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ÉTICA (TÉC. BANCÁRIO) 15-2-2012 APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos Ética A Opção Certa Para a Sua Realização 1 1. CONCEITO DE ÉTICA O Conceito de Ética O que ética? O que é moral? O que ela estuda? Estas são perguntas rotineiras, feita por muitos, e de suma importância para as relações huma- nas. Todo dia ouvimos falar de ética e falta de ética, mas o que isso significa afinal? A ética faz parte de uma das três grandes áreas da filosofia, mais es- pecificamente , é o estudo da ação – práxis. Ao lado do estudo sobre o “conhecimento” – como a ciência, ou a lógica – e do estudo sobre o “valor” – seja ele artístico, moral, ou científico – o estudo sobre a ação engloba a totalidade do saber e da cultura humana. Está presente no nosso cotidia- no o tempo todo, seja nas decisões familiares, políticas, ou no trabalho por exemplo. A palavra ética tem origem no termo grego ethos, que significava “bom costume”, “costume superior”, ou “portador de caráter”. Impulsionado pelo crescimento da filosofia fora da antiga Grécia o conceito de ethos se proliferou pelas diversas civilizações que mantiveram contato com sua cultura. A contribuição mais relevante se deu com os filósofos latinos. Em Roma o termo grego foi traduzido como “mor-morus” que também signifi- cava “costume mor” ou “costume superior”. É dessa tradução latina que surge a palavra “moral” em português. No decorrer da história do pensamento a ética se tornou cada vez mais um assunto rico, complexo e abrangente. Com a expansão da filoso- fia, e em especial o pensamento sobre a ação, foi preciso distinguir os termos ética e moral. No século XX o filósofo espanhol Adolfo Sánches Vásquez cria uma famosa diferenciação entre os dois conceitos. Para ele o termo moral se refere a uma reflexão que a pessoa faz de sua própria ação. Já o termo ética abrange o estudo dos discursos morais, bem como os critérios de escolha para valorar e padronizar as condutas numa famí- lia, empresa ou sociedade. Definir o que é um agir ético, moral, correto ou virtuoso é se inscrever numa disputa social pela definição legítima da boa conduta. Da conduta verdadeira e necessária. Avaliar a melhor maneira de agir pode ser visto de pontos de vista totalmente diversos. Marxistas, liberais, mulçumanos, psicanalistas, jornalistas e políticos agem e valoram as ações de maneira diferente. Porém todos eles lutam pela definição mais legitima de uma “boa ação” ou da “ação correta”. Sem pretensões de impor uma definição legítima sobre a conduta mo- ral, nós, do Espaço Ética, deixaremos os filósofos falarem por eles mes- mos. Elencamos o que cada um dos principais pensadores têm a dizer sobre o assunto. Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) “Ética a Nicomacos” A excelência moral se relaciona com as emoções e ações, e somente as emoções e ações voluntárias são louvadas e censuradas, enquanto as involuntárias são perdoadas, e às vezes inspiram piedade; logo, a distin- ção entre o voluntário e o involuntário parece necessária aos estudiosos da natureza da excelência moral, e será útil também aos legisladores com vistas à atribuição de honrarias e à aplicação de punições. (…) Mas há algumas dúvidas quanto ás ações praticadas em conseqüên- cia do medo de males maiores com vistas a algum objetivo eleva- do[1097b] (por exemplo, um tirano que tendo em seu poder os pais e filhos de uma pessoa, desse uma ordem ignóbil a esta, tendo em vista que o não cumprimento acarretasse na morte dos reféns); é discutível se tais ações são involuntárias ou voluntárias. (…) Tais ações, então, são mistas mas se assemelham mais as voluntárias, pois são objeto de escolha no momento de serem praticadas, e a finalidade de uma ação varia de acor- do com a oportunidade, de tal forma que as palavras “voluntário” e “invo- luntário” devem ser usadas com referência ao momento da ação; com efeito, nos atos em questão as pessoas agem voluntariamente, portanto são voluntárias, embora talvez sejam involuntárias de maneira geral, pois ninguém escolheria qualquer destes atos por si mesmos. Immanuel Kant (1724-1804) “Fundamentação da Metafísica dos Costumes” Neste mundo, e se houver um fora dele, nada é possível pensar eu que possa ser considerado como bom sem limitação, a não ser uma só coisa: uma boa vontade. Discernimento, argúcia de espírito, capacidade de julgar, e como quer que possam chamar-se os demais talentos do espírito, ou ainda coragem, decisão constância de propósito, como quali- dades do temperamento, são sem dúvida, a muitos respeitos, coisas boas e desejáveis; mas também podem tornar-se extremamente más e prejudi- ciais se a vontade, que haja de fazer uso destes dons naturais, constituin- tes do caráter, não for boa. (…) Na constituição natural de um ser organizado para a vida, admitimos, por princípio, que nele não haja nenhum órgão destinado à realização de um fim que não seja o mais adequado e adaptado a este fim. Ora, se num ser dotado de razão e de vontade a natureza tivesse por finalidade última sua conservação, seu bem-estar ou, em uma palavra, sua felicidade, ela teria se equivocado ao escolher a razão para alcançá-la. Isto porque, todas as ações que este ser deverá realizar nesse sentido, bem como a regra completa de sua conduta, ser-lhe-iam indicadas com muito maior precisão pelo instinto. (…) Uma vez que despojei a vontade de todos os estímulos que lhe pode- riam advir da obediência a qualquer lei, nada mais resta do que a confor- midade a uma lei universal das ações em geral que possam servir de único princípio à vontade, isto é: devo proceder sempre da mesma manei- ra que eu possa querer também que a minha máxima se torne uma lei universal. Aqui é pois a simples conformidade a lei em geral, o que serve de princípio à vontade, o também o que tem de lhe servir de princípio, para que o dever não seja por toda parte uma vã ilusão e um conceito quimérico.; e com isto está perfeitamente de acordo com a comum ação humana nos seus juízos práticos e também sempre diante dos olhos este princípio. Jeremy Bentham (1748 – 1832) “Uma Introdução aos Princípios da Moral” Pode-se dizer que uma pessoa é partidária de uma ética utilitarista quando afirma que a aprovação ou desaprovação de alguma conduta foi determinada pela tendência de tal conduta a aumentar ou diminuir a felicidade da comunidade e a sua própria. Augusto Comte (1798-1875) “Catecismo Positivista” Sacerdote: – É verdade que o positivismo não reconhece a ninguém outro direito senão o de sempre cumprir seu dever. Em termos mais corretos, nossa religião (positivista) impõe a todos a obrigação de ajudar cada um a preencher sua própria função. A noção de direito deve desapa- recer do campo político, como a noção de causa do campo filosófico. Porque ambas se reportam a vontades indiscutíveis. Assim, quaisquer direitos supõem necessariamente uma fonte sobrenatural, única que pode subtraí-los á discussão humana. (…) O positivismo não admite nunca senão deveres de todos em relação a todos. Porque seu ponto de vista sempre social não pode comportar nenhuma noção de direito, constante- mente fundada na individualidade. Em que fundamento humano deveria, pois, se assentar a idéia de direito, que suporia racionalmente uma eficá- cia prévia? Quaisquer que sejam nossos esforços, a mais longa vida bem empregada não nos permitirá nunca devolver senão uma porção imper- ceptível do que recebemos. Não seria senão, contudo, só depois de uma restituição completa que estaríamos dignamente autorizados a reclamar a reciprocidade de novos serviços. Todo direito humano é, pois, tão absurdo quanto imoral. Posto que não há mais direitos divinos,esta noção deve se apagar completamente, como puramente relativa ao regime preliminar, e diretamente incompatível com o estado final, que só admite deveres segundo as funções. Simone de Beauvoir (1909 – 1986) “Moral da Ambigüidade” ÉTICA (TÉC. BANCÁRIO) 15-2-2012 APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos Ética A Opção Certa Para a Sua Realização 2 Existir é fazer-se carência de ser, é lançar-se no mundo: pode-se considerar como sub-humano os que se ocupam em paralisar esse movi- mento original; eles têm olhos e ouvidos, mas fazem-se desde a infância cegos e surdos, sem desejo. Essa apatia demonstra um medo fundamen- tal diante da existência, diante dos riscos e da tensão que ela implica; o sub-homem recusa essa paixão que é a sua condição de homem, o dilaceramento e o fracasso deste impulso em direção do ser que nunca alcança seu fim; mas com isso, é a existência mesma que ele recusa. (…) A má-fé do homem sério provém de que ele é obrigado, sem cessar, a renovar a renegação dessa liberdade. Ele escolhe viver num mundo infantil, mas à criança, os valores são realmente dados. O homem sério deve mascarar esse movimento através do qual se dá os valores, tal como a mitômana, que lendo uma carta de amor, finge esquecer que essa lhe foi enviada por si mesma. http://www.meucci.com.br/?page_id=98 ÉTICA A finalidade dos códigos morais é reger a conduta dos membros de uma comunidade, de acordo com princípios de conveniência geral, para garantir a integridade do grupo e o bem-estar dos indivíduos que o consti- tuem. Assim, o conceito de pessoa moral se aplica apenas ao sujeito enquanto parte de uma coletividade. Ética é a disciplina crítico-normativa que estuda as normas do com- portamento humano, mediante as quais o homem tende a realizar na prática atos identificados com o bem. Interiorização do dever. A observação da conduta moral da humani- dade ao longo do tempo revela um processo de progressiva interiorização: existe uma clara evolução, que vai da aprovação ou reprovação de ações externas e suas consequências à aprovação ou reprovação das intenções que servem de base para essas ações. O que Hans Reiner designou como "ética da intenção" já se encontra em alguns preceitos do antigo Egito (cerca de três mil anos antes da era cristã), como, por exemplo, na máxima "não zombarás dos cegos nem dos anões", e do Antigo Testa- mento, em que dois dos dez mandamentos proíbem que se deseje a propriedade ou a mulher do próximo. Todas as culturas elaboraram mitos para justificar as condutas mo- rais. Na cultura do Ocidente, são familiares a figura de Moisés ao receber, no monte Sinai, a tábua dos dez mandamentos divinos e o mito narrado por Platão no diálogo Protágoras, segundo o qual Zeus, para compensar as deficiências biológicas dos humanos, conferiu-lhes senso ético e capa- cidade de compreender e aplicar o direito e a justiça. O sacerdote, ao atribuir à moral origem divina, torna-se seu intérprete e guardião. O víncu- lo entre moralidade e religião consolidou-se de tal forma que muitos acreditam que não pode haver moral sem religião. Segundo esse ponto de vista, a ética se confunde com a teologia moral. História. Coube a um sofista da antiguidade grega, Protágoras, rom- per o vínculo entre moralidade e religião. A ele se atribui a frase "O ho- mem é a medida de todas as coisas, das reais enquanto são e das não reais enquanto não são." Para Protágoras, os fundamentos de um sistema ético dispensam os deuses e qualquer força metafísica, estranha ao mundo percebido pelos sentidos. Teria sido outro sofista, Trasímaco de Calcedônia, o primeiro a entender o egoísmo como base do comporta- mento ético. Sócrates, que alguns consideram fundador da ética, defendeu uma moralidade autônoma, independente da religião e exclusivamente fundada na razão, ou no logos. Atribuiu ao estado um papel fundamental na manu- tenção dos valores morais, a ponto de subordinar a ele até mesmo a autoridade do pai e da mãe. Platão, apoiado na teoria das ideias trans- cendentes e imutáveis, deu continuidade à ética socrática: a verdadeira virtude provém do verdadeiro saber, mas o verdadeiro saber é só o saber das ideias. Para Aristóteles, a causa final de todas as ações era a felicida- de (eudaimonía). Em sua ética, os fundamentos da moralidade não se deduzem de um princípio metafísico, mas daquilo que é mais peculiar ao homem: razão (logos) e atuação (enérgeia), os dois pontos de apoio da ética aristotélica. Portanto, só será feliz o homem cujas ações sejam sempre pautadas pela virtude, que pode ser adquirida pela educação. A diversidade dos sistemas éticos propostos ao longo dos séculos se compara à diversidade dos ideais. Assim, a ética de Epicuro inaugurou o hedonismo, pelo qual a felicidade encontra-se no prazer moderado, no equilíbrio racional entre as paixões e sua satisfação. A ética dos estóicos viu na virtude o único bem da vida e pregou a necessidade de viver de acordo com ela, o que significa viver conforme a natureza, que se identifi- ca com razão. As éticas cristãs situam os bens e os fins em Deus e identi- ficam moral com religião. Jeremy Bentham, seguido por John Stuart Mill, pregou o princípio do eudemonismo clássico para a coletividade inteira. Nietzsche criou uma ética dos valores que inverteu o pensamento ético tradicional e Bergson estabeleceu a distinção entre moral fechada e moral aberta: a primeira conservadora, baseada no hábito e na repetição, en- quanto que a outra se funda na emoção, no instinto e no entusiasmo próprios dos profetas, santos e inovadores. Até o século XVIII, com Kant, todos os filósofos, salvo, até certo pon- to, Platão, aceitavam que o objetivo da ética era ditar leis de conduta. Kant viu o problema sob novo ângulo e afirmou que a realidade do conhecimen- to prático (comportamento moral) está na ideia, na regra para a experiên- cia, no "dever ser". A vontade moral é vontade de fins enquanto fins, fins absolutos. O ideal ético é um imperativo categórico, ou seja, ordenação para um fim absoluto sem condição alguma. A moralidade reside na máxima da ação e seu fundamento é a autonomia da vontade. Hegel distinguiu moralidade subjetiva de moralidade objetiva ou eticidade. A primeira, como consciência do dever, se revela no plano da intenção. A segunda aparece nas normas, leis e costumes da sociedade e culmina no estado. Objeto e ramos da ética. Três questões sempre reaparecem nos di- versos momentos da evolução da ética ocidental: (1) os juízos éticos seriam verdades ou apenas traduziriam os desejos de quem os formula; (2) praticar a virtude implica benefício pessoal para o virtuoso ou, pelo menos, tem um sentido racional; e (3) qual é a natureza da virtude, do bem e do mal. Diversas correntes do pensamento contemporâneo (intuici- onismo, positivismo lógico, existencialismo, teorias psicológicas sobre a ligação entre moralidade e interesse pessoal, realismo moral e outras) detiveram-se nessas questões. Como resultado disso, delimitaram-se os dois ramos principais da ética: a teoria ética normativa e a ética crítica ou metaética. A ética normativa pode ser concebida como pesquisa destinada a es- tabelecer e defender como válido ou verdadeiro um conjunto completo e simplificado de princípios éticos gerais e também outros princípios menos gerais, importantes para conferir uma base ética às instituições humanas mais relevantes. A metaética trata dos tipos de raciocínio ou de provas que servem de justificação válida dos princípios éticos e também de outra questão inti- mamente relacionada com as anteriores: a do "significado" dos termos, predicados e enunciados éticos. Pode-se dizer, portanto, que a metaéticaestá para a ética normativa como a filosofia da ciência está para a ciência. Quanto ao método, a teoria metaética se encontra bem próxima das ciências empíricas. Tal não se dá, porém, com a ética normativa. Desde a época em que Galileu afirmou que a Terra não é o centro do universo, desafiando os postulados ético-religiosos da cristandade medie- val, são comuns os conflitos éticos gerados pelo progresso da ciência, especialmente nas sociedades industrializadas do século XX. A sociolo- gia, a medicina, a engenharia genética e outras ciências se deparam a cada passo com problemas éticos. Em outro campo da atividade humana, a prática política antiética tem sido responsável por comoções e crises sem precedentes em países de todas as latitudes. ©Encyclopaedia Bri- tannica do Brasil Publicações Ltda. MORAL Conjunto de regras e prescrições a respeito do comportamento, esta- belecidas e aceitas por determinada comunidade humana durante deter- minado período de tempo. ÉTICA E MORAL Uma distinção indistinta Desidério Murcho A pretensa distinção entre a ética e a moral é intrinsecamente confusa e não tem qualquer utilidade. A pretensa distinção seria a seguinte: a ética seria uma reflexão filosófica sobre a moral. A moral seria os costumes, os hábitos, os comportamentos dos seres humanos, as regras de comporta- ÉTICA (TÉC. BANCÁRIO) 15-2-2012 APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos Ética A Opção Certa Para a Sua Realização 3 mento adaptadas pelas comunidades. Antes de vermos por que razão esta distinção resulta de confusão, perguntemo-nos: que ganhamos com ela? Em primeiro lugar, não ganhamos uma compreensão clara das três áreas da ética: a ética aplicada, a ética normativa e a metaética. A ética aplicada trata de problemas práticos da ética, como o aborto ou a eutaná- sia, os direitos dos animais, ou a igualdade. A ética normativa trata de estabelecer, com fundamentação filosófica, regras ou códigos de compor- tamento ético, isto é, teorias éticas de primeira ordem. A metaética é uma reflexão sobre a natureza da própria ética: Será a ética objetiva, ou subje- tiva? Será relativa à cultura ou à história, ou não? Em segundo lugar, não ganhamos qualquer compreensão da nature- za da reflexão filosófica sobre a ética. Não ficamos a saber que tipo de problemas constitui o objeto de estudo da ética. Nem ficamos a saber muito bem o que é a moral. Em conclusão, nada ganhamos com esta pretensa distinção. Mas, pior, trata-se de uma distinção indistinta, algo que é indefensável e que resulta de uma confusão. O comportamento dos seres humanos é multifacetado; nós fazemos várias coisas e temos vários costumes e nem todas as coisas que fazemos pertencem ao domínio da ética, porque nem todas têm significado ético. É por isso que é impossível determinar à partida que comportamentos seriam os comportamentos morais, dos quais se ocuparia a reflexão ética, e que comportamentos não constituem tal coisa. Fazer a distinção entre ética e moral supõe que podemos determi- nar, sem qualquer reflexão ou conceitos éticos prévios, quais dos nossos comportamentos pertencem ao domínio da moral e quais terão de ficar de fora. Mas isso é impossível de fazer, pelo que a distinção é confusa e na prática indistinta. Vejamos um caso concreto: observamos uma comunidade que tem como regra de comportamento descalçar os sapatos quando vai para o jardim. Isso é um comportamento moral sobre o qual valha a pena refletir eticamente? Como podemos saber? Não podemos. Só podemos determi- nar se esse comportamento é moral ou não quando já estamos a pensar em termos morais. A ideia de que primeiro há comportamentos morais e que depois vem o filósofo armado de uma palavra mágica, a "ética", é uma fantasia. As pessoas agem e refletem sobre os seus comportamentos e consideram que determinados comportamentos são amorais, isto é, estão fora do domínio ético, como pregar pregos, e que outros comporta- mentos são morais, isto é, são comportamentos com relevância moral, como fazer abortos. E essas práticas e reflexões não estão magicamente separadas da reflexão filosófica. A reflexão filosófica é a continuação dessas reflexões. Evidentemente, tanto podemos usar as palavras "ética" e "moral" co- mo sinônimas, como podemos usá-las como não sinônimas . É irrelevan- te. O importante é saber do que estamos a falar se as usarmos como sinônimas e do que estamos a falar quando não as usamos como sinôni- mas . O problema didático, que provoca dificuldades a muitos estudantes, é que geralmente os autores que fazem a distinção entre moral e ética não conseguem, estranhamente, explicar bem qual é a diferença — além de dizer coisas vagas como "a ética é mais filosófica". Se quisermos usar as palavras "moral" e "ética" como não sinônimas , estaremos a usar o termo "moral" unicamente para falar dos costumes e códigos de conduta culturais, religiosos, etc., que as pessoas têm. Assim, para um católico é imoral tomar a pílula ou fazer um aborto, tal como para um muçulmano é imoral uma mulher mostrar a cara em público, para não falar nas pernas. Deste ponto de vista, a "moral" não tem qualquer conte- údo filosófico; é apenas o que as pessoas efetivamente fazem e pensam. A ética, pelo contrário, deste ponto de vista, é a disciplina que analisa esses comportamentos e crenças, para determinar se eles são ou não aceitáveis filosoficamente. Assim, pode dar-se o caso que mostrar a cara em público seja imoral, apesar de não ser contrário à ética; pode até dar- se o caso de ser anti-ético defender que é imoral mostrar a cara em público e proibir as mulheres de o fazer. O problema desta terminologia é que quem quer que tenha a experi- ência de escrever sobre assuntos éticos, percebe que ficamos rapidamen- te sem vocabulário. Como se viu acima, tive de escrever "anti-ético", porque não podia dizer "imoral". O nosso discurso fica assim mais contor- cido e menos direto e claro. Quando se considera que "ética" e "moral" são termos sinônimos (e etimologicamente são sinônimos, porque são a tradução latina e grega uma da outra), resolve-se as coisas de maneira muito mais simples. Continuamos a fazer a distinção entre os comporta- mentos das pessoas e as suas crenças morais, mas não temos de intro- duzir o artificialismo de dizer que essas crenças morais, enquanto crenças morais, estão corretas, mas enquanto preferências éticas podem estar erradas. Isto só confunde as coisas. É muito mais fácil dizer que quem pensa que mostrar a cara é imoral está pura e simplesmente enganado, e está a confundir o que é um costume religioso ou cultural com o que é defensável. Peter Singer, James Rachels, Thomas Nagel, e tantos outros filósofos centrais, usam os termos "ética" e "moral" como sinônimos. Para falar dos costumes e códigos religiosos, temos precisamente estas ex- pressões muito mais esclarecedoras: "costumes" e "códigos religiosos". Ética no Serviço Público Jorge Teixeira da Silva; Letícia Clara Ribeiro; Antonio Carlos Mene- gon; Joyce de Castro Nunes; Vanderlei Dandrea; Ana Paula Rodrigues; Francisca Dantas; Polliane Tenório Neto; Márcia de Jesus silva; Rogério Chagas Pozo. Alunos do Curso de Direito da UMESP. Este artigo, fruto de uma intensa atividade de reflexão escrita de to- dos nós, alunos do Curso de Direito da UMESP, surgiu da discussão que esteve presente no decorrer do semestre na disciplina: Cidadania, ética pública e ação cultural. Resolvemos escrever sobre os Serviços prestados ao público, devido aos abusos relatados pelos meios de comunicação presentes em nosso cotidiano pelo que Milton Santos chama de funcioná- rios sem mandato, é sabido que muitas pessoas que confiaramno traba- lho se decepcionaram. O presente texto pretende trabalhar estas ideias, de modo que possamos olhar através da perspectiva do direito, o desres- peito que vem ocorrendo as regra de conduta e da ética que requer o trabalho que os serviços públicos visam prestar. O Direito que os cidadãos vêm adquirindo aos poucos, e que levou muito tempo para ser construído e respeitado vem, como sabemos, so- frendo com a grande dificuldade que a população enfrenta no dia a dia para fazer valer seus direitos que às vezes desaparecem porque não são postos em prática. A princípio, achamos que isto ocorra por falta de cons- ciência dos próprios cidadãos seja por normas e desculpas de resolução posta por nossos governantes trazendo um efeito de omissão do papel de um cidadão e seus direitos. Estes efeitos citados são objetivados pelos governantes que enriquecem justamente através da ignorância em relação aos direitos conquistados pela população o que gera um grande desres- peito para com os cidadãos e uma cultura que se perpetua. Milton Santos, em seu trabalho: O espaço do cidadão mostra-nos que estes atos de desrespeito aos direitos e à representação que alguns dos funcionários públicos em relação à população, viola a moral, os direitos e principalmente, ataca a cultura dos cidadãos, dando a impressão de que os serviços públicos podem ser algo negociável, quando o mesmo é inalienável. Para que possamos esclarecer melhor nossas ideias, chegamos à questão da ética no serviço público. Mas, o que é "ética"? Contemporaneamente e de forma bastante usual, a palavra ética é mais compreendida como disciplina da área de filosofia e que tem por objetivo a moral ou moralidade, os bons costumes, o bom comportamento e a boa fé, inclusive. Por sua vez, a moral deveria estar intrinsecamente ligada ao comportamento humano, na mesma medida, em que está o seu caráter, personalidade, etc; presumindo portanto, que também a ética pode ser avaliada de maneira boa ou ruim, justa ou injusta, correta ou incorreta. Num sentido menos filosófico e mais prático podemos entender esse conceito analisando certos comportamentos do nosso dia a dia, quando nos referimos por exemplo, ao comportamento de determinados profissio- nais podendo ser desde um médico, jornalista, advogado, administrador, um político e até mesmo um professor; expressões como: ética médica, ética jornalística, ética administrativa e ética pública, são muito comuns. Podemos verificar que a ética está diretamente relacionada ao padrão de comportamento do indivíduo, dos profissionais e também do político, como falamos anteriormente. O ser humano elaborou as leis para orientar seu comportamento frente as nossas necessidades (direitos e obrigações) e em relação ao meio social, entretanto, não é possível para a lei ditar ÉTICA (TÉC. BANCÁRIO) 15-2-2012 APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos Ética A Opção Certa Para a Sua Realização 4 nosso padrão de comportamento e é aí que entra outro ponto importante que é a cultura, ficando claro que não a cultura no sentido de quantidade de conhecimento adquirido, mas sim a qualidade na medida em que esta pode ser usada em prol da função social, do bem estar e tudo mais que diz respeito ao bem maior do ser humano, este sim é o ponto fundamen- tal, a essência, o ponto mais controverso quando tratamos da questão ética na vida pública, á qual iremos nos aprofundar um pouco mais, por se tratar do tema central dessa pesquisa. A questão da ética no serviço Público. Quando falamos sobre ética pública, logo pensamos em corrupção, extorsão, ineficiência, etc, mas na realidade o que devemos ter como ponto de referência em relação ao serviço público, ou na vida pública em geral, é que seja fixado um padrão a partir do qual possamos, em seguida julgar a atuação dos servidores públicos ou daqueles que estiverem envolvidos na vida pública, entretanto não basta que haja padrão, tão somente, é necessário que esse padrão seja ético, acima de tudo . O fundamento que precisa ser compreendido é que os padrões éticos dos servidores públicos advêm de sua própria natureza, ou seja, de cará- ter público, e sua relação com o público. A questão da ética pública está diretamente relacionada aos princípios fundamentais, sendo estes compa- rados ao que chamamos no Direito, de "Norma Fundamental", uma norma hipotética com premissas ideológicas e que deve reger tudo mais o que estiver relacionado ao comportamento do ser humano em seu meio social, aliás, podemos invocar a Constituição Federal. Esta ampara os valores morais da boa conduta, a boa fé acima de tudo, como princípios básicos e essenciais a uma vida equilibrada do cidadão na sociedade, lembrando inclusive o tão citado, pelos gregos antigos, "bem viver". Outro ponto bastante controverso é a questão da impessoalidade. Ao contrário do que muitos pensam, o funcionalismo público e seus servido- res devem primar pela questão da "impessoalidade", deixando claro que o termo é sinônimo de "igualdade", esta sim é a questão chave e que eleva o serviço público a níveis tão ineficazes, não se preza pela igualdade. No ordenamento jurídico está claro e expresso, "todos são iguais perante a lei". E também a ideia de impessoalidade, supõe uma distinção entre aqui- lo que é público e aquilo que é privada (no sentido do interesse pessoal), que gera portanto o grande conflito entre os interesses privados acima dos interesses públicos. Podemos verificar abertamente nos meios de comuni- cação, seja pelo rádio, televisão, jornais e revistas, que este é um dos principais problemas que cercam o setor público, afetando assim, a ética que deveria estar acima de seus interesses. Não podemos falar de ética, impessoalidade (sinônimo de igualdade), sem falar de moralidade. Esta também é um dos principais valores que define a conduta ética, não só dos servidores públicos, mas de qualquer indivíduo. Invocando novamente o ordenamento jurídico podemos identifi- car que a falta de respeito ao padrão moral, implica portanto, numa viola- ção dos direitos do cidadão, comprometendo inclusive, a existência dos valores dos bons costumes em uma sociedade. A falta de ética na Administração Publica encontra terreno fértil para se reproduzir , pois o comportamento de autoridades públicas estão longe de se basearem em princípios éticos e isto ocorre devido a falta de prepa- ro dos funcionários, cultura equivocada e especialmente, por falta de mecanismos de controle e responsabilização adequada dos atos anti- éticos. A sociedade por sua vez, tem sua parcela de responsabilidade nesta situação, pois não se mobilizam para exercer os seus direitos e impedir estes casos vergonhosos de abuso de poder por parte do Pode Público. Um dos motivos para esta falta de mobilização social se dá, devido á falta de uma cultura cidadã, ou seja, a sociedade não exerce sua cidadania. A cidadania Segundo Milton Santos " é como uma lei", isto é, ela existe mas precisa ser descoberta , aprendida, utilizada e reclamada e só evolui através de processos de luta. Essa evolução surge quando o cidadão adquire esse status, ou seja, quando passa a ter direitos sociais. A luta por esses direitos garante um padrão de vida mais decente. O Estado, por sua vez, tenta refrear os impulsos sociais e desrespeitar os indivíduos, nessas situações a cidadania deve se valer contra ele, e imperar através de cada pessoa. Porém Milton Santos questiona, se "há cidadão neste pais"? Pois para ele desde o nascimento as pessoas herdam de seus pais e ao longa da vida e também da sociedade, conceitos morais que vão sendo contestados posteriormente com a formação de ideias de cada um, porém a maioriadas pessoas não sabem se são ou não cidadãos. A educação seria o mais forte instrumento na formação de cidadão consciente para a construção de um futuro melhor. No âmbito Administrativo, funcionários mal capacitados e sem princí- pios éticos que convivem todos os dias com mandos e desmandos, atos desonestos, corrupção e falta de ética tendem a assimilar por este rol "cultural" de aproveitamento em beneficio próprio. Se o Estado, que a principio deve impor a ordem e o respeito como regra de conduta para uma sociedade civilizada, é o primeiro a evidenciar o ato imoral, vêem esta realidade como uma razão, desculpa ou oportuni- dade para salvar-se, e , assim sendo, através dos usos de sua atribuição publica. A consciência ética, como a educação e a cultura são aprendidas pelo ser humano, assim, a ética na administração publica, pode e deve ser desenvolvida junto aos agentes públicos ocasionando assim, uma mudan- ça na administração publica que deve ser sentida pelo contribuinte que dela se utiliza diariamente, seja por meio da simplificação de procedimen- tos, isto é, a rapidez de respostas e qualidade dos serviços prestados, seja pela forma de agir e de contato entre o cidadão e os funcionários públicos. A mudança que se deseja na Administração pública implica numa gradativa, mas necessária "transformação cultura" dentro da estrutura organizacional da Administração Pública, isto é, uma reavaliação e valori- zação das tradições, valores, hábitos, normas, etc, que nascem e se forma ao longo do tempo e que criam um determinado estilo de atuação no seio da organização. Conclui-se, assim, que a improbidade e a falta de ética que nascem nas máquinas administrativas devido ao terreno fértil encontrado devido à existência de governos autoritários, governos regidos por políticos sem ética, sem critérios de justiça social e que, mesmo após o advento de regimes democrático, continuam contaminados pelo "vírus" dos interesses escusos geralmente oriundos de sociedades dominadas por situações de pobreza e injustiça social, abala a confiança das instituições, prejudica a eficácia das organizações, aumenta os custos, compromete o bom uso dos recursos públicos e os resultados dos contratos firmados pela Admi- nistração Pública e ainda castiga cada vez mais a sociedade que sofre com a pobreza, com a miséria, a falta de sistema de saúde, de esgoto, habitação, ocasionados pela falta de investimentos financeiros do Gover- no, porque os funcionários públicos priorizam seus interesses pessoais em detrimento dos interesses sociais. Essa situação vergonhosa só terá um fim no dia em que a sociedade resolver lutar para exercer os seus direitos respondendo positivamente o questionamento feito por Milton Santos "HÁ CIDADÃOS NESTE PAÍS?" e poderemos responder em alto e bom som que " SIM. Há cidadão neste pais. E somos todos brasileiros.". Finalizando, gostaríamos de destacar alguns pontos básicos, que ba- seado neste estudo, julgamos essenciais para a boa conduta, um padrão ético, impessoal e moralístico: 1 - Podemos conceituar ética, também como sendo um padrão de comportamento orientado pelos valores e princípio morais e da dignidade humana. 2 - O ser humano possui diferentes valores e princípios e a "quantida- de" de valores e princípios atribuídos, determinam a "qualidade" de um padrão de comportamento ético: Maior valor atribuído (bem), maior ética. Menor valor atribuído (bem), menor ética. 3 - A cultura e a ética estão intrinsecamente ligadas. Não nos referi- mos a palavra cultura como sendo a quantidade de conhecimento adquiri- do, mas sim a qualidade na medida em que esta pode ser usada em prol da função social, do bem estar e tudo mais que diz respeito ao bem maior do ser humano 4 - A falta de ética induz ao descumprimento das leis do ordenamento jurídico. 5 - Em princípio as leis se baseiam nos princípios da dignidade hu- mana, dos bons costumes e da boa fé. ÉTICA (TÉC. BANCÁRIO) 15-2-2012 APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos Ética A Opção Certa Para a Sua Realização 5 6 - Maior impessoalidade (igualdade), maior moralidade = melhor pa- drão de ética. O conceito de valor tem sido investigado e conceituado em diferentes áreas do conhecimento. A abordagem filosófica descreve-o como nem totalmente subjetivo, nem totalmente objetivo, mas como algo determina- do pela interação entre o sujeito e o objeto. Nas ciências econômicas, a noção de valor tem uma interpretação predominantemente material. Smith propõe a analise de valor como a habilidade intrínseca de um produto oferecer alguma utilidade funcional. Já no conceito moderno, dado pelo marketing, isto é uma função dos atributos dados ao produto ou ao conjunto formado por ele e que o envol- ve, quando necessitamos obter-lo. Na visão da sociologia, embora a sociologia não seja uma ciência va- lorativa,ela reconhece os valores como fatos sociais. No campo de análi- se, os valores podem surgir como um estatuto fundamental na explicação da estabilidade e coerência das sociedades ou das mudanças sociais ( Max Weber, T. Parsons ) ou podem surgir como “fenômenos reflexos” das infra-estruturas da sociedade. O valor exprime uma relação entre as necessidades do indivíduo (respirar, comer, viver, posse, reproduzir, prazer, domínio, relacionar, comparar) e a capacidade das coisas e de seus derivados, objetos ou serviços, em as satisfazer. É na apreciação desta relação que se explica a existência de uma hierarquia de valores, segundo a urgência/prioridade das necessidades e a capacidade dos mesmos objetos para as satisfazerem, diferenciadas no espaço e no tempo. Reconhecer um certo aspecto das coisas como um valor, consiste em hierarquiza-los para tê-los em conta na tomada de decisões, ou, por outras palavras, em estar inclinado a usá-los como um dos elementos a ter em consideração na escolha e na orientação que damos às decisões sobre nós próprios e aos outros. Há os que vêem os valores como subjeti- vos e consideram esta situação em termos de uma posição pessoal, adotada como uma espécie de escolha (desejo) e imune ao argumento racional. Os que concebem os valores como algo objetivo supõem que, por al- guma razão – exigências da racionalidade, da natureza humana, de Deus, de outra autoridade ou necessidade - a escolha possa ser orientada e corrigida a partir de um ponto de vista independente. Os valores fornecem o alicerce oculto dos conhecimentos e das práticas que constantemente construímos nas nossas vidas. Os valores humanos são os fundamentos éticos e espirituais que constituem a consciência humana. São os valores que tornam a vida algo digno de ser vivido, definem princípios e propósitos valiosos e objetiva fins grandiosos. Valor é um conceito que faz parte do estudo da Filosofia, Sociologia, Economia, Psicologia, Antropologia e Política. O valor cultural, por sua vez, é objeto de estudo da filosofia, da psi- cologia e da sociologia. Do ponto de vista filosófico, sociológico e psicoló- gico, o valor cultural recebeu as mais variadas definições e promoveu inúmeras discussões paralelas (tal como a da neutralidade dos valores na pesquisa científica, a relação valores e gosto, etc.). Na filosofia, os filóso- fos que se dedicam ao estudo da ética ou da axiologia vão ser aqueles que irão contribuir mais intensamente com a discussão sobre o conceito e características dos valores, produzindo várias concepções, algumas chamadas subjetivistas e outras objetivistas. Na Psicologia, o estudo dos valores vai estar relacionado mais com a questão do comportamento e das atitudes dos indivíduos. Na sociologia, os valores vão ser abordados com produto das relaçõessociais e relacionados com "normas", "repre- sentações", etc. Para o antropólogo Clide Kluckhon, valor é "uma concepção do dese- jável explícita e implícita, característica de um indivíduo ou grupo, e que influencia a seleção dos modos, meios e fins da ação". Para a filósofa Agnes Heller, o valor é um "modo de preferência cons- ciente". Para o psicólogo Alpport, "um valor é uma crença em que o homem se baseia para atuar por referência" (apud Viana, 2007). Para o sociólogo Nildo Viana, "o valor é algo significativo, importante, para um indivíduo ou grupo social". Este sociólogo distingue entre valores fundamentais (ligados a valoração primária) e valores derivados (valora- ção derivada) e entre valores dominantes (axiologia) e valores autênticos (axionomia). Virtude (latim: virtus; em grego: ἀρετή) é uma qualidade moral parti- cular. Virtude é uma disposição estável em ordem a praticar o bem; revela mais do que uma simples característica ou uma aptidão para uma deter- minada ação boa: trata-se de uma verdadeira inclinação. Virtudes são todos os hábitos constantes que levam o homem para o bem, quer como indivíduo, quer como espécie, quer pessoalmente, quer coletivamente. A virtude, no mais alto grau, é o conjunto de todas as qualidades es- senciais que constituem o homem de bem. Segundo Aristóteles, é uma disposição adquirida de fazer o bem,e elas se aperfeiçoam com o hábito. 2. ÉTICA APLICADA: NOÇÕES DE ÉTICA EMPRESARI- AL E PROFISSIONAL Ética empresarial Uma empresa ou entidade tem que ser, obrigatoriamente, percebida com um elemento ativo do contexto social (cultural, político, econômico etc) e esse fato remete, obrigatoriamente, a compromissos e responsabi- lidades que elas (empresa ou entidade) devam ter com a sociedade como um todo. O conceito de ética empresarial ou organizacional (ou ainda de ética nos negócios) tem a ver com este processo de inserção. A empresa ou entidade devem estar presentes de forma transparente e buscando sempre contribuir para o desenvolvimento comunitário, praticando a cidadania e a responsabilidade social. Se atentam contra a cidadania, ferem a ética empresarial. A ética social se pratica internamente, recrutando e formando profissionais e executivos que compartilham desta filosofia, privilegiando a diversidade e o pluralismo, relacionando-se de maneira democrática com os diversos públicos, adotando o consumo responsável, respeitando as diferenças, cultivando a liberdade de expressão e a lisura nas relações comerciais. Ainda que se possa, filosofica, doutrinaria e ideologicamente, conceber conceitos distintos para a ética social, há algo que não se pode ser contrariado jamais: a ética social é um atributo indispensável para as organizações que querem manter-se vivas no mercado e a sociedade está cada vez mais alerta para os desvios de conduta das organizações. Valer-se do abuso econômico, constranger adversários que exprimem idéias distintas, desrespeitar os funcionários, impondo-lhes condições adversas de trabalho, agredir o meio ambiente, não priorizar a qualidade na fabricação de produtos ou na prestação de serviços e usar procedi- mentos escusos para obter vantagens a todo custo (corrupção, manipula- ção de balanços, formação de cartéis etc) são alguns destes desvios que afastam a empresa de sua verdadeira função social. A literatura nesta área, já importante em outros países, começa a ganhar vulto no Brasil, mas, de imediato, pode-se apontar 4 textos bási- cos, editados recentemente: o livro Ética empresarial: responsabilidade global e gerenciamento moderno, de Klaus M. Leisinger e Karin Schmitt, Petrópolis, Vozes, 2.001, e o trabalho A ética nas organizações, da Coleção Reflexão, Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, de março de 2.001; Ética nas empresas, de Laura Nash, São Paulo, Makron Books, 2.001 e A Ética Empresarial no Brasil, de Joaquim Manhães Moreira, São Paulo, Pioneira. Mas não deixe de ler também o trabalho exemplar de Russel Mokhiber, Crimes corporativos. O poder das grandes empresas e o abuso da confiança pública, Editora Página Aber- ta, 1.995. Nele, a evidência da irresponsabilidade de algumas organiza- ções que, desrespeitando o consumidor e privilegiando unicamente os seus lucros, provocaram prejuízos e mortes, violentando os princípios básicos da responsabilidade social e da cidadania. Do trabalho do Instituto Ethos, anteriormente citado, retiramos o seguinte extrato, que acrescenta elementos importantes ao conceito de ética empresarial e o define precisamente: " A ética não é um valor acrescentado, mas intrínseco da ativida- de econômica e empresarial, pois esta atrai para si uma grande quantida- ÉTICA (TÉC. BANCÁRIO) 15-2-2012 APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos Ética A Opção Certa Para a Sua Realização 6 de de fatores humanos e os seres humanos conferem ao que realizam, inevitavelmente, uma dimensão ética. A empresa, enquanto instituição capaz de tomar decisões e como conjunto de relações humanas com uma finalidade determinada, já tem, desde seu início uma dimensão ética. Uma ética empresarial não consiste somente no conhecimento da ética, mas na sua prática. E este praticar concretiza-se no campo comum da atuação diária e não apenas em ocasiões principais ou excepcionais geradoras de conflitos de consciência. Ser ético não significa conduzir-se eticamente quando for conveniente, mas o tempo todo". (p.12) http://www.comunicacaoempresarial.com.br/ A ÉTICA EMPRESARIAL COMO PILAR DA ECONOMIA GLOBALIZADA E OS ATOS INTERNACIONAIS SOBRE A MA- TÉRIA. Joaquim Manhães Moreira SUMÁRIO :1. Ética empresarial. 1.1 Conceito e breve relato da evolução histórica. 1.2 Preceitos éticos aplicáveis às relações com clientes. 1.3 Preceitos éticos aplicáveis às relações com fornecedores. 1.4 Preceitos éticos aplicáveis às relações com concorrentes. 1.5 Preceitos éticos aplicáveis às relações com empregados. 1.6 Preceitos éticos aplicáveis às relações com governantes. 1.7 Preceitos éticos aplicáveis às relações com a sociedade em geral. 2. Imposições econômicas internacionais. 3. Imposições jurídicas internacionais. 3.1 A ética nas cláusulas de contratos internacionais privados. 3.2 A Lei norte-americana (FCPA). 3.3 A Convenção de Caracas de 29.3.96. 3.4 A Resolução da ONU de 28/1/97. 4. A Convenção da OECD em vigor desde 15.02.1999. 4.1 Países signatários 4.2 Conceitos acordados. 5. Conclusões. 1. Ética Empresarial 1.1 Conceito e breve relato da evolução históri- ca A expressão “ética empresarial” está sendo cada vez mais aceita e utilizada na acepção de conjunto de preceitos morais e de responsabilida- de social a serem observados pelas organizações conhecidas como empresas. Em cada uma dessas organizações alguém (denominado empresário) reúne os três fatores técnicos da produção – a natureza, o capital e o trabalho – para produzir um bem ou um serviço. Esse bem ou serviço é oferecido pela organização ao mercado, que o adquire. A organização obtém, então, da diferença entre o preço de venda e o custo de produção, o proveito monetário denominado “lucro”. Portanto, o desenvolvimento de uma atividade visando o lucro integra o conceito de “empresa”. Essa característica de organização lucrativa, gerou sempre a descon- fiança da eventual impossibilidade de se conciliar as suas práticas com os conceitos éticos. No século XVII Adam Smith conseguiu demonstrar na sua obra “A ri- queza das nações” que o lucro poderia ser aceito como uma justa remu- neração ao empreendedor e que essa parcela de valor acrescido acabava resultando em investimentosou consumo, os quais por sua vez eram responsáveis por mais empregos remunerados. O lucro acabava operan- do, assim, uma função social de melhoria do bem-estar geral, através da geração de empregos e das correspondentes remunerações. Essa foi a primeira demonstração da possibilidade de conciliação entre o lucro e a ética e, portanto, também entre esta última e a empresa. Outros atos de grande repercussão foram ajudando a consolidar a noção de que o lucro poderia e deveria se submeter a princípios éticos. São exemplos: a encíclica “Rerum Novarum” do Papa Leão XIII; a lei norte-americana denominada “Sherman Act” de 1890; a lei norte- americana denominada “Foreign Corrupt Practices Act (FCPA), de 1977, proibindo a corrupção de autoridades estrangeiras. Em todos os países do mundo tem sido crescente a pressão social no sentido de que as empresas adotem práticas éticas. No Brasil, embora a preocupação específica com o tema seja recente, muitos textos legais e regulamentares já foram promulgados, principal- mente durante as últimas três décadas, visando conter práticas antiéticas em diversos aspectos dos relacionamentos das empresas. Os agentes que se relacionam internacionalmente têm sentido mais que os outros as imposições econômicas e jurídicas para que se compor- tem de acordo com os preceitos éticos, sejam eles decorrentes da aplica- ção dos princípios morais, sejam eles informados pelo ideal de justiça, ou sejam determinados pelos princípios legais. 1.2 Preceitos éticos aplicáveis às relações com clientes. As relações com clientes iniciam-se com as atividades de formulação de um plano de marketing, e abrangem também a publicidade e propa- ganda do produto ou serviço, a negociação e obtenção da vontade do cliente em adquirir esse produto ou serviço, a contratação, o cumprimento do contrato de venda (seja ele escrito ou verbal) e as chamadas relações pós-vendas. Durante todas essas fases deve a empresa empenhar-se em identifi- car e praticar os princípios éticos aplicáveis. Para ser ética nas relações com clientes durante as fases de negoci- ação e obtenção da sua decisão de comprar, a empresa deve fazer com que os seus prepostos utilizem apenas argumentos técnicos e verdadeiros a respeito do produto ou serviço oferecido e sobre as condições da venda. Portanto, será antiética a venda que for feita mediante o suborno de alguém com poder de influenciar a decisão de compra do adquirente. O suborno pode se materializar sob diversas formas. O mais comum é o suborno patrimonial direto, no qual a empresa vendedora faz um pagamento a uma pessoa da organização adquirente, para que esta influencie ou tome a decisão de comprar. A sofisticação da economia e a crescente pressão social, têm gerado outras formas de suborno. Em termos patrimoniais, além do suborno direto há o indireto, feito através de terceiros ou sob “títulos legitimadores” (serviços, prêmios, viagens, etc). Há, ainda o suborno extra patrimonial, que é uma vantagem imensurável, conferida a alguém. Pode ser uma vantagem social, acadêmica, política, sexual, ou qualquer outra. O mandamento fundamental da empresa ética é o de usar a verdade e não subornar para vender. 1.3 Preceitos éticos aplicáveis às relações com fornecedores. A ética determina que a empresa seja justa com os seus fornecedo- res. Para isso precisará fazer com que o fornecedor seja corretamente informado de todos os dados e fatos relevantes ao formular uma cotação. Assim sendo, não deve a empresa ética se utilizar da prática comum hoje em dia, de solicitar cotações para grandes quantidades e posteriormente confirmar a compra apenas de uma parte ínfima. O mais importante preceito ético aplicável ao relacionamento com os fornecedores é o de pagar o justo preço pelo produto ou serviço fornecido. O justo preço não é simplesmente aquele aceito pelo fornecedor. A ciên- cia econômica poderá fornecer os dados para fixá-lo. O mais importante é que a empresa ética não imponha ao fornecedor, fazendo uso do seu poder econômico, um preço que ela própria (a compradora) não aceitaria caso estivesse fornecendo. A empresa ética deve tomar todas as cautelas para que a concorrên- cia entre os seus fornecedores não seja fraudada por práticas antiéticas da parte de qualquer deles, principalmente através de suborno. 1.4 Preceitos éticos aplicáveis às relações com concorrentes. ÉTICA (TÉC. BANCÁRIO) 15-2-2012 APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos Ética A Opção Certa Para a Sua Realização 7 Esses preceitos éticos são os que se encontram mais amplamente regulamentados pela legislação brasileira. A Lei 8884/94 discrimina detalhadamente as condutas vedadas às empresas nos seus relaciona- mentos com os concorrentes. A empresa ética tem o dever de defender o princípio da livre concorrência. Deve se abster, portanto, de entrar em qualquer tipo de acordo que possa reduzir ou eliminar a livre concorrência. Esse acordo pode se referir a preços, condições de venda, disponibilidade de mercadoria e sua oferta a determinado segmento de mercado, ou qualquer outro. 1.5 Preceitos éticos aplicáveis às relações com empregados. A empresa ética deve se preocupar em oferecer ampla oportunidade de trabalho às pessoas de todas as camadas, origens e segmentos soci- ais. Não poderá, portanto, permitir que preconceitos, sejam de raça, sexo, idade ou qualquer outro, possam influenciar as decisões de contratação, remuneração, promoção ou demissão dos empregados. Constituem também deveres éticos da empresa: garantir o acesso ao empregado a todas as informações relativas a sua pessoa; assegurar que o ambiente de trabalho esteja livre de práticas deturpadoras, como a arrogância, o abuso de poder e o assédio sexual. 1.6 Preceitos éticos aplicáveis às relações com governantes. Os preceitos da ética empresarial não permitem que a empresa no seu relacionamento com os Governantes pratique suborno, qualquer que seja a sua forma (vide item 1.3 deste artigo), a fim de obter uma decisão favorável aos pleitos que formular. Deve a empresa ética valer-se apenas de argumentos verdadeiros. As contribuições a campanhas políticas só devem ser feitas dentro dos limites e formas previstos na legislação eleito- ral, e, mesmo assim, nunca visando a obtenção de uma decisão futura ou a premiação por uma decisão passada, a seu favor. Integra o rol de preceitos éticos aqui comentados o dever da empresa de se abster de utilizar informações privilegiadas, a que tenha acesso qualquer autoridade ou funcionário público. Constitui, ainda, um dever ético o de observar a “fila” do atendimento, nos processos e procedimentos administrativos e judiciais, de acordo com as preferências permitidas por leis e regulamentos. 1.7 Preceitos éticos aplicáveis às relações com a sociedade em geral. A empresa ética não interfere na autodeterminação dos povos. Não permite que seus registros, livros e documentos sejam usados pelo governo de um país para obter dados sobre outro governo. A ética empre- sarial aplicável a esse assunto exige que a empresa se comporte com responsabilidade social em qualquer local em que atue e, que portanto: (a) observe as leis e os regulamentos relativos à proteção da saúde e segu- rança das pessoas e à preservação do meio ambiente; (b) somente de- senvolva atividades que envolvam perigo para a coletividade mediante controle dos riscos, nas circunstâncias em que essa coletividade aprovar a sua assunção, à vista das vantagens que obterá; (c) não participe de práticas ilícitas e colabore com as autoridades no combate a elas, como, por exemplo, na lutacontra a lavagem de dinheiro. 2. Imposições econômicas internacionais. As primeiras imposições econômicas surgiram já há alguns anos, através dos requisitos dos organismos internacionais de crédito, como condições para a concessão de apoio financeiro a certos projetos. De início essas imposições ocorreram por vias indiretas. Pelo seu significado é importante lembrar as concorrências públicas para aquisição de bens ou serviços com fundos oriundos do Banco Mundial. Esse organismo, mesmo antes da Lei 8666/93, já exigia regras tão claras e julgamentos tão objeti- vos nos certames licitatórios, que praticamente impedia a ocorrência de corrupção. O fenômeno da globalização da economia, por outro lado, gerou a necessidade para as empresas, de se relacionarem com parceiros estabe- lecidos em outros países. Esses parceiros, ou por determinação legal do país que sobre ele tem jurisdição, ou por determinação própria, cada vez mais exigem o compromisso de comportamento ético. Há diversas causas para isso. A primeira delas é a convicção de que o envolvimento do seu nome em um escândalo relativo à corrupção, mesmo através do ato de um parceiro estabelecido em outro país, causa- rá sério dano às imagens dos envolvidos, com repercussão e custo impre- visíveis. A segunda é que os parceiros internacionais que não têm com- promisso com a ética fatalmente estarão expostos a riscos, que os impedi- rão de permanecer como agentes econômicos por muito tempo e, portan- to, de garantir compromissos de longo prazo, que são as bases das novas parcerias. Rapidamente os detentores de tecnologia e de recursos financeiros para investir perceberam que de nada adiantaria poder oferecer a melhor técnica, o melhor serviço e o menor preço, se suas empresas concorres- sem em mercados nos quais a corrupção pudesse a qualquer momento viciar a escolha do cliente e “quebrar as regras do jogo”. Assim sendo, depois das imposições dos organismos financeiros in- ternacionais, as empresas estabelecidas no Brasil têm hoje, como motiva- ção adicional para a observância do comportamento ético, as exigências dos seus investidores, clientes, fornecedores e demais parceiros de outros países. 3. Imposições jurídicas internacionais. 3.1 A ética nas cláusulas dos contratos internacionais priva- dos. As primeiras imposições internacionais de ordem jurídica às empre- sas estabelecidas no Brasil, relativamente à ética, surgiram nos contratos privados. As empresas norte-americanas foram as pioneiras a inserir cláusulas relativas ao comportamento ético nas suas contratações com parceiros comerciais estabelecidos no Brasil. Inicialmente essas cláusulas apareceram em contratos de represen- tação comercial, ou de distribuição de mercadorias, nos quais a empresa representada encontrava-se sediada nos Estados Unidos. Nesses contra- tos eram comuns cláusulas dispondo expressamente que o representante ou distribuidor concordava em cumprir as suas obrigações com total observância da Lei e dos princípios éticos aplicáveis. Algumas cláusulas eram mais específicas, e continham disposições no sentido de que o representante ou distribuidor não faria e nem ofereceria qualquer paga- mento, contribuição ou outro item de valor, a qualquer pessoa ou organi- zação, com o objetivo de obter uma decisão favorável, e que além disso, observaria rigidamente a legislação que reprime o abuso de poder eco- nômico. A colocação do Brasil no mapa dos investidores internacionais, a par- tir de 1994, gerou o período das associações ou “joint ventures” entre estrangeiros, detentores de tecnologia e capital, e empresas sediadas no Brasil, também possuidoras de tecnologia e conhecimento do mercado. Com as “joint ventures” as cláusulas contratuais sobre ética passaram a se refletir também nos acordos societários (acordos de acionistas, acordos de associação) e nos estatutos e contratos sociais das novas empresas. As empresas vinculadas às disposições contratuais aqui referidas já se achavam e se acham, portanto, sujeitas a disposições internacionais sobre a conduta ética. Estão conscientes de que a violação desses princí- pios gerará também a configuração da inadimplência contratual, com sérias conseqüências comerciais que incluem ruptura de relacionamentos e pagamentos de multas. 3.2 A Lei norte-americana FCPA O pioneirismo das empresas norte-americanas nessa matéria não foi fruto do acaso. Conforme já assinalado, desde 1977 encontram-se elas ÉTICA (TÉC. BANCÁRIO) 15-2-2012 APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos Ética A Opção Certa Para a Sua Realização 8 sujeitas a uma Lei específica denominada “Foreign Corrupt Practices Act” (“FCPA”). A FCPA surgiu como uma resposta da sociedade americana às prá- ticas de empresas que se valiam de expedientes irregulares para obter negócios. Na exposição de motivos da FCPA consta a informação do Governo norte-americano de que mais de quatrocentas empresas confes- saram haver feito pagamentos ilegais ou questionáveis, em um total de mais de US$ 300 (trezentos milhões de dólares). Esses pagamentos foram feitos a autoridades e governantes estrangeiros, durante os anos que antecederam a promulgação da FCPA, com o objetivo de obter ou reter negócios. A FCPA é uma lei penal. Ela define como crime a seguinte conduta: alguém (o agente) fazer ou comprometer-se a fazer um pagamento proibi- do para qualquer autoridade ou funcionário público estrangeiro, com o objetivo de obter ou contratar um negócio. O agente pode ser qualquer pessoa que tenha cidadania norte- americana, ou qualquer organização sujeita à jurisdição norte-americana. Essas pessoas ou organizações podem ser responsabilizadas tanto pelo seus atos diretamente cometidos, como por aqueles cometidos por tercei- ros. O agente será responsável pelos atos de terceiros (exemplo: um representante comercial) quando tiver autorizado, expressa ou implicita- mente; quando tiver participado da decisão; quando tiver sabido do ato e tiver se omitido em interrompê-lo ou impedi-lo; e até quando agir com omissão deliberada. O pagamento proibido abrange qualquer forma direta ou indireta: mo- eda corrente, cheque, ordem de pagamento, transferências financeiras ou qualquer outra vantagem mensurável (despesas de viagens, por exem- plo). O negócio obtido ou retido pode ser ou não com o Governo ao qual pertence a autoridade subornada. Para que haja crime basta que esteja presente, no caso, o efeito de obter ou reter qualquer negócio. Os infratores da FCPA recebem penas civis e criminais. As penalida- des civis são multas de até US$ 250,000, que podem ser elevadas para até duas vezes o valor do ganho obtido pela organização infratora. As penalidades criminais podem ser impostas tanto às pessoas físi- cas como às pessoas jurídicas. As penas para as pessoas físicas que tenham tido participação direta ou indireta no ato são multas de US$ 10,000 a US$ 100,000 (que não podem ser pagas pelas empresas) e prisão de até cinco anos. As penalidades para as pessoas jurídicas são multas de US$ 1 milhão a US$ 2 milhões. Da maneira como se encontra redigida, a FCPA tem uma aplicação extraterritorial. Desse modo se um representante comercial de uma em- presa norte-americana, atuando no Brasil, participar de um ato de corrup- ção em território brasileiro, poderá gerar conseqüências civis e penais para a sua empresa representada nos Estados Unidos e para os seus dirigentes, observadas as regras expostas acima. Parece uma evolução natural dos acontecimentos o fato de que, ten- do de conviver com uma legislação tão rígida nas suas atuações no mercado internacional, as empresas daquele país começassema pressi- onar o seu governo, para que influenciasse os governos de outros países a adotarem igual padrão de procedimento. O Governo norte-americano revelou-se sensível a essas pressões, e tem buscado há muitos anos estabelecer tratados que coíbam a prática da corrupção no mundo dos negócios. 3.3 A Convenção de Caracas de 29/3/96 Essa Convenção é considerada o primeiro grande ato internacional destinado ao combate à corrupção no mundo dos negócios. Foi ela cele- brada na cidade de Caracas, Venezuela, em 29/3/96, no âmbito da Orga- nização dos Estados Americanos. Praticamente todos os países membros da OEA assinaram a Convenção (incluindo o Brasil, Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai, México, e Estados Unidos). O Brasil ainda não proce- deu à ratificação, que depende da aprovação do Congresso Nacional. Não obstante, o Brasil possui diversas leis que de forma direta ou indireta, atendem aos objetivos maiores do Tratado. Os objetivos da Convenção são os de reforçar e desenvolver em cada país os mecanismos para prevenir, detectar, combater e erradi- car a corrupção, e ainda, promover e facilitar a cooperação entre eles, para o alcance desses mesmos objetivos. Em essência as Partes Signatárias acordaram em adotar medidas preventivas, consistentes na promulgação de padrões de conduta por parte das autoridades públicas e proibição clara do conflito de interesses. Essas medidas devem ser complementadas por mecanismos efetivos de controle, que vão desde sistemas de registros dos patrimônios das autori- dades antes e após o término da gestão, a elevação da figura do enrique- cimento ilícito de autoridade à condição de crime, até a implantação de sistemas de proteção a pessoas que desejem apresentar denúncias de corrupção contra os homens públicos. As Partes Signatárias comprometeram-se também a formular novas leis ou a adequar a sua legislação para punir os atos de corrupção. Esses atos foram definidos como a solicitação ou aceitação de qualquer coisa de valor, por parte de uma autoridade, para praticar (ou ser compensada pela prática) de uma decisão ou omissão. Cada Parte comprometeu-se ainda a modificar sua legislação de forma a assegurar que será considerado crime o oferecimento de suborno por parte de um nacional sob sua jurisdição, para uma autoridade de outro país. 3.4 A Resolução da ONU de 28/1/97. Em 28 de janeiro de 1997 a Assembléia Geral das Nações Uni- das aprovou uma Resolução, recomendando aos Estados Membros a adoção de providências no combate à corrupção. Essas providências sugeridas, em essência são as mesmas constantes da Convenção de Caracas. A Convenção da OECD em vigor desde 15.02.1999 A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (“OECD”) é uma instituição internacional composta por 29 estados sobe- ranos que desde a sua fundação tem devotado uma atenção especial ao combate à corrupção de autoridades públicas. Em 21 de novembro de 1997 foi assinada no âmbito da OECD a Convenção sobre Combate ao Suborno de Autoridades Públicas nas Operações Comerciais Internacio- nais (doravante “Convenção OECD”). A Convenção OECD encontra-se em vigor desde fevereiro de 1999. Países signatários A Convenção foi assinada pelos 29 países membros e por cinco con- vidados. Entre os seus membros estão, além de outros, Austrália, Bélgica, Canadá, Itália, Japão, Coréia, México, Holanda, Noruega, Portugal, Espa- nha, Suíça, Turquia, Reino Unido e Estados Unidos. Os países convida- dos que também assinaram a convenção são Argentina, Brasil, Bulgária, Chile e República da Eslovênia. Conceitos acordados O principal conceito acordado é o de que as Partes Signatárias toma- rão as medidas necessárias para fazer com que sejam classificados como crimes e punidos como tal, os atos de quaisquer pessoas de dar, prome- ter ou oferecer qualquer vantagem pecuniária indevida a uma autoridade pública de outro país, com o objetivo de obter um negócio pela ação ou omissão desse governante. Cada uma das Partes se comprometeu, ÉTICA (TÉC. BANCÁRIO) 15-2-2012 APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos Ética A Opção Certa Para a Sua Realização 9 também, a punir as ações de cumplicidade, acobertamento, ajuda ou autorização na prática do ato ou omissão da autoridade. Os Estados membros da Convenção comprometeram-se a estabele- cer igual responsabilidade criminal por parte das pessoas jurídicas, obser- vados os princípios constantes de cada ordenamento jurídico. As penas a serem adotadas como punições por esses atos deverão ser, no mínimo iguais àquelas com que cada país pune a corrupção interna dos seus governantes. As Partes adequarão as suas legislações para garantir que terão a ju- risdição para processar os autores dos crimes cometidos dentro dos seus respectivos territórios e fora deles: (a) quando eles forem cometidos pelo menos parcialmente dentro deles; e, (b) quando retiverem a autoridade para processar e julgar seus nacionais (por tratados) que cometam esses crimes em outros países. No caso de mais de um Estado-membro da Convenção desejar processar e punir o mesmo criminoso, deverá consul- tar-se com o outro Estado pretendente para, por mútuo acordo, determinar em qual jurisdição será mais apropriado fazê-lo, tendo em vista os princí- pios e objetivos gerais do tratado. Os Estados-membros cooperarão entre si no combate à corrupção, principalmente através do fornecimento de informações, as quais, quando solicitadas pelo Governo de um País membro, não podem deixar de ser fornecidas pelo de outro, nem mesmo sob a alegação de sigilo bancário. As Partes comprometeram-se, também a extraditar os criminosos vio- ladores dos princípios da Convenção. O dever de extradição assumido nos termos da Convenção OECD deve sobrepor-se ao dever constante de qualquer outra Convenção de extradição. É importante notar que a OECD congrega países que são res- ponsáveis por mais de 70% do comércio internacional. Conclusões O presente trabalho demonstra que a pressão internacional pela observância da ética no mundo dos negócios é crescente. No nível governamental essas pressões são representadas pelos Tratados e Convenções Internacionais, que se propagam a cada ano, quer no âmbito dos organismos regionais (como a OEA), quer setoriais (como a OECD), quer globais, como a Organização das Nações Unidas. Os Estados que interagem no âmbito do comércio internacional estão com- prometidos a adotar leis rigorosas e claras punindo a corrupção e a fazer com que tais leis sejam cumpridas. Os agentes econômicos não têm mais escolha. A sobrevivência em uma eco- nomia globalizada baseia-se, fundamentalmente, na possibilidade de cada empresa estabelecer alianças e parcerias duradouras com clientes, fornecedores, emprega- dos e outros. Mas em uma sociedade globalizada, cada vez mais consciente dos seus direitos, só o respeito aos princípios éticos pode garantir a longevidade das organizações empresariais. Até bem pouco tempo muitos desses potenciais parceiros podiam ignorar par- cialmente o anseio popular, porque os seus países de origem não estavam com- prometidos com esses princípios. Depois da assinatura dos dois tratados aqui comentados e da prolatação da decisão da Assembléia Geral das Nações Unidas, ficou muito difícil, senão impossível, encontrar algum deles que ainda possa se declarar neutro quanto ao combate à corrupção. BIBLIOGRAFIA Antunes, José Pinto. A Produção Sob o Regime da Empresa, São Paulo, Bu- chatsky, 1973. Cheeseman, Henry R. Contemporary Business Law, New Jersey, Estados Unidos da América, Prentice Hall,1997.“Department of Justice (USA)”. Site na Internet www.doj.gov. Moreira, Joaquim Manhães, A Ética Empresarial no Brasil, São Paulo, Pionei- ra, 1999. Teixeira, Nelson Gomes. A Ética no Mundo da Empresa, São Paulo, Pionei- ra,1998. Atos Internacionais: Deliberação da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas, de 28/1/97 (www.um.org). Convenção Interamericana Contra a Corrupção, de 26/3/96, firmada no âmbito da OEA (www.oas.org). Convenção sobre o Conbate ao Suborno de Autoridades Estrangeiras nas Operações Comerciais Internacionais. (www.oecd.org). Sobre o Autor: Joaquim Manhães Moreira é advogado, graduado pela Faculdade de Direito da USP em 1976. Sócio de escritório de advocacia com atuação internacional. Há mais de vinte anos estuda e pesquisa a ética empresarial, e profere palestras sobre o assunto. Autor do livro “A Ética Empresarial no Brasil”, editado pela Pioneira em 1999. Ética empresarial A ética empresarial pode ser entendida como um valor da organiza- ção que assegura sua sobrevivência, sua reputação e, consequentemen- te, seus bons resultados. Para Moreira, a ética empresarial é "o compor- tamento da empresa - entidade lucrativa - quando ela age de conformida- de com os princípios morais e as regras do bem proceder aceitas pela coletividade (regras éticas)." Importância A ética profissional e consequentemente das organizações é conside- rada um fator importantíssimo para a sobrevivência delas,tanto das pe- quenas quanto das grandes empresas. As organizações estão percebendo a necessidade de utilizar a ética, para que o "público" tenha uma melhor imagem do seu "slogan", que permitirá, ou não, um crescimento da relação entre funcionários e clientes. Desse modo, é relevante ter consciência de que toda a sociedade vai se beneficiar através da ética aplicada dentro da empresa, bem como os clientes, os fornecedores, os sócios, os funcionários, o governo… Se a empresa agir dentro dos padrões éticos, ela só tende a crescer, desde a sua estrutura em si, como aqueles que a compõem. Observações importantes Quando a empresa tira vantagem de clientes, abusando do uso dos anúncios publicitários, por exemplo, de início ela pode ter um lucro em curto prazo, mas a confiança será perdida, forçando o cliente a consumir produtos da concorrência. Além disso, recuperar a imagem da empresa não vai ser fácil como da primeira vez; A ética na empresa visa garantir que os funcionários saibam lidar com determinadas situações e que a convivência no ambiente de trabalho seja agradável. De forma ética. A ética do lucro O lucro é a parte sensível de uma organização, por isso exige cuidado no momento do planejamento para sua obtenção. Isto significa que ser antiético, enganando seus clientes, não é uma boa conduta para a empre- sa que almeja se desenvolver e crescer perante à concorrência. Assim, pode-se deduzir que a obtenção do lucro é um dos fatores ad- vindos as satisfação dos clientes, pois é objetivo do negócio, que a em- presa desenvolve para cumprir suas metas, tendo como retorno o resulta- do dos serviços prestados. Valores éticos São um conjunto de ações éticas que auxiliam gerentes e funcioná- rios a tomar decisões de acordo com os princípios da organização. Quan- do bem implementado, os valores éticos tendem a especificar a maneira como a empresa administrará os negócios e consolidar relações com fornecedores, clientes e outras pessoas envolvidas. Código de ética É um instrumento criado para orientar o desempenho de empresas em suas ações e na interação com seu diversificado público. Para a concretização deste relacionamento, é necessário que a empresa desen- volva o conteúdo do seu código de ética com clareza e objetividade, facilitando a compreensão dos seus funcionários. Se cada empresa elaborasse seu próprio código, especificando sua estrutura organizacional, a atuação dos seus profissionais e colaboradores poderia orientar-se através do mesmo. O sucesso da empresa depende das pessoas que a compõe, pois são elas que transformam os objetivos, metas, projetos e até mesmo a ética em realidade. Por isso é importante o ÉTICA (TÉC. BANCÁRIO) 15-2-2012 APOSTILAS OPÇÃO A Sua Melhor Opção em Concursos Públicos Ética A Opção Certa Para a Sua Realização 10 comprometimento do indivíduo com o código de ética. Ética profissional Muitos autores definem a ética profissional como sendo um conjunto de normas de conduta que deverão ser postas em prática no exercício de qualquer profissão. Seria a ação "reguladora" da ética agindo no desem- penho das profissões, fazendo com que o profissional respeite seu seme- lhante quando no exercício da sua profissão. A ética profissional estudaria e regularia o relacionamento do profissi- onal com sua clientela, visando a dignidade humana e a construção do bem-estar no contexto sócio-cultural onde exerce sua profissão. Ela atinge todas as profissões e quando falamos de ética profissional estamos nos referindo ao caráter normativo e até jurídico que regulamenta determinada profissão a partir de estatutos e códigos específicos. Assim temos a ética médica, do advogado, do biólogo, etc. Acontece que, em geral, as profissões apresentam a ética firmada em questões muito relevantes que ultrapassam o campo profissional em si. Questões como o aborto, pena de morte, sequestros, eutanásia, AIDS, por exemplo, são questões morais que se apresentam como problemas éticos - porque pedem uma reflexão profunda - e, um profissional, ao se debru- çar sobre elas, não o faz apenas como tal, mas como um pensador, um "filósofo da ciência", ou seja, da profissão que exerce. Desta forma, a reflexão ética entra na moralidade de qualquer atividade profissional humana. Sendo a ética inerente à vida humana, sua importância é bastante evidenciada na vida profissional, porque cada profissional tem responsabi- lidades individuais e responsabilidades sociais, pois envolvem pessoas que dela se beneficiam. A ética é ainda indispensável ao profissional, porque na ação humana "o fazer" e "o agir" estão interligados. O fazer diz respeito à competência, à eficiência que todo profissional deve possuir para exercer bem a sua profissão. O agir se refere à conduta do profissional, ao conjunto de atitudes que deve assumir no desempenho de sua profissão. A Ética baseia-se em uma filosofia de valores compatíveis com a na- tureza e o fim de todo ser humano, por isso, "o agir" da pessoa humana está condicionado a duas premissas consideradas básicas pela Ética: "o que é" o homem e "para que vive", logo toda capacitação científica ou técnica precisa estar em conexão com os princípios essenciais da Ética. (MOTTA, 1984, p. 69) Constata-se então o forte conteúdo ético presente no exercício profis- sional e sua importância na formação de recursos humanos. INDIVIDUALISMO E ÉTICA PROFISSIONAL Parece ser uma tendência do ser humano, como tem sido objeto de referências de muitos estudiosos, a de defender, em primeiro lugar, seus interesses próprios e, quando esses interesses são de natureza pouco recomendável, ocorrem seríssimos problemas. O valor ético do esforço humano é variável em função de seu alcance em face da comunidade. Se o trabalho executado é só para auferir renda, em geral, tem seu valor restrito. Por outro lado, nos serviços realizados com amor, visando ao benefício de terceiros, dentro de vasto raio de ação, com consciência do bem comum, passa a existir a expressão social do mesmo. Aquele que só se preocupa com os lucros, geralmente, tende a ter menor consciência de grupo. Fascinado pela preocupação monetária, a ele pouco importa o que
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