Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes NOSSA VOZ. NOSSA FORTALEZA. 10Proteção: papel de todos Daniel Victor A. B. Rodrigues SUMÁRIO 1. Políticas públicas de efetivação dos direitos fundamentais de crianças e adolescentes ............................................. 147 2. Responsabilidade Tripartite ................................................................... 148 3. Poder familiar e Responsabilização parental ........................................ 156 4. Poder familiar e Responsabilização parental ........................................ 157 5. Direito à convivência familiar e comunitária ........................................ 157 6. Direito à convivência familiar e comunitária ......................................... 158 Referências .................................................................................................. 159 Perfis do autor e do ilustrador .................................................................. 160 enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 147enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 147 É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da criança e do adolescente. (Art. 70, ECA) Políticas públicas de efetivação DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê a criação de diversas políticas pú- blicas para a promoção, defesa e garantia dos direitos das nossas crianças e adoles- centes. Elas são fundamentais para opor- tunizar os caminhos para uma vida sau- dável e protegida de perigos. As políticas dos direitos fundamentais podem ser per- cebidas no nosso dia a dia, até mesmo nas mais simples coisas como ir à escola, por exemplo. Neste fascículo, vamos conhecer as principais políticas públicas para efeti- vação desses direitos. Vamos lá? A atenção dada pelo poder público é fundamental para que os direitos das crianças e dos adolescentes sejam respei- tados. O Estatuto da Criança e do Adoles- cente (Lei nº 8069/90) afi rma que todas as crianças e adolescentes têm direito ao desenvolvimento saudável, à vida, ao esporte, à profissionalização, à digni- dade e à convivência familiar e comuni- tária. Parece simples, mas a efetivação de tais direitos exige uma complexa articula- ção de diferentes grupos governamentais e setores da sociedade civil organizada. O que isso quer dizer? Que os direitos só saem do papel quan- do o poder público investe em políticas que proporcionem uma vida digna e ple- na para as nossas crianças e adolescentes. Os investimentos na saúde, em hospi- tais e unidades básicas de saúde, podem, por exemplo, promover ações e campa- nhas de pré-natal, de aleitamento mater- no e de vacinação na comunidade que for- talecem a saúde de todos. Mas só isso não é sufi ciente, concorda? É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da criança e do adolescente. (Art. 70, ECA) Políticas públicas Estatuto da Criança e do Adolescente prevê a criação de diversas políticas pú- blicas para a promoção, defesa e garantia dos direitos das nossas crianças e adoles- centes. Elas são fundamentais para opor- tunizar os caminhos para uma vida sau- dável e protegida de perigos. As políticas dos direitos fundamentais podem ser per- 148 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste TÁ NA LEI TÁ NA LEI É preciso também que as escolas estejam em boas condições para cumprir a sua função social, que vai “além dos muros da escola”, que não é somente a prepara- ção para o mercado de trabalho (profi ssio- nalização), mas também ser um espaço de formação social e de exercício da cidadania. A cidadania, por sua vez, precisa ser exercida no espaço público. E como fazer isso sem liberdade? Ora, é impossível, pois não há cidadania sem liberdade. E sem liberdade não há convivência familiar e comunitária. Por isso que todos os direitos fundamentais estão fortemente interliga- dos, um depende do outro para existir. E nada disso é possível sem a articulação das políticas públicas, tema que tratare- mos no tópico seguinte. De acordo com a Portaria nº 1968/2001, o Sus é uma das políticas de públicas que prevê a notificação compulsória (obrigatória) de suspeita e/ou confi rmação de casos de maus-tratos contra crianças e adolescentes. Responsabilidade Tripartite De quem é a responsabilidade da plena efetivação dos direitos? O que diz a legis- lação sobre o assunto? Bom, de manei- ra geral, a responsabilidade é primária e solidária do poder público, ou seja, são divididas entre as três esferas de governo (União, estados e municípios) e com a pos- sibilidade de execução de programas por entidades da sociedade civil. Signifi ca di- zer que o poder público tem a obrigação de promover os direitos, mas que a socie- dade organizada possui o papel essencial de realizar o controle social por meio dos Conselhos de Direitos. “Mas como isso se concretiza na mi- nha vida?”, você pode se perguntar! De muitas maneiras. Por exemplo: Quando você busca atendimento com um conse- lheiro tutelar, você acessa uma política pública municipalizada, mas que é fis- calizada pelo Ministério Público Estadu- al. Ou seja, as políticas devem ser feitas para funcionarem em diferentes instân- cias governamentais. ECA Art. 100 [...] Parágrafo único. São também princípios que regem a aplicação das medidas: [...] III - responsabilidade primária e solidária do poder público: a plena efetivação dos direitos assegurados a crianças e a adolescentes por esta Lei e pela Constituição Federal, salvo nos casos por esta expressamente ressalvados, é de responsabilidade primária e solidária das 3 (três) esferas de governo, sem prejuízo da municipalização do atendimento e da possibilidade da execução de programas por entidades não governamentais; enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 149 É o que diz o ECA, quando fala sobre a organização da política de atendimento – que ela deve ser compartilhada. Por isso que dizemos que a proteção é um dever de todos. E não apenas o governo deve fazer a sua parte, mas toda a sociedade é chamada para proteger as crianças e adolescentes de situações de abuso e de exploração. Isso pode ser feito de diferentes ma- neiras, de forma preventiva e protetiva. Quando há ações articuladas como cam- panhas para combater os castigos físicos, temos como resultado a prevenção. E, em casos em que não foi possível prevenir, existem políticas para reparar os danos sofridos ou minimizar as consequências. As políticas públicas de assistência so- cial estão divididas da mesma forma, pre- venção e proteção, vejamos: TÁ NA LEI ECA Art. 86. A política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de ações governamentais e não governamentais, da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios. enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 149 cial estão divididas da mesma forma, pre- venção e proteção, vejamos: • Dentro da Proteção Social Básica há o Centro de Referência da As- sistência Social (Cras) por meio do Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Indivíduos e Família (Paif) atuando para prevenção às situa- ções de vulnerabilidade social das famílias, assegurando acesso aos direitos sociais, articulação setorial no território, campanhas, projetos, grupos de convivências; • Na Proteção Social Especial, temos a média complexidade, onde há atendimentos por meio do Serviço de Proteção e Atendimento Espe- cializado a Famílias e Indivíduos (Paief) no Centro de Referência Es- pecializado da Assistência Social (Creas), atuando no enfrentamento enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 149 150 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordesteção Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste ao contextode vulnerabilidade, nas situações que envolvem o trabalho infantil, à exploração, aos maus tra- tos, ao cumprimento de medidas socioeducativas em meio aberto, à exploração e abuso sexual de crian- ças e adolescentes, proporcionado o acompanhamento das famílias em situação de risco social para a superação das situações; • E na alta complexidade: medidas socioeducativas em meio fechado, acolhimento institucional (mulhe- res, crianças, famílias, idosos), fa- mília acolhedora, casa lar e repúbli- cas para jovens de 18 a 21 anos. TÁ NA LEI A Saúde, por meio do Sistema Úni- co de Saúde, nos Hospitais, nas Uni- dades Básicas de Saúde (UBS), nas Unidade de Pronto Atendimento (Upa), executa ações diretamen- te relacionadas à proteção e ao cuidado com crianças e ado- lescentes vítimas de abuso/ex- ploração sexual: 1) campanhas de promoção da saúde sexual e reprodutiva; 2) atendimento direto às vítimas e familiares, ministrando medicamentos de profi laxia às Infecções Sexual- mente Transmissíveis (em casos específi cos); 3) orientação fa- miliar e aplicação de protocolos clínicos para evitar gravidez in- desejada fruto de abuso sexual; 4) notifi cação compulsória nos casos de suspeita e/ou confi rma- ção de violência sexual; 5) exame de corpo de delito nas vítimas e suspeitos realizados por Institu- to Médico Legal (IML). Na segurança pública exis- tem ações que buscam garantir os direitos violados, reparação de danos e responsabilização dos acusados através de inves- tigação criminal para apuração de fatos por meio da instaura- ção de um inquérito conduzido por autoridade policial que bus- cará os indícios (provas) de crimes cometidos, que podem ser testemu- nhais (relatos) e/ou materiais coletados em exame de corpo de delito. Nos casos de violência sexual e/ou abuso, o depoimento das vítimas, quando necessário, deve ser feito com profi ssionais qualifi cados e evi- tando repetições desnecessárias. Você pode obter mais informações sobre as políticas da assistência social consultando a Tipifi cação de Nacional de Serviços Socioassistenciais, disponível em: htt ps://www.mds.gov.br/ webarquivos/publicacao/assistencia_ social/Normati vas/ti pifi cacao.pdf A Saúde, por meio do Sistema Úni- co de Saúde, nos Hospitais, nas Uni- dades Básicas de Saúde (UBS), nas Unidade de Pronto Atendimento (Upa), executa ações diretamen- mente Transmissíveis (em casos orientação fa- miliar e aplicação de protocolos clínicos para evitar gravidez in- desejada fruto de abuso sexual; notifi cação compulsória nos casos de suspeita e/ou confi rma- ção de violência sexual; 5) exame de corpo de delito nas vítimas e ção de um inquérito conduzido por autoridade policial que bus- cará os indícios (provas) de crimes cometidos, que podem ser testemu- nhais (relatos) e/ou materiais coletados em exame de corpo de delito. Nos casos de violência sexual e/ou abuso, o depoimento das vítimas, quando necessário, deve ser feito com profi ssionais qualifi cados e evi- tando repetições desnecessárias. enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 151 PUXANDO Prosa DIFERENÇAS ENTRE ESCUTA QUALIFICADA E DEPOIMENTO ESPECIAL O Decreto nº 9.603/2018 que regulamenta a Lei nº. 13431/2017 apresenta as diferenças entre as duas formas de abordagem das situações de violência sexual; uma delas é que a Escuta Especializada está voltada para o acolhimento da vítima e não colhe provas, diferente do Depoimento Especial que é destinado, dentre outras funções, na obtenção qualificada de informações da vítima. Art. 19: A Escuta Especializada é o procedimento realizado pelos órgãos da rede de proteção nos campos da educação, da saúde, da assistência social, da segurança pública e dos direitos humanos, com o objetivo de assegurar o acompanhamento da vítima ou da testemunha de violência, para a superação das consequências da violação sofrida, limitado ao estritamente necessário para o cumprimento da fi nalidade de proteção social e de provimento de cuidados. Art. 22. O Depoimento Especial é o procedimento de oitiva de criança ou adolescente vítima ou testemunha de violência perante autoridade policial ou judiciária com a fi nalidade de produção de provas. 152 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste • Art. 13. Parágrafo único: A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão promover, periodicamente, cam- panhas de conscientização da sociedade, promovendo a identi- ficação das violações de direitos e garantias de crianças e adoles- centes e a divulgação dos serviços de proteção e dos fluxos de aten- dimento, como forma de evitar a violência institucional. • Art. 14. As políticas implementadas nos sistemas de justiça, segurança pública, assistência social, educação e saúde deverão adotar ações articu- ladas, coordenadas e efetivas volta- das ao acolhimento e ao atendimen- to integral às vítimas de violência. • Art. 15. A União, os Estados, o Dis- trito Federal e os Municípios pode- rão criar serviços de atendimen- to, de ouvidoria ou de resposta, • Art. 13. Parágrafo único: A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão promover, periodicamente, cam- panhas de conscientização da sociedade, promovendo a identi- ficação das violações de direitos e garantias de crianças e adoles- centes e a divulgação dos serviços de proteção e dos fluxos de aten- dimento, como forma de evitar a Na justiça, após a instauração do in- quérito, ocorre a denúncia do Ministério Público para iniciar a fase judicial do processo de responsabilização, em que haverá ao fi nal a decisão judicial sobre a absolvição ou a culpabilização dos sus- peitos. Tais processos devem ocorrer em Varas Especializadas para este fi m. Em Fortaleza, tramitam na 12º Vara Criminal localizada no Fórum Clóvis Beviláqua. Com tanta responsabilidade assim, houve a necessidade de criar formas de articular os papéis de cada instância, sa- ber onde cada uma pode atuar e aquilo que é de dever de todos. Senão, vejamos as normatizações trazidas pela nova Lei nº 13.431/2017, quando diz: enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 153 pelos meios de comunicação dis- poníveis, integrados às redes de proteção, para receber denúncias de violações de direitos de crian- ças e adolescentes. • Art. 16. O poder público poderá criar programas, serviços ou equipamen- tos que proporcionem atenção e atendimento integral e interinstitu- cional às crianças e adolescentes ví- timas ou testemunhas de violência, compostos por equipes multidisci- plinares especializadas. Cada instância tem o seu papel na pre- venção e na proteção, mas há atribuições específi cas para estados e municípios. Os principais papéis da União são a coordenação e o monitoramento de po- líticas, a criação de diretrizes a serem se- guidas pelos estados e municípios para implementação de políticas, bem como o fi nanciamento das políticas que, quan- do são executadas entre diferentes entes são consideradas políticas públicas inter- setoriais. Para que essas ações ocorram, há uma série de critérios que devem ser seguidos para a adesão dos estados e municípios, o que inclui o cofi nancia- mento para a execução de determinados projetos. Por exemplo, o Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ame- açados de Morte (PPCAAM) é um tipo de política intersetorial, que é executado em regime de coparticipação entre entes fe- derados (União e estados). No caso do Ceará, o estado oferta a política de educação, de saúde, justiça – através dos Núcleos de Atendimento à In- fância e à Juventude (NADIJ) na Defensoria Pública do Ceará, do Ministério Público no Centro de Apoio Operacional da Infância, Juventude e Educação (CAOPIJ) e em varas especializadas, neste caso, a 12ª Vara da Infância e Juventude, especializada em cri- mes sexuais contra crianças e adolescen- tes, assistência social, e segurança públi- ca , principalmentena Perícia Forense do Estado do Ceará, que realiza exames para a produção de provas para instruir proces- sos criminais e na Delegacia de Combate à Exploração de Crianças e Adolescentes (Dececa), que atende todos os tipos de vio- lação de direitos contra crianças e adoles- cente (exploração/abuso sexual, violência física, maus-tratos). Em Fortaleza, a Dele- gacia funciona no horário comercial, 8h às 18h, com plantões na Delegacia da Mulher. Os municípios são considerados a “ponta” do serviço de atenção, ofertando saúde, educação, esporte, lazer, profi s- sionalização, assistência social (básica e especial). Em Fortaleza, umas das políti- cas municipais que merecem destaque no atendimento ao público com direitos vio- lados é executado pela Fundação da Crian- ça e da Família Cidadã (Funci) da Prefeitu- ra Municipal de Fortaleza, quais sejam: • Ponte de Encontro: Ações de abordagem de rua realizado por educadores sociais para orientação e identifi cação de demandas de vio- lação de direitos; • Rede Aquarela: Atua diretamente no atendimento às vítimas de violên- cia sexuais e na denúncia de casos, buscando articulação com as redes socioassistenciais por meio de qua- tro eixos de atuação – Disseminação: promoção de palestras, fórúns de participação social, campanhas de prevenção, divulgação e articulação da rede de proteção social; • Atendimento Psicossocial: acom- panhamento das vítimas e suas fa- mílias através de atendimentos com profi ssionais da psicologia, serviço social e direito; Atendimento Dececa: equipe técnica plantonista no equi- pamento de segurança pública visan- do o primeiro acolhimento das de- mandas; e Atendimento às famílias e vítimas na 12ª Vara Criminal. Há ainda iniciativas do Sistema S, por meio de projetos, como Projeto Vira Vida, com foco em adolescentes entre 12 e 16 anos que foram vítimas de violação de di- reitos, ofertando educação e qualifi cação profi ssional tendo como objetivo o desen- volvimento de habilidades e o encaminha- mento para o mercado de trabalho. 154 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordestea | Universidade Aberta do Nordeste É importante perceber que todas es- sas políticas são extremamente úteis para a garantia dos direitos em todos os âmbitos, pois estão distribuídas em di- versos locais da cidade e dos municípios dos interiores nos estados, e contam com a confi ança da comunidade para a iden- tifi cação de demandas de violação de di- reitos (espaços de revelação), portanto, capazes de oferecer uma escuta qualifi - cada e encaminhar as situações para os órgãos competentes. É nesse momento que é possível “dar voz” aos historicamente invisibilizados, saber como os sujeitos vivenciam essa realidade. Tudo isso deve ser feito com sensibilidade, garantindo um espaço de acolhimento e segurança, e por outro lado, o poder público e a sociedade civil devem incentivar a participação em con- ferências e espaços de discussão, sobre- tudo aqueles que são diretamente atingi- dos por tais situações. Esse é um grande desafi o para todos. Cabe também citar a importância do controle social e da participação social para a plena efetivação do Sistema de Ga- rantia de Direitos, que podem ser exerci- das através dos Conselhos de Direitos, tais TÁ NA LEI O ECA DEFINE AS ATRIBUIÇÕES DO CONSELHO TUTELAR Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar: I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas no art. 101, I a VII; II - atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as medidas previstas no art. 129, I a VII; III - promover a execução de suas decisões, podendo para tanto: a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação, serviço social, previdência, trabalho e segurança; b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de descumprimento injustifi cado de suas deliberações. IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que constitua infração administrativa ou penal contra os direitos da criança ou adolescente; V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua competência; VI - providenciar a medida estabelecida pela autoridade judiciária, dentre as previstas no art. 101, de I a VI, para o adolescente autor de ato infracional; VII - expedir notifi cações; VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de criança ou adolescente quando necessário; IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta orçamentária para planos e programas de atendimento dos direitos da criança e do adolescente; X - representar, em nome da pessoa e da família, contra a violação dos direitos previstos no art. 220, § 3º, inciso II, da Constituição Federal; XI - representar ao Ministério Público para efeito das ações de perda ou suspensão do poder familiar, após esgotadas as possibilidades de manutenção da criança ou do adolescente junto à família natural. XII - promover e incentivar, na comunidade e nos grupos profi ssionais, ações de divulgação e treinamento para o reconhecimento de sintomas de maus-tratos em crianças e adolescentes. nascimento e de óbito de criança ou IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta orçamentária para planos e programas de atendimento dos direitos da criança e do adolescente; X - representar, em nome da pessoa e da família, contra a violação dos direitos previstos no art. 220, § 3º, inciso II, da XI - representar ao Ministério Público enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 155 como o Comdica (em âmbito municipal) e o CEDCA (em âmbito estadual), dos Fó- runs, das Conferências, dentre outros. O controle social é uma forma da so- ciedade contribuir na formulação e aplicação dos gastos públicos e de fomento à participação. Os Conselhos Tutelares, entre outras atribuições, são responsáveis em encaminhar ao sistema de justiça os casos de violência sexual e de abuso de crianças e adolescen- tes, bem como de requisitar serviços de atendimento e aplicar medidas protetivas cumprindo um relevante papel na construção de uma socie- dade que protege a vida das nossas crianças e adolescentes: Os Conselhos Tutelares devem promover a defesa intransigente dos direitos das crianças e dos adoles- centes, por isso é tão importante que os conselheiros sejam pessoas que, de fato, estejam mobilizadas nesse sentido. É motivo de preocupação quando esses cargos são usados para fi ns partidários. Estejamos atentos. Busque informações so- bre a atuação dos conselheiros da sua cidade. 156 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste De acordo com o ECA, é dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente. Ter conhecimento sobre o dever de cuidado é o primeiro passo para a cons- trução de um ambiente propício ao de- senvolvimento saudável. Quando uma criança nasce, ela precisa de um lar que possa proporcionar suas primeiras vivên- cias no mundo. Esse acolhimento deve ser feito; primeiramente pelos pais, por ou- tros integrantes da família, por pessoas da comunidade. Mas tudo isso só é possível se a família for fortalecida por ações das diversas políticas sociais e se os vínculos de afeto são cultivados entre todos. Uma família fortalecida é mais ca- paz de lidar com as situações de abuso e de exploração sexual de crianças e adolescentes. É dever do poder público providenciar os meios necessários para esse fortalecimento. A Política Nacional de Assistência So- cial por meio do Sistema Único da Assis- tência Social (Suas) adota o termo ma- tricilidade familiar como um dos eixos estruturantes da política, ou seja, o foco da atuação da assistência social é prover as capacidades de reprodução da vida so- cial nos mais diferentes arranjos de famí- lia (monoparentais, reconstituídas, den- tre outras) e de ciclos de vida (infância, adolescência, velhice). Para que, assim, a família fortalecida pelas políticas públicaspossa cumprir com sua função social, que é a capacidade de proteção de seus mem- bros e promover o direito à convivência fa- miliar e comunitária, dentre outros. 156 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste Dever de Cuidado 156 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordes enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 157 Poder familiar E RESPONSABILIZAÇÃO PARENTAL O ECA estabelece em seu artigo 22, que incumbe aos pais “o dever de sustento, guarda e educação dos fi lhos”. Muitas famílias têm dúvidas sobre o que signifi ca poder familiar. Ele nada mais é do que a responsabilidade dos genitores, ou de quem venha a ter a guarda de crian- ças e adolescentes para a efetivação dos di- reitos fundamentais que estamos tratando. Em resumo, os pais e a comunidade devem oferecer o apoio necessário em todas as fases da vida, desde a infância até a maioridade. É um grande mito achar que a denúncia de uma situação de abuso sexual dentro da família resultará necessariamente em desti- tuição do poder familiar. Pelo contrário, ao fazer uma denúncia, a família fortalece, tor- na-se um lugar de apoio e de segurança para a vítima. O que poderá ocorrer, dependendo da situação, será o afastamento do autor da violência do local de moradia ou a proibição de aproximação da vítima, tudo isso para a proteção da vítima. Os casos de perda e sus- pensão do poder familiar passam por uma criteriosa avaliação da justiça. FICA A DICA SE EU DENUNCIAR UMA SITUAÇÃO DE ABUSO SEXUAL INTRAFAMILIAR, EU VOU PERDER A GUARDA? Verifi cada a hipótese de maus- tratos, opressão ou abuso sexual impostos pelos pais ou responsável, a autoridade judiciária poderá determinar, como medida cautelar, o afastamento do agressor da moradia comum (art. 130, ECA). EM QUE CASOS A FAMÍLIA PODE PERDER O PODER FAMILIAR? A perda e a suspensão do poder familiar serão decretadas judicialmente, em procedimento contraditório, nos casos previstos na legislação civil, bem como na hipótese de descumprimento injustifi cado dos deveres e obrigações a que alude o art. 22 (art. 24, ECA). Direito à convivência FAMILIAR E COMUNITÁRIA Muitos podem se perguntar: Afi nal, qual a relação entre a exploração/abuso se- xual de crianças e adolescentes com o direito a convivência familiar e comuni- tária? Vamos pensar juntos? Se uma criança tem ao seu redor uma rede de proteção: família, amigos, comu- nidade, professores, líderes religiosos, quanto maiores forem esses vínculos, mais ela se sentirá protegida e confi ante para relatar uma situação de abuso sexu- al. Ou seja, quando a criança se sente par- te de uma comunidade, ela sente que não está sozinha, que pode contar com a ajuda de todos. Isso é muito importante. Muitas crianças permanecem no silêncio dos seus medos por não se sentirem num ambien- te seguro para contar sobre as suas dores. Isso nos leva para o nosso próximo tópico. enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 157 158 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste Sinais para que a família RECONHEÇA CASOS DE VIOLÊNCIA SEXUAL Os adultos devem buscar conhecer o cotidiano da criança e do adolescen- te, estar próximo, compreender suas diferentes fases da vida. Todavia é pre- ciso ter cuidado ao se discutir sobre sinais indicativos de ocorrência da violência sexual, pois agir de forma precipitada pode trazer sérios danos às vítimas e acusados em casos de de- núncias indevidas. Há alguns sinais de alerta que po- dem ser úteis, mas que devem ser analisados dentro de um conjun- to de fatores, até porque alguns comportamentos aqui descritos são próprios da adolescência. Caso haja suspeita de alguma situação de possível violência sexual, é preciso procurar um profi ssional capacitado para oferecer suporte, sobretudo a partir da porta de entrada prin- cipal para tratar do tema, que é o Conselho Tutelar, capaz de realizar uma investigação social e adotar as providências cabíveis. PUXANDO PROSA A noção de família ganha diferentes contornos conforme o momento histórico. Para se ter uma ideia, no Brasil, durante o início do século XIX, o Estado para atender os interesses liberais inicia uma verdadeira campanha de padronização da família por meio da higienização e da atuação médica fi lantrópica, através da imposição de uma moral física dos corpos, mantendo-se distante das doenças venéreas, do alcoolismo, da vagabundagem, dos vícios, dos prazeres carnais. Saiba mais sobre o assunto em Ordem Médica e Norma Familiar de Jurandir Freire Costa e em polícia das famílias de Jacques Donzelot PUXANDO PROSA A família foi palco para a construção das diferenças entre os papéis dos homens e das mulheres e vem sofrendo diversas modifi cações, mas persiste o modelo patriarcal, de orientação sexista, machista e excludente. Qual o signifi cado disso na vida das nossas crianças e dos adolescentes? Não se pode fechar os olhos para uma situação de violência. A simples suspeita deve ser investigada. Proteger é papel de todos. Como dito, alguns fatores podem dar sinais ou indicarem uma possível situação de violência sexual e que, por isso mesmo, demandam um olhar e acompanhamento cuidadosos para melhor compreensão do contexto e eventual adoção de providên- cias. Dentre estes, pode-se citar: • isolamento repentino; • mudança brusca de comportamento; • evitar certas pessoas; • medo de voltar para casa; • mal desempenho em atividades que antes gostava; • demonstração inadequada de comportamentos sexuais; Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste , pois agir de forma precipitada pode trazer sérios danos às vítimas e acusados em casos de de- Há alguns sinais de alerta que po- dem ser úteis, mas que devem ser analisados dentro de um conjun- to de fatores, até porque alguns comportamentos aqui descritos são próprios da adolescência. Caso haja suspeita de alguma situação de possível violência sexual, é preciso procurar um profi ssional capacitado para oferecer suporte, sobretudo a partir da porta de entrada prin- cipal para tratar do tema, que é o Conselho Tutelar, capaz de realizar uma investigação social e adotar as que antes gostava; • demonstração inadequada de comportamentos sexuais; enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 159 Referências BRASIL. Estatuto da criança e do adolescente. Lei Federal 8.069 de 13 de Junho de 1990. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069. htm. Acesso em: 14 de outubro de 2010. ____. Portaria n. 1968 de 25 de outubro de 2001. Dispõe sobre a notifi cação, às autoridades-competentes, de casos de suspeita ou de confi rmação de-maus- tratos contra-crianças e adolescentes atendidos nas entidades do Sistema Unido de Saúde. Disponível em:http:// bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/ gm/2001/prt1968_25_10_2001_rep.html. Acesso em: 14 de outubro de 2019. ____. Decreto 9603 de 10 de dezembro de 2018. Regulamenta a Lei nº 13.431, de 4 de abril de 2017, que estabelece o sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/ decret/2018/decreto-9603-10-dezembro- 2018-787431-norma-pe.html. Acesso em: 14 de outubro de 2019. ____. Lei n. 13.431 de 4 de abril de 2017. Estabelece o sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência e altera a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente). Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13431. htm. Acesso em: 14 de outubro de 2019. COSTA, Jurandir Freire. Ordem médica e norma familiar. 3. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1989. História da infância: políticas públicas crianças e adolescentes: CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO. Guia prático para implementação da política de atendimento de criançase adolescentes vítimas ou CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, 2013. DONZELOT, Jacques. A polícia das famílias. Rio de Janeiro: Graal, 1986. FÓRUM PERMANENTE DE ORGANIZAÇÕES NÃOGOVERNAMENTAIS DE DEFESA DOS DIREITOS DE CRIANÇA E ADOLESCENTE DO CEARÁ – FÓRUM DCA;REDE EVANGÉLICA DE AÇÃO SOCIAL – RENAS. Violência Sexual: Monitoramento da Política de Atendimento à Criança e ao Adolescente na Cidade de Fortaleza. Fortaleza: s.e, 2017. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME. Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais. 2013. Disponível em: https://www. mds.gov.br/webarquivos/publicacao/ assistencia_social/Normativas/tipifi cacao. pdf. Acesso em: 14 de outubro de 2019. MINISTÉRIO DOS DIREITOS HUMANOS. SECRETARIA NACIONAL DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE. Violência contra Crianças e Adolescentes: Análise de Cenários e Propostas de Políticas Públicas. Brasília: Ministério dos Direitos Humanos, 2018. Disponível em: https://www.mdh.gov. br/biblioteca/crianca-e-adolescente/ violencia-contra-criancas-e-adolescentes- analise-de-cenarios-e-propostas-de- politicas-publicas-2.pdf. Acesso em: 14 de outubro de 2019. SANTOS, Benedito Rodrigues dos; GONÇALVES, Itamar Batista, VASCONCELOS, Gorete. (Orgs) BARBIERI, Paola, NASCIMENTO, Vanessa. (Coords). Escuta de crianças e adolescentes em situação de violência sexual: aspectos teóricos e metodológicos : guia para capacitação em depoimento especial de crianças e adolescentes. Brasília,DF : EdUCB, 2014. • desenhos sexualizados; • brincadeiras eróticas; • exposição de partes íntimas; • difi culdades para dormir; • tentativas de suicídio; • sangramentos na área genital; • doenças sexualmente transmissíveis etc. Não custa reforçar: é preciso ter muito cuidado para se evitar o reforço de estigmas. É comum que alguns desses fa- tores estejam relacionados ao próprio de- senvolvimento sexual da criança ou ado- lescente, ou mesmo a outras expressões de violência. O acompanhamento de tal contexto deve ser muito responsável. enfrentamento à violência sexual contra enfrentamento à violência sexual contra criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/ decret/2018/decreto-9603-10-dezembro- 2018-787431-norma-pe.html 14 de outubro de 2019. ____. Lei n. 13.431 de 4 de abril de 2017. Estabelece o sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência e altera a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente). Disponível em: ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13431. htm COSTA, Jurandir Freire. e norma familiar Graal, 1989. História da infância: políticas públicas crianças e adolescentes: CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO. para implementação da política de atendimento de crianças e adolescentes vítimas NACIONAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E Realização NOSSA VOZ. NOSSA FORTALEZA. Apoio DANIEL VICTOR A. B. RODRIGUES (autor) É bacharel e licenciado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e bacharel em Serviço Social pela Universidade Estadual do Ceará (Uece). É especialista em Mediação de Confl itos pela Unifor e mestre em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Foi tutor em cursos de especialização e de extensão em Pobreza, Desigualda- de Social e Educação na UFC. Tem experiência no Sistem a Socioeducativo e em Programas de Mediação de Confl itos Comunitários e Escolares. Atualmente é assistente social na Prefeitura Municipal de Fortaleza, atuando na Alta Complexidade da Política de Assistência Social. RAFAEL LIMAVERDE (ilustrador) É ilustrador, chargista e cartunista (premiado internacionalmente) e xilogravurista. Formado em Artes Visuais pelo Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do Ceará (IFCE). Escreve e possui livros ilustrados nas principais editoras do Ceará e em editoras paulistas. EXPEDIENTE: FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA João Dummar Neto Presidente André Avelino de Azevedo Diretor Administrativo-Financeiro Raymundo Netto Gerente Editorial e de Projetos Emanuela Fernandes e Aurelino Freitas Analistas de Projetos UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE Viviane Pereira Gerente Pedagógica Marisa Ferreira Coordenadora de Cursos Joel Bruno Designer Instrucional CURSO ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES Valéria Xavier Concepção e Coordenadora Geral Leila Paiva Coordenadora de Conteúdo Amaurício Cortez Editor de Design e Projeto Gráfi co Miqueias Mesquita Designer/Diagramador Rafael Limaverde Ilustrador Mayara Magalhães Revisora Beth Lopes Produtora ISBN: 978-85-7529-936-4 (Coleção) ISBN: 978-85-7529-946-3 (Fascículo 10) Este fascículo é parte integrante do Programa de Combate à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, em decorrência do Termo de Fomento celebrado entre a Fundação Demócrito Rocha e a Câmara Municipal de Fortaleza, sob o nº 001/2019. Todos os direitos desta edição reservados à: Fundação Demócrito Rocha Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora Cep 60.055-402 - Fortaleza-Ceará Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148 - Fax (85) 3255.6271 fdr.org.br fundacao@fdr.org.br
Compartilhar