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CURRÍCULO E SOCIEDADE AULA 1 Prof.ª Dinamara Pereira Machado Prof.ª Kátia Regina Dambiski Soares 2 CONVERSA INICIAL A informação se espalhou por bits e bits nos fios conectados pela internet, e a rede de troca assumiu diversas formas. O saber, anteriormente restrito ao espaço instituído como escola, suas publicações solenes e verdades absolutas, passa por transformações e ressignificações. Nesta aula, iremos dialogar a respeito de Currículo: conceituação do termo, a fim de conhecer os aspectos gerais sobre a definição e conceito de currículo escolar. As discussões sobre currículo são recentes no ambiente educacional, e quando se agrega o fato do saber democratizado dos últimos anos, é premente compreender o significado e a amplitude dos postulados no currículo. A estrutura desta aula está dividida em cinco temas, que estão interligados a objetivos. Também apresentamos uma seção intitulada “Na Prática”, com aplicação no cotidiano escolar, e por fim temos a seção “Finalizando”, que traz o resumo da aula. Ao término desta aula, pretendemos alcançar os seguintes objetivos: conhecer o conceito de currículo; compreender aspectos importantes relacionados com currículo escolar; relacionar proposta pedagógica e currículo; apresentar as características gerais do currículo escolar; destacar especificidades do currículo em cada nível de ensino. Com esta aula, iniciamos as reflexões a respeito de currículo, por uma ótica que compreende as implicações do currículo para além dos bancos escolares, sua abrangência na formação das gerações sem nome, e o impacto das escolhas curriculares para o indivíduo, para a comunidade, para nação e o mundo, pois somos cidadãos planetários, carregados de cultura e significados, independentemente de barreiras geográficas. A vida, e por consequência a aprendizagem, é transfronteira. 3 TEMA 1 – (IN)DEFINIÇÃO DO TERMO 1.1 Currículo ou didática – uma luta de titãs O subtítulo provocativo Currículo ou Didática: uma luta de titãs, em forma de metáfora, busca demonstrar a grandiosidade da temática e suas ramificações na área da Pedagogia como ciência da educação. Com base no nosso cenário, vamos tentar mostrar duas possibilidades de ler os Titãs: protodeuses ou uma banda? Os titãs (protodeuses) fazem parte dos mitos gregos clássicos, sendo considerados deidades muito antigas, que enfrentaram os deuses em busca de ascensão ao poder. Os Titãs (banda) é um grupo de rock, formado na década de 80, constituído por músicos que estão há mais de 3 décadas embalando gerações, com vários prêmios e milhares de seguidores. O que eles (titãs) têm em comum: grandiosidade, representatividade, permanência e hipóteses. A metáfora utilizada serve para demonstrar que currículo e didática são campos de discussão, na área da educação, que se completam, pois são diferentes, travam diálogos, apresentam tempos distintos como campo de pesquisa, além de aspectos filosóficos, científicos, culturais e práticos ao processo educativo e social. Os estudos de currículo não inviabilizam as pesquisas de didática, e o contrário também é verdadeiro. Mas as pesquisas a respeito da didática como objeto de estudo apresentam historicidade maior que os estudos em torno do currículo. O termo didática foi consagrado aproximadamente em 1657, com a publicação da obra Didática Magna, escrita por João Amus Comenius, chamado apenas Comenius, em que postulava a arte de ensinar tudo a todos. A obra Didática Magna é reconhecida como o livro de cabeceira dos profissionais da área de educação. Naquele momento, e por outras várias gerações de pesquisadores, a didática foi considerada como a ciência e a arte de ensinar. É reconhecida em duas frentes: técnica (procedimentos) e sistêmica. No aspecto técnico, preocupa-se com as metodologias e o desenvolvimento do processo de ensinar e aprender. Como aspecto sistêmico, debruça-se sobre a formação de um cidadão consciente e responsável. 4 A didática de Comenius tinha como princípio estudar metodologias e técnicas para se obter o melhor do aprendiz com o mínimo de esforço. Assim, a didática era constituída por elementos fundantes, sendo eles: professor, aluno, meio (recursos), objetivos, conteúdo, metodologia, avaliação e planejamento. Durante muitos anos, a didática se fortaleceu como campo de pesquisa, por sua abrangência, e se estabeleceu a teoria da didática, em que o currículo era abarcado como um dos elementos principais. Em 1918, Franklin Bobbitt publica a obra The Curricullum pela Universidade da Califórnia. A obra é dividida em 6 capítulos e 24 subtemas, que totalizam 294 páginas de discussões curriculares. Destacamos, particularmente, os temas: “Ends and processes” (Processo e Término); “Two levels of educational experience” (Dois níveis de experiência educacional); “Educational experience upon the work-level” (Experiência educacional no nível do trabalho); “Scientific Method in Curriculim-Making” (Método Científico para Desenvolvimento de Currículo); “Education for citizenship” (Educação para cidadania); “Education for physical efficiency” (Educação para Eficiência Física). A obra de Bobbitt marca o novo momento, o começo de outro titã na era da teoria educacional. Antes e depois de Bobbitt, muitos haviam dialogado acerca desses temas, mas o que Bobbitt fez foi aprofundar o diálogo a respeito do currículo. Sua obra magistral olha para a autorrealização do homem e da sociedade, elegendo a satisfação, além dos meios para alcançar esses altos fins, e aponta que o processo educacional requer procedimentos e métodos que devem ser mensurados, e que o currículo está associado a questões voltadas a filosofia, sociologia e por consequência ao processo de desenvolvimento do cidadão. Bobbitt retrata seu discurso tomando como base a teoria de administração de Frederick W. Taylor. A administração científica de Taylor postulava que era possível aumentar a produtividade com base em fluxos e processos, e assim poderíamos minimizar gastos e reduzir o tempo dispendido, desde que todo o trabalho estivesse baseado em um método científico. Bobbit abarca em sua obra toda experiência de instituições milenares que tratavam da temática do currículo, desde os primeiros entendimentos que eram direcionados para a divisão de classe e de conteúdos para determinados cursos; todos traziam uma coerência estrutural e um sentido de sequência, 5 com globalidade estrutural e completitude sequencial. Portanto, o currículo é sistêmico, ajudando a formar o homem daquela e para aquela sociedade. Bobbitt (1918, p. 40) afirma que o currículo era um fator primordial’. Em seu texto, Bobbitt nos faz compreender que é necessário, em todo processo educacional, mensurar resultados e compará-los com os objetivos anteriormente estipulados. Nasce com The Curricullum as Teorias do Currículo. Podemos dizer que Bobbitt está para o Currículo como Comenius está para a Didática. Afinal, são autores basilares para os distintos e sistêmicos estudos de currículo e didática. 1.2 Currículo – vários caminhos A palavra currículo advém do latim, curriculum, que significa corrida, carreira; refere-se ao curso, a um percurso que deve ser realizado. No que diz respeito ao processo da aprendizagem, pode-se conceber currículo como caminho selecionado pela inteligência para o desenvolvimento do conhecimento de forma sistêmica, a fim de se chegar à cidadania, por meio da carreira, com perspectiva social e humana. A busca pela definição do termo currículo,de uma forma ou de outra, é sempre uma escolha representacional com base em um foco, ou seja, se apresenta como uma especulação que tenta revelar características centrais daquele objeto definido por esse ou aquele autor. Dada a complexidade que o caracteriza, apontaremos várias definições, lembrando que entre os educadores e pesquisadores das diferentes teorias do currículo existem diferentes concepções de currículo. A seguir, apresentamos algumas concepções de currículo, indiferentemente das teorias curriculares e do período histórico em que foram forjadas. Bobbitt (1918, p. 43, tradução nossa): “O currículo pode, portanto, ser definido de duas maneiras: é toda a gama de experiências, tanto indiretas quanto direcionadas, preocupadas em desdobrar as habilidades do indivíduo. Ou é a série de experiências de treinamento conscientemente direcionadas que as escolas usam para completar e aperfeiçoar o conhecimento. Nossa profissão usa o termo no último 6 sentido. [...] A educação deve estar preocupada com ambos, embora não direcione ambos. Silva (2003): “O discurso do currículo, pois, autoriza ou desautoriza, legitima ou deslegitima, inclui ou exclui” (p. 5). “O currículo é, pois, uma atividade produtiva nesses dois sentidos. Ambos os sentidos tendem a destacar o aspecto político do currículo. Ambos os sentidos chamam a atenção para seus vínculos com relações de poder. Se o currículo é aquilo que fazemos com os materiais recebidos, então, apesar de todos os vínculos desses materiais com as relações de poder, ao agir sobre eles, podemos desviá-los, refratá-los, subvertê-los, parodiá-los, carnavalizá-los, contestá-los” (p. 194). Silva (2007): “O currículo não é um corpo neutro, inocente e desinteressado de conhecimento. O currículo não é organizado por meio de um processo de seleção em que recorre às fontes imparciais da filosofia ou dos valores supostamente consensuais da sociedade. O conhecimento corporificado no currículo é um conhecimento particular. A seleção que constitui o currículo é o resultado do processo” (p. 44). “O currículo é lugar, espaço, território. O currículo é relação de poder. O currículo é trajetória, viagem, percurso. O currículo é autobiografia, nossa vida, curriculum vitae: no currículo se forja a identidade. O currículo é texto, discurso, documento. O currículo é documento de identidade” (contracapa). “O currículo existente é linear, sequencial, estático. Sua epistemologia é realista e objetivista. Ele é disciplinar e segmentado. O currículo está baseado numa separação rígida entre ‘alta’ cultura e ‘baixa’ cultura, entre o conhecimento científico e o conhecimento cotidiano” (p. 115). Apple (2005): “Se as escolas, seus professores e seus currículos, fossem mais rigidamente controlados, mais estreitamente vinculados às necessidades das empresas e das indústrias, mas tecnicamente orientados e mais fundamentados nos valores tradicionais e nas normas e regulamentos locais de trabalho, então os problemas de aproveitamento escolar, de desemprego, de competitividade econômica internacional, de deterioração das áreas centrais das grandes cidades etc. desapareceriam quase por completo, assim querem nos convencer”. 7 Moreira e Silva (2005): “O currículo não é um elemento neutro de transmissão desinteressada do conhecimento social. O currículo está implicado em relações de poder, o currículo transmite visões sociais particulares e interessadas, o currículo produz identidades individuais e sociais particulares. O currículo não é um elemento transcendente e atemporal – ele tem uma história, vinculadas a formas específicas e contingentes de organização da sociedade e da educação”. Giroux (1997, p. 7): “A nova sociologia do movimento curricular nos fornece diversas possibilidades para o desenvolvimento de formas mais flexíveis e humanas de currículo”. Pedra (2000, p. 38): “um modo que a cultura é representada e reproduzida no cotidiano das instituições escolares”. Pinar (2004, p. 185): “Currículo como conversa complicada não é (apenas) discurso de sala de aula”. Indiferentemente do conceito ou da teoria curricular de governos ou aplicados no ambiente individual das salas de aulas, é central e fundante reconhecer que currículo é seleção. Portanto, deve-se sempre indagar: O que eles/elas devem saber? Qual conhecimento merece ser arraigado na vida das pessoas? Como esse currículo será espelhado na vida cotidiana da sociedade? A quê? E a quem o currículo procurar atender? Seja do seu caráter estruturalista (utilitarista – eficientista), ou para o desenvolvimento do pensamento crítico, quando optamos por compreender o processo educacional pela ótica curricular, devemos tomar como direção que nenhum processo educacional é neutro, e que devemos desvendar nessas intencionalidades a busca por igualdade, equidade e alteridade, preservando o direito à educação e à diversidade cultural. Como o currículo há muito tempo deixou de ser meramente técnica, e está voltado para a seleção de conteúdos e metodologias, e que não há como idealizar e desenvolver o currículo sem os seus sujeitos, que na prática pedagógica cotidiana ele ganha vida, devemos concebê-lo como construção permanente com base em seus sujeitos, como aponta Gimeno Sacristán (1999, p. 122): boa partitura não é música, nem o mapa é terreno. É útil quando o texto que codifica a música é tomado por bons músicos e há bons instrumentos. Dar demasiada ênfase ao texto e não prestar atenção às condições e aos agentes da execução é subestimar o valor e o 8 poder do texto; é pensar que, mais do que uma partitura, são fichas perfuradas do órgão em que o executante, com voltas regulares da manivela, converte mecanicamente em melodias. Ou ainda podemos reafirmar o exposto por Kuenzer (1998, p. 126): ‘’ a finalidade da escola que unifica cultura e trabalho é a formação de homens desenvolvidos multiculturalmente que articulem à sua capacidade produtiva as capacidades de pensar, de estudar, de dirigir ou de controlar quem dirige’’. O conceito de currículo, como argumentamos neste texto, é plural, transversal e sistêmico. Podemos afirmar que no currículo articulamos o conhecimento e corporificamos as relações cotidianas para a construção de um cidadão ético e estético, que compreende sua fagulha de vida diante do movimento histórico da humanidade. TEMA 2 – CURRÍCULO E CONHECIMENTO O processo educativo, em termos teóricos, busca atender os ideários de um determinado tempo e espaço, que reflete as necessidades e expectativas dos indivíduos, ou ainda as realizações (sucessos) e frustações (aprendizado pelo erro) daquele homem construtor da realidade, que, com base em conexões teóricas e práticas, faz anunciar o conhecimento acumulado e explorado. Com base no exposto, esclarecemos que, quando tratamos de conhecimento e currículo, também estamos envolvendo fundamentos sociopolíticos, antropológicos, psicológicos e pedagógicos. Assim, ao pensar o currículo e o conhecimento, devemos lembrar das sábias palavras de Sousa Santos (2004, p. 31): “o determinismo mecanicista é o horizonte certo de uma forma de conhecimento que se pretende ser utilitário e funcional, reconhecido menos pela capacidade de compreender profundamente o real, do que pela capacidade de o dominar e transformar”. Ao pensar o currículo e o conhecimento, temos que considerar inicialmente a teoria do conhecimento, a episteme, que norteará as discussões curriculares. O homem aprende com todo o seu organismo; a aprendizagem é física (biológica), social e emocional (psicológica), e aconteceno transcorrer da vida. O homem aprende para vencer barreiras e compreender a realidade que o cerca; deduz-se, portanto, que ninguém pode ensinar nada para ninguém que não esteja motivado para passar por aquele momento de aprendizagem. A 9 aprendizagem é um caminho para tornar-se diferente, mudar formas de pensar, sentir ou agir. O campo de estudo do conhecimento, ou de como se constrói o conhecimento, é a teoria da aprendizagem, oriunda da psicologia, que novamente agrupa os pensamentos filosóficos e pedagógicos. O campo das teorias da aprendizagem tem um vasto leque de pesquisadores, que propagam suas verdades e suas formas de conduzir a aprendizagem. Cada teoria da aprendizagem escolhe seu repertório científico próprio e aponta como o homem aprende de formas diferentes – aprendizagem por reflexo condicionado; por condicionamento operante; por memorização; por ensaio-erro, demonstração, intuição, por reflexão, e tantas outras teorias que mesclam ou excluem determinados aspectos. De todo modo, a aprendizagem, para ser instituída, passa por alguns pontos essenciais, sendo eles: predisposição, motivação, efeito e causa, vivência social e experiência pessoal. Listamos a seguir algumas teorias da aprendizagem e seus principais pesquisadores: Behaviorismo: John Watson (1878-1958), Ivan Petrovich Pavlov (1849- 1936), Burrhus Frederic Skiiner (1904-1990). A teoria foi estabelecida tomando como base experimentos com ratos, que eram submetidos a determinadas atos e recompensados com base em suas ações de respostas. Construtivismo (Teoria da Epistemologia Genética): Jean Piaget (1896-1980). A teoria de Piaget foi elaborada e difundida com base em outras existentes no seu momento histórico. Piaget nos ensinou que a aprendizagem acontece por etapas ao longo da vida. Interacionismo: Lev Vygotsky (1896-1934). A teoria do interacionista avança da epistemologia genética, pois demonstra que, além da maturação, a aprendizagem é resultado do movimento e de transformações individuais, que são conduzidas pelas interações e condições de vida em sociedade. Afetividade: Henri Paul Hyacinthie Wallon (1879-1962). A teoria da afetividade de Wallon trata do processo sistêmico para que a 10 aprendizagem aconteça. É decorrente dos aspectos motor, afetivo e cognitivo, numa dinâmica de inter-relação. Aprendizagem Significativa e Humanista - David Paul Ausubel (1918- 2008), Carl Rogers (1902-1987). As teorias se fundam numa tendência humanizadora do processo de aprendizagem, em que, indiferentemente da faixa etária, o ser humano tem a possibilidade de tomar decisões e ser responsável por elas; assim, a aprendizagem passa a ter significado de forma individual. Conectivismo – George Siemens (1970-). A teoria do conectivismo é a teoria da era digital, que estabelece que tudo na vida são conexões com base no caos de descobertas. Os princípios da aprendizagem estão interligados pela teoria da complexidade e pela auto-organização. Conforme exposto anteriormente, escolher uma teoria da aprendizagem é um dos pilares para pensar o currículo, pois o binômio homem-mundo resulta do movimento dialético, que advém das ondas de conhecimento produzido. Inegavelmente, o conhecimento é movimento, e o currículo em suas diferentes facetas ajuda na condução do desenvolvimento do homem. A seguir, propomos representação gráfica do ciclo contínuo de produção do conhecimento. Figura 1 – Ciclo de produção do conhecimento 11 TEMA 3 – FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA A escola é a responsável direta pela formação das gerações. Portanto, não é qualquer instituição: ela tem um destaque gigante desde o início do século XX, afinal o profissional adulto passou pelo menos 12 anos de sua vida frequentando obrigatoriamente os bancos escolares. A função social da escola está ligada diretamente à extensão e ao impacto das atividades na formação das gerações, se pensarmos que o aprendizado realizado dentro do ambiente escolar não fica restrito ao espaço escolar. Ou seja, o aprendizado e a cultura adquiridos no ambiente escolar ultrapassam os muros escolares. A escola passou por diferentes mudanças e em cada momento teve uma representação social. Alguns autores apontam que a instituição escolar sofreu com grandes transformações em três grandes ondas, sendo elas: Escola Suprageracional (escola elitista): o alcance social da escola é pequeno, pois o ensino é direcionado para a elite. O período histórico se localiza na antiguidade. O saber era transmitido pela família, ou ainda, no decorrer da vida cotidiano, aprendia-se! Escola Intergeracional (escola para classe média – elitista): o alcance social da escola amplia-se; a educação é compartilhada entre Estado e família. A escola adequa as pessoas ao novo contexto social, em que é necessário formar para o mercado de trabalho industrial. A escolarização era compreendida como forma de ascensão de carreira Escola Intrageracional (escola para todos): o alcance da escola é ampliado constantemente, portanto o aprender a aprender acontece diariamente nas carreiras e na evolução humana. Apesar das transformações ocorridas nas diferentes mudanças sociais no decorrer da história, a sociedade atual elegeu a instituição escola para socializar o saber científico com certificação. A função social da escola aumenta, e por consequência suas responsabilidades também, com novas atividades acrescidas à demanda de recursos humanos das escolas. 12 TEMA 4 – PROPOSTA PEDAGÓGICA E ORGANIZAÇÃO CURRICULAR A obrigatoriedade de termos publicado a proposta pedagógica foi decorrente da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional no ano de 1996. Revelar as diretrizes da escola para a comunidade naquele momento foi uma novidade, afinal escrever minuciosamente a missão da escola, o objetivo em cada etapa de ensino, e ainda fazer com que todos tivessem o reconhecimento por parte da comunidade, era um grande desafio. Aprendeu-se com o tempo, e com projetos que ficavam engavetados, como documento sagrado; a proposta pedagógica é um documento em constante reflexão de todos os envolvidos no processo educacional. O ideário da proposta pedagógica é a organização curricular retomar seus fundamentos filosóficos, antropológicos, sociológicos e econômicos. A seguir, apresentamos alguns pilares essenciais da proposta pedagógica e da organização curricular. Figura 2 – Pilares essenciais A proposta pedagógica e a organização curricular estão amplamente imbricadas; são resultado da construção coletiva em busca da universalização da qualidade da aprendizagem de todos, considerando a igualdade dos sujeitos, além de demonstrarem os caminhos necessários para conseguir o objetivo da escola naquele tempo e sociedade. 13 A proposta pedagógica busca um norte, uma direção para a escola, que se articule os anseios da sociedade, ou seja, carrega de intencionalidade – ou ainda, é um ato político. TEMA 5 – CURRÍCULO E OS DIFERENTES NÍVEIS E ETAPAS DO ENSINO O currículo é elaborado ainda conforme proposto na Didática Magna, ou seja, cada etapa de ensino tem diretrizes específicas para selecionar os conteúdos que serão apresentados aos alunos. Lembramos aqui que, ao discutirmos currículo, também discutimos os conteúdos que devem ser tratados em cada faixa etária. Os conteúdos dos currículos foram, por determinado tempo histórico, carregados de academicismo e cientificismo, com a fragmentação do conhecimento em disciplinas, tornando cada disciplina estanque, pois não havia diálogo entre os conceitos.O Trivium e o Quadrivium são modelos de currículo que tratavam das sete artes liberais ensinadas na idade Média, e o modelo de saber fixo e inquestionável está arraigado no ambiente escolar. As polarizações entre os modelos curriculares foram, ao longo da história, apresentando outros modelos, com base em novas concepções de conhecimento que deveriam ser adequadas para cada etapa de ensino, e ainda as pesquisas acerca de interdisciplinaridade, pedagogia de projetos, ou ainda metodologias inovadoras, em que o aluno passou a ser o centro do processo de ensino. O sistema educacional brasileiro é dividido entre Educação Básica e Ensino Superior, e cada etapa tem regulação específica com diretrizes recomendadas. NA PRÁTICA A história curricular foi construída gradativamente com base em pesquisas com diferentes autores. Na época dos estudos curriculares, é possível perceber que os estudos das teorias da área iniciavam pelas teorias tradicionais, e recentemente repousam nas pós-críticas. As pesquisas avançam quando são inseridos nas discussões os campos da ideologia, da reprodução e da resistência. Talvez você nunca tenha refletido acerca da teoria Queer. Ela discute de forma positiva a autoidentificação, a questão da identificação sexual 14 e cultural. As problematizações são oriundas dos Estados Unidos e da Inglaterra, do pós-movimento feminista, e, com base nesse contexto, os alunos têm direito de usar nome social. FINALIZANDO Nesta aula, dialogamos sobre alguns conceitos de currículo pela ótica de alguns pesquisadores da área. Também tratamos da função social do currículo e da importância do projeto pedagógico para o desenvolvimento da escola e da sociedade. 15 REFERÊNCIAS APPLE, M. Ideologia e currículo. Porto Alegre: Artmed, 2005. BOBBITT, F. The Curricullum. Sacramento: Universidade da Califórnia, 1918. GIMENO SACRISTÁN, J. Poderes instáveis em educação. Porto Alegre: Artmed, 1999. GIROUX, H. Os professores como intelectuais. Porto Alegre: Artmed, 1997. KUENZER, A. Z. Ensino de 2 Grau: o trabalho como princípio educativo. São Paulo: Cortez, 1998. MOREIRA, A. F. B.; SILVA, T.T. (Orgs). Currículo, cultura e sociedade. São Paulo: Cortez, 2005. PEDRA, J. A. Currículo, conhecimento e suas representações. Campinas: Papirus, 2000. PINAR, W. What is a Curriculum Theory? Mahwah: Laurence Erlbaum, 2004. SANTOS, B. Um discurso sobre as ciências. São Paulo: Cortez, 2004. SILVA, T. T. Currículo e Identidade social: territórios contestados. Petrópolis: Vozes, 2003. _____. Documentos de Identidade, uma introdução à teoria do currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
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