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Resenha Crítica - TCM-SP - Anna Clara Pestana

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
Pós-graduação em Direito Público: Constitucional, Administrativo e Tributário
Resenha do Artigo da Veja intitulado “Tribunal de Contas do Município suspende licitação da inspeção veicular por suspeita de irregularidades”
 
Nome do aluno (a): Anna Clara Leite Pestana
Trabalho da disciplina Licitações Públicas e Contratos Administrativos
Tutor: Prof. Marcelo Santos
Recife 
2017
Artigo da Veja intitulado “Tribunal de Contas do Município suspende licitação da inspeção veicular por suspeita de irregularidades”
O poder geral de cautela no âmbito dos Tribunais de Contas
REFERÊNCIA: Tribunal de Contas do Município suspende licitação da inspeção veicular por suspeita de irregularidades. Veja on-line, São Paulo, 16 de maio de 2014. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/politica/tribunal-de-contas-do-municipio-suspende-licitacao-da-inspecao-veicular-por-suspeita-de-irregularidades/>. Acesso em: 12 de fevereiro de 2017.
No dia 14 de maio de 2014, foi publicada na revista Veja a notícia de que o Tribunal de Contas do Município de São Paulo (TCM-SP) constatou uma série de irregularidades no edital da licitação da nova inspeção veicular, realizada pela Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, o que levou a Corte de Contas a suspender o procedimento licitatório. O órgão apontou dezenove falhas no edital, dentre elas a falta de justificativa para o preço de referência da inspeção, a ausência de estudo de impacto orçamentário e a falta de planilha de custos, irregularidades que afrontam o art. 7º, § 2º da Lei nº 8.666/93.
Não é incomum ler notícias de suspensão de licitações pelos Tribunais de Contas do país. Essa medida, de natureza cautelar, é uma importante manifestação do controle prévio das Cortes de Contas, uma vez que, justamente por anteceder a contratação pública, é capaz de prevenir a ocorrência de danos ao erário. Essa precaução encontra respaldo contitucional e jurisprudencial, sendo considerada, inclusive, como uma relevante ferramenta no combate à corrupção e à malversação de recursos públicos.
Segundo a professora e coordenadora do grupo de estudos e pesquisa sobre corrupção da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Rita de Cássia Biason[footnoteRef:1], o Brasil teve significativos avanços no combate à corrupção – as Leis de Acesso à Informação, de Improbidade Administrativa, da Ficha Limpa, de Anticorrupção –, mas ainda precisa avançar na correção de falhas na licitação. [1: BIASON, Rita Biason. Legislação brasileira torna difícil punição a envolvidos. Jornal Unesp, Dezembro 2010 - Ano XXII - n° 262. Disponível em <http://www.unesp.br/aci_ses/jornalunesp/acervo/262/legislacao-brasileira-torna-dificil-punicao-a-envolvidos>. Acesso em: 12 de fevereiro de 2017.] 
Nesse contexto, é inegável a função social desempenhada pelos órgãos de controle, em especial as Cortes de Contes, na tarefa de garantir que os recursos auferidos pelo Estado sejam corretamente vertidos em benefício da sociedade, sem desperdícios e desvios. Decerto, são órgãos técnicos constitucionalmente incumbidos de auxiliar o Poder Legislativo no controle externo, a partir da fiscalização financeira, orçamentária, contábil, patrimonial e operacional das atividades de gestão e aplicação de recursos públicos em observância aos princípios da legalidade, legitimidade, economicidade, eficiência, eficácia e efetividade. 
Ante a relevância de sua função constitucional, não seria razoável estabelecer um controle exclusivamente posterior, pois este muitas vezes se mostra tardio e inócuo para a recomposição do patrimônio público. Desse modo, a par do controle repressivo, é premente a existência de controles prévios que garantam maior celeridade e eficiência.[footnoteRef:2] [2: Nesse sentido: Marçal Justen Filho (Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos. São Paulo: Atlas, 2012) e Edgar Guimarães (Controle das Licitações Públicas. São Paulo: Dialética, 2002).] 
Assim, o Supremo Tribunal Federal decidiu, em reiterados julgados[footnoteRef:3], que o poder geral de cautela – o qual abrange a sustação de licitações – é um poder implícito conferido aos Tribunais de Contas pela Constituição Federal, por ser indispensável para o desempenho de seus poderes explícitos[footnoteRef:4]. Para a Corte Suprema nacional, a atribuição constitucional de um poder a um órgão, está acompanhada automaticamente da possibilidade do uso dos meios e instrumentos conducentes ao seu exercício. Ressalte-se, no entanto, que esse poder geral de cautela deve ser exercido em harmonia com os princípios do devido processo legal e do contraditório e da ampla defesa, com vistas a impedir arbitrariedades e abuso de poder. [3: MS 24.510/DF, Rel. Min. Ellen Gracie; MS 26.547/DF, Rel. Min. Celso De Mello. ] [4: Previstos no art. 31 da CF/88 para os TCEs e TCMs, e nos arts. 70 a 75 da CF/88 para o TCU.] 
Escorreita, portanto, a ação do TCM-SP, que, ante a constatação de irregularidades que poderiam causar danos aos cofres públicos, suspendeu o procedimento licitatório até a adoção das medidas corretivas, com fundamento no art. 113, §2º da Lei nº 8.666/93. Afinal, frise-se, trata-se de poder implícito conferido às Cortes de Contas como forma de atingirem sua missão constitucional de garantir a gestão e aplicação de recursos públicos em consonância com o ordenamento jurídico e os anseios da sociedade, evitando prejuízos irreversíveis ao Erário.
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