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Conservação e Manejo da Biodiversidade

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1 
 
 
Ecologia: Conservação e Manejo da 
Biodiversidade. 
 
 
 
PERDA DE BIODIVERSIDADE 
 
 
Será que deveríamos nos preocupar com a extinção das espécies? Até pouco 
tempo atrás, a diversidade da vida vem aumentando aos níveis mais elevados de 
que se tem conhecimento na história da Terra ( Chapin et al., 2000). Contudo, a 
exploração da natureza pelo homem tem t ido , e ainda tem, conseqüências 
prejudiciais para a biodiversidade do planeta. Segundo estimativas, cerca de 150 
t ipos únicos de organismos são extintos diariamente ( Lamont, 1955). É bem 
verdade que muitas espécies de plantas e animais estão desaparecendo e 
continuarão a desaparecer em decorrência de atividades humanas no passado e 
no presente ( Chapin et al., 1996), mas será que essa perda afeta o funcionamento 
dos ecossistemas e influenciam o bem-estar da humanidade? 
 
A ciência conhece quase dois milhões de espécies, mas acredita -se que 
existam pelo menos 10 milhões ( e talvez até 30 milhões) de espécies ( May, 
1990). Com esse grande número de espécies, e a vasta diversidade que 
representam, seria realmente tão importante se perdêssemos algumas, ou mui tas 
que sejam? Afinal, a extinção é um processo natural – mais de 99% de todas as 
espécies que já existiram estão hoje extintas ( Leakey, 1996). Além disso, muitas 
espécies são consideradas redundantes ( Walker, 1992), o que significa que 
desempenham as mesmas funções dentro de um ecossistema. Sendo assim, a 
perda de todas as espécies que desempenham uma certa função, com exceção de 
uma, não deveria importar. Ou deveria? 
 
Em primeiro lugar, qualquer possível efeito negativo no funcionamento do 
ecossistema deve-se não apenas à perda de espécies propriamente ditas, mas à 
velocidade com que estão desaparecendo. Hoje em dia, as espécies estão 
desaparecendo de 100 a 1. 000 vezes mais rapidamente do que em épocas 
anteriores à existência do homem na terra, e a extinção adicional das espécies 
ameaçadas pode acelerar substancialmente essa perda ( Chapin et al., 1998). 
Além disso, para cada 10. 000 espécies que se extinguem, somente uma nova 
espécie chega a evoluir ( Chapin et al., 1998). Portanto, a velocidade de pe rda de 
biodiversidade atual supera largamente a velocidade com que a natureza 
consegue efetuar uma compensação e se adaptar. 
 
Em segundo lugar, as espécies redundantes conseguem se proteger contra 
as mudanças de função do ecossistema, no caso de p erda de espécies, somente 
2 
 
 
até certo ponto. Contudo, os organismos classificados por nós como idênticos em 
função muitas vezes demonstraram diferir o suficiente para adquirir uma 
importância significativa no funcionamento do ecossistema. Mesmo que algumas 
espécies sejam redundantes em termos da função que desempenham, elas 
geralmente têm diferentes condições ambientais favoráveis ao seu crescimento e 
reprodução, o que é uma proteção contra as mudanças no ecossistema se as 
condições ambientais se alterarem ( Chapin et al., 1995). Conseqüentemente, a 
perda de espécies pode não só causar efeitos diretos num ecossistema, mas 
também afetar sua capacidade de proteção contra futuras mudanças ambientais. 
 
Portanto, verificamos que as espécies estão desaparecendo mais 
rapidamente do que nunca, que a natureza não consegue acompanhar essa grande 
rapidez de extinção e que as espécies ecológicas equivalentes ( se é que existem) 
são importantes como proteção contra futuras mudanças no ambiente. Portanto, 
existem motivos de preocupação. Mas será que existe alguma prova de que a 
perda de biodiversidade cause efeitos negativos no funcionamento dos 
ecossistemas? Existem pelo menos algumas indicações e, no texto abaixo, vou 
discorrer brevemente sobre alguns resultados de estudos que investigaram os 
efeitos da perda de biodiversidade. 
 
Investigações dos efeitos da perda de biodiversidade 
 
Embora diversos estudos, particularmente na ciência agrícola, tenham 
investigado empiricamente a importância do agrupamento de várias espécies em 
épocas remotas, foi só no início da década de 90 que os primeiros estudos 
testando especificamente os efeitos da perda de biodiversidade nos processos e 
funcionamento do ecossistema foram publicados. Desde então, a pesquisa no 
campo da ecologia chamado Biodiversidade e Funcionamento do Ecossistema 
( BD-EF) aumentou consideravelmente ( vide Loreau et al., 2001, 2002, para 
estudos ). A despeito de alguns problemas com projetos experimentais, 
estatísticas e extrapolação de resultados para os sistemas naturais, houve 
progresso. A seguir, vou expor e analisar o que considero ser as mais 
importantes realizações desses estudos. 
 
Importância da Biodiversidade 
 
As primeiras contribuições empíricas no campo da BD -EF foram 
publicadas em meados dos anos 90 ( Tilman e Downing, 1994 , Naeem et al., 
1994, 1995). Esses dois estudos concluíram que a biodiversidade era importante 
para o funcionamento do ecossistema. O estud o de Naeem et al. ( 1994, 1995) foi 
realizado no Ecotron, na Inglaterra, em ecossistemas artificiais constituídos de 
vários níveis tróficos ( i . e. produtores primários, consumidores e predadores) 
contendo biodiversidade baixa, média ou alta. Descobriu -se que a biodiversidade 
afeta substancialmente diversos processos diferentes do ecossistema e que 
alguns processos aumentaram com a biodiversidade, enquanto outros 
diminuíram. Tilman e Downing ( 1994) realizaram seus estudos nos ecossistemas 
de pastagens em Cedar Creek, estado de Minnesota, EUA. Utilizaram 
tratamentos experimentais contendo de uma a 24 espécies, e verificaram que a 
produtividade e a retenção dos nutrientes do solo aumentaram com a diversidade 
vegetal. Esses estudos receberam muita atenção quando p ublicados; portanto, 
t iveram grande importância no impulso da pesquisa em BD -EF, aumentando a 
conscientização das conseqüências da perda de biodiversidade, tanto na 
comunidade científica como entre os tomadores de decisão. Propiciaram também 
um bom alicerce para futuras pesquisas. 
 
Importância do projeto experimental 
3 
 
 
Após esses primeiros estudos empíricos sobre os efeitos da perda de 
espécies, houve alguma polêmica sobre a causa desses resultados ( Aarsen, 1997 , 
Huston, 1997). Uma das sugestões era que, em vez da biodiversidade 
propriamente dita, algumas poucas espécies com forte impacto nos processos do 
ecossistema e a crescente probabilidade de essas espécies terem sido incluídas 
nos agrupamentos de alta diversidade poderiam ser responsáveis pelas 
correlações entre a biodiversidade e o funcionamento do ecossistema. Em outras 
palavras, os resultados poderiam ser fabricados pelo projeto experimental ( i . e. 
“ efeito de amostragem”). Contudo, outros ecologistas argumentaram que a 
importância de determinadas espécies e sua maior taxa de ocorrência em 
agrupamentos com maior número de espécies poderiam ser também uma 
característica importante dos sistemas naturais ( Tilman et al., 1997). Essa 
questão foi solucionada de certa forma quando foram apresentadas téc nicas 
estatísticas para separar os efeitos da biodiversidade e determinadas espécies 
( Jonsson e Malmqvist, 2000, Loreau e Hector, 2001). Além disso, a importância 
de determinadas espécies e determinadas composições de espécies deveria 
também ser objeto de interesse em estudos sobre fatores que afetam o 
funcionamento do ecossistema. De qualquer modo, esse debate foi importante 
pois conduziu a projetos experimentais mais sólidos sobre os efeitos da 
biodiversidade. 
 
Redundância das espécies 
 
Alguns estudiosos argumentaram que não é a biodiversidade per se, mas 
sim a diversidade funcional do grupo que é importante para o funcionamento do 
ecossistema. Esse argumentofundamenta - se na crença de que as espécies 
pertencentes ao mesmo grupo funcional são redun dantes. De acordo com essa 
l inha de raciocínio, as espécies podem se extinguir sem causar nenhum efeito no 
funcionamento do ecossistema, contanto que cada grupo funcional seja 
representado por pelo menos uma espécie. 
 
No entanto, embora as espécies possam parecer redundantes quanto à 
função que desempenham, elas podem se distinguir de inúmeras outras maneiras, 
i . e. atividade no tempo e no espaço, preferências ambientais ( climáticas), 
escolha específica da presa, vulnerabilidade a predadores, e a ssim por diante. 
Sustentando a noção de que espécies aparentemente redundantes diferem o 
suficiente para que cada uma seja importante no funcionamento dos 
ecossistemas, existem estudos que investigaram os efeitos da perda de 
biodiversidade dentro de grupos funcionais ( ex.: Jonsson e Malmqvist, 2000 , 
Jonsson et al., 2001, Cardinale et al., 2002 , Dangles et al., 2002 , Huryn et al., 
2002 Jonsson et al., 2002, Jonsson e Malmqvist, 2003a, b). Esses estudos 
constataram fortes efeitos de mudança na biodiversidade, embora as espécies 
utilizadas desempenhassem funções idênticas. Conseqüentemente, além dos 
efeitos definidos no funcionamento do ecossistema quando as últimas espécies 
de um grupo funcional desaparecem, a perda de espécies dentro de grupos 
funcionais também tem grande importância. Embora alguns desses estudos 
tenham comprovado o aumento do funcionamento do ecossistema com declínio 
da biodiversidade, eles ainda demonstram que a redundância de espécies, nesse 
sentido, é um conceito disfuncional. 
 
Além do mais, as espécies redundantes podem, até certo ponto, atuar 
como um seguro biológico, minimizando o efeito das mudanças no 
funcionamento do ecossistema quando as condições ambientais mudam . Por 
exemplo, imaginemos que duas espécies aparentemente re dundantes ( A e B) 
desempenhem uma mesma função e que a espécie A predomine sobre a espécie B 
em abundância, já que as condições ambientais existentes favorecem a espécie 
4 
 
 
A. Então, quando o ambiente se altera de modo que as novas condições passam a 
favorecer a espécie B, causando declínio do desempenho da espécie A, a espécie 
B aumenta em abundância e desempenho de modo que o funcionamento do 
sistema permanece inalterado. Se a espécie A fosse a única espécie do sistema 
no momento da mudança ambiental, ocorre ria uma perda no funcionamento do 
ecossistema. Portanto, nesse sentido, a redundância das espécies é um traço 
importante dos sistemas naturais. 
 
Explicações mecanicistas para os efeitos da biodiversidade 
 
Explorar os mecanismos por trás dos efeito s da perda de biodiversidade é 
fundamentalmente importante se quisermos compreender as conseqüências da 
rápida perda de biodiversidade atual. A complementaridade de nicho é 
freqüentemente utilizada como a explicação mais provável para os efeitos de 
biodiversidade modificada, principalmente se tanto a “ diferenciação de nicho” 
como a “ facilitação” estiverem incluídas na definição ( ex.: Loreau e Hector, 
2001). As características de uma espécie determinam como, quando e onde ela 
utiliza os recursos ( o nicho). Embora todos os indivíduos de uma mesma espécie 
compartilhem essas características, eles geralmente se diferenciam entre 
espécies ( diferenciação de nicho). Portanto, a diferenciação de nicho permite 
que as espécies coexistam, evitem uma forte concorrência e , conseqüentemente, 
desempenhem um processo com eficiência ( ex.: Volterra, 1926, Lotka, 1932, 
Jonsson e Malmqvist, 2003a). A perda de espécies pode, portanto, reduzir o 
número de nichos utilizados, aumentar a concorrência e baixar a velocidade do 
processo, afetando negativamente o funcionamento do ecossistema. As 
interações positivas entre espécies, como a facilitação, por exemplo, são 
potencialmente muito importantes no funcionamento do ecossistema. Embora 
vários estudos tenham comprovado a facilitação ent re alguns pares de espécies 
( ex., Soluk e Collins, 1988, Kotler et al., 1992, Soluk, 1993, Soluk e 
Richardson, 1997, Cardinale et al. 2002 , Jonsson e Malmqvist, 2003a), não se 
sabe bem até que ponto tais interações são comuns ou importantes nos 
ecossistemas naturais. Contudo, tanto a diferenciação de nicho como a 
facilitação provavelmente são importantes para manter a velocidade do processo 
e o funcionamento do ecossistema. Assim, no caso de perda de espécie, o 
funcionamento do ecossistema poderia ser afeta do negativamente seja pelo 
aumento da competição, pela lacuna de nicho ou pela perda de interações 
facilitadoras. 
 
Investigação da perda de biodiversidade natural ou aleatória 
 
Para testar realmente os efeitos da biodiversidade, um estudo deve 
utilizar espécies escolhidas aleatoriamente em um amplo grupo de espécies. A 
maioria dos estudos, contudo, utilizou determinadas espécies, ou composições de 
espécies aleatórias, colhidas em grupos menores e, portanto, não conseguiu t irar 
conclusões sobre os efeitos da biodiversidade propriamente dita. Em vez disso, 
os resultados podem ser relevantes somente para as espécies utilizadas no 
estudo. Embora possa ser interessante investigar se existe algum efeito geral da 
perda de biodiversidade no funcionamento do ecossistema utilizando-se espécies 
escolhidas aleatoriamente, a extinção de espécies muitas vezes segue padrões 
previsíveis, dependendo da espécie do sistema e do t ipo de perturbação. 
Portanto, a melhor maneira de estudar os efeitos da perda de biodiversid ade 
seria sujeitar uma comunidade natural a uma perturbação ( Petchey et al., 1999), 
ou utilizar uma ordem de extinção previsível ( Jonsson et al., 2002). Isso, é 
claro, l imita a aplicabilidade geral dos resultados, mas, ao mesmo tempo, 
fornece resultados mais realistas e um conhecimento específico dos efeitos da 
perda de espécies no sistema estudado. 
5 
 
 
Extrapolação dos resultados experimentais para sistemas naturais 
 
A persistência dos efeitos da biodiversidade observados em experiências 
controladas e de curta duração foi questionada ( e. g. Symstad et al., 2003). 
Como, até o momento, a maioria dos estudos foi realizada durante períodos 
relativamente curtos, não se sabe ao certo se os efeitos ( iniciais) são transitórios 
ou persistentes e, portanto, se são relevantes quanto aos efeitos da 
biodiversidade nos sistemas naturais. Entretanto, constatou -se num longo estudo 
de pastagens que o efeito inicial da biodiversidade persistiu ao longo do tempo, 
embora os mecanismos subjacentes tenham mudado ( Tilman et al., 2001). Outro 
problema com a maioria dos estudos até agora é que, embora os sistemas 
naturais sejam em geral altamente complexos, as montagens experimentais têm 
utilizado relativamente poucas espécies e níveis tróficos. Os estudos que 
utilizaram baixa complexidade muitas vezes obtiveram resultados bastante 
diretos, mas os resultados de sistemas experimentais mais complexos têm sido 
difíceis de interpretar. Portanto, há uma troca entre a complexidade e a 
interpretabilidade dos resultados e ainda não há b oas soluções para esse 
problema, apesar das tentativas para realizar estudos úteis sobre os sistemas 
complexos ( vide Finke e Denno, 2004, como um exemplo). 
 
O Futuro 
 
Até hoje, os estudos têm demonstrado que a biodiversidade é importante 
para a velocidade dos processos do ecossistema e para o funcionamento do 
ecossistema – pelo menos em escalas espaciais relativamente pequenas e por 
curtos períodos de tempo. Além do mais, foram encontradas evidências de 
mecanismos por trás dos efeitos da biodivers idade. Assim, o desafio para os 
estudos no futuro será expandir em espaço,tempo e complexidade, de forma que 
os resultados obtidos sejam mais relevantes para os sistemas naturais. A 
pergunta se e como a biodiversidade é importante para o funcionamento dos 
ecossistemas é uma das questões mais importantes da ecologia hoje. Uma vez 
que a atual perda de biodiversidade ameaça seriamente os serviços que um bom 
funcionamento dos ecossistemas presta à humanidade ( Luck et al., 2003), 
preservar a biodiversidade também pode nos ajudar a preservar a humanidade. 
 
CORREDORES ECOLÓGICOS 
 
Como instrumento de gestão territorial, os Corredores Ecológicos atuam com o objetivo 
específico de promover a conectividade entre fragmentos de áreas naturais. Eles são definidos no 
SNUC como porções de ecossistemas naturais ou seminaturais, ligando unidades de conservação, 
que possibilitam entre elas o fluxo de genes e o movimento da biota, facilitando a dispersão de 
espécies e a recolonização de áreas degradadas, bem como a manutenção de populações que 
demandam para sua sobrevivência áreas com extensão maior do que aquelas das unidades 
individuais. 
 
Os Corredores Ecológicos visam mitigar os efeitos da fragmentação dos ecossistemas 
promovendo a ligação entre diferentes áreas, com o objetivo de proporcionar o deslocamento de 
animais, a dispersão de sementes, aumento da cobertura vegetal. São instituídos com base em 
informações como estudos sobre o deslocamentos de espécies, sua área de vida (área necessária 
para o suprimento de suas necessidades vitais e reprodutivas) e a distribuição de suas populações. 
A partir destas informações são estabelecidas as regras de utilização destas áreas, com vistas a 
possibilitar a manutenção do fluxo de espécies entre fragmentos naturais e, com isso, a 
conservação dos recursos naturais e da biodiversidade. São, portanto, uma estratégia para amenizar 
os impactos das atividades humanas sob o meio ambiente e uma busca ao ordenamento da 
ocupação humana para a manutenção das funções ecológicas no mesmo território. 
6 
 
 
As regras de utilização e ocupação dos corredores e seu planejamento são determinadas no 
plano de manejo da Unidade de Conservação à qual estiver associado, incluindo medidas com o 
fim de promover sua integração à vida econômica e social das comunidades vizinhas. 
 
Os Corredores Ecológicos são criados por ato do Ministério do Meio Ambiente. Até o 
momento foram reconhecidos dois corredores ecológicos: 
 
 Corredor Capivara-Confusões 
 Corredor Caatinga 
 
 
DISPERSÃO DE FAUNA E FLORA 
 
Muitos animais vivem em comunidade, formando grupos sociais, compostos por elementos 
da mesma espécie: bandos, alcateias, cardumes, etc. Há também animais que vivem isolados. Mas 
até estes têm necessidade de se juntar para se reproduzirem, nem que seja apenas no acto do 
acasalamento. Além disso, mães e crias formam grupos, mais ou menos temporários, conforme as 
espécies. A fêmea de Urso-pardo passa cerca de três anos com a cria. Por outro lado, algumas 
espécies de aves são nidífugas, isto é, assim que nascem abandonam o ninho, o que não quer dizer 
que os pais, ou pelo menos um deles, não acompanhem a prole. No fundo, todos os animais têm a 
necessidade de, pelo menos em algum momento, partilhar o espaço com outros animais da mesma 
espécie. 
 
Qualquer grupo obedece a regras internas, normalmente definidoras de hierarquia social, 
mantendo assim o equilíbrio dos laços existentes. São inúmeros os comportamentos sociais das 
diversas espécies que os etólogos tentam registar e compreender. O facto de os animais poderem 
viver isolados ou em comunidade, poderá estar ligado a factores derivados da pressão competitiva: 
em grupo aumenta a pressão por alimento, por parceiro sexual ou pelo local de reprodução. O risco 
de contágio por doença aumenta também, além de que vários animais juntos são mais facilmente 
detectáveis pelos predadores, do que quando se encontram isolados. Mas viver em comunidade 
também aumenta o número de olhos, narizes e orelhas alerta para o perigo. Entre os predadores, a 
cooperação conjunta torna mais fácil a caçada, além de poder proporcionar a captura de presas 
muito maiores do que seria possível obter isoladamente. Existem também casos de cooperação na 
criação da prole, com as evidentes vantagens de tal facto. 
 
Os jovens adultos, dependendo de vários factores, podem ficar no grupo familiar ou partir 
para formarem a sua própria família ou para viverem isoladamente. O habitat, a distribuição de 
alimento, o sistema de acasalamento e os riscos de endogamia, parecem determinar, em grande 
medida, o nível de dispersão dos jovens animais em relação ao seu local de nascimento. 
Dependendo da espécie, os factores que mais influenciam a dispersão variam, e dentro de cada 
espécie, pode também haver diferentes formas de dispersão. 
 
Quando os jovens ficam na sua área natal, partilhando o território com os progenitores, 
falamos em filopatria natal. Esta estratégia tem vantagens e custos. O grau de parentesco entre os 
elementos do grupo aumento o risco de endogamia, com a consequente redução de variabilidade 
genética, o que é uma evidente desvantagem evolutiva. No entanto, a consanguinidade pode 
favorecer a “selecção” de genes que determinem uma boa adaptação a um determinado habitat. 
 
Entre outros custos da vida em grupo, podemos referir o aumento da densidade populacional, 
que fará subir a competição por recursos e parceiros sexuais, bem como por abrigos ou locais de 
reprodução. 
 
Segundo algumas teorias sociobiológicas, porém, a vida em sociedade leva à redução da 
agressividade entre os membros e ao aumento dos comportamentos altruístas. Outra vantagem da 
vida social dos animais é a de um melhor conhecimento do local onde o grupo habita. 
7 
 
 
A dispersão tem, também, custos e benefícios. Se, por um lado, evitam assim a 
consanguinidade, por outro, dispendem muita energia deambulando à procura de novos territórios, 
além de que não conhecem as novas áreas para onde se deslocam. Podem ainda encontrar muita 
resistência e agressividade por parte de indivíduos que habitem territórios por onde passem ou para 
onde se desloquem. 
 
Portanto, a dispersão e a filopatria têm, cada qual, os seus custos e benefícios. Uma 
solução de compromisso, que adoptasse comportamentos de dispersão e de filopatria poderia ser 
uma boa estratégia. Foi o que fizeram muitas espécies, especialmente entre as aves e os mamíferos. 
Em geral, dá-se uma diferenciação por sexos: enquanto os elementos de um dos sexos ficam no 
local de nascimento, os do outro sexo partem. Assim, evitam os problemas de endogamia, e os 
membros que permancem, desfrutam das vantagens da filopatria. 
 
Curiosamente, parece haver uma tendência para que, nas aves, se dispersem as fêmeas, 
enquanto nos mamíferos são os machos que maioritariamente se dispersam. Alguns etólogos têm 
tentado explicar esta tendência que, reafirme-se, é uma tendência, com excepções. 
 
Um dos etólogos que se debruçou sobre o assunto, Paul Greenwood, publicou um artigo em 
1980, onde explana duas hipóteses para explicar o comportamento de aves e mamíferos quanto à 
dispersão. Começando por admitir que uma separação comportamental entre sexos, um deles 
ficando no local onde nasceu o outro partindo para novas paragens, traria evidentes vantagens para 
a espécie, e acrescenta uma explicação para as diferenças entre aves e mamíferos. Essa diferença, 
segundo Greenwood, baseia-se no modo diverso como os machos de aves e de mamíferos 
competem por parceiras. Os mamíferos são maioritariamente poligínicos, isto é, cada macho 
defende um grupo de fêmeas, competindo com outros machos pelas parceiras. Os machos jovens e 
os subordinados, impedidos de chegar às fêmeas, aumentam as suas possibilidades de 
acasalamento quando se dispersam. As fêmeas, normalmente, vivem em grupos matralineares 
(compostos por mães,filhas e netas), beneficiando das vantagens daí decorrentes. Assim, os 
machos são “forçados” a dispersarem-se para evitar os problemas de uma elevada taxa de 
consanguinidade. 
 
Por outro lado, as aves são maioritariamente monogâmicas. Os machos, em vez de 
competirem directamente pelas fêmeas, competem por locais com bons recursos (em alimentação e 
em locais de nidificação), locais esses que atrairão as potenciais companheiras. O conhecimento do 
local será, então, mais importante para os machos do que para as fêmeas. Estas, dispersando-se 
evitam os problemas genéticos da endogamia e escolhem os territórios com melhores recursos. 
Mas estas hipóteses, funcionando bem na generalidade, têm muitas excepções, como no caso dos 
mamíferos territoriais, em que seria de esperar que se verificasse a hipótese dos machos teritoriais 
das aves, e que ocorresse a dispersão das fêmeas. Tal não acontece na maioria dos casos. Surgiram 
então mais hipóteses para explicar as diferenças entre sexos na dispersão. Primeiro, em 1989, em 
relação aos mamíferos, por Clutton-Brock, e depois expandido às aves, por Wolff e Plissner, em 
1998. Em ambos os casos, os autores partem do princípio de que a filopatria é preferencial à 
dispersão. E que o primeiro sexo a ter oportunidade de se reproduzir será o que escolherá ficar no 
território, enquanto o outro sexo irá dispersar-se. Uma vez que as fêmeas dos mamíferos 
amamentam e cuidam das suas crias, os machos, geralmente, não apresentam cuidados parentais. 
Daqui resulta que os machos estão livres para vaguear para longe. Quando a sua descendência 
feminina alcança a idade de reprodução, muito provavelmente, o pai não estará presente, 
permitindo às filhas não terem de se ausentar para evitar a consanguinidade. Se o macho 
reprodutor estiver presente quando as suas filhas atingem a idade reprodutora, são estas que se 
dispersam. 
 
Uma outra hipótese, sustentada por Stephen Dobson em 1982, afirma que nos mamíferos 
poligínicos, a competição por parceiros sexuais é maior nos machos do que nas fêmeas, daí serem 
os machos a dispersarem-se. Por outro lado, nos mamíferos monogâmicos, os níveis de competição 
por parceiros sexuais serão mais equivalentes, pelo que a dispersão entre sexos tenderá a efectuar- 
8 
 
 
se em proporções equivalentes. Os dados parecem corroborar esta hipótese. Mas também aqui 
existem lacunas: como explicar, então, por exemplo, o comportamento das fêmeas nas espécies de 
aves monogâmicas, em que, maioritariamente, são estas a dispersar-se? 
 
Em 1985, surge uma terceira hipótese, desenvolvida por Olof Liberg e Torbjörn von Schantz, 
apelidada de Hipótese de Édipo. Aqui, os autores colocam a enfase nos reprodutores e não nos 
jovens adultos, como o fizeram os anteriores autores. Segundo esta nova hipótese, são os pais que 
expulsam os jovens do território, forçando-os a dispersarem-se, e não estes que tomam a iniciativa 
de o fazerem. Para Liberg e von Schantz as diferenças na dispersão entre sexos, tanto nas aves 
como nos mamíferos, reduz a competição em termos reprodutivos entre pais e filhos. Assumem 
que para a descendência, na maioria dos casos, seria preferível ficar. Mas os pais ocupam uma 
posição hierárquica superior, e são estes que “decidem” da partida ou não dos filhos, e de qual dos 
sexos. E se os progenitores beneficiarem com a permanência dos filhos, mas não houver recursos 
suficientes para tamanha prole, poderão determinar a expulsão de alguns membros, até que o 
número de efectivos se “encaixe” nos recursos existentes. 
 
Assim, o sistema reprodutivo de aves e mamíferos está intimamente ligado com o tipo de 
competição entre os progenitores e as descendências masculina e feminina. Genericamente, nas 
espécies com um sistema de reprodução poligâmico ou promíscuo, a descendência masculina, se 
ficar em casa, tenderá a competir com o pai por fêmeas, enquanto a descendência feminina não é 
uma ameaça para nenhum dos progenitores. Já nos sistemas monogâmicos, seria de esperar que 
nem filhos nem filhas competissem com qualquer dos pais, precisamente porque estes são 
monogâmicos. Mas, como já vimos, as fêmeas das aves têm tendência à dispersão, o quer dizer: 
são expulsas pelos pais, enquanto as fêmeas dos mamíferos são toleradas. Porquê? Pelos seus 
diferentes modos de reprodução: postura versus gestação e nascimento. Nas aves, uma filha a 
quem seja permitida a permanencia junto dos pais, poderá enganar os pais colocando ovos no 
ninho da família, deixando assim os custos da nidificação para aqueles. Quanto às filhas dos 
mamíferos, estas não têm como esconder a gravidez e o nascimento aos pais, pelo que não os 
poderão enganar e, então, os pais nada têm a temer, em termos de competição reprodutiva com as 
filhas. 
 
Deste modo, segundo a Hipótese de Édipo temos quatro possibilidades: (1) nas aves 
monogâmicas, os progenitores expulsam as filhas, porque estas, apesar de não enganarem os pais 
quanto a cópulas, porque estes são monogâmicos, podem, no entanto, pôr os seus próprios ovos no 
ninho familiar, enganando ambos os pais. Os filhos, como não podem enganar os pais, são 
tolerados. (2) Nas aves poligínicas ou promíscuas, ambos os sexos da descendência são forçados a 
abandonar a área natal, porque ambos podem trair os progenitores. (3) Nos mamíferos 
monogâmicos, nem machos nem fêmeas descendentes podem enganar os progenitores, pelo que 
ambos os sexos tendem a ser tolerados no território dos pais. (4) Nos mamíferos poligâmicos ou 
promíscuos, a descendência masculina é expulsa porque poderão enganar o pai, acasalando com 
uma das fêmeas. As filhas, como não podem enganar os progenitores tendem a ficar em casa. A 
Hipótese de Édipo explica muitas contradições das outras hipóteses; no entanto, também tem a sua 
falha: não explica o facto de alguns descendentes abandonarem “de livre vontade” a área natal, o 
que se poderá ficar a dever à procura de melhores recursos ou para evitar a endogamia. 
 
Como sempre, a Natureza é equilibrada mas complexa. Nenhuma hipótese explica, por si 
só, todas as situações que podemos encontrar quando procuramos entender as diferenças entre 
sexos, em aves e mamíferos, quanto à dispersão ou à filopatria. Portanto, tendo em conta o papel 
que jogam tanto progenitores como descendência, e as variações que poderão ocorrer de acordo 
com a espécie, o sexo ou o indivíduo, devemos atender a que os animais, aves e mamíferos, se 
tenderão a dispersar, ou não, de acordo com a satisfação de três factores básicos: a redução da 
competição por recursos, a redução da endogâmia e a redução da conflitualidade entre progenitores 
e descendência. 
 
TROCAS GENÉTICAS 
9 
 
 
As trocas genéticas ocorrem com as mudanças ocasionais entres espécies, ou seja, é o 
procedimento pelo qual um gene sofre uma mudança estrutural. As trocas envolvem a adição, 
eliminação ou substituição de um ou poucos nucleotídeos da fita de DNA. 
 
A mutação proporciona o aparecimento de novas formas de um gene e, consequentemente, 
é responsável pela variabilidade gênica. Quando ocorre por adição ou subtração (mutações 
deletérias) de bases, altera o código genético, definindo uma nova sequência de bases, que 
consequentemente poderá alterar o tipo de aminoácido incluído na cadeia proteica, tendo a 
proteína outra função ou mesmo inativação da expressão fenotípica. 
 
Por substituição, ocorre em razão da troca de uma base nitrogenada purina (adenina e 
guanina) por outra purina, ou de uma pirimidina (citosina e timina) por outra pirimidina, sendo 
esse processo denominado de transição e a substituição de uma purina por uma pirimidina, ou vice-
versa, denominada de transversão. 
 
Elementos Genéticos Transponíveis 
 
Elementos genéticos transponíveis são segmentos de DNA que têm a capacidade de mover 
de um local para outro (i.e. genes que saltam). 
 
Propriedades dos Elementos Genéticos Transponíveis 
 
Movimento aleatórioElementos genéticos transponíveis podem mover de uma molécula de DNA para qualquer 
outra molécula de DNA ou mesmo para outro local na mesma molécula. O movimento não é 
totalmente aleatório; há sítios preferenciais na molécula do DNA nos quais um elemento genético 
transponível irá se inserir. 
 
Não são capazes de auto-replicação 
Os elementos genéticos transponíveis não existem autonomamente (exceção – alguns fagos 
transponíveis) e assim, para serem replicados eles precisam ser parte de um outro réplicon. 
 
Transposição mediada por recombinação sítio-específica 
A transposição requer pouca ou nenhuma homologia entre a localização atual e o novo sítio. O 
evento de transposição é mediado por uma transposase codificada pelo elemento genético 
transponível. A recombinação que não requer homologia entre as moléculas recombinantes é 
chamada de recombinação sítio-específica ou ilegítima ou recombinação não homóloga. 
 
Transposição pode ser acompanhada de duplicação 
Em muitos casos a transposição do elemento genético transponível resulta na remoção do elemento 
do sítio original e inserção em um novo sítio. Entretanto, em alguns casos o evento de 
transposição é acompanhado pela duplicação do elemento genético transponível. Uma cópia 
permanece no sítio original e a outra é transportada para o sítio novo. 
 
 
CONSERVAÇÃO E MANEJO DE POPULAÇÕES E DE METAPOPULAÇÕES IN SITU E 
EX SITU 
 
Preocupados com as altas taxas de erosão de recursos genéticos e com a perda de 
componentes da biodiversidade e, mais ainda, interessados no incremento de esforços voltados à 
conservação dos recursos biológicos em todo o planeta, países, independentemente da sua 
condição episódica de usuário ou provedor de material genético, promoveram negociações, no 
âmbito do Programa das Nações Unidas sobre Meio Ambiente (PNUMA), que resultou na adoção 
da Convenção sobre Diversidade Biológica. Recentemente, convencidos da natureza especial dos 
recursos fito-genéticos para a alimentação e a agricultura, conscientes de que esses recursos são 
motivo de preocupação comum da humanidade, cientes de sua responsabilidade para com as 
10 
 
 
gerações presentes e futuras e, finalmente, considerando a interdependência dos países em relação 
a esses recursos, os países aprovaram, no âmbito da Organização das Nações Unidas para a 
Alimentação e a Agricultura (FAO), o Tratado Internacional sobre Recursos Fito-genéticos para a 
Alimentação e a Agricultura, do qual o Brasil é um dos seus membros. 
 
Diversidade biológica ou biodiversidade são expressões que se referem à variedade da vida 
no planeta, ou à propriedade dos sistemas vivos de serem distintos. Engloba as plantas, os animais, 
os microrganismos, os ecossistemas e os processos ecológicos em uma unidade funcional. Inclui, 
portanto, a totalidade dos recursos vivos, ou biológicos, e, em especial, dos recursos genéticos e 
seus componentes, propriedade fundamental da natureza e fonte de imenso potencial de uso 
econômico. É também o alicerce das atividades agrícolas, pecuárias, pesqueiras,extrativistas e 
florestais e a base para a estratégica indústria da biotecnologia. 
 
A conservação global da biodiversidade significa maior segurança para os programas 
relacionados à produção agrícola e à conservação biológica, bem como para a segurança alimentar, 
constituindo-se em um componente essencial para o desenvolvimento sustentável e para a própria 
manutenção da diversidade genética das espécies com importância sócio-econômica atual e 
potencial. 
 
O Brasil, por sua própria natureza, ocupa posição de destaque dentre os países 
megabiodiversos. Conta com a mais diversa flora do mundo, número superior a 55 mil espécies 
descritas (24% do total mundial). Possui alguns dos biomas mais ricos do planeta em número de 
espécies vegetais - a Amazônia, a Mata Atlântica e o Cerrado. A Floresta Amazônica brasileira, 
com aproximadamente 30 mil espécies vegetais, compreende cerca de 26% das florestas tropicais 
remanescentes no planeta. 
 
O País conta ainda com a maior riqueza de espécies da fauna mundial e, também, com a 
mais alta taxa de endemismo. Dois de seus principais biomas, a Mata Atlântica e o Cerrado, estão 
relacionados na lista dos 25 hotspots da Terra, sendo que a Mata Atlântica encontra-se entre os 
cinco mais ameaçados. Uma em cada onze espécies de mamíferos existentes no mundo são 
encontrados no Brasil (522 espécies), juntamente com uma em cada seis espécies de aves (1677), 
uma em cada quinze espécies de répteis (613), e uma em cada oito espécies de anfíbios (630) e 
mais de 3 mil espécies de peixes, três vezes mais do que qualquer outro país. Muitas dessas são 
exclusivas para o Brasil, com 68 espécies endêmicas de mamíferos, 191 espécies endêmicas de 
aves, 172 espécies endêmicas de répteis e 294 espécies endêmicas de anfíbios. Esta riqueza de 
espécies corresponde a pelo menos 10% dos anfíbios e mamíferos, e 17% das aves descritos em 
todo o planeta. 
 
A composição total da biodiversidade brasileira não é conhecida e talvez nunca venha a ser na 
sua plenitude, tal a sua magnitude e complexidade. Nesse sentido, e considerando-se que o número 
de espécies existentes no território nacional, particularmente na plataforma continental e nas águas 
jurisdicionais brasileiras, - em grande parte ainda desconhecida, é elevado, é fácil inferir que o 
número de espécies, tanto terrestres quanto marinhas, ainda não identificadas, no Brasil, pode 
alcançar valores da ordem de dezena de milhões. Apesar dessas estimativas, a realidade é que o 
número de espécies conhecidas atualmente, em todo o planeta, está em torno de 1,7 milhões, valor 
que atesta o alto grau de desconhecimento da biodiversidade, especialmente nas regiões tropicais. 
Além disso, é interessante registrar que a maior parte dos conhecimentos sobre a biodiversidade no 
nível específico se refere a organismos de grande porte. O nosso conhecimento sobre outros 
organismos, a exemplo dos insetos, liquens, fungos e algas é ainda muito incipiente. A parcela da 
biodiversidade menos conhecida está localizada na copa das árvores, no solo e nas profundezas 
marinhas. 
 
Em relação aos recursos fitogenéticos, estimativas da FAO indicam a existência, em âmbito 
mundial, de cerca de 6,5 milhões de acessos de interesse agrícola mantidos em condição ex situ. 
Desse total, 50% são conservados em países desenvolvidos, 38% em países em desenvolvimento e 
12% distribuídos nos Centros Internacionais de Pesquisa (IARCs), do Grupo Consultivo 
11 
 
 
Internacional de Pesquisa Agrícola (CGIAR). 
 
Os recursos genéticos são mantidos em condições in situ, on farm, e ex situ. A conservação 
in situ de recursos genéticos é realizada, basicamente, em reservas genéticas, reservas extrativistas 
e reservas de desenvolvimento sustentável. Naturalmente, a conservação in situ de recursos 
genéticos pode ser organizada também em áreas protegidas, seja de âmbito federal, estadual ou 
municipal. As reservas genéticas, por exemplo, são implantadas e mantidas em áreas prioritárias, 
de acordo com a diversidade genética de uma ou mais espécies de reconhecida importância 
científica ou sócio-econômica. Teoricamente, essas reservas podem existir dentro de uma área 
protegida, de uma reserva indígena, de uma reserva extrativista e de uma propriedade privada, 
entre outras. 
 
Nos termos da Convenção sobre Diversidade Biológica, conservação in situ é definida 
como sendo a conservação dos ecossistemas e dos habitats naturais e a manutenção e a 
reconstituição de populações viáveis de espécies nos seus ambientes naturais e, no caso de 
espécies domesticadas e cultivadas, nos ambientes onde desenvolveram seus caracteres distintos. 
A conservação in situ apresenta algumas vantagens, tais como: (i) permitir que as espécies 
continuem seus processos evolutivos; (ii) favorecer a proteção e a manutenção da vida silvestre;(iii) apresentar melhores condições para a conservação de espécies silvestres, especialmente 
vegetais e animais; (iv) oferecer maior segurança na conservação de espécies com sementes 
recalcitrantes e (v) conservar os polinizadores e dispersores de sementes das espécies vegetais. 
Deve-se considerar, entretanto, que este método é oneroso, visto depender de eficiente e constante 
manejo e monitoramento, pode exigir grandes áreas, o que nem sempre é possível, além do que a 
conservação de uma espécie em um ou poucos locais de ocorrência não significa, necessariamente, 
a conservação de toda a sua variabilidade genética. 
 
A conservação on farm pode ser considerada uma estratégia complementar à conservação 
in situ, já que esse processo também permite que as espécies continuem o seu processo evolutivo. 
É uma das formas de conservação genética da agrobiodiversidade, um termo utilizado para se 
referir à diversidade de seres vivos, de ambientes terrestres ou aquáticos, cultivados em diferentes 
estados de domesticação. A conservação on farm apresenta como particularidade o fato de 
envolver recursos genéticos, especialmente variedades crioulas - cultivadas por agricultores, 
especialmente pelos pequenos agricultores, além das comunidades locais, tradicionais ou não e 
populações indígenas, detentoras de grande diversidade de recursos fito-genéticos e de um amplo 
conhecimento sobre eles. Esta diversidade de recursos é essencial para a segurança alimentar das 
comunidades. Dentre os principais recursos fito-genéticos mantidos a campo pelos pequenos 
agricultores brasileiros estão a mandioca, o milho e o feijão. Contudo, muitos recursos genéticos 
de menor importância para a sociedade "moderna" são também mantidos, podendo-se citar como 
exemplos uma série de espécies de raízes e tubérculos, plantas medicinais e aromáticas, além de 
raças locais de animais domesticados (suínos, caprinos e aves, entre outros). A manutenção desses 
materiais on farm, com ênfase para as variedades crioulas, envolve recursos nativos e exóticos 
adaptados às condições locais. Outra particularidade é que estas variedades crioulas, mesmo 
deslocadas de suas condições naturais, continuam evoluindo na natureza, já que estão 
permanentemente submetidas à diferentes condições edafoclimáticas. 
 
A conservação ex situ, por sua vez, envolve a manutenção, fora do habitat natural, de uma 
representatividade da biodiversidade, de importância científica ou econômico-social, inclusive 
para o desenvolvimento de programas de pesquisa, particularmente aqueles relacionados ao 
melhoramento genético. Trata da manutenção de recursos genéticos em câmaras de conservação de 
sementes (-20º C), cultura de tecidos (conservação in vitro), criogenia - para o caso de sementes 
recalcitrantes, (-196º C), laboratórios - para o caso de microorganismos, a campo (conservação in 
vivo), bancos de germoplasma - para o caso de espécies vegetais, ou em núcleos de conservação, 
para o caso de espécies animais. A conservação ex situ implica, portanto, a manutenção das 
espécies fora de seu habitat natural e tem como principal característica: (i) preservar genes por 
séculos; (ii) permitir que em apenas um local seja reunido material genético de muitas 
procedências, facilitando o trabalho do melhoramento genético; (iii) garantir melhor proteção à 
12 
 
 
diversidade intraespecífica, especialmente de espécies de ampla distribuição geográfica. Este 
método implica, entretanto, na paralisação dos processos evolutivos, além de depender de ações 
permanentes do homem, visto concentrar grandes quantidades de material genético em um mesmo 
local, o que torna a coleção bastante vulnerável. 
 
As três formas de conservação, in situ, on farm e ex situ, são complementares e formam, 
estrategicamente, a base para a implementação dos três grandes objetivos da Convenção sobre 
Diversidade Biológica: i) conservação da diversidade biológica; ii) uso sustentável dos seus 
componentes e iii) repartição dos benefícios derivados do uso dos recursos genéticos. A 
conservação on farm vem recebendo crescente atenção nos diversos fóruns internacionais 
relacionados à temática da conservação dos recursos genéticos. Nesse contexto, a Convenção sobre 
Diversidade Biológica, por meio das suas Conferências das Partes, tem dado especial atenção a 
essa questão, considerando que: i) o campo da agricultura oferece oportunidade única para o 
estabelecimento de ligação entre a conservação da diversidade biológica e a repartição de 
benefícios decorrentes do uso desses recursos; ii) existe uma relação próxima entre diversidade 
biológica, agronômica e cultural; iii) a diversidade biológica na agricultura é estratégica, 
considerando os contextos sócio-econômicos nos quais ela é praticada e as perspectivas de redução 
dos impactos negativos sobre a diversidade biológica, permitindo a conciliação de esforços de 
conservação com ganhos sociais e econômicos; iv) as comunidades de agricultores tradicionais e 
suas práticas agrícolas têm uma significativa contribuição para a conservação, para o aumento da 
biodiversidade e para o desenvolvimento de sistemas produtivos agrícolas mais favoráveis ao meio 
ambiente; v) o uso inapropriado e a dependência excessiva de agro-químicos têm produzido efeitos 
significativos sobre os ecossistemas, com impactos negativos sobre a biodiversidade; e, 
finalmente, os direitos soberanos dos Estados sobre seus recursos biológicos, incluindo os recursos 
genéticos para alimentação e agricultura. Esse posicionamento dos países nas Conferências das 
Partes tem permitido, além do estabelecimento de um programa de longo prazo voltado 
especificamente às atividades sobre agrobiodiversidade, um crescente avanço na discussão e 
implementação de ações relacionadas à conservação e promoção do uso dos recursos da 
biodiversidade agrícola. 
 
Nos últimos anos ocorreram, em âmbito mundial, importantes avanços relacionados à 
conservação e à promoção do uso dos recursos genéticos. Em junho de 1996, a Conferência 
Técnica Internacional sobre Recursos Fitogenéticos, realizada em Leipzig, Alemanha, no âmbito 
da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação – FAO, aprovou o Plano 
Global de Ação para a Conservação e a Utilização Sustentável dos Recursos Genéticos para a 
Agricultura e a Alimentação que tem, basicamente, como prioridades: (i) a Conservação in situ e o 
Desenvolvimento; (ii) a Conservação ex situ; (iii) a Utilização dos Recursos Fitogenéticos; e (iv) a 
Capacitação das Instituições 
 
Em novembro de 2001, foi aprovado, no âmbito da FAO, o Tratado Internacional de 
Recursos Fitogenéticos para a Alimentação e a Agricultura que prevê, entre os seus objetivos, a 
conservação e o uso sustentável dos recursos fitogenéticos para a alimentação e a agricultura e a 
repartição justa e eqüitativa dos benefícios derivados de seu uso, em harmonia com a Convenção 
sobre Diversidade Biológica, para a sustentabilidade da agricultura e a segurança alimentar. 
 
No Brasil, o despertar da consciência conservacionista conta com mais de meio século de 
decisões políticas, influenciadas pela ciência e pela sociedade preocupadas com as condições do 
meio ambiente e, especialmente, com a conservação da flora e da fauna. Nas ultimas duas décadas 
tem havido um crescente envolvimento do Governo Federal, bem como uma maior 
conscientização da sociedade civil nos assuntos relativos à conservação da biodiversidade. 
 
Nas últimas décadas, as atividades ligadas à conservação dos recursos genéticos no País 
tiveram um considerável impulso, assegurando posição de destaque entre os países tropicais. Os 
avanços conduzidos por alguns órgãos de pesquisa, a exemplo da Empresa Brasileira de pesquisa 
Agropecuária – EMBRAPA, particularmente por meio da EMBRAPA Recursos Genéticos e 
Biotecnologia, estão sendo fundamentais para o avanço do País na conservação eutilização dos 
13 
 
 
seus recursos genéticos. Paralelamente, o Brasil experimentou avanços significativos na 
implantação de Unidades de Conservação, ampliando fortemente a conservação in situ da 
biodiversidade e a promoção da utilização sustentável dos recursos genéticos nativos. A 
conservação on farm, apesar de ser um dos métodos mais tradicionais de conservação, é ainda 
bastante fragmentada no país, apesar dos recentes avanços experimentados nos últimos anos. Há 
de se reconhecer que a sociedade civil organizada exerce, atualmente, uma forte liderança na 
conservação on farm de recursos genéticos, promovendo não apenas o uso sustentável, mas 
também o intercâmbio de recursos genéticos entre os agricultores, dentro e entre comunidades. 
Neste contexto, deve-se destacar a relevância dos movimentos sociais (Movimento dos Pequenos 
Agricultores, Movimento das Mulheres Trabalhadoras Rurais, Movimento dos Trabalhadores Sem 
Terra e das ONGs, principalmente daquelas organizadas em redes, caso da Rede Ecovida e Rede 
Cerrado, por exemplo), que são considerados importantes atores na organização e articulação 
política e social das comunidades. 
 
Contudo, apesar desses avanços, deve-se reconhecer que a conservação dos recursos 
genéticos no País, um dos principais países de megadiversidade, está longe da condição ideal. 
Faltam inventários relativos às instituições (governamentais, não-governamentais e movimentos 
sociais) envolvidas na conservação in situ, on farm e ex situ de recursos genéticos (fauna, flora e 
microrganismos); representatividade, tanto em termos regionais quanto nos biomas; infraestrutura 
existente em cada coleção; nível de uso e intercâmbio de recursos genéticos, bem como 
informações sobre as necessidades e as medidas necessárias para a conservação desses materiais a 
curto, médio e longo prazos. 
 
INTRODUÇÕES INDESEJADAS DE ANIMAIS EXÓTICOS OU ALÓCTONES 
 
As espécies exóticas invasoras têm um significativo impacto na vida e no modo de vida 
das pessoas. O impacto sobre a biodiversidade é tão relevante que essas espécies estão, 
atualmente, sendo consideradas a segunda maior ameaça à perda de biodiversidade, após a 
destruição dos habitats, afetando diretamente as comunidades biológicas, a economia e a saúde 
humana. As espécies exóticas invasoras assumem no Brasil grande significado como ameaça 
real à biodiversidade, aos recursos genéticos e à saúde humana. Várias delas estão se 
disseminando e dominando, de forma perigosa, diferentes ecossistemas, ameaçando a 
integridade e o equilíbrio dessas áreas, e causando mudanças, inclusive, nas características 
naturais das paisagens. 
 
De acordo com a Convenção sobre Diversidade Biológica - CDB, espécies exóticas 
invasoras são organismos que, introduzidos fora da sua área de distribuição natural, ameaçam 
ecossistemas, habitats ou outras espécies. Possuem elevado potencial de dispersão, de 
colonização e de dominação dos ambientes invadidos, criando, em conseqüência desse 
processo, pressão sobre as espécies nativas e, por vezes, a sua própria exclusão. 
 
A crescente globalização, a ampliação das vias de transporte, o incremento do 
comércio e do turismo internacional, aliado às mudanças no uso da terra, das águas e às mudanças 
climáticas decorrentes do efeito estufa, tendem a ampliar significativamente as oportunidades e os 
processos de introdução e de expansão de espécies exóticas invasoras nos diversos ecossistemas 
da terra. 
 
A disseminação de espécies exóticas leva a homogeneização dos ambientes, com a 
destruição de características peculiares que a biodiversidade local proporciona e a alteração nas 
propriedades ecológicas essenciais. Tais alterações são exemplificadas pelas modificações dos 
ciclos hídricos e de nutrientes, da produtividade, da cadeia trófica, da estrutura da comunidade 
vegetal, da distribuição de biomassa, do 
14 
 
 
acúmulo de serrapilheira, das taxas de decomposição, dos processos evolutivos e das relações 
entre plantas e polinizadores, além da dispersão de sementes. As espécies exóticas podem, ainda, 
gerar híbridos com espécies nativas, colocando-as sob ameaça de extinção. 
 
Em ecossistemas pobres em nutrientes, a presença de espécies invasoras cria, muitas 
vezes, condições favoráveis para o estabelecimento de outras espécies invasoras, que 
normalmente não se estabeleceriam. As plantas invasoras, em seu processo de ocupação, 
aumentam sua área de ocorrência e dominam e eliminam a flora nativa por competição direta. Os 
animais são eliminados ou obrigados a sair do local à procura de alimentos, antes abundantes pela 
diversidade de espécies existentes. Assim, lentamente as invasões biológicas vão promovendo a 
substituição de comunidades com elevada diversidade por comunidades monoespecíficas, 
compostas por espécies invasoras, ou com diversidade reduzida. 
 
Outros efeitos resultantes da ocorrência de plantas invasoras podem passar pela 
alteração de ciclos ecológicos, como regime de fogo; quantidade de água disponível; alteração da 
composição e disponibilidade de nutrientes; remoção ou introdução de elementos nas cadeias 
alimentares; alteração dos processos geomorfológicos; e mesmo pela extinção de espécies. 
 
As invasões biológicas podem se originar de introduções intencionais ou não intencionais, 
e causam danos ecológicos, econômicos, culturais e sociais. Ao longo dos últimos séculos 
muitas espécies foram intencionalmente introduzidas pelo homem a novos ambientes. As 
introduções são realizadas sempre com boas intenções. Em muitos casos elas são benéficas, a 
exemplo da maioria das espécies cultivadas, de muitas plantas ornamentais e de alguns 
organismos para controle biológico. Muitas espécies, entretanto, se tornam invasoras, cujos 
impactos negativos se sobressaem a eventuais benefícios. 
 
Por meio de estudos realizados nos Estados Unidos da América, Reino Unido, Austrália, 
Índia, África do Sul e Brasil, concluiu-se que os custos decorrentes da presença de espécies 
exóticas invasoras nas culturas agrícolas, em pastagens e nas áreas de florestas atingem cifras 
anuais da ordem de US$ 250 bilhões. Adicionalmente, os custos ambientais nesses mesmos 
países chegam a US$ 100 bilhões anuais. Uma projeção mundial dessas cifras indica que as 
perdas globais anuais decorrentes do impacto dessas espécies ultrapassa US$ 1,4 trilhões, 
aproximadamente 5% do PIB mundial. 
 
Considerando-se esses valores, estima-se que no Brasil esse custo pode ultrapassar os US$ 
100 bilhões anuais. Esse montante pode ainda sofrer aumento significativo, especialmente, se 
incluirmos os custos relacionados às espécies que afetam a saúde humana. Nos Estados 
Unidos da América, as estimativas de custo, considerando apenas os prejuízos e os gastos 
com o controle de espécies exóticas invasoras, são da ordem de US$ 137 bilhões ao ano. 
 
Se valores monetários pudessem ser atribuídos à extinção de espécies, à perda de 
biodiversidade e aos serviços proporcionados pelos ecossistemas, o custo decorrente dos 
impactos negativos gerados pela presença das espécies exóticas invasoras seria muitas vezes 
maior. 
15 
 
 
Dados indicam que mais de 120 mil espécies exóticas de plantas, animais e 
microorganismos já foram introduzidas nos seis países acima mencionados. Com base nesses 
números, estima-se que um total aproximado de 480 mil espécies exóticas já foram introduzidas 
nos diversos ecossistemas da Terra. Considera-se que mais de 70% dessas introduções ocorreram 
como resultado de ações humanas. Se imaginarmos que 20 a 30% dessas espécies introduzidas 
são consideradas pragas e que estas são as responsáveis pelos grandes problemas ambientais 
enfrentados pelo homem, é fácil imaginar o tamanho do desafio que, forçosamente, temos de 
enfrentar para o controle, monitoramento, mitigação e, eventualmente, a erradicação dessasespécies de ambientes naturais. Desde o ano de 1600, as espécies exóticas invasoras já 
contribuíram com 39% das extinções de animais cujas causas são conhecidas. 
 
No caso das plantas, por exemplo, alguns autores, na década de 1970, quantificaram que 
os prejuízos econômicos na produção agrícola, decorrentes da ação de espécies invasoras eram 
da ordem de 11,5% em regiões temperadas. Já em regiões tropicais, a redução da produção se 
situava entre os 30 e 40%. Outros autores, na década de 1980, estimaram que essas perdas eram 
da ordem de 10% da produção agrícola mundial. 
 
Os prejuízos causados por espécies exóticas invasoras às culturas, pastagens e áreas de 
florestas na América do Sul excedem a muitos bilhões de dólares ao ano. Na Argentina, por 
exemplo, o gasto relacionado ao controle da mosca das frutas ultrapassa os US$ 10 milhões de 
dólares anuais, além da perda adicional anual de 15 a 20% da produção de frutas. Essas perdas 
equivalem a US$ 90 milhões de dólares ao ano, sem contabilizar os impactos econômicos e 
sociais indiretos gerados com a redução da produção e a perda de mercados de exportação. Na 
Nova Zelândia, por outro lado, onde todos os materiais postais são examinados visando prevenir a 
entrada de material biológico, conseguiu-se reduzir a tal ponto os prejuízos decorrentes da 
mosquinha-das- frutas que o saldo positivo da produção agrícola paga todo o sistema de inspeção. 
 
No Rio Grande do Sul, a espécie Eragrostis plana (capim-annoni) ameaça os 
sistemas seculares de produção bovina em função da perda da cobertura vegetal nativa, composta 
por diversas espécies de gramíneas, leguminosas e outras famílias importantes na composição dos 
campos naturais. Estima-se que dos 15 milhões de hectares de campos naturais presentes no 
estado do Rio Grande do Sul, cerca de três milhões já estejam invadidos por essa gramínea 
africana, com prejuízos de mais de US$ 75 milhões anuais à pecuária do Estado. Atualmente essa 
espécie já está presente nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná e vem se 
disseminando para outras regiões. 
 
Ainda na Região Sul do Brasil, as espécies Tecoma stans (amarelinho) e a Houvenia dulcis 
(uva do japão), entre outras, vem desenvolvendo, no estado do Rio Grande do Sul, um 
crescente processo de invasão. No estado do Paraná, a planta Tecoma stans encontra-se 
disseminada em mais de 170 dos 393 municípios do Estado, estando já registrada como invasora 
em 85 deles, com seu cultivo e uso proibidos no Estado. Sua presença está confirmada em cerca 
de 50 mil hectares de pastagens, dos quais 15 mil já estão totalmente improdutivos. 
 
Ao considerar a fauna invasora, vale registrar a crescente disseminação da Achatina 
fulica (caracol gigante africano), atualmente presente no Distrito Federal e 
16 
 
 
em mais 23 estados brasileiros. Outros exemplos que estão trazendo sérias 
preocupações aos governos estaduais se referem às espécies Sus scrofa (javali), Aedes aegypti 
(mosquito da dengue) e Callithrix jacchus (sagüi). 
 
Nos ambientes aquáticos, destacam-se as macrófitas exóticas que causam inúmeros 
problemas para os diversos usos da água em diferentes regiões do país. Os problemas envolvem 
desde o acumulo de lixo e outros sedimentos até a proliferação de vetores patogênicos, além das 
dificuldades relacionadas à navegação, à geração de energia, à distribuição de água à 
populações humanas, à irrigação, à recreação e à pesca, com prejuízos ao turismo regional, bem 
como perda de receita e empobrecimento dos municípios. 
 
De fato, espécies exóticas invasoras geram graves conseqüências em ambientes aquáticos 
continentais em todo o mundo, com destaque para: a invasão da Perca do Nilo (Lates niloticus), 
no Lago Victoria, na África, que, junto com a tilápia- do-Nilo (Oreochromis niloticus), causou a 
extinção de centenas de espécies nativas de peixes; do Mexilhão Zebra (Dreissena polymorpha) e 
da Lampréia (Petromyzon marinus), nos Grandes Lagos da América do Norte, que resultou no 
colapso da pesca comercial nessa região. Alguns estudos quantificaram as perdas econômicas 
associadas à introdução de 13 espécies exóticas invasoras no Canadá e obtiveram uma estimativa 
anual da ordem de 187 milhões de Dólares Canadenses. Em ambientes aquáticos, a invasão de 
moluscos e da lampréia marinha provocam perdas anuais de 32,3 milhões de Dólares Canadenses. 
 
É importante considerar que o custo de controle e manejo de espécies exóticas invasoras 
em um novo ambiente é elevado. Portanto, investimentos em ações de prevenção de futuras 
introduções podem evitar a perda de bilhões de dólares à agricultura, à floresta e a ecossistemas 
naturais e manejados e à saúde humana. 
 
Ao contrário de muitos problemas ambientais que se amenizam com o passar do 
tempo, a contaminação biológica tende a se multiplicar e se espalhar, causando problemas 
de longo prazo que se agravam e não permitem a recomposição natural dos ecossistemas 
afetados. Essas degradações ambientais colocam em risco atividades extrativistas e outras 
atividades econômicas ligadas ao uso dos recursos naturais. 
 
Reconhecendo a importância do problema das invasões biológicas, o Brasil, por 
meio do Ministério do Meio Ambiente - MMA, e em estreita articulação com os diferentes 
setores da sociedade, vem desenvolvendo, desde 2001, uma série de ações relacionadas à 
prevenção de novas introduções; detecção precoce; erradicação; controle/manejo; e 
monitoramento de espécies exóticas invasoras que podem afetar ecossistemas, habitas e 
espécies nativas. Estas ações dizem respeito à revisão e ao desenvolvimento de normativas 
relacionadas à matéria, realização de inventários das espécies exóticas ocorrentes nos diversos 
ecossistemas brasileiros, inclusive no âmbito de bacias hidrográficas, discussão sobre a 
elaboração de lista oficial de espécies exóticas invasoras em âmbito nacional e estímulo à 
abertura de linhas de financiamento para ações de controle, bem como atividades de pesquisa. 
 
Certos ambientes parecem ser mais suscetíveis que outros à invasão, especialmente 
quando degradados. Além da maior suscetibilidade de alguns ambientes, 
17 
 
 
existem espécies cujas características facilitam o seu estabelecimento em novas áreas. A 
ecologia das espécies invasoras é um tema complexo, que envolve desde os mecanismos de 
entrada e dispersão destas espécies, passando pelas características biológicas que as tornam 
invasoras, relação entre as atividades humanas e sua disseminação, impactos sócio-econômicos 
(positivos ou negativos) que causam, até os aspectos legais e técnicas de manejo. 
 
Em razão da complexidade dessa temática, as espécies exóticas invasoras envolvem uma 
agenda bastante ampla, com ações interinstitucionais e multidisciplinares. Ações de 
prevenção, erradicação, controle e monitoramento são fundamentais e exigem o envolvimento e a 
convergência de esforços dos diferentes órgãos dos governos federal, estadual e municipal 
envolvidos no tema, além do setor empresarial e das organizações não-governamentais. A 
implementação da presente Estratégia Nacional deverá contribuir decisivamente para a prevenção 
de novas introduções, bem como para a mitigação dos impactos decorrentes da presença de 
espécies exóticas invasoras aos diferentes biomas do país ou às suas diferentes bacias 
hidrográficas. 
 
A Estratégia Nacional se constitui no primeiro documento aprovado no âmbito do 
Governo Federal que pode orientar as diferentes esferas do governo no trato das questões 
relativas às espécies exóticas invasoras. Obviamente, legislações específicas serão 
necessárias para prevenir ou diminuir a introdução e a translocação de exóticas invasoras no país. 
 
A Estratégia Nacional representa, ainda, um importante instrumento para a 
internalizaçãoe implementação no país do artigo 8(h) da Convenção sobre Diversidade 
Biológica. Da mesma forma, a Estratégia se traduz em uma efetiva ferramenta que o país dispõe 
para a consecução das determinações das Decisões V/8, VI/23 e IX/4, das Conferências das 
Partes, da CDB, quando foram tratadas, em profundidade, as complexas questões relacionadas às 
espécies exóticas invasoras. 
 
Prevenir e mitigar os impactos negativos de espécies exóticas invasoras sobre a população 
humana, os setores produtivos, o meio ambiente e a biodiversidade, por meio do planejamento e 
execução de ações de prevenção, erradicação, contenção ou controle de espécies exóticas 
invasoras com a articulação entre os órgãos dos Governos Federal, Estadual e Municipal e a 
sociedade civil, incluindo a cooperação internacional. 
 
Para os propósitos desta Estratégia Nacional sobre Espécies Exóticas Invasoras, entende-se 
por: 
 
Espécie Exótica ou Alóctone - espécie ou táxon inferior e híbrido 
interespecífico introduzido fora de sua área de distribuição natural, passada ou presente, incluindo 
indivíduos em qualquer fase de desenvolvimento ou parte destes que possa levar à reprodução. 
18 
 
 
Espécie Exótica Invasora ou Alóctone Invasora - espécie exótica ou alóctone cuja 
introdução, reintrodução ou dispersão representa risco ou impacta negativamente a sociedade, a 
economia ou o ambiente (ecossistemas, habitats, espécies ou populações). 
 
Introdução – movimento de espécie exótica por ação humana, intencional ou não 
intencional, para fora da sua distribuição natural. Esse movimento pode realizar-se dentro de um 
país, entre países, ou fora da zona de jurisdição nacional. 
 
Introdução Intencional - movimento ou liberação deliberada de uma espécie exótica fora 
da sua distribuição natural por ação humana. 
 
Introdução Não-Intencional – todas as outras formas de introdução por ação humana que 
não as intencionais. 
 
Estabelecimento – processo de reprodução com êxito de uma espécie exótica com 
probabilidade de contínua sobrevivência em um novo habitat. 
 
Análise de Risco – (i) avaliação das conseqüências da introdução, da probabilidade de 
estabelecimento de uma espécie exótica, com base em informação científica e (ii) identificação 
de medidas que podem ser implementadas para reduzir ou gerir os riscos, levando em conta os 
aspectos ambientais, sócio-econômicos e culturais. 
 
Introdução de Espécies 
Introdução Intencional 
Não deveria haver primeira introdução intencional ou introduções posteriores de uma 
espécie exótica considerada invasora ou potencialmente invasora em um país sem que 
houvesse autorização prévia de uma autoridade competente do estado receptor. Uma análise 
de risco apropriada, que poderia incluir uma avaliação do impacto no meio ambiente, deveria ser 
conduzida como parte do processo de avaliação antes de uma decisão conclusiva sobre autorizar 
ou não a introdução proposta ao país ou às novas 
19 
 
 
zonas ecológicas, dentro de um país. Os estados deveriam conduzir todos os esforços necessários 
para permitir somente a introdução de espécies cuja ameaça à diversidade biológica seja 
improvável. O ônus da prova de que uma introdução proposta não ameace a diversidade 
biológica deveria corresponder ao proponente da introdução, ou ser atribuída, conforme 
apropriado, ao estado receptor. A autorização de uma introdução pode, quando apropriado, ir 
acompanhada de condições (por exemplo, preparação de um plano de mitigação, 
procedimentos de monitoramento, pagamento pela avaliação e manejo ou, ainda, requisitos de 
contenção). 
 
As decisões relativas à introduções intencionais deveriam ser baseadas no abordagem 
precautória, incluindo as análises de riscos, estabelecida no Princípio 15 da Declaração do 
Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento e no preâmbulo da Convenção sobre 
Diversidade Biológica. Onde existir ameaça de redução ou perda de diversidade biológica, 
a falta de certeza científica e conhecimento sobre uma espécie exótica não deveria impedir que 
uma autoridade competente adotasse uma decisão a respeito da introdução intencional de tal 
espécie exótica, de modo a evitar a disseminação e os impactos negativos da espécie exótica 
invasora. 
 
Introdução Não-Intencional 
 
Todos os estados deveriam ter disposições que abordassem introduções não 
intencionais (ou introduções intencionais que tenham se estabelecido e se tornado invasoras). 
Estas disposições poderiam incluir medidas estatutárias e regulatórias, bem como o 
estabelecimento e o fortalecimento de instituições e órgãos com responsabilidades apropriadas. 
Recursos operativos deveriam ser suficientes para permitir ação rápida e efetiva. 
 
Deve-se identificar rotas comuns que conduzam a introduções intencionais, assim como 
disposições deveriam ser disponibilizadas para minimizar tais introduções. Atividades 
setoriais, tais como pesca, agricultura, silvicultura, horticultura, transporte marítimo 
(incluindo a descarga de águas de lastro), transporte de superfície e aéreo, projetos de 
construção, paisagismo, aqüicultura, incluindo a aqüicultura de espécies de uso ornamental, 
turismo, indústria de animais de estimação e reservas de caça são vias de introduções não 
intencionais. Avaliação de impacto ambiental dessas atividades deveria incorporar o risco de 
introdução não intencional de espécies exóticas invasoras. Quando apropriado, análise de risco 
de introdução não intencional de espécies exóticas invasoras deveria ser conduzida para essas 
rotas. 
 
Mitigação de impactos 
 
Mitigação de Impactos – interna e externa 
 
Uma vez detectado o estabelecimento de uma espécie exótica invasora, os estados, 
individual e cooperativamente, deveriam adotar etapas apropriadas, tais como erradicação, 
contenção e controle, para mitigar os efeitos adversos. As técnicas utilizadas para a 
erradicação, contenção ou controle devem ser seguras para os seres humanos, para o meio 
ambiente e para a agricultura e, também, aceitáveis eticamente pelos interessados nas áreas 
20 
 
 
afetadas pelas espécies exóticas invasoras. Medidas de mitigação deveriam, com base na 
abordagem precautória, ser adotadas nos primeiros estágios da invasão. Em consonância com a 
política ou legislação nacional, uma pessoa ou entidade responsável pela introdução de espécie 
exótica invasora deveria assumir os custos das medidas de controle e da restauração da 
diversidade biológica, sempre que comprovada a falha no cumprimento das leis e regulamentos 
nacionais. Portanto, é importante a detecção precoce de novas introduções de espécies exóticas 
potencialmente invasoras ou invasoras conhecidas, e precisam ser combinadas com a 
capacidade de tomada de ação rápida. 
 
Erradicação 
 
Onde for exequível, a erradicação é, freqüentemente, a melhor medida para tratar da 
introdução e estabelecimento de espécie exótica invasora. A melhor oportunidade para 
erradicar espécie exótica invasora é nos primeiros estágios da invasão, quando as 
populações são pequenas e localizadas. Por conseguinte, sistemas de detecção precoce, focados 
em pontos de entrada de alto risco, podem ser particularmente úteis, enquanto monitoramento 
de pós- erradicação podem ser necessários. Com freqüência o apoio da comunidade é 
indispensável para se obter êxito nas atividades de erradicação, e é especialmente efetivo 
quando se aplica mediante consultas. Também devem ser considerados os efeitos secundários 
sobre a diversidade biológica. 
 
Contenção 
 
Quando a erradicação não é apropriada, limitar a propagação (contenção) de espécies 
exóticas invasoras é, freqüentemente, uma estratégia apropriada nos casos onde o alcance 
dos organismos ou de uma população é suficientemente pequeno para tornar estesesforços 
factíveis. O monitoramento regular é indispensável e deve estar vinculado com ação rápida 
para erradicar qualquer nova invasão. 
 
Controle 
 
Medidas de controle deveriam focar na redução do dano causado, bem como na redução 
do número das espécies exóticas invasoras. Um controle efetivo dependerá, freqüentemente, do 
alcance das técnicas de manejo integrado, incluindo o controle mecânico, químico, biológico e 
manejo do habitat, executados de acordo com os regulamentos nacionais e os códigos 
internacionais existentes. 
 
Controle de Espécies Exóticas Invasoras em Áreas Protegidas 
 
Ações deverão ser desenvolvidas visando contemplar, prioritariamente, as Unidades do 
Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC. Ênfase inicial será dada às UCs de 
Proteção Integral, tanto em âmbito federal quanto estadual, com vistas à: (i) identificação das 
espécies exóticas presentes; (ii) avaliação de risco de dano real e potencial; (iii) avaliação de 
impactos causados no âmbito de cada espécie, se for o caso; (iv) definição de unidades 
prioritárias para ação; e (v) definição de medidas necessárias para prevenção, erradicação, 
mitigação e controle e monitoramento. 
 
Unidades de Conservação de Proteção Integral 
21 
 
 
Promover a elaboração de planos de ação para prevenção, erradicação, controle e 
monitoramento de espécies invasoras em cada UC, independente da existência ou não de 
planos de manejo. 
 
Unidades de Conservação de Uso Sustentável 
 
Elaborar regulamentação de uso para espécies exóticas utilizadas em sistemas de 
produção, contemplando ações de prevenção, controle e manejo. 
 
Demais Áreas Protegidas e Áreas Prioritárias para a 
Conservação da Biodiversidade 
Elaborar e implementar planos de ação para erradicação e controle de espécies 
invasoras com ênfase para Áreas de Preservação Permanente, Reserva Legal e Áreas 
Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade, conforme definido nos decretos 5.092 
de 21 de maio de 2004 e 5,758, de 13 de abril de 2006. 
 
A introdução de espécies "estranhas", num país, constitui uma das maiores ameaças à 
biodiversidade do planeta e é um factor de prejuízos económicos, danos para a saúde pública, 
entre outros. Esta situação torna-se problemática porque as espécies que são introduzidas podem 
seguir dois caminhos: ou ocupam nichos ecológicos idênticos aos seus originais, livres, e podem 
conseguir adaptar-se com sucesso; ou pelo contrário inserem-se em nichos ecológicos já 
ocupados e proporcionam competições com as espécies já existentes, originando a exclusão de 
alguma delas. Existe uma diferença entre as espécies introduzidas, consoante o seu "grau" de 
adaptabilidade ao meio, podendo estas ser: exóticas ou alóctones (que não são 
indígenas/autóctones de uma dada área) ou invasoras (que também não são autóctones dum 
determinado sítio, mas que dada a sua proliferação descontrolada, atingem as proporções de 
praga). Note-se, no entanto, que as espécies começam a ser introduzidas como exóticas e que, 
posteriormente, devido a óptimas condições para o seu desenvolvimento, se tornam numa 
autêntica praga (invasoras); contudo, esta observação não implica que todas as espécies 
alóctones introduzidas se tornem pragas! 
A maior causa de introdução de novas espécies é a intervenção humana, pois, por ela, muitas 
das espécies actualmente existentes apresentam uma área de distribuição que não foi a 
determinada inicialmente. 
 
Umas, como é o caso do camaleão (que foi introduzido no Pinhal de Monte-Gordo), do 
achigã (peixe que foi introduzido um pouco por todas as albufeiras do país), por terem 
encontrado nichos ecológicos desocupados, e consequentemente por não terem competidores 
directos, sobreviveram e adaptaram-se bem ao meio em que foram inseridos. Outras como a 
acácia, o eucalipto, o jacinto-de-água, com a sua introdução, encontraram outras espécies com 
as quais competiram, e sendo as mais aptas implantaram a sua supremacia, e tornaram-se 
pragas. 
 
Introdução irresponsável de espécies exóticas. As nossas espécies autóctones estão 
ameaçadas, talvez, de extinção. 
Em próximos trabalhos, iremos abordar o efeito desvastador que alguns destes invasores têm 
vindo causar na biodiversidade do nosso país. 
Como apontamento final, fica aqui a nossa chamada de atenção para a importância da educação 
ambiental e, acima de tudo, para a criação de espaços onde o cidadão anónimo e, especialmente, 
os jovens sejam sensibilizados para a problemática da biodiversidade ao nível local e 
planetário. São muitas as espectativas criadas com a criação do centro de interpretação 
ambiental em Viana do Castelo. 
22 
 
 
 
ESTRATÉGIAS PARA CONSERVAÇÃO DA DIVERSIDADE BIOLÓGICA: HOTSPOTS 
(ÁREAS DE ALTA BIODIVERSIDADE) E CENTROS DE ENDEMISMOS. 
 
Em todo o mundo, a sociedade e o poder público vêm se mobilizando para criar 
mecanismos que garantam a conservação da diversidade biológica. Em relação aos 
ecossistemas florestais, o desmatamento e a consequente redução e fragmentação do habitat 
são apontados como fortes ameaças à biodiversidade. Assim, este trabalho objetivou 
apresentar e discutir estratégias que podem ser utilizadas para a conservação da 
diversidade biológica em paisagens florestais fragmentadas. No Brasil, os esforços 
conservacionistas têm se concentrado na manutenção de grandes extensões de florestas em 
Unidades de Conservação da Natureza e outras áreas protegidas. A recuperação de áreas 
degradadas, através de reflorestamentos com espécies nativas e a implantação de corredores 
ecológicos, também são ações importantes para a melhoria das condições ecológicas e para a 
conservação da diversidade biológica. Como, na realidade atual, as áreas com florestas estão 
inseridas em uma matriz de pastagens e áreas agrícolas, diversos autores sugerem ainda que 
os agricultores devam ser incluídos nos planos de conservação da biodiversidade, 
principalmente através do estimulo à adoção de meios produtivos diversificados e práticas 
conservacionistas. Além disso, a educação ambiental deve ser utilizada para que a população 
adquira consciência ambiental e, assim, valorize e atue na defesa dos fragmentos florestais. 
Todavia, apesar das estratégias utilizadas para a conservação das espécies terem se mostrado 
úteis, quando aplicadas isoladamente, elas apresentam falhas. Dessa maneira, é necessário adotar 
metodologias que envolvam várias dessas estratégias de maneira integrada. 
Impactos da fragmentação florestal sobre a diversidade biológica 
 
O processo de fragmentação florestal traz como consequência a redução e o isolamento 
dos habitats, além de ocasionar o aumento do efeito de borda, pois nos locais próximos do 
limite entre o remanescente e a matriz circundante são observadas alterações significativas na 
radiação, no vento e na dinâmica da água (SAUNDERS et al., 1991). As mudanças na paisagem 
podem causar uma série de impactos na biota, como a diminuição do fluxo gênico entre 
populações, a redução no tamanho das populações, a extinç ão de espécies e alterações na 
composiç ão das comunidades biótic as (MoRATo; CAMpoS, 2000; DAvIES et al., 2001; 
GIMENES; ANJoS, 2003; lAURENCE; vASCoNCEloS, 2009). A diversidade biológica 
presente em grandes extensões de florestas não é totalmente mantida nos fragmentos, pois não 
suportam grandes populações ou uma grande variedade de espécies. os fragmentos pequenos 
não suportam elevado número de indivíduos de espécies que precisam de grandes áreas para 
sobreviver, como vários predadores de topo de cadeia alimentar. Além disso, o isolamento das 
populações acarreta perda genética e de flexibilidade evolucionária, devido ao menor fluxo 
gênico (kAGEyAMA; GANDARA, 1998; CAMpoS, 2006). Existem ainda as espécies que não 
conseguem se adaptar às condições ambientais dos remanescentes florestais e a diversidade de 
habitats, geralmente, é menor em fragmentos que em

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