Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
História da Arte Contemporânea Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Ms. Rita Garcia Jimenez Revisão Textual: Profa. Ms. Fátima Furlan Arte Contemporânea no Mundo Atual América do Norte, Europa, Ásia e América Latina • Arte de Hoje, do Agora, ou o Mundoem que Vivemos • América do Norte • Europa • Artistas Europeus Mundiais • Ásia • América Latina · Conhecer os aspectos conceituais, históricos e estéticos da arte contemporânea no mundo atual e suas diferentes linguagens. · Apreciar, analisar significativamente, ler e criticar manifestações artísticas contemporâneas. · Valorizar a pesquisa sobre os aspectos conceituais, históricos e estéticos da arte contemporânea. · Valorizar a arte como construção de conhecimento e de cultura. OBJETIVO DE APRENDIZADO Arte Contemporânea no Mundo Atual – América do Norte, Europa, Ásia e América Latina Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Arte Contemporânea no Mundo Atual – América do Norte, Europa, Ásia e América Latina Contextualização A história da arte contemporânea é feita de muitas histórias, de muitos acontecimentos, fatos, mas, principalmente, de muitas perguntas. Mas, e as respostas? Bem, é justamente isso que buscamos ao estudar a história: respostas, ainda que sabemos que o mais importante é fazer a pergunta certa. Nunca a produção artística foi tão grande quanto a atual. Ao mesmo tempo percebemos que o mundo ficou pequeno, encolheu, e os artistas sabem disso. Mais do que nunca, viajam, trocam experiências, produzem a partir de suas raízes e experiências, mas de olho no global. O chinês Ai Weiwei (1957-) é um exemplo. Precisou sair da China, mas transformou essa diáspora em arte para, justamente, tentar entender o que aconteceu com ele. A arte contemporânea também tem seus desafios. Ela está permanentemente sendo comparada com suas antecessoras, seja nas linguagens, nos artistas, nos conceitos... Sua evolução mostra que é preciso conhecê-la para podermos compreendê-la. E, a escola é um excelente lugar para se fazer isso. Espaço de desenvolvimento social, ela tem, entre tantos papéis, a função de construir o conhecimento também da arte contemporânea para garantir maior aproximação com os diversos públicos que formam uma sociedade. O conhecimento da arte e do sistema que a envolve é fundamental pela sua pluralidade, experimentação e questionamento. E, a arte contemporânea, por sua vez, além do constante deslocamento de valores, de crenças, do papel do artista, do espaço da arte e do posicionamento do público frente a ela, tem inesgotável potencial para contribuir com o crescimento cultural, social e até mesmo ambiental das pessoas 8 9 Arte de Hoje, do Agora, ou o Mundo em que Vivemos A arte de hoje se caracteriza por uma vitalidade e diversidade jamais experimentadas. Os artistas contemporâneos se utilizam de uma inesgotável variedade de meios, linguagens e métodos para explorar o mundo que os cerca, desde pinturas híbridas, que utilizam materiais até então desconhecidos, a fotos trabalhadas digitalmente e obras de videoarte. Estamos longe de abandonar os materiais e as técnicas tradicionais, mas hoje os artistas não mais são definidos – e não se definem – por estilos ou técnicas. Eles adotaram as novas tecnologias como meio de expressar, refletir e competir com a nova paisagem cultural definida pelos meios de comunicação de massa e entretenimento. Os primeiros movimentos de vanguarda, no início do século XX, usavam materiais não convencionais e meios não tradicionais como forma de contestação do status exclusivo da arte e o caráter precioso e único do objeto artístico – lembremos de Marcel Duchamp (1887-1968). Na arte contemporânea, essas fronteiras podem ser atravessadas sem que isso signifique a negação da arte como tal. Os anos 1960 protagonizaram uma ampla reavaliação do que podia ser arte. Pioneiros usaram a tecnologia do vídeo e surgiu um interesse pelo espaço físico, ressurgindo, assim, as instalações. Alusões a obras do passado são frequentes. Os artistas das novas mídias se afastaram da abstração em direção a um envolvimento com o mundo que os cerca. Ao utilizarem a fotografia, o filme e o vídeo – tecnologias que registram impressões da realidade física – passaram a mostrar a vida das pessoas comuns por meio do registro de imagens. Começa-se a celebrar o pluralismo a partir da proliferação universal das imagens e dos meios de comunicação de massa. 9 UNIDADE Arte Contemporânea no Mundo Atual – América do Norte, Europa, Ásia e América Latina Figura. 1 – O anjo do Norte (1998), de Antony Gormley, escultura de aço (20 m de altura, 54 m de asa) Fonte: Wikimedia Commons É considerada uma das obras de arte mais vistas no mundo uma vez que passam cerca de 90 mil pessoas por dia no local, no entroncamento das rodovias A1 e A167, em Gateshead (Inglaterra). No século XXI, a escultura continua sendo uma forma de arte forte e vital, com renovado interesse popular. Nos últimos 25/30 anos uma nova ordem urbana, com maior aproveitamento dos espaços pelas pessoas, tem contribuído para a aceitação da nova escultura comemorativa ou de celebração, bem como dos parques de esculturas e exposições em espaços abertos. A escultura contemporânea é urbana e rural, temporária ou permanente, pública ou privada, de grande ou pequena escalas... não importa, o que importa é que ela está mais viva do que nunca em materiais – protagonistas? – tradicionais como o bronze e a pedra ou alternativos como aço, resina, plástico, papelão... Não há um termo consolidado para a arte produzida nas duas últimas décadas do século XX e início do século XXI. Ao mesmo tempo, nunca tanta arte foi produzida e comercializada, nunca antes público e mídia tiveram tanto interesse no assunto e nunca antes houve tantos lugares para apreciar e comprar arte. Novos museus fantásticos e galerias foram construídos nos últimos 20 anos como o Guggenheim em Bilbao (Espanha), a Tate Modern, em Londres (Inglaterra) e o Maxxi, em Roma (Itália). 10 11 América do Norte A arte produzida hoje na América do Norte, especialmente nos Estados Unidos, abrange uma imensa variedade de técnicas e estilos – assimcomo em praticamente todo o mundo. Os artistas transitam da colagem a peças conceituais, da pintura à performance. Trata, também, de uma gama variada de questões como o consumismo e a cultura popular, a identidade racial e de gênero, além das tenções ligadas ao terrorismo. Em boa parte das obras contemporâneas o enfoque principal está ainda na representação de motivos ou nas imagens de obras do passado que são citadas ou apropriadas e apresentadas em perturbadores contextos, despojadas de seus significados tradicionais que são desconstruídos. Os temas mais comuns situam-se na interação entre as pessoas e seu ambiente, nos relacionamentos entre elas, nos seus medos, esperanças e na sua autoimagem. Entretanto, as pessoas não são simplesmente temas, mas participantes ativas nas obras como nos trabalhos do canadense Jeff Wall (1946-). As imagens do artista são transparências iluminadas em contraluz, oferecendo aos trabalhos intensa qualidade cinematográfica. As fotos podem ter a aparência de reportagem da vida real, mas, na verdade, são meticulosamente compostas. Apesar de sua natureza encenada, elas expressam intensas verdades sociais. Em Mímica (1982) (Fig. 2), uma das obras mais famosas de Wall, o artista mostra três pessoas com cerca de 20 e poucos anos andando por uma rua suburbana nos Estados Unidos em um dia quente e ensolarado. Um dos homens tem barba e segura a mão da namorada. À direita deles está um homem asiático. Wall captou o instante em que o casal está prestes a ultrapassá-lo. O homem de barba se vira na direção do asiático e levanta um dedo até o canto do próprio olho em um gesto racista. O asiático vislumbra o insulto em sua visão periférica; a moça olha para outro lado. Figura. 2 – Mímica (1982), de Jeff Wall, fotografi a em transparência iluminada por trás (2 m x 2,3 m) Fonte: Jeff Wall, 1982 11 UNIDADE Arte Contemporânea no Mundo Atual – América do Norte, Europa, Ásia e América Latina Wall fotografou um ato baseado em um estereótipo e na mímica em uma imagem surpreendente e agressiva ainda mais pelo seu tamanho (2 m x 2,3 m) e por ser iluminada, dando praticamente uma dimensão natural aos personagens. A posição da fotografia, com o centro atraindo o olhar do espectador, é intencional: o artista comenta as divisões raciais no Ocidente. Entretanto, a foto tem um detalhe importante: não é um instantâneo documental, mas uma elaborada produção com atores, figurino e maquiagem. Wall utiliza as regras da cinematografia e as aplica à fotografia, para, em seguida, exibir seu trabalho usando a tecnologia do anúncio veiculado em um outdoor iluminado por trás. Nos anos 1990, Jeff Wall começa a produzir fotomontagens como Insônia (1994), uma transparência em caixa de luz com 1,7 m x 2,1 m (Fig. 3). Na obra, o artista produz um brilho extraordinário da transparência em contraluz parecendo refletir uma cena claustrofóbica. Um homem no chão não está desperto, mas, no entanto, parece dominado por alguma ansiedade interna, depressão ou prostração, alheio ao ambiente à sua volta. Figura 3 – Insônia (1994), de Jeff Wall, fotomontagem/transparência/caixa de luz (1,7 m x 2,1 m) Fonte: Jeff Wall, 1984 Na obra Depois de “Invisible Man” por Ralph Ellison, o prólogo (1999-2000) (Fig. 4), Wall apropria-se de um romance, de 1952, do escritor Ralph Ellison, no qual um homem negro, durante um motim de rua, se esconde em um quarto esquecido no porão de um grande edifício de apartamentos em Nova York e decide ficar ali, vivendo escondido. O romance começa com uma descrição da casa subterrânea do protagonista, enfatizando o teto coberto com 1.369 lâmpadas conectadas ilegalmente. Há um paralelo entre o lugar de luz no romance e a própria prática fotográfica de Wall. O personagem de Ellison declara: “Sem luz eu não sou apenas invisível, mas sem forma também”. A utilização de uma fonte de luz por trás de seus quadros de parede é uma maneira de Wall trazer os seus próprios assuntos “invisíveis” para o primeiro plano, dando assim forma às negligências da sociedade. Em 2005, o artista ganhou uma grande retrospectiva de sua obra na Tate Modern, em Londres. 12 13 Figura 4 – Depois de “Invisible Man” por Ralph Ellison, o prólogo (1999-2000), de Jeff Wall, fotomontagem/transparência/caixa de luz (1,7 m x 2,5 m) Fonte: Jeff Wall, 1999-2000 Já a obra da norte-americana Cindy Sherman (1954-) nasceu pelo seu interesse pelo feminismo e à importância exagerada dada ao masculino em Hollywood. Expoente da arte da paródia e da imitação, explora vários gêneros visuais, inclusive o horror, a pornografia e as pinturas dos grandes mestres, usa bonecos e próteses médicas de uma maneira perturbadora, mas sempre de forma bem-humorada. Na série Untitle film stills (Bastidores), realizada entre 1977 e 1980 – então com 23 anos – ela produziu 69 retratos em preto e branco no estilo das fotografias de cenas publicitárias que os estúdios cinematográficos criam para promover seus principais astros – embora todas as suas cenas sejam de filmes que nunca foram produzidos. Cindy é a própria estrela da série, mas sem que as fotos sejam autorretratos. A obra da artista está impregnada da cultura visual de massa com a representação de personagens da consciência coletiva. Ela deixa plenamente visível a maneira como a identidade feminina é construída. Há a mulher fatal, a prostituta, a gatinha sexy, a dona de casa e a donzela fria. Figura 5 – Untitle fi lm stills nº 21 (1978), de Cindy Sherman, fotografi a (0,19 m x 0,21 m) Fonte: Cindy Sherman, 1978 13 UNIDADE Arte Contemporânea no Mundo Atual – América do Norte, Europa, Ásia e América Latina Ao remover todos os vestígios da sua personalidade em suas fotografias, Cindy torna sua obra camaleônica. Isso pode, em parte, explicar porque a única patro- cinadora da exposição da artista no MoMa, em 1997, foi a pop star Madonna, a “mãe da reinvenção”. A cantora já havia manifestado seu interesse pelo trabalho de Sherman em seu livro Sex (1992), publicação que deve muito a Untitle film stills. A artista produziu vários “retratos históricos” nos quais aparece como modelo em paródias de pinturas dos velhos mestres. Em Sem título nº 225 (1990) (Fig. 6), ela representa uma Virgem Maria renascentista. O seio falso distancia o espectador da sagrada beleza da cena. Também era inevitável que um dia Cindy ocuparia a figura do palhaço. Seu interesse por máscaras e disfarces e a dimensão do carna- valesco do seu trabalho convergem e se solidificam em sua série de palhaço. Em Sem título nº 412 (2003) (Fig. 7), Cindy demonstra esse interesse pelo grotesco. O palhaço é uma imagem forte de pesadelos coletivos, talvez porque represente a fronteira entre a criança e o adulto, pessoa real e falsa aparência. Por trás da maquiagem e brilhantes cores alegres existe algo profundamente perturbador, algo trágico e sinistro pode vir à superfície. Além disso, os palhaços também fazem referência ao abismo da existência humana, em situações engraçadas eles revelam a solidão e a brutalidade da vida cotidiana. O duplo significado dessa figura se ma- nifesta no outro lado do papel do palhaço, na sua popularidade como a estrela de festas de aniversário das crianças, como a publicidade de uma marca de fast food e como o elemento do mal em filmes de terror de Stephen King, por exemplo. Figura 6 – Sem título nº 225 (1990), de Cindy Sherman, fotografia (1,2 m x 0,8 m) Fonte: Cindy Sherman, 1990 Figura 7 – Sem título nº 412 (2003), de Cindy Sherman, fotografia (1,3 m x 1 m) Fonte: Cindy Sherman, 2003 14 15 Outro artista norte–americano de destaque é Bill Viola (1951-), um pioneiro da videoarte desde a década de 1970. Sua obra é reconhecida pelo acabamento elegante e pela aparência de pintura. Seus vídeos são tão lentos que às vezes fica difícil perceber os movimentos, exigindo uma extrema concentração do espectador. Em 1980, ele foi morar no Japão, após ganhar uma bolsa de intercâmbio cultural. Viola estudouo zen budismo e foi o primeiro artista residente dos Laboratórios Atsugi da Sony Corporation. No fim da década de 1980, já de volta aos Estados Unidos, viajou pelo sudoeste americano, fotografando a arte rupestre e filmando paisagens desérticas. Suas instalações e vídeos foram apresentadas no MoMa, em Nova York e, em 1995, ele representou seu país na Bienal de Veneza (Itália). Suas obras evocam uma relação humana com os quatro elementos fogo, água, ar e terra. Surgimento (2002) (Fig. 8), faz parte de uma série iniciada por Viola, em 2000, intitulada As paixões, inspirada na arte devocional da baixa Idade Média e do início do Renascimento. A obra foi filmada em uma única tomada, em 35 mm, a uma velocidade sete vezes mais rápida que o normal. Na pós-produção, Viola transferiu o filme em película para vídeo de alta definição e o desacelerou consideravelmente. Figura 8 – Reprodução de uma cena de Surgimento (2002), de Bill Viola, vídeo colorido de alta defi nição (12 minutos) Fonte: Bill Viola, 2002 O resultado é um filme com um visual impressionante e uma clareza emocional no qual cada quadro parece formar uma obra de arte. A cena mostra duas mulheres sentadas em silêncio ao lado de uma cisterna de mármore, em uma espécie de pátio. Uma torrente repentina de água interrompe o silêncio e um homem pálido despido surge. Viola descreve esse momento: “Ao nosso olhar contemporâneo, é um mergulho. Para mim, é um pacto”. 15 UNIDADE Arte Contemporânea no Mundo Atual – América do Norte, Europa, Ásia e América Latina Em Ascensão de Tristão (2005) (Fig. 9), Bill Viola novamente recorre ao tema vida e morte. O videoartista mostra a imagem de um homem, deitado sobre uma plataforma baixa, aparentemente morto. No início, pequenas gotas de água movem-se para cima. As gotículas gradualmente tornam-se uma queda de água ascendentemente dramática. O homem é movido pela força da água e se levanta como se estivesse subindo ao céu. Finalmente, a água desaparece e a única coisa que vemos é a plataforma vazia. Lentamente, a água para de “subir”. Confira: https://youtu.be/Gqf_cuDf9qI Ex pl or Figura 9 – Ascensão de Tristão (2005), de Bill Viola, vídeo (10 minutos) Fonte: Bill Viola, 2009 O mexicano Damián Ortega (1967-) também tem se destacado mundialmente nas artes visuais, transitando entre suportes variados em diversas linguagens como escultura, instalação, performance e vídeo com toques de humor satírico – de- corrente talvez de sua atuação como chargista político no início da carreira. Ao subverter os significados e funções de objetos cotidianos como tijolos, cadeiras, relógios ou carros, o artista altera, decompõe e transforma os objetos, revelando seus componentes implícitos e simbólicos, criando formas híbridas. Em paralelo, conduz uma investigação sobre formas escultóricas fundamentais, como o cubo mi- nimalista construído com materiais banais ou mesmo desconstruído ou deformado. Ortega examina as conotações políticas, econômicas e culturais de objetos triviais, desde tortilhas até carros. Coisa cósmica (2002) (Fig. 10), uma de suas obras-primas, consiste em um Fusca desmontado e suspenso no teto por meio de arames. O comentário do artista se refere sobre como um carro concebido na Alemanha nazista acaba sendo produzido em uma fábrica em Puebla, México. O artista mostra em seus trabalhos que a forma sempre muda diante do tempo, das percepções e dos contextos, e que a escultura não precisa ser estática. Ortega frequentemente retrabalha suas peças. Coisa cósmica foi exposta no ICA – Institute of Contemporary Art, Philadelphia (Estados Unidos) e, depois, na 50ª Bienal de Veneza, em 2003. 16 17 Figura 10 – Coisa cósmica (2002), de Damián Ortega, instalação (Fusca 1983 e fio de aço) Fonte: ICA, 2009 Figura 11 - Módulo de construção com tortilhas (1998), de Damián Ortega, escultura (0,3 m x 0,5 m) Fonte: Antiguo Colegio de San Ildefonso Europa A partir da década de 1980, a arte europeia recuperou a posição de destaque frente à arte mundial – ou mais precisamente frente à arte norte-americana. As duas últimas décadas do século XX trataram de derrubar fronteiras na unidade europeia, embora elas ainda existam, criando um cenário cada vez mais global, especialmente pela massificação da internet e pela maior facilidade de trânsito de artistas entre seus países e com outras partes do mundo. A Alemanha, com o Neoexpressionismo, capitaneou esse processo, uma vez que Paris – embora todos os esforços – não recuperou seu prestígio de protagonista nas artes desempenhado por mais de um século. Hoje, a arte sem fronteiras cria um público internacional, ainda que seja preciso fazer sucesso, primeiro (na grande maioria das vezes), no país de origem. Uma das características do mundo contemporâneo da arte é que muitos dos velhos conflitos como abstrato versus figurativo ou Arte Conceitual versus pintura e escultura não são mais importantes. Há espaço para todos e para tudo. Temas em comum podem unir artistas com técnica e estilos diferentes. Um exemplo dessa miscigenação artística é a presença de grandes instituições voltadas à arte em fronteiras até certo ponto inimagináveis como o Louvre Abu-Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos (Fig. 12), “um museu universal no mundo árabe”, como ele se autodenomina. O prédio, localizado em uma ilha, projetado pelo arquiteto francês Jean Novel (1945-), está em fase final de construção. Outra instituição que se destaca neste cenário é a Fundação Guggenheim – uma verdadeira corporação multinacional destinada a colecionar e expor arte moderna –, que, em 1997, inaugurou o Museu Guggenheim Bilbao, na Espanha (Fig. 12). O prédio foi projetado pelo arquiteto canadense Frank Gehry (1929-). Uma obra de arte. 17 UNIDADE Arte Contemporânea no Mundo Atual – América do Norte, Europa, Ásia e América Latina Figura 12 – Prédio do Louvre, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos. Projeto do arquiteto francês Jean Novel Fonte: louvreabudhabi.ae Figura 13 – Guggenhein, em Bilbao, na Espanha, projeto do arquiteto canadense Frank Gehry Fonte: Wikimedia Commons Artistas Europeus Mundiais O artista alemão Gerhard Richter (1932-) tem na aversão às ideologias uma de suas características, basicamente por ter vivido sua juventude sob o teto do nacional- socialismo e, posteriormente, sob o comunismo da Alemanha Oriental. Em 1961, ele fugiu para a Alemanha Ocidental e, em 1963, fundou um movimento que protestava contra a cultura de consumo e desenvolveu um estilo alternativo entre o realismo e a abstração, trabalhando a partir de fotografias. O interesse do artista pelo acaso é presença constante em sua obra. Pintor e gravurista, trabalha com imagens desfocadas com base em fotografias tendo como temas retratos, nostalgia, naturezas mortas e paisagens. 18 19 Para realizar suas “fotopinturas”, ele projeta uma fotografia sobre a tela, traça os contornos e usa o original para a distribuição das cores. As camadas finas de pigmento conferem um aspecto desfocado às imagens. Em Retrato de Liz Kertelge (1966) (Fig. 13), por exemplo, o resultado parece capturar a nostalgia de um momento efêmero. As pinturas de Richter tendem a enfatizar as imperfeições do processo fotográfico e a questionar seu uso como fonte de informação sobre o mundo. Figura 14 – Retrato de Liz Kertelge (1966), de Gerhard Richter, óleo sobre tela (1 m x 0,7 m) Fonte: gerhard-richter.com Figura 15 – S. com o fi lho (1995), de Gerhard Richter, óleo sobre tela (0,3 m x 0,4 m) Fonte: gerhard-richter.com Quando se decidiu pela abstração, nos anos 2000, Richter introduziu um alto nível de ilusionismo em seu trabalho. Suas telas multicoloridas, refletem a preocupação do artista com a natureza da pintura. Nos últimos anos, ele tem oscilado entre uma produção abstrata e paisagens. Suas obras sempre incitam o observador a relacionar pintura e fotografia, registro e representação. Em 2014, Richter começa a fazer impressões. O objetivo, conforme o artista, éproduzir obras de alta qualidade em reproduções de arte. Estas cópias são feitas sob a direção e aprovação do artista, numeradas e assinadas. 19 UNIDADE Arte Contemporânea no Mundo Atual – América do Norte, Europa, Ásia e América Latina Figura 16 – Bagdad (2015), de Gerhard Richter, impressão em alumínio, numerada e assinada (0,5 m x 0,4 m) Fonte: gerhard-richter.com Figura 17 – Vitral na catedral de Colônia (Alemanha) (2007), concebido por Gerhard Richter Fonte: gerhard-richter.com Em 2007, Gerhard Richter concebeu um vi- tral para a catedral de Colônia (Alemanha), em substituição ao vidro comum instalado em 1944, quando o original se quebrou em decorrência de um bombardeio. O de- sign abstrato das 11.200 peças coloridas foi gerado aleatoriamente por computador. A obra não foi bem recebida por todos, es- pecialmente, representantes da Igreja, que preferia a representação de santos. “Isto pertence a uma mesquita, a qualquer outra casa de oração que não a nossa. (...) Aqui seria melhor algo que refletisse nossa fé, não uma fé qualquer”, afirmou o cardeal Jo- achim Meinster. A artista alemã Tomma Abts (1967-) também tem se destacado no seu país de origem e internacionalmente. Em 2006, ela ganhou o Prêmio Turner – distinção criada em 1984, pela Tate Gallery, para celebrar os novos desenvolvimentos e contribuições para a arte contemporânea. Tomma foi a primeira mulher a receber a distinção. Sem nenhuma formação em pintura, estudou multimeios na Alemanha em uma época na qual as referências multidisciplinares e as apropriações eram os principais catalisadores da criação artística. 20 21 A ausência de referências externas na obra da artista resulta em formas abstratas intuitivas com curvas que parecem convergir ou emergir entre múltiplas camadas de tinta acrílica ou a óleo, sempre em pequenas telas de tamanho uniforme: 0,48 m x 0,38 m. “Um concentrado de muitas pinturas superpostas”, assim, Tomma descreve seu trabalho e completa: “A tensão de um movimento em potencial é mais forte nas pinturas que nos filmes”. Os títulos dos trabalhos – Meko, Zebe, Obbe, entre outros – derivam de um livro alemão de prenomes, que sugerem não só o potencial de uma série inesgotável como também a ideia de um processo contínuo de formação de identidade. Tomma vive e trabalha em Londres desde meados de 1990. Figura 18 – Meko (2006), de Tomma Abts, acrílica e óleo sobre tela (0,38 m x 0,48 m) Fonte: gerhard-richter.com Figura 19 – Zebe (2010), de Tomma Abts, acrílica e óleo sobre tela (0,38 m x 0,48 m) Fonte: gerhard-richter.com Uma extraordinária qualidade está presente na obra do artista inglês Grayson Perry, ele é um ceramista de mão cheia. As urnas de Perry são realizadas por um mestre, suas superfícies ricamente texturizadas são produzidas a partir de desenhos marcados na argila finalizados por técnicas de vitrificação. Perry faz vasos de cerâmica, colchas costuradas à mão e desenhos de moda ultrajantes, criando uma arte popular cosmopolita e polêmica, fundindo artesanato e cultura de consumo. O artista faz uso de vidro, relevo e transferências fotográficas para fazer referência a cenas escuras e muitas vezes autobiográficas. Ele desafia a ideia, implícita na tradição artesanal, de que a cerâmica é meramente decorativa ou utilitária e não pode expressar pensamentos. Em 2003, o trabalho de Perry foi reconhecido com o Prêmio Turner. Seus vasos, vistos de longe, mostram superfícies brilhantes e multicoloridas, de perto, revelam imagens associadas aos horrores da guerra, ao abuso infantil e ao sadomasoquismo. De maneira inteligente e, muitas vezes chocante, o artista transforma objetos triviais em obras de arte recheadas de 21 UNIDADE Arte Contemporânea no Mundo Atual – América do Norte, Europa, Ásia e América Latina comentários sarcásticos sobre o mundo escuro da sociedade. Figura 20 – Aspectos de mim mesmo (2001), de Grayson Perry, cerâmica (0,5 m x 0,4 m) Fonte: gerhard-richter.com Figura 21 – Quarto do pequeno Mad (1996), de Grayson Perry, cerâmica (0,4 m x 0, 4 m) Fonte: gerhard-richter.com A francesa Annette Messager (1943-) é uma das artistas de destaque da cena internacional e ocupa um lugar privilegiado entre os artistas de seu país. Em 2005, representou a França na Bienal de Veneza, onde conquistou o Leão de Ouro. Ela se define como artista e “colecionadora”, uma vez que cria instalações com roupas velhas, brinquedos e livros. A inclusão do ordinário e do cotidiano em seu trabalho foi inspirada, em parte, por sua participação no movimento estudantil revolucionário de 1968, na França, uma grande onda de protestos que teve início com manifestações estudantis para pedir reformas no setor educacional. O movimento cresceu e evoluiu para uma greve de trabalhadores. Annette passou, então, a se opor ao elitismo da “grande arte”. Sua obra mistura uma inocência enternecedora com o sinistro total. Por meio de fotos de revistas femininas, ela adquiriu um olhar crítico sobre a pressão que a mulher sofre para corresponder a um padrão de beleza. Alguns dos seus trabalhos têm títulos como “dependência/independência”, “articulados/desarticulados”, “cheios/vazios”, resultado, segundo a artista, de contradições: “Gosto muito de contradições. Por exemplo, na minha obra Articulados/Desarticulados (2002) (Fig. 22), quando ela se articula, também se desarticula e se desdobra ao mesmo tempo. A ideia de dois elementos contraditórios agrada-me muito e está sempre presente no desenrolar e na forma de meu trabalho: passo da alegria à tristeza, falo de rir até às lágrimas, ou de chorar de rir. Gosto muito desse aspecto de oposição”. 22 23 Figura 22 – Annette Messager e a sua obra Articulados/ Desarticulados (2002), instalação/bonecos.) Fonte: Antiguo Colegio de San Ildefonso Figura 23 – Rumeur (200-2004), de Annette Messager, instalação/bonecos Fonte: Antiguo Colegio de San Ildefonso Vejamos o que Jorge Contreras, curador da exposição Rumeur, de Annette realizada no Museu de San Ildefonso, na Cidade do México, em 2011, escreve sobre a artista: A estratégia de felicidade é contagiosa: a revelação de ligações secretas entre objetos do cotidiano e o prazer de apreciar as nossas experiências com humildade a cada dia. Às vezes, o trabalho de um artista revela um novo mundo que nos cativa, mostra janelas e portas de saída, e nos permite experimentar a liberdade. Annette Messager construiu uma linguagem extraordinária que parece cada vez mais um poema; um mistério que só pode adivinhar, mas quando você quase pode tocá-lo revela quanta falta nos faz. Suas obras criam ambientes inteiros que dizem que você pode desfrutar de todos os aspectos de nossas emoções, mesmo aqueles que parecem contraditórios ou escuros. Cada gesto é uma celebração de nossa experiência como seres humanos. Ásia A arte contemporânea da Ásia, especialmente da parte oriental – China, Japão e Coréia do Sul, entre outros –, exerce, desde o início do século XXI, grande fascínio sobre colecionadores ocidentais. Uma prova é a obra Execução (1995) (Fig. 24), de Yue Minjun (1962-), foi vendida por 5,9 milhões de dólares na casa de leilões Sotheby’s, de Londres, em 2007. Na época, a obra mais valiosa da arte contemporânea chinesa. O rosto, com um sorriso congelado em uma risada com os olhos fechados (um autorretrato) é um tema recorrente na obra do artista e sugere a supressão das emoções. A semelhança do óleo sobre tela com Três de maio de 1808 (1814), de Francisco Goya, indica a influência da iconografia ocidental sobre a arte da Ásia oriental. 23 UNIDADE Arte Contemporânea no Mundo Atual – América do Norte, Europa, Ásia e América Latina Figura 24 – Execução (1995), de Yue Minjun, óleo sobre tela (1,5 m x 3 m) Fonte: Bill Viola, 2009 Em 1985, o ousado espaço de arte de Nova York International With Monument, apresentou uma mostra da qual participou um jovem artista originário da China, que havia trocado Pequim pela grande metrópole com 30 dólaresno bolso e sem saber uma palavra em inglês. Era Ai Weiwei (1957-). Ele estava fugindo de um país que tratara seu pai, um importante poeta, de maneira terrível e temia ser o próximo da lista. Destemido e determinado, Weiwei entendeu que Nova York seria o seu lugar assim que o Estado chinês começou a desconfiar de seu interesse pela arte contemporânea. Em um de seus trabalhos mais conhecidos, ele usou vasos chineses de cerâmica do período Neolítico, com quatro mil anos, para fazer várias obras, muitas vezes decorando esses objetos antigos e reverenciados com cores modernas berrantes, ou pintando neles a logomarca da Coca-Cola. A série de fotografias Derrubando uma urna da dinastia Han (1995) (Fig. 25), por exemplo, registra Weiwei deixando um de esses vasos caírem em um piso de concreto. As imagens se tornaram uma obra de arte famosa, provando que o artista estava certo em sua crença de que cada gesto seu era parte de sua arte. Figura 25 – Derrubando uma urna da dinastia Han (1995), de Ai Weiwei, fotografia Fonte: Wikimedia Commons 24 25 A abordagem empresarial de Weiwei o levou a assumir trabalhos como arqui- teto – ele foi coautor do projeto do Estádio Nacional de Pequim, conhecido como Ninho de pássaro, construído para os Jogos Olímpicos de 2008 –, curador, es- critor, fotógrafo e pintor. O trabalho do artista é baseado em uma forte convicção política. Em Straight (2008-2012) (Fig. 26), 80 toneladas de vergalhões retirados das escolas que desabaram com o terremoto na província de Sichuan foram ali- nhadas como nas pilhas em que são vendidos nas lojas. Cada um deles precisou de mais de 200 marretadas para voltar à forma original reta. Weiwei se refere ao trabalho como um “ato de poder das pessoas” ou “a arte da lembrança”. Na obra, He xie (2010-2011) (Fig. 27), três mil caranguejos de porcelana tam- bém denunciam o sistema chinês. Eles representam a memória do artista de seu estúdio recém-construído, em 2010, a pedido das autoridades locais, em Xangai, mas que foi demolido. O edifício foi projetado e construído mediante incentivo público municipal, como parte de uma nova área cultural, entretanto, o artista teria usado o prédio como um estúdio e também para ministrar cursos de arquitetura. Weiwie também foi acusado de erguer a estrutura sem a permissão e sem o pla- neamento necessário, recebendo um aviso de demolição. Ele afirmou que todo o processo de construção e planejamento estava sob a supervisão do governo e que uma série de artistas foram convidados a construir novos estúdios nesta área por- que as autoridades queriam criar um espaço cultural. Pouco antes da inauguração, o edifício foi demolido, sob alegação de que não estava com as licenças de construção em dia. Um dia antes de ver seu trabalho ser destruído, o artista convocou pessoas pela internet para um banquete no local com caranguejos (hei xi, em chinês). Weiwei não participou do evento, foi preso antes. Após ser libertado, ele teve que aceitar a proibição do governo de falar sobre seu período na prisão. Figura 26 – Straight (2008-2012), de Ai Weiwei, instalação, barras de aço Fonte: Ai Weiwei. 1995 Figura 27 – He xie (2010-2011), de Ai Weiwei, instalação, três mil caranguejos de porcelana Fonte: Zuecca Project Space/Complesso Delle Zitelle A derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e o consequente domínio político e cultural dos Estados Unidos influenciaram fortemente o desenvolvimento da arte japonesa no pós-guerra. Vários artistas japoneses absorveram tendências dos movimentos de vanguarda ocidentais e criaram seus próprios estilos como em Salão de espelhos (Abóbora) (1991) (Fig. 28), 25 UNIDADE Arte Contemporânea no Mundo Atual – América do Norte, Europa, Ásia e América Latina de Yayoi Kusama (1929-). As obras psicodélicas da artista fazem referência ao Abstracionismo e os espelhos no salão cor de abóbora fazem com que os pontos pareçam se prolongar ao infinito, cercando o espectador quando ele entra no espaço. Sua marca é o uso repetido de pontos coloridos, não apenas em pinturas, mas em objetos, ambientes e até roupas. Figura 28 – Salão de espelhos (Abóbora) (1991), de Yayoi Kusama, instalação Fonte: Hirshhorn Museum in Washington DC A partir da década de 1980, a arte japonesa se tornou objeto de curiosidade e passou a ser vista como um produto híbrido de uma sociedade de tecnologia extremamente desenvolvida em uma combinação entre o velho e o novo. Na década de 1990, artistas emergentes japoneses começaram a questionar a natureza da identidade nipônica em decorrência de problemas econômicos que o país passava. 727 (1996) (Fig. 29), de Takashi Murakami (1962-), faz referências às subculturas e ampliou o alcance da arte contemporânea japonesa. O artista expôs na Itália, Reino Unido, França, Alemanha, Estados Unidos, entre outros países. Em 2009, o Museu Guggenhein de Bilbao (Espanha), organizou uma retrospectiva de sua obra. Figura 29 – 727 (1996), de Takashi Murakami, acrílica sobre tela (3 m x 4,5 m) Fonte: Louisiana Museum of Modern Art in Denmark 26 27 Na Coreia do Sul, os movimentos em direção à arte contemporânea começaram a surgir após a Guerra da Coreia (1950-1953). A maioria dos artistas sul-coreanos conheceu a arte ocidental inicialmente em casa e, depois, em viagens ao exterior. Essas viagens influenciaram suas práticas artísticas. Temas de identidade, movimento e comunicação foram explorados na década de 1990 por artistas cujos trabalhos começavam a ser admirados pelo mundo afora como na obra performática Cidades em movimento – 2.727 km Caminhão bottari (1997) (Fig. 30), de Kimsooja (1957-). Bottari é um pano de embrulho tradicional da Coreia, que costuma conter pertences dos viajantes. Para a performance, a artista usou colchas por serem objetos íntimos e coloridos do dia a dia, associados a sonhos, lágrimas, doença, nascimento, amor e morte. Kimsooja passou por todos os lugares onde morou na Coreia do Sul com a sua obra Caminhão bottari. A artista trabalha com várias linguagens como vídeo, instalações, performances e fotografia. Seu trabalho se concentra no nomadismo, no papel das mulheres na sociedade e na relação do indivíduo com a sociedade e consigo mesmo. Ela cita nas suas obras, o cristianismo, o zen-budismo, o xamanismo, na tentativa de destacar semelhanças e diferenças entre as várias culturas e suas crenças espirituais. Figura 30 – Cidades em movimento – 2.727 km Caminhão bottari (1997), de Kimsooja, fotografi a da performance, panos de embrulhos Fonte: Kimsooja, cortesia do artista De acordo com Kimsooja, seu corpo em Cidades em movimento..., era um dos bottari do caminhão. Seu eu interior se alterava como reação ao ambiente físico e à paisagem transitória. Essa relação entre o eu e o ambiente oscilava entre envolvimento e afastamento. Confi ra o vídeo da performance, em Paris: https://youtu.be/craHERk81mg Ex pl or 27 UNIDADE Arte Contemporânea no Mundo Atual – América do Norte, Europa, Ásia e América Latina Figura 31 – Cena do vídeo Caminhão bottari - Migrações, com Kimsooja em cima do caminhão, performance realizada em Paris, em 2007 Fonte: Kimsooja, cortesia do artista América Latina A arte contemporânea produzida na América Latina tem tido cada vez mais participação no sistema de arte global. Obras de seus artistas têm alcançado valores recordes em leilões internacionais e coleções estão aumentando acervos latino- americanos. Na primeira década do século XXI houve uma proliferação das feiras internacionais de arte, que vêm abrindo cada vez mais espaço para galerias e artistas da América Latina. Uma das causas, certamente, é que a arte local perdeu caráter exótico que costumava ser atribuído a ela – a maior parte da arte produzida no século XX em toda a América Latina expressava a história colonial da região. Atualmente, trabalhos de artistas locais estão sendo aceitos como expressão artística de valor equivalente à originada em países tradicionalmente consideradoscentrais no mapa da cultura. A arte produzida na América Latina vem recebendo atenção especial por parte de instituições norte-americanas e europeias nos últimos anos. Além de museus estrangeiros especializados como o Museu Latino- Americano de Arte – Molaa, em Long Beach, na Califórnia, que busca expandir o conhecimento e apreciação da arte latino-americana moderna e contemporânea e El Museo del Barrio, de Nova York. Museus tradicionais, como o MoMA, também estão ampliando suas divisões de arte da região. O Guggenheim, por exemplo, tem planos de estender sua presença à América Latina, Ásia e Oriente Médio (em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, terá a companhia do Louvre). Artistas jovens estão encontrando espaço no cenário europeu e norte-americano ao lado de obras de nomes já conhecidos. Galerias latino-americanas estão sendo aceitas em feiras internacionais, e, portanto, mais artistas da região estão tendo seus trabalhos exibidos no exterior. Um novo tipo de pensamento vem ganhando terreno no mundo: a valorização da diversidade, direitos iguais para todos e cooperação em várias questões. 28 29 Vários países latino-americanos ainda sofrem com o subdesenvolvimento econômico, político e social e a arte acompanhou essas questões. O artista peruano Fernando Bryce (1965-) realizou uma crítica dos problemas da América Latina em uma série de 29 desenhos em nanquim sobre a propaganda do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, na década de 1950 – folhetos promoviam o turismo na América Latina. A série Ao sul da fronteira (2002) (Fig. 32) questiona os estereótipos culturais e a credibilidade dos documentos impressos. O trabalho de Bryce se apropria de imagens a partir da cultura de massa, usando a descontextualização e ironia para questionar os estereótipos culturais. Figura 32 – Ao sul da fronteira (2002), de Fernando Bryce, nanquim sobre papel Fonte: Fernando Bryce, 2002 Já o artista argentino Jorge Macchi (1963-) trata dos paradoxos entre tempo e espaço tendo como base a herança literária de seu país, influenciando uma geração de artistas argentinos mais jovens que, com ele, aprenderam a trabalhar nas artes visuais a literatura fantástica oriunda de Jorge Luís Borges e Julio Cortázar. Macchi trabalha desde o final dos anos 1980 em diversas mídias, do desenho à instalação, da pintura ao livro de artista, buscando algo específico nestes suportes. A obra 10:51 (2009) (Fig. 33) liga uma projeção de vídeo (tempo) com a sala onde ela acontece (espaço). Ao ajustar a escala da projeção à da sala e fazer com que o relógio projetado encoste no encontro da parede com o teto, a obra faz a medição do tempo parar. Este movimento se repete indefinidamente. Os jogos de linguagem, com um certo sentido de melancolia e impossibilidade, são marcas de Macchi. 29 UNIDADE Arte Contemporânea no Mundo Atual – América do Norte, Europa, Ásia e América Latina Figura 33 – 10:51 (2009), de Jorge Macchi, projeção de vídeo Fonte: jorgemacchi.com Conhecido principalmente como pintor, o cubano Tomás Sánchez (1948-) é um artista versátil que se interessou simultaneamente também por gravura, escultura e fotografia. Entre os diferentes meios e formatos que ele trabalha a fotografia é o experimento mais recente, processo que só começa a se tornar visível em 2010. Suas fotografias buscam a estética do espiritual em paisagens. A particularidade desta linguagem em Sánchez, em relação a outras práticas, é que ele parte de uma tem- poralidade diferente, realizando um exercício de proximidade em composições que mostram o céu, o mar, as nuvens... O seu pontual trabalho de luz na fotografia, como na sua pintura, oferece a sensação de ambientes irreais ou espaços imaginários. Na pintura Ao sul do calvário (1994) (Fig. 34), Sánchez representa a degradação que o consumismo material causa às sociedades contemporâneas. Entretanto, ele evoca a ideia de redenção juntamente com o conceito do lixo, fazendo referência às cruzes da crucificação de Cristo, ao fundo. O artista é um dos grandes do hiper-realismo na pintura de paisagem latino-americana, concentrando-se na representação da beleza dos detalhes. Sánchez também é mestre na pintura de paisagem naturalística (Fig. 35). Figura 34 – Ao sul do calvário (1994), de Tomás Sánshez Fonte: tomassanchez.net Figura 35 – O feitiço (2011), de Tomás Sánchez, fotografia (0,5 m x 0,3 m) Fonte: tomassanchez.net 30 31 Para o artista multimídia brasileiro Vik Muniz (1961-) – que vive e trabalha em Nova York desde 1983 – a arte política não tem qualquer utilidade, em vez disso ele prefere fazer doações de parte do dinheiro arrecadado em exposições para organizações filantrópicas que apoiam crianças pobres no Brasil. Muniz é um misto de escultor – ele se dedicou à tridimensionalidade somente no início da carreira – pintor, fotógrafo, desenhista, ilusionista, modelador de imagens. Humor, ideia e ilusão são os três ingredientes com os quais produz sua obra inspirada em uma cultura dominada pela mídia e pela tecnologia, trazendo à tona uma consciência a respeito da memória, do reconhecimento e da percepção. Ele se descreve como um alquimista que faz mágicas visuais. E não importa qual matéria-prima o artista use. Para alcançar sua meta, a ilusão, Muniz recorre a materiais insólitos como chocolate, ketchup, algodão, açúcar, poeira, lixo... Até mesmo um prato de espaguete serviu de tema para a realização de Medusa marinara (1997) (Fig. 36), uma referência à figura mitológica grega que petrificava aqueles que ousavam desafiar seu olhar. No lugar de cabelos, Medusa tinha cobras. O artista usou espaguete e molho de tomate em um prato de forma que se parecesse com o escudo Medusa (1597), de Caravaggio (1571-1610). Medusa marinara foi realizada com as pontas dos dedos. Figura 36 – Medusa marinara (1997), de Vik Muniz, fotografi a, espaguete e molho (0,6 m de diâmetro) Fonte: MAM - Museu de Arte Moderna A questão é que essa obra “não existe”, o que existe hoje é o registro fotográfico dela. Na realidade, Muniz produz suas obras para serem fotografadas e, após, destruídas. O produto acabado é uma fotografia que reproduz semelhanças em uma forma inteiramente nova. A famosa fotografia de Jackson Pollock pintando em seu ateliê, de Hans Namuth, por exemplo, foi reconstruída com calda de chocolate (Fig. 37) e a dupla imagem da Mona Lisa de Andy Warhol, com pasta de amendoim e geleia (Fig. 38). “O resultado é que ficamos diante de um dilema: estamos diante do registro de uma obra? Ou o registro é a obra em si? A evidência aponta para o segundo caso...”, diz Agnaldo Farias (2002). 31 UNIDADE Arte Contemporânea no Mundo Atual – América do Norte, Europa, Ásia e América Latina Figura 37 – Action photo (1997), de Vik Muniz, fotografia, calda de chocolate (1 m x 0,7 m) Fonte: Galerie Xippas, Paris Figura 38 – Mona Lisa dupla (1999), de Vik Muniz, fotografia, pasta de amendoim e geleia (1 m x 0,8 m) Fonte: Galerie Xippas, Paris Vik Muniz também se dedica a outras atividades, como as pesquisas em parceria com o Laboratório de Mídia do MIT (Massachusetts Institute of Technology) a respeito de “máquinas moleculares”, objetos desenvolvidos com nanotecnologia que mudam de forma dependendo da necessidade: “São muitas pessoas diferentes juntas – cientistas, filósofos de marketing, até o cineasta Michel Gondry participa”, afirmou o artista. Influenciado pelo guru midiático Marshall McLuhan, Vik gosta de se definir como um “estudante de mídia”, tanto quanto artista. “Assim como Andy Warhol tinha a ‘Interview’ e suas centenas de projetos paralelos, eu quero ir além do universo fechado da arte contemporânea”. 32 33 Ao capturar e retrabalhar a essência de uma imagem fotográfica, ele reduz a fronteira entre o percebido e o que de fato existe. Essa superposição de tratamento induz o espectador a questionar e reavaliar a formação de memórias visuais a partir de referências originais, de uma obra de arte conhecida ou de questõesculturais emblemáticas como o lixo, por exemplo. As imagens de Vik Muniz – não importa se construídas de materiais identificados com a pureza ou com a sordidez – revelam que o mundo segue sua trajetória praticamente inalterada, se não para pior, a despeito de todos os alertas que a arte produz como na série Imagens de lixo (2008) (Fig. 39). “Esse caráter desprezível – desprezado – do lixo faz dele um material riquíssimo para a construção de imagens... Raramente se tem uma demonstração da importância da arte – da forma decisiva, positiva como pode influenciar as pessoas – como a que tive com essa série”, afirmou o artista. Figura 39 – O semeador (Zumbi) (2008), de Vik Muniz, fotografi a, sucata (2,2 m x 1,8 m) Fonte: Waste Land Art 33 UNIDADE Arte Contemporânea no Mundo Atual – América do Norte, Europa, Ásia e América Latina Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Guggenhein Bilbao https://goo.gl/8KpIqi Museu de Arte Contemporânea (MAC) https://goo.gl/8KpIqi Tate Modern https://goo.gl/8KpIqi Livros Arte Contemporânea no Século XXI – 10 Brasileiros no Circuito Internacional SARDENBERG, R. Arte contemporânea no século XXI – 10 brasileiros no circuito internacional. Rio de Janeiro: Capivara, 2011. O livro reúne, em um só volume, a carreira internacional recente dos dez artistas plásticos brasileiros de maior e melhor repercussão na primeira década do século XXI: Artur Barrio, Miguel Rio Branco, Waltercio Caldas, Cildo Meireles, Tunga, Beatriz Milhazes, Vik Muniz, Ernesto Neto, Adriana Varejão e Rivane Neuenschwander. Arte Contemporânea: Uma História Concisa ARCHER, M. Arte Contemporânea: Uma História Concisa. São Paulo: WMF Martins Fonte, 2012. Durante os últimos quarenta anos, mudanças profundas e variadas ocorreram na arte, tendo a divergência de estilo como característica mais marcante. Este panorama explora de maneira brilhante a eterna questão – a da relação da arte com a vida cotidiana – que perpassa o Minimalismo, o Pop, a Arte Conceitual, a Performance e as muitas feições assumidas pelos trabalhos de Warhol, Beuys, Bourgeois e de muitos outros artistas cuja obra é discutida e ilustrada. Vídeos Lixo Extraordinário Documentário, direção: Lucy Walker, João Jardim e Karen Harley, 94 min, cor, 2010. Sinopse: focado no trabalho do artista plástico Vik Muniz, brasileiro radicado nos Estados Unidos, a produção mostra para o maior aterro sanitário da América Latina, o Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro, e mergulha em um universo sem precedentes com personagens pobres socialmente, mas ricos de espírito, divertidos e, fundamentalmente, emocionantes. https://youtu.be/61eudaWpWb8 Minutos de Arte / Daniel Senise Entrevistas exclusivas com grandes nomes da arte brasileira. Curadores, artistas e professores de arte, das instituições culturais da cidade, respondem às perguntas do crítico de arte, Fernando Cocchiarale, curador do programa. https://youtu.be/sW4ovTYaSHY Medo da Arte Contemporânea Filme produzido pela Fundação Joaquim Nabuco que relata a visão de vários artistas sobre a arte contemporânea. https://youtu.be/qpctlrIoenQ 34 35 Visite Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC) O museu foi criado em 1963 quando a Universidade de São Paulo recebeu o acervo do antigo MAM de São Paulo. De posse desse rico acervo composto, entre outras, por obras de Amedeo Modigliani, Pablo Picasso, Joan Miró, Alexander Calder, Wassily Kandinsky, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Emiliano Di Cavalcanti, Alfredo Volpi, Lygia Clark e uma estupenda coleção de arte italiana do começo do século XX, o museu atende aos principais objetivos da Universidade: busca do conhecimento e sua disseminação pela sociedade. MAC USP Ibirapuera, Av. Pedro Álvares Cabral, nº 1301, São Paulo/SP. Visitação: terça a domingo, das 10 às 18 horas. Telefone: (11)2648.0254. Entrada gratuita. www.mac.usp.br Instituto Cultural Inhotim Um dos mais relevantes acervos de arte contemporânea do mundo e uma coleção botânica que reúne espécies raras e de todos os continentes. Os acervos são mobilizados para o desenvolvimento de atividades educativas e sociais para públicos de faixas etárias distintas. Rua B, 20, Brumadinho/ MG, fone: 31 3571-9700. Terça a sexta-feira: 9h30 às 16h30; sábado, domingo e feriado: 9h30 às 17h30. www.inhotim.org.br 35 UNIDADE Arte Contemporânea no Mundo Atual – América do Norte, Europa, Ásia e América Latina Referências ARCHER, M. Arte contemporânea – Uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2001. ARGAN, G. C. Arte moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. BELL, J. Uma nova história da arte. São Paulo: Martins Fontes, 2007. CANTON, K. Do moderno ao contemporâneo. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009. CAUQUELIN, A. Arte contemporânea – Uma introdução. São Paulo: Martins Fontes, 2005. CHIARELLI, T. Leda Catunda. São Paulo: Cosac Naif, 1998. DEMPSEY, A. Estilos, escolas e movimentos – Guia enciclopédico da arte moderna. São Paulo: Cosac Naify, 2003. FARIAS, A. Arte brasileira hoje. São Paulo: Publifolha, 2002. FARTHING, S (org.). Tudo sobre arte – Os movimentos e as obras mais importantes de todos os tempos. Rio de Janeiro: Sextante, 2011. FARTHING, S (ed.). 501 grandes artistas. Rio de Janeiro: Sextante, 2009. GOMBRICH, E. M. La historia del arte. Barcelona: Editorial Debate, 1997. GOMPERTZ, W. Isso é arte?: 150 anos de arte moderna do impressionismo até hoje. Rio de Janeiro: Zahar, 2013. GRAHAM-DIXON, A. (ed.). Arte – O guia visual definitivo da arte: da pré- história ao século XXI. São Paulo: Publifolha, 2012. JANSON, H. W. e JANSON, A. F. Iniciação à história da arte. São Paulo: Martins Fontes, 1996. KRAUSS, R. Caminhos da escultura moderna. São Paulo: Martins Fontes, 2007. LAGO, P. C. (org.) – Vik Muniz – Obra completa 1987-2009. Rio de Janeiro: Capivara, 2009. PROENÇA, G. História da arte. São Paulo: Ática, 2010. STANGOS, N. Conceitos da arte moderna. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1991. A ilusória abolição das fronteiras no mundo da arte contemporânea internacional. Alain Quemin. Disponível em: http://www1.sp.senac.br/hotsites/ blogs/revistaiara/wp-content/uploads/2015/01/06_IARA_vol1_n2_Artigo.pdf Acesso em: 8 ago 2016. 36 37 Arte Contemporânea – entre a América Latina e o mundo. Sylvia Werneck. Disponível em: http://abca.art.br/n28/11sylviaw.html Acesso em: 31 jul 2016. Damian Hirst. Disponível em: http://www.damienhirst.com/artworks/cat- alogue?p=1&radiogroup_view=view_as_thumbs&category=23 Acesso em 5 ago 2016. Entrevista com Annete Messager. Disponível em: http://www.artecapital.net/ entrevista-32-annette-messager Acesso em: 10 ago 2016. Mat Collishaw. Disponível em: http://matcollishaw.com/ Acesso em 5 ago 2016. 25 años de jóvenes artistas britânicos. Disponível em: http://www.elmundo.es/ elmundo/2013/05/08/cultura/1368006596.html Acesso em 31 jul 2016 37
Compartilhar