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Capítulo 5 • DNA e cromossomos 179 formação pode ser compactada habilmente em cada núcleo celular? No restante deste capítulo, discutimos as respostas a essa questão. A ESTRUTURA DOS CROMOSSOMOS EUCARIÓTICOS São exigidas grandes quantidades de DNA para codificar todas as informações necessárias para fazer uma bactéria unicelular, e muito mais DNA é preciso para codificar a informação para produzir um organismo multicelular como você. Cada célula humana contém cerca de 2 metros de DNA, e o núcleo celular tem somente 5 a 8 μm de diâmetro. Duplicar todo esse material em um espaço tão pequeno é o equivalente a tentar enrolar 40 km de um fio extremamente fino em uma bola de tênis. Em células eucarióticas, longas moléculas de DNA de fita dupla são compac- tadas em cromossomos. Essas moléculas de DNA não apenas cabem facilmente no núcleo, mas, depois da replicação, podem ser facilmente divididas entre as duas células-filhas a cada divisão celular. A tarefa complexa da compactação do DNA é realizada por proteínas especializadas que se ligam ao DNA e o dobram, produzindo uma série de espirais e alças que fornecem níveis cada vez mais ele- vados de organização, impedindo que o DNA se torne um emaranhado confuso. Surpreendentemente, o DNA é compactado de uma forma ordenada, tornando-se acessível a todas as enzimas e outras proteínas necessárias para sua replicação, reparo e controle da expressão de seus genes. As bactérias normalmente possuem seus genes em uma única molécula de DNA circular. Essa molécula é também associada a proteínas que condensam o DNA, mas difere das proteínas que empacotam o DNA eucariótico. Embora seja frequentemente denominado “cromossomo” bacteriano, esse DNA procariótico não apresenta a mesma estrutura que o DNA dos cromossomos eucarióticos, e pouco se sabe a respeito de sua compactação. Nossa discussão a respeito da estrutura dos cromossomos, neste capítulo, concentra-se exclusivamente nos cromossomos eucarióticos. O DNA de eucariotos é empacotado em múltiplos cromossomos Nos eucariotos, como nós, o DNA do núcleo está distribuído em grupos de dife- rentes cromossomos. O DNA em um núcleo humano, por exemplo, contém cerca de 3,2 × 109 nucleotídeos distribuídos nos 23 ou 24 tipos diferentes de cromosso- mos (os homens, com o seu cromossomo Y, têm um tipo extra de cromossomo que as mulheres não têm). Cada cromossomo consiste em uma única e enorme molécula de DNA linear associada a proteínas que compactam e enovelam o fino cordão de DNA em uma estrutura mais compacta. O complexo de DNA e proteí- nas é denominado cromatina. Além das proteínas envolvidas na compactação do DNA, os cromossomos também estão associados com muitas outras proteínas envolvidas na replicação do DNA, no reparo do DNA e na expressão gênica. Com exceção das células germinativas (espermatozoides e óvulos) e das cé- lulas altamente especializadas que não possuem DNA (como os eritrócitos), cada célula humana contém duas cópias de cada cromossomo, uma herdada da mãe e a outra herdada do pai. Os cromossomos maternos e paternos de um par são de- nominados cromossomos homólogos (ou simplesmente homólogos). O único par de cromossomos não homólogos é o dos cromossomos sexuais nos homens, onde o EXPRESSÃO GÊNICA Gene A Proteína A Proteína B Proteína C Gene B Gene C Dupla- -hélice de DNA RNA A RNA B RNA C Figura 5-9 A maioria dos genes contém informação para a produção de proteínas. Como veremos no Capítulo 7, cada gene que codifica uma proteína é usado para produzir moléculas de RNA que então coordenam a produção de moléculas proteicas específicas. Alberts_05.indd 179Alberts_05.indd 179 16/01/2017 09:42:3316/01/2017 09:42:33 180 Fundamentos da Biologia Celular cromossomo Y é herdado do pai e o cromossomo X é herdado da mãe. (As mulheres herdam um cromossomo X de cada genitor, e não possuem o cromossomo Y.) Além de serem de diversos tamanhos, os diferentes cromossomos humanos podem ser distinguidos uns dos outros por meio de várias técnicas. Cada cro- mossomo pode ser marcado com uma cor diferente, utilizando conjuntos de mo- léculas de DNA específicas de cada cromossomo ligadas a diferentes corantes fluorescentes (Figura 5-10). Isso envolve uma técnica conhecida como hibridação de DNA, que se baseia no pareamento das bases complementares, conforme des- crito detalhadamente no Capítulo 10. A maneira mais tradicional de distinguir um cromossomo do outro é marcar os cromossomos com corantes que se ligam a certos tipos de sequências de DNA. Esses corantes distinguem principalmente o DNA que é rico em nucleotídeos A-T do DNA rico em pares G-C, e produzem um padrão de bandas previsível ao longo de cada tipo de cromossomo. Os padrões resultantes permitem que cada cromossomo seja identificado e numerado. A apresentação organizada do conjunto completo dos 46 cromossomos hu- manos é denominada cariótipo humano (ver Figura 5-10). Se parte de um cro- mossomo é perdida ou trocada entre cromossomos, essas mudanças podem ser detectadas. Os citogeneticistas avaliam o cariótipo para detectar anormalidades cromossômicas que estão associadas com alguns defeitos hereditários (Figura 5-11) e com determinados tipos de câncer. Os cromossomos contêm longas sequências de genes A função mais importante dos cromossomos é a de portar os genes, a unidade funcional da hereditariedade (Figura 5-12). Um gene é geralmente definido como um segmento de DNA que contém as instruções para produzir uma determina- da proteína ou molécula de RNA. A maioria das moléculas de RNA codificadas pelos genes é subsequentemente usada para produzir uma proteína (ver Figura 5-9). Entretanto, em alguns casos, a molécula de RNA é o produto final; como as proteínas, essas moléculas de RNA desempenham diversas funções na célula, incluindo funções estruturais, catalíticas e reguladoras de genes, conforme dis- cutido em capítulos posteriores. Figura 5-10 Cada cromossomo humano pode ser marcado com uma cor diferente para permitir sua identificação preci- sa. Os cromossomos de um indivíduo do sexo masculino foram isolados de uma célula em divisão (mitose) e, portanto, em um estado altamente compactado (con- densado). A coloração dos cromossomos é realizada pela exposição a uma série de moléculas de DNA humano que foram ligadas a uma combinação de corantes fluorescentes. Por exemplo, moléculas de DNA do cromossomo 1 são marcadas com uma combinação específica de corantes, aquelas do cromossomo 2 com outra combinação, e assim por diante. Como o DNA marcado pode formar pares de bases (hibridizar) somente com seu cromossomo de origem (discutido no Capítulo 10), cada cromossomo é diferentemente colorido. Para estes experimentos, os cromossomos são tratados de modo que cada fita de DNA das moléculas de dupla-hélice de DNA seja parcialmente separada, permitin- do o pareamento de bases com o DNA de fita simples marcado, mantendo a estrutura dos cromossomos relativamente intacta. (A) A fotomicrografia mostra o conjunto de cromossomos como originalmente espalhados a partir da célula lisada. (B) Os mesmos cromossomos artificialmente alinhados e ordenados. Neste cariótipo, os cromossomos homólogos são numerados e dispostos aos pares; a presença de um cro- mossomo Y revela que estes cromossomos vieram de um homem. (De E. Schröck et al, Science 273:494-497, 1996. Com permissão de AAAS.) 1 2 3 4 5 6 7 98 1110 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 X Y 10 μm (A) (B) Figura 5-11 Cromossomos anormais estão associados a algum defeito genético hereditário. (A) Par de cromossomos 12 de um paciente com ataxia hereditária, uma doença encefálica genética caracterizada pela deterioração progressiva do sistema motor. O paciente tem um cromossomo 12 normal (esquerda) e um cromossomo 12 anormalmente longo, que contémuma parte do cromossomo 4, como identificado pelo seu padrão de bandas. (B) Esta interpretação foi confirmada por marcação cromossômica, na qual o cromos- somo 12 foi marcado de azul e cromossomo 4 foi marcado de vermelho. (De E. Schröck et al, Science 273:494-497, 1996. Com permissão de AAAS.)(A) (B) Alberts_05.indd 180Alberts_05.indd 180 16/01/2017 09:42:3316/01/2017 09:42:33 Capítulo 5 • DNA e cromossomos 181 Em conjunto, a informação genética total contida em todos os cromossomos de uma célula ou organismo consiste em seu genoma. As sequências genômi- cas completas foram determinadas para milhares de organismos, da E. coli aos humanos. Como esperado, existe uma correlação entre a complexidade de um organismo e o número de genes em seu genoma. Por exemplo, o número total de genes varia entre menos de 500 em uma simples bactéria a cerca de 30.000 no homem. Bactérias e alguns eucariotos unicelulares, incluindo S. cerevisiae, pos- suem genomas especialmente compactos: as moléculas de DNA que compõem seus cromossomos são pouco mais do que sequências de genes estreitamente compactados (ver Figura 5-12). No entanto, cromossomos de muitos eucariotos, incluindo os humanos, contêm, além dos genes e das sequências nucleotídicas específicas necessárias para a expressão do gene normal, um grande excesso de DNA intercalante. Esse DNA extra é, às vezes, considerado “DNA lixo”, pois sua utilidade para a célula ainda não foi demonstrada. Embora a sequência de nucleotídeos da maior parte desse DNA possa não ser importante, o próprio DNA, atuando como material espaçador, pode ser crucial para a evolução a longo prazo de espécies e para a atividade adequada dos genes. Além disso, comparações en- tre as sequências genômicas de muitas espécies diferentes mostraram que parte desse DNA extra é altamente conservada entre espécies relacionadas, indicando que ele desempenha funções importantes, embora ainda não saibamos quais. Em geral, quanto mais complexo um organismo, maior é o seu genoma. En- tretanto, essa relação nem sempre é verdadeira. O genoma humano, por exemplo, é 200 vezes maior do que o da levedura S. cerevisiae, mas 30 vezes menor do que os de algumas plantas e pelo menos 60 vezes menor do que os de algumas espécies de ameba (ver Figura 1-40). Além disso, a distribuição do DNA entre os cromossomos também varia de uma espécie para outra. Os seres humanos têm um total de 46 cromossomos (incluindo os dois conjuntos, o materno e o paterno), mas uma espécie de veados pequenos tem apenas 7, enquanto algumas espécies de carpas têm mais de 100. Espécies muito relacionadas, com genomas de tamanho similar, podem apresentar cromossomos que diferem em número e tamanho (Figura 5-13). Assim, embora o número de genes esteja grosseiramente relacionado com a complexidade da espécie, não há uma relação simples entre o número de genes, o número de cromossomos e o tamanho total do genoma. O genoma e os cromossomos das espécies modernas foram moldados por uma história exclusiva de eventos genéticos aparentemente aleatórios, influenciados por pressões seletivas específicas, conforme discutido no Capítulo 9. Sequências especializadas de DNA são necessárias para a replicação do DNA e a segregação cromossômica Para formar um cromossomo funcional, uma molécula de DNA deve fazer mais do que simplesmente portar os genes; ela deve ser capaz de se replicar, e as cópias Figura 5-12 Os genes estão organizados ao longo dos cromossomos. Esta figura mostra um pequeno segmento da dupla-hélice de DNA de um cromossomo da levedura de brotamento S. cerevisae. O genoma de S. cerevisiae contém cerca de 12 milhões de pares de nucleotídeos e 6.600 genes distribuídos entre 16 cromossomos. Observe que, em cada gene, somente uma das duas fitas de DNA realmente codifica a informação para a produção de uma molécula de RNA, e isso pode ocorrer em qualquer uma das fitas, como indicado pelas barras em vermelho-claro. Entretanto, um gene costuma ser representado pela “fita codificadora” e seu complemento, como apresentado na Figura 5-9. A alta densidade de genes é característica de S. cerevisiae. 5′ 3′ 3′ 5′ 0,5% do DNA do genoma da levedura Genes 10.000 pares de nucleotídeos Alberts_05.indd 181Alberts_05.indd 181 16/01/2017 09:42:3316/01/2017 09:42:33 182 Fundamentos da Biologia Celular replicadas devem ser separadas e distribuídas igualmente entre as duas células- -filhas a cada divisão celular. Esses processos ocorrem por meio de uma série ordenada de eventos, conhecida como ciclo celular. Esse ciclo de crescimento e divisão celular está resumido na Figura 5-14 e é discutido em detalhes no Capítulo 18. Apenas duas grandes etapas do ciclo celular precisam nos preocupar neste ca- pítulo: a interfase, quando os cromossomos são duplicados, e a mitose, quando eles são distribuídos, ou segregados, para os núcleos das duas células-filhas. Durante a interfase, os cromossomos estão distendidos como longas e finas fitas emaranhadas de DNA no núcleo e não podem ser facilmente visualizados ao microscópio (ver Figura 5-1). Referimo-nos aos cromossomos nessa forma re- laxada como cromossomos interfásicos. Como discutimos no Capítulo 6, as se- quências de DNA especializadas encontradas em todos os eucariotos garantem que a replicação do DNA ocorra de forma eficiente durante a interfase. Um tipo de sequência de nucleotídeos atua como uma origem de replicação, onde inicia a replicação do DNA; os cromossomos eucarióticos contêm muitas origens de replicação, para garantir que as longas moléculas de DNA sejam rapidamente replicadas (Figura 5-15). Outra sequência de DNA forma os telômeros em cada uma das extremidades dos cromossomos. Os telômeros contêm sequências repe- tidas de nucleotídeos que são necessárias para que as extremidades dos cromos- somos sejam replicadas. Eles também protegem as extremidades da molécula de DNA, impedindo que sejam confundidas pela célula como uma quebra no DNA exigindo reparo. Os cromossomos eucarióticos também contêm um terceiro tipo de se- quência especializada de DNA, chamada de centrômero, que permite que os Figura 5-13 Duas espécies estreitamen- te relacionadas podem ter genomas de tamanhos semelhantes, mas números de cromossomos muito distintos. Na evolu- ção do cervo indiano munjaque, os cromos- somos que eram inicialmente separados, e que permanecem separados nas espécies chinesas, uniram-se sem causar um grande efeito no número de genes ou no animal. (Cortesia de Deborah Carreno, Natural Wonders Photography.) Munjaque chinês Munjaque indiano X Y Y2 X Y1 EXPRESSÃO GÊNICA E DUPLICAÇÃO CROMOSSÔMICA MITOSE DIVISÃO CELULAR INTERFASE FASE M INTERFASE Envelope nuclear envolvendo o núcleo Fuso mitótico Cromossomo interfásico Cromossomo mitótico Figura 5-14 A duplicação e a segregação dos cromossomos ocorrem de maneira ordenada durante o ciclo celular nas células em proliferação. Durante a interfase, a célula expressa muitos de seus genes e, durante parte dessa fase, duplica os cromossomos. Uma vez que a duplicação cromossômica esteja concluída, a célula pode entrar na fase M, quando então ocorre divisão nuclear, ou mitose. Na mitose, os cromossomos duplicados se condensam, a expressão gênica cessa, o envelope nuclear é degradado, e o fuso mitótico é formado pelos microtúbulos e outras proteínas. Os cromossomos condensados são então capturados pelo fuso mitótico, um conjunto completo é puxado para cada extremidade da célula, e um envelope nuclear se forma em torno de cada conjunto cro- mossômico. Na etapa final da fase M, a célula divide-se para produzir duas células-filhas. Para simplificar, mostramos aqui apenas dois cromossomos diferentes. Alberts_05.indd 182Alberts_05.indd 182 16/01/2017 09:42:3416/01/2017 09:42:34 Capítulo 5 • DNA e cromossomos183 cromossomos duplicados sejam separados durante a fase M (ver Figura 5-15). Durante essa fase do ciclo celular, o DNA enrola-se, formando uma estrutura cada vez mais compacta, em última análise formando os cromossomos mitóti- cos altamente compactados ou condensados. Esse é o estado em que os cro- mossomos duplicados podem ser mais facilmente visualizados (Figura 5-16 e ver Figuras 5-1 e 5-14). Uma vez que os cromossomos se condensaram, o cen- trômero liga o fuso mitótico a cada cromossomo duplicado, de modo a permitir que uma cópia de cada cromossomo seja segregada para cada célula-filha (ver Figura 5-15B). Descrevemos o papel central dos centrômeros na divisão celular no Capítulo 18. Os cromossomos interfásicos não estão distribuídos aleatoriamente no núcleo No interior do núcleo, os cromossomos interfásicos, embora mais longos e finos que os cromossomos mitóticos, estão organizados de várias formas. Primeira- mente, cada cromossomo interfásico tende a ocupar uma determinada região no Figura 5-15 Três elementos das se- quências de DNA são necessários para produzir um cromossomo eucariótico que pode ser replicado e depois segregado durante a mitose. Cada cromossomo possui múltiplas origens de replicação, um centrômero e dois telômeros. No desenho esquemático, está descrita a sequência de eventos que um cromossomo típico sofre durante o ciclo celular. O DNA replica-se na interfase, a partir das origens de replicação e seguindo bidirecionalmente por todo o cromossomo. Na fase M, o centrômero liga os cromossomos duplicados ao fuso mitótico, de modo que uma cópia de cada cromossomo seja distribuída para cada célula-filha após a divisão celular. Antes da divisão celular, o centrômero também ajuda a manter unidos os cromossomos duplica- dos compactados, até que estejam prontos para serem separados. Os telômeros, que formam as estruturas especiais nas pontas dos cromossomos, auxiliam na replicação dessas extremidades. Figura 5-16 O típico cromossomo du- plicado mitótico é altamente compac- tado. Como o DNA é replicado durante a interfase, cada cromossomo mitótico duplicado contém duas moléculas-filhas idênticas de DNA (ver Figura 5-15A). Cada uma dessas longas moléculas de DNA, com as suas proteínas associadas, é denominada cromátide. Assim que as duas cromátides- -irmãs se separam, elas são consideradas cromossomos individuais. (A) Micrografia eletrônica de varredura de um cromosso- mo mitótico. As duas cromátides estão fortemente unidas. A região de constrição indica a posição do centrômero. (B) Dese- nho esquemático do cromossomo mitótico. (A, cortesia de Terry D. Allen.) + Cromossomos duplicados em células separadas Parte do fuso mitótico Centrômero Origem de replicação Telômero INTERFASE INTERFASEFASE M DIVISÃO CELULAR Cromossomo duplicado Centrômero Cromátide 1 μm(A) (B) Alberts_05.indd 183Alberts_05.indd 183 16/01/2017 09:42:3416/01/2017 09:42:34 184 Fundamentos da Biologia Celular núcleo, de maneira que os diferentes cromossomos não se enrosquem uns com os outros (Figura 5-17). Além disso, alguns cromossomos estão associados com determinados locais do envelope nuclear, o par de membranas concêntricas que envolve o núcleo, ou com a lamina nuclear subjacente, uma rede proteica que sustenta o envelope (discutido no Capítulo 17). O exemplo mais óbvio de organização cromossômica no núcleo interfásico é o nucléolo (Figura 5-18). O nucléolo é onde estão agrupadas as regiões contendo os genes que codificam os RNAs ribossômicos dos diferentes cromossomos. Aqui, os RNAs ribossômicos são sintetizados e combinados com proteínas para formar os ribossomos, a maquinaria de síntese proteica das células. Como discutimos no Capítulo 7, os RNAs ribossômicos desempenham funções estruturais e cata- líticas no ribossomo. O DNA nos cromossomos é sempre muito condensado Como vimos, todas as células eucarióticas, seja em interfase, seja em mitose, compactam seu DNA em cromossomos. O cromossomo humano 22, por exem- plo, contém cerca de 48 milhões de pares de nucleotídeos. Estendido de ponta a ponta, o seu DNA mediria aproximadamente 1,5 cm. No entanto, durante a mito- se, o cromossomo 22 mede apenas 2 μm de comprimento, isto é, cerca de 10.000 vezes mais compacto do que o DNA seria se estivesse esticado. Essa caracterís- tica marcante de compressão é realizada por proteínas que torcem e enovelam o DNA em níveis cada vez mais altos de organização. O DNA dos cromossomos interfásicos, embora cerca de 20 vezes menos condensado do que o DNA dos cromossomos mitóticos (Figura 5-19), é ainda fortemente compactado. Figura 5-17 Os cromossomos interfá- sicos ocupam territórios distintos no núcleo. Foram usadas sondas de DNA ligadas a diferentes marcadores fluores- centes para destacar cromossomos inter- fásicos específicos em uma célula humana. Quando observados no microscópio de fluorescência, cada cromossomo interfásico se localiza em territórios distintos no nú- cleo, em vez de estar misturado com outros cromossomos como um espaguete em uma tigela. Observe que os pares de cromos- somos homólogos, como as duas cópias do cromossomo 9 indicadas, geralmente não estão localizados na mesma posição. (De M.R. Speicher e N. P. Carter, Nat Rev. Genet. 6:782-792, 2005. Com permissão de Macmillan Publishers Ltd.) 10 μm Cromossomo 9 Envelope nuclear Célula interfásica Núcleo Figura 5-18 O nucléolo é a estrutura mais evidente no núcleo interfásico. Micrografia eletrônica de uma fina secção do núcleo de um fibroblasto humano. O nú- cleo é circundado pelo envelope nuclear. No interior do núcleo, a cromatina apare- ce como uma massa difusa, com regiões especialmente densas, denominadas he- terocromatina (coloração escura). A hetero- cromatina contém poucos genes e situa-se, principalmente, na periferia do núcleo, logo abaixo do envelope nuclear. As grandes re- giões escuras são os nucléolos, que contêm os genes para os RNAs ribossômicos, os quais estão localizados em vários cromosso- mos que se agrupam no nucléolo. (Cortesia de E.G. Jordan e J. McGovern.) 2 μm Nucléolo Envelope nuclear Heterocromatina Alberts_05.indd 184Alberts_05.indd 184 16/01/2017 09:42:3416/01/2017 09:42:34 Capítulo 5 • DNA e cromossomos 185 Nas próximas seções, apresentamos as proteínas especializadas que tornam possível essa compactação. Deve-se ter em mente que os cromossomos são es- truturas dinâmicas. Os cromossomos não somente condensam e descondensam durante o ciclo celular, mas sua compactação deve ser suficientemente flexível para permitir o rápido acesso a diferentes regiões do cromossomo em interfase, descondensando-o suficientemente para permitir o acesso de complexos proteicos a sequências especificas de DNA, para replicação, reparo ou expressão gênica. Os nucleossomos são as unidades básicas da estrutura do cromossomo eucariótico As proteínas que se ligam ao DNA para formar os cromossomos eucarióticos são tradicionalmente divididas em duas classes gerais: as histonas e as proteínas cromossômicas não histonas. As histonas estão presentes em enormes quantida- des (mais de 60 milhões de moléculas de diferentes tipos em cada célula), e sua massa total nos cromossomos é quase igual à do próprio DNA. O complexo das duas classes de proteínas com o DNA nuclear é denominado cromatina. As histonas são responsáveis pelo primeiro nível fundamental de compac- tação da cromatina, o nucleossomo, o qual foi descoberto em 1974. Quando os núcleos interfásicos são rompidos com cuidado e seu conteúdo é examinado no microscópio eletrônico, grande parte da cromatina está na forma de fibras de cro- matina, com um diâmetro de cerca de 30 nm (Figura 5-20A). Se essa cromatina for submetida a tratamentos que a descompactem parcialmente,então pode ser visualizada ao microscópio eletrônico como um “colar de contas” (Figura 5-20B). O cordão é o DNA, e as contas são as partículas do centro do nucleossomo, que consiste no DNA enrolado em um núcleo de proteínas formado pelas histonas. A estrutura da partícula central do nucleossomo foi determinada após o pri- meiro isolamento de nucleossomos, tratando a cromatina descompactada, na forma de “colar de contas”, com enzimas chamadas nucleases, que quebram o DNA desfazendo as ligações fosfodiéster entre os nucleotídeos. Após a digestão por um curto período, apenas o DNA exposto entre as partículas centrais – o DNA de ligação – é degradado, permitindo que essas partículas sejam isoladas. Uma partícula central do nucleossomo individual consiste em um complexo de oito proteínas histonas – duas moléculas de histonas H2A, H2B, H3 e H4 − e um segmento de DNA de fita dupla, com 147 pares de nucleotídeos de comprimento, que se enrola ao redor desse octâmero de histonas (Figura 5-21). A estrutura de alta resolução da partícula do centro do nucleossomo foi determinada em 1997, revelando os detalhes atômicos do octâmero de histonas em forma de disco ao redor do qual o DNA está firmemente preso, fazendo 1,7 volta em uma hélice levógira (Figura 5-22). O DNA de ligação entre cada partícula do centro do nucleossomo pode va- riar em comprimento, de poucos pares de nucleotídeos até cerca de 80. (O termo 5 μm (A) (B) Cromatina interfásica Cromossomo mitótico Figura 5-19 O DNA dos cromossomos na interfase é menos compacto que nos cromossomos mitóticos. (A) Micrografia eletrônica mostrando um grande emara- nhado de cromatina (DNA com suas proteí- nas associadas) saindo do núcleo interfásico lisado. (B) Desenho esquemático de um cromossomo mitótico humano na mesma escala. (Cortesia de Victoria Foe.) (A) (B) 50 nm Figura 5-20 Os nucleossomos podem ser visualizados por meio de microsco- pia eletrônica. (A) A cromatina isolada diretamente de um núcleo interfásico aparece ao microscópio eletrônico como uma fibra de cromatina com cerca de 30 nm de espessura; uma parte de uma dessas fibras é mostrada aqui. (B) Esta micrografia eletrônica mostra o comprimento de uma fibra de cromatina que foi experimental- mente desempacotada, ou descondensada, após o isolamento, para mostrar o aspecto de “colar de contas” dos nucleossomos. (A, cortesia de Barbara Hamkalo; B, cortesia de Victoria Foe). Alberts_05.indd 185Alberts_05.indd 185 16/01/2017 09:42:3416/01/2017 09:42:34 186 Fundamentos da Biologia Celular nucleossomo tecnicamente refere-se a uma partícula central de nucleossomo e ao DNA de ligação adjacente, como mostrado na Figura 5-21, mas é muitas vezes usado para se referir à própria partícula central do nucleossomo.) A formação de nucleossomos transforma uma molécula de DNA em uma fibra de cromatina com cerca de um terço do comprimento do DNA inicial e confere o primeiro nível de empacotamento do DNA. Todas as quatro histonas que fazem parte do octâmero são proteínas relati- vamente pequenas, com uma alta proporção de aminoácidos carregados positi- vamente (lisina e arginina). As cargas positivas auxiliam as histonas a se ligarem fortemente à cadeia principal de fosfatos e açúcares negativamente carregados do DNA. Essas numerosas interações eletrostáticas explicam, em parte, por que o DNA de praticamente qualquer sequência pode-se ligar a um octâmero de his- Figura 5-21 Os nucleossomos contêm o DNA enrolado ao redor de um centro de proteínas contendo oito moléculas de histonas. Em um tubo de ensaio, a partícula central do nucleossomo pode ser liberada da cromatina por digestão do DNA de ligação com uma nuclease que degrada o DNA exposto, mas não o DNA firmemente ligado ao redor do cerne do nucleos- somo. O DNA em torno de cada partícula central do nucleossomo isolada pode então ser liberado, e seu tamanho pode ser determinado. Com 147 pares de nucleotídeos em cada fragmento, o DNA faz quase duas voltas ao redor de cada octâmero de histona. Dupla-hélice de DNA Histona H2A Histona H2B Histona H3 Histona H4 Vista daqui Vista daqui Cauda da histona H3 Figura 5-22 A estrutura da partícula do centro do nucleossomo, conforme determinado pela análise de difração de raios X, revela como o DNA está forte- mente enrolado ao redor de um octâmero de histonas em forma de disco. Aqui estão apresentadas duas vistas de uma partícula do centro do nucleossomo. As duas fitas da dupla-hélice de DNA são apresentadas em cinza. É possível observar uma porção da cauda da histona H3 (verde) prolongando-se a partir da partícula do cerne do nucleossomo, mas as caudas das outras histonas estão truncadas. (Reproduzida com permissão de K. Luger et al, Nature 389:251-260, 1997. Com permissão de Mac- millan Publishers Ltd.) DNA de ligação Forma de “colar de contas” da cromatina NUCLEASE DIGERE O DNA DE LIGAÇÃO DISSOCIAÇÃO COM ALTAS CONCENTRAÇÕES DE SAIS DISSOCIAÇÃO Centro de histonas do nucleossomo O nucleossomo inclui ~200 pares de nucleotídeos de DNA Liberação da partícula central do nucleossomo 11 nm Octâmero de histona Dupla-hélice de DNA com 147 pares de nucleotídeos H2A H2B H3 H4 Alberts_05.indd 186Alberts_05.indd 186 16/01/2017 09:42:3416/01/2017 09:42:34 Capítulo 5 • DNA e cromossomos 187 tona. Cada uma das histonas do octâmero também possui uma cauda não es- truturada de aminoácido aminoterminal que se projeta da partícula central do nucleossomo (ver Figura 5-22). Essas caudas de histonas estão sujeitas a vários tipos de modificações químicas covalentes reversíveis, que controlam muitos as- pectos da estrutura da cromatina. As histonas que formam o centro do nucleossomo estão entre as mais con- servadas de todas as proteínas conhecidas de eucariotos. Há somente duas dife- renças entre as sequências de aminoácidos da histona H4 da ervilha e de bovi- nos, por exemplo. Essa extrema conservação evolutiva reflete o papel estrutural vital das histonas no controle da estrutura do cromossomo eucariótico. O empacotamento dos cromossomos ocorre em múltiplos níveis Embora sejam formadas longas fitas de nucleossomos na maior parte do DNA cromossômico, a cromatina, nas células vivas, raramente adota a forma estendi- da de colar de contas, como mostra a Figura 5-20B. Em vez disso, os nucleosso- mos são adicionalmente empacotados em cima uns dos outros, formando uma estrutura mais compacta, como a fibra de cromatina mostrada na Figura 5-20A e Animação 5.2. Essa compactação adicional dos nucleossomos em uma fibra de cromatina depende de uma quinta histona, chamada de histona H1, que liga os nucleossomos adjacentes, formando um arranjo regular e repetitivo. Essa histo- na de conexão altera a direção da cadeia de DNA ao emergir do nucleossomo, formando uma fibra de cromatina mais condensada (Figura 5-23). Vimos anteriormente que, durante a mitose, a cromatina torna-se tão con- densada que os cromossomos individuais podem ser visualizados no microscó- pio de luz. Como uma fibra de cromatina é condensada para produzir os cromos- somos mitóticos? A resposta ainda não é conhecida em detalhes, mas sabe-se que a fibra de cromatina é enovelada em uma série de alças e que essas alças são adicionalmente condensadas para formar o cromossomo em interfase. Final- mente, acredita-se que esse colar compacto de alças sofra, pelo menos, mais um nível de compactação para formar o cromossomo mitótico (Figuras 5-24 e 5-25). Histona H1 C N Figura 5-23 A histona de conexão atua na ligação dos nucleossomos e no seu empacotamento em uma fibra de cro- matina mais compacta. A histona H1 é formada por uma região globular e um par de longas caudas nas suas porções C- e N-terminais. A região globular comprime 20 pares de bases adicionaisde DNA no local em que ele sai do cerne do nucleossomo, uma atividade que se acredita ser importan- te para a formação da fibra de cromatina. A longa cauda C-terminal é necessária para que a H1 se ligue à cromatina. As posições das caudas N- e C-terminais dos nucleosso- mos não são conhecidas. Figura 5-24 O empacotamento do DNA ocorre em vários níveis nos cromosso- mos. Este desenho esquemático mostra alguns dos níveis de compactação que, se acredita, ocorrem para formar o cromos- somo mitótico altamente condensado. A verdadeira estrutura ainda não é comple- tamente conhecida. Pequena região da dupla-hélice de DNA Forma de “colar de contas” da cromatina Fibra de cromatina formada por nucleossomos compactados Fibra de cromatina enovelada em alças Cromossomo mitótico completo RESULTADO FINAL: CADA MOLÉCULA DE DNA É COMPACTADA EM UM CROMOSSOMO MITÓTICO QUE É 10.000 VEZES MAIS CURTO DO QUE EM SUA FORMA INTEIRAMENTE ESTENDIDA 11 nm 2 nm 30 nm 700 nm 1400 nm Centrômero QUESTÃO 5-2 Assumindo que o octâmero de his- tonas (mostrado na Figura 5-21) for- me um cilindro de 9 nm de diâmetro e 5 nm de altura e que o genoma humano forme 32 milhões de nucle- ossomos, que volume nuclear (6 μm de diâmetro) seria ocupado pelos octâmeros de histonas? (O volume de um cilindro é πr2h ; o volume de uma esfera é 4/3 πr3.) Que fração do volume nuclear total é ocupada pelos octâmeros de histonas? Como isso se compara ao volume do nú- cleo ocupado pelo DNA humano? Alberts_05.indd 187Alberts_05.indd 187 16/01/2017 09:42:3416/01/2017 09:42:34 188 Fundamentos da Biologia Celular A REGULAÇÃO DA ESTRUTURA CROMOSSÔMICA Até o momento, discutimos como o DNA é firmemente compactado em croma- tina. Agora analisamos como essa compactação pode ser regulada de modo a permitir o rápido acesso ao DNA subjacente. O DNA celular possui uma enorme quantidade de informações codificadas, e as células devem ser capazes de obtê- -las sempre que necessário. Nesta seção, discutimos como uma célula pode alterar a estrutura de sua cromatina para expor determinadas regiões do DNA e permitir o acesso a pro- teínas específicas e complexos proteicos, principalmente aos envolvidos na ex- pressão gênica e no reparo e na replicação do DNA. A seguir, discutimos como a estrutura da cromatina é estabelecida e mantida, e como uma célula pode trans- mitir algumas formas dessa estrutura para suas descendentes. A regulação e a herança da estrutura da cromatina desempenham um papel crucial no desenvol- vimento dos organismos eucarióticos. As alterações na estrutura dos nucleossomos permitem o acesso ao DNA As células eucarióticas apresentam várias maneiras de ajustar rapidamente a estrutura local de sua cromatina. Uma delas beneficia-se dos complexos de re- modelagem da cromatina, uma maquinaria de proteínas que usa a energia da hidrólise do ATP para mudar a posição do DNA enrolado ao redor dos nucleos- somos (Figura 5-26A). Esses complexos, que ligam o octâmero de histonas e o DNA ao seu redor, podem alterar localmente a organização dos nucleossomos no DNA, tornando o DNA mais acessível (Figura 5-26B) ou menos acessível a outras proteínas celulares. Durante a mitose, muitos complexos de remodelagem da cromatina são inativados, o que pode auxiliar a manter a estrutura altamente compactada dos cromossomos mitóticos. Outra estratégia para a mudança na estrutura da cromatina reside na mo- dificação química reversível das histonas. As caudas de cada uma das quatro histonas do cerne são particularmente sujeitas a essas modificações covalentes (Figura 5-27A). Por exemplo, os grupos acetila, fosfato, ou metila podem ser adi- cionados às caudas das histonas e delas removidos por enzimas que residem no núcleo (Figura 5-27B). Essas e outras modificações podem ter consequências importantes para a estabilidade da fibra de cromatina. A acetilação das lisinas, por exemplo, pode reduzir a afinidade das caudas para os nucleossomos adjacen- tes, afrouxando a estrutura da cromatina e permitindo o acesso a determinadas proteínas nucleares. Entretanto, o mais importante é que essas modificações podem servir como locais de ancoragem nas caudas das histonas para uma variedade de proteínas reguladoras. Diferentes padrões de modificações atraem proteínas diferentes para determinados segmentos específicos de cromatina. Algumas dessas proteínas promovem a condensação da cromatina, enquanto outras descondensam a cro- matina e facilitam o acesso ao DNA. Combinações específicas de modificações nas caudas e de proteínas que se ligam a elas têm diferentes significados para a célula. Por exemplo, um padrão indica que um determinado segmento da croma- Figura 5-25 Os cromossomos mitóticos contêm cromatina muito com- pactada. Esta micrografia eletrônica de varredura mostra a região próxima a uma das extremidades de um típico cromossomo mitótico. Cada projeção em forma nodular representa a ponta de uma alça de cromatina. O cromosso- mo se duplicou, formando duas cromátides-irmãs que ainda estão unidas (ver Figura 5-16). As extremidades das duas cromátides estão facilmente visíveis à direita desta foto. (De M.P. Marsden e U.K. Laemmli, Cell 17:849–858, 1989. Com permissão de Elsevier.) Cromátide 1Cromátide 1 Cromátide 2Cromátide 2 0,1 μm Cromátide 1Cromátide 1Cromátide 1 Cromátide 2 QUESTÃO 5-3 As proteínas histonas estão entre as proteínas mais conservadas dos eucariotos. As proteínas histonas H4 de uma ervilha e de uma vaca, por exemplo, diferem em apenas 2 dos 102 aminoácidos. Uma comparação das sequências gênicas mostrou mais diferenças, porém somente duas alterações na sequência de aminoácidos. Essas observações in- dicam que mutações que alteram o aminoácido devem ter sido elimina- das por seleção durante a evolução. Por que você acha que as mutações dos genes das histonas que alteram os aminoácidos dessas proteínas são deletérias? Alberts_05.indd 188Alberts_05.indd 188 16/01/2017 09:42:3416/01/2017 09:42:34 Capítulo 5 • DNA e cromossomos 189 Complexo de remodelagem da cromatina dependente de ATP (A) (B) Complexo de remodelagem CATÁLISE DO DESLIZAMENTO DO NUCLEOSSOMO Cromatina condensada Cromatina descondensada CICLOS REPETIDOS DE DESLIZAMENTO DO NUCLEOSSOMO ATP ADP ATP ADP tina foi recentemente replicado; outro indica que os genes dessa região da croma- tina devem ser expressos; outros ainda indicam que os genes próximos devem ser silenciados (Figura 5-27C). 2 4 9 10 14 1718 23 262728 36 Ac Ac Ac Ac Ac Ac AcM MM M M M M M M Histona H3K K K K K K KR RS SR 4 9 M K K 10 14 KS 9 M K (B) (A) (C) Estado de modificação da histona H3 Significado Formação da heterocromatina, silenciamento gênico Expressão gênica Expressão gênica P P P Cauda H2A Cauda H2A Cauda H2B Cauda H2B Cauda H4 Cauda H3 Cauda H3 Cauda H4 Figura 5-27 O padrão de modificação das caudas das histonas pode definir como um determinado segmento de cromatina é tratado pela célula. (A) Desenho esquemático mostrando as posições das caudas das histonas que se projetam a partir de cada nucleossomo. (B) Cada histona pode ser modificada por uma ligação covalente a diferentes grupos químicos, principalmente nas caudas. A histona H3, por exemplo, pode receber um grupo acetila (Ac), um grupo metila (M) , ou um grupo fosfato (P). Os números indicam as posições dos aminoácidos modificados, na cadeia proteica, com cada um dos aminoácidos designados pelo seu código de uma letra. Observe que algumas posições, como as das lisinas (K) 9, 14, 23 e 27, podem ser modificadas em mais de uma maneira. Além disso, as lisinas podem ser modificadas por um, dois ou três grupos metila (não apresentado). Observe que a histona H3 contém 135aminoácidos, a maioria dos quais se encontra em sua região globular (verde), e que a maioria das modificações está em sua cauda N-terminal (laranja). (C) Diferentes combinações de modificações nas caudas das histonas podem conferir um significado específico aos segmentos de cromatina onde elas ocorrem, como indicado. Somente alguns “significados” dessas modificações são conhecidos. Figura 5-26 Os complexos de remode- lagem da cromatina reposicionam o DNA ao redor dos nucleossomos em locais es- pecíficos. (A) Os complexos usam a ener- gia derivada da hidrólise do ATP para libe- rar o DNA do nucleossomo e empurrá-lo ao longo do octâmero de histona, expondo desse modo o DNA a outras proteínas de ligação de DNA. As fitas azuis foram adicio- nadas para mostrar como o nucleossomo se move ao longo do DNA. Muitos ciclos de hidrólise de ATP são necessários para pro- duzir tais mudanças. (B) No caso mostrado, o reposicionamento dos nucleossomos des- condensa a cromatina em uma determinada região cromossômica. Em outros casos, ele condensa a cromatina. Alberts_05.indd 189Alberts_05.indd 189 16/01/2017 09:42:3416/01/2017 09:42:34 190 Fundamentos da Biologia Celular Assim como ocorre nos complexos de remodelagem da cromatina, as enzi- mas que modificam as caudas das histonas são cuidadosamente reguladas. Elas são levadas a determinadas regiões da cromatina principalmente por interações com as proteínas que se ligam a sequências específicas do DNA (discutimos essas proteínas no Capítulo 8). As enzimas que modificam as histonas atuam em con- junto com os complexos de remodelagem da cromatina para compactar e relaxar segmentos de cromatina, permitindo que a estrutura da cromatina mude rapida- mente de acordo com as necessidades da célula. Os cromossomos em interfase contêm a cromatina tanto na forma condensada como na forma mais estendida A alteração da compactação localizada da cromatina por meio de complexos de remodelagem e modificações de histonas tem efeito importante na estrutura ge- ral dos cromossomos interfásicos. Na interfase, a cromatina não está uniforme- mente compactada. Nas regiões que contêm os genes que estão sendo expressos, geralmente ela está mais relaxada, ao passo que nas regiões com genes silencia- dos ela está mais condensada. Assim, a estrutura detalhada de um cromosso- mo interfásico pode diferir de um tipo celular para outro, ajudando a determinar quais genes estão sendo expressos. A maioria dos tipos celulares expressa cerca de 20 a 30% de seus genes. A forma mais altamente condensada da cromatina interfásica é denomina- da heterocromatina (do grego heteros, que significa “diferente”, e cromatina). Na década de 1930, a heterocromatina foi observada pela primeira vez, sob o microscópio de luz, como regiões descontínuas e fortemente coradas na massa de cromatina. A heterocromatina normalmente compõe cerca de 10% do cro- mossomo interfásico e, nos cromossomos de mamíferos, concentra-se ao redor da região dos centrômeros e nos telômeros, nas extremidades dos cromossomos (ver Figura 5-15). O restante da cromatina interfásica é denominado eucromatina (do grego eu, significando “verdadeiro” ou “normal”, e cromatina). Apesar de usarmos o ter- mo eucromatina para a cromatina que existe em um estado mais descondensado do que o da heterocromatina, agora está claro que tanto a eucromatina como a heterocromatina são compostas por misturas de diferentes estruturas de croma- tina (Figura 5-28). Cada tipo de estrutura da cromatina é estabelecido e mantido por diferentes conjuntos de modificações nas caudas das histonas que atraem grupos distintos de proteínas não histônicas. As modificações que coordenam a formação do tipo mais comum de heterocromatina, por exemplo, incluem a metilação da lisina 9 na histona H3 (ver Figura 5-27). Uma vez estabelecida, a heterocromatina pode se espalhar, porque essas modificações nas caudas das histonas atraem um conjun- to de proteínas específicas da heterocromatina, incluindo enzimas modificadoras de histonas, que, em seguida, criam as mesmas modificações na cauda das his- Figura 5-28 A estrutura da cromatina varia ao longo de um único cromossomo interfásico. Como esquematicamente indicado pelas diferentes cores (e ao longo da molécula de DNA, representado pela linha preta central), a heterocromatina e a eucromatina representam, cada uma, um conjunto de diferentes estruturas de cromatina, com distintos graus de condensação. Geralmente, a hete- rocromatina está mais condensada do que a eucromatina. Heterocromatina Heterocromatina Telômero Centrômero HeterocromatinaEucromatina Hetero- cromatinaEucromatina Eucromatina Telômero Alberts_05.indd 190Alberts_05.indd 190 16/01/2017 09:42:3416/01/2017 09:42:34 Capítulo 5 • DNA e cromossomos 191 tonas dos nucleossomos adjacentes. Essas modificações, por sua vez, recrutam mais proteínas específicas da heterocromatina, causando uma onda de propa- gação de cromatina condensada ao longo do cromossomo. Essa heterocroma- tina continuará a se espalhar, até encontrar uma barreira na sequência de DNA que impeça a propagação (Figura 5-29). Desse modo, podem formar-se extensas regiões de heterocromatina ao longo do DNA. A maior parte do DNA que está permanentemente compactada em hetero- cromatina na célula não contém genes. Em razão do alto grau de compactação da heterocromatina, os genes que acidentalmente se tornam compactados na heterocromatina em geral não podem ser expressos. Essa compactação inade- quada dos genes na heterocromatina pode causar doenças. Nos seres humanos, o gene que codifica a β-globina, que faz parte da hemoglobina que transporta a molécula de oxigênio, está situado próximo a uma região de heterocromatina. Se, em virtude de uma deleção hereditária do DNA, a heterocromatina se espalhar, o gene da β-globina se tornará pouco expresso, e o indivíduo desenvolve uma forma grave de anemia. Talvez o exemplo mais marcante do uso da heterocromatina para manter os genes inibidos ou silenciados seja encontrado no cromossomo X interfásico das fêmeas de mamíferos. Nos mamíferos, as células das fêmeas contêm dois cro- mossomos X, enquanto as células dos machos contêm um X e um Y. Uma vez que uma dose dupla de produtos do cromossomo X seria letal, as fêmeas de mamífe- ros desenvolveram um mecanismo para inativar permanentemente um dos dois cromossomos X em cada célula. Ao acaso, um ou outro cromossomo X em cada célula se torna altamente condensado em heterocromatina no início do desen- volvimento embrionário. Desde então, o estado inativado e condensado daquele cromossomo X é herdado em todas as descendentes dessas células (Figura 5-30). Quando uma célula se divide, geralmente transmite suas modificações nas histonas, estrutura da cromatina e padrões de expressão gênica para as duas células-filhas. Essa “memória celular” é fundamental para o estabelecimento e a manutenção de diferentes tipos celulares durante o desenvolvimento de um orga- nismo multicelular complexo. Discutimos os mecanismos envolvidos na memória celular no Capítulo 8, onde apresentamos o controle da expressão gênica. Figura 5-29 Modificações específicas da heterocromatina permitem que a hetero- cromatina se forme e se espalhe. Essas modificações atraem proteínas específicas da heterocromatina que reproduzem as mesmas modificações nas histonas vizinhas. Dessa maneira, a heterocromatina pode se espalhar até encontrar uma barreira na sequência de DNA, que bloqueia a sua pro- pagação para as regiões de eucromatina. Heterocromatina Eucromatina MODIFICAÇÕES NAS HISTONAS ATRAEM PROTEÍNAS ESPECÍFICAS DA HETEROCROMATINA, INCLUINDO AS ENZIMAS MODIFICADORAS DAS HISTONAS PROTEÍNAS ESPECÍFICAS DA HETEROCROMATINA MODIFICAM AS HISTONAS VIZINHAS A HETEROCROMATINA SE ESPALHA ATÉ ENCONTRAR UMA BARREIRA NA SEQUÊNCIADE DNA Modificações nas caudas das histonas específicas da heterocromatina Barreira na sequência de DNA QUESTÃO 5-4 As mutações em um determinado gene do cromossomo X resultam em daltonismo em homens. Por outro lado, a maioria das mulheres portadoras da mutação possui visão para cores, mas enxerga os objetos coloridos com resolução reduzida, já que suas células cone funcionais (as células fotorreceptoras responsá- veis pela visão em cores) estão mais distantes umas das outras na retina do que o normal. Você pode dar uma explicação plausível para essa observação? Se uma mulher é daltô- nica, o que você poderia dizer a res- peito de seu pai? E a respeito de sua mãe? Explique suas respostas. Alberts_05.indd 191Alberts_05.indd 191 16/01/2017 09:42:3416/01/2017 09:42:34 192 Fundamentos da Biologia Celular CONCEITOS ESSENCIAIS • A vida depende do armazenamento e da herança estável da informação genética. • A informação genética está localizada em moléculas de DNA muito longas e é codificada em uma sequência linear de quatro nucleotídeos: A, T, G e C. • Cada molécula de DNA é uma dupla-hélice composta por um par de fitas de DNA complementares e antiparalelas que são unidas por ligações de hidro- gênio entre os pares de bases G-C e A-T. • O material genético de uma célula eucariótica está contido em um conjunto de cromossomos, cada um formado por uma única e longa molécula de DNA que contém muitos genes. • Quando um gene é expresso, parte de sua sequência de nucleotídeos é trans- crita em moléculas de RNA, muitas das quais são traduzidas em proteínas. • O DNA que forma cada cromossomo eucariótico contém, além dos genes, muitas origens de replicação, um centrômero e dois telômeros. Essas se- quências especiais de DNA asseguram que, antes da divisão celular, cada cromossomo possa ser duplicado de forma eficiente, e que os cromossomos resultantes sejam distribuídos igualmente para as duas células-filhas. • Nos cromossomos eucarióticos, o DNA é intensamente condensado ao se associar a um conjunto de proteínas histonas e não histonas. Esse comple- xo de DNA e proteínas é chamado de cromatina. • As histonas compactam o DNA em um arranjo repetitivo de partículas de DNA e proteínas, denominadas nucleossomos, os quais subsequentemente se condensam ainda mais, formando a estrutura mais compacta de cromatina. • Uma célula pode regular sua estrutura de cromatina, condensando ou des- condensando temporariamente determinadas regiões de seus cromosso- mos, mediante uso de complexos de remodelagem da cromatina e de enzi- mas que modificam covalentemente, de diversas maneiras, as caudas das histonas. Figura 5-30 Um dos dois cromossomos X está inativado nas células das fêmeas de mamíferos pela formação da hete- rocromatina. Cada célula de uma fêmea contém dois cromossomos X, um da mãe (Xm) e outro do pai (Xp). Nos primeiros está- gios do desenvolvimento embrionário, um desses dois cromossomos, em cada célula, torna-se condensado em heterocromatina, aparentemente de modo aleatório. A cada divisão celular, o mesmo cromossomo X torna-se condensado (e inativado) em todas as células descendentes daquela célula original. Assim, as fêmeas apresentam uma mistura (mosaico) de células que contêm cromossomos X inativados maternos ou paternos. Na maioria dos tecidos e órgãos, cerca de metade das células será de um tipo e a outra metade será de outro. Xp Xm Xp Xm Xp Xm INATIVAÇÃO DE UM CROMOSSOMO X SELECIONADO ALEATORIAMENTE HERANÇA DIRETA DO PADRÃO DE INATIVAÇÃO DO CROMOSSOMO X Célula do embrião inicial Apenas Xm ativo neste clone Apenas Xp ativo neste clone Alberts_05.indd 192Alberts_05.indd 192 16/01/2017 09:42:3416/01/2017 09:42:34 Capítulo 5 • DNA e cromossomos 193 TESTE SEU CONHECIMENTO QUESTÃO 5-5 A. A sequência de nucleotídeos de uma das fitas de uma dupla-hélice de DNA é 5’-GGATTTTTGTCCACAATCA-3’. Qual é a sequência da fita complementar? B. No DNA de certas células bacterianas, 13% dos nucleo- tídeos são adeninas. Qual é a porcentagem dos outros nucleotídeos? C. Quantas sequências de nucleotídeos são possíveis para um segmento de DNA de N nucleotídeos de comprimen- to, se ele for (a) de fita simples ou (b) de fita dupla? D. Suponha que você tenha um método para cortar o DNA em sequências específicas de nucleotídeos. Quantos nu- cleotídeos de comprimento (em média) essa sequência teria para fazer apenas um corte no genoma bacteriano de 3 × 106 pares de nucleotídeos? A resposta seria dife- rente para o genoma de uma célula animal que contém 3 × 109 pares de nucleotídeos? QUESTÃO 5-6 Um par de bases A-T é estabilizado por somente duas liga- ções de hidrogênio. Os esquemas de ligações de hidrogênio de forças muito semelhantes também podem ser feitos entre outras combinações de bases que normalmente não ocorrem nas moléculas de DNA, tais como os pares A-C e A-G mostra- dos na Figura Q5-6. O que aconteceria se esses pares se for- massem durante a replicação do DNA e se as bases inadequa- das fossem incorporadas? Discuta por que isso não acontece frequentemente. (Dica: ver Figura 5-6.) H H H H H H H C C CC O N N N N N N NN C C C C C H Citosina Guanina Adenina Adenina H H H H H H H H C C C CC C C C C C ON N N N N N N N N N 3′ 5′ 3′ 5′ 3′ 3′ 5′ 5′ Figura Q5-6 • O relaxamento da cromatina para um estado mais descondensado permite que as proteínas envolvidas na expressão gênica, na replicação do DNA e no reparo do DNA tenham acesso às sequências de DNA necessárias. • Algumas formas de cromatina possuem um padrão de modificação das cau- das de histonas que leva o DNA a se tornar tão condensado, que seus genes não podem ser expressos para produzir RNAs. Tal condensação ocorre em todos os cromossomos durante a mitose e na heterocromatina dos cromos- somos em interfase. TERMOS-CHAVE ácido desoxirribonucleico (DNA) cariótipo centrômero ciclo celular complementaridade complexo de remodelagem da cromatina cromatina cromossomo código genético dupla-hélice eucromatina expressão gênica gene genoma heterocromatina histona nucleossomo nucléolo origem de replicação par de bases telômero Alberts_05.indd 193Alberts_05.indd 193 16/01/2017 09:42:3416/01/2017 09:42:34
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