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1 A ORIGEM DA CONTABILIDADE A história da contabilidade é tão antiga quanto à própria história da civilização. Está ligada às primeiras manifestações humanas da necessidade social de proteção à posse e de perpetuação e interpretação dos fatos ocorridos com o objeto material de que o homem sempre dispôs para alcançar os fins propostos. Deixando a caça, o homem voltou-se à organização da agricultura e do pastoreio. A organização econômica acerca do direito do uso do solo acarretou em separatividade, rompendo a vida comunitária, surgindo divisões e o senso de propriedade. Assim, cada pessoa criava sua riqueza individual. Ao morrer, o legado deixado por esta pessoa não era dissolvido, mas passado como herança aos filhos ou parentes. A herança recebida dos pais (pater, patris), denominou-se patrimônio. O termo passou a ser utilizado para quaisquer valores, mesmo que estes não tivessem sido herdados. A origem da Contabilidade está ligada a necessidade de registros do comércio. Há indícios de que as primeiras cidades comerciais eram dos fenícios. A prática do comércio não era exclusiva destes, sendo exercida nas principais cidades da Antiguidade. A atividade de troca e venda dos comerciantes semíticos requeria o acompanhamento das variações de seus bens quando cada transação era efetuada. As trocas de bens e serviços eram seguidas de simples registros ou relatórios sobre o fato. Mas as cobranças de impostos, na Babilônia já se faziam com escritas, embora rudimentares. Um escriba egípcio contabilizou os negócios efetuados pelo governo de seu país no ano 2000 a.C. À medida que o homem começava a possuir maior quantidade de valores, preocupava-lhe saber quanto poderiam render e qual a forma mais simples de aumentar as suas posses; tais informações não eram de fácil memorização quando já em maior volume, requerendo registros. Foi o pensamento do “futuro” que levou o homem aos primeiros registros a fim de que pudesse conhecer as suas reais possibilidades de uso, de consumo, de produção etc. Com o surgimento das primeiras administrações particulares aparecia a necessidade de controle, que não poderia ser feito sem o devido registro, a fim de que se pudesse prestar conta da coisa administrada. É importante lembrarmos que naquele tempo não havia o crédito, ou seja, as compras, vendas e trocas eram à vista. Posteriormente, empregavam-se ramos de árvore assinalados como prova de dívida ou quitação. O desenvolvimento do papiro (papel) e do 2 cálamo (pena de escrever) no Egito antigo facilitou extraordinariamente o registro de informações sobre negócios. A medida em que as operações econômicas se tornam complexas, o seu controle se refina. As escritas governamentais da República Romana (200 a.C.) já traziam receitas de caixa classificadas em rendas e lucros, e as despesas compreendidas nos itens salários, perdas e diversões. No período medieval, diversas inovações na contabilidade foram introduzidas por governos locais e pela igreja. Mas é somente na Itália que surge o termo Contabilitá. Podemos resumir a evolução da ciência contábil da seguinte forma: CONTABILIDADE DO MUNDO ANTIGO – período que se inicia com as primeiras civilizações e vai até 1202 da Era Cristã, quando apareceu o Liber Abaci , da autoria Leonardo Fibonaci, o Pisano. CONTABILIDADE DO MUNDO MEDIEVAL – período que vai de 1202 da Era Cristã até 1494, quando apareceu o Tratactus de Computis et Scripturis (Contabilidade por Partidas Dobradas) de Frei Luca Paciolo, publicado em 1494, enfatizando que à teoria contábil do débito e do crédito corresponde à teoria dos números positivos e negativos, obra que contribuiu para inserir a contabilidade entre os ramos do conhecimento humano. CONTABILIDADE DO MUNDO MODERNO – período que vai de 1494 até 1840, com o aparecimento da Obra “La Contabilità Applicatta alle Amministrazioni Private e Pubbliche”, da autoria de Franscesco Villa, premiada pelo governo da Áustria. Obra marcante na história da Contabilidade. CONTABILIDADE DO MUNDO CIENTÍFICO – período que se inicia em 1840 e continua até os dias de hoje. PERÍODO ANTIGO A contabilidade empírica, praticada pelo homem antigo, já tinha como objeto o Patrimônio, representado pelos rebanhos e outros bens nos seus aspectos quantitativos. Os primeiros registros processaram-se de forma rudimentar, na memória do homem. Como este é um ser pensante, inteligente, logo encontrou formas mais eficientes de processar os seus registros, utilizando gravações e outros métodos alternativos. O inventário exercia um importante papel, pois a contagem era o método adotado para o controle dos bens, que eram classificados segundo sua natureza: rebanhos, metais, escravos, etc. A palavra “Conta” designa o agrupamento de itens da mesma espécie. 3 As primeiras escritas contábeis datam do término da Era da Pedra Polida, quando o homem registrava os seus primeiros desenhos e gravações. Os primeiros controles eram estabelecidos pelos templos, o que perdurou por vários séculos. Os suméricos e babilônicos, assim como os assírios, faziam os seus registros em peças de argila, retangulares ou ovais, ficando famosas as pequenas tábuas de Uruk, que mediam aproximadamente 2,5 a 4,5 centímetros, tendo faces ligeiramente convexas. Os registros combinavam o figurativo com o numérico. Gravava-se a cara do animal cuja existência se queria controlar e o numero correspondente às cabeças existentes. Embora rudimentar, o registro, em sua forma, assemelhava-se ao que hoje se processa. O nome da conta, “Matrizes”, por exemplo, substituiu a figura gravada, enquanto o aspecto numérico se tornou mais qualificado, com o acréscimo do valor monetário ao quantitativo. Esta evolução permitiu que, paralelamente à “Aplicação”, se pudesse demonstrar, também, a sua “Origem”. Na cidade de Ur, na Caldéia, onde viveu Abraão, personagem bíblico citado no livro Gênesis, encontra-se, em escavações, importantes documentos contábeis: tabela de escrita cuneiforme, onde estão registradas contas referentes á mão-de-obra e materiais, ou seja, Custos Diretos. Isto significa que, há 5.000 anos antes de Cristo, o homem já considerava fundamental apurar os seus custos. O Sistema Contábil é dinâmico e evoluiu com a duplicação de documentos e “Selos de Sigilo”. Os registros se tornaram diários e, posteriormente, foram sintetizados em papiros ou tábuas, no final de determinados períodos. Sofreu nova sintetização, agrupando-se vários períodos, o que lembra o diário, o balancete mensal e o balanço anual. Já se estabelecia o confronto entre variações positivas e negativas, aplicando-se, empiricamente, o Princípio da Competência. Reconhecia-se a receita, a qual era confrontada com a despesa. Os egípcios legaram um riquíssimo acervo aos historiadores da Contabilidade, e seus registros remontam a 6.000 anos antes de Cristo. A escrita no Egito era fiscalizada pelo Fisco Real, o que tornava os escriturários zelosos e sérios em sua profissão. O inventário revestia-se de tal importância, que a contagem do boi, divindade adorada pelos egípcios, marcava o inicio do calendário adotado. Inscreviam-se bens móveis e imóveis, e já se estabeleciam, de forma primitiva, controles administrativos e financeiros. As “Partidas de Diário” assemelhavam-se ao processo moderno: o registro iniciava-se com a data e o nome da conta, seguindo-se quantitativos unitários e 4 totais, transporte, se ocorresse, sempre em ordem cronológica de entradas e saídas. Pode-se citar, entre outras contas: “Conta de Pagamento de Escravos”, “Conta de Vendas Diárias”, “Conta Sintética Mensal dos Tributos Diversos”, etc. Tudo indica que foram os egípcios os primeiros povos a utilizar o valor monetário em seus registros. Usava como base, uma moeda, cunhada em ouro e prata, denominada “Shat”. Era a adoção, de maneira prática, do Princípio do DenominadorComum Monetário. Os gregos, baseando-se em modelos egípcios, 2.000 anos antes de Cristo, já escrituravam Contas de Custos e Receitas, procedendo, anualmente, a uma confrontação entre elas, para apuração do saldo. Os gregos aperfeiçoaram o modelo egípcio, estendendo a escrituração contábil às várias atividades, como administração pública, privada e bancária. NA BÍBLIA Há interessantes relatos bíblicos sobre controles contábeis, um dos quais o próprio Jesus relatou em Lucas capítulo 16, versos 1 a 7: o administrador que fraudou seu senhor, alterando os registros de valores a receber dos devedores. No tempo de José, no Egito, houve tal acumulação de bens que perderam a conta do que se tinha! (Gênesis 41.49). Houve um homem muito rico, de nome Jó, cujo patrimônio foi detalhadamente inventariado no livro de Jó, capítulo 1, verso 3. Depois de perder tudo, ele recupera os bens, e um novo inventário é apresentado em Jó, capítulo 42, verso 12. Os bens e as rendas de Salomão também foram inventariados em 1º Reis 4.22-26 e 10.14-17. Em outra parábola de Jesus, há citação de um construtor, que faz contas para verificar se o que dispunha era suficiente para construir uma torre (Lucas 14.28-30). Ainda, se relata a história de um devedor, que foi perdoado de sua dívida registrada (Mateus 18.23-27). Tais relatos comprovam que, nos tempos bíblicos, o controle de ativos era prática comum. PERÍODO MEDIEVAL Em Itália, em 1202, foi publicado o livro “Liber Abaci”, de Leonardo Pisano. Estudavam-se, na época, técnicas matemáticas, pesos e medidas, câmbio, etc., tornando o homem mais evoluído em conhecimentos comerciais e financeiros. 5 Se os sumério-babilônios plantaram a semente da Contabilidade e os egípcios a regaram, foram os italianos que fizeram o cultivo e a colheita. Foi um período importante na história do mundo, especialmente na história da Contabilidade, denominado a “Era Técnica”, devido às grandes invenções, como moinho de vento, aperfeiçoamento da bússola, etc., que abriram novos horizontes aos navegadores, como Marco Pólo e outros. A indústria artesanal proliferou com o surgimento de novas técnicas no sistema de mineração e metalurgia. O comércio exterior incrementou-se por intermédio dos venezianos, surgindo, como conseqüência das necessidades da época, o livro caixa, que recebia registros de recebimentos e pagamentos em dinheiro. Já se utilizavam, de forma rudimentar, o débito e o crédito, oriundos das relações entre direitos e obrigações, e referindo-se, inicialmente, a pessoas. O aperfeiçoamento e o crescimento da Contabilidade foram a conseqüência natural das necessidades geradas pelo advento do capitalismo, nos séculos XII e XIII. O processo de produção na sociedade capitalista gerou a acumulação de capital, alterando- se as relações de trabalho. O trabalho escravo cedeu lugar ao trabalho assalariado, tornando os registros mais complexos. No século X, apareceram as primeiras corporações na Itália, transformando e fortalecendo a sociedade burguesa. No final do século XIII apareceu pela primeira vez a conta “Capital”, representando o valor dos recursos injetados nas companhias pela família proprietária. O método das Partidas Dobradas teve sua origem na Itália, embora não se possa precisar em que região. O seu aparecimento implicou a adoção de outros livros que tornassem mais analítica a Contabilidade, surgindo, então, o Livro da Contabilidade de Custos. No início do Século XIV, já se encontravam registros explicitados de custos comerciais e industriais, nas suas diversas fases: custo de aquisição; custo de transporte e dos tributos; juros sobre o capital, referente ao período transcorrido entre a aquisição, o transporte e o beneficiamento; mão-de-obra direta agregada; armazenamento; tingimento, etc., o que representava uma apropriação bastante analítica para época. A escrita já se fazia no moldes de hoje, considerando, em separado, gastos com matérias-primas, mão- de-obra direta a ser agregada e custos indiretos de fabricação. Os custos eram contabilizados por fases separadamente, até que fossem transferidos ao exercício industrial. PERÍODO MODERNO O período moderno foi à fase da pré-ciência. Devem ser citados três eventos 6 importantes que ocorreram neste período: Em 1453, os turcos tomam Constantinopla, o que fez com que grandes sábios bizantinos emigrassem, principalmente para Itália; Em 1492, é descoberta a América e, em 1500, o Brasil, o que representava um enorme potencial de riquezas para alguns países europeus; Em 1517, ocorreu a reforma religiosa; os protestantes, perseguidos na Europa, emigram para as Américas, onde se radicaram e iniciaram nova vida. A Contabilidade tornou-se uma necessidade para se estabelecer o controle das inúmeras riquezas que o Novo Mundo representava. A introdução da técnica contábil nos negócios privados foi uma contribuição de comerciantes italianos do séc. XIII. Os empréstimos a empresas comerciais e os investimentos em dinheiro determinaram o desenvolvimento de escritas especiais que refletissem os interesses dos credores e investidores e, ao mesmo tempo, fossem úteis aos comerciantes, em suas relações com os consumidores e os empregados. O aparecimento da obra de Frei Luca Pacioli, contemporâneo de Leonardo da Vinci, que viveu na Toscana, no século XV, marca o início da fase moderna da Contabilidade. FREI LUCA PACIOLI Escreveu “Tratactus de Computis et Scripturis” (Contabilidade por Partidas Dobradas), publicado em 1494, enfatizando que à teoria contábil do débito e do crédito corresponde à teoria dos números positivos e negativos. Pacioli foi matemático, teólogo, contabilista entre outras profissões. Deixou muitas obras, destacando-se a “Summa de Aritmética, Geometria, Proportioni et Proporcionalitá”, impressa em Veneza, na qual está inserido o seu tratado sobre Contabilidade e Escrituração. Pacioli, apesar de ser considerado o pai da Contabilidade, não foi o criador das Partidas Dobradas. O método já era utilizado na Itália, principalmente na Toscana, desde o Século XIV. O tratado destacava, inicialmente, o necessário ao bom comerciante. A seguir conceituava inventário e como fazê-lo. Discorria sobre livros mercantis: memorial, diário e razão, e sobre a autenticação deles; sobre registros de operações: aquisições, permutas, sociedades, etc.; sobre contas em geral: como abrir e como encerrar; contas de 7 armazenamento; lucros e perdas, que na época, eram “Pro” e “Dano”; sobre correções de erros; sobre arquivamento de contas e documentos, etc. Sobre o Método das Partidas Dobradas, Frei Luca Pacioli expôs a terminologia adaptada: “Per”, mediante o qual se reconhece o devedor; “A”, pelo qual se reconhece o credor. Acrescentou que, primeiro deve vir o devedor, e depois o credor, prática que se usa até hoje. A obra de Frei Luca Pacioli, contemporâneo de Leonardo da Vinci, que viveu na Toscana, no século XV, marca o início da fase moderna da Contabilidade. A obra de Pacioli não só sistematizou a Contabilidade, como também abriu precedente que para novas obras pudessem ser escritas sobre o assunto. É compreensível que a formalização da Contabilidade tenha ocorrido na Itália, afinal, neste período instaurou-se a mercantilização sendo as cidades italianas os principais interpostos do comércio mundial. Foi a Itália o primeiro país a fazer restrições à prática da Contabilidade por um indivíduo qualquer. O governo passou a somente reconhecer como contadores, pessoas devidamente qualificadas para o exercício da profissão. A importância da matéria aumentou com a intensificação do comércio internacional e com as guerras ocorridas nos séculos XVIII e XIX, que consagraram numerosas falências e a conseqüente necessidade de se proceder à determinação das perdas e lucros entre credores e devedores. PERÍODO CIENTÍFICOO Período Científico apresenta, nos seus primórdios, dois grandes autores consagrados: Francesco Villa, escritor milanês, contabilista público, que, com sua obra “La Contabilità Applicatta alle administrazioni Private e Plubbliche”, inicia a nova fase; e Fábio Bésta, escritor veneziano. Os estudos envolvendo a Contabilidade fizeram surgir três escolas do pensamento contábil: a primeira, chefiada por Francisco Villa, foi a Escola Lombarda; a segunda, a Escola Toscana, chefiada por Giusepe Cerboni; e a terceira, a Escola Veneziana, por Fábio Bésta. Embora o século XVII tivesse sido o berço da era científica e Pascal já tivesse inventado a calculadora, a ciência da Contabilidade ainda se confundia com a ciência da Administração, e o patrimônio se definia como um direito, segundo postulados jurídicos. Nessa época, na Itália, a Contabilidade já chegara à universidade. A Contabilidade começou a ser lecionada com a aula de comércio da corte, em 1809. 8 A obra de Francesco Villa foi escrita para participar de um concurso sobre Contabilidade, promovido pelo governo da Áustria, que reconquistara a Lombarda, terra natal do autor. Além do prêmio, Villa teve o cargo de Professor Universitário. Francisco Villa extrapolou os conceitos tradicionais de Contabilidade, segundo os quais escrituração e guarda livros poderiam ser feitas por qualquer pessoa inteligente. Para ele, a Contabilidade implicava conhecer a natureza, os detalhes, as normas, as leis e as práticas que regem a matéria administradas, ou seja, o patrimônio. Era o pensamento patrimonialista. Foi o inicio da fase científica da Contabilidade. Fábio Bésta, seguidor de Francesco Villa, superou o mestre em seus ensinamentos. Demonstrou o elemento fundamental da conta, o valor, e chegou, muito perto de definir patrimônio como objeto da Contabilidade. Foi Vicenzo Mazi, seguidor de Fábio Bésta, quem pela primeira vez, em 1923, definiu patrimônio como objeto da Contabilidade. O enquadramento da Contabilidade como elemento fundamental da equação aziendalista, teve, sobretudo, o mérito incontestável de chamar atenção para o fato de que a Contabilidade é muito mais do que mero registro; é um instrumento básico de gestão. Entretanto a escola Européia teve peso excessivo da teoria, sem demonstrações práticas, sem pesquisas fundamentais: a exploração teórica das contas e o uso exagerado das partidas dobradas, inviabilizando, em alguns casos, a flexibilidade necessária, principalmente, na Contabilidade Gerencial, preocupando-se demais em demonstrar que a Contabilidade era uma ciência ao invés de dar vazão à pesquisa séria de campo e de grupo. A partir de 1920, aproximadamente, inicia-se a fase de predominância norte- americana dentro da Contabilidade. ESCOLA NORTE-AMERICANA Enquanto declinavam as escolas européias, floresciam as escolas norte- americanas com suas teorias e práticas contábeis, favorecidas não apenas pelo apoio de uma ampla estrutura econômica e política, mas também pela pesquisa e trabalho sério dos órgãos associativos. O surgimento do American Institut of Certield Public Accountants foi de extrema importância no desenvolvimento da Contabilidade e dos princípios contábeis; várias associações empreenderam muitos esforços e grandes somas em pesquisas nos Estados Unidos. Havia uma total integração entre acadêmicos e os já profissionais da Contabilidade, o que não ocorreu com as escolas européias, onde as 9 universidades foram decrescendo em nível, em importância. A criação de grandes empresas, como as multinacionais ou transnacionais, por exemplo, que requerem grandes capitais, de muitos acionistas, foi a causa primeira do estabelecimento das teorias e práticas contábeis, que permitissem correta interpretação das informações, por qualquer acionista ou outro interessado, em qualquer parte do mundo. Nos inícios do século atual, com o surgimento das gigantescas corporações, aliado ao formidável desenvolvimento do mercado de capitais e ao extraordinário ritmo de desenvolvimento que os Estados Unidos da América experimentou e ainda experimenta, constitui um campo fértil para o avanço das teorias e práticas contábeis. Não é por acaso que atualmente o mundo possui inúmeras obras contábeis de origem norte-americanas que tem reflexos diretos nos países de economia. NO BRASIL No Brasil, a vinda da Família Real Portuguesa incrementou a atividade colonial, exigindo – devido ao aumento dos gastos públicos e também da renda nos Estados – um melhor aparato fiscal. Para tanto, constituiu-se o Erário Régio ou o Tesouro Nacional e Público, juntamente com o Banco do Brasil (1808). As Tesourarias de Fazenda nas províncias eram compostas de um inspetor, um contador e um procurador fiscal, responsáveis por toda a arrecadação, distribuição e administração financeira e fiscal. Hoje, as funções do contabilista não se restringem ao âmbito meramente fiscal, tornando-se, num mercado de economia complexa, vital para empresas informações mais precisas possíveis para tomada de decisões e para atrair investidores. O profissional vem ganhando destaque no mercado em Auditoria, Controladoria e Atuarial. São áreas de analise contábil e operacional da empresa, e, para atuários, um profissional raro, há a especialização em estimativas e análises; o mercado para este cresce em virtude de planos de previdência privada. Teoria da Contabilidade 1.Conceito de Contabilidade: Na contabilidade, o objeto é sempre o Patrimônio de uma Entidade, definido como um conjunto de bens, direitos e obrigações para com terceiros, pertencentes a uma pessoa física ou a um grupo de pessoas. A contabilidade busca, primordialmente, aprender, no sentido mais amplo possível, e entender as mutações 10 sofridas pelo Patrimônio. As mutações tanto podem decorrer da ação do homem quanto, embora quase sempre secundariamente, dos efeitos da natureza sobre o patrimônio. 2 - O Surgimento da Contabilidade: Os primeiros sinais objetivos da existência da Contabilidade, segundo pesquisadores, foram observados por volta do ano 4.000 a/C, na civilização Sumério-Babilonense e coincidiu com a invenção da escrita. As primeiras anotações eram feitas em termos físicos, pois somente havia trocas, o que fez com que sua evolução fosse bastante lenta. Em 1.100 a.C, este quadro se alterou, por ocasião do surgimento da moeda. Há informações que os primeiros rudimentos de Balanço apareceram no ano de 1.300 em Florença na Itália. Entre os séculos XIII e XVIII a contabilidade se distinguiu como uma disciplina adulta, justamente pelo fato de que neste período a atividade mercantil, econômica e cultural era muito importante, ou seja, a evolução da Contabilidade está associada ao desenvolvimento da sociedade como um todo. Esse fato tem feito que mais recentemente a Contabilidade venha sendo considerada como pertencente ao ramo da ciência social. A intensidade das atividades mercantis, econômicas e culturais, determinou o surgimento e domínio das ESCOLAS DE CONTABILIDADE, notadamente na Itália. 3. AS ESCOLAS DE CONTABILIDADE: 3.1 - Escola Italiana de Contabilidade: Com o surgimento do Método de Partidas Dobradas no século XIII ou XIV, e sua divulgação através da obra "La Summa de Arithmetica, Geometria, Proportioni et Proporcionalitá" de autoria do Frei Luca Pacioli, publicada em Veneza em 10/11/1494, a escola Italiana ganhou grande impulso, espalhando-se por toda a Europa. Vários correntes de pensamento contábil se desenvolveram dentro da escola italiana, sendo as mais relevantes: o contismo, o personalismo, o neocontismo, o controlismo, o aziendalismo e o patrimonialismo. 3.1.1 - Escola Contista: Constituiu-se na primeira corrente de pensamento contábil (1494). Seu surgimento está relacionado aos estudos feitos pelos primeiros expositores do Método de Partidas Dobradas. Os defensores dessacorrente adotaram como idéia básica o mecanismo das contas, centrando sua preocupação no seu funcionamento, esquecendo-se que a conta é apenas conseqüência das operações que acontecem numa entidade, e que essas operações devem merecer a máxima atenção da contabilidade. Para os criadores da escola contista, a preocupação central da contabilidade era com o 11 processo de escrituração e com as técnicas de registro através das contas. O objetivo das contas era sempre o de registrar uma dívida a receber ou a pagar, coincidindo com a origem do crédito nas relações comerciais. Com o início do regime sócio-econômico, onde os meios de produção passaram a pertencer a qualquer pessoa que possuísse capital, as relações de crédito entre compradores e vendedores experimentaram um grande crescimento, fazendo com que as contas contábeis se constituíssem num dos mais hábeis instrumentos para o registro destas relações. Em 1796, Jones apresentou o modelo inglês de registro baseado em dois livros principais: o diário e o razão e dois livros auxiliares: caixa e armazém (existências). Este autor teve o mérito de ser o primeiro a admitir a necessidade de realizar-se um controle numérico entre os livros principais, somando-se separadamente o diário e o razão para verificar a igualdade de ambas as somas. A preocupação com a fidelidade das informações contidas no diário e no razão revelou a necessidade de uma maior sistematização do processo de registro das operações, com a conseqüente melhoria na qualidade do produto deste processo. Mais tarde, com o surgimento das sociedades com mais de um capitalista, criou-se a conta capital, considerada pelos contistas como uma dívida da empresa para com o capitalista. Os principais personagens do contismo foram: Fibonacci, Pegolotti, Pietra, Flori, Degranges, sendo que os mais destacados foram Cotrugli e Frei Luca Pacioli. 3.1.2 - Escola Personalista: Esta escola surgiu como uma reação ao contismo, durante a segunda metade do século XIX (1867), dando personalidade às contas para poder explicar as relações de direitos e obrigações. Para os teóricos do personalismo, as contas deveriam ser abertas tanto para pessoas físicas como jurídicas (pessoas verdadeiras), e o dever e haver representava débitos e créditos das pessoas a quem as contas foram abertas. Um dos primeiros idealizadores desta teoria foi Francesco Marchi (1822/1871). Mas foi Giuseppe Cerboni (1827/1917) o verdadeiro construtor da teoria personalista. Justificava a personificação das contas por considerar que qualquer operação administrativa, correspondente à gestão de qualquer entidade, assume relevância jurídica em virtude do débito e crédito que provoca. Cerboni fundamentou a teoria personalista nos seguintes axiomas: Toda a administração consta de uma ou várias aziendas (conjunto de bens materiais, direitos e obrigações que formam o patrimônio) e toda azienda tem um proprietário ou chefe a quem pertence em absoluto ou por representação a matéria administrável. Por outro lado, não se pode administrar sem que o proprietário ou chefe entre em relação com agentes (empregados) e correspondentes (terceiros). Uma coisa é possuir os direitos de propriedade e de soberania da azienda e outra coisa é 12 administrá-la. Uma coisa é administrar a azienda e outra é guardar os bens da mesma e ser responsável por eles. Nenhum débito é criado sem que de forma simultânea se crie um crédito e vice-versa. Em relação aos empregados e terceiros, o proprietário é de fato o credor do ativo e o devedor do passivo. Os empregados e terceiros nunca serão debitados ou creditados sem que o proprietário seja creditado ou debitado pela mesma importância. O deve e o haver do proprietário somente varia como conseqüência de ganhos ou perdas ou de reduções ou reforços da dotação inicial da azienda. No personalismo, a ciência contábil é considerada o estudo das variações da riqueza em relação a azienda e a contabilidade a ciência da administração aziendal. Uma importante contribuição desta escola à comunicação contábil foi a de que a contabilidade passou a ser considerada um instrumento informacional sobre a gestão das entidades, em vez de uma mera técnica de registro de transações econômicas. Portanto, considerada uma disciplina ligada à gestão e ao processo de tomada de decisão. Os principais personagens foram Marchi, Cerboni e Rossi. 3.1.3 - Escola Controlista: Para Fábio Besta (1880) a contabilidade representava a ciência do controle econômico. Este autor considerava que o controle econômico se compunha de duas partes: uma responsável pelo registro contábil dos momentos da administração econômica e sua efetivação por meio de escrituração e a outra representava a revelação das partidas dobradas dos fatos administrativos em conexão com os critérios organizacionais articulados de acordo com os mecanismos de controle inerentes à escrituração contábil. Na visão dos controlistas, os balanços, as contas, os orçamentos, as demonstrações de resultados, etc., representavam uma forma de controle da riqueza dos organismos econômicos. Besta entendia que a contabilidade tinha a missão de atender as seguintes três fases: primeiro estabelecer um ponto de partida para tornar possível a análise dos resultados da gestão; em segundo lugar acompanhar a gestão evidenciando os fatos ocorridos que julgar-se o trabalho administrativo e a terceira fase demonstrar os resultados finais da administração econômica para a devida aprovação ou rejeição da gestão. Igualmente considerava que o patrimônio deveria ser representado por uma grandeza mensurável e variável, isto é, demonstrado por uma soma de valores positivos e negativos. Besta classificou as funções de controle econômico (ou de contabilidade) conforme o momento em que ocorriam com referência aos fatos administrativos e de acordo com a sua natureza. Segundo o momento de ocorrência, as funções de controle são: antecedentes, concomitantes e subsequentes. 13 Antecedentes são os contratos, estatutos, regulamentos, atas, inventários, etc. Concomitantes são os controles que se caracterizam pela vigilância das tarefas determinadas para cada pessoa. Esta deve ser feita por quem exerce a autoridade direta, pelos administradores ou outras pessoas indicadas para tal fim, visando à proteção da entidade. Para tal, podem ser utilizados cartões, apontamentos, medidores, etc. A função subseqüente é o exame dos fatos em seus aspectos jurídicos e econômicos, ou seja, o confronto entre o que foi realizado com o que deveria ter sido feito. Os instrumentos usados são os documentos referentes aos dois controles anteriores, os registros contábeis, os balanços, as prestações de contas, o exame destas prestações e sua aprovação ou rejeição. O controle econômico pode ser considerado com uma das finalidades dos sistemas de escrituração, não abrangendo, contudo, em sua totalidade o objeto da contabilidade. Aspectos relativos à formação dos custos, realização de receita, equilíbrio financeiro e outros que provam variações patrimoniais, são objeto de operações de controle, porém, a contabilidade não se limita unicamente a esses aspectos. O controle é apenas um instrumento de apoio e não um fim ou objeto da contabilidade. As contribuições desta escola à comunicação contábil foram: o controle significava um melhor estudo substancial das operações da entidade para estabelecer se as mesmas estavam sendo desenvolvidas de acordo com critérios de conveniência econômica que devem guiar a conduta de uma entidade. A informação contábil servia como uma base para a análise da gestão passada e como instrumento de informação para previsões futuras. O desenvolvimento sistemático de princípios que informavam sobre o patrimônio das entidades, sobre seus inventários, avaliações de bens, orçamentos e demonstrações contábeis. Osprincipais personagens desta escola foram: Besta, Alfieri, Ghidiglia, D’Alvise e Lorusso. 3.1.4 - Escola Neocontista: O neocontismo (1914) restituiu à contabilidade o seu verdadeiro objeto: a riqueza patrimonial e, em conseqüência, trouxe grande avanço para o estudo da análise patrimonial e dos fenômenos decorrentes da gestão empresarial, tendo surgido como um movimento contrário ao personalista, defendendo o valorismo das contas. Para os neocontistas as contas não deveriam ser abertas a pessoas ou entidades, nem representavam direitos e obrigações, mas deveriam refletir os valores dos componentes patrimoniais sujeitos à modificações. Esta escola foi responsável, também, por atribuir à contabilidade o papel de colocar em evidência o ativo, o passivo e a situação líquida das unidades econômicas. Para tanto, seria necessário abrir-se contas com 14 valores dos ativos (positivas), passivos (negativas) e diferenciais (abstratas/ situação líquida). As principais regras contábeis são expressas a partir da fórmula do balanço, isto é: Ativo (igual) Passivo (mais ou menos) Situação Líquida (A=P+/-SL), sendo que a disposição das contas no balanço deve basear-se, para o ativo, no seu grau de disponibilidade e para o passivo, no de exigibilidade. A dinâmica do balanço era interpretada pelos neocontistas, tomando por base os fatos permutativos e modificativos. Dentro do que denominavam dinâmica contabilística, afirmavam que num balanço, em um momento qualquer, a soma das importâncias referentes ao débito é igual a soma das importâncias referentes ao crédito, o que equivale a dizer que a um débito corresponde sempre um crédito de igual valor. Nessa concepção, as contas ativas são debitadas pelo valor inicial e pelos aumentos e creditadas pelas diminuições. Em relação às contas passivas, ocorre exatamente o contrário. A escola Neocontista concentrou-se na chamada teoria materialista ou positivista das contas, pois para a maioria dos seus adeptos, a principal função da contabilidade se resumia na revelação patrimonial, ocupando-se principalmente dos processos de classificação e registro das contas, em detrimento dos aspectos econômico- administrativos dos eventos registrados. Sem dúvida a grande contribuição desta escola à comunicação contábil foi a separação entre passivo e situação líquida, no balanço. Os principais expoentes desta escola foram: Besta, Dumarchey, Delaporte, Calmés. 3.1.5 - Escola Aziendalista: Cerboni e Besta dirigiram seus estudos ao campo das aziendas, acrescentando a organização, administração e o controle, à parte científica da contabilidade. Gino Zappa, como máximo representante desta escola, colocou num só plano a Gestão, a Organização e a Contabilidade, não admitindo o estudo científico da contabilidade sem o conhecimento concomitante das doutrinas que, ao seu lado, formam a economia aziendal. A doutrina da gestão está voltada para a definição de um conjunto de princípios destinados a servir de instrumento de auxílio à ação da gestão. A doutrina da organização está direcionada para o estudo da constituição e harmonização do organismo pessoal da entidade. A contabilidade tem como função a demonstração dos resultados da gestão, através da observação adequada ao estudo quantitativo dos fenômenos empresariais. Outro ponto importante do pensamento doutrinário de Zappa foi o de desenvolver um sistema teórico contábil a partir do resultado. Segundo ele, a contabilidade deveria ocupar-se da demonstração dos fatos da gestão e não se resumir apenas a um simples método de registro. Para que esta demonstração fosse possível, todos os fatos a 15 demonstrar deveriam ser conhecidos. Tais fatos são fenômenos econômicos que, normalmente, fazem parte de um fluxo de trocas monetárias entre a entidade e as economias externas. A vida econômica e financeira da entidade somente será plenamente conhecida a partir da total revelação destes fatos pela contabilidade. A finalidade desta demonstração é conhecer os custos e receitas provenientes da gestão empresarial, ou seja, conhecer o resultado. Na concepção de Zappa, o resultado é definido como o acréscimo ou decréscimo sofrido pelo capital em determinado período administrativo, como conseqüência das operações da gestão. O resultado e o capital representam duas diferentes visões do mesmo fenômeno. O capital é a representação do conjunto de elementos do ativo e do passivo que irão gerar o resultado da entidade, ao passo que o resultado é a representação das mudanças dos componentes patrimoniais em um determinado período. Conhecer periodicamente o resultado do período é indispensável para a análise do desempenho da entidade e de seus dirigentes, o que levou Zappa a dedicar grande atenção a este aspecto em seus estudos. Para ele, a gestão de cada exercício, é influenciada positiva ou negativamente pelos acontecimentos que tiveram lugar em períodos anteriores e do que venha a ocorrer em períodos subsequentes. Para Zappa tanto a separação exata dos resultados de vários exercícios como tentativa de determinar com exatidão os custos de produção, é uma utopia, já que existem operações em curso no fim do exercício e no início do próximo exercício, que colaboram com a formação do resultado, ou seja, operações que iniciaram em exercícios anteriores e operações que se encerrarão em períodos posteriores. Pode-se resumir as contribuições desta escola para a comunicação contábil mencionando que para seus representantes: A teoria contábil deveria ser capaz de interpretar os acontecimentos ligados a vida da entidade e demonstrar a formação do resultado e suas relações com os fatos administrativos e com todo o contexto em que a entidade está inserida. O resultado era considerado o mais importante fenômeno econômico de uma entidade. O conhecimento e demonstração do resultado da gestão empresarial representavam o principal objetivo da contabilidade. Os expoentes máximos desta escola foram Zappa e Fibonacci. 3.1.6 - Escola Patrimonialista: Os teóricos desta escola (1926) definem o patrimônio como o objeto da contabilidade, pois o mesmo é uma grandeza real que se transforma com o desenvolvimento das atividades econômicas, cuja contribuição deve ser conhecida para 16 que se possa analisar adequadamente os motivos das variações ocorridas no decorrer de determinado período. Os fundamentos da doutrina patrimonialista se baseiam nos seguintes princípios: O objeto da contabilidade é o patrimônio aziendal Os fenômenos patrimoniais são fenômenos contábeis A contabilidade é uma ciência social A contabilidade se divide em três ramos na sua parte teórica: estática patrimonial, dinâmica patrimonial e revelação patrimonial A estática patrimonial se ocupa do patrimônio no seu aspecto estático (equilíbrio funcional e financeiro dos elementos patrimoniais). A dinâmica patrimonial estuda o patrimônio na sua condição dinâmica (obtenção e emprego de capitais). A revelação patrimonial pode ser definida como um conjunto de princípios e de normas que regem a individuação e a representação qualitativa e quantitativa – especialmente monetária ou valorativa – do patrimônio, em dado instante e na sucessão de instantes. Para os patrimonialistas a contabilidade não é apenas uma disciplina que tem por objetivo a revelação do patrimônio, ou seja, a representação da vida patrimonial da entidade como sugeriram os neocontistas, mas uma ciência, portanto, com leis e princípios próprios, que estuda e interpreta os fenômenos patrimoniais. O grande expoente desta escola foi Vicenzo Masi. 3.2 - Escola Americana: O início desta escola, a partir do surgimento das grandes corporações no começo do século XX, foi caracterizado pelo aspecto prático no tratamento de problemas econômico-administrativos, com limitadas construções teóricas as quais tiveram origem em entidades ligadasa profissionais da área contábil. Transformou-se numa das mais importantes e influentes no mundo, ditando regras para o tratamento de questões ligadas à contabilidade de custos, controladoria, análise das demonstrações contábeis, gestão financeira, controle orçamentário, etc. As associações profissionais foram as principais propulsoras do desenvolvimento doutrinário nos EE.UU., especialmente da contabilidade financeira. Entre as principais contribuições desta corrente ao processo de comunicação contábil estão: A busca da qualificação da informação contábil como forma de subsidiar a tomada de decisão dos gestores. A padronização dos procedimentos utilizados pela contabilidade financeira como forma de aumentar a confiança nas demonstrações contábeis, tendo em vista a quebra da bolsa de Nova Iorque em 1929. O estabelecimento dos Princípios de Contabilidade Geralmente Aceitos (US-GAAP) para garantir que as informações enviadas pela contabilidade aos usuários fossem confiáveis. O estabelecimento de dois objetivos gerais da contabilidade 1 – Fornecer 17 informações sobre os recursos econômicos e as obrigações da entidade. 2 – Fornecer informações sobre as mudanças nos recursos da entidade, pretendendo fomentar a qualificação das informações aos diversos usuários. A escola Norte-Americana contribuiu decisivamente para a contabilidade gerencial. Os principais personagens desta escola foram: Sprague, Hatfield, Paton, Littleton, Moonitz. 3.4 - Escola Alemã: O desenvolvimento da escola alemã, assim como o próprio desenvolvimento doutrinário da contabilidade ocorrido no final do Século XIX e início do século XX, deveu-se em parte às crescentes necessidades dos usuários das informações contábeis nos vários setores da sociedade. Alguns fatores que muito contribuíram para esta evolução foram: O desenvolvimento dos mercados financeiros A aceleração crescente da concentração das companhias A expansão dos grupos empresariais As crises sociais dos períodos de guerra e pós-guerra. As correntes doutrinárias surgidas na Alemanha estavam direcionadas para a análise da gestão e da organização das entidades, buscando a sistematização dos conhecimentos relativos à vida econômica das empresas, assim como a formulação dos princípios que presidem a organização e a gestão das mesmas. Diversos tratadistas alemães desenvolveram teorias sobre balanços como forma de dar mais qualidade à informação contábil, merecendo destaque a teoria estática, a teoria orgânica e a teoria dinâmica. Para os defensores da teoria estática ou monista, o balanço patrimonial é o instrumento responsável pela demonstração da situação patrimonial da entidade. O resultado de um período deve ser apurado a partir do confronto entre o valor patrimonial inicial e final deste período. A avaliação patrimonial mereceu dos primeiros tratadistas desta escola uma dedicação especial, uma vez que a mesma se traduz num ato de predizer o resultado em dinheiro calculado na data do balanço. De acordo com a teoria orgânica ou dualista, o balanço patrimonial pode fornecer não somente o estado patrimonial mas os reais resultados do exercício. Esta dualidade é possível a partir da avaliação dos elementos patrimoniais a valor de reposição. A teoria dinâmica foi sem dúvida a de maior destaque no doutrinamento alemão tendo como expoente máximo Eugen Schmalenbach. Este autor separou os balanços em estáticos e dinâmicos. O balanço estático era utilizado para a determinação do valor e composição do patrimônio em um determinado momento ao passo que o dinâmico tinha por finalidade a apuração do resultado de um exercício, sendo considerado por isso mesmo um balanço de resultados. 18 A principal conta do doutrinamento de Schmalenbach era a conta de ganhos e perdas, uma vez que ela revelava a movimentação ocorrida num determinado período, em função da gestão sobre um patrimônio. Uma das características do doutrinamento do balanço dinâmico é a sistemática de movimentação das contas, uma vez que nesta demonstração são classificados os valores pendentes. Assim, os ativos permanentes como prédios, máquinas, veículos, etc., que aparecem no balanço, devem ser interpretados como saídas ou despesas da conta de ganhos e perdas, razão pela qual se encontram no ativo, sendo que se forem vendidos, transformando-se em receitas, deverão ser amortizados nos períodos seguintes. O balanço patrimonial é na realidade uma conta auxiliar que recebe os valores relativos às negociações em circulação, ou seja, são valores pendentes que não podem ser classificados na conta de resultados. Com exclusão da conta caixa, os demais valores patrimoniais são pré-prestações (ativo) ou pós-prestações (passivo), que devem ser entendidos como valores transitórios, ou seja, representam elementos positivos e negativos de resultados futuros. Assim, todos os elementos da conta de ganhos e perdas devem possuir um relacionamento com as contas do balanço. O desenvolvimento das idéias de Schmidt (outro expoente da escola), sobre a contabilidade a valores correntes, especialmente na forma de publicação das demonstrações contábeis como decorrência das altas taxas de inflação na Alemanha no início do século, significou entre outras, uma importante contribuição desta escola ao processo de comunicação contábil. Os personagens mais importantes desta escola foram: Schmalenbach, Schmidt, Gomberg, Schar e Gutenberg. 4.0 - A Contabilidade no Brasil: Ao analisar-se a evolução da contabilidade no Brasil, percebe-se que desde o início fica evidente a interferência da Legislação. Uma das primeiras manifestações da legislação como elemento propulsor de desenvolvimento contábil brasileiro, foi o Código Comercial de 1850 (Extinto pelo Novo Código Civil Brasileiro), que instituiu a obrigatoriedade da escrituração contábil e da elaboração anual da demonstração do Balanço Geral composto de bens, direitos e obrigações, das empresas comerciais. Em 1902, surge em São Paulo a Escola Prática de Comércio que criou um curso regular que oficializasse a profissão contábil. O objetivo desta escola era o de aliar ao desenvolvimento agrícola, o início da expansão industrial com a necessidade de habilitar e criar especialistas para, internamente, preencher as tarefas de rotina da contabilidade e controlar as finanças e, externamente, dotar São Paulo de elementos capazes de articular 19 o desenvolvimento dos negócios, com a conseqüente ampliação das fronteiras de atuação. O Decreto Lei Nº 2627 de 1940, instituiu a primeira Lei das S/A, estabelecendo procedimentos para a Contabilidade como: Regras para a avaliação de ativos. Regras para a avaliação e distribuição de lucros. Criação de Reservas. Determinação de padrões para a publicação do Balanço. Determinação de padrões para a publicação dos lucros e perdas. O Conselho Federal de Contabilidade (CFC), através da Resolução CFC 321/72 passou a adotar os Princípios de Contabilidade Geralmente Aceitos como normas resultantes do desenvolvimento da aplicação prática dos princípios técnicos emanados da contabilidade, visando proporcionar interpretações uniformes das demonstrações contábeis. Em 1976 foi publicada a nova Lei das S/A nº 6404, significando uma nova fase para o desenvolvimento da contabilidade no Brasil e incorporando de forma definitiva as tendências da Escola Norte-Americana. A Contabilidade no Brasil atualmente é regida pela Lei 6.404/76 e alterações posteriores. Houve uma padronização na apresentação de relatórios e na sistemática de lançamentos e em todas as questões de ordem legal e societária. A Lei das S/As como ficou conhecida é extensiva para as demais sociedades. E desde 1976 até os dias atuais tem sofrido poucas modificações. Em 1981 a Resolução CFC nº 529 disciplinou as Normas Brasileiras de Contabilidade e a Resolução CFC nº 530 os PrincípiosFundamentais de Contabilidade, os quais foram atualizados em 1993 pela Resolução CFC Nº 750. 4.1 - A Profissão Contábil no Brasil: No Brasil , a profissão de Contador tem completa autonomia, tem regulamentação profissional e Conselho próprio ( Conselho Federal e Conselhos Regionais de Contabilidade ). Os órgãos da classe contábil no Brasil são: Conselhos, Confederações, Federações, Sindicatos, Associações Profissionais, Institutos e Academias. O Conselho Federal de Contabilidade (CFC) foi criado pelo Decreto-Lei No 9.295 de 27/05/46, coordena e congrega todos os conselhos Regionais de Contabilidade, formando o Sistema Nacional de Registro e Fiscalização do Exercício da profissão Contábil. O CFC é composto por 15 Conselheiros efetivos e 15 suplentes, sendo 2/3 Contadores e 1/3 Técnicos em Contabilidade, eleitos por um colégio eleitoral composto de um delegado-eleitor de cada CRC, com mandato de 4 anos. Os conselheiros elegem o Presidente e demais membros da Diretoria, todos com mandato de 2 anos, podendo ser reeleitos por igual período. Os Conselhos Regionais de contabilidade foram criados com 20 as finalidades de registro e fiscalização do exercício da profissão de Contabilista, a profissão está regulamentada e somente podem exercer a profissão os contadores e técnicos contábeis registrados no CRC da sua região. Sendo o CRC subordinados ao CFC. Atualmente são 27 Conselhos Regionais, com sede nas capitais dos estados. 5.0 - Estrutura Conceitual Básica da Contabilidade: Objetivos da Contabilidade = sistema de informação e avaliação que visa o provimento de demonstrações e análises de natureza econômica, financeira, física e de produtividade aos seus usuários. Sistema de informação = conjunto organizado de dados, técnicas de acumulação, ajustes e emissões de relatórios. Usuário = pessoa física ou jurídica com interesse na avaliação da situação e evolução de uma entidade. Usuários são: acionistas; credores em geral e emprestadores de recursos; e integrantes do mercado de capitais. Usuários secundários são os administradores da entidade e o Fisco. Informação de natureza econômica = deve ser considerada a visão do que seja econômico para a contabilidade (demonstração do resultado do exercício, capital e patrimônio). Informação de natureza financeira = fluxos de caixa, capital de giro, etc. Informação de natureza física = complemento aos valores monetários (quantidades geradas de produto ou serviços, número de depositantes num banco, número de clientes numa empresa, número de funcionários numa empresa, etc.). Informação de natureza de produtividade = se refere à utilização mista de conceitos de avaliação (financeiros) e quantitativa (físicos), como: receita bruta per capita, depósitos por cliente, etc. As informações de natureza financeira e econômica constituem o Núcleo Central da Contabilidade. As informações de natureza física e de produtividade são complementares às demonstrações contábeis tradicionais. Objetivo principal da contabilidade = permitir que os usuários avaliem a situação financeira e econômica da entidade e possam inferir sobre as tendências futuras da mesma. Os objetivos da contabilidade devem contribuir para o processo decisório dos usuários, não se justificando por si mesma. Antes, deve ser um instrumento útil à tomada de decisões. Para tal, devem ser observados dois pontos: 1. As empresas devem evidenciar ou divulgar todas aquelas informações que contribuem para a adequada avaliação de sua situação patrimonial e de resultados, permitindo inferências em relação ao futuro. As informações que não estiverem explícitas nas demonstrações devem constar em Notas Explicativas ou Quadros Complementar. 2. A contabilidade está intimamente relacionada do com aspectos jurídicos os quais, 21 muitas vezes não conseguem retratar a essência econômica. Visando uma informação de fácil entendimento, a contabilidade deve seguir a essência ao invés da forma. A não utilização da informação contábil ou utilização restrita pode ser resultado de: deficiências na estrutura do modelo informativo; limitações do próprio usuário; baixa credibilidade por parte dos usuários; linguagem inadequada nas demonstrações contábeis. A contabilidade é uma ciência social no que se refere às suas finalidades, mas, quanto à metodologia de mensuração, reúne tanto o social quanto o quantitativo. Quanto às finalidades é social, uma vez que por suas avaliações do progresso das entidades, permite conhecer-se a posição de rentabilidade e posição financeira e de forma indireta auxilia os acionistas, tomadores de decisões, investidores a aumentar a riqueza da entidade. Como metodologia, é parcialmente social uma vez que seus critérios de avaliação envolvem muitas vezes subjetividade e incerteza, vindas do próprio ambiente social e econômico no qual as entidades estão operando. É parcialmente quantitativa, por materializar-se através da equação patrimonial básica: (ATIVO = PASSIVO + PATRIMÔNIO LÍQUIDO). Ativo – Conjunto de contas onde se registram os direitos e bens de uma empresa. Classifica-se por convenção sempre do lado esquerdo do balanço e as contas, salvo as retificadoras são de natureza devedora. Passivo – Conjunto de obrigações de uma empresa. Classifica-se do lado direito do balanço e as contas, salvo as retificadoras são de natureza credora. Patrimônio Líquido – Diferença entre o ativo e o passivo, classifica-se no lado direito com o passivo, para fazer o fechamento do balanço. Tem natureza de saldo credor e somente as contas de prejuízo e ações em tesouraria são de natureza devedora. Representa também um passivo para com os sócios. 6.0 - Princípios (Conceitos) Fundamentais de Contabilidade: Deliberação CVM Nº 29, de 05 de Fevereiro de 1986. Os Princípios (Conceitos) Fundamentais de Contabilidade são classificados em três categorias: Postulados ambientais da contabilidade Princípios contábeis propriamente ditos Restrições aos princípios contábeis fundamentais – Convenções Os postulados ambientais significam as condições sociais, econômicas e institucionais dentro das quais a contabilidade atua. Os princípios são a resposta da disciplina contábil aos postulados. Constituem o núcleo central da estrutura contábil. Procuram delimitar como a profissão deve se posicionar em relação à realidade social, econômica e institucional admitida pelos postulados. As convenções ou restrições aos princípios representam os condicionamentos de aplicação dos princípios, considerando-se 22 as situações práticas vivenciadas. 6.1 Postulados Ambientais da Contabilidade 6.1.1 - Postulado da Entidade Contábil Enunciado: "A contabilidade é mantida para as entidades; os sócios ou quotistas destas não se confundem, para efeito contábil, com aquelas." A contabilidade procura manter registros separados para cada entidade. No caso de uma entidade, Empresa ABC Ltda., cujos sócios são A, B e C, o contador ao manter a contabilidade para a mesma., está procurando acompanhar a evolução do seu patrimônio líquido e não dos seus sócios. Por outro lado, o mesmo contador poderia manter a contabilidade para as pessoas físicas dos sócios A, B e C. Trata-se de quatro entidades distintas, mas com grandes relacionamentos de interesse. Os Teóricos da Contabilidade, em geral, consideram o Postulado da Entidade dentro da dimensão tratada acima. No entanto, este significado não explica toda a dimensão do termo Entidade para a contabilidade. Nesse sentido pode-se dizer que o Postulado da Entidade tem as seguintes dimensões: Jurídica > nessa dimensão a entidade é perfeitamente distinta dos sócios (separação cuidadosa do que é dos sócios e do que é da entidade). Econômica > nessa dimensão a entidade se caracteriza como massa patrimonial, cabendo à contabilidade acompanhar sua evolução qualitativa e quantitativa(comparação da situação patrimonial da entidade, como um todo, em vários períodos). Organizacional > nessa dimensão a entidade pode ser considerada como um grupo de pessoas ou pessoa, exercendo controle de receitas e despesas, investimentos e distribuições (abertura de centros de custo, lucro ou investimento). Social > nessa dimensão considera-se que a entidade pode ser avaliada não só pela utilidade que a si acresce, bem como pela sua contribuição no campo social (comentários em notas explicativas sobre programas de complementação de aposentadoria, etc.). O entendimento da contabilidade e sua forma de atuação requerem o entendimento do pano de fundo de sua atuação, isto é, as entidades, de toda natureza e fins, e para captar a essência operacional destas, além do estudo do seu processo operacional interno deve-se entender o ambiente dentro do qual atuam. Na verdade quem deve enfrentar o cenário são as entidades e não a contabilidade. Porém, esta vive em função daquelas. 23 6.1.1 Postulado da Continuidade das Entidades Enunciado: "Para a contabilidade, a entidade é um organismo vivo que irá viver (operar) por um longo período de tempo (indeterminado) até que surjam fortes evidências em contrário." Através do Postulado da Continuidade, encara-se a entidade como algo capaz de produzir riqueza e gerar valor continuadamente, sem interrupções. Nesse sentido, o exercício financeiro anual ou semestral é uma ficção que decorre da necessidade de conhecer-se o andamento do empreendimento de tempos em tempos. As operações produtivas da entidade, no entanto, têm continuidade fluidificante. Em princípio a contabilidade não desconhece a possibilidade de descontinuidade. Porém, considera tal possibilidade somente quando há fortes e claras evidências de sua ocorrência. Em tais situações, os Princípios Contábeis Fundamentais não se aplicam às essas entidades, uma vez que as mesmas não estão "em marcha". Os auditores independentes devem fazer constar em seu relatório (parecer) o perigo de descontinuidade, desde que tenham todas as evidências a respeito da mesma. Antes de tal reconhecimento, a entidade deve ser considerada em continuidade, aplicando-se todos os princípios contábeis como definidos a seguir. Uma conseqüência imediata desse postulado é a consideração de que os ativos da entidade não são mantidos para que sejam vendidos no estado em que se encontram, mas para, devidamente manipulados pela mesma, produzirem receitas superiores às despesas (consumo de ativos para produzir receitas), gerando um resultado positivo ou gerando serviços ou benefícios para a coletividade (entidades de fins não lucrativos). Isso significa que os ativos, enquanto em estoque (em seu estado original ou nos estoques de produtos em fabricação e acabados), devem ser avaliados por algum tipo de custo. A avaliação usual dos ativos pelo custo (valor de entrada) é conseqüência do Postulado da Continuidade. "A verdadeira natureza íntima da contabilidade consiste, basicamente, no confronto entre sacrifícios (mensurados por custos) e realizações (mensuradas por valores de venda). "Por último cabe concluir que" a Entidade em Continuidade é a premissa básica da contabilidade". 6.2 Os Princípios propriamente ditos: Os princípios fornecem as linhas filosóficas de resposta da contabilidade aos desafios do sistema de informação contábil, atuando num cenário marcado pela complexidade, ao nível de Postulados. Os princípios constituem o núcleo central da doutrina contábil. 24 6.2.1 Princípio do custo como base de valor Enunciado: "...O custo de aquisição de um ativo ou dos insumos necessários para fabricá-lo e colocá-lo em condições de gerar benefícios para a entidade representa a base de valor para a contabilidade, expresso em termos de moeda de poder aquisitivo constante.." Trata-se do mais antigo princípio de contabilidade e é considerado dentro da Teoria da Contabilidade como uma conseqüência direta do Postulado da Continuidade, como já foi visto. No caso de doações de ativos, os mesmos devem ser registrados pelo custo que custaram, originalmente, para quem os doou. Também é aceito admitir-se como base de valor para doações de ativos, o preço que seria pago por um bem no mesmo estado de conservação, no mercado de novos ou usados, se existir. Portanto, para base de registro para a contabilidade deve prevalecer o valor de entrada. A rigor, existem vários valores considerados como de entrada, o que leva a pensar- se que seria melhor considerar o custo original (histórico) como base de registro inicial e não como base de valor. As hipóteses de avaliação com base nos valores de entrada são várias se devendo considerar aquela capaz de maximizar a função contábil que se compõe das variáveis: relevância, praticabilidade e objetividade. Na verdade, a contabilidade é um permanente exercício de busca do equilíbrio entre estas três variáveis. O conjunto de Postulados, Princípios e Convenções igualmente deve ser levado em conta na escolha da hipótese. O valor da transação pode ser considerado uma aproximação razoável do que se considera o valor econômico de um ativo por ocasião da transação. No decorrer do tempo, no entanto, devido a diversos fatores (desgaste físico, flutuações do poder aquisitivo da moeda, mudanças tecnológicas, obsolescência, etc.), o valor registrado tende a perder parte de sua validade, como estimador do valor econômico. 6.2.2 Princípio do denominador comum monetário Enunciado: "As demonstrações contábeis, sem prejuízo dos registros detalhados de natureza qualitativa e física, serão expressas em termos de moeda nacional de poder aquisitivo da data do último Balanço Patrimonial..." Esse princípio traduz a dimensão financeira da contabilidade, pois a mesma deve tratar de homogeneizar, para o usuário das demonstrações contábeis, ativos e passivos que apresentam natureza bastante diferenciada entre si, pelo denominador comum monetário, isto é, sua avaliação deve ser feita em moeda corrente do País. Esse padrão de mensuração (moeda), não deveria sofrer alterações em sua essência. O período inflacionário vivido no Brasil até pouco tempo, não reunia as condições para ser considerado um padrão de mensuração afiançável, a não ser no exato 25 momento da transação. 6.2.3 Princípio de realização da receita Enunciado: "A receita é considerada realizada e, portanto, passível de registro pela Contabilidade, quando produtos ou serviços produzidos ou prestados pela entidade são transferidos para outra entidade ou pessoa física com a anuência destas e mediante pagamento ou compromisso de pagamento especificado perante a entidade produtora..." A contabilidade deve se preocupar com a objetividade e consistência em seus princípios e procedimentos, com possíveis reflexos na área do direito. Sabe-se que o processo produtivo adiciona valor aos fatores manipulados de forma contínua, porém não se pode de forma objetiva escolher pontos ao acaso e sempre determinar com grau de confiança aceitável, o valor adicionado. Isso ocorre porque o processo produtivo nem sempre é linear. Por exemplo: diferentes etapas na execução de um processo de produção podem adicionar valor não proporcional ao tempo decorrido na etapa e mesmo ao custo, embora a proporcionalidade entre custos incorridos e receita valor gerada tem sido usada em certos casos. O Princípio de realização da receita adota como ponto normal para reconhecimento e registro da receita na contabilidade da empresa, aquele em que há transferência de produtos ou serviços ao cliente. Normalmente este ponto coincide com o momento da venda. Procede-se dessa forma na contabilidade, por que: a transferência do produto ou serviço em geral é concretizada quando todo ou praticamente todo o esforço para obtenção da receita já foi realizado; nesse ponto conhece-se com mais exatidãoe objetividade o valor de mercado (da transação) para a devida transferência; também nesse ponto já são conhecidos todos os custos de produção do referido produto ou serviço transferido, bem como outras despesas ou deduções da receita associáveis aos mesmos, como: comissões sobre vendas, despesas com consertos ou reformas em decorrência da garantia concedida, etc. Tais despesas normalmente são pagas após a transferência, porém o montante destas é conhecido ou estimável já no ato da transferência. Essas três condições determinam quando uma receita pode ser reconhecida na contabilidade da entidade, independente dos interesses de ordem fiscal. Muitas vezes há a tendência de avaliação dos estoques de produtos ou serviços a valores de mercado, antes da transferência ao cliente. Tal atitude tem os seguintes inconvenientes: o mercado, de modo geral, só considera que "deu seu veredito" sobre o valor da transação quando esta se completa; muitas vezes este reconhecimento da receita tem por objetivo favorecer esta ou aquela 26 configuração de resultados, significando uma utilização indevida dos princípios de contabilidade. Cabe destacar, ainda, que em atendimento ao Postulado da Continuidade, os ativos figuram nos registros pelos seus valores de entrada (custo original) até o "sacrifício" dos mesmos no esforço de gerar receita. A receita é dada pelo valor de "saída"; o confronto, portanto, deve ser com valores de entrada. 6.2.3.1 Receitas a serem reconhecidas proporcionalmente a certo período contábil já decorrido Existem determinados serviços, aluguéis, empréstimos, etc., que estão relacionados ao decurso de determinado período de apropriação contábil através de contrato. Este período normalmente é mensal. Na verdade o serviço é prestado continuamente, até o encerramento do contrato. O que se faz, é reconhecer em cada um destes períodos, uma parcela da receita total (do serviço total) em termos proporcionais ao período ou evento decorrido, não esperando até o final para reconhecimento total, de uma só vez. Na prestação de serviços de consultoria e de auditoria, por exemplo, em que se caracteriza este fluxo de serviço, em geral as horas de serviço acumuladas no mês ou período de apuração contábil indicam a base para o faturamento da receita ao cliente. Segundo vão se acumulando as horas, vai também crescendo a receita numa base contínua de tempo decorrido. O valor da receita a reconhecer, necessariamente não é proporcional ao esforço realizado ou custos incorridos no mesmo período, mas diretamente proporcional aos tempos transcorridos ou horas gastos no serviço. De qualquer forma, o tempo transcorrido ou as horas de esforço que foram aplicadas, constituem o fator preponderante para reconhecimento da receita em períodos menores que o lapso de tempo necessário para completar o contrato ou serviço. 6.2.3.2 Produtos cuja produção é contratada para execução em longo prazo Nos casos de produção sob encomenda com prazo de fabricação longo (navio, por exemplo), são mais conveniente reconhecer, durante o transcurso do exercício financeiro (no final do período de apuração contábil) uma parcela da receita proporcional: às etapas físicas de construção completadas (grau de acabamento); ou aos custos incorridos no período de apuração. Justifica-se tal comportamento, considerando-se que certamente os acionistas poderiam discordar de demonstrações contábeis que não revelassem nenhum lucro num exercício em que foi empregado muito esforço e gastos muito recursos para obtenção de 27 uma parte do acabamento do contrato total que permitirá um lucro final, com adequado grau de probabilidade. A escolha do critério deve obedecer a conceitos teoricamente sustentáveis, especialmente se considerar-se a comparabilidade por parte do usuário externo, de várias entidades que atuam no mesmo ramo. Entidades que produzem produtos de longo período de maturação ou acabamento, tanto do ponto de vista teórico como prático, devem reconhecer a receita em proporção aos fatores considerados, observando as seguintes condições: o preço total do produto é determinado por contrato ou por correção contratual de seu preço atual; a incerteza quanto ao recebimento em dinheiro da transação é mínima ou a mesma pode ser bem estimada; os custos necessários para completar a produção podem ser razoavelmente bem estimados. Apura-se a receita a ser reconhecida em determinado exercício, dividindo-se os custos incorridos no mesmo pelos custos totais estimados do produto, sendo o resultado multiplicado pela receita de venda do produto completo o que resulta na receita a ser apropriada. Em se tratando de etapa física de acabamento, calcula-se um percentual em relação ao grau de acabamento total que, da mesma maneira, é aplicado ao preço do produto totalmente acabado. 6.2.3.3 Reconhecimentos da receita antes da transferência por valoração de estoques Existem produtos que têm um processo de produção que reúne características especiais, como crescimento natural ou acréscimo de valor vegetativo (entidades agropecuárias, mineradoras, produtoras de vinho, etc.), e outros cujo valor de mercado é possível determinarem-se prontamente, e em que o risco de não venda praticamente não existe (mineração, lapidação de metais e pedras preciosas), os quais se podem, em circunstâncias bem determinadas, reconhecer receita antes do ponto de transferência ao cliente, observando-se as condições a seguir: os estoques existentes no final do período contábil são avaliados com base no valor de realização naquele momento, quando objetivamente determinável, através de amplo consenso do mercado sobre o valor dos mesmos, deduzindo-se por estimativa o montante necessário para o acabamento e suporte de todas as despesas e custos a incorrer para venda efetiva do produto. Se o produto estiver totalmente acabado, deduzem-se as despesas para sua venda como produto final; o processo para obtenção de lucro nessa atividade se caracteriza mais pela atividade física de nascimento, crescimento, envelhecimento ou outra, do que pela venda de entrega do bem. 28 6.2.3.4 Reconhecimento da receita após o período de transferência do produto ou serviço É possível reconhecer-se a receita após o ponto de transferência em alguns casos excepcionais como, por exemplo, um determinado ativo ser recebido em troca de uma venda realizada, o qual não tem valor reconhecido de mercado. Nestas circunstâncias, transfere-se o custo do ativo vendido para o ativo recebido em troca e quando esse último for vendido, reconhece-se um resultado. 6.2.4 Princípio do confronto das despesas com as receitas e com os períodos contábeis Enunciado: "Toda despesa diretamente delineável com as receitas reconhecidas em determinado período, com as mesmas deverá ser confrontada; os consumos ou sacrifícios de ativos (atuais ou futuros), realizados em determinado período e que não puderam ser associados à receita do período nem às dos períodos futuros, deverão ser descarregados como despesa do período em que ocorrerem..." A base de confronto são as receitas reconhecidas (ganhas) e as despesas incorridas (consumidas) no período. Portanto, toda e qualquer despesa ou perda ocorrida num determinado período, deve ser confrontada com as receitas reconhecidas no mesmo período ou a ele atribuídas, com exceção de: gastos de períodos em que a empresa é total ou parcialmente pré- operacional. Estes gastos são normalmente ativados e começam a ser amortizados como despesa a partir do exercício em que a empresa, ou parte do ativo, comece a gerar receitas; parte dos gastos do departamento de pesquisa e desenvolvimento que superar o montante necessário para o funcionamento do mesmo, independentemente da quantidade de projetos em execução. É importante ressaltar que todos aqueles gastos que foram diferidose que não vierem a gerar receitas, terão seus valores descarregados como perda no período em que se confirmar a impossibilidade da geração de receita ou desmobilização do projeto. Este princípio e o princípio de realização da receita em seu conjunto são conhecidos por Regime de Competência. 6.3 Convenções Contábeis (restrições aos Princípios) Constituem um complemento dos Postulados e dos Princípios na medida em que lhes delimitam os conceitos, atribuições e direções que devem ser seguidos. 6.3.1 Convenção da Objetividade Enunciada: "Para procedimentos igualmente relevantes, resultantes da aplicação dos Princípios, preferir-se-ão, em ordem decrescente: a) os que puderem ser comprovados por documentos e critérios objetivos; b) os que puderem ser 29 corroborados por consenso de pessoas qualificadas da profissão, reunidas em comitês de pesquisa ou em entidades que têm autoridade sobre princípios contábeis..." Em obediência a esta convenção, os contadores devem decidir em relação ao atributo ou evento que será mensurado, selecionando os procedimentos de mensuração adequados, a fim de que as demonstrações contábeis sejam tão confiáveis quanto possível. 6.3.2 Convenção da Materialidade Enunciada: "O contador deverá, sempre, avaliar a influência e materialidade da informação evidenciada ou negada para o usuário à luz da relação custo-benefício, levando em conta aspectos internos do sistema contábil..." No que se refere ao usuário da informação contábil, determinada cifra ou informação é material na medida em que se não evidenciada ou mal evidenciada, pode levá-lo a cometer um sério erro na avaliação do empreendimento e de suas tendências. No âmbito interno, é material o procedimento ou cifra que se não for processado, prejudica a qualidade e confiabilidade do sistema de informação e do próprio controle interno. É relativamente difícil julgar sobre a materialidade ou não de uma cifra. Alguns critérios poderiam ser: Quanto ao usuário externo, a evidenciação ou não de determinada cifra e a correta adoção ou não dos princípios contábeis, serão mais ou menos materiais quando se referirem: a eventos que refletem tendências do empreendimento; a eventos que afetam apenas um exercício. Os valores correspondentes a receitas e despesas operacionais, normalmente são mais materiais, para efeitos de avaliação de tendência, do que possíveis ganhos e perdas ou efeitos de exercícios anteriores. As cifras oriundas de mudanças de critérios usados no passado são consideradas materiais com relação à avaliação do usuário. A evidenciação é necessária nesses casos. "Materialidade não significa desprezo pelo detalhe em si, se esse estiver encobrindo problemas maiores." Naturalmente, o conceito da materialidade sempre considerará uma alta dose de julgamento e de bom senso do contador, em cada situação. 6.3.3 Convenção do Conservadorismo Enunciado: "Entre conjuntos alternativos de avaliação para o patrimônio, igualmente válidos, segundo os Princípios Fundamentais, a contabilidade escolherá o que apresentar o menor valor atual para o ativo e o maior para as obrigações.." O conservadorismo ou prudência em contabilidade, deve ser entendido sob dois aspectos: 1. Vocacional e histórico da profissão, segundo o qual, dentre várias disciplinas que avaliam, pelo menos em parte, o valor de uma empresa, a contabilidade é a que tenderia, 30 consideradas as mesmas condições, a apresentar o menor valor. 2. Operacional que se refere ao fato de que considerados os amplos graus de julgamento que a aplicação dos Princípios permite empregar, a contabilidade tende a escolher a menor das avaliações igualmente relevantes para o ativo e a maior para o passivo. Não se deve pensar em manipulação dos resultados contábeis, e sim considerar o aspecto de resguardo e neutralidade que a contabilidade deve apresentar. 6.3.4 Convenção da Consistência Enunciada: "A contabilidade de uma entidade deverá ser mantida de forma tal que os usuários das demonstrações contábeis tenham possibilidade de delinear a tendência da mesma com o menor grau de dificuldade possível..." O contador deverá refletir muito antes de decidir pela adoção de determinado procedimento de avaliação, para garantir a utilização dos mesmos procedimentos na maior seqüência possível de exercícios. Ressalta-se que se uma mudança de procedimento, que seja material se faz necessária, essa deve ser evidenciada em notas explicativas e seus efeitos, tanto em relação ao balanço quanto aos resultados, devem ser mensurados e bem enunciados. Em se tratando de avaliação de tendência do empreendimento, é fundamental que a consistência exista nos períodos abrangidos pelas demonstrações. É difícil estabelecer regras precisas e matemáticas em relação à consistência e materialidade, o que exige um sólido conhecimento de teoria, por parte do contador, para este possa escolher o melhor conjunto de procedimentos, em cada situação. O Conselho Federal de Contabilidade emitiu em 29/12/93, a Resolução CFC nº 750 que dispõe sobre os Princípios Fundamentais de Contabilidade, tornando obrigatória sua observância no exercício profissional e constituindo condição de legitimidade das Normas Brasileiras de Contabilidade. Igualmente ressalta que na aplicação destes princípios a situações concretas, a essência da transação deve prevalecer sobre seus aspectos formais (essência x forma). 7.0 - NORMAS E PRINCÍPIOS CONTÁBEIS Resolução CFC Nº 750, de 29 de dezembro de 1993 - Dispõe sobre os Princípios Fundamentais de Contabilidade (PFC). Conforme Art.3o - São Princípios Fundamentais de Contabilidade: I - o da ENTIDADE. II - o da CONTINUIDADE III - o da OPORTUNIDADE IV - o do REGISTRO PELO VALOR ORIGINAL V - o da ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA VI - o da PRUDÊNCIA. Os Princípios Fundamentais de Contabilidade aprovados por esta Resolução, requerem, para o seu amplo entendimento pelos usuários da informação contábil e para a perfeita compreensão 31 pelos profissionais da Contabilidade, um grau de detalhamento que não é possível abranger nos próprios enunciados. O Apêndice aos Princípios Fundamentais de Contabilidade, (Resolução 774, de 16/12/94), contendo comentários sobre o conteúdo dos enunciados, é a forma adequada de melhor compreensão sobre tão importante assunto. O objetivo, portanto é simples esclarecimento. 7.1 - A CONTABILIDADE COMO CONHECIMENTO: 7.1.1 A contabilidade como ciência social: A Contabilidade possui objeto próprio - O Patrimônio das Entidades - e consiste em conhecimentos obtidos por metodologia racional, com as condições de generalidade, certeza e busca das causas, em nível qualitativo semelhante às demais ciências sociais. 7.1.2 O Patrimônio Objeto da Contabilidade: Na Contabilidade, o Objeto é sempre o Patrimônio de uma Entidade, definido como um conjunto de bens, direitos e de obrigações para com terceiros. O essencial é que o patrimônio disponha de autonomia em relação aos demais patrimônios existentes, o que significa que a Entidade dele pode dispor livremente, claro que nos limites estabelecida pela ordem jurídica e, sob certo aspecto, da racionalidade econômica e administrativa. O patrimônio também é objeto de outras ciências - por exemplo, da Economia, da Administração e do Direito - que, entretanto, o estudam sob ângulos diversos daquele da Contabilidade, que estuda nos seus aspectos quantitativos e qualitativos. Por aspecto qualitativo do patrimônio entende-se a natureza dos elementos que o compõem, como dinheiro, valores a receber ou a pagar expressos em moeda, máquinas, estoques de materiais ou de mercadorias etc. A delimitação qualitativa desce, em verdade desce até o grau de particularização que permita s perfeita compreensão do componente patrimonial. Assim, quando falamos em máquinas, ainda estamos a empregar um substantivo coletivo, cuja
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