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DIREITO EMPRESARIAL APLICADO II
TÍTULOS DE CRÉDITO
LETRA DE CÂMBIO
E
NOTA PROMISSÓRIA
A LETRA DE CÂMBIO
ORIGEM
Um dos títulos de crédito mais antigos, com origem que remonta à Idade Média, sobretudo durante o período de intensas relações comerciais pelos italianos. Numa fase histórica onde aprimoraram-se as relações cambiais.
“Quando um determinado comerciante realizava negócios em determinada cidade, acumulava uma soma de riqueza representada por moeda local. Ao chegar a outra localidade, todavia, a moeda era diferente. Ele, então, sempre que deixava uma cidade na qual negociara, trocava todo o seu dinheiro com um banqueiro, que lhe entregava uma carta (littera cambii), ordenando que outro banqueiro pagasse a quantia nela fixada ao seu portador”. (André Santa Cruz)
CONCEITO
A Letra de Câmbio é uma ordem de pagamento à vista ou à prazo dada, por escrito, a uma pessoa, para que pague a um beneficiário indicado, ou à ordem deste, uma determinada importância em dinheiro. 
É um título de crédito dotado de literalidade e de autonomia das obrigações, que se consubstancia através do SAQUE, que é o ato de criação da obrigação cambial. Deste ato surgem as figuras do SACADOR, SACADO E TOMADOR.
DIPLOMAS NORMATIVOS SOBRE A 
LETRA DE CÂMBIO
- Decreto nº 2.044, de 31 de dezembro de 1908.
 Define a letra de câmbio e a nota promissória e regula as Operações Cambiais.
Lei Uniforme de Genebra 
 (Decreto n° 57.663 de 24 de janeiro de 1966)
 
Obs: De forma residual, o Código Civil.
REQUISITOS CONSTITUTIVOS DA LETRA DE CÂMBIO
(L.U.G) – Art. 1º. A letra contém:
1. a palavra "letra" inserta no próprio texto do título e expressa na língua empregada para a redação desse título;
2. o mandato puro e simples de pagar uma quantia determinada;
3. o nome daquele que deve pagar (sacado);
4. a época do pagamento;
5. a indicação do lugar em que se deve efetuar o pagamento;
6. o nome da pessoa a quem ou à ordem de quem deve ser paga;
7. a indicação da data em que, e do lugar onde a letra é passada;
8. a assinatura de quem passa a letra (sacador).
OBS: A identificação do SACADO reveste-se de grande importância, pois a este a letra será apresentada para aceite, tornando-o devedor principal da obrigação. Recomenda-se constar em seus dados o número de sua cédula de Identidade, de inscrição no cadastro de Pessoa Física, do Título Eleitoral ou da carteira Profissional.
Lei nº 6.268/75 - Art 3º Os títulos cambiais e as duplicatas de fatura conterão, obrigatoriamente, a identificação do devedor pelo número de sua cédula de identidade, de inscrição no cadastro de pessoa física, do título eleitoral ou da carteira profissional.
*Lei 6.268/75: Dispõe sobre a averbação do pagamento de títulos protestados, a identificação do devedor em títulos cambiais e duplicatas de fatura e dá outras providências.
OBS: Acerca dos requisitos de preenchimento.
Súmula 387 STF – A cambial emitida ou aceita com omissões, ou em branco, pode ser completada pelo credor de boa-fé antes da cobrança ou do protesto.
Código Civil – Art. 891. O título de crédito, incompleto ao tempo da emissão, deve ser preenchido de conformidade com os ajustes realizados.
Parágrafo único. O descumprimento dos ajustes previstos neste artigo pelos que deles participaram, não constitui motivo de oposição ao terceiro portador, salvo se este, ao adquirir o título, tiver agido de má-fé.
L.U.G – Art. 10. Se uma letra incompleta no momento de ser passada tiver sido completada contrariamente aos acordos realizados, não pode a inobservância desses acordos ser motivo de oposição ao portador, salvo se este tiver adquirido a letra de má-fé ou, adquirindo-a, tenha cometido uma falta grave.
L.U.G – Art. 2º. O escrito em que faltar algum dos requisitos indicados no artigo anterior não produzirá efeito como letra, salvo nos casos determinados nas alíneas seguintes:
A letra em que se não indique a época do pagamento entende-se pagável à vista.
Na falta de indicação especial, o lugar designado ao lado do nome do sacado considera-se como sendo o lugar do pagamento, e, ao mesmo tempo, o lugar do domicilio do sacado.
A letra sem indicação do lugar onde foi passada considera-se como tendo-o sido no lugar designado, ao lado do nome do sacador.
FORMAS DE EMISSÃO DA LETRA DE CÂMBIO
L.U.G – Art. 3º. A letra pode ser à ordem do próprio sacador. Pode ser sacada sobre o próprio sacador. Pode ser sacada por ordem e conta de terceiro.
Ou seja, em benefício do sacador (assume o papel de tomador). 
No segundo caso, o sacador é também o sacado. 
E na terceira hipótese, ocorre a relação tradicional incluindo terceiros.
O ACEITE
No caso da Letra de Câmbio, não é obrigatório. E Consiste na assinatura do Sacado no anverso do título, no local indicado; ou ainda, no verso, com a identificação do ato.
É um ato da qual o aceitante/sacado torna-se devedor principal da obrigação, e o tomador, em caso de inadimplência, deverá procura-lo primeiro.
A recusa no aceite enseja em seu vencimento antecipado. Ou então o aceite parcial, seja ele limitativo (há o aceite em pagar somente uma parte do valor) ou modificativo (há o aceite com imposição de exigências ou condições que modificam os termos da letra).
Art. 26. O aceite é puro e simples, mas o sacado pode limitá-lo a uma parte da importância sacada.
Qualquer outra modificação introduzida pelo aceite no enunciado da letra equivale a uma recusa de aceite. O aceitante fica, todavia, obrigado nos termos do seu aceite.
DA CLÁUSULA NÃO ACEITÁVEL
É uma possibilidade dada ao Sacador, que, ao inseri-la, garante sua apresentação ao Aceite somente na data do vencimento.
L.U.G – Art. 22. O sacador pode, em qualquer letra, estipular que ela será apresentada ao aceite, com ou sem fixação de prazo.
Pode proibir na própria letra a sua apresentação ao aceite, salvo se se tratar de uma letra pagável em domicilio de terceiro, ou de uma letra pagável em localidade diferente da do domicílio do sacado, ou de uma letra sacada a certo termo de vista.
O sacador pode também estipular que a apresentação ao aceite não poderá efetuar-se antes de determinada data.
Todo endossante pode estipular que a letra deve ser apresentada ao aceite, com ou sem fixação de prazo, salvo se ela tiver sido declarada não aceitável pelo sacador.
OBS: O sacado pode ter um “prazo de respiro” de 1 dia para analisar a conveniência do aceite ou preparar-se para a decisão.
Art. 24. O sacado pode pedir que a letra lhe seja apresentada uma segunda vez no dia seguinte ao da primeira apresentação. Os interessados somente podem ser admitidos a pretender que não foi dada satisfação a este pedido no caso de ele figurar no protesto.
O portador não é obrigado a deixar nas mãos do aceitante a letra apresentada ao aceite.
* A não devolução da Letra pode resultar em infração penal. Art. 168 do CP – Apropriação indébita.
DO VENCIMENTO DA LETRA DE CÂMBIO
- Letra à vista: é aquela que tem seu vencimento no dia da apresentação do título ao sacado. Não há a prefixação de uma data específica. O tomador deverá procurar o sacado até o máximo de 1 ano após o saque. Neste caso, no entanto, a letra não é, a rigor, apresentada a aceite, mas, propriamente, para pagamento.
- Letra com dia certo ou pagável num dia fixado: tem a data do vencimento estabelecida e registrada pelo Sacador no título. 
- Letra a certo termo da vista: o vencimento se opera com o transcurso de lapso temporal em que a data do aceite é o termo a quo. O tomador deverá apresentá-la ao sacado para aceite até o prazo de 1 ano após o saque. Neste tipo de letra de câmbio, não é possível ao sacador inserir a cláusula “não aceitável” (art. 22), pois a “vista” (ou a apresentação para aceite) ainda é o momento inicial para vencimento.
L.U.G – Art. 23. As letras a certo termo de vista devem ser apresentadas ao aceite dentro do prazo de 1 (um) ano das suas datas.
O sacador pode reduzir este prazo ou estipular um prazo maior.
Esses prazospodem ser reduzidos pelos endossantes.
- Letra a certo termo da data: é aquela cujo vencimento se opera com o transcurso de lapso temporal em que a data do saque é o termo a quo. 
PRAZOS PARA PROTESTO
Protesto por falta de aceite: o portador deverá entregar o título em cartório até o fim do prazo de apresentação ao sacado ou no dia seguinte ao término do prazo se a letra foi apresentada no último dia deste e o sacado solicitou o prazo de respiro.
Protesto por falta de pagamento: o credor deverá entregar o título em cartório num dos dois dias úteis seguintes àquele em que ele for pagável.
DA CLÁUSULA SEM DESPESAS
Ao ser inserida no título, dispensa o protesto para a conservação do direito de crédito cambiário contra qualquer devedor do título; já a inserção dessa cláusula em um endosso ou em um aval, feita, respectivamente, pelo endossante ou pelo avalista que o pratica, dispensa o protesto para a conservação do direito de crédito apenas em relação ao endossante ou avalista em questão.
Em regra, isenta o credor da necessidade de protestar o título, garantindo direito de ação contra os coobrigados sem esse requisito (o protesto).
OBS: Se não forem observados os prazos fixados em lei para a extração do protesto, o portador do título perderá o direito de crédito contra os coobrigados da letra — ou seja, contra o sacador, endossantes e seus respectivos avalistas — permanecendo, portanto, apenas com o direito de crédito contra o devedor principal (aceitante da letra de câmbio) e seu avalista.
DOS PRAZOS PARA AJUIZAMENTO DA AÇÃO EXECUTIVA
a) em 3 anos a contar do vencimento, para o exercício do direito de crédito contra o devedor principal e seu avalista; 
b) em 1 ano a contar do protesto — ou do vencimento, no caso da cláusula “sem despesas” — para o exercício do direito de crédito contra os coobrigados, ou seja, contra o sacador, endossantes e respectivos avalistas; 
c) em 6 meses a contar do pagamento, ou do ajuizamento da execução cambial, para o exercício do direito de regresso por qualquer um dos coobrigados.
OBS: A interrupção do prazo de prescrição deste Título de Crédito, caso ocorra referindo-se à uma pessoa determinada na relação cambial, somente produzirá efeito em relação a esta, não se estendendo às demais, conforme determina o artigo 71 da LUG.
Art. 71. A interrupção da prescrição só produz efeito em relação à pessoa para quem a interrupção foi feita.
A NOTA PROMISSÓRIA
É uma promessa de pagamento que uma pessoa faz em favor de outra. Com o saque da nota promissória, surgem duas situações jurídicas distintas: a situação daquele que promete pagar quantia determinada e a daquele que se beneficia de tal promessa. A pessoa que se encontra na primeira situação é chamada, pela lei, de sacador, emitente ou subscritor; a pessoa que se encontra na segunda posição é chamada de beneficiário.
REQUISITOS DA NOTA PROMISSÓRIA
Art. 75. A nota promissória contém:
1. denominação "nota promissória" inserta no próprio texto do título e expressa na língua empregada para a redação desse título;
2. a promessa pura e simples de pagar uma quantia determinada;
3. a época do pagamento;
4. a indicação do lugar em que se efetuar o pagamento;
5. o nome da pessoa a quem ou à ordem de quem deve ser paga;
6. a indicação da data em que e do lugar onde a nota promissória é passada;
7. a assinatura de quem passa a nota promissória (subscritor).
É um exemplo típico de título não causal
Em regra, tal como os demais, é considerada implicitamente um título “à ordem”. E uma vez inscrita a cláusula “não ordem”, sua transferência se opera como uma cessão civil de crédito.
Seus efeitos por endosso e aval são os mesmos da regra geral dos títulos de crédito.
Tal como nos demais títulos de crédito, as obrigações assumidas ou os vícios e nulidades pretéritos não interferem na autonomia da Nota Promissória, nem nas obrigações assumidas, garantindo o crédito ao terceiro de boa fé. 
Diferentemente da Letra de Câmbio, a Nota Promissória não tem o ACEITE, e por consequência, seus institutos decorrentes, como o vencimento antecipado, cláusula não aceitável, entre outros, não se aplicam à Nota Promissória.
- As notas promissórias, embora não admitam aceite, podem ser emitidas com vencimento a certo termo da vista. O título deverá ser levado ao visto do subscritor no prazo de um ano a contar do saque da nota. Após o visto do subscritor, começará então a correr um certo prazo, já estipulado desde a emissão, após o qual considera-se vencido o título.
L.U.G – Art. 78. O subscritor de uma nota promissória é responsável da mesma forma que o aceitante de uma letra.
As notas promissórias pagáveis a certo termo de vista devem ser presentes ao visto dos subscritores nos prazos fixados no artigo 23. O termo de vista conta-se da data do visto dado pelo subscritor. A recusa do subscritor a dar o seu visto é comprovada por um protesto (artigo 25), cuja data serve de início ao termo de vista.
Súmula 504 – STJ
O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente de nota promissória sem força executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte ao vencimento do título.
OBS: A perda da força executiva se dá após haver ultrapassado o prazo de 3 anos para a execução cambial.

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