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o enfraquecimento dos vínculos familiares soba perceptiva pós moderna

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SEMINÁRIO ADVENTISTA LATINO-AMERICANO DE TEOLOGIA
EVERTON ARAUJO DE SOUSA
 
O ENFRAQUECIMENTO DOS VÍNCULOS FAMILIARES SOB A PERSPECTIVA DA PÓS-MODERNIDADE
CACHOEIRA 
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2018
EVERTON ARAUJO DE SOUSA
O ENFRAQUECIMENTO DOS VÍNCULOS FAMILIARES SOB A PERSPECTIVA DA PÓS-MODERNIDADE
Artigo apresentado em cumprimento parcial aos requisitos da disciplina Trabalho de Conclusão de Curso II, ministrada pelo professor Paulo Mendonça, ao 8º período vespertino do curso de Teologia.
Orientador: Dr. Daniel Lins da Fonseca Junior
CACHOEIRA
2018
O ENFRAQUECIMENTO DOS VÍNCULOS FAMILIARES SOB A PERSPECTIVA DA PÓS-MODERNIDADE
Everton Araujo de Sousa[footnoteRef:1] [1: Aluno do 8º período do Curso de Teologia- SALT/BA. E-mail: araujodesousaeverton@gmail.com ] 
 Daniel Lins da Fonseca Junior[footnoteRef:2] [2: Doutor e professor de Teologia- SALT/BA. E-mail:Danielelaila99@gmail.com] 
 RESUMO
	
Esse trabalho de pesquisa tem como objetivo conhecer os elementos que enfraquecem os vínculos familiares, com a perspectiva da pós-modernidade. Por conseguinte, estabelecer maneiras para que haja um fortalecimento desses vínculos. Através de um estudo bibliográfico, que foi possível dar a conhecer as características do indivíduo pós-moderno, e seu comportamento diante de uma estrutura coletiva, que nesse caso a família, verificamos que tais características não colaboram para um fortalecimento desta estrutura, pois Identificamos que as características mais sobressalentes para retratar esse indivíduo, está estabelecida dentro de uma moldura que privilegia o próprio indivíduo, e não a estrutura num todo, como uma unidade, que está fundamentada sobre a mesma ética moral.
Palavras-chave: individualidade. subjetividade. fluidez. centralidade 
ABSTRACT
This research aims at knowing the elements that weaken family ties, with the perspective of postmodernity. Therefore, to establish ways to strengthen these links. Through a bibliographical study, it was possible to make known the characteristics of the postmodern individual, and their behavior before a collective structure, which in this case the family, we verified that these characteristics do not collaborate for a strengthening of this structure, since we identified that the most salient characteristics to portray this individual, is established within a framework that privileges the individual himself, not the structure as a whole, which is based on the same moral ethics.
Keywords: individuality. subjectivity. fluidity. Centrality.
INTRODUÇÃO
Nos dias da subjetividade, o conceito família tem passado por uma enorme transição; seus parâmetros não são estabelecidos com objetivos coletivos. Dentro desta estrutura, podemos visualizar indivíduos determinados a se satisfazerem através de realizações pessoais, mesmo que essas realizações enfraqueçam os vínculos entre os envolvidos. Diante desse viés egocêntrico, as famílias tradicionais estão ameaçadas de extinção.
Os valores outrora essenciais para existência desta estrutura já não são estabelecidos como prioridade, pois eles são tidos como obstáculos, que impedem as realizações, ou retardam os acontecimentos dos mesmos. Os compromissos firmados por esses indivíduos, são rompidos se os mesmos – posteriormente - vierem a dar possíveis prejuízos; a lealdade é motivo de vergonha e não de orgulho. Diante desta perspectiva, essas características dificultam a construção de relações duradoras. O indivíduo passa a tratar o relacionamento como um produto, que depois de utilizado, pode ser substituído ou descartado.
Contudo, dado a conhecer esses agravantes, não se pode garantir a sobrevivência desta estrutura sem que haja parâmetros éticos e morais que determinem valores capazes de fortalecer os vínculos familiares. Esses valores foram estabelecidos por Deus, e o homem os renunciara, por entender que existiria um formato mais favorável para administrar a vida. No entanto, houve uma baixa na qualidade relacional entre as pessoas nos âmbitos familiares e em esferas mais abrangentes. Embora não trataremos de pesquisa sobre a questão, há um sentimento difuso captado pelos teóricos que apresentamos. 
1 CARACTERÍSTICAS E EFEITOS CAUSADOS PELA PÓS-MODERNIDADE NO ETHOS FAMILIAR
1.1 INDIVIDUALISMO
A liquefação dos projetos outrora considerados sólidos e de muito valor, tem a cada dia se desintegrado com uma rapidez eminente, apresentando um horizonte sem uma proposta clara e definida de futuro. A família - que por muito tempo foi considerada como a base da sociedade - também está sendo atingida por efeitos de fragmentação. O impacto destes efeitos levou à transformação das características dos berços familiares e o enfraquecimento dos vínculos dos mesmos.
O conceito que caracteriza essa metamorfose é chamado de “pós-modernidade”. Essa definição propõe a efemeridade das características que possuem os indivíduos que fazem parte de uma família e, subsequentemente, de uma sociedade. O indivíduo com essas características tem dificuldade de construir relações duradouras, perspectivas que são constantes no tempo; isso está relacionado com a maneira que o indivíduo tem de produzir e consumir as coisas. Para o indivíduo pós-moderno, os vínculos são mais efêmeros, mais voláteis; da mesma forma que consomem produtos de um supermercado, têm-se apossado de relacionamentos afetivos e conjugais. As tendências, os sentimentos, as emoções e até mesmo as paixões são tratadas como descartáveis.
Pode-se dizer que com essa influência volátil dos tempos Pós-modernos, o individuo assume características outrora consideradas como radicais, e com o passar do tempo, o que era inadmissível é considerado natural. O individuo não sente mais o impacto das tendências, procurando simplesmente adequar-se a elas. O fato é que, o que influencia o indivíduo, não possui um dynamis capaz de influenciá-lo perpetuamente, e isso está relacionado com o consumo, a maneira de utilizar as coisas, tudo é tratado como um produto, até o individuo, que consome, se torna um produto, dentro desta perspectiva podemos salientar a expressão britânica “Cool”, aquilo que é capaz de produzir satisfação ou de dar prazer, mas quando deixa de produzir o efeito ou a sensação esperada, deixando de ser “Cool”, o individuo se aventura a procura de uma nova experiência, capaz de oferecer-lhe um frenesi ainda não experimentado.
Agora juntando todas as experiências vividas a priori, o individuo se aventura com o intuito de viver uma nova transcendência de prazer na vida, ainda, e cada vez mais seletivo intensifica o significado da expressão britânica. Com essa tendência surge um novo mercado de consumo, o de relacionamentos pela internet, e como um cardápio, os interessados buscam nas paginas da web, perfis que correspondam com as expectativas do individuo, acelerando o processo de relacionamento.
Quanto às grandes empresas especializadas em aproximar pessoas, como o serviço de encontros pela internet da AOL (América On-line), elas tendem a realçar a facilidade com que seus clientes, se (mas é claro que apenas se) usarem os serviços que elas oferecem, podem se ver livres de parceiros indesejados ou evitar que seus acompanhantes abusem da hospitalidade e fiquem mais tempo do que deveriam. Ao oferecerem serviços de intermediação, as empresas em questão enfatizam que a experiência de um encontro on-line é segura ao mesmo tempo em que advertem que “se você se sentir desconfortável em relação a um membro, pare de conectá-lo”. Você pode bloqueá-lo de modo a evitar mensagens indesejadas. (BAUMAN, 2008, p. 53) 
Uma investida centralizada na praticidade e na satisfação, com a mesma velocidade em que foi estabelecida, também pode ser finalizada. Pode se dizer que o processo de construção dos alicerces do relacionamento é substituído, por um prazo de validade de um produto perecível, sem muitas garantias, para ser consumido no instante em que foi adquirido.
Uma “relação pura” centralizada na utilidadee na satisfação é evidente, o exato oposto de amizade, devoção, solidariedade e amor, todas aquelas relações “Eu e Você” destinadas a desempenhar o papel de cimento no edifício do convívio humano. (BAUMAN, 2008, p. 32) 
No Brasil os usos dessas ferramentas, que proporcionam um contato virtual, estão cada vez mais comuns no processo de buscas de relacionamentos, uma ferramenta muito conhecida é a plataforma Tinder. Tinder é uma aplicação multiplataforma de localização de pessoas para encontros românticos online, cruzando informações do Facebook e do Spotify, localizando as pessoas geograficamente próximas. Esta aplicação está disponível para os sistemas Android e iOS. O aplicativo atingiu, em 2014, 100 milhões de usuários no mundo todo, sendo 10% do Brasil, totalizando um número de 10 milhões, com um crescimento de 2% ao dia. A sacada desta plataforma é a facilidade de abrir um diálogo com alguém do interesse do indivíduo, através de uma curtida no perfil visualizado, o Aplicativo Tinder combina usuários que curtem um ao outro na rede social. 
 	As características adotadas pelos indivíduos pós-modernos trazem consequências que afetam diretamente aqueles que viviam de forma coletiva, ou seja, como uma família tradicional. 
Os valores - outrora irrevogáveis - dão lugar à satisfação e ao consumismo, criando indivíduos cada vez mais individualistas. O individualismo é uma característica bastante marcante na vida do homem pós-moderno; a busca pela felicidade a qualquer custo e a despreocupação com o outro. Segundo Bauman (2007, p. 29), “A individualidade é uma tarefa que a sociedade dos indivíduos estabelece para seus membros”[...], a própria sociedade trabalha o indivíduo para ser só, ou seja, por ele mesmo e mais ninguém. Como neste exemplo abaixo do individualismo dentro da perspectiva familiar:
Ainda hoje os filhos não ficam ligados ao pai senão o tempo que precisam dele para se preservarem a si próprios. Mal cessa essa necessidade, o laço natural se desmancha. Os filhos, isentos da obediência que deviam ao pai, o pai, isento dos cuidados que devia aos filhos, ingressam todos igualmente na independência. (ROUDINESCO, 2003, p. 31) 
O indivíduo pós-moderno não possui características fixas e seus valores não são sólidos, isso para uma família pode trazer consequências que prejudicam o relacionamento e enfraquecem os vínculos entre si, provocando desentendimentos e quebra de relacionamento; pois o que mais importa é o sucesso individual e não a coletividade.
 Salientando os campos éticos e morais, trazendo para uma perspectiva familiar, podemos dizer que, um indivíduo outrora influenciado por valores fixos que eram herdados de seus pais, como uma tradição sendo eles irrevogáveis, hoje são guiados por sua própria ética, sendo essa ética uma teoria do comportamento moral, como uma ciência que pode justificar os comportamentos morais: tudo é relativo, e consequentemente afetado. 
Nunca antes as coisas haviam mudado tão rapidamente para uma parte tão grande da humanidade. Tudo é afetado: arte, ciência, religião, moralidade, educação, política, economia, vida familiar, até mesmo os aspectos mais íntimos da vida, nada escapa. (ZAMBERLAM, 2001, p. 11).
O indivíduo pós-moderno faz questão de afirmar a existência radical de uma subjetividade individual, ou seja, o indivíduo é um sujeito e tudo depende somente dele. É do privado, é do seu pensamento, por que seguir a tradição? Esse indivíduo naturaliza suas ações, suas escolhas não seguem padrões tradicionais, elas são fluidas; não possuem valores fixos, são estabelecidos por conta própria ao seu critério. 
1.2 LAÇOS FRÁGEIS, FALTA DE COMPROMISSO E O MEDO DE AMAR 
 
O indivíduo pós-moderno não considera a estrutura da família tradicional como a única forma de se relacionar ou de ter um vínculo ainda que por um curto período de tempo; chamamos isso de família monoparental, quando o indivíduo não reconhece a paternidade e abandona aquela pessoa que por sua vez fica responsável pela subsistência de um filho ou quando os pais dissolvem o matrimônio pela separação ou divórcio. 
Uma segunda característica é a estrutura homoparental, quando indivíduos do mesmo sexo decidem tornar-se pais, por exemplo: quando duas mulheres que vivem juntas decidem adotar um filho ou quando dois homens que possuem uma relação homoafetiva decidem - por vias legais - assumir a guarda de uma criança. Essa estrutura pós-moderna está cada vez mais comum entre as sociedades, mas por sua vez, é diagnosticada como relações frágeis e voláteis. 
Um relacionamento não convencional, sem regras – são palavras de uma lésbica, retomadas por Giddens -- é difícil. Em um matrimônio tradicional, tudo pode ocorrer bem se ambos sentem-se à vontade nos papéis que aprenderam. Mas, para a maior parte de nós homossexuais [...] não há realmente regras; portanto, é como se cada um tivesse que construir o caminho ao percorrê-lo. Há esta constante ansiedade de procurar compreender como funciona o relacionamento. (GIDDENS, 1993, p. 148)
A fluidez deixa a estrutura insegura, mas esse é o preço da liberdade; a liberdade radical gera o enfraquecimento dos elos coletivos outrora estáveis. Essa fluidez é sentida em todas as formas de relações humanas.
Entre as intocáveis mudanças que se dão no mundo contemporâneo, nenhuma é mais importante, nem sentida de forma tão intensa, quanto aquelas que se desenvolvem nas vidas pessoais dos seres humanos, na sexualidade, no casamento, nas formas de expressão de afetividade, etc. (GIDDENS, 2000, p. 61)
 
Segundo Bauman (2007, p. 15), “no mundo líquido-moderno, a lealdade é motivo de vergonha, não de orgulho”. O indivíduo não sustenta sua afirmação se a mesma posteriormente vier causar algum prejuízo, essa característica representa a realidade atual do que se passa na mente do ser humano nos dias de hoje.
O que hoje é ‘bom para você’, não importa o que seja, pode amanhã ser classificado como veneno. Compromissos aparentemente sólidos e acordos solenemente firmados podem ser rompidos da noite para o dia. As promessas, ou a maioria delas, parecem ser feitas apenas para ser quebradas ou negadas, contando com a curta memória do público. Parece que não existe, entre as ondas, uma ilha segura e estável. (BAUMAN, 2007, p.156)
Esse efeito tanto afeta a sua vida profissional como também a amorosa, o casamento passou a ser um contrato que pode facilmente ser rompido. O fato de pagar uma pensão é algo bem fácil e acessível para aquele que anela separar; antes pagar que conviver.
Os casamentos, escreve Phil Hogan, sempre tiveram seus maus bocados e seus momentos críticos, curtos ou longos, a diferença agora é a rapidez com que se aborrecem. Lá se vão os tempos da crise dos sete anos. Segundo as últimas descobertas, entre oito meses e dois anos tornou-se o tempo ideal para puxar a tomada do matrimônio. (BAUMAN, 2007, p.156)
De sete anos, no contexto das crises matrimoniais, passou-se para o prazo de oito meses a dois anos para se acabar com um casamento; essa é a atual realidade. Ainda existe um número considerável de cerimonias matrimoniais, no entanto, a durabilidade delas é que causa uma considerável preocupação.
O compromisso com outra pessoa ou com outras pessoas, em particular o compromisso incondicional e certamente aquele do tipo ‘até que a morte nos separe’, na alegria e na tristeza, na riqueza ou na pobreza, parece cada vez mais uma armadilha que se deve evitar a todo custo. (BAUMAN, 2004, p. 111)
O tempo de compromisso de uma pessoa para com a outra, de acordo com Bauman, não segura mais um casamento. Não tem amor de filho, ou o que quer que seja que possa manter um indivíduo casado. Nem o homem e tampouco a mulher, até por meio do crescimento do movimento feminista; e não apenas por causa do movimento, os próprios pais estão educando suas filhas não mais para um casamento, mas, para o sucesso na vida profissional. E a independência financeira é mais um dos motivos que levou uma parte das mulheres a não mais querer apostar no casamento.
Uma parte do feminismo entende queo resgate da dignidade da mulher depende da conquista de uma maior porção de poder na sociedade e nos diversos ambientes da vida. O programa de ação, proposto pela conferência da mulher, praticamente não menciona o amor, o matrimônio, a maternidade, a vida em família ou são lembrados num enfoque negativo, como fontes de opressão ou obstáculo ao progresso da mulher. (PETRINI, 2003, p. 59)
 	Ainda dentro deste contexto, podemos frisar que o indivíduo com esta proposta de viver a vida, seguindo seus parâmetros e objetivando o sucesso, pode-se resguardar em querer ter um compromisso com alguém, ou, quando o tem, assume a postura de não querer herdeiros. Na contemporaneidade das estruturas familiares, existem casais que consideram o “ter filhos” uma aquisição de alto custo, e que priva a conquista de sonhos projetados para a vida.
Os filhos estão entre as aquisições mais caras que o consumidor médio pode fazer ao longo de toda a sua vida. Em termos puramente monetários, eles custam mais do que um carro luxuoso do ano, uma volta ao mundo em um cruzeiro ou até mesmo uma mansão. Pior ainda, o custo total tende a crescer com o tempo, e seu volume não pode ser fixado de antemão nem estimado com grau de certeza. Num mundo que não oferece mais planos de carreira e empregos estáveis, assinar um contrato de hipoteca com prestações de valor desconhecido, a serem pagas por um tempo indefinido, significa, para pessoas que saem de um projeto para o outro e ganham a vida nessas mudanças, expor-se a um nível de risco atipicamente elevado e a uma fonte prolífica de ansiedade e medo. (BAUMAN, 2004, p. 60)
	A subjetividade dos relacionamentos na contemporaneidade faz o indivíduo ter uma aversão ao que outrora foi considerado uma realização pessoal, ouve uma época em que mulheres sonhavam ser mães, e homens se realizavam ao serem considerados por seus filhos como verdadeiros heróis. O medo de amar caracteriza esse indivíduo pós-moderno, que não sabe, todavia, o que realmente faz sentido em sua forma de viver; suas aspirações são voláteis e seu frenesi é cada vez mais transcendental.
A modernidade, pode-se dizer, rompe o referencial protetor da pequena comunidade e da tradição, substituindo-se por organizações muito maiores e impessoais. O indivíduo se sente privado e só num mundo em que lhe falta o apoio psicológico e o sentido de segurança oferecido em ambientes mais tradicionais. (GIDDENS, 2002, p. 38)
 	 Essas considerações a priori salientadas nos permitiram conhecer os elementos que enfraquecem os vínculos familiares e as consequências dos mesmos.
2 VISÃO BÍBLICA SOBRE O TEMA
2.1 DEUS E A FAMÍLIA
	A instituição família foi criada por Deus na fundação do mundo, no sexto dia da criação formou o Senhor Deus o homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente Gn.2:7. Depois que formou Deus o homem, disse-lhe: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea Gn. 2:18. Então, o Senhor Deus fez cair pesado sono sobre o homem, e este adormeceu; tomou uma das costelas e fechou o lugar com carne. E a costela que o Senhor Deus tomara ao homem, transformou-a numa mulher e a trouxe. E disse o homem: Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne; chamar-se-á varoa, porquanto do varão foi tomada. Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne Gn. 2:21-24.
 	Na instituição do matrimônio, estabelecido por Deus o valor explicito concernente ao tipo de relação, O Soberano salienta a dualidade de sexos. Criou Deus, pois o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou Gn. 2: 27.
Essa razão talvez venha do fato de que apenas no ser humano a dualidade de sexos encontra expressão na instituição do matrimônio. Este verso nos prepara para a relação concernente ao plano de Deus para a criação da família, que é apresentado em Gênesis 2. (DORNELES, 2011, p. 198)
 
	Naqueles dias em que o homem e a mulher foram criados, Deus vinha e se relacionava com este casal, pois na viração do dia, Deus caminhava no jardim que era para eles seu lar, Gn. 3: 8. Enquanto essa família observava os conselhos de Deus, caminhavam em segurança. No entanto, esse casal observou que, uma segunda alternativa lhe foi proposta, e diante disso os valores estabelecidos por Deus foram quebrados. Aquele que criara a humanidade e os instituíra como família, também tinha ciência dos plenos propósitos estabelecidos para cada um deles, suas vidas teriam que representar e refletir sua abnegação por quem os criara.
 	Ao escolherem comer do fruto do conhecimento do bem e do mal, Adão e Eva achavam que seu criador estava privando-os de um grande benefício. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes, se abrirão os olhos, e sereis como Deus, conhecedores do bem e do mal. Gn. 3:3-5. 
A queda da humanidade no pecado e o afastamento dela de Deus produziu extensas consequências que jamais seriam imaginadas pelo primeiro casal: exílio do paraíso, discórdia familiar, assassínio, rebelião e morte. A raça humana foi infectada por uma doença incurável e, em última instância, pereceria sem a intervenção divina. (MERRILL, 2009, p. 118)
	Uma tentativa de viver de forma alternativa enfraqueceu os vínculos familiares e concomitantemente a relação com o criador. Aquele que os regalara sua imagem e glória, foi temido diante de sua própria criação. Isso provocou imanente degradação qualitativa na vida desta família, que foi instituída com valores morais irrevogáveis. Pois as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça. Is. 59:2.
 As faculdades outrora aptas para glorificar a Deus, foram utilizadas para a satisfação dos desejos próprios. Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu, e deu também ao marido, e ele comeu. Gn. 3:6. O relacionamento divino com essa família foi estabelecido com base no amor. Por isso, não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele; porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo 1Jo 2:15-16. 
O significado maléfico da frase está na palavra ‘concupiscência’, não na ‘carne’. Ela encontra sua ilustração no erotismo que é espalhado por meio de imagens, palavras e voz, pelo mundo do entretenimento e da propaganda. Seu perigo está no fato de se esconder atrás da palavra amor. A concupiscência não conhece critério ou norma, somente a satisfação própria. Ela é essencialmente egoísta, irresponsável e auto consumidora. A carne (sarx) denota a natureza humana corrompida pelo pecado. (BEACON, 2006, p.305)
O termo usado como concupiscência ἐπιθυμία, ας, ἡ, na mesma passagem tem uma conotação: Embora no grego secular esta palavra seja usada principalmente no sentido eticamente neutro, na Bíblia ela é usada principalmente no sentido eticamente negativo. Saudade, desejo, ganância, lascívia, paixão[footnoteRef:3] [3: Tuggy, Alfred E.: Léxico Greco-Espanhol do Novo Testamento. El Paso, TX: Editorial Mundo Hispano, 2003, S. 354 ] 
O termo usado como carne σάρξ, σαρκός, ἡ, na passagem de 1João 2:15-16 tem a conotação de: (a) como um poder pecaminoso e sensual tendendo para o pecado e se opondo à carne trabalhadora do Espírito (RO 7.25; GA 5.17), oposto a πνεῦμα (espírito); (b) como vida à parte do Espírito de Deus e controlada pelo pecado em suas expressões carne (RO 7.5; 8.9)[footnoteRef:4] [4: Friberg, Timothy; Friberg, Barbara; Miller, Neva F.: Léxico Analítico do Novo Testamento Grego. Grand Rapids, Mich.: Baker Books, 2000 (Biblioteca Grega do Novo Testamento de Baker 4), S. 346 ] 
Os valores de Deus não foram impostos por força, o exercício da força é contra sua moral; Ele os apresenta como uma ciência que pode trazer uma qualidade na vida do indivíduo, que foi criado como um ser relacional.O indivíduo procura satisfação com tudo aquilo que se pode relacionar-se; através dos sentidos esse relacionamento é materializado, e foi justamente esses canais que permitiram que o primeiro casal tivesse uma satisfação desejada, sem examinar seus valores estabelecidos por quem os criara. Neste contexto a frustração marca o indivíduo, que busca sempre a satisfação pessoal. 
Segundo Blaney (2006, p. 306) declara:
A concupiscência dos olhos envolve não somente os olhos, mas também a mente e a imaginação, ela pode procurar satisfação por meio da mídia, da literatura e arte, talvez se torne mais marcante quando insatisfeita; sua satisfação completa incluiria ceder à concupiscência da carne. Esse tipo de concupiscência é a tendência de ser cativado pela exposição exterior das coisas, sem examinar seus verdadeiros valores. Olhando para a sociedade contemporânea de um ponto de vista cristão, e julgando-a com seriedade mais profunda, vendo-a como a própria encarnação desse espírito presunçoso e vanglorioso.
Uma família composta por indivíduos que priorizam sua satisfação, sem medir as consequências e não priorizando os valores, mesmo alegando uma ética, tendencialmente podem sofrer um enfraquecimento ao se relacionarem. Assim as relações tornam-se fluidas e adaptáveis, mas não isenta de traumas. Por conseguinte, diante de muitas perdas, o primeiro casal viu-se obrigado a adaptar-se. E chamou o Senhor Deus ao homem e lhe perguntou: onde estás? Ele respondeu: Ouvi a tua voz no jardim, e, porque estava nu, tive medo, e me escondi. Gn. 3:9-10. Aqueles que antes desejavam encontrar-se com o seu criador, como filhos que esperam encontrar-se com o seu pai, agora sentem seus vínculos enfraquecidos, e por consequência atingidos pela incerteza do que estaria por vir. 
Segundo Livingston (2005, p. 41) declara:
O castigo da mulher seria o oposto do ‘prazer’ que ela procurou no versículo 6. Ela conheceria a dor (16) no parto, que é bem diferente do novo tipo de vida que tentou alcançar pela desobediência. Igualmente, a futura ligação do desejo ao seu marido, era repreensão à sua decisão de buscar independência.
Adão por sua vez não mais lavraria a terra por prazer, mas por necessidade, pois; do suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado: porque tu és pó e ao pó tornarás Gn. 3:19. De uma condição cômoda a uma condição sem garantias, o desejo que parecia doce se tornara amargo. 
Para Livingston (2005, p. 42) portanto: 
O homem e a mulher tinham buscado ser como Deus, que sabe o bem e o mal, como seres que são soberanos. Mas nunca poderiam alcançar este status. Eles só possuíam o fôlego (2.7) e a imagem (1.26,27) de Deus. Por conseguinte, sua intrusão em um âmbito que não era deles foi uma negação do seu estado de criatura e uma rebelião contra a singularidade do Criador.
Segundo House (2009, p. 81), “Fissuras na amizade, comunhão e integridade são baixas causadas pelo pecado”[...] ou seja, a renúncia dos valores outrora instituídos por Deus, tornaram as coisas mais difíceis; essas baixas provocam frustrações na família, que ao se adaptarem à nova realidade, trabalham com a possibilidade de um fracasso eminente. Diante deste quadro instável e de dor, provenientes da renúncia dos valores, a mulher dá à luz dois filhos, que por sua vez são diretamente atingidos pelo impacto da quebra destes valores. Diante deste novo quadro, de subsistência, os filhos desenvolvem tarefas laborais, um deles, Caim, se torna agricultor e o outro, Abel, pastor de ovelhas G. 4:1-2. 
Por conseguinte, os irmãos diferem em seu estilo de vida. Deus - como um pai - estabelece os mesmos valores outrora estabelecidos à Adão e Eva; no entanto, ouve uma sequência de enfraquecimento dos vínculos familiares. Assim como Adão e Eva, Caim, reage com seus próprios critérios e não os de Deus, tirando a vida de seu próprio irmão. Em consequência disso também sofre igualmente como seus pais, obrigado a viver sem um paradeiro definido, como um peregrino, fugindo do resultado frustrante de sua eleição. Segundo House (2009, p. 83), “obviamente também um dos resultados do pecado é a possibilidade de sofrimento da parte inocente por causa dos pecados de outros”. A falta de valores ou a não efetividade dos mesmos, traz insegurança na existência do convívio coletivo; Abel - por sua vez - era regido por critérios que mantinham a subsistência da coletividade, mas pagou o preço pela não reciprocidade.
3 VISÃO DO ESPÍRITO DE PROFECIA SOBRE OS VÍNCULOS FAMÍLIARES
 
3.1 A DESCENTRALIDADE DE DEUS NA FAMÍLIA
	As perspectivas das famílias pós-modernas estão relacionadas em um conjunto de ideias, intrínsecas aos interesses egoístas: os pais estão mais preocupados com sua vida profissional e pensam que podem - através de uma estabilidade financeira -proporcionar para seus filhos o que eles precisam, não atentando ao fato de que, agindo assim, estão pondo a perder o bem mais precioso dado por Deus. Dizem que os amam, mas condescendem ao não restringir suas eleições, guiados por eles mesmos, pensam que são capazes de administrar sua própria vida.
Sob tal educação, aos dez, doze ou dezesseis anos de idade, os filhos julgam-se muito sábios, imaginam serem prodígios, e se consideram já sábios demais para estar em sujeição aos pais, e demais elevados para se debruçarem sobre os deveres da vida diária. O amor ao prazer controla-lhes a mente; e o egoísmo, o orgulho e a rebelião produzem-lhes na vida seus amargos resultados. Eles aceitam as insinuações de Satanás e cultivam a ambição não santificada de fazer grande exibição no mundo. (WHITE, 2009, p. 182)
De acordo com White (2007, p. 373) “Na sociedade predomina um sentimento favorável a permitir que eles sigam a natural inclinação do espírito”[...] essa definição feita pelo autor, salienta que os indivíduos desta sociedade, estão livres para serem influenciados por aspectos, que aos seus olhos, podem-lhes trazer êxito e satisfação, mas o espirito em que estão inclinados está repleto de rebeldia e de prazeres egoístas.
 Se os pais - ou os responsáveis por esses jovens - tivessem como prioridade os princípios determinados por Deus, e os respeitassem, seriam colaboradores, para a construção de uma sociedade com valores eternos, mas perdem a oportunidade, pois não compreendem que se assim procedessem, estariam fazendo o bem para eles mesmos, e que essa iniciativa colaboraria para uma realidade com características mais humanas e altruístas no âmbito familiar, e consequentemente em uma esfera mais abrangente. 
Há muitos jovens que poderiam ter sido uma bênção para a sociedade e uma honra para a causa de Deus se tivessem sido iniciados na vida com ideias corretas quanto ao que constitui o êxito. Mas em vez de serem controlados pela razão e pelo princípio, têm sido ensinados a ceder à inclinação rebelde, e ensinados somente a satisfazer a si mesmos pela condescendência com o prazer egoísta, pensando assim obter a felicidade. Mas falham em alcançar seu objetivo, pois buscar a felicidade na trilha do egoísmo só trará miséria. São inúteis na sociedade, inúteis na causa de Deus. Sua perspectiva tanto para este mundo como para o futuro é a mais desanimadora, pois pelo amor egoísta do prazer perdem tanto este mundo como o próximo. (WHITE, 2009, p. 185)
Alguns pais que se intitulam cristãos estão sendo negligentes na instrução que deveriam dar a seus filhos; aquilo que a priori era importante, hoje tem sido identificado - pelos mesmos - como algo não relevante, e não praticados também por esses que deveriam dar exemplo, no que concerne as especificações da palavra de Deus.
 Os pais que durante toda a semana laboral, concentram suas energias para cumprirem suas obrigações profissionais, não se dão conta que estão, buscando um relacionamento com Deus, no estilo drive-thru, esse alimento não garante uma vida espiritual nutrida e consistente, se essa é a relação que desenvolve com Deus, como poderão substancialmente nutrir seus filhos, com consistência? 
Nos supostos lares cristãos, em que era de supor queos pais e mães fossem diligentes estudantes das Escrituras, para poderem conhecer cada especificação e restrição da Palavra de Deus, há manifesta negligência de seguir a instrução da Palavra e de criar os filhos na doutrina e admoestação do Senhor. Professos pais cristãos deixam de praticar a piedade em casa. Como podem pais e mães representar o caráter de Cristo na vida doméstica quando se contentam em alcançar uma norma barata e baixa? O selo do Deus vivo só será colocado sobre os que têm um caráter à semelhança do de Cristo. (WHITE, 2009, p. 185)
Diante teste viés, podemos identificar que crianças e jovens de hoje, futuramente terão dificuldade de construir um relacionamento familiar saudável, por terem sido negligenciados por seus pais, e descentralizados em Deus, terão que conviver com frequentes desapontamentos. Por não terem sido condicionados a ouvir, governarão com autoritarismo, e não serão capazes de sujeitar-se. Por conseguinte, terão características de impulsividade, falta de domínio e moral baixa, pois a falta de valores e toda uma vida sem delimitação, produzirão inconsistência em novos relacionamentos, receberão como herança todos os devaneios produzidos na infância, e dificilmente poderão se desvencilhar-se deles, serão como um fardo pesado, incapaz de ser levado sozinho, e vez após vez, será posto em cima de outro, para carregá-lo também.
É impossível descrever os males que resultam de deixar a criança entregue à sua própria vontade. Alguns que se extraviam porque são negligenciados na infância, mais tarde, incutindo-se lhes lições práticas, voltarão a si, mas muitos se perdem para sempre porque na infância e juventude receberam apenas uma cultura parcial, unilateral. A criança que é assim prejudicada tem um pesado fardo a levar por toda a vida. Nas provações, nos desapontamentos, nas tentações, ela seguirá sua vontade indisciplinada, mal dirigida. As crianças que nunca aprenderam a obedecer terão caráter fraco, impulsivo. Procuram governar, mas não aprenderam a sujeitar-se. Não têm força moral para restringir seu temperamento extravagante, corrigir seus maus hábitos ou subjugar a vontade insubmissa. Os desvarios da meninice não disciplinada tornam-se herança da idade madura. O intelecto pervertido mal pode discernir entre o verdadeiro e o falso. (WHITE, 2008, p. 112) 
As considerações salientadas neste capitulo identificam os efeitos causados pela negligência dos pais diante da responsabilidade efetiva que possuem, no cuidado dos filhos. Como administradores da família, não se podem ausentar destas responsabilidades, mas ao elegerem suas metas, entendem que os valores não são prioridade nesta administração. Por isso causam males, para esta estrutura de vida em família, influenciado – evidentemente - pela descentralização de Deus, que é detentor dos verdadeiros valores capazes de a estrutura familiar, estabelecida como um modelo de princípio ético e moral. Muitos que se dizem cristãos também estão perdendo estas características por não colocarem em pratica os valores estabelecidos por Deus; superficialmente se atentam para esses valores, por isso também são atingidos por essa desunião que ameaça o princípio desta estrutura criada desde a fundação deste mundo.
Oh, quando serão sábios os pais, quando verão e reconhecerão o caráter de sua obra ao negligenciarem exigir obediência e respeito segundo as instruções da Palavra de Deus? Os resultados dessa frouxa disciplina vêem-se nas crianças quando estas saem para o mundo e assumem seu lugar à testa de suas próprias famílias. Perpetuam os erros dos pais. Seus traços defeituosos são largamente ampliados, e eles transmitem aos outros os gostos, hábitos e temperamentos maus que lhes foi permitido desenvolver em seu próprio caráter. Tornam-se assim uma maldição, em vez de uma bênção para a sociedade. (WHITE, 2008, p. 324) 
Os efeitos se expandem com a negligencia, primeiro é sentido nos lares e depois toma uma proporção maior, que é sentida na sociedade, que diante destes fatores, já não considera a família, uma estrutura benéfica, para o crescimento humano. Por conseguinte, temos uma inversão de papeis, ao invés dos pais guiar os filhos, vemos os filhos influenciando e dominado os pais.
Os filhos mal governados, que não são ensinados a obedecer e a respeitar, unem-se ao mundo e tomam os pais na mão, pondo neles um freio e levando-os onde bem lhes parece. Com muita frequência, justamente no momento em que os filhos deveriam mostrar incontestável respeito e obediência ao conselho dos pais, estes afrouxam as rédeas da disciplina. (WHITE, 2009, p. 271)
À vista disso, damos a conhecer quais os elementos que acionam o enfraquecimento dos vínculos familiares, e as consequências do mesmo, notabilizado pela descentralização de Deus. 
3.2 A CENTRALIDADE EM DEUS NA FAMÍLIA
Diante da realidade pós-moderna, é comum ouvir que não existe um caminho certo a ser seguido, os indivíduos não estão dispostos a renunciarem seus prazeres, e esses prazeres, vêm sobre eles, como uma onda, que se desfaz ao perder o impulso trazido pela força do vento. Quando um surfista se empolga para um dia de lazer, vê no mar as condições para essa realização, ele se prepara para subir na onda, mas não se importa para onde essa onda vai levá-lo. Desse modo, o indivíduo vive o momento, mesmo que de certa maneira possa ser lançado para um lugar desconfortável e arriscado; sendo assim o indivíduo não possui garantias, podendo ficar à deriva a qualquer momento.
Os valores por Deus instituídos, coloca o indivíduo em uma posição favorável e segura, condiciona os mesmos a viverem disfrutando de uma estrutura coletiva, fortalecem os vínculos familiares e traz benefícios para a sociedade. Quando os pais procuram instruir sua família, seguindo os conselhos de Deus, o diálogo a compreensão, a cooperação e o amor ao próximo, tornam-se um estilo de vida, capazes de manter a união dentro desta estrutura. A fidelidade a esses princípios indica a centralidade em Deus, quem os estabelecera. 
Esse trabalho de cooperação deve começar com o pai e a mãe na vida doméstica. No ensino de seus filhos, eles têm uma responsabilidade conjunta e deve ser seu constante esforço agirem juntamente. Entreguem-se eles a Deus, procurando dEle auxílio para se ajudarem mutuamente. Ensinem os filhos a serem verdadeiros para com Deus, fiéis aos princípios, e assim honestos para consigo mesmos e para com todos aqueles com quem entram em contato. Com tais ensinos, as crianças, quando mandadas à escola, não serão causa de perturbação, ou ansiedade. Serão um apoio aos professores e um exemplo e animação aos colegas de estudo. (WHITE, 2008, p. 308) 
Quando criados por Deus, fomos feitos segundo sua imagem, não somente em aspectos físicos mais principalmente morais, obviamente que com o passar dos anos essa moral foi gradativamente se dissipando, sem a presença desses valores morais o indivíduo não restabelece essa semelhança. Portanto é de primordial importância o desprendimento egoísta de administrar a vida, os vínculos familiares não serão fortalecidos, se Deus não tiver o controle moral de cada integrante do lar. 
Segundo White (2008, p. 286) declara:
Qual é o pendor da educação dada atualmente? Qual é o objetivo para que se apela mais frequentemente? O proveito próprio. Grande parte dessa educação é uma perversão desse nome. Na verdadeira educação, a ambição egoísta, a avidez do poder, a desconsideração pelos direitos e necessidades da humanidade — coisas que são uma maldição para o nosso mundo — encontram uma influência contrária. O plano de vida estabelecido por Deus tem um lugar para cada ser humano.
A substancialidade apresentada caracteriza o indivíduo como um ser autônomo e livre para tomar suas decisões; diante deste viés, identificamos suas características mais evidentes, dentre elas podemos destacar o individualismo, muitas vezes relacionada com o egoísmo. Essas características diferem totalmente da proposta estabelecida por Deus, portanto, o indivíduo que desenvolve uma vida centralizada em Deus,poderá facilmente fortalecer os vínculos familiares e viver de forma coletiva. Os pais que assumem essa proposta de vida, através de sua postura e comportamento, poderão transmitir para seus filhos esses valores. Suas vidas apresentarão essa proposta, e através da observação, os filhos acompanharão os pais.
Os filhos imitam os pais; deve-se, portanto, tomar muito cuidado para lhes dar modelos corretos. Os pais que são bondosos e delicados em casa, ao mesmo tempo que são firmes e decididos, verão os mesmos traços manifestar-se nos filhos. Se são corretos, honestos e honrados, é bem provável que os filhos com eles se assemelhem nesse particular. Caso reverenciem e adorem a Deus, seus filhos, educados da mesma maneira, não se esquecerão de servi-Lo também. (WHITE, 2008, p. 319)
O domínio próprio é uma ferramenta aliada aos pais diante desta observação que os filhos fazem; se os pais são orientados pelos valores de Deus, não permitirão que a subjetividade líquida das propostas egoístas, sejam absorvidas como um estilo de vida.
Uma vitória alcançada sobre vós mesmos será de grande valor e uma animação para vossos filhos. Podeis estar em terreno vantajoso dizendo: Sou lavoura de Deus; sou edifício de Deus. Coloco-me sob Sua mão, para ser moldado à semelhança divina, de modo a poder ser um coobreiro de Deus na formação do espírito e do caráter de meus filhos, para que lhes seja mais fácil andar no caminho do Senhor. ... Pais e mães, quando puderdes dominar a vós mesmos, alcançareis grandes vitórias no controle de vossos filhos. (WHITE, 2008, p. 217) 
Alguns pais querem instruir seus filhos em um regime autoritário, e os mantem sob esse regime como quem os controla com o uso de uma camisa de força, querem indicar como os filhos devem se portar, mas suas ações e comportamento não condiz com o que esperam de seus filhos, e além disso não estão abertos para ser guiados pela instruções de Deus. Por conseguinte, se comportam como se fossem donos desses filhos. No futuro, terão que admitir que erraram com os mesmos ao mantê-los em um regime autoritário, pois só através do respeito e amor, poderiam obter êxito para manter essa estrutura familiar unida, e com os vínculos fortalecidos.
Segundo White (2008. p. 232) declara que:
A elevada norma da Palavra de Deus é posta de lado por pais que não gostam, como alguns têm denominado, de usar a camisa de-força na educação dos filhos. Muitos pais têm decidida aversão aos princípios santos da Palavra de Deus, porque esses princípios colocam sobre eles demasiada responsabilidade. Mas a visão posterior, que todos os pais são obrigados a ter, revela que os caminhos de Deus são os melhores, e que o único caminho da segurança e felicidade está na obediência à Sua vontade.
Segundo o que o autor propõe, para uma relação exitosa, dentro de uma estrutura coletiva, no qual a família, alvo de nossa pesquisa, é de fundamental importância a centralidade dos valores de Deus, dentro desta estrutura, para o fortalecimento dos vínculos entre os mesmos. Há uma evidencia de que esse critério, trará segurança e felicidade para a família.
CONCLUSÃO
Começamos esta pesquisa buscando conhecer as características dos indivíduos pós-modernos e seu comportamento. Identificamos que as características mais sobressalentes - para retratar esse indivíduo - estão estabelecidas dentro de uma moldura que privilegia o próprio indivíduo. Diante deste viés, identificamos que o desejo de satisfação própria manipula o sujeito pós-moderno. Continuamente, constatamos que as relações coletivas são seriamente atingidas diante desse comportamento, e por consequência, as relações sofrem baixas expressivas. O desejo próprio de satisfação renuncia valores que outrora eram considerados a base de uma estrutura coletiva.
O indivíduo pós-moderno faz questão de afirmar a existência radical de uma subjetividade individual; esse indivíduo naturaliza suas ações, e suas escolhas não seguem padrões tradicionais, elas são fluidas, seguindo os critérios estabelecidos por ele, o que é bom hoje, amanhã pode ser rejeitado e descartado. A família composta por indivíduos com essas características não fornece garantias de subsistência; seus vínculos podem ser rompidos a qualquer momento. Portanto tudo que foi desejado, por esse indivíduo, e construído por ele, já não o satisfaz, porque suas influências, também mudam cotidianamente. Esses indivíduos pensam que sabem o que querem, no entanto, no meio de uma investida, desistem e não concluem o que foi proposto; em um ambiente coletivo, nesse caso o da família, essa desistência, promove um impacto expressivo nos entes envolvidos. 
Dada a importância deste assunto em questão, ao tomar conhecimento dos fatores que levam o enfraquecimento dos vínculos familiares, torna-se necessário estabelecer valores que possam promover o fortalecimento destes. Esses valores estão fundamentados na palavra de Deus. As famílias que priorizam esses valores e demonstram fidelidade a eles, desenvolvem características que favorecem o convívio coletivo, são corretas, honestas e honradas, ensinam pelos bons exemplos, os relacionamentos são duradouros - aqueles do tipo “até que a morte os separe” -, e garantem uma vida de segurança e de felicidade. Portanto, a centralidade em Deus, na família promove um convívio saudável, dentro desta estrutura coletiva, pois todos estarão empenhados a cumprir os valores estabelecidos por Deus, e diante disso, receberão garantias de um relacionamento coeso e duradouro. 
 
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Léxico
A priori: é uma expressão usada para fazer referência a um princípio anterior à experiência. A priori é uma locução adverbial da língua latina, que não se encontra no dicionário da língua portuguesa, mas é muito usada para indicar “aquilo que vem antes de”. Ex.: Sobre a vitória nas eleições, a priori, não é possível tirar conclusões.
Ao contrário de "a priori", a expressão latina "a posteriori", faz referência a um raciocínio em que se remonta do efeito à causa.
Centralidade: atributo ou característica do que é central ou pode ser centralizado.
 
Dunamus ou dynamis: (em grego antigo, δυναμις, 'poder', 'força') tem o sentido de energia constante. É a raiz das palavras "dinâmica", "dinamite" e "dínamo".
 Efemeridade: Algo passageiro, pouco duradouro. 
Ética: A palavra ética originou-se do grego "ethos", que significa modo de ser, costume ou hábito. Esse termo reflete o caráter e a natureza de cada indivíduo enquanto forma de vida adquirida ou conquistada. A ética é a ciência da conduta humana, a teoria do comportamento moral das pessoas na sociedade. Ela busca a compreensão racional das ações ou atitudes dos homens.
A ética é alvo de constantes discussões, pois aquilo que é eticamente correto para uma pessoa pode não ser para outra.
Eminente: Elevado, que excede aos outros.
Fluidez: Característica daquilo que passa, desliza ou mana com facilidade; Condição daquilo que acontece ou se desenrola a uma velocidade normal, sem interrupções forçadas.
Individualismo: tendência, atitude de quem vive exclusivamente para si, demonstra pouca ou nenhuma solidariedade; egoísmo, egocentrismo. 
Liquefação: Fazer com que (algo) passe de um estado (sólido ou gasoso) para outro (líquido); fundir-se. Em termos de valores, quando os mesmos são desintegrados, modificados. 
Moral: se trata do conjunto de valores, de normas e de noções do que é certo ou errado, proibido e permitido, dentro de uma determinada sociedade, de uma cultura. Como sabemos, as práticas positivas de um código moral são importantes para que possamos viver em sociedade, fato que fortalece cada vez mais a coesão dos laços que garantem a solidariedade social. Do contrário, teríamos uma situação de caos, de luta de todos contra todos para o atendimento de nossas vontades. 
 
Subjetividade: é o que se passa no intimo do individuo. É como ele vê, sente, pensa à respeito sobre algo e que não segue um padrão, pois sofre influências da cultura, educação, religião e experiências adquiridas.  É quando expressamos nosso ponto de vista pessoal, de acordo com as influências acima descritas.
Transcendental: O que explica aquilo acima da razão ou experiência sublime, ascensão da experiência na vivência natural, experiência elevada.

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