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COELHO, R. V. (2019). O Direito à Previdência. Acesso em 29 de 04 de 2019, disponível em http://cspm.adv.br: http://cspm.adv.br/web/arquivos/4547 Maria Sonalli Reis de Camargo 1 RESUMO O texto “O Direito à Previdência”, escrito por Rogério Viola Coelho, tem como tema principal a reforma da previdência, um dos assuntos mais discutidos da atualidade. O autor discorre sobre as características gerais do regime previdenciário que o governo deseja aprovar e também sobre normas constitucionais que são relevantes ao tema. No início do texto o autor destaca a previsão constitucional do direito à previdência. Coelho salienta que a Constituição Federal deu ênfase especial a esse direito, criando diversas formas diferentes de aposentadoria como forma de oferecer suporte a todas as formas de atividade laboral. A prestação fixa é uma forma de assegurar a qualidade de vida do trabalhador e o seu direito a vida após o fim da vida profissional ativa. Outro ponto que merece destaque no texto de Coelho é o caráter compartilhado do financiamento dos benefícios. A Constituição Federal assegurou que tanto quem presta serviços e oferece mão de obra quanto os empresários que são detentores dos meios de produção contribuam para garantir que o sistema previdenciário continue funcionando. Assim como também previu a participação de toda a sociedade e do Poder Público na complementação do fundo de previdência. No artigo 40 da Constituição, o legislador garantiu a instituição de regimes de previdência contributivos e que estejam alicerçados no Princípio da Solidariedade. Esse lado solidário do financiamento, segundo o autor, encontra significado no fato de ser a solidariedade um dos grandes objetivos da República. Coelho acrescenta também que as garantias previstas no texto constitucional foram positivadas, isto é, se tornaram concretas no topo do ordenamento jurídico justamente para assegurar que tais direitos não estivessem disponíveis para serem alterados para atender interesses de eventuais governos. É por isso que as normas citadas anteriormente só podem ser modificadas através de uma emenda constitucional, seguindo o rito de aprovação previsto na Carta Magna. Os regimes atualmente vigentes de previdência social foram positivados pelo poder constituinte como formas de certificar que os trabalhadores terão resguardado seu direito fundamental à previdência. É por esse motivo que o Regime Geral e os Regimes Próprios de Previdência são considerados garantias institucionais que só podem sofrer modificações por emenda. 1 Acadêmica do Primeiro Semestre do Curso de Direito. Coelho afirma que a emenda proposta pelo governo tem como objetivo realizar mudanças profundas no sistema previdenciário brasileiro, afetando consideravelmente o direito dos trabalhadores à aposentadoria ou até acabando com o mesmo. A grande mudança se daria pela troca do Regime Geral de previdência social por um regime diferente, que se baseia em um modelo de capitalização individual. De acordo com o autor, em um primeiro momento seria colocada no texto constitucional uma permissão aos poderes constituídos para criar regimes de previdência baseados em sistema de capitalização individual. Os trabalhadores sujeitos a estes novos regimes sofreriam descontos em seus vencimentos e esses descontos seriam enviados para contas de empresas encarregadas da gestão de fundos de previdência. Desse modo, os trabalhadores se tornariam algo como investidores obrigatórios. O autor do texto salienta que a maior mudança na questão dos regimes previdenciários está na redução da base de financiamento. Coelho ainda afirma que, ao que parece, o desejo do governo é implantar o sistema de capitalização individual da forma mais básica, tendo o trabalhador como o único responsável pelo custeio de sua aposentadoria. Tal medida tornaria o trabalhador o único garantidor de quaisquer meios de subsistência durante a velhice. Citando Kelsen, o autor sustenta que haveria um esvaziamento do direito a aposentadoria em si. Hans Kelsen afirma que para que exista o direito de uma parte, é necessário que exista o dever de outra. Aplicando este conceito ao caso prático, se o trabalhador tem direito a se aposentar mas esse direito só se concretiza com o recolhimento dos fundos mantidos por ele mesmo, sem participação do estado, o que este trabalhador tem na prática é uma obrigação e não um direito. Por fim, o autor cita um estudo feito por Pedro de Vega, com relação ao quão longe pode ir o poder de emenda. Nesse estudo, em linha gerais, de Vega afirma que quando um princípio aparece claramente nos textos da constituição ou nos preâmbulos, este referido princípio está além dos limites do poder de emenda. Partindo desse ponto o autor reafirma a solidariedade como princípio claramente positivado no texto constitucional e conclui seu texto destacando que a Constituição Federal, no parágrafo 4º do artigo 60, veda qualquer tentativa de abolição de direitos e garantias fundamentais. CRÍTICA Ao realizar a leitura do texto de Rogério Viola Coelho é possível perceber alguns fatos importantes: Existe uma clara tendência de se acabar com as aposentadorias financiadas com contribuições do Estado e de empresas e empregadores. Cada vez mais o que se busca é uma não responsabilização estatal ou de quaisquer outros entes concentradores de capital pela continuidade da vida do trabalhador após seu desligamento das atividades profissionais. Quando o constituinte positivou os regimes previdenciários como garantias institucionais, era possível que se imaginasse uma realidade onde governos e grandes empresas usariam de toda espécie de maquinações jurídicas para reduzir os gastos com mão de obra e maximizar as margens de lucro. Até aqui, nada diferente da premissa clássica capitalista. O Brasil é um país marcado por desigualdades sociais gritantes. Governantes falam em desoneração de quem produz e meritocracia como se a realidade brasileira oferecesse igualdade de oportunidades a todos. Não há aqui uma disputa justa. O contexto contemporâneo brasileiro, no que diz respeito a acesso aos meios de produção e crescimento profissional e melhor qualidade de vida, é um drama para a grande maioria da população enquanto uns poucos afortunados se dedicam a espalhar utopias descabidas. O regime de aposentadoria baseado no modelo de capitalização individual poderia ser possível em um país que oferecesse condições ao trabalhador para planejar seu próprio fundo de aposentadoria. Na verdade, em um país com nível de vida elevado, isso provavelmente nem precisaria ser determinado por qualquer autoridade estatal. A própria sociedade adotaria essa postura por considera-la mais vantajosa. Essa não é a situação atual brasileira e, ao que tudo indica, não será por muito tempo. Em nenhum momento está havendo busca por uma recuperação do sistema previdenciário. Não há, de fato, a menor preocupação em se reestruturar o fundo de previdência e torna-lo capaz de suster a demanda crescente de recursos. Isso sem mencionar os desvios de finalidade das verbas previdenciárias. Algo que vem acontecendo há muito tempo na história da administração pública brasileira. O novo plano previdenciário soa mais como uma medida evasiva. Mais uma dentre tantas que fazem parte do histórico da administração pública no Brasil. O trabalhador, que é o elo mais frágil dessa corrente, poderá ser obrigado a se sujeitar a um sistema que exige muito e oferece muito pouco em compensação. A aprovação da emenda citada no texto de Coelho será um ataque implacável aos direitos sociais dostrabalhadores brasileiros. O direito a aposentadoria é garantido pela lei maior do país. Quando o poder público tenta abolir garantias tão importantes para os cidadãos, é hora de refletir sobre o papel da sociedade na escolha de governantes e sobre como essa mesma sociedade deve se posicionar ao se ver na iminência de ter um direito básico violado.
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