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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS – UFAL CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS – CECA AGRONOMIA ARTUR DE OLIVEIRA SILVA; GIAN CARLOS RODRIGUES SANTOS; MATIAS DA SILVA NASCIMENTO; IGOR HERBERSON DOS SANTOS NICÁCIO. BIOMAS BRASILEIROS: CERRADO RIO LARGO – AL 2020 2 ARTUR DE OLIVEIRA SILVA; GIAN CARLOS RODRIGUES SANTOS; MATIAS DA SILVA NASCIMENTO; IGOR HERBERSON SANTOS NICÁCIO BIOMAS BRASILEIROS: CERRADO Trabalho requerido pelo Professor Dr. Carlos Frederico Lins e Silva Brandão, na disciplina de Ciências do Ambiente e Manejo Agrário de Recursos Naturais, para obtenção da nota referente a AB2. RIO LARGO – AL 2020 3 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .........................................................................................................4 CARACTERÍSTICAS FISIONÔMICAS DO CERRADO........................................5 FAUNA E FLORA ....................................................................................................8 UNIDADES DE CONSERVAÇÃO ......................................................................... 8 IMPACTOS AMBIENTAIS .....................................................................................10 MEDIDAS DE CONSERVAÇÃO ........................................................................... 11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................14 4 INTRODUÇÃO O Cerrado é o segundo maior bioma da América do Sul, ocupando uma área de 2.036.448 km2, cerca de 22% do território nacional. A sua área contínua incide sobre os estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Piauí, Rondônia, Paraná, São Paulo e Distrito Federal, além dos encraves no Amapá, Roraima e Amazonas. Neste espaço territorial encontram-se as nascentes das três maiores bacias hidrográficas da América do Sul (Amazônica/Tocantins, São Francisco e Prata), o que resulta em um elevado potencial aquífero e favorece a sua biodiversidade. Existe uma grande diversidade de habitats, que determinam uma notável alternância de espécies entre diferentes fitofisionomias. Cerca de 199 espécies de mamíferos são conhecidas, e a rica avifauna compreende cerca de 837 espécies. Os números de peixes (1200 espécies), répteis (180 espécies) e anfíbios (150 espécies) são elevados. O número de peixes endêmicos não é conhecido, porém os valores são bastante altos para anfíbios e répteis: 28% e 17%, respectivamente. De acordo com estimativas recentes, o Cerrado é o refúgio de 13% das borboletas, 35% das abelhas e 23% dos cupins dos trópicos. Além dos aspectos ambientais, o Cerrado tem grande importância social. Muitas populações sobrevivem de seus recursos naturais, incluindo etnias indígenas, quilombolas, geraizeiros, ribeirinhos, babaçueiras, vazanteiros e comunidades quilombolas que, juntas, fazem parte do patrimônio histórico e cultural brasileiro, e detêm um conhecimento tradicional de sua biodiversidade. Mais de 220 espécies têm uso medicinal e mais 416 podem ser usadas na recuperação de solos degradados, como barreiras contra o vento, proteção contra a erosão, ou para criar habitat de predadores naturais de pragas. Contudo, inúmeras espécies de plantas e animais correm risco de extinção. Estima-se que 20% das espécies nativas e endêmicas já não ocorram em áreas protegidas e que pelo menos 137 espécies de animais que ocorrem no Cerrado estão ameaçadas de extinção. Depois da Mata Atlântica, o Cerrado é o bioma brasileiro que mais sofreu alterações com a ocupação humana. Com a crescente pressão para a abertura de novas áreas, visando incrementar a produção de carne e grãos para exportação, tem havido um progressivo esgotamento dos recursos naturais da região. Nas três últimas décadas, o Cerrado vem sendo degradado pela expansão da fronteira agrícola brasileira. Além disso, o bioma Cerrado é palco de uma exploração extremamente predatória de seu material lenhoso para produção de carvão. Apesar do reconhecimento de sua importância biológica, de todos os hotspots mundiais, o Cerrado é o que possui a menor porcentagem de áreas sobre proteção integral. O Bioma apresenta 8,21% de seu território legalmente protegido por unidades de conservação; desse total, 2,85% são unidades de 5 conservação de proteção integral e 5,36% de unidades de conservação de uso sustentável, incluindo RPPNs (0,07%). CARACTERÍSTICAS FISIONÔMICAS DO CERRADO De modo geral, podemos distinguir dois estratos na vegetação dos cerrados: A - Estrato lenhoso: Árvores com troncos tortuosos, súber espesso, com longas raízes subterrâneas atingindo 10 , 15 ou mais metros de profundidade. Extrato Herbáceo/Arbustivo: Formado por espécies perenes com órgãos subterrâneos de resistência, como bulbos, xilopódios (estruturas subterrâneas com reserva de água e que contêm gemas) e sóboles (gemas caulinares subterrâneas) que lhe garantem sobreviver à seca e ao fogo. Suas raízes são geralmente superficiais, indo até pouco mais de 30 cm. Os ramos aéreos são anuais, secando e morrendo durante a estação seca. São responsáveis pela formação de 4, 5, 6 ou mais toneladas de palha por ha/ano, um combustível que facilmente se inflama favorecendo assim a ocorrência e propagação das queimadas no cerrado. Fitofisionomia do Cerrado Bastante diversificada, apresentando desde formas campestres abertas como os campos limpos de cerrado, até formas relativamente densas, florestais como o cerradão. Tipos de Cerrado: campo limpo; campo sujo; campo cerrado; cerrado típico (sensu strictu); cerradão. Outras formações que ocorrem no cerrado são as matas ciliares e de galeria, veredas e campos rupestres. Estas fisionomias se distribuem de acordo com: Tipo de solo (mais pobres ou menos pobres); Irregularidade dos regimes e características das queimadas de cada local (freqüência, época, intensidade);·Umidade; Ação do homem. Campo Limpo Fitofisionomia herbácea que apresenta arbustos esparsos e ausência de árvores. Pode ocorrer em diferentes tipos de solo e condições de topografia. É mais comum nas encostas, nas chapadas, nos olhos d’água ou nascentes, circundando veredas ou nas bordas de matas de galeria. Apresenta-se como campo limpo seco, campo limpo úmido ou campo limpo com murundus. O campo limpo úmido, sem indivíduos arbustivos ou arbóreos, é encontrado sobre solos jovens, pouco profundos de permeabilidade muito baixa e, muitas vezes, cascalhentos, e em solos profundos, muito porosos, 6 macios, friáveis e muito permeáveis; podem ter muita areia ou argila e encontram-se estacionalmente saturados. Campo Sujo Fitofisionomia exclusivamente herbáceo-arbustiva, com arbustos e sub-arbustos esparsos.Os solos onde ocorrem são rasos ou profundos, porém com baixa fertilidade.As plantas que ocorrem no campo sujo podem ser as mesmas que as de cerrado típico, no entanto, aqui apresentam-se menos desenvolvidas.Há três sub-tipos de campo sujo: úmido, quando o lençol freático é superficial; seco, quando o lençol é profundo e com murundus, quando há pequenas elevações de relevo. Campo Cerrado Vegetação campestre, com predomínio de gramíneas, pequenas árvores e arbustos bastante esparsos entre si. Pode tratar-se de transição entre campo e demais tipo de vegetação ou às vezes resulta da degradação do cerrado. Esse tipo de formação se ressente com a estação seca, e acaba sendo alvo de incêndios anuais, até mesmo espontâneos. Cerrado Típico ou Cerrado Sensu Stricto Formatação vegetal constituída por dois estratos: superior, com arbustos e árvores que raramente ultrapassam 6 metrosde altura, recobertos por cascas espessas, com folhas coriáceas e apresentando caules tortuosos; inferior, com vegetação rasteira (herbácea arbustiva). Abrigam grande variedade de espécies da fauna brasileira, inclusive algumas ameaçadas de extinção como: lobo-guará, tamanduá- bandeira, tatu-canastra, inhambucarapé, entre outras. Cerradão Formação vegetal constituída de três estratos: superior, com árvores de altura entre 8 e 15 metros (cobertura arbórea entre 50 e 90%.);intermediário, com árvores e arbustos de troncos e galhos retorcidos, inferior arbustiva. São típicos do cerradão: lixeira, pequi, pauterra, pau-santo, copaíba, angico, capotão, faveiro e aroeira. Os solos onde ocorrem os cerradões têm fertilidade média ou baixa, sendo profundos e bem drenados. Mata Ciliar Vegetação que cresce ao longo dos cursos d'água e linhas de drenagem. A mata ciliar é uma formação vegetal que está associada aos cursos d'água, cuja ocorrência é favorecida pelas condições físicas locais, principalmente relacionadas a maior umidade do solo. 7 Matas de Galeria Vegetação de grande porte que ocorre ao longo de pequenos e córregos no Planalto Central, formando "galerias". As espécies que compõem as matas de galeria são perenes, não apresentando perda de folhas durante a seca. É a formação de cerrado que costuma apresentar maior ocorrência de espécies epífitas, como orquídeas. Geralmente, as matas de galeria são circundadas por faixas de vegetação não florestal, havendo uma transição abrupta para campos ou formações savânicas. Altura média metros, sobreposição de copas promove uma cobertura vegetal de 70 a 95%.As matas de galeria podem ser formadas por dois sub-tipos, de acordo com as características do relevo, altura do lençol freático e espécies vegetais presentes: as matas de galeria inundáveis e as nãoinundáveis. Veredas Veredas são áreas onde o solo está alagado durante a maior parte do ano.O buritizeiro (Mauritia vinifera) e certas gramíneas são as espécies principais na vereda.Em áreas onde o solo é mais fértil ou mais úmido, embora não excessivamente, o cerrado dá lugar a matas ciliares ou florestas.As veredas são sempre encontradas em solos hidromórficos (brejos), em geral saturadas de água durante a maior parte do ano.As veredas são circundadas por campo limpo e ocorrem em planícies, em locais de afloramento do lençol freático, próximas a nascentes ou na borda das matas de galeria. Campos rupestres Formação herbáceo-arbustiva que ocorre em regiões com afloramentos rochosos, a altitudes acima de 900 metros. São solos ácidos e pobres em nutrientes, que abrigam uma flora extremamente peculiar, que apresenta altos índices de endemismo (espécies exclusivas, que ocorrem apenas neste tipo de formação).As plantas concentram-se em locais específicos, como fendas entre a rocha ou pontos de maior umidade do solo, mas há também espécies que crescem diretamente sobre as rochas, como algumas orquídeas. Fauna e flora O Cerrado detém 5% da biodiversidade do planeta, sendo considerado a savana mais rica do mundo, porém um dos biomas mais ameaçados do País. Compreende um mosaico de vários tipos de vegetação, desde fisionomias campestres, savânicas e até florestais, como as matas secas e as matas de galeria. Ribeiro & Walter (2008) descreveram 11 tipos fitofisionômicos entre as formações florestais, savânicas e campestres do bioma. Alguns trabalhos citam fatores ambientais que podem influenciar na distribuição fitofisionômica e florística do Cerrado, compreendendo regime de fogo, clima, tipo de solo (fertilidade e drenagem), relevo, herbivoria, flutuações climáticas do Quaternário e distúrbios antrópicos (Eiten 1993, Miranda et al. 2002, Oliveira-Filho & Ratter 2002). 8 A alta diversidade de ambientes se reflete em uma elevada riqueza de espécies, com plantas herbáceas, arbustivas, arbóreas e cipós, totalizando 12.356 espécies que ocorrem espontaneamente e uma flora vascular nativa (pteridófitas e fanerógamas) somando 11.627 espécies (Mendonça et al. 2008), sendo aproximadamente 44% da flora endêmica (Klink & Machado 2005), tornando-o a savana tropical mais rica do mundo. Do mesmo modo, a diversidade da fauna é elevada. Existem cerca de 320.000 espécies de animais na região, sendo apenas 0,6% formada por vertebrados. Entre esses, os insetos têm posição de destaque com cerca de 90.000 espécies, representando 28% de toda a biota do Cerrado (Aguiar et al. 2004). UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DO CERRADO: APA da Serra da Tabatinga: Nome da unidade: Área de Proteção Ambiental da Serra de Tabatinga Diploma legal de criação: Decreto nº 99.278 de 06 de junho de 1990 / Decreto s/n de 16 de julho de 2002 Área: 41.779,61 hectares Coordenação regional: CR5 – Parnaíba/PI APA da Carste de Lagoa Santa Nome da unidade: Área de Proteção Ambiental Carste de Lagoa Santa Área: 37.735,58 hectares Diploma legal de criação: Decreto nº 98.881 de 25 de janeiro de 1990 / Decreto 1.876 de 25 de abril de 1996 Coordenação regional: CR11 - Lagoa Santa/MG Lista de espécies ameaçadas protegidas nesta unidade de conservação: Rato-do-mato - Kunsia fronto Gato-maracajá - Leopardus pardalis mitis Rato-da-árvore - Phyllomys brasiliensis APA Cavernas de Peruaçu Nome da unidade: Área de Proteção Ambiental Cavernas do Peruaçu Área: 143.355,59 hectares Diploma legal de criação: Decreto nº 98.182 de 26 de setembro de 1989 Coordenação regional: CR11 - Lagoa Santa/MG Lista de Espécies Ameaçadas protegidas nesta Unidade de Conservação: Lobo-guará - Chrysocyon brachyurus; Gato-maracajá - Leopardus pardalis mitis; Onça-pintada -Panthera onca. APA da Bacia do Rio Descoberto Nome da unidade: Área de Proteção Ambiental da Bacia do Rio Descoberto 9 Área: 41.783,61 hectares Diploma legal de criação: Dec nº 88.940 de 7 de novembro de 1983 Coordenação regional: CR10 - Goiânia/GO APA da Bacia do Rio São Bartolomeu Nome da unidade: Àrea de Proteção Ambiental da Bacia do Rio São Bartolomeu Área: 82.680,80 hectares Diploma legal de criação: Decreto nº 88.940 de 7 de novembro de 1983 Coordenação regional: CR10 - Goiânia/GO APA das Nascentes do Rio Vermelho Nome da unidade: Área de Proteção Ambiental das Nascentes do Rio Vermelho Área: 176.324,33 hectares Diploma legal de criação: Decreto s/n de 27 de setembro de 2001 Coordenação regional: CR10 – Goiânia/GO APA do Planalto Central Nome da unidade: Área de Proteção Ambiental do Planalto Central Área: 503.423,36 hectares Diploma legal de criação: Dec s/n.º de 10 de janeiro de 2002 Coordenação regional: CR10 - Goiânia/GO APA dos Meandros do Rio Araguaia Nome da unidade: Área de Proteção Ambiental dos Meandros do Rio Araguaia Área: 359.194,09 hectares Diploma legal de criação: Decreto 02 de Outubro de 1998 Coordenação regional: CR10 – Goiânia/GO APA Morro da Pedreira Nome da unidade: Área de Proteção Ambiental Morro da Pedreira Área: 131.770,84 hectares Diploma legal de criação: Decreto nº 98.891, de 26 de janeiro de 1990 Coordenação regional: CR11 - Lagoa Santa/MG Lista de Espécies Ameaçadas protegidas nesta Unidade de Conservação: Lobo-guará - Chrysocyon brachyurus; Gato-maracajá - Leopardus pardalis mitis; Arie capetinga\Taquara Nome da Unidade: área de relevante interesse ecológico capetinga/taquara Área: 2.057,20 hectares Diploma legal de criação: dec nº 91.303 de 03 de junho de 1985 Coordenação regional: cr10 - goiânia/go IMPACTOS AMBIENTAIS NO CERRADO: A degradação do solo e dos ecossistemas nativos e a dispersão de espécies exóticas são as maiores e mais amplas ameaças à biodiversidade. A partir de um manejo deficiente do solo, a erosão pode ser alta: em plantios convencionais de soja, a perda da camada superficial do solo é, em média, de 25ton/ha/ano, embora práticasde conservação, como o plantio direto, possam reduzir a erosão a 10 3ton/ha/ano (Rodrigues, 2002). Aproximadamente 45.000km2 do Cerrado correspondem a áreas abandonadas, onde a erosão pode ser tão elevada quanto a perda de 130ton/ha/ano (Goedert, 1990). Práticas agrícolas no Cerrado incluem o uso extensivo de fertilizantes e calcário (Müller, 2003), os quais poluem córregos e rios. Além disto, o amplo uso de gramíneas africanas para a formação de pastagens é prejudicial à biodiversidade, aos ciclos de queimadas e à capacidade produtiva dos ecossistemas (Berardi, 1994; Barcellos, 1996; Pivello et al., 1999; Klink & Moreira, 2002). Para a formação das pastagens, os cerrados são inicialmente limpos e queimados e, então, semeados com gramíneas africanas, como Andropogon gayanus Kunth., Brachiaria brizantha (Hochst. ex. A. Rich) Stapf, B. decumbens Stapf, Hyparrhenia rufa (Nees) Stapf e Melinis minutiflora Beauv. (molassa ou capim-gordura) (Barcellos, 1996). Metade das pastagens plantadas (cerca de 250.000km2 - uma área equivalente ao estado de São Paulo) está degradada e sustenta poucas cabeças de gado em virtude da reduzida cobertura de plantas, invasão de espécies não palatáveis e cupinzeiros (Barcellos, 1996; Costa & Rehman, 2005). As gramíneas africanas invasoras são os maiores agentes de mudanças no Cerrado. Uma das variedades mais utilizadas é o capim-gordura, altamente impactante para a biodiversidade e para o funcionamento dos ecossistemas (Mack et al., 2000). Embora a substituição pelas gramíneas africanas ocorra em função de sua maior produtividade, tais espécies são amplamente dispersas em áreas perturbadas, faixas laterais de estradas, plantações abandonadas e reservas naturais no Cerrado (Berardi, 1994; Pivello et al., 1999). Essas gramíneas podem alcançar biomassas extremamente elevadas e, quando secas, são altamente inflamáveis, iniciando uma interação gramíneas-fogo capaz de impedir o brotamento da vegetação nativa (Berardi, 1994). Nas áreas onde o capimgordura se torna abundante, a flora local é consideravelmente depauperada. Incêndios de áreas dominadas pelo capim- gordura são mais quentes, mais prolongados e possuem chamas altas que podem alcançar o dossel das árvores. Essas condições alteram a sucessão na superfície do solo e são mais danosas para a fauna do solo e espécies fossoriais do que queimadas típicas da vegetação do Cerrado. O fogo é geralmente usado para limpar terrenos. Tansey e colaboradores (2004) estimaram que 67% da área queimada no Brasil em 2000 estavam no Cerrado. Queimadas freqüentes afetam negativamente o estabelecimento de árvores e arbustos (Hoffmann & Moreira, 2002), além de liberar para a atmosfera dióxido de carbono (CO2 ) e outros gases causadores do efeito estufa (Krug et al., 2002). Simulações que modelaram a conversão do Cerrado natural em pastagem plantadas mostraram que a precipitação pode ser reduzida em pelo menos 10%, os veranicos podem se tornar mais freqüentes e a temperatura média do ar superficial pode aumentar (Hoffmann & Jackson, 2000), com grandes implicações para a agricultura. Estudos de campo demonstraram que a habilidade das árvores e arbustos do Cerrado em tamponar, durante a estação seca, a água armazenada no solo pode ser crítica para a manutenção do ciclo hídrico (Oliveira et al., no prelo). Alguns cenários de mudanças 11 climáticas predizem diminuições na distribuição de muitas espécies arbóreas do Cerrado em mais de 50% (Siqueira & Peterson, 2003). Em 1998, 49% da bacia do rio Tocantins tinha sido convertida em áreas de plantio e pastagens, aumentando a descarga do rio em 24% (Costa et al., 2003). Desmatamentos amplos e ilegais das matas de galeria reduzem os suprimentos de água doce para áreas urbanas (Müller, 2003). A maior parte da biomassa do Cerrado está no subsolo – até 70%, dependendo da vegetação dominante (Castro & Kauffmann, 1998). Ao considerar as extensas alterações na paisagem é igualmente esperado que tenham ocorrido alterações no estoque regional de carbono. Pastos plantados podem acumular carbono se forem bem manejados (Davidson et al., 1995; Silva et al., 2004), mas considerando a grande extensão das pastagens degradadas, é possível que esse ambiente já não sirva mais como seqüestrador de carbono atmosférico (Silva et al., 2004). Os fluxos de CO2 dos pastos plantados para a atmosfera são mais rápidos e sazonalmente mais variáveis do que aqueles do Cerrado nativo (Varella et al., 2004). MEDIDAS DE CONSERVAÇÃO: Programa Cerrado Sustentável Em setembro de 2003, o Ministério do Meio Ambiente instituiu o Grupo de Trabalho do Bioma Cerrado (GT Cerrado), a fim de elaborar uma proposta de programa destinado à conservação e ao uso sustentável do bioma. Após um ano de funcionamento e a realização de diversas consultas públicas, o GT apresentou a proposta do Programa Nacional de Conservação e Uso Sustentável do Bioma Cerrado – Programa Cerrado Sustentável. Este foi formalmente instituído por meio do Decreto 5.577, de 8 de novembro de 2005, com o objetivo de promover a conservação, a recuperação e o manejo sustentável de ecossistemas naturais, bem como a valorização e o reconhecimento de suas populações locais, buscando condições para reverter os impactos sócio-ambientais negativos no bioma Cerrado. Iniciativa Cerrado Sustentável A Iniciativa Cerrado Sustentável é um dos instrumentos do Ministério do Meio Ambiente para a implementação de parte dos objetivos e das diretrizes preconizados pelo Programa Cerrado Sustentável. 12 O objetivo da Iniciativa é promover o aumento da conservação da biodiversidade e melhorar o manejo dos recursos ambientais e naturais do bioma Cerrado, por meio do apoio a políticas e práticas apropriadas. É desenvolvido com recursos do Global Environment Facility (GEF) e do governo brasileiro, como contrapartida. A Iniciativa Cerrado Sustentável possui quatro componentes (criação e implementação de unidades de conservação, apoio a iniciativas de uso sustentável, formulação de políticas e monitoramento ambiental), cujos principais resultados são: • a conservação da biodiversidade do Cerrado, com 2 milhões de hectares adicionais protegidos no bioma por meio da criação/expansão de unidades de conservação; • o uso sustentável dos recursos naturais do Cerrado, com 12 iniciativas de conhecimento tradicional e melhores práticas de manejo sustentável dos recursos naturais documentadas e disseminadas e 400 produtores treinados na aplicação destas práticas; • o fortalecimento institucional e a formulação de novas políticas públicas; a coordenação da Iniciativa e o monitoramento do bioma. A Iniciativa Cerrado Sustentável é coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente. A agência implementadora do GEF é o Banco Mundial. PPCERRADO Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado O Projeto de Monitoramento do Desmatamento nos Biomas Brasileiros por Satélite – fruto de cooperação técnica entre o Ministério do Meio Ambiente, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) – revelou que, até 2008, o bioma Cerrado já havia perdido 47,84% dos 204 milhões de hectares de sua cobertura vegetal original. O desmatamento no Cerrado ocorre de modo intenso em função da agricultura, da pecuária e da demanda por carvão vegetal para a indústria siderúrgica. Para fazer frente a esse problema, em 2009 13 o MMA lançou a versão para consulta pública do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado (PPCerrado) contendo iniciativas próprias ou de suas instituiçõesvinculadas Ibama, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Agência Nacional de Águas (ANA) e Serviço Florestal Brasileiro (SFB). Durante a 15ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima, realizada em dezembro de 2009 na capital dinamarquesa, o governo brasileiro apresentou os compromissos nacionais voluntários de redução das emissões de gases de efeito estufa projetadas até 2020. No que se refere ao desmatamento no bioma, foi atribuída ao PPCerrado a tarefa de tratar das ações do governo que levarão à redução das emissões de gases de efeito estufa em pelo menos 40% até 2020. Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) Áreas Protegidas De acordo com o Cadastro Nacional de Unidades de Conservação (CNUC 2011), 8,1% do bioma Cerrado encontra-se protegido por Unidades de Conservação. Destas, 3,1% são de Proteção Integral e 5% de Uso Sustentável, principalmente Áreas de Proteção Ambiental - APA's - (4,9%). As Terras Indígenas correspondem a 4,4% da área do Bioma. Vale lembrar que no Cerrado a área de Reserva Legal corresponde a 20%, e 35% em áreas de Cerrado na Amazônia Legal. 14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: Berardi, A. 1994. Effects of the African grass Melinis minutiflora on plant community composition and fire characteristics of a central Brazilian savanna. Tese de Mestrado. University College London, Londres. Barcellos, A.O. 1996. Sistemas extensivos e semi-intensivos de produção: pecuária bovina de corte nos cerrados. In: R.C. Pereira & L.C.B. Nasser (eds.). Biodiversidade e produção sustentável de alimentos e fibras nos Cerrados. VIII Simpósio sobre o Cerrado. pp. 130-136. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Cerrados), Planaltina, Brasil. CARLOS A. KLINK; RICARDO B. MACHADO. A conservação do Cerrado brasileiro. Volume 1. Brasília, DF. MEGADIVERSIDADE. Julho 2005. Castro, E.A. & J.B. Kauffman. 1998. Ecosystem structure in the Brazilian cerrado: a vegetation gradient of aboveground biomass, root mass and consumption by fire. Journal of Tropical Ecology 14: 263–284. Davidson, E.A., D.C. Nepstad, C.A. Klink & S.E. Trumbore. 1995. Pasture soils as carbon sink. Nature 376: 472-473. Goedert, W. 1990. Estratégias de manejo das savanas. In: G. Sarmiento (ed.). Las sabanas americanas: aspectos de su biogeografia, ecologia y utilización. pp. 191-218. Acta Científica Venezolana. Hoffmann, W.A. & R.B. Jackson. 2000. Vegetation-climate feedbacks in the conversion of tropical savanna to grassland. Journal of Climate 13: 1593-1602. Krug, T., H. Figueiredo, E. Sano, C. Almeida, J. Santos, H.S. Miranda, N. Sato & S. Andrade. 2002. Emissões de gases de efeito estufa da queima de biomassa no Cerrado nãoantrópico utilizando dados orbitais. Primeiro inventário brasileiro de emissões antrópicas de gases de efeito estufa. Marinho-Filho, J., F.H.G. Rodrigues & K.M. Juarez. 2002. The Cerrado mammals: diversity, ecology, and natural history. In: P.S. Oliveira & R.J. Marquis (eds.). The Cerrados of Brazil: Ecology and natural history of a neotropical savanna. pp. 266-284. Columbia University Press, New York. 15 Mack, R.N., D. Simberloff, W.M. Lonsdale, H. Evans., M. Clout & F.A. Bazzaz. 2000. Biotic invasions: causes, epidemiology, global consequences, and control. Ecological Applications 10: 689- 710. Müller, C. 2003. Expansion and modernization of agriculture in the Cerrado – the case of soybeans in Brazil’s center-West. Department of Economics Working Paper 306, Universidade de Brasília, Brasília. Oliveira, R.S., L. Bezerra, F. Pinto, C.A. Klink, D.C. Nepstad, E.A. Davidson & A.G. Moreira. No prelo. Deep root function in soil water dynamics in Cerrado savannas of central Brazil. Fuctional Ecology. Costa, M.H., A. Botta & J. Cardille. 2003. Effects of large-scale changes in land cover on the discharge of the Tocantins River, southeastern Amazonia. Journal of Hydrology 283: 206-217. Silva, J., D. Resck, E. Corazza & L. Vivaldi. 2004. Carbon storage in clayey oxisol cultivated pastures in Cerrado region, Brazil. Agriculture, Ecosystem and Environment 103: 357-363. Varella, R.F., M. Bustamante, A. Pinto, K. Kisselle, R. Santos, R. Burke, R. Zepp & L. Viana. 2004. Soil fluxes of CO2 , CO, NO, and N2 O from an old pasture and from native savanna in Brazil. Ecological Applications 14(supplement): S221-S231. O Bioma Cerrado. Ministério do meio ambiente. Disponível: https://www.mma.gov.br/biomas/cerrado. Acessado: 20\01\2020. Unidades de conservação – Cerrado. ICMbio (Instituto Chico Mendes). Disponível: http://www.icmbio.gov.br/portal/unidadesdeconservacao/biomasbrasileiros/cerrado/unidades-de- conservacao-cerrado. Acessado: 20\01\2020. Conservação sustentável. Ministério do meio ambiente. disponível: https://www.mma.gov.br/biomas/cerrado/conservacao-e-uso-sustentavel. Acessado: 20\01\2020. https://www.mma.gov.br/biomas/cerrado https://www.mma.gov.br/biomas/cerrado http://www.icmbio.gov.br/portal/unidadesdeconservacao/biomas-brasileiros/cerrado/unidades-de-conservacao-cerrado http://www.icmbio.gov.br/portal/unidadesdeconservacao/biomas-brasileiros/cerrado/unidades-de-conservacao-cerrado http://www.icmbio.gov.br/portal/unidadesdeconservacao/biomas-brasileiros/cerrado/unidades-de-conservacao-cerrado http://www.icmbio.gov.br/portal/unidadesdeconservacao/biomas-brasileiros/cerrado/unidades-de-conservacao-cerrado http://www.icmbio.gov.br/portal/unidadesdeconservacao/biomas-brasileiros/cerrado/unidades-de-conservacao-cerrado http://www.icmbio.gov.br/portal/unidadesdeconservacao/biomas-brasileiros/cerrado/unidades-de-conservacao-cerrado http://www.icmbio.gov.br/portal/unidadesdeconservacao/biomas-brasileiros/cerrado/unidades-de-conservacao-cerrado http://www.icmbio.gov.br/portal/unidadesdeconservacao/biomas-brasileiros/cerrado/unidades-de-conservacao-cerrado http://www.icmbio.gov.br/portal/unidadesdeconservacao/biomas-brasileiros/cerrado/unidades-de-conservacao-cerrado http://www.icmbio.gov.br/portal/unidadesdeconservacao/biomas-brasileiros/cerrado/unidades-de-conservacao-cerrado https://www.mma.gov.br/biomas/cerrado/conservacao-e-uso-sustentavel https://www.mma.gov.br/biomas/cerrado/conservacao-e-uso-sustentavel https://www.mma.gov.br/biomas/cerrado/conservacao-e-uso-sustentavel https://www.mma.gov.br/biomas/cerrado/conservacao-e-uso-sustentavel https://www.mma.gov.br/biomas/cerrado/conservacao-e-uso-sustentavel https://www.mma.gov.br/biomas/cerrado/conservacao-e-uso-sustentavel https://www.mma.gov.br/biomas/cerrado/conservacao-e-uso-sustentavel https://www.mma.gov.br/biomas/cerrado/conservacao-e-uso-sustentavel
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