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Secretaria da Educação do Estado do Ceará
SEDUC-CE
Comum aos Cargos de Professor Nível A:
• Arte-Educação • Biologia • Educação Física • Filosofia • Física 
• Geografia • História • Língua Brasileira de Sinais - Libras 
• Língua Espanhola • Língua Inglesa • Língua Portuguesa 
• Matemática • Química • Sociologia
Edital Nº030/2018 – SEDUC/SEPLAG, de 19 de julho de 2018
JL084-2018
DADOS DA OBRA
Título da obra: Secretaria da Educação do Estado do Ceará
Cargo: Comum aos cargos de Professor Nível A
(Baseado no Edital de Abertura de Inscrições do Concurso Público –Nº 01/2018)
• Educação Brasileira: Temas Educacionais e Pedagógicos
• Administração Pública
• Língua Portuguesa
• Leitura e Interpretação de Dados e Indicadores Educacionais
•
Gestão de Conteúdos
Emanuela Amaral de Souza
Diagramação/ Editoração Eletrônica
Elaine Cristina
Igor de Oliveira
Ana Luiza Cesário
Thais Regis
Produção Editoral
Suelen Domenica Pereira
Julia Antoneli
Leandro Filho
Capa
Joel Ferreira dos Santos
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SUMÁRIO
Educação Brasileira: Temas Educacionais e Pedagógicos
1 História do pensamento pedagógico brasileiro. .................................................................................................................................... 01
1.1 Teoria da educação, diferentes correntes do pensamento pedagógico brasileiro. ......................................................... 01
1.2 Projeto político pedagógico. ................................................................................................................................................................. 01
2 A didática e o processo de ensino e aprendizagem. ............................................................................................................................ 15
2.1 Organização do processo didático: planejamento, estratégias e metodologias, avaliação. ......................................... 15
2.2 A sala de aula como espaço de aprendizagem e interação. .................................................................................................... 15
2.3 A didática como fundamento epistemológico do fazer docente. .......................................................................................... 15
3 Principais teorias da aprendizagem. ........................................................................................................................................................... 29
3.1 Inatismo, comportamentalismo, behaviorismo, interacionismo, cognitivismo. ................................................................ 29
3.2 As bases empíricas, metodológicas e epistemológicas das diversas teorias de aprendizagem. ............................... 29
3.3 Contribuições de Piaget, Vygotsky e Wallon para a psicologia e pedagogia. ................................................................... 29
3.4 Teoria das inteligências múltiplas de Gardner. .............................................................................................................................. 29
3.5 Psicologia do desenvolvimento: aspectos históricos e biopsicossociais. ............................................................................ 29
3.6 Temas contemporâneos: bullying, o papel da escola, a escolha da profissão, transtornos alimentares na adoles-
cência, família, escolhas sexuais. ................................................................................................................................................................. 29
4 Teorias do currículo. ...........................................................................................................................................................................................76
4.1 Acesso, permanência e sucesso do aluno na escola. .................................................................................................................. 76
4.2 Gestão da aprendizagem. ...................................................................................................................................................................... 76
4.3 Planejamento e gestão educacional. ................................................................................................................................................. 76
4.4 Avaliação institucional, de desempenho e de aprendizagem. ................................................................................................. 76
4.5 O Professor: formação e profissão. ..................................................................................................................................................... 76
4.6 A pesquisa na prática docente. ............................................................................................................................................................ 76
4.7 A dimensão ética da profissão. ............................................................................................................................................................ 76
5 Aspectos legais e políticos da organização da educação brasileira. ............................................................................................112
6 Políticas educacionais para a educação básica. ....................................................................................................................................121
6.1 Ensino Médio. ............................................................................................................................................................................................121
6.1.1 Diretrizes, Parâmetros Curriculares, currículo e avaliação. ................................................................................................121
6.1.2 Interdisciplinaridade e contextualização no Ensino Médio. .............................................................................................121
6.1.3 Ensino Médio Integrado: fundamentação legal e curricular. ...........................................................................................121
6.2 Educação Inclusiva. .................................................................................................................................................................................121
6.3 Educação, trabalho, formação profissional e as transformações do Ensino Médio. .....................................................121
6.4Protagonismo Juvenil e Cidadania. ....................................................................................................................................................121
Administração Pública
1 Conceito de administração pública. ............................................................................................................................................................. 01
2 Conceito de servidor público. ......................................................................................................................................................................... 03
3 Princípios da administração pública. ............................................................................................................................................................ 05
4 Direitos e deveres dos servidores públicos. .............................................................................................................................................. 08
5 Responsabilidade dos servidores públicos. ............................................................................................................................................... 23
6. Servidor Estadual. ...............................................................................................................................................................................................25
6.1 Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do Estado do Ceará (Lei nº 9.826/1974) .......................................................... 25
6.1.1 Do provimento dos cargos – Capítulos I a X. ............................................................................................................................... 25
6.1.2 Dos direitos, vantagens e autorizações – Capítulos I a VI. ...................................................................................................... 29
6.1.3 Do regime disciplinar – título VI – Capítulos I a VII) ................................................................................................................. 35
6.2 Lei nº 15.243/2012 (Disciplina o Art. 3º da lei nº 15.064/2011). .............................................................................................. 42
6.3. Estágio Probatório Servidor Estadual (Lei nº 9.826/1974, LEI Nº13.092. de 08 de janeiro de 2001, LEI Nº15.744, 29 
de dezembro de 2014 e Lei nº 15.909, de 11 de dezembro de 2015) ......................................................................................... 44
6.4.Carreira do Magistério-Concurso, provimento, carga horaria e jornada de trabalho(Lei nº10.884/1984, Lei 
12.066/1993, Lei nº 14.404/2009) ............................................................................................................................................................... 46
6.5. Ampliação da carga horária de trabalho do Grupo MAG (LEI Nº15.451, de 23 de outubro de 2013 e o Decreto 
SUMÁRIO
nº31.458, de 01 de abril de 2014.) ............................................................................................................................................................... 61
6.6. Promoção profissionais Grupo MAG (Lei nº 15.901 de 10 de dezembro de 2015, DECRETO Nº32.103, de 12 de 
dezembro de 2016). .......................................................................................................................................................................................... 64
6.7. Sistema Remuneratório dos profissionais MAG de nível superior (leis nº 15.243, de 6 de dezembro de 2012, 
nº15.901, de 10 de dezembro de 2015, LEI Nº16.104, 12 de setembro de 2016, nº16.513, 15 de março de 2018 e 
nº16.536, 06 de abril de 2018). ..................................................................................................................................................................... 68
LEGISLAÇÃO BÁSICA DA EDUCAÇÃO: 
1 Lei no 9.394/1996 e alterações (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, títulos I, II, III,IV, V e VI). .................. 74
2 Lei no 8.069/1990 e alterações (Estatuto da Criança e do Adolescente). ..................................................................................... 88
3 Constituição da República Federativa do Brasil (Art. 205 a 214). ..................................................................................................142
4 Emenda Constitucional no 53/2006. .........................................................................................................................................................145
5 Lei no 11.494/2007 e alterações. ................................................................................................................................................................147
6 Lei no 11.114/2005. ..........................................................................................................................................................................................158
7 Lei no 11.274/2006. ..........................................................................................................................................................................................158
8 Lei nº 13.415, de 2017. ...................................................................................................................................................................................159
9 Lei Federal Nº 13.005/2014 (Plano Nacional de Educação). ............................................................................................................162
10 Lei Estadual Nº 16.025/2016 (Plano Estadual de Educação). .........................................................................................................179
Língua Portuguesa
1 Compreensão e interpretação de textos. .................................................................................................................................................. 83
2 Tipologia textual. ................................................................................................................................................................................................85
3 Ortografia oficial. ................................................................................................................................................................................................44
4 Acentuação gráfica. ...........................................................................................................................................................................................47
5 Emprego das classes de palavras. ................................................................................................................................................................ 07
6 Emprego do sinal indicativo de crase. ........................................................................................................................................................ 71
7 Sintaxe da oração e do período. ................................................................................................................................................................... 63
8 Pontuação. .............................................................................................................................................................................................................50
9 Concordância nominal e verbal. ................................................................................................................................................................... 52
10 Regência nominal e verbal. .......................................................................................................................................................................... 58
11 Significaçãodas palavras. ................................................................................................................................................................................76Leitura e Interpretação de Dados e Indicadores Educacionais
Leitura e interpretação de dados e indicadores educacionais envolvendo dados e informações referentes à matrícula, à 
taxa de atendimento escolar, às taxas de escolarização líquida e bruta, à taxa de distorção idade-série, às taxas de ren-
dimento (aprovação, reprovação e abandono), aos resultados do Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica 
do Ceará - SPAECE, do Sistema de Avaliação da Educação Básica - SAEB, Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM, 
Índice de Desenvolvimento da Educação Básica - IDEB, Programa Internacional de Avaliação de Alunos - PISA; .......... 02
Leitura e interpretação de dados apresentados em tabelas, gráficos e mapas; ............................................................................. 12
Resolução de problemas que envolvam o cálculo de porcentagem com dados fornecidos em diferentes formatos. .. 21
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
1 História do pensamento pedagógico brasileiro. .................................................................................................................................... 01
1.1 Teoria da educação, diferentes correntes do pensamento pedagógico brasileiro. ......................................................... 01
1.2 Projeto político pedagógico. ................................................................................................................................................................. 01
2 A didática e o processo de ensino e aprendizagem. ............................................................................................................................ 15
2.1 Organização do processo didático: planejamento, estratégias e metodologias, avaliação. ......................................... 15
2.2 A sala de aula como espaço de aprendizagem e interação. .................................................................................................... 15
2.3 A didática como fundamento epistemológico do fazer docente. .......................................................................................... 15
3 Principais teorias da aprendizagem. ........................................................................................................................................................... 29
3.1 Inatismo, comportamentalismo, behaviorismo, interacionismo, cognitivismo. ................................................................ 29
3.2 As bases empíricas, metodológicas e epistemológicas das diversas teorias de aprendizagem. ............................... 29
3.3 Contribuições de Piaget, Vygotsky e Wallon para a psicologia e pedagogia. ................................................................... 29
3.4 Teoria das inteligências múltiplas de Gardner. .............................................................................................................................. 29
3.5 Psicologia do desenvolvimento: aspectos históricos e biopsicossociais. ............................................................................ 29
3.6 Temas contemporâneos: bullying, o papel da escola, a escolha da profissão, transtornos alimentares na adoles-
cência, família, escolhas sexuais. ................................................................................................................................................................. 29
4 Teorias do currículo. ...........................................................................................................................................................................................76
4.1 Acesso, permanência e sucesso do aluno na escola. .................................................................................................................. 76
4.2 Gestão da aprendizagem. ...................................................................................................................................................................... 76
4.3 Planejamento e gestão educacional. ................................................................................................................................................. 76
4.4 Avaliação institucional, de desempenho e de aprendizagem. ................................................................................................. 76
4.5 O Professor: formação e profissão. ..................................................................................................................................................... 76
4.6 A pesquisa na prática docente. ............................................................................................................................................................ 76
4.7 A dimensão ética da profissão. ............................................................................................................................................................ 76
5 Aspectos legais e políticos da organização da educação brasileira. ............................................................................................112
6 Políticas educacionais para a educação básica. ....................................................................................................................................121
6.1 Ensino Médio. ............................................................................................................................................................................................121
6.1.1 Diretrizes, Parâmetros Curriculares, currículo e avaliação. ................................................................................................121
6.1.2 Interdisciplinaridade e contextualização no Ensino Médio. .............................................................................................121
6.1.3 Ensino Médio Integrado: fundamentação legal e curricular. ...........................................................................................121
6.2 Educação Inclusiva. .................................................................................................................................................................................121
6.3 Educação, trabalho, formação profissional e as transformações do Ensino Médio. .....................................................121
6.4 Protagonismo Juvenil e Cidadania. ....................................................................................................................................................121
1
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
1 HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
PEDAGÓGICO BRASILEIRO. 
1.1 TEORIA DA EDUCAÇÃO, DIFERENTES 
CORRENTES DO PENSAMENTO 
PEDAGÓGICO BRASILEIRO. 
1.2 PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO.
1 HISTÓRIA DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO 
BRASILEIRO. 
Pensamento Pedagógico Brasileiro: por uma real mudança
O Brasil, conforme Wehling (1994), no início do século 
XIX, ao cabo de três séculos de colonização era um país de 
contrastes, de situações extremas: de um lado o litoral e de 
outro o sertão, riqueza e pobreza, cultura popular sincréti-
ca e ortodoxia filosófica e religiosa, de uma devassidão de 
costumes e de uma rigidez impecável de comportamento, 
valores cristãos e de escravidão, mandonismo rural e massa 
servil, economia exportadora e produção de autoconsumo, 
prevalecendo ainda a contradição de um país dividido em 
múltiplas dicotomias. E uma delas, a educação. 
Lembremos que a nação brasileira, conforme Monar-
cha (2009) era inculta, patriarca, conservadora, oligárquica 
e acima de tudo, estava atrasada e doente. Na verdade, 
esta foi a cara do Brasil na Primeira República, que sucede 
o período de escravidão, da abolição e do tempo monár-
quico pós-independência. 
Neste atravessamento, os livres pensadores da épo-
ca, com suas visões incertas de mundo, livres da religião 
e cheios de métodos científicos veem no novo regime – 
A República, comoderradeira abolição dos privilégios de 
classe, cor, raça e religião. Todavia não representou a al-
forria para a maioria ao ingresso na vida, no mercado de 
trabalho e em especial na educação. Isto porque não houve 
esclarecimento e conquista das massas humanas, sob os 
princípios das luzes e virtudes que por sinal foram a eufo-
ria da aurora da Primeira República, mas que, infelizmente 
esquecida e apagadas as luzes e as virtudes postas de lado, 
em favor da 
“[...] depravação dos costumes, à predominância dos ví-
cios oligárquicos [...], à transformação da liberdade em li-
cenciosidade, à instrução popular reduzida ao ler e escrever 
de poucos”. Na verdade, milhares de excluídos da alfabeti-
zação. 
E o Estado-República? Após treze anos, conforme Mo-
narcha (2009), o governo nada fez para ensinar o povo a 
ler e escrever. De repente o governo acorda e se depara 
com a possível ruína da nação, das elites e do povo, pois 
o ímpeto modernizador republicano se perderá. Sem povo 
não existe nação e não temos povo no Brasil, porque não 
temos educação nacional organizada. 
A intervenção ou medicação para esta crise foi indica-
da em 1927, na 1ª Conferência Nacional de Educação, no 
qual profissionais especialmente do campo da saúde e do 
ensino por meio do lema norte-americano: sanitation over 
all, visam a higienização do povo através do saneamento 
do meio físico, social e moral eliminando a “doença endê-
mica multiforme e a ignorância do povo”. 
O povo é inculto e está doente! Acreditem, a educa-
ção e a saúde são o elixir com direito a bula que deverá 
higienizar e educar o povo. Tomando, lendo e seguindo à 
risca a bula o povo terá acesso à riqueza, ao progresso, ao 
civismo, ao respeito e moralidade tão desejados ao povo 
ou do povo para alguém? 
Conforme Bomeny, “O grande problema do Brasil, o 
analfabetismo de praticamente 80% de sua população, 
aparece como uma condenação ao projeto republicano”. 
Essa citação apresenta um quadro, não tão confiável em 
termos de dados conforme Bomeny (2001), mas delata a 
instabilidade educacional e política da nação no início do 
século XX. Para corrigir tal distorção, houve um empenho 
nacional pela alfabetização em massa. “O remédio pare-
cia milagroso: alfabetizando a população, corrigiam-se de 
pronto todas as mazelas que afetavam a sociedade brasi-
leira em sua expressiva maioria”. 
Na verdade, vigorou o princípio da ciência positivista 
com caráter liberal, como direção essencial para instaurar o 
progresso, a inovação no país. Um destes movimentos foi 
chamado de Escola Nova, tendo como base Anísio Texeira 
e organizado por intelectuais inspirados nas ideias político-
-filosóficas de igualdade entre os homens e do direito de 
todos à educação. “O movimento via na educação integral 
vinculada a um sistema estatal de ensino público, livre e 
aberto, como sendo capaz de modernizar o homem brasi-
leiro, e de transformar essa espécie de “Jeca Tatu” em um 
sujeito laborioso, disciplinado, saudável e produtivo”. 
Devemos considerar que esta força intelectual (1910-
1935), desejava pela educação, salvar o Brasil do estrago 
causado por uma política educacional elitista, responsável 
pelos índices de analfabetismo, bem como pela doença que 
se alastrou sobre a nação. Nesta perspectiva, os ideais para 
a renovação da educação foram influenciados em grande 
parte pela calorosa “conversão” de Anísio Teixeira no mo-
vimento educacional norte-americano (pragmatismo), pelo 
qual o aprendizado ocorre pela capacidade de observação, 
experimentação do aluno tendo como orientador, ou faci-
litador o professor treinado para este fim. 
O movimento reformador queria ver contemplado as 
suas demandas políticopedagógicas por meio de um siste-
ma nacional de educação, bem como definir um programa 
educacional para o país. Houve muitas discussões e par-
ticipações de segmentos. A Igreja acaba participando da 
discussão na tentativa de garantir seus interesses e territó-
rios enquanto formadora de mentes e de condutas. Já, os 
educadores reformistas que elaboraram em 1932 o Mani-
festo da Educação Nova, defendendo a democratização da 
educação - escola pública gratuita e laica. 
Em contrapartida, outro movimento buscava estabele-
cer a proposta de Fernando Azevedo, que tem como base a 
distinção clara entre educação para elite, enquanto civiliza-
dora e, a educação para a massa, enquanto força instintiva 
e afetiva. As discussões se estenderam, e os pioneiros são 
acusados de partidários de ideais contrários aos interesses 
2
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
da nação. O interessante é que este grupo objetivava ser 
reconhecido como base para uma sociedade capitalista, li-
beral e de livre-mercado. 
Todavia, no pós 1930, alguns interesses educacionais 
da nação foram reclamados na Reforma de Capanema, e 
houve a retomada das campanhas sanitaristas, que via-
bilizaram as Reformas no Ensino Secundário tendo como 
base as orientações humanistas de caráter elitista; criação 
do Sistema de Ensino Profissional (Senai, Sesi, Senac, Sesc) 
direcionado ao povo visando formar mão-de-obra qualifi-
cada e, Reforma Universitária objetivando um padrão na-
cional de organização. Em suma, criados para incorporar a 
massa inculta ao mercado de trabalho e este efeito perma-
nece até hoje. 
 
Por uma prática libertadora 
 
No atravessamento de ideais, Germano (1993), diz que 
a vida política do Brasil sempre esteve enlaçada pelas For-
ças Armadas e em especial pelo exército, principalmente 
a partir da segunda metade do século XIX, com a Guerra 
do Paraguai (1865-1870), a qual revelou conflitos entre o 
Exército e o Poder Imperial. Esses laços se estenderam à 
abolição da escravatura em 1888; na instauração da Re-
pública em 1889; cooperou para o fim da República em 
1930; auxiliou no estabelecimento da ditadura de Vargas, 
período conhecido como Estado Novo; destituiu o mesmo 
Vargas em 1945, bem como, esteve presente no suicídio de 
Vargas; e, instaurou o golpe de Estado de 1964. 
O Estado Novo constitui-se, de acordo com Germa-
no (1993), na consolidação do domínio burguês no Brasil 
e este movimento efetiva uma acentuada intervenção do 
Estado na economia, na modernização, na educação, en-
tre outros, fazendo com que os militares abandonem as 
posições reformistas e busquem neste momento, o forta-
lecimento das “Forças Armadas, na segurança interna e na 
defesa externa”. Esse deslocamento dos militares preanun-
cia um aspecto importante do pós 64: a ideologia da Segu-
rança Nacional. Ou seja, é o momento do antiliberalismo e 
do anticomunismo. 
Devido a crise econômica e política, o início dos anos 
60 foi crítico para as elites brasileiras. Conforme Germano 
(1993), a instabilidade e insustentabilidade do Estado em 
criar condições favoráveis para um crescimento econômi-
co e de garantir a seletividade de classe e a reprodução 
da dominação política da burguesia, em 1964 é deflagra-
do através da participação da elite, de multinacionais, do 
Governo dos Estados Unidos, e das Forças Armadas como 
executiva, o golpe, chamado pelos militares de Revolução 
de 64. A ditadura foi consolidada enquanto processo pelos 
chamados Atos Institucionais - AI, por meio dos quais, os 
direitos civis são aluídos. Nessa brutal repressão, milhares 
de pessoas tornaram-se expatriados políticos, torturadas, 
mortas em nome da Segurança Nacional. 
O regime militar, deste período, realizou a Reforma 
Universitária, através da Lei 5.540/68, e a Reforma do En-
sino de 1° e 2° Graus, Lei 5.692/71. Nessas propostas, o 
homem deverá ser adestrado para a Segurança Nacional. 
Em um cenário de intensos discursos e ações, surgem 
ideais em favor de reformas estruturais na sociedade brasi-
leira. Em um primeiro momento, Paulo Freire traz a possibi-
lidade de compreendermos que pela educação, enquanto 
práticalibertadora será possível ampliar a participação das 
massas e conduzi-las à sua organização crescente, confor-
me Gadotti (1995) citando Freire: 
 [...] as elites (intelectuais) são assistencionalistas e não 
têm receio de recorrer à repressão e ao autoritarismo quan-
do se sentem ameaçadas. Por outro lado, as classes médias 
estão em busca de ascensão social e se apoiam nas elites. 
Desta forma, a solução para transformar a sociedade opres-
sora está nas mãos das massas populares, “conscientes e or-
ganizadas”. (GADOTTI, 1995) 
Nessa perspectiva, a pedagogia do oprimido, enquan-
to processo, buscaria a superação de uma cultura colonial 
para uma sociedade aberta. Esse movimento deveria bus-
car a conscientização do sujeito articulado com uma práxis 
desafiadora e transformadora da realidade. Para tanto, tor-
na-se imprescindível estabelecer um diálogo crítico hori-
zontal (oposta ao eletismo) como condição para favorecer 
e sustentar o amor, a humildade, a esperança, fé e confian-
ça nas relações entre os sujeitos para descobrirem-se como 
sujeitos históricos no processo. 
Em linhas gerais, Paulo Freire, conforme Gadotti (1995), 
caracteriza duas concepções opostas de educação: a con-
cepção bancária literalmente burguesa, pois, o educador 
é o que sabe e julga e os alunos meros objetos. Em con-
trapartida, a concepção problematizadora funda-se justa-
mente na relação dialógico dialética entre educador e edu-
cando – ambos aprendem juntos, ambos se emancipam. 
Ser fiel a Paulo Freire significa, antes de mais nada, re-
inventá-lo e reinventar-se como ele. Nisto aliás, consiste 
a superação (aufhebung) na dialética: não é nem a cópia 
e nem a negação do passado, do caminho já percorrido 
pelos outros. É a sua transformação e, ao mesmo tempo, 
a conservação do que há de fundamental e original nele, e 
a elaboração de uma síntese qualitativa. (GADOTTI, 1995). 
Em outro movimento, de acordo com Gadotti (1995), 
o educador e antropólogo Brandão nos apresenta a edu-
cação popular como alternativa à educação dominante e à 
conquista de novas formas de organização de classes. Esse 
deslocamento aconteceria através de uma educação como 
processo de humanização ao longo da vida e de maneira 
variada. 
Então, o processo de ensino-aprendizagem não é algo 
imposto e sim um ato de conhecimento e de transforma-
ção social, pois, o aprender se daria a partir do conheci-
mento que o aluno traz consigo, ou seja, um saber popular 
e para o educador é estar comprometido politicamente e, 
ser solidário e responsável por buscar a direção justa para 
que possam em conjunto construir uma consciência cidadã 
até que o “povo assume de uma vez o leme e a direção do 
barco” (GADOTTI, 1995). 
Nesta perspectiva, a educação popular, será um proces-
so que busca na organização e na persistência, a participação 
na formação, o “fortalecimento e instrumentalização das prá-
ticas e dos movimentos populares, com o objetivo de apoiar 
a passagem do saber popular ao saber orgânico, ou seja, do 
saber da comunidade ao saber de classe na comunidade”. 
3
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Em uma sociedade, conforme Gadotti (1995), que se 
fundamenta nos princípios da eficiência e do lucro, as pes-
soas acabam dissipando sua identidade e viram função 
alienada que segue às cegas as regras da moral, da ciência, 
da religião etc., que são articuladas pelo poder mágico do 
discurso vigente. 
Nesse contexto, Rubem Alves propõe a educação 
como um espaço possível de desinstalação. Ou seja, pro-
cura construir uma educação, uma escola, enquanto espa-
ço de prazer e da fala. Este é o enfoque principal de Alves, 
citado por Gadotti (1995), a linguagem, a fala ao lado do 
corpo. 
O educador fala com o corpo. É no corpo de cada edu-
cador e de cada educando que estão escritas as suas histó-
rias. Daí a necessidade de lê-lo e relê-lo constantemente. O 
corpo é o primeiro livro que devemos descobrir; por isso, é 
preciso reaprender a linguagem do amor, das coisas belas 
e das coisas boas, para que o corpo se levante e se dispo-
nha a lutar. 
Mostra a importância da formação do educador com-
prometido consigo mesmo e com o aluno, capaz de su-
perar a burocratização e a uniformização a que são sub-
metidos. Inquietando-se com o papel do saber e com a 
crescente desumanização das relações humanas. 
Nas palavras de Gadotti (1995), é valorizar o prazer, o 
sentimento, a arte e a paixão na educação e na vida huma-
na. O melhor método? O método do amor é melhor do que 
o racional para educar, aprender e ensinar. 
E por que não nos deixarmos envolver pela paixão de 
conhecer o mundo? Eis a proposta de prática pedagógica 
de Madalena Freire, na qual é possível o exercício do diálo-
go desde a primeira educação articulando conhecer e viver, 
envolvidos pela paixão. 
 O trabalho de Madalena Freire, conforme Gadotti 
(1995), busca superar a dicotomia entre o cognitivo e o 
afetivo para que a educação seja um processo prazeroso. 
Nas palavras de Madalena Freire: 
 [...] o ato de conhecer é tão vital como comer ou dormir, 
e eu não posso comer ou dormir por alguém. A escola em 
geral tem esta prática, a de que o conhecimento pode ser 
doado, impedindo que a criança e, também, os professores 
o construam. Só assim a busca do conhecimento não é pre-
paração para nada, e sim VIDA, aqui e agora. E é vida que 
precisa ser resgatada pela escola. 
A partir do vivido da criança, o educador pode planejar 
e organizar as atividades escolares sem perder a direção 
pedagógica e o seu papel organizativo. As atividades se 
configuram a partir dos interesses das crianças, da sua vi-
vência, para que o processo de construção do conhecimen-
to e do afetivo, por exemplo, a alfabetização e a construção 
de um sistema de representação (leitura e escrita), fluam 
naturalmente na vida da criança para que quando adulto, a 
vida possa fluir sem artifícios. 
É procurando compreender as atividades espontâneas 
das crianças que vou, pouco a pouco, captando os seus 
interesses, os mais diversos. As propostas de trabalho que 
não apenas faço às crianças, mas que também com elas 
discuto, expressam, e não poderia deixar de ser assim, 
aqueles interesses. 
[...] Não é de estranhar, pois, que as crianças se encon-
trem nas suas atividades e as percebam como algo delas, 
ao mesmo tempo em que vão entendendo o meu papel de 
organizadora e não de “dona” de suas atividades. (FREIRE, 
1983) 
Creio que cabe aos professores o exercício proposto 
por Freire (1983), de se permitirem entender a espontanei-
dade dos nossos alunos (crianças, jovens, adultos), enquan-
to condição possível para desestabilizar uma pedagogia 
atrelada desde muito tempo à autoridade, para reprodu-
ção homogeneizadora e, como “campo de vigilância sobre 
o tempo, o espaço, o movimento, os gestos, para produzir 
corpos submissos, exercitados e dóceis” (GADOTTI, 1995). 
Na verdade, o movimento proposto e quando articula-
do às práticas pedagógicas é dar sentido não somente para 
as atividades, mas também às relações que se constituem 
no espaço pedagógico. Esse deslocamento chama para 
uma nova postura não somente ao professor, mas também 
ao aluno. 
Ao professor, conforme Gadotti (1995) citando Chauí, 
cabe algumas perguntas: qual há de ser a função do edu-
cador atual? Como romper com essa violência chamada 
modernização? Como não cair nas armadilhas do conhecer 
para não pensar, adquirir e reproduzir para não criar, con-
sumir em lugar de realizar o trabalho de reflexão? 
 Considerações: ampliando ideais, emancipando ideias 
 
Refletindo sobre os discursos, os ideais e práticas do 
ontem e do hoje, salvo importantes exceções, percebe-se 
a constância não somente na nossa história política, mas 
também à educação voltada, nas palavras de Germano 
(1993), para manobras do alto, estabelecendo a conti-
nuidade,as restaurações, as intervenções e exclusões das 
massas populares por meio do autoritarismo. 
Não é para menos que a insígnia, conforme Gadotti 
(1995), da tradição brasileira é a influência de oligarquias 
que “compartilham” interesses para conservar o controle 
do poder. 
Hoje, esses conceitos e práticas se estendem e respin-
gam na educação com um novo figurino, uma nova e boa 
maquiagem em nome do moderno. Todavia, modernizar 
ainda significa, de acordo com Gadotti (1995) citando Flo-
restan Fernandes, reajustar as economias periféricas às es-
truturas e aos dinamismos das economias centrais e é cla-
ro, [...] ao bom andamento dos negócios”. (GADOTTI, 1995) 
Nesta perspectiva, uma coisa é certa: de um passado 
muito presente o pensamento pedagógico brasileiro busca 
uma práxis, conforme Germano (2006), de resistência à do-
minação de classe, ao domínio estrangeiro, ao imperialis-
mo e à transplantação cultural, configurando-se como um 
instrumento de luta em favor da identidade nacional, me-
diante a valorização e o fortalecimento das raízes culturais 
do povo brasileiro em busca da construção de um futuro 
melhor, diferente do passado/presente. 
Todavia devemos considerar de acordo com Gadotti 
(1995), para o qual a crise do modelo de educação voltada 
para a rigidez e inflexibilidade não é apenas interna à es-
cola e sim de acordo com os autores Schwartzman e Brock 
4
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
(2005), que o problema da educação no Brasil, em um pri-
meiro momento, estava erroneamente pautado na falta de 
escolas, às crianças que não iam para a escola, e à carência 
de verbas. Neste sentido, foi considerada, a necessidade 
de construir escolas, melhores salários ao corpo docente 
e claro, convencer os pais a enviarem seus filhos à escola. 
Passado alguns bons anos, nos deparamos com os 
reais problemas: a má qualidade das escolas, a famosa re-
petência e acrescento aqui a qualidade das aprendizagens. 
Como após tantas reformas, investimentos, e elaborações 
de políticas e ações à educação, persistem ainda as eleva-
das taxas de evasão e repetência e muitas outras dificul-
dades? 
Creio que muitas escolas hoje estão afastadas não de 
uma concepção democrática e libertadora. Isto porque, na 
grande maioria dos PPP das escolas, estas propostas, con-
ceitos se fazem presentes na escrita. Mas, no planejamento, 
na prática, no exercício diário da intervenção pedagógica 
em sala de aula, esta práxis não se faz presente. 
Tristemente, encontramos influência de uma pedago-
gia, conforme Gadotti (1995), do “bom senso”, e do silên-
cio, desconectada da vida dos educadores e dos alunos. 
“Uma vida opaca e conciliadora, e na qual é preciso ser 
falso, esconder interesses, montar estratégias, ser “esperto” 
e “levar vantagem”” (GADOTTI, 1995). 
Entretanto, se o Brasil precisa de mais e melhor educa-
ção, conforme previsto no Programa de Governo de Dilma 
Rousseff é porque a qualidade do ensino é um dos pilares 
que sustenta a proposta por meio da valorização do pro-
fessor. Valoração, renovação, ação. Eis o sentido, das for-
mações e\ou capacitações que deverão propiciar ao pro-
fessor a redescoberta da sua função e tarefa - assumidas 
em juramento. 
Fazer com que o professor saia de um monólogo e 
busque entender as relações recíprocas existentes entre 
domínio do saber e o domínio do saber fazer. Ou seja, to-
mar consciência do seu verdadeiro exercício, como dina-
mizador do processo de ensinoaprendizagem e organiza-
dor da intervenção pedagógica. Esse processo de reflexão 
em formação pode tornar consciente os modelos teóricos 
e epistemológicos que se evidenciam na sua prática, para 
então refletir sobre o saber e o saber fazer. Essa situação 
levará o professor a rever o que propôs e se dispor a novas 
possibilidades, modificando sua proposta, dispondo-se a 
repensá-la, ou manter a mesma proposição. 
Neste sentido, penso que a questão pontual para uma 
melhor educação seja a possibilidade do professor estabe-
lecer relações entre teoria e prática, assumindo seu papel 
no processo de ensino-aprendizagem e a importância des-
te trabalho ser em conjunto entre professor x aluno, pro-
fessor x professor. É buscar dar sentido ao que somos ao 
que fazemos e por que fazemos. 
Na verdade as colocações apresentadas nos mostram 
o esforço para permitir um processo de ensino-aprendiza-
gem voltado à constituição de sentidos, ou seja, produzir 
significado mostrando ao aluno o que aquele conteúdo 
tem a ver com a vida dele e por que é importante e como 
aplicá-lo em uma situação real. Chamar os professores, 
conforme Mello (2004), para uma reflexão sobre a própria 
prática pedagógica: o que se faz e com quais objetivos se 
faz. Torna-se muito importante ter um parâmetro de como 
estamos para saber o que precisamos mudar. Ninguém 
muda se não tem consciência do que precisa mudar. Já sa-
bemos o que mudar? 
Penso que se este movimento estiver, conforme Ga-
dotti (1995), a construir um caminho próprio, libertando-se 
de um pensamento transplantado, buscando realmente a 
superação e transformação das dependências enraizadas 
nos modelos, nos paradigmas e das teorias elaboradas em 
outros contextos, em especial aqueles de países hegemô-
nicos, estaremos sim, caminhando para um comprometi-
mento real para a transformação social. 
Um processo, uma luta contra si mesmo à tomada de 
consciência e contínua; o engajamento, por uma real mu-
dança.
Referência:
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 11. ed. Rio de 
Janeiro: Paz e Terra, 1982.
GADOTTI, Moacir. Pensamento Pedagógico Brasileiro. 
6. ed. Editora Ática: São Paulo,1995.
* Texto de MÜLLER, C. A. Pensamento Pedagógico Bra-
sileiro: por uma real mudança. Revista Educação por Escrito 
– PUCRS, v.3, n.2, dez. 2012.
1.1 TEORIA DA EDUCAÇÃO, DIFERENTES CORREN-
TES DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO BRASILEIRO. 
TEORIAS EDUCACIONAIS: 
MODERNIDADE E PÓS-MODERNIDADE
As pessoas dos séculos XIX e XX no Ocidente assisti-
ram três grandes revoluções em teoria educacional. Nós, 
da transição do século XX para o XXI, estamos assistindo 
uma quarta revolução. As três primeiras, como eu e ou-
tros historiadores da filosofia da educação às tomamos, 
encontraram seus melhores representantes nos nomes de 
Herbart, Dewey e Paulo Freire. A quarta revolução, da ma-
neira que vem ocorrendo, pode encontrar justificativas em 
Richard Rorty e Donald Davidson. As três primeiras foram 
revoluções modernas em teoria educacional. A quarta é 
uma revolução pós-moderna.
Cada uma dessas revoluções girou em torno da emer-
gência de um elemento chave na discussão entre os filóso-
fos da educação. 
Em Herbart, a emergência da mente. Em Dewey, a 
emergência da democracia. Em Paulo Freire, a emergência 
do oprimido. A quarta revolução, por sua vez, segue em 
torno da emergência da metáfora entendida aí segundo 
as novas visões de Davidson lido por Rorty.
As revoluções do passado não perderam a importância 
perante a revolução que está ocorrendo agora. Pertencem 
ao passado em um sentido cronológico e não valorativo, 
pelo qual teriam visto a perda de relevância de seus ele-
mentos chaves. Afinal, hoje em dia, avançamos muito em 
filosofia da mente e não poderíamos fazer teoria educa-
cional sem considerá-la. Assim, a herança de Herbart está 
viva. No caso de Dewey, mais ainda temos a sensação de 
5
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
algo vivo: não passaria pela maioria das cabeças dos filósofos da educação no Ocidente preferirem a educação autoritária 
no lugar da educação democrática, e talvez poucos ainda acreditem que poderia haver verdadeira educação em uma si-
tuação social não dinâmica e não livre. Fora alguns ressentidos da direita e da velha guarda marxista, aqui e ali, a maioria 
dos filósofos da educação considera a democracia um chão necessáriopara toda e qualquer educação. Paulo Freire, por 
sua vez, está presente na medida em que os países ricos se tornaram mais ricos e os países pobres mais pobres, e que o 
fenômeno do aparecimento do “desenraizado”, seja ele o pobre ou o pertencente a grupos minoritários é agora também 
visível mesmo onde estava prometido que desapareceria ou não surgiria: nas democracias ricas da América do Norte e 
Europa. As três primeiras revoluções, portanto, não se distinguem da revolução pós-moderna em teoria da educação por 
um pretenso fato de que esta última revolução teria superado tudo o que foi pensado em educação anteriormente. O 
que ocorre é que a revolução pós-moderna em teoria educacional está acoplada à uma maneira de conversar, em termos 
técnicos de filosofia e filosofia da educação, que desloca as filosofias da educação que justificavam as teorias educacionais 
modernas, nomeadas aqui por Herbart, Dewey e Freire.
Pretende-se demostrar com isto que as teorias educacionais modernas estiveram articuladas à filosofia da educação 
pré-linguistic turn. Por sua vez, a teoria da educação que melhor se insere no campo pós-moderno e, com sorte, talvez possa 
vir a manter o nosso apreço pela democracia, está articulada às formas de conversação que adquirimos, em filosofia, após 
a virada linguística e após a virada neopragmática. Mas as teorias educacionais não diferem apenas em suas justificativas 
filosóficas. Diferem também em seus aconselhamentos e procedimentos didáticos. Como bom rortyano, não acredito que 
a filosofia da educação seja o fundamento da teoria educacional. Creio que ela é apenas uma forma de discurso ad 
hoc que permite melhorar nossa coerência prática e, talvez, com sorte, potencializar o que estamos fazendo. Sendo 
assim, não vou aqui expor as filosofias para depois derivar delas as teorias educacionais. Ao contrário, vou expor as 
diferenças entre elas e só então, posteriormente, vou mostrar de modo breve que é possível encontrarmos diferen-
tes filosofias da educação para cada uma dessas teorias educacionais.
O quadro abaixo coloca as quatro teorias educacionais aqui citadas, em seus passos didáticos, em comparação:
Teoria Educacional de 
Herbart
Cinco Passos Didáticos
Teoria Educacional de 
Dewey
Cinco Passos Didáticos
Teoria Educacional de 
Freire
Cinco Passos Didáticos
Teoria Educacional Pós-
Moderna
Cinco Passos Didáticos
Preparação Atividade e Pesquisa Vivência e Pesquisa Apresentação de 
Problemas
Apresentação Problemas Temas Geradores
Articulação entre os 
Problemas Apresentados 
e os Problemas da Vida 
Cotidiana
Associação
Coleta de Dados Problematização
Discussão dos 
Problemas através de 
Narrativas Tomadas 
Sem Hierarquização 
Epistemológica
Generalização
Hipóteses e/ou 
Heurística
Conscientização Formulação de Novas 
Narrativas
Aplicação
Experimentação e/ou 
Julgamento
Ação Política Ação Cultural, Social e 
Política
Antes de qualquer comentário explicativo dos passos do quadro acima, é importante ressaltar que: nenhuma dessas 
formulações deve ser lida através da dualidade “diretividade versus não-diretividade”. O grande erro dos livros em teoria da 
educação e didática é o de apelarem para essa divisão e, então, não mais entenderem sobre o que estão falando. Todas as 
teorias educacionais acima envolvem uma exaustiva participação do professor e do estudante. Muito menos tais teorias de-
vem ser lidas através da dualidade “progressista versus não progressista». Esta, pior que a anterior, crivou alguns livros 
que falavam sobre didática nos anos 80, também trazendo mais confusão que acerto e favorecendo o pensamento 
esquemático que, no fundo, é sempre o anti-pensamento.
Passo 1. O processo de ensino-aprendizagem, para Herbart, começa com a preparação, que consiste na atividade que 
o professor desenvolve na medida em que recorda ao aluno o assunto anteriormente ensinado ou algo que o aluno já sabe. 
Dewey, por sua vez, não vê necessidade de um tal procedimento, pois ele acredita que o processo de ensino-aprendizagem 
tem início quando, pela atividade dos estudantes, eles se defrontam com dificuldades e problemas, tendo então o interesse 
aguçado. Paulo Freire vê o processo de ensino-aprendizagem se iniciando em um momento especial, quando o educador 
está vivendo na comunidade dos educandos, observando suas vidas e participando de seus apuros pesquisando sobre a 
comunidade, deixando de ser educador para ser educador-educando.
6
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Passo 2. A teoria herbartiana diz que após a prepa-
ração, o professor já pode apresentar aos alunos o novo 
assunto, os conceitos morais, históricos e científicos que 
serão a matéria do processo de ensino-aprendizagem: eles 
são o carro chefe do processo mental, e são eles que pu-
xam os interesses. A teoria deweyana, ao contrário, acre-
dita que o carro chefe da movimentação psicológica são 
os interesses e que estes são despertados pelo encontro 
com dificuldades e com a delimitação de problemas. As-
sim, para Dewey, da atividade segue-se a enumeração e 
a eleição de problemas. Paulo Freire acredita na mesma 
coisa que Dewey, mas ele acha que os problemas não são 
tão motivantes quanto os “temas geradores” as palavras 
chaves colhidas no seio da comunidade de educandos e 
que podem despertar a atenção destes na medida em que 
fazem parte de suas atividades vitais.
Passo 3. Herbart acredita que uma vez que o novo as-
sunto foi introduzido, isto é, uma vez que novas ideias e 
conceitos morais, históricos e científicos estão postos, eles 
serão assimilados pelos alunos na medida em que estes 
puderem ser induzidos a uma associação com as ideias e 
conceitos já sabidos. Dewey, por sua vez, nesta fase do pro-
cesso de ensino-aprendizagem, está preocupado em ajudar 
os alunos na atividade de formulação de hipóteses ou ca-
minhos heurísticos para enfrentar os problemas admitidos 
na fase anterior. Paulo Freire, então, na medida em que já 
trabalhou os temas geradores, começa a problematizá-los: 
desenvolve-se aqui uma atividade de diálogo horizontal 
entre educador-educando e educando-educador de modo 
que os temas geradores possam ser entendidos como pro-
blemas, mas problema, neste caso, quer dizer problema 
político. A “problematização” ocorre se o tema gerador é 
visto nas suas relações com o poder, com a perversidade 
das instituições, com a demagogia das elites etc.
Passo 4. Nesta fase, a teoria herbartiana acredita que 
o aluno já aprendeu o novo por associação com o velho, 
mas que agora ele precisa sair do caso particular exposto e 
traçar generalizações, abstrações, leis. O professor, é claro, 
pode insistir para que o aluno faça inferências e chegue en-
tão a adotar leis, na moral e na ciência. A teoria deweyana, 
nesta fase, quer alimentar as hipóteses formuladas na fase 
anterior. Sendo assim, a atividade do professor e do estu-
dante agora é a de buscar nas bibliotecas e outros meios, 
inclusive na própria memória, os dados capazes de dar uma 
arquitetura mais empírica às hipóteses ou uma melhor ra-
zoabilidade aos caminhos heurísticos. Na teoria freireana 
este é o momento em que educador-educando e educan-
do-educador, ao traçarem as relações entre suas vidas e o 
poder, através da problematização dos temas geradores, 
chegam a perceber o que acontece com eles enquanto se-
res sociais e políticos, e então chegam à “conscientização”, 
passam a ter consciência de suas condições na polis.
Passo 5. Nesta última fase, na teoria herbartiana, o 
aluno deve ser posto na condição de aplicar as leis, abs-
trações e generalizações a casos diferentes, ainda inéditos 
na situação particular, sua, de ensino-aprendizagem. Na 
última fase, na teoria deweyana, opta-se por uma ou duas 
hipóteses em detrimento de outras na medida em que há 
confirmação destas por processos experimentais. Tem-se 
entãouma tese. Ou então, opta-se por uma heurística e, 
assim, por uma conclusão, na medida em que a plausibi-
lidade das outras formulações heurísticas caiu por terra 
frente às exigências de coerência lógica etc. O passo final 
na teoria freireana é a tentativa de solução do problema 
apontado desde o tema gerador através da ação política, 
que pode inclusive ter desdobramentos práticos de ação 
político-partidária.
Nos três casos, estamos diante de teorias educacio-
nais modernas que poderiam muito bem se sentirem con-
fortáveis, e assim o fizeram, na medida em que tinham 
uma boa justificativa filosófica para assim procederem. 
Justificativas filosóficas que foram montadas pelos gran-
des movimentos do Iluminismo e do Romantismo entre os 
séculos XVII e XX. E pelo movimento keynesiano de cons-
trução do Welfare State no pós-Segunda Guerra Mundial.
Herbart e Freire queriam, na formulação humanista, 
criar o homem enquanto ser capaz de se autodeterminar. 
É claro que Herbart pensava isso em termos iluministas 
clássicos: o homem enquanto ser que sai da menoridade 
e passa a julgar as coisas pela própria razão é o homem 
que se auto determina o verdadeiro indivíduo (Kant). 
Enquanto que Freire pensava isso em termos das vá-
rias filosofias contemporâneas, com inspiração mais 
romântica, na vaga do existencialismo (marxista e/ou 
cristão): o homem deveria deixar de ser objeto e tor-
nar-se sujeito de sua própria história. Dewey, por sua 
vez, queria o bípede sem penas como ser capaz de en-
frentar a mudança contínua própria da vida livre, a vida 
democrática. Assim, para Dewey, haveria ainda um sex-
to passo: o próprio conjunto dos cinco passos era mais 
importante que a conclusão indicada pela hipótese que 
havia se mostrado correta. Para ele, aprender os cinco 
passos, isto é, aprender o que ele chamava de «proce-
dimento científico» para a resolução de problemas era, 
na verdade, «aprender a aprender» e, assim, estar pre-
parado para qualquer eventualidade da vida moderna. 
Mais que Paulo Freire e muito mais ainda que Herbart, 
Dewey propôs uma filosofia da educação que era uma 
filosofia de consideração da contingência em um mun-
do completamente naturalizado e historicizado. Paulo 
Freire também pensava, como Dewey, que a educação 
deveria preparar para a eventualidade, só que as eventuali-
dades do “desenraízado” seriam mais repetitivas: elas sem-
pre seriam problemas políticos nos quais o “desenraízado” 
estaria sendo oprimido.
A teoria educacional pós-moderna fornece outros passos:
Passo 1. O início do processo de ensino-aprendiza-
gem segundo a postura pós-moderna se dá pela apre-
sentação direta de problemas e situações problemáticas, 
ou mesmo curiosas e difíceis. Mas que tipo de problemas 
e situações problemáticas? Os problemas culturais, éticos, 
étnicos, de convivência entre gêneros, mentalidades e mo-
delos políticos diferentes. Esses problemas são apresenta-
dos por diversos meios: do cinema ao romance passando 
pelo conto, pelos comic books, pela música, pela poesia e 
teatro etc.
7
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Passo 2. Na sequência, o processo de ensino-apren-
dizagem visa relacionar as situações problemáticas e os 
problemas propriamente ditos com os problemas da vida 
cotidiana dos estudantes, dos seus avós e pais e, enfim, do 
seu grupo social ou familiar ou de amigos e até mesmo 
do seu país presente, passado e futuro. Aqui, o estudante 
é convidado a ser um personagem da narrativa contada 
no passo anterior e, ao mesmo tempo, um filósofo, isto é, 
segundo Nietzsche, um juiz dos desdobramentos internos 
da narrativa.
Passo 3. Redescrição das narrativas nas quais os pro-
blemas estavam inseridos; isto através de outras narrativas, 
de ordem ficcional, histórica, científica e filosófica. O im-
portante aqui é que o estudante perceba que essas nar-
rativas que redescrevem aquelas não estão hierarquizadas 
epistemologicamente. Não há uma narrativa que aprende 
a Realidade Como Ela É. Mas há, sim, em cada uma, jogos 
de linguagem distintos que estão aptos, pragmaticamen-
te, para uma coisa e não outra. Se quero saber como uma 
nave espacial funciona um bom vocabulário é o dos físi-
cos, mas se quero dizer para minha namorada como a nave 
atravessa os céus em uma noite estrelada creio que seria 
melhor um vocabulário ficcional seria pedante e inútil para 
o namoro a explicação física! Penso que aqui deveríamos 
ir de Júlio Verne! Mas o erro seria achar que no segundo 
caso estou no campo metafórico e no primeiro no campo 
literal e que ambos os campos estão nitidamente delimita-
dos. Eles são vocabulários incomensuráveis, cuja distinção 
se dá pela utilização linguística que o bípede sem penas 
faz deles.
Passo 4. Neste estágio o estudante é convidado, ele 
próprio, a propor suas narrativas de redescrição das narra-
tivas em que estavam inseridos os problemas, e a discutir a 
pertinência delas com os colegas, com o professor e, enfim, 
com os livros e outros meios. Este é o momento de criação, 
de imaginação e, portanto, o auge do processo de criação 
de metáforas.
Passo 5. Por fim, o que se tem é o recolhimento das 
ideias e sugestões vindas das narrativas e suas redescri-
ções para a condução intelectual, moral e estética no cam-
po cultural, social e político de cada um. Cabe aqui a ação 
política organizada, inclusive a ação política partidária. Mas 
é necessário lembrar que a própria formulação de uma nar-
rativa e sua divulgação, a criação de uma nova metáfora 
que não só garanta direitos democráticos, mas que invente 
outros direitos, já é uma ação política.
Se os professores pós-modernos e os teóricos da edu-
cação quiserem uma justificativa para esses procedimen-
tos, vão facilmente encontrá-los, no passado, em germe, 
nas formulações da filosofia da linguagem e do pragma-
tismo de Nietzsche e William James. Afinal, foram eles os 
pioneiros na argumentação que borrou a nítida linha que 
separava o que é metafórico do que é literal. Foi Nietzsche 
quem, no final do século XIX, colocou a linguagem em um 
plano articulado ao plano social e definiu a própria verdade 
como metáfora. Mas se os professores pós-modernos e os 
teóricos da educação quiserem elaborar melhor uma filo-
sofia da educação mais adequada aos procedimentos dos 
cinco passos acima, e para tal quiserem utilizar a linguagem 
atual da filosofia, penso que a leitura dos textos de Donald 
Davidson é o suficiente. Principalmente na formulação que 
é dada por Richard Rorty.
O segredo aqui, para entendermos a postura pós-mo-
derna, é perguntarmos o que é a metáfora para Davidson.
Se tomamos a metáfora na sua definição tradicional, 
veremos que a entendemos como apenas a cobertura de 
um bolo. Ela seria a maneira de descrever as coisas de uma 
forma que, uma vez clarificada, analisada, traria a verdade, 
o essencial. A metáfora teria uma mensagem a ser decodi-
ficada, mensagem esta que poderia ser apreendida por 
investigação da semântica. Assim, a metáfora teria um 
conteúdo cognitivo, e poderia ser explicada.
Uma terrível objeção a essa formulação aparente-
mente tranquila da metáfora, dada por Davidson, é a de 
que a metáfora não pode ser parafraseada. E que se qui-
sermos explicar uma metáfora, certamente estaremos su-
jeitos a fazer alguma construção teórica sofrível, de mal 
gosto. Para Davidson, como Rorty e eu o lemos, a metáfo-
ra não é uma mensagem, não tem um conteúdo cognitivo 
a ser decodificado. Ela é, sim, um ato inusitado no meio 
do processo comunicacional que, embora tenha efeitos de 
grande impacto sobre o ouvinte, não pretende lhe dizer 
coisa alguma. É claro que uma metáfora, depois de algum 
tempo, se for saboreada e não cuspida e esquecida, pode 
então se adaptar a um jogo de linguagem existente ou for-
jar um novo jogo de linguagem e, então, se literalizar, ou 
seja, ganhar valor de verdade. Aliás,diga-se de passagem, 
como Rorty lembra, nossa linguagem é, na sua maioria, um 
monte de metáforas mortas. Mas em um primeiro momen-
to, ela não é uma explicação e não tem valor de verdade 
na medida em que ela não está nos quadros do jogo se-
mântico tradicional. Por isso mesmo, seu lançamento em 
uma conversa é muitas vezes espontâneo, e quem a lançou 
pouco sabia o que ela significava (ela não significava!). As-
sim, duvido que o movimento negro poderia, na época de 
seu auge, explicar o que era Black is beautiful! Do mesmo 
modo que agora seria uma péssima ideia tentar explicar o 
que é Gay is good. Não há paráfrase nem explicações para 
“Gay is good”, e qualquer tentativa destrói rapidamente a 
metáfora e todo o movimento de impacto que ela causa 
na mentalidade conservadora. Todavia, apesar de não ter 
mensagem, ela é forte o suficiente para estar envolvida 
com a busca de criação de novos direitos democráticos, 
como por exemplo a discussão, em vários países, sobre a 
legitimidade do casamento entre pessoas do mesmo sexo... 
pois, afinal, “gay is good!”.
Essa nova filosofia da educação em nada solapa os 
ideais das filosofias da educação modernas, pelo contrário, 
ela os potencializa. Quem faz metáforas em prol da cria-
ção de novos direitos está, certamente, colaborando com a 
ideia humanista de que a educação é aquisição de autode-
terminação, como em Herbart. Também está favorecendo 
a diversidade e a liberdade e, portanto, está se alinhando 
com Dewey na valorização da democracia. E pode forne-
cer “autoridade semântica” para os grupos oprimidos se 
redescreverem e assim ganharem vez e voz na sociedade 
na medida em que puderem colocar seus vocabulários al-
ternativos, seus jogos de linguagem secundarizados, como 
8
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
elementos também contáveis na sociedade. Com isso, colabora-se com Paulo Freire na luta por uma educação em favor 
do oprimido pelo fim da opressão. A teoria educacional pós-moderna, nesta filosofia da educação, é a busca de realização 
dos melhores ideais modernos.
Fonte
Disponível em http://smeduquedecaxias.rj.gov.br/
DIFERENTES CORRENTES DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO BRASILEIRO
Um esboço das teorias e correntes pedagógicas contemporâneas
Existem tendências contemporâneas no ensino de alguma forma influenciadas pelo pensamento pós-moderno? Certa-
mente sim, elas existem e aos poucos vão ocupando espaços na prática de professores embora, como de costume, com for-
tes traços de reducionismo ou modismo. Algumas dessas correntes são esforços teóricos de releitura das teorias modernas, 
outras afiliam-se explicitamente ao pensamento pós-moderno focadas na escola e no trabalho dos professores, enquanto 
outras utilizam-se do discurso pós-moderno sem interesse nenhum em chegar a propostas concretas para a sala de aula e 
para o trabalho de professor, ao contrário, propõem-se a desmontar as propostas existentes.
Há notórias resistências a tentativas de classificação das teorias pedagógicas, boa parte delas compreensíveis. Vários seg-
mentos de intelectuais que se situam grosso modo no âmbito do pensamento pós-moderno podem alegar, dentro de seus 
quadros de referência, que as classificações seguem exatamente o figurino da modernidade, da classificação de conhecimen-
tos, do fechamento em campos disciplinares. Nesse caso, as classificações se riam, por tanto, reducionismos, simplificações, 
fragmentações. Em outra orientação, dir-se-á que os campos científicos em geral firmam-se muito por conta de legitimação 
das concepções por meio de disputa de poder. Há ainda posições que deliberadamente de fendem o hibridismo cultural. Na 
verdade, as classificações sempre existiram, independentemente das críticas que lhes são feitas, elas pertencem sim a certa 
tradição da racionalidade científica. Mas, exatamente com base no argumento de que os campos se definem por relações de 
poder, seria injusto e desigual que o professora do des conheces se a existência desses campos, de suas disputas e de seus 
conflitos. Mesmo por que, se os des conhecem, são presas fáceis de persuasão de um ou outro grupo ou são manipulados 
pelo mercado editorial que também disputa espaços de poder misturados com comércio. Há outro argumento a favor das 
classificações: elas ajudam as pessoas a organizar a cabeça. Os formadores de professores, os pesquisadores, os estudiosos 
das teorias educacionais e das metodologias de pesquisa, os licenciandos das várias especialidades precisam conhecer as 
teorias educacionais, as clássicas e as contemporâneas, para poderem se situar teórica e praticamente enquanto sujeitos 
envolvidos em marcos sociais, culturais, institucionais. Pode ser ver da de que o caminho se faz ao caminhar, mas o sujeito 
inteligente terá primeiro que recorrer aos mapas, a não ser que esteja atrás de um caminho que ainda ninguém percorreu.
Outra razão forte em favor das classificações decorre de um posicionamento teórico segundo o qual as teorias, os 
conteúdos, os métodos constituem-se em mediações culturais já constituídas na prática e na teoria e que fazem parte da 
atividade sócio-histórica do campo pedagógico. Tais mediações são instrumentos simbólicos e culturais que participam 
na formação intelectual e profissional. As classificações de teorias são, pois, instrumentos mediacionais que possibilitam 
formação de esquemas mentais, quadros de referência.
O esboço de um quadro geral das correntes pedagógicas contemporâneas, proposto a seguir, de corre unicamente da 
pesquisa bibliográfica e da observação da difusão de ideias em congressos, encontros e seminários. Trata-se, pois, de um 
exercício teórico do qual resulta uma classificação arbitrária. Apresenta rei o quadro e, em seguida, uma breve caracteriza-
ção de cada uma das correntes.
Correntes Modalidades
1. Racional-tecnológica Ensino de excelência Ensino tecnológico
2. Neocognivistas Construtivismo pós-piagetiano Ciências cognitivas
3. Sociocríticas
Sociologia crítica do currículo
Teoria histórico-cultural
Teoria sociocultural
Teoria sociocognitiva
Teoria da ação comunicativa
4.“Holísticas”
Holismo
Teoria da Complexidade
Teoria naturalista do 
conhecimento
Eco pedagogia
Conhecimento em rede
5. “Pós-modernas” Pós-estruturalismo Neopragmatismo
Quadro 1. Quadro das correntes pedagógicas contemporâneas.
9
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
A corrente racional-tecnológica
Essa corrente corresponde à concepção que tem sido 
designada de neotecnicismo e está associada a uma pe-
dagogia a serviço da formação para o sistema produtivo. 
Pressupõe a formulação de objetivos e conteúdos, padrões 
de desempenho, competências e habilidades com base em 
critérios científicos e técnicos. Diferentemente do cunho 
acadêmico da pedagogia tradicional, a corrente racional-
-tecnológica busca seu fundamento na racionalidade téc-
nica e instrumental, visando a desenvolver habilidades e 
destrezas para formar o técnico. Metodologicamente, ca-
racteriza-se pela introdução de técnicas mais refinadas de 
transmissão de conhecimentos incluindo os computado-
res, as mídias. Uma derivação dessa concepção é o currí-
culo por competências, na perspectiva economicista, em 
que a organização curricular resulta de objetivos assenta-
dos em habilidades e destrezas a serem dominados pelos 
alunos no percurso de formação. Apresenta-se sob duas 
modalidades:
a. Ensino de excelência, para for mar a elite intelectual 
e técnica para o sistema produtivo;
b. Ensino para for mação de mão-de-obra intermediá-
ria, centrada na educação utilitária e eficaz para o mercado.
Outros traços dessa corrente: centralidade no conheci-
mento em função da sociedade tecnológica, transformação 
da educação em ciência (racionalidade científica), produção 
do aluno como um ser tecnológico (versão tecnicista do 
“aprender a aprender”), utilização mais intensiva dos meiosde comunicação e informação e do aparato tecnológico.
A corrente neocognitivista
Nesta denominação estão incluídas correntes que in-
troduzem novos aportes ao estudo da aprendizagem, do 
desenvolvimento, da cognição e da inteligência.8
Construtivismo pós-piagetianismo
O construtivismo, no campo da educação, refere-se a 
uma teoria em que a aprendizagem humana é resultado de 
uma construção mental realizada pelos sujeitos com base 
na sua ação sobre o mundo e na interação com outros. O 
ser humano tem uma potencialidade para aprender a pen-
sar que pode ser desenvolvida porque a faculdade de pen-
sar não é inata e nem é provida de fora. O construtivismo 
pós-piagetiano incorpora contribuições de outras fontes 
tais como o lugar do desejo e do outro na aprendizagem, 
o predomínio da linguagem em relação à razão, o papel da 
interação social na construção do conhecimento, a singu-
laridade e a pluralidade dos sujeitos (Grossi; Bordin, 1993). 
Nessa mesma perspectiva, o socioconstrutivismo mantém 
o papel da ação e da experiência do sujeito no desenvol-
vimento cognitivo, mas introduz com mais vigor o compo-
nente social na aprendizagem, tornando claro o papel de-
terminante das significações sociais e das interações sociais 
na construção de conhecimentos. Instrumentos cognitivos 
utilizados pelas crianças são, também, reestruturações de 
representações sociais reformadas nas interações sociais. 
Uma das noções-chave desse paradigma é o conflito socio-
cognitivo que surge em situações de interação, nas quais 
estão também envolvidas experiências sociais e culturais 
que intervêm nas aprendizagens (Garnier; Bednarz; Ula-
novskaya, 1996).
Ciências cognitivas
A abordagem cognitiva refere-se a estudos relaciona-
dos ao desenvolvimento da ciência cognitiva associada à 
utilização de computadores. Seu objetivo é buscar novos 
modelos e referências para avançar na investigação sobre 
os processos psicológicos e a cognição. A partir da psi-
colinguística, da teoria da comunicação e da cibernética 
(ciência dos computadores), surgem duas versões: a psico-
logia cognitiva, que estuda diretamente o comportamen-
to inteligente de sujeitos humanos, isto é, o ser humano 
como processador de informações, e a ciência cognitiva, 
que aprofunda as analogias entre mente e computador, 
visando à construção de modelos computacionais para en-
tender a cognição humana. Seu interesse é a construção 
de programas de inteligência artificial que realizam tarefas 
que implicam um comportamento inteligente. Há estudos 
da abordagem do processamento da informação ao cons-
trutivismo piagetiano.
Teorias sociocríticas
A designação “sociocrítica” está sendo utilizada para 
ampliar o sentido de “crítica” e abranger teorias e corren-
tes que se desenvolvem a partir de referenciais marxistas 
ou neomarxistas e mesmo, apenas, de inspiração marxista 
e que são, frequentemente, divergentes entre si principal-
mente quanto a premissas epistemológicas. As aborda-
gens sociocríticas convergem na concepção de educação 
como compreensão da realidade para transformá-la, visan-
do à construção de novas relações sociais para superação 
de desigualdades sociais e econômicas. Em razão disso, 
considera especialmente os efeitos do currículo oculto e 
do contexto da ação educativa nos processos de ensino 
e aprendizagem, inclusive para submeter os conteúdos a 
uma análise ideológica e política. Algumas dão mais ênfase 
às questões políticas do processo de formação, outras co-
locam a relação pedagógica como mediação da formação 
social e política. Nesse segundo caso, a educação cobre a 
função de transmissão cultural, mas também é responsável 
pela ajuda ao aluno no desenvolvimento de suas próprias 
capacidades de aprender e na sua inserção crítica e partici-
pativa na sociedade em função da formação da cidadania. 
Diferenças na determinação dos objetivos da educação e 
do ensino levam a distintas opções metodológicas que vão 
desde a visão do ensino como transmissão cultural até a 
uma ideia de escola mais informal centrada na valorização 
de elementos experienciais, fortuitos, da convivência social, 
minimizando ou até recusando um currículo formal. 
A teoria curricular crítica
Com características neomarxistas, acentua os fatores 
sociais e culturais na construção do conhecimento, lidan-
do com temas como cultura, ideologia, currículo oculto, 
linguagem, poder, multiculturalismo (Moreira; Silva, 1994). 
Tem origem explícita na Sociologia Crítica inglesa e norte-
-americana. A teoria curricular crítica questiona como são 
construídos os saberes escolares, propõe analisar o saber 
particular de cada agrupamento de alunos, porque esse sa-
ber expressa certas maneiras de agir, de sentir, de falar e 
de ver o mundo. Na visão da Sociologia Crítica não há uma 
10
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
cultura unitária, homogênea; a cultura é um terreno con-
flitante onde se enfrentam diferentes concepções de vida 
social e onde emergem a diversidade cultural e a diferença. 
O currículo, nesse sentido, tem a ver menos com a seleção 
e organização de conteúdos e mais com as experiências 
socioculturais que fazem da escola um terreno de luta e 
de contestação para se criar e produzir cultura. Quando se 
pensa um currículo, é preciso começar captando as “signi-
ficações” que os sujeitos fazem de si mesmos e dos outros 
através da experiência compartilhada de vivências, abrindo 
espaço para o currículo multicultural, currículo em rede etc. 
Na esfera dos sistemas de ensino, leva as políticas de inte-
gração de minorias sociais, étnicas e culturais ao processo 
de escolarização, opondo-se à definição de currículos na-
cionais. 
Teoria histórico-cultural
As bases teóricas da teoria histórico-social apoiam-se 
em Vygotsky e seguidores. Nessa orientação, a aprendiza-
gem resulta da interação sujeito-objeto, em que a ação do 
sujeito sobre o meio é socialmente mediada, atribuindo-se 
peso significativo à cultura e às relações sociais. A atividade 
do sujeito supõe a ação entre sujeitos, no sentido de uma 
relação do sujeito com o outro, com seus parceiros. Mais 
especificamente, as funções mentais superiores (lingua-
gem, atenção voluntária, memória, abstração, percepção, 
capacidade de comparar, diferenciar etc.) são ações inte-
riorizadas de algo socialmente mediado, a partir da cultura 
constituída. Essa abordagem está focada na estrutura do 
funcionamento cognitivo em suas interações com as me-
diações culturais (Daniels, 2003). Nos últimos anos, dentro 
dessa mesma orientação, tem se destacado a teoria histó-
rico-cultural da atividade.
Teoria sociocultural
Esta teoria também se remete a Vygotsky, mas põe ên-
fase na explicação da atividade humana enquanto proces-
so e resulta do das vivências em atividades socioculturais 
compartilha das, mais do que nas questões do conheci-
mento e da apropriação da cultura social. Compreende as 
práticas de aprendiza gem como atividade sempre situada 
em um contexto de cultura, de relações, de conhecimento.
Teoria sociocognitiva
Na teoria sociocognitiva são postas em relevo as con-
dições culturais e sociais da aprendizagem, visando ao 
desenvolvimento da sociabilidade por meio de processos 
socioculturais. A questão importante da escola não é o 
funcionamento psíquico ou os conteúdos de ensino, mas 
a organização de um ambiente educativo de solidariedade 
de relações comunicativas, com base nas experiências co-
tidianas, nas manifestações da cultura popular. Um projeto 
de escola nessa orientação consistiria em criar situações 
pedagógicas interativas para propiciar uma formação de-
mocrática e inclusiva, vale dizer, uma “vivência” democráti-
ca (comportamentos solidários, de justiça, de vida comuni-
tária etc.), por tanto, com características mais informais em 
que se valorizam mais experiências socioculturais do que ocurrículo formal.
Teoria da ação comunicativa
A teoria da ação comunicativa, formulada por J. Haber-
mas, está associada à teoria crítica da educação originada 
dos trabalhos da Escola de Frankfurt. Realça no agir pe-
dagógico a ação comunicativa, entendida como interação 
entre sujeitos por meio do diálogo para se chegar a um en-
tendimento e cooperação entre as pessoas nos seus vários 
contextos de existência. Constitui-se, assim, numa teoria da 
educação assentada no diálogo e na participação, visando 
à emancipação dos sujeitos. Encontra pontos de ligação 
com o pensamento de P. Freire e exerceu forte influência 
em autores da Sociologia crítica do currículo de procedên-
cia norte-americana, como H. Giroux e M. Apple.
Correntes “holísticas”
Sob essa denominação, com algum risco de impreci-
são, situam-se correntes de diferentes vertentes teóricas, 
que têm como denominador comum uma visão “holística” 
da realidade, isto é, a realidade como uma totalidade de in-
tegração entre o todo e as partes, mas compreendendo di-
ferentemente a dinâmica e os processos dessa integração.
O holismo
O holismo, propriamente dito, do ponto de vista filo-
sófico, compreende a realidade como totalidade, em que 
as partes integram o todo, partes como unidades que for-
mam todos, numa unidade orgânica. Ter uma visão holís-
tica significa ter o sentido de total, de conjunto, de inteiro 
(holos, do grego), em que o universo é considerado como 
uma totalidade formada por dimensões interpenetrantes: 
as pessoas, as comunidades, unidas no meio biofísico. Há 
indistinção entre sujeito observador e objeto. Para Bertrand 
e Valois (1994), a pessoa une-se a todas as outras pessoas, 
a todas as consciências, a todas as outras “partículas” do 
cosmos, para constituir uns “nós”, no sentido de simbiose. 
Disso resulta uma ação em comum, uma sinergia, em que 
as forças criativas de cada um e de todos convergem na 
ação. A consciência de uma totalidade cósmica leva os ho-
listas a buscarem um equilíbrio dinâmico entre o homem 
e o seu meio biofísico, a convivência entre as pessoas, a 
preservação ambiental e a denúncia de todas as formas de 
destruição da natureza, a união das pessoas e da nature-
za no todo. O projeto educativo visa conscientizar para o 
fato de que as pessoas pertencem ao universo e que o de-
senvolvimento da espécie humana depende de um projeto 
mundial de preservação da vida. A educação holística não 
rejeita o conhecimento racional e outras formas de conhe-
cimento, mas insiste em considerar a vida como uma tota-
lidade em que o todo se encontra na parte, cada parte é 
um todo, porque o todo está nela. Daí que a consciência 
da pessoa só pode ser comunitária, ecológica e cósmica.
O pensamento complexo (teoria da complexidade)
É uma abordagem metodológica dos fenômenos em 
que se apreende a complexidade das situações educativas, 
em oposição ao pensamento simplificador. A inteligibilida-
de complexa, ou o pensar mediante a complexidade, signi-
fica apreender a totalidade complexa, as inter-relações das 
partes, de modo a se travar uma abertura, um diálogo entre 
11
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
diferentes modelos de análise, diferentes visões das coisas. 
Isso leva à cooperação interdisciplinar, ao intercâmbio de 
alteridades, mas a busca de inter-relações não significa or-
denar a realidade, organizá-la. Significa buscar, também, a 
desordem, a contradição, a incerteza. Põe dúvidas sobre o 
que é a verdade, o que é a realidade empírica, de modo a 
ver os vários lados da situação. Segundo Morin (ANO?), a 
teoria científica não é o reflexo do real, é uma construção 
do espírito que se esforça para captar o real. As teorias 
científicas são produções do espírito, são percepções do 
real, são sociais, emergem de uma cultura. Elas carregam 
a incerteza, o inesperado. Essas ideias, obviamente, nos 
põem frente a uma prática pedagógica nada prescritiva, 
nada disciplinar. Já que não há nada que seja absoluta-
mente científico, absolutamente seguro, precisamos dialo-
gar com a dúvida, com o inesperado e com o imprevisto. 
Pensar por complexidade é usar nossa racionalidade para 
juntar coisas separadas, para aumentar nossa liberdade 
de fazer o bem e evitar o mal. Aplicado à pedagogia,9 o 
pensamento complexo pressupõe a integração no ato pe-
dagógico de múltiplas dimensões, o que requer o diálogo 
com várias orientações de pensamento, reconhecendo que 
nenhuma teoria pedagógica é capaz, sozinha, de atender a 
necessidades educativas sociais e individuais. 
A teoria naturalista do conhecimento
Essa teoria, desenvolvida por autores como Varela e 
Maturana, e aqui no Brasil, por Hugo Assmann, compreen-
de que o conhecimento humano está ligado ao plano bio-
lógico, bioindividual e biosocial. Essa teoria se opõe a uma 
visão mentalista do sujeito e da consciência, afirmando a 
mediação corporal dos processos de conhecimento. Nossa 
consciência não é soberana, não somos donos do nosso 
destino como pensamos, porque há “mediações auto orga-
nizativas da corporeidade individual e das mediações sócio 
organizativas” que escapam de nossas intenções conscien-
tes. Por isso, segundo Assmann (1996), a pedagogia das 
certezas e dos saberes pré-fixados deve ser substituída por 
uma pedagogia da pergunta, do melhoramento das per-
guntas e do acessamento de informações, em suma, por 
uma pedagogia da complexidade, que saiba trabalhar com 
conceitos transversáteis, abertos para a surpresa e o impre-
visto. A teoria da corporeidade, desenvolvida por esse au-
tor, propõe uma visão nova do conhecimento cujo ponto 
de partida é a profunda identidade entre processos vitais e 
processos de conhecimento. 
Onde não se propiciam processos vitais, tampouco se 
favorecem processos de conhecimento. E isto vale tanto 
para o plano biofísico quanto para a interação comunica-
tiva. [...] Toda morfogênese do conhecimento é constituída 
por níveis emergentes a partir dos processos auto organi-
zativos da corporeidade vida. Por isso, todo conhecimento 
tem uma inscrição corporal e se apoia numa complexa in-
teração sensorial. O conhecimento humano nunca é pura 
operação mental. Toda ativação da inteligência está entre-
tecida de emoções (Assmann, 1996).
Ecopedagogia
A ecopedagogia (óicos, do grego, morada, espaço ha-
bitado), ou paradigma ecológico, propõe a recuperação do 
sentido humano do espaço habitado abrangendo tanto 
a dimensão biosférica quanto as dimensões socioinstitu-
cionais e mentais (Moraes, 2000). Mais especificamente, é 
uma pedagogia que promove a aprendizagem do sentido 
das coisas a partir da vida cotidiana; é no cotidiano que se 
constrói a cultura da sustentabilidade, a cultura que valo-
riza a vida, que promove o equilíbrio dinâmico entre seres 
viventes e não viventes (Gutiérrez, 1999). Os princípios da 
ecopedagogia acentuam a unidade de tudo o que existe, a 
inter-relação e auto-organização dos diferentes ecossiste-
mas, o reconhecimento do global e do local na perspectiva 
de uma cidadania planetária, a centralidade do ser humano 
no processo educativo e a intersubjetividade, a educação 
voltada para a vida cotidiana. 
O conhecimento em rede
A ideia básica da corrente do Conhecimento em rede é 
de que os conhecimentos disciplinares, assentados na visão 
moderna de razão, devem ceder lugar aos conhecimentos 
tecidos em redes relacionadas à ação cotidiana. O conheci-
mento se constrói socialmente, não no sentido de assimi-
lação da cultura anteriormente acumulada, mas no sentido 
de que ele emerge nas ações cotidianas, rompendo-se com 
a separação entre conhecimento científico e conhecimen-
to cotidiano. Há uma vinculação do conhecimento com 
a prática social, que se caracteriza pela multiplicidade e 
complexidade de relações em meio das quais se criam e se 
trocam conhecimentos, tecendo redes de conhecimentos 
entre ossujeitos em interação. O conhecimento surge, por-
tanto, das redes de relações em que as pessoas comparti-
lham significados. Com isso, são eliminadas as fronteiras 
entre ciência e senso comum, entre conhecimento válido 
e conhecimento cotidiano. A escola é um espaço/tempo 
de relações múltiplas entre múltiplos sujeitos com saberes 
múltiplos, que aprendem/ensinam o tempo todo, múltiplos 
conteúdos de múltiplas maneiras (Alves, 2001).
Correntes “pós-modernas”
As correntes “pós-modernas” não se sentem confortá-
veis em se autodenominar como pedagogias, assim como 
recusam as classificações. Entretanto, figuram aqui porque 
boa parte das publicações de autores brasileiros têm sido 
produzidas a partir do campo da educação e devido ao 
fato de serem acolhidas pelo campo científico da educa-
ção. Por essa razão, as correntes pós-críticas podem ser 
entendidas como uma “pedagogia” já que influenciam as 
práticas docentes, mesmo pela sua negação. Elas se cons-
tituem a partir das críticas às concepções globalizantes do 
destino humano e da sociedade, isto é, as metanarrativas, 
assentadas na razão, na ciência, no progresso, na autono-
mia individual. Não há hoje aqueles valores transcenden-
tes, aquelas crenças na transformação social, baseados na 
formação da consciência política, na ideia de que a história 
tem uma finalidade, que caminhamos para uma sociedade 
mais justa etc., tudo isso não tem mais muito fundamen-
to, porque foi dessas ideias que apareceram os problemas 
12
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
mais candentes da nossa época como a perda do poder do 
sujeito, a docilidade às estruturas, a exploração do traba-
lho, a degradação ambiental etc. Não há direitos universais 
abstratos, mas direitos e vozes de cada grupo cultural, de 
cada comunidade. Hoje há muitos discursos, muitas lingua-
gens particulares que são o que interessa: a cultura local, 
o feminismo, o pacifismo, a ecologia, o negro, o homosse-
xual. Ou seja, não há mais uma consciência unitária, não há 
uma referência moral, teórica na qual se baseie o desenvol-
vimento da consciência.
O pós-estruturalismo
A influência do pós-estruturalismo na educação apa-
rece principalmente pela divulgação do pensamento de M. 
Foucault sobre as relações entre o saber e o poder nas ins-
tituições educativas. O sistema educativo enquanto poder 
cria um saber para exercer controle sobre as pessoas, razão 
para lançar descrédito sobre a pedagogia, já que seu papel 
é formar o sujeito da modernidade, isto é, o sujeito sub-
misso, disciplinado, submetido ao poder do outro. O saber 
está, pois, comprometido com o poder, sendo que essas 
relações de poder estão onipresentes, exercidas nas mais 
variadas instâncias como a família, a escola, a sala de aula. 
Se pode existir uma pedagogia, ela será desconstrutiva dos 
discursos, não construtiva. Muda o papel do professor, ele 
não pode mais ser aquele que forma a consciência crítica, 
que manipula as subjetividades dos alunos. 
A partir de temas centrais como o poder, a linguagem 
e a cultura, o pós-estruturalismo discute questões como a 
identidade/diferença, a subjetividade, os significados e as 
práticas discursivas, as relações gênero-raça-etnia-sexua-
lidade, o multiculturalismo, os estudos culturais e os estu-
dos feministas (Silva, 2004). É com base em investigações e 
análises ligadas a esses temas que as correntes pós-críticas 
aparecem nas estratégias pedagógico-didáticas nas esco-
las.
O neopragmatismo
O neopragmatismo está associado à virada linguística 
pragmática iniciada por filósofos ligados à Filosofia Analí-
tica, seu principal representante é R. Rorty. Em oposição à 
tradição positivista do conhecimento, valoriza no processo 
educativo as experiências pessoais do indivíduo, a intera-
ção dialógica numa conversação aberta, contínua, intermi-
nável. W. Doll Jr. (1997) escreve com base em Rorty que, ao 
contrário de uma busca de fundamentos fora de nós para 
avalizar nossas certezas, devemos considerar os aspectos 
particulares das situações nas quais não há nenhum início, 
nenhum fim estabelecido. Não se trata de buscar a verdade 
estabelecida, mas de criar significados nas interações dia-
lógicas pessoais e públicas com os outros, com as histórias, 
com os textos. Nossa única fonte de orientação é a con-
versação com nossos companheiros humanos, ela é o con-
texto básico para compreender o conhecimento. É, pois, 
pela experiência, pelo diálogo, pela conversação, que os 
participantes fazem escolhas racionais, que são pessoais, 
históricas, vinculadas a uma situação concreta. O mesmo 
Doll Jr. denomina essa atitude de epistemologia experien-
cial, em que o currículo é entendido como processo, em 
que os sujeitos criam e recriam a si próprios e a sua cul-
tura, em contextos de conversação, de troca de narrativas, 
de forma a compreender como os outros constroem seus 
significados a partir de sua vivência em contextos culturais, 
linguísticos, interpretativos. 
Um agir pedagógico assentado nessa corrente rejeita 
imposições, valorizando as atitudes dos professores em 
suas ações e interações baseadas no diálogo; o currículo 
como processo que propicia a transformação pessoal, com 
base na experiência que o aluno vivencia ao aprender, ao 
transformar e ao ser transformado; propõe a discussão de 
problemas humanos “edificantes”, envolvendo a solidarie-
dade, a diferença, o outro, visando experiências transfor-
mativas nas pessoas. O conhecimento é aquilo que cria-
mos, interativamente, dialogicamente, conversacionalmen-
te, sempre dentro de nossa cultura e de sua linguagem. Em 
síntese, o neopragmatismo propõe uma visão de conhe-
cimento e de construção humana em que se supera uma 
visão individualista, estática, por outra de caráter dialógico, 
comunicativo, de compartilhamento com os outros, reali-
zada no mundo prático onde o conhecimento é produzido.
Referência:
LIBÂNEO, José Carlos. As Teorias Pedagógicas Moder-
nas Revisitadas pelo Debate Contemporâneo na Educação. 
Disponível em: http://www.ia.ufrrj.br/ppgea/conteudo/
T1SF/Akiko/03.pdf 
1.2 PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO.
Desde as décadas passadas, mais precisamente a par-
tir do IX CBAS (Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais) 
em 1998, cujo temário trazia o termo Projeto éticopolítico, 
vem aumentando entre nós a necessidade de conhecer tal 
projeto. 
O relativo desconhecimento do Projeto éticopolítico 
pela categoria pode ser justificado pela precoce inserção 
do tema no debate do Serviço Social e, ainda (e em con-
sequência disso), pela parca produção de conhecimentos 
acerca do tema – elemento fundamental para a socializa-
ção das ideias criadas no seio de uma determinada van-
guarda, no caso a profissional. 
Pode-se dizer que este relativo desconhecimento não 
eliminou a incorporação do projeto entre a categoria dos 
assistentes sociais. Ao contrário, é inegável que traços dele 
estão presentes no cotidiano dos assistentes sociais que o 
operam nas diversas situações profissionais. 
Mas, afinal, o que é o Projeto éticopolítico profissional 
do Serviço Social? Este brevíssimo texto apresenta os seus 
traços mais gerais sem a pretensão de esgotá-los. Trata-se 
de texto mais informativo que dissertativo, ainda que eiva-
do de considerações crítico-valorativas. Nele apresentare-
mos as origens históricas, o processo de consolidação e o 
momento atual do projeto, quando verificaremos as pecu-
liaridades que o objetivam na realidade sócioprofissional. 
À guisa de introdução, vale a tentativa de destrinchar 
o termo projeto éticopolítico profissional. Trata-se de uma 
projeção coletiva que envolve sujeitos individuais e coleti-
vos em torno de uma determinada valoração ética que está 
13
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
intimamente vinculada a determinados projetos societários 
presentes na sociedadeque se relacionam com os diver-
sos projetos coletivos (profissionais ou não) em disputa na 
mesma sociedade. 
 
Como surgiu este projeto, quem o criou e quando foi 
criado? 
 
Antes de qualquer coisa é preciso ter clareza da noção 
de projeto coletivo na medida em que o referido projeto 
éticopolítico existe como tal. Os projetos coletivos se re-
lacionam com as diversas particularidades que envolvem 
os vários interesses sociais presentes numa determinada 
sociedade. Remetem-se ao gênero humano uma vez que, 
como projeções sóciohistóricas particulares, vinculam-
-se aos interesses universais presentes no movimento da 
sociedade. Em outras palavras, os interesses particulares 
de determinados grupos sociais, como o dos assistentes 
sociais, não existem independentemente dos interesses 
mais gerais que movem a sociedade. Questões culturais, 
políticas e, fundamentalmente, econômicas articulam e 
constituem os projetos coletivos. Eles são impensáveis sem 
estes pressupostos, são infundados se não os remetemos 
aos projetos coletivos de maior abrangência: os projetos 
societários (ou projetos de sociedade). Quer dizer: os pro-
jetos societários estão presentes na dinâmica de qualquer 
projeto coletivo, inclusive em nosso projeto éticopolítico. 
Os projetos societários podem ser, em linhas gerais, 
transformadores ou conservadores. Entre os transforma-
dores há várias posições que têm a ver com as formas (as 
táticas e as estratégias) de transformação social. Assim, te-
mos um pressuposto fundante do projeto éticopolítico: a 
sua relação ineliminável com os projetos de transformação 
ou de conservação da ordem social. Dessa forma, nosso 
projeto filia-se a um ou ao outro projeto de sociedade não 
se confundindo com ele. 
Mas, afinal, qual nosso projeto éticopolítico? Como ele 
é? Qual sua posição diante da ordem social? 
Não há dúvidas de que o projeto éticopolítico do Ser-
viço Social brasileiro está vinculado a um projeto de trans-
formação da sociedade. Esta vinculação se dá pela própria 
exigência que a dimensão política da intervenção profis-
sional impõe. Ao atuarmos no movimento contraditório 
das classes, acabamos por imprimir uma direção social às 
nossas ações profissionais que favorecem a um ou a outro 
projeto societário. Nas diversas e variadas ações que efe-
tuamos como plantões de atendimento, salas de espera, 
processos de supervisão e/ou planejamento de serviços 
sociais, das ações mais simples às intervenções mais com-
plexas do cotidiano profissional, nelas mesmas, embutimos 
determinada direção social entrelaçada por uma valoração 
ética específica. 
As demandas (de classes, mescladas por várias outras 
mediações presentes nas relações sociais) que se apresen-
tam a nós, encobrem seus reais determinantes e as ne-
cessidades sociais que portam. Tendo consciência ou não, 
interpretando ou não as demandas de classes e suas ne-
cessidades sociais que chegam até nós em nosso cotidiano 
profissional, dirigimos nossas ações favorecendo interesses 
sociais distintos e contraditórios. 
Nosso projeto éticopolítico é bem claro e explícito 
quanto aos seus compromissos. Ele “tem em seu núcleo 
o reconhecimento da liberdade como valor ético central – 
a liberdade concebida historicamente, como possibilidade 
de escolher entre alternativas concretas; daí um compro-
misso com a autonomia, a emancipação e a plena expan-
são dos indivíduos sociais. Consequentemente, o projeto 
profissional vincula-se a um projeto societário que propõe 
a construção de uma nova ordem social, sem dominação 
e/ou exploração de classe, etnia e gênero”. (Netto, 1999). 
Estes valores foram construídos historicamente, como ve-
remos a seguir. 
 
Brevíssimo histórico 
 
Desde os anos 70, mais precisamente no final daque-
la década, o Serviço Social brasileiro vem construindo um 
projeto profissional comprometido com os interesses das 
classes trabalhadoras. A chegada entre nós dos princípios 
e ideias do Movimento de Reconceituação deflagrado nos 
diversos países latino-americanos somada à voga do pro-
cesso de redemocratização da sociedade brasileira forma-
ram o chão histórico para a transição para um Serviço So-
cial renovado, através de um processo de ruptura teórica, 
política (inicialmente mais políticoideológica do que teó-
rico-filosófica) com os quadrantes do tradicionalismo que 
imperavam entre nós. É sabido que, politicamente, este 
processo teve seu marco no III CBAS, em 1979, na cida-
de de São Paulo, quando, de forma organizada, uma van-
guarda profissional virou uma página na história do Serviço 
Social brasileiro ao destituir a mesa de abertura composta 
por nomes oficiais da ditadura, trocando-a por nomes ad-
vindos do movimento dos trabalhadores. Este congresso 
ficou conhecido como o “Congresso da Virada”. 
Pode-se localizar aí a gênese do projeto éticopolítico, 
na segunda metade da década de 70. Este mesmo proje-
to avançou nos anos 80, consolidou-se nos 90 e está em 
construção, fortemente tensionado pelos rumos neolibe-
rais da sociedade e por uma nova reação conservadora no 
seio da profissão na década que transcorre. 
O avanço do projeto nos anos 80 deveu-se à constru-
ção de elementos que o matizaram entre nós, dentre eles, 
o Código de Ética de 1986. Nele tivemos o coroamento da 
virada histórica promovida pelas vanguardas profissionais. 
Tratou-se da primeira tentativa de tradução não só legítima 
como legal (através do órgão de fiscalização profissional, o 
CFAS - Conselho Federal de Assistentes Sociais, hoje CFESS) 
da inversão ético-política do Serviço Social brasileiro, amar-
rando seus compromissos aos das classes trabalhadoras. É 
bem verdade que soava mais como uma carta de princípios 
e de compromissos ideopolíticos do que um código de éti-
ca que, por si só, exige certo teor prático-normativo. Mas, 
por outro lado, ao demarcar seus compromissos, mais que 
explicitamente, não deixava dúvidas de “qual lado” estáva-
mos. Nesta mesma década, aferem-se também avanços em 
torno do projeto no que tange à produção teórica que dá 
saltos significativos tanto quantitativamente quanto quali-
tativamente, trazendo temas fundamentais ao processo de 
renovação tais como a questão da metodologia, as políti-
cas sociais e os movimentos sociais. 
14
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
O processo de consolidação do projeto pode ser cir-
cunscrito à década de 90 que explicita a nossa maturidade 
profissional através de um escopo significativo de centros 
de formação (referimo-nos às pós-graduações) que ampli-
ficou a produção de conhecimentos entre nós. Nesta época 
também se pode atestar a maturidade político-organizati-
va da categoria através de suas entidades e de seus fóruns 
deliberativos. Pense-se nos CBAS’s dos anos 90 que ex-
pressaram um crescimento incontestável da produção de 
conhecimentos e da participação numérica dos assistentes 
sociais. 
A década que se inicia nos mostra dois processos inter-
relacionados: a continuidade do processo de consolidação 
do projeto éticopolítico e as ameaças que sofre diante das 
políticas neoliberais que repercutem no seio da categoria 
sob a forma de um neoconservadorismo profissional. 
A partir destas problematizações históricas podería-
mos chegar a algumas conclusões acerca do nosso projeto 
éticopolítico profissional. Com Netto, o definiríamos da se-
guinte maneira: “Os projetos profissionais [inclusive o pro-
jeto éticopolítico do Serviço Social] apresentam a autoima-
gem de uma profissão, elegem os valores que a legitimam 
socialmente, delimitam e priorizam os seus objetivos e 
funções, formulam os requisitos (teóricos e, institucionais 
e práticos) para o seu exercício, prescrevem normas para o 
comportamento dos profissionais e estabelecem as balizas 
da sua relação com os usuários de seus serviços, com as 
outras profissões e com as organizaçõese instituições so-
ciais, privadas e públicas (...)” (1999) 
Em suma, o projeto articula em si mesmo os seguintes 
elementos constitutivos: “uma imagem ideal da profissão, 
os valores que a legitimam, sua função social e seus obje-
tivos, conhecimentos teóricos, saberes interventivos, nor-
mas, práticas, etc.” (Netto, 1999) 
 
Componentes que materializam o projeto éticopolítico 
 
Mas o que dá materialidade ao projeto? Vimos que os 
profissionais individualmente podem operá-lo através das 
várias modalidades interventivas da profissão, ou seja, o 
projeto pode se concretizar em nossas próprias ações pro-
fissionais cotidianas. No entanto, o que sistematiza essas 
diversas modalidades interventivas, essas variadas ações 
profissionais, aparentemente isoladas, como projeto cole-
tivo? Em outras palavras, que mecanismos políticos, instru-
mentos/documentos legais e referenciais teóricos empres-
tam não só legitimidade como também operacionalidade 
prático-político e prático-normativo ao projeto? Vejamos. 
O entendimento dos elementos constitutivos que em-
prestam materialidade ao projeto pode se dar a partir de 
três dimensões articuladas entre si, quais sejam: a) a di-
mensão da produção de conhecimentos no interior do 
Serviço Social; b) a dimensão político-organizativa da ca-
tegoria; c) dimensão jurídico-política da profissão. Vejamos 
cada uma delas. 
a) Dimensão da produção de conhecimentos no in-
terior do Serviço Social: É a esfera de sistematização das 
modalidades práticas da profissão, onde se apresentam os 
processos reflexivos do fazer profissional e especulativos 
e prospectivos em relação a ele. Esta dimensão investiga-
tiva da profissão tem como parâmetro a afinidade com as 
tendências teórico-críticas do pensamento social. Dessa 
forma, não cabem no projeto éticopolítico contemporâ-
neo, posturas teóricas conservadoras, presas que estão aos 
pressupostos filosóficos cujo horizonte é a manutenção da 
ordem. 
b) Dimensão político-organizativa da profissão: Aqui 
se assentam tanto os fóruns de deliberação quanto as en-
tidades representativas da profissão. Fundamentalmente, o 
conjunto CFESS/CRESS (Conselho Federal e Regionais de 
Serviço Social) a ABEPSS (Associação Brasileira de Ensino 
e Pesquisa em Serviço Social) e as demais associações po-
lítico-profissionais, além do movimento estudantil repre-
sentado pelo conjunto de CA’s e DA’s (Centros e Diretórios 
Acadêmicos das escolas de Serviço Social) e pela ENESSO 
(Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social). É 
através dos fóruns consultivos e deliberativos destas enti-
dades representativas que são tecidos os traços gerais do 
projeto, quando são reafirmados (ou não) determinados 
compromissos e princípios. Assim, subentende-se que o 
projeto éticopolítico (como uma projeção) pressupõe, em 
si mesmo, um espaço democrático, aberto, em construção 
e em permanente tensão e conflito. Esta constatação indica 
a coexistência de diferentes concepções do pensamento 
crítico, ou seja, o pluralismo de ideias no seu interior. 
c) Dimensão jurídico-política da profissão: Temos 
aqui o aparato jurídico-político e institucional da profissão 
que envolve um conjunto de leis e resoluções, documen-
tos e textos políticos consagrados no seio profissional. Há 
nessa dimensão duas esferas diferenciadas, porém arti-
culadas, são elas: um aparato político-jurídico de caráter 
estritamente profissional; e um aparato jurídico-político 
de caráter mais abrangente. No primeiro caso, temos de-
terminados componentes construídos e legitimados pela 
categoria tais como: o atual Código de Ética Profissional, 
a Lei de Regulamentação da Profissão (Lei 8662/93) e as 
novas Diretrizes Curriculares recentemente aprovadas pelo 
MEC. No segundo, temos o conjunto de leis advindas do 
capítulo da Ordem Social da Constituição Federal de 1988 
que, embora não exclusivo da categoria, foi fruto de lutas 
que envolveram os assistentes sociais e, por outro lado, faz 
parte do cotidiano profissional de tal forma que pode fun-
cionar como instrumento viabilizador de direitos através 
das políticas sociais que executamos e/ou planejamos. 
Vale ressaltar que neste conjunto de leis e resoluções 
atinentes à profissão e ao seu projeto éticopolítico encon-
tram-se realizados, direta ou indiretamente, valores que 
contornam o projeto. 
Essas dimensões articuladas entre elas compõem o 
corpo material do projeto ético político profissional que, 
como foi dito, deve ser compreendido como uma constru-
ção coletiva que, como tal, tem uma determinada direção 
social que envolve, valores, compromissos sociais e princí-
pios que estão em permanente discussão exatamente por-
que participante que é do movimento vivo e contraditório 
das classes na sociedade. O sucesso do projeto depende 
de análises precisas das condições subjetivas e objetivas 
da realidade para sua realização bem como de ações polí-
ticas coerentes com seus compromissos e iluminadas pelas 
mesmas análises. 
15
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
A seguir trazemos as referências bibliográficas utiliza-
das para a construção deste texto e uma indicação biblio-
gráfica para aprofundamento do tema que foi sumaria-
mente tratado aqui.
Referência:
IAMAMOTO, M.V. (1992) Renovação e Conservado-
rismo no Serviço Social. São Paulo: Cortez. ______(1998) O 
Serviço Social na Contemporaneidade. São Paulo: Cortez. 
NETTO, J.P. (1999) “A construção do projeto éticopo-
lítico contemporâneo” in Capacitação em Serviço Social e 
Política Social. Módulo 1 – Brasília: Cead/ABEPSS/CFESS. 
______ (1996), “Transformações Societárias e Serviço So-
cial. Notas para uma análise prospectiva da profissão no 
Brasil”. Serviço Social e Sociedade. São Paulo: Cortez, Ano 
XVII. No. 50, abril de 1996.
* Texto de REIS, M. B. M. dos. Notas sobre o Projeto 
éticopolítico do Serviço Social.
2 A DIDÁTICA E O PROCESSO DE ENSINO E 
APRENDIZAGEM. 
2.1 ORGANIZAÇÃO DO PROCESSO 
DIDÁTICO: PLANEJAMENTO, ESTRATÉGIAS 
E METODOLOGIAS, AVALIAÇÃO. 
2.2 A SALA DE AULA COMO ESPAÇO DE 
APRENDIZAGEM E INTERAÇÃO. 
2.3 A DIDÁTICA COMO FUNDAMENTO 
EPISTEMOLÓGICO DO FAZER DOCENTE.
2 A DIDÁTICA E O PROCESSO DE ENSINO E APREN-
DIZAGEM. 
A aprendizagem é um processo contínuo que ocorre 
durante toda a vida do indivíduo, desde a mais tenra infân-
cia até a mais avançada velhice. Normalmente uma criança 
deve aprender a andar e a falar; depois a ler e escrever, 
aprendizagens básicas para atingir a cidadania e a partici-
pação ativa na sociedade. Já os adultos precisam aprender 
habilidades ligadas a algum tipo de trabalho que lhes for-
neça a satisfação das suas necessidades básicas, algo que 
lhes garanta o sustento. As pessoas idosas embora nossa 
sociedade seja reticente quanto às suas capacidades de 
aprendizagem podem continuar aprendendo coisas com-
plexas como um novo idioma ou ainda cursar uma faculda-
de e virem a exercer uma nova profissão. 
O desenvolvimento geral do indivíduo será resultado 
de suas potencialidades genéticas e, sobretudo, das habili-
dades aprendidas durante as várias fases da vida. A apren-
dizagem está diretamente relacionada com o desenvolvi-
mento cognitivo. 
As passagens pelos estágios da vida são marcadas por 
constante aprendizagem. “Vivendo e aprendendo”, diz a 
sabedoria popular. Assim, os indivíduos tendem a melho-
rar suas realizações nas tarefas que a vida lhes impõe. A 
aprendizagem permite ao sujeito compreender melhor as 
coisas que estão à sua volta, seus companheiros, a natureza 
e a si mesmo, capacitando-o a ajustar-se ao seu ambiente 
físico e social. 
A teoria da instrução de Jerome Bruner (1991), um au-
têntico representante da abordagem cognitiva, traz con-
tribuições significativas ao processo ensino-aprendizagem, 
principalmente à aprendizagem desenvolvida nas escolas. 
Sendo uma teoria cognitiva,apresenta a preocupação com 
os processos centrais do pensamento, como organização 
do conhecimento, processamento de informação, raciocí-
nio e tomada de decisão. Considera a aprendizagem como 
um processo interno, mediado cognitivamente, mais do 
que como um produto direto do ambiente, de fatores ex-
ternos ao aprendiz. Apresenta-se como o principal defen-
sor do método de aprendizagem por descoberta (insight). 
A teoria de Bruner apresenta muitos pontos semelhan-
tes às teorias de Gestalt e de Piaget. Bruner considera a 
existência de estágios durante o desenvolvimento cogniti-
vo e propõe explicações similares às de Piaget, quanto ao 
processo de aprendizagem. Atribui importância ao modo 
como o material a ser aprendido é disposto, assim como 
Gestalt, valorizando o conceito de estrutura e arranjos de 
ideias. “Aproveitar o potencial que o indivíduo traz e va-
lorizar a curiosidade natural da criança são princípios que 
devem ser observados pelo educador”. 
A escola não deve perder de vista que a aprendizagem 
de um novo conceito envolve a interação com o já apren-
dido. Portanto, as experiências e vivências que o aluno traz 
consigo favorecem novas aprendizagens. Bruner chama 
a atenção para o fato de que as matérias ou disciplinas 
tais como estão organizadas nos currículos, constituem-se 
muitas vezes divisões artificiais do saber. Por isso, várias 
disciplinas possuem princípios comuns sem que os alunos 
– e algumas vezes os próprios professores – analisem tal 
fato, tornando o ensino uma repetição sem sentido, em 
que apenas respondem a comandos arbitrários, Bruner 
propõe o ensino pela descoberta. O método da descober-
ta não só ensina a criança a resolver problemas da vida 
prática, como também garante a ela uma compreensão da 
estrutura fundamental do conhecimento, possibilitando 
assim economia no uso da memória, e a transferência da 
aprendizagem no sentido mais amplo e total. 
Segundo Bock (2001), a preocupação de Bruner é que a 
criança aprenda a aprender corretamente, ainda que “cor-
retamente” assuma, na prática, sentidos diferentes para as 
diferentes faixas etárias. Para que se garanta uma apren-
dizagem correta, o ensino deverá assegurar a aquisição 
e permanência do aprendido (memorização), de forma a 
facilitar a aprendizagem subsequente (transferência). Este 
é um método não estruturado, portanto o professor deve 
estar preparado para lidar com perguntas e situações di-
versas. O professor deve conhecer a fundo os conteúdos 
a serem tratados. Deve estar apto a conhecer respostas 
corretas e reconhecer quando e porque as respostas alter-
nativas estão erradas. Também necessita saber esperar que 
os alunos cheguem à descoberta, sem apressa-los, mas ga-
rantindo a execução de um programa mínimo. Deve tam-
bém ter cuidado para não promover um clima competitivo 
que gere, ansiedade e impeça alguns alunos de aprender. 
16
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
O modelo de ensino e aprendizagem de David P. Au-
subel (1980) caracteriza-se como um modelo cognitivo 
que apresenta peculiaridades bastante interessantes para 
os professores, pois centraliza-se, primordialmente, no 
processo de aprendizagem tal como ocorre em sala de 
aula. Para Ausubel, aprendizagem significa organização e 
integração do material aprendido na estrutura cognitiva, 
estrutura esta na qual essa organização e integração se 
processam. 
Psicólogos e educadores têm demonstrado uma cres-
cente preocupação com o modo como o indivíduo apren-
de e, desde Piaget, questões do tipo: “Como surge o co-
nhecer no ser humano? Como o ser humano aprende? O 
conhecimento na escola é diferente do conhecimento da 
vida diária? O que é mais fácil esquecer?” atravessaram as 
investigações científicas. Assim, deve interessar à escola 
saber como criança, adolescentes e adultos elaboram seu 
conhecer, haja vista que a aquisição do conhecimento é a 
questão fundamental da educação formal. 
A psicologia cognitiva preocupa responder estas ques-
tões estudando o dinamismo da consciência. A aprendi-
zagem é, portanto, a mudança que se preocupa com o eu 
interior ao passar de um estado inicial a um estado final. 
Implica normalmente uma interação do indivíduo com o 
meio, captando e processando os estímulos selecionados. 
O ato de ensinar envolve sempre uma compreensão 
bem mais abrangente do que o espaço restrito do profes-
sor na sala de aula ou às atividades desenvolvidas pelos 
alunos. Tanto o professor quanto o aluno e a escola encon-
tram-se em contextos mais globais que interferem no pro-
cesso educativo e precisam ser levados em consideração 
na elaboração e execução do ensino. 
Ensinar algo a alguém requer, sempre, duas coisas: uma 
visão de mundo (incluídos aqui os conteúdos da apren-
dizagem) e planejamento das ações (entendido como um 
processo de racionalização do ensino). A prática de pla-
nejamento do ensino tem sido questionada quanto a sua 
validade como instrumento de melhoria qualitativa no pro-
cesso de ensino como o trabalho do professor: 
 [...] a vivência do cotidiano escolar nos tem evidencia-
do situações bastante questionáveis neste sentido. Perce-
be-se, de início, que os objetivos educacionais propostos 
nos currículos dos cursos apresentam confusos e desvincu-
lados da realidade social. Os conteúdos a serem trabalha-
dos, por sua vez, são definidos de forma autoritária, pois os 
professores, via re regra, não participam dessa tarefa. Nes-
sas condições, tendem a mostrar-se sem elos significativos 
com as experiências de vida dos alunos, seus interesses e 
necessidades. 
De modo geral, no meio escolar, quando se faz refe-
rência a planejamento do ensino – aprendizagem, este se 
reduz ao processo através do qual são definidos os ob-
jetivos, o conteúdo programático, os procedimentos de 
ensino, os recursos didáticos, a sistemática de avaliação 
da aprendizagem, bem como a bibliografia básica a ser 
consultada no decorrer de um curso, série ou disciplina 
de estudo. Com efeito, este é o padrão de planejamento 
adotado pela maioria dos professores e que passou a ser 
valorizado apenas em sua dimensão técnica. 
Em nosso entendimento a escola faz parte de um con-
texto que engloba a sociedade, sua organização, sua estru-
tura, sua cultura e sua história. Desse modo, qualquer pro-
jeto de ensino – aprendizagem está ligado a este contexto 
e ao modo de cultura que orienta um modelo de homem 
e de mulher que pretendemos formar, para responder aos 
desafios desta sociedade. Por esta razão, pensamos que é 
de fundamental importância que os professores saibam 
que tipo de ser humano pretendem formar para esta so-
ciedade, pois disto depende, em grande parte, as escolhas 
que fazemos pelos conteúdos que ensinamos, pela me-
todologia que optamos e pelas atitudes que assumimos 
diante dos alunos. De certo modo esta visão limitada ou 
potencializada o processo ensino-aprendizagem não de-
pende das políticas públicas em curso, mas do projeto de 
formação cultural que possui o corpo docente e seu com-
promisso com objeto de estudo. 
Como o ato pedagógico de ensino-aprendizagem 
constitui-se, ao longo prazo, num projeto de formação hu-
mana, propomos que esta formação seja orientada por um 
processo de autonomia que ocorra pela produção autôno-
ma do conhecimento, como forma de promover a demo-
cratização dos saberes e como modo de elaborar a crítica 
da realidade existente. 
Isto quer dizer que só há crítica se houver produção 
autônoma do conhecimento elaborado através de uma 
prática efetiva da pesquisa. Entendemos que é pela prática 
da pesquisa que exercitamos a reflexão sobre a realidade 
como forma de sistematizar metodologicamente nosso 
olhar sobre o mundo para podermos agir sobre os proble-
mas. Isto quer dizer que não pesquisamos por pesquisar e 
nem refletimos por refletir. Tanto a reflexão quanto à pes-
quisa são meiospelos quais podemos agir como sujeitos 
transformadores da realidade social. Isto indica que nosso 
trabalho, como professores, é o de ensinar a aprender para 
que o conhecimento construído pela aprendizagem seja 
um poderoso instrumento de combate às formas de injus-
tiças que se reproduzem no interior da sociedade. 
Piaget (1969), foi quem mais contribuiu para com-
preendermos melhor o processo em que se vivencia a 
construção do conhecimento no indivíduo. 
Apresentamos as ideias básicas de Piaget sobre o de-
senvolvimento mental e sobre o processo de construção 
do conhecimento, que são adaptação, assimilação e aco-
modação. 
Piaget diz que o indivíduo está constantemente intera-
gindo com o meio ambiente. Dessa interação resulta uma 
mudança contínua, que chamamos de adaptação. Com 
sentido análogo ao da Biologia, emprega a palavra adapta-
ção para designar o processo que ocasiona uma mudança 
contínua no indivíduo, decorrente de sua constante intera-
ção com o meio. 
Esse ciclo adaptativo é constituído por dois subproces-
sos: assimilação e acomodação. A assimilação está relacio-
nada à apropriação de conhecimentos e habilidade. O pro-
cesso de assimilação é um dos conceitos fundamentais da 
teoria da instrução e do ensino. Permite-nos entender que 
o ato de aprender é um ato de conhecimento pelo qual 
assimilamos mentalmente os fatos, fenômenos e relações 
17
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
do mundo, da natureza e da sociedade, através do estudo 
das matérias de ensino. Nesse sentido, podemos dizer que 
a aprendizagem é uma relação cognitiva entre o sujeito e 
os objetos de conhecimento. 
A acomodação é que ajuda na reorganização e na 
modificação dos esquemas assimilatórios anteriores do 
indivíduo para ajustá-los a cada nova experiência, acomo-
dando-as às estruturas mentais já existentes. Portanto, a 
adaptação é o equilíbrio entre assimilação e acomodação, 
e acarreta uma mudança no indivíduo. 
A inteligência desempenha uma função adaptativa, 
pois é através dela que o indivíduo coleta as informações 
do meio e as reorganiza, de forma a compreender melhor a 
realidade em que vive, nela agi, transformando. Para Piaget 
(1969), a inteligência é adaptação na sua forma mais eleva-
da, isto é, o desenvolvimento mental, em sua organização 
progressiva, é uma forma de adaptação sempre mais pre-
cisa à realidade. É preciso ter sempre em mente que Piaget 
usa a palavra adaptação no sentido em que é usado pela 
Biologia, ou seja, uma modificação que ocorre no indivíduo 
em decorrência de sua interação com o meio. 
Portanto, é no processo de construção do conhecimen-
to e na aquisição de saberes que devemos fazer com que 
o aluno seja motivado a desenvolver sua aprendizagem e 
ao mesmo tempo superar as dificuldades que sentem em 
assimilar o conhecimento adquirido. 
Referência:
MOTA, M. S. G.; PEREIRA, F. E. L. Desenvolvimento e 
Aprendizagem: Processo de construção do conhecimento 
e desenvolvimento mental do indivíduo. Disponível em: 
http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf3/tcc_desen-
volvimento.pdf
OS OBJETIVOS E CONTEÚDOS DE ENSINO
Libâneo, em seu livro “Didática”, aborda a relação entre 
os componentes do processo de ensino, determina a uni-
dade entre objetivos-conteúdos e destes com os métodos.
Os objetivos determinam de antemão os resultados 
esperados do processo entre o professor e aluno, deter-
minam também a gama de habilidades e hábitos a serem 
adquiridos. Já os conteúdos formam a base da instrução. O 
método por sua vez é a forma com que estes objetivos e 
conteúdos serão ministrados na prática ao aluno.
A importância dos objetivos educacionais
A prática educacional baseia-se nos objetivos por meio 
de uma ação intencional e sistemática para oferecer apren-
dizagem. Desta forma os objetivos são fundamentais para 
determinação de propósitos definidos e explícitos quanto 
às qualidades humanas que precisam ser adquiridas. Os 
objetivos têm pelo menos três referências fundamentais 
para a sua formulação.
1. Os valores e idéias ditos na legislação educacional.
2. Os conteúdos básicos das ciências, produzidos na 
história da humanidade.
3. As necessidades e expectativas da maioria da sociedade.
É importante destacar que estas três referências não 
devem ser tomadas separadamente, pois devem se apre-
sentar juntos no ambiente escolar. Devemos ter claro que o 
trabalho docente é uma atividade que envolve opções so-
bre nosso conceito de sociedade, pois isto vai determinar a 
relação com os alunos. Isto prova que sempre consciente-
mente ou não, temos ou traçamos objetivos.
Objetivos gerais e objetivos específicos
Os objetivos são o marco inicial do processo pedagó-
gico e social, segundo Libâneo. Os objetivos gerais expli-
cam-se a partir de três níveis de abrangência. O primeiro 
nível é o sistema escolar que determina as finalidades edu-
cativas de acordo com a sociedade em que está inserido; 
o segundo é determinado pela escola que estabelece as 
diretrizes e princípios do trabalho escolar; o terceiro nível é 
o professor que concretiza tudo isto em ações práticas na 
sala de aula.
Alguns objetivos educacionais podem auxiliar os pro-
fessores a determinar seus objetivos específicos e conteú-
dos de ensino. Entre estes objetivos educacionais desta-
cam-se: a) colocar a educação no conjunto de lutas pela 
democratização da sociedade; b) oferecer a todos as crian-
ças, sem nenhum tipo de discriminação cultural, racial ou 
política, uma preparação cultural e científica a partir do 
ensino das materiais; c) assegurar a estas crianças o desen-
volvimento máximo de suas potencialidades; d) formar nos 
alunos a capacidade crítica e criativa em relação a matérias 
e sua aplicação; e) formar convicções para a vida futura; f) 
institucionalizar os processos de participação envolvendo 
todas as partes formadoras da realidade escolar.
Os conteúdos de Ensino
Desde o início do livro, o autor vem reiterando a ideia 
que as escolas têm, como tarefa fundamental, a democra-
tização dos conhecimentos, garantindo uma base cultural 
para jovens e crianças. Sob este aspecto, muitos professo-
res fazem a ideia que os conteúdos são o conhecimento 
corresponde a cada matéria, ou mesmo, que são a matéria 
do livro didático. O autor fala que esta visão não é com-
plemente errada, pois há sempre três elementos no ensi-
no: matéria, professor e o aluno. Neste aspecto, devemos 
estudar o ensino dos conteúdos como uma ação recíproca 
entre a matéria, o ensino e o estudo dos alunos. Por isto é 
muito importante que os conteúdos tenham em si momen-
tos de vivências práticas para dar significado aos mesmos.
Definindo os conteúdos, eles são o conjunto de conhe-
cimentos, habilidades, hábitos, modos valorativos e atitu-
des, organizados pedagógica e didaticamente, buscando 
a assimilação ativa e aplicação prática na vida dos alunos.
Agora uma questão importante, apresentada no livro, 
é a de quem deve escolher os conteúdos de ensino? Certa-
mente, deve-se considerar que cabe ao professor, em últi-
ma instancia, esta tarefa. Nesta tarefa o professor enfrenta 
pelo menos dois questionamentos fundamentais: Que con-
teúdos e que métodos?
18
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Para responder a primeira pergunta, o autor diz que há 
três fontes para o professor selecionar os seus conteúdos 
do plano de ensino, a primeira é a programação oficial para 
cada disciplina; a segunda, conteúdos básicos das ciências 
transformados em matérias de estudo; a terceira, exigên-
cias teóricas práticas colocadas na vida dos alunos e sua 
inserção social.
Porém, a escolha do conteúdo vai além destas três 
exigências, para entendermos, tem-se que observá-las em 
outros sentidos. Um destes sentidos é a participação na 
prática social; outro sentido fundamental é a prática da 
vida cotidianodos alunos, da família, do trabalho, do meio 
cultural, fornecendo fatos a serem conectados ao estudo 
das matérias. O terceiro destes sentidos refere-se à própria 
condição de rendimento escolar dos alunos.
Nesta visão, há uma dimensão crítico-social dos con-
teúdos, e esta se manifesta no tratamento científico dado 
ao conteúdo, no seu caráter histórico, na intenção de vín-
culo dos conteúdos com a realidade da vida dos alunos. Em 
síntese, esta dimensão crítica-social dos conteúdos nada 
mais é do que uma metodologia de estudo e interpretação 
dos objetivos do ensino.
Na atual sociedade, apesar do que foi visto anterior-
mente, tem-se conteúdos diferentes para diversas esferas 
e classes sociais, estas diferenças ratificam os privilégios 
existentes na divisão de classes já estabelecida pelo siste-
ma capitalista. Neste sentido, os livros didáticos oferecidos 
no ensino das disciplinas, além de sistematizar e difundir 
conhecimentos, servem também para encobrir estas di-
ferenças, ou mesmo, escamotear fatos da realidade para 
evitar contradições com sua orientação sócio-cultural–po-
lítica. Com isto, o professor deve sempre analisar os textos 
e livros que vai usar com os alunos, no sentido de oferecer 
um ensino igualitário que possa olhar criticamente estas 
máscaras da sociedade.
Conhecer o conteúdo da matéria e ter uma sensibilida-
de crítica pode facilitar esta tarefa por parte do professor.
Critérios de seleção
Aqui, o autor propõe uma forma mais didática de re-
solver esta difícil tarefa de selecionar os conteúdos a serem 
ministrados em sala de aula. Abaixo, coloca-se esta forma 
ordenada de elaborar os conteúdos de ensino:
1. Correspondência entre os objetivos gerais e os con-
teúdos.
2. Caráter científico.
3. Caráter sistemático.
4. Relevância social.
5. Acessibilidade e solidez.
 
OS MÉTODOS DE ENSINO
Como já se viu anteriormente, os métodos são deter-
minados pela relação objetivo-conteúdo, sendo os meios 
para alcançar objetivos gerais e específicos de ensino. Tem-
-se, assim, que as características dos métodos de ensino: 
estão orientados para os objetivos, implicam numa suces-
são planejada de ações, requerem a utilização de meios.
Conceito de métodos de ensino
Um conceito simples de método é ser o caminho para 
atingir um objetivo. São métodos adequados para realizar 
os objetivos. É importante entender que cada ramo do co-
nhecimento desenvolve seus próprios métodos, observa-se 
então métodos matemáticos, sociológicos, pedagógicos, 
entre outros. Já ao professor em sala de aula cabe estimu-
lar e dirigir o processo de ensino utilizando um conjunto 
de ações, passos e procedimentos que chamamos também 
de método. Agora não se pode pensar em método como 
apenas um conjunto de procedimentos, este é apenas um 
detalhe do método. Portanto, o método corresponde à se-
qüência de atividades do professor e do aluno.
A relação objetivo-conteúdo-método
Um entendimento global sobre esta relação é que os 
métodos não têm vida sem os objetivos e conteúdos, dessa 
forma a assimilação dos conteúdos depende dos métodos 
de ensino e aprendizagem. Com isto, a maior característica 
deste processo é a interdependência, onde o conteúdo de-
termina o método por ser a base informativa dos objetivos, 
porém, o método também pode ser conteúdo quando for 
objeto da assimilação.
O que realmente importa é que esta relação de unida-
de entre objetivo-conteúdo–método constitua a base do 
processo didático.
Os princípios básicos do ensino
Estes princípios são os aspectos gerais do processo de 
ensino que fundamentam teoricamente a orientação do 
trabalho docente. Estes princípios também e fundamental-
mente indicam e orientam a atividade do professor rumo 
aos objetivos gerais e específicos. Estes princípios básicos 
de ensino são:
1. Ter caráter científico e sistemático – O professor deve 
buscar a explicação científica do conteúdo; orientar o estu-
do independente, utilizando métodos científicos; certificar-
-se da consolidação da matéria anterior antes de introduzir 
as matérias novas; organizar a seqüência entre conceitos e 
habilidades; ter unidade entre objetivos-conteúdos-méto-
dos; organizar a aula integrando seu conteúdo com as de-
mais matérias; favorecer a formação, atitudes e convicções.
2. Ser compreensível e possível de ser assimilado – Na 
prática, para se entender estes conceitos, deve-se: dosar o 
grau de dificuldade no processo de ensino; fazer um diag-
nóstico periódico; analisar a correspondência entre o nível 
de conhecimento e a capacidade dos alunos; proporcionar 
o aprimoramento e a atualização constante do professor.
3. Assegurar a relação conhecimento-prática – Para 
oferecermos isto aos alunos deve-se: estabelecer vínculos 
entre os conteúdos e experiências e problemas da vida prá-
tica; pedir para os alunos sempre fundamentarem aquilo 
que realizam na prática; mostrar a relação dos conheci-
mentos com o de outras gerações.
4. Assentar-se na unidade ensino-aprendizagem – ou 
seja, na prática: esclarecer os alunos sobre os objetivos das 
aulas, a importância dos conhecimentos para a seqüência 
19
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
do estudo; provocar a explicitação da contradição entre 
idéias e experiências; oferecer condições didáticas para o 
aluno aprender independentemente; estimular o aluno a 
defender seus pontos de vista e conviver com o diferen-
te; propor tarefas que exercitem o pensamento e soluções 
criativas; criar situações didáticas que ofereçam aplicar 
conteúdos em situações novas; aplicar os métodos de so-
luções de problemas.
5. Garantir a solidez dos conhecimentos
6. Levantar vínculos para o trabalho coletivo-particu-
laridades individuais, deve-se adotar as seguintes medidas 
para isto acontecer: explicar com clareza os objetivos; de-
senvolver um ritmo de trabalho que seja possível da tur-
ma acompanhar; prevenir a influência de particularidades 
desfavoráveis ao trabalho do professor; respeitar e saber 
diferenciar cada aluno e seus ritmos específicos.
Classificação dos métodos de ensino
Sabe-se que existem vários tipos de classificação de 
métodos, seguindo determinados autores, no nosso estu-
do, o autor define os métodos de ensino como estando 
intimamente ligados com os métodos de aprendizagem, 
sob este ponto de vista o eixo do processo é a relação cog-
noscitiva entre o aluno e professor. Pode-se diferenciar es-
tes métodos segundo suas direções, podendo ser externo 
e interno. A partir disto, o autor lista todos os métodos 
mais conhecidos de atividade em sala de aula por parte do 
professor.
1. Método de exposição pelo professor – Este método 
é o mais usado na escola, onde o aluno assume uma posi-
ção passiva perante a matéria explanada. Ele pode ser de 
vários tipos de exposição: verbal, demonstração, ilustração, 
exemplificação.
2. Método de trabalho independente – consiste em ta-
refas dirigidas e orientadas pelo professor para os alunos 
resolverem de maneira independente e criativa. Este méto-
do tem, na atitude mental do aluno, seu ponto forte. Tem 
também a possibilidade de apresentar fases com a tarefa 
preparatória, tarefa de assimilação de conteúdos, tarefa de 
elaborarão pessoal. Uma das formas mais conhecidas de 
trabalho independente é o estudo dirigido individual ou 
em duplas.
3. Método de elaboração conjunta – é um método de 
interação entre o professor e o aluno visando obter novos 
conhecimentos.
4. Método de trabalho de grupo – consiste em distri-
buir tarefas iguais ou não a grupos de estudantes, o autor 
cita de três a cinco pessoas. Têm-se também formas es-
pecíficas de trabalhos de grupos comuns: debate, Philips 
66, tempestade mental, grupo de verbalização, grupo de 
observação (GV-GO), seminário.
5. Atividades especiais – são aquelas que complemen-
tam os métodos de ensino.
Meios de ensinoSão todos os meios e recursos materiais utilizados pelo 
professor ou alunos para organizar e conduzir o ensino e 
a aprendizagem. Os equipamentos usados em sala de aula 
(do quadro-negro até o computador) são meios de ensino 
gerais possíveis de serem usados em todas as matérias. É 
importante que os professores saibam e dominem estes 
equipamentos para poderem usá-los em sala de aula com 
eficácia.
Fonte
LIBÂNEO. J. C. Didática. Cortez, 1994
2.1 ORGANIZAÇÃO DO PROCESSO DIDÁTICO: PLA-
NEJAMENTO, ESTRATÉGIAS E METODOLOGIAS, AVA-
LIAÇÃO. 
PLANEJAMENTO DE ENSINO 
E SEUS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS
Em se tratando da prática docente, faz- se necessário 
ainda mais desenvolver um planejamento. Neste caso, o 
ensino, tem como principal função garantir a coerência en-
tre as atividades que o professor faz com seus alunos e, 
além disso, as aprendizagens que pretende proporcionar 
a eles. Então, pode-se dizer que a forma de planejar deve 
focar a relação entre o ensinar e o aprender.
Dentro do planejamento de ensino, deve-se desenvol-
ver um processo de decisão sobre a atuação concreta por 
parte dos professores, na sua ação pedagógica, envolven-
do ações e situações do cotidiano que acontecem através 
de interações entre alunos e professores.
O professor que deseja realizar uma boa atuação do-
cente sabe que deve participar, elaborar e organizar planos 
em diferentes níveis de complexidade para atender, em 
classe, seus alunos. Pelo envolvimento no processo ensino-
-aprendizagem, ele deve estimular a participação do aluno, 
a fim de que este possa, realmente, efetuar uma aprendiza-
gem tão significativa quanto o permitam suas possibilida-
des e necessidades.
O planejamento, neste caso, envolve a previsão de 
resultados desejáveis, assim como também os meios ne-
cessários para os alcançar. A responsabilidade do mestre 
é imensa. Grande parte da eficácia de seu ensino depende 
da organicidade, coerência e flexibilidade de seu planeja-
mento.
O planejamento de ensino é que vai nortear o trabalho 
do professor e é sobre ele que far-se-á uma reflexão maior 
neste texto.
Fases do planejamento de ensino e sua importância no 
processo de ensino e aprendizagem
O planejamento faz parte de um processo constante 
através do qual a preparação, a realização e o acompanha-
mento estão intimamente ligados. Quando se revisa uma 
ação realizada, prepara-se uma nova ação num processo 
contínuo e sem cortes. No caso do planejamento de ensi-
no, uma previsão bem-feita do que será realizado em clas-
se, melhora muito o aprendizado dos alunos e aperfeiçoa a 
prática pedagógica do professor. Por isso é que o planeja-
mento deve estar “recheado” de intenções e objetivos, para 
que não se torne um ato meramente burocrático, como 
20
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
acontece em muitas escolas. A maneira de se planejar não 
deve ser mecânica, repetitiva, pelo contrário, na realização 
do planejamento devem ser considerados, combinados en-
tre si, os seguintes aspectos: 
1) Considerar os alunos não como uma turma homo-
gênea, mas a forma singular de apreender de cada um, seu 
processo, suas hipóteses, suas perguntas a partir do que já 
aprenderam e a partir das suas histórias; 
2) Considerar o que é importante e significativo para 
aquela turma. Ter claro onde se quer chegar, que recorte 
deve ser feito na História para escolher temáticas e que 
atividades deverão ser implementadas, considerando os 
interesses do grupo como um todo.
Para considerar os conhecimentos dos alunos é neces-
sário propor situações em que possam mostrar os seus co-
nhecimentos, suas hipóteses durante as atividades imple-
mentadas, para que assim forneçam pistas para a continui-
dade do trabalho e para o planejamento das ações futuras.
É preciso pensar constantemente para quem serve o 
planejamento, o que se está planejando e para quê vão 
servir as suas ações.
Algumas indagações auxiliam quando se está cons-
truindo um planejamento. Seguem alguns exemplos: 
- O que pretende-se fazer, por quê e para quem? 
- Que objetivos pretendem-se alcançar?
- Que meios/estratégias são utilizados para alcançar 
tais objetivos? 
- Quanto tempo será necessário para alcançar os obje-
tivos? 
- Como avaliar se os resultados estão sendo alcançados?
É a partir destas perguntas e respectivas respostas que 
são determinadas algumas fases dentro do planejamento: 
- Diagnóstico da realidade; 
- Definição do tema e Fase de preparação; 
- Avaliação.
Dentro desta perspectiva, Planejar é: elaborar – decidir 
que tipo de sociedade e de homem se quer e que tipo de 
ação educacional é necessária para isso; verificar a que dis-
tância se está deste tipo de ação e até que ponto se está 
contribuindo para o resultado final que se pretende; propor 
uma série orgânica de ações para diminuir essa distância 
e para contribuir mais para o resultado final estabelecido; 
executar – agir em conformidade com o que foi proposto; e 
avaliar – revisar sempre cada um desses momentos e cada 
uma das ações, bem como cada um dos documentos deles 
derivados”(GANDIN, 2005, p.23).
Fases do Planejamento
Diagnóstico da Realidade:
Para que o professor possa planejar suas aulas, a fim de 
atender as necessidades dos seus alunos, a primeira atitude 
a fazer, é “sondar o ambiente”. O médico antes de dizer 
com certeza o que seu paciente tem, examina-o, fazendo 
um “diagnóstico” do seu problema. E, da mesma forma, 
deve acontecer com a prática de ensino: o professor deve 
fazer uma sondagem sobre a realidade que se encontram 
os seus alunos, qual é o nível de aprendizagem em que 
estão e quais as dificuldades existentes. Antes de começar 
o seu trabalho, o professor deve considerar, segundo Turra 
et alii, alguns aspectos, tais como:
- as reais possibilidades do seu grupo de alunos, a fim 
de melhor orientar suas realizações e sua integração à co-
munidade;
- a realidade de cada aluno em particular, objetivando 
oferecer condições para o desenvolvimento harmônico de 
cada um, satisfazendo exigências e necessidades biopsi-
cossociais;
- os pontos de referência comuns, envolvendo o am-
biente escolar e o ambiente comunitário;
- suas próprias condições, não só como pessoa, mas 
como profissional responsável pela orientação adequada 
do trabalho escolar.
A partir da análise da realidade, o professor tem con-
dições de elaborar seu plano de ensino, fundamentado em 
fatos reais e significativos dentro do contexto escolar.
Definição do tema e preparação:
Feito um diagnóstico da realidade, o professor pode 
iniciar o seu trabalho a partir de um tema, que tanto pode 
ser escolhido pelo professor, através do julgamento da ne-
cessidade de aplicação do mesmo, ou decidido juntamente 
com os alunos, a partir do interesse deles. Planejar dentro 
de uma temática, denota uma preocupação em não frag-
mentar os conhecimentos, tornando-os mais significativos.
Na fase de preparação do planejamento são previstos 
todos os passos que farão parte da execução do trabalho, 
a fim de alcançar a concretização e o desenvolvimento dos 
objetivos propostos, a partir da análise do contexto da rea-
lidade. Em outras palavras, pode-se dizer que esta é a fase 
da decisão e da concretização das ideias.
A tomada de decisão é que respalda a construção do 
futuro segundo uma visão daquilo que se espera obter [...] 
A tomada de decisão corresponde, antes de tudo, ao esta-
belecimento de um compromisso de ação sem a qual o que 
se espera não se converterá em realidade. Cabe ressaltar 
que esse compromisso será tanto mais sólido, quanto mais 
seja fundamentado em uma visão crítica da realidade na 
qual nos incluímos. A tomada de decisão implica, portanto, 
nossa objetiva e determinada ação para tornar concretas as 
situações vislumbradas no plano das ideias.
Nesta fase, ainda, serão determinados, primeiramenteos objetivos gerais e, em seguida, os objetivos específicos. 
Também são selecionados e organizados os conteúdos, os 
procedimentos de ensino, as estratégias a serem utilizadas, 
bem como os recursos, sejam eles materiais e/ou humanos.
Avaliação
É por meio da avaliação que, segundo Lück, poder-se-
-á:
a) demonstrar que a ação produz alguma diferença 
quanto ao desenvolvimento dos alunos;
b) promover o aprimoramento da ação como conse-
quência de sugestões resultantes da avaliação. Além disso, 
toda avaliação deve estar intimamente ligada ao processo 
de preparação do planejamento, principalmente com seus 
21
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
objetivos. Não se espera que a avaliação seja simplesmen-
te um resultado final, mas acima de tudo, seja analisada 
durante todo o processo; é por isso que se deve planejar 
todas as ações antes de iniciá-las, definindo cada objetivo 
em termos dos resultados que se esperam alcançar, e que 
de fato possa ser atingível pelo aluno. As atividades devem 
ser coerentes com os objetivos propostos, para facilitar o 
processo avaliativo e devem ser elaborados instrumentos e 
estratégias apropriadas para a verificação dos resultados.
A avaliação é algo mais complexo ainda, pois está li-
gada à prática do professor, o que faz com que aumente a 
responsabilidade em bem planejar. Dalmás fala sobre ava-
liação dizendo que:
Assumindo conscientemente a avaliação, vive-se um 
processo de ação-reflexão-ação. Em outras palavras, parte-
-se do planejamento para agir na realidade sobre a qual se 
planejou, analisam-se os resultados, corrige-se o planejado 
e retorna-se à ação para posteriormente ser esta novamen-
te avaliada.
Como se pode perceber, a avaliação só vem auxiliar o 
planejamento de ensino, pois é através dela que se perce-
bem os progressos dos alunos, descobrem-se os aspectos 
positivos e negativos que surgem durante o processo e 
busca-se, através dela, uma constante melhoria na elabo-
ração do planejamento, melhorando consequentemente a 
prática do professor e a aprendizagem do aluno. Portanto, 
ela passa a ser um “norte” na prática docente, pois, “faz 
com que o grupo ou pessoa localize, confronte os resulta-
dos e determine a continuidade do processo, com ou sem 
modificações no conteúdo ou na programação”.
Importância do planejamento no processo de ensino e 
aprendizagem
Nos últimos anos, a questão de como se ensina tem se 
deslocado para a questão de como se aprende. Frequente-
mente ouvia-se por parte dos professores, a seguinte ex-
pressão: “ensinei bem de acordo com o planejado, o aluno 
é que não aprendeu”. Esta expressão era muito comum na 
época da corrente tecnicista, em que se privilegiava o en-
sino. Mas quando, ao passar do tempo, foi-se refletindo 
sobre a questão da construção do conhecimento, o ques-
tionamento foi maior, no sentido da preocupação com a 
aprendizagem.
No entanto, não se quer dizer aqui que só se deve pen-
sar na questão do aprendizado. Se realmente há a preocu-
pação com a aprendizagem, deve-se questionar se a forma 
como se planeja tem em mente também o ensino, ou seja, 
deve haver uma correlação entre ensino-aprendizagem.
A aprendizagem na atualidade é entendida dentro de 
uma visão construtivista como um resultado do esforço de 
encontrar significado ao que se está aprendendo. E esse 
esforço é obtido através da construção do conhecimento 
que acontece com a assimilação, a acomodação dos con-
teúdos e que são relacionados com antigos conhecimentos 
que constantemente vão sendo reformulados e/ou “rees-
quematizados” na mente humana.
Numa perspectiva construtivista, há que se levar em 
conta os conhecimentos prévios dos alunos, a aprendiza-
gem a partir da necessidade, do conflito, da inquietação e 
do desequilíbrio tão falado na teoria de Piaget. E é aí que 
o professor, como mediador do processo de ensino-apren-
dizagem, precisa definir objetivos e os rumos da ação pe-
dagógica, responsabilizando-se pela qualidade do ensino.
Essa forma de planejar considera a processualidade da 
aprendizagem cujo avanço no processo se dá a partir de 
desafios e problematizações. Para tanto, é necessário, além 
de considerar os conhecimentos prévios, compreender o 
seu pensamento sobre as questões propostas em sala de 
aula.
O ato de aprender acontece quando o indivíduo atua-
liza seus esquemas de conhecimento, quando os compara 
com o que é novo, quando estabelece relações entre o que 
está aprendendo com o que já sabe. E, isso exige que o 
professor proponha atividades que instiguem a curiosida-
de, o questionamento e a reflexão frente aos conteúdos. 
Além disso, ao propiciar essas condições, ele exerce um 
papel ativo de mediador no processo de aprendizagem do 
aluno, intervindo pedagogicamente na construção que o 
mesmo realiza.
Para que de fato, isso aconteça, o professor deve usar 
o planejamento como ferramenta básica e eficaz, a fim 
de fazer suas intervenções na aprendizagem do aluno. É 
através do planejamento que são definidos e articulados 
os conteúdos, objetivos e metodologias são propostas e 
maneiras eficazes de avaliar são definidas. O planejamento 
de ensino, portanto, é de suma importância para uma prá-
tica eficaz e consequentemente para a concretização dessa 
prática, que acontece com a aprendizagem do aluno.
Se de fato o objetivo do professor é que o aluno apren-
da, através de uma boa intervenção de ensino, planejar au-
las é um compromisso com a qualidade de suas ações e a 
garantia do cumprimento de seus objetivos.
Referência:
KLOSOUSKI, S. S.; REALI, K. M. Planejamento de Ensino 
como Ferramenta Básica do Processo Ensino-Aprendiza-
gem. UNICENTRO - Revista Eletrônica Lato Sensu, 2008.
2.2 A SALA DE AULA COMO ESPAÇO DE APRENDI-
ZAGEM E INTERAÇÃO. 
A gestão na sala de aula: uma perspectiva democrática
A gestão da educação, entendida como tomada de 
decisão, organização, direção e participação, acontece em 
todos os âmbitos da escola. Segundo Ferreira (2008), ela se 
desenvolve “fundamentalmente, na sala de aula, onde con-
cretamente se objetiva o projeto políticopedagógico não 
só como desenvolvimento do planejado, mas como fon-
te privilegiada de novos subsídios para novas tomadas de 
decisões”. Para Libâneo (2004), a concepção democrático-
-participativa implica a busca de objetivos comuns pela di-
reção, professores e demais profissionais da educação e a 
tomada coletiva de decisões que orienta cada um a assumir 
com responsabilidade sua parte na execução do acordo. 
Assim, a gestão em sala de aula, como um prolonga-
mento da gestão escolar, pressupõe um espaço onde, com 
a orientação do professor, possam ser produzidos, mani-
22
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
festados e experimentados comportamentos democrá-
ticos. Ou seja, nesse espaço, os sujeitos serão levados a 
agir de forma coletiva e comprometida com os interesses 
coletivos. Cabe aqui lembrar Paro (2007), quando afirma: 
“se estamos preocupados em formar cidadãos participa-
tivos, por meio da escola, precisamos dispor as relações e 
as atividades que aí se dão de modo a ‘marcar’ os sujeitos 
que por elas passam com os sinais da convivência demo-
crática”. 
A sala de aula é também o espaço no qual, em deter-
minado tempo, se lida com os acontecimentos de outros 
tempos e espaços, com as histórias de vida dos os sujeitos. 
A interação entre os grupos dependerá do professor, de 
sua forma democrática de mediar as situações, possibilitan-
do o crescimento de todos os integrantes do grupo. Atuan-
do com conhecimento, organizando o espaço de convívio, 
planejando o trabalho a ser realizado, mediando conflitos 
e estabelecendo a confiança mútua, o professor tem condi-
ções de criar situações propícias para a internalização dos 
conhecimentos por parte dos sujeitos e, ao mesmo tempo, 
possibilitar o desenvolvimentode cidadãos democráticos.
A gestão democrática supõe a redefinição do papel do 
educador. Neste caso, cabe-lhe o papel de influenciar seus 
alunos para o envolvimento com o trabalho pedagógico. 
Como o processo de ensino é intencional, o professor deve 
explicar aos alunos os objetivos dos conteúdos curriculares 
e da aula, mostrando a importância de eles serem atingi-
dos. 
Consideramos que o diálogo consentido, em que o 
aluno se compromete com a apropriação dos conhecimen-
tos, é uma forma de despertar nele a consciência de que 
aprender é uma ação que não se torna possível apenas 
pela ação do professor, mas também por sua vontade. O 
professor consciente, ao desenvolver seu trabalho, alme-
ja o desenvolvimento intelectual e moral de seus alunos e 
planeja ocasiões para que ele exerça a percepção crítica da 
realidade, já que a relação de ensino e aprendizagem com 
o educando deve favorecer a análise de valores necessários 
ao convívio social.
Nisso se inclui a necessidade de dar feedback e ampliar 
a capacidade perceptiva dos alunos, ou seja, “dar e pedir 
feedback constituem habilidades essenciais para regular-
mos nossos desempenhos e os das pessoas com quem 
convivemos, visando relações saudáveis e satisfatórias”. 
Isso exige, por parte do professor, saber ouvir e prestar 
atenção à fala e aos comportamentos dos alunos. O fee-
dback é, portanto, um mecanismo para retomar os con-
ceitos apreendidos, acrescentar, fazer adequações e cor-
reções. Enfim, o professor, em seu trabalho, deve alargar 
os horizontes dos alunos, possibilitando-lhes uma visão 
ampliada da realidade.
De nossa perspectiva, para que isso ocorra, tanto a es-
cola deve ser organizada de forma democrática, quanto ar-
ticulada com a construção de uma sociedade democrática, 
o que implica dizer que uma sociedade democrática passa, 
dentre outras coisas, pelo compromisso com a educação e 
com a aprendizagem do aluno. A transformação das práti-
cas escolares pelo processo da gestão participativa, na qual 
o aluno é sujeito das decisões e das ações que se realizarão 
pautadas em tais decisões, proporciona maiores possibili-
dades para o desenvolvimento de uma vivência coletiva e 
de uma a prática social democrática.
A aprendizagem, razão do trabalho escolar, apesar de 
ser um processo individual, acontece quando o aluno é 
capaz de interagir socialmente e, com base nessa relação, 
construir seus conhecimentos. Desse modo, a aprendiza-
gem da vivência social democrática, tendo início na escola, 
mais especificamente na sala de aula, poderia instigar os 
alunos a compartilhar experiências, relacionando-se com 
posicionamento diferentes ou mesmo divergentes.
Outro aspecto ainda deve ser considerado na discus-
são sobre a gestão da sala de aula: não é possível atuar 
no interior da escola, especialmente no que diz respeito 
ao ensino e aprendizagem, sem se comprometer com a 
educação do aluno, já que o ato de ensinar, com tudo o 
que lhe é próprio - planejar, executar, verificar - “[...] é uma 
prática humana que compromete moralmente quem a rea-
liza”. Toda prática pedagógica implica um relacionamento 
intencional do professor com os alunos e dos alunos com 
o conhecimento, de forma que as atividades de ensino-
-aprendizagem resultem da interação dos sujeitos entre si 
e com o objeto do conhecimento. Assim, o trabalho na sala 
de aula requer do professor o compromisso e a ética para 
com os alunos e suas famílias, pois só assim será possível 
instrumentalizá-los para uma participação mais efetiva na 
sociedade.
A organização da sala de aula para a condução do tra-
balho didático, especialmente no que se refere à relação 
humana e à produção de conhecimento, exige do profes-
sor, além do domínio dos conteúdos programáticos, algu-
mas condições e atitudes mínimas, como autenticidade, 
cooperação, determinação, solidariedade e respeito mú-
tuo, enfim, comportamentos considerados democráticos. 
Isto porque, do nosso ponto de vista, a postura do profes-
sor será um argumento capaz de convencer o educando 
sobre a importância da escola e do trabalho ali desenvol-
vido para sua vida.
A gestão e a organização da sala de aula dependem da 
construção de regras e procedimentos coletivos, do acom-
panhamento e da mediação dos comportamentos. Desta 
maneira, é possível que a ordem seja alcançada na sala de 
aula, de modo a favorecer as atividades de ensino-apren-
dizagem. Também a adequação do espaço, para que os 
alunos construam o conhecimento, requer o envolvimento 
de todos e depende da forma como o professor realiza a 
gestão da sala de aula. Portanto, a aprendizagem dos con-
teúdos científicos e da vivência no contexto da escola não 
prescinde do diálogo e da tomada de decisões pelo con-
junto dos sujeitos envolvidos no processo.
Consideramos que, quando o professor planeja suas 
atividades, ele dispõe de maiores condições para assegurar 
a qualidade do trabalho pedagógico. O papel do profes-
sor é proporcionar condições para que o conhecimento 
seja adquirido pelo aluno e, para isso, ele deve administrar 
bem o tempo e o espaço escolar (o ritmo, as intervenções/
participações, os imprevistos, os obstáculos), selecionar os 
objetivos e as atividades curriculares, dosar os conteúdos 
e construir a convivência, sem jamais excluir os alunos que 
23
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
criam situações de conflito, que devem ser consideradas 
como uma oportunidade de aprendizagem, desde que se 
saiba tirar proveito delas. 
O fazer em sala de aula envolve, ainda, antecipação, 
ou seja, a previsão do tempo para o desenvolvimento do 
trabalho em todas as etapas. Todas as atividades requerem 
a atenção e o acompanhamento do professor, que deve 
organizar e sequenciar os conteúdos, prevendo o tempo 
para a realização das atividades. 
A ação educativa se caracteriza pela intencionalidade 
de garantir a construção de conhecimentos amplos e di-
versificados e, por isso, pode ser entendida como gestão. O 
ato de ensinar é, também, uma ação administrativa, já que 
envolve planejamento, organização e coordenação. Segun-
do a nova concepção de gestão, o professor não abdica 
de sua autoridade, pelo contrário, faz uso dela, de forma 
democrática, para que os alunos ascendam a um nível ele-
vado de assimilação dos conhecimentos sistematizados.
A gestão da escola é um compromisso que exige dire-
tividade para se executar o que se planejou e alcançar os 
objetivos estabelecidos no Projeto Político Pedagógico da 
escola. Na sala de aula, o professor dá continuidade ao que 
foi definido coletivamente, realizando um trabalho que re-
quer tanto solidariedade em compartilhar poder e respon-
sabilidades, quanto capacidade de decisão. No entanto, 
para desempenhar essas funções, seja na sala de aula seja 
no âmbito mais amplo da instituição escolar, da organiza-
ção e gestão do trabalho escolar, o professor necessita ter 
conhecimentos sobre esse aspecto da educação.
Com base nos dados acima, poderíamos concluir que 
a gestão democrática, ao mesmo tempo em que reflete a 
oposição ao centralismo e ao autoritarismo, traz novos de-
safios para a organização e gestão do trabalho escolar e 
pedagógico. 
Para construirmos uma gestão verdadeiramente de-
mocrática é necessário, do ponto de vista da organização 
e gestão do trabalho escolar, não só nos envolvermos na 
discussão, no diálogo, na tomada de decisões e nas ações 
coletivas, mas também visarmos os interesses coletivos. 
Dentro dessa concepção de organização do trabalho pe-
dagógico, para criar oportunidades para a transmissão e 
apropriação dos conhecimentos historicamente produzi-
dos, é necessário que os profissionais da educação tenham 
clareza das finalidades da educação e dos objetivos que 
deverão nortear seu trabalho. Só assim a escola cumprirá 
sua função para com a sociedade.
Para Saviani (2008), “é preciso,pois, resgatar a impor-
tância da escola e reorganizar o trabalho educativo, levan-
do em conta o problema do saber sistematizado, a partir 
do qual se define a especificidade da educação escolar”. 
No entanto, essa reorganização escolar, que deveria 
assegurar aos alunos o acesso ao conhecimento científico 
e à cultura socialmente produzida, depende da atuação de 
todos os setores da escola, orientados e incentivados pelo 
diretor, como gestor democrático. 
Quanto à sala de aula, o professor gestor tem que ser 
um profissional comprometido com o que foi estabelecido 
pelo coletivo da escola e, ao mesmo tempo, ser capaz de 
construir o espaço adequado à aprendizagem dos conteú-
dos. 
Segundo Libâneo (1993), o ensino pode ser definido 
como uma atividade conjunta de professores e alunos e 
que, sob a direção dos professores, tem a finalidade de 
promover condições e meios para que os alunos possam 
assimilar conhecimentos, habilidades, atitudes e convic-
ções. Isto implica que o ato educativo, como o trabalho 
pedagógico, não pode ser neutro, pois, se assim o for, tor-
na-se uma prática sem compromisso com a promoção do 
educando, ou seja, reduz-se à mera transmissão de conteú-
dos de ensino. 
Assim, o trabalho pedagógico na sala de aula deve ter 
articulação com o projeto pedagógico da escola e com um 
projeto social mais amplo, ou seja, sem perder de vista o 
tipo de sociedade que se quer construir. 
Cabe ao professor, por meio do exercício da demo-
cracia no cotidiano da relação de ensino e aprendizagem, 
promover a efetivação de uma prática dialógica, baseada 
em valores universais e de cidadania. Nesta perspectiva, 
podemos dizer que a ação educativa orienta-se pela in-
tencionalidade de garantir a construção de conhecimentos 
amplos e diversificados, podendo ser entendida como ges-
tão. Como já afirmamos, o ato de ensinar é, também, uma 
ação administrativa e, portanto, requer do professor uma 
tomada de decisão tanto na realização do planejado quan-
to na organização do espaço e na condução do processo 
de ensino. 
Para que os conteúdos sejam assimilados pelos alunos, 
a disciplina é fator primordial. Isso requer que o professor, 
ao planejar a aula, selecione e organize de forma intencio-
nal e sistemática os procedimentos que irá utilizar. Dessa 
forma, ele orienta a conduta que os alunos devem adotar 
para desenvolver as atividades de ensino-aprendizagem, 
de forma a garantir a apropriação do saber sistematizado. 
Segundo Machado, a investigação tradicional sobre o 
ensino não se preocupava tanto com a gestão e a orga-
nização da sala de aula. No entanto, “atualmente, debru-
ça-se não só sobre o modo como a ordem é estabelecida 
e mantida, como também sobre os processos que contri-
buem para o seu estabelecimento, tais como a planificação 
e organização das aulas, o uso e distribuição de recursos, 
o estabelecimento e explicitação das regras, a reação ao 
comportamento individual e de grupo, o enquadramento 
em que esta é atingida”. 
Para a autora, essa preocupação decorre do fato de que 
é na sala de aula que se desenvolve a maior parte do pro-
cesso ensino-aprendizagem, processo que, segundo ela, 
apresenta duas tarefas estruturais: aprendizagem e ordem. 
“A aprendizagem, de natureza individual, concretiza-se 
através da instrução, tendo por referência um currículo que 
os alunos devem dominar, persistindo nos seus esforços 
para aprender”. De acordo com Doyle, “a ordem realiza-se 
pela função de gestão, isto é, pela organização de grupos 
na sala, estabelecimento de regras e procedimentos, rea-
gindo ao mau comportamento, monitorizando e ritmando 
os acontecimentos da sala de aula”. Assim, estas duas ta-
refas estruturais do ensino, na prática, não se separam, o 
que significa que, “uma boa gestão e organização da sala 
de aula é uma condição para que a aprendizagem possa 
ocorrer, dado que o envolvimento dos alunos no trabalho 
24
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
está relacionado com a forma como os professores gerem 
as estruturas da sala de aula, mais do que com a forma 
como lidam com comportamentos individuais”.
Outro aspecto a ser ressaltado é que a aprendizagem 
da vivência democrática se inicia na escola, mais especifi-
camente na sala de aula, pois é no trabalho cotidiano com 
os alunos que os princípios democráticos se instauram e se 
reafirmam. 
Entendemos que estabelecer uma melhor comunica-
ção com os alunos e suas famílias viabilizará a definição 
dos objetivos da instituição escolar, já que estes orientarão 
o trabalho de todos os componentes da escola e também o 
que ocorrerá na sala de aula, local onde se concretizam os 
objetivos propostos no Projeto Político Pedagógico. Como 
a escola é o ambiente que vai formar o educando para 
as atitudes necessárias à sua participação em sociedade, 
a realização dos objetivos estabelecidos no P.P.P. requer 
o envolvimento de todos, especialmente dos alunos. Des-
se modo, consideramos que o grêmio estudantil, quando 
bem orientado, pode favorecer a organização dos alunos, 
construindo novas relações e promovendo a conscientiza-
ção, fatores que contribuem para o bom andamento das 
atividades na escola e na sala de aula. 
Além disso, devem-se promover reuniões periódicas 
com o Conselho Escolar, para verificação das necessida-
des da escola e análise do cumprimento do cronograma 
estabelecido, tendo em vista a consecução dos objetivos 
propostos pelo coletivo da escola no Projeto Político Pe-
dagógico. 
A prática democrática, no entanto, abarca aspectos 
muito diferentes e a sua realização não depende apenas da 
escola e dos educadores. Embora os professores precisem 
buscar construir o espaço necessário ao desenvolvimento 
de seu trabalho, não compete só a eles forjar essas condi-
ções. Não podemos simplesmente culpar o professor, que 
já tem sido penalizado pela situação em que se encontra a 
educação. As práticas docentes, para serem transformado-
ras, precisam do respaldo de políticas educacionais com-
prometidas com o conjunto da sociedade, da qual profes-
sores e alunos fazem parte. 
A concretização de uma escola pública democrática, 
como fator indispensável à realização de um ensino de qua-
lidade, exige condições de trabalho para os professores. A 
valorização do professor compreende salários adequados, 
menor número de alunos em sala de aula, remuneração 
das horas dedicadas ao acompanhamento e recuperação 
dos alunos em defasagem de conteúdos, maior apoio da 
direção, acompanhamento do trabalho pela equipe peda-
gógica e maior integração família e escola. 
Apesar do esforço para que a escola se preserve como 
instituição importante para a sociedade, consideramos que 
os resultados verificados correspondem às condições que fo-
ram oportunizadas aos professores. Assim, compartilhamos 
o mesmo ponto de vista de Pimenta. De acordo com ela:
Podemos dizer que o trabalho docente é uma práxis 
em que a unidade teoria se caracteriza pela ação reflexão 
– ação [...] Este pensar reflete o ser humano enquanto ser 
histórico, ou seja, o pensar do professor é condicionado 
pelas possibilidades e limitações pessoais, profissionais e 
do contexto em que atua.
Apesar dos limites e dificuldades, as mudanças educa-
tivas dependem dos múltiplos fatores que atuam de forma 
sistemática. No entanto, para finalizar, vale lembrar que 
“reconhecer o caráter sistemático não significa que seja 
necessário ou possível modificar tudo ao mesmo tempo. 
Significa antes que, em determinado momento, é preciso 
responsabilizar-nos pelas consequências da modificação 
de um elemento especifico sobre os restantes fatores”.
Referência:
STEDILE, M. I. O professor como gestor da sala de aula. 
UEM, 2008.
2.3 A DIDÁTICA COMO FUNDAMENTO EPISTEMO-
LÓGICO DO FAZER DOCENTE.
Conceituando Didática
A palavra didática vem do grego (techné didaktiké),que se pode traduzir como arte ou técnica de ensinar. A 
didática é a parte da pedagogia que se ocupa dos métodos 
e técnicas de ensino, destinados a colocar em prática as 
diretrizes da teoria pedagógica. A didática estuda os di-
ferentes processos de ensino e aprendizagem. O educa-
dor Jan Amos Komenský, mais conhecido por Comenius, 
é reconhecido como o pai da didática moderna, e um dos 
maiores educadores do século XVII.
A palavra “didática” se encontra inserida a uma expres-
são grega que se traduz por técnica de ensinar. É interes-
sante conhecer que desde uma perspectiva etimológica a 
palavra “didática” na sua língua de origem, destacava a rea-
lização lenta de um acionar através do tempo, própria do 
processo de instruir. O vocábulo didático aparece quando 
os adultos começam a intervir na atividade de aprendiza-
gem das crianças e jovens através da direção deliberada e 
planejada do ensino – aprendizagem.
O termo “didático” aparece somente quando há a in-
tervenção intencional e planejada no processo de ensino-
-aprendizagem, deixando de ser assim um ato espontâneo.
A escola se torna assim, um local onde o processo de 
ensino passa a ser sistematizado, estruturando o ensino de 
acordo com a idade e capacidade de cada criança. O res-
ponsável pela “teorização” da didática será Comênio:
A formação da teoria da didática para investigar as li-
gações entre ensino aprendizagem e suas leis ocorre no 
século XVII, quando João Amós Comênio (1592-1670), um 
pastor protestante, escreve a primeira obra clássica sobre 
didática, a Didática Magna (LIBÂNEO, 1994).
Foi o primeiro educador a formular a ideia da difu-
são dos conhecimentos educativos a todos, criou regras 
e princípios de ensino, desenvolvendo um estudo sobre a 
didática. Suas ideias eram calcadas na visão ética religiosa, 
mesmo assim eram inovadoras para a época e se contrapu-
nham ás ideias conservadoras da nobreza e do clero, que 
exerciam uma grande influência naquele período. Algu-
mas das principais características da didática de Comênio, 
segundo Libâneo (1994) eram de que a educação era um 
elo que conduzia a felicidade eterna com Deus, portanto, a 
educação é um direito natural de todos, a didática deveria 
25
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
estudar características e métodos de ensino que respeitem 
o desenvolvimento natural do homem, a idade, as percep-
ções, observações; deveria também ensinar uma coisa de 
cada vez, respeitando a compreensão da criança, partindo 
do conhecido para o desconhecido.
As ideias de Comênio, infelizmente não obtiveram re-
percussão imediata naquela época (século XVII), o mode-
lo de educação que prevalecia era o ensino intelectualis-
ta, verbalista e dogmático, os ensinamentos do professor 
(centro do ensino) eram baseados na repetição mecânica 
e memorização dos conteúdos, o aluno não deveria parti-
cipar do processo, o ensino separava a vida da realidade.
Com o passar dos anos e o desenvolvimento da so-
ciedade, da ciência e dos meios de produção, o clero e a 
nobreza foram perdendo aos poucos seus “poderes”, en-
quanto crescia o da burguesia. Essas transformações fize-
ram crescer a necessidade de um ensino ligado ás exigên-
cias do mundo atual, que contemplasse o livre desenvol-
vimento das capacidades e dos interesses individuais de 
cada um.
Jean Jacques Rousseau (1712–1778) foi um pensador 
que percebeu essas novas necessidades e propôs uma 
nova concepção de ensino, baseada nos interesses e ne-
cessidades imediatas da criança, sendo esse o centro de 
suas ideias.
Enquanto Comênio, ao seguir as “pegadas da nature-
za”, pensava em “domar as paixões das crianças”, Rousseau 
parte da ideia da bondade natural do homem, corrompido 
pela sociedade.
Veiga diz que “[...] dessa forma não se poderia pensar 
em uma prática pedagógica, e muito menos em uma pers-
pectiva transformadora na educação”. A metodologia de 
ensino (didática) era entendida somente como um conjun-
to de regras e normas prescritivas que visam a orientação 
do ensino e do estudo.
Após os jesuítas não ocorreram no país grandes mo-
vimentos pedagógicos, a nova organização instituída por 
Pombal representou pedagogicamente, um retrocesso no 
sistema educativo, pois professores leigos começaram a 
ser admitidos para ministrar “aulas-régias”, introduzidas 
pela reforma pombalina.
Para Veiga dada a predominância da influência da pe-
dagogia nova na legislação educacional e nos cursos de 
formação para o magistério, o professor absorveu seu 
ideário.
Segundo Libâneo (1994) “um entendimento crítico da 
realidade através do estudo das matérias escolares...”, e 
assim os alunos podem expressar de forma elaborada os 
conhecimentos que correspondem aos interesses prioritá-
rios da sociedade e inserir-se ativamente nas lutas sociais, 
ou seja, defender seus ideais de acordo com sua realidade.
Comênio acreditava poder definir um método capaz 
de ensinar tudo a todos, ou como ele cita em sua obra “a 
arte de ensinar tudo a todos” e esclarece:
A proa e a popa de nossa Didática será investigar e 
descobrir o método segundo o qual os professores ensi-
nem menos e os estudantes aprendam mais: nas escolas 
haja menos barulho, menos enfado, menos trabalho inú-
til, e, ao contrário, haja mais recolhimentos, mais atrativo e 
mais sólido progresso; na Cristandade, haja menos trevas, 
menos confusão, menos dissídios, e mais luz, mais ordem, 
mais paz, mais tranquilidade.
De certo modo podemos dizer que a Didática é uma 
ciência cujo objetivo fundamental é ocupar-se das estraté-
gias de ensino, das questões práticas relativas à metodolo-
gia e das estratégias de aprendizagem.
Ao longo do estudo sobre o processo de ensino na es-
cola podemos observar a relação entre o ensino e a apren-
dizagem através da atividade do professor em relação a do 
aluno. Desta forma a didática se manifesta no contexto de 
se organizar o ensino; de maneira que se tracem os objeti-
vos, estipulando os métodos a serem seguidos e planejan-
do as ações conjuntas dentro da escola.
Dentro dessa perspectiva percebemos que “a atividade 
de ensinar é vista, comumente, como transmissão de ma-
téria aos alunos, realização de exercícios repetitivos, me-
morização de definições e fórmulas”. Essa caracterização 
de ensino é vista em muitas escolas em que o professor é o 
elemento ativo que fala, interpreta e transmite o conteúdo; 
levando ao aluno à tarefa de reproduzir mecanicamente 
o que absorveu; o que na visão de Libâneo é chamado de 
“ensino tradicional”.
Concordamos com o autor quando diz que o professor 
não proporcionar através desse método o desenvolvimen-
to individual de conhecimento; com isso é observável que 
o livro didático é feito para ser vencido, o trabalho do pro-
fessor fica restrito às paredes de sala de aula, a realidade; 
assim como o nível e condições que o aluno é submetido 
para chegar até o conhecimento não são levados em conta.
Nesse contexto a Didática é de extrema importância 
para um bom funcionamento e desenvolvimento do traba-
lho na escola de forma que ela organiza e planeja as ativi-
dades do professor em relação aos alunos visando alcan-
çar seus objetivos, desenvolvimento de habilidades; como 
também hábitos e o conhecimento intelectual.
A didática como fator de qualidade no processo de ensi-
no e aprendizagem
O processo de ensino deve ter como ponto de partida 
o nível de conhecimento, as experiências que proporcio-
nam uma transmissão progressiva das capacidades cogniti-
vas como intelectuais; o que liga o ensino à aprendizagem. 
Nesse contexto a história da Didática e a prática escolar 
presente tende a separar os conteúdos de ensino do de-
senvolvimento de capacidades e habilidades; configuradas 
também como aspecto material e formal do ensino. Desta 
forma percebemos que o ensino une dois aspectos pelo 
fato de que a assimilaçãode conteúdos requer desenvolvi-
mento de capacidades e habilidades cognoscitivas.
É importante ressaltar que o processo de ensino faz a 
interação entre dois momentos fundamentais: a transmis-
são e assimilação ativa tanto de conhecimentos quanto de 
habilidades. Com isso cabe ao professor a tarefa de ensinar 
de modo que se tenha organização didática dos conteúdos 
que venha a promover condições assimiláveis de aprendi-
zagem; de forma que ele controle e avalie as atividades. 
Nesse sentido, Planejamento de ensino é o processo de 
26
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
decisão sobre atuação concreta dos professores, no coti-
diano de seu trabalho pedagógico, envolvendo as ações e 
situações, em constantes interações entre professor e alu-
nos e entre os próprios alunos. 
O professor, portanto, planeja, controla, facilita e orien-
ta o processo de ensino; de maneira que estimula o de-
senvolvimento de atividades próprias dos alunos para a 
aprendizagem.
Essa interação de acordo com o autor é que promove 
a situação de ensino aprendizagem; ela é denominada de 
“aprendizagem organizada” por ter uma finalidade especi-
fica onde as atividades são organizadas intencionalmente, 
com planejamento e de forma sistemática. Porém há por 
outro lado a “aprendizagem casual” definida como uma 
forma espontânea que surge naturalmente da interação 
entre pessoas com o meio; isto é ressaltado pelo fato de 
que a observação, experiência e acontecimentos do coti-
diano proporcionam também aprendizagem e que isto 
deve ser observado pelo professor de forma que se possa 
utilizar didaticamente.
A aprendizagem escolar também está vinculada com 
a motivação dos alunos tanto para atender necessidades 
orgânicas ou sócias; quanto para atender exigências da 
escola, da família e até mesmo dos colegas. Essa aprendi-
zagem resulta da reflexão proporcionada pela percepção 
prático-sensorial e pelas ações mentais que caracterizam 
o pensamento, estes vão sendo formados de acordo com 
a organização lógica e psicológica das matérias de ensino, 
sendo que nos remete a ideia de que o desenvolvimento 
escolar é progressivo, ou seja, a aprendizagem é um pro-
cesso contínuo de desenvolvimento.
Segundo Libâneo: A didática, assim, oferece uma con-
tribuição indispensável à formação dos professores, sinte-
tizando no seu conteúdo a contribuição de conhecimentos 
de outras disciplinas que convergem para o esclarecimento 
dos fatores condicionantes do processo de instrução e en-
sino, intimamente vinculado com a educação e, ao mesmo 
tempo, provendo os conhecimentos específicos necessá-
rios para o exercício das tarefas docentes.
Castro, afirma a importância da didática dizendo:
Pois é certo que a didática tem uma determinada con-
tribuição ao campo educacional, que nenhuma outra disci-
plina poderá cumprir. E nem a teoria social ou a econômica, 
nem a cibernética ou a tecnologia do ensino, nem a psico-
logia aplicada à educação atingem o seu núcleo central: o 
Ensino.
A didática é uma disciplina que complementa todas as 
outras, sendo interdisciplinar, pois será a “a essência” para 
que o professor procure a melhor forma de desenvolver 
seu método de ensino. Podemos perceber que é clara a 
importância da didática na formação docente, no entanto, 
notamos que no desenvolver histórico desta profissão, a 
didática não obteve (e ainda não têm) esta mesma relevân-
cia, e quando ministrada só alteava sua distorção e visão 
técnica, acentuando a distância entre teoria e prática.
A didática é uma disciplina fundamental na formação 
do educador, pois, prepararão o futuro professor a estar 
capacitado a trabalhar na sala de aula, uma vez que ele 
dominará os conteúdos científicos e práticos, e principal-
mente já estará diante da realidade de sala de aula para 
poder perceber se o que aprende é realmente válido ou 
não, e poder questionar e cobrar seus aprendizados em 
sala de aula.
Referência:
AMANDA, ALESSANDRA. A Didática como Fator de 
Qualidade no Processo de Ensino Aprendizagem. Texto 
disponível em: 
http://www.editorarealize.com.br/revistas/fiped/traba-
lhos/Trabalho_Comunicacao_oral_idinscrito_1527_6e4e9e-
d0364cf72866c1c7293edfca21.pdf
A DIDÁTICA COMO DISCIPLINA NA FORMAÇÃO 
DO PROFESSOR
Considerada uma ciência que estuda os saberes ne-
cessários à prática docente a Didática é um dos principais 
instrumentos para a formação do professor, pois é nela que 
se baseiam para adquirir os ensinamentos necessários para 
a prática. De acordo com Libâneo (1990, p. 26) “a didática 
trata da teoria geral do ensino”. Como disciplina é entendi-
da como um estudo sistematizado, intencional, de investi-
gação e de prática (LIBÂNEO, 1990). 
Ainda, nesta mesma linha de pensamento, Pimenta et 
al (2013, p.146), diz que: A didática, como área da pedago-
gia, estuda o fenômeno ensino. As recentes modificações nos 
sistemas escolares e, especialmente, na área de formação de 
professores configuram uma “explosão didática”. Sua ressig-
nificação aponta para um balanço do ensino como prática 
social, das pesquisas e das transformações que têm provoca-
do na prática social de ensinar. 
Masetto (1997, p. 13), infere que “a didática como re-
flexão é o estudo das teorias de ensino e aprendizagem 
aplicadas ao processo educativo que se realiza na escola, 
bem como dos resultados obtidos”. 
Portanto, estudar Didática no Ensino Superior, não sig-
nifica acumular informações sobre as práticas e técnicas do 
processo de ensino e aprendizagem, mas sim acrescentar 
em cada sujeito a capacidade crítica em questionar e fazer 
reflexão sobre as informações adquiridas ao longo de todo 
processo de ensino-aprendizado. Veiga (2010) diz que é 
preciso “tornar o ensino da Didática mais atraente e respal-
dado nos resultados das investigações envolvendo alunos 
em processo de formação”. 
Para Rios (2001) “tratar o fenômeno do ensino como 
uma totalidade concreta, buscar suas determinações, pen-
sá-lo em conexão com outras práticas sociais é o que se 
espera fazer, do ponto de vista de uma concepção crítica 
do trabalho da didática”. 
Por muito tempo ensinar era nada mais do que ter con-
teúdos para transmitir para os alunos, e estes eram consi-
derados seres sem luz, incapazes de construir conhecimen-
tos próprios. 
Diz Martins, “historicamente, é muito comum ouvir 
nos meios educacionais, sobretudo entre alunos, afirma-
ções como: “aquele professor não tem didática...”; “ele tem 
conhecimento, mas não sabe comunicar”; “o professor co-
nhece o assunto da sua matéria, mas não sabe transmitir”. 
27
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
E acrescenta adiante “a didática é usualmente vista como 
sinônimo de métodos e técnicas de ensino e, mais que isso, 
que a escola é tida como a instituição que transmite conhe-
cimentos” (2006, p. 75-76). 
 Contudo, o modo de atuar educacionalmente, requer 
adequações ao mundo atual e suas transformações ágeis 
que não permitem a estagnação, o que cobra do professor 
uma posição dinâmica frente ao processo educacional. 
 Segundo Veiga (2004): 
Enfatizar o processo didático da perspectiva relacional 
significa analisar suas características a partir de quatros di-
mensões: ensinar, aprender, pesquisar e avaliar. O processo 
didático, assim, desenvolve-se mediante a ação reciproca e 
interdisciplinar das dimensões fundamentais. Integram-se, 
são complementares. 
 
Pimenta et al (2013), também descreve a nova postura 
da didática diante da importância na formação profissional 
quando enfatiza que: 
[...] didática é, acima de tudo, a construção de conheci-
mentos que possibilitem a mediação entre o que é preciso 
ensinar e o que é necessário aprender; entre o saber estrutu-
rado nas disciplinas e o saber ensinável mediante as circuns-
tâncias e os momentos; entre as atuais formas de relação 
como saber e as novas formas possíveis de reconstruí-las. 
A Didática integra diversas dimensões que buscam 
uma ligação entre os pares que correspondem ao chama-
do “triangulo didático”. Para Libâneo (2012, p. 1), “os ele-
mentos integrantes do triângulo didático – o conteúdo, o 
professor, o aluno, as condições de ensinoaprendizagem 
- articulam-se com aqueles socioculturais, linguísticos, éti-
cos, estéticos, comunicacionais e midiáticos”. 
Veiga (1989, p. 22), sobre a importância da Didática no 
currículo do professor diz que “o papel fundamental da Di-
dática no currículo de formação de professor é o de ser 
instrumento de uma prática pedagógica reflexiva e crítica, 
contribuindo para a formação da consciência crítica”. 
E, diante desta interação, percebe-se que a construção 
de novos conhecimentos acontece de forma paralela à re-
lação professor-aluno, visto que este traz para o cotidiano 
escolar sua experiência do contexto social em que vive e, 
com a ajuda mediadora do professor que deve conhecê-lo 
enquanto ser social considerando seus conhecimentos pré-
vios, e ajudando-o, assim, a transformar essas vivências em 
conhecimentos relevantes dotados de significados. 
Articular teoria e prática, uma relação necessária. 
A formação do educador exige uma inter-relação entre 
a teoria e a prática, sendo que a teoria se ocupa da pes-
quisa unindo-se com os problemas reais que surgem na 
prática e, esta, por sua vez, se determina pela teoria. 
De acordo com Guimarães (2004, p. 31): 
O que deve mover a discussão dessa temática é o em-
penho na formação profissional, é a convicção de que a 
educação é processo imprescindível para que o homem 
sobreviva e se humanize e de que a escola é instituição 
ainda necessária neste processo, enfim, a relevância dessa 
temática está na compreensão da urgência, da complexi-
dade e da utopia do projeto de escolarização obrigatória 
e da qualidade por uma sociedade efetivamente mais de-
mocrática. 
 
 Os educadores enquanto seres sociais que transfor-
mam a realidade quando realizam sua prática, precisam es-
tar conscientes da base teórica, a fim de se orientar por ela 
ao mesmo tempo em que a teoria se alimenta da prática. 
Freire (1996), aborda a importância da reflexão crítica, 
em que professor deve fazer da prática sobre a teoria e 
vice-versa. 
Por isso é que, na formação permanente dos professo-
res, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre 
a prática, é pensando criticamente a prática de hoje ou de 
ontem que se pode melhorar a próxima pratica. O próprio 
discurso teórico, necessário à reflexão crítica, tem de ser de 
tal concreto que quase se confunda com a prática. 
 No mesmo ponto de vista Solé e Coll (1996), também 
indagam a importância da teoria sobre a prática quando 
dizem: 
Necessitamos de teorias que nos sirvam de referencial 
para contextualizar e priorizar metas e finalidades; para 
planejar a atuação; para analisar seu desenvolvimento e 
modifica-lo paulatinamente, em função daquilo que ocorre 
e para tomar decisões sobre a adequação de tudo. 
 
Freire (1996) afirma que, “a reflexão crítica sobre a prá-
tica se torna uma exigência da relação Teoria/Prática sem a 
qual a teoria pode ir virando blábláblá e a prática, ativismo”. 
E reforça a seguir que, “quando vivemos a autenticida-
de exigida pela prática de ensinar e aprender participamos 
de uma experiência total, diretiva, ideológica, gnosiológi-
ca, pedagógica, estética e ética, em que a boniteza deve 
achar-se de mãos dadas com a decência e com a serieda-
de” (FREIRE, 1996). 
Um dos campos específicos da Didática aplica-se à 
constante articulação entre teoria e prática com outras 
áreas do conhecimento para assim dar suporte ao profes-
sor no desenvolvimento de suas habilidades e competên-
cias diante da educação. 
Ao referir-se a tal assunto Libanêo (2012, p. 16) diz que: 
[...] a formação de professores precisa buscar uma uni-
dade do processo formativo. A meu ver essa unidade implica 
em reconhecer que a formação inicial e continuada de pro-
fessores precisa estabelecer relações teóricas e práticas mais 
sólidas entre a didática e a epistemologia das ciências, de 
modo a romper com a separação entre conhecimentos disci-
plinares e conhecimentos pedagógico-didáticos. 
Nesta perspectiva percebe-se a importância da Didá-
tica visto que ela “se caracteriza como mediação entre as 
bases teórico-cientificas da educação escolar e a prática 
docente” (LIBÂNEO, 1990, p. 28). 
Perrenoud (2000, p. 14), aponta como procedimentos 
da atuação do professor 10 (dez) famílias de competências 
que influenciam a formação contínua do educador: 
Eis as 10 famílias: 
1. Organizar e dirigir situações de aprendizagem. 
2. Administrar a progressão das aprendizagens. 
3. Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação. 
28
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
4. Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu 
trabalho. 
5. Trabalhar em equipe. 
6. Participar da administração da escola. 
7. Informar e envolver os pais. 
8. Utilizar novas tecnologias. 
9. Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão. 
10. Administrar sua própria formação contínua. 
 
Contudo, muitos profissionais não vêm necessidade 
em se apropriar da teoria como base para suas ações, con-
sideram a boa atuação como “vocação natural ou somente 
da experiência prática, descartando-se a teoria” (LIBÂNEO, 
1990). 
Entretanto, para Freire (1996), uma verdadeira forma-
ção docente acontece somente através de um novo olhar 
sobre a curiosidade epistemológica, pois: 
Nenhuma formação docente verdadeira pode fazer-se 
alheada, de um lado, do exercício da criticidade que implica 
a promoção da curiosidade ingênua a curiosidade episte-
mológica, e de outro, sem o reconhecimento do valor das 
emoções, da sensibilidade, da afetividade, da intuição ou 
adivinhação. 
 
E, acrescenta a seguir, que “o importante, não resta dú-
vida, é não pararmos satisfeitos ao nível das intuições, mas 
submetê-las a análise metodicamente rigorosa de nossa 
curiosidade epistemológica” (FREIRE, 1996, 51). 
De acordo com Giroux (1988), as instituições de ensi-
no se omitem ao negar aos docentes seu verdadeiro pa-
pel, que é educá-los como intelectuais, pois ao ignorarem 
a criatividade e o discernimento do professor separa-se a 
teoria da prática. 
Do ponto de vista de Veiga (2010, p. 51) “a tarefa está 
em criar outras práticas, o desafio é construir de modo co-
letivo uma Didática que faça pensar sobre nossas práticas 
pedagógicas”. A autora também se utiliza da afirmação de 
que a prática pedagógica é também uma dimensão da prá-
tica social inserida num contexto social, e que nossa obri-
gação enquanto educadores é possibilitar condições para 
que ela se realize (VEIGA, 1989). 
Vemos assim que teoria e prática não se dissociam 
uma da outra, o que garante um pensamento crítico e uma 
ressignificação de atitude, já que para garantir satisfação 
na prática é preciso estar numa relação consciente e di-
reta com a teoria e basear-se nela em ações educacionais 
futuras. 
A construção da identidade profissional 
A construção da identidade profissional é um proces-
so de ressignificação em que o sujeito situado se constrói 
historicamente. 
O professor em formação tem que estar ciente sobre 
sua reflexão enquanto educador e de sua atualização sobre 
o conteúdo aprendido; ele precisa estar em constante esta-
do de aprendizagem para melhorar suas competências tan-
to como profissional, quanto na sua metodologia de ensino. 
Libâneo (2001, p. 36) se refere à ação docente quando 
diz que: 
É certo, assim, que a tarefa de ensinar a pensar requer 
dos professores o conhecimento de estratégias de ensino 
e o desenvolvimento de suas próprias competências do 
pensar. Se o professor não dispõe de habilidadesde pen-
samento, se não sabe “aprender a aprender”, se é incapaz 
de organizar e regular suas próprias atividades de aprendi-
zagem, será impossível ajudar os alunos a potencializarem 
suas capacidades cognitivas. 
Para o autor, a formação docente é um processo peda-
gógico, que deve acontecer de forma a levar o professor a 
agir de maneira competente no processo de ensino (LIBÂ-
NEO, 2001). 
Maia, Scheibel e Urban (2009, p. 18), discorrem sobre 
os fatores que possibilitam a identidade do professor: 
- Significação social da profissão; 
- Revisão constante dos significados sociais da profis-
são; 
- Revisão das tradições; 
- Reafirmação de práticas consagradas culturalmente 
e que permanecem significativas (resistentes a inovações); 
- Significação conferida pelo professor à atividade do-
cente no seu cotidiano (a visão de mundo do professor); 
- Rede de relações com outros professores, em escolas, 
sindicatos e outros agrupamentos. 
 
Gadotti (2007), diz que “o poder do professor está tan-
to na sua capacidade de refletir criticamente sobre a reali-
dade para transformá-la, quanto na possibilidade de cons-
truir um coletivo para lutar por uma causa comum”. 
Imbernón (2002) afirma que “[...] ser um profissional da 
educação significa participar da emancipação das pessoas. 
O objetivo da educação é ajudar a tornar as pessoas mais 
livres, menos dependentes do poder econômico, político e 
social. E a profissão de ensinar tem essa obrigação intrín-
seca”. 
Os professores precisam repensar o modo pelo qual 
agem diante da sociedade e qual sua contribuição, uma vez 
que identidade não é inerente ao ser humano, e sim, uma 
posição que se constrói quer seja com certezas e/ou in-
certezas estabelecidas nas relações com a realidade social. 
Freire (1996) enfatiza a respeito da formação que “quem 
forma se forma e reforma ao formar e quem é formado 
forma-se e forma ao ser formado”. 
De acordo com Tardif (): 
 
[...] um professor de profissão não é somente alguém que 
aplica conhecimentos produzidos por outros, não é somente 
um agente determinado por mecanismos sociais: é um ator 
no sentido forte do termo, isto é, um sujeito que assume sua 
pratica a partir dos significados que ele mesmo lhe dá, um 
sujeito que possui conhecimentos e um saber-fazer prove-
nientes de sua própria atividade e a partir dos quais ele es-
trutura e a orienta. 
 
No que concerne à identidade profissional do profes-
sor pode-se dizer que o mesmo tem que ser mais do que 
um coadjuvante no ensino, que cativa e tem a atenção do 
29
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
aluno; mais do que isso, tem que promover situações em 
que os alunos sejam capazes de construir-se e reconstruir-
-se a partir de uma educação epistemologicamente cien-
tifica, que garante ao aluno um ensino produtivo e signi-
ficativo cognitivamente, estabelecendo intrínseca relação 
com a solidariedade, a democracia e o desenvolvimento 
humano enquanto ser social e histórico. 
Vale dizer que sendo sujeito de sua própria prática, o 
professor constrói sua história a partir de seus valores e 
atitudes de seu dia a dia como cidadão, fundamentando 
assim sua identidade. 
Considerações finais 
A Didática como disciplina, deve desenvolver a capa-
cidade a crítica dos professores em formação, para que 
possam analisar de forma clara e objetiva a realidade do 
ensino de modo a possibilitar que o educando construa 
seu próprio saber. 
Entender que a Educação é um processo que faz parte 
do conteúdo global da sociedade significa entender que a 
prática pedagógica é parte integrante do todo social. 
Vale ressaltar que as bases teóricas que influenciam a 
prática estão intrinsicamente ligadas à formação da iden-
tidade profissional do professor, visto que, para uma for-
mação completa, é preciso uma visão holística da práxis 
pedagógica. 
Necessidade indiscutível é a presença do professor na 
sociedade e, esta presença, se faz pelo trabalho e compro-
metimento em tratar a educação e os valores advindos da 
sociedade na qual este profissional se insere. 
Percebe-se então, a necessidade da constância em bus-
car uma Didática que valorize os envolvidos e transforme 
os processos educacionais com propósito de integração. 
Sabendo que o fazer pedagógico do professor não se res-
tringe a um fazer exclusivamente acadêmico, e que é pre-
ciso analisar criticamente o projeto econômico, político e 
social para atuar satisfatoriamente no contexto atual, que é 
desafiador diante das mudanças dinâmicas que acontecem 
dia após dia. Reconhece-se a Didática como instrumento 
que garante a grandiosidade no atendimento educacional.
Fonte: 
BARBOSA, F. A. dos S; FREITAS, F. J. C. de. A didática e 
sua contribuição no processo de formação do professor. 
3 PRINCIPAIS TEORIAS DA 
APRENDIZAGEM. 
3.1 INATISMO, COMPORTAMENTALISMO, 
BEHAVIORISMO, INTERACIONISMO, 
COGNITIVISMO. 
3.2 AS BASES EMPÍRICAS, METODOLÓGICAS 
E EPISTEMOLÓGICAS DAS DIVERSAS 
TEORIAS DE APRENDIZAGEM.
 3.3 CONTRIBUIÇÕES DE PIAGET, VYGOTSKY 
E WALLON PARA A PSICOLOGIA E 
PEDAGOGIA. 
3.4 TEORIA DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS 
DE GARDNER. 
3.5 PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO: 
ASPECTOS HISTÓRICOS E 
BIOPSICOSSOCIAIS.
 3.6 TEMAS CONTEMPORÂNEOS: BULLYING, 
O PAPEL DA ESCOLA, A ESCOLHA DA 
PROFISSÃO, TRANSTORNOS ALIMENTARES 
NA ADOLESCÊNCIA, FAMÍLIA, ESCOLHAS 
SEXUAIS.
3 PRINCIPAIS TEORIAS DA APRENDIZAGEM. 
3.1 Inatismo, comportamentalismo, behaviorismo, 
interacionismo, cognitivismo. 
3.2 As bases empíricas, metodológicas e epistemológi-
cas das diversas teorias de aprendizagem. 
3.3 Contribuições de Piaget, Vygotsky e Wallon para a 
psicologia e pedagogia.
Segundo Silva, as principais interpretações das ques-
tões relativas à natureza da aprendizagem remetem a um 
passado histórico da filosofia e da psicologia. Diversas cor-
rentes de pensamento se desenvolveram, definindo pa-
radigmas educacionais como o empirismo, o inatismo ou 
nativismo, os associacionistas, os teóricos de campo e os 
teóricos do processamento da informação ou psicologia 
cognitiva.
A corrente do empirismo tem como princípio funda-
mental considerar que o ser humano, ao nascer, é como 
uma “tábula rasa” e tudo deve aprender, desde as capa-
cidades sensoriais mais elementares aos comportamentos 
adaptativos mas complexos. A mente é considerada inerte, 
e as ideias vão sendo gravadas a partir das percepções. Ba-
seado neste pressuposto, a inteligência é concebida como 
uma faculdade capaz de armazenar e acumular conheci-
mento.
O inatismo ou nativismo argumenta que a maioria dos 
traços característicos de um indivíduo é fixado desde o 
nascimento e que a hereditariedade permite explicar uma 
grande parte das diferenças individuais físicas e psicológi-
cas. As formas de conhecimento estão pré-determinadas 
no sujeito que aprende.
30
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Para os associacionistas, o principal pressuposto con-
siste em explicar que o comportamento complexo é a com-
binação de uma série de condutas simples. Como precur-
sores desta corrente são de pensamento pode-se citar Ed-
ward L. Thorndike e B.F. Skinner e suas respectivas teorias 
do comportamento reflexo ou estímulo-resposta.
Para Thorndike apud Pettenger e Gooding, o padrão 
básico da aprendizagem é uma resposta mecanicista às 
forças externas. Um estímulo provoca uma resposta. Se a 
resposta é recompensada, é aprendida.
Já para Skinner, a ênfase é dada à questão do controle 
do comportamento pelos reforços que ocorrem com a res-
posta ou após a mesma com o propósito de atingir metas 
específicas ou definir comportamentos manifestos.
As grandes escolas da corrente dos Teóricos de Campo, 
são representadas, na Gestalt pelos alemães Wertheimer, 
Koffka e Köhler, e na Fenomenologia, por Combs e Snygg(Pettenger e Gooding). Nestas escolas prevalece a concep-
ção de que as pessoas são capazes de pensar, perceber e 
de responder a uma dada situação, de acordo com as suas 
percepções e interpretações desta situação. Diferentemen-
te das primeiras, em que o comportamento é sequencial, 
do mais simples ao mais complexo, nesta corrente, o todo 
ou total é mais que a soma das partes.
Na Gestalt, o paradigma de aprendizagem é a solução 
de problemas e ocorre do total para as partes. Consiste 
também na organização dos padrões de percepção.
Segundo Fialho, na Gestalt há duas maneiras de se 
aprender a resolver problemas: pelo aprendizado condu-
zido ou pelo aprendizado pelo entendimento. Isto significa 
que conforme a organização da situação de aprendizagem, 
dirigida (instrucionista) ou autodirigida (ativa), o indiví-
duo aprende, entretanto, deve-se promover situações de 
aprendizagem que sejam suficientemente ricas para que o 
aprendiz possa fazer escolhas e estabelecer relações entre 
os elementos de uma situação. Escolher entre as quais para 
ele, aprendiz, conduza a uma estruturação eficaz de suas 
percepções e significados.
Na Fenomenologia, o todo é compreendido de modo 
mais detalhado, sem realmente fragmentar as partes. Con-
sidera, ainda, entre outras premissas, que a procura de 
adequação ou auto atualização do indivíduo é a força que 
motiva todo o comportamento. A aprendizagem, como 
processo de diferenciação, move-se do grosseiro para o 
refinado.
Os teóricos do Processamento da Informação ou Psi-
cologia Cognitiva, de origem mais recente, reúnem diver-
sas abordagens. Estes teóricos estudam a mente e a inteli-
gência em termos de representações mentais e processos 
subjacentes ao comportamento observável. Consideram o 
conhecimento como sistema de tratamento da informação.
Segundo Misukami, uma abordagem cognitivista im-
plica em estudar cientificamente a aprendizagem como um 
produto resultante do ambiente, das pessoas ou de fatores 
externos a ela. Como as pessoas lidam com estímulos am-
bientais, organizam dados, sentem e resolvem problemas, 
adquirem conceitos e empregam símbolos constituem, 
pois, o centro da investigação.
Em essência, na psicologia cognitiva, as atividades 
mentais são o motor dos comportamentos.
Opondo-se à concepção behavorista, os teóricos cog-
nitivos preocupam-se em desvendar a “caixa preta” da 
mente humana. A noção de representação é central nestas 
pesquisas. A representação é definida como toda e qual-
quer construção mental efetuada a um dado momento e 
em um certo contexto.
Portanto, memória, percepção, aprendizagem, resolu-
ção de problemas, raciocínio e compreensão, esquemas e 
arquiteturas mentais são alguns dos principais objetos de 
investigação da área, cujas aplicações vêm sendo utilizadas 
na construção de modelos explícitos em formas de pro-
gramas de computador (softwares), gráficos, arquiteturas 
ou outras esquematizações do processamento mental, em 
especial nos sistemas de Inteligência Artificial.
Como afirma Sternberg, os psicólogos do processa-
mento da informação estudam as capacidades intelectuais 
humanas, analisando a maneira como as pessoas solucio-
nam as difíceis tarefas mentais para construir modelos ar-
tificiais onde estes modelos tem por objetivo compreender 
os processos, estratégias e representações mentais utiliza-
das pelas pessoas no desempenho destas tarefas.
Complementando esta classificação, Fialho destaca 
que os psicólogos cognitivistas procuram compreender a 
“mente” e sua capacidade (realização) na percepção, na 
aprendizagem, no pensamento e no uso da linguagem. As-
sim, a organização do conhecimento, o processamento de 
informações, a aquisição de conceitos, os estilos de pen-
samento, os comportamentos relativos à tomada de deci-
sões e resolução de problemas são alguns dos “processos 
centrais” dos indivíduos dificilmente observáveis e que são 
investigados.
As abordagens cognitivistas clássicas: o construti-
vismo de Piaget, o sóciointeracionismo de Vygotsky e 
Wallon
Dentre as teorias mais contemporâneas de aprendi-
zagem, em especial as cognitivistas, destacamos a teoria 
construtivista de Jean Piaget e as teorias sociointeracionis-
tas de Lev Vygotsky e Henri Wallon devido à pertinência 
com que suas preocupações epistemológicas, culturais, lin-
guísticas, biológicas e lógico-matemáticas têm sido difun-
didas e aplicadas para o ambiente educacional, em especial 
na didática e em alguns dos programas de ensino auxiliado 
por computador, bem como sua influencia no desenvolvi-
mento de novas pesquisas na área da cognição e educação.
A abordagem construtivista de Jean Piaget
As respostas às questões sobre a natureza da apren-
dizagem de Piaget são dadas à luz de sua epistemologia 
genética, na qual o conhecimento se constrói pouco a pou-
co, à medida em que as estruturas mentais e cognitivas se 
organizam, de acordo com os estágios de desenvolvimento 
da inteligência.
31
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
A inteligência é antes de tudo adaptação. Esta característica se refere ao equilíbrio entre o organismo e o meio ambien-
te, que resulta de uma interação entre assimilação e acomodação.
A assimilação e a acomodação são, pois, os motores da aprendizagem. A adaptação intelectual ocorre quando há o 
equilíbrio de ambas.
Segundo discorre Ulbritch, a aquisição do conhecimento cognitivo ocorre sempre que um novo dado é assimilado à 
estrutura mental existente que, ao fazer esta acomodação modifica-se, permitindo um processo contínuo de renovação 
interna. Na organização cognitiva, são assimiladas o que as assimilações passadas preparam, para assimilar, sem que haja 
ruptura entre o novo e o velho.
Pela assimilação, justificam-se as mudanças quantitativas do indivíduo, seu crescimento intelectual mediante a incor-
poração de elementos do meio a si próprio.
Pela acomodação, as mudanças qualitativas de desenvolvimento modificam os esquemas existentes em função das 
características da nova situação; juntas justificam a adaptação intelectual e o desenvolvimento das estruturas cognitivas.
As estruturas de conhecimento, designadas por Piaget (Gaonach’h e Golder) como esquemas, se complexificam sobre 
o efeito combinado dos mecanismos de assimilação e acomodação. Ao nascer, o indivíduo ainda não possui estas estru-
turas, mas reflexos (sucção, por exemplo) e um modo de emprego destes reflexos para elaboração dos esquemas que irão 
se desenvolver.
As obras de Piaget e de seus interpretantes discorrem sobre os estágios de desenvolvimento da inteligência, que se 
efetua de modo sucessivo, segundo a lógica das construções mentais - da inteligência sensório-motora à inteligência ope-
ratório formal, conforme se ilustra sinteticamente no quadro:
Quadro – Estágios do desenvolvimento da inteligência segundo Piaget
ESTÁGIO EQUILÍBRIO LÓGICA ORGANIZADORA
Sensório-motor 18 meses até 2 anos Não há lógica
Operatório concreto - Preparação: entre 2 e 7 
anos
- Equilíbrio: entre 7 e 11 
anos
Lógica das relaçãoes e das 
transformações sobre o material 
visível (objetos presentes)
Operatório formal Cerca de 16 anos Lógica desarticulada do concreto
A primeira forma de inteligência é uma estrutura sensório motora, que permite a coordenação das informações senso-
riais e motoras. Surge aos cerca de 18 meses. Consuma-se e equilibra-se entre os 18 meses e 2 anos.
No estágio das operações concretas, esta estrutura (equilibrada) se acha aperfeiçoada: o que a criança teria adquirido 
no nível da ação, ela vai aprender a fazer em pensamento. Precede de uma fase de preparação entre 2 e 7 anos e se equi-
libra entre 7 e 11 anos.
No estágio das operações formais, operam-se novas modificações e deve se equilibrar para poder se aplicar, não mais 
aos objetos presentes, mas aos objetos ausentes, hipotéticos.
O desenvolvimento das estruturasmentais segue uma lógica de construção semelhante aos estudos da lógica, ou seja, 
que o desenvolvimento da inteligência em seus sucessivos estágios segue uma lógica coerente, tal que pode ser descrita 
em suas estruturas.
Segundo levantou Ulbritch, a equilibração, enfatizada no quadro 2.1, é um mecanismo autorregulador, necessário para 
garantir uma eficiente integração com o meio. Quando um indivíduo sofre um desequilíbrio, de qualquer natureza, o orga-
nismo vai buscar o equilíbrio, assimilando ou acomodando um novo esquema.
A autora relaciona quatro fatores determinantes do desenvolvimento cognitivo: A equilibração é o primeiro e constitui-
-se no nível de processamento das reestruturações internas, ao longo da construção sequencial dos estágios.
O segundo é a maturação, relacionado à complexificação biológica da maturação do sistema nervoso.
Já o terceiro fator é a interação social, relacionado com a imposição do nível operatório das regras, valores e signos da 
sociedade em que o indivíduo se desenvolve e com as interações que compõem o grupo social.
O quarto é referente à experiência ativa do indivíduo. Sobre este fator Misukami afirma que podem ocorrer de três formas: 
- devido ao exercício, resultando na consolidação e coordenação de reflexos hereditários e exercício de operações intelec-
tuais aplicadas ao objeto;
- devido à experiência física, referente à ação sobre o objeto para descobrir as propriedades que são abstraídas destes, 
sendo que o resultado da ação está vinculado ao objeto;
32
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
- devido à experiência lógico - matemática, resultantes 
da ação sobre os objetos, de forma a descobrir propriedades 
que são abstraídas destas pelo sujeito. Consistem em conhe-
cimentos retirados das ações sobre os objetos, típicas do es-
tágio operatório formal, que é resultado da equilibração. A 
condição para que seja obtida é a interação do sujeito com 
o meio.
Piaget não desenvolveu uma teoria da aprendizagem, 
mas sua teoria epistemológica de como, quando e por que 
o conhecimento se constrói obteve grande repercussão na 
área educacional. Predominantemente interacionistas, seus 
postulados sobre desenvolvimento da autonomia, coope-
ração, criatividade e atividade centrados no sujeito influen-
ciaram práticas pedagógicas ativas, centradas nas tarefas 
individuais, na solução de problemas, na valorização do 
erro e demais orientações pedagógicas.
No plano da informática, o trabalho de Piaget tem 
contribuído para modelagens computacionais na área de 
IA em educação, desenvolvimento de linguagens de pro-
gramação e outras modalidades de ensino auxiliado por 
computador com orientação construtivista.
Dentre os vários programas existentes, o mais popu-
lar é o LOGO, caracterizado como ambiente informático 
embasado no construtivismo. Neste ambiente o indivíduo 
constrói, ele próprio, os mecanismos do pensamento e os 
conhecimentos a partir das interações que tem com seu 
ambiente psíquico e social.
A abordagem sociointeracionista do desenvolvi-
mento cognitivo de Lev Vygotsky
Os trabalhos de Vygotsky centram-se principalmente 
na origem social da inteligência e no estudo dos processos 
sóciocognitivo.
Segundo Gilli e Gaonach’h, Vygotsky distingue duas 
formas de funcionamento mental: os processos mentais 
elementares e os superiores.
Os processos mentais elementares correspondem ao 
estágio de inteligência sensório-motora de Piaget e são re-
sultantes do capital genético da espécie, da maturação bio-
lógica e da experiência da criança com seu ambiente físico.
Já as funções psicológicas superiores, ressalta Olivei-
ra, são construídas ao longo da história social do homem. 
Como? Na sua relação com o mundo, mediada pelos ins-
trumentos e símbolos desenvolvidos culturalmente, fazen-
do com que o homem se distinga dos outros animais nas 
suas formas de agir no e com o mundo.
Fialho destaca que, para Vygotsky, o desenvolvimento 
humano compreende um processo dialético, caracterizado 
pela periodicidade, irregularidade no desenvolvimento das 
diferentes funções, metamorfose ou transformação quali-
tativa de uma forma em outra, entrelaçando fatores inter-
nos e externos e processos adaptativos.
A maturação biológica e o desenvolvimento das fun-
ções psicológicas superiores dependem, conforme Fialho, 
do meio social, que é essencialmente semiótico. Apren-
dizado e desenvolvimento interagem entrelaçados nessa 
dialética de forma que um acelere ou complete o outro.
Gilli diz que a relação entre educação, aprendizagem e 
desenvolvimento vem em primeiro lugar. Já o papel da me-
diação social nas relações entre o indivíduo e seu ambiente 
(mediado pelas ferramentas) e nas atividades psíquicas in-
traindividuais (mediadas pelos signos) em segundo lugar, 
e, a passagem entre o interpsíquico e o intrapsíquico nas 
situações de comunicação social, em terceiro lugar. Estes 
são os três princípios fundamentais, totalmente interde-
pendentes nos quais Vygotsky sustenta a teoria do desen-
volvimento dos processos mentais superiores.
A abordagem de Henri Wallon
A gênese da inteligência para Wallon é genética e or-
ganicamente social, ou seja, “o ser humano é organicamen-
te social e sua estrutura orgânica supõe a intervenção da 
cultura para se atualizar”.
Nesse sentido, a teoria do desenvolvimento cognitivo 
de Wallon é centrada na psicogênese da pessoa completa.
Para Galvão, o estudo de Wallon é centrado na crian-
ça contextualizada, onde o ritmo no qual se sucedem as 
etapas do desenvolvimento é descontínuo, marcado por 
rupturas, retrocessos e reviravoltas, provocando em cada 
etapa profundas mudanças nas anteriores.
Nesse sentido, a passagem dos estágios de desenvol-
vimento não se dá linearmente, por ampliação, mas por 
reformulação, instalando-se no momento da passagem de 
uma etapa a outra, crises que afetam a conduta da criança.
Conflitos se instalam nesse processo e são de origem 
exógena quando resultantes dos desencontros entre as 
ações da criança e o ambiente exterior, estruturado pelos 
adultos e pela cultura e endógenos e quando gerados pe-
los efeitos da maturação nervosa. Esses conflitos são pro-
pulsores do desenvolvimento.
Os cinco estágios de desenvolvimento do ser humano 
apresentados por Galvão sucedem-se em fases com predo-
minância afetiva e cognitiva:
- Impulsivo-emocional, que ocorre no primeiro ano de 
vida. A predominância da afetividade orienta as primeiras 
reações do bebê às pessoas, às quais intermediam sua rela-
ção com o mundo físico;
- Sensório-motor e projetivo, que vai até os três anos. A 
aquisição da marcha e da prensão, dão à criança maior au-
tonomia na manipulação de objetos e na exploração dos es-
paços. Também, nesse estágio, ocorre o desenvolvimento da 
função simbólica e da linguagem. O termo projetivo refere-
-se ao fato da ação do pensamento precisar dos gestos para 
se exteriorizar. O ato mental “projeta-se” em atos motores. 
Como diz Dantas, para Wallon, o ato mental se desenvolve 
a partir do ato motor;
- Personalismo, ocorre dos três aos seis anos. Nesse está-
gio desenvolve-se a construção da consciência de si median-
te as interações sociais, reorientando o interesse das crianças 
pelas pessoas;
- Categorial. Os progressos intelectuais dirigem o inte-
resse da criança para as coisas, para o conhecimento e con-
quista do mundo exterior;
- Predominância funcional. Ocorre nova definição dos 
contornos da personalidade, desestruturados devido às mo-
dificações corporais resultantes da ação hormonal. Questões 
pessoais, morais e existenciais são trazidas à tona.
33
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
O referido autor ressalta ainda que na sucessão de es-
tágios há uma alternância entre as formas de atividades 
e de interesses da criança, denominada de “alternância 
funcional”, onde cadafase predominante (de dominância, 
afetividade, cognição), incorpora as conquistas realizadas 
pela outra fase, construindo-se reciprocamente, num per-
manente processo de integração e diferenciação.
Outras abordagens sobre aprendizagem
Outras correntes teóricas buscaram aprofundar e/ou 
explicar as teorias mais representativas, propondo inclu-
sive novas abordagens para compreensão dos processos 
de desenvolvimento cognitivo e aprendizagem. Dentre elas 
destacam-se:
- Albert Bandura, que levanta uma abordagem de 
aprendizagem social e o papel das influências sociais na 
aprendizagem.
- J. S. Bruner e a teoria de que o desenvolvimento cog-
nitivo se dá numa perspectiva de tratamento da informa-
ção, que ocorre de três modos: inativo, onde a informação 
é representada em termos de ações especificadas e habi-
tuais (caminhar, andar de bicicleta); o modo icônico, onde a 
informação é representada em termos de imagens, e, sim-
bólica, onde a informação é apresentada sobre a forma de 
um esquema arbitrário e abstrato.
- Maturana e Varela, que não desenvolveram um estu-
do sobre a cognição especificamente, mas sua teoria sobre 
o homem como um sistema autopoiético tem influenciado 
bastante a construção de modelos computadorizados. Os 
autores entendem que os seres vivos são um tipo particular 
de máquinas homeostáticas. A ideia de autopoiesis é uma 
expansão da ideia de homeostase, no sentido em que ela 
transforma todas as referências da homeostase em internas 
ao sistema e, afirma ou produz a identidade do sistema. 
O sistema autopoiético é organizado como uma rede de 
processos de produção de componentes que se regeneram 
continuamente, pela sua transformação e interação, a rede 
que os produziu e que constituem o sistema enquanto uma 
unidade concreta no espaço onde ele existe, especificando 
o domínio topológico onde ele se realiza como rede.
- Robert M. Gagné, que compartilha dos enfoques 
behavioristas e cognitivistas em sua teoria. Para ele, as fa-
ses da aprendizagem se apresentam associadas aos pro-
cessos internos que, por sua vez, podem ser influenciados 
por processos externos. Para Gagné, a aprendizagem é 
um processo de mudança nas capacidades do indivíduo, 
no qual se produz estados persistentes e é diferente da 
maturação ou desenvolvimento orgânico. A aprendizagem 
se produz usualmente mediante interação do indivíduo 
com seu meio (físico, social, psicológico). As oito fases que 
constituem o ato de aprendizagem de Gagné.
- Paulo Freire não desenvolveu uma teoria da apren-
dizagem, mas seus postulados sobre a pedagogia pro-
blematizadora e transformadora enfatizam uma visão de 
mundo e de homem não neutro. Assim. o homem é um ser 
no mundo e com o mundo. A inspiração de seu trabalho 
nasce de dois conceitos básicos: a noção de consciência 
dominada mais dois elementos subjetivos que a compõem 
e a ideia de que há determinadas estruturas que confor-
mam o modo de pensar e agir das pessoas. Essas estruturas 
impregnam o comportamento subjetivo à percepção e à 
consciência que cada indivíduo ou grupo tem dos fenôme-
nos sociais.
- Howard Gardner muito tem contribuído para o pro-
cesso educacional. Ele defende que o ser humano possui 
múltiplas inteligências, ou um espectro de competências 
manifestadas pela inteligência. Todas essas competências 
estão presentes no indivíduo, sendo `que se manifestam 
com maior ou menor intensidade, tornando o indivíduo 
mais ou menos deficiente, mais ou menos competente 
dentro de uma ou várias dessas competências. Em sua teo-
ria, defende que os indivíduos aprendem de maneiras dife-
rentes e apresentam diferentes configurações e inclinações 
intelectuais. Destaca, ainda, veementemente, o papel da 
educação no desenvolvimento global e aplicação das inte-
ligências. As inteligências múltiplas a que se refere Garder 
são: a lógico-matemática, a linguística, a espacial, a musi-
cal, a corporal- sinestésica, a interpessoal e a intrapessoal.
Na prática escolar convencional, a concretização das 
condições de aprendizagem que asseguram a realização 
do trabalho docente, estão pautadas nas teorias deter-
minando as tendências pedagógicas. Estas práticas pos-
suem condicionantes psico sociopolíticos que configuram 
concepções inteligência e conhecimento, de homem e de 
sociedade. Com base nesses condicionantes, diferentes 
pressupostos sobre o papel da escola, a aprendizagem, a 
relações professor-aluno, a recursos de ensino e o método 
pedagógico .... Influenciam e orientam a didática utilizada.
Os programas educacionais informatizados, dos diver-
sos tipos, igualmente contém implícito ou explicitamente 
(ou no uso educacional que se faz deles) os pressupostos 
teórico metodológicos desses condicionantes). 
Fonte
SILVA, C. R. O.
3.4 TEORIA DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS DE 
GARDNER. 
O Educador Celso Antunes explica os conceitos de in-
teligência múltipla segundo Howard Gardner. As pesquisas 
de Gardner representam verdadeiro símbolo educacional 
contemporâneo, ao sinalizar que o que se descobre sobre 
a mente humana, constitui não apenas saber acadêmico, 
mas instrumento de ação pedagógica imprescindível
Howard Gardner possui um currículo indiscutível. Pro-
fessor de Educação e Diretor do Projeto Zero, no Harvard 
Graduate Scholl of Education e professor adjunto de Neu-
rologia na Boston University Scholl of Medicine, é autor de 
inúmeros livros e criador de uma teoria educacional co-
nhecida e aplicada no mundo inteiro. Além da notoriedade 
pública e reconhecimento como um dos mais influentes 
educadores deste século, em 1981 recebeu o Mac Arthur 
34
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Prize Fellowship e, em 1990, tornou-se o primeiro norte-a-
mericano a ser condecorado com o Louisville Grawemeyr 
Award in Educatio, prêmios que por sua expressão e gran-
deza já sintetizam o admirável perfil de suas pesquisas e de 
suas obras. 
Ninguém melhor que Gardner, entretanto, para falar 
sobre ele mesmo. Em seu livro lançado no Brasil no ano 
2000 pela Editora Objetiva (Inteligência - Um conceito re-
formulado) descreve-se ao falar sobre seus pensamentos. 
“Nada em minha juventude diria que eu viria ser um estu-
dioso (e um teórico) da inteligência.
Quando criança, eu era bom aluno e me saia bem em 
testes, portanto a questão da inteligência era relativamente 
simples para mim. Na verdade, em outra vida, talvez eu pas-
sasse a defender a visão clássica da inteligência, como tantos 
de meus contemporâneos brancos do sexo masculino que já 
estão envelhecendo. Típico garoto judeu que detestava ver 
sangue, eu (e muitos outros em meu mundo) pretendia ser 
advogado. Só em 1965, ao terminar a minha graduação no 
Harvard College, resolvi fazer pós-graduação em psicologia. 
A princípio, como outros adolescentes, eu estava fascinado 
com as questões da psicologia que intrigam o leigo: emo-
ções, personalidade, psicopatologia. Meus heróis em Sig-
mund Freud e meu professor, o psicanalista Erik Erikson, que 
havia sido analisado pela filha de Freud, Anna. No entanto, 
depois de ter conhecido Jerome Bruner, um pioneiro na pes-
quisa da cognição e do desenvolvimento humano, e de ter 
lido as obras de Bruner e de seu mestre, o psicólogo suíço 
Jean Piaget, resolvi fazer pós graduação em psicologia do 
desenvolvimento cognitivo.” 
As pesquisas de Gardner representam verdadeiro sím-
bolo educacional contemporâneo, ao sinalizar que o que 
se descobre sobre a mente humana, constitui não apenas 
saber acadêmico, mas instrumento de ação pedagógica 
imprescindível. Mostrou de forma coerente que todos os 
seres humanos possuem diferentes tipos de mente e que 
pais e professores podem tornar possível uma educação 
personalizada, destacando que na imensa diversidade que 
existe em cada um, deve solidificar-se a certeza de que ne-
nhum ser humano é perfeito em tudo, mas todos, absolu-tamente todos, possuem potencial de grandezas diversas, 
forças pessoais que devidamente reconhecidas coloca uma 
nova linha educacional a serviço do integral desenvolvi-
mento humano e da extrema grandeza da singularidade 
de sua mente
 O que é Inteligência 
Inteligência é a faculdade de entender, compreender, 
conhecer. Inteligência é também juízo, discernimento, ca-
pacidade de se adaptar, de conviver. Constitui potencial 
biopsicológico não especificamente humano, mas que em 
seres humanos assume dimensão inefável. É, para Gardner, 
uma capacidade para resolver problemas e serve também 
para criar ideias ou produtos considerados válidos. As cria-
turas humanas possuem nível elevado de inteligência e por 
isso são criativas, revelam capacidade de compreender e 
de inventar e ao acolher uma informação, atribuir-lhe sig-
nificado e produzir respostas pertinente. 
É a inteligência que permite dar sentido as coisas que 
vemos e a vida que temos e que nos leva a conversa in-
terior, resgates de «arquivos» da memória, capacidade de 
raciocínio, criação de objetivos e invenção de saídas quan-
do parece não existir indícios de sua existência. Inteligência 
é saber pensar, possuir vontade para fazê-lo, criar e usar 
símbolos e graças a eles realizar conquistas extraordiná-
rias, fazendo surgir o mito, a linguagem, a arte e a ciência. 
Somos quem somos porque lembramo-nos das coisas que 
nos são próprias e nos emocionamos, e a inteligência faz 
com que cada ser humano seja um ser único e compreenda 
plenamente o significado dessa individualidade.
O Que Sabemos e o que ainda não sabemos sobre a 
Inteligência Humana 
A certeza de que trabalhando as inteligências múltiplas 
em sala de aula se está desenvolvendo linha de ação coe-
rente com os saberes antropológicos, sociológicos e neu-
roanatômicos sobre a inteligência humana se apoia em al-
gumas evidências indiscutíveis. Entre estas, cabe destacar. 
Como as inteligências constituem potencial biopsicoló-
gico de emprego imediato no dia a dia e recurso essencial 
para ajudar-nos a resolver problemas, adaptar-se as cir-
cunstâncias, criar e aprender, quem busca trabalhá-las em 
sala de aula necessita perceber que o conhecimento não é 
uma “coisa” que vem de fora ou se capta do meio, mas um 
processo interativo de construção e reconstrução interior e 
assim não pode ser “transferido” de um indivíduo para ou-
tro. Levando-se em conta essa assertiva descobre-se que o 
conhecimento é autoconstruído e as inteligências são edu-
cáveis, isto é sensíveis a progressiva evolução, desde que 
adequadamente trabalhadas. A escola pode ser, portanto, 
um espaço fomentador de novas maneiras de pensar. 
Ainda que possam existir debates acadêmicos sobre a 
quantidade de inteligências que o ser humano possui, a 
classificação mais aceita é a de Howard Gardner que des-
creve em cada pessoa a existência de oito ou nove inte-
ligências (Howard Gardner fala-nos em oito inteligências 
efetivamente comprovadas e uma nona (inteligência exis-
tencial) que ainda depende de maior aprofundamento e 
revisão para se acrescentar as oito conhecidas) claramente 
diferenciadas. 
 
 O potencial humano quanto as inteligências é ex-
tremamente diversificado e essa diversidade deve-se a 
conjunção de fatores genéticos e estímulos ambientais 
desenvolvidos dentro e fora da escola. Uma pessoa sem 
distúrbios ou disfunções cerebrais é portador de todas as 
inteligências ainda que seja diversificado o potencial desta 
ou daquela; 
 A ocorrência de disfunções cerebrais adquiridas ou 
não, pode afetar uma ou mais inteligências, sem que isso 
implique em um comprometimento integral. Em outras pa-
lavras, é possível neste ou naquele indivíduo a existência 
de um dificuldade ou distúrbio de aprendizagem que afete 
uma ou mais inteligências, sem que isso impeça o desen-
volvimento potencial das demais. 
35
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Cada uma das inteligências pode ser identificada atra-
vés de diferentes manifestações e estas, apenas para efei-
tos didáticos, poderiam ser consideradas sub-inteligências. 
Desta forma a inteligência linguística por exemplo pode se 
manifestar através da escrita, da oralidade ou da sensibili-
dade e emoções despertadas pela intensidade com que se 
capta mensagens verbais ou escritas; 
 O valor maior ou menor que a sociedade empresta a 
esta ou àquela inteligência subordina-se à cultura inerente 
e ao tempo e local em que se vive. Em alguns espaços geo-
gráficos, por exemplo, a capacidade musical se sobrepõe à 
linguística e em outros atribui-se valor maior a capacidade 
matemática que a administração de situações emocionais 
próprias ou em terceiros; 
Ainda que qualquer faixa etária mostre-se sensível ao 
estímulo das inteligências, existem idades em que as mes-
mas respondem mais favoravelmente aos incentivos. Para 
a maior parte das inteligências a fase da vida mais sensível 
ao progresso estende-se dos dois aos quinze anos de ida-
de. O cérebro humano é órgão que se compromete pelo 
desuso e portanto as diferentes inteligências necessitam de 
estímulos diversificados desde a vida pré-natal até idades 
bastante avançadas; 
 
Ao se pesquisar a inteligência humana e a evolução 
desse conceito, desde quando a neurologia pode bene-
ficiar-se de estudos do cérebro em pessoas vivas, alguns 
poucos críticos enfatizaram que falar-se em Inteligências 
Múltiplas seria simplesmente “fragmentar-se a idéia de In-
teligência”, criando-se um modismo. Nada mais errado que 
supor que a identificação de inteligências diferentes “frag-
menta” ou apenas classifica aspectos particularizados de 
um todo. A localização cerebral de áreas específicas para 
operar saberes específicos - como a área de Broca e de 
Wernicke para a linguagem - mostra que não existe uma 
inteligência global que se busca dividir, mas núcleos cere-
brais distintos que operam competências específicas, ainda 
que o cérebro humano funcione mais ou menos como uma 
orquestra e áreas diferentes se envolvem para a apresen-
tação de um resultado aparentemente único. O fato de se 
ouvir, por exemplo, o destaque do piano em uma melodia 
não significa que reconhecê-lo implica em “fragmentar” a 
orquestra. 
Não existe uma única abordagem pedagógica para o 
trabalho com as inteligências múltiplas em sala de aula e, 
portanto, não existem “receitas” definitivas sobre como es-
timulá-las. 
 
Concluindo algumas das evidências destacadas por 
Gardner, seria lícito reafirmar que trabalhar com inteligên-
cias múltiplas não se afigura como um método de ensino 
cujo emprego supõe uma mudança radical na forma como 
antes se trabalhava. Ao contrário, estimular com atividades, 
jogos e estratégias as diferentes inteligências de nossos 
alunos é possível, não é complicado, não envolve custos ou 
despesas materiais significativas e pode ser desenvolvido 
para qualquer faixa etária e nível de escolaridade e em 
qualquer disciplina do currículo escolar. 
Mitos e Fantasias 
 
A teoria das Inteligências Múltiplas alcançou larga po-
pularidade em quase todo mundo e, dessa forma, as idéias 
que enfatizavam seu emprego em sala de aula assumiram 
inevitáveis desvios. Em uma obra recente Gardner faz uma 
análise desses mitos, entre os quais destacamos alguns: 
 Uma variedade de testes necessitam ser desenvolvi-
dos para que possamos avaliar o potencial de cada uma 
das oito ou nove inteligências humanas. 
É um erro supor que possa se avaliar inteligências por 
testes, quantificando esse potencial. Uma avaliação coe-
rente da inteligência espacial, por exemplo, deve permitir 
que o aluno explore uma área e perceba se consegue se 
orientar de maneira confiável, transferindo essa aprendiza-
gem para áreas desconhecidas. Os estímulos, dessa forma, 
devem conduzir a um progressivo aperfeiçoamento que 
um criterioso diagnóstico,acompanhado de relatórios da 
ação do aluno (e não testes padronizados) revelará. 
Uma inteligência é mais ou menos como uma discipli-
na escolar e, dessa forma, a Língua Portuguesa por exem-
plo deveria explorar competências linguísticas, a Matemá-
tica exploraria competências lógico-matemáticas e assim 
por diante. 
Nada mais errado que acreditar nesse mito. A inteli-
gência é uma nova forma de construção de habilidades, 
baseada em capacidade e potenciais biológicos e psicoló-
gicos e não pode ser confundida com disciplinas escolares, 
que são organizações de saberes aglutinados por pessoas. 
Em qualquer disciplina é possível trabalhar-se uma ou vá-
rias inteligências. 
 
Uma inteligência é a mesma coisa que um estilo de 
aprendizagem ou um método de ensino. 
 
Um estilo de aprendizagem é uma abordagem que se 
aplica da mesma maneira em diferentes conteúdos; um 
método de ensino é uma sequência de operações com vis-
tas a determinados resultados e, dessa forma, o trabalho 
com estímulos às inteligências permite adaptar-se a dife-
rentes estilos de aprendizagem e sua aplicação não consti-
tui método de ensino que para ser implantado pressupõe 
a substituição do método utilizado. Gardner enfatiza que 
não existe “receita” pedagógica única e forma universal de 
trabalhar-se as múltiplas inteligências. 
 
A teoria das Inteligências Múltiplas é incompatível com 
a existência de uma inteligência geral. 
 
A teoria das Inteligências Múltiplas não questiona a 
existência de uma inteligência geral mas sim seu campo 
de conhecimento, admitindo que mesmo pessoas aparen-
temente bem dotadas em uma inteligência pouco serão 
capazes de realizar se não forem expostas a matérias que 
exijam essa inteligência. Quanto mais “inteligente” e diver-
sificado for o ambiente e quanto mais incisivas as interven-
ções de mediadores, mais capazes se tornarão as pessoas e 
menos importante será sua herança genética. 
36
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Sintetizando, seria possível afirmar que a Teoria das In-
teligências Múltiplas endossa três proposições essenciais: 
 Não somos todos iguais. Todo indivíduo, entretanto, é 
portador de forças cognitivas específicas que o diversifica 
e o singulariza. 
Não temos com igual intensidade todos os tipos de 
inteligência pois temos mentes diferentes. Nesse sentido, 
toda avaliação que busca comparar ou nivelar seres huma-
nos apresenta-se eivada de preconceitos. 
 A educação funciona de modo mais eficaz se essas di-
ferenças forem levadas em consideração, se forças pessoais 
forem reconhecidas e se pais e professores empenharem-
-se em desenvolver projetos para efetivamente conhecer e 
estimular mentes, descobrindo em que são efetivamente 
capazes. Uma boa avaliação, portanto, deveria ser “o mais 
direta possível”, orientando o aprender para fazer e verifi-
cando como ocorreu essa construção. 
A essas proposições julgamos interessante acrescentar 
que um estímulo às inteligências somente ganha sentido 
se promovido através de um projeto, se estabelecido a par-
tir de objetivos e trabalhados com pertinácia e com com-
petência. Não se estimula inteligências acidentalmente ou 
com ações esporádicas. 
A Teoria das Inteligências Múltiplas 
 
Em 1983, Howard Gardner, psicólogo da Universida-
de de Harvard concluiu o manuscrito “ As Estruturas da 
Mente” ( Artmed, 1994 ) que buscava ultrapassar a noção 
comum de inteligência, como um potencial que cada ser 
humano possuía em maior ou menor extensão e que este 
potencial pudesse ser medido por instrumentos verbais 
padronizados como teste de Q.I. Baseando-se no concei-
to de que inteligência é a capacidade de resolver proble-
mas ou de criar produtos que sejam valorizados dentro de 
um ou mais cenários culturais e tomando como referência 
científica evidências biológicas e antropológicas introduziu 
oito critérios distintos para uma inteligência e propôs sete 
competência humanas, mais tarde elevadas para oito ou 
eventualmente nove . 
A teoria de Gardner mudou de forma significativa o 
conceito de escola e de aula e abriu novas luzes sobre as 
competências humanas, mostrando que o sistema tradicio-
nal de avaliação baseado na capacidade de dominar con-
ceitos escolares específicos necessitava de imperiosa reno-
vação e que não mais havia sentido em se conceber este 
aluno mais inteligente que outro apenas porque dominava 
com maior ou menor facilidade as explanações de seu pro-
fessor ou os conceitos do livro didático. 
Hoje, pouco mais de vinte anos após a publicação dos 
pensamentos de Gardner, a idéia das inteligências múlti-
plas evoluiu do campo das especulações e constitui uma 
nova maneira de ensinar e, sobretudo, uma outra forma 
de conceber a capacidade dos alunos e a aula centrada em 
sua individualidade. A despeito disso tudo, entretanto, ain-
da existe algumas dificuldades em se situar com clareza a 
diferença que Gardner propôs para sua “teoria” e a “práti-
ca” da mesma. 
“Teoria” e “prática” parecem ser palavras muito amigas 
e que gostam de andar juntas. Mas, enquanto a palavra 
“teoria” recebe o desdém e desprezo, como algo que valha 
apenas no papel mas não possui validade efetiva, a palavra 
“prática” ao contrário, recebe quase sempre o aplauso, re-
velando caráter de autenticidade e funcionando para valer. 
“Teoria” significa um conjunto de idéias científicas sistema-
tizadas e pode muitas vezes assegurar indiscutível validade 
prática. É, por exemplo, o que acontece com a Teoria das 
Inteligências Múltiplas. 
Os argumentos propostos por Gardner para mostrar a 
multiplicidade das inteligências parecem ser indiscutíveis. 
A lesão ou disfunção parcial do cérebro humano implica 
na perda de ações relativas a ou as inteligências especifica 
a essa área atingida e não a todas, assim como a mani-
festação da genialidade humana, destaca que alguns mos-
tram exponencial inteligência linguística, como é o caso de 
Sheakespeare por exemplo, mas outros se projetaram por 
sua inteligência musical como Mozart, matemática como 
ocorreu com Einsten, corporal nitidamente presente em 
Garrincha, Pelé e outros e ainda muitas outras. 
 
Ao lançar sua teoria, Gardner falava em sete inteligên-
cias, mas estudos e pesquisas posteriores elevaram esse 
número para nove, admitindo que tal diversidade pode 
ainda vir a ser ampliada quando ainda mais profundamen-
te se conhecer a mente humana. Em linhas gerais, portanto, 
todas as pessoas sem disfunções cerebrais agudas apre-
sentam em diferentes níveis de grandeza, as inteligências: 
 
- Espacial, expressa pela capacidade de relacionar o es-
paço próprio com o espaço do entorno, percebendo e ad-
ministrando distâncias e pontos de referências, bem como 
revelando a capacidade em perceber visuo-espacialmente 
diferentes objetos, eventualmente transformando-os ou 
combinando-os em novas posições. Extremamente nítida 
em grandes arquitetos, manifesta-se também em pessoas 
que revelam facilidade em imaginar e percorrer referên-
cias espaciais, como alguns motoristas de praça de gran-
des cidades. Instiga a capacidade em pensar de maneira 
tridimensional e permite que a pessoa possua imagens 
externas e internas dos objetos através do espaço e de-
codifique com facilidade as informações gráficas. Crianças 
com elevado nível de inteligência espacial percebem com 
facilidade a mudança de algo em um cômodo de sua casa, 
detectando alterações mesmo sutis em ambientes que co-
nhecem. Parecem “pensar” através de imagens visuais e 
muitas vezes destacam-se em atividades artísticas ou jogos 
que envolvem montagens. Não poucas são fascinadas por 
máquinas e possuem elevada habilidade manual, mas não 
se interessam muito por atividades rotineiras, refugiando-
-se em aventuras imaginárias. 
 
- Cinestésico-corporal, identificada à capacidade em 
controlar e utilizar ocorpo, ou uma parte do mesmo em 
atividades motoras complexas e em situações específicas, 
assim como manipular objetos de formas criativa e diferen-
ciada. Marcante em pessoas que dançam muito bem, prati-
cam a mímica com precisão ou são hábeis em modalidades 
37
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
esportivas diversas. Facilita a sintonização de diferentes ha-
bilidades físicas. Crianças com elevada inteligência espacial 
apresentam capacidade incomum em controlar o corpo e 
expressar-se por mímicas e caretas, precisando a toda hora 
mover-se, retorcer-se usando sensações corporais para 
processarem informações, aprendendo bem menos por 
ouvir e muito mais por fazer. 
- Lógico-matemática, ligada a competência em com-
preender os elementos da linguagem lógico-matemática, 
permitindo ordenar símbolos numéricos e algébricos as-
sim como quantidades, espaço e tempo. Presente na En-
genharia, na Física e na Matemática, também se manifesta 
na contabilidade, programadores de computação e outras 
profissões que recorrem a lógica e os números. Crianças 
que apresentam uma elevada inteligência lógico-matemá-
tica adoram separar, classificar e organizar objetos e brin-
quedos, aprendem a calcular rapidamente e são excelentes 
em jogos que envolvem lógica e estratégia e no manejo e 
compreensão dos desafios ligados a computação. 
- Naturalista, associada a sensibilidade de percepção 
e compreensão dos elementos naturais e da interdepen-
dência entre a vida animal e vegetal e os ecossistemas e a 
leitura coerente e racional da natureza em todo seu esplen-
dor. Marcante no naturalista, botânico, jardineiro e paisa-
gista tem em Darwin seu expoente mais extraordinário. 
Induz a observações de padrões na natureza, identificando 
e classificando sistemas naturais. As crianças com elevada 
inteligência naturalista interessam-se muito por animais e 
pela vida rural, sabendo quase que intuitivamente sepa-
rar, organizar e classificar e ilustrar tudo que diz respeito a 
plantas e sobretudo a animais. 
 
- Linguística, voltada a capacidade em adquirir, com-
preender e dominar as expressões da linguagem colocan-
do em ação a semântica e a beleza na construção da sinta-
xe. Manifesta em escritores, romancista, jornalistas, pales-
trantes e poetas, mostra-se expressiva também em pessoas 
que cultuam a palavra e a construção de idéias verbais ou 
escritas. Consiste na capacidade de pensar com palavras e 
de usar a linguagem para expressar e avaliar significados 
complexos. Crianças com expressiva capacidade linguística 
surpreendem pelo vocabulário que conhecem e utilizam, 
adoram ler, escrever e contar histórias, mostrando interes-
se por rima, trocadilhos, charadas e jogos com palavras. 
 
- Sonora ou Musical expressa na capacidade em combi-
nar e compor a música, encadeando sons em uma sequên-
cia lógica e rítmica e estruturando melodias. É a inteligên-
cia que se manifesta com mais extraordinário esplendor em 
maestros, compositores e muitos outros. Destaca pessoas 
com extrema sensibilidade para a entoação, ritmo, melodia 
e o tom. Crianças com expressiva inteligência sonora mos-
tram-se sensíveis a sons e seus ambientes, recordando com 
facilidade de ritmos e melodias. As que sentem-se cercadas 
por ambiente musical, motivam-se com instrumentos e in-
corporam a música como elemento comum as suas vidas. 
Muitas entre elas acumulam coleção de CDs e parece que 
os fones de ouvido fazem parte da estrutura orgânica de 
seus rostos. 
 - Intrapessoal é a inteligência de quem expressa 
grande facilidade para estabelecer relações afetivas com 
o próprio eu, construindo uma percepção apurada de si 
mesmo, fazendo despontar a autoestima e aprofundando 
o autoconhecimento de sentimentos, temperamentos e 
intenções. Presente de forma mais acentuada em psicana-
listas, mostra-se bem caracterizada em assistentes sociais, 
alguns professores e outras profissões. Crianças com inteli-
gência intrapessoal elevada desde cedo demonstram saber 
“quem realmente são”, não se preocupando muito sobre 
o que pensam a seu respeito. Valorizam a privacidade e 
ainda que não gostem muito de misturarem-se a multidão, 
costumam ser admiradas pelos colegas. 
 
- Interpessoal muito nítida em pessoas que revelam 
extrema capacidade em compreender a natureza humana 
em outras pessoas, procedendo uma verdadeira “leitura 
do outro” quanto seus aspectos emocionais, assim como a 
destacada facilidade para relações interpessoais e a com-
preensão da dinâmica dos grupos sociais. Crianças com 
fortes habilidades nessa inteligência relacionam-se muito 
bem com outras pessoas, fazem amizade com extrema 
facilidade e como apresentam elevada sensibilidade para 
compreender sentimentos de terceiros não raramente são 
escolhidas para liderar grupos, organizar campanhas co-
munitárias 
 
- Existencial, ligada a capacidade de se situar sobre os 
limites mais extremos do cosmos e também em relação 
a elementos da condição humana como o significado da 
vida, o sentido da morte, o destino final do mundo físico 
e ainda outras reflexões de natureza filosófica ou metafí-
sica. Marcante em pessoas com forte espiritualidade é a 
inteligência dos filósofos, sacerdotes, xamãs, gurus e ainda 
outros. 
 
De maneira geral é possível crer que todas as pessoas 
sem problemas mentais específicos possuam todas as nove 
inteligências com algumas bem mais acentuadas e desen-
volvidas que as outras. Trabalhos específicos desenvolvidos 
em sala de aula contribuem de forma efetiva para “acordar” 
todas as inteligências nos alunos, ampliando sua criativida-
de e desenvolvendo-o de forma coerente e holística. 
Inteligências, Talentos e Aptidões 
 
Já ouvimos não poucas vezes educadores indagarem se 
o conceito de Inteligências Múltiplas não caracteriza “rou-
pagem nova” para o que antes se conhecia como aptidão 
ou mesmo como talento. Não existe necessariamente um 
erro em denominar de aptidão esta ou aquela inteligência, 
mas enquanto a idéia de “aptidão” mais se aproxima de 
“habilidade” ou de “capacidade”, a inteligência como an-
tes se observou constitui potencial biopsicológico ineren-
te à espécie e sua validade se expressa pela capacidade 
de resolver problemas ou de criar algo novo. A “aptidão”, 
“performance” ou mesmo o “talento” parece-nos mais 
claramente associada a idéia de que simbolizam estados 
avançados desta ou daquela inteligência. O potencial é ine-
rente à evolução, mas a habilidade é conquista educacional 
38
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
com ou sem a intervenção de mediadores. Podemos afir-
mar, por exemplo, que ao driblar seus adversários e dessa 
forma livrar-se do problema de uma marcação cerrada o 
atleta está explorando sua inteligência corporal, mas dri-
blará melhor, com mais aguda performance porquê usou 
essa inteligência com talento ou com maior habilidade. Ao 
se assistir o drible de dois atletas não podemos negar a cla-
ra evidência de uma inteligência cinestésico-corporal em 
ação, mas ao constatar que este dribla melhor que aquele, 
podemos inferir que isso ocorre porque possui maior habi-
lidade, talvez porquê tenha treinado mais intensamente e 
que essa mesma habilidade poderá ser alcançado por seu 
colega se se empenhar cada vez mais, desde é claro que 
seu potencial seja similar. 
Muito além da simplicidade do exemplo exposto e de-
sejando propor elementos teóricos (de natureza neuroló-
gica, sociológica e antropológica) mais sólidos para carac-
terizar uma inteligência e, desta forma, isolá-la de palavras 
que podem gerar alguma confusão, Gardner estabeleceu 
oito fundamentos que caracterizariam os elementos para 
aceitarmos uma inteligência. 
Esses fundamentos se aplicam as nove inteligência até 
esta data aferida, mesmo considerando que cada inteligên-
cia possa manifestar-se através de diferentesaptidões. Os 
fundamentos sugeridos por Gardner são: 
 
Isolamento de uma ou outra inteligência por lesão cerebral. 
 
Uma inteligência pode ser danificada por uma disfun-
ção ou lesão cerebral específica a área do cérebro em que 
a mesma encontra-se alojada. Uma pessoa, por exemplo, 
que sofra uma lesão da área de Broca ou de Wernick (lobo 
frontal esquerdo) apresenta claras deficiências linguísticas 
e apresentar problemas para ler, escrever e falar; 
 
A existência de savant 
 
A palavra savant é usada com frequência para deter-
minadas pessoas de exponencial talento em uma ou outra 
aptidão desta ou daquela inteligência, mesmo com sérios 
comprometimentos em suas ações relativas a outras inteli-
gências. Existem não poucos autistas com sérios problemas 
linguísticos ou interpessoais, mas com fortíssima inteligên-
cia lógico-matemática ou mesmo musical. Os savants reve-
lam inteligência - ou parte da mesma - superior, enquanto 
suas outras inteligências operam em baixo nível. 
 
Momentos definitos de sua manifestação ao longo da vida 
 
Cada atividade desta ou daquela inteligência parece 
apresentar um ciclo desenvolvimental nítido, onde se des-
taca a faixa etária em que surge, o momento de maior índi-
ce de desenvolvimento e um padrão próprio e específico de 
declínio com o envelhecimento. Ainda que a manifestação 
desse ciclo possa variar de inteligência para inteligência, 
tende a ser o mesmo em todas as pessoas, independente 
de sua cultura ou de seu ambiente geográfico. 
A presença das inteligências na história evolutiva da hu-
manidade
 
Ao que tudo indica desde quanto nossa espécie de-
finiu-se como “homo sapiens” já se percebia claramente 
a existência de diferentes inteligências, marcando pessoas 
especiais neste ou naquele grupo. Em outras palavras, des-
de antes da invenção da escrita já era possível detectar em 
um grupo cultural a existência de pessoas com maior pro-
jeção em cada uma das oito ou nove inteligências. 
A sensibilidade da inteligência a uma avaliação 
Todas as inteligências humanas podem ser percebidas 
em suas manifestações, apresentando-se como pouco ex-
pressivas em alguns, moderadas em outros e elevadas em 
terceiros. Embora inexiste um “teste” padrão para quanti-
ficar esta ou aquela inteligência, todas as culturas sabem 
manifestar seu apreço por inteligências elevadas nas mani-
festações conhecidas. Em outras palavras, qualquer cultu-
ra, mesmo as ágrafas, reconhecem a existência de gênios 
linguísticos, gênios lógico-matemáticos, gênios musicais e 
assim por diante. 
Análise de desempenho específico 
Gardner demonstra que, ao examinar estudos psicoló-
gicos específicos, é possível identificar inteligências ope-
rando de maneira quase que isolada uma das outras. Esse 
fundamentos nos mostra que raramente percebe-se “gê-
nios absolutos” isto é, pessoas excepcionais em todas as 
inteligências, prevalecendo potencialidades magníficas em 
matemática, na construção de textos, na composição musi-
cal e assim por diante. 
A possibilidade de uma codificação através de um siste-
ma simbólico. 
Cada inteligência possui símbolos próprios universais 
e assim como as linguagens faladas e escritas caracteri-
zam a símbolo estrutural da inteligência linguística, os si-
nais aritméticos, geométricos e os números externam os 
símbolos lógico-matemáticos. Da mesma forma as notas 
musicais externam símbolos da composição sonora, exis-
tem linguagens gráficas espaciais usadas por engenheiros 
e arquitetos, a ação corporal na dança e nos esportes é de 
validade internacional como o é o riso, o choro e outras 
manifestações espaciais das emoções inerente as inteligên-
cias pessoais. 
Operações centrais especifica de cada inteligência
 
Da mesma forma como cada uma das inteligências 
conhecidas usam sistemas simbólicos específicos, existe 
também um conjunto de operações centrais que servem 
para acionar atividades inerentes a esta ou aquela inteli-
gência. O excelente desempenho cinestésico-corporal, por 
exemplo inclui a necessidade do domínio de certas rotinas 
motoras específicas, tal como a construção de um belo tex-
to também envolve procedimentos centrais específicos à 
inteligência linguística.
39
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Inteligências Múltiplas e a Sala de Aula 
Constitui mérito indiscutível na obra de Gardner a praticidade de sua teoria e, portanto, o uso em sala de aula, indepen-
dente do nível de ensino com o qual se trabalha e o conteúdo que se busca ministrar. A idéia essencial da teoria é assumir 
que todo aluno pode expressar saberes através de diferentes linguagens e que, devidamente estimulado, pode explorar 
sua potencialidade de forma diversificada. O texto abaixo, apenas como exemplo, procura mostrar a extrema diversidade 
dessa aplicação e, nesse sentido, enfatiza uma das inúmeras perspectivas de aplicação da teoria das Inteligências Múltiplas 
em sala de aula. 
“ Faça de conta que em frente à sala, o professor acabou de fazer uma análise do tema “Capitanias Hereditárias”. Se pre-
ferir, ao invés deste, o tema tratado foi a “Como extrair-se raiz quadrada”, “O funcionamento do pâncreas”, “O quadro climato-
-botânico da Região Sudeste”, ou outro tema qualquer. No exemplo que se dará, o tema é pouco importante e o que modela 
a ação do professor será seu procedimento, ministrando aula desta ou daquela disciplina, para este ou para aquele nível. 
 
Ao concluir sua exposição e esclarecer dúvidas interpretativas, solicita uma síntese sobre o que falou, através da qual, 
alunos organizados em pequenos grupos, deverão se expressar. Alguns poderão fazer uso de uma linguagem textual e, 
dessa forma, apresentarão sua síntese com palavras e, portanto, com frases significativas, textos elucidativos, manchetes 
marcantes, reportagens realistas. Na execução desse trabalho, a atividade centrada na expressão verbal, imporá ao aluno 
um uso consistente de sua inteligência linguística. Mas, enquanto esse grupo busca a melhor forma de expressão verbal, 
um outro por exemplo, pode estar pesquisando o tema para expressar o conteúdo do mesmo, possível de ser exemplifica-
do por equações, médias, grandezas, gráficos e proporções. 
 
Enquanto o primeiro grupo “mergulhou” no tema, mas buscou resposta linguística; o segundo grupo não fez pesquisas 
menos intensas e conclusivas, mas expressou suas respostas por uma visão lógico-matemática. O tema é o mesmo, mas 
áreas cerebrais diferentes foras usadas por grupos diferentes. Da mesma forma, o mesmo tema poderá suscitar a um ter-
ceiro grupo uma resposta visuoespacial e, assim, buscará sua expressão através de mapas e de gráficos, de frisas do tempo 
e de colagens, de mapa conceituais ou outras manifestações da linguagem pictográfica. Observe que, nesse exemplo, três 
grupos diferentes, centrados em um mesmo tema, buscaram seu aprofundamento e sua integral significação explorando 
diferentes inteligências. 
Mas, será que esse tema ou conteúdo - seja ele qual for - não poderá, por exemplo, ser pesquisado através de uma 
visão sonora ou musical e, por essa via, propondo-se como letra de uma samba, valsa ou trovas populares? Será que os 
alunos empenhados nessa busca o estarão estudando menos profundamente? Será, por exemplo, que além da linguagem 
linguística ou verbal, lógico-matemática, espacial ou sonora não seria o mesmo tema um excelente desafio para se propor 
discussões que envolvessem a linguagem corporal cinestésico, naturalista, inter ou intrapessoal? 
Observe que qualquer conteúdo, de qualquer disciplina, pode ser analisando segundo a visão doentia e exclusivista de 
uma única inteligência, mas pode também, com alunos se revezando em funções que com o tempo de alternam, ser traba-
lhado de forma interdisciplinar, valendo-se de outras linguagens e, por esse caminho, explorando outras inteligências. Per-
cebe-sepelo exposto que usar as inteligências múltiplas em classes populares é tão simples quanto agir com bom senso. 
 
Mas, cuidado. Existe o bom senso de ontem e o bom senso de agora. O bom senso egoísta e exclusivista de antigamen-
te que buscava normatizar a humanidade, valorizando apenas uma de suas muitas linguagens e, dessa forma, excluindo to-
dos quantos na mesma não eram excelentes e o bom senso de agora que, ao admitir o aluno como singularidade holística, 
permite a expressão de seu saber através de diferentes formas, exercitando diferentes inteligências.” 
Concluindo a síntese sobre a aplicabilidade dos fundamentos das idéias de Gardner no contexto da realidade de nossas 
salas de aula, apresentamos o quando-síntese abaixo.
INTELIGÊNCIAS ALGUMAS ATIVIDADES MATERIAIS DE ENSINO AÇÃO DOCENTE
ESPACIAL Atividades artísticas, apresen-
tações visuais, metáforas, vi-
sualização e mapas conceituais. 
Concursos fotográficos, me-
táforas por meio de imagens, 
símbolos gráficos diversos.
Colagens, gráficos, frisas do 
tempo, mapas, massa de mo-
delagem, argila, lápis de cor, 
recursos táteis. Coleção de 
fotos.
Explorar o uso de linguagens 
alternativas, solicitar a transfe-
rência de textos para desenhos, 
gráficos, quadros-síntese
CINESTÉSICA-
-CORPORAL 
Teatro, dança, mímica, exercí-
cios de relaxamento, atividades 
diversas que envolvam o uso do 
corpo
Instrumentos de montagem, 
tampinhas, blocos, equipa-
mentos esportivos, recursos 
manipuláveis, peças LEGO. 
Mapas corporais.
Solicitar o uso de movimentos 
do corpo para expressar conhe-
cimentos de disciplinas descriti-
vas. Exercícios sobre consciência 
física. Propostas sobre cozinhar, 
costurar, jardinagem, realidades 
virtuais.
40
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
LÓGICO-MATE-
MÁTICA
Desafios, problemas, enigmas, 
atividades cientificas de experi-
mentação, desafios numéricos, 
pensamentos críticos. Concur-
sos sobre resolução de proble-
mas lógicos, criação de códigos, 
linguagens de computação.
Calculadoras, ábacos, jogos 
matemáticos, desafios que 
explorem a grandeza, propor-
ções, perspectivas. Uso de es-
calas diversas. Computador e, 
quando possível, computador 
fora de uso para desmonta-
gem e análise.
Empenhar-se em desenvolver a 
capacidade de expressar pen-
samentos através de gráficos, 
busca de proporções, médias, 
grandezas e outros elementos 
lógicos
NATURALISTA Excursões, atividades diver-
sas ao ar livre, experiências de 
classificação animais e vegetais, 
pesquisas sobre o mundo ani-
mal e organização de ecossiste-
mas. Caminhadas naturalistas, 
etc.
Aquários, terrários, hortas co-
letivas, pequenos museus ou 
coleções naturalistas.
Proposição de desafios que en-
volvam conhecimento de ani-
mais e plantas, transposição de 
temas para um enfoque natura-
lista, organização de diários de 
campo e registros de atividades 
ao ar livre
SONORA Aprendizagem rítmica, apre-
sentação de corais abordando 
temas escolares, seleção e cria-
ção de músicas envolvendo os 
conteúdos disciplinares. Dra-
matizações e Concertos. Visitas 
a apresentações musicais. Vin-
culação de conceitos à música.
Gravador, coleção de fitas, 
instrumentos musicais, cole-
ção de CDs. Aparelhos de re-
produção sonora.
Sugestão para a criação de pa-
ródias, organização de grupos 
para apresentação de temas 
escolares com ritmos diversos e 
uso de fundo musical
LINGÜISTICA Explanações, debates, organi-
zação de telejornais ou jornais 
impressos ou murais, jogos de 
palavras e atividades que ex-
plorem a narração, leitura ou 
redação. Organização de gru-
pos para debates sobre filmes 
assistidos, clubes literários, con-
cursos linguísticos.
Livros diversos, dicionários 
de vários tipos, coleção de 
jornais e revistas, portfólios 
sobre temas, concurso de re-
dação, trovas e outros
Estímulos para pesquisas bi-
bliográficas, exploração de di-
ferentes habilidades operatórias 
como sintetizar, analisar, rela-
tar, descrever e outras, desafios 
sobre interpretação de textos, 
concursos de manchetes, trovas 
e poemas para expressar dife-
rentes conteúdos
INTRAPESSOAL Orientação individual, explo-
ração de pesquisas sobre a 
autoestima, aceitação de pro-
duções individualizadas, opor-
tunidade de opções para ma-
nifestações diferenciadas do 
conhecimento adquirido.
Recursos diversos para au-
toavaliação, organização de 
portfólios, diários, materiais 
diversificados sobre projetos, 
orientação pessoal de pesqui-
sas.
Exploração de atividades que 
envolvam a significação dos fa-
tos apreendidos no uso diário, 
ajuda para a contextualização 
do apreendido no cotidiano vi-
vido.
INTERPESSOAL Trabalhos em grupo, organi-
zação de micro cooperativas e 
projetos de apoio comunitário, 
organização de campanhas fi-
lantrópicas, reuniões sociais. 
Propostas para atividades com-
partilhadas, exercícios de simu-
lações.
Jogos coletivos, relação de 
atividades sociais, arquivo de 
projetos de ação comunitária, 
fontes de apoio a ações cole-
tivas.
Estímulo a cooperação, propos-
ta de campanhas diversas.
Fonte:
Disponível em: http://revistaeducacao.uol.com.br/formacao-docente/0/artigo233099-1.asp
3.5 PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO: ASPECTOS HISTÓRICOS E BIOPSICOSSOCIAIS. 
A Psicologia do Desenvolvimento como ramo da ciência psicológica constitui-se no estado sistemático da personalida-
de humana, desde a formação do indivíduo, no ato da fecundação até o estágio terminal da vida, ou seja, a velhice.
Como ciência comportamental, a psicologia do desenvolvimento ocupa-se de todos os aspectos do desenvolvi-
mento e estuda homem como um todo, e não como segmentos isolados de dada realidade biopsicológica. De modo 
integrado, portanto, a psicologia do desenvolvimento estuda os aspectos cognitivos, emocionais, sociais e morais da 
41
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
evolução da personalidade, bem como os fatores deter-
minantes de todos esses aspectos do comportamento do 
indivíduo.
Como área de especialização no campo das ciências 
comportamentais, argumenta Charles Woorth (1972), a psi-
cologia do desenvolvimento se encarrega de salientar o 
fato de que o comportamento ocorre num contexto histó-
rico, isto é, ela procura demonstrar a integração entre fa-
tores passados e presentes, entre disposições hereditárias 
incorporadas às estruturas e funções neurofisiológicas, as 
experiências de aprendizagem do organismo e os estímu-
los atuais que condicionam e determinam seu comporta-
mento.
Processos básicos no Desenvolvimento Humano
Muitos autores usam indiferentemente as palavras de-
senvolvimento e crescimento. Entre estes encontram-se 
Mouly (1979) e Sawrey e Telford (1971). Outros, porém, 
como Rosa, Nerval (1985) e Bee (1984-1986), preferem 
designar como crescimento as mudanças em tamanho, e 
como desenvolvimento as mudanças em complexidade, ou 
o plano geral das mudanças do organismo como um todo.
Mussen (1979), associa a palavra desenvolvimento 
a mudanças resultantes de influências ambientais ou de 
aprendizagem, e o crescimento às modificações que de-
pendem da maturação.
Diante dos estudos e leituras realizados, torna-se evi-
dente e necessário o estabelecimento de uma diferencia-
ção conceitual desses termos, vez que, constantemente 
encontramos os estudiosos dessa área referindo-se a um 
outro termo, de acordo com a situação focalizada. Desta 
forma, preferimos conceituar o crescimento como sendo 
o processo responsável pelas mudanças em tamanho e 
sujeito às modificações que dependem da maturação, e o 
desenvolvimento como as mudanças em complexidade ou 
o plano geral das mudanças do organismo como um todo, 
e que sofrem, além da influência do processo maturacional, 
a ação maciça das influências ambientais, ou da aprendiza-
gem (experiência,treino).
Através da representação gráfica, que se segue, ilus-
tramos o conceito de crescimento e desenvolvimento, evi-
denciando a interveniência dos fatores que o determinam: 
Hereditariedade, meio ou ambiente, maturação e aprendi-
zagem (experiência, treino).
Processo de Desenvolvimento
Exemplificando o uso do conceito de crescimento e 
desenvolvimento:
É evidente que a mão de uma criança é bem menor do 
que a mão de um adulto normal. Pelo processo normal do 
crescimento, a mão da criança atinge o tamanho normal 
da mão do adulto na medida em que ela cresce fisicamen-
te. Dizemos, portanto, que, no caso, houve crescimento 
dessa parte do corpo. A mão de um adulto normal é dife-
rente da mão de uma criancinha, não somente por causa 
do seu tamanho. Ela é diferente, sobretudo, por causa de 
sua maior capacidade de coordenação de movimentos e 
de uso. Neste caso, podemos fazer alusão ao processo de 
desenvolvimento, que se refere mais ao aspecto qualitativo 
(coordenação dos movimentos da mão, desempenho), sem 
excluir, todavia, alguns aspectos quantitativos (aumento do 
tamanho da mão). Nota-se, entretanto, que essa distinção 
entre crescimento e desenvolvimento nem sempre pode 
ser rigorosamente mantida, porque em determinadas fases 
da vida os dois processos são, praticamente, inseparáveis.
A questão da hereditariedade e do meio no desen-
volvimento humano
A controvérsia hereditariedade e meio como influên-
cias geradoras e propulsoras do desenvolvimento humano 
tem ocupado, através dos anos, lugar de relevância no con-
texto geral da psicologia do desenvolvimento.
A princípio, o problema foi estudado mais do ponto 
de vista filosófico, salientando-se, de um lado, teorias na-
tivistas, como a de Rousseau, que advogava a existência 
de ideias inatas, e, de outro lado, as teorias baseadas no 
empirismo de Locke, segundo o qual todo conhecimento 
da realidade objetiva resulta da experiência, através dos 
órgãos sensoriais, dando, assim, mais ênfase aos fatores do 
meio.
Particularmente, no contexto da psicologia do desen-
volvimento, o problema da hereditariedade e do meio tem 
aparecido em relação a vários tópicos. Por exemplo, no es-
tudo dos processos perceptivos, os psicólogos da Gestalt 
advogaram que os fatores genéticos são mais importantes 
à percepção do que os fatores do meio. Por outro lado, 
cientistas como Hebb (1949) defendem a posição empi-
rista, segundo a qual os fatores da aprendizagem são de 
essencial importância ao processo perceptivo. Na área de 
estudo da personalidade encontramos teorias constitu-
cionais como as de Kretschmer e Sheldon que advogam a 
existência de fatores inatos determinantes do comporta-
mento do indivíduo, enquanto outros, como Bandura, em 
sua teoria da aprendizagem social, afirmam que os fatores 
de meio é que, de fato, modelam a personalidade huma-
na. Na pesquisa sobre o desenvolvimento verbal, alguns 
psicólogos como Gesell e Thompson (1941) se preocupam 
mais com o processo da maturação como fato biológico, 
enquanto outros se preocupam, mais, com o processo de 
aprendizagem, como é o caso de Gagné (1977), Deese e 
Hulse (1967) e tantos outros. Com relação ao estudo da 
inteligência, o problema é o mesmo: uns dão maior ênfase 
aos fatores genéticos, como é o caso de Jensen (1969), en-
quanto outros salientam mais os fatores do meio, como o 
faz Kagan (1969).
Em 1958, surgiu uma proposta de solução à questão, 
por Anne Anastasi, que publicou um artigo no Psychologi-
cal Review, sobre o problema da hereditariedade e meio na 
determinação do comportamento humano.
O trabalho de Anastasi lançou considerável luz sobre o 
problema, tanto do ponto de vista teórico como nos seus 
aspectos metodológicos. Isso não significa que o problema 
tenha sido resolvido, mas, pelo menos, ajudou os estudio-
sos a formularem a pergunta adequada pois, como se sabe, 
fazer a pergunta certa é fundamental a qualquer pesquisa 
científica relevante.
42
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Faremos, a seguir, uma breve exposição da solução 
proposta por Anne Anastasi (1958), contando com o auxílio 
de outras fontes de informação.
A discussão do problema hereditariedade versus meio 
encontra-se, hoje, num estágio em que ordinariamente se 
admite que tanto os fatores hereditários como os fatores 
do meio são importantes na determinação do comporta-
mento do indivíduo. A herança genética representa o po-
tencial hereditário do organismo que poderá ser desenvol-
vido dependendo do processo de interação com o meio, 
mas que determina os limites da ação deste.
Anastasi afirmou que mesmo reconhecendo que de-
terminado traço de personalidade resulte da influência 
conjunta de fatores hereditários e mesológicos, uma dife-
rença específica nesse traço entre indivíduos ou entre gru-
pos pode resultar de um dos fatores apenas, seja o genéti-
co seja o ambiente. Determinar exatamente qual dos dois 
ocasiona tal diferença ainda é um problema na metodolo-
gia da pesquisa.
Segundo Anastasi, a pergunta a ser feita, hoje, não mais 
deve ser qual o fator mais importante para o desenvolvi-
mento, ou quanto pode ser atribuído à hereditariedade e 
quanto pode ser atribuído ao meio, mas como cada um 
desses fatores opera em cada circunstância. É, pois, por-
tanto, mais preocupada com a questão de como os fatores 
hereditários e ambientais interagem do que propriamente 
com o problema de qual deles é o mais importante, ou 
de quanto entra de cada um na composição do comporta-
mento do indivíduo.
Anastasi procurou demonstrar que os mecanismos de 
interação variam de acordo com as diferentes condições e, 
com respeito aos fatores hereditários, ela usa vários exem-
plos ilustrativos desse processo interativo.
O primeiro exemplo é o da oligofrenia fenilpirúvica e a 
idiotia amurótica. Em ambos os casos o desenvolvimento 
intelectual do indivíduo será prejudicado como resultado 
de desordens metabólicos hereditárias. Até onde se sabe, 
não há qualquer fator ambiental que possa contrabalançar 
essa deficiência genética. Portanto, o indivíduo que sofreu 
essa desordem metabólica no seu processo de formação 
será mentalmente retardado, por mais rico e estimulante 
que seja o meio em que viva.
A questão da MATURAÇÃO e da APRENDIZAGEM 
no desenvolvimento humano
A partir do patrimônio hereditário e tendo, do outro 
lado, o meio para complementar o processo de desenvol-
vimento, temos dois processos fundamentais: o da MATU-
RAÇÃO e o da APRENDIZAGEM ou EXPERIÊNCIA.
Segundo Schneirla (1957), o desenvolvimento se refere 
a mudanças progressivas na organização de um organis-
mo. Este, por sua vez, é encarado como um sistema fun-
cional e adaptativo através de toda a vida. Portanto, desen-
volvimento implica em mudança progressiva num sistema 
vivo, individual, funcional e adaptativo. Nessa mudança 
progressiva do desenvolvimento há dois fatores gerais de 
alta complexidade e de grande importância - maturação e 
experiência.
Maturação significa crescimento e diferenciação dos 
sistemas físicos e fisiológicos do organismo. Crescimento 
se refere a mudanças resultantes de acréscimo de tecidos. 
É, portanto, de natureza quantitativa. Diferenciação se re-
fere a mudanças nos aspectos estruturais dos tecidos. Um 
exemplo típico de diferenciação seria o caso do embrião, 
que em determinada fase de seu desenvolvimento é divi-
dido em três camadas ou folhetos - o mesoderma, o en-
doderma e o ectoderma - dos quais se originam os vários 
órgãos e sistemas do corpo.
Maturação, portanto, se refere a mudanças que ocor-
rem no organismo como resultado de crescimento e dife-
renciação de seus tecidos e órgãos.
Para elucidar, mais um pouco, a questão, faremos as 
seguintes colocações;
- O crescimento refere-se a alguns tipos de mudanças, 
passo a passo em quantidade, como por exemplo, em ta-
manho. Falamosdo crescimento do vocabulário da crian-
ça ou do crescimento do seu corpo. Tais mudanças em 
quantidade podem ser em função da maturação, mas não 
necessariamente. O corpo de uma criança pode mudar de 
tamanho porque sua alimentação mudou, o que é efeito 
externo, ou porque seus músculos e ossos cresceram, o 
que é, provavelmente, um efeito maturacional.
Note-se, entretanto, que a maturação não ocorre à re-
velia da contribuição do meio. Segundo Schneirla, o pro-
cesso maturacional deve, sempre, ocorrer no contexto de 
um ambiente favorável. Visto que existe essa interdepen-
dência, a direção exata que a maturação tomará será afe-
tada por aquilo que acontece no contexto em que vive o 
organismo.
- Experiência se refere a todas as influências que agem 
sobre o organismo através de sua vida. A experiência pode 
afetar o organismo em qualquer fase de sua ontogêne-
se. Há experiência com ações químicas, ou enfermidades, 
que podem afetá-lo na vida intrauterina, e há outras que 
podem afetá-lo depois do nascimento. Quer se trate, por-
tanto, de experiência endógena ou exógena, ela constitui, 
sempre, um dos fatores de interação que determinam o 
desenvolvimento.
Maturação e experiência, portanto, interagem no pro-
cesso do desenvolvimento, e isso se dá de modo especí-
fico. Há experiências, por exemplo, que produzem o que 
Schneirla chamou de efeitos de traços, que são mudanças 
orgânicas que, por sua vez, afetam experiências futuras. 
Isto é, há experiências que produzem mudanças no orga-
nismo, e estas mudanças determinam o modo como ex-
periências futuras afetarão o organismo. Exemplo, se uma 
criança passa por uma experiência que a incapacita para 
atividades esportivas, um programa de educação física a 
afetará de modo diferente do que afetaria sem tal expe-
riência traumática - exemplificar dentro do nosso sujeito.
Acontece, porém, que os efeitos que determinada ex-
periência pode causar são limitadas pelo nível de matura-
ção do organismo. A mesma experiência poderá produzir 
diferentes efeitos, dependendo do nível de maturação do 
organismo. Aparentemente, não será de grande proveito 
submeter o organismo a um processo de aprendizagem 
para o qual ele não tenha um mínimo de condições em 
43
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
termos de seu processo maturacional. Por outro lado, en-
tretanto, a experiência impõe limites à maturação. O cres-
cimento e diferenciação do processo maturacional não 
ocorrerão sem os efeitos facilitadores da experiência. Por-
tanto, maturação e experiência devem interagir para que o 
desenvolvimento possa ocorrer.
Passamos a ilustrar, com exemplos, situações práticas, 
através das quais venha a ser evidenciada a questão da 
maturação versus aprendizagem/experiência. É necessário 
que compreendamos que o desenvolvimento determina-
do pela maturação ocorre, na sua forma pura, indepen-
dentemente da prática ou tratamento, pois as sequências 
maturacionais são poderosas. Você não precisa praticar o 
crescimento dos pelos pubianos, não precisou que lhes en-
sinassem como andar. Mas essas mudanças não ocorrem 
no vácuo. A criança amadurece num ambiente específico, 
e mesmo tais padrões maturacionais poderosos podem ser 
perturbados pela privação ou por acidentes.
Uma criança que não come o suficiente pode andar 
depois que outra que recebeu uma boa dieta. Durante o 
desenvolvimento pré-natal a sequência de mudanças pode 
ser perturbada por coisas, como por exemplo, doenças na 
mãe. Mesmo as mudanças físicas na puberdade podem ser 
alteradas em circunstâncias extremas, particularmente pela 
desnutrição. Por exemplo, meninas severamente subnu-
tridas não menstruam. Dennis (1960), observou o desen-
volvimento físico de crianças criadas em orfanato no Irã, 
durante os anos 50. Em um dos orfanatos, as crianças eram 
colocadas em seus berços deitadas de costas, sobre col-
chões que já estavam tão afundados que se tornava extre-
mamente difícil para os bebês rolarem, ou virarem.
Na medida em que eles raramente ficavam deitados 
de barriga para baixo, tinham poucas oportunidades para 
praticar os movimentos que compõem os primeiros está-
gios da sequência que leva ao engatinhar e andar. Em fun-
ção disso, muitos bebês não engatinhavam. Ao invés disso, 
eles conseguiram se movimentar patinando, uma forma de 
locomoção na qual a criança senta e impulsiona-se para 
frente através de um movimento de flexionar e esticar as 
pernas. Todas as crianças acabavam andando, mas os pa-
tinadores eram muito atrasados, e sua sequência de movi-
mentos pré-marcha estava alterada. Portanto, embora as 
sequências maturacionais sejam poderosas, elas são afe-
tadas pelo tipo de estimulação disponível para a criança.
Com referência às influências ambientais, tem havi-
do grande quantidade de pesquisas de psicologia do de-
senvolvimento sobre os efeitos de influências ambientais, 
como a pobreza ou classe social. Estas pesquisas e estudos 
equivalentes sobre os efeitos dos padrões familiares, dieta 
ou diferenças étnicas envolvem, basicamente, a compara-
ção de grupos que tenham sofrido experiências bastante 
diferentes. As questões básicas respondidas são perguntas 
do tipo o que mais, do que, por que. Qual é o efeito da 
pobreza sobre o desenvolvimento da linguagem ou cres-
cimento físico da criança? O que acontece com o conceito 
de gênero da criança se ela não tem o pai ou a mãe em 
casa? Podemos descobrir, por exemplo, que as crianças 
criadas em famílias pobres conhecem um número menor 
de palavras que as crianças em famílias financeiramente 
mais seguras. Mas, por que? Esta pergunta “por que” nos 
leva, inevitavelmente, ao exame mais detalhado dos am-
bientes desses dois tipos de crianças. Quem conversa com 
a criança? Com que frequência? Que tipos de palavras são 
usados? Quando abordamos perguntas como essas saímos 
dos efeitos ambientais amplos e caímos no campo das ex-
periências individuais específicas. Na verdade, os dois as-
pectos do desenvolvimento, maturação e aprendizagem, 
são tão intimamente ligados que não é possível isolar a 
influência de um e de outro. A pessoa baixa pode sê-lo de-
vido a uma tendência hereditária, ou devido a uma doença 
que impediu o seu crescimento. A capacidade herdada não 
pode desenvolver-se num vácuo, nem pode ser medida a 
não ser através do estado atual de desenvolvimento, e este, 
naturalmente, resulta em parte da aprendizagem. Se uma 
pessoa se comporta de maneira não-inteligente, não exis-
te forma infalível de saber se tal comportamento resulta 
de limitações herdadas ou de limitações de seu ambiente 
na estimulação do crescimento. Apenas no caso em que 
podemos, com razoável certeza, eliminar as possibilida-
des de insuficiente oportunidade para aprender, podemos 
considerar o comportamento inadequado como indicador 
de deficiências herdadas. Dessa maneira, se alguém pare-
ce estúpido em um problema de cálculo adiantado, isso 
pode ou não implicar falta de inteligência, o que depende 
da experiência do indivíduo nesse campo; ao contrário, a 
incapacidade para compreender relações entre ideias co-
muns pode ser interpretada, com mais segurança, como 
resultado de insuficiência mental.
Segundo Samuel Pfromm Neto (1976), pode-se inferir 
a atuação de dois processos básicos no desenvolvimento: 
a maturação e a aprendizagem. A maturação, responsável 
pela diferenciação ou desenvolvimento de traços poten-
cialmente presentes no indivíduo, ocorre independente-
mente da experiência. Frank (1963), entretanto, assinala 
que mais do que a emergência de padrões não aprendidos, 
a noção de maturação implica na reorganização e recom-
binação da sequência total de funções e comportamentos 
anteriormente padronizados, possibilitando a emergência 
de novos padrões essenciais ao desenvolvimento huma-
no. De tal processo resultam as mudanças ordenadas no 
comportamento, que sedão de modo universal e ocorrem, 
mais ou menos na mesma época, em todos os indivíduos. 
A aprendizagem refere-se a mudanças no comportamento 
e nas características físicas do indivíduo que implicam em 
treino, exercício e, por vezes, em esforço consciente, deli-
berado, do próprio indivíduo. É de particular importância, 
em se tratando de seres humanos, a aprendizagem que 
ocorre em situação social.
Embora a maturação possa ser tratada separadamente 
da aprendizagem, numa exposição teórica sobre o desen-
volvimento humano não é fácil fazer tal separação na práti-
ca. Quase todos os comportamentos resultantes de matu-
ração sofrem a influência da aprendizagem e os dois pro-
cessos se apresentam de tal modo inter-relacionados que 
raramente é possível distinguir o primeiro do segundo. No 
desenvolvimento da linguagem da criança, por exemplo, a 
maturação de estruturas e funções envolvidas na produção 
e reconhecimento de sons interage estreitamente com a 
44
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
aprendizagem de um idioma específico. A maturação, na 
verdade, fornece as mesmas bases para a aprendizagem de 
quaisquer idiomas.
O desenvolvimento psicossexual do adolescente, se-
gundo Samuel Pfromm Neto, serve, também, para ilustrar 
a interação acima referida. Não basta a maturação sexual 
ligada às transformações pubertárias para garantir a efeti-
vação do comportamento sexual. Um complexo de apren-
dizagens sociais-sexuais deve ter lugar, antes que o jovem 
possa ser considerado seguro, bem ajustado e bem aceito 
em suas relações com o sexo.
Não obstante a dificuldade de diferenciar, na prática, 
as influências da maturação e da aprendizagem, numero-
sas pesquisas realizadas com êxito, com animais e seres 
humanos, permitiram melhor conhecimento das relações 
entre os dois processos. Eis algumas generalizações, deri-
vadas de tais pesquisas:
a) As habilidades alicerçadas de modo mais direto so-
bre padrões de desenvolvimento do comportamento que 
resulta de maturação são mais facilmente aprendidas (por 
exemplo, a aprendizagem universal de pa-pa e ma-ma, pa-
lavras que se ajustam mais facilmente ao balbucio natural 
da criancinha).
b) Quanto mais amadurecido o organismo, tanto me-
nor treino é necessário para atingir um determinado nível 
de proficiência.
c) A aprendizagem ou treino antes da maturação pode 
resultar em melhoria nula ou apenas temporária.
d) Quando o treino prematuro é frustrado, seus efeitos 
podem ser prejudiciais (Hitgard -1962).
Princípios Gerais do Desenvolvimento Humano
O desenvolvimento é um processo contínuo que co-
meça com a vida, isto é, na concepção, e a acompanha, 
sendo agente de modificações e aquisições.
A sequência do desenvolvimento no período pré-natal, 
isto é, antes do nascimento, é fixa e invariável. A cabeça, 
os olhos, o tronco, os braços, as pernas, os órgãos genitais 
e os órgãos internos desenvolvem-se na mesma ordem, e 
aproximadamente nas mesmas idades pré-natais em todos 
os fatos.
Embora os processos subjacentes ao crescimento se-
jam muito complexos, tanto antes quanto após o nasci-
mento, o desenvolvimento humano ocorre de acordo com 
certo número de princípios gerais, os quais veremos a se-
guir.
Primeiro: O crescimento e as mudanças no comporta-
mento são ordenados e, na maior parte das vezes, ocorrem 
em sequências invariáveis. Todos os fetos podem mover a 
cabeça antes de poderem abrir as mãos. Após o nascimento, 
há padrões definidos de crescimento físico e de aumentos 
nas capacidades motoras e cognitivas. Toda criança conse-
gue sentar-se antes de ficar de pé, fica de pé antes de andar 
e desenha um círculo antes de poder desenhar um quadrado. 
Todos os bebês passam pela mesma sequência de estágios 
no desenvolvimento da fala: balbuciam antes de falar, pro-
nunciam certos sons antes de outros e formam sentenças 
simples antes de pronunciar sentenças complexas. Certas 
capacidades cognitivas precedem outras, invariavelmente. 
Todas as crianças podem classificar objetos ou colocá-los 
em série, levando em consideração o tamanho, antes de 
poder pensar logicamente, ou formular hipóteses.
A natureza ordenada do desenvolvimento físico e mo-
tor inicial está ilustrada pelas tendências “direcionais”. Uma 
dessas tendências é chamada cefalocaudal ou da cabeça 
aos pés, isto é, a direção do desenvolvimento de qualquer 
forma e função vai da cabeça para os pés. Por exemplo, os 
“botões” dos braços do feto surgem antes dos “botões” 
das pernas, e a cabeça já está bem desenvolvida antes que 
as pernas estejam bem formadas.
No instante, a fixação visual e a coordenação olho-mão 
estão desenvolvidas muito antes que os braços e as mãos 
possam ser usadas com eficiência para tentar alcançar e 
agarrar objetos. A direção seguinte do desenvolvimento é 
chamada próximo-distal, ou de dentro para fora. Isso sig-
nifica que as partes centrais do corpo amadurecem mais 
cedo e se tornam funcionais antes das partes que se situam 
na periferia. Movimentos eficientes do braço e antebraço 
precedem os movimentos dos pulsos, mãos e dedos. O 
braço e a coxa são controlados voluntariamente antes do 
antebraço, da perna, das mãos e dos pés. Os primeiros atos 
do infante são difusos grosseiros e indiferenciados, envol-
vendo o corpo todo ou grandes segmentos do mesmo. 
Pouco a pouco, no entanto, esses movimentos são substi-
tuídos por outros, mais refinados, diferenciados e precisos 
- uma tendência evolutiva do maciço para o específico dos 
grandes para os pequenos músculos. As tentativas iniciais 
do bebê para agarrar um cubo, por exemplo, são muito de-
sajeitadas quando comparadas aos movimentos refinados 
do polegar e do indicador que ele poderá executar alguns 
meses depois. Seus primeiros passos no andar são indeci-
sos e implicam movimentos excessivos. No entanto, pouco 
a pouco, começa a andar de modo mais gracioso e preciso.
Segundo: O desenvolvimento é padronizado e contí-
nuo, mas nem sempre uniforme e gradual. Há períodos de 
crescimento físico muito rápido - nos chamados surtos do 
crescimento - e de incrementos extraordinários nas capa-
cidades psicológicas. Por exemplo, a altura do bebê e seu 
peso aumentam enormemente durante o primeiro ano, e 
os pré-adolescentes e adolescentes também crescem de 
modo extremamente rápido. Os órgãos genitais desenvol-
ve-se muito lentamente durante a infância, mas de modo 
muito rápido durante a adolescência. Durante o período 
pré-escolar, ocorrem rápidos aumentos no vocabulário e 
nas habilidades motoras e, por volta da adolescência, a ca-
pacidade individual para resolver problemas lógicos apre-
senta um progresso notável.
Terceiro: Interações complexas entre a hereditarieda-
de, isto é, fatores genéticos, e o ambiente (a experiência) 
regulam o curso do desenvolvimento humano. É, portanto, 
extremamente difícil distinguir os efeitos dos dois conjun-
tos de determinantes sobre características específicas ob-
servadas. Considere-se, por exemplo, o caso da filha de um 
bem-sucedido homem de negócios e de uma advogada. O 
quociente intelectual da menina é 140, o que é muito alto. 
Esse resultado é o produto de sua herança de um potencial 
alto ou de um ambiente mais estimulante no lar? Muito 
provavelmente, é o resultado da interação dos dois fatores.
45
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Podemos considerar as influências genéticas sobre ca-
racterísticas específicas como altura, inteligência ou agres-
sividade, mas, na maior parte dos casos de funções psi-
cológicas as contribuições exatas dos fatores hereditários 
são desconhecidas. Para tais características, as perguntas 
relevantes são: quais das potencialidades genéticas do in-
divíduo serão realizadas no ambiente físico, social e cultu-
ral em que ele ou ela se desenvolve? Que limites para o de-
senvolvimento das funções psicológicas sãodeterminados 
pela constituição genética do indivíduo?
Muitos aspectos do físico e da aparência são fortemen-
te influenciados por fatores genéticos sexo, cor dos olhos e 
da pele, forma do rosto, altura e peso. No entanto, fatores 
ambientais podem exercer forte influência mesmo em al-
gumas dessas características que são basicamente deter-
minadas pela hereditariedade. Por exemplo, os filhos de 
judeus, nascidos na América do Norte, de pais que para lá 
imigraram há duas gerações, tornaram-se mais altos e mais 
pesados do que seus pais, irmãos e irmãs nascidos no es-
trangeiro. As crianças da atual geração, nos Estados Unidos 
e em outros países do Ocidente, são mais altas e pesadas e 
crescem mais rapidamente do que as crianças de gerações 
anteriores. Evidentemente, os fatores ambientais, especial-
mente a alimentação e as condições de vida afetam o físico 
e a rapidez do crescimento.
Fatores genéticos influenciam características do tem-
peramento, tais como tendência para ser calmo e rela-
xado ou tenso e pronto a reagir. A hereditariedade pode 
também estabelecer os limites superiores, além dos quais 
a inteligência não pode se desenvolver. Como e sob que 
condições as características temperamentais ou de inteli-
gência se manifestarão, depende, não obstante de muitos 
fatores do ambiente. Crianças com bom potencial intelec-
tual, geneticamente determinado, não parecem muito inte-
ligentes se são educadas em ambientes monótonos e não 
estimulantes, ou se não tiverem motivação para usar seu 
potencial.
Em suma, as contribuições relativas das forças heredi-
tárias e ambientais variam de características para caracte-
rísticas. Quando se pergunta sobre as possíveis influências 
genéticas no comportamento, devemos sempre estar aten-
tos às condições nas quais as características se manifestam. 
No que diz respeito à maior parte das características com-
portamentais, as contribuições dos fatores hereditários são 
desconhecidas e indiretas.
Quatro: Todas as características e capacidades do in-
divíduo, assim como as mudanças de desenvolvimento, 
são produtos de dois processos básicos, embora comple-
xos, que são os seguintes: maturação (mudanças orgânicas 
neurofisiológicas e bioquímicas que ocorrem no corpo do 
indivíduo e que são relativamente independentes de con-
dições ambientais externas, de experiências ou de práticas) 
e experiência (aprendizagem e treino).
Como a aprendizagem e a maturação quase sempre 
interagem é difícil separar seus efeitos ou especificar suas 
contribuições relativas ao desenvolvimento psicológico. 
Com certeza, o crescimento pré-natal e as mudanças na 
proporção do corpo e na estrutura do sistema nervoso são 
antes produtos de processos de maturação que de expe-
riências. Em contraste, o desenvolvimento das habilidades 
motoras e das funções cognitivas depende da maturação, 
de experiência e da interação entre os dois processos. Por 
exemplo, são as forças de maturação entre os dois proces-
sos que determinam, em grande parte, quando a criança 
está pronta para andar. Restrições ao exercício da loco-
moção não adiam seu começo, a nãos ser que sejam ex-
tremas. Muitos infantes dos índios bopis são mantidos em 
berços durante a maior parte do tempo de seus primeiros 
três meses de vida, e mesmo durante parte do dia, após 
esse período inicial. Portanto, têm muito pouca experiência 
ou oportunidade de exercitar os músculos utilizados habi-
tualmente no andar. No entanto, começam a andar com 
a mesma idade que as outras crianças. Reciprocamente, 
nãos e pode ensinar recém-nascidos e ficar de pé ou andar 
antes que ser equipamento neural e muscular tenha ama-
durecido o suficiente. Quando essas habilidades motoras 
básicas forem adquiridas, no entanto, elas melhoram com 
a experiência e prática. O andar torna-se mais coordenado 
e mais gracioso à medida que os movimentos inúteis são 
eliminados; os passos mais longos, coordenados e rápidos.
A aquisição da linguagem e o desenvolvimento das 
habilidades cognitivas são, também, resultados da intera-
ção entre as forças de experiência e da maturação. Assim, 
embora as crianças não comecem a falar ou juntar palavras 
antes de atingirem certo nível de maturidade física, pou-
co importando quanto “ensinamento” lhes for ministrado, 
obviamente a linguagem que vierem a adquirir depende 
de suas experiências, isto é, da linguagem que ouvem os 
outros falar. Sua facilidade verbal será, pelo menos parcial-
mente, função do apoio e das recompensas que recebem 
quando expressam verbalmente.
Qualogamente, as crianças não adquirirão certas ha-
bilidades intelectuais ou cognitivos, enquanto não tiverem 
atingido determinado grau de maturidade. Por exemplo, 
até o estágio o que Piaget denomina operacional - apro-
ximadamente entre seis e sete anos as crianças só conse-
guem lidar com objetos, eventos e representações desses. 
Mas não conseguem lidar com ideias ou conceitos. Antes 
de atingirem o estágio operacional, não dispõem do con-
ceito de conservação a idéia de que a qualidade de uma 
substância, como a argila não muda simplesmente porque 
sua forma mudou de esférica, digamos a cilíndrica. Uma 
vez atingido o estágio das operações concretas e tendo 
acumulado mais experiências ligadas à noção de conser-
vação, podem, agora aplicá-la a outras qualidades. Podem 
compreender que o comprimento, a massa, o número e o 
peso permanecem constantes, apesar de certas mudanças 
na aparência externa.
Quinto: características de personalidade e respostas 
social, incluindo-se motivos, respostas emocionais e modos 
habituais de reagir, são em grande proporção aprendidos, 
isto é, são o resultado de experiência e prática ou exercício. 
Com isso, não se pretende negar o princípio de que fatores 
genéticos e de maturação desempenham importante papel 
na determinação do que e como o indivíduo aprende.
A aprendizagem vem sendo, desde há muito, uma das 
áreas centrais de pesquisa e teoria em psicologia e muitos 
princípios importantes de aprendizagem foram estabele-
46
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
cidos. Há três tipos de aprendizagem que são de impor-
tantes crítica no desenvolvimento da personalidade e no 
desenvolvimento social.
A primeira e mais tradicional abordagem da apren-
dizagem é c condicionamento operante ou instrumental, 
uma resposta que já está no repertório da criança é re-
compensada ou reforçada por alimento, prazer, aprovação 
ou alguma outra recompensa material. Torne-se, em con-
sequência, fortalecida, isto é, há maior probabilidade de 
que essa resposta se repita. Por exemplo, ao reforçarmos 
ou recompensarmos crianças de três meses cada vez que 
elas vocalizem (sorrindo-lhes ou tocando-lhes levemente 
na barriga), ocorre um aumento marcante na frequência de 
vocalização das crianças.
Muitas das respostas das crianças são modificadas ou 
modeladas através do condicionamento operante. Num 
estudo, cada criança de uma classe pré-escolar foi recom-
pensada pela aprovação do professor por toda resposta 
social que desse e outras crianças e cada vez que mani-
festasse um comportamento de cooperação ou de ajuda a 
outras crianças. Respostas agressivas, como bater, impor-
tunar, gritar e quebrar objetos, foram ignoradas ou puni-
das por repreensão. Dentro de muito pouco tempo, houve 
aumentos notáveis no número de respostas dirigidos aos 
colegas, de respostas agressivas declinou rapidamente. Do 
mesmo modo, diversas características de personalidade, 
muitos motivos e respostas sociais são aprendidos através 
do contato direto com um ambiente que reforça certas res-
postas e pune ou ignora outras.
Respostas complexas podem, também, ser aprendidas 
de outro modo pela observação dos outros. O repertório 
comportamental de uma criança expande-se considera-
velmente, através da aprendizagem por observação. Esse 
fato tem sido muitas vezes demonstradoem experimentos 
envolvendo grande variedade de respostas. Nesses experi-
mentos, as crianças são expostas a um modelo que executa 
diversos tipos de ações, simples ou complexas, verbais ou 
motoras, agressivas, dependentes ou altruísticas. As crian-
ças do grupo de controle não observam o modelo. Poste-
riormente, as crianças são observadas para se determinar 
até que ponto copiam e imitam o comportamento mos-
trado pelo modelo. Os resultados demonstram que apren-
dizagem por observação é muito eficiente. As crianças do 
grupo experimental geralmente imitam as respostas do 
modelo, ao passo que as do grupo de controle não exibem 
essas respostas. Note-se que não foi necessário o reforço 
para adquirir ou para provocar respostas imitativas.
Obviamente, a criança não tem de aprender como res-
ponder a cada situação nova. Depois de uma resposta ter-
-se associado a um estímulo ou arranjo ambiental, ela tem 
probabilidade de ser transferida a situações similares. Esse 
é o princípio da generalização do estímulo. Se a criança 
aprendeu a acariciar seu próprio cão, poderá acariciar ou-
tros cães, especialmente os semelhantes ao seu.
Sexto: Há períodos críticos ou sensíveis ao desenvolvi-
mento a certos órgãos do corpo e de certas funções psi-
cológicas. Se ocorrem interferências no desenvolvimento 
normal durante esses períodos, é possível que surjam defi-
ciências, ou disfunções permanentes. Por exemplo, há pe-
ríodos críticos no desenvolvimento do coração, olhos, rins 
e pulmões do feto. Se o curso do desenvolvimento normal 
for interrompido em um desses períodos por exemplo, em 
consequência de rubéola ou de infecção causada por al-
gum vírus da mãe, a criança pode sofrer um dano orgânico 
permanente.
Erick Erikson, psicanalista eminente de crianças, além 
de teórico, considera que o primeiro ano de vida é um 
período crítico para o desenvolvimento de confiança nos 
outros. O infante que não for objeto de calor humano e 
de amor, e que não for satisfeito em suas necessidades du-
rante esse período, corre o risco de não desenvolver um 
sentido de confiança, por conseguinte, de não ser sucedido 
posteriormente na formação de relações sociais satisfató-
rias: De modo análogo, parece haver um período crítico ou 
de prontidão para a aprendizagem de várias tarefas, como 
ler ou andar de bicicleta. A criança que não aprende tais ta-
refas durante esses períodos pode ter grandes dificuldades 
em apreendê-las posteriormente.
Sétimo: As experiências das crianças, em qualquer eta-
pa do desenvolvimento, afetam ser desenvolvimento pos-
terior. Se uma mulher grávida sofrer problemas severos de 
desnutrição, a criança em formação pode não desenvolver 
o número normal de células cerebrais e, portanto, nasce 
com deficiência mental. Os infantes que passam os primei-
ros meses em ambientes muitos monótonos e não estimu-
lantes parecem ser deficientes em atividades cognitivas e 
apresentam desempenho muito fraco em testes de funcio-
namento intelectual em idades posteriores.
A criança que recebe pouco afeto, amor e atenção no 
primeiro ano de vida não desenvolve a autoconfiança nem 
a confiança nos outros no início da vida e, provavelmente, 
será, na adolescência, desajustada e emocionalmente ins-
tável.
Estágios evolutivos e tarefas evolutivas
Embora criticado por algumas teorias, o conceito de es-
tágios evolutivos é uma ideia constante nos estudos atuais 
da psicologia do desenvolvimento. Enquanto aquelas teo-
rias interpretam o desenvolvimento humano como algo 
contínuo, desenvolvendo-se o comportamento humano 
de maneira gradual, na direção de sua maturidade, as teo-
rias que preconizam a existência de estágios evolutivos (de 
Freud, Erickson, Sullivan, Piaget e muitos outros) tendem a 
ver o desenvolvimento humano como algo descontínuo. 
Segundo essas teorias, o curso do desenvolvimento huma-
no se dá por meio de mudanças mais ou menos bruscas, na 
história do organismo.
Mussem et ali (1974), afirmam que cada estágio do de-
senvolvimento humano, segundo essas teorias, represen-
tam um padrão de características inter-relacionadas. Cada 
estágio de desenvolvimento representa uma evolução de 
estágio anterior, mas, ao mesmo tempo, cada um deles 
se caracteriza por funções qualitativamente diferentes. 
De acordo com essas teorias o desenvolvimento psicoló-
gico do indivíduo ocorre de maneira progressiva através 
de estágios fixos e invariáveis, cada indivíduo tendo que 
atravessar os mesmos estágios, na mesma sequência. Con-
47
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
forme Jean Piaget (1973) existe fundamento biológico para 
a teoria de estágios evolutivos, em outro contexto (1997), 
considerando as estruturas principais, diz que os estágios 
cognitivos têm uma propriedade sequencial, isto é, apa-
recem em ordem fixa de sucessão, pois cada um deles é 
necessário para a formação do seguinte.
Os embriologistas dão evidências em favor da teoria 
dos estágios evolutivos. Falam da existência de períodos 
críticos para o desenvolvimento do zigoto, ou seja “fases 
críticas” em que se determinadas mudanças não ocorrem 
na célula dentro de cada intervalo e em dada sequência, o 
desenvolvimento do organismo pode sofrer danos perma-
nentes. Os estágios do desenvolvimento humano se carac-
terizam pela organização dos comportamentos típicos que 
ocorrem simultaneamente em determinado estádio evolu-
tivo. Há, portanto, certos padrões de comportamento que 
caracterizam cada estágio da evolução psicológica do in-
divíduo, sem, contudo, implicar que tais comportamentos 
sejam de natureza estática. Os estágios evolutivos se carac-
terizam, também por mudanças qualitativas, com relação 
a estágios anteriores. Pode acontecer, também, que num 
determinado estágio evolutivo várias mudanças ocorram 
simultaneamente. É o caso, por exemplo, da adolescência. 
Num período relativamente curto, o indivíduo muda em 
muitas significativas maneiras. Nesta fase da vida o ado-
lescente se torna biologicamente capaz de reproduzir a es-
pécie, experimenta acelerado crescimento físico, seguido, 
logo depois, por uma quase paralisação nesse processo, e 
seu desenvolvimento mental atinge praticamente os pon-
tos culminantes, em termos de suas potencialidades para o 
raciocínio abstrato.
Outro conceito de fundamental importância para o es-
tudo da psicologia do desenvolvimento é a noção de tare-
fa evolutiva. Desenvolvido, principalmente, por Havighurst 
(1953), esse conceito tem sido de grande utilidade para o 
estudo da evolução do comportamento humano.
A pressuposição fundamental desse conceito é a de 
que viver é aprender, e crescer ou desenvolver-se é, tam-
bém, aprender. Há certas tarefas ou habilidades que o 
indivíduo tem que aprender para poder ser considerado 
como pessoa de desenvolvimento adequado e satisfato-
riamente ajustado, conforme as expectativas da sociedade. 
Segundo essa teoria, à semelhança do que acontece nas 
teorias de estágios evolutivos, há fases críticas no processo 
do desenvolvimento humano, isto é, período em que tais 
tipos de aprendizagem ou ajustamento devem acontecer. 
O organismo, por assim dizer, encontra-se em condições 
ótimas para que tal ajustamento ocorra. Por exemplo, há 
um momento em que o organismo da criança está matu-
racionalmente pronto para aprender a falar, a andar, etc. 
Se a aquisição dessas habilidades se der no tempo próprio, 
os ajustamentos delas dependentes serão feitos natural-
mente, através de todo o processo evolutivo. Caso contrá-
rio, haverá, sempre, déficits em todo tipo de ajustamento 
que requer tais habilidades como condição fundamental. 
Em termos gerais do organismo, podemos dizer que se 
uma tarefa evolutiva for realizada na fase crítica adequa-
da, as fases subsequentes da evolução do indivíduo serão 
mais facilmente alcançadas em termos do seu ajustamento 
pessoal. Se, por outro lado, oorganismo deixar de realizar 
uma tarefa evolutiva, ou se houver falhas no processo em 
qualquer das suas partes, os ajustamentos nas fases subse-
quentes serão mais difíceis e, em alguns casos, podem até 
deixar de ocorrer. As tarefas evolutivas abrangem vários 
aspectos do processo evolutivo, incluindo o crescimento 
físico, o desempenho intelectual, ajustamento emocionais 
e sociais, as atitudes com relação ao próprio eu, é realida-
de objetiva, bem como a formação dos padrões típicos de 
comportamento e a elaboração de um sistema de valores.
Segundo Havighurst, há três aspectos principais da ta-
refa evolutiva.
O primeiro se refere à maturação biológica, tal como 
aprender e andar, a falar, etc. O segundo se refere às pres-
sões sociais, tais como aprender a ler, a comportar-se como 
cidadão responsável e várias outras formas do comporta-
mento social. O terceiro aspecto se refere aos valores pes-
soais que constituem a personalidade de cada indivíduo, 
que resulta de processos de interação das forças orgânicas 
e ambientais.
Para cada estágio da vida humana, há certas tarefas 
evolutivas que devem ser incorporadas aos padrões de ex-
periências e de comportamento do indivíduo.
Teorias do desenvolvimento humano
A complexidade do desenvolvimento humano de certo 
modo exige uma complexa metodologia para seu estudo. 
Dentre as estratégias para o estudo de desenvolvimento 
da personalidade salientam-se a teoria dos estágios evo-
lutivos, as teorias diferenciais, ipsativas e da aprendizagem 
social.
A teoria dos estágios evolutivos procura estabelecer 
leis gerais do desenvolvimento humano. Advogando a 
existência de diferentes níveis qualitativos da organização, 
através dos quais, invariavelmente, passam todos os indi-
víduos de determinada espécie. As teorias diferenciais, por 
outro lado, procuram estabelecer leis que permitem predi-
zer os fatores determinados das diferenças individuais de 
subgrupos no processo evolutivo. Para os adeptos das teo-
rias ipsativas o que interessa é verificar o que muda e o que 
permanece constante através da história evolutiva de cada 
indivíduo. As teorias da aprendizagem social procuram ex-
plicar o processo evolutivo do ser humano em temos das 
técnicas de condicionamento, e tentam explicar o compor-
tamento como simples relação estímulo-resposta.
Dentre as muitas teorias do desenvolvimento humano 
salientamos quatro que evidenciam como de maior impor-
tância: a teoria psicanalítica de Freud, a teoria interpessoal 
de Sullivan, a teoria psicossocial de Erickson, e a teoria cog-
nitiva de Jean Piaget.
Teoria Psicanalítica de Freud - Existem críticas a essa teo-
ria pelo fato de não haver Freud, para estabelecer suas con-
clusões, feito seus estudos com crianças, e sim, com adultos 
psicologicamente doentes. E há sérias restrições à teoria 
freudiana da personalidade, especialmente por ela baseada, 
exclusivamente, no método de observação clínica e funda-
mentada na psicopatologia. Reconhecemos, entretanto, a 
grande intuição de Freud e sua notável contribuição para o 
48
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
estudo do comportamento humano. Convém salientar que 
mais recentemente tem havido sérias tentativas no sentido 
de testar, experimentalmente, algumas das hipóteses le-
vantadas por Freud, como atestam o trabalho de Lindzey 
e Hall, Silvermam e outros. Segundo Hall e Lindzey (1970), 
Freud foi o primeiro a reconhecer a estrita relação existente 
sobre o processo evolutivo e a personalidade humana.
Embora hoje a influência da teoria psicanalítica não 
seja tão grande como antes, no campo da psicologia do 
desenvolvimento, ela perdura através de reformulações 
que procuram operacionalizar, para fins de pesquisa expe-
rimental, alguns dos conceitos fundamentais elaborados 
pelo criador da Psicanálise.
Parece razoável dizer-se que, de todas as teorias de 
personalidade até hoje formuladas, a teoria de Freud é a 
que mais se aproxima daquilo que chamam os autores de 
paradigma na história das ciências.
É verdade que podemos fazer restrições à teoria freu-
diana do desenvolvimento da personalidade, mas há certos 
pontos que mesmo os que não concordam com Freud têm 
dificuldade em negar. Por exemplo, a tese de que existe 
uma relação de causa e efeito no processo evolutivo, par-
tindo da infância até a vida adulta, parece indiscutível à 
luz das evidências disponíveis. Se bem que o determinismo 
absoluto do passado, implícito na teoria freudiana, mereça 
restrições, não se pode negar que experiências prévias são 
importantes na determinação de futuros padrões de com-
portamento.
A grande ênfase da teoria freudiana, quanto ao pro-
cesso da evolução psicológica do homem, concentra-se 
nos primeiros anos de vida. Daí o fato de que, até recente-
mente os estudos da psicologia do desenvolvimento, que 
sofreram durante muito tempo grande influência da psica-
nálise, limitavam-se à infância e à adolescência. A rigor, a 
psicanálise clássica não tem muito a dizer sobre o desen-
volvimento da personalidade após a adolescência, pois o 
estágio genital representa, praticamente, o ponto final e 
até mesmo, ideal da evolução psicossexual do ser humano. 
Mais tarde, Freud tentou ampliar a extensão desse proces-
so evolutivo, ao elaborar a teoria do impulso para a mor-
te, ou, mais especificamente, a teoria do comportamento 
agressivo. Não chegou a deixar marcas significativas às 
demais fases da evolução psicológica do homem, além da 
infância e da adolescência. Coube a outros psicanalistas a 
tarefa de ampliar a teoria freudiana quanto a esse aspecto. 
É o caso, por exemplo, de Harry Sullivan e especialmente o 
de Erik Erikson.
A teoria freudiana salienta os conceitos de energia psí-
quica e de fatores inconscientes de comportamento como 
ponto de partida. Os impulsos básicos são eros - impulso 
para a vida, e agressão - impulso para a morte. A estrutura 
da personalidade concebida originalmente, em termos to-
pográficos como consciente, pré-consciente e inconscien-
te, é substituída pelo conceito dinâmico do id, que repre-
senta as forças biológicas, instintivas da personalidade; e 
ego, que representa o princípio da realidade, e o superego, 
que representa as forças repressivas da sociedade. Há cin-
co estágios da evolução psicossexual: a fase oral, período 
da vida em que, praticamente, a única fonte de prazer é a 
zona oral do corpo, e que apresenta como principal carac-
terística psicológica a dependência emocional.
A fase anal, caracterizada pela retentividade, a fase fá-
lica, na qual surge o Complexo de Édipo, e o que se carac-
teriza pelo exibicionismo. A fase latente, em que a energia 
libidinosa é canalizada para outros fins e a fase genital, 
que representa o alvo ideal do desenvolvimento humano. 
No processo evolutivo o indivíduo pode parar numa fase 
imatura. Nesse caso se diz que houve uma fixação. O indi-
víduo pode, também, voltar a formas imaturas do compor-
tamento, em cujo caso se diz que houve uma regressão. 
Mecanismos de defesas são formas pelas quais o eu pro-
cura manter sua integridade. Dentro de certos limites são 
considerados normais. Quando, porém, ultrapassam esses 
limites, tornam-se patogênicos.
Sullivan é psicanalista, mas dá muita ênfase aos fatores 
sociais do comportamento humano. As relações interpes-
soais constituem a base da personalidade. Na infância, a 
experiência básica é o medo ou ansiedade, resultante da 
inter-relação com a figura materna. Através da empatia 
a criança incorpora personificações positivas e negativas. 
Nesse período ela forma, também, diferentes autoimagens: 
o bom-eu, o mau-eu e o não-eu. A idade juvenil é a grande 
fase do processo de socialização. A criança aprende a su-
bordinação e a acomodação social bem como a lidar com 
o conceito de autoridade. A pré-adolescência se caracteri-
za pela necessidade decompanheirismo com pessoas do 
mesmo sexo e pela capacidade de apreciar as necessidades 
e sentimentos do outro. Na primeira adolescência o indi-
víduo se torna cônscio de três necessidade básicas: paixão, 
intimidade e segurança pessoal, e procura meios de inte-
grá-los adequadamente. A segunda adolescência marca o 
início das relações interpessoais amadurecidas. Na fase 
adulta o eu se apresenta estável e idealmente livre da ex-
cessiva ansiedade.
Erickson salienta os aspectos culturais do processo 
evolutivo da personalidade. Há oito estágios nesse proces-
so, cada um deles apresenta duas alternativas: quando o 
estágio evolutivo é satisfatoriamente alcançado, o produto 
será uma personalidade saudável; quando não é atingido, 
o resultado será uma personalidade emocionalmente ima-
tura ou desajustada. Na infância o indivíduo adquire con-
fiança básica ou desconfiança básica. Na meninice ele pode 
adquirir o senso de autonomia ou, então, o sentimento de 
vergonha e dúvida. Na fase lúdica a criança pode desen-
volver a atitude de iniciativa ou, quando lhe falta o estí-
mulo do meio, pode desenvolver o sentimento de culpa e 
de inadequação. Na idade escolar o indivíduo se identifica 
com o ethos tecnológico de sua cultura adquirindo o senso 
de indústria ou, na ausência dessas condições, pode de-
senvolver o sentimento de inferioridade. Na adolescência a 
crise psicossocial é o encontro da identidade do indivíduo. 
Quando isso não ocorre, dá-se a difusão da identidade 
com repercussões negativas através de toda a vida.
A vida adulta compreende três fases: adulto jovem, 
caracterizada por intimidade e solidariedade, do ângu-
lo positivo, e isolamento, do lado negativo; adultícia que 
49
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
se caracteriza ou pela geratividade ou pela estagnação; e 
a maturidade que apresenta a integridade ou desespero 
como alternativas.
A teoria cognitiva de Jean Piaget exerce hoje relevan-
te papel em todas as áreas da psicologia e, principalmen-
te, nos campos aplicados da educação e da psicoterapia. 
Abandonando a ideia de avaliar o nível de inteligência de 
um indivíduo por meio de suas respostas aos itens de de-
terminados testes, Piaget adotou um método clínico atra-
vés do qual procura acompanhar o processo do pensa-
mento da criança para daí chegar ao conceito de inteligên-
cia como capacidade geral de adaptação do organismo. Os 
conceitos fundamentais da teoria de Piaget são: esquema, 
ou estrutura, que é a unidade estrutural do desenvolvi-
mento cognitivo; assimilação, processo pelo qual novos 
objetos são incorporados aos esquemas; acomodação, 
que ocorre quando novas experiências modificam esque-
mas; equilibração, resolução de tensão entre assimilação 
e acomodação; operação, rotina mental caracterizada por 
sua reversibilidade e que representa o elemento principal 
do processo do desenvolvimento cognitivo. O desenvol-
vimento cognitivo se dá em quatro período: o período 
sensório-motor, caracterizado pelas atividades reflexas; o 
período pré-operacional, em que a criança pode lidar sim-
bolicamente com certos aspectos da realidade, mas seu 
pensamento ainda se caracteriza pela responsabilidade; o 
período das operações concretas, em que a criança adquire 
o esquema de conservação; e o período das operações for-
mais, caracterizado pelo pensamento proposicional e que 
representa o ideal da evolução cognitiva do ser humano.
Estágio ou períodos de desenvolvimento da vida 
humana
Os psicólogos do desenvolvimento humano são unâni-
mes em estabelecerem fases, períodos para determinar nas 
várias etapas da vida do indivíduo.
São assim circunscritas por apresentarem característi-
cas e padrões de si mesmas semelhantes. Sucedem-se, na-
turalmente, uma a outra, desde o momento da concepção 
até à velhice.
Para atender aos objetivos do trabalho, focalizaremos 
as primeiras fases de vida até à adolescência.
Tomando por base a classificação dos estágios evoluti-
vos segundo Jean Piaget (conforme já estudado no tópico 
“Principais teorias da aprendizagem”), o grande estudioso 
da gênese e desenvolvimento dos processos cognitivos da 
criança, existem quatro períodos no desenvolvimento hu-
mano:
1 - Período sensório-motor: de 0 a 2 anos
2 - Período pré-operacional: de 2 a 7 anos
2.1. Pensamento simbólico pré-conceitual: 2 a 4 anos
2.2. Pensamento intuitivo: 4 a 7 anos
3 - Período das operações intelectuais concretas: 7 a 
12 anos
4 - Período das operações intelectuais abstratas: dos 12 
anos em diante.
Além de serem observados os períodos ou estágios 
acima, os estudiosos da psicologia do desenvolvimento hu-
mano estabeleceram áreas ou aspectos para esse estudo. 
Embora o ser humano seja um todo, integrado, sabemos 
que existem setores ou áreas para as quais são dirigidas 
as atividades e o comportamento humanos, ainda que se-
jam profundamente interligados. Desta forma, para estudo 
e análise apropriados, o desenvolvimento é estudado nos 
aspectos físico, mental/cognitivo, emocional/ afetivo, so-
cial. Muitas vezes empregam-se outras divisões, agrupan-
do diferentemente as áreas: psicofísica, sócioemocional, 
psicossocial, psicomotora, etc.
As tarefas evolutivas do processo de desenvolvimento 
humano são, sobretudo:
a) ter um corpo sadio, forte, residente, desenvolvido;
b) usá-lo como instrumento de expressão e de comuni-
cação social, como meio de participar da vida social, de co-
laborar com os outros na responsabilidade de fazer sua vida 
e de melhorar sua qualidade e, enfim, uma base consistente 
sobre a qual a pessoa possa desenvolver o seu espírito;
c) formar o intelecto até alcançar a etapa do pensa-
mento abstrato, imprescindível para se compreender com 
mais profundidade e realidade humana;
d) alcançar o equilíbrio emocional;
e) a integração social;
f) a consciência moral;
g) compreender o seu papel, em seu tempo, na comu-
nidade em que vive e ter condições de assumi-lo, decisão e 
capacidade de realizá-lo.
Para iniciar o estudo das fases do desenvolvimento hu-
mano, é necessário que seja focalizado o período que an-
tecede o nascimento, tão importante e decisivo que é para 
o desenvolvimento, anterior ao período pré-natal. A vida 
começa, a rigor, no momento em que as células germinais 
procedentes de seus pais se encontram. Modernamente, 
o desenvolvimento pré-natal tem sido focalizado sob três 
perspectivas, a saber: do ponto de vista dos fatores heredi-
tários, da influência do ambiente durante a vida intrauteri-
na, e do efeito das atitudes das pessoas que constituem o 
mundo significativo da criança. O estudo da inter-relação 
entre esses fatores revela a importância do desenvolvimen-
to pré-natal sobre as fases subsequentes do processo evo-
lutivo do ser humano.
O mecanismo de transmissão hereditária é altamen-
te complexo, mas ao nível do presente texto ele consiste 
essencialmente no encontro de uma célula germinal mas-
culina e uma feminina. Os genes, unidades genéticas que 
fornecem a base do desenvolvimento, são diretamente res-
ponsáveis pela transmissão do patrimônio hereditário.
Existe uma diferença fundamental entre fatores genéti-
cos e fatores congênitos no processo de desenvolvimento. 
Genético só é aquilo que o indivíduo recebe através dos 
genes. Congênito é tudo aquilo que influencia desenvol-
vimento do indivíduo, e que foi adquirido durante a vida 
intrauterina, mas não é transmitido através dos genes. Ex.: a 
sífilis é uma doença congênita, porque pode ser adquirida 
durante a vida intrauterina, mas não é transmitida através 
dos genes. Logo, a sífilis não é hereditária.
Durante a vida intrauterina, o indivíduo pode receber 
a influência de vários fatores que determinarão o curso do 
seu desenvolvimento. Dentre esses fatores, salientam-se a 
50
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
idade e a dietada gestante e o uso abusivo de tóxicos, in-
fecções e da própria irradiação. Enfermidades que podem 
ser transmitidas ao indivíduo na vida intrauterina, como a 
sífilis, a rubéola e a diabete, prejudicam o desenvolvimento 
normal do ser humano.
Analisaremos, a seguir, de maneira muito sucinta, os 
períodos do desenvolvimento humano, a partir do nasci-
mento, focalizando as áreas ou aspectos em cada um deles.
Segundo Piaget, cada período é caracterizado pelo que 
de melhor o indivíduo consegue fazer nessas faixas etá-
rias. Todos os indivíduos passam por todas essas fases ou 
períodos, nessa sequência, porém o início e o término de 
cada uma delas dependem das características biológicas 
do indivíduo e de fatores educacionais, sociais. Portanto, 
a divisão nessas faixas etárias é uma referência, e não uma 
norma rígida.
Período sensório-motor - 0 a 2 anos
Esse período diz respeito ao desenvolvimento do re-
cém-nascido e do latente.
É a fase em que predomina o desenvolvimento das 
percepções e dos movimentos.
O desenvolvimento físico é acelerado, pois constitui-se 
no suporte para o aparecimento de novas habilidades. O 
desenvolvimento ósseo, muscular e neurológico permite 
a emergência e novos comportamentos, como sentar-se, 
engatinhar, andar, o que propiciará um domínio maior do 
ambiente. Essa fase do processo é caracterizada por uma 
série de ajustamentos que o organismo tem de fazer, em 
função das demandas do meio. É evidente que o processo 
de adaptação do organismo não se limita a essa fase da 
vida, mas o que acontece ao indivíduo nessa fase é crucial 
na importância para todo o processo do desenvolvimento.
Em termos do conceito de tarefas evolutivas, Ha-
vighurst assinala como sendo as principais dessa fase da 
vida as seguintes: aprender a andar e a tomar alimentos 
sólidos. Aprender a falar e a controlar o processo de elimi-
nação de produtos excretórios. Aprender a diferença básica 
entre os sexos e a alcançar estabilidade fisiológica. Formar 
conceitos sobre a realidade física e social, aprender as for-
mas básicas do relacionamento emocional e a adquirir as 
bases de um sistema de valores.
Segundo Piaget, nessa etapa inicial o indivíduo se en-
contra na fase sensório-motora do seu desenvolvimento 
cognitivo. Essa fase compreende seis sub-fases, a saber: o 
uso dos reflexos, as reações circulares primárias e secun-
dárias, reações circulares, terciárias, e a invenção de novos 
significados para as coisas através de combinações men-
tais.
Apesar da importância dos aspectos biológicos do 
desenvolvimento humano nessa fase, os aspectos psicos-
sociais dessa evolução são os de maior interesse para a 
psicologia do desenvolvimento. Dentre os aspectos mais 
importantes do desenvolvimento psicossocial salientam-
-se os seguintes: a aquisição da linguagem articulada, cujo 
processo se completará no período pré-operacional, é que 
constitui elementos de fundamental importância para os 
outros aspectos do desenvolvimento humano; o desenvol-
vimento emocional, através do qual o indivíduo deixa de 
funcionar a nível puramente biológico e passa ao processo 
de socialização dos seus próprios atributos fisiológicos e 
a aquisição do senso moral, que permite ao indivíduo a 
formulação de um sistema de valores no qual, em muitas 
circunstâncias, as necessidades secundárias se tornam mais 
salientes e decisivas do que as próprias necessidades psi-
cológicas ou primárias.
Na fase do nascimento aos dois anos de vida as es-
truturas básicas da personalidade são lançadas. A figura 
materna, ou substituta, é muito importante para essa for-
mação, bem como a forma ou a maneira como o indivíduo 
recebe o alimento da figura materna tem profundas reper-
cussões sobre seu futuro comportamento em termos da 
modelagem de sua personalidade. O contato físico é, tam-
bém, de vital importância para o desenvolvimento emocio-
nal do indivíduo.
Com relação à aquisição do senso moral, sabemos que 
o mesmo vai ser incorporado através da aprendizagem so-
cial dos valores. Ela é relativa ao meio que o produziu. A 
princípio o comportamento moral da criança é de caráter 
imitativo e mais ou menos guiado pelos impulsos. O con-
ceito de certo ou errado para a criança é uma função de 
prazer ou de sofrimento que sua ação é capaz de produzir. 
Esse conceito ainda não é concebido em termos do bem ou 
do mal que a criança fez aos outros. Nessa idade a criança 
ainda não tem a capacidade intelectual de considerar os 
efeitos de sua ação sobre outras pessoas. Consequente-
mente ela não sente a necessidade de modificar seu com-
portamento, a não ser quando sua ação lhe produz algum 
desconforto. Isto quer dizer que a criança nessa idade ain-
da não tem propriamente uma consciência moral; ela ainda 
não tem a capacidade de sentir-se culpada.
Segundo a teoria psicanalítica, o período de treina-
mento de toalete desempenha importante papel na forma-
ção dos conceitos morais do indivíduo. Aqui pela primeira 
vez, o indivíduo se defronta com os conceitos do certo e do 
errado. Daí, segundo a teoria, o começo de um superego 
ou de uma consciência moral. Do ponto de vista do desen-
volvimento da personalidade, a natureza desse treino de 
toalete é de grande significação.
Se o indivíduo foi educado com excessivo rigor nesse 
particular, ele poderá tornar-se uma pessoa extremamente 
meticulosa e supersensível, sempre perseguido pelo sen-
timento de culpa. Se, por outro lado, não houve qualquer 
restrição ao seu comportamento nesse período, ele pode 
se tornar um tipo humano desorganizado e com tendên-
cias absolutistas prejudiciais a si mesmo e à sociedade. O 
ideal, portanto, seria uma atitude comedida para que se 
possa antecipar um desenvolvimento normal da personali-
dade do indivíduo.
De acordo com Freud, ao primeiro ano de vida o in-
divíduo está na fase ORAL da evolução psicossexual, ou 
seja, todo o senso de prazer que o indivíduo experimenta 
provem das zonas orais do seu corpo. A primeira ou úni-
ca sensação de prazer que a criança experimenta é através 
da boca, pela ingestão de alimentos. O alimento não se 
refere a simples incorporação de material nutritivo, mas in-
clui uma gama de relações humanas e de afetos implícitos 
no processo da alimentação. Uma das características mais 
51
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
óbvias de uma criança nessa idade é sua dependência do 
mundo adulto, especialmente da figura materna. A crian-
ça depende dos outros não só para lhe fornecer o senso 
do prazer e conforto através da alimentação e de outros 
cuidados, mas por sua própria sobrevivência. Nesta fase 
da vida, a mãe é praticamente a única fonte de prazer da 
criança e a atitude básica da mãe para com ela determinará 
a sua atitude básica perante a vida. A essa fase oral cor-
responde uma característica psicológica chamada caráter 
oral. O indivíduo é dependente emocionalmente de outros. 
Aparece aglutonomia, o alcoolismo. 
Período pré-operacional - 2 a 7 anos
É grande o interesse dos estudiosos sobre a fase da 
vida humana. Corresponde ao período pré-escolar, consi-
derado a idade áurea da vida, pois é nesse período que 
o organismo se torna estruturalmente capacitado para o 
exercício de atividades psicológicas mais complexas, como 
o uso da linguagem articulada. Quase todas as teorias do 
desenvolvimento humano admitem que a idade de estu-
do é de fundamental importância na vida humana, por ser 
esse o período em que os fundamentos da personalidade 
do indivíduo lançados na fase anterior começam a tomar 
formas claras e definidas. Existe um enorme volume de tra-
balho científico sobre esse período, que em termos de pes-
quisa, em consequente formulação de teorias sobre esta 
fase do desenvolvimento.
O período pré-operacional é caracterizado por consi-
deráveis mudanças físicas, as quais são um desafio para 
os pais e educadores,como para as próprias crianças. A 
terminologia período pré-operacional foi dada por Piaget e 
se refere ao desenvolvimento cognitivo. No mundo moder-
no Piaget é, talvez, a figura de maior relevo no estudo do 
desenvolvimento dos processos cognitivos do ser humano. 
De acordo com esse cientista, o período pré-operacional é 
dividido em dois estágios: de dois a quatro anos de idade, 
em que a criança se caracteriza pelo pensamento egocên-
trico, e dos quatro aos sete anos, em que ela se caracteriza 
pelo pensamento intuitivo. As operações mentais da crian-
ça nessa idade se limitam aos significados imediatos do 
mundo infantil.
Enquanto no período anterior ao pensamento e racio-
cínio da criança são limitados a objetos e acontecimentos 
imediatamente presentes e diretamente percebidos, no pe-
ríodo pré-operacional, ao contrário a criança começa a usar 
símbolos mentais _ imagens ou palavras que representam 
objetos que não estão presentes. São características dessa 
fase o egocentrismo infantil, o animismo, o artificialismo e 
o finalismo. Também inexiste o conceito de invariância e a 
noção de reversibilidade.
É adquirida a linguagem articulada, e passa por uma 
sequência de aquisições. A criança nesta fase precisa 
aprender novas maneiras de se comportar em seus rela-
cionamentos. Freud descreve os anos pré-escolares como 
sendo o tempo do conflito de Édipo (para os meninos) e 
do complexo de Eletra (para as meninas). Segundo Erik-
son, a tarefa primordial da criança nessa idade é resolver 
o conflito entre a iniciativa e a culpa. Quando os pais são 
capazes de tratar os filhos aplicando a dosagem certa da 
permissividade e de autoridade, as crianças acham mais fá-
cil desenvolver um senso de autonomia pessoal.
Nesse estágio, a criança aprende a assumir os papéis 
sexuais considerados aceitáveis pelos pais e pela sociedade.
Os relacionamentos sociais e as atividades lúdicas pre-
param a criança para lidar com um mundo mais vasto, fora 
do círculo familiar.
Os aspectos mais importantes do desenvolvimento 
psicossexual da idade pré-operacional abrangem os se-
guintes pontos:
1) a formação de um conceito do “eu”, facilitado pela 
aquisição da linguagem articulada;
2) a definição da identidade sexual do indivíduo atra-
vés da qual ele aprende a se comportar de acordo com as 
expectações da sociedade;
3)a aquisição de sua consciência moral que vai além 
da simples limitação do comportamento do mundo adulto 
e que é capaz de levar o indivíduo a se sentir culpado em 
face da violação das regras de conduta do seu meio social;
4) o desenvolvimento dos padrões de agressão que re-
sulta de vários fatores dentre os quais se salientam: a severa 
punição física, identificação com o agressor e a frustração;
5) as motivações básicas do senso de competência e a 
necessidade de realização, ambas muito dependentes das 
condições do meio e da fundamental importância para o 
desenvolvimento adequado do ser humano.
Período das operações concretas - 7 a 12 anos
É a fase escolar, também chamada de período das ope-
rações concretas. Nesta fase da vida, o crescimento físico 
é mais lento do que em fases anteriores, as diferenças re-
sultantes do fator sexo começam a se acentuar mais niti-
damente.
Do ponto de vista do desenvolvimento cognitivo o in-
divíduo se encontra, na idade escolar, no estágio das ope-
rações concretas, segundo a teoria de Piaget. O pensamen-
to da criança nessa idade apresenta as características de re-
versibilidade e de associação que lhe permitem interpretar 
eventos independentemente do seu arranjo atual. Nesse 
estágio, entretanto, a criança ainda se limita, em termos 
cognitivos, ao seu mundo imediato e concretamente real.
Este período, ou idade escolar, segundo a teoria freu-
diana, corresponde ao estágio latente, assim designado por 
que nela a libido não exerce grande influência no compor-
tamento observável do indivíduo, visto que praticamente 
toda a sua energia é utilizada no sentido de adquirir as 
competências básicas para a vida em sociedade. O ponto 
mais importante a salientar nesta fase da vida, no contexto 
da teoria psicanalítica, é o conceito de mecanismo de defe-
sa, dos quais se distinguem a negação, a identificação com 
o agressor, a repressão a sublimação, o deslocamento, a 
regressão, a racionalização e a projeção.
Segundo a teoria de Erickson, a crise psicossocial da 
idade escolar se encontra nos polos industriais versus infe-
rioridade. Dependendo do resultado da solução dessa crise 
evolutiva, o indivíduo pode emergir como ser capaz e pro-
dutivo, ou como alguém com um profundo e persistente 
sentimento de incompetência e de inferioridade.
52
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Nessa idade, advogada Sullivan, o indivíduo adquire 
os conceitos de subordinação social que podem ajudá-lo 
a ajustar-se à vida em sociedade. Nesta idade, os padrões 
supervisores contribuem para a formação de uma autoima-
gem através das expectativas do mundo social do indiví-
duo. Mas, sobretudo, a idade escolar é importante porque 
nela a criança adquire o conceito de orientação na vida, 
através do qual ela realiza a integração dos vários fatores 
socioemocionais do processo de desenvolvimento.
No ajustamento psicossocial os grupos de parceria e a 
escola representam relevante papel. Os grupos de parceria 
oferecem à criança nessa idade certo apoio social, mode-
los humanos a imitar, a noção fundamental dos diferentes 
papéis que os indivíduos exercem na sociedade, e certos 
padrões de autoavaliação. Por sua vez, a escola oferece à 
criança a oportunidade de lidar com figuras que represen-
tam autoridade fora do ambiente do lar.
No período das operações concretas, ou seja, época 
denominada fase escolar, o autoconceito assume forma 
mais definida, especialmente porque aqui a criança apren-
de que é um indivíduo diferente dos demais. É assim que 
ela é tratada por seus professores e colegas. Esse trata-
mento recebido e também dispensado aos outros contri-
bui para acentuar a identidade sexual da criança de idade 
escolar. Quanto ao conceito de moralidade nessa fase da 
vida, talvez o ponto mais importante seja a mudança quan-
to à orientação ou ponto de referência. Antes, a decisão 
moral da criança era inteiramente heteronômica, segundo 
Piaget, agora ela tende a ser autonômica. Uma das melho-
res evidências dessa mudança de orientação é a capacida-
de de sentir-se culpada, e não somente com medo de ser 
apanhada em falta e castigada.
Os padrões de agressão da criança de idade escolar 
são influenciados por três fatores principais, a saber: pelos 
pais, pelos companheiros e pelos meios de comunicação 
de massa. Quanto aos pais, os fatores que mais afetam es-
ses padrões de agressão são a rejeição e o castigo físico 
demasiado severo. Os grupos de parceria modificam esses 
padrões criando rivalidade intergrupal e reduzindo a coo-
peração entre grupos competitivos. Os meios de comuni-
cação de massa oferecem modelos de violência, que ten-
dem a aumentar a agressão dos indivíduos que já possuem 
certo grau de revolta contra as instituições sociais.
O fenômeno PUBERDADE
A puberdade é considerada uma fase de transição no 
processo evolutivo porque ela abrange parte da infância 
e parte da adolescência. Representa o início de uma das 
fases mais importantes do desenvolvimento humano. Ela é 
um período relativamente curto de vida, com duração de 
dois a quatro anos, e os estudiosos da psicologia do desen-
volvimento a dividem em três fases, a saber:
- o estágio pré-pubescente, durante o qual as carac-
terísticas sexuais secundárias começam a aparecer. Nesse 
estágio, entretanto, os órgãos reprodutivos ainda não se 
encontram plenamente desenvolvidos;
- o estágio pubescente, durante o qual as caracterís-
ticas sexuais secundárias continuam a se desenvolver e os 
órgãos sexuais começamnormalmente a produzir células 
germinativas;
- o estágio pós-pubescente, durante o qual as caracte-
rísticas sexuais secundárias continuam a se desenvolver e 
os órgãos sexuais começam a funcionar de maneira ama-
durecida.
São muitas e profundas as mudanças fisiológicas e 
estruturais que ocorrem no corpo das meninas e meninos 
púberes, porém podemos afirmar não estarem aptos para 
o exercício da atividade sexual. Com relação aos meninos, e 
as características sexuais primárias e secundárias, as gôna-
das masculinas ou testículos, até a idade de catorze anos, 
aproximadamente, representam cerca de dez por cento do 
seu tamanho normal no adulto. Durante um ano ou dois, 
então, ocorre um crescimento rápido, que logo depois co-
meça a decrescer até que pelos vinte ou vinte e um anos 
de idade os testículos atingem seu desenvolvimento pleno.
Com relação às meninas, temos a constatação muito 
válida e útil para o objeto do nosso estudo, que o seu apa-
relho reprodutor vai-se desenvolvendo ao longo da puber-
dade, mas não bruscamente. A exemplo, o útero de uma 
garota de onze ou doze anos de idade pesa, em média, 
quarenta e três gramas. Os demais órgãos - trompas, ová-
rios, vaginas - crescem rapidamente. A ação dos hormônios 
é determinante para essas mudanças do organismo.
Ao lado dos efeitos físicos mencionados, verificam-se, 
também, efeitos psicológicos de consequências considerá-
veis. Nesta fase tende a criança a isolar-se do convívio com 
outras pessoas, torna-se, geralmente, mais hostil para com 
os companheiros e para com os seus próprios familiares. 
Passa muito tempo sozinha, sentindo-se mal compreendi-
da, entregando-se ao autoerotismo ou masturbação. Perde 
o interesse pelas atividades de que gostava e o entusiasmo 
pelas atividades escolares. Possui um autogonismo social, 
negando sua cooperação e se tornando hostil à criança do 
sexo oposto. É instável emocionalmente, sujeita a irritabili-
dade e a demonstração de ansiedades. Passa a ter um ele-
vado grau de falta de confiança própria e medo de falhar 
socialmente. Muitos não alcançam o grau de ajustamen-
to nessa fase e atravessam a existência dominados pelo 
chamado complexo de inferioridade. Outro problema é a 
excessiva timidez, ou acanhamento natural, resultante do 
fato de que a criança teme que os outros vão notar as mu-
danças porque está passando e também por ignorar qual 
a atitude que essas pessoas terão com ela. Existe uma falta 
de coordenação motora resultante do rápido crescimento 
de certas áreas do corpo que torna a criança desajeitada e 
tímida e receosa de dar má impressão aos que a cercam. 
Esses problemas serão esclarecidos e solucionados com a 
definição da identidade do indivíduo, que normalmente 
ocorre na adolescência.
Período das operações formais - 12 anos aos 21 anos
Corresponde ao período chamado adolescência, que 
significa crescer ou desenvolver-se até a maturidade.
Durante muitos séculos, o termo adolescência foi 
definido quase que exclusivamente, em função dos seus 
aspectos biológicos. Adolescência e puberdade eram usa-
das como palavras sinônimas. Modernamente, entretan-
to, a adolescência deixou de ser um conceito puramen-
te biológico e passou a ter, sobretudo, uma conotação 
53
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
psicossocial. É baseado neste conceito que Munuss (1971), 
define adolescência em termos sociológicos, psicológicos 
e cronológicos.
Cronologicamente, a adolescência, ao menos nas cul-
turas ocidentais, é o período da vida humana que vai dos 
doze ou treze anos até mais ou menos aos vinte dois ou 
vinte e quatro anos de idade, admitindo-se consideráveis 
variações. Tanto de ordem individual e, sobretudo, de or-
dem cultural.
Sociologicamente, adolescência seria o período de 
transição em que o indivíduo passa de um estado de de-
pendência do seu mundo maior para uma condição de 
autonomia e, sobretudo, em que o indivíduo começa a as-
sumir determinadas funções e responsabilidades caracte-
rísticas do mundo adulto.
Do ponto de vista psicológico, a adolescência é o 
período crítico de definição da identidade do “eu”, cujas 
repercussões podem ser de graves consequências para o 
indivíduo e a sociedade.
Vale ressaltar a diferença entre os termos puberdade, 
pubescência e adolescência. A puberdade é o estágio evo-
lutivo em que o indivíduo alcança a sua maturidade sexual. 
A data exata em que ocorre o amadurecimento sexual do 
ser humano, diz Munuss, varia de acordo com fatores de 
ordem socioeconômica e geográfica. Por exemplo, a matu-
ridade sexual tende a ocorrer mais cedo em indivíduos que 
vivem em climas temperados e que pertencem às classes 
sociais mais elevadas. Em zonas tropicais, e também por 
influência de fatores nutricionais, esse amadurecimento 
sexual tende a ocorrer um pouco mais tarde. Pubescên-
cia seria o período, também chamado de pré-adolescência, 
caracterizado pelas mudanças biológicas associadas com a 
maturação sexual. É o período de desenvolvimento fisioló-
gico durante o qual as funções reprodutoras amadurecem; 
é filogenético e inclui o aparecimento de características se-
xuais secundárias e a maturidade fisiológica dos órgãos se-
xuais primários. Estas mudanças ocorrem num período de 
aproximadamente dois anos. Adolescência é um conceito 
mais amplo e inclui mudanças consideráveis nas estruturas 
da personalidade e nas funções que o indivíduo exerce na 
sociedade. Em síntese, o conceito moderno de adolescên-
cia não se confunde com puberdade, como fato biológico, 
nem tampouco com pubescência, como estágio de transi-
ção marcada por grandes mudanças fisiológicas. Adoles-
cência é um conceito psicossocial. Representa uma fase crí-
tica no processo evolutivo me que o indivíduo é chamado 
a fazer importantes ajustamentos de ordem pessoal e de 
ordem social. Entre estes ajustamentos, temos a luta pela 
independência financeira e emocional, a escolha de uma 
vocação e a própria identidade sexual. Como conceito psi-
cossocial, a adolescência não está necessariamente limita-
da aos fatores cronológicos. Em determinadas sociedades 
primitivas, a adolescência é bastante curta e termina com 
os ritos de passagem em que os indivíduos, principalmente 
os de sexo masculino, são admitidos no mundo adulto. Na 
maioria das culturas ocidentais, entretanto, a adolescência 
se prolonga por mais tempo e pode-se dizer que a ausên-
cia de ritos de passagem torna essa fase de transição um 
período ambíguo da vida humana. Portanto, diz Munuss, 
só se pode falar sobre o término da adolescência em ter-
mos de idade cronológica à luz do contexto sociocultural 
do indivíduo. O que, de fato, marca o fim da adolescên-
cia são os ajustamentos normais do indivíduo aos padrões 
de expectativas da sociedade com relação às populações 
adultas.
Do ponto de vista de um conceito psicossocial da ado-
lescência, podemos dizer, como observa Hurlock (1975), 
que ela é um período de transição na vida humana. O ado-
lescente não é mais criança, porém, ainda não é adulto. 
Esta condição ambígua tende a gerar confusão na mente 
do adolescente, que não sabe exatamente qual o papel que 
tem na sociedade. Esta confusão começa a desaparecer na 
medida em que o adolescente define sua identidade psico-
lógica. A adolescência é, também, um período de mudan-
ças significativas na vida humana. Hurlock fala de quatro 
mudanças de profunda repercussão nessa fase. A primeira 
delas é a elevação do tônus emocional, cuja intensidade 
depende da rapidez com que as mudanças físicas e psi-
cológicas ocorrem na experiência do indivíduo. A segunda 
mudança significativa dessa fase da vida é decorrente do 
amadurecimento sexual que ocorre quando o adolescen-
te se encontra inseguro com relação a si mesmo, a suas 
habilidades e seus interesses. O adolescente experimenta 
nesta fase da vida o sentimento de instabilidade, especial-mente em face do tratamento muito ambíguo que recebe 
do seu mundo exterior. Em terceiro lugar, as mudanças que 
ocorrem no seu corpo, nos seus interesses e nas suas fun-
ções sociais, criam problemas para o adolescente porque, 
muitas vezes, ele não sabe o que o grupo espera dele. E, 
finalmente, há mudanças consideráveis na vida do adoles-
cente quanto ao sistema de valores. Muitas coisas que an-
tes eram importantes, para ele, passam a ser consideradas 
como algo de ordem secundária, a capacidade intelectual 
do adolescente lhe dá condição de analisar de modo crítico 
o sistema de valores a que foi exposto e a que, até então, 
respondem de modo mais ou menos automático. Porém, 
agora o adolescente está em busca de algo que lhe seja 
próprio, algo pelo qual ele possa assumir responsabilidade 
pessoal. Daí, então, as lutas por que passa o ser humano 
nessa fase da vida, no sentido da vida, no sentido de definir 
seu próprio sistema de valores, seus próprios padrões de 
comportamento moral.
A adolescência é, também, um período em que o in-
divíduo tem que lutar contra o estereótipo social e con-
tra uma autoimagem distorcida dele decorrente. A cultura 
tende a ver o adolescente como um indivíduo desajeita-
do, irresponsável e inclinado às mais variadas formas de 
comportamento antissocial. Por sua vez, o adolescente vai 
desenvolvendo uma autoimagem que reflete, de alguma 
forma, esse estereótipo da sociedade. Essa condição in-
desejável ordinariamente cria conflitos entre pais e filhos, 
entre o adolescente e a escola, entre o adolescente e a so-
ciedade em geral.
A adolescência é o período de grandes sonhos e aspi-
rações, mesmo que não sejam sempre, realistas. De acordo 
com o próprio Piaget, nessa fase da vida a possibilidade 
é mais importante do que a realidade. Com o amadureci-
mento normal do ser humano é que ele vai aprendendo a 
discriminar entre o possível e o desejável.
54
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Na adolescência, como nas demais fases da vida, o in-
divíduo tem que cumprir tarefas evolutivas.
As principais tarefas evolutivas da adolescência, se-
gundo Havighurst, são as seguintes: aceitar e aproveitar ao 
máximo o próprio corpo; estabelecer relações sociais mais 
adultas com companheiros de ambos os sexos; chegar a 
ser independente dos pais e de outros adultos, dos pontos 
de vista emocional e pessoal; escolha de uma ocupação e 
preparação para a mesma; preparação para o noivado e 
o matrimônio; desenvolvimento de civismo; conquista de 
uma identidade pessoal, uma escala de valores e uma filo-
sofia de vida.
Do ponto de vista cognitivo e segundo Jean Piaget, 
o adolescente está no estágio das operações formais. Se-
gundo Piaget, o amadurecimento biológico do adolescen-
te torna possível a aquisição das operações formais, que 
representam o ponto máximo do processo do desenvol-
vimento cognitivo. As operações formais, entretanto, não 
são um dado a priori, mas dependem da interação do or-
ganismo com o meio. A aquisição das operações formais 
é de fundamental importância, especialmente em face do 
enorme progresso das ciências naturais em nosso século. 
Elas são, também, necessárias a todo o processo de ajusta-
mento social do adolescente.
Fonte
PINHEIRO, M. da S. Aspectos biopsicossociais da Crian-
ça e do adolescente. 
Disponível em http://www.cedeca.org.br/conteudo/
noticia/arquivo/3883a852-e760-fc9f-57158b8065d42b0e.
pdf
3.6 TEMAS CONTEMPORÂNEOS: BULLYING, O PA-
PEL DA ESCOLA, A ESCOLHA DA PROFISSÃO, TRANS-
TORNOS ALIMENTARES NA ADOLESCÊNCIA, FAMÍLIA, 
ESCOLHAS SEXUAIS.
BULLYING 
Bullying: Abordagem Histórica 
A palavra bullying é de origem inglesa, adotada em 
muitos países para definir o desejo consciente de maltratar 
e inibir uma ou outra pessoa e colocá-la sob tensão. Ter-
mo usado para conceituar todos os atos de violência física 
ou psicológica intencional e repetitiva, que se manifesta 
sem nenhum motivo aparente, praticados por uma pessoa 
ou grupo de pessoas, contra outro(s), com o objetivo de 
intimidar ou agredir o indivíduo incapaz de se defender, 
causando nas vítimas muito sofrimento, levando-as ao iso-
lamento social e em alguns casos à agressividade.
As brincadeiras acontecem naturalmente entre as 
crianças, são saudáveis, todos participam, se divertem e 
são incluídas. As brincadeiras passam a ser bullying quando 
há exclusão, sentimentos negativos e violência.
De acordo com Fante (2005), alguns pesquisadores 
consideram no mínimo três ataques contra a mesma vítima 
durante o ano para ser classificado como bullying.
Bullying é um conjunto de atitudes agressivas, inten-
cionais e repetitivas que ocorrem sem motivação evidente, 
adotado por um ou mais alunos contra outro(s), causando 
dor, angústia e sofrimento. Insultos, intimidações, apelidos 
cruéis, gozações que magoam profundamente, acusações 
injustas, atuação de grupos que hostilizam, ridicularizam e 
infernizam a vida de outros alunos levando-os à exclusão, 
além de danos físicos, morais e materiais, são algumas das 
manifestações do comportamento bullying. 
No Brasil não existe uma tradução para a palavra 
bullying. Entretanto a Associação Brasileira Multiprofissio-
nal de Proteção à Infância e a Adolescência (ABRAPIA) rela-
ciona algumas expressões que podem ser definidas como 
bullying, como o ato de zoar, provocar, isolar, excluir, go-
zar, apelidar, discriminar, agredir, ignorar, chutar, ameaçar, 
amedrontar, quebrar material, ferir, perseguir, intimidar, 
ofender e sacanear o próximo. Esses atos podem causar 
dor silenciosa na maioria das vítimas, levando-as ao distan-
ciamento da escola.
Conforme o pensamento de Chalita (2008), o bullying é 
um conceito muito bem definido, não escolhe classe social 
ou econômica, escola pública ou particular, área urbana ou 
rural, ele está presente em grupos de crianças e de jovens, 
em escolas de países e culturas diferentes. Isso nos mostra 
que o bullying está sendo considerado motivo de agressi-
vidade nas escolas, trazendo consequências negativas para 
todos os protagonistas do bullying, afetando a formação 
psicológica, emocional e socioeducacional do aluno.
Entendendo que o bullying é um problema mundial, 
encontrado em qualquer escola, não se restringindo a um 
tipo específico de instituição escolar.
Segundo Fante (2005), foi Dan Olweus, quem desen-
volveu os primeiros critérios para detectar o problema de 
forma específica, podendo diferenciar as interpretações 
como os atos de gozações ou relações de brincadeiras 
entre iguais, próprias do processo de amadurecimento do 
indivíduo.
No passado nada se sabe concretamente sobre o 
bullying antes da década de 1970. Foi somente com pes-
quisas realizadas em 1972 e 1973, na Escadinávia, que as 
famílias perceberam a seriedade dos problemas decorren-
tes da violência escolar. A inquietação alastrou-se pela No-
ruega e Suécia e, posteriormente, por toda a Europa. 
O primeiro país a preocupar com o bullying escolar 
foi a Suécia, na década de 1970, quando ocorreram várias 
agressividades no ambiente escolar.
A escola juntamente com a sociedade tentou investi-
gar e solucionar métodos preventivos para a resolução do 
problema.
Na Noruega, o bullying foi motivo de preocupação e 
inquietação nos meios de comunicação e entre professores 
e pais, sem que as autoridades educacionais se comprome-
tessem de forma judicial.
No final de 1.982, o bullying passou a ser motivo de 
preocupação e atenção nas entidades escolares, quando 
o jornal noticiava o suicídio de três alunos, com idade de 
10 a 14 anos, no Norte da Noruega, sendo que a principal 
causa foi identificada por maus tratos que eram recebidos 
por seus companheiros de escola. Isso fez com que o Mi-
55
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
nistro da Educação da Noruega, realizasse uma campanha 
nacionalcontra os problemas da violência entre alunos no 
ambiente escolar.
O professor e pesquisador da Universidade de Ber-
gen, Dan Olwues, durante época, investigou nas escolas as 
agressões cometidas entre agressores e suas vítimas, para 
diferenciar o problema de forma específica, avaliando a na-
tureza e ocorrência dessas agressões.
Inicialmente Dan Olweus, pesquisou 84 mil estudantes, 
trezentos a quatrocentos professores e mil pais, incluindo 
vários períodos de ensino. Para a realização dessa pesquisa 
Dan Olweus desenvolveu um questionário padrão, com 25 
questões, ao término constatou que a cada sete alunos, um 
estava envolvido em casos de bullying.
Com essa situação foi possível realizar um programa 
de intervenção proposto por Dan Olweus, juntamente com 
o governo norueguês e que veio a reduzir 50% dos casos 
de bullying. Esse programa envolveu professores a alunos, 
com o objetivo de conscientizar e prevenir o bullying no 
ambiente escolar. Esse fato incentivou outros países, como 
o Reino Unido, Canadá e Portugal, a promoverem campa-
nhas de intervenção.
De acordo com as pesquisas de Fante (2005), o bullying 
vem aumentando entre alunos das escolas americanas. Os 
pesquisadores americanos classificam bullying como um 
conflito global e se vier a persistir essa tendência, será 
enorme a quantidade de jovens que se tornarão adultos 
abusadores e delinquentes.
Ainda com base no pensamento da autora não existe 
diferença entre o bullying praticado no Brasil e nos Estados 
Unidos, ou em qualquer outro lugar do mundo, o que varia 
são os índices encontrados em cada país.
Baseado nos dados da ABRAPIA, nos diversos países 
pode-se afirmar que o bullying está presente em todas as 
escolas. No Brasil, o bullying aparece em uma quantida-
de pequena, comparada a países como os Estados Unidos, 
Espanha e onde o assunto é expandido com intensidade 
devido a graves consequências do bullying dentro do am-
biente escolar.
No Brasil, o bullying ainda é pouco comentado e estu-
dado, motivo pelo qual não existem indicadores que nos 
forneçam uma visão global para que possamos compará-lo 
aos demais países. 
Conforme citação acima é possível dizer que, o Brasil 
em relação à Europa, no que se refere aos estudos e tra-
tamento desse comportamento, está com pelo menos 15 
anos de atraso. Isso nos mostra que nas escolas brasileiras 
o bullying apresenta índices inferiores aos países europeus.
Gabriel Chalita (2008), em suas pesquisas constatou 
que a professora Marta Canfielde e seus colaboradores 
realizaram umas das primeiras investigações registradas 
sobre o bullying no Brasil, isso ocorreu no ano de 1997. 
Observou o comportamento agressivo em crianças de qua-
tro Escolas Públicas em Santa Maria-RS. Para a realização 
dessas pesquisas, a professora Marta Canfielde adaptou e 
aplicou o questionário de Dan Olweus.
Posteriormente foram realizados estudos por várias es-
colas brasileiras, (Rio de Janeiro e São José do Rio Preto-SP) 
no período de 2000 a 2003. Com o trabalho realizado nessas 
escolas foi possível iniciar o mapeamento da violência es-
colar no Brasil, com o objetivo de prevenir as violências que 
ocorrem no ambiente escolar.
Bullying Direto e Indireto
Sabe-se que, as ações do bullying entre os alunos 
apresentam características comuns, como comportamen-
tos agressivos de forma repetitiva e violenta contra uma 
mesma vítima, dificultando assim a defesa da mesma.
Mediante o que comenta Chalita, sobre as práticas do 
bullying, pode ser considera como sendo uma forma sutil 
de violência, que, geralmente envolve colegas da mesma 
sala de aula, gera comportamentos agressivos que podem 
ser classificados como bullying direto ou bullying indireto.
Ambas as formas são prejudiciais a todos os envolvidos 
do bullying, afetando principalmente a vítima. O bullying 
direto ocorre quando a vítima é atacada diretamente pelo 
agressor, sendo utilizado com uma frequência maior entre 
os meninos, usando agressões físicas como: bater, chutar, 
tomar pertences, empurrões, roubos; e as atitudes verbais 
que são os insultos, apelidos pejorativos que ressaltam de-
feitos ou deficiências e atitudes de discriminação, expres-
sões e gestos que geram mal-estar às vítimas.
Geralmente o bullying indireto, é a forma mais adotada 
entre o sexo feminino e crianças menores. As estratégias 
utilizadas são atitudes de indiferença, difamações, fofocas, 
rumores degradantes sobre a vítima e familiares, entre ou-
tros.
De acordo com Gabriel Chalita (2008), o bullying in-
direto leva a vítima ao isolamento social, desenvolvendo 
uma atitude de insegurança e dificuldade de se relacionar, 
muitas vezes tornando-se uma pessoa retraída, e indefesa.
No bullying indireto os meios de comunicação é uma 
forma eficaz, que vem crescendo assustadoramente junto 
com o desenvolvimento da internet e dos telefones celula-
res, pois divulgam, com rapidez comentários cruéis e mali-
ciosos sobre as pessoas. Essa crueldade virtual é conhecida 
como cyberbullying. Nesta forma de bullying o agressor se 
esconde no anonimato e tortura a vida de outros colegas, 
através de páginas difamatórias na internet, mensagens de 
texto anônimo entre outros.
De acordo com Pedra (2008, p.67), que estudos reve-
lam que, na Inglaterra, 25% das meninas são vítimas de 
ciberbullying através de celulares. Nos Estados Unidos, um 
dado surpreendente foi divulgado pela imprensa 20% dos 
alunos do ensino fundamental são alvos dessa forma de 
violência.
Conforme citação acima, entende-se que, os maio-
res praticantes do ciberbullying são os adolescentes, não 
sendo possível traçar um perfil, por se tratar de ataques 
virtuais, a imagem e a identidade do agressor não são ex-
postas, e quando são descobertos pelas vítimas geralmen-
te não os denunciam.
O mesmo autor relata que, a denúncia é o principal 
instrumento para a interrupção desses atos. Entretanto, 
prevenir é o melhor caminho, devendo ser começado pela 
família com a parceria com as escolas.
56
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Os alunos devem ser orientados sobre o assunto e 
conduzidos à reflexão sobre os limites da internet. O uso 
do computador tem gerado muitas discussões em família, 
por não conseguirem delimitar o tempo dos filhos no com-
putador e nem estabelecer regras.
Protagonistas do Bullying
A partir da compreensão que, os protagonistas do 
bullying podem ser classificados como autor, vítima e tes-
temunha de acordo com sua reação à situação do bullying, 
não há evidências que permita saber qual personagem 
adotará cada aluno, sendo que poderá sofrer alterações de 
acordo com as circunstâncias vivenciadas dentro da escola.
Nesse sentido, Chalita (2008, p. 85) relata que “são vá-
rios os alunos envolvidos nessa situação de bullying”. Iden-
tificá-los é fundamental, mas com o cuidado de não rotular 
os estudantes, para que não sejam motivos de rumores 
desagradáveis dentro da comunidade escolar. Em todos os 
casos os envolvidos no bullying podem sofrer graves con-
sequências no que se diz respeito a aprendizagem escolar 
e ao convívio social.
Autor do Bullying
Conforme afirma Chalita (2008), os autores do bullying, 
normalmente “são alunos populares que precisam de pla-
teia para agir. Reconhecidos como valentões, oprimem e 
ameaçam suas vítimas por motivos banais, apenas para 
impor autoridade”. Com isso, compreende-se que o autor 
do bullying se sente reconhecido e realizado, sempre man-
tendo um grupo em torno de si, para se permanecer apoia-
do e fortalecido, sentindo prazer e satisfação em dominar, 
controlar e causar danos e sofrimento as vítimas.
Fante (2005), salienta que frequentemente o autor do 
bullying é membro de família desestruturada, nas quais há 
pouco relacionamento afetivo entre si, ausência de limites 
e ao modo de afirmação de poder dos pais sobre os filhos,por meio de “práticas educativas”, que incluem maus-tra-
tos físicos e explosões violentas.
Quando os pais ou responsáveis exercem um acompa-
nhamento precário ao seu filho, adotando comportamen-
tos agressivos ou explosivos para tentar solucionar os con-
flitos que há no ambiente familiar, contribui para que este 
reproduza a agressividade sofrida, no meio escolar.
Fante (2005), diz que o agressor do bullying, se “apre-
sentam mais forte que seus companheiros de classe e de 
suas vítimas em particular, podendo ser fisicamente supe-
rior nas brincadeiras, brigas e nos esportes, entretanto o 
autor pode ter a mesma idade ou ser um pouco mais velho 
que suas vítimas”.
A ABRAPIA nos acrescenta que frequentemente a 
maioria dos casos dos autores de bullying, procuram para 
serem suas vítimas pessoas com algumas características 
específicas, como: deficiência física, baixa estatura, inteli-
gência superior entre os demais, submissão, dificuldades 
na aprendizagem, aspecto físico frágil, timidez, religião e 
culturas diferenciadas, cor de pele.
Fante (2005), afirma que “crianças portadoras de de-
ficiências físicas e de necessidades educacionais, correm 
maior riscos de se tornarem vítimas do autor do bullying, 
com a possibilidade de duas a três vezes maiores que as 
crianças consideradas normais”.
Vítimas do Bullying
Fante (2005), estudiosos da área do bullying identifi-
cam e classificam os tipos de papéis desempenhados, en-
tre as vítimas, como: “vítima típica, vítima agressora, vítima 
provocadora”.
Considerada vítima típica, aquele aluno que recebe as 
agressões de outro não dispondo de habilidades físicas e 
emocionais para reagir.
Os ataques constantes e as agressões contra as vítimas 
podem comprometer o desenvolvimento desses alunos 
dentro da sala de aula, aumentando a ansiedade e o con-
ceito negativo sobre si mesmo.
O silêncio das vítimas se torna um aliado poderoso dos 
agressores, ajudando a aumentar a violência dentro da co-
munidade escolar. Muitas vezes a vítima típica não comen-
ta sobre as agressões sofridas, por vergonha, por medo de 
represália, intimidações, por não acreditarem que estão fa-
lando a verdade, temor pelas reações dos familiares, pela 
incapacidade de defesa.
O comportamento, os hábitos, a maneira de se vestir, a 
falta de habilidades em alguns esportes, a deficiência física 
ou aparência fora do padrão de beleza imposto pelo gru-
po, o sotaque, a gagueira, a raça podem ser motivo para a 
escolha de uma vítima. Chalita.
No entanto, é preciso salientar que o fato de algum 
aluno apresentar essas características não significa que seja 
ou venha a ser vítima de bullying.
Quando a humilhação é constante contra a vítima, ela 
perde a identidade, porque a mesma e os demais a reco-
nhecerão somente através daquela característica negativa 
que está sendo focada.
Segundo Fante (2005), as vítimas típicas do bullying 
são indivíduos selecionados, sem um motivo claro, para 
sofrer ameaças, humilhações e intimidações, geralmente 
sentem medo de reagir às agressões sofridas devido a sua 
baixa estima e insegurança, se tornando um indivíduo pou-
co sociável.
A autora, ainda comenta que a vítima típica do bullying 
sente dificuldades de impor-se ao grupo, tanto físico como 
verbalmente, por não ter hábitos de agressividades, os so-
frimentos das vítimas podem ser prolongados com muita 
dor e angústia. Acreditando serem merecedores desses 
maus tratos, preferem sufocar seus sentimentos que de-
nunciar os supostos agressores, buscando cada vez mais o 
isolamento social. Geralmente as vítimas típicas preferem 
ficar perto dos adultos, procurando evitar seus colegas.
E a vítima agressora é o aluno que é agredido e trans-
fere todo o seu sofrimento para outro indivíduo reprodu-
zindo as agressões sofridas em uma situação de violência 
mais discreta, com a mesma intensidade de agressividade. 
Essas vítimas agressoras posteriormente podem tornar-se 
57
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
agressores de colegas considerados mais fracos e indefe-
sos. Em casos extremos, são aqueles que se munem de ar-
mas e explosivos e vão até a escola em busca de justiça. 
Matam e ferem o maior número possível de pessoas e dão 
fim a própria existência.
Fante (2005), “a vítima provocadora possui um gênio 
ruim, tenta brigar ou responder quando é atacada, ou in-
sultada, mas geralmente de maneira ineficaz”. Pode ser 
imperativa, inquieta e ofensora. É de modo geral, tola, ima-
tura de costumes irritantes, e quase sempre é responsável 
por causar tensões no ambiente em se encontra.
As Testemunhas do Bullying
As testemunhas representam a maioria dos alunos da 
escola. Eles não sofrem e nem praticam bullying, mas so-
frem as suas consequências, por presenciarem constante-
mente as situações de sofrimento vivenciados pelas víti-
mas.
De acordo com Pedra (2008), muitas das testemunhas 
“repudiam as ações dos agressores, mas nada fazem para 
impedir”. Entretanto alguns alunos usam estratégias para 
se defender e não serem a próxima vítima, através de risa-
das, permitindo as agressões, ou fingem se divertir com o 
sofrimento das vítimas.
Bullying entre Professor e Aluno
Fante (2008), relata que é grande o número de profes-
sores considerados vítimas do bullying em seu ambiente 
de trabalho, sendo a maioria mulheres. Muitos são perse-
guidos, humilhados, assediados sexualmente; moralmente 
ameaçados, não com agressões físicas, mas com avisos 
pavorosos em relação a seus pertences. Para os alunos 
são apenas brincadeiras inofensivas que não prejudica nin-
guém.
A mesma autora, afirma que tudo isso provoca grande 
constrangimento aos profissionais da educação, prejudi-
cando sua autoestima e principalmente o desempenho de 
suas funções dentro da sala de aula, causando um acentua-
do stress, mal-estar e fadiga que mais tarde refletirão nas 
relações com seus alunos, familiares e colegas de trabalho.
De todas as formas de bullying a que parece deixar 
marcas nos professores são os rebaixamentos junto a co-
legas e alunos, em relação às observações sobre o aspecto 
físico ou sua forma de vestir.
Fante (2008) relata que, “o professor tem assegurado o 
direito a segurança na atividade profissional, com penaliza-
ção da prática de ofensa corporal ou outra violência sofrida 
no exercício das suas funções”.
Entendendo assim que o professor que for ameaçado 
ou que tenha sofrido alguma outra forma de agressão, que 
coloque sua vida em risco ou sua dignidade, deve procurar 
a direção da escola, sendo o diretor responsável, cabe a ele 
tomar as providências necessárias.
E importante salientar que alguns professores são víti-
mas e agressores ao mesmo tempo. Praticam bullying dire-
to e indireto contra seus alunos, perseguindo, humilhando, 
ridicularizando, intimidando e acusando.
Quando o professor não tem equilíbrio emocional para 
lidar com os atos de agressividade entre alunos que ocor-
rem em sala de aula, por serem incapazes de oferecer uma 
resposta eficaz a situação, acaba reagindo com agressivi-
dade. Assim os professores se “convertem” em agressores 
devido a sua postura de “autoritarismo e intimidação” na 
tentativa de obter poder e controle diante dos alunos.
Esses professores agressores fazem comparações, 
constrangem, criticam, chamam a atenção em público, 
mostram ter afinidades por determinados alunos em rela-
ção a outros, rebaixam a autoestima e a capacidade cog-
nitiva, fazem comentário preconceituosos em relação ao 
aluno e seus familiares. Portanto, a vítima de um educador 
sofre terrivelmente na comunidade escolar, esse fato gera 
vários sentimentos negativos, prejudicando sua aprendiza-
gem e a desmotivação pelos estudos.
Identificação dos Envolvidos
Fante (2005), afirma que o bullying tem como caracte-
rística principal a violência oculta, sendo difícil detectá-la.Diante do que foi abordado é de suma importância 
ressaltar que, qualquer mudança que venha ocorrer no 
comportamento da criança é motivo de alerta para pais e 
educadores. Por meio da observação e discussão sobre o 
comportamento individual dos alunos os professores po-
dem identificar os que praticam bullying, assim estará mi-
nimizando a violência escolar, já que a maioria dos envolvi-
dos se recusa em falar abertamente se estão sendo vítimas 
ou testemunhas. Entretanto, eles convivem com a violência 
e se calam ou são ignorados em suas observações por pais 
e professores.
Como a maioria das vítimas fica em silêncio, é neces-
sário que profissionais da educação e pais fiquem atentos 
a alguns sinais.
Segundo Fante (2005), para que um aluno possa ser 
identificado como vítima, os educadores devem obser-
var alguns comportamentos, como: “frequentemente está 
isolado e separado do grupo de colegas; procura sempre 
estar próximo do professor ou de algum adulto; se sente 
inseguro ou ansioso; dificuldades em expor; nos jogos em 
equipe é último a ser escolhido; está sempre triste, depri-
mido ou aflito; desleixo” nas tarefas escolares; apresenta 
feridas, arranhões, perda de seus pertences.
A mesma autora comenta que é essencial que os pais 
ou responsáveis acompanhem dia a dia o andamento esco-
lar do seu filho, para que possam identificar se estão sendo 
vítima da conduta do bullying.
É necessário observar comportamentos, como: dor de 
cabeça frequentemente, pouco apetite, dor de estômago, 
tonturas principalmente no período da manhã; muda de 
humor de maneira inesperada, desinteresse pelas ativida-
des escolares; regressa da escola com roupas rasgadas ou 
sujas e com o material escolar danificado; pede dinheiro 
extra a família; gasto excessivo na cantina da escola; apre-
senta marca de agressões corporais; medo ou falta fre-
quentemente as aulas; apresenta aspecto contrariado, tris-
te, deprimido, aflito ou infeliz.
58
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Os agressores normalmente acham que todos devem 
fazer suas vontades e se acham ser o centro das atenções.
Fante (2005), baseado nas pesquisas do professor Dan 
Olweus, afirma que, para identificar se um aluno pratica a 
agressividade do bullying, é necessário que os profissio-
nais da educação observem os comportamentos indivi-
duais dos alunos, que “fazem brincadeiras ou gozações de 
maneira desdenhosa de outros colegas; coloca apelidos 
de forma desagradáveis; faz ameaças; dá socos; pontapés; 
puxa os cabelos; envolve-se em discussões e desentendi-
mentos; pega materiais escolares de outros colegas sem 
consentimento”.
Em casa é importante que pais ou responsáveis ob-
servem comportamentos diferenciados nos filhos quando 
regressam da escola com roupas amarrotadas e com ar 
de superioridade, apresentam atitudes hostis, desafiantes, 
são agressivos com seus membros da família, chegando ao 
ponto de aterrorizá-los sem levar em conta a idade ou a 
diferença de força física, são habilidosos para sair-se bem 
de situações difíceis, possuem objetos ou dinheiros sem 
justificar sua origem.
Fante (2005), em suas pesquisas realizadas em escolas, 
constatou que nos “ciclos iniciais (jardim e pré-escola) até 
a 4ª série” é mais fácil identificar se os alunos estão sendo 
envolvidos nas “condutas bullying”, já que as crianças são 
mais transparentes que os demais alunos. Os profissionais 
da educação devem ter atenção com os “alunos com ne-
cessidades educativas especiais”, pois elas constituem em 
um grupo de risco, por serem crianças frágeis.
Onde ocorre o Bullying no Ambiente Escolar
Todos desejam que as escolas sejam ambientes segu-
ros e saudáveis, onde as crianças e adolescentes possam 
desenvolver, ao máximo os seus potenciais intelectuais e 
sociais.
Porém, a violência vem invadindo as instituições esco-
lares, atualmente sob o nome de bullying, que são atitudes 
ofensivas, comentários maldosos, agressões físicas ou psi-
cológicas, transformando a vida escolar de muitos alunos 
em um verdadeiro transtorno para o processo de aprendi-
zagem.
Fante (2005), baseado nas explicações do professor 
Dan Olweus, acrescenta que é normal em uma sala de aula, 
existir entre os alunos, diversos tipos de conflitos e tensões. 
Existem também várias outras interações agressivas, que 
ocorrem quando o aluno quer se divertir ou como forma 
de autoafirmação, mostrando ser mais forte que outros co-
legas.
O comportamento violento e agressivo que um aluno 
apresenta na escola, provocando sofrimento a muitos ou-
tros – de forma violenta ou não tem sua origem dentre ou-
tros fatores, no modelo educativo familiar de acordo com 
o qual foi criado. 
Segundo pesquisas realizadas por Fante, durante o 
ano de 2000 a 2003, ela constatou que, “o bullying torna-
-se uma atitude difícil de ser combatida, pois o aluno traz 
esse comportamento internalizado em sua personalidade”. 
E que em geral ocorre dentro das salas de aulas, nos ba-
nheiros, corredores, quadras esportivas e mediações das 
escolas. Também ocorrem entre outros locais fora da esco-
la mais de convivência comum dos alunos.
Pedra (2008) relata que na maioria dos países, consta-
tou-se que o pátio de recreio “é o lugar de maior incidên-
cia dos ataques de bullying. Porém, no Brasil as pesquisas 
apontam para a sala de aula, por ser um tema novo de dis-
cussão no meio educacional brasileiro, sendo que a maioria 
dos professores desconhece o bullying.
As consequências do bullying
Nota-se que as consequências referentes ao bullying 
são inúmeras e variadas, afetando todos os envolvidos e 
em todos os níveis de idade. Quando não há intervenções 
efetiva contra o bullying, o ambiente escolar fica totalmen-
te contaminado.
De acordo com Fante (2005), as vítimas, agressores e as 
testemunhas do bullying, estão sujeitos a sofrer prejuízos 
na formação “psicológica, emocional e socioeducacional”.
Considera-se que os alunos que são vítimas das agres-
sões, por um período prolongado de tempo, dependendo 
da intensidade do sofrimento vivido e não conseguindo 
superar os traumas causados, dependendo da característi-
ca individual de cada um, tendo dificuldade de se relacio-
nar consigo mesma, com o meio social e com a sua família, 
poderá ter pensamentos destrutivos, alimentados pela rai-
va reprimida, em consequência nasce o desejo de cometer 
suicídio.
Outras vítimas, após anos de sofrimento, chegam ao 
limite de suas forças, e não suportando mais as humilha-
ções sofridas, revolta contra a escola e, movido por ideias 
de vingança, resolve explodi-la. Pedra (2008), comenta que 
o primeiro procedimento adotado pela escola deve ser 
treinar os profissionais de segurança, recepção e limpeza a 
identificar objetos e correspondências suspeitas.
Muitas vezes, o aluno pode enviar o material explosivo 
para a escola sem identificação ou deixar o embrulho em 
algum local, como pátio ou banheiro. É importante tam-
bém que os professores e a direção escolar observem se os 
alunos têm marcas de queimadura ou lesões que eviden-
ciem experiências com explosivos.
Em se tratando de dificuldades emocionais das vítimas, 
podem alterar suas relações sociais com os professores e 
colegas, apresentando baixa autoestima e dificultando o 
processo educacional, tendo uma queda excessiva no ren-
dimento escolar, desinteresse pelos estudos, “déficit de 
concentração” e de aprendizagem, reprovação e em mui-
tos a evasão escolar.
Fante (2005), baseado nas pesquisas do professor Dan 
Olweus, “diz que há uma grande possibilidade da criança 
vítima de bullying a se tornar depressiva, aos 23 anos de 
idade, transformando-a em um adulto com dificuldade de 
relacionar e prejudicando sua vida acadêmica”.
Ainda, segundo a autora esclarece que, quanto às con-
sequências do bullying sobre os próprios agressores, de 
ambos os sexos indicam queeles podem adotar compor-
tamentos delinquentes, como a agressividade sem motivo 
aparente, uso de drogas e armas ilegais, furtos, formação 
59
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
de gangues, chegando com facilidade a marginalidade. A 
participação das meninas nessa fase é pouco menor que a 
dos meninos.
Os agressores que exercem esses comportamentos 
delinquentes, normalmente se distanciam das atividades 
escolares, supervalorizando a violência como uma forma 
natural e o prazer de se sentir poderoso.
As testemunhas da conduta do bullying abrangem a 
maioria dos alunos, mesmo não se envolvendo diretamen-
te.
Segundo a ABRAPIA as testemunhas também se veem 
afetadas por esse ambiente de tensão e acabam sofrendo 
suas consequências, tornando-se “inseguras” e temerosas, 
podendo desta forma comprometer sua aprendizagem es-
colar, em alguns casos elas possam vir a se tornar as pró-
ximas vítimas. Isso acontece, porque o direito que elas ti-
nham a uma escola segura e saudável foi corrompido, na 
medida em que bullying foi afetando os demais envolvidos.
Papel da Família
Segundo Moreno (2002), os valores “são um dos traços 
mais importantes do aprendizado no seio familiar”. Diante 
do que se tem comprovado por meio de estudos e pes-
quisas de autores, das ciências sociais, a família é a primei-
ra escola de saber, de civismo e cidadania, é no lar que a 
criança aprende a ter interesse pela vida, e ter confiança em 
si mesma, e acreditar que se pode seguir em frente. Educar 
em valores só é possível quando existe um amor verdadei-
ro em seu sentido mais profundo.
Segundo Pedra (2008, p.123), o afeto entre os mem-
bros de uma família é o começo de toda educação estru-
turada, por isso, se torna importante encontrar um tempo 
para a convivência saudável, especialmente com os filhos, 
mantendo um diálogo constante. Procurar conhecer o 
mundo deles e deixá-los que conheçam o seu. É essencial 
que os filhos encontrem em casa um ambiente de amor e 
aceitação, favorável a que se expressem, tanto sobre seus 
triunfos e suas conquistas como sobre seus fracassos e 
suas dificuldades, nos relacionamentos, nos estudos ou em 
relação a si mesmo.
Portanto é no ambiente familiar sólido que a criança 
deve criar relacionamentos significativos e duradouros 
sendo capaz de desenvolver atitudes e valores humanos, 
sabendo respeitar e aceitar as diferenças de cada indivíduo, 
assim a criança aprenderá a lidar com seus próprios senti-
mentos e emoções, suprindo suas necessidades de amor e 
valorização, valores que ajudarão no desenvolvimento de 
habilidades de autodefesa e alto-afirmação.
Quando a família abre mão desse aprendizado abre 
também espaço para a violência, para as atitudes que en-
fraquecem e isolam atrás de grades, muralhas e guaritas. A 
violência que invade ou nasce no espaço familiar se expan-
de para todos os outros seguimentos da sociedade como 
uma teia de relações destrutivas que se reproduz e conta-
mina os ambientes e as pessoas. 
Geralmente os pais procuram o melhor para seus fi-
lhos, acreditando que eles são capazes de sair bem em 
tudo que fazem, são considerados inteligentes, saudáveis, 
educados e desenvolvidos, despertando a vaidade e o or-
gulho da família, portanto, os filhos nem sempre corres-
pondem à imagem predeterminada pelos pais. Essas crian-
ças muitas vezes não são os melhores da sala de aula, são 
retraídos, tímidos, podendo ter limitações físicas, emocio-
nal ou intelectual. Geralmente na escola não é diferente, os 
professores esperam receber alunos bonitos, inteligentes, 
interessados e disciplinados. Quando isso não acontece a 
não aceitação pelos professores e colegas, causa grande 
frustração para o aluno que pode gerar a exclusão e a ri-
dicularização.
Em muitas situações os filhos podem trazer à tona 
grandes sentimentos não resolvidos pelos pais somando 
com todas as outras frustrações não terão condições de 
lidar com seus próprios desejos, e agradar a outros indi-
víduos.
Fante (2005) comenta que, quando os filhos são víti-
mas da conduta bullying no ambiente escolar, é essencial 
evitar não os culpar por incidentes que estão acontecendo 
nas dependências escolares. Porém, o excesso de mimos 
pode fazer com que a criança se torne chata, egoísta ou até 
agressora, geralmente não conseguindo seguir as regras 
de viver em grupo.
Demonstrar segurança é uma forma da criança reduzir 
as chances de um agressor vir a escolhê-la como alvo. Os 
pais devem orientar os filhos a manter a postura firme, en-
frentar os olhos do agressor não como afronta, mas para 
mostrar segurança e firmeza. Procurar ser sempre educa-
do, desprezando as brincadeiras de mau gosto, mostrando 
ter coragem, não chorar, nem demonstrar tristeza. O choro 
pode ser sinal de fraqueza, por isso a criança deve manter 
o mais distante possível do agressor.
Segundo o pensamento da autora, é comum encontrar 
pais que, ao saber da vitimização dos seus filhos, rotula-os 
de “fracotes”. Infelizmente, isso acontece em muitas famí-
lias. Não somente os pais, mas outros integrantes da família 
colocam a vítima em uma situação de inferioridade ainda 
maior, são expostas em frente a irmãos e colegas de es-
colas, amigos da família ou vizinhos, fazendo comentários 
maldosos, tornando-os responsáveis pela falta de compe-
tência para lidar com a situação difícil em que se encontra.
É importante que os pais acompanhem e direcionem a 
vida escolar de seus filhos, que saibam corrigi-los nos mo-
mentos certos, e estimular quando for necessário, abrindo 
espaço para que falem abertamente sobre qualquer tipo 
de agressão que tenham sofrido ou praticado dentro da 
escola.
Os pais não devem obrigar seus filhos a enfrentar os 
agressores, muitas vezes não é a melhor solução, ele pode 
estar frágil, com isso poderá sofrer mais. É relevante procu-
rar descobrir de onde vem às agressões e como fazer para 
amenizá-las oferecendo total proteção para seu filho.
Chalita (2008, p.183-184) relata que, quando os pais 
descobrem que os seus filhos são agressores, é importante 
manter um posicionamento firme, não ignorar a situação, 
nem fazer de conta que está tudo bem. É essencial que eles 
procurarem saber como ajudá-los, falando com os profes-
sores, com a direção da escola, com psicólogos ou profis-
sionais da área, e sempre estar acompanhando o processo 
de evolução e transformação desse aluno.
60
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
É possível dizer que, o diálogo e a paciência são funda-
mentais para que os filhos compartilhem os momentos de 
fragilidade. É essencial que os pais evitem repreendê-los, 
castigá-los ou reagir com agressividade. A criança preci-
sa de acolhimento, carinho, apoio e compreensão mesmo 
tendo conhecimento do acontecido. Procurando saber o 
que está causando estas atitudes que pode ser um proble-
ma recente ou vindo do passado. Ainda devem procurar 
usar estratégia para que seu filho saia do centro da violên-
cia mostrando à importância de pedir desculpas às pessoas 
que agrediu, para que possa reconhecer que errou e repa-
rar esse erro. Criar situações colocando seu filho no lugar 
da vítima para que possa sentir a dor e angústia do colega. 
E mostrar situações pessoais que trouxeram sofrimento.
Portanto, o papel dos pais é uma experiência cheia de 
satisfação e sentido que dura toda eternidade. Mesmo que 
os filhos cometem erros, sempre haverá motivos para reco-
nhecer os pontos positivos, as decisões acertadas e os bons 
momentos que compartilham juntos.
Papel da Escola
Segundo Aramis Lopes Neto, coordenador do progra-
ma de bullying da ABRAPIA, “não se pode admitir que os 
alunos sofram violências que lhes tragam danos físicos ou 
psicológicos, que testemunhem tais fatos e se calem para 
que não sejam também agredidos e acabem por achá-los 
banais ou, pior ainda, dianteda omissão e tolerâncias dos 
adultos, adotem comportamentos agressivos”.
Infelizmente estamos vivendo uma época em que a 
violência se torna cada vez mais presente em todas as ins-
tituições escolares.
A violência escolar nas últimas décadas adquiriu cres-
cente dimensão em todas as sociedades, o que a torna 
questão preocupante devido à grande incidência de sua 
manifestação em todos os níveis de escolaridade. 
As práticas de violência, discriminação e preconcei-
to, vivenciadas pelos alunos no cotidiano escolar, têm se 
apresentado como um grande desafio para os professores, 
equipe gestora e toda comunidade escolar. Essas práticas, 
muitas vezes, podem causar dificuldades na aprendizagem 
e causar traumas ao longo da vida.
Acredita-se, que a prevenção começa pelo conheci-
mento. É preciso que as escolas reconheçam a existência 
do bullying e, sobretudo, esteja consciente de seus prejuí-
zos para a personalidade e o desenvolvimento socioeduca-
cional dos alunos.
Ainda há um grande número de profissionais da edu-
cação que não sabe distinguir entre condutas de bullying 
ou outros tipos de violência, por não ter um preparo para 
identificar e desenvolver estratégias pedagógicas para en-
frentar os problemas no ambiente escolar.
O despreparo dos professores ocorre porque, tradicio-
nalmente, nos cursos de formação acadêmica e nos cursos 
de capacitação, são treinados com técnicas que unicamen-
te os habilitam para o ensino de suas disciplinas, não sendo 
valorizada e necessidade de lidarem com o afeto e muito 
menos com os conflitos e com os sentimentos dos alunos. 
Os professores deveriam ser preparados para educar 
a emoção dos seus alunos. Porém, muitos professores têm 
dificuldades emocionais para lidar com os problemas de 
maus tratos ou de violência que ocorrem dentro da sala de 
aula, e não tendo capacidade de lidar com esses problemas 
e de oferecer uma reposta eficaz a situação, acabam rea-
gindo com agressividade.
A escola precisa capacitar seus profissionais para a 
observação, para que os mesmos possam identificar, diag-
nosticar e saber intervir nas situações do bullying ou até 
mesmo os encaminhamentos corretos, levando o tema à 
discussão com toda a comunidade escolar e traçar estraté-
gias que sejam capazes de fazer frente ao mesmo.
De acordo com Pedra (2008), além de todo o esforço 
da equipe escolar frente ao bullying, é preciso contar com a 
ajuda de consultores externos, como especialistas no tema, 
psicólogo e assistentes sociais.
Cleo Fante (2005), comenta que, a conscientização e a 
aceitação de que o bullying ocorre com maior ou menor 
incidência, em todas as escolas do mundo, independen-
tes características “culturais, econômicas e sociais dos alu-
nos”, são fatores decisivos para iniciativas no combate à 
violência no contexto escolar. Para desenvolver estratégias 
de intervenção e prevenção ao bullying em uma escola, é 
necessário que a comunidade escolar esteja consciente da 
existência do mesmo, sobretudo, das consequências rela-
cionadas aos envolvidos, a esse tipo de comportamento.
Desta forma, percebe-se que é primordial sensibilizar e 
envolver toda a comunidade escolar na luta pela redução 
do comportamento bullying.
Gabriel Chalita (2008), salienta que algumas atitudes 
simples por parte da direção escolar, podem ajudar a re-
duzir os casos de bullying no ambiente escolar. É necessá-
rio que toda equipe escolar, desde o primeiro dia de aula, 
esclareça sobre o que é bullying, e que não será tolerado 
condutas do mesmo nas dependências da escola. Todos os 
alunos devem se comprometer a não o praticar e a comu-
nicar a direção escolar sempre que presenciarem ou forem 
vítimas da conduta do bullying.
É essencial que os professores promovam debates so-
bre bullying nas salas de aula, fazendo com que o assunto 
seja bastante divulgado e assimilado pelos alunos. Estimu-
lar os estudantes a fazerem pesquisas sobre o tema na es-
cola, para saber o que alunos, professores e funcionários 
pensam sobre o bullying e como acham que se deve lidar 
com esse assunto.
Sempre que ocorrer alguma situação de bullying, pro-
curar lidar com ela diretamente, investigando os fatos, con-
versando com autores e vítimas. É relevante que os profis-
sionais da educação interfiram diretamente nos grupos de 
alunos envolvidos sempre que for necessário para “romper 
a dinâmica” de bullying, orientando os alunos a sentarem 
em lugares previamente indicados, mantendo afastados os 
possíveis autores de suas vítimas.
O mesmo autor comenta que, é relevante que os pro-
fessores incluam na rotina escolar de seus alunos, estraté-
gias que amenizem as causas do bullying. A dramatização 
é uma “ferramenta excepcional’ para fazer crianças e jo-
vens vivenciarem papéis. É essencial discutir sempre as ex-
61
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
periências depois de dramatizadas. O trabalho com filmes 
e letras de músicas também permite uma reflexão crítica e 
significativa, com possibilidade de minimizar as manifesta-
ções de comportamentos agressivos.
De acordo com Pedra (2008), as atividades em salas 
de aula em forma de redação onde os alunos são estimu-
lados a falar no anonimato sobre a sua vida na escola, ou 
seja, seu relacionamento com os colegas ajudará a romper 
o silêncio e possibilitará a expressão de emoções e senti-
mentos.
O mesmo autor comenta que, na educação infantil e 
nos anos iniciais do ensino fundamental é primordial tra-
balhar por meio de histórias ou fábulas que trabalhem o 
preconceito ou qualquer outra forma de exclusão e discri-
minação.
É essencial tanto a participação do professor quanto 
dos alunos. O professor de um lado tem o dever de trans-
mitir o papel ético, problematizar valores e regras morais 
através da afetividade e racionalidade visando ao desen-
volvimento moral e à socialização e os alunos o papel de 
entender e cooperar com as ações do professor. A escola, 
juntamente com os professores tem a função de trabalhar 
conteúdos relacionados aos valores, como o diálogo, o res-
peito, e a solidariedade.
Com o diálogo o professor faz com que os alunos 
agressores reflitam sobre suas atitudes agressivas e as 
consequências que podem gerar nos alunos agredidos. Fa-
zendo-os refletir como deveria ser uma escola onde todos 
sentissem felizes, seguros e respeitados.
Ao trabalhar o respeito, tem como objetivo mostrar 
a diferença entre as pessoas, o respeito pelo ser humano 
independente de sua origem social, etnia, religião, sexo, 
opinião e cultura, bem como nas manifestações culturais, 
étnicas e religiosas. O respeito tem a condição necessária 
para o convívio social democrático.
Por mais que o professor seja presente e trabalhe com 
seus alunos o respeito mútuo, a justiça e a solidariedade, 
em sala de aula, é quase que impossível que não aja confli-
tos entre eles. Portanto, a escola deve estimular o ensino e 
o desenvolvimento de atitudes que valorizem a prática da 
tolerância e da solidariedade entre os alunos. O incentivo 
ao exercício da solidariedade é um fator motivador de mu-
danças, pois estimula a amizade, a cooperação e o compa-
nheirismo no ambiente escolar.
De acordo com Pedra (2008), há casos em que alunos 
praticantes de bullying se convertem em “alunos solidá-
rios”, passando a auxiliar seus colegas dentro e fora da 
sala de aula, em especial aqueles que outrora eram suas 
vítimas. Ou até mesmo as modificações na postura de al-
guns professores, que após reconhecerem as práticas do 
bullying decide mudar suas atitudes.
Como a escola deve denunciar os casos de Bullying?
Entende-se que, inicialmente os casos de bullying devem 
ser resolvidos na escola, por meio de ações pedagógicas.
De acordo com Pedra (2008), quando a escola, não 
consegue solucionar o problema, “deve-se orientar o alu-
no agressor e aplicar a ele a pena prevista peloregimento 
interno escolar, além de alertar seus pais ou responsáveis”.
Dependendo da gravidade do caso, deve-se encami-
nhá-lo diretamente ao Conselho Tutelar. Se houver lesão 
corporal, calúnia, injúria ou difamação, o pai ou respon-
sável dever procurar uma delegacia de polícia para fazer 
boletim de ocorrência.
O autor, comenta que, é necessário sempre ter o cui-
dado para não expor crianças e adolescentes a situações 
constrangedoras no momento da revista pessoal. Se o alu-
no for menor de 12 anos, é preciso convocar um represen-
tante do Conselho Tutelar para dar os encaminhamentos 
legais. Se for maior de 12 anos, a polícia dever ser acionada 
para encaminhar o caso à Justiça.
Referência:
LEANDRO, V. L. D. Bullying no Ambiente Escolar. Dis-
ponível em: http://pedagogiaaopedaletra.com/bullying-
-no-ambiente-escolar/
O PAPEL DA ESCOLA 
O papel da escola / função social da escola
A sociedade tem avançado em vários aspectos, e mais 
do que nunca é imprescindível que a escola acompanhe 
essas evoluções, que ela esteja conectada a essas transfor-
mações, falando a mesma língua, favorecendo o acesso ao 
conhecimento que é o assunto crucial a ser tratado neste 
trabalho.
É importante refletirmos sobre que tipo de trabalho te-
mos desenvolvido em nossas escolas e qual o efeito, que 
resultados temos alcançado. Qual é na verdade a função 
social da escola? A escola está realmente cumprindo ou 
procurando cumprir sua função, como agente de inter-
venção na sociedade? Eis alguns pressupostos a serem ex-
plicitados nesse texto. Para se conquistar o sucesso se faz 
necessário que se entenda ou e que tenha clareza do que 
se quer alcançar, a escola precisa ter objetivos bem defini-
dos, para que possa desempenhar bem o seu papel social, 
onde a maior preocupação – o alvo deve ser o crescimento 
intelectual, emocional, espiritual do aluno, e para que esse 
avanço venha fluir é necessário que o canal (escola) esteja 
desobstruído.
A Escola no Passado
A escola é um lugar que oportuniza, ou deveria possi-
bilitar as pessoas à convivência com seus semelhantes (so-
cialização). As melhores e mais conceituadas escolas per-
tenciam à rede particular, atendendo um grupo elitizado, 
enquanto a grande maioria teria que lutar para conseguir 
uma vaga em escolas públicas com estrutura física e peda-
gógicas deficientes.
O país tem passado por mudanças significativas no que 
se refere ao funcionamento e acesso da população brasileira 
ao ensino público, quando em um passado recente era pri-
vilégio das camadas sociais abastadas (elite) e de preferência 
para os homens, as mulheres mal apareciam na cena social, 
quando muito as únicas que tinham acesso à instrução for-
mal recebiam alguma iniciação em desenho e música.
62
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TEMAS EDUCACIONAIS E PEDAGÓGICOS
Atuação da equipe pedagógica – coordenação
A política de atuação da equipe pedagógica é de suma 
importância para a elevação da qualidade de ensino na es-
cola, existe a necessidade urgente de que os coordenado-
res pedagógicos não restrinjam suas atribuições somente 
à parte técnica, burocrática, elaborar horários de aulas e 
ainda ficarem nos corredores da escola procurando con-
ter a indisciplina dos alunos que saem das salas durante 
as aulas, enquanto os professores ficam necessitados de 
acompanhamento. A equipe de suporte pedagógico tem 
papel determinante no desempenho dos professores, pois 
dependendo de como for a política de trabalho do coor-
denador o professor se sentirá apoiado, incentivado. Esse 
deve ser o trabalho do coordenador: incentivar, reconhe-
cer, e elogiar os avanços e conquistas, em fim o sucesso 
alcançado no dia a dia da escola e consequentemente o 
desenvolvimento do aluno em todos os âmbitos.
Compromisso social do educador
Ao educador compete a promoção de condições que 
favoreçam o aprendizado do aluno, no sentido do mes-
mo compreender o que está sendo ministrado, quando o 
professor adota o método dialético; isso se torna mais fá-
cil, e essa precisa ser a preocupação do mesmo: facilitar a 
aprendizagem do aluno, aguçar seu poder de argumenta-
ção, conduzir ás aulas de modo questionador, onde o alu-
no- sujeito ativo estará também exercendo seu papel de 
sujeito pensante; que dá ótica construtivista constrói seu 
aprendizado, através de hipóteses que vão sendo testadas, 
interagindo com o professor, argumentando, questionan-
do em fim trocando ideias que produzem inferências.
O planejamento é imprescindível para o sucesso cog-
nitivo do aluno e êxito no desenvolvimento do trabalho 
do professor, é como uma bússola que orienta a direção a 
ser seguida, pois quando o professor não planeja o aluno 
é o primeiro a perceber que algo ficou a desejar, por mais 
experiente que seja o docente, e esse é um dos fatores que 
contribuem para a indisciplina e o desinteresse na sala de 
aula. É importante que o planejar aconteça de forma siste-
matizada e contextualizado com o cotidiano do aluno – fa-
tor que desperta seu interesse e participação ativa.
Um planejamento contextualizado com as especifi-
cidades e vivências do educando, o resultado será aulas 
dinâmicas e prazerosas, ao contrário de uma prática em 
que o professor cita somente o número da página e alunos 
abrem seus livros é feito uma explicação superficial e dá-se 
por cumprido a tarefa da aula do dia, não houve conversa, 
dialética, interação.
Ação do gestor escolar
A cultura organizacional do gestor é decisiva para o 
sucesso ou fracasso da qualidade de ensino da escola, a 
maneira como ele conduz o gestionamento das ações é o 
foco que determinará o sucesso ou fracasso da escola. De 
acordo com Libâneo (2005), características organizacionais 
positivas eficazes para o bom funcionamento de uma esco-
la: professores preparados, com clareza de seus objetivos e 
conteúdos, que planejem as aulas, cativem os alunos.
Um bom clima de trabalho, em que a direção contribua 
para conseguir o empenho de todos, em que os professo-
res aceitem aprender com a experiência dos colegas.
Clareza no plano de trabalho do Projeto pedagógico-
-curricular que vá de encontro às reais necessidades da es-
cola, primando por sanar problemas como: falta de profes-
sores, cumprimento de horário e atitudes que assegurem 
a seriedade, o compromisso com o trabalho de ensino e 
aprendizagem, com relação a alunos e funcionários.
Quando o gestor, com seu profissionalismo conquista 
o respeito e admiração da maioria de seus funcionários e 
alunos, há um clima de harmonia que predispõe a reali-
zação de um trabalho, onde, apesar das dificuldades, os 
professores terão prazer em ensinar e alunos prazer em 
aprender.
Função Social da Escola
A escola é uma instituição social com objetivo explícito: 
o desenvolvimento das potencialidades físicas, cognitivas e 
afetivas dos alunos, por meio da aprendizagem dos con-
teúdos (conhecimentos, habilidades, procedimentos, atitu-
des, e valores) que, aliás, deve acontecer de maneira con-
textualiazada desenvolvendo nos discentes a capacidade 
de tornarem-se cidadãos participativos na sociedade em 
que vivem.
Eis o grande desafio da escola, fazer do ambiente es-
colar um meio que favoreça o aprendizado, onde a esco-
la deixe de ser apenas um ponto de encontro e passe a 
ser, além disso, encontro com o saber com descobertas 
de forma prazerosa e funcional, conforme Libâneo (2005) 
devemos inferir, portanto, que a educação de qualidade é 
aquela mediante a qual a escola promove, para todos, o 
domínio dos conhecimentos e o desenvolvimento de capa-
cidades cognitivas e afetivas indispensáveis ao atendimen-
to de necessidades individuais e sociais dos alunos.
A escola deve oferecer situações que favoreçam o 
aprendizado, onde haja sede em aprender e também ra-
zão, entendimento da importância desse aprendizado no 
futuro do aluno. Se ele compreender que, muito

Mais conteúdos dessa disciplina