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MANDADO DE SEGURANÇA - VICENTE PAULO

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Vicente Paulo Direito Constitucional 
VemConcursos 1 
 
 
Aula nº 46 
 
Mandado de Segurança 
De todos os momentos que passei como professor, de 1997 até esta data, considero 
este o meu maior desafio (e de imensurável responsabilidade): escrever sobre 
mandado de segurança, para o fim de concurso público. 
Um dos tópicos mais apaixonantes do Direito Constitucional, é também aquele que, 
certamente, oferece maior complexidade e grau de dificuldade para o candidato que 
não milita no meio jurídico, nos corredores dos tribunais. Possui uma infinidade de 
conceitos próprios (autoridade coatora, concessão da segurança, concessão e 
suspensão de liminar etc.), que muito dificultam a compreensão do candidato. 
É este o meu desafio: apresentar um tema extremamente complexo, de forma 
objetiva, singela, no intuito de propiciar, especialmente àqueles que não têm 
formação jurídica, um aprendizado eficiente (para o fim de concurso!) e definitivo. 
Abordarei, nesta e em algumas outras aulas subseqüentes, todos os aspectos que 
considero relevantes sobre o instituto (e que tenho visto nos mais diversos 
concursos), pois o permanente acompanhamento que tenho feito dos certames 
recentemente realizados evidencia que as bancas examinadoras têm exigido, cada 
vez mais, conhecimento aprofundado do candidato sobre essa ação constitucional. 
1 – CONCEITO 
O conceito clássico de mandado de segurança é dado pelo Saudoso Prof. Hely Lopes 
Meirelles, para o qual “é o meio constitucional posto à disposição de toda pessoa 
física ou jurídica, órgão com capacidade processual, ou universalidade reconhecida 
por lei, para a proteção de direito individual ou coletivo, líquido e certo, não 
amparado por habeas corpus ou habeas data, lesado ou ameaçado de lesão, por ato 
de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais forem as funções que 
exerçam”. 
Como se vê, cuida-se de ação que permite ao impetrante recorrer a um órgão do 
Estado (o Poder Judiciário) contra o abuso e a ilegalidade de outro órgão do próprio 
Estado, ou que exerça atividade estatal por delegação. Um meio judicial, de rito 
especial e sumaríssimo, colocado à disposição dos indivíduos para que eles se 
defendam de atos ilegais, ou praticados com abuso de poder. 
O mandado de segurança funciona, portanto, como meio de controle da chamada 
“obrigação negativa do Estado”. No Estado Democrático de Direito, os entes 
estatais, e aqueles que agem em seu nome, NÃO podem agir ilegalmente, tampouco 
com abuso de poder, lesando direitos individuais ou coletivos. Esta a chamada 
“atuação negativa do Estado” (obrigação de não fazer: o Estado NÃO pode fazer 
isso!), diferente da “atuação positiva”, em que a Constituição exige um ato 
comissivo por parte do Estado (obrigação de fazer: o Estado PROMOVERÁ, na 
forma da lei, a defesa do consumidor; o Estado PRESTARÁ assistência jurídica 
integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos etc.). 
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O mandado de segurança é cláusula pétrea, insuscetível de ser abolida por Emenda 
à Constituição (CF, art. 5º, LXIX c/c art. 60, § 4º, IV). 
2 – PARTES NO MANDADO DE SEGURANÇA 
2.1 - IMPETRANTE 
O impetrante é o titular do direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus 
ou habeas data. É aquele que pode valer-se da ação mandado de segurança para 
salvaguardar o seu direito lesado, ou ameaçado de lesão, por uma ilegalidade ou 
abuso de poder. É o sujeito ativo do mandado de segurança (legitimação ativa). 
Enfim, é o titular do direito líquido e certo, aquele que impetra o mandado de 
segurança. 
Podem impetrar mandado de segurança: 
a) as pessoas físicas ou jurídicas, nacionais ou estrangeiras, domiciliadas ou 
não no Brasil; 
b) as universalidades reconhecidas por lei, que, embora sem personalidade 
jurídica, possuem capacidade processual para defesa de seus direitos. 
Como exemplos de universalidades despersonalizadas reconhecidas por lei 
podemos citar o espólio, a massa falida, o condomínio de apartamentos, a herança, 
a sociedade de fato, a massa do devedor insolvente etc. 
c) os órgãos públicos, que, embora despersonalizados, possuem capacidade 
processual para defesa de suas prerrogativas. 
Como se sabe, os órgãos públicos distinguem-se das entidades públicas pelo fato 
de que aqueles são desprovidos de personalidade jurídica, ao passo que estas são 
dotadas de personalidade jurídica. Por exemplo: a União é uma entidade pública, 
detentora de personalidade jurídica; os Ministérios, as Secretarias, os 
Departamentos federais etc. são órgãos públicos, desprovidos de personalidade 
jurídica, integrantes da estrutura da União. 
Em regra, os órgãos públicos não exercem capacidade processual, ficando esta a 
cargo da Entidade à qual pertencem (pois, na verdade, os órgãos são meras 
repartições de competência da entidade, manifestam a vontade da entidade). Por 
isso, nas ações judiciais ordinárias, quem figura é a entidade, e não o órgão. Se, 
por exemplo, numa colisão de um veículo do Departamento de Polícia Federal 
(órgão da União) com um particular, houve dano a ser reparado judicialmente, a 
competente ação judicial será proposta pela União (entidade pública), e não pelo 
Departamento de Polícia Federal (órgão público). 
No caso de mandado de segurança, porém, é reconhecida a capacidade processual 
do órgão público, para a defesa de suas prerrogativas e atribuições. Se um órgão 
público vislumbra que suas prerrogativas ou atribuições estão sendo invadidas, 
usurpadas, por outro ente qualquer, poderá valer-se do mandado de segurança 
para assegurar tais prerrogativas e atribuições. 
Entretanto, não é todo órgão público que pode impetrar mandado de segurança. 
Apenas os órgãos públicos de grau superior (denominados pela doutrina de órgãos 
independentes e superiores), que possuem prerrogativas e atribuições 
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institucionais, podem fazê-lo. Seria o caso das Chefias do Poder Executivo, das 
Mesas do Poder Legislativo, das Presidências dos Tribunais etc.. 
d) os agentes políticos, na defesa de suas atribuições e prerrogativas. 
Os chamados agentes políticos, que detêm prerrogativas e atribuições próprias, 
podem utilizar-se do mandado de segurança contra ato de autoridade que tolha o 
desempenho de suas atribuições ou afronte suas prerrogativas. São exemplos de 
agentes políticos que podem impetrar mandado de segurança na defesa de suas 
atribuições ou prerrogativas: governador de Estado, prefeitos municipais, 
magistrados, deputados, senadores, vereadores, membros do Ministério Público, 
membros dos Tribunais de Contas, Ministros de Estado, Secretários de Estado etc. 
Em relação ao Ministério Público, por exemplo, o Supremo Tribunal Federal firmou 
orientação no sentido de que, sendo aquele órgão parte na relação processual, 
poderá utilizar-se do mandado de segurança quando entender violado direito 
líquido e certo, competindo a impetração, perante os tribunais locais, ao Promotor 
de Justiça, quando o ato atacado emanar de Juiz de primeiro grau de jurisdição 
(STF, HC nº 69.802-6). 
3 – IMPETRADO 
O impetrado é a autoridade coatora, aquele que figura no pólo passivo do 
mandado de segurança, que se obriga a responder em mandado de segurança, em 
virtude de ter praticado ato com ilegalidade ou abuso de poder. Enfim, será a 
autoridade coatora, que praticou um ato (ou ordenouconcretamente a sua prática) 
com ilegalidade ou abuso de poder. É o sujeito passivo do mandado de segurança. 
Podem responder em mandado de segurança: 
a) autoridade pública de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do 
Distrito Federal e dos Municípios, bem assim de suas autarquias, 
fundações públicas, empresas públicas e sociedades de economia mista; 
Cabe ressaltar que mesmo as autoridades do Poder Judiciário respondem em 
mandado de segurança, quando praticam atos administrativos ou proferem 
decisões judiciais que lesem direito líquido e certo do impetrante. 
b) agente de pessoa jurídica privada, desde que no exercício de atribuições do 
Poder Público. 
Como se vê, não são apenas as autoridades públicas que podem ser sujeito passivo 
no mandado de segurança. A ilegalidade ou o abuso de poder podem advir, 
também, de agente de pessoa jurídica privada, desde que no desempenho de 
atribuições do Poder Público. É o caso, por exemplo, dos concessionários e 
permissionários, que executam serviços públicos por delegação do Poder Público. 
Se um empresário presta serviços de transporte coletivo à Municipalidade, 
mediante contrato de concessão com o Poder Público Municipal, os usuários desse 
serviço poderão, diante de lesão ou ameaça a direito líquido e certo, impetrar 
mandado de segurança apontando como autoridade coatora o citado empresário. 
Os agentes de pessoa privada só respondem em mandado de segurança se 
estiverem, por delegação, no exercício de atribuições do Poder Público. Atos 
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privados, praticados por pessoas, empresas ou instituições particulares, não se 
consideram “atos de autoridade”, para fins de impetração de mandado de 
segurança. Se uma empresa privada praticou ato ilegal contra o indivíduo, este ato 
não será passível de mandado de segurança (ressalvada a hipótese de referida 
empresa ter praticado esse ato no exercício de atribuição do Poder Público). 
Importantíssimo destacar que o impetrado é a autoridade coatora, e não a pessoa 
jurídica ou órgão a que pertence e ao qual seu ato é imputado em razão do ofício. 
Por exemplo, se o Delegado da Receita Federal de Brasília pratica um ato (ou 
ordena a sua prática) com ilegalidade ou abuso de poder, o mandado de segurança 
será impetrado contra o Delegado da Receita Federal, e não contra a Secretaria da 
Receita Federal (órgão ao qual pertence o Delegado) ou contra a União (entidade à 
qual pertence a Secretaria da Receita Federal). Vale dizer, o impetrado será o 
Delegado da Receita Federal (autoridade coatora, que praticou ou ordenou 
concretamente a prática do ato), e não a Secretaria da Receita Federal ou a União. 
Entretanto, nada impede que a entidade interessada (a União, no caso acima) 
ingresse no mandado de segurança a qualquer tempo, como litisconsorte do 
impetrado, por meio da atuação de seu representante judicial (no caso da União, 
por meio da Advocacia-Geral da União, exceto na hipótese da dívida ativa de 
natureza tributária, cuja representação caberá à Procuradoria-Geral da Fazenda 
Nacional, nos exatos termos do art. 131, § 3º, da Carta Política). 
4 – ESPÉCIES DE MANDADO DE SEGURANÇA 
O mandado de segurança pode ser repressivo ou preventivo. 
O mandado de segurança repressivo tem por objeto reparar uma ilegalidade ou 
abuso de poder já cometidos. A autoridade coatora pratica o ato ilegal ou abusivo, o 
titular do direito toma conhecimento e então impetra o mandado de segurança, 
com o fito de reprimir a ilegitimidade da conduta. 
Importante ressaltar que o mandado de segurança repressivo pode ter por objeto a 
repressão de um ato comissivo ou de uma omissão ilegais ou abusivos. 
Se a autoridade coatora age positivamente, praticando determinado ato com 
ilegalidade ou abuso de poder (a exigência de um tributo inconstitucional, por 
exemplo), a impetração do mandado de segurança visará reprimir um ato 
comissivo, obtendo-se uma ordem judicial para que a autoridade ponha fim à 
prática do ato (cesse a exigência do tributo, por exemplo). 
Pode acontecer, porém, de o mandado de segurança repressivo ter por objeto a 
repressão de uma omissão ilegal ou abusiva, como ocorre na hipótese de 
determinada autoridade não proceder ao despacho de um processo administrativo 
no prazo fixado em lei (o objeto do mandado de segurança será por fim à omissão, 
obtendo-se uma determinação judicial para que a autoridade pratique o ato 
faltante, no caso, o despacho do processo administrativo). 
O mandado de segurança preventivo tem por objeto uma ameaça ao direito líquido 
e certo do impetrante. O ato ilegal ou abusivo ainda não foi praticado, mas há forte 
risco, uma ameaça concreta, ao impetrante de que ele venha a ser realizado. 
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O mandado de segurança preventivo tem sido largamente utilizado em matéria 
tributária, em que o contribuinte antecipa-se à ação do fisco, buscando a tutela 
jurisdicional para que não lhe seja exigido um tributo inconstitucional. 
Suponha que uma lei tenha instituído, em julho de 2002, determinado tributo 
sujeito ao princípio da anterioridade, que, portanto, somente será exigível em 
relação a fatos geradores ocorridos a partir do primeiro dia do exercício seguinte 
(1/1/2003). Nesse caso, a partir da publicação da lei (julho de 2002), o 
contribuinte já poderá ingressar com mandado de segurança preventivo, com o fim 
de evitar que o fisco venha, a partir de 1/1/2003, exigir-lhe tal exação tributária. 
Nesse caso, não se pode falar em descabimento do mandado de segurança, por se 
tratar de “lei em tese”, que ainda não produziu efeitos concretos. É que, 
considerando que a atividade de lançamento e exigência do crédito tributário é 
obrigatória e plenamente vinculada à lei, a mera publicação da lei já traz em si a 
presunção de que o fisco irá aplicá-la, exigindo o tributo dos contribuintes. 
Pode-se falar, também, em mandado de segurança individual ou coletivo. 
O mandado de segurança individual protege o direito líquido e certo do impetrante, 
de quem buscou a tutela jurisdicional. O direito individual a ser invocado deve ser 
do impetrante. Se o direito for de outrem, não será amparável por mandado de 
segurança (poderá ser protegido por outras ações, como a ação popular ou ação 
civil pública). 
O mandado de segurança coletivo protege o direito pertencente a uma coletividade 
ou categoria, devidamente representadas por quem de direito. 
Na atual Constituição, o mandado de segurança coletivo só pode ser impetrado por: 
a) partido político com representação no Congresso Nacional; 
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente 
constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos 
interesses de seus membros ou associados. 
Importante destacar que o número de indivíduos que figuram como impetrantes na 
ação é irrelevante para descaracterizá-la como mandado de segurança individual. 
Tanto é individual o mandado de segurança impetrado por uma pessoa quanto 
aquele ajuizado por um grupo determinado de pessoas, seja de cinco, dez ou vinte 
componentes. 
No mandado de segurança coletivo, o interesse invocado pertence a uma categoria, 
agindo o impetrante – partido político, organização sindical, entidade de classe ou 
associação – como mero substituto processual na relação jurídica. Vale dizer, 
referidas entidades impetram o mandado de segurança coletivo em seu nome, mas 
na defesa dos interesses de seus membros ou associados. 
Se um grupo de dez Auditores da Receita Federal procuram o respectivo sindicato 
para o fim de pleitear,por meio do patrono desta entidade sindical, em sede de 
mandado de segurança, o reconhecimento de direito líquido e certo de que 
dispõem, a ação eventualmente intentada, em favor dos dez servidores, será 
individual; teremos, na hipótese, o chamado litisconsorte passivo; a ação será 
impetrada em nome dos Auditores (impetrantes). 
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Situação distinta ocorre quando o sindicato dos Auditores resolve intentar 
mandado de segurança na defesa de direito de toda a categoria, de todos os 
associados (contra a exigência de uma contribuição incidente sobre os seus 
vencimentos, por exemplo). Nesse caso, a entidade sindical estará atuando como 
substituto processual, a ação será mandado de segurança coletivo, intentada em 
nome do próprio sindicato, na defesa de seus associados. 
5 – DIREITO LÍQUIDO E CERTO 
Nem todo o direito é amparado pela via do mandado de segurança. A mera 
expectativa de direito não é protegida por mandado de segurança. A Constituição 
exige que o direito invocado seja líquido e certo. 
O direito líquido e certo é aquele demonstrado de plano, de acordo com o direito, e 
sem incerteza, a respeito dos fatos narrados pelo impetrante. É o direito 
comprovado de plano, por meio de documentação inequívoca, no momento da 
impetração da ação. 
Para o Prof. Hely Lopes Meirelles, direito líquido e certo “é o que se apresenta 
manifesto na sua existência, delimitado na sua extensão e apto a ser exercitado no 
momento da impetração”. 
Na esteira dessa orientação, se a existência do direito for duvidosa; se a sua 
extensão ainda não estiver delimitada; se seu exercício depender de situações e 
fatos ainda indeterminados, não será cabível o mandado de segurança. Esse direito 
incerto, indeterminado, poderá ser defendido por meio de outras ações judiciais, 
mas não na via especial e sumária do mandado de segurança. 
Por esse motivo, não há, em regra, instrução probatória no mandado de segurança. 
Impetrado o mandado de segurança, com a petição inicial e todos os documentos 
que comprovam, de plano, o direito líquido e certo do impetrante, haverá apenas a 
manifestação da autoridade coatora, prestando as informações ao juízo, para que 
este decida o direito, por meio da concessão de medida liminar ou da própria 
sentença. Não haverá produção de provas supervenientemente. As provas devem 
ser pré-constituídas, levadas aos autos do processo no momento da impetração do 
mandamus. 
Nesse ponto, há que se destacar que a doutrina e a jurisprudência firmaram 
orientação no sentido de que a exigência de certeza e liquidez recai sobre a matéria 
de fato, e não sobre a de direito. Os fatos alegados pelo impetrante é que carecem 
de certeza e liquidez, que precisam ser comprovados. O autor, para ter direito à 
utilização do mandado de segurança, deve comprovar, de plano, a certeza e liquidez 
sobre a materialidade, sobre a existência fática da situação jurídica por ele 
suscitada. 
Quanto ao direito, este é sempre líquido e certo. Eventuais dúvidas acerca da 
interpretação do direito sempre podem existir, mas esse fato não afasta a 
possibilidade de utilização do mandado de segurança. Da mesma forma, a simples 
alegação de “grande complexidade jurídica” do direito invocado não é motivo para 
obstar a utilização da via do mandado de segurança. 
Em simples palavras: a exigência de liquidez e certeza recai sobre a matéria de 
fato, sobre os fatos alegados pelo impetrante para o ajuizamento do mandado de 
segurança. Estes, sim, necessitam de comprovação inequívoca, de plano; quanto ao 
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direito, este é sempre líquido e certo: qualquer matéria de direito, por mais 
complexa e difícil, pode ser resolvida em mandado de segurança. 
6 – NATUREZA JURÍDICA DO MANDADO DE SEGURANÇA 
O mandado de segurança é ação de natureza civil, de rito sumário especial, 
destinada a salvaguardar direito líquido e certo do impetrante, contra ilegalidade 
ou abuso de poder praticados por autoridade pública ou agente de pessoa jurídica 
no exercício de atribuições do Poder Público. 
O processo do mandado de segurança está disciplinado na Lei nº 1.533, de 1951, 
sendo a ele aplicáveis, subsidiariamente, as regras do Código de Processo Civil 
(CPC). 
Segundo o Supremo Tribunal Federal, o mandado de segurança é sempre ação 
civil, ainda quando impetrado contra ato de juiz criminal, praticado em processo 
penal. 
Em decorrência desse entendimento do STF, temos que, qualquer que seja a origem 
ou natureza do ato impugnado, o mandado de segurança será sempre processado e 
julgado como ação civil, no juízo competente, com a aplicação das regras do Código 
de Processo Civil (CPC). Se o ato coator for administrativo, judicial, civil, penal, 
policial, militar, eleitoral, trabalhista etc., a natureza da ação não transmuda: será 
sempre ação de natureza civil. 
Conforme visto, destina-se o mandado de segurança a corrigir ou impedir 
ilegalidade ou abuso de poder contra direito líquido e certo, individual ou coletivo, 
do impetrante, por meio da expedição de uma ordem judicial a ser cumprida pela 
autoridade coatora. 
O mandado de segurança alcança tanto os chamados atos de autoridade quanto as 
omissões ilegais ou abusivas. 
Nesta aula, você deverá fixar, pelos menos, os seguintes aspectos concernentes ao 
mandado de segurança (MS): 
1 o MS é ação constitucional, de rito especial sumário, direito fundamental do 
indivíduo, erigido à categoria de cláusula pétrea; 
2 no MS as partes são o impetrante (pólo ativo, o titular do direito, aquele que 
propõe a ação) e o impetrado (pólo passivo, a autoridade coatora, em face da 
qual é intentada a ação); 
3 podem figurar como impetrante no mandado de segurança as pessoas físicas 
ou jurídicas, domiciliadas ou não no Brasil; os órgãos públicos de grau 
superior e os agentes políticos, na defesa de suas atribuições e prerrogativas; 
as universalidades despersonalizadas, reconhecidas pelo direito, como a 
massa falida, a herança, o espólio etc. 
4 podem figurar como impetrado no MS autoridade pública ou agente de pessoa 
jurídica privada, desde que no exercício de atribuições do Poder Público; 
5 o MS pode ser preventivo ou repressivo, individual ou coletivo; 
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VemConcursos 8 
6 a exigência de certeza e liquidez recai sobre a matéria de fato, e não sobre a 
de direito; 
7 o MS é sempre ação de natureza civil, ainda quando impetrado contra ato de 
juiz criminal, trabalhista, eleitoral etc. 
Continuaremos na próxima semana. 
EXERCÍCIOS 
1) O mandado de segurança é o meio constitucional posto à disposição de 
toda pessoa física ou jurídica, órgão com capacidade processual, ou 
universalidade reconhecida por lei, para a proteção de direito individual 
ou coletivo, líquido e certo, ainda quando amparado por habeas corpus ou 
habeas data. ( ) 
2) O mandado de segurança é meio de controle da chamada atuação positiva 
do Estado, em que a Constituição exige um ato comissivo por parte dos 
poderes públicos, em favor do indivíduo. ( ) 
3) O mandado de segurança, direito social constitucionalmente protegido, não 
pode ser abolido por meio de Emenda à Constituição. ( ) 
4) Os órgãos públicos de grau superior, embora despersonalizados, possuem 
capacidade processual para a impetração de mandado de segurança 
acerca de qualquer matéria de seu interesse.( ) 
5) A jurisprudência, há muito, reconhece a capacidade processual de qualquer 
órgão público para a defesa de suas prerrogativas e atribuições na via do 
mandado de segurança. ( ) 
6) Se um órgão público vislumbra que suas prerrogativas ou atribuições estão 
sendo invadidas, usurpadas, por outro ente qualquer, poderá valer-se do 
mandado de segurança para assegurar tais prerrogativas e atribuições. ( 
) 
7) Os magistrados, em homenagem ao princípio da separação dos poderes, não 
podem figurar como pólo passivo em mandado de segurança. Se a eles 
cabe julgar referidas ações, não seria legítimo responderem, como 
praticantes de ilegalidade, nessa mesma ação. ( ) 
8) Como regra geral, o impetrado é a pessoa jurídica à qual está subordinada a 
autoridade que praticou o ato impugnado em mandado de segurança. ( ) 
9) O mandado de segurança repressivo pode ter por objeto a repressão de um 
ato comissivo praticado pela autoridade coatora. As omissões ilegais dessa 
mesma autoridade não podem ser discutidas em mandado de segurança, 
pois contra elas a ação a ser proposta é o mandado de injunção. ( ) 
10) Considere a seguinte situação hipotética: a União instituiu, por meio da 
Lei nº 10.097, de agosto de 2001, uma contribuição social destinada ao 
custeio da seguridade social, cuja exigência somente alcançará os fatos 
geradores ocorridos noventa dias após a publicação da referida Lei. 
Considerando que o mandado de segurança é ação voltada para a 
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VemConcursos 9 
salvaguarda de direito líquido e certo, é correto afirmar que os sujeitos 
passivos dessa exação tributária não poderão discutir, em sede de 
mandado de segurança, a inconstitucionalidade dessa Lei antes de 
iniciada a sua incidência concreta aos respectivos fatos geradores da 
contribuição. Como referida Lei só alcança os fatos geradores ocorridos 
após noventa dias de sua publicação, durante esse prazo os sujeitos 
passivos não têm direito líquido e certo a defender. ( ) 
11) O mandado de segurança coletivo só pode ser impetrado por associação, 
partido político com representação no Congresso Nacional ou organização 
sindical legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um 
ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados. ( ) 
12) O mandado de segurança não ampara mera expectativa de direito. ( ) 
13) Não há, em regra, instrução probatória no mandado de segurança, pois 
as provas devem ser pré-constituídas. ( ) 
14) Segundo a orientação dominante, a exigência de certeza e liquidez recai 
sobre a matéria de fato, e não sobre a de direito. ( ) 
15) A alegação de grande complexidade jurídica do direito invocado não é 
motivo para obstar a utilização da via do mandado de segurança. ( ) 
16) O mandado de segurança é sempre ação civil, ainda quando impetrado 
contra ato de juiz criminal, praticado em processo penal. ( ) 
17) Se o ato impugnado é de natureza penal, o procedimento do mandado de 
segurança correspondente seguirá as regras previstas no Código de 
Processo Penal (CPP). ( ) 
 
GABARITO: 
 
1. E 
2. E 
3. E 
4. E 
5. E 
6. C 
7. E 
8. E 
9. E 
10. E 
11. E 
12. C 
13. C 
14. C 
15. C 
16. C 
17. E

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