regra.
Fonte: Brue (2016).
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A TEORIA DA EXPLORAÇÃO
Essa teoria tem relação com o aspecto da mercado-
ria à medida em que ela possui valor de troca. Nesse 
sentido, como o capitalista obtém lucro? De acordo 
com Marx, a resposta é comprando aquela mercado-
ria que possa criar um valor maior do que seu próprio 
valor. Brue (2016) contribui com sua afirmação: “essa 
mercadoria é a força de trabalho!”. Atente-se para 
o detalhe: força de trabalho apresenta um conceito 
diverso de tempo de trabalho.
Força de trabalho → habilidade de um indivíduo 
em trabalhar e produzir mercadorias.
Tempo de trabalho → é o processo e duração reais do trabalho.
A força de trabalho é, por si só, uma mercadoria comprada e vendida no mer-
cado; é elementar para que o capitalista possa auferir lucro. O que determina o 
valor da força de trabalho? Brue (2016, p. 179) nos apresenta a noção de que, para 
Marx, a resposta é o tempo de trabalho socialmente necessário para produzir 
as necessidades culturais de vida consumidas pelos trabalhadores e sua família.
Se essas necessidades pudessem ser produzidas em quatro horas de tra-
balho por dia, o valor da força de trabalhoda mercadoria seria quatro 
horas de trabalho por dia. Se a produtividade do trabalhador dobrasse, 
esses artigos de subsistência poderiam ser produzidos em duas horas 
por dia, e o valor da força de trabalho cairia 50% (BRUE, 2016, p.179).
Destaque para dois pontos:
1. Os empregadores pagam aos trabalhadores salários equivalentes à força de 
trabalho do trabalhador, isto é, eles pagam o salário de mercado vigente.
2. Esse salário de mercado é suficiente apenas para comprar a subsistência 
cultural (entende-se aqui como subsistência não necessariamente fisio-
lógica, mas o fruto de um “desenvolvimento histórico”, que incorporava 
A Teoria da Exploração
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os hábitos a que o trabalhador estivesse acostumado) necessária para a 
sobrevivência e perpetuação da força de trabalho.
Para Marx o motivo desse salário de subsistência não tem relação com o cresci-
mento demográfico de Malthus (Unidade II). O autor defendia que o capitalismo 
produz um “exército industrial de reserva”. Esse excesso de força de trabalho 
impõe, ao longo do tempo, que o salário médio permaneça próximo ao nível 
cultura de subsistência.
À medida em que o valor do trabalho é o custo da sobrevivência, ou seja, 
o salário é o preço da mercadoria força de trabalho, a exploração do trabalho 
acontece, da seguinte maneira: o capitalista paga ao trabalhador o equivalente 
ao valor de troca da sua força de trabalho e não o valor criado por ela na sua 
utilização (uso) - e este último é maior que o primeiro. Esse é o conceito de mais-
-valia (NETTO, 2012).
A exploração dos trabalhadores = a extração da mais-valia pelos capitalistas.
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O ACÚMULO DE CAPITAL
É por meio da reprodução ampliada de capital que o capitalista realiza o acú-
mulo de capital. Em linhas gerais, pari passu a apropriação da mais-valia pelo 
capitalista, uma parte é convertida para garantir seus gastos pessoais e a outra 
parte é reconvertida em capital. Isto é, utilizada para ampliar a escala da sua pro-
dução de mercadorias (aquisição de novas máquinas, contratação de mais força 
de trabalho etc).
O ACÚMULO DE CAPITAL E A CRISE
Na produção capitalista de larga escala, o processo de troca torna-se M→C→M, 
em que as pessoas compram para vender, em vez de vender para comprar. O 
dinheiro é trocado por mercadorias, como força de trabalho, matéria-prima e 
equipamentos. Os produtos são vendidos, então, para a obtenção de dinheiro. No 
entanto, esse processo não faz sentido, se os dois Ms são iguais. Assim, a repre-
sentação correta do processo capitalista é M→C→M’, em que M’ é maior que M 
pelo total da mais-valia obtida com trabalhadores produtivos. Esse é o processo 
de investimento expandido, nas palavras de Marx na crítica a Nassau Senior: “ 
Acumulai, acumulai! Eis Moisés e os profetas!”
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O Acúmulo de Capital
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Usando as palavras de Brue (2016, p. 186) para esclarecer a crise:
O investimento rápido em capital e mão de obra aumenta temporaria-
mente a demanda e eleva os salários que os capitalistas devem pagar. 
No entanto, esses salários maiores conduzem à uma redução das taxas 
de mais-valia e de lucro, encerrando a expansão e enviando a economia 
para a direção oposta. A depressão resultante destrói o valor monetá-
rio do capital fixo, permitindo que os capitalistas maiores adquiram 
todas as empresas menores a preço de barganha. Além disso, algumas 
fábricas fecham, os preços das mercadorias caem, os créditos ficam li-
mitados e os salários são reduzidos. As taxas de mais-valia e de lucro 
ficam, então, restauradas e o investimento aumenta novamente. ‘A es-
tagnação atual da produção teria preparado uma posterior expansão 
da produção dentro dos limites do capitalismo.’ Cada um desses ciclos 
comerciais, de acordo com Marx, tem maior magnitude do que os an-
teriores, contribuindo para as condições que produzem luta de classes 
e revolução social.
A CENTRALIZAÇÃO DE CAPITAL E A CONCENTRAÇÃO DE 
RIQUEZA
O processo de acumulação estimula e, simultaneamente, é estimulado por inova-
ções tecnológicas, conforme essas medidas permitem aos capitalistas a redução 
de seus custos. Isso porque a acumulação de capital que incrementa a produção 
de mais-valia é o objetivo perseguido no modo capitalista de produção.
Conforme Netto (2012, p.142):
Todavia, esse objetivo é tanto da classe capitalista tomada em seu con-
junto quanto de cada capitalista tomado singularmente; por isso, no 
processo de acumulação de capital, os capitalistas não têm apenas que 
explorar a força de trabalho; devem, ainda, competir entre si. De fato, a 
concorrência intercapitalista, que pode assumir formas mais ou menos 
agudas - mas que é constitutiva do modo de produção capitalista -, põe 
cada capitalista diante da alternativa: ou acumula capital ou desaparece. 
Por isso mesmo, também a acumulação é uma tendência e um processo 
permanentes no modo capitalista de produção; quando sua continui-
dade é perturbada ou interrompida, sobrevêm as crises.
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IIIU N I D A D E130
A dinâmica do acúmulo de capital e a tendência a recorrentes crises comer-
ciais centralizam a propriedade do capital e concentram a riqueza nas mãos de 
menos pessoas.
O capital cresce em um determinado lugar para uma grande massa 
porque em outro lugar ele foi perdido por muitos. [...] a batalha da 
concorrência é disputada barateando-se as mercadorias. O preço baixo 
das mercadorias depende, coeteris paribus, da produtividade da mão 
de obra, que novamente depende da escala de produção. Portanto, os 
maiores capitais batem os menores. Lembremos ainda que, com o de-
senvolvimento do modo de produção capitalista, há um aumento no 
total mínimo de capital individual necessário para que a comerciali-
zação e a negociação ocorram em condições normais. Os capitalistas 
menores, portanto, insistem em esferas de produção que a indústria 
moderna dominou apenas esporadicamente ou de forma incompleta. 
Essa competição torna-se acirrada na proporção direta com o número 
e na proporção inversa com a magnitude dos capitalistas antagônicos. 
Ela sempre termina com a decadência de muitos pequenos capitalistas, 
cuja parte dos capitais passa para as mãos de seus conquistadores e 
parte desaparece. Fora isso, com a produção capitalista, uma nova força 
conjunta entra em cena - o sistema de crédito.
No início, o sistema de crédito aparece como um modesto ajudante 
do acúmulo e retira, em montantes invisíveis, os recursos monetários 
espalhados pela superfície da sociedade nas mãos de capitalistas indi-
viduais ou reunidos em associações. Mas, logo ele se torna uma nova e 
formidável arma na luta da concorrência e, finalmente, se transforma 
em um imenso mecanismo social para centralização de capital. (Marx, 
2012, p. 686-687).
Coeteris Paribus ou Ceteris Paribus é uma expressão latina muito utilizada 
em economia e quer dizer “tudo o mais constante”.
Fonte: a autora.
O Conflito de Classes
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O CONFLITO DE CLASSES
A concentração de riqueza nas mãos de cada vez menos capitalistas e o empobre-cimento absoluto e relativo dos trabalhadores definem o estágio para o conflito 
de classes.
Karl Marx disse que as pessoas são movidas pelo desejo de se ligar a ou-
tras e que isso as fazem felizes. Mostramos tal desejo por meio do trabalho. 
Quando uma pessoa faz um produto, ele representa a sua personalidade. 
Quando uma pessoa faz um produto, ele representa a sua personalidade. De 
modo que o produtor se compraz não apenas porque satisfez a necessidade 
de outra pessoa, mas também porque o comprador confirma a “bondade” 
da personalidade do produtor. O capitalismo destrói a essência da huma-
nidade, declarou Marx, pois afasta o trabalhador daquilo que ele produz. 
As pessoas não mais controlam sua produção; são apenas contratadas para 
fazer algo a que elas deram pouca contribuição criativa e que muito pro-
vavelmente não consumiram nem negociaram. A natureza cooperativa da 
sociedade se perde, porque as pessoas são isoladas na concorrência por em-
prego. Marx afirmou que é esse distanciamento do nosso trabalho que nos 
deixa infelizes.
Fonte: O Livro da Economia (2013).
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ESCOLA MARXISTA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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 Todas as mercadorias, enquanto valores, são trabalho humano objetivado. 
 (Karl Marx)
Considerações Finais
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Caro(a) aluno(a)! Nessa unidade caminhamos na trilha do conhecimento acerca 
da teoria Marxista. Vimos que a mercadoria é um objeto que tem um duplo valor: 
valor de uso e valor de troca, que é o valor propriamente dito. Adentramos num 
universo que nos permitiu perceber que o valor de troca, é o trabalho humano 
necessário para produzir essas mercadoria. Ou seja, a substância do valor da 
mercadoria está no trabalho humano e a grandeza desse valor é determinada 
pela grandeza do trabalho humano.
Em outro momento, nós fizemos a pergunta: de que maneira nasce o capi-
tal? E a resposta encontrada por Marx está em uma fórmula simples, mas cheia 
de subjetividade. A fórmula: M→C→M’ que expressa que os giros da mercadoria 
e do dinheiro representam um aumento progressivo. O capital precisa encontrar 
uma mercadoria que dê mais dinheiro do que se gastou em sua compra, para que 
ele possa acumular. E essa mercadoria singular é a força de trabalho. 
Se o trabalhador pudesse realizar por si mesmo o valor do próprio traba-
lho, se ele não precisasse vender a sua força de trabalho, o modo de produção 
capitalista nem poderia existir, segundo Marx. Destarte, fomos apresentados ao 
que Marx considerava os seis estágios que envolviam os modos de produção da 
sociedade: comunismo primitivo, imperialismo escravocrata, feudalismo, capi-
talismo, socialismo e comunismo. 
Por fim, o processo que ocorre entre a acumulação e a concentração de 
riqueza. Em que o processo de acumulação estimula e, simultaneamente, é esti-
mulado por inovações tecnológicas. Conforme essas medidas permitem aos 
capitalistas a redução de seus custos. Isso gera a acumulação de capital que incre-
menta a produção de mais-valia que é o objetivo perseguido no modo capitalista 
de produção. 
Agora que você já conhece um pouquinho mais desse pensador, ampla-
mente conhecido na história econômica. Podemos avançar para conversarmos 
sobre a Escola neoclássica.
134 
1. Discorra sobre o materialismo no contexto da teoria Marxista. 
2. Marx via a sociedade envolvida em seis estágios. Discorra sobre eles.
3. “Acumular significa juntar, juntar, amontoar, amontoar riquezas, fazer fortuna. 
Tudo isso só é possível à acumulação de capital se ele se nutrir sempre mais e 
mais da mais-valia” (CAFIERO).
 Com base nesse fragmento de texto e, com a obra de Karl Marx, analise as 
afirmativas abaixo:
I. Para Marx, a exploração dos trabalhadores é representada por meio da mais-
-valia.
II. O ponto de partida de Marx foi a análise das vantagens comparativas.
III. Marx era adepto do liberalismo econômico.
Está correto o que se afirma em:
a. I, apenas.
b. II, apenas.
c. I e II, apenas.
d. II e III, apenas.
e. I, II e III.
4. Marx inicia sua análise, mediante o Capítulo I de O Capital, com a abordagem das 
mercadorias. Sobre elas, apresente os dois tipos de valores possíveis.
5. Por que, para Marx, havia conflito de classes?
135 
O CAPITALISMO ONTEM E HOJE 
Texto extraído do site do partido comunista do Brasil. Referente ao XIV Congresso 
do Partido. Texto adaptado pela autora.
Ao contrário do que sempre pregaram os economistas e filósofos liberais, o capitalismo 
não se caracteriza como um conjunto de práticas e hábitos resultantes de uma deter-
minada “natureza humana”, de uma “inclinação natural” dos homens a comerciar, per-
mutar e trocar. Segundo o modelo liberal e mercantil de explicação do surgimento do 
capitalismo, este teria nascido e se criado na cidade: qualquer cidade, com suas práticas 
de intercâmbio e comércio, era, por natureza, capitalista em potencial. Nas sociedades 
anteriores, ao pleno desenvolvimento do capitalismo, obstáculos externos à lógica de 
funcionamento da economia teriam impedido que qualquer civilização urbana desse 
origem ao capitalismo. A religião errada, o tipo errado de Estado, grilhões ideológicos, 
políticos ou culturais teriam servido como obstáculos à afirmação plena da “natureza 
humana” ao comércio e à troca. 
 Marx rompeu com a tese liberal do surgimento do capitalismo, ao insistir na especifi-
cidade do capitalismo e de suas leis de movimento, considerando que os imperativos 
específicos do capitalismo – sua fúria competitiva de acumulação por meio do aumento 
da produtividade do trabalho – eram muito diferentes da lógica ancestral da busca do 
lucro comercial e, não era possível identificar manifestações do capitalismo ao longo de 
toda a história humana. 
A diferença básica entre as sociedades pré-capitalistas e capitalistas tem a ver com as 
relações particulares de propriedade entre produtores e apropriadores, seja na agricul-
tura ou na indústria: nas sociedades anteriores ao capitalismo, os produtores diretos 
(camponeses) permaneciam de posse dos meios de produção, particularmente a terra 
e, o trabalho excedente era expropriado por meio da coerção direta (meios extra econô-
micos), exercida por grandes proprietários ou pelos Estados, que empregavam sua força 
superior – o poder militar, jurídico e político. 
Somente no capitalismo, o modo de apropriação passa a se basear na desapropriação 
dos produtores diretos legalmente livres, cujo trabalho excedente é apropriado por 
meios puramente econômicos: desprovidos de propriedade, os produtores diretos são 
obrigados a vender a força de trabalho para sobreviver, e os capitalistas podem apro-
priar-se do trabalho excedente dos trabalhadores sem uma coação direta. 
Capital e trabalho são profundamente dependentes do mercado para obter as condi-
ções mais elementares de sua reprodução: os trabalhadores precisam dele para vender 
a força de trabalho e adquirir os meios de sua subsistência; os capitalistas, para comprar 
a força de trabalho e os meios de produção, bem como para realizar seus lucros. O mer-
cado passa a ser determinante e regulador principal da reprodução social, penetrando 
inclusive na produção da necessidade mais básica da vida: o alimento. Criam-se os im-
perativos da competição, da acumulação e da maximização do lucro. 
136 
Na verdade, o capitalismo não nasceu na cidade, mas no campo, num lugar específico 
e numa época definida. As forças competitivas foram fatores fundamentais na expro-
priação violenta dos produtores diretos (camponeses), conforme descreveu Marx, com 
riquezade detalhes, em A Assim chamada acumulação primitiva (Livro I, volume 2 de O 
Capital). Os cercamentos das terras comunais e dos campos abertos ingleses represen-
taram, de fato, a extinção, com ou sem a demarcação física das terras, dos costumes em 
comum e dos direitos consuetudinários (costumeiros) dos trabalhadores e pequenos 
proprietários, buscando a criação extensiva de ovelhas ou o cultivo de terras aráveis 
com maior produtividade. Assim também nascia uma nova concepção de propriedade 
privada: a propriedade, no capitalismo agrário nascente, passava a ser, além de privada, 
absoluta e exclusiva, ao excluir grandes contingentes de indivíduos e comunidades do 
acesso à terra e aos meios de produção. 
A possibilidade de crise no capitalismo nasce da produção desordenada e do fato pelo 
qual a extensão do consumo, pressuposição necessária da acumulação capitalista, entra 
em contradição com outra condição, a da realização do lucro, já que a ampliação do con-
sumo de massas exigiria aumento de salários, o que provocaria redução da taxa de mais-
-valia. Tal contradição insanável faz com que o capital busque compensá-la por meio da 
expansão do campo externo da produção, isto é, da ampliação constante do mercado. 
Quanto mais a força produtiva se desenvolve, tanto mais entra em antagonismo com 
a estreita base da qual dependem as relações de consumo. Portanto, a crise periódica 
é inerente ao capitalismo, pois somente pode ser resultante das condições específicas 
criadas pelo próprio sistema. 
Segundo a teoria exposta originalmente por Marx no Livro III de O Capital, quanto mais 
se desenvolve o capitalismo, mais decresce a taxa média de lucro do capital. Esta ideia 
fundamenta-se no fato de que o processo de acumulação capitalista leva, necessaria-
mente, ao aumento da composição orgânica do capital, a qual é apontada como sendo 
a relação existente entre o capital constante (o valor da quantidade de trabalho social 
utilizado na produção dos meios de produção, matérias-primas e ferramentas de tra-
balho, ou seja, o “trabalho morto” representado, basicamente, pelas máquinas e pelos 
insumos necessários à produção) e o capital variável (valor invertido na reprodução da 
força de trabalho, o “trabalho vivo” dos operários). O processo de acumulação resulta na 
tendência à substituição do “trabalho vivo”, a única fonte de valor, por “trabalho morto”, 
que não incorpora às mercadorias nova quantidade de valor, mas apenas transmite às 
mesmas, a quantidade de valor já incorporada nos meios de produção. 
Fonte: O Capitalismo… ([2016], on-line)1.
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
Tempos Modernos
Ano: 1936
Sinopse: o Vagabundo tenta sobreviver em meio ao mundo 
moderno e industrializado.
O Capital
Karl Marx 
Editora: Civilização Brasileira
Sinopse: malgrado o impacto que teve e continua a ter, com 
todos os méritos, nos debates da chamada “ciência econômica”, 
O CAPITAL — que não por acaso tem como subtítulo CRÍTICA 
DA ECONOMIA POLÍTICA — não é simplesmente um livro de 
economia. Graças ao emprego do método dialético, que privilegia 
o ponto de vista da totalidade, a obra tem como objeto a 
reconstrução das principais determinações da vida social global 
dos homens. Quando, numa carta a Engels, Marx chamou o seu livro de “um todo artístico”, não 
fazia com isso uma simples metáfora: buscava indicar o princípio metodológico que orienta seu 
trabalho e que lhe possibilita atingir aquela profunda unidade sistemática de conceitos que 
reproduz, no plano do pensamento, a unidade do próprio ser social na riqueza explicitada e 
concreta de todas as suas determinações.
REFERÊNCIAS
BELLUZZO, L. O capital e suas metamorfoses. São Paulo: Unesp, 2013.
BRUE, S. História do Pensamento Econômico. São Paulo: Cengage Learning, 2016.
CHANG, H. Economia: modo de usar - um guia básico dos principais conceitos eco-
nômicos. São Paulo: Portfólio-Penguin, 2015.
CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2014.
GALBRAITH, J. A era da incerteza. São Paulo: Universidade de Brasília, 1979.
MARX, K. O Capital: crítica da economia política. 30. ed. Rio de Janeiro: Civilização 
Brasileira, 2012.
________. Teses Sobre Feuerbach. In: MARX, Karl; ENGELS, F. A Ideologia Alemã. 3. 
ed. São Paulo: Ciências Humanas, 1982.
________. O manifesto do partido comunista. São Paulo: Martin Claret, 2000.
NETTO, J. P, BRAZ, M. Economia Política: uma introdução crítica. São Paulo: Cortez, 
2012.
O Livro da economia. Vários autores (org.).Trad. Carlos S. Mendes Rosa. São Paulo: 
Globo, 2013.
REFERÊNCIAS ON-LINE
1 Em: <https://pcb.org.br/portal/docs1/texto6.pdf>. Acesso em: 1 out. 2016
GABARITO
139
1. É por afirmar que a sociedade se constitui a partir de condições materiais de 
produção e da divisão do trabalho que as mudanças históricas são determinadas 
pelas modificações naquelas condições materiais e naquela divisão do trabalho; 
e, ainda, por afirmar que a consciência humana é determinada a pensar as ideias 
que pensa por causa das condições materiais instituídas pela sociedade, que 
o pensamento de Marx e Engels é chamado de materialismo histórico (CHAUÍ, 
2014).
2. Comunismo primitivo, Imperialismo Escravocrata, feudalismo, capitalismo, so-
cialismo e comunismo.
3. A.
4. Uma mercadoria possui valor de uso e valor de troca.
5. A concentração de riqueza nas mãos de cada vez menos capitalistas e o em-
pobrecimento absoluto e relativo dos trabalhadores definem o estágio para o 
conflito de classes. Os crescentes estados de “miséria, opressão, escravidão, de-
gradação, exploração” dos trabalhadores aumentam seu senso de solidariedade 
e disposição para se revoltar.
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Professora Me. Carla Fabiana de Andrade Gonçalves Iori 
A ESCOLA NEOCLÁSSICA
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Conhecer a escola marginalista.
 ■ Compreender a relação entre a escola marginalista e a escola 
neoclassica.
 ■ Refletir a importância da escola neoclássica para a economia.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ Os marginalistas
 ■ A escola neoclássica
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a)! Nossa caminhada na história do pensamento econômico vai se 
situar temporalmente na Unidade IV por meio do marco do ano de 1871. Com o 
início da escola marginalista, o cenário histórico envolve graves problemas eco-
nômicos e sociais que permaneciam sem solução desde a Revolução Industrial. 
Por conta desse panorama, caro(a) leitor(a), imagine o campo do pensamento 
econômico, como deveria estar! Em estado de agitação total! Os pensadores que-
riam explicar os fenômenos sociais, por meio das mais diversas ideias. Nesse 
sentido, houve o que Gennari (2009) chama de “fissura” no pensamento eco-
nômico representado, de um lado, pela Escola Marxista e, de outro, pela Escola 
Neoclássica.
Iniciaremos a Unidade IV com a Escola Marginalista, representada pelos 
pensadores: Jevons, Menger e Walras. Você verá que a tendência seguida por eles 
baseou-se na teoria do valor-utilidade e trouxe a inovação da determinação do 
valor de troca, ou preço, pela utilidade marginal. Os marginalistas defendiam a 
harmonia social e, portanto, não a luta de classes. Defendiam, dessa maneira, a 
alocação e a distribuição de mercado e lamentavam a intervenção do governo. 
Desse modo, denunciavam o socialismo e procuravam desencorajar o sindica-
lismo trabalhista como ineficaz ou nocivo. Esses pensadores representam o eixo 
intelectual do pensamento neoclássico até os dias atuais.
Na sequência, será possível notar que o pensamento macroeconômico desen-
volvido pelos marginalistas, acima comentado, transformou-se, gradualmente, 
no que chamamos hoje de economia neoclássica. Ficará explícita essa relação à 
medida que a tomada de decisões e a determinação dos preços eram analisadas 
“na margem” (com base nateoria utilidade - unidade adicional). No entanto, 
com Alfred Marshall a visão amplia os horizontes do campo da demanda, para 
o campo da oferta, assim, vamos aprender sobre determinação dos preços de 
equilíbrio. Sendo esse entendimento fundamental para a compreensão do estado 
atual da ciência econômica. Bons estudos!
Introdução
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OS MARGINALISTAS
Em face da gigantesca revolução que o final do século XIX assistia, as escolas do 
pensamento econômico se polarizaram. Marx defendia a luta de classes e se ocu-
pou em estudar o capitalismo enfatizando as classes sociais. Para os marginalistas, 
a ocupação era a teoria utilidade. Essa, faz elo com o hedonismo trabalhado em 
Bentham (visto na Unidade II). 
Nesse sentido, a primeira parte da nossa trilha na caminhada neoclássica 
vai perpassar a revolução Jevoniana. Essa, inovou na determinação do valor de 
troca, ou preço, pela utilidade marginal.
A ideia de margem surgiu como uma tentativa de resolver questões 
que a análise da utilidade deixava indefinida, como o problema da sa-
tisfação do agente econômico. Margem é o ponto no qual a utilidade 
se transmuta em desutilidade, ou o ponto onde o lucro passa a ser pre-
juízo. Os valores são positivos num dos lados do ponto ou da linha, 
sendo negativos do outro lado. A análise marginalista estuda o último 
item consumido ou o último item produzido antes que essa linha seja 
cruzada; esse último item parece claro e determinado (BROCKWAY, 
1995, p. 305).
A seguir, um quadro amplamente explicativo com os principais dogmas e a des-
crição deles sobre a escola marginalista:
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Quadro 1- Principais dogmas da escola marginalista
DOGMA DESCRIÇÃO
Foco na margem
Essa escola direcionou sua atenção ao ponto de mudança em 
que as decisões são tomadas; em outras palavras, à margem de 
lucro. Os marginalistas ampliaram para toda a teoria econômi-
ca o princípio marginal desenvolvido por Ricardo em sua teoria 
da renda.
Comportamento 
econômico racional
Os marginalistas supuseram que as pessoas agem racional-
mente ao comparar prazeres e trabalho, ao medir a utilidade 
marginal de diferentes bens e ao equilibrar as necessidades 
presentes contra as futuras. Eles também supuseram que o 
comportamento intencional é normal e típico e que as anor-
malidades aleatórias cancelaram umas às outras. O método 
empregado pelos marginalistas teve suas raízes em Jeremy 
Bentham, em que eles assumem que o controle dominante 
da ação humana é buscar a utilidade e evitar a desutilidade 
(utilidade negativa).
Ênfase na 
microeconomia
A pessoa física e a empresa assumem o centro do palco no 
drama marginalista. Em vez de considerar a economia agre-
gada ou a macroeconomia, os marginalistas consideravam o 
processo de tomada de decisões individuais, as condições de 
mercado para um determinado tipo de bem, o resultado de 
empresas específicas e assim por diante.
O uso do método 
abstrato e dedutivo
O uso do método abstrato e dedutivo. Os marginalistas rejei-
tavam o método histórico (Escola Alemã) em favor do método 
analítico e abstrato desenvolvido por Ricardo e outros clássi-
cos.
Ênfase na livre 
concorrência
Os marginalistas normalmente baseavam suas análises na su-
posição da livre concorrência. Esse é um mundo de empreen-
dedores pequenos, individualistas e independentes, inúmeros 
compradores, muitos vendedores, produtos homogêneos, 
preços uniformes e nenhuma propaganda. Nenhuma pessoa 
ou empresa possui força econômica suficiente para influenciar 
os preços de mercado de forma perceptível. Os indivíduos 
podem adaptar suas ações à demanda, abastecimento e preço 
praticado no mercado, por meio da interação de milhares de 
pessoas. Cada pessoa é um operador tão pequeno em relação 
ao tamanho do mercado, que ninguém nota sua presença ou 
ausência.
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IVU N I D A D E146
DOGMA DESCRIÇÃO
Teoria do preço 
orientado pela 
demanda
Para os primeiros marginalistas, a demanda tornou-se a prin-
cipal força na determinação do preço. O economista clássico 
enfatizava o custo da produção (suprimentos) como fator 
determinante e significativo do valor da troca. Os marginalistas 
mais antigos passaram para o extremo oposto e enfatizaram a 
demanda para a virtual rejeição do abastecimento. Na sequên-
cia, vamos ver que Alfred Marshall resumiu o abastecimento e 
a demanda no que podemos chamar de economia neoclássica. 
Esse tipo de economia é marginalista, com um reconhecimen-
to criterioso sobre as contribuições da escola clássica.
Ênfase na utilidade 
subjetiva
De acordo com os marginalistas, a demanda depende da utili-
dade marginal, que é um fenômeno subjetivo e psicológico. Os 
custos de produção incluem os sacrifícios e os aborrecimentos 
de trabalhar, gerenciar um negócio e economizar dinheiro para 
formar um fundo de capital.
Os marginalistas acreditavam que as forças econômicas 
geralmente movem-se em direção ao equilíbrio - um balancea-
mento entre forças opostas. Toda vez que os distúrbios causam 
desarticulação, ocorrem novos movimentos em direção ao 
equilíbrio.
Fusão de terra e 
bens de capital
Os marginalistas juntaram a terra e os recursos capitais em 
suas análises e referiam-se aos juros, rendimento e lucro como 
sendo o retorno para os recursos de propriedade. Tudo isso 
tinha suas vantagens analiticamente e também se opunha à 
conclusão demonstrada por alguns, de que o rendimento da 
terra é uma renda diferida e um pagamento desnecessário 
com a finalidade de garantir o uso da terra. Os marginalistas 
uniram o pagamento ao proprietário de terras à teoria dos 
juros.
Mínimo envolvi-
mento do governo
Os marginalistas deram continuidade à defesa pelo envolvi-
mento mínimo do governo na economia, apresentada pela 
escola clássica, como a política mais desejada. Em muitos ca-
sos, nenhuma interferência nas leis econômicas naturais seria 
prescrita se fossem realizados grandes benefícios sociais.
Fonte: adaptado de Brue (2016). 
O período entre meados da década de 1840 e 1873 apresentou duas conjunturas 
conflitantes: rápida expansão econômica e graves problemas econômicos e sociais. 
A primeira se deu por quase toda a Europa e a industrialização se manifestava 
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tanto na Europa continental quanto nos Estados Unidos. No entanto, conforme 
Hunt (1989), todo o circuito permeado pelo Atlântico Norte foi revelando um 
grau de concentração de capital, de poder industrial e de riqueza. A acumulação 
de capital, fruto de concorrência agressiva e destrutiva, eliminou os concorren-
tes mais fracos. De modo que a pobreza espalhava-se, embora a produtividade 
estivesse aumentando drasticamente. Em outras palavras, uma distribuição extre-
mamente injusta de riqueza e de renda criava muito descontentamento, embora 
o padrão geral de vida estivesse crescendo.
A conjuntura na área rural também estava complicada. Os fazendeiros e os 
trabalhadores das fazendas tinham suas dificuldades:muitos se mudavam para 
a cidade, atraídos pelo incentivo de melhores oportunidades e impulsionados 
pela situação da pobreza rural.
O contexto econômico social era permeado por distorções. Na década de 
1870 o capitalismo assumiu uma forma inovadora. Essa dimensão temporal 
envolvia conflitos sociais, com greves, motins e o desenvolvimento do pensa-
mento socialista. A luta da classe trabalhadora para conquistar seu espaço em 
termos de ganho de produtividade do capitalismo europeu se intensificou, resul-
tando na Comuna de Paris. O fato é que se apresentava um sistema econômico 
dominado por centenas ou milhares de empresas gigantes, em esferas impor-
tantes da indústria, finanças, transportes e comércio. O capitalismo apresentado 
modificou rapidamente as relações sociais. Na medida em que avança a competi-
ção intercapitalista, cresce o controle das empresas sobre o trabalho na tentativa 
de intensificar o mesmo. As relações passam a ser hierárquicas e burocráticas e 
todo ato individual ou processo econômico passa a ser integrado e coordenado 
de modo racional, calculado.
O final do século XIX assistiu uma colossal revolução no pensamento eco-
nômico, enquanto Marx radicalizou os estudos da teoria do valor-trabalho e 
descobriu a categoria da mais-valia, representando uma robusta crítica ao capi-
talismo. Apresentar-se-á a revolução Jevoniana, a qual se baseou na teoria do 
valor-utilidade.
A escola marginalista apresenta seu marco temporal: 1871. Ano em que 
Jevons e Menger publicaram seus influentes livros sobre a teoria da utilidade 
marginal. Mais adiante você verá que essa escola se tornou parte da economia 
A ESCOLA NEOCLÁSSICA
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neoclássica ou da microeconomia contemporânea.
Nas obras The Theory of Political Economy (Teoria da Economia Política), 
de William Stanley Jevons, Grundsätze der Volkswirtschaftslehre (Princípios de 
Economia), de Carl Menger – ambos publicados em 1871 – e, três anos depois, 
Eléments d’Économie Politique Pure (Elementos de Economía Política Pura), de 
Léon Walras, embora houvesse muitas diferenças entre as análises feitas por esses 
autores, as semelhanças de abordagem e de conteúdo desses livros eram impres-
sionantes (HUNT, 1989).
A teoria do valor-utilidade permanece até os dias atuais, como centro da 
ortodoxia neoclássica. A noção de utilidade marginal decrescente permitiu que 
Jevons, Menger e Walras (e seus sucessores que não trabalharemos nesse material) 
mostrassem como a utilidade determinava os valores (como vimos na Unidade 
II ao tratar sobre Bentham). O ponto principal da contribuição das ideias dos 
três autores estava em como eles mudaram a forma da economia utilitarista e 
não em qualquer grande mudança em seu conteúdo. O marginalismo permitiu 
que a visão utilitarista da natureza humana, que era considerada somente uma 
maximização racional e calculista da utilidade, fosse formulada em termos de 
cálculo diferencial. Conforme Hunt (1989), esse foi o verdadeiro começo da 
tendência à formulação matemática das teorias econômicas. Alguns economis-
tas que apreciam o rigor matemático como um fim em si mesmo vêem Jevons 
e Walras como os mais importantes criadores da moderna teoria econômica. É, 
ainda importante comentar que, para Hunt (1989 p. 280) “apenas Walras - em 
sua teoria do equilíbrio geral- parece ter dado uma contribuição verdadeira-
mente significativa para a tradição utilitarista da Economia”.
Podemos entender, de modo geral, que os marginalistas defendiam a alocação 
e a distribuição de mercado, lamentavam a intervenção do governo, denuncia-
vam o socialismo e procuravam desencorajar o sindicalismo trabalhista como 
ineficaz ou nocivo.
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Já tratamos anteriormente sobre a relevância do prévio conhecimento da 
biografia dos diversos pensadores que por aqui trabalhamos. No caso específico 
dos marginalistas, montamos um quadro acerca desse assunto, haja vista, foram 
trabalhos publicados, quase que simultaneamente:
Quadro 2 - Obras e biografias dos marginalistas
AUTOR OBRA BIOGRAFIA
William Stanley 
Jevons
A teoria da 
Economia Política
(1835-1882) nasceu em Liverpool, na 
Inglaterra. Passou cinco anos na Austrália 
como avaliador da Casa da Moeda, onde 
ganhou o suficiente para voltar à Inglater-
ra e prosseguir seus estudos. Foi professor 
de lógica. Morreu afogado enquanto 
nadava.
Carl Menger Princípios da Economia Política
(1840-1921) nascido na Galícia (antigo ter-
ritório que fazia parte do império Austro 
Húngaro (hoje sul da Polônia). Sua família 
era afortunada. Seu pai era advogado. 
Foi professor na Universidade de Viena. 
Dedicou longo tempo de sua vida para a 
sua obra.
Léon Walras
Elementos de 
Economia Política 
Pura
(1834-1910) nascido em Evreux (comuni-
dade francesa na região administrativa da 
Alta-Normandia). Seu pai, Auguste Walras 
exerceu forte influência sobre os trabalhos 
do controverso autor. Conhecido como 
criador da Teoria do Equilíbrio Geral.
Fonte: a autora.
 
A ESCOLA NEOCLÁSSICA
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IVU N I D A D E150
JEVONS 
Um bom começo para tratar do trabalho de Jevons é observar que o principal 
pilar do seu trabalho está na teoria do valor. Para o pensador inglês, o valor é 
determinado e somente explicado pelo princípio da utilidade. Ele vai rejeitar de 
forma desdenhosa a definição de valor em Marx (valor como trabalho incorpo-
rado a uma mercadoria). No prefácio da sua obra, Jevons (1996, p. 27) afirma 
que “[...] as idéias de Bentham, são adotadas como ponto de partida da teoria 
fornecida neste trabalho”.
E ainda, no prefácio apresenta sobre Bentham 1984:
Jeremy Bentham formula a teoria utilitarista da forma mais firme. De 
acordo com ele, o que quer que seja de interesse ou de importância para 
nós, deve ser a causa de prazer ou de sofrimento; e quando os termos 
são usados numa acepção suficientemente ampla, o prazer e o sofri-
mento incluem todas as forças que nos conduzem à ação. São explícita 
ou implicitamente o objeto de todos os nossos cálculos e formam as 
principais magnitudes a serem tratadas em todas as ciências morais. 
As palavras de Bentham sobre esse tema podem requerer alguma ex-
plicação ou qualificação, mas são demasiado importantes e repletas de 
verdade para serem omitidas (JEVONS, 1996, p. 27).
É importante também apresentar a definição nas palavras do autor acerca da 
utilidade:
[...] a reflexão detida e a pesquisa levaram-me à opinião, de alguma for-
ma inédita, de que o valor depende inteiramente da utilidade. As opini-
ões prevalecentes fazem do trabalho, em vez da utilidade, a origem do 
valor; e há mesmo aqueles que claramente afirmam que o trabalho é a 
causa do valor. Demonstro, ao contrário, que basta seguirmos cuidado-
samente as leis naturais da variação da utilidade, enquanto dependente 
da quantidade de mercadorias em nosso poder, para que cheguemos a 
uma teoria satisfatória da troca, da qual as leis convencionais da oferta 
e da procura são uma consequência necessária [...]. Verifica-se que o 
trabalho determina o valor, mas apenas de maneira indireta, ao variar o 
grau de utilidade da mercadoria por meio de um aumento ou limitação 
da oferta (JEVONS, 1996, p. 29).
É, pois, esclarecedor que o conceito utilidade é central para a determinação do 
valor para Jevons. E, dentro desse caminho percorrido pelo autor, suas reflexões 
foram se apresentando, segundo a qual o valor era relativizado. Como assim? 
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Era sempre abordada uma mercadoria em comparação à outra.
Outro ponto que merece destaque nessa caminhada é observar que a 
Economia e a Ética para Jevons se relacionavam à medida em que:
[...] A teoria que segue está baseada inteiramente sobre o cálculo do 
prazer e do sofrimento; e o objeto da Economia é a maximização da 
felicidade por meio da aquisição do prazer, equivalente ao menor custo 
em termos do sofrimento. A linguagem empregada pode dar margem a 
mal-entendidos e poderia parecer como se os prazeres e os sofrimentos 
de todo o tipo fossem tomados como motivos plenamente suficientes 
para guiar a mente do homem. Não hesito em aceitar a teoria utilitaris-
ta da Moral, que toma o efeito sobre a felicidade da humanidade como 
o critério do que é certo ou errado. Porém, nunca percebi haver alguma 
coisa naquela teoria que nos impeça de propor as interpretações mais 
amplas e profundas a partir dos termos utilizados (JEVONS, 1996, p. 
59).
Aristóteles foi a primeira pessoa a observar que uma coisa útil em grande quanti-
dade, perderia a utilidade. A ideia de que, quanto mais se consome um produto, 
menor é o aumento da satisfação que se tem, é cultuada na teoria econômica 
como a lei da utilidade marginal decrescente. Marginal refere-se à mudança no 
“limite”, como comer mais um biscoito, ou seja, o nível de satisfação a partir de 
um biscoito adicional. Utilidade é o “prazer ou a dor” da decisão de consumir. 
Jevons (1996) mostrou que a utilidade pode ser medida por correlação com a 
quantidade disponível do produto.
O conceito de utilidade Marginal decrescente (UMD) tornou-se mais impor-
tante à medida em que os economistas se empenharam para entender o que 
determina o preço dos produtos. Se todos costumam concordar que um bis-
coito a mais gere menos utilidade, então é “lógico” que só faça sentido mais um 
biscoito se o preço cair, pois mais biscoitos dão menos prazer (unidades adicio-
nais), então, só compraremos se custarem menos. A procura resultante tem uma 
relação negativa com o preço, o que, junto com a oferta, ajuda a definir o preço 
de equilíbrio ou natural de um biscoito.
É claro que existem muitas exceções à lei da UMD, como encontrar a última 
peça de um quebra-cabeça, o que é muito prazeroso. Produtos viciantes, como 
drogas e álcool, também são exceções - quanto mais consumidos, mais apreciados. 
O princípio também faz certas suposições, como “o consumo deve ser contínuo”. 
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Comer um pacote de biscoitos de uma só vez, por exemplo, demonstra mais apro-
priadamente o princípio da UMD do que comê-los espaçadamente em um dia.
A Figura I demonstra o conceito de UMD, à medida em que evidencia a rela-
ção inversa de oferta e procura. Quanto mais uma pessoa tenha de certo produto, 
menos ela está disposta a pagar por cada unidade dele.
Figura 1 - Utilidade total e marginal 
Fonte: Neves (2015).
Por fim, Jevons entende que o prazer e o sofrimento são o objeto privilegiado 
do cálculo da Economia, na medida em que os indivíduos agem no sentido de 
buscar satisfazer ao máximo sua necessidade com o mínimo de esforço, ou seja, 
agem com o intuito de maximizar o prazer e minimizar a dor.
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CARL MENGER
Carl Menger foi o precursor da Escola Austríaca e, 
tinha como objetivo mais amplo, produzir um traba-
lho sistêmico sobre economia e um tratado abrangente 
sobre o caráter e os métodos das ciências sociais em 
geral.
A base das ideias de Menger é de que o valor é 
essencialmente uma atribuição subjetiva. Tanto é que 
a primeira frase do Capítulo I de sua célebre obra: 
Princípios de Economia Política é que: “Todas as coi-
sas são regidas pela lei da causa e do efeito”. E é assertivo em dizer que para essa 
regra não há exceção. E nesse caminho nos conduz ao que ele considera o con-
ceito de “bem”. Desse modo, para que uma coisa qualquer possa ser considerada 
como um bem, é preciso que contenha as seguintes características:
1. A existência de uma necessidade humana.
2. Que a coisa possua qualidades que a tornem apta a ser colocada em nexo 
causal com a satisfação da referida necessidade.
3. O reconhecimento, por parte do homem, desse nexo causal entre a refe-
rida coisa e a satisfação da respectiva necessidade.
4. O homem poder dispor dessa coisa, de modo a poder utilizá-la efetiva-
mente para satisfazer à referida necessidade.
 O autor é incisivo em que, somente se os quatro critérios forem atendidos de 
forma simultânea, é que pode ser classificado como bens de primeira ordem, 
de forma que estão em relação direta e imediata com as necessidades humanas 
Nesse caso, podemos incluir, dentre outros, por exemplo, o pão e a água. Também 
temos os bens de segunda ordem, que, por sua vez, possuem nexo indireto e cau-
sal com as necessidades humanas (matérias-primas). E, ainda, os bens de ordem 
superior ou os chamados meios de produção (GENNARI, 2009).
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IVU N I D A D E154
Vimos em Jevons a importância do conceito de utilidade. Mas e para Menger? 
Qual o conceito abordado pelo autor? A resposta é que para Menger (1983, p. 
286), a utilidade é: “[...] a aptidão que uma coisa tem para servir à satisfação de 
necessida des humanas, constituindo, portanto (a utilidade reconhecida como 
tal), um pressuposto básico para que uma coisa seja um bem”.
Agora sim, a partir dessa contextualização, podemos adentrar no conceito 
central de sua teoria: a teoria do valor.
A exposição de Menger sobre utilidade marginal decrescente e o equilíbrio das 
utilidades marginais, inclui um exemplo que será reproduzido na tabela abaixo. 
São valores hipotéticos da utilidade marginal para vários números de unidades 
de dez mercadorias ou classes de mercadorias (I até X). Os números seguintes 
de cada coluna representam sucessivas adições à satisfação total resultante do 
aumento de consumo da mercadoria especificada. Por exemplo, observe que o 
item de consumo mais importante é alimento, e assume-se que a primeira uni-
dade de alimento consumida tenha uma utilidade igual a 10, como mostrado 
na coluna I. Se uma segunda unidade de alimento fosse consumida no mesmo 
dia, sua utilidade seria 9. Observe que na coluna I que uma 11° unidade de ali-
mento não adicionaria nada à utilidade total dessa pessoa.
O tabaco, uma necessidade menos urgente, é mostrado na coluna V. A pri-
meira unidade consumida dá uma satisfação de apenas 6. Abaixo de seis unidades, 
os níveis mais elevados de consumo não aumentam a utilidade. Se um indivíduo 
obtivesse quatro unidades de alimento, a utilidade da pessoa por unidade cairia 
de 10 para 7. Essa pessoa, então, descobriria que uma quinta unidade de alimento 
provocaria a mesma satisfação (6) que a primeira unidade de tabaco (também 6).
→ Cada unidade de cada mercadoria representa o mesmo gasto de dinheiro 
ou de esforço ou sacrifício.
→ A economia individual é capaz de classificar as satisfações tanto ordinal 
como cardinalmente.
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Nesse ponto cabe uma comparação entre as teorias de Jevons e Menger. Este 
chegoua uma conclusão interessante com base na sua tabela. Imagine que um 
indivíduo pudesse suportar apenas sete unidades de alimento. Esse indivíduo 
satisfaria somente essas necessidades alimentares, que variam de importância 
entre 10 e 4 unidades de utilidade marginal. As outras necessidades alimentícias, 
variando entre 3 e 1, ainda não seriam satisfeitas. Qual seria a utilidade das sete 
unidades de alimento para essa pessoa? Jevons adicionaria as utilidades margi-
nais de cada unidade, da primeira até a sétima, para obter uma resposta de 49 
(10+9+8+7+6+5+4). A resposta de Menger, no entanto, seria 28 (4x7), a utili-
dade marginal da última unidade vezes o número de unidades. Por quê? Menger 
respondeu, todas as unidades são semelhantes; assim, cada uma possui a mesma 
utilidade que a unidade marginal. Se uma pessoa tivesse somente uma unidade 
de alimento por dia, seu estado de quase fome atribuiria um alto nível de utili-
dade a essa unidade. Mas, se a pessoa tivesse sete unidades, nenhuma unidade 
de alimento lhe daria mais satisfação do que a utilidade marginal. Nesse sen-
tido, Menger comparou o valor de troca com a utilidade total, diferentemente de 
Jevons, que comparou o valor de troca com a utilidade marginal. Das formula-
ções dos dois economistas, os contemporâneos geralmente aceitam a perspectiva 
de Jevons sobre o assunto.
Na avaliação de Menger, “o valor é por sua própria natureza algo totalmente 
subjetivo” (MENGER, 1983, p. 286).
Por fim, Menger deu origem à ideia de imputação nos fatores de preço da 
produção. Os marginalistas enfatizaram a importância da demanda do consu-
midor, especialmente em seus aspectos psicológicos subjetivos, na determinação 
de preços. Dessa forma, em sua teoria da imputação, sustentava a ideia de que os 
fatores de produção também produziam satisfação aos consumidores de forma 
indireta, ou seja, pela utilidade marginal do produto final a que deram origem.
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IVU N I D A D E156
O conceito de Menger sobre a Utilidade Marginal Decrescente
 GRAU DE 
SATISFAÇÃO 
MARGINAL
 (Alimento) Tabaco
Unidade 
Consumida
I II III IV V VI VII VIII IX X
1º 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1
2º 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
3º 8 7 6 5 4 3 2 1 0
4º 7 6 5 4 3 2 1 0
5º 6 5 4 3 2 1 0
6º 5 4 3 2 1 0
7º 4 3 2 1 0
8º 3 2 1 0
9º 2 1 0
10º 1 0
11º 0
Fonte: a autora.
LEON WALRAS
Léon Walras (1834-1910) nasceu em Evreux, França. A parte inicial de sua vida 
foi muito mal sucedida. Foi reprovado duas vezes no exame de admissão de 
Ecole Polytechnique, escreveu um romance que passou despercebido e fundou 
um banco que faliu. Num segundo momento, voltado ao estudo da economia, 
Walras foi nomeado professor de economia política em Lausanne, Suíça. Lá, ele 
fundou a Lausanne School of Economics, que enfatizava a aplicação da matemá-
tica à análise econômica. 
A Escola Neoclássica
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Walras desenvolveu e defendeu a análise do equilíbrio geral, que considera 
as inter-relações entre muitas variáveis da economia. Isso contrastava com a aná-
lise do equilíbrio parcial utilizada por Jevons, Menger e como você verá mais 
adiante, com Marshall.
A teoria do equilíbrio geral de Walras apresenta uma estrutura que con-
siste no preço básico e nas inter-relações de produção para a economia toda, 
incluindo tanto mercadorias como fatores de produção. Seu objetivo é demons-
trar, matematicamente, que todos os preços e todas as quantidades produzidas 
podem se ajustar a níveis mutuamente consistentes. Sua abordagem é estática, 
pois supõe que certos determinantes básicos permanecem inalterados, como 
preferências do consumidor, funções de produção, formas de concepção e pro-
gramas de ofertas de fatores. Walras mostrou que os preços em uma economia 
de mercado podem ser determinados matematicamente, reconhecendo a inter-
-relação de todos os preços.
A ESCOLA NEOCLÁSSICA
O pensamento microeconômico dos marginalistas, discutido anteriormente, foi 
gradualmente se transformando no que chamamos hoje de economia neoclássica. 
Etimologicamente neo significa “novo”, neoclassicismo implica uma nova forma de 
classicismo. Os economistas neoclássicos eram “marginalistas”, no sentido de que 
enfatizavam a tomada de decisões e a determinação dos preços na margem. Em 
Brue (2016) temos que o pensamento neoclássico salientava a oferta e a demanda 
para determinar os preços de bens, serviços e recursos no mercado, enquanto os 
marginalistas tendiam a reforçar somente a demanda. Outro elemento importante 
é que os economistas neoclássicos, por exemplo, Wicksell e Fischer, demonstraram 
maior interesse no papel da moeda na economia do que os antigos marginalistas. 
No sentido mercadológico, os neoclássicos expandiram a análise marginal para as 
estruturas do mercado, além da livre concorrência, do monopólio e do duopólio.
A ESCOLA NEOCLÁSSICA
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IVU N I D A D E158
O expoente da Escola neoclássica é Alfred Marshall (1842-1924). Seu pai era 
caixa do Banco da Inglaterra e desejava orientá-lo para uma carreira eclesiástica. 
Nesse sentido, tentou banir a matemática da vida do garoto, pois era desnecessá-
ria, face os objetivos do pai. No entanto, o jovem Marshall recusou uma bolsa de 
estudos em Oxford, onde deveria fazer os cursos necessários para o desempenho 
das funções religiosas. Estudou em Cambridge, onde se dedicou à matemática, 
à física e, posteriormente, à economia. Ele foi ajudado por um tio abastado. Foi 
o teórico mais influente de sua época e, sem dúvida, o maior de sua geração. No 
ano de 1888, dizia-se que seus primeiros alunos ocupavam metade dos cargos 
econômicos do Reino Unido. Em 1890 publicou sua principal obra: Principles 
of economics (Princípios de Economia). Após a publicação, ela se tornou o prin-
cipal manual de economia por décadas, influenciando a formação de gerações 
de economistas. Em 1906 ele escreveu:
nos últimos anos, tive um sentimento cada vez maior em relação ao 
meu trabalho de que um bom teorema matemático que trata de hipó-
teses econômicas dificilmente se transformaria em uma boa economia: 
e fui muito além das regras – (1) Use a matemática como um idioma 
taquigráfico, em vez de um mecanismo de investigação. (2) Guarde-os 
até que você termine. (3) Traduza para o inglês. (4) Depois, ilustre com 
exemplos que sejam importantes para a vida real. (5) Queime a mate-
mática. (6) Se você não conseguir o item (4), queime o (3). Este último 
eu fiz com frequência (MARSHALL, 1996, p. 6).
Marshall compilou o melhor da economia clássica com o pensamento margina-
lista. Essa combinação resultou na economia neoclássica. Marshall (1996, p.77) 
começa o Capítulo I da sua Magnus opus (grande obra) assim:
Economia Política ou Economia, é um estudo da Humanidade nas ati-
vidades correntes da vida; examina a ação individual e social em seus 
aspectos mais estreitamente ligados à obtenção e ao uso dos elementos 
materiais do bem-estar. Assim, de um lado é um estudo da riqueza; 
e do outro, e mais importante, uma parte do estudo do homem. Pois 
o caráter do homem tem sido moldado pelo seu trabalho quotidia-
no e pelos recursos materiais que busca por esse meio, mais do que 
por outra influência qualquer, à parte a dos ideais religiosos. Os dois 
grandes fatores na história do mundo têm sido o religioso e o econô-
mico. Aqui e ali o ardor do espírito militar ou artístico predominou 
por algum tempo; mas as influências religiosas e econômicas nunca 
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foram deslocadas do primeiro plano, mesmo passageiramente, e quase 
sempre foram mais importantes do que as outras todas juntas. Os mo-
tivos religiosos são mais intensos do que os econômicos, mas sua ação 
direta raro se estende sobre uma tão grande parte da vida. Porque a 
ocupação pela qual uma pessoa ganha a vida marca geralmente os seus 
pensamentos, durante a maior parte das horas em que a sua mente está 
no melhor da atividade, durante as quais seu caráter se vai formando 
pela maneira como ela usa das suas faculdades no trabalho, pelos pen-
samentos e sentimentos que este sugere, e pelas suas relações com os 
companheiros de trabalho, os seus patrões ou empregados.
 
Assim como os cientistas coletam, organizam, interpretam e inferem fatos, os 
economistas, afirmava o autor, também o fazem. Cada causa tende a produzir 
um resultado definido se nada acontece para impedi-lo. A economia não é um 
corpo de verdade concreta, mas é como um mecanismo para se descobrir a ver-
dade concreta.
É preciso fazer essa abordagem caro leitor, pois a metodologia de Marshall 
para trabalhar a ciência econômica era mediante o desvendar as leis da econo-
mia. Nesse sentido, qualquer lei é uma proposição genérica ou uma declaração 
de tendências mais ou menos certas, mais ou menos definidas. Nas palavras de 
Brue (2016, p. 275):
As leis sociais são declarações de tendências sociais. As leis econômi-
cas, ou declarações de tendências econômicas, são aquelas leis sociais 
relacionadas à conduta humana em que a força dos principais motivos 
pode ser medida por uma avaliação financeira. A economia é menos 
exata que as ciências naturais, mas o progresso é obtido por meio de 
muita precisão.
É sob essa perspectiva que vamos conhecer de forma breve os seguintes tópi-
cos em Marshall:
 ■ Lei da Demanda.
 ˚ Utilidade marginal.
 ˚ Escolha racional do consumidor.
 ˚ Lei da demanda.
 ˚ Elasticidade da demanda.
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 ■ Lei da Oferta.
 ˚ Presente imediato.
 ˚ Curto prazo.
 ˚ Longo prazo.
 ■ Preço de Equilíbrio e quantidade.
 
De acordo com Marshall, a demanda baseia-se na utilidade marginal decrescente.
A utilidade marginal de uma coisa para um indivíduo diminui a cada 
aumento da quantidade que ele já possui dessa coisa. Há, porém, uma 
condição implícita nessa lei, que deve ser esclarecida: é preciso dar por 
admitido que o tempo não há de produzir nenhuma alteração no ca-
ráter ou gosto da pessoa. Não constitui, portanto, uma exceção à lei de 
que quanto melhor música ouvir, mais forte se tornará o gosto por ela; 
que a avareza e a ambição sejam freqüentemente insaciáveis; nem que 
a virtude da limpeza e o vício da embriaguez aumentam igualmente à 
medida que se praticam. Pois em tais casos nossa observação se estende 
a certo período de tempo (MARSHALL, 1996, p. 166).
A contribuição de Brue (2016) é extremamente relevante para o entendimento 
da questão da utilidade marginal. Diante do sistema de Marshall, temos que a 
utilidade está relacionada com prazeres e esforços, desejos, aspirações e incen-
tivos para se tomar uma atitude. Mas como pode ser medida a utilidade de tais 
bens intangíveis? A resposta de Marshall é: “com dinheiro”.
É nesse ponto que chegamos num questionamento importante: Qual é o 
melhor dispositivo para calcular os motivos psicológicos das pessoas? Nas pala-
vras de Brue (2016, p. 276):
Os primeiros marginalistas afirmavam que a força das preferências de 
uma pessoa determina o total de dinheiro que ela está disposta a gastar 
para adquirir um produto ou o total de trabalho que está disposta a 
sacrificar para atingir um determinado objetivo. No entanto, Marshall 
inverteu a relação para medir as preferências de acordo com a escala 
financeira de pagamentos. Os primeiros marginalistas diriam que, se 
os sapatos são duas vezes mais úteis a você do que um chapéu, você se 
dispõe a pagar o dobro pelos sapatos - por exemplo, $ 40 versus $20. 
Marshall diria que, como você está disposto a pagar o dobro pelos sa-
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patos em relação ao preço do chapéu, podemos concluir que os sapatos 
produzem duas vezes mais utilidade para você. A medida exata em di-
nheiro das preferências ou motivos na vida dos negócios torna a eco-
nomia a mais exata das ciências sociais.
É nesse panorama que os questionamentos sobre o comportamento do consu-
midor, sob a perspectiva econômica, é envolto, inclusive nos dias atuais, com 
a ferramenta matemática. Isso porque, para Marshall, o dinheiro, mede a utili-
dade na margem, o ponto em que as decisões são tomadas.
Escolha racional do consumidor, sob o aspecto da escolha racional do con-
sumidor, a análise de Marshall também inclui a noção de escolha racional do 
consumidor. Isso implica que cada pessoa conseguirá observar constantemente 
se está gastando muito em algo que ela ganharia mais satisfação se ela tirasse 
desse “algo” e colocasse em outra coisa. Em outras palavras, a decisão é cons-
ciente, de modo que o consumidor percebe que está gastando muito em objetos 
de decoração e deixando de viajar. Assim, por exemplo, o consumidor que precisa 
decidir entre comprar objetos decorativos ou viajar está medindo as utilidades 
marginais de dois tipos diferentes de gastos.
LEI DA DEMANDA
As noções de utilidade marginal decrescente e escolha racional do consumidor 
resultam na lei da demanda de Marshall. Esta, por sua vez, relaciona preço e con-
sumo. Um exercício interessante para entender 
essa lei é o seguinte: imagine que suas despe-
sas estão equilibradas de tal modo que o último 
real gasto em cada um dos diversos bens e ser-
viços possam gerar utilidade marginal idêntica. 
Ou seja, está tudo certo, tudo constante nas 
suas finanças. 
De que forma você vai reagir caso o preço 
de um dado produto X cair? Nesse nosso exer-
cício, o preço dos outros bens permaneceram 
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constantes. Marshall entende que você vai comprar mais do bem X. Isso é expli-
cado por meio do raciocínio que implica que: uma queda do preço do bem X, 
faz a razão explicativa da utilidade marginal crescer. Ou seja, em condições de 
equilíbrio a UMx/Px =UMy/Py...-=UMn/Pn (A utilidade marginal do bem X com 
relação ao seu preço é constante em tal ponto que é igual para os produtos Y… 
até N). Quando o preço do bem X cai, essa relação UMx/Px essa relação aumenta 
com relação às outras dos outros bens. Para recuperar o equilíbrio das despe-
sas, o consumidor substituirá mais de X por menos de Y, Z e assim por diante. 
Quando essa substituição ocorre, a utilidade marginal de X, agora mais baixa em 
relação ao preço mais baixo de X, produzirá uma razão igual a UMy/Py e UMz/Pz. 
Assim, o equilíbrio será recuperado. Nas palavras de Marshall(1996): “a quanti-
dade demandada aumenta com a queda no preço e diminui com o aumento do 
preço”. Essa é a conhecida Lei da demanda decrescente.
Elasticidade
Marshall foi o criador do conceito de elasticidade. Trata-se de um conceito que 
quantifica o efeito da variação de uma variável em outra. 
Nosso autor analisou esse assunto verbal, matemática e 
diagramaticamente. Para o nosso trabalho, o importante 
é observar que a elasticidade da demanda nos diz se a 
diminuição do desejo é lenta ou rápidaconforme a quan-
tidade aumenta. Como assim? Ela relaciona a queda da 
porcentagem no preço ao aumento da porcentagem da 
quantidade demandada, que, obviamente, baseia-se na 
utilidade marginal decrescente do bem.
Desse modo, conforme Brue (2016), o coeficiente 
numérico da elasticidade da demanda (Ed) é a alteração 
da porcentagem na quantidade dividida pela alteração da porcentagem no preço. 
A demanda é elástica quando a alteração da porcentagem na quantidade excede 
a alteração da porcentagem no preço; a demanda é inelástica quando a alteração 
da porcentagem na quantidade é menor que a alteração da porcentagem no preço 
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e, a demanda apresenta elasticidade unitária, quando as alterações de porcen-
tagem são iguais. Em valores absolutos, se Ed > 1, a demanda é elástica; se Ed < 
1, a demanda é inelástica; e se Ed =1, a demanda apresenta elasticidade unitária.
OFERTA
Para Marshall a oferta é controlada pelo custo da produção. Nesse sentido, nosso 
pensador inovou, à medida que introduziu o conceito de oferta por meio de 
conceitos simétricos aos utilizados para a análise da demanda. Ainda renovou 
o tratamento pelo lado da oferta por ter incorporado o fator tempo na análise 
econômica, de modo que dividiu o tempo em três períodos: (1) o presente ime-
diato (curtíssimo prazo); (2) o curto prazo e o (3) o longo prazo.
Nessa perspectiva, temos que o presente imediato representa aquela circuns-
tância em que o período de mercado pode ter a duração de um dia. É definido 
como o período durante o qual a quantidade fornecida não pode crescer como 
resposta a um repentino aumento da demanda. De modo inverso, nem a quan-
tidade fornecida pode ser diminuída imediatamente em resposta a uma queda 
na demanda, pois leva um tempo para a produção ser restringida e os estoques 
reduzidos. Um exemplo citado em Brue (2016) é o seguinte: uma empresa pode 
preferir vender peixes frescos a um pequeno valor do que deixá-los estragar.
Mas se um bem não é perecível, os vendedores possuem preços de reserva, 
abaixo dos quais não venderão. No entanto, alguns vendedores, por terem contas 
a pagar pode ser que venha a vendê-los a preços abaixo do custo de produção.
Para analisar o que Marshall chamou de curto prazo, devemos seguir o racio-
cínio do nosso pensador e dividir os custos em dois tipos:
Custos suplementares: são aqueles que hoje são conhecidos como custos 
fixos. Por exemplo: a depreciação.
A ESCOLA NEOCLÁSSICA
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rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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Custos variáveis: custos principais. Por exemplo: trabalho e matéria-prima.
Nesse ponto, uma reflexão relevante é que o curto prazo é definido como o 
período durante o qual os insumos variáveis podem ser aumentados ou dimi-
nuídos, mas os custos fixos da fábrica não podem ser alterados.
Já os custos variáveis podem mudar a curto prazo e, a longo prazo, todos 
os custos são variáveis e devem ser cobertos, se a empresa deseja continuar no 
negócio. Se o preço aumentar a tal nível que a receita total exceda o custo total 
de produção, o capital ingressará na indústria, normalmente por meio de novas 
empresas, e a oferta de mercado aumentará.
 
PREÇO DE EQUILÍBRIO E QUANTIDADE
O que determina o preço de mercado? Marshall afirmava que a oferta e a demanda.
Dessa maneira, temos que o modelo analítico utilizado por Marshall con-
sidera que os agentes econômicos, consumidor e produtor, ambos atuam para 
maximizar, respectivamente, a utilidade e o lucro num sistema de concorrên-
cia perfeita no qual todas as demais variáveis externas à análise permaneciam 
constantes (ceteris paribus).
A representação dessa dinâmica entre os agentes foi apresentada em uma 
tabela baseada em um hipotético mercado de trigo, numa pequena cidade do 
interior da Inglaterra no século XIX.
A tabela abaixo apresenta os preços que os consumidores estavam dispos-
tos a pagar por determinada quantidade de trigo e a que preços os produtores 
comerciantes estavam propensos a ofertar para uma dada quantidade do cereal. 
Podemos inferir pelo Quadro 3 que, a 35 xelins, os produtores estavam dispostos 
a ofertar 600 quarters de trigo e os consumidores dispostos a adquirir 900 quar-
ters. Ao aumentar o preço de 35 para 37 xelins, a quantidade que os vendedores 
estavam dispostos a ofertar era de 1000 quarters, mas diminui a quantidade que 
os demandantes se propuseram a comprar. À medida em que os preços caiam, 
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ocorria o inverso. Marshall apresentou que, ao longo de um dia, a dinâmica entre 
oferta e a procura tendia a levar o preço para o nível de 36 xelins, pois esse preço 
expressava a identidade entre a quantidade que os produtores estavam dispostos 
a ofertar e os consumidores dispostos a adquirir. → Ponto de Equilíbrio.
Quadro 3 - Mercado hipotético de trigo
AO PREÇO DE
PROPRIETÁRIOS 
DISPOSTOS A VENDER 
(UNIDADES)
COMPRADORES DISPOSTOS A 
COMPRAR (UNIDADES)
37 xelins 1.000 quarters 600 quarters
36 xelins 700 quarters 700 quarters
35 xelins 600 quarters 900 quarters
Fonte: Brue (2016).
Graficamente, o equilíbrio entre preço e quantidade, segundo Marshall, é apre-
sentado no quadro anterior. Temos a quantidade no eixo horizontal porque a 
considerava como a variável independente. Hoje, os economistas consideram a 
quantidade como a variável dependente [Q=f(P)], embora continuem a colocar 
o preço no eixo vertical e a quantidade no eixo horizontal. Com efeito, eles se 
curvam à tradição de Marshall, em vez de à convenção matemática.
Vários autores classificam o pensamento de Walras contextualizando-o na 
escola matemática. Ele foi sucedido por Vilfredo Pareto, que muito contri-
buiu para a economia por meio da ferramenta conhecida como as curvas 
de indiferença.
Fonte: Brue (2016).
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Definitivamente, o grande número dos eventos com os quais a economia 
lida, afeta, em proporções quase iguais, todas as diferentes classes da so-
ciedade. Assim, se as medidas em dinheiro da felicidade causada por dois 
eventos são iguais, é razoável considerar o total da felicidade nos dois casos 
como equivalente.
(Alfred Marshall)
Considerações Finais
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Caro(a) aluno(a), procuramos abordar nessa unidade, a relevância da escola 
marginalista e da escola neoclássica. Buscamos demonstrar a relação entre as 
duas escolas. Dessa maneira, você pode perceber que os primeiros marginalistas 
abordavam a questão da utilidade pela ótica da demanda. A grande contribui-
ção de Marshall foi sintetizar os dois pontos: oferta e demanda.
Quando Marshall morreu em 1924, John Maynard Keynes o proclamou “o 
maior economista do mundo por cem anos”. Embora isso possa ser discutido, 
poucos discordariam que Marshall foi o teórico mais influente de sua geração. 
Seu Principles of economics apresentou a análise econômica a milhares de econo-
mistas que o seguiram. O fato de seu livro ter atingido a circulação máxima 40 
anos após a publicação de sua primeira edição atesta sua importância duradoura. 
Conforme Brue(2016), praticamente todos os economistas contemporâneos 
incluiriam Marshall com Adam Smith, David Ricardo e John Stuart Mill, como 
uma das quatro figuras mais importantes das escolas clássica e neoclássica. Para 
Galbraith (1979), Marshall “reunia a reputação de um profeta com a aura de 
um santo”. Foi o pai da escola neoclássica que dominou o mundo da economia 
anglo-americana de maneira quase incontestável por muitos anos. É por esse 
motivo, que resolvemos intitular essa unidade como Escola Neoclássica ao invés 
de Marginalista, por exemplo. Em outras palavras, é por conta da capacidade de 
Alfred Marshall em enfrentar os problemas práticos da economia real e fornecer 
instrumentos relevantes para a gestão econômica do livre mercado.
Foi necessário esperar até a crise de 1929, conforme Gennari (2009), para 
que essa convicção sofresse um abalo consistente. Em que, a realidade objetiva, 
no caso a acumulação de capital e a própria prosperidade do capitalismo, ques-
tionou o credo neoclássico. De fato, ninguém poderia prever as proporções que 
essa crise ocasionou no contexto econômico mundial. É o que veremos na pró-
xima unidade.
168 
1. Qual o significado da “revolução” jevoniana para a ciência econômica?
2. Para Menger, quais as características necessárias para que algo possa ser consi-
derado um “bem”?
3. Discorra sobre a teoria do equilíbrio de Walras.
4. Sobre a incontestável contribuição de Marshall para a microeconômica, discorra 
sobre o que considera mais relevante do seu ensinamento.
5. Discorra sobre o conceito de elasticidade da demanda.
169 
A PSICANÁLISE FACE AO HEDONISMO CONTEMPORÂNEO
Observa-se, em relação às novas formas de subjetivação na atualidade, uma negação do 
sofrimento acompanhada da busca incessante de felicidade. A subjetividade é hoje ca-
racterizada pelo hedonismo, pelo imperativo de gozo que se associa ao dever de ser fe-
liz. O sujeito atual nega a dor, seja na relação que mantém com o próprio sofrimento ou 
naquela que interage com o sofrimento do outro. Esse modo de se posicionar frente à 
dor é marca do nosso tempo, circunscrito às concepções que descrevem a contempora-
neidade por meio do que Lasch (1979) denominou de “cultura do narcisismo” e Debord 
(2000) de “sociedade do espetáculo”, regida pelo triunfo do individualismo associado ao 
consumo e à demanda incessante de prazer.
Constata-se que, na contemporaneidade, ocorreu uma mudança nas formas de subje-
tivar-se, sendo uma dessas modificações observada no modo de o sujeito relacionar-se 
com a dor como algo a ser evitado. Portanto, falar do sofrimento hoje é tocar em uma 
questão crucial, pois o que caracteriza o homem na atualidade é o hedonismo, o impe-
rativo de ter prazer e evitar o sofrimento.
Ao imperativo de gozo, associa-se o dever de ser feliz. A regra vigente é não sofrer e a 
proposta que reina soberana é a de “pensar positivo”, ou seja, ter a felicidade como o 
horizonte de todos os acontecimentos da vida.
Assim, se no século XIX a figura do spleen, certo ar de tristeza e melancolia, tinha o seu 
charme, principalmente entre os poetas (ver, por exemplo, Eça de Queiroz em Os Maias), 
hoje a tristeza não está na moda. Outra relação com o sofrimento, que estava longe 
de ser a da negação, também podia ser observada nos teóricos do existencialismo, no 
romantismo ou na cultura beat. Até mesmo na bossa nova, os poetas sempre cantaram 
com suas músicas que a “tristeza não tem fim, felicidade sim”. Hoje, aquele que não con-
segue ser feliz é visto como uma pessoa fraca e merecedora de culpa. Nos nossos dias 
“toda tristeza é vergonhosa, injustificada e daqui por diante patológica” (Silvestre, 1999, 
p. 115).
A negação da dor não leva a que exista, de fato, menos dor. Ao contrário, a dor excluída 
é, ela mesma, fonte de dor. Uma das marcas do nosso tempo é o desamparo. Vivemos 
em uma era de incertezas que mudou a relação do sujeito com as garantias quanto ao 
seu futuro. Isso conduz à sensação de vazio e de desproteção, à descrença na política, 
à fragilidade dos laços sociais e ao enfraquecimento da figura da alteridade nas nossas 
vidas.
Assim, o sujeito atual organiza-se a partir do eixo individualista-hedonista, e o sofredor 
não se encaixa nos moldes atuais de exaltação do eu e exibicionismo. Vemo-nos acossa-
dos pela obrigação de ser feliz. As propagandas publicitárias reificam, a todo momento, 
essa exigência. Seja nos anúncios de cigarro, nos quais todos estão sempre atléticos, 
sorridentes e felizes; seja no slogan “Mc Donald’s: gostoso como a vida deve ser”, a men-
sagem que se passa é que a felicidade é um bem a ser adquirido nas prateleiras dos 
supermercados.
170 
Com efeito, a cultura do hedonismo está intrinsecamente associada à sociedade do con-
sumo. Nosso dever é ser feliz e a felicidade implica o consumo. Como salienta Baudrillard 
(1981), a aquisição dos objetos na nossa sociedade traduz-se pela ilusão de que o con-
sumo pode preencher a demanda de felicidade. Os objetos neste registro simbólico são 
marcados por uma equivalência entre possuir bens e usufruir a felicidade. Deste ponto 
de vista, a referência à felicidade articula-se com a ideologia igualitária-individualista do 
bem-estar, na qual o conforto e o bem-estar passam a ser sinônimos de felicidade, assim 
como permitem uma espécie de mensuração da igualdade. A democracia burguesa pas-
sou a mascarar as desigualdades sociais ao tornar os objetos de bem-estar acessíveis a 
todos, apesar de esta pretensa igualdade não ter se mostrado de modo algum real, aca-
bando por mascarar ao invés de permitir a problematização e o encontro das possíveis 
soluções para as desigualdades sociais.
Nesta lógica, há uma redução absoluta da figura da alteridade, pois mesmo outro ser 
humano pode tornar-se objeto de consumo, servindo assim como mero instrumento 
para o prazer egóico do sujeito. Neste contexto, o outro só existe enquanto reforçar a 
auto exaltação narcísica do sujeito, como meio para alimentar o eu, e não como rela-
ção de alteridade. Como um objeto de consumo qualquer, o outro da relação pode ser 
também rapidamente descartável. Há, assim, uma relação predatória do outro, que só 
existe de forma “útil”, na medida em que é fonte de prazer para o eu, afirmando-se aqui o 
utilitarismo nas relações interpessoais, que prega que o outro pode ser reduzido a mero 
objeto de troca.
É, no contexto da fragilidade, que assola o homem de nossos dias que podemos também 
compreender o circuito consumista. A obsessão de comprar é certamente a expressão 
dos instintos hedonistas, mas pode ser vista, por outro lado, como forma de paliativo 
frente às inseguranças e incertezas que inquietam o homem atual. A compulsão con-
sumista não é apenas o extravasamento da busca incessante de sensações prazerosas, 
mas constitui-se também numa espécie de compensação diante do vazio da própria 
subjetividade: “o comprar compulsivo é também um ritual feito à luz do dia para exorci-
zar as horrendas aparições das incertezas que assombram as noites” (Bauman, 2001, p. 
96). Os objetos coloridos, cheirosos e brilhantes expostos nas vitrines das lojas atendem 
à busca incessante e imediata do êxtase hedonista, mas denunciam também o lado da 
vulnerabilidade que busca ser compensada por este tipo de prazer. O consumo faz com 
que os sujeitos tentem “escapar da agonia que se chama insegurança”.
Como vimos no utilitarismo hedonista, os princípios individualistas não somente são 
valorizados, como são dados como aquilo que deve ser a própria ética, ou seja, o signo 
da felicidade perfeita.
Fonte: adaptado de Fortes (2009, on-line)1.
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
Roger e eu
Ano: 1989
Sinopse: no fi m da década de 1980, o fechamento de onze 
fábricas da General Motors em Flint, Michigan, deixou 
cerca de trinta mil pessoas desempregadas. Michael Moore 
tenta encontrar o presidenteda empresa, Roger Smith, 
para ouvir o que ele tem a dizer sobre isso.
Aprende Economia
Paul Singer 
Editora: Brasiliense
Sinopse: aprender economia hoje é uma necessidade. Todo 
mundo anda preocupado com a infl ação, desemprego, com 
a dívida externa. Este livro trata a economia numa linguagem 
acessível e didaticamente transmite conhecimentos 
indispensáveis ao exercício do aprendizado de economia e 
cidadania. Se saber economia é hoje uma necessidade, nada 
melhor do que um livro preocupado com as pessoas comuns 
que na maioria das vezes não conseguem entender o ‘economês’, que ouvem ou lêem por aí.
REFERÊNCIAS
BENTHAM, J. Uma introdução aos princípios da moral e da legislação. São Paulo: 
Nova Cultural, 1984.
BROCKWAY, G. A morte do homem econômico. São Paulo: Nobel, 1995.
BRUE, S. História do Pensamento Econômico. São Paulo: Cengage Learning, 2016.
GALBRAITH, J. A era da incerteza. São Paulo: Universidade de Brasília, 1979.
GASTALDI, J. P. Elementos de Economia Política. São Paulo: Saraiva, 2006.
GENNARI, A. M.; OLIVEIRA, R. História do Pensamento Econômico. São Paulo: Sa-
raiva, 2009.
HUNT, E. História do Pensamento Econômico. 7. ed. Rio de Janeiro: Campus,1989.
JEVONS, W. S. A teoria da economia política. São Paulo: Nova Cultural, 1996.
MARSHALL, A. Princípios de Economia. Tratado introdutório. São Paulo: Nova Cul-
tural, 1996.
MENGER, C. Princípios de economia política. São Paulo: Nova Cultural, 1983.
NEVES, F. O marginalismo: Jevons e Menger(Blog). In: A (Minha) História do Pen-
samento Econômico. 2015. Disponível em: <http://filipeneves1973.blogspot.com.
br/2015/03/11-o-marginalismo-jevons-e-menger.html> Acesso em: 18 dez. 2016.
WALRAS, L. Compêndio dos elementos de economia política pura. São Paulo: 
Nova Cultural, 1996
REFERÊNCIAS ON-LINE
1 Em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pd=S1518-61482009 
000400004>. Acesso em: 13 dez. 2016.
GABARITO
173
1. A revolução jevoniana baseou-se na teoria utilidade e inovou na determinação 
do valor de troca, ou preço, pela utilidade marginal.
2. Segundo Menger, para que uma coisa qualquer possa ser considerada como um 
bem, é preciso que contenha as seguintes características:
• A existência de uma necessidade humana.
• Que a coisa possua qualidades que a tornem apta a ser colocada em nexo cau-
sal com a satisfação da referida necessidade.
• O homem pode dispor dessa coisa, de modo a poder utilizá-la efetivamente 
para satisfazer à referida necessidade.
3. A teoria do equilíbrio geral de Walras apresenta uma estrutura que consiste no 
preço básico e nas inter-relações de produção para a economia toda, incluindo 
mercadorias como fatores de produção. Seu objetivo era demonstrar matema-
ticamente que todos os preços e todas as quantidades produzidas podem se 
ajustar a níveis mutuamente consistentes.
4. A determinação do preço de equilíbrio é, possivelmente, o ponto alto do traba-
lho de Marshall. De modo que ele considera tanto a oferta como a demanda, as 
forças responsáveis para determinação do preço de equilíbrio de mercado.
5. A elasticidade da demanda nos diz se a diminuição do desejo por um determi-
nado bem é lenta ou rápida, conforme a quantidade aumenta. Trata-se de um 
coeficiente numérico que apresenta a alteração da porcentagem na quantidade, 
dividida pela alteração da porcentagem no preço.
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Professora Me. Carla Fabiana de Andrade Gonçalves Iori
A ESCOLA KEYNESIANA E OS 
DIAS ATUAIS
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Refletir a relevância da Teoria Keynesiana.
 ■ Reconhecer os conceitos apresentados na teoria keynesiana.
 ■ Conhecer a escola de Chicago.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ Contexto histórico e biografia de Keynes
 ■ A Teoria de Keynes
 ■ Neoliberalismo
 ■ Escola de Chicago
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a), nesta unidade vamos refletir sobre a conhecida Revolução 
Keynesiana. Assim, é tratado esse ponto do estudo, por conta das profundas 
transformações a partir da publicação da Teoria Geral de John Maynard Keynes 
em 1936. 
Nesse sentido, será compreensível, por exemplo, a questão da dinâmica eco-
nômica no sentido monetário na qual, até então, a moeda era tida como neutra. 
Você poderá perceber que nosso pensador vai resgatar o papel do Estado, de 
modo que vai propor uma representatividade do governo para estabilizar a eco-
nomia em um nível de emprego da renda nacional. Para combater o alto índice 
de desemprego sua proposta é aumentar as despesas agregadas. Por exemplo, 
o governo deveria estimular os investimentos privados durante um período de 
recessão, forçando a queda na taxa de juros, o que seria realizado por meio de 
uma política do Banco Central.
 Nesse caso, os limites da diminuição da taxa de juros a certo ponto, poderá 
demonstrar que a política monetária não se torna uma maneira efetiva de redu-
zir as taxas de juros e de aumentar os gastos com investimentos durante um 
grande período de recessão. Também está em Keynes a questão da política fis-
cal como possibilidade de superar a recessão (política expansionista). Por certo, 
chegaremos ao ponto central da discussão de Keynes, segundo a qual quanto 
mais rica se torna uma sociedade, mais ela poupa e mais difícil se torna manter 
o emprego e, nesse sentido, retoma-se o papel do Governo. Uma crítica de Brue 
(2005) ao tratamento de Keynes é o pensamento estático de curto prazo, que o 
levou a exagerar a tendência à estagnação secular.
Por fim, trataremos, de forma modesta, a questão do neoliberalismo e a 
escola de Chicago, representando um novo classicismo nos dias atuais. E a fim 
de sedimentar o conteúdo de maneira satisfatória, apresentaremos um quadro 
com as características principais dessa escola. Ótimo estudo!
Introdução
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A ESCOLA KEYNESIANA E OS DIAS ATUAIS
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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CONTEXTO HISTÓRICO E BIOGRAFIA DE KEYNES
Até 1930 não havia qualquer preocupação, por parte dos eco-
nomistas do mundo ocidental, com o estudo dos problemas 
da economia como um todo, em particular em relação ao 
nível de emprego.
Isso ocorria porque o pensamento predominante, à época, 
(os clássicos, como já vimos anteriormente) era de que não 
havia desemprego signifi cativo na economia que não fosse 
temporário. Os economistas clássicos acreditavam que, se 
houvesse um mercado descompensado, no caso o mercado de 
trabalho, em que oferta (de trabalhadores) excedesse a procura 
(por trabalhadores), o preço em tal mercado cairia causando 
o equilíbrio entre a oferta e procura (VICECONTI, 2010).
A partir do trabalho de Keynes houve um desenvolvimento signifi cativo 
da Teoria Macroeconômica, em que a ciência econômica passa a se preocupar 
com o desemprego, por exemplo. Nesse contexto, vamos primeiramente conhe-
cer a biografi a de Keynes e na sequência entender melhor esse desenvolvimento 
diante dessa dimensão temporal (1936).
John Maynard Keynes (1883 - 1946) era britânico, fi lho de pais intelectuais, 
que viveram mais do que ele. Seu pai era John Neville Keyne, ilustre economista 
lógico e político. Sua mãe, foi juíza de paz, conselheira municipal e prefeita de 
Cambridge. Estudou com ilustres professores, entre eles Marshall e Pigou, que 
reconheceram seu brilhantismo. Fez fortuna principalmente por meio de tran-
sações em moedas e mercadorias estrangeiras. Era um profícuo especulador.
O currículo de Keynes é vasto e extremamente relevante para a história 
econômica. Ocupou cargos públicos como autoridade, por exemplo, em 1940,juntou-se ao Ministério da Fazenda para orientar a Inglaterra durante as difi cul-
dades fi nanceiras da guerra. Enfi m, nos cabe afi rmar a unanimidade da classe 
acadêmica em considerá-lo como um grande economista. Podemos, inclusive, 
colocá-lo, em termos de representatividade para o estudo da economia, ao lado de 
Smith e Marx. Segundo Dillard (1982, p. 3), um estudiosos das ideias de Keynes:
A Teoria de Keynes
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[...] do mesmo modo que A riqueza das nações, de Adam Smith, no 
século XVIII, e O Capital de Karl Marx, no século XIX, A Teoria geral 
de Keynes, tornou-se o centro da polêmica entre os escritores, quer 
profissionais ou não profissionais. O livro de Smith é um vibrante repto 
ao mercantilismo; o de Marx, uma crítica demolidora do capitalismo, e 
o livro de Keynes é um repúdio dos fundamentos do laissez -faire.
A TEORIA DE KEYNES
A dimensão temporal de fins do século XIX e o início do XX indiscutivelmente 
,foi representativa da hegemonia absoluta do pensamento econômico neoclás-
sico, que tinha como arcabouço a segurança de que, deixado por sua própria 
conta, ou seja, sem nenhuma interferência, o mercado seria capaz de promover 
um equilíbrio estável e duradouro.
Tal crença fundamentava-se na proposição de que as interferências, princi-
palmente no que fazia relação com as regulações do Estado ou de interferências 
relacionadas às pressões sindicais por aumento nos salários, seriam nocivas por 
interferir na “mão invisível” (lembre-se de Adam Smith!), capaz de promover o 
equilíbrio de pleno emprego. Foi um bom tempo (bom no sentido de longo) de 
hegemonia do laissez-faire, da Lei de Say, enfim, de convicção na existência de 
um mercado capaz de se auto-regular.
O programa de ideias apresentado por Keynes, em 1936, começou com a 
publicação de The general theory of employment, interest and money. Trata-se de 
uma estrutura de raciocínio que começou com a escola neoclássica (por ter sido 
aluno de Alfred Marshall, seguia, a tradição marshalliana). Embora Keynes cri-
ticasse severamente certos aspectos da economia neoclássica, ele utilizou muito 
de seus postulados e métodos. A escola keynesiana é uma das escolas mais signi-
ficativas do pensamento econômico. Seu sistema baseava-se em uma abordagem 
psicológica subjetiva e foi permeado por conceitos marginalistas, incluindo a 
economia de equilíbrio estático. Keynes desassociou-se dos ataques à teoria neo-
clássica sobre o valor e a distribuição. Nas palavras de Gennari (2009, p. 245):
A ESCOLA KEYNESIANA E OS DIAS ATUAIS
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A principal preocupação de Keynes era explicar qual o determinante 
do emprego. Nesse sentido, busca demonstrar que a situação normal 
do capitalismo do laissez-faire em seu estágio atual de desenvolvimento 
é uma situação flutuante da atividade econômica que pode percorrer 
toda a gama que vai do pleno emprego até o desemprego amplo.
 O fato é que a acumulação de capital e o progresso do capitalismo, não tardou 
a contestar a doutrina neoclássica. Nas circunstâncias, nenhum economista, 
empresário ou intelectual da época, pôde dimensionar a proporção que a crise 
que teve no final da década de 1920. Assim, a crise de 1929 desencadeou tam-
bém uma crise da hegemonia da Escola Neoclássica.
Keynes vai tratar, principalmente, de um problema urgente de seus dias: 
a depressão e o desemprego. Para a Escola Neoclássica, o fato das pessoas não 
estarem empregadas era uma questão voluntária, ou seja, os trabalhadores, ao 
intervirem no arranjo das forças de mercado, seja com os sindicatos, greves e 
reivindicações salariais, provocariam o aumento do desemprego à medida que 
não aceitavam o salário de mercado. De forma que, ao aceitar, seriam todos 
empregados, na medida em que os salários estariam de acordo com as forças 
de oferta e demanda de mão de obra. Já em Keynes, o pleno emprego poderia 
ocorrer “abaixo do pleno emprego”, ou seja, poderia haver desemprego involun-
tário. (GENNARI, 2009).
Keynes critica de forma incisiva alguns postulados dos fundamentos da Escola 
Neoclássica (Pigou, Marshall e outros a denominam como clássica), no que toca 
à visão microeconômica, pautada nas relações entre compradores e vendedores 
individuais. Sua crítica vai além e ataca alguns pilares centrais das teorias hedo-
nistas (falamos de hedonismo ao tratarmos do pensador Bentham, Unidade II. 
Lembre-se sobre prazer e sofrimento), que, segundo Paul Hugon (1982), indi-
vidualizam ainda mais os problemas econômicos.
[...] trata-se, para Keynes, de combater e ultrapassar esse ponto de vista 
microeconômico, para considerar o problema em termos mais gerais 
de ‘rendimentos globais’, ‘procura global’, ‘emprego global’, ou seja, ra-
ciocinar com base em dados de conjunto” (HUGON, 1959 apud GEN-
NARI, 2009, p. 245).
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Keynes entende que o emprego depende da demanda efetiva e ela está relacio-
nada ao volume de investimento e ao poder de compra ou consumo efetivamente 
existente. No entanto, os investimentos em novas fábricas e novos empreendi-
mentos, isto é, em formação bruta de capital fixo, só se darão se as expectativas 
de lucros dos empresários excederem o prêmio pago pelo dinheiro emprestado, 
isto é, a taxa de juros. Ocorre que,
[...] quando o preço a pagar pelo dinheiro se eleva, muitos tipos de 
negócios novos, que se poderiam empreender a taxas de juros mais 
baixas, não serão realizados. Por conseguinte, um aumento das taxas 
de juros tende a reduzir a procura efetiva e, em tempos normais, a oca-
sionar desemprego (DILLARD, 1982, p. 5).
Os proprietários de riquezas tenderão a evitar o quanto possível os riscos e pode-
rão optar por acumular riquezas na forma de dinheiro, obtendo, assim, a taxa 
de juros.
Apresentamos a divergência de Keynes com a escola neoclássica, principal-
mente no tocante à questão do desemprego. E porque a questão do emprego era 
tão importante para Keynes? O cenário das ideias de Keynes envolvia a Grande 
Depressão dos anos 30. Segundo Brue (2016, p. 417) “a pior que o mundo ociden-
tal já conheceu”. A quebra da bolsa de Nova York, em 1929 e, a Grande Depressão 
que se espalhou pelo mundo, foram determinantes para Keynes se libertar de seu 
raciocínio habitual (vinculado à escola neoclássica). O colapso financeiro de Wall 
Street aprisionou as economias do mundo num ciclo de produção decrescente - 
nos EUA, ela caiu 40%. Em 1931, a renda nacional americana caíra dos US$87 
bilhões de antes da quebra para US$ 42 bilhões; em 1933, 14 milhões de ameri-
canos estavam sem emprego. As pessoas depauperadas formavam uma paisagem 
inquietante. A rápida queda dos padrões de vida estava nítida nas imagens da 
pobreza e do desespero da época. Ao assistir essa devastação, Keynes elaborou 
um sistema de ideias que revolucionou o pensamento da época.
Podemos sintetizar a dinâmica teorizada por Keynes em Brue (2016, p. 419):
O aumento da demanda agregada compensava a redução nos mercados 
de trabalho e permitia que os sindicatos negociassem melhores salários 
e condições de trabalho com menos medo do desemprego. Os contra-
tos do governo beneficiavam os juros e estimulavam o governo a tirar 
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VU N I D A D E182
a economia da recessão ou depressão. Quando os banqueiros tiveram 
reservasexcessivas nos anos 30, encontraram uma vasta e lucrativa área 
para investimento nos títulos do governo e o controle governamental 
deu ao sistema bancário liquidez, segurança e estabilidade. Os refor-
mistas e os intelectuais desfrutaram de aumento do nível de emprego 
no serviço público e puderam executar com grande fervor as reformas 
moderadas, seguras e racionais que surgiram do pensamento keyne-
siano.
Keynes engrenou a teoria econômica com o processo de criação de políticas. As 
guerras mundiais, as recessões mundiais e as crescentes complicações da vida 
moderna enfraqueceram o laissez-faire. O papel dos economistas e da análise 
econômica na determinação da direção da política do governo, era, por assim 
dizer, maior.
A economia contemporânea está repleta de elementos pensados por Keynes. 
E, mais, pode ser uma combinação da microeconomia neoclássica com a macro-
economia inspirada no keynesianismo. Apresentamos uma lista de conceitos 
utilizados, nos dias de hoje, nos livros didáticos de economia, que nasceram na 
teoria keynesiana: 
 ■ Função do consumo.
 ■ Propensão marginal a consumir.
 ■ A função das poupanças.
 ■ A propensão marginal a poupar.
 ■ A eficiência marginal do capital.
 ■ As demandas de transação, preventivas e especulativas de moeda.
 ■ O multiplicador.
Abaixo um quadro explicativo dos diversos conceitos utilizados em Keynes:
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Quadro 1 - Conceitos utilizados em Keynes
Função do consumo Relação entre consumo e renda:
“A lei psicológica fundamental [...] os homens tendem, 
como regra e na média, aumentar seu consumo à me-
dida em que a renda aumenta, mas não tanto quanto o 
aumento da renda”.
C=f(Y)
Propensão marginal a 
consumir
A razão entre a mudança no consumo e a mudança na 
renda é positiva e menor que um.
PMC=C/Y
A função das 
poupanças
S=f(Y)
Propensão marginal a 
poupar
PMS=S/Y
Eficiência marginal 
do capital
Taxa de desconto que torna o valor da série de retornos 
esperados exatamente igual ao preço da oferta do ativo 
de capital. Matematicamente:
Ks=R1(1+r)+R2(1+r)2+...+Rn(1+r)n
 
Ks é o preço da oferta de capital.
Ré o retorno esperado em um ano específico.
Ré a eficiência marginal do capital.
As demandas de 
transação, preventi-
vas e especulativas 
de moeda
A preferência pela liquidez depende de três motivos para 
se poupar moeda e da relutância em se desfazer dela, 
exceto quando a taxa de juros age como uma persuasão 
efetiva. O primeiro motivo é o de transação, a necessi-
dade de dinheiro em caixa para pagar as compras atuais 
de consumo e as exigências dos negócios. O segundo 
motivo preventivo, o desejo de ter algum dinheiro dis-
ponível para emergências. E, por fim, o motivo especu-
lativo, o desejo de ter dinheiro enquanto se espera que 
as taxas de juros aumentem, que os preços das ações ou 
títulos diminuam ou o que o nível geral de preços caia. A 
liquidez permite que as pessoas agarrem rapidamente as 
oportunidades de investimentos financeiros e econômi-
cos à medida que eles aumentem.
Multiplicador O multiplicador mede o efeito de uma mudança nos gas-
tos sobre a renda; é a mudança na renda dividida pela 
mudança nos investimentos.
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Poupanças e investi-
mentos ex post e ex 
ante
A dimensão ex-post está associada à função que repre-
senta o volume de gastos, que variam para cada nível de 
renda associado com cada nível de emprego, enquanto 
que a dimensão ex-ante refere-se às estimativas que 
as empresas fazem em relação aos gastos de consumo 
e investimento para determinar assim o valor de N e o 
volume de produção. Segundo Lima (2003), esta última 
dimensão é realmente a fundamental, uma vez que 
os gastos efetivos dos consumidores e empresas só se 
tornam importantes quando a produção for realizada 
ou vendida. Nesse momento, se as estimativas que os 
empresários fizeram não forem corretas, estas podem ser 
revisadas determinando um novo nível de produção.
Fonte: adaptado de Brue (2016).
Keynes observou que uma economia não consome tudo o que produz, conforme 
afirma Chang (2015). É fácil perceber que a teoria de Keynes está submetida à 
uma análise de um processo contínuo de produção, circulação e consumo. Como 
uma firma, que, em determinado período de produção, gera um determinado 
valor em dólares de mercadorias. Com a receita da venda dessas mercadorias, a 
firma paga seus custos de produção, que incluem salários, ordenados, aluguéis, 
materiais e matérias-primas, além dos juros pelo dinheiro tomado emprestado, 
de forma que, o que sobra, após esses custos terem sido pagos, é o lucro.
Nesse sentido, para Keynes, as economias capitalistas eram tidas como eco-
nomias empresariais ou economias monetárias de produção. Caro(a) leitor(a), 
o caráter essencial de uma economia monetária é que a moeda não é apenas um 
meio de troca. Trata-se de um ativo apto a resguardar as alterações nas expecta-
tivas dos agentes, isso porque reserva valor do presente para o futuro, de modo 
que possuindo liquidez máxima, pode saldar tanto transações à vista quanto 
pagamentos futuros. Isso vai depender da forma pela qual a preferência pela 
liquidez dos empresários for pautada pelas expectativas deles sobre o futuro. 
Esse panorama, envolve, fundamentalmente a questão da incerteza. À medida 
em que essas expectativas são movidas por fatores psicológicos, e não por cál-
culos racionais, pois o futuro é cheio de incertezas.
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Em um mundo incerto, os investidores podem ficar subitamente pes-
simistas sobre o futuro e reduzir seus investimentos. Em tal situação 
haverá mais dinheiro guardado do que o necessário - termos técnicos, 
um ‘excesso de poupança’. [...] Keynes argumentou que [...] quando o 
investimento cai, os gastos gerais também caem, o que então reduz a 
renda, já que o gasto de uma pessoa é a renda de outra. Uma redução na 
renda, por sua vez, reduz a poupança, já que a poupança é basicamente 
o que sobra após o consumo (e tende a não mudar muito devido a uma 
queda na renda, sendo determinada pelas nossas necessidades de so-
brevivência e nossos hábitos). No final, a poupança vai se contrair para 
se igualar à demanda de investimentos, agora menor. Se o excesso de 
poupança for reduzido dessa maneira, não haverá pressão para baixar 
os juros, e, portanto, nenhum estímulo adicional para o investimento. 
(CHANG, 2015, P. 28).
Conforme Chang (2015), em Keynes apresenta-se uma teoria econômica mais 
adequada, face à economia capitalista avançada do século XX em relação à escola 
clássica ou a neoclássica. A teoria keynesiana baseia-se na verificação de que há 
um distanciamento estrutural entre poupadores e investidores, dificultando a 
realização do pleno emprego.
A seguir, um quadro explicativo, baseado na contribuição de Brue (2016) 
para o entendimento da teoria Keynesiana e seus dogmas. 
Quadro 2 - Principais dogmas da teoria keynesiana
DOGMA DESCRIÇÃO
Ênfase macroeconômica Keynes e seus seguidores preocuparam-se com os 
determinantes das quantias totais ou agregadas de 
consumo, poupança, renda, produção e emprego. 
Estavam menos interessados, por exemplo, em como 
uma empresa individual decide sobre seu nível de 
emprego que maximiza o lucro do que na relação 
entre gastos totais na economia e o conjunto de taisdecisões.
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DOGMA DESCRIÇÃO
Orientação pela 
demanda
Os economistas keynesianos reforçavam a importân-
cia da demanda efetiva como o determinante imedia-
to da renda nacional, da produção e do emprego. Os 
gastos agregados, diziam esses economistas, consis-
tem na soma dos gastos de consumo, de investimen-
tos, do governo e da exportação líquida. As empresas 
produzem coletivamente um nível de produção real 
que esperam vender. Mas, às vezes, os gastos agrega-
dos são insuficientes para comprar toda a produção. 
À medida em que os bens se acumulam, as empresas 
demitem funcionários e reduzem a produção. Isto 
é, a demanda efetiva estabelece a produção real da 
economia que, em alguns casos, é menor que o nível 
de produção que existiria se houvesse emprego pleno 
(produção potencial).
Instabilidade na 
economia
De acordo com os keynesianos, a economia tende 
a aumentos rápidos recorrentes, porque o nível de 
gastos planejados com investimentos é irregular. As 
alterações nos planos de investimentos fazem com 
que a renda e a população nacional mudem em 
quantias maiores do que as mudanças iniciais nos 
investimentos. Os níveis equilibrados de investimento 
e poupança - aqueles que existem depois de todos 
os ajustes- são alcançados por meio de mudanças na 
renda nacional, em oposição às mudanças na taxa de 
juros. Os gastos com investimentos são determinados 
pela taxa de juros e pela eficiência marginal do capital 
ou pela taxa de retorno esperada acima do custo so-
bre novos investimentos. A taxa de juros depende das 
preferências das pessoas por liquidez e da quantidade 
de dinheiro. A eficiência marginal do capital depende 
da expectativa de lucros futuros e do preço de oferta 
de capital. A taxa de lucro esperada dos novos inves-
timentos é instável, e, portanto, uma das causas mais 
importantes das flutuações econômicas.
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DOGMA DESCRIÇÃO
Inflexibilidade nos 
salários e preços
Os keynesianos apontavam que os salários tendem 
a ser inflexivelmente decrescentes, devido a fatores 
institucionais como os contratos com os sindicatos, as 
leis de salário mínimo e os contratos implícitos (enten-
dimentos entre os patrões e seus empregados de que 
os salários não serão reduzidos durante os períodos 
de quedas temporárias). Em períodos de queda na 
demanda agregada por bens e serviços, as empresas 
respondem às vendas mais baixas com a redução de 
preços e a demissão de empregados, sem insistir nas 
reduções salariais. Os preços também caem; a queda 
na demanda efetiva causa inicialmente reduções na 
produção e no emprego em vez de queda no nível de 
preços. A deflação ocorre somente em condições de 
recessão extremamente grave.
Políticas Fiscais e 
monetárias ativas
Os economistas keynesianos defendiam que o gover-
no deveria intervir ativamente por meio de políticas 
fiscais e monetárias adequadas, a fim de promover 
o pleno emprego, a estabilidade dos preços e o 
crescimento econômico. Para combater a recessão 
ou depressão, o governo deveria aumentar os seus 
gastos ou reduzir os impostos, sendo que essa opção 
aumentaria os gastos com consumo privado. Ele 
deveria aumentar também a oferta de moeda para 
baixar as taxas de juros, na esperança de que isso 
encorajasse os gastos com investimentos. Para conter 
a inflação causada por gastos agregados excessivos, o 
governo deveria reduzir seus próprios gastos, aumen-
tar os impostos para reduzir os gastos com consumo 
privado ou reduzir a oferta de moeda para elevar as 
taxas de juros, o que refrearia os gastos excessivos 
com investimentos.
Fonte: adaptado de Brue (2016).
Diversos economistas importantes ajudaram com suas versões da abordagem 
de Keynes para a transformação da tendência atual da teoria macroeconômica. 
E a partir desse ponto temos muitos trabalhos de diversos economistas, que 
interligados foram deixando seu legado para o estágio atual da ciência econômica.
A ESCOLA KEYNESIANA E OS DIAS ATUAIS
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NEOLIBERALISMO
Por fim, mas não menos importante, vamos falar 
de neoliberalismo. Trata-se de um termo bastante 
conhecido. Conforme Gennari (2009), é um 
fenômeno sui generis (peculiar). Suas raízes remontam 
ao liberalismo clássico. Porém, enquanto o alvo do 
liberalismo clássico era, em grande medida, o Estado 
Absolutista e o velho mundo feudal, o neoliberalismo 
se insurge contra o Estado, mais especificamente 
o totalitarismo, o nazismo, e o comunismo, e 
fundamentalmente o Estado de bem-estar social, 
visto em conjunto, como formas de cercear as liberdades individuais.
Um grande nome da escola neoliberal é Friederich Hayek. O marco foi a 
publicação de seu texto: The road to serfdom (o caminho da servidão) publi-
cado em 1944.
ESCOLA DE CHICAGO
Nesse contexto, é válido apresentar a contribuição da escola de Chicago (Novo 
Classicismo), que tem Milton Friedman como grande pensador. Abaixo, um 
quadro com os principais dogmas dessa escola.
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Quadro 3 - Principais dogmas da Escola de Chicago 
DOGMA DESCRIÇÃO
Comportamento ideal Os membros da escola de Chicago 
reforçam o princípio neoclássico de 
que as pessoas tendem a maximizar 
seu bem-estar; a unidade econômica 
básica é o indivíduo.
Preços e salários controlados tendem 
a ser uma boa estimativa dos preços e 
salários da concorrência a longo prazo
Os preços e salários refletem custos 
de oportunidade para a sociedade na 
margem.
Orientação matemática A escola de Chicago confia muito na 
orientação matemática, utilizando o 
método de equilíbrio Marshaliano e 
a abordagem de equilíbrio geral de 
Walras (abordado na unidade IV),
Rejeição do Keynesianismo A economia é auto-ajustável e re-
guladora, com pequenas flutuações 
auto-restritivas.
Governo limitado. O governo é inerentemente ineficiente 
como um agente para atingir os objeti-
vos que podem ser satisfeitos por meio 
de trocas privadas.
Fonte: adaptado de Brue (2016).
Temos por fim, em Friedman, um ideário monetarista. Sua tese é que as pres-
sões inflacionárias decorrem, em geral, do desregramento por parte do Estado, 
que, ao gastar mais do que arrecada, produz um desequilíbrio. Nesse sentido, o 
monetarismo é um ataque frontal às ideias keynesianas. 
Para Keynes, a “mão invisível” do mercado não funciona adequadamente 
sem o complemento da “mão visível do Estado”. 
Fonte: Keynes (1996).
A ESCOLA KEYNESIANA E OS DIAS ATUAIS
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VU N I D A D E190
Homens práticos, que se julgam absolutamente imunes a quaisquer influ-
ências intelectuais, em geral, são escravos de algum economista já falecido.
(John Maynard Keynes)
Considerações Finais
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Caro(a) aluno(a)! Nesta unidade refletimos sobre a conhecida revolução 
Keynesiana. De modo que caminhamos no conhecimento/reconhecimento 
das profundas transformações a partir da publicação da Teoria Geral de JohnMaynard Keynes em 1936.
Diante do panorama apresentado, foi possível verificar a dinamicidade econô-
mica, principalmente no tocante à questão monetária. Nesse sentido, você pôde 
perceber que a moeda tem um tratamento representativo a desempenhar na eco-
nomia. O nosso pensador diz que a moeda afeta motivos e decisões. Destarte, a 
moeda é concebida como sendo não neutra tanto no curto quanto no longo prazo. 
Keynes também trabalha com a questão da incerteza, atribuindo aí a importân-
cia da dimensão temporal na economia.
Vimos também sobre o neoliberalismo e a escola de Chicago. Essa escola 
se apresenta na fase moderna da economia e tem seu marco em 1946. Quando 
Milton Friedman ingressou na escola de Chicago. Essa doutrina segue as prin-
cipais tradições clássicas-neoclássicas. Nesse sentido, está amplamente ligada 
ao termo neoliberalismo, por conta das aspirações da escola, implicando na 
retomada da questão da maximização do bem-estar, com um viés matemático 
significativo como explicativo das variáveis econômicas.
Sob esse ponto de vista, os defensores das ideias de Chicago ajudaram a con-
vencer a população em geral e os oficiais eleitos de que o sistema de mercado 
concorrente, se deixado relativamente livre da intervenção governamental, pro-
duz liberdade econômica máxima. Na medida em que essa proposição é válida, 
o pensamento de Chicago beneficiam toda a sociedade.
É importante destacar que Brue (2016) afirma que essa escola beneficiou 
amplamente muitos interesses corporativos. De fato, algumas pessoas, inclusive, 
conforme o autor, ajudaram com patrocínio a defesa desse ideário. 
192 
1. Discorra sobre a preocupação central do trabalho de Keynes.
2. Keynes utilizou o termo preferência por liquidez para atribuir à procura por mo-
eda. Nesse sentido, apresente os três motivos para a demanda por moeda.
3. Diferencie a escola clássica da escola keynesiana.
4. Discorra sobre as características fundamentais da escola de Chicago.
5. Correlacione as seguintes alternativas com a coluna contendo as afirmativas e 
assinale a alternativa correta:
A. Função consumo.
B. Investimento.
C. Preferência pela liquidez.
D. Eficiência marginal do capital.
( ) “Lei psicológica fundamental” que tratava da relação entre consumo e renda.
( ) Compra de bens de capital.
( ) Taxa de desconto que torna o valor atual da série de retornos esperados exa-
tamente igual ao preço de oferta do ativo de capital.
( ) A liquidez permite que as pessoas agarrem rapidamente as oportunidades de 
investimentos financeiros e econômicos à medida que eles aumentem.
a. A-B-C-D.
b. A-B-D-C.
c. A-D-B-C.
d. D-C-A-B.
e. D-A-B-C.
193 
AS CONSEQUÊNCIAS ECONÔMICAS DA PAZ 
Para quem viveu em Paris a maior parte dos seis meses que sucederam o armistício, uma 
visita ocasional a Londres era uma experiência estranha. A Inglaterra ainda se encontra 
fora da Europa, cujos tremores silenciosos não a alcançam. A Europa está afastada e a In-
glaterra não é parte do seu corpo e da sua alma. Mas a Europa continental é una: França, 
Alemanha, Itá lia, Áustria, Holanda, Rússia, Romênia e Polônia vibram juntas - têm uma 
só estrutura e civilização. Floresceram juntas, juntas foram sacudidas por uma guerra 
em que nós, ingleses, a despeito da enorme contribuição e dos grandes sacrifícios que 
fizemos (embora em grau menor do que os Estados Unidos da América) ficamos de fora 
economicamente. Assim, esses países podem decair juntos. Este é o sentido destrutivo 
da Paz de Paris. Se a guerra civil européia deve terminar com a França e a Itália usando 
abusivamente o poder momentâneo da sua vitória para destruir a Alemanha e a Áustria-
-Hungria, que jazem prostradas, estão convidando a sua própria destruição, por estarem 
tão profunda e indissoluvelmente ligadas às suas vítimas, por vínculos econômicos e 
espirituais ocultos. De qualquer forma, um inglês que participou da conferência de Paris 
e durante aqueles meses pertenceu ao Conselho Econômico Supremo das Potências 
Aliadas, deveria tornar-se um europeu nos seus cuidados e na sua visão (uma experiên-
cia nova para ele). Ali, no centro nervoso do sistema europeu, suas preocupações bri-
tânicas em boa parte desapareceriam, e ele seria perseguido por outros aspectos, mais 
assustadores. Paris foi um pesadelo, e todos estavam envolvidos por uma atmosfera de 
morbidez. Um sentido de catástrofe iminente assombrava o frívolo cenário: a futilidade 
e mesquinharia do homem diante dos grandes eventos que o confrontavam; o signifi-
cado ambíguo e o irrealismo das decisões; a ligeireza, a cegueira, a insolência, os gritos 
confusos de ira - havia ali todos os elementos da tragédia antiga. Sentado ao lado das 
decorações teatrais dos salões oficiais franceses, podia-se especular se os rostos pecu-
liares de Wilson e Clemenceau, com sua cor fixa e caracterização imutável, eram de fato 
rostos e não as máscaras tragicômicas de algum estranho drama ou de um espetáculo 
de marionetes.
Os procedimentos em Paris tinham todos esse ar de extraordinária relevância e ao mes-
mo tempo de pouca importância. As decisões tomadas pareciam prenhes de conse-
qüências para o futuro da sociedade humana; contudo, o contexto insinuava que as 
palavras não tinham peso - eram fúteis, insignificantes, sem efeito, dissociadas dos fatos. 
Sentia-se fortemente a impressão, descrita por Tolstoy em Guerra e Paz e por Thomas 
Hardy em Os Dinastas, de acontecimentos que caminhavam para a sua conclusão sem 
sofrer qualquer influência das celebrações dos estadistas reunidos em conselho:
O Espírito dos Anos
Vê como essa gente enlouquecida
Abandona toda visão larga e toda contenção
Em troca de uma negligência imanente.
194 
Nada resta além da vingança entre os fortes e
Entre os fracos uma ira impotente.
o Espírito da Piedade
Que dá força a essa vontade
Para agir de forma tão insensata ?
o Espírito dos Anos
 Já te disse que é inconsciente, ela opera
Sem julgar, como um ser possuído.
Fonte: Keynes (2002, on-line)1.
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
Teoria geral do emprego do juro e da moeda
John Maynard Keynes 
Editora: Nova Cultural
Sinopse: obra clássica para entendimento da revolução do 
pensamento econômico. Publicado em 1936.
Trabalho Interno
Ano: 2010
Sinopse: em 2008, uma crise econômica de proporções 
globais fez com que milhões de pessoas perdessem 
suas casas e empregos. Ao todo, foram gastos mais 
de US$ 20 trilhões para combater a situação. Por meio 
de uma extensa pesquisa e entrevistas com pessoas 
ligadas ao mundo fi nanceiro, políticos e jornalistas, é 
desvendado o relacionamento corrosivo que envolveu 
representantes da política, da justiça e do mundo 
acadêmico.
Acesse o site do World Bank (Banco Mundial) e conheça os dados sobre países em 
desenvolvimento. Disponível em: <www.worlbank.org/data>.
A Associação Keynesiana Brasileira (AKB) é uma sociedade civil, sem fi ns lucrativos, que tem como 
objetivo desenvolver o conhecimento da teoria e da economia Keynesiana. Acesse e confi ra!
Disponível em: <http://www.akb.org.br>.
REFERÊNCIAS
BRUE, S. História do Pensamento Econômico. São Paulo: Cengage Learning, 2016.
CHANG, H. Economia: modo de usar - um guia básico dos principais conceitos eco-
nômicos. São Paulo: Portfólio-Penguin, 2015.
DILLARD, D. A teoria econômica de John Maynard Keynes. São Paulo: Livraria Pio-
neira Editora, 1982.
GENNARI, A. M.; OLIVEIRA, R. História do Pensamento Econômico. São Paulo: Sa-
raiva, 2009.
HUGON, P. História das doutrinas econômicas. São Paulo: Atlas, 1982.
KEYNES, J. M. Teoria geral do emprego, do juro e da moeda. São Paulo: Nova Cul-
tural, 1996.
LIMA, G. T. O Império Contra – Ataca: A Macroeconomia de Keynes e a Síntese Neo-
clássica. In: Macroeconomia do emprego e da renda: Keynes e o Keynesianismo. 
Orgs. LIMA, G. T.;SICSÚ, J. São Paulo: Editora Manole Ltda., 2003. 
VICECONTI, P.; NEVES, S. Introdução à Economia. São Paulo: Editora Frase, 2010.
REFERÊNCIAS ON-LINE
1 Em: <http://funag.gov.br/loja/download/42-As_Consequencias_Economicas_da_
Paz.pdf> Acesso em: 1 out. 2016.
GABARITO
197
1. A principal preocupação de Keynes era explicar o que determinava o emprego. 
O autor entende que o emprego é dependente da demanda efetiva e ela está 
relacionada ao volume de investimento e ao poder de compra ou consumo efe-
tivamente existente.
2. A preferência pela liquidez depende de três motivos para se poupar moeda e 
da relutância em se desfazer dela, exceto quando a taxa de juros age como uma 
persuasão efetiva. O primeiro motivo é o de transação, a necessidade de dinhei-
ro em caixa para pagar as compras atuais de consumo e as exigências dos negó-
cios. O segundo motivo preventivo, o desejo de ter algum dinheiro disponível 
para emergências. E, por fim, o motivo especulativo, o desejo de ter dinheiro 
enquanto se espera que as taxas de juros aumentem, que os preços das ações 
ou títulos diminuam ou que o nível geral de preços caia. A liquidez permite que 
as pessoas agarrem rapidamente as oportunidades de investimentos financeiros 
e econômicos à medida que eles aumentem.
3. A escola keynesiana construiu uma teoria econômica mais adequada para a eco-
nomia capitalista avançada do século XX do que a escola clássica ou neoclássica. 
Keynes apresenta a separação estrutural entre poupadores e investidores, que, 
dificultou a equalização entre poupança e investimento e, portanto, a realização 
do pleno emprego. Além disso, a escola keynesiana destaca o papel 
4. A escola de Chicago tinha como princípios fundamentais:
 ■ Comportamento pautado no princípio neoclássico de maximização do bem 
estar.
 ■ Os preços e salários refletem custos de oportunidade para a sociedade na 
margem. 
 ■ A escola de Chicago possui uma orientação matemática, utilizando, por 
exemplo, o método de equilíbrio marshalliano e a abordagem de equilíbrio 
geral de Walras.
 ■ Rejeição do Keynesianismo de modo que o mercado é auto-regulável.
 ■ Por fim, o papel do governo é limitado.
5. B.
CONCLUSÃO
Querido(a) aluno(a), foi uma imensa satisfação promover este trabalho. por meio 
dele, pude ver a economia com um olhar inovador. Possibilitou-me perceber a im-
portância dessa ciência social, principalmente nos dias atuais. 
Essa caminhada nos facilitou perceber que o pensamento econômico apresenta um 
significativo grau de continuidade durante os séculos. Em que os fundadores de 
uma nova teoria podem recorrer às ideias de seus predecessores e expandi-las, ou 
ainda, reagir em oposição, como por exemplo Karl Marx e a escola clássica. 
Amplas generalizações sobre as escolas clássica, marxista, neoclássica e keynesiana 
foram apresentadas. Isso foi possível à medida em que consolidamos serem essas 
escolas os pilares das tantas outras que não conseguimos abordar. São exemplos: 
a escola histórica alemã, a qual podemos associar um pensador já conhecido, Max 
Weber, e outras escolas que não estão contidas nesse trabalho de forma direta, 
como a escola institucionalista, a desenvolvimentista e, tantos pensadores impor-
tantes que por questão lógica não foi possível abordar.
Vale lembrar que a questão do liberalismo econômico estava presente desde a esco-
la fisiocrática, passando pela Escola Clássica com Smith, Ricardo, Say, Bentham, Mill. 
Com Marx, a abordagem toma outra direção e o papel do governo é central em sua 
teoria. Na Unidade IV, começamos com os trabalhos dos marginalistas, que foram 
considerado uma revolução para o pensamento econômico vigente, e conhecemos 
Alfred Marshall, como pai da economia neoclássica.
Por fim, tornou-se possível conhecer a teoria Keynesiana e o seu papel transforma-
dor diante do cenário de crise a partir da década de 1930, na qual, por intermédio de 
Keynes, a macroeconomia passa a ter uma representatividade inovada. E, por fim, a 
Escola de Chicago que, via de regra, pode ser associada ao ideário de neoliberalismo 
que vigora nos dias atuais.
Fica registrado aqui a minha gratidão a você, motivador(a) central desse trabalho. 
Meus sinceros votos de agradecimento.
Até a próxima!
CONCLUSÃO

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