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ANA CAROLINNA PIRES PELOZI ACIDENTES DO TRABALHO E DOENÇAS OCUPACIONAIS, A REPERCUSSÃO NO SISTEMA PREVIDENCIÁRIO BRASILEIRO CENTRO UNIVERSITÁRIO TOLEDO ARAÇATUBA 2019 ANA CAROLINNA PIRES PELOZI ACIDENTES DO TRABALHO E DOENÇAS OCUPACIONAIS, A REPERCUSSÃO NO SISTEMA PREVIDENCIÁRIO BRASILEIRO Trabalho de conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito à Banca Examinadora do Centro Universitário Toledo, sob orientação do Prof. Doutor Luiz Gustavo Boiam Pancotti CENTRO UNIVERSITÁRIO TOLEDO ARAÇATUBA 2019 Ana Carolinna Pires Pelozi ACIDENTES DO TRABALHO E AS DOENÇAS OCUPACIONAIS, A REPERCUSSÃO NO SISTEMA PREVIDENCIÁRIO BRASILEIRO Trabalho de conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito à Banca Examinadora do Centro Universitário Toledo, sob orientação do Prof. Doutor Luiz Gustavo Boiam Pancotti. Aprovado em ____de ______________de ______ BANCA EXAMINADORA Centro Universitário Toledo Dedico este trabalho à mulher mais inspiradora que tive nesta vida, minha mãe, sem ela e seus esforços muita coisa não seria possível para mim. Por toda força, dos dias mais difíceis até aos mais tranqüilos e não me negar apoio nas situações mais desesperadoras que tivemos e passamos durante estes meus anos de graduação. Eterna gratidão. Essa conquista é nossa, e obrigada por sempre ter me dado seu voto de confiança. AGRADECIMENTOS Sempre tive fé e acreditei em Deus, então meu primeiro agradecimento será a Ele, pois esteve ao meu lado a todo o tempo e me fazendo ter forças para alcançar meu sonho, mesmo nos momentos em querer deixá-lo para trás, eu entendia que estaria aqui hoje escrevendo este trabalho por um propósito preparado em vida. Um agradecimento especial ao meu orientador Luiz Gustavo Boiam Pancotti, pelas ajudas, conselhos e os nortes dados em minha pesquisa, sem seus conhecimentos, este trabalho não faria sentido algum. Também agradeço todas as mulheres da minha vida, especialmente a minha mãe por qual dediquei cada palavra escrita aqui e em todos os cadernos, anotações e resumos feitos por mim. Claro, agradeço as minhas duas irmãs, cada uma com o seu jeito especial e particular de me ajudar, aconselhar e distrair, elas foram essenciais durante esse período. À minha avó, desde meu primeiro dia na faculdade me ajudando de diversas e inúmeras formas. Ao meu avô que permaneceu vivo em minha alma e meu coração, sei da felicidade sentida por ele onde quer que esteja em cada conquista até agora. Agradeço ao meu namorado pelo convívio diário, apoio, paciência, compreensão, confiança, sendo parte especial da minha jornada na universidade, pois o conheci durante o curso, ficando e estando juntos após isto. Meu imenso obrigada a Bateria Hedionda, fizemos uma verdadeira família de alma, com certeza vou sentir muita falta, parte da mudança interior que tive foi graças a ela. Nunca imaginaria tocar tamborim um dia e nem conhecer o amor da minha vida no meu primeiro ensaio durante uma tarde. Por fim, quero agradecer por cada amizade sincera, os presentes que a faculdade e Deus me deram, foi maravilhoso cada risada, festa, ensinamento, estudo, essa época com certeza não teria sido a mesma sem a participação de cada uma dessas pessoas, somente amor por vocês. RESUMO Este trabalho objetivou ao estudo dos acidentes do trabalho e das doenças ocupacionais e a repercussão no sistema previdenciário. Com a definição e análise de seus conceitos, bem como a evolução histórica da Previdência e sua proteção no território nacional. Tratando de forma clara a teoria do risco, natureza da responsabilidade do empregador, formas de prevenção e procedimentos a serem adotados no caso de acidente, repercutindo a responsabilização civil do superior hierárquico e as Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho, quais garantem hoje em dia de forma mais concreta a saúde e segurança do trabalhador. Ao que pese, tratando dos benefícios concedidos no caso de acidente ou doença, a necessária relação de emprego devidamente conceituada e por fim, o nexo de causalidade para o enquadramento previsto em lei, bem como a comprovação da incapacidade analisada por meio de perícia médica previdenciária. Palavras-chave: Acidentes do trabalho; Doenças Ocupacionais; Previdência Social. ABSTRACT This work aimed to the study of the accidents of the labor and the occupational diseases and the repercussion in the social security system. With the definition and analysis of his concepts, as well as the historical evolution of the Foresight and his protection in the national territory. Treating as a clear form the theory of the risk, nature of the responsibility of the employer, the forms of prevention and proceedings to be adopted in case of accident, echoing the civil responsabilização of the hierarchical superior and the Standards Regulators of the Ministry of Labor, which guarantee nowadays in the more concrete form the health and security of the worker. To what weighs, treating the benefits granted in case of accident or disease, the necessary job relation properly conceptualized and for end, the causality connection for the framing predicted in law, as well as the proof of the incompetence analysed through medical skill social security. Keywords: Accidents of the Labor; Occupational Diseases; Social Security. LISTA DE SIGLAS CAT – Comunicação de Acidente de Trabalho CIPA – Comissão Interna de Proteção de Acidentes CLT – Consolidação das Leis do Trabalho DORT – Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho INSS – Instituto Nacional do Seguro Social LER – Lesões por Esforços Repetitivos NR – Normas Regulamentadoras OIT – Organização Internacional do Trabalho SABI – Sistema de Administração de Benefícios por Incapacidade SESMT – Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho SUMÁRIO INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 11 I ACIDENTE DE TRABALHO E AS DOENÇAS OCUPACIONAIS ............................. 13 1.1 Histórico da evolução da proteção previdenciária ........................................................ 13 1.2 Proteção previdenciária brasileira .................................................................................. 15 1.3 Conceito de acidente do trabalho .................................................................................... 22 1.3.1 Acidente típico ................................................................................................................. 23 1.3.2 Acidente de trajeto ........................................................................................................... 24 1.3.3 Acidente comum .............................................................................................................. 25 1.3.4 Acidente por equiparação ................................................................................................ 26 1.4 Conceito de doenças ocupacionais .................................................................................. 29 1.4.1 - Doença profissional ....................................................................................................... 30 1.4.2 - Doença do trabalho........................................................................................................31 1.4.3 - Doenças excluídas ......................................................................................................... 32 II RESPONSABILIDADE DO EMPREGADOR ................................................................ 34 2.1 Teoria do risco .................................................................................................................. 34 2.2 Natureza da Responsabilidade do Empregador ............................................................ 36 2.3 Formas de prevenção ....................................................................................................... 38 2.4 Procedimentos a serem adotados em caso de acidente .................................................. 41 2.5 Responsabilidade civil do empregador em razão do risco ............................................ 43 2.6 NR do Ministério do Trabalho ........................................................................................ 44 III BENEFÍCIOS ACIDENTÁRIOS .................................................................................... 47 3.1 Dos benefícios por incapacidade ..................................................................................... 47 3.1.1 Do auxílio doença ............................................................................................................ 49 3.1.2 Do auxílio acidente .......................................................................................................... 51 3.1.3 Da aposentadoria por invalidez ....................................................................................... 53 3.2 Da perícia médica previdenciária ................................................................................... 56 3.3 Do sistema SABI ............................................................................................................... 57 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 59 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 60 11 INTRODUÇÃO O tema escolhido será tratado sobre os acidentes do trabalho e doenças ocupacionais, como estas repercutem no sistema previdenciário brasileiro, desenvolvendo conceitos e entendimentos acerca de previsões legais, doutrinárias e jurisprudenciais. Destacando, os sujeitos cujo quais terão direito aos benefícios concedidos pela Previdência Social, bem como, a possibilidade desta última conceder ou não o benefício pleiteado pelo segurado. Havendo, a exposição de espécies de acidentes do trabalho e doenças ocupacionais, que não se enquadram na concessão de benefício, podendo desta forma, delimitar necessariamente ao tema abordado. Terão enfoque também as responsabilidades do empregador e sua natureza, quando da decorrência destes eventos, informando sobre as devidas formas de prevenção. De modo geral, será tratar do assunto de maneira clara, visando às possíveis ideias de solução ao problema destacado, a fim de deixar pautado da melhor maneira possível para todas as partes envolvidas, segurado-empregado, empregador e a Previdência. Situando o tema, acidentes do trabalho de modo em geral são imprevistos, ocorridos em situações adversas nos locais de execução do trabalho habitual, já as doenças ocupacionais são variações na saúde do trabalhador causadas por fatores relacionados ao trabalho, e por fim, como irão repercutir no sistema previdenciário, ao passo que o trabalhador passa a ter este direito. É possível percepção que os acidentes e as doenças laborais geram direitos tanto trabalhistas como previdenciários, assim identificando de maneira correta o que virá a ser a incapacidade para o trabalho, tornando indispensável esta menção para a repercussão mencionada, sendo certo, a própria Previdência que irá arcar com o pagamento dos benefícios. Por conseguinte, pretende-se identificar o poder-dever da Previdência ao segurado em caso de acidente do trabalho ou doença ocupacional, caracterizando concretamente o benefício, onde o individuo se encontrará impossibilitado de gerar renda. Como veremos, a Previdência Social é uma vertente dos órgãos que compõem o Sistema de Seguridade Social, estudando sua evolução histórica no âmbito mundial e no Brasil, onde por sua vez é administrada por uma das autarquias mais importantes do território nacional, o INSS (Instituto Nacional da Seguridade Social). 12 Por fim, a metodologia utilizada será a bibliográfica e documental, delimitando especificamente as fontes escolhidas para a colheita de dados serão, doutrina, leis, jurisprudências, decisões dos tribunais, artigos e portarias do Ministério do Trabalho para descrever e determinar a problemática por meio de uma conclusão. Visando conhecer, identificar, levantar, analisar, verificar e explicar sobre o assunto. 13 I ACIDENTE DE TRABALHO E AS DOENÇAS OCUPACIONAIS O presente trabalho terá como seu principal objetivo o estudo sobre acidentes do trabalho e doenças ocupacionais e como estas repercutem no cenário da Previdência Social brasileira, para isto serão desenvolvidos tópicos desenvolvendo a temática, chegando assim em suas considerações finais. 1.1 Histórico da evolução da proteção previdenciária Preliminarmente, e como quase boa parte das dissertações científicas costuma trazer, para dar início a um trabalho acadêmico ou obra, é necessário informar-se sobre a evolução histórica do assunto abordado. Vejamos, pois, de nada adiantaria que, ao explicar sobre o objeto central da problemática destacada, ou até mesmo os seus primeiros conceitos, sendo lógico e adequadamente certo, para a devida compreensão, antes de qualquer outra averiguação, não os apresentasse ao certo, a origem principal do tema escolhido, cujo qual, por sua vez foi um direito reclamado de imediato pelos primeiros sujeitos, onde até então, não tinham conhecimento sobre o mesmo e claro, não fariam ideia do peso e tamanha força de suas lutas enfrentadas como reflexo nos dias atuais. Reflexo disto é uma crítica feita pelo Papa Leão no ano de 1891, recebendo a nomenclatura: “Encíclica Papal Rerum Novarum”, basicamente uma manifestação contra todas as barbáries sofridas pelos trabalhadores, apoiando seus direitos de vida digna e possuírem propriedade privada: Em todo o caso, estamos persuadidos, e todos concordam nisto, de que é necessário, com medidas prontas e eficazes, vir em auxílio dos homens das classes inferiores, atendendo a que eles estão, pela maior parte, numa situação de infortúnio e de miséria imerecida. [...]. Entre estes deveres, eis os que dizem respeito ao pobre e ao operário: deve fornecer integral e fielmente todo o trabalho a que se comprometeu por contrato livre e conforme à equidade; não deve lesar o seu patrão, nem nos seus bens, nem na sua pessoa; as suas reivindicações devem ser isentas de violências e nunca revestirem a forma de sedições; deve fugir dos homens perversos que, nos seus discursos artificiosos, lhe sugerem esperanças exageradas e lhe fazem grandes promessas, as quais só conduzem a estéreis pesares e à ruína das fortunas. (Papa Leão XIII, 1891, disponível em: https://bit.ly/1kW5vPo). 14 Obstante ainda perceber, um dos ensejos das batalhas enfrentadas por nossos antepassados é que hoje a Seguridade Social está elencada como cláusula pétrea na Constituição Federal de 1988, ou seja, sem qualquer perigo de afetação do poder constituinte reformador, fazendo-a então, um direito e garantia fundamental. Para uma proteção social efetivar-se, haverá dano ou receio de dano à necessidade individual e também coletiva, mostrando-se certa a teoria do risco social. Qualquer modelo deproteção social – e, sobretudo, os modernos sistemas de seguridade social – tem por finalidade propiciar ao indivíduo a superação de um estado de necessidade social gerado por uma contingência social – ou risco social. (VIANNA, 2014, p.4). Compreende-se a necessidade de que faz o homem sacrificar-se para proteger a si mesmo e a coletividade em que vive, assim, portanto o que pôde ser observado com o passar dos anos e o crescimento da humanidade, nascendo então os primeiros vestígios de uma proteção social. “A mutualidade pode ser concebida como instituição que agrupa um determinado número de pessoas com o objetivo de se prestar a ajuda mútua, em vista de eventualidade futura”. RUPRECHT (1996, apud PEREIRA JÚNIOR, 2005, disponível em: https://bit.ly/2RUZyCy). A Mesopotâmia (antiga região do Oriente Médio) foi a primeira a postular os direitos da sociedade e seus riscos, vindo logo em seguida Grécia e Roma: O Código de Hamurabi é apontado pela doutrina como uma das primeiras tentativas de normatizar algum método de proteção aos necessitados, tendo também em Roma surgido pequenas associações denominadas de collegia ou sadalitia de produtores e artesãos livres, que mantiveram alguns fundos de ajuda mútua, contudo, trataram de forma incipiente a questão da proteção aos desamparados. (BORGES, 2007, p. 32). Na Idade Média, houve a continuidade em espalhar a proteção social, porém ainda de forma mutualista, apenas em grupos de cunho profissional, somente mais tarde em 1601 na Inglaterra, com a Poor Law Act (Lei dos pobres), visando um programa de assistência social aos mais necessitados, vindo a combater a miséria, ajudando crianças, inválidos e desempregados, tornando-se, portanto o marco universal da proteção social no âmbito mundial. Quanto à previdência social, de caráter contributivo, há registros de que tenha suas origens na Inglaterra, país onde foi produzido o primeiro documento legal, o “Poor Relief Act”, de 1601, que regulamentou a instituição de auxílios e socorros públicos 15 aos necessitados através da criação de uma contribuição obrigatória arrecada da sociedade pelo Estado. (SANTOS JÚNIOR, 2017, disponível em: https://bit.ly/2OJvO9z). Progredindo de forma abrangente, a proteção social foi postulada em documentos importantíssimos para a história da humanidade como a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão em 1793 pela convenção francesa e o primeiro sistema de seguro social em 1883 na Alemanha: Também tem inegável relevância o artigo 21 da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, acrescentado pela Convenção Nacional francesa de 1793. Dispôs o artigo 21 que “os auxílios públicos são uma dívida sagrada. A sociedade deve a subsistência aos cidadãos infelizes, quer seja procurando-lhes trabalho, quer seja assegurando os meios de existência àqueles que são impossibilitados de trabalhar. Assim, verifica-se que a proteção assistencial passou, progressivamente, a ser institucionalizada. A gênese da proteção social conferida pelo Estado originou-se, então, na Alemanha, com a aprovação, em 1883, do projeto do Chanceler Otto Von Bismarck. A Lei do Seguro Social garantiu, inicialmente, o seguro-doença, evoluindo para abrigar também o seguro contra acidentes de trabalho (1884) e o seguro de invalidez e velhice (1889). O financiamento desses seguros era tripartido, mediante prestações do empregado, do empregador e do Estado. (JARDIM, 2013, disponível em: https://bit.ly/2KdI8BI). Em 1919 com a criação da OIT (Organização Internacional do Trabalho) que até hoje cuida das normas internacionais do trabalho como também de seguridade social, e por último e não menos importante, em 1948 na Declaração Universal dos Direitos Humanos a seguridade ser inerente à qualquer pessoa. Havendo de se concluir realmente que a proteção social, hoje conhecida como seguridade, é um direito de luta, como ainda ensina Vianna em sua obra. 1.2 Proteção previdenciária brasileira Assim como no restante do mundo, o Brasil evoluiu a história da previdência social, tendo seu início também de caráter assistencial e mutualista, até as vertentes da seguridade social, ao que se abrange em basicamente “necessidades sociais”. João Ernesto Aragonés Vianna conceitua de forma ampla, desde o berço da proteção previdenciária em nosso país: 16 No Brasil, a previdência privada teve origem em 1543, quando Braz Cubas criou um plano de pensão para os empregados da Santa Casa de Santos. A Constituição de 1824 previu os socorros públicos, ação de assistência social sem efeitos práticos. Em 1835, foi fundado o MONGERAL, Montepio Geral dos Servidores do Estado, primeira entidade privada organizada de previdência do país, muito embora sua primeira manifestação tenha sido em 1543. O MONGERAL, entretanto, contemplava modernos institutos de previdência privada. Em 1888, o Decreto no 9.912-A regulou o direito à aposentadoria dos empregados dos Correios. Eram exigidos 30 anos de efetivo serviço e idade mínima de 60 anos. No mesmo ano, a Lei nº 3.397 criou uma Caixa de Socorros em cada uma das Estradas de Ferro do Império. A Constituição de 1891 assegurou aposentadoria por invalidez aos funcionários públicos. A Lei nº 3.724/19 tornou o seguro contra acidentes do trabalho obrigatório em certas atividades. Em 1923, foi publicada a Lei Eloy Chaves, marco fundamental da previdência social no país. Essa lei criou caixas de aposentadorias e pensões para os trabalhadores das estradas de ferro, com tríplice forma de custeio: trabalhadores, empresas e Estado. Posteriormente, surgiram muitas outras caixas, mas sempre atreladas à ideia de mutualismo, pois vinculadas a certas categorias profissionais ou grupos de empresas – professores, bancários, marítimos etc. Ainda em 1923, foi publicado o Decreto no 16.037, o qual criou o Conselho Nacional do Trabalho, com atribuições, inclusive, de decidir sobre questões relativas à Previdência Social, implicando uma aproximação entre Direito do Trabalho e Direito Previdenciário que somente foi rompida com a Constituição Federal de 1988 – somente em 1992 o Ministério da Previdência Social foi definitivamente apartado do Ministério do Trabalho. Em 1926, a Lei nº 5.109 estendeu o regime da Lei Eloy Chaves aos portuários e marítimos e em 1928 a Lei nº 5.485 fê-lo em relação aos trabalhadores dos serviços telegráficos e radiotelegráficos. O Decreto no 19.433/30 criou o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, tendo como uma de suas atribuições orientar e supervisionar a Previdência Social, inclusive como órgão de recursos das decisões das Caixas de Aposentadorias e Pensões. O Decreto no 20.465/31 estendeu o regime da Lei Eloy Chaves aos empregados dos demais serviços públicos concedidos ou explorados pelo Poder Público, além de consolidar a legislação referente às Caixas de Aposentadorias e Pensões. Paulatinamente, os trabalhadores, ainda divididos por categorias profissionais, vão sendo incluídos na Previdência Social. Em 1933, o Decreto nº 22.872 criou o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos, considerado a primeira instituição brasileira de previdência social de âmbito nacional, com base na atividade genérica da empresa. A Constituição de 1934 previu a tríplice forma de custeio para a previdência, com contribuição obrigatória, constituindo relevante passo para a busca do equilíbrio financeiro do sistema. Em 1939, foi reorganizado o Conselho Nacional do Trabalho, criando-se a Câmara e o Departamento de Previdência Social. Em 1943, foi publicado o Decreto-lei nº 5.452, que aprovou a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), elaborada pelo Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, o qual elaborou também o primeiro projeto de Consolidação das Leis de Previdência Social.(VIANNA, 2014, p. 11). Desde 1543 Brás Cubas criou um plano de pensão, originando assim a previdência privada, logo após veio à criação do Mongeral (Montepio Geral dos Servidores de Estado), uma entidade privada, embora sua primeira manifestação tenha ocorrido antes. Ao decorrer dos anos, há de se observar que o marco histórico no Brasil para a previdência social foi a Lei Leroy Chaves criando aposentadorias e pensões para os trabalhadores das estradas de ferro com a tríplice forma de custeio – trabalhadores, empresas e 17 Estado, com o tempo, surgiram vários outros tipos de caixas, passando a vincular professores, bancários, marítimos e outros, mas ainda sim com a essência da “mutua ajuda”. Vindo após isto, decretos-lei reforçando a idéia de Previdência, um dos quais criou o Conselho Nacional do Trabalho objetivando decidir sobre questões referentes à Previdência Social, querendo a aproximação do Direito do Trabalho e Direito Previdenciário, o que foi rompido com a Constituição Federal de 1988 e somente em 1992 o Ministério da Previdência Social foi definitivamente apartado do Ministério do Trabalho Podendo assim observar a longevidade da garantia de direitos sociais desde o descobrimento de nossas terras, para então podermos chegar à proteção legislativa garantida nos dias atuais. Há de se destacar também, que a proteção previdenciária era sim garantida nas constituições anteriores que aqui vigeram, de forma que nossa primeira proteção desde cunho foi posta por Brás Cubas, porém postas àquela época e em outro ponto de vista. A Constituição de 1824, em seu artigo 179, inciso XXXI, que dizia “A Constituição também garante os soccorros publicos.” (BRASIL, 1824, disponível em: https://bit.ly/2dmEhCX). Já a Constituição do ano de 1891 previu a proteção em dois artigos distintos, tais quais foram o artigo 5º “Incumbe a cada Estado prover, a expensas próprias, as necessidades de seu Governo e administração; a União, porém, prestará socorros ao Estado que, em caso de calamidade pública, os solicitar.” E o artigo 75 “A aposentadoria só poderá ser dada aos funcionários públicos em caso de invalidez no serviço da Nação.” (BRASIL, 1891, disponível em: https://bit.ly/1LBCTma). Com o advento da Lei Maior de 1934 que vigorou em nosso território, pôde-se observar logo em seu preâmbulo a constitucionalização dos direitos sociais: Nós, os representantes do povo brasileiro, pondo a nossa confiança em Deus, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para organizar um regime democrático, que assegure à Nação a unidade, a liberdade, a justiça e o bem-estar social e econômico, decretamos e promulgamos a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL. (BRASIL, 1934, disponível em: https://bit.ly/1TKnxCq). Contudo em seu título IV “da ordem econômica e social” disposto em seguida pelo artigo 121 que previa: “A lei promoverá o amparo da produção e estabelecerá as condições do trabalho, na cidade e nos campos, tendo em vista a proteção social do trabalhador e os interesses econômicos do País.” (BRASIL, 1934, disponível em: https://bit.ly/1TKnxCq). 18 Com o advento da Carta de 1937, houve de certa forma um retrocesso, pois seu artigo 137 alínea “m” previa “a instituição de seguros de velhice, de invalidez, de vida e para os casos de acidentes do trabalho” (BRASIL, 1937, disponível em: https://bit.ly/1KTnEcj), mas ocorrendo a suspensão integral devido o Decreto número 10.358 de 1942. Nosso país, como já sabido teve em poucos anos de República muitas constituições, e em 1946, com a tentativa de restaurar a democracia, inovou mais uma vez em sua promulgação e a Previdência Social ganhou autonomia como mostrado em seu artigo 5º, alínea “b” de competência concorrente entre a União e Estados legislar sobre “normas gerais de direito financeiro; de seguro e previdência social; de defesa e proteção da saúde; e de regime penitenciário.” E também no artigo 157: “A legislação do trabalho e a da previdência social obedecerão nos seguintes preceitos, além de outros que visem à melhoria da condição dos trabalhadores.” (BRASIL, 1946, disponível em: https://bit.ly/2pbpkqO). A redação original da constituição de 1967 devido à ditadura militar, os direitos individuais bem como os sociais sofreram grandes consequências, porém somente com a Emenda Constitucional número 01 de 1969 onde houve mudanças em seu texto, trazendo direitos aos trabalhadores dispostos no artigo 165: Art. 165. A Constituição assegura aos trabalhadores os seguintes direitos, além de outros que, nos têrmos da lei, visem à melhoria de sua condição social: I - salário-mínimo capaz de satisfazer, conforme as condições de cada região, as suas necessidades normais e as de sua família; II - salário-família aos seus dependentes; III - proibição de diferença de salários e de critérios de admissões por motivo de sexo, côr e estado civil; IV - salário de trabalho noturno superior ao diurno; V - integração na vida e no desenvolvimento da emprêsa, com participação nos lucros e, excepcionalmente, na gestão, segundo fôr estabelecido em lei; VI - duração diária do trabalho não excedente a oito horas, com intervalo para descanso, salvo casos especialmente previstos; VII - repouso semanal remunerado e nos feriados civis e religiosos, de acôrdo com a tradição local; VIII - férias anuais remuneradas; IX - higiene e segurança no trabalho; X - proibição de trabalho, em indústrias insalubres, a mulheres e menores de dezoito anos, de trabalho noturno a menores de dezoito anos e de qualquer trabalho a menores de doze anos; XI - descanso remunerado da gestante, antes e depois do parto, sem prejuízo do emprêgo e do salário; XII - fixação das porcentagens de empregados brasileiros nos serviços públicos dados em concessão e nos estabelecimentos de determinados ramos comerciais e industriais; XIII - estabilidade, com indenização ao trabalhador despedido ou fundo de garantia equivalente; XIV - reconhecimento das convenções coletivas de trabalho; XV - assistência sanitária, hospitalar e médica preventiva; 19 XVI - previdência social nos casos de doença, velhice, invalidez e morte, seguro- desemprêgo, seguro contra acidentes do trabalho e proteção da maternidade, mediante contribuição da União, do empregador e do empregado; XVII - proibição de distinção entre trabalho manual, técnico ou intelectual ou entre os profissionais respectivos; XVIII - colônias de férias e clínicas de repouso, recuperação e convalescença, mantidas pela União, conforme dispuser a lei; XIX - aposentadoria para a mulher, aos trinta anos de trabalho, com salário integral; XX - greve, salvo o disposto no artigo 162. Parágrafo único. Nenhuma prestação de serviço de assistência ou de benefício compreendidos na previdência social será criada, majorada ou estendida, sem a correspondente fonte de custeio total. (BRASIL, 1969, disponível em: https://bit.ly/1Lmr07C). Com o fim do regime militar e a concepção de uma nova constituinte, em 05 de outubro de 1988 nasceu a nossa atual Constituição Federal, conhecida popularmente como “Constituição Cidadã”, visto que logo após um período de drásticas mudanças, o país precisaria se reerguer, com um olhar mais solidário ao próximo do que impositivo, assim logo em seu artigo 3º, inciso III, visa como um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, “Erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais.” (BRASIL, 1988, disponível em: https://bit.ly/1bIJ9XW). Podendo-se assim perceber que as garantias fundamentais sociais, foram restabelecidas logo em seu início com seu advento. Ademais, especificamente tratou em seu artigo 194 sobre a Seguridade Social, trazendo em cada inciso os principais princípios que a orientariam, tais quais são:Princípio da universalidade, uniformidade, seletividade, irredutibilidade do valor dos benefícios, equidade, diversidade na base de financiamento e caráter democrático e descentralizado da administração: A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos: I - universalidade da cobertura e do atendimento; II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços; IV - irredutibilidade do valor dos benefícios; V - eqüidade na forma de participação no custeio; VI - diversidade da base de financiamento; VII - caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados. (BRASIL, 1988, disponível em: https://bit.ly/1bIJ9XW). 20 Seu artigo 6º, disciplinado “Dos Direitos Sociais”, com o objetivo de reduzir as desigualdades sociais, trouxe a Seguridade Social, que o conjunto do direito à saúde, à assistência social e à previdência social. Marisa Ferreira dos Santos define em sua obra um conceito muito transparente ao que pese sobre a Seguridade brasileira, a saber: A solidariedade é o fundamento da seguridade social. Pela definição constitucional, a seguridade social compreende o direito à saúde, à assistência social e à previdência social, cada qual com disciplina constitucional e infraconstitucional específica. Trata-se de normas de proteção social, destinadas a prover o necessário para a sobrevivência com dignidade, que se concretizam quando o indivíduo, acometido de doença, invalidez, desemprego, ou outra causa, não tem condições de prover seu sustento ou de sua família. É com a proteção dada por uns dos institutos componentes da seguridade social que se garantem os mínimos necessários à sobrevivência com dignidade, à efetivação do bem-estar, à redução das desigualdades, que conduzem à justiça social. As mutações sociais e econômicas decorrentes do avanço tecnológico conduzem a novas situações causadoras de necessidades, fazendo com que a proteção social tenha que se adequar aos novos tempos. O art. 194, parágrafo único, da CF, permite que se expanda a proteção e, consequentemente, também o seu financiamento. Deseja a Constituição que todos estejam protegidos, de alguma forma, dentro da seguridade social. E a proteção adequada se fixa em razão do custeio e da necessidade. Assim, se o necessitado for segurado da previdência social, a proteção social será dada pela concessão do benefício previdenciário correspondente à contingência- necessidade que o atingiu. Caso o necessitado não seja segurado de nenhum dos regimes previdenciários disponíveis, e preencha os requisitos legais, terá direito à assistência social. Todos, ricos ou pobres, segurados da previdência ou não, têm o mesmo direito à saúde (art.196). Portanto, todos os que vivem no território nacional, de alguma forma, estão ao abrigo do “grande guarda-chuva da seguridade social”, pois a seguridade social é direito social, cujo atributo principal é a universalidade, impondo que todos tenham direito a alguma forma de proteção, independentemente de sua condição socioeconômica. (DOS SANTOS, 2013, p. 41-42). Então, a possível compreensão de que, tendo a Seguridade Social um conceito tripartite: Saúde, Assistência Social e Previdência, sendo acima de tudo solidária, onde esta atingirá a todos os indivíduos, de modo a garantir sua sobrevivência e de sua família, mesmo sendo eles acidentados, inválidos e desempregados, conduzindo à justiça social. Porém a própria Constituinte prevê que pelo menos, todos estejam amparados de alguma forma, prevendo um custeio devido à sua necessidade. Observando-se o seguinte, o beneficio previdenciário é concedido ao segurado da Previdência Social, caso o sujeito necessitado não esteja em nenhum dos regimes previdenciários e também não preencha requisitos legais à condição de beneficiário, seu direito será garantido com a assistência social. E a saúde é direito de todos, segurados ou não conforme prevê o artigo 196 da Constituição Federal “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas 21 que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”, (BRASIL, 1988, disponível em: https://bit.ly/1bIJ9XW). Ademais, é de extrema clareza de que a Previdência surgiu com o intuito de também garantir a preservação da dignidade humana, à luz de uma justiça social aos cidadãos que estiverem sob sua proteção. Porém, existe um caráter contributivo como exigência para a concessão de benefícios, causada pelos riscos sociais aqui já mencionados. Tendo por sua natureza jurídica mais precisa como contribuições sociais: O art. 195 da CF enumera as contribuições sociais destinadas ao financiamento da seguridade social: do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada (I); do trabalhador e dos demais segurados da previdência social (II); sobre a receita de concursos de prognósticos; e do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar (IV). Essas contribuições sociais suscitam divergência sobre sua natureza jurídica. Predomina na doutrina e na jurisprudência o entendimento de que são tributos, mais precisamente contribuições especiais. As receitas que compõem o orçamento da seguridade social estão elencadas no art. 11 do PCSS: receitas da União (I), receitas das contribuições sociais (II) e receitas de outras fontes (III). No parágrafo único relaciona as contribuições sociais: as das empresas, incidentes sobre a remuneração paga ou creditada aos segurados aos seus serviços (a); as dos empregadores domésticos (b); as dos trabalhadores, incidentes sobre seu salário de contribuição (c); as das empresas, incidentes sobre o faturamento e o lucro (d); e as incidentes sobre a receita de concursos de prognósticos (e). Não se pode esquecer, porém, que a EC 42/2003 acrescentou o inc. IV ao art. 195 da CF, acrescendo às verbas formadoras do orçamento da seguridade a contribuição do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar. (DOS SANTOS, 2013 p. 74-75). O artigo 195 da Carta Magna vem a especificar quem virá a contribuir para o financiamento da Seguridade Social, sendo, portanto as pessoas com condições de trabalhar e produzir renda, cujo recebimento de benefício concedido pela Previdência se dará quando houver a necessidade destes então mencionados. Contribuição essa de natureza jurídica entendida pela maioria doutrinária e jurisprudencial como contribuições sociais. A Previdência Social, portanto está disciplinada no artigo 201 em seu caput, incisos e parágrafos conseguintes, organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e filiação obrigatória. De modo que a arrecadação dos benefícios é feita pela União, ao que foi criada uma Autarquia Federal com esse objetivo e finalidade, recebendo o nome de Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), a facilitar a regulamentação de todos os assuntos pertencentes a ela, criou-se uma Lei Orgânica em 1991 para disciplinar no âmbito geral, os contribuintes, o financiamento, os benefícios e todos os outros assuntos que a rodeiam, essa norma foi adicionada ao nosso ordenamento jurídico como Lei 8.213/1991. 22 1.3 Conceito de acidente do trabalho Para dar início a especificação do tema aqui abordado, énecessária a compreensão e identificação ao que primeiro viria a ser o acidente do trabalho para assim estabelecer e explicar suas espécies, sanando quaisquer dúvidas do que este viria a ser. A Lei 8.213/91 em seu artigo 19 com a atual redação conceitua o acidente do trabalho na seguinte forma: Art.19. Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço de empresa ou de empregador doméstico ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho. (BRASIL, Lei nº 8.213 de 24 de julho de 1991 – Previdência Social. SARAIVA, 2014, p.1534). Com a simples leitura do dispositivo, é possível destacar os pontos principais para a mais clara compreensão, visto que este “é o que ocorre pelo exercício do trabalho”, exato como diz a lei, observando-se a necessária relação de emprego, estando ligada à um nexo causal do acidente ocorrido pela prestação de serviço do empregado. Dito isto, é necessário informar o que é considerada de forma legal uma relação de emprego: Existe relação de emprego sempre que os serviços prestados por uma pessoa física a outrem se revestirem de características específicas que os diferenciem de outras formas de prestação de serviços. Não se distingue entre o trabalho realizado no estabelecimento do empregador, o executado no domicílio do empregado e o realizado a distância, desde que estejam caracterizados os pressupostos da relação de emprego (art. 6º CLT). Os elementos característicos da relação de emprego decorrem do disposto nos arts. 2º e 3º da CLT e são: pessoalidade; não eventualidade (ou continuidade); subordinação e onerosidade (ou remuneração). A existência de relação de emprego somente se verifica quando todas es tas características estiverem presentes ao mesmo tempo. A ausência de um ou de alguns destes elementos caracterizadores pode implicar na existência de uma relação de trabalho, mas, jamais, de uma relação de emprego. (ROMAR, 2017, p.110). Ao que pese, relação de emprego está disciplinada na legislação trabalhista contendo seus elementos caracterizadores de forma taxativa e simultânea, pois na ausência de apenas uma delas não haverá seu enquadramento descrito na legislação (pessoalidade, não eventualidade – ou habitualidade, subordinação e onerosidade), normalmente, este vínculo de emprego está amparado por um contrato com dois pólos, empregado e empregador. 23 Porém, complementando o conceito de acidente do trabalho, há a importância de se destacar um prévio conceito de nexo causal “O nexo de causalidade ou nexo causal constitui o elemento imaterial ou virtual da responsabilidade civil, constituindo a relação de causa e efeito entre a conduta culposa – ou o risco criado –, e o dano suportado por alguém.” (TARTUCE, 2017, p. 545), havendo, portanto uma interligação de uma conduta com o dano causado e consequentemente sofrido. Portanto conclui-se, para que ocorra um acidente do trabalho é necessária a relação empregatícia e de forma vinculante, a existência de uma concausa, chamada de nexo de causalidade, ou seja, um fato ou ato lesivo à saúde do empregado relacionado ao trabalho, o que leva à redução ou perda total da capacidade laborativa. Com base nestes preceitos básicos dos elementos ensejadores de uma definição conceitual o que é o acidente do trabalho faz com que sua definição fique mais clara. 1.3.1 Acidente típico O acidente típico ou acidente-tipo é exatamente o acidente do trabalho conceituado acima, decorrido de um evento danoso ao empregado advindo consequentemente de seu serviço. O acidente do trabalho típico é o que resulta de evento repentino e violento, no qual se identificam, facilmente, o dano e o nexo causal. O acontecimento deverá ser brusco, instantâneo, traumatizante e ter relação com as condições do trabalho, ou seja, resultar do próprio exercício da atividade laboral. (AYRES, CORRÊA, 2017, p. 35). Ou seja, no acidente típico havendo quase ou nenhuma dúvida entre a ligação, trabalhador - acidente/prejuízo - trabalho. Ressaltando o acontecimento de forma brusca e instantânea, de modo sendo repentino e violento. Ademais, vale ainda destacar a questão da redução ou perda da capacidade para o labor e também a invalidez, pois devido ao acidente é muito provável que resulte uma dessas consequências. Incapacidade laborativa é a impossibilidade de desempenho das funções específicas de uma atividade, função ou ocupação habitualmente exercida pelo segurado, em 24 consequência de alterações morfopsicofisiológicas provocadas por doença ou acidente. Deverá estar implicitamente incluído no conceito de incapacidade, desde que palpável e indiscutível no caso concreto, o risco para si ou para terceiros, ou o agravamento da patologia sob análise, que a permanência em atividade possa acarretar. O conceito de incapacidade deve ser analisado quanto ao grau, à duração e à profissão desempenhada. [...]. Quanto ao grau, a incapacidade laborativa pode ser: I - parcial: limita o desempenho das atribuições do cargo, sem risco de morte ou de agravamento, embora não permita atingir a meta de rendimento alcançada em condições normais; ou II - total: gera impossibilidade de desempenhar as atribuições do cargo, função ou emprego. [...]. Quanto à duração, a incapacidade laborativa pode ser: I - temporária: para a qual se pode esperar recuperação dentro de prazo previsível; ou II - indefinida: é aquela insuscetível de alteração em prazo previsível com os recursos da terapêutica e reabilitação disponíveis à época. [...]. A avaliação da incapacidade laborativa do requerente é feita pela Perícia Médica e destina-se a permitir resposta aos quesitos estabelecidos, atendidos os conceitos e os critérios legais e regulamentares. [...]. A invalidez pode ser conceituada como a incapacidade laborativa total, permanente ou com prazo indefinido, omniprofissional/multiprofissional e insuscetível de recuperação ou reabilitação profissional, em consequência de doença ou acidente. (BRASIL, Instituto Nacional do Seguro Social, 2018, p. 26-27). Assim a incapacidade é a perda da capacidade do segurado exercer atividades as quais anteriormente exercia, portanto podendo seu grau ser dividido em duas categorias: parcial (decorre de limitação no exercício de suas funções com redução de rendimento, não havendo risco de sua morte), e total (impossibilidade de exercer suas antigas atribuições). Contudo esta pode levar algum período ou em casos mais graves não cessar conforme o tempo passar, assim sendo: temporária (há a recuperação dentro de um prazo previsto), ou indefinida (não há a sua reversão em prazo previsto, mas podendo ser reabilitado). Já a invalidez pode ser considerada como incapacidade laborativa total e permanente de prazo indefinido, porém nesta hipótese não haverá a possibilidade de recuperação ou reabilitação do trabalhador à sua função. 1.3.2 Acidente de trajeto Previsto no artigo 21, inciso IV, alínea “d” da Lei 8.213/91: Art. 21. Equiparam-se também ao acidente do trabalho, para efeitos desta Lei [...]- IV - o acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de trabalho: [...]. d) no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado. (BRASIL, Lei nº 8.213 de 24 de julho de 1991 – Previdência Social. SARAIVA, 2014, p. 1534). 25 Com a leitura, portanto é possível conceituar que o acidente de trajeto é aquele sofrido fora do local e horário de trabalho no percurso de sua residência para o local de trabalho e também ao contrário, do local de trabalhopara sua residência, em qualquer meio de locomoção, assim interpretando extensivamente, podendo ser ônibus, carro, moto, dentre outros, até mesmo que este seja do próprio empregado, desde que ocorra o acidente. Nesta espécie, é necessária a devida caracterização e comunicação, pois como o segurado não se encontra mais no meio ambiente de trabalho, deverá ser feita a uniformização dos fatos bem como do dano sofrido, havendo o devido nexo de causalidade, valendo lembrar que sem este não haverá a relação de causa e efeito com perda do objeto em análise. Para caracterização do acidente de trajeto um dos fatores que se deve levar em consideração é o caminho percorrido diariamente pelo empregado e o tempo normalmente gasto, sendo que qualquer alteração no percurso poderá haver a descaracterização do acidente de trajeto. Desta forma, o empregador deverá comunicar o acidente de trabalho à previdência Social – INSS através da emissão de CAT, para que o colaborador possa, em caso de afastamento, usufruir do benefício previdenciário de auxílio doença acidentário. (BOEGER, 2018, disponível em: https://bit.ly/2PzDvDT). Assim, ao caracterizar de forma mais ampla o que é o acidente de trajeto é observar o caminho qual o empregado faz todos os dias, sendo possível entender que é percurso adotado habitualmente por este, de modo, qualquer alteração deste curso poderá acarretar em descaracterização do acidente de trajeto. Ressaltando ainda na devida comunicação à Previdência Social por emissão de CAT (Comunicação de Acidente do Trabalho) para concessão do benefício devido no caso de afastamento. 1.3.3 Acidente comum Por acidente comum é de se considerar todos aqueles que ocorrem corriqueiramente no ambiente trabalhista. 26 1.3.4 Acidente por equiparação Conforme dispõe o artigo 21 da Lei 8.213/91: Art. 21. Equiparam-se também ao acidente do trabalho, para efeitos desta Lei: I - o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja contribuído diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da sua capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua recuperação; II - o acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do trabalho, em conseqüência de: a) ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou companheiro de trabalho; b) ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa relacionada ao trabalho; c) ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiro ou de companheiro de trabalho; d) ato de pessoa privada do uso da razão; e) desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou decorrentes de força maior; III - a doença proveniente de contaminação acidental do empregado no exercício de sua atividade; IV - o acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de trabalho: a) na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da empresa; b) na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar prejuízo ou proporcionar proveito; c) em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo quando financiada por esta dentro de seus planos para melhor capacitação da mão-de-obra, independentemente do meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de propriedade do segurado; d) no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado. § 1º Nos períodos destinados a refeição ou descanso, ou por ocasião da satisfação de outras necessidades fisiológicas, no local do trabalho ou durante este, o empregado é considerado no exercício do trabalho. § 2º Não é considerada agravação ou complicação de acidente do trabalho a lesão que, resultante de acidente de outra origem, se associe ou se superponha às conseqüências do anterior. (BRASIL, Lei nº 8.213 de 24 de julho de 1991 – Previdência Social. SARAIVA, 2014, p.1534 - 1535). A obra Instituto Nacional do Seguro Social: Técnico INSS: Nível Médio, lançada para concursos da autarquia em destaque, discorre claramente a especificação de cada inciso contido no referido artigo acima, valendo destacar: O inciso I do art. 21 apresenta a hipótese de concausalidade. O fato ensejador do resultado, embora não esteja ligado diretamente ao exercício do trabalho (ausência da causalidade direta), concorre com o acidente (esse ligado ao trabalho) para a produção do resultado (morte, redução ou perda da capacidade laborativa). Vale dizer, o acidente ou a doença do trabalho não são as únicas causas para a incapacidade ou a morte do segurado. Ambas contribuem diretamente para o resultado. Exemplo: Galileu, portador de hemofilia (distúrbio na coagulação do sangue), exercia atividade na empresa Beta. Certo dia, Galileu sofreu um acidente que lhe provocou extenso corte em seu braço e, em consequência, a sua morte. No caso, Galileu faleceu pela concorrência das duas causas (hemofilia + acidente). As concausas são divididas em preexistentes (que preexistem ao acidente – caso de 27 hemofilia, cardiopatia grave), concomitantes (que ocorrem simultaneamente ao acidente – infarto durante um incêndio ocorrido na sede da empresa) ou supervenientes (que ocorrem em momento posterior ao acidente – morte decorrente de infecção hospitalar após internação em virtude de acidente do trabalho). Por sua vez, nos termos do art. 21, § 2o, da Lei n. 8.213/91, não é considerada agravação ou complicação de acidente do trabalho a lesão que, resultante de acidente de outra origem, se associe ou se superponha às consequências do anterior. [...]. De acordo com o art. 21, II, da Lei n. 8.213/91, equipara-se a acidente do trabalho, para os efeitos legais, o acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do trabalho, em consequência de: a) ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou companheiro de trabalho; b) ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa relacionada ao trabalho; c) ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiro ou de companheiro de trabalho; d) ato de pessoa privada do uso da razão; e) desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou decorrentes de força maior. A Justiça do Trabalho tem reconhecido a responsabilidade do empregador no caso de dano causado por trabalhador que no exercício de suas funções provoca acidente vitimando colega, reforçando a hipótese prevista na legislação previdenciária. Desta forma, se o acidente foi causado por terceiro ou colega de trabalho por motivo relacionado ao trabalho, fica configurado o acidente de trabalho, conforme previsto no art. 21 da Lei n. 8.213/91. [...]. O inciso III refere-se à doença proveniente de contaminação acidental do empregado no exercício de sua atividade. Observe-se que a hipótese não trata de doença decorrente de trabalho peculiar a atividade exercida pelo trabalhador ou de doença fruto das condições especiais em que o trabalho é executado. Se a contaminação foi acidental, não há como considerar a enfermidade como doença do trabalho ou doença profissional. O nexo de causalidade com o trabalho, que no caso é direto, justifica a equiparação da enfermidade com o acidente de trabalho já que a contaminação acidental que acarretou a doença se deu no exercício da atividade do trabalhador. [...]. Conforme disposto no art. 21, IV, da Lei n. 8.213/91, equipara-se a acidente do trabalho, para os efeitos legais, o acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de trabalho: a) na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da empresa; b) na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar prejuízo ou proporcionar proveito; c) em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo quando financiada por estadentro de seus planos para melhor capacitação da mão de obra, independentemente do meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de propriedade do segurado; d) no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado. (LEITÃO, 2018, p. 356- 357). Portanto, de acordo com o primeiro inciso, há a hipótese de concausa, entendida que mesmo não ocorrendo o acidente com liame direto (forma direta), ou seja, no exercício de seu trabalho, concorrendo com o evento danoso, estando ligado à este, não sendo por conseguinte o único capaz à produzir o resultado, quais sejam, a incapacidade, invalidez ou morte do segurado, como por exemplo quando este é portador de hemofilia e sofre corte em alguma parte de seu corpo, resultando o óbito. Essas concausas podem ser preexistentes (antes do acidente), concomitantes (ao mesmo momento) e até mesmo supervenientes (após o ocorrido). As preexistentes, geralmente o empregado leva consigo, como ocorre no caso da hemofilia, por ser uma doença. Concomitantes acontecem no exato momento do acidente muitas vezes devido ao susto ou pânico no local. Já as supervenientes também são adquiridas, 28 porém em muitas vezes agrava ou complica a situação do beneficiário, abarcadas também no tipo legal em questão. O segundo parágrafo do artigo 21 delimita essa circunstância, ao ressaltar “resultante de acidente de outra origem”, onde qualquer outro cujo qual não tenha ligação alguma com o anterior não será por sua vez considerado acidente por equiparação. Salienta-se o segundo inciso, lugar em que, reputa nesta espécie acidentária deverá ter sofrido em local e horário de trabalho nas hipóteses de Qualquer um dos atos de agressão, sabotagem ou terrorismo podendo ser praticado por terceiro ou companheiro de trabalho, ofensa física dolosa inclusive de terceiro (por motivo de disputa relacionada ao trabalho). Também os atos de imprudência, de negligência ou de imperícia (pessoa indeterminada ou companheiro de trabalho), quaisquer das práticas de pessoa privada do uso da razão, ocorrência s de desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou de força maior. A jurisprudência trabalhista ainda tem admitido responsabilização do empregador na ocorrência de dano causado por empregado ou até mesmo um terceiro que exercendo suas funções provoca acidente prejudicando o colega. O terceiro inciso apresenta a hipóteses de doenças originadas por contaminação em decorrência das suas atribuições, contendo nexo causal de forma direta e não a peculiaridade ou condição exercida na função, esta hipótese ocorrerá, portanto imediatamente. Por fim em seu quarto inciso, discorrerão as situações equiparadas nos casos de execução de ordem ou realização de serviço sob a autoridade da empresa, (podendo-se entender aqui se enquadra, pois há a relação com seu superior hierárquico). Prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para evitar prejuízo ou proporcionar proveito (ressalvando espontaneidade a forma voluntária). Significado de Espontânea; Que acontece naturalmente; que não é artificial: geração espontânea. De desenvolvimento autônomo; que só depende da pessoa ou coisa que o compõe: combustão espontânea. Natural ou sincera; sem artificialismos: pessoa espontânea. Voluntária; que não age por obrigação: fez a doação de maneira espontânea. Que se expressa sem reflexão: conversa espontânea. [Botânica] Diz-se da vegetação que se desenvolve naturalmente, sem a interferência do homem. Etimologia (origem da palavra espontânea). Feminino de espontâneo. (Dicionário Online de Português, disponível em: https://bit.ly/2P75TxF). Também a viagem para serviço da empresa, até mesmo para estudo e desde que financiada por objetivando melhoria, capacitação da mão de obra, não importando o meio de locomoção utilizado pelo segurado, podendo ser o veículo de sua propriedade. E, inclusive, a 29 hipótese no percurso da residência para o local de trabalho, conhecido como acidente de trajeto aqui anteriormente tratado. 1.4 Conceito de doenças ocupacionais Em ampla especificação, as doenças ocupacionais definem-se como um gênero no qual surgem duas espécies, as doenças profissionais e as doenças do trabalho. Disciplinando legalmente no artigo 20 da tão mencionada lei 8.213/91: Art. 20. Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo anterior, as seguintes entidades mórbidas: I - doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social; II - doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso I. (BRASIL, Lei nº 8.213 de 24 de julho de 1991 – Previdência Social. SARAIVA, 2014, p. 1534). Ainda sim, com sua leitura, doenças ocupacionais são equiparadas aos acidentes do trabalho, porém em compreensão aos dois incisos do mencionado dispositivo legal, esta por sua vez vai ser produzida, adquirida ou desencadeada, pelo exercício do trabalho peculiar a atividade determinada de forma constante ou até mesmo por condições especiais que este é realizado, relacionando-se diretamente ao serviço. “A Lei n. 8.213/91 equiparou a acidente do trabalho determinadas patologias (entidades mórbidas) ligadas ao exercício do trabalho. São as doenças ocupacionais, que tanto podem ser as doenças profissionais como as doenças do trabalho” (LEITÃO, 2018, p. 355). De modo que para completar, as doenças ocupacionais são entidades mórbidas, igualadas em comparação aos acidentes, devendo os devidos benefícios concedidos pela Previdência Social. A compreensão das doenças profissionais e do trabalho virá em sequência. 30 1.4.1 - Doença profissional A doença profissional está encaixada no primeiro inciso do artigo 20 da Lei 8.213/91: Art. 20. Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo anterior, as seguintes entidades mórbidas: I - doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social. (BRASIL, Lei nº 8.213 de 24 de julho de 1991 – Previdência Social. SARAIVA, 2014, p.1534). Assim, entende-se como doença profissional aquela que será produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a uma determinada atividade, equiparada como entidade mórbida. Exemplificando, portanto o LER (Lesões por Esforços Repetitivos) e o DORT, (Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho), que são basicamente a causa das doenças profissionais. Em julho de 1997, foi publicada no Diário Oficial da União uma minuta de texto pelo INSS para receber contribuições da sociedade, para elaboração da “Norma Técnica para Avaliação da Incapacidade Laborativa em Doenças Ocupacionais — Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho–DORT” quando essa nova denominação passou a ser utilizada por diversos profissionais. (BARBOSA, 2008, p. 07). Os fatores desencadeadores terão relação com o exercício do trabalho e as condições a ele impostas, sendo então, posturas inadequadas ao sentar, digitar muito tempo frente ao computador, força excessiva ao executar um serviço, até mesmo ansiedade e depressão. Quando um ou mais fatores organizacionais no ambiente profissional não são respeitados, são maiores as chances de adquirir um distúrbio osteomuscular relacionado ao trabalho. Neste contexto, as causas da LER / DORT estão diretamente relacionadas a esses fatores.São eles: Excesso de movimentos repetitivos, postura incorreta, preparo físico insuficiente, ausência de pausa e descanso, local de trabalho (mesas e cadeiras - inadequado), jornadas excessivas. Além disso, incluem-se os fatores psicossociais, como: ansiedade, estresse ocupacional devido à pressão, ambiente pesado, busca por perfeccionismo, depressão, dentre outros. Dentre os sintomas mais comuns da LER e DORT, 31 podemos citar: Dor localizada, desconforto físico no final do dia, cansaço excessivo, formigamento nas extremidades, paralisia e parestesia, perda funcional, inchaço local. (LACOMBE, 2017, disponível em: https://bit.ly/2PTEzmk). Muitas vezes as doenças profissionais acontecem devido descaso com o ambiente profissional que não é respeitado pelo empregado, ou em algumas situações, por exigência da quantidade de trabalho pelo empregador a ser efetuada na jornada de trabalho diária. Ocasiona em sintomas que são variados, podendo ser uma dor ou até mesmo desencadear a paralisia. 1.4.2 - Doença do trabalho Ademais, as doenças do trabalho estão elencadas no mencionado artigo 20 da Lei 8.213/91, porém em seu segundo inciso. Art. 20. Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo anterior, as seguintes entidades mórbidas: [...] II - doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso I. (BRASIL, Lei nº 8.213 de 24 de julho de 1991 – Previdência Social. SARAIVA, 2014, p. 1534). Neste caso, a doença do trabalho é adquirida ou desencadeada em função das condições especiais que o trabalho é realizado, relacionando-se diretamente com ele. Todas as condições especiais de trabalho estão elencadas na CLT, no Título III “Das normas especiais de tutela de trabalho”, Capítulo I “Das disposições especiais sobre duração e condições de trabalho”. Com a leitura dos artigos é possível perceber que o empregado nestas condições, expõe-se a agentes físicos, químicos e biológicos, devendo ser obedecida com cautela as normas impostas, pois caso contrário poderá ocasionar em danos a saúde do empregado. Esses danos ocasionados nestas situações serão as chamadas doenças do trabalho, com a possível repercussão de benefício perante a Previdência Social. O CID (Código Internacional de Doenças), elaborado pela OMS (Organização Mundial da Saúde), tem o intuito de elencar as doenças mais comuns causadas em ambiente 32 de risco, no Brasil em 2001 o Ministério da Saúde publicou uma lista de doenças relacionadas ao trabalho, havendo mais facilidade quando da sua identificação, podendo ser encontrada no seguinte endereço eletrônico: https://bit.ly/2z7wYGW. 1.4.3 - Doenças excluídas Até o presente momento tem-se impressão de que todo acidente ou doença ocorrida no meio de trabalho seria enquadrado a algum conceito anteriormente tratado neste trabalho. Mas, a própria lei previdenciária excluiu algumas doenças, elencadas presentes no artigo 20, parágrafo 1º, alíneas “a”, “b”, “c” e “d”: [...] § 1º Não são consideradas como doença do trabalho: a) a doença degenerativa; b) a inerente a grupo etário; c) a que não produza incapacidade laborativa; d) a doença endêmica adquirida por segurado habitante de região em que ela se desenvolva, salvo comprovação de que é resultante de exposição ou contato direto determinado pela natureza do trabalho. (BRASIL, Lei nº 8.213 de 24 de julho de 1991 – Previdência Social. SARAIVA, 2014, p. 1534). Doenças degenerativas ocorrem por outros fatores que não o trabalho, atingindo as funções vitais do indivíduo como, por exemplo, o sedentarismo, definindo-a da seguinte maneira: As doenças degenerativas são aquelas que comprometem as funções vitais do indivíduo em caráter irreversível e crescente. Elas recebem esse nome porque causam a degeneração de células, tecidos e órgãos. As causas do surgimento de doenças degenerativas são relacionadas com aspectos genéticos, fatores ambientais, má alimentação e sedentarismo. Atualmente, não há cura e nem tratamento específico para essas doenças. O uso de medicamentos alivia os sintomas da doença e proporciona melhores condições de vida aos doentes. (MAGALHÃES, 2017, disponível em: https://bit.ly/2QGgU61). Grupo etário refere-se às pessoas de determinada faixa de idade, contudo, existindo doenças inerentes a estes, e não pela execução do serviço, excluindo do rol das doenças do trabalho. As doenças que não produzirem incapacidade laborativa também serão excluídas, pela capacidade de gerar renda e exercer a atividade. 33 A última hipótese trata daquela adquirida pelo segurado habitante de região onde esta se desenvolva, ou seja, pelas condições do local há doença endêmica ali resultante, eliminando-a também. Há a ressalva se comprovado que esta resultou de exposição ou contato direto determinado pela natureza do trabalho, será sim considerada e equiparada a doença do trabalho. 34 II RESPONSABILIDADE DO EMPREGADOR Nos presentes casos apresentados, tanto em acidentes do trabalho, todas as suas espécies e nas doenças ocupacionais, bem como em suas entidades equiparadas, acarretarão na responsabilidade do empregador, isto porque ocorre uma relação de emprego já conceituada no capítulo anterior, cujo qual existe uma hierarquia, superioridade de uma parte e subordinação da outra, estendidas previamente de contrato, onde conterá toda a regulamentação por este exigida para a execução do serviço mediante a remuneração. Porém, é um ônus do empregador responder e consequentemente havendo sua responsabilidade em questão que será tratada neste capítulo respectivamente. 2.1 Teoria do risco Essa teoria é o norte e o berço da responsabilidade objetiva, que por sua vez surgiu pela insatisfação, inadequação e dificuldade em provar todos os elementos relativos à responsabilidade subjetiva (conduta, dano, nexo, dolo ou culpa), visto que nem sempre a parte prejudicada conseguia comprová-los. A insatisfação com a teoria subjetiva tornou-se cada vez maior, e evidenciou-se a sua incompatibilidade com o impulso desenvolvimentista de nosso tempo. A multiplicação das oportunidades e das causas de danos evidenciaram que a responsabilidade subjetiva mostrou-se inadequada para cobrir todos os casos de reparação. Esta, com efeito, dentro na doutrina da culpa, resulta da vulneração de norma preexistente, e comprovação de nexo causal entre o dano e a antijuridicidade da conduta do agente. Verificou-se, como já ficou esclarecido, que nem sempre o lesado consegue provar estes elementos. Especialmente a desigualdade econômica, a capacidade organizacional da empresa, as cautelas do juiz na aferição dos meios de prova trazidos ao processo nem sempre logram convencer da existência da culpa, e em consequência a vítima remanesce não indenizada, posto se admita que foi efetivamente lesada. (PEREIRA, 2018, p.337). Além de sua principal justificativa para seu surgimento era a de impossibilidade da parte conseguir produzir provas. Foi também o motivo ensejado a alta freqüência de acidentes no ambiente do trabalho, cujo quais eram de alto risco para o empregado, e com essa teoria, a possibilidade de provar o dano ficaria mais fácil. 35 Essa teoria se justifica plenamente, porquanto a ordem jurídica não pode conformar- se com a injusta situação daquele que, tendo sofrido um dano, em razão de atividade previsivelmente perigosa, fique na miséria em face de sua impossibilidade de fazer a prova contra o agente responsável pela atividade que, em última análise, foi a causadora da lesão. [...]. A teoria do risco foidesenvolvida a partir da constatação de que a responsabilidade fundada na culpa se mostrava insuficiente para que o lesado obtivesse a plena satisfação de seus prejuízos. Essa constatação, que ocorreu inicialmente no campo dos acidentes do trabalho (o aumento dos riscos causados pelas máquinas, associado à sucessão de acidentes ocorridos, exigia uma solução que protegesse o trabalhador), foi se alargando para contemplar as atividades ditas perigosas, tais como as de transportes, de exploração de minas, de produção de gás e a de exploração de energia nuclear. Nessas situações, a obrigação de reparar o dano surge tão somente do simples exercício da atividade que, em vindo a causar danos a terceiros, fará surgir, para o agente que detenha o controle da atividade, o dever de indenizar. Dessa forma, constatado que determinadas atividades geridas pelo homem oferecem uma probabilidade de riscos a terceiros, vindo a representar um perigo de dano, justifica-se que no campo da responsabilidade civil seja dado um tratamento jurídico diferenciado para essas atividades. Assim, atividades potencialmente perigosas, tais como manuseio de armas e explosivos, energia nuclear, exploração de minas, enfim, atividades que oferecem grandes probabilidades de risco para a saúde e para a integridade físico-psíquica das pessoas, em especial dos operários que nelas trabalham, devem ter tratamento diferenciado no que diz respeito ao campo da responsabilidade civil. Nessas circunstâncias, aqueles que desenvolvem atividades potencialmente perigosas devem acautelar-se para que a atividade não venha a causar danos a outrem, porquanto se ocorrente, não poderão se escusar do dever indenizatório, argumentando simplesmente a inexistência de culpa, pois, conforme tese esposada acima, sua responsabilidade será objetiva. (MELO, 2015, p. 142-143). Assim, de modo a tentar igualar a possibilidade de reparação do dano cujo qual estava sendo ineficaz e por sua vez, dando o ordenamento jurídico brasileiro um tratamento de forma diferenciada para as atividades mais peculiares e perigosas, sendo que estas não estavam causando risco e prejuízos somente ao trabalhador (quem executava o serviço), mas sim aos terceiros, devido ao alto teor de complexidade no seu desenvolvimento. No Brasil tornou-se tratamento de previsão constitucional devido sua importância a cerca da possibilidade de produção de provas para ambas as partes, disposta em seu artigo 37 parágrafo 6º: Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: [...] § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. (BRASIL, 1988, disponível em: https://bit.ly/1bIJ9XW). 36 Somente em 2002 com o advento do código civil atualmente vigente, houve então a adoção da teoria do risco pautada na responsabilidade objetiva, com previsão nos artigos 927 parágrafo único e 931, ambos do mesmo dispositivo legal. Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. [...] Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei especial, os empresários individuais e as empresas respondem independentemente de culpa pelos danos causados pelos produtos postos em circulação. (SARAIVA, 2014, p. 210) Equiparando a teoria do risco em outras atividades além daquelas desenvolvidas pela administração pública ao que refere-se a Carta Magna, tais como nos casos especificados em lei, bem como aos empresários individuais e as empresas, pelos danos causados por produtos postos em circulação. 2.2 Natureza da Responsabilidade do Empregador Porém, nem todo ato do empregador virá a ser responsabilizado perante a via da responsabilidade objetiva, pois mesmo com o surgimento da teoria do risco a responsabilidade subjetiva era prevista, assim colocando-se em pé de igualdade as duas modalidades de responsabilidades previstas em nossa legislação, tanto é que está regulamentada no artigo 7º inciso XXVIII da atual Constituição: Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: [...]. XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa. (BRASIL, 1988, disponível em: https://bit.ly/1bIJ9XW). É de possível compreensão que a indenização devida ao empregado será em regra na modalidade subjetiva, devendo incorrer em dolo ou culpa, claro, sem esquecer o seguro contra acidentes além do dever de indenizar. Assim, deverá conter a comprovação de ato ilícito, destacado por Sebastião Geraldo de Oliveira em seu livro: 37 Para acolhimento da indenização acidentária, uma vez constatada a ocorrência dos danos, passa-se à etapa seguinte para verificar-se se também ocorreu um ato ilícito (culpa do empregador) e, ainda, se há uma ligação necessária entre esse ato e o dano, isto é, um nexo de causalidade. Se o acidentado, autor da ação indenizatória, não comprovar a presença desses dois pressupostos, não terá êxito na sua pretensão. Como leciona o Desembargador Sérgio Cavalieri Filho, ‘o conceito de nexo causal não é jurídico; decorre das leis naturais. É o vínculo, a ligação ou relação de causa e efeito entre a conduta e o resultado’. É até possível determinar a reparação de dano sem a constatação de culpa, em algumas hipóteses expressamente previstas (culpa objetiva), mas é inviável condenar, em qualquer hipótese, em que não se vislumbra o nexo causal. Para obter os direitos acidentários cobertos pelo seguro da Previdência Social, por exemplo, basta que se comprove o nexo causal do acidente com o trabalho do segurado. No entanto, para conseguir a reparação do direito comum (responsabilidade civil) é imprescindível que se comprove, além do nexo causal, a culpa ou dolo do empregador. (OLIVEIRA, 2002, p. 239-240). Salientando, portanto, a importância do famigerado nexo de causalidade entre o ato ilícito e o dano sofrido para que assim haja em face deste a responsabilização. Lembrando sempre a ocorrência da linha de ligação entre a conduta e o prejuízo sofrido. Não retirando a importância da concausalidade no âmbito previdenciário, pois para que haja o benefício é necessária a comprovação da ligação do acidente com o trabalho do beneficiário. Assim a responsabilidade objetiva é uma exceção, devido a alta complexidade em torno dela, constando por sua vez em situações especiais e também naquelas previamente previstas lei. Ao passo que, a subjetiva mostra-se uma regra geral, sendo aplicada na maioria dos casos de acidente (e até mesmo nas modalidades equiparadas-mórbidas), onde o empregado queira indenizar seu empregador por dano sofrido. Nos dias atuais a análise do caso concreto tem-se tornado muito importante, pois é necessária a compreensão da situação como um todo. Recentes decisões do TST (Tribunal Superior do Trabalho) optaram em alguns casos pela responsabilização na via objetiva: RECURSO DE REVISTA. ACIDENTE DE TRABALHO. MOTOCICLISTA. APLICABILIDADE DA TEORIA DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA. RESPONSABILIDADE DO EMPREGADOR. O envolvimento em acidentes automobilísticos nestes casos,
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