Buscar

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 112 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 112 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 112 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 1 
 
 
Avaliação de Impactos 
Ambientais 
 
 
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 2 
1. Conceitos e Definições Básicas sobre Impacto Ambiental 
 
1.1 Introdução 
 
Neste capítulo serão abordadas algumas definições relativas a poluição, 
degradação e qualidade ambiental no intuito de entender a mudança de visão 
e paradigma no trato dos problemas ambientais. Tal mudança de visão resultou 
na modificação da compreensão do que é o meio ambiente, partindo de uma 
visão inicial em que o meio ambiente é visto apenas como meio físico 
circundante para uma visão atual mais abrangente que considera elementos 
econômicos e sociais também. Isso modificou a forma como os problemas 
ambientais são encarados atualmente, abarcando uma série de aspectos muito 
mais amplos que aqueles estritamente relacionados com a poluição e a 
qualidade do meio físico. Essa mudança tem implicações diretas nas definições 
acima citadas e na abrangência da avaliação de impactos ambientais (AIA) 
atual. As definições pertinentes e uma breve discussão sobre essas 
modificações e suas implicações no processo de AIA é o que será abordado 
neste capítulo. 
 
1.2 Poluição × Degradação Ambiental 
 
A compreensão do que é o meio ambiente modificou-se no tempo, partindo de 
uma visão mais restrita que compreende somente aspectos do meio físico 
circundante para uma visão mais ampla que também compreende os aspectos 
sociais e econômicos. 
 
A expressão meio ambiente (milieu ambiance) aparece pela primeira vez na 
obra do naturalista francês Geoffrey de Saint-Hilaire Études progressives d’un 
naturaliste, de 1835, na qual milieu significa o lugar onde está ou se movimenta 
um ser vivo e ambiance designa o que rodeia esse ser. Mais tarde, em sua obra 
Introduction à l’étude de la médecine expérimentale, de 1865, o médico e 
fisiologista francês diferencia o meio interno, aquele constituído por todas as 
 
 
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 3 
estruturas e os processos que ocorrem dentro dos organismos daquele que 
seria o meio externo, ou meio ambiente, meio que cerca os indivíduos que 
podem funcionar como estímulos para as resposta do meio interno (Bernard, 
1865). 
 
A definição de meio ambiente da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei no 
6938/81) afirma que é “conjunto de condições, leis, influências e interações de 
ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas 
as suas formas”. Tal definição abarca a gama de fatores que compõem o meio 
físico circundante e está relacionada com o hábitat e o nicho ecológico das 
espécies (Begon, 2006). Definições mais abrangentes tratam de incorporar, 
explicitamente, as ações antrópicas, como, por exemplo, a do Conselho 
Internacional da Língua Francesa, que destaca, além dos fatores químicos, 
físicos e biológicos, também “os fatores sociais suscetíveis de produzir um 
efeito direto ou indireto, imediato ou a longo termo sobre os seres vivos e as 
atividades humanas”. 
 
A inclusão das atividades humanas e seus efeitos na definição de meio 
ambiente foi sendo modificada muito por conta das constatações dos efeitos 
das alterações antrópicas sobre este e da constatação da importância de alguns 
“serviços” prestados pelo ambiente. Teve grande importância para isso o 
surgimento do movimento ambientalista, que surge na segunda metade da 
década de 1940. Mais precisamente em 1949, acontece a Conferência Científica 
das Nações Unidas sobre Conservação e Utilização de Recursos, na qual foram 
discutidos o exercício da atividade antrópica sobre os recursos naturais, a 
importância da educação e o desenvolvimento integrado de bacias 
hidrográficas (Marzall, 1999). Na década de 1960, o movimento ambiental 
tomou força e começou a apontar e cobrar das autoridades responsáveis 
medidas relativas à mitigação de alguns impactos ambientais como, por 
exemplo, os efeitos do DDT nos ambientes naturais (Carson, 2002). A partir 
daí diversos países começaram a criar mecanismos de mitigação de impactos 
 
 
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 4 
das atividades humanas; histórico que será abordado mais detalhadamente no 
próximo capítulo. 
 
Discussões mais recentes sugerem que o conceito de meio ambiente deve ser 
mais abrangente, não apenas contemplando o meio ambiente natural, ou físico, 
constituído pelo solo, pela água, pelo ar atmosférico e por seres vivos e suas 
interações, mas também abarcando o meio urbano e o meio ambiente cultural, 
integrado pelos patrimônios histórico, artístico, arqueológico, paisagístico e 
turístico (Silva, 2004). Uma definição que abrange todos esses aspectos pode 
ser encontrada em Jollivet e Pavé (1992): “Meio ambiente constitui o conjunto 
de meios naturais (milieux natureles) ou artificializados da ecosfera onde o 
homem se instalou e que ele explora e administra, bem como o conjunto dos 
meios não submetidos a ação antrópica e que são considerados necessários a 
sua sobrevivência”. Esta estabelece claramente os diferentes aspectos que 
compreendem a visão moderna de meio ambiente e uma de suas contribuições 
é abordar a noção de ecosfera, noção esta que engloba não apenas os 
componentes do meio, mas também processos e mecanismos que os ligam e 
os fazem interagir (Figura 1.1). Desta forma, são consideradas não somente as 
inter-relações entre meios abiótico e biótico, mas também como os fatores 
antropogênicos e a sociedade. Essa separação é, em certo sentido, arbitrária, 
pois o homem faz parte da natureza. No entanto, dada a magnitude de suas 
ações e a intensidade de seus impactos no meio, é interessante separá-los, 
pois os aspectos culturais e econômicos devem ser considerados sob a ótica 
antrópica e podem ter tanto efeitos negativos quanto positivos. 
 
 
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 5 
 
 
Figura 1.1 Conjunto de fatores e processos componentes do meio ambiente. A 
ecosfera é formada pelo conjunto das atividades humanas e os fatores bióticos 
e abióticos e suas interrelações. As setas mostram as interpelações e os 
mecanismos de retroalimentação que podem ser tanto positivos quanto 
negativos. (Fonte: autor) 
 
A ampliação da noção de meio ambiente como composto por aspectos sociais 
e econômicos levou também a modificações na legislação e nas formas de se 
fazer a avaliação de impactos ambientais que atualmente levam em conta os 
efeitos nas comunidades humanas nesses aspectos. De fato, o reflexo dessa 
modificação pode ser notado na evolução das legislações mundial e brasileira. 
No começo da percepção e das discussões sobre as ações humanas no 
ambiente e a necessidade de regulá-las, a noção de impacto ambiental estava 
relacionada única e exclusivamente com a poluição. Nas décadas de 1940 e 
1950 os EUA e a Inglaterra já possuíam leis para controle da poluição hídrica e 
do ar. 
 
 
 
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 6 
A palavra poluição deriva do latim polluere, que significa “sujar, contaminar, 
tornar impuro”, e pode ser definida como uma alteração indesejável causada 
pelo ser humano, nas propriedades físicas, químicas e biológicas da atmosfera, 
hidrosfera ou litosfera que cause ou possa causar prejuízo à saúde, à 
sobrevivência ou às atividades dos próprios seres humanos ou outras espécies 
ou ainda deteriorar materiais (Braga, 2005, p. 6). Os impactos antrópicos no 
ambiente eram vistos de modo unicamente prejudicial e estritamente 
relacionados com a liberação, em grandes quantidades, de substâncias tóxicas 
ou nocivas à biota e de grande alteração do meio físico. Essa visão inicial fez 
as primeiras legislações relativas ao controle dos impactos ambientais estarem 
relacionadascom fontes de poluição pontuais ligadas ao setor produtivo, 
principalmente o industrial (Sanchez, 2006). 
 
A ideia de que outras atividades tais como o desmatamento, a ocupação de 
encostas, o assoreamento de rios, a extinção de hábitat para espécies e outros 
aspectos que não estão relacionados com a liberação de substâncias tóxicas e 
nocivas no ambiente também impactam o ambiente levam ao desenvolvimento 
da noção de degradação ambiental. Desta forma, alterações antrópicas que 
acarretem mudanças no ambiente e que tenham como resultado a perda de 
sua qualidade do mesmo são degradação ambiental. A Política Nacional de Meio 
Ambiente em seu artigo 3o, inciso III, define degradação ambiental como 
“alteração adversa das características do meio ambiente”. Desta forma, 
conceitos como áreas degradadas são comumente usados para fazer referência 
aos efeitos negativos das atividades humanas em uma determinada área; 
menos comumente pode também ser usado para fazer referência a áreas que 
sofreram degradação por eventos naturais (Finotti et al. submetido), como, por 
exemplo, os grandes movimentos de massa que ocorreram em encostas da 
região serrana do Rio de Janeiro em janeiro de 2011 por conta do forte volume 
de chuvas em um curto espaço de tempo (Figura 1.2). A presença de áreas 
com solos muito superficiais e a incidência de fortes chuvas foram os principais 
fatores responsáveis pelo fenômeno, portanto fenômenos naturais (Medeiros e 
 
 
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 7 
Barros, 2011, Agenda 21 Nova Friburgo). No entanto, estão comumente 
associados e são favorecidos pelas alterações humanas. Encostas sem 
cobertura vegetal e com ocupações irregulares estão mais suscetíveis a tais 
eventos. 
 
Assim, podemos afirmar que o grau de degradação ambiental depende de uma 
conjunção de fatores que podem contribuir para o aumento da magnitude e da 
sua frequência. Os efeitos das modificações antrópicas no ambiente podem ter 
origem, intensidade e frequência diferentes e, portanto, o grau de degradação 
é sempre relativo a esses fatores e ao estado inicial do ambiente. O 
conhecimento inicial sobre o estado de conservação “ideal” e/ou o que poderia 
se considerar um estado desejável para o funcionamento dos ecossistemas têm 
que ser fundamentados em determinados critérios ou parâmetros, o que 
poderia definir a sua qualidade ambiental. A noção de qualidade ambiental está 
intrinsecamente ligada à de degradação, pois somente será possível inferir o 
grau de degradação de um ambiente se for possível ter a ideia de até que ponto 
os serviços que este propicia e os processos que nele ocorrem estão 
minimamente preservados. Ela pode ser usada para estabelecer limites que 
dizem respeito ao grau de resistência e resiliência¹ de determinado sistema e 
da necessidade de ações de restauração, recuperação e mitigação da 
intensidade e frequência dos impactos. A definição de qualidade ambiental 
apresenta um certo grau de subjetividade, pois está relacionada com critérios 
objetivos que levam em conta estimativas e/ou medições dos impactos 
percebidos pela sociedade e também com critérios subjetivos e juízos e valores 
daquela sociedade a respeito dos aspectos ambientais a que está submetida 
(La Rovere, 2001). 
 
Desta forma, tanto a poluição quanto a degradação ambiental ocasionam uma 
mudança negativa no ambiente, provocando uma diminuição na qualidade 
ambiental. No entanto, isso depende da intensidade e frequência com que tais 
impactos ocorrem e também dos benefícios sociais e econômicos que tais 
 
 
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 8 
mudanças ocasionarão. A consideração de todos os aspectos relacionados com 
as modificações que as atividades antrópicas provocam no ambiente são 
necessárias para entender e estimar os impactos ambientais. 
 
1Resistência e resiliência são dois conceitos ecológicos que dizem respeito à 
capacidade do ambiente de resistir aos impactos, não apresentando alterações 
muito significativas ao original em termos de funcionamento e estrutura e à 
capacidade do ambiente em, tendo sofrido alteração significativa, voltar ao seu 
estado original, respectivamente (Begon, 2006). 
 
 
 
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 9 
 
 
Figura 1.2 Áreas degradas em Nova Friburgo–RJ por efeito das fortes chuvas 
ocorridas em janeiro de 2011. Muitas dessas áreas não apresentavam nenhuma 
evidência de ocupação, corte de árvores ou qualquer outra forma de impacto 
antrópico. (Fonte: autor) 
 
 
 
 
 
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 10 
1.3 Impactos Ambientais 
 
Poluição e degradação ambiental levam a noções extremamente pejorativas no 
que tange aos impactos antrópicos no meio. No entanto, as atividades 
antrópicas não causam apenas consequências negativas no meio, 
especialmente quando considerados aspectos sociais como a geração de 
emprego e renda. Segundo a Resolução Conama no 001/86, impacto ambiental 
pode ser definido como “qualquer alteração das propriedades físicas, químicas 
e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou 
energia, resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, 
afetam: 
 
I. A saúde, a segurança e o bem-estar da população; 
II. As atividades sociais e econômicas; 
III. A biota; 
IV. As condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; 
V. A qualidade dos recursos ambientais”. 
 
Outra definição de impacto ambiental é dada pela NBR ISO 14001,² que o 
define como “qualquer modificação do meio ambiente, adversa ou benéfica, 
que resulte, no todo ou em parte, dos aspectos ambientais³ (elemento das 
atividades ou produtos ou serviços de uma organização que pode interagir com 
o meio ambiente) da organização (empresa, corporação, firma, 
empreendimento, autoridade ou instituição, ou parte ou uma combinação 
desses, incorporada ou não, pública ou privada, que tenha funções e 
administração próprias.)”. A família de normas ISO 14000 trata da gestão 
ambiental que engloba vários aspectos sobre sistemas de gestão de empresas. 
A NBR ISO 14001 trata especificamente dos “requisitos para que um sistema 
da gestão ambiental capacite uma organização a desenvolver e implementar 
política e objetivos que levem em consideração requisitos legais e informações 
sobre aspectos ambientais significativos”. Ela introduz o termo aspecto 
 
 
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 11 
ambiental que tem relação importante com o conceito de impacto ambiental. 
Como descrito anteriormente, qualquer elemento resultante de uma cadeia 
produtiva (resíduo gerado) é um aspecto ambiental daquela atividade 
produtiva. Esse aspecto ambiental pode ou não ser um impacto ambiental, haja 
vista que, para ser considerado impacto ambiental, ele deve necessariamente 
modificar o meio ambiente. 
 
Para entender melhor, consideremos um aspecto ambiental qualquer, como, 
por exemplo, a emissão de “gases estufa” no meio aéreo tais como gás 
carbônico (CO2) ou o gás metano (CH4). A emissão desses gases é o resultado 
de vários processos produtivos industriais onde haja combustão ou 
fermentação. A simples emissão destes gases no meio não necessariamente 
poderia ser um problema, pois, se a concentração ou volume for baixa, estes 
serão dissipados no meio e absorvidos ou transformados no meio ambiente. No 
entanto, se forem lançados em volumes acima daqueles em que o ambiente é 
capaz de transformá-los, estes passam a se acumular no meio e podem causar 
alterações significativas tais como aumento da capacidade da atmosfera de 
absorver calor, irritação e intoxicação de vias respiratórias de seres vivos etc. 
Assim, um aspecto ambiental pode gerar impacto ambiental sefor significativo, 
ou seja, se o seu efeito ambiental4 for significativo. 
 
2A ISO tem como objetivo principal aprovar normas internacionais em todos os 
campos técnicos, como normas técnicas, classificações de países, normas de 
procedimentos e processos etc. No Brasil, a ISO é representada pela Associação 
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). A série de ISO 14000 é constituída por 
normas que determinam diretrizes para garantir que determinada empresa 
(pública ou privada) pratique a gestão ambiental. Essas normas são conhecidas 
pelo Sistema de Gestão Ambiental (SGA). 
3Os parênteses foram utilizados para descrever as definições dos conceitos em 
negrito dadas pela própria norma. 
 
 
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 12 
4Efeito ambiental pode ser definido como “alteração de um processo natural ou 
social decorrente de uma ação humana”. Ela apresenta vários pontos em 
comum com a noção de aspecto ambiental, já que ambas representam 
interfaces ou mecanismos da relação entre causas e consequências das ações 
humanas no ambiente (Sanchez, 2011). 
 
Geralmente, uma atividade envolve uma série de aspectos, tanto negativos 
quanto positivos, se considerados também seus aspectos sociais e econômicos. 
Qualquer atividade de produção gera emprego, renda e benefícios sociais. 
Esses vários aspectos devem ser levados em conta na AIA de uma atividade e 
sua relação custo-benefício ambiental, social, econômico e cultural são de 
extrema importância. O termo impacto ambiental possui, intuitivamente, 
conotação negativa. No entanto, seu verdadeiro significado se refere às 
mudanças no meio ambiente, benéficas ou prejudiciais, que se observam ao 
comparar os efeitos das ações de um projeto (Okmazabal, 1988). Definir todos 
os aspectos ambientais e seus impactos no meio é uma atividade laboriosa por 
vários motivos. 
 
Uma delas está relacionada com suas temporalidade e espacialidade, de difícil 
previsão. A maioria dos conceitos abrange apenas os efeitos da ação humana 
sobre o meio ambiente, ou seja, desconsidera os fenômenos naturais e a 
significância temporal e espacial de tais efeitos, o que é “o grau de alteração 
de um determinado fator ambiental em função de uma ação humana” (Silva, 
1994). Bolea (1984) tenta levar em consideração os aspectos ambientais 
temporais que serão afetados ao definir impacto ambiental de um projeto como 
“a diferença entre a situação do meio ambiente (natural e social) futuro, 
modificado pela realização de um projeto, e a situação do meio ambiente futuro 
tal como teria evoluído sem o projeto”. Há uma série de outras definições do 
termo impacto ambiental que levam em consideração a relação de ação-reação 
entre o estado atual de um ecossistema e sua situação futura após a 
 
 
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 13 
implantação da intervenção ou incidência do impacto (Moreira. 1992; 
Westman, 1985). 
 
No entanto, todas elas esbarram na dificuldade de espelhar a complexidade da 
dinâmica ambiental que tem como resultado, geralmente, definições que 
adquirem um certo caráter reducionista e estático. A principal dificuldade 
encontrada na definição de impacto ambiental, e consequentemente na sua 
identificação, consiste na própria delimitação do impacto, já que ele se 
propaga, espacial e temporalmente, por uma complexa rede de interpelações 
difíceis de predizer, em grande parte porque existem fenômenos que ainda não 
são bem entendidos uma vez que há deficiências instrumentais e metodológicas 
para predizer respostas dos ecossistemas às atividades humanas. Essa questão 
torna-se ainda mais crítica quando se trata da dimensão social. 
 
Com o intuito de tentar explicitar a dinâmica espaço-temporal, as definições de 
impacto ambiental têm sido esmiuçadas em vários aspectos, a saber: 
 
 Impactos diretos (ou primários) e indiretos (ou secundários): 
impactos diretos são os desgastes impostos aos recursos utilizados, os efeitos 
sobre os empregos gerados etc. Como impacto indireto decorrente dos 
anteriores, pode-se citar, por exemplo, o crescimento demográfico resultante 
do assentamento da população atraída pelo projeto, o que gera impactos com 
relação ao consumo de recursos e à poluição do meio ambiente (produção de 
resíduos). 
 
 Impactos de curto e longo prazos: impactos ambientais de curto 
prazo ocorrem normalmente logo após a realização da ação, podendo até 
desaparecer em seguida. O impacto ambiental de longo prazo é verificado 
depois de certo tempo da realização da ação, como, por exemplo, a modificação 
do regime de rios e a incidência de doenças respiratórias causadas pela inalação 
de poluentes por períodos prolongados. 
 
 
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 14 
 
 Impactos reversíveis e irreversíveis. 
 
 Impactos cumulativos e sinérgicos: consideram a acumulação no 
tempo e no espaço de efeitos sobre o meio ambiente e seus efeitos de 
retroalimentação. 
 
Essas classificações propiciam o entendimento e a definição da magnitude dos 
impactos ambientais, ajudando a estabelecer se estes podem ser considerados 
“significativos”, ou seja, impactos que necessitam de planos de avaliação e 
monitoramento e que não podem ser regulados por normas nem 
procedimentos regulatórios mais simples. Mais detalhes serão abordados no 
Capítulo 3. 
 
A consideração dos vários aspectos relativos à AIA leva também a diferentes 
terminologias. Na literatura de língua inglesa, adotam-se expressões como 
“environmental impact assessment” (avalição de impacto ambiental) para 
designar estudos que englobam aspectos sociais e ecológicos conjuntamente, 
que podem ser chamados de “ecological impact assessment” (avaliação de 
impacto ecológico) e “social impact assessment” (avaliação de impacto social) 
para os que tratam de aspectos ecológicos e sociais separadamente, 
respectivamente. Uma outra expressão posteriormente criada, “integrated 
impact assessment“ (avaliação de impacto integrada), refere-se ao estudo do 
conjunto de consequências sociais e ecológicas segundo um enfoque holístico 
que evidencie os efeitos cumulativos resultantes de suas interações, 
requerendo para sua elaboração um conjunto de disciplinas distintas, embora 
integradas. 
 
A discussão dos vários aspectos relacionados com a AIA reflete a sua 
complexidade. No Brasil, a AIA é realizada sempre de modo global, enfocando 
seus diversos aspectos. Portanto, é uma abordagem integrada que não diz 
 
 
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 15 
respeito apenas ao ambiente físico, mas aos diversos aspectos que o compõem. 
Nesta apostila adotaremos a definição estabelecida por Sanchez (2008), que, 
por sua simplicidade e abrangência, parece a mais adequada: “processo de 
exame das consequências futuras de uma ação presente ou proposta”. 
 
Nos próximos capítulos vamos conhecer como esse processo evoluiu e quais 
são os conceitos e as metodologias utilizados nos processos de AIA. 
Seguiremos adiante com um breve histórico sobre a evolução da AIA e seus 
aspectos técnicos e metodológicos serão abordados nos outros capítulos. 
 
2. Histórico e Etapas de um Estudo de Impacto Ambiental 
 
2.1 Introdução 
 
Neste capítulo há um breve histórico sobre a evolução dos estudos de AIA no 
mundo e no Brasil e serão estudados alguns aspectos relativos às etapas para 
a elaboração desses estudos e sua legislação pertinente. Também serão 
abordados quais podem ser seus indicadores, discutindo as aplicações e as 
limitações de cada um. Desta forma, pretende-se fornecer um quadro geral 
que relacione todos esses aspectos e sua aplicabilidade atual. 
 
2.2 Breve Histórico no Mundo 
 
O início do processo de AIA estáintimamente relacionado com o surgimento e 
desenvolvimento do movimento ambiental. Até a década de 1960 pouca ou 
nenhuma atenção era dada aos efeitos da poluição sobre o meio ambiente. A 
partir de 1970 o movimento ambiental toma força e os efeitos da poluição 
começam a ser evidenciados. Um marco importante é a publicação do livro de 
Rachel Carson intitulado Primavera Silenciosa, que aponta os efeitos do uso de 
pesticidas em áreas naturais (Carson, 2013). 
 
 
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 16 
O marco jurídico inicial das AIA aconteceu nos EUA com a criação da sua lei de 
política ambiental, a National Environmental Policy Act (Nepa), aprovada em 
dezembro de 1969 e em vigor desde janeiro de 1970. Essa lei requer que todas 
as agências do governo federal passem a observar vários aspectos na tomada 
de decisões que possam causar consequências ambientais negativas. De 
maneira geral, a lei obriga a que todas as agências federais utilizem de forma 
interdisciplinar e sistemática os conhecimentos científicos e culturais da área 
ambiental na tomada de decisões de ações que possam ter impactos 
ambientais negativos, estabelecendo métodos e procedimentos adequados 
para sua avaliação e a inclusão dessa avaliação em proposta de ação ou 
legislação que afetem significativamente o ambiente humano (Nepa, 1970). 
 
Marcos importantes originados pela criação da Nepa foram a criação do 
Conselho de Qualidade Ambiental (Council of Environmental Quality [CEQ]), 
ente administrativo subordinado diretamente à Presidência da República e que 
tinha que assegurar que as agências federais implementassem os requisitos da 
Nepa, e do Environmental Impact Statement¹ (EIS), que estabelecia alguns 
critérios para o planejamento ambiental. O primeiro era importante, pois 
conferia relevância à questão ambiental mediante representação política na 
tomada de decisões no âmbito federal. O segundo conferia operacionalidade à 
legislação, estabelecendo diretrizes claras para a implementação dos princípios 
enunciados pela Nepa (Caldwell, 1977; Sanchez, 2008). Essas diretrizes 
estabelecem os fundamentos do que viriam a ser os estudos de impacto 
ambiental (EIA) nos EUA e em outros países do Norte que implementaram suas 
políticas ambientais nas décadas de 1970 e 1980 (Bellinger et al., 2000; 
Sanchez, 2008). 
 
O EIS foi considerado um instrumento interessante, principalmente no que se 
refere à participação da sociedade civil nas tomadas de decisão pelos órgãos 
ambientais, via audiências públicas (Absy, 1995). No entanto, por conta da 
complexidade da aplicação das diretrizes do CEQ, que geravam mudanças nas 
 
 
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 17 
decisões administrativas e novos processos decisórios para todas as agências 
do governo federal, e a sua aplicação insatisfatória em vários pontos, é que 
houve a necessidade da substituição da aplicação das diretrizes para a 
elaboração e a apresentação do EIS. Essa modificação atribuiu às diferentes 
agências a elaboração de suas diretrizes e procedimentos, deixando a CEQ com 
função de estabelecimento de diretrizes gerais e regulação da aplicação da lei, 
podendo atuar como árbitro em determinadas questões conflitantes entre 
agências. Desta forma, ocorreu a descentralização dos processos de gestão de 
AIA, o que possibilitou que cada órgão pudesse agir de modo independente, 
evidentemente seguindo as diretrizes gerais estabelecidas pelo órgão supremo. 
 
A aplicação da AIA em outros países seguiu-se à dos EUA e ocorreu em primeiro 
lugar em alguns países do Norte de colonização britânica por conta das suas 
similaridades no sistema jurídico e com relação aos impactos ambientais. Em 
países da Europa o modelo americano não foi bem visto inicialmente, mas, 
posteriormente (em 1975), a Comissão Europeia iniciou a elaboração de uma 
diretiva que obrigava a elaboração de estudos de impactos ambientais para 
atividades de significativo impacto ambiental. Tal diretiva ficou pronta 10 anos 
mais tarde (Sanchez, 2008). 
 
Muitos países da comunidade europeia já adotavam alguma modalidade de 
AIA, geralmente associada ao planejamento territorial, mas apenas a França 
possuía um sistema formalizado por lei (Wathern, 1988). Dentre os países da 
comunidade europeia, vale destacar a legislação francesa  primeiro país a 
adotar de forma legal a AIA. A França, por conta de diferenças em seu regime 
jurídico, apresentou peculiaridades importantes com relação ao sistema 
americano. Uma delas, e talvez uma das mais importantes para nós, é a 
exigência de realização do estudo por parte do próprio interessado na atividade 
e/ou no empreendimento, seja ele público ou privado, diferentemente da 
legislação americana, na qual a aplicação se limita a propostas públicas federais 
ou decisões do governo federal sobre iniciativas privadas (Sanchez, 2008). 
 
 
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 18 
 
Outros marcos importantes que colaboraram para a discussão da disseminação 
e implementação dos processos de AIA no mundo foram aqueles 
proporcionados pelos acordos internacionais e a pressão feita pelos bancos de 
financiamento e desenvolvimento multilaterais. 
 
O primeiro dos acordos internacionais na história da construção das AIA foi a 
realização da Conferência de Estocolmo em 1972. Em sua declaração, a 
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano faz sete 
proclamações sobre a responsabilidade e a necessidade dos vários atores 
(países, cidadãos e empresas) em se responsabilizar e tomar medidas de 
preservação do meio ambiente com base na necessidade da própria existência 
da vida humana no planeta e da melhoria e manutenção de sua qualidade. Essa 
carta contém 26 princípios básicos sobre diretrizes que devem ser adotadas ou 
observadas em âmbito internacional. Podem ser considerados os mais 
diretamente relacionadas com ações de AIA os seguintes princípios: 
 
“Princípio 5 
Os recursos não renováveis da terra devem empregar-se de forma que se evite 
o perigo de seu futuro esgotamento e se assegure que toda a humanidade 
compartilhe dos benefícios de sua utilização. 
 
Princípio 6 
Deve-se por fim à descarga de substâncias tóxicas ou de outros materiais que 
liberam calor, em quantidades ou concentrações tais que o meio ambiente não 
possa neutralizá-los, para que não se causem danos graves e irreparáveis aos 
ecossistemas. Deve-se apoiar a justa luta dos povos de todos os países contra 
a poluição. 
 
 
 
 
 
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 19 
Princípio 7 
Os Estados deverão tomar todas as medidas possíveis para impedir a poluição 
dos mares por substâncias que possam por em perigo a saúde do homem, os 
recursos vivos e a vida marinha, menosprezar as possibilidades de 
derramamento ou impedir outras utilizações legítimas do mar”. 
 
Tais princípios referem-se direta e explicitamente aos perigos da poluição e à 
necessidade de ações de preservação de recursos naturais não renováveis. A 
preocupação com outras formas de degradação vem mais explicitamente 
definida nos Princípios 13 e 14, que fazem uma correlação direta entre a 
proteção do meio ambiente e o desenvolvimento: 
 
“Princípio 13 
Com o fim de se conseguir um ordenamento mais racional dos recursos e 
melhorar assim as condições ambientais, os Estados deveriam adotar um 
enfoque integrado e coordenado de planejamento de seu desenvolvimento, de 
modo a que fique assegurada a compatibilidade entre o desenvolvimento e a 
necessidade de proteger e melhorar o meio ambiente humano em benefício de 
sua população. 
 
Princípio 14 
O planejamento racional constitui um instrumento indispensável para conciliar 
às diferençasque possam surgir entre as exigências do desenvolvimento e a 
necessidade de proteger e melhorar o meio ambiente”. 
 
Esse documento reforçou as necessidades de se promoverem ações de 
preservação do meio ambiente em âmbito mundial, e muitos princípios desse 
documento são adotados como diretrizes para a elaboração de sistemas que 
tentem conciliar desenvolvimento e preservação ambiental. A preocupação com 
a ampliação e normatização destes sistemas aparece também em outros 
documentos internacionais como a Conferência das Nações Unidas sobre Meio 
 
 
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 20 
Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD) (a Rio-92), que em três de seus 
documentos, a Declaração do Rio, a Agenda 21 e a Convenção sobre 
Diversidade Biológica (CDB), inclui em seus princípios e capítulos menções a 
AIA. A elaboração desses documentos suscitou uma série de discussões, e, 
embora alguns deles, como, por exemplo, a Agenda 21 tenham pouco efeito 
normativo (Soares 2003), eles acarretaram uma série de ações em outros 
países, como a criação de novas leis sobre o assunto e até mesmo tratados 
internacionais multilaterais como a Convenção sobre Avaliação de Impacto 
Ambiental em um Contexto Transfronteiriço (Convenção de Spoo), promovida 
pela Comissão Econômica das Nações Unidas para a Europa (Sanchez, 2008). 
 
Os bancos (Banco Mundial [BID] e Banco Interamericano de Desenvolvimento 
[BIRD]) e as agências de desenvolvimento multilaterais (USAID e OCDE), 
pressionados pelas organizações não governamentais (ONG) ambientalistas e 
pela sociedade civil nos EUA e na Europa foram também pressionadas a 
elaborar estudos de AIA para suas atividades e acordos de cooperação, o que 
levou outras agências do mundo (ACDI/CIDA, no Canadá, e Danida, na 
Dinamarca) a também estabelecerem seus procedimentos de avaliação de 
projetos no que concerne a AIA (Sanchez, 2008). 
 
Considerando-se o histórico, pode-se perceber que a implementação das ações 
de AIA no mundo foi, em grande parte, resultado de significativa pressão da 
sociedade civil e do movimento ambiental organizado, os quais tiveram papel 
relevante em pressionar as autoridades para a implementação das ações que 
visem ao cuidado de empreendimentos que afetem a qualidade de vida 
humana. Foi e ainda é por intermédio dessas pressões que muitos dos 
processos de licenciamento de grandes obras e empreendimentos têm seu 
avanço diminuído ou mesmo impedido por conta do aspecto duvidoso de seus 
impactos ambientais, sociais e culturais, por mecanismos que possibilitam a 
participação direta de segmentos sociais no processo de licenciamento 
ambiental. Veremos agora um pouco do histórico da AIA no Brasil. 
 
 
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 21 
 
1Segundo o Oxford Dictionary, statement pode ser definido como algo que 
alguém diz ou escreve oficialmente ou uma ação feita para expressar uma 
opinião. 
 
2.3 Histórico Brasileiro e Legislação 
 
Historicamente, desde a época do Brasil colônia já existiam algumas 
preocupações com relação ao uso dos recursos naturais. No século XVIII, a 
Coroa Portuguesa editou medidas e alvarás para racionalizar o uso de madeiras 
de lei para a construção naval e para a derrubada dos mangues utilizados em 
curtumes (Dean, 2002). Desde essa época, impactos relativos à mineração e à 
expansão das fronteiras agrícolas também já eram percebidos como grandes 
entraves ao desenvolvimento nacional (Pádua, 1987, 2002). 
 
Na legislação brasileira, houve uma grande quantidade de leis promulgadas na 
década de 1930 as quais visavam racionalizar o uso dos recursos naturais, dada 
a intensa fase de industrialização promovida por Getúlio Vargas (Sanchez, 
2008). Datam dessa época o Código de Águas (1934), o Código Florestal 
(1934), o Código de Minas (1934), o Decreto-Lei de Proteção ao Patrimônio 
Histórico, Artístico e Arqueológico (1937) e o Código de Pesca (1938). Essas 
leis visavam regulamentar o uso de recursos específicos atendendo às 
demandas da época e, portanto, não se constituíam em uma política ambiental 
brasileira. No entanto, já apresentavam avanços no que diz respeito à proteção 
de áreas naturais tais como o estabelecimento de florestas protetoras pelo 
código florestal, reconhecendo as funções desses ambientes em vários 
aspectos tais como regulação do volume de águas e conservação das espécies 
(Sanchez, 2008). 
 
No governo militar houve a revisão de vários códigos promulgados na década 
de 1930. Cabe ressaltar as modificações ao código florestal brasileiro, o que 
 
 
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 22 
resultou no Código Florestal de 1964. Dentre essas modificações, por exemplo, 
há a criação das áreas de preservação permanentes (APP), áreas florestadas 
ao redor de corpos hídricos e em regiões de instabilidade ou fragilidade 
geomorfológica. 
 
Uma conjunção de fatores internos e externos propiciaram a evolução das 
políticas ambientais no Brasil levando a implementação da AIA (Pádua, 1991). 
Como fatores externos, assim como aconteceu em outros países em 
desenvolvimento, a implementação de ações de AIA era exigência de 
organismos multilaterais de financiamento como o BIRD e o BID. Alguns 
projetos do final da década de 1970 e início da de 1980, como a usina 
hidrelétrica de Sobradinho e o ponto de exportação de minério da Companhia 
Vale do Rio Doce, financiados pelos órgãos anteriormente citados, tiveram que 
realizar seus estudos de impacto ambiental (Sanchez, 2008). Tais estudos 
foram conduzidos com base em normas internacionais, já que o Brasil ainda 
não havia desenvolvido normas próprias (Absy et al., 1995). Como fatores 
internos, podemos citar o surgimento de atividades desenvolvidas no meio 
acadêmico, os movimentos sociais e os setores dos movimentos ambientalistas 
que apontavam, nos projetos de desenvolvimento, a exclusão social, os 
impactos ambientais relacionados aos mesmos (Tundisi, 1978; Lutzemberger, 
1980) e o problemas ambientais, principalmente a poluição e a escassez de 
água, relacionados com as atividades da indústria e com o uso e ocupação do 
solo. 
 
Para a consolidação das ações de AIA no Brasil, não somente as inciativas e as 
leis no âmbito federal foram importantes, também as leis e as ações realizadas 
nos âmbitos estaduais, pois a institucionalização da avaliação de impactos 
ambientais foi primeiramente realizada nesses níveis. Particularmente, a 
experiência do Rio de Janeiro serviu de base para a regulamentação da AIA no 
país. Foi a implementação de um sistema estadual de licenciamento de fontes 
de poluição que possibilitou que se estabelecessem as bases para a análise dos 
 
 
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 23 
licenciamentos ambientais e, mais tarde, a exigência de um relatório de 
impacto ambiental, o que permitiu uma abrangência maior na análise dos 
problemas ambientais envolvidos, não os restringindo apenas às questões de 
poluição (como já discutido no capítulo). O comprometimento dos profissionais 
dos órgãos públicos envolvidos na implementação da AIA e o desenvolvimento 
técnico desses profissionais teve grande importância no processo de 
regulamentação da AIA no país (Sanchez, 2008). 
 
A AIA surge como instrumento legal pela primeira vez na Política Nacional do 
Meio Ambiente (Lei no 6.938/81), que institui no plano federal a avaliação de 
impacto ambiental e o licenciamento ambiental, antes somente existentes em 
alguns estados. Antes dela, legislações específicas sobre a aplicação de AIA 
para subsidiar “áreas críticas de poluição” (Lei no 6803/80) e um projeto de lei 
sobre zoneamento industrial, que previa a delimitação de zonas de uso 
exclusivamente industrial, jápreviam avaliações de impacto ambiental para a 
execução dessas atividades no âmbito federal (Machado, 2003). Em seus 
artigos 10 (este com redação determinada pela Lei no 7804/1989) e 11, inserem 
a obrigatoriedade da realização do licenciamento ambiental, estipulando como 
deve ser dada publicidade ao processo e delimitam as responsabilidades do 
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis 
(Ibama) e do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) na elaboração, 
acompanhamento e fiscalização das atividades de licenciamento ambiental 
(PNMA, 1981). No seu artigo 12, determina que as entidades e órgãos de 
financiamento e incentivos governamentais também tenham a concessão de 
seus benefícios a aprovação do licenciamento e condicionadas a realização de 
obras e aquisição de equipamentos destinados ao controle da degradação 
ambiental e à melhoria na qualidade de vida. Muitos artigos dessa lei tiveram 
a redação de seu caput alterada pela Lei no 7804/1989 ou regulamentada pela 
Lei no 99274/1990, dentre os principais motivos é que com a Lei 7735/1989 o 
IBAMA é criado e outras entidades autárquicas são extintas tais como a 
 
 
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 24 
Secretaria Especial ao Meio Ambiente (Sema) e a Superintendência do 
Desenvolvimento da Pesca (Sudepe). 
 
Em 1986, é aprovada a Resolução Conama no 001. Esta surge como 
necessidade de implementação pelo Conama do exercício das 
responsabilidades que lhe são atribuídas pelo artigo 18 do Decreto no 
88.351/83, que estabelece os princípios gerais para o licenciamento ambiental, 
inclusive os itens relativos à elaboração do relatório de impacto ambiental 
(Rima) e do estudo de impacto ambiental (EIA) (EIA/Rima). Este artigo passa 
a ser o de número 17 nas modificações implementadas pelo Decreto Federal 
no 99.274, de 6 de junho de 1990. 
 
A Resolução Conama no 001/86 também define o escopo de aspectos a serem 
contemplados nesses estudos e discrimina os tipos de atividades que deverão 
passar pelo processo de licenciamento ambiental, definindo o papel dos órgãos 
competentes no processo e as responsabilidades de condução do processo por 
parte dos atores envolvidos. Cabe ressaltar a similaridade com a legislação 
francesa no que diz respeito a atribuições de responsabilidades de condução 
dos estudos e relatórios por parte dos requerentes do empreendimento, 
diferentemente da legislação americana em que o responsável é o órgão 
público. No mesmo ano, a Resolução Conama no 006 trata dos modelos de 
publicação de pedidos de licenciamento, em quaisquer de suas modalidades, 
sua renovação e a respectiva concessão de licença, constando instruções para 
a publicação em jornal oficial do Estado e periódicos de grande circulação, e a 
Resolução Conama no 011 altera e acrescenta atividades no artigo 2o. 
 
Um marco legislativo importante no que diz respeito à participação social nos 
processos de licenciamento foi a promulgação da Resolução Conama no 009/87, 
que dispõe sobre a questão das audiências públicas e regulamenta os processos 
de chamada e execução de tais audiências, colocando como documento dos 
estudos de AIA as atas e os anexos provenientes de tais audiências. Mais à 
 
 
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 25 
frente veremos que, atualmente, existe uma série de outros mecanismos de 
participação social nos processos de licenciamento. Nesse mesmo ano, a 
Resolução Conama no 006 estabelece regras gerais para o licenciamento 
ambiental de obras de grande porte de interesse relevante da União, como a 
geração de energia elétrica, e a Resolução Conama no 010 estabelece como 
pré-requisito para licenciamento de obras de grande porte a implantação de 
uma estação ecológica pela instituição ou empresa responsável pelo 
empreendimento com a finalidade de reparar danos ambientais causados pela 
destruição de florestas e outros ecossistemas. 
 
Em 1988, a Constituição Federal deixa explícito em seu artigo 225 a 
responsabilidade de todos em relação à manutenção da qualidade do meio 
ambiente para esta e outras gerações futuras e, no seu inciso IV, estabelece o 
vínculo entre os estudos de impacto ambiental e o licenciamento e a 
obrigatoriedade de sua publicidade. Essa modificação na constituição selou o 
arcabouço legislativo básico sobre o qual após se sucederam algumas 
modificações de regulamentação e aprimoramento para a realização das 
atividades de AIA no Brasil que formam o arcabouço legal atual. As principais 
delas são descritas a seguir. 
 
Ainda em 1988, a Resolução Conama no 005 dispõe sobre licenciamento das 
obras de saneamento para as quais seja possível identificar modificações 
ambientais significativas e a Resolução Conama no 008 dispõe sobre 
licenciamento de atividade mineral, o uso do mercúrio metálico e do cianeto 
em áreas de extração de ouro. 
 
O Decreto no 99274, promulgado em 1990, no Capítulo 4, trata do 
licenciamento ambiental de atividades utilizadoras de recursos ambientais, 
consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras, bem como dos 
empreendimentos capazes, sob qualquer forma, de causar degradação 
ambiental e, no Capítulo 5, seus artigos apresentam modificações importantes 
 
 
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 26 
como, por exemplo, a não obrigatoriedade do Rima em casos de sigilo 
industrial. Também estabelece em seu Capítulo 18 a regulamentação da 
capacidade de determinação de redução das atividades poluidoras por parte do 
Ibama, e no seu Capítulo 19 regulamenta os tipos de licença que este pode 
conceder, discriminando o que é licença prévia (LP), licença de instalação (LI) 
e licença de operação (LP). 
 
Ainda em 1990, duas resoluções Conama tratam especificamente do 
licenciamento de atividades de extração mineral. A Resolução Conama no 009 
estabelece normas específicas para o licenciamento ambiental de extração 
mineral de diversas classes e a Resolução Conama no 010 estabelece critérios 
específicos para o licenciamento ambiental de extração mineral da classe II. 
Tais classes foram estabelecidas pelo Decreto-Lei no 227, de 28 de fevereiro de 
1967. 
 
A Resolução Conama no 237/1997 revê os procedimentos e os critérios 
utilizados no licenciamento ambiental dando nova regulamentação à vários 
aspectos da legislação anterior. Dentre elas, podem-se destacar a 
discriminação, de forma mais detalhada, de empreendimentos e atividades que 
estão sujeitos ao licenciamento ambiental e a regulamentação das etapas do 
procedimento de licenciamento. É importante ressaltar que no seu artigo 12 a 
resolução prevê que o órgão ambiental pode definir procedimentos específicos 
dadas as características e peculiaridades de atividades ou empreendimento, 
podendo haver simplificação do processo para empreendimentos de pequeno 
impacto ambiental, para grupos de empreendimentos e atividades similares 
pequenos e vizinhos e para a simplificação também de empreendimentos que 
implementem planos e programas voluntários de gestão ambiental. Em 2001, 
com a Resolução Conama no 279 os procedimentos de licenciamento ambiental 
foram simplificados para empreendimentos elétricos de pequeno potencial de 
impacto ambiental. 
 
 
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 27 
Posteriormente, outras resoluções Conama foram sendo promulgadas em 
aspectos mais específicos da legislação, tais como os requisitos mínimos e 
termos de referência para a realização de auditorias ambientais (Conama 
306/2002), os casos de utilidade pública, interesse social ou baixo impacto 
ambiental que possibilitam a supressão de vegetação em áreas de preservação 
permanente (APP) (Conama 369/2006), o licenciamento ambiental simplificado 
de sistemasde esgotamento sanitário (Conama 377/2006) e o licenciamento 
ambiental de novos empreendimentos destinados à construção de habitações 
de interesse social (Conama 412/2009). Todas essas resoluções visavam à 
facilitação da implementação de projetos de forte interesse na agenda política 
do governo vigente na época. 
 
Atualmente, a legislação ambiental brasileira prevê uma série de tipos de 
estudos que não EIA e Rima, como, por exemplo, o plano de recuperação de 
áreas degradadas (Prad), o relatório de controle ambiental (RCA), o estudo de 
impacto de vizinhança (EIV), entre outros que foram surgindo dada a 
necessidade de contemplar aspectos peculiares de determinados impactos e 
suprir outras demandas. Esses tipos de estudo serão abordados 
posteriormente. De maneira complementar, muitos manuais de órgãos 
estaduais têm sido elaborados, e uma vasta legislação, nos âmbitos estadual e 
municipal, tem sido criada. 
 
Estudaremos agora as etapas do licenciamento ambiental e alguns aspectos 
que devem ser contemplados em sua elaboração. 
 
2.4 Definição, Tipos e Etapas do Licenciamento Ambiental 
 
Segundo a Resolução Conama no 237/97, o licenciamento ambiental é um 
procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia 
localização, instalação, ampliação e operação de empreendimentos e atividades 
utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente 
 
 
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 28 
poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação 
ambiental. Pode-se dizer que, atualmente, o licenciamento ambiental tem 
funções de caráter preventivo e corretivo. Como função preventiva, a ideia é 
fazer ajustes e modificações necessárias nos projetos de obras e 
empreendimentos que possam reduzir possíveis danos ao meio ambiente 
decorrentes de suas atividades. Tais reduções devem contemplar os diferentes 
aspectos ambientais, sociais e culturais das atividades propostas. Como função 
corretiva, o licenciamento pode ser condicionado à realização de ações de 
compensação necessárias para a mitigação de tais atividades. 
 
Essas funções foram definidas quando da promulgação do Decreto no 
99274/1990, em que foram determinados três tipos de licença, definidas de 
acordo com as etapas da obra ou empreendimento: 
 
 Licença prévia: é solicitada na fase de planejamento do 
empreendimento ou atividade ou no caso de alteração e ampliação deste. Este 
precede as fases de instalação e operação e seu objetivo principal é avaliar 
quais possíveis danos ao meio ambiente podem ser causados por tais atividades 
e que condições são necessárias para o prosseguimento de elaboração do 
projeto. Nessa fase devem ser observados os planos municipais, estaduais ou 
federais de uso de solo. 
 
 Licença instalação: autoriza a instalação do empreendimento ou 
atividade de acordo com as especificações constantes dos planos, programas 
e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e demais 
condicionantes. 
 
 
 Licença de operação: autoriza o início da operação da atividade ou 
empreendimento, após a verificação dos requisitos e do cumprimento das 
exigências constantes nas LP e LI. 
 
 
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 29 
Os prazos de validade das licenças mencionadas anteriormente são 
estabelecidos pelos órgãos ambiental competente, tendo LP e LI prazo máximo 
de, respectivamente, 5 e 6 anos e a LO prazo mínimo de 4 e máximo de 10 
anos. O órgão ambiental pode alterar os prazos de validade previamente 
concedidos a uma determinada licença, porém estes não podem ultrapassar os 
limites máximos discriminados anteriormente. 
 
A exigência desses três tipos de licença segue a lógica do cumprimento de 
etapas em que é possível ter maior controle e previsibilidade nas alterações 
que os empreendimentos podem causar no meio ambiente, estabelecendo de 
antemão seu grau e, quando for o caso, reduzindo-o a níveis aceitáveis. O rol 
de empreendimentos e atividades sujeitas ao licenciamento ambiental estão 
relacionados no Anexo 1 da Resolução Conama no 237/1997 e são 
discriminados nos seguintes tipos de atividades: extração e tratamento de 
minerais, indústria de produtos minerais não metálicos, indústria metalúrgica, 
indústria mecânica, indústria de material elétrico, eletrônico e comunicações, 
indústria de material de transporte, indústria de madeira, indústria de papel e 
celulose, indústria de borracha, indústria de couros e peles, indústria química, 
indústria de produtos de matéria plástica, indústria de produtos alimentares e 
bebidas, indústria de fumo, indústrias diversas (produção de concreto, asfalto 
e galvanoplastia), obras civis, serviços de utilidade, transporte, terminais e 
depósitos, turismo, atividades diversas, atividades agropecuárias e uso de 
recursos naturais. Para cada um desses itens (tipos de atividade) há uma série 
de subitens que detalham que atividades estão compreendidas em cada um 
deles. Por exemplo, no item atividades diversas compreende o parcelamento 
do solo e a instalação de distrito e polo industrial. Pode-se perceber nessa 
resolução a preocupação em determinar um escopo meticuloso das atividades 
que devem ser submetidas ao licenciamento, não dando margem a 
interpretações dúbias no que diz respeito ao que é ou não uma atividade que 
possa causar impacto ambiental. 
 
 
 
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 30 
Além disso, esse detalhamento é importante, pois, para cada tipo de licença, é 
necessário um conjunto diferente de documentos determinada pelo órgão 
licenciador responsável (municipal, estadual ou federal). 
 
Segundo o artigo 10 da Resolução Conama no 237/1997, as etapas do 
procedimento de licenciamento ambiental são as seguintes: 
 
I- definição pelo órgão ambiental competente, com a participação do 
empreendedor, dos documentos, projetos e estudos ambientais, necessários 
ao início do processo de licenciamento correspondente à licença a ser 
requerida; 
 
II- requerimento da licença ambiental pelo empreendedor, acompanhado 
dos documentos, projetos e estudos ambientais pertinentes, dando-se a devida 
publicidade; 
 
III- análise pelo órgão ambiental competente, integrante do Sistema 
Nacional de Meio Ambiente (Sisnama), dos documentos, projetos e estudos 
ambientais apresentados e a realização de vistorias técnicas, quando 
necessárias; 
 
IV- solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão ambiental 
competente, integrante do Sisnama, uma única vez, em decorrência da análise 
dos documentos, projetos e estudos ambientais apresentados, quando couber, 
podendo haver a reiteração da mesma solicitação caso os esclarecimentos e 
complementações não tenham sido satisfatórios; 
 
V- audiência pública, quando couber, de acordo com a regulamentação 
pertinente; 
 
 
 
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 31 
VI- solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão ambiental 
competente, decorrentes de audiências públicas, quando couber, podendo 
haver reiteração da solicitação quando os esclarecimentos e as 
complementações não tenham sido satisfatórios; 
 
VII- emissão de parecer técnico conclusivo e, quando couber, parecer 
jurídico; 
 
VIII- deferimento ou indeferimento do pedido de licença, dando-se a devida 
publicidade. 
 
Existem ainda mais dois tipos de licença para empreendimentos que foram 
construídos antes de as regras de licenciamento serem elaboradas: a licença 
de instalação corretiva (LIC), que é direcionada para empreendimentos 
instalados ou em instalação e que ainda não procederam ao licenciamento 
ambiental, e a licença de operaçãocorretiva (LOC), que é direcionada para 
empreendimentos em operação e que ainda não procederam ao licenciamento 
ambiental (Fiemig, sem ano). Veremos um estudo de caso de LOC no estudo 
de caso do Capítulo 8. 
 
3 . Avaliação de Impacto Ambiental, suas Fases e Indicadores 
 
3.1 Introdução 
 
A AIA é um instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei no 6.938/81) 
formado por um conjunto de procedimentos capaz de assegurar, desde o início 
do processo, que se faça um exame sistemático dos impactos ambientais de 
uma ação proposta (projeto, programa, plano ou política) e de suas 
alternativas, que os resultados sejam apresentados de forma adequada ao 
público e aos responsáveis pela tomada de decisão, e por eles devidamente 
considerados. Ela é realizada em três etapas: triagem, identificação, previsão 
 
 
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 32 
e interpretação da importância dos impactos ambientais relevantes (Silva, 
1994a). Neste capítulo estudaremos as fases da AIA, bem como os indicadores 
ambientais utilizados para a sua elaboração. 
 
3.2 Fases da Avaliação de Impacto Ambiental 
 
A AIA pode funcionar como instrumento para duas finalidades diferentes. A 
primeira é ser um instrumento auxiliar do processo de decisão, representando 
um método de análise sistemática, por meio de parâmetros técnico-científicos, 
dos impactos ambientais associados a um determinado projeto. A segunda é 
ser instrumento de auxílio ao processo de negociação  esta vertente, político-
institucional, atribui para a AIA um papel de interlocutor entre os projetos 
públicos e/ou privados com a sociedade na qual esses projetos estão inseridos. 
 
A AIA é necessária para empreendimentos que gerem impactos ambientais 
“significativos”. A definição de impactos ambientais significativos depende da 
relação entre a capacidade de resistência ou resiliência dos ecossistemas e da 
magnitude do impacto gerado. Empreendimentos que gerem impactos 
ambientais de pequena magnitude podem ser controlados por normas e regras 
de controle da geração e disposição final de resíduos, não sendo assim 
necessária a realização de estudos completos de AIA, apenas o cumprimento 
das normas já estabelecidas pela legislação (Sanchez, 2006). Um exemplo é o 
licenciamento de postos de gasolina. No Brasil, a legislação pertinente à 
atividade de armazenamento e distribuição de combustível é a no 237/97, que 
cita a atividade como sendo sujeita ao licenciamento ambiental. No entanto, o 
Conama publicou a Resolução no 273/2000, com a principal finalidade de 
padronizar os procedimentos e o licenciamento das atividades que possuem 
armazenagem de combustíveis, como os postos de gasolina e transportadores-
revendedores-retalhistas (Lorenzett, 2010). Essa resolução é bem clara no que 
diz respeito à responsabilidade dos postos de combustíveis, pois dispõe que, 
em caso de acidentes ou vazamentos que apresentem situações de perigo ao 
 
 
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 33 
meio ambiente ou às pessoas, bem como na ocorrência de passivos ambientais, 
proprietários, arrendatários ou responsáveis pelo estabelecimento, 
equipamentos, sistemas e os fornecedores de combustíveis que abastecem ou 
abasteceram a unidade responderão solidariamente pela adoção de medidas 
para controle da situação emergencial e para o saneamento das áreas 
impactantes. 
 
Essa mesma resolução também diz que os equipamentos e sistemas destinados 
ao armazenamento e à distribuição de combustíveis automotivos, assim como 
sua montagem e instalação, deverão ser avaliados quanto à sua conformidade 
no âmbito do Sistema Brasileiro de Certificação. Previamente à entrada em 
operação e com periodicidade não superior a 5 anos, os equipamentos e 
sistemas deverão ser testados e ensaiados para a comprovação da inexistência 
de falhas ou vazamentos, segundo procedimentos padrões, de maneira que 
possibilite a avaliação de sua conformidade no âmbito do Sistema Brasileiro de 
Certificação (Figura 3.1). Assim, a correta observação das normas na instalação 
e operação desse tipo de empreendimento exime-o de um processo de AIA 
completo. 
 
 
 
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 34 
 
Figura 3.1 A) Canaletas utilizadas para recolhimento de água contaminada por 
resíduos de óleo. B) Caixa de separação de óleo e resíduos. 
 
Em ambientes que possuem funções ecológicas ou culturais importantes tais 
como zonas de recarga de aquíferos, cenários de grande beleza cênica, regiões 
de solos cársticos (solos calcários frágeis, geralmente associados a existência 
de ambientes espeleológicos), regiões de alta biodiversidade ou de ocorrência 
de espécies endêmicas, entre outros, sobretudo onde os impactos têm caráter 
irreversível, cumulativos ou sinérgicos, a realização completa da AIA é 
obrigatória. 
 
A primeira etapa da AIA é a triagem que consiste em classificar os tipos de 
empreendimentos de acordo com o seu potencial poluidor. Tais listas 
classificam os empreendimentos pelo seu potencial poluidor em 
 
 
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 35 
empreendimentos que necessitam de estudo de impacto prévio, chamados de 
listas positivas, e aqueles empreendimentos que, a princípio, não necessitam 
de tais estudos, chamados de listas negativas. Tais listas são classificações 
prévias genéricas do potencial poluidor dos empreendimentos e facilitam 
bastante o processo de AIA. No entanto, características locais das áreas onde 
serão instalados os empreendimentos devem ser observadas. Áreas de 
relevante interesse ecológico, por exemplo, necessitam de estudos de AIA 
independentemente do tipo de empreendimento. Por exemplo, o Decreto 
Federal no 99556/1990 estabelece a necessidade de preparação de EIA para 
obras ou empreendimentos potencialmente lesivos ao patrimônio espeleológico 
nacional. Esse e outros tipos de ambientes são considerados especiais por 
conta de sua beleza cênica, vulnerabilidade e razões de ordem histórica e social 
e exigem a realização de EIA independentemente do tipo de empreendimento 
(Ibama/MMA 2001). A aplicação direta de tais critérios é problemática, pois 
existe uma diferença grande entre tipos de empreendimentos e a delimitação 
clara se eles podem ou não causar impactos ambientais significativos; cada 
caso deve ser considerado com cuidado. Em casos nos quais a aplicação dos 
critérios mencionados suscita dúvidas sobre a necessidade de se elaborar um 
EIA completo pode-se recorrer à elaboração de estudos preliminares. Em São 
Paulo, por exemplo, por intermédio da Resolução SMA no 42/94, criou-se uma 
avaliação inicial chama de relatório ambiental preliminar (RAP) para os casos 
de projetos cujos potenciais de impacto não são evidentes. 
 
Para que os critérios de triagem sejam aplicados é necessário que o 
empreendedor apresente um memorial descritivo do projeto, com informações 
essenciais tais como: local do projeto, suas características ambientais e do 
entorno e descrição do projeto e suas alternativas. Esses documentos são 
fundamentais para que o órgão competente possa analisar o projeto com base 
nos critérios acima expostos. É importante também dar-se publicidade ao 
projeto nessa etapa e nas etapas seguintes para que a opinião pública se 
manifeste caso haja algum problema, evitando assim transtornos futuros. As 
 
 
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 36 
etapas que compõem um processo de AIA estão esquematicamente resumidas 
na Figura 3.2. 
 
 
 
Figura 3.2 Etapas do processo de AIA. (Fonte: Prof. Eduardo Lucena Cavalcanti 
de Amorim, disponível em 
http://www.ctec.ufal.br/professor/elca/Aula%20Conceitos%20AIA2.pdf, 
acesso em 20/02/2016) 
 
A identificaçãodos impactos ambientais apresenta dificuldades inerentes à sua 
delimitação espaço-temporal, exigindo ampla análise de toda uma possível 
gama de interações, o que a torna de difícil execução. Outro problema reside 
na natureza diferenciada desses efeitos, o que dificulta o estabelecimento de 
um padrão de mensuração comum. A fase de predição dos impactos ambientais 
também envolve limitações instrumentais relativas à previsão do 
comportamento de ecossistemas complexos. Essa fase é normalmente 
chamada na literatura interacional de scoping, que, em português, pode ser 
definido como escopo do projeto. 
 
 
 
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 37 
Normalmente ela é feita pela elaboração de um termo de referência (TR). Nesse 
documento o órgão ambiental apresenta os aspectos relevantes que devem ser 
abordados e indicações de como o problema deve ser abordado, que tipo de 
estudo, duração e periodicidade deste. Alguns podem chegar a um nível de 
detalhamento bastante alto, como, por exemplo, indicar espécies da flora e 
fauna que devem ser monitoradas. Em algumas jurisdições, como, por 
exemplo, Rio de Janeiro e São Paulo, o TR é elaborado a partir de um plano de 
trabalho que deve ser elaborado e entregue pelo empreendedor. O plano de 
trabalho deve explicitar os aspectos a serem analisados, bem como as 
metodologias necessárias para o estudo, e com base nesse documento o órgão 
ambiental faz o TR. No Brasil, as jurisdições que adotam uma sistemática 
estruturada para a realização de TR dão nomes distintos a esse documento. No 
Rio de Janeiro, por exemplo, o TR é denominado Instruções Técnicas (Art. 2o, 
Lei no 1356/1988). 
 
A consulta à legislação vigente fornece uma boa referência das restrições e 
aspectos que podem influenciar a elaboração tanto do plano de trabalho quanto 
do TR. A consulta a convenções internacionais e outros documentos de 
entidades governamentais, não governamentais que tratem de diversidade 
biológica e preservação de áreas de relevância para o patrimônio ambiental, 
histórico e cultural fornecem uma boa referência para a identificação de 
elementos relevantes do ambiente (Beanlands & Duinker, 1983). Uma fonte de 
consulta interessante é a página da International Association for Impact 
Assesment (IAIA) (http://www.iaia.org). Nessa página pode ser encontrada 
uma bibliografia vasta sobre a identificação de elementos relevantes para EIA. 
Essa identificação, quando colocada sob a ótica tanto dos profissionais que vão 
analisar o processo quanto do público interessado, pode ajudar a identificar 
tais elementos. Muitas vezes espécies da fauna e flora podem não estar em 
listas de espécies ameaçadas de extinção, mas possuir valor cultural ou 
medicinal valorizado localmente pelas populações. A concepção moderna de 
AIA incorpora o público em diferentes fases do processo. Embora seja de difícil 
 
 
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 38 
operacionalização, isso reduz o nível de subjetividade presente na avaliação e 
também evita que este seja um entrave grande para o andamento do processo 
de AIA no futuro, evitando conflitos antes não previstos. 
 
Por esse motivo, é preciso levar em consideração na formulação do TR diversas 
alternativas ao projeto original, confrontando com a alternativa de não realizá-
lo, segundo estipula a Resolução Conama no 1/86 no seu art. 5o: “contemplar 
todas as alternativas tecnológicas e de localização de projeto, confrontando-se 
com a hipótese de não realização do projeto”. A realização de um elenco de 
alternativas possíveis ajuda a evitar problemas futuros, auxiliando inclusive que 
os EIA não tenham que ser refeitos várias vezes. 
 
Identificando-se a necessidade de elaboração do EIA, seguem-se as fases de 
identificação dos impactos, predição e avaliação. Atualmente, também são 
utilizadas as etapas de definição de objetivos e de monitoramento, 
denominadas de fases de pré e pós-impacto, respectivamente (Westman, 
1985). Enquanto a primeira induz à ampliação e ao aprimoramento da 
discussão dos objetivos do estudo sob as diferentes óticas dos atores 
envolvidos antes do início do processo, a segunda propicia uma realimentação 
fundamental para a avaliação que opera, frequentemente, com um elevado 
grau de incerteza. Também é possível, em casos previstos na Resolução no 
279/2001, que o empreendedor apresente um relatório de avaliação 
simplificado (RAS), que, como o próprio nome diz, é uma simplificação do 
documento de EIA dado o baixo potencial de impacto de certas atividades 
(abordaremos esse instrumento com mais detalhes no capítulo seguinte). Os 
métodos para predição e avaliação dos impactos ambientais serão vistos no 
Capítulo 7. 
 
Convém ressaltar que, embora o EIA/Rima seja o principal documento em um 
processo de avaliação de impactos ambientais, outros relatórios possíveis 
podem ser elaborados dependendo do caso, alguns deles podem até mesmo 
 
 
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 39 
substituir o EIA/Rima. Os principais são o plano de controle ambiental (PCA), o 
RCA, o Prad e o RAS (este já discutido). Apesar de não haver diretrizes 
específicas regulamentadas pelo Conama para a elaboração de PCA, RCA, Prad 
e outros, estes são considerados estudos ambientais, em virtude do referencial 
teórico implícito na legislação pertinente (análise dos efeitos ambientais da 
ação antrópica) e da sequência dos procedimentos requeridos por estes serem 
basicamente os mesmos da Resolução Conama no 001/86 para elaboração de 
EIA/Rima (Absy et al., 1995). 
 
O PCA é exigido pela Resolução Conama no 009/90 para concessão de LI de 
atividade de extração mineral de todas as classes previstas no Decreto-Lei no 
227/67. O RCA é exigido pela Resolução Conama no 010/90, na hipótese de 
dispensa do EIA/Rima, para a obtenção de LP de atividade de extração mineral 
da classe II, prevista no Decreto-Lei no 227/67 (classe II  jazidas de 
substâncias minerais de emprego imediato na construção civil). Por último, o 
Prad tem sido utilizado para a recomposição de áreas degradadas pela 
atividade de mineração. É elaborado de acordo com as diretrizes fixadas pela 
NBR 13030, da ABNT, e outras normas pertinentes. Não há diretrizes para 
outros tipos de atividade. 
 
3.3 Indicadores Físico, Químicos, Biológicos e Socioeconômico-
Culturais De Impactos Ambientais 
 
Indicadores ambientais podem ser definidos como “ferramentas de 
acompanhamento de alteração de padrões ambientais e de estratégias de ação 
sobre o meio ambiente através da análise sistemática e da expressão sintética 
das evoluções temporais e/ou espaciais, em relação a uma situação de 
referência, com o objetivo de estabelecer metas e verificar eficiência e eficácia 
das ações” (Sema, 1991). Eles têm caráter diagnóstico diante de uma situação 
que se quer avaliar e são compostos por variáveis e/ou parâmetros que servem 
como medidas da magnitude do impacto ou das condições ambientais que se 
 
 
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 40 
quer analisar (Munn, 1975; Moreira, 1992). Eles são construídos a partir de 
uma série de dados analisados e podem ser utilizados em conjunto para a 
elaboração de índices que expresse um conjunto de características ambientais. 
Algumas características devem ser observadas para a realização de coletas que 
possam se constituir em boas séries históricas e que possam permitir a seleção 
de indicadores, em vários níveis hierárquicos (ecossistêmas, comunidades 
etc.), que permitam a detecção dos padrões e processos ecológicos de 
funcionamento dos ecossistemas e as alterações advindas dos impactos 
antrópicos nestas características (Simberloff, 1998). Uma das dificuldades na 
utilização dessa abordagemé a definição clara de que indicadores devem ser 
utilizados e com que frequência (Lindenmayer et al., 1999). 
 
Em se tratando de impactos provocados pela poluição, atualmente existem uma 
série de indicadores ambientais que já estão estabelecidos, estando seus limites 
e variações já estabelecidos em resoluções e normas técnicas, que podem ser 
utilizados para a avaliação e o monitoramento dos diversos “compartimentos” 
que formam o ambiente (água, ar, solo e seres vivos). No entanto, fora o caso 
dos poluentes, para uma grande quantidade de indicadores de impacto, não 
existem. 
 
Como cada um desses compartimentos tem características e propriedades 
distintas o comportamento e parâmetros de poluição são diferentes. No 
entanto, pode haver similaridades no que tange à avaliação de métodos e 
parâmetros para dois ou mais tipos de “compartimentos”, como, por exemplo, 
será visto em relação aos compartimentos aquáticos e terrestres. 
Vejamos agora alguns dos parâmetros utilizados como indicadores da qualidade 
para cada tipo de compartimento ambiental. 
 
 
 
 
 
 
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 41 
3.3.1 Meio Aquático 
 
Existem vários aspectos relacionados com o monitoramento do meio aquático 
que devem ser levados em consideração. Em geral, empreendimentos e obras 
podem afetar a vazão, seja por conta do consumo seja pela dinâmica dos 
corpos hídricos, o que afeta a biota local, ou afetar a recarga de aquíferos. 
Essas alterações podem ser verificadas por cálculos de vazão e modelos que 
ajudem a entender os efeitos futuros dessas alterações. Em outros 
empreendimentos, as alterações têm efeitos na qualidade da água, são 
promovidas pelo aumento da carga de sedimentos nos corpos d’água e pelo 
assoreamento de corpos hídricos, o que altera seus parâmetros físicos e 
químicos. Os indicadores de qualidade da água podem ser divididos em 
parâmetros físicos e químicos. Parâmetros físicos estão relacionados com a 
presença de sólidos e gases na água e dentre os principais destacam-se: 
 
 Sólidos: são definidos como todas as impurezas presentes na água, 
com exceção dos gases dissolvidos. De acordo com o tamanho das partículas, 
os sólidos podem ser classificados em suspensos e dissolvidos. Os sólidos 
suspensos são constituídos principalmente de matéria orgânica e sedimentos 
de erosão e compõem a fração das partículas que fica retida após a passagem 
de uma amostra de volume conhecido por uma membrana filtrante com poro 
igual a 1,2 m. Os sólidos dissolvidos representam a fração da amostra que 
passa pela membrana de 1,2 m. 
 
 Temperatura: é uma medida da intensidade de calor. Temperaturas 
elevadas têm como consequência o aumento das taxas das reações físicas, 
químicas e biológicas, além da diminuição de solubilidade dos gases como o 
oxigênio dissolvido. 
 
 
 
 
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 42 
 Condutividade: é definida como a capacidade da água de transmitir 
corrente elétrica. Os sólidos dissolvidos são os constituintes responsáveis pela 
condutividade que pode ser utilizada como medida indireta da presença de sais. 
 
 Cor: os sólidos dissolvidos são os principais responsáveis por conferir 
coloração à água. A cor pode ser classificada em aparente e verdadeira. No 
valor da cor aparente pode estar presente a parcela causada pela turbidez, e, 
quando esta é removida, tem-se a cor verdadeira. 
 
 Turbidez: representa o grau de alteração à passagem da luz através da 
água. Os sólidos suspensos são os principais responsáveis pela turbidez 
causando difusão e a absorção da luz. Valores elevados podem reduzir a ação 
do cloro em processos de desinfecção e servir de abrigo para microrganismos. 
 
Os parâmetros químicos são aqueles que indicam a presença de alguns 
elementos ou compostos químicos. Entre os principais estão: 
 
 pH: representa a concentração de íons hidrogênio H+ (em escala 
antilogarítmica). Os sólidos dissolvidos e gases dissolvidos são os principais 
constituintes que alteram o pH. Sua faixa de variação é de 0 a 14. O valor do 
pH indica a condição de acidez ou alcalinidade da água. Valores baixos de pH 
(inferiores a 7) no pH indicam potencial corrosividade e agressividade da água, 
o que pode levar à deterioração das tubulações e peças por onde essa água 
passa. Valores elevados de pH podem levar ao surgimento de incrustações em 
tubulações. 
 
 Alcalinidade: é a medida da capacidade de neutralizar os ácidos 
através da quantidade de íons na água que reagirão para neutralizar os íons 
de hidrogênio. Os principais constituintes são os sólidos dissolvidos na forma 
de bicarbonatos (HCO3-), carbonatos (CO32-) e hidróxidos (OH-). 
 
 
 
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 43 
 
 Dureza: representa a concentração de cátions multimetálicos em 
solução (Ca2+ e o Mg2+). A dureza pode ser classificada em dureza carbonato 
(temporária, correspondente à alcalinidade, associada a HCO3- e CO32-) e 
dureza não carbonato (permanente, associada a ânions como Cl- e SO42-). Os 
constituintes responsáveis são os sólidos dissolvidos originários da dissolução 
de minerais contendo cálcio e magnésio. A principal consequência das águas 
duras é a redução na formação de espumas e o surgimento de incrustações 
nas tubulações de água quente. 
 
 Cloretos: são componentes resultantes da dissolução de sais. Os 
constituintes responsáveis estão na forma de sólidos dissolvidos. Em 
determinadas concentrações pode conferir sabor salgado à água. 
 
 Ferro e manganês: têm origem natural na dissolução de componentes 
do solo. Quando estão em suas formas insolúveis (Fe3+ e Mn4+) podem causar 
cor na água e acarretar manchas durante a lavagem de roupas e em utensílios 
sanitários. Os constituintes responsáveis são os sólidos dissolvidos. 
 
 Fósforo: presente na água sob a forma de sólidos em suspensão e 
sólidos dissolvidos. É encontrado sob as formas de ortofosfato (forma mais 
simples, diretamente disponível), polifosfato (forma mais complexa) e fósforo 
orgânico. Pode ser originário de compostos biológicos, células e excrementos 
de animais. 
 
 Nitrogênio: está presente na forma de sólidos em suspensão e sólidos 
dissolvidos. Na água pode estar sob as seguintes formas: nitrogênio molecular 
(N2), nitrogênio orgânico (dissolvido ou em suspensão), amônia (livre NH3 e 
ionizada NH4+), nitrito (NO2-) e nitrato (NO3-). Pode ter origem em proteínas, 
compostos biológicos, células e excrementos de animais. A forma 
predominante do nitrogênio pode informar o estágio da poluição. Assim, 
 
 
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS 44 
quando predomina o nitrogênio orgânico ou amônia, a poluição é recente e, 
quando predomina o nitrato, a poluição é remota. 
 
 Sulfatos: os constituintes responsáveis por este parâmetro estão na 
forma de sólidos dissolvidos. O íon sulfato pode ser um indicador de poluição 
de uma das fases da decomposição da matéria orgânica e dependendo da 
concentração pode produzir efeitos laxativos. 
 
 Matéria orgânica: a matéria orgânica pode ter origem natural ou 
antropogênica e é mensurada pelo consumo de oxigênio dissolvido na água. A 
matéria carbonácea (com base no carbono orgânico) divide-se em fração não 
biodegradável (em suspensão e dissolvida) e fração biodegradável (em 
suspensão e dissolvida). Graças à variedade de compostos presentes na 
matéria orgânica são utilizados medidas indiretas para sua quantificação, 
como: a demanda bioquímica de oxigênio (DBO) e a demanda química de 
oxigênio (DQO). A DBO representa uma indicação aproximada da matéria 
orgânica biodegradável. Na DQO a oxidação da matéria orgânica é realizada 
com o uso de

Continue navegando