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História do Brasil GOVERNO VARGAS 1 Sumário Introdução ........................................................................................................................................2 Objetivo .............................................................................................................................................2 1. Diretrizes do governo Vargas (1951-1954) ...............................................................................2 1.1. O modelo nacionalista .......................................................................................................2 1.2. Conflitos internos ...............................................................................................................4 Exercícios ..........................................................................................................................................6 Gabarito ............................................................................................................................................8 Resumo .............................................................................................................................................8 2 Introdução Na postila anterior, examinamos o governo de Eurico Gaspar Dutra (1946- 1951), sobretudo, na consolidação de uma Política da Boa Vizinhança, definida pela aproximação com os Estados Unidos, o que se concretizava na entrada de grande volume de importações do país estadunidense e em um governo liberal, caracterizado pela política de não intervenção do Estado na economia. Isso foi amenizado pela política do Salte, quando o governo passou a investir na saúde, alimentação, transporte e energia. Ao mesmo tempo, no plano interno, o governo conservador combatia o comunismo, colocando na ilegalidade o Partido Comunista e intervindo em sindicatos. Por fim, as eleições presidenciais de 1950 mostraram que Getúlio Vargas afastado da presidência conseguiu articular alianças que o fortaleceram para lançar sua candidatura, pelo PTB e obter uma expressiva vitória, o que inaugurou a segunda presidência de Vargas (1951-1954). Nessa apostila, vamos analisar a construção do governo Vargas (1951-1954) fundada no modelo nacionalista, deflagrando o debate desenvolvimentista. O contexto de Guerra Fria demarcava a polarização do debate e da política, o que também se desenvolveu em termos da defesa nacional. Além disso, os compromissos assumidos durante sua campanha presidencial agora produziam conflitos internos que enfraqueciam o governo Vargas. Objetivos • Analisar a construção do governo Vargas (1951-1954) fundada no modelo nacionalista; • Compreender os conflitos internos que enfraqueceram o governo Vargas. 1. Diretrizes do governo Vargas (1951-1954) 1.1. O modelo nacionalista A forma mais eficaz de desenvolvimento econômico era o tema de debate no final da década de 1940. Era consenso a necessidade de industrialização, porém alguns eram adeptos do liberalismo e outros do nacionalismo. Os primeiros defendiam que países como o Brasil com industrialização recente não possuíam acumulação de capital suficiente para promover de forma independente sua economia, por isso, teriam de recorrer ao capital internacional, disponibilizado em bancos e instituições de crédito. 3 O capital estrangeiro penetraria por meio de empréstimos e aplicação direta de empresas multinacionais, transferindo também tecnologia. A chamada remessas de lucros para o exterior seria vantajosa ao atrair investimentos e produzir mais empregos e riqueza. Em relação ao mercado interno, defendia-se a busca de estabilidade econômica restringindo a emissão de moeda para controlar a atividade econômica e a inflação. Já os nacionalistas afirmavam que a abertura da economia nacional ao capital estrangeiro não produziria efeitos positivos que valem a pena a dependência que seria gerada do capital externo. Na análise da economia mundial, diziam que um país do centro da economia mundial não aceitaria transferir recursos para um país periférico a ponto de transformá-lo em um país concorrente. Também viam o endividamento externo como prejudicial e que era ingenuidade acreditar que as multinacionais iriam transferir tecnologia de ponta para outros países. A partir dessa análise, os nacionalistas defendiam que se deveria recorrer ao capital nacional para o desenvolvimento econômico autônomo do país. Entretanto, a iniciativa privada não possuía grandes volumes de capital que era necessário e nem um interesse em investimentos que tivessem lucros imediatos. Restava ao Estado promover esse investimento, o governo poderia obtê-lo em grande escala com medidas como a cobrança de impostos e manter a economia nacional independente. Além disso, os lucros obtidos, com a industrialização administrada pelo Estado, poderiam ser investidos em medidas de caráter social. Esse debate se desenvolveu tendo como pano de fundo o contexto mundial da Guerra Fria, o que produzia a polarização dos debates políticos. Nesse sentido, os nacionalistas eram acusados de aderirem ao estatismo comunista. Em contrapartida, eles chamavam os liberais de “entreguistas”. SAIBA MAIS! No ano de 1941, o governo estabeleceu um campo de exploração petrolífera de Candeias, Bahia. Nessa época Vargas comemorou com a frase criada por Otacílio Raínho, professor e diretor do Colégio Vasco da Gama, no Rio de Janeiro: “O Petróleo é nosso”. Esta se tornou o lema a Campanha do Petróleo, patrocinada pelo Centro de Estudos e Defesa do Petróleo e que gerou a fundação da empresa petrolífera nacional, a Petrobras, em 1953. Com a criação da Petrobras, o petróleo passou a ser considerado riqueza nacional e produto alvo do monopólio da empresa estatal. 4 O PTB assumiu a defesa do modelo nacionalista, já a UDN defendia o liberalismo, porém tinha um peso eleitoral nacional menor, restringido aos setores médios urbanos, com apoio da elite, inclusive a agrária. Em relação ao PSD, o maior partido no momento, seus líderes aceitavam qualquer proposta desde que garantissem o poder político. Ao mesmo tempo, eles controlavam a elite socioeconômica do país em “currais” eleitorais, evitavam radicalizações do projeto nacionalista, sobretudo, em relação às medidas de cunho social. No Exército, um grupo de oficiais ligados à Escola Superior de Guerra (ESG), criada em 1949, eram liderados pelo major Golbery do Couto e Silva (1911-1987) e rejeitavam o nacionalismo. Ele afirmava que as fronteiras não eram mais territoriais, mas sim ideológicas e o Brasil deveria se alinhar ao boco ocidental-capitalista, seguindo suas diretrizes econômicas. Contudo, havia uma postura tradicional no Exército em defesa do nacionalismo econômico, desde o florianismo e depois se desenvolvendo no tenentismo das décadas de 1920 e 1930. Isso provocava uma divisão nas Forças Armadas, mas que era amenizada pela obediência à hierarquia do Exército, seguindo as orientações dos comandantes, independente de convicções individuais. CAI NA PROVA! 1.2. Conflitos Internos Em sua campanha presidencial, Vargas articulou seus apoios com promessas de cargos em seu futuro governo, especialmente, dos muitos membros do PSD. O cumprimento com esses acordos, a ampliação de sua base de apoio e a tentativa de agradar interesses diversoscustou o controle dos atos do governo e a produção de contradições que colocavam a perder a coerência do discurso e da legitimidade do governo. No Congresso, Vargas afirmava que facilitaria a entrada do capital estrangeiro privado, em associação com os nacionais, ao mesmo tempo, falava em A Guerra Fria é o nome dado ao período histórico compreendido entre o final da Segunda Guerra Mundial (1945) e a extinção da União Soviética (1991). No decorrer desses anos existiu ordem bipolar, ou seja, duas potências políticas e econômicas: de um lado os Estados Unidos liderando as nações capitalistas e, de outro, os socialistas, sob a liderança da União Soviética. 5 tom nacionalista para as camadas populares. Nesse caso, por exemplo, criou a Petrobras e a Eletrobrás, para geração e distribuição de energia elétrica. Em junho de 1953, na tentativa de consolidar seu apoio popular, Vargas nomeou o petebista João Goulart (1919-1976), conhecido como “Jango”, como ministro do Trabalho. Entretanto, os conservadores não gostaram da decisão, pois para eles Jango era uma figura suspeita, por ser considerado esquerdista demais. O ano de 1953 foi repleto de greves que trouxe ainda mais desconfiança das elites. O ministro Jango defendia a proposta de reajustar o salário mínimo em 100% para repor as perdas diante da crescente inflação. Segundo o IBGE, a taxa anual de inflação de 1947 era de 2,7%, chegando a 20,8%, em 1953. Diante desses eventos, os militares lançaram o Manifesto dos Coronéis, exigindo a demissão do ministro do Trabalho. Vargas cedeu às pressões e demitiu Jango, porém a oposição centralizada na UDN e na liderança de Carlos Lacerda (1914-1977) continuava a se organizar e enfraquecer o governo (Figura 01). Lacerda publicava no jornal Tribuna da Imprensa críticas ao presidente e denunciava sua corrupção e o que chamava de “esquerdização” do Brasil. 01 Carlos Lacerda como Governador da Guanabara em visita à obra do Metrô, em 1954. No dia 5 de agosto de 1954, Lacerda foi ferido e o seu guarda-costas, Rubens Florentino Vaz, major da Força Aérea, morto no episódio conhecido como Atentado da rua Toneleiros. Apesar das explicações controversas e de atualmente ter seus resultados questionados, as investigações apontaram Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal de Vargas como mandante do crime, indiretamente, incriminando o presidente, considerado, na verdade, o verdadeiro mentor do atentado (Figura 02). 6 02 Depoimento de Gregório Fortunato, em 1954. As oposições articuladas dentro das Forças Armadas e as pressões das elites anticomunistas que exigiam a renúncia de Vargas só cresciam. Isolado e na iminência de um golpe, Getúlio Vargas na manhã de 24 de agosto de 1954 suicidou-se com um tiro no coração. Exercícios 1. (ENEM, 2018) TEXTO I Programa do Partido Social Democrático (PSD) Capitais estrangeiros É indispensável manter clima propício à entrada de capitais estrangeiros. A manutenção desse clima recomenda a adoção de normas disciplinadoras dos investimentos e suas rendas, visando reter no país a maior parcela possível dos lucros auferidos. TEXTO II Programa da União Democrática Nacional (UDN) O capital Apelar para o capital estrangeiro, necessário para os empreendimentos da reconstrução nacional e, sobretudo, para o aproveitamento das nossas reservas inexploradas, dando-lhe um tratamento equitativo e liberdade para a saída dos juros. 7 CHACON, V. História dos partidos brasileiros: discurso e práxis dos seus programas. Brasília: UnB. 1981 (adaptado). Considerando as décadas de 1950 e 1960 no Brasil, os trechos dos programas do PSD e UDN convergiam na defesa da: a) autonomia de atuação das multinacionais. b) descentralização da cobrança tributária. c) flexibilização das reservas cambiais. d) liberdade de remessa de ganhos. e) captação de recursos do exterior. 2. (autor, 2019) Apesar das pressões e da inexistência, a essa altura, de uma sólida base de apoio a seu governo, Getúlio equilibrava-se no poder. Faltava à oposição um acontecimento suficientemente traumático que levasse as Forças Armadas a ultrapassar os limites da legalidade e depor o presidente. Esse acontecimento foi proporcionado pelo círculo dos íntimos de Getúlio. FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2013, p. 355. Partindo das afirmações do texto anterior, assinale a alternativa que indique o acontecimento que levou ao fim do segundo governo Vargas: a) Esquemas de corrupção envolvendo membros do Governo Federal. b) Atentado da Rua Toneleiros, contra Carlos Lacerda. c) O fim do fascismo italiano e do nazismo alemão. d) A imprensa do período revelou que Vargas teria sido eleito graças à difusão de notícias falsas. e) A ineficiência do plano SALTE. 3. (CESGRANRIO, 1997) A eleição, em 1950, de Getúlio Vargas para um novo mandato presidencial apresentou um dos momentos mais representativos do chamado Estado populista, porque Vargas: a) fora eleito com o apoio do grande capital conservador, interessado em conter o avanço das camadas populares e a entrada de capital estrangeiro. b) inverteu a política econômica que vinha sendo seguida pelo governo Dutra, liberando as importações e a remessa de lucros pelas empresas estrangeiras. 8 c) buscava apoio das massas populares para os seus programas econômicos, através de suas ligações com o movimento trabalhista. d) esvaziou, em definitivo, o partido que lhe fazia oposição desde o Estado Novo, ao derrotar o candidato da UDN. e) foi beneficiário do clima de conciliação nacional, reunindo todas as forças políticas, aterrorizadas pela Guerra Fria. Gabarito 1. [e]. A defesa de obtenção de recursos no exterior fica clara nos seguintes trechos dos programas: “(...) é indispensável manter clima propício à entrada de capitais estrangeiros (...)” (PSD) e “(...) apelar para o capital estrangeiro (...)” (UDN). 2. [b]. Carlos Lacerda, por ser crítico feroz a política populista, acabou se tornando um dos elementos que provocaram o fim do segundo governo Vargas graças ao atentado que sofreu. Sabe-se atualmente que não houve envolvimento de Vargas nesse caso, porém, o presidente foi considerado o mandante do atentado logo após que ele ocorreu. 3. [c]. A eleição de Vargas ocorreu em função da imagem positiva por ele criada como o “Pai dos Pobres” ao longo de seu primeiro governo. Sua campanha eleitoral explorou a proximidade com os trabalhadores e buscou se pautar pelo populismo político. Resumo Nessa apostila, examinamos o debate em torno do modelo nacionalista de desenvolvimento econômico. Esse debate entre nacionalistas e liberais tinha relação com o contexto internacional da Guerra Fria e sobre como o Brasil deveria se posicionar no quadro da economia mundial. Os nacionalistas afirmavam que a abertura da economia nacional ao capital estrangeiro não produziria efeitos positivos que valem a pena a dependência que seria gerada do capital externo. Por sua vez, os liberais entendiam que era necessário recorrer ao capital internacional, disponibilizado em bancos e instituições de crédito para promover o desenvolvimento industrial do país por meio de empréstimos e aplicação direta de empresas multinacionais, transferindo também tecnologia. A chamada remessas de lucros para o exterior seria vantajosa ao atrair investimentos e produzir mais 9 empregos e riqueza. Em relação ao mercado interno, deveria se buscar a estabilidade econômica restringindo a emissão de moeda para controlar a atividade econômicae a inflação. Esse debate dividiu opiniões, inclusive, dentro das Forças Armadas. Além disso, em sua campanha presidencial Vargas articulou seus apoios com promessas de cargos em seu futuro governo, especialmente, dos muitos membros do PSD. O cumprimento com esses acordos, a ampliação de sua base de apoio e a tentativa de agradar interesses diversos custou o controle dos atos do governo e a produção de contradições que colocavam a perder a coerência do discurso e da legitimidade do governo. A admissão do petebista João Goulart (1919-1976), conhecido como Jango, como ministro do Trabalho e o atentado a Carlos Lacerda, provocou o aumento da oposição tanto de militares, como de líderes da elite que temiam medidas de caráter social chamadas por eles de comunistas. Vargas isolado e pressionado na manhã de 24 de agosto de 1954 suicidou-se com um tiro no coração. 10 Referências bibliográficas ARRUDA, José Jobson de A.; PILETTI, Nelson. Toda História – História Geral e História do Brasil. São Paulo: Ática, 1996. COTRIM, Gilberto. História Global – Brasil e Geral. São Paulo: Saraiva, 1997. FAUSTO, Boris. História Concisa do Brasil. São Paulo: Edusp, 2015. _____. História Geral do Brasil. São Paulo: Elsevier, 2016. Referências imagéticas Figura 01: WIKIPEDIA. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Carlos_Lacerda_(Rio_Prefeitura).png>. Acesso em: 10/04/2019 às 06h24min. Figura 02: FLICKR. Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/7477245@N05/15716240276>. Acesso em: 10/04/2019 às 06h39min.
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