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Aula 8 Reformas educacionais Benjamim Constant e Francisco Campos

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5415 
DESCONTINUIDADE SEM RUPTURA: AS REFORMAS EDUCACIONAIS DE 
BENJAMIM CONSTANT E FRANCISCO CAMPOS 
 
Taís Delaneze 
Universidade Federal de São Carlos 
 
 
RESUMO 
 
Este trabalho faz um estudo analítico e comparativo de duas reformas propostas ao ensino 
escolar brasileiro e a conjuntura em que se inseriu a ação de cada um dos dois reformadores 
e agentes históricos em questão: Benjamim Constant e Francisco Campos. A Reforma 
Benjamim Constant (1891) e a Reforma Francisco Campos (1931) vieram no bojo de duas 
transformações políticas: a Proclamação da República e a Revolução de 1930. O recorte 
temporal está situado, portanto, no interregno de 1889 à 1931 – data do primeiro evento 
político citado e da implantação de segunda reforma educacional mencionada. O elemento 
norteador da pesquisa é a questão da descontinuidade e da ruptura: o que caracterizou 
mudança e o que significou permanência do status quo. Isso que diz respeito tanto às 
reformas, quanto ao panorama político no interior da qual elas forma germinadas. Os 
materiais utilizados na pesquisa são fontes documentais, os decretos-lei que corporificaram 
as reformas; e fontes bibliográficas, obras expressivas para o entendimento dos 
acontecimentos políticos, econômicos e sociais da chamada República Velha e do início da 
Segunda República e da história da educação brasileira do período. O tratamento teórico-
metodológico do objeto de investigação está pautado na idéia de historicidade e na íntima 
relação de interdependência dos fenômenos sociais. Busca-se o significado de cada fato 
histórico dentro do conjunto de situações que determinam o contexto. Trata-se do emprego 
do princípio de totalidade, ou seja, reconhecer a existência de um processo contínuo de 
interação das partes com o todo. No caso desta pesquisa, os procedimentos metodológicos 
definidos implicam no estabelecimento de inter-relações entre a questão educacional e a 
conjuntura da época. A Proclamação da República foi um movimento de cúpula, feito à 
revelia do povo e que não marcou uma ruptura. O ideal republicano de democracia, 
caracterizado aqui como a participação popular na eleição de seus governantes, não foi 
consolidado até 1930. A participação popular nas decisões políticas era ínfima. Em 1889, 
portanto, o Brasil tornou-se um país republicano e sem participação política, através do 
voto, da grande maioria dos “cidadãos” brasileiros. Da mesma maneira, a Reforma 
Benjamim Constant, resultado desse processo, não conseguiu superar os preceitos da velha 
ordem. A reforma tinha como princípios a liberdade e a laicidade do ensino, bem como, a 
gratuidade da escola primária. Tinha também o intuito de acabar com os preparatórios e os 
exames parcelados, estabelecendo para o ensino médio, um currículo formativo e em regime 
seriado. Tal como a República não consolidou a democracia, a reforma não consolidou o 
currículo científico e formativo, rompendo com o academicismo e com os ditos 
preparatórios. E muito menos, assegurou a educação popular. Éramos um país de 
analfabetos e nada democrático, no que concerne às decisões e participações políticas. 
Tínhamos uma sociedade excludente, portanto, uma educação também excludente. No caso 
da Revolução de 1930, a mudança resumiu-se mais ao controle gerencial do aparelho do 
Estado sem, contudo, alterar substancialmente a natureza sócio-econômica dos grupos 
sociais que detinham o poder. Ironicamente, uma “revolução” cruenta e inconciliatória 
conduziria o país ao exercício da cidadania: o voto secreto e a justiça eleitoral. 
Paradoxalmente, não havia escola para todos ou o acesso não era permitido a todos. O 
exercício da cidadania estava garantido, através do voto. Mas a educação não estava 
garantida, através da escola. A Reforma Francisco Campos efetivou-se por uma série de 
decretos. Deu uma estrutura orgânica ao sistema de ensino, impondo pela primeira vez uma 
reforma a todo território nacional. No caso do ensino secundário, ele deveria extinguir os 
exames parcelados e estabelecer definitivamente o currículo seriado e enciclopédico. 
Deveria ser formativo e não preparatório para o ensino superior. Os idealistas da Revolução 
 5416 
de 1930 esqueceram de popularizar a educação: os exames de suficiência tornaram-se um 
instrumento para conter o “estouro” do sistema bloqueado àqueles que não tinham a mesma 
genealogia dos ex-senhores de escravos. Além de que, o próprio sistema de avaliação do 
ensino secundário era excessivamente rígido, dando a tônica de sua extrema seletividade. 
As políticas educacionais, aqui mencionadas, guardaram práticas dos sistemas anteriores: 
ora na forma, ora no conteúdo e, nos dois momentos, no fato da exclusão popular. Da 
mesma forma na história do Brasil, revolução não foi sinônimo de total ruptura com a 
ordem estabelecida. 
 
 
TRABALHO COMPLETO 
 
1. Introdução 
 
Este trabalho faz um estudo analítico e comparativo de duas reformas propostas ao 
ensino escolar brasileiro e a conjuntura em que se inseriu a ação de cada um dos dois 
reformadores e agentes históricos em questão: Benjamim Constant e Francisco Campos. A 
Reforma Benjamim Constant (1890) e a Reforma Francisco Campos (1931-32) vieram no 
bojo de duas transformações políticas: a Proclamação da República e a Revolução de 1930. 
O elemento norteador da pesquisa é a questão da descontinuidade e da ruptura: o que 
caracterizou mudança e o que significou permanência do status quo. Isso no que diz respeito 
tanto às reformas, quanto ao panorama político no interior da qual elas foram germinadas. 
A análise inicia-se com os antecedentes do episódio de 15 de novembro de 1889: uma 
breve exposição do sistema político da Monarquia; o florescimento das idéias republicanas; 
e a queda sucessiva dos pilares de sustentação do antigo regime, como um castelo de cartas. 
Em um segundo momento, as análises giram em torno da composição política da 
Primeira República, os acordos firmados entre os donos do poder, as mudanças e o legado 
do sistema anterior. Posteriormente, o trabalho aborda o personagem Benjamim Constant, 
tido como o fundador da República, e que foi o primeiro a ocupar o cargo da recém-criada 
Secretária de Negócios da Instrução Pública, Correios e Telégrafos e, portanto, o primeiro a 
promover uma reforma no ensino. 
Em seguida, a abordagem direciona-se à análise da derrocada da República Velha pela 
dita “Revolução de 1930”. A grande questão é o que ela significou, em termos de 
transformações, em relação ao antigo estatuto político. Em conseguinte, é realizada uma 
abordagem sobre o pensamento político e pedagógico de Francisco Campos. Tendo em vista 
a conjuntura, avalia-se a suas ação e questiona-se, mais uma vez, a permanência ou a 
ruptura de suas práticas com relação ao modelo anterior. 
Por último, busca-se o significa real do conceito de revolução e de que modo ele se 
aplica ao caso brasileiro, no período em questão. 
 
 
2. O Prelúdio republicano 
 
A Constituição imperial, promulgada dois anos após a emancipação política de 
Portugal, determinou que o Brasil teria um sistema político monárquico, hereditário e 
constitucional. Neste sistema, eram eleitos deputados e senadores por eleições indiretas e 
pelo voto censitário. 
Uma parcela de homens livres e com renda anual de 100 mil réis constituía os votantes, 
aqueles que escolhiam um corpo eleitoral nas chamadas eleições primárias. Os eleitores, por 
fim, elegiam os deputados e os em uma lista tríplice, em cada província, da qual um nome 
seria escolhido diretamente pelo Imperador. 
A Constituição definiu, ainda, um quarto poder – o chamado neutro ou moderador – 
exercido direto pelo Imperador. Segundo FAUSTO (2001, p.81), a idéia de um poder 
 5417 
moderador provinha do escritor francês Benjamim Constant1, cujos livros eram lidos por 
Dom Pedro e por muitos políticos da época. Ele defendia aseparação do Poder Executivo, 
cujas atribuições caberiam aos ministros do rei e ao poder imperial. No Brasil, o poder não 
ficou claramente separado do Executivo, resultando numa concentração de atribuições nas 
mãos do Imperador. 
O Ato Adicional à Constituição de 1824, a Lei de 12 de agosto de 1834, suspendeu o 
poder moderador durante todo o período regencial. Mas a lei foi revogada no começo do II 
Reinado, restituindo o poder centralizador para quem detinha as atribuições do poder 
moderador. 
Em fins de 1830, delinearam-se dois partidos, o Liberal e o Conservador, mas sem 
grandes divergências ideológicas. No poder, ambos se comportavam da mesma maneira. 
Tanto que ficou célebre uma frase atribuída ao político pernambucano Holanda Cavalcanti: 
“Nada se assemelha mais a um ‘saquarema’ do que um ‘luzia’ no poder.” 2 
Surgiram vários especialistas em burlar as eleições. Na definição de CARVALHO 
(2002, pp.33-34), o “cabalista” era o responsável por incluir o maior número possível de 
partidários de seu chefe na lista de votantes. Um ponto de inclusão ou exclusão era a renda. 
Cabia ao “cabalista” fornecer a prova. No geral era o testemunho de alguém pago para jurar 
que o votante tinha renda legal. 
O “fósforo” comparecia às eleições para se passar pelo verdadeiro votante, inclusive 
quando da morte deste. 
O “capanga eleitoral” protegia os partidários e, sobretudo, ameaçava e amedrontava os 
adversários, se possível impedindo que comparecessem à eleição. 
No caso de não haver comparecimento de votantes, a eleição se fazia assim mesmo. 
Eram as chamadas eleições feitas “a bico de pena”. 
Em 1870, surge o Manifesto republicano. Ele se limitava a criticar os defeitos do 
regime: o poder moderador; o sistema eleitoral; a centralização do poder, erguendo a 
bandeira do federalismo como questão central e fundamental das aspirações republicanas. A 
maior parte destas idéias pertencia ao Partido Liberal. A diferença estava em que os 
republicanos afirmavam que só a república poderia colocá-las em execução. 
De acordo com BASBAUM (1928, p.216), o Manifesto não convencia a ninguém. Os 
que aderiram ou faziam por já serem republicanos ou por serem simplesmente contra a 
Monarquia. De fato, o Partido Republicano Paulista, por exemplo, fundado em 1872, 
transformou-se em asilo dos descontentes do regime. 
Quando a Lei Áurea foi sancionada, houve até os chamados republicanos de “14 de 
maio”, aqueles que integraram o partido por não receberem nenhuma indenização pela 
libertação de seus escravos. 
No último quartel do século XIX, o café já era o principal produto de exportação e o 
poderio econômico passou dos senhores de engenho para os grandes barões do café. Em São 
Paulo, os cafeicultores do Oeste paulista3 estavam politicamente organizados no Partido 
Republicano Paulista. 
O Partido Republicano era o reduto de diversas matizes ideológicas. Eram diferentes os 
motivos que levavam seus integrantes a engrossarem as fileiras republicanas e diferentes as 
formas que pensavam em conduzir o fim no regime e o estabelecimento da nova ordem 
política. 
Em 1887, os oficiais organizaram o clube Militar como associação permanente para 
defender seus interesses, sendo Deodoro da Fonseca eleito presidente. 
 
 
1
 O Benjamim Constant citado não é o militar envolvido no movimento republicano brasileiro e que 
constitui parte do objeto de estudo deste trabalho. 
2
 Saquarema foi o nome que se tornou comum para designar os conservadores. Luzia foi o nome que se 
tornou comum para se referir aos liberais. 
3
 Neste período, a produção do Vale do Paraíba começou a declinar, seguindo direção inversa da 
produção do Oeste paulista. 
 5418 
A insatisfação militar e a propaganda republicana cresciam. Divergências com a Igreja 
acabaram minando a relação entre o trono e o altar. Havia a impossibilidade de um III 
Reinado, não pela Princesa Isabel, mas pela impopularidade de seu marido Conde D’Eu. E 
por fim, a abolição da escravatura ruiu o último pilar de sustentação da Monarquia - as 
oligarquias rurais. 
A 11 de novembro de 1889, figuras civis e militares, como Rui Barbosa, Benjamim 
Constant, Aristide Lobo e Quintino Bocaiúva, reuniram-se com o Marechal Deodoro, 
tentando convence-lo a liderar um movimento contra o regime. O Marechal estava 
descontente como o novo chefe de gabinete, Visconde de Ouro Preto, e com suas reformas e 
nomeações. 
Nas primeiras horas da manhã de 15 de novembro de 1889, Deodoro assumiu o 
comando da tropa e marchou rumo ao Ministério da Guerra. A partir daí a cena é descrita 
por FAUSTO (2001): 
 
“Seguiu-se um episódio confuso, para o qual existem versões diversas, não 
se sabendo ao certo se naquele dia Deodoro proclamou a República ou 
apenas derrubou o Ministério. Seja como for, no dia seguinte a queda da 
Monarquia estava consumada.” (p.132) 
 
O fato é que a República mal esperou o amanhecer e nasceu da iniciativa quase 
exclusiva do Exército. 
 
 
2.1 O novo regime político: a derrocada do último trono das Américas 
 
 “O Povo brasileiro assistiu a proclamação de república, 
achando que se tratava de uma parada militar.” 
 Aristides Lobo 
 
Existia um Partido Republicano, mas não foi este que proclamou a república. 
Quem o fez foi o Exército, num episódio que muitos chamaram de quartelada e que 
ocorreu sob a mais absoluta indiferença popular. 
O ano escolhido, coincidência ou não, foi o centenário da Revolução Francesa. 
Mas segundo CARVALHO (1990, p.10), diferentemente do modelo europeu, as 
ideologias republicanas, no Brasil, embora não negasse o envolvimento, permaneciam 
enclausuradas no círculo fechado das elites educadas. 
O Exército, em seu conjunto, não era republicano. De acordo com BASBAUM 
(1986, p.13), quem assume a responsabilidade do golpe militar é um distinto oficial do 
exército, o mais graduado, e que em toda sua vida fora monarquista e amigo do 
Imperador. 
Deodoro, chefe do governo provisório, venceu as eleições indiretas, em parte, 
devido à ameaça armada. Durante seu governo constitucional, continuam os atritos; 
contra o espírito caudilhesco e ditatorial do Marechal, houve um levante de navios na 
Guanabara e ele renunciou para evitar uma guerra civil. 
Não menos caudilhesco foi Floriano Peixoto, o vice-presidente que assumiu o 
poder. Ele chegou a decretar estado de sítio, mas conseguiu governar até as primeiras 
eleições diretas para presidente. 
O governo Prudente de Morais marcou o fim da República da Espada (ou dos 
Marechais) e a subida das oligarquias no poder. De Prudente a Washington, com 
algumas exceções, as sucessões presidenciais foram um processo monótono em que os 
dois maiores estados de representatividade econômica se revezavam no poder – São 
Paulo e Minas Gerais – baseados no acordo firmado entre eles, denominada de política 
“Café com Leite”. 
 5419 
 Em consonância com CARONE (1969, P.288), a Primeira República foi o 
período em que os senhores do café ascendem ao poder, alcançam a plenitude e depois 
declinam para seu ocaso. 
A “política dos governadores” foi outra artimanha dos grupos no poder para o 
bom funcionamento da máquina eleitoral. Ela causou uma deturpação do federalismo e 
desencadeou o famigerado fenômeno do coronelismo. 
CARVALHO (2002, P.56) advoga que o coronelismo não foi apenas um 
obstáculo ao livre exercício dos direitos políticos. Ele também negava os direitos civis. 
O coronel dava seu apoio político ao governador em troca da indicação de autoridades 
como o delegado de polícia, o juiz, o coletor de impostos, o agente do correio, a 
professora primária. Nas fazendas, imperava a lei do coronel, criada por ele e executadapor ele. Seus trabalhadores não eram cidadãos do Estado, eram súditos dele. 
Antigos personagens retornam à cena política: os capangas eleitorais. As 
eleições “a bico de pena” também continuaram. 
Grande parte dos adultos escolhia não ser cidadão ativo, pois havia sem dúvida 
fraude eleitoral. Votar não era só inútil como perigoso, pois os capangas atuavam para 
assegurar os resultados das eleições a qualquer custo. CARVALHO (2002, p.89) 
acrescenta que, o exercício da cidadania política era uma caricatura: o cidadão 
republicano era o marginal mancomunado com os políticos, os verdadeiros cidadãos 
mantinham-se afastados. 
Tinha-se, indubitavelmente, um sistema de ficção democrática, um regime de 
ilusória soberania popular. 
Um sistema eleitoral fraudulento não foi a única herança do antigo regime. A 
primeira Constituição republicana (1891) manteve a exclusão dos analfabetos do direito 
de votar. 
A Constituição de 1824 foi omissa com relação ao voto do analfabeto. Portanto, 
foi um direito que se estendeu até a promulgação da Lei Saraiva. 
O decreto nº3029 de janeiro de 1881, a lei mencionada, promoveu a reforma 
eleitoral. A partir dela, as eleições passaram a ser diretas; o voto censitário foi mantido 
(exigência líquida anual não inferior a 200 mil réis); e a contar do ano de 1882 só 
seriam incluídos no alistamento eleitoral, o cidadão que soubesse ler e escrever. Todo 
ano seria feita uma revisão do alistamento eleitoral para incluir ou excluir pessoas. 
O decreto nº. 3122 de 7 de outubro de 1882 alterou algumas disposições da Lei 
nº. 3029. O decreto afirma no artigo 1º, parágrafo 12: 
 
“Nenhum cidadão será incluído no alistamento dos eleitores sem o ter 
requerido por escripto de proprio punho e com assignatura sua, provando o 
seu direito com os documentos exigidos pela lei. Será, porém, admitido 
requerimento escripto e assignado por especial procurador, ao caso somente 
de impossibilidade physica de escrever do cidadão, provado em documento.” 
(BRASIL, 1883, pp. 73-74). 
 
No parágrafo seguinte, é mencionada a exigência de prova de saber, o mesmo cidadão, 
de ler e escrever, se pretende ser incluído no alistamento de eleitores. 
Essa medida consegue reduzir drasticamente o eleitorado, de um pouco mais de 10% a 
menos de 1%. (FAUSTO 2001, P.131). 
Em conformidade com CARVALHO (2002, P.162), “na república que não era a cidade 
não tinha cidadãos”. 
Havia uma maneira de suplantar a herança perversa e, dar ares democráticos ao novo 
regime: a expansão da instrução pública. 
O processo de aprendizado democrático seria lento e gradual. CARVALHO (1990, 
p.45) asseverou que seria um equívoco achar que o aprendizado do exercício dos direitos 
políticos pudesse ser feito por outra maneira que não na sua prática continuada e num esforço 
por parte do governo de difundir a educação primária. 
 
 5420 
 
2.2 Benjamim Constant e a primeira reforma educacional 
 
Benjamim Constant de Botelho Magalhães (1836 – 1891) recebeu a qualificação de 
fundador da República. O Marechal Deodoro foi o proclamador e Floriano Peixoto figurou 
como o consolidador. 
Segundo CARVALHO (1990, p.40), Benjamim era o catequista, o apóstolo, o 
evangelizador, o preceptor, o mestre, o ídolo da juventude militar. Ele é colocado no panteão 
cívico do Brasil, ao lado de Tiradentes (Inconfidência) e de José Bonifácio (Independência). Era 
essa para os positivistas ortodoxos, a trindade cívica que simbolizava o avanço da sociedade 
brasileira em direção ao seu destino histórico, que era também a plenitude da humanidade em 
sua fase positiva. 
Benjamim foi o principal divulgador das idéias republicanas e positivistas na Escola 
Militar, onde era professor. 
O positivismo influenciou as palavras de “Ordem e Progresso” na nossa bandeira 
nacional e também o pensamento político e pedagógico do fundador da República. 
Logo após a proclamação do novo Regime, Constant integrou o Ministério da Guerra e 
promoveu uma reforma do ensino militar. Contudo, o decreto nº. 346 de 19/04/1980 cria a 
Secretaria de Negócios da Instrução Pública Correios e Telégrafos e Benjamim é para lá 
transferido e tornando-se o 1º chefe da Pasta. 
Ele promoveu uma reforma que abrangia o ensino primário, secundário e normal. 
Porém, não se estendia a todo território nacional, podia servir no máximo de modelo. 
A obrigatoriedade escolar está excluída tanto da Carta Constitucional, quanto da 
Reforma Benjamim Constant, que se constituiu em uma série de decretos no ano de 1890 e que 
ficou reduzida ao município neutro. Uma política educacional tão restrita foi possibilitada pela 
Constituição de 1891 que promoveu a descentralização administrativa. 
O artigo 35 da Constituição traz a assertiva de que incumbe ao Congresso, mas não 
privativamente, criar instituições de ensino superior e secundário nos Estados e prover a 
instrução secundária no Distrito Federal. 
Qual é o lugar que ocupa a educação elementar no processo de consolidação da 
democracia brasileira? Em tese, deveria ser o baluarte das políticas educacionais. Mas não é 
mencionada na primeira constituição republicana e na primeira reforma educacional ela ganha 
uma estrutura complexa, restrita ao município neutro (RJ) e não há menção sobre sua 
obrigatoriedade. 
De acordo com CARTOLANO (1994, p. 71), Rui Barbosa acreditava ser a restrição ao 
voto do analfabeto uma contribuição para a difusão da educação elementar. Já Benjamim 
Constant parecia não entender a mesma questão como a razão para a criação de escolas. Para 
ele, era necessário reformar conteúdos e métodos escolares, uma vez que era a partir da 
qualidade da educação que haveria de se processar a redenção moral e social da sociedade. 
A reforma Benjamim Constant enfatizou a necessidade de uma educação científica. O 
conteúdo pedagógico deveria ser completamente desprendido de preconceitos teológicos, 
metafísicos ou próprios de qualquer doutrina que não tenha por si a aprovação universal. 
O exame de madureza permitia a equiparação dos exames de outros estabelecimentos 
com o Ginásio Nacional para se ter acesso ao ensino secundário. O ensino secundário se 
constituía na base propedêutica de línguas e ciências para a admissão no ensino superior. Ele 
acabou por tornar-se enciclopédico – um saber em extensão-, ou seja, de tudo o que existe. Em 
todos os níveis de ensino havia uma ampliação do número de cursos (disciplinas) e seus anos de 
duração. As disciplinas deveriam ser sempre as mesmas, porém cada vez mais seriam estudadas 
com maior profundidade. 
De acordo com PRATTA (1998, p.140), o aluno era teoricamente educado para ser um 
cidadão, supostamente direcionado pelo conhecimento das ciências, ao mesmo tempo em que o 
acesso a esse conhecimento era restrito apenas à memorização do maior número possível de 
informações. Portanto, a nascente República, com suas ilusões de progresso, também fracassou 
na tentativa de romper com a tradição humanista, herança de muitos anos de educação clerical. 
 5421 
A universalização da instrução elementar entre nós esbarrava não só na legislação 
existente. Em consonância com CARTOLANO (1994, p. 130), ela esbarrava principalmente em 
determinantes sócio-culturais e político-econômicos que privilegiavam a formação de uma elite 
intelectual de “bacharéis” e de “doutores”, em geral, nascidos nas famílias de grandes 
proprietários de terra, em detrimento dos despossuídos de quaisquer bens culturais ou materiais. 
O título de bacharel ganhou foro de nobreza. Segundo BOMENY (2001, p.18-101), o 
“bacharel”, aquele que completava o curso superior e o “coronel”, aquele que controlava a 
política local do jogo de favores, constituíram-se nos dois pilares do prestígio, privilégio e 
mando social na Primeira República (1889-1930). A República dos bacharéis era também a 
república dos coronéis – muito distante da república dos cidadãos.Benjamim Constant morreu em 1891 sem antes assinar sua exoneração do cargo. A 
Secretaria foi extinta e, durante 40 anos, a educação ficou entregue a um departamento do 
Ministério da Justiça, como no Império. 
 
 
3. A Revolução de 1930: o fim da Política do “Café com Leite” 
 
“Façamos a revolução, antes que o povo a faça.” 
 Antônio Carlos 
 
A Primeira República começou com um golpe militar e terminou com um golpe militar. 
O centenário da Independência, 1922, marcou o início de agitação nos quartéis. O 
movimento chamado “tenentismo” trazia reivindicações como o voto secreto e a moralização 
das eleições. 
A marcha dos 18 do Forte de Copacabana significou o sacrifício de um ideal que iria 
continuar. CARONE (1989, p.35) afirma: “1922 termina com o triunfo aparente dos 
revolucionários; mas sob a calma dos festejos do Centenário da Independência, continuavam a 
fermentar os mesmos problemas”. 
A revolta do Forte de Copacabana foi uma tentativa de impedir a posse de Artur 
Bernardes. 
Desde a posse de Artur Bernardes, em 15 de novembro de 1922, o país viveu sob o 
estado de sítio. 
Em 1924, foi a vez de São Paulo. O levante resultou na Coluna Paulista, sob comando 
de Isidoro Dias Lopes e com apoio de Miguel Costa, chefe da polícia do estado, que iria unir-se 
no sul com a Coluna Prestes – sob comando como o próprio nome diz de Luís Carlos Prestes. 
Os remanescentes desse movimento irão integrar a Aliança Liberal e derrubar a Velha 
República dos coronéis, exceto Prestes. 
Acima de tudo, a década de 20 foi marcada economicamente pelo esgotamento do 
modelo agro-exportador calcado quase que exclusivamente no café (PENNA 1999, p.151). 
Altas e quedas do preço do café implicavam em empréstimos no exterior e liquidamento 
das dívidas. Mas as crises sucessivas fazem ver a necessidade a necessidade de uma defesa 
permanente. De acordo com BASBAUM (1986, p.88), a República até então não tinha feito 
outra coisa senão cuidar do café e dos que dele enriqueciam: a isso se reduzia a política do 
nosso país. Mas a crise internacional refletiu na política interna de defesa do café. 
Para a eleição da sucessão presidencial de Washington Luís, o candidato natural, de 
acordo com a política “café com leite”, seria o mineiro Antônio Carlos. 
Washington Luís indicou Júlio Prestes, visando a continuidade administrativa, 
financeira e a defesa do café. 
Durante o período da República Velha, o Rio Grande do Sul era o único estado que 
poderia fazer sombra à política do “café com leite”. Contudo, permanecia fechado a todo 
problema sucessório para evitar da parte do governo federal qualquer tentativa de intervenção 
nos decênios governamentais de Borges Medeiros, que sucede a si mesmo durante 25 anos. 
Diferentemente, do que ocorreu na eleição presidencial de 1930. 
Minas Gerais, Rio Grande do Sul e a Paraíba formam a Aliança Liberal. Embora 
Getúlio Vargas tivesse constituído uma carreira política com a simpatia de Washington e tinha 
 5422 
lhe prometido apoio, ele aceitou ser o candidato à presidência pela Aliança Liberal, tendo João 
Pessoa como vice. De acordo com PENNA (1999, p.165), mais do que um partido de ocasião, 
essa frente política com base nesses estados conseguiu alcançar dimensão política nacional. Ela 
surgiu por convicções políticas mais densas do que o Partido Democrático4, mas essa maior 
densidade não se traduziu em termos de oposição radical. 
Houve uma intensa campanha pelo território nacional com comícios apoteóticos. 
Parecia que a vitória estava nas mãos dos candidatos da Aliança Liberal, mas a máquina 
eleitoral funcionou mais uma vez a favor do candidato do governo5. 
João Pessoa, o candidato à vice-presidência pela Aliança, foi assassinado na Paraíba por 
motivos da política local. 
Houve um período de agitação política no país, a fraude eleitoral não era mais aceita 
cordialmente. Remanescentes dos episódios de 1922, 1924 e da Coluna Prestes estacam juntos a 
declarar que não era mais possível silenciar, diante da escancarada corrupção eleitoral. Parecia 
que uma revolução social estava em marcha. Daí a célebre frase do governador mineiro Antônio 
Carlos. 
Góis Monteiro foi o chefe militar da “revolução” que estourou no dia 3 de outubro em 
Porto Alegre, que em breve se estendeu a Minas Gerais e à Paraíba. Antecipando-se aos 
acontecimentos, a Junta Militar governativa derruba Washington Luís com a intermediação da 
Igreja Católica no dia 24. 
A prisão e o exílio de Washington Luís configuravam situação análoga à que ocorrera 
quando da queda da Monarquia. Até o ritual do término de uma época voltara a se repetir. 
Tenentistas e oligarquias vitoriosas (R.S, S.P e M.G) já começavam a se digladiar pela 
conquista de postos-chave, num prenúncio de cruenta guerra futura (CARONE, 1978, p. 18). 
Getúlio Vargas foi empossado como chefe do governo provisório, permanecendo na 
presidência, sem eleições diretas, até 1945. Os tenentes apossaram-se dos governos estaduais, 
tornando-se interventores. 
 
 
3.1 Francisco Campos e as novas providências para o ensino 
 
Francisco Luís da silva Campos (1891 – 1968) foi professor de Filosofia do Direito 
(1917); deputado à Assembléia Legislativa de Minas Gerais (1919-1921); deputado federal por 
Minas Gerais (1922-1926) e secretário do Interior de Antônio Carlos (1926-1930). Esta foi a 
trajetória de Francisco Campos até se tornar ministro da Educação e da Saúde Pública do 
governo provisório da “Revolução de 3 de outubro”, onde permaneceu no cargo até 1932. 
Quando foi secretário do Interior do governo de Antônio Carlos, promoveu uma 
reforma no ensino primário e normal em Minas Gerais. Ele também foi um dos articuladores da 
“revolução” no estado. 
No governo de Vargas, Campos não só reformou o sistema nacional de ensino, como 
também as instituições jurídicas e políticas. Ele foi o responsável, por exemplo, da elaboração 
da Constituição de 1937. 
Em uma análise do pensamento político de Campos, MEDEIROS (1978, p.12) afirma 
que ele objetivava a montagem de um Estado nacional, antiliberal, autoritário e moderno. Ele 
pretendia substituir e reconstruir, do alto, as instituições políticas e burocráticas, modernizando-
as. 
A modernização institucional implicava na diminuição da autonomia dos estados e 
municípios e no fortalecimento do poder central. Para ele, o Estado liberal era sinônimo de 
 
 
4
 O Partido Democrático, fundado em 1926, nascera basicamente de um desgaste do Partido Republicano 
Paulista, de uma disputa em torno de postos no Instituto do Café. O conselheiro Antônio Prado tinha 
interesses na área do café, mas se opunha à política de valorização do governo. (PENNA, 1999, p.165) 
5
 No Rio Grande do Sul, Getúlio obteve 699.627 votos contra 982 votos atribuídos a Júlio Prestes. São 
Paulo não fez por menos, o que mudou foi apenas o resultado, com a inversão dessa proporção a favor do 
paulista. (PENNA, 1999, p.168) 
 5423 
Estado “dividido” e “desarticulado”, enquanto que o Estado nacional a que aspirava significava 
Estado hegemônico, integrado e monolítico. Tornava-se evidente que o liberalismo era o 
responsável último por nosso “atraso”. Para Campos, o futuro da democracia dependia do futuro 
da autoridade. Portanto, de acordo com suas convicções políticas, a revolução só se operou, 
efetivamente, em 10 de novembro de 1937. 
Campos se dizia integrado na “formidável obra de defesa e da preservação moral e 
política do país” (MEDEIROS, 1978, P.10). Procurava, então, a recuperação dos valores 
perdidos, os quais ele identificava com a religião, a família e a pátria. Ele assinala que só 
educação poderia incumbir-se dessa tarefa. 
FranciscoCampos assumiu o recém - criado Ministério dos Negócios da Educação e da 
Saúde pública (MESP) em 1930. No interregno de 1930 a 1932, período em que ocupou a pasta 
promoveu uma reforma no ensino em âmbito nacional. De acordo com ROMANELLI (2000, 
p.131), era o início de uma ação mais objetiva do Estado com relação à educação. Foi a primeira 
que deveria se estender a todo território nacional. O pensamento político de Campos refletiu no 
em seu pensamento pedagógico: para um Estado homogêneo e centralizado, havia a necessidade 
de uma política educacional de caráter nacional. 
O pensamento educacional dos anos 20 é marcado pelo confronto de duas correntes 
opostas: a dos reformadores e dos católicos. Essa polarização estava no ápice, no período da 
gestão de Francisco Campos mo ministério. 
Segundo ROMANELLI (2000, P.130), os reformadores defendiam os princípios de 
gratuidade, obrigatoriedade e laicidade do ensino, a co-educação e o Plano Nacional de 
Educação; e o grupo chefiado pelos católicos via na interferência do Estado um perigo de 
monopólio e na laicidade e co-educação uma afronta aos princípios da educação católica. De um 
lado, estava um grupo que desaprovava alterações qualitativas modernizantes nas escolas e a 
democratização das oportunidades educacionais a toda a população. De outro lado, estava um 
grupo que desejava mudanças qualitativas e quantitativas na rede de ensino público. 
As vanguardas dos educadores brasileiros vinham se reunindo desde o final dos anos 
20, em Conferências Nacionais. O ano de 1931 foi o cenário da IV Conferência Nacional de 
Educação. Vargas esteve presente no evento, confessou aos educadores que o “governo 
revolucionário” não tinha uma proposta educacional e que esperava dos intelectuais ali 
presentes a elaboração do “sentido pedagógico da revolução”. 
Francisco Campos não esperou a contribuição dos intelectuais para os projetos 
pedagógicos da revolução. Tão logo foi empossado no MESP, tratou de promover uma reforma 
do ensino e acabou colocando em execução uma política educacional própria, mas também 
distante de princípios efetivamente democráticos. 
A Reforma Francisco Campos efetivou-se por uma série de decretos. Criou o Conselho 
Nacional de Educação e dispôs sobre o ensino secundário, comercial e superior e sobre a 
instrução religiosa nos cursos primário, secundário e normal. 
A República originada da “revolução” também vetou o direito do exercício político ao 
analfabeto e não se preocupou em expandir a educação elementar. A Reforma Francisco 
Campos mencionou a educação primária quando tratou da questão da instrução religiosa. 
Tratava-se de um dos valores relegados ao descaso pelo antigo regime: 
 
“Ao passo que, sob a bandeira da doutrina liberal e em nome da 
liberdade de cátedra, era permitido o ensino das mais extravagantes e 
destemperadas teorias e às escolas se franqueavam todas as superstições 
científicas e todas as cosmogonias, teodicéias e teologias racionalistas, sob o 
rótulo fraudulento de ciência, fechavam-se à religião as portas das escolas 
como se se tratasse de uma expressão espúria da natureza humana.” 6 
 
 
 
 
6
 Educação e Cultura. Liv. Olympio Editora, 1940, p.150. 
 5424 
Quando Campos legislou sobre o curso secundário e superior, tratou, essencialmente, da 
educação das elites. Sua ação, nesse período, foi completamente coerente com seu pensamento 
político: Ele ajudou na construção de um Estado forte e centralizado, adotando para a educação 
uma política de abrangência nacional; resgatou alguns “valores perdidos”, através da instrução 
religiosa; e reformou a educação das elites, já que, para ele, “uma nação vale o que vale as suas 
elites” 7. 
 
 
4. Considerações Finais 
 
A Proclamação da República foi um movimento de cúpula, feito à revelia do povo e que 
não marcou uma ruptura. O ideal republicano de democracia, caracterizado aqui como a 
participação popular na eleição de seus governantes, não foi consolidado. A participação 
popular nas decisões políticas era ínfima. Se por cidadãos entende-se que são aqueles que 
exercem seus direitos e deveres políticos, dentre eles o voto, poucos eram assim considerados. 
Em 1889, portanto, o Brasil tornou-se um país republicano e sem participação política, 
através do voto, da grande maioria dos “cidadãos” brasileiros. Tratava-se de uma herança da 
política imperial. Embora a República tivesse eliminado o voto censitário, manteve a exclusão 
dos analfabetos e das mulheres. 
Os impasses de 1930 foram resolvidos, pela primeira vez, com uma interrupção no 
processo político do país, sem que esse fato fosse causado pela renúncia ou morte do 
governante. A chamada “Revolução de 1930”, contudo não caracterizou uma ruptura absoluta 
com o status quo, mas apenas uma mudança política. Trocaram-se antigas práticas políticas em 
favor de uma maior subordinação ao Estado. A mudança resumiu-se mais ao controle gerencial 
do aparelho do Estado sem, contudo, alterar substancialmente a natureza sócio-econômica dos 
grupos sociais que detinham o poder. O exercício da cidadania estava garantido, através do voto 
secreto e da justiça eleitoral, mas apenas a uma camada de letrados. Moralizaram-se as eleições 
sem, contudo, popularizar a educação. 
A reforma Benjamim Constant legislou sobre a instrução primária, mas reduziu-se à 
esfera federal. A descentralização administrativa promulgada pela Constituição de 1891 deixava 
a cargo dos estados e municípios a criar de seus sistemas completos de educação e prover a 
educação primária. Quanto ao ensino secundário, não retirou seu caráter humanista seletivo. 
A Reforma Francisco Campos nem legislou sobre a educação primária. Estabeleceu 
uma política de abrangência nacional, mas dirigiu-se aos níveis de ensino, essencialmente, 
destinado às elites. 
As reformas educacionais aqui mencionadas guardaram práticas dos sistemas anteriores: 
ora na forma, ora no conteúdo e, nos dois momentos, o fato da exclusão popular. Da mesma 
forma, na história do Brasil as revoluções nunca forma de fato revoluções. 
Na realidade, o termo revolução é aplicado inadvertidamente. Segundo PRADO JR. 
(1987, p.11), no sentido em que é ordinariamente é usado, o termo tem o significado que mais 
apropriadamente caiba ao termo “insurreição”. O autor advoga, ainda, que revolução em seu 
sentido real e profundo, significa o processo histórico assinalado por modificações econômicas, 
sociais e políticas sucessivas que, concentradas em um período histórico relativamente curto, 
vão dar em transformações estruturais da sociedade, e em especial das relações econômicas e do 
equilíbrio das diferentes classes e categorias sociais. 
Contrapondo à segunda definição dada pelo autor supracitado, Gramsci (COUTINHO, 
2003, PP. 195-196) define o conceito de revolução passiva, conceito este que se aplica ao caso 
brasileiro. 
A revolução passiva, ao contrário de uma revolução popular, é realizada “pelo alto”. 
Um grupo social não é dirigente de outros grupos sociais, mas o Estado é dirigente do grupo. O 
Estado substitui os grupos sociais locais na função de dirigir uma luta de renovação. 
(COUTINHO, 2003, p.203) 
 
7
 Pela Civilização Mineira. Belo Horizonte: 1930, p.72. 
 5425 
No Brasil, todas as opções concretas enfrentadas, direta ou indiretamente, ligadas à 
transição para o capitalismo (desde a Independência política ao golpe de 1964, passando pela 
Proclamação da República e pela Revolução de 1930) encontraram uma solução “pelo alto”, ou 
seja, elitista e antipopular. 
A revolução “pelo alto” implica sempre a presença de dois momentos: a restauração, na 
medida em que é uma reação à possibilidade de uma transformação efetiva e radical de “baixo 
para cima”; e o da renovação, na medida em que muitas demandassão assimiladas e postas em 
prática pelas velhas camadas dominantes. Trata-se, portanto, de “reustaurações-progressistas” 
ou “revoluções-restaurações”. 
A conjuntura histórica, do recorte temporal deste trabalho, é caracterizada por certa 
descontinuidade sem ruptura radical com a ordem estabelecida, refletindo nas políticas 
governamentais para setores como a educação. 
 
 
5. Bibliografia 
 
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