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História do Brasil GOLPE DE 1964 1 Sumário Introdução ........................................................................................................................................2 Objetivo .............................................................................................................................................2 1. O Golpe de 1964 ..........................................................................................................................2 1.1. O contexto interno .............................................................................................................2 1.2. O contexto externo ............................................................................................................4 Exercícios ..........................................................................................................................................6 Gabarito ............................................................................................................................................7 Resumo .............................................................................................................................................7 2 Introdução Na apostila anterior examinamos o governo presidencialista de João Goulart (1963-1964). O Plano Trienal pretendia reduzir a inflação e retomar o crescimento econômico, porém fracassou. Foi notável a radicalização e disseminação da política, discutida sob o tema das Reformas de Base. No Congresso as forças políticas se dividiram em duas frentes: a Frente Parlamentar Nacionalista em apoio a Jango e seus opositores na Ação Democrática Parlamentar. Fora do Legislativo, a sociedade se organizava na União Nacional dos Estudantes (UNE), em organizações da Igreja Católica, sindicatos, Ligas Camponesas e no Comando Geral dos Trabalhadores (CGT). Em 13 de março de 1964 foi realizado um comício próximo à estação ferroviária Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Nessa oportunidade, Jango discursou para cerca de 15 mil pessoas, radicalizando e prometendo a reforma agrária. O comício colocou em alerta a classe média, as elites e as Forças Armadas, o que criou um contexto propício para a radicalização política e a conspiração. Nessa apostila, vamos compreender os desdobramentos desse contexto de radicalização política. Depois do comício na Central do Brasil, esses grupos aterrorizados pelas promessas de Jango se organizaram para arquitetar um golpe que pretendia derrubar o presidente. O contexto interno e externo propiciou condições para a efetivação de um golpe militar em 1964 que depôs João Goulart e implementou uma ditadura militar no Brasil. Objetivos • Compreender o contexto interno que culminou no golpe militar de 1964; • Examinar o contexto externo que propiciou e contribuiu para efetivação do golpe militar de 1964. 1. O Golpe de 1964 1.1. O contexto interno Depois do comício na Central do Brasil, quando Jango discursou para cerca de 15 mil pessoas e prometia a reforma agrária, taxação dos mais ricos e “reforma urbana”, a classe média, as elites e as Forças Armadas se associavam para articularem um golpe que derrubaria o presidente. Os membros da Escola Superior de Guerra (ESG), liderado pelo chefe do Estado-Maior do Exército, general Castelo Branco (1867- 1967) iniciavam contatos para consolidar o apoio tácito do governo dos Estados 3 Unidos, representado pelo coronel Vernon Walters, oficial de ligação da FEB na Itália, para um golpe de Estado. Ainda em março de 1964, em resposta ao comício na Central do Brasil, quase 500 mil pessoas desfilaram nas ruas de São Paulo na Marcha da Família com Deus pela Liberdade. Era uma resposta conservadora de oposição ao comício e que demonstrou que um golpe teria apoio social. Em seguida, uma revolta de marinheiros no Rio de Janeiro se iniciou e foi o pretexto ideal para o golpe. O Exército afirmava que a disciplina das Forças Armadas estava em risco por conta dos marinheiros insubordinados e era necessária e urgente uma medida de força, organizando as forças do Exército. FIQUE ATENTO! Na noite de 31 de março, o general Olympio de Mourão Filho, o mesmo que em 1937 criou o Plano Cohen, sublevou a guarnição de Juiz de Fora, em Minas Gerais e iniciou uma marcha para o Rio de Janeiro. Lá entregaria ao presidente um manifesto exigindo sua renúncia. Praticamente todas as unidades militares apoiaram o golpe e em 2 dias todo o Brasil estava submetido ao movimento. Apesar do golpe de 1964 ter sido efetivado por Forças Militares, o mesmo recebeu apoio de importantes setores da sociedade brasileira, por isso, a ditadura que segue é chamada por alguns historiadores de ditadura civil militar. Apoiaram o golpe grande parte do empresariado, da imprensa, dos proprietários rurais, da Igreja católica, amplos setores da classe média e vários importantes governadores de estados, como Ademar de Barros, em São Paulo; Carlos Lacerda, no Rio de Janeiro e Magalhães Pinto, em Minas Gerais. 4 01 Tanques militares no Rio de Janeiro durante do Golpe de 1964. João Goulart ao receber o manifesto de Mourão Filho se dirigiu para Brasília. Na capital sem nenhum apoio foi para o Rio Grande do Sul, com a intenção de se juntar a Leonel Brizola que organizava uma resistência. Entretanto, Jango não ofereceu resistência com o intuito de evitar uma guerra civil, a greve geral organizada pelo CGT em 30 de março fracassava, resultando na prisão dos principais líderes sindicais. IMPORTANTE! Pode-se dizer que o golpe militar expressava a crise de um modelo de política iniciado por Vargas. A política era vista como o palco de atuação de um líder carismático que era o intermediário entre a burguesia e o proletariado, especialmente urbano. Ele conciliava as pressões e as concessões da burguesia e mantinha o proletariado controlado, evitando radicalizações e a transformação mais profunda da sociedade. Contudo, o processo de industrialização expandiu o proletariado urbano e ampliou suas reivindicações, tal como a distribuição de renda. As Reformas de Base A repressão da ditadura militar atingiu nos primeiros dias os setores políticos mais à esquerda, tais como o CGT, a União Nacional dos Estudantes (UNE), os membros das Ligas Camponesas e grupos católicos da Juventude Universitária Católica (JUC) e a Ação Popular (AP). Foram presas milhares de pessoas de modo irregular e comum a tortura, principalmente no Nordeste. O líder comunista Gregório Bezerra foi amarrado e arrastado pelas ruas de Recife. 5 foram defendidas pelos trabalhadores que viam no Estado a possibilidade de melhores condições de trabalho e vida. O líder carismático, no caso Jango, não dava mais conta de controlar as reivindicações e não servia mais aos interesses das elites que rapidamente se organizaram e associaram as Forças Armadas para o desmonte desse Estado e a criação de um modelo de política autoritária, centralista e repressor de qualquer movimento social. Ao mesmo tempo, um Estado que manteria a modernização conservadora da economia, sem espaço para reivindicações populares. Esse foi o Estado implementado pela ditadura militar no Brasil, a partir do golpe de 1964. 1.2. O contexto externo O golpe de 1964 também se alimentava do contextoexterno para se efetivar. O governo dos Estados Unidos tinha olhos na América, apoiando ditaduras com a finalidade de controlar de forma mais segura sua influência sobre o país, impedindo o avanço de ideias comunistas, e o surgimento de um governo tal como o de Fidel Castro (Figura 01) em Cuba. Por meio de seu embaixador o Brasil, Lincoln Gordon, e do adido militar, Vernon Walters, mantinham a secreta “Operação Brother Sam”, pela qual se comprometiam em dar apoio logístico aos militares golpistas, no caso de uma longa resistência por parte de forças leais a Jango. O que não foi necessário. O contexto da Guerra Fria, e a sua bipolarização política entre EUA e URSS, também reforçava a argumentação dos militares golpistas. Segundo esses militares naquele momento, a democracia brasileira estaria ameaçada devido à existência de planos para se efetivar uma revolução comunista no país. Essa concepção de mundo estava na base da intitulada "Doutrina de Segurança Nacional" e das teorias de "guerra anti-subversiva" ou "anti-revolucionária" ensinadas nas escolas superiores das Forças Armadas. A adoção dessas ideias pelos militares era justificada tendo como base alguns acontecimentos como as guerras revolucionárias ocorridas na Ásia, na África e principalmente em Cuba. 6 02 Fidel Castro em reunião da Organização das Nações Unidas (ONU), em 1960. Exercícios 1. (ENEM, 2011) “Em meio às turbulências vividas na primeira metade dos anos 1960, tinha-se a impressão de que as tendências de esquerda estavam se fortalecendo na área cultural. O Centro Popular de Cultura (CPC) da União Nacional dos Estudantes (UNE) encenava peças de teatro que faziam agitação e propaganda em favor da luta pelas reformas de base e satirizavam o “imperialismo” e seus “aliados internos”. (KONDER, L. História das Ideias Socialistas no Brasil. São Paulo: Expressão Popular, 2003.) No início da década de 1960, enquanto vários setores da esquerda brasileira consideravam que o CPC da UNE era uma importante forma de conscientização das classes trabalhadoras, os setores conservadores e de direita (políticos vinculados à União Democrática Nacional - UDN -, Igreja Católica, grandes empresários etc.) entendiam que esta organização: a) constituía mais uma ameaça para a democracia brasileira, ao difundir a ideologia comunista. 7 b) contribuía com a valorização da genuína cultura nacional, ao encenar peças de cunho popular. c) realizava uma tarefa que deveria ser exclusiva do Estado, ao pretender educar o povo por meio da cultura. d) prestava um serviço importante à sociedade brasileira, ao incentivar a participação política dos mais pobres. e) diminuía a força dos operários urbanos, ao substituir os sindicatos como instituição de pressão política sobre o governo. 2. (ENEM, 2017) “No período anterior ao golpe militar de 1964, os documentos episcopais indicavam para os bispos que o desenvolvimento econômico, e claramente o desenvolvimento capitalista, orientando-se no sentido da justa distribuição da riqueza, resolveria o problema da miséria rural e, consequentemente, suprimiria a possibilidade do proselitismo e da expansão comunista entre os camponeses. Foi nesse sentido que o golpe de Estado, de 31 de março de 1964, foi acolhido pela igreja”. (MARTINS, J. S. A política do Brasil: lúmpen e místico. São Paulo: Contexto. 2011 (adaptado). Em que pesem as divergências no interior do clero após a instalação da ditadura civil-militar, o posicionamento mencionado no texto fundamentou-se no entendimento da hierarquia católica de que o(a): a) luta de classes é estimulada pelo livre mercado. b) poder oligárquico é limitado pela ação do Exército. c) doutrina cristã é beneficiada pelo atraso do interior. d) espaço político é dominado pelo interesse empresarial. e) manipulação ideológica é favorecida pela privação material. 3. (Autora, 2019) Explique a influência do contexto externo para criar condições que contribuíram com o golpe de 1964 e a falta de resistência ao mesmo. Gabarito 1. [a]. A situação descrita reflete a polarização política entre capitalistas e comunistas no contexto da Guerra Fria que acabou atingindo a sociedade brasileira. Os grupos mais conservadores entenderam que as atividades dos grupos de esquerda serviam como meio para difundir o comunismo entre os trabalhadores. Nesse 8 contexto, as ideias comunistas eram interpretadas por esses conservadores como uma ameaça à cultura e as tradições políticas e culturais brasileiras. 2. [e]. Às vésperas do golpe de 1964, a Igreja Católica, também mostrava sua preocupação com o apoio popular ao comunismo, por conta disso apoiou mudanças materiais no campo para conter o aumento de ideais revolucionários comunistas no Brasil. 3. O contexto externo reforçava a argumentação dos militares golpistas. A ideia disseminada pela política estadunidense e reproduzida no Brasil era que havia uma ameaça à ordem capitalista e à segurança do país por conta de “inimigos internos” que agiam para implementar o comunismo no país pela via revolucionária, subvertendo a ordem. Os exemplos internacionais eram usados para fortalecer essa convicção, tais como as guerras revolucionárias ocorridas na Ásia, na África e principalmente em Cuba. Essa concepção de mundo estava na base da intitulada "Doutrina de Segurança Nacional" e das teorias de "guerra anti-subversiva" ou "anti- revolucionária" ensinadas nas escolas superiores das Forças Armadas. Resumo Nessa apostila, analisamos o contexto interno e externo que propiciaram condições para a efetivação de um golpe militar em 1964 que depôs João Goulart e implementou uma ditadura militar no Brasil. Depois do Comício na central do Brasil, a classe média, as elites e as Forças Armadas temendo as promessas de transformações estruturais anunciadas por Jango se associaram na organização de um golpe que pretendia derrubar o presidente. No mesmo mês de março de 1964, a Marcha da Família com Deus pela Liberdade respondia ao comício mostrando que o movimento conservador contra as Reformas de Base tinha base social. Uma revolta de marinheiros no Rio de Janeiro ofereceu o pretexto ideal para que a marcha de militares para forçar a renúncia de Jango iniciasse. Depois de receber um manifesto do general Mourão Filho exigindo sua renúncia, João Goulart foi para Brasília e, sem aliados, para o Rio Grande do Sul, onde foi recebido por Leonel Brizola que organizava a resistência. Entretanto, Jango não aderiu à iniciativa e o golpe de Estado não sofreu resistência. Líderes sindicais do CGT que organizavam uma greve geral no dia 30 de março foram presos. Não foi nem mesmo necessário o apoio logístico dos Estados Unidos, colocando em exercício a “Operação Brother Sam”. O contexto de polarização e a disseminação da tensão a partir de uma ameaça à ordem capitalista e à segurança do país por conta de “inimigos internos” que agiam para implementar o comunismo no país pela via revolucionária se fortalecia com as guerras 9 revolucionárias na África, Ásia e em Cuba. Iniciava o período da ditadura civil militar no Brasil que marcaria a sua história com a suspensão da democracia em um regime de repressão, tortura, censura, violência e moralização conservadora da sociedade. 10 Referências bibliográficas ARRUDA, José Jobson de A.; PILETTI, Nelson. Toda História – História Geral e História do Brasil. São Paulo: Ática, 1996. COTRIM, Gilberto. História Global – Brasil eGeral. São Paulo: Saraiva, 1997. FAUSTO, Boris. História Concisa do Brasil. São Paulo: Edusp, 2015. _____. História Geral do Brasil. São Paulo: Elsevier, 2016. CASTRO, Celso. O golpe de 1964. CPDOC- FGV. Disponível em: https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/Golpe1964. Acesso em: 13/04/2019 às 07h03min. Referências imagéticas Figura 01: GOOGLE. Disponível em: <https://www.google.com/search?q=golpe+1964&tbm=isch&source=lnt&tbs=sur:fc&sa=X&ved=0ahUKEwidrtLNt cvhAhVDHbkGHYIsCZAQpwUIIA&biw=1920&bih=888&dpr=1#imgrc=vTL_4tgOKhexyM>. Acesso em 13/04/2019 07h17min. Figura 02: WIKIPEDIA. Disponível em: <https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Fidel_Castro_- _UN_General_Assembly_1960.jpg>. Acesso em 13/04/2019 às 07h28min.
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