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1 COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO Tema 5: GÊNEROS TEXTUAIS TIPOS DE TEXTOS: NARRAÇÃO, DESCRIÇÃO, DISSERTAÇÃO. OBJETIVO: • Reconhecer as diferentes tipologias textuais. • Analisar textos e refletir criticamente. • Reconhecer os diferentes gêneros textuais e suas estruturas. 2 GÊNEROS TEXTUAIS Trata-se de textos orais ou escritos materializados em situações comunicativas recorrentes. Os gêneros textuais são os textos que encontramos em nossa vida diária com estruturas sociocomunicativas características definidas por sua composição, objetivos enunciativos e estilo concretamente realizado por forças históricas, sociais, institucionais e tecnológicas. Assim como é grande a diversidade de situações sociais, também é grande a variedade de textos destinados a atender diferentes intenções comunicativas. Um diálogo familiar, um pedido de emprego, uma dissertação escolar, um artigo de jornal, um romance ou uma carta de reclamação, por exemplo, são textos que atendem a distintas finalidades. Tais propósitos, aliados ao contexto, são determinantes para a escolha da forma de desenvolvimento e organização do conteúdo de cada texto. De acordo com sua experiência, os interlocutores desenvolvem determinadas expectativas a respeito dessas formas de disposição do conteúdo e sua relação com a intenção comunicativa da composição. Então, quando deparados com uma bula, por exemplo, a expectativa é de que objetivo do texto seja o de informar-nos sobre as propriedades do remédio, suas indicações, a posologia e os efeitos colaterais, e não que vise a convencê-los dos benefícios do medicamento. Assim, espera- se um texto com predominância de uma linguagem expositiva; não argumentativa. A finalidade do texto é o que marca de forma mais precisa as diferenças entre os variados gêneros. Nesse sentido, se retomado o exemplo da bula, observa-se que é possível contrastá-la com a propaganda do remédio em questão analisando as distinções entre tal aspecto nas diferentes composições. Vejamos os objetivos comunicativos de alguns gêneros textuais: Gêneros textuais Objetivo comunicativo predominante diário, biografia relatar experiências conto de fadas, romance, lenda contar histórias editorial, carta de leitor, ensaio, resenha, crítica, dissertação argumentativa contestar, questionar, debater, defender opinião conferência, artigo científico, relatório expor, detalhar uma informação instrução, receita, regra de jogo, regulamento ensinar a realizar uma ação propaganda vender um produto Não seria possível fazer um levantamento e classificação de todos os gêneros existentes, já que eles acompanham as próprias situações comunicativas cotidianas, além de sofrerem constantes variações em sua constituição, de maneira que um gênero pode originar outros gêneros. Exemplo: carta / e-mail. Apesar de apresentarem certa regularidade, os gêneros não possuem uma forma cristalizada. Destaca-se que os gêneros não só se definem por sua forma, mas também por sua função. Logo, um gênero pode assumir a forma de outro tendo em vista o propósito de comunicação, 3 porém, ainda assim permanece pertencendo ao gênero que lhe cabe a função, e não ao novo formato assumido. Analisemos o texto a seguir focalizando a maneira como o autor o constrói: Final feliz? Ingredientes: - 3 filhas com grave problema renal, que há quatro anos fazem diálise e esperam um órgão na fila de transplante; - 1 mãe que possui apenas dois rins e, deste modo, apenas um disponível para transplante; - 1 hospital do rim, na Vila Mariana, Zona Sul de São Paulo; - 1 médico especialista em transplante de rim; - 1 equipe de apoio para este médico. Modo de Fazer: - Pegue as filhas, leve-as ao médico e faça-as descobrir a grave doença, deixe-as em banho-maria. - Pegue então a mãe e dê a notícia a ela, dizendo também que ela terá de escolher a qual das filhas doará seu rim, reserve. - Pegue novamente as filhas, dê também esta notícia a elas. - Este procedimento causará grande ebulição de sentimentos (angústias, ansiedade, tristezas, etc.), espere então que esfrie. - Coloque as quatro para que decidam juntas qual das filhas receberá o rim. - Aguarde um certo tempo para que elas se resolvam, enquanto isso vá juntando o dinheiro necessário para o transplante. - Resolvido? Então leve a mãe e as filhas ao Hospital do Rim e faça com que encontrem o médico e sua equipe. - Entre então com a mãe e uma das filhas na sala de cirurgia. - Faça o transplante e deixe as outras duas filhas esperando na fila do transplante. - Retorne, então, com a filha transplantada e a mãe para casa, e leve as outras duas filhas para o hospital fazer diálise. Final feliz? Autora: Júlia Portela, aluna do curso de Comunicação e Multimeios da PUC – SP. O texto acima é um artigo de opinião, tendo como função predominante a reflexão sobre um problema social grave — a fila de transplantes no Brasil. Todavia, a estrutura do texto é a de uma receita culinária. Assim, podemos dizer que é um artigo de opinião construído sob a forma de receita. A estratégia do autor foi certamente a de usar a estrutura de uma receita para chamar a atenção do leitor para a gravidade do problema. Essa forma parece apresentar o problema de modo mais cruel (observe o uso de verbos no imperativo), despersonalizando os seres humanos, que são tratados como números, como uma receita de bolo. 4 TIPOS DE COMPOSIÇÃO TEXTUAL Os gêneros são formados por sequências diferenciadas denominadas tipos textuais ou sequências textuais, logo, devemos ter em vista que a noção de gênero não se confunde com a de tipo. Para Marcuschi (2002: 23), os tipos textuais constituem sequências linguísticas ou de enunciados e não são textos empíricos. Teoricamente, os tipos são designados como narrativos, descritivos, dissertativos, expositivos, injuntivos ou dialogais. Dentre os tipos textuais, cabe ao produtor escolher a que lhe parecer mais adequada, tendo em vista os parâmetros da situação. O autor enfatiza que, em geral, os gêneros textuais são constituídos por dois ou mais tipos. A presença de várias sequências textuais em um gênero é denominada de heterogeneidade tipológica. Nosso foco, neste estudo, será o estudo das tipologias narrativa, descritiva e dissertativa: As sequências narrativas apresentam uma sucessão temporal/causal de eventos, ou seja, há sempre um antes e um depois, uma situação inicial e uma final, entre as quais ocorre algum tipo de modificação de um estado de coisas. Há predominância dos verbos de ação, nos tempos do mundo narrado, bem como de adverbiais temporais, causais e, também, locativos. Predominam, também, articuladores de tipo espacial/situacional. As sequências descritivas caracterizam-se pela apresentação de propriedades, qualidades, elementos componentes de uma entidade, sua situação no espaço, etc. Nelas predominam os verbos de estado e situação, ou aqueles que indicam propriedades, qualidades, atitudes, que aparecem no presente, em se tratando de comentário, e no imperfeito, no interior de um relato. Predominam articuladores de tipo espacial/situacional. As sequências dissertativas são aquelas que apresentam uma ordenação ideológica de argumentos e/ou contra-argumentos. Nelas predominam verbos introdutores de opinião, operadores argumentativos, etc. O objetivo do texto dissertativo-argumentativo é de convencer o interlocutor, persuadindo-o a concordar com a ideia ou ponto de vista defendido. Para tanto, utilizam-se recursos como apresentação de dados estatísticos, argumentos de autoridade, verbos assertivos, etc. Já o texto dissertativo expositivo objetiva demonstrar uma coerência na apresentação dos argumentos acerca de um determinado ponto de vista ou fato, aindaque não haja uma intenção clara em convencer o leitor acerca da tese defendida. Apresenta muitas informações novas ao leitor e há predominância de verbos no presente ou pretérito imperfeito. Citação do texto disponível em: MARCUSCHI, L. A. (2002). “Gêneros textuais: definição e funcionalidade” In DIONÍSIO, Â. et al. Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna. 5 Veja o resumo apresentado do exposto anteriormente no quadro abaixo: NARRAÇÃO – DESCRIÇÃO – DISSERTAÇÃO NARRAÇÃO DESCRIÇÃO DISSERTAÇÃO Elementos narrativos: • Relato de fatos (sequência de ações que provocam mudança de estado). • Tipo de narrador, Personagens, enredo, cenário, tempo; • Apresentação de um conflito (apresentação, clímax e desfecho) • Geralmente, é mesclada de descrições. • Predominância de verbos no pretérito. Elementos descritivos: • Simultaneidade de fatos; • Retrato de pessoas, ambientes, objetos; • Predomínio de atributos (adjetivos); • Uso de verbos de ligação; • Frequente emprego de metáforas, comparações e outras figuras de linguagem. Elementos dissertativos: • Defesa de um argumento • Apresentação de uma tese que será defendida (tópico frasal); • Desenvolvimento ou argumentação; • Conclusão; Predomínio da linguagem objetiva. 6 O TEXTO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO O texto dissertativo (expositivo ou argumentativo) enfoca a terceira pessoa do discurso, ou seja, o referente, o assunto que está sendo tratado. Por se tratar de uma argumentação, a opinião do autor acerca do tema abordado deve ficar clara, embora nunca na forma de "achismo" – é preciso convencer o leitor de que as ideias são coerentes, sustentando-as com base em argumentos; Em termos gramaticais, recomenda-se usar sempre a terceira pessoa do discurso, evitando expressões como "eu acho que", "na minha opinião", etc. Deve-se atribuir à tese valor de verdade, que será corroborado pelos argumentos. É preciso ter clara a diferença entre tema e tese: o O TEMA é dado na proposta de produção textual e consiste em um recorte do assunto a ser abordado. Geralmente vem resumido na forma de um tópico frasal. o A TESE é um recorte ainda mais específico do tema, que reflete a opinião do autor a seu respeito. Assim, normalmente, pode-se resumir a tese em uma frase que faz uma afirmação a respeito do tema. o Temos, portanto, a seguinte correspondência (possível) entre temas e teses: TEMA TESE "O trabalho infantil na realidade brasileira" O trabalho infantil é uma realidade que infringe as leis brasileiras. (Portanto, precisa ser combatida.) "Publicidade infantil no Brasil" A publicidade infantil abusa da vulnerabilidade das crianças, prejudicando-as. (Portanto, deve ser limitada.) "A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira" Apesar dos avanços nas leis, as mulheres continuam sofrendo opressão no Brasil. (Portanto, é preciso reforçar medidas de promoção da igualdade de gêneros.) A tese deve ser sustentada por argumentos. Os argumentos devem correlacionar fatos ou evidências e suas justificativas, permitindo chegar a conclusões lógicas. Para construir um argumento, podem-se usar os dados apresentados nos textos da coletânea e também informações de conhecimento geral. o Exemplo: A exploração do trabalho infantil é mais frequente na região Nordeste, que também tem menores índices de desenvolvimento econômico e mais pessoas vivendo em condições de miséria. Conclui-se, portanto, que esse problema está relacionado à desigualdade socioeconômica entre as regiões do país, devendo haver medidas que promovam uma melhor distribuição de renda no território nacional. Por fim, a depender da intencionalidade do autor, pode-se propor uma solução para o problema apresentado no texto dissertativo-argumentativo. Essa proposta pode vir na conclusão do texto, após a apresentação de todos os argumentos; ou pode ser apresentada ao longo do 7 desenvolvimento, em correlação com os argumentos apresentados. De qualquer maneira, no parágrafo de conclusão, essa solução deve ser retomada e sintetizada de forma clara. Há que se destacar que uma boa proposta de intervenção não pode ser vaga ou genérica. É preciso apresentar uma sugestão clara, objetiva, que responda às seguintes perguntas: o o que fazer? o quem deve fazer? o como deve fazer? o quais serão as consequências da implementação dessa proposta (resultado)? A organização básica do texto pode ser, portanto, a seguinte: 1º parágrafo Introdução Explicitação da tese, deixando claro o recorte dado ao tema e o posicionamento (opinião) do autor. 2º e 3º parágrafos ou 2º, 3º e 4º parágrafos Desenvolvimento Argumentação: um argumento por parágrafo que sustentem a tese pela lógica. último parágrafo (4º ou 5º) Conclusão Retomada da tese com desfecho; apresentação ou retomada da proposta de intervenção. Pode-se encerrar o texto com a apresentação do resultado esperado. Observe a estrutura argumentativa no exemplo a seguir, de redação nota 10 do Enem 2005, com o tema "o trabalho infantil na realidade brasileira". O futebol e o livro Trocando o campo de futebol pelo canavial, o livro pela enxada. Essa é a realidade de muitas crianças brasileiras atualmente. O trabalho infantil, que é constitucionalmente proibido, é uma realidade brasileira que se tornou gritante e insustentável. Do contexto de miséria, falta de solução e jogo de interesses, a infância no Brasil parece estar diminuindo significativamente. A necessidade desse amadurecimento precoce está diretamente ligada à pobreza das famílias brasileiras. Cerca de 14,5% da população vive na mais absoluta miséria, principalmente no Nordeste, fato esse que explica a concentração de crianças trabalhadoras nessa região. Tendo Introdução: explicitação da TESE. Arg.1: Correlação entre fato novo (14,5% da população miserável vive no Nordeste) com fato exposto na coletânea (mapa do trabalho infantil). Apresentação da solução para esse problema específico. 8 necessidade de aumentar a sua renda, as famílias colocam os seus filhos para trabalhar. O que se precisa é de uma melhor distribuição de renda no país, que é comprometida desde que o Brasil tem esse nome. Essa miséria se estende ao campo da educação. Como causa, a falta de escolaridade faz com que o trabalho seja o único meio de se ascender socialmente. E como consequência, a necessidade de trabalho faz com que as crianças não tenham tempo de ir para a escola. Devem ser feitos programas como Bolsa-escola, que garantem educação para a criança e maior renda para a família. O problema dessa solução é a dificuldade que os empregadores criam. Não há mão-de-obra mais barata do que a infantil. O interesse na manutenção desse sistema é grande e difícil de ser quebrado, visto que há muitas pessoas poderosas e toda uma herança histórica envolvidas. Apesar de antigo, o costume das vantagens que a escravidão trazia ainda se vê presente. Com o fim dessa, a mão-de-obra mais lucrativa se tornou a infantil. Deve-se fazer valer a Constituição e punir os envolvidos nesse crime de exploração. Não há dúvida, portanto, de que a solução para se acabar com o trabalho infantil é constituída de várias etapas, mas todas elas necessitam da participação do governo. O auxílio que esse deve dar às famílias é fundamental para que a exploração infantil não seja mais necessária. Assim, tudo se resume à miséria, e a solução se torna uma só: o fim dela. Arg.2: Relaciona-se com os textos da coletânea, mas apresenta uma nova questão específica (educação). Apresentação de solução parcial relativa a essa questão. Arg.3: Correlação entreo texto que culpa o capitalismo pela exploração infantil e o fato histórico da escravidão. Apresentação de solução parcial (punição efetiva das empresas exploradoras). Conclusão: Sintetização da proposta de intervenção já explicitada, indicando quem seriam os agentes e qual seria o resultado esperado (fim da miséria).
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