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Ética, Cidadania
e Sustentabilidade
Ética, Cidadania e Sustentabilidade
Aula 02
Ética e direitos humanos 
Objetivos Específicos
• Compreender os direitos humanos.
Temas
Introdução
1 Os conceitos de ética e direitos humanos
2 A fundamentação ética
3 A questão histórica
4 A diferenciação social
Considerações finais
Referências 
José Antônio Fracalossi Meister 
Professor Autor
Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados
Ética, Cidadania e Sustentabilidade
2
Introdução
Nesta aula, buscaremos um entendimento da ética e seus elementos constituintes, 
analisando a sua relação com os direitos humanos e o que eles podem oferecer de fonte 
inspiradora para a ética. 
A Declaração Universal dos Direitos Humanos é um tratado sobre os direitos fundamentais, 
que orienta pessoas e nações e, nesse sentido, inspira a ética, oferecendo um caminho melhor 
a seguir.
Quando nos questionamos sobre alguma atitude ou reconhecemos que não foi uma 
ação correta, de uma forma ou de outra, sentimo-nos insatisfeitos com nós mesmo. 
Ao contrário, cada vez que fomos capazes de deitar a cabeça o travesseiro e dizer, 
cada um a si mesmo, com absoluta convicção de estar sendo sincero, agi bem, fiz o 
certo, experimentamos alegria (Introdução – para começo de conversa: o que é ética? 
(LACERDA; PESSOA, 2018, p. 10).
Podemos compreender os direitos humanos de dois modos. Como um conjunto de 
princípios elaborados e estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), que visa à 
garantia de direitos considerados fundamentais e essenciais para um bom convívio social, e, 
segundo Mondaini (2009, p. 12), como um:
[…] conjunto articulado e interdependente dos direitos civis, políticos, sociais 
econômicos e culturais, fundados, para além da ideia de universalidade, no princípio 
da indivisibilidade e no horizonte da internacionalização, condição indispensável para 
a luta pela construção de uma cidadania global.
Um modo representa o conjunto fixado pela Declaração Universal dos Direitos Humanos 
e que nos é acessível. Já o segundo, pelo fato de ter um caráter mais jurídico, está expresso 
em muitas leis e, em especial, no caso brasileiro, na Constituição da República Federativa 
do Brasil. As duas concepções não se contradizem, mas têm um caráter diferencial. A 
declaração da ONU é uma recomendação aos países membros para que preservem os direitos 
fundamentais, já a Constituição, pelo seu caráter jurídico é impositiva. 
A título de exemplificação, o artigo 5º da Constituição Federal afirma:
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos 
brasileiros, e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à 
liberdade, à igualdade, à segurança e a propriedade, nos termos seguintes: [...]
XXII – é garantido o direito de propriedade;
XXIII – a propriedade atenderá sua função social; […] (BRASIL, 1988).
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seu artigo XVII, recomenda:
1. Todo ser humano tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros.
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2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade (ONU, 1948, p. 10).
Comparando as duas redações, podemos observar que tratam do mesmo assunto 
– propriedade privada –, de forma diferente, mas não divergente. Para a Declaração, a 
propriedade é um direito; já para a Constituição, ela é uma garantia. E assim se poderia fazer 
em relação a outros aspectos. O Brasil, como um país signatário da ONU, acolhe o que diz a 
Declaração e a transforma em lei, a fim de cumprir essa recomendação importante para o 
desenvolvimento do ser humano.
1 Os conceitos de ética e direitos humanos
A ética surge na história como uma forma de auxílio na resolução dos problemas diários. 
Isso nos mostra que a humanidade, desde os primeiros agrupamentos, precisou de elementos 
para agir com correção e justiça. 
Não devemos esquecer que o ser humano precisa dos outros para se desenvolver, ou 
seja, a convivência é fundamental. Por outro lado, apesar de fundamental, a convivência pode 
ser também problemática, pois nas relações estabelecidas surgem os conflitos. A sociedade 
ideal é, e sempre foi, o sonho da humanidade. Como exemplo, podemos pensar na história do 
paraíso descrita na bíblia. Lá, temos a realidade perfeita, em que tudo ocorre em harmonia 
e paz, até o momento em que a harmonia é desafiada pelo ser humano. Este, ao usar sua 
liberdade, destrói a harmonia. 
O desafio presente é encontrar formas para fazer com que os seres humanos 
venham a agir bem e possam conviver harmoniosamente, já que a convivência é uma 
necessidade humana.
A ética é protetiva e auxilia no convívio social. Ela não surgiu como um ato impositivo, 
mas como uma necessidade humana. Muitas vezes, encaramos a ética como imposição de 
um grupo sobre outro, porém, é preciso ir além desta concepção e pensá-la como uma 
necessidade humana para viver bem e se desenvolver plenamente.
Tanto os direitos humanos como a ética são constituídos historicamente a partir das 
situações vivenciadas pela humanidade. Delas, surgem as questões a serem pensadas 
e respondidas. Direitos humanos e ética buscam oferecer respostas às diversas situações 
vividas pelas pessoas em sua individualidade e pela humanidade, como um todo, por isso 
é importante que as relações humanas sejam aceitas e executadas por todos, sem exceção. 
O pensamento ético e os direitos humanos surgem para proteger o que nos é mais 
significativo, como a vida, os bens que se dispõem e os direitos fundamentais para que se 
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possa viver dignamente.
As normas éticas podem ou não constar de leis ou códigos. Mas o juízo ético é, 
essencialmente, um juízo moral. Uma ação pode ser legal e não ser ética. E, em certos 
casos, pode ser ilegal e considerada moralmente ética. Em resumo, a palavra ética 
se aplica à conduta humana. A ética aprova u desaprova os atos de um ser humano, 
qualificando-os como certos ou errados, do ponto de vista moral (LACERDA; PESSOA, 
2018, p. 10-11).
Os direitos humanos são ditos como fundamentais, pois não se pode abrir mão deles. 
O mesmo se dá com a ética. Algumas pessoas podem não agir eticamente, mas não se pode 
afirmar que a ética é desnecessária. Temos que manter presente que ética e direitos humanos 
existem para justificar o nosso convívio social.
Direitos devem ser realizados e, por isso, cabe a cada um fazer com que seus direitos se 
cumpram. Saúde, educação e previdência, entre outros, são direitos fundamentais para que 
as pessoas possam viver bem. 
As pessoas, ao se organizarem em sociedade, entendem que juntas tendem a realizar 
o que está na vontade de cada um e, ao mesmo tempo, faz parte da vontade de todos. Em 
resumo, todos desejam viver bem, conforme aquilo que reconhecem ser fundamental para si 
e também para os outros.
2 A fundamentação ética
A pergunta sobre como justificar eticamente as ações expressas na Declaração Universal 
dos Direitos Humanos leva os teóricos a muitas discussões. Surgem questões, como: onde 
justificar a afirmação que somos todos iguais em dignidade e direitos? É preciso considerar que 
nascemos diferentes, somos diferentes e precisamos dessas diferenças para que possamos 
nos desenvolver como humanidade.
A discussão aprofunda-se quando nos referimos aos direitos humanos, que envolve duas 
situações: o direito à vida, ou seja, ao existir, e os direitos aos quais não se pode abrir mão 
(como liberdade, igualdade etc.). 
Uma pessoa tem uma dívida para com outra e não tem como pagá-la. Então, resolve 
trabalhar para o credor de graça até que a dívida seja paga. Você concordaria com isso? Se 
disser que sim, como essa pessoa se sustentaria? Qual é a diferença entre este trabalho e a 
escravidão? Como se estabeleceria o tempo que o devedor precisaria trabalhar para pagar essa 
conta? Quem determinaria esse tempo? Como nós podemosnegociar uma dívida? Geralmente, 
aquele que detém o poder impõe sua vontade sobre o mais frágil; dessa forma, é mais difícil 
estabelecer uma relação de igualdade
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A justificação para os direitos humanos é necessária, pois vivemos em uma sociedade em 
que tudo deve ser justificado e fundamentado. Dentro dessa lógica, o que não for assimilado 
não se torna defensável. A tarefa de justificação é difícil, mas, ao mesmo tempo, necessária. 
O que mais se aproxima de uma justificativa para este caso é o fato de dizer que os direitos 
humanos são elementares, ou seja, são essenciais para todas as pessoas viverem bem.
Não basta para o ser humano apenas viver. É preciso que ele viva bem! Tal característica 
é uma qualidade humana, ao contrário de outros animais para os quais sua condição natural 
é estar bem. O ser humano, pelo fato de se formar, se tornar humano, precisa de diversos 
fatores que garantam seu modo de melhor viver.
Conforme Mondaini (2009), historicamente, o que se viu foi que os direitos foram 
aos pouco sendo reconhecidos: as liberdades individuais (direitos civis), a igualdade 
política (os direitos políticos) e a igualdade social (os direitos sociais). No Brasil, 
primeiro foram reconhecidos os direitos sociais, já os direitos civis e políticos não 
 eram garantidos.
A busca pela efetivação dos direitos humanos é eterna, assim como foi necessário 
estabelecer seus princípios. Deve-se sempre zelar para que jamais sejam desrespeitados e 
que os direitos não sejam reconhecidos como tal apenas para alguns. Por isso, vale afirmar os 
direitos humanos e sua defesa é uma necessidade. Mas as pessoas precisam estar convictas 
de que lutar por seus direitos é fundamental e, se alguns se apropriarem de direitos que são 
de todos e excluírem grupos ou alguns dessa obrigação, será ruim para todos.
2.1 Construção social 
É importante percebermos que os direitos, assim como a ética, são resultantes de uma 
construção social. As pessoas devem se esforçar para garantir uma ética capaz de concretizar 
os direitos.
Admitir que nos direitos humanos há uma inspiração ética é admitir que em seus 
fundamentos existe uma concepção de pessoa, de bem e de mal e que os direitos valem para 
todos, independentemente da orientação religiosa, política ou filosófica individual. 
Na Declaração Universal dos Direitos Humanos se afirma que todos os cidadãos devem 
ter direitos garantidos, dentre os quais destacam-se os direitos à: liberdade, propriedade, 
segurança e resistência à opressão. Cada pessoa tem como limite os mesmos direitos que 
os outros, um direito não deve se sobrepor ao outro. É preciso pensar “o que não desejo 
para mim, não desejo para os outros também”, ou seja, é assegurado aos demais membros 
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da sociedade o desfrutar de direitos que proclamo para mim. Portanto, a Declaração vê a lei 
como uma expressão da vontade geral. Com isso, busca-se promover a igualdade de direitos 
e a proibição do que é prejudicial para a sociedade.
2.2 Justificativas para a Declaração
Observando o preâmbulo da Declaração, compreendemos o motivo pelo qual esse 
tratado composto por 30 artigos deve ser seguido por todos: 
[...] O reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana 
e dos seus direitos iguais e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da justiça 
e da paz no mundo (ONU, 2009, p. 2).
Todas as constituições do mundo democrático são muito maiores do que esses 30 artigos, 
mas são imprescindíveis para a coexistência, especialmente em um mundo globalizado, 
quando os problemas já não são mais pensados localmente. 
No site da ONU, encontramos justificativas que fundamentam um agir conforme a 
Declaração Universal dos Direitos Humanos e estes nos demostram ou se justificam por 
serem éticos. 
• Os direitos humanos são fundados sobre o respeito pela dignidade e o valor de 
cada pessoa;
• Os direitos humanos são universais, o que quer dizer que são aplicados de forma 
igual e sem discriminação a todas as pessoas;
• Os direitos humanos são inalienáveis, e ninguém pode ser privado de seus direitos 
humanos; eles podem ser limitados em situações específicas. Por exemplo, o 
direito à liberdade pode ser restringido se uma pessoa é considerada culpada de 
um crime diante de um tribunal e com o devido processo legal;
• Os direitos humanos são indivisíveis, inter-relacionados e interdependentes, já 
que é insuficiente respeitar alguns direitos humanos e outros não. Na prática, a 
violação de um direito vai afetar o respeito por muitos outros;
• Todos os direitos humanos devem, portanto, ser vistos como de igual 
importância, sendo igualmente essencial respeitar a dignidade e o valor de cada 
pessoa (ONU, 2015).
Para mais informações sobre as características da Declaração Universal dos Direitos 
Humanos, acesse a Midiateca.
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Embora dessa forma tenhamos a justificativa, muitos conceitos precisam ser trabalhados 
para que se entenda bem o que significam. Um erro comum é acreditar que um termo tem o 
mesmo significado/valor para todas as pessoas, por exemplo: 
O que se entende por dignidade humana? 
Entende-se uma dignidade que inere ao homem, que lhe é concedida 
independentemente de outro qualificativo, seja biológico, social ou moral. [...] Ela se 
difere das diversas formas de dignidade contingente. Fala-se [...] de dignidade social 
em relação aos portadores de cargos políticos ou clericais, de dignidade expressiva, 
quando a aura de um homem sábio infunde reverência (KAUFMANN, 2013, p. 55, 
grifo nosso).
Mesmo assim, deve-se questionar: será que o que eu entendo é o mesmo que meu amigo, 
vizinho ou colega entende? Por isso, mesmo tendo uma fundamentação, uma justificativa 
para a Declaração e para os direitos humanos, deve-se ter claro que a compreensão humana 
é múltipla e envolve a história, as experiências e os entendimentos individuais e que, por 
isso, é preciso esclarecer e buscar sempre maiores consensos para que todos possam viver e 
entender a mesma coisa.
A dignidade humana [...] consiste num conceito normativo, que deve proteger todo 
homem de ser tratado por outro homem como meio, isto é, como um simples objetivo 
para consecução de seus fins. Isso implica que todos sejam tratados como possuidores 
de certo grau de dignidade contingente, que é uma tentativa de proteger os homens 
de humilhações (KAUFMANN, 2013, p. 55).
O quão importante é sabermos o que se entende por dignidade? Embora não se possa 
dizer tudo o que o conceito abrange, é fundamental entendermos que é a dignidade é 
inerente ao ser humano, isto é, não pode lhe ser tirada por nada e nem por ninguém. Além 
disso, não deve ser confundida com outras formas de dignidade, como a social e a expressiva, 
conforme citação anterior. Além disso, deve-se entendê-la como um conceito normativo, ou 
seja, uma forma de determinar a conduta humana, assim como a ética e a lógica que levam as 
pessoas a agirem porque entendem ser o melhor meio para se atingir o bom convívio social.
3 A questão histórica
A história da humanidade nos mostra que tivemos que passar por um longo período 
para percebermos que o direito realmente é parte integrante do nosso ser, assim como o é 
nossa pele, nossos olhos e cada parte de nosso corpo. A ética e os direitos humanos também 
são nossos constituintes. Só podemos dizer que somos verdadeiramente humanos se somos 
reconhecidos e nos reconhecemos como tal.
Poderíamos buscar a justificativa para os direitos humanos na história, desde os primeiros 
códigos constituídos, mas vamos partir de nossa realidade mais recente, fundamentalmente, 
o período em que a questão dos direitos do homem foi mais pensada e buscada. Não que 
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em outras épocas isso também não tenha sido estudado e aparecesse em códigos jurídicos 
ou mesmo nas tradições religiosas, mas é a partir do período moderno (final do século XVIII) 
que encontramos os passos decisivos para que os direitos humanos, tal qual conhecemos 
hoje, tomassem forma. 
As primeiras afirmações sobre os direitos humanos surgem na Declaração da 
Independência dos Estados Unidos, de 4 de julho de 1776. Nela, podemos encontrar vários 
motivos para que a independência americana se efetive, pois estava pautada no interesse de 
vários grupos, desde escravocratas, religiosos, até mesmo libertários.
A Declaração da Independência afirma solenemente, ao denunciar os motivos da 
separação promovida pelo segundo congresso Continental da Filadélfia, que o rei da 
Grã-Bretanha estaria violando os direitos mais básicos da liberdade. [...] Os documentos 
fundadores na nova nação são amplos e generosos. A Declaração de Independência 
afirma que todos os homens foram criados iguais e dotados pelo Criador de direitos 
inalienáveis, como vida, liberdade, busca da felicidade (KARNAL, 2015, p. 139).
Filosoficamente, a Declaração acentuou dois temas: os direitos individuais e o direito 
de revolução. Duas condições fundamentais para justificar os atos que deveriam tomar, pois, 
se não afirmassem os direitos individuais, como poderiam dizer que fariam o desligamento 
do Reino Unido, deixando de ser uma colônia? E se também não declarassem o direito de 
revolução, também não poderiam desmembrar-se. Assim, a primeira declaração do mundo 
moderno afirma algo fundamental para a ética: as garantias individuais e a possibilidade de 
revoltar-se contra o que não se concorda. No caso dos Estados Unidos, já não se concordava 
em ser colônia.
Um segundo momento histórico importante é a Revolução Francesa. Ela nasce sobre 
o lema: “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”. O marco fundamental dessa revolução é a 
Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, em que estão expressos 
os anseios e a busca do seu grande ideal de liberdade e igualdade. 
As declarações americanas e francesas foram a fonte de inspiração para a libertação de 
muitas nações e inspiraram as pessoas a encontrar sua razão de ser e pensar como cidadãos de 
um mundo onde as amarras e as prisões devem ser pensadas não como uma forma de interesse 
de alguns, mas que, em primeiro lugar, as pessoas tenham a possibilidade de se expressarem, 
de se enxergaram como iguais e de construírem um mundo mais fraterno e melhor para 
se viver.
A partir da Revolução Francesa se intensificam grandes movimentos de mudanças no 
mundo, pois seus três princípios (liberdade, igualdade e fraternidade) são fundamentais 
para que o ser humano desenvolva-se plenamente. Lembremos que, durante o período ou 
século XVII, especialmente na Europa, existiam dinastias que impunham formas de trabalho 
e de controle rígidos, próximos da escravidão. O Estado intervinha nas relações comerciais 
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– de servidão e cobrança de altos impostos –, e um pequeno grupo, a elite, podia desfrutar. 
Mesmo assim, não foram os mais pobres que promoveram a revolução, mas sim um grupo 
burguês, isto é, um determinado grupo que também pensava em acumular para manter sua 
posição social.
O século XVII foi um período profícuo, no sentido de se estabelecer situações favoráveis 
para o pensamento sobre a condição humana. O contexto da reflexão sobre as liberdades 
buscadas leva à construção da libertação das terras americanas e à própria revolução francesa, 
e também ao período em que surge a primeira Revolução Industrial. Tem-se, portanto, um 
mundo “em ebulição”, que levara os governos, as pessoas e os pensadores desse período a 
sérios questionamentos sobre o ser humano e seus direitos. 
Assim, a partir dos momentos históricos que deram origem a essa reflexão, a humanidade 
não mais deixara de lado os questionamentos sobre sua importância. Esses momentos 
fundantes levaram a filosofia política, a ética e tudo o que se refere à condição humana 
e, nesse sentido, também a religião a se questionar sobre o humano e a humanidade. A 
culminância de tudo isso se dará mais de um século depois com a Declaração Universal dos 
Direitos Humanos de 1948.
Nesse período, as regalias, as benesses sociais eram direcionadas apenas para um grupo. 
Apenas os mais próximos do poder ou que tinham dinheiro podiam desfrutar do que se 
oferecia na época. Embora muitos possam dizer que hoje também é assim, podemos, por 
outro lado, afirmar que esses direitos são garantidos a todos. Para nós brasileiros, um marco 
importante na garantia desses direitos é a Constituição Brasileira de 1988, que ainda não fez 
frutificar tudo o que ali está expresso. Caberia à sociedade fazer valer esse direito, cobrando 
das autoridades o que lhes é devido, assim como também fazendo a sua parte de forma a 
minorar as diferenças.
4 A diferenciação social
A sociedade é uma forma essencial para que todos nós possamos existir e sobreviver. Hoje 
já não é possível desejar retroceder a um estágio natural. Temos necessidades emocionais, 
afetivas, psicológicas etc. Nada pode substituir a necessidade da convivência, assim como as 
demais, as quais podem ser consideradas da natureza humana. 
Para que as relações aconteçam, é necessário que a sociedade se organize, conheça 
os direitos de cada um e de todos, e inclua todos em uma perspectiva humanitária, ética e 
de direito. 
Seria possível pensar em uma sociedade “perfeita”? Esta seria formada apenas pelos 
mais capazes e melhores? Esse tipo de pensamento seria excludente e anti-humano; não 
cabe em nossa reflexão acerca da sociedade de direitos a qual tratamos até o momento. 
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Posições como essas já foram defendidas em Esparta, cidade guerreira em que, 
quem não fosse capaz de entrar em guerra deveria ser morto ao nascer. Porém, não 
precisamos ir muito longe. Vejamos o exemplo nazista. Por que judeus, doentes e 
outros grupos foram assassinados inicialmente na Alemanha e, posteriormente, foram 
perseguidos por toda a Europa? Porque se defendia uma ideia de supremacia de um 
grupo de uma determinada parte da sociedade sobre outros. Hoje, felizmente, a defesa 
de direitos e a possibilidade de inclusão das pessoas permitem o entendimento de que 
ações desse tipo são inadequadas.
Pode-se dizer que, ao nascermos, todos somos iguais, o que nos diferencia é o lugar 
onde nos inserimos após o nascimento. Por outro lado, as discriminações criadas socialmente 
fazem com que sejam vividos e expressados preconceitos de raça, cor, sexo etc. Procurar 
então uma forma de igualdade é buscar a garantia do direito de oportunidades sociais e para 
que ninguém seja tratado como superior ou inferior. São direitos fundamentais de qualquer 
pessoa: ter uma família, educação, alimentação, serviços de saúde, trabalho digno, acesso 
a bens e serviços, participar da vida pública e ter o respeito dos semelhantes, entre outros. 
É nesse sentido que se inserem os direitos humanos como uma forma complementar e 
fundamental, ou seja:
[...] os direitos humanos devem ser observados como conjunto articulado e 
interdependente dos direitos civis, políticos, sociais, econômicos e culturais, fundados, 
para além da ideia de universalidade, no princípio da indivisibilidade e no horizonte 
da internacionalização, condição indispensável para a luta pela construção de uma 
cidadania global (MONDAINI, 2009, p. 12).
A participação na sociedade não é como muitos pensam, ou seja, apenas de se ter o 
direito de ir e vir, de votar e ser votado, é muito mais do que isso. Participar é entender que 
se possui direitos e lutar para que eles se efetivem socialmente. 
Um exemplo de boa forma de participação social é o orçamento participativo. Essa 
prática se tornou conhecida quando a cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, passoua adotá-la e, hoje, já é uma realidade de muitas cidades e estados brasileiros. O orçamento 
participativo é uma forma efetiva de a população ter voz para que seus direitos sejam ouvidos, 
discutidos e principalmente respeitados.
Considerações finais
Nesta aula, compreendemos a formação histórica dos direitos humanos e da ética. 
Aprendemos que tal surgimento se deu a partir das relações que a humanidade estabeleceu no 
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decorrer da história, e que os direitos humanos foram sendo elaborados durante séculos, em 
especial, no período moderno a partir da Independência dos Estados Unidos e da Declaração 
Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789.
Passamos a entender que não basta termos direitos, é preciso mais do que isso, é 
necessário buscar a sua concretização, por meio da participação social sempre que possível. 
O ser humano tem muitos direitos, e o fato de muitos serem descumpridos levou à 
necessidade de se construir uma declaração. Muitas vezes, vivemos e não nos damos conta 
que temos direitos – à liberdade, propriedade, segurança, à vida etc. –, mas, quando eles 
são suprimidos, logo percebemos a sua importância e, por isso, devem ser garantidos. 
Busquemos viver bem em sociedade e talvez assim não seja preciso exigir tanto os direitos, 
muito embora, como afirmam Pinsky e Pinsky (2015, p. 9): 
A ideia de que o poder público deve garantir um mínimo de renda a todos os cidadãos 
e o acesso a bens coletivos como saúde, educação e previdência deixa ainda muita 
gente arrepiada, pois se confunde facilmente o simples assistencialismo com dever 
do Estado.
A ética e a Declaração dos Direitos Humanos nos propõem desafios. E cada pessoa, ao 
entender esses desafios, tem diante de si a possibilidade de assumir-se cada vez mais como 
cidadão e membro de uma grande sociedade. Entender-se como um ser que não pertence 
somente a um país, mas a uma grande nação que nos possibilita viver esse momento histórico, 
nos torna comprometidos com o “destino” de cada um e ao mesmo tempo de todos.
Referências 
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União, 
Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 23 nov. 2016.
KAUFMANN, Matthias. Em defesa dos direitos humanos: considerações históricas e de 
princípios. São Leopoldo: UNISINOS, 2013.
KARNAL, Leandro. Estados Unidos, liberdade e cidadania. In: PINSKY, Jaime, PINSKY, Carla 
Bassanezi (Orgs.). História da Cidadania. 6. ed. São Paulo: Contexto, 2015, p.134-157.
LACERDA, Gabriela; PESSOA, M. Agir bem é bom: ética ontem, hoje e amanhã. São Paulo: 
Editora Senac: São Paulo, 2018.
MONDAINI, Marco. Direitos humanos no Brasil. São Paulo: Contexto, 2009.
ONU. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em: <http://www.dudh.org.br/
wp-content/uploads/2014/12/dudh.pdf>. Acesso em: 23 nov. 2016.
PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (Orgs.). História da cidadania. São Paulo: Contexto, 2015.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm
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Aula 03
Princípios dos direitos humanos
Objetivos Específicos
• Contextualizar as lutas pelos direitos humanos.
Temas
Introdução
1 Características dos direitos humanos
2 Dimensões dos direitos humanos
3 As lutas por reconhecimento como reivindicação de direitos
4 Direitos humanos no Brasil
Referências 
José Antônio Fracalossi Meister 
Professor Autor
Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados
Ética, Cidadania e Sustentabilidade
2
Introdução
Para estudarmos os direitos humanos, é fundamental conhecermos o texto completo 
deste documento, publicado pela ONU e disponível para leitura livre e gratuita na internet. 
Além de o texto não ser longo, ele é bastante acessível, com linguagem direta e de fácil 
compreensão. 
O rol dos direitos humanos aumentou muito desde a sua Declaração de 1948 e uma de 
suas características é a “abertura” para novos direitos, pois nunca param de surgir formas de 
aviltamento da dignidade humana. 
A escolha de estudar a Declaração Universal de 1948 não se dá pelo fato de nela estarem 
todos os direitos humanos estabelecidos até o momento, mas sim por este ser um documento 
que adquiriu consenso e legitimidade entre as nações do mundo no decorrer da segunda 
metade do século XX. 
A Declaração se inicia com uma série de justificativas para a sua criação. Esses aspectos 
iniciais são chamados considerandos, isto é, os motivos que levaram as autoridades no 
assunto a fazer a descrição dos 30 itens constantes no documento. 
Lembremos também que a Declaração foi proclamada em dezembro de 1948, três anos 
após o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a qual trouxe problemas e repercussões 
imensas nas relações entre pessoas e países. 
Com a Declaração, muitos movimentos sociais surgiram, acompanhando os outros já 
existentes antes desses documentos, ganhando força e o elemento fundamental para que 
diferentes grupos sociais tivessem a possibilidade de organizar-se de forma oficial, visto que 
outros tantos deixaram de ter reconhecimento.
1 Características dos direitos humanos
A busca pelos direitos humanos impulsionará o que chamamos de cidadania, o resultado 
do que as pessoas passam a fazer a partir da constatação que são agentes sociais, isto 
é, formadores da sociedade e que devem agir buscando seu espaço e sua valorização. O 
resultado disso é o surgimento ou o desenvolvimento de muitos grupos sociais que passaram 
a agir em vista da defesa das pessoas e de suas realidades fundamentais.
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O surgimento de grupos sociais, tanto no Brasil como em muitos outros lugares 
do mundo, ajuda-nos a perceber que as relações humanas são imprescindíveis para 
a forma como cada país se organiza. O surgimento da sociedade civil organizada vem 
concretizar o que realmente a Declaração Universal dos Direitos Humanos traz como 
fundamental para todos. Existem muitas dificuldades para se colocar em prática o que 
está expresso na Declaração e que é vontade de todos (ou ao menos deveria ser), pois 
a sociedade é um jogo de interesses e cada um defende seu modo de viver e ponto 
de vista.
Quando lutamos por direitos humanos, precisamos entender como se chegar a eles. 
Devemos ter claro que, ou eles existem para todos, ou algo está errado na sociedade. Para 
isso não há exceção. Não se pode admitir que em determinadas situações os direitos sejam 
admitidos e em outras possam ser deixados de lado. Isto está visto e posto no preâmbulo 
da própria Declaração Universal dos Direitos Humanos: “O reconhecimento da dignidade 
inerente a todos os membros da família humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis 
constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo” (ONU, 1948, p. 2).
Diante disso, devemos compreender alguns conceitos fundamentais apresentados na 
Declaração.
Os direitos são inerentes, isto é, não podem ser separados de nossa condição humana, 
assim como nossa pele, nossa vida, nosso ser. Eles existem como uma forma de fazer o ser 
humano como tal: 
• Somos da família humana, que é composta por pessoas que se reconhecem como 
membros de um grupo com seus objetivos e interesses comuns ligados por laços 
afetivos e de cuidado mútuo. 
• Vivemos juntos, temos nossas divergências, mas estamos unidos por laços de 
reconhecimento e todos os membros dessa família têm importância. Isso se afirma 
quando essa declaração diz que os direitos são regidos pela igualdade, ou seja, não 
deve haver diferença em relação a raça, cor, credo, nacionalidade. 
• Os direitos humanos são inalienáveis, isto é, não podem ser retirados por ninguém. 
Eles fazem parte de nós e não há exceção à regra. Por isso, a luta contraas ditaduras 
é tão importante. Não se pode admitir a ditadura em quaisquer níveis (familiares, 
sociais, políticos, econômicos etc.). 
Disso, desprende-se o fato de que buscar igualdade não é algo tácito e garantido sem 
ressalvas. A garantia se dará na medida em que as pessoas não aceitarem mais condições de 
submissão e falta de direitos. 
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2 Dimensões dos direitos humanos
Como sabemos, a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 possui 30 artigos. 
Ela será fonte posterior para outras reflexões e documentos, como a Declaração e Programa 
de Ação de Viena, fruto de uma conferência mundial sobre os direitos humanos de 1993. 
Nesses artigos, são refletidos os problemas mais importantes e urgentes para a vida em 
sociedade. 
Figura 1 – Dimensões dos direitos humanos
Cultura e
ambiental
Civil e
política
Economia e
social
Os direitos civis e políticos correspondem ao lema liberdade da bandeira francesa, en-
quanto os direitos sociais correspondem ao lema igualdade, e os direitos de natureza difusa 
ao lema fraternidade.
2.1 Dimensão civil e política (direitos civis e políticos)
A dimensão civil e política abarca os direitos de liberdade (de ir e vir, expressão, religião 
etc.), vida, propriedade e participação nos negócios públicos. Reconhece-se, por exemplo, 
a liberdade de pensamento, consciência e religião, opinião, reunião e associação pacífica, 
igualdade entre as pessoas e perante a lei, e nisso consta o direito de recorrer judicialmente, 
assim como o direito à vida, à segurança, à nacionalidade, ao casamento e, enquanto este 
durar, direitos iguais para o casal, por isso, também deve ser um ato livre.
Excluem-se torturas e penas cruéis, toda forma de escravidão, prisão e exílio arbitrário, 
a culpa até que seja provado o contrário, não podendo aplicar uma pena maior do que a do 
momento do ato, intromissão na vida familiar, domicílio, correspondência, ataques à honra 
e à reputação.
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A observância de todos esses princípios é fundamental. É preciso reconhecer, porém, 
que muitas coisas ocorrem no mundo e no Brasil e ferem de algum modo esses direitos. 
Por exemplo: a violação de privacidade e do direito à vida, em guerras internas, como na 
República Árabe da Síria, República Islâmica do Afeganistão e na Palestina; há ainda povos 
que não têm seus países constituídos (os ciganos, os curdos no Iraque). 
O direito de opinião, quando não bem entendido, pode causar problemas. Ter direito de 
opinião envolve uma vontade – a de se dizer algo –, mas essa só pode ser expressa se não 
ferir a moral de uma pessoa ou instituição. Pode-se dizer o que se pensa, em público ou para 
alguém, quando isso for feito com o intuito de corrigir distorções ou de melhorar algo que 
não está bem. Mas, não é permitido atingir a pessoa ou levá-la a uma situação degradante 
quando se emite uma opinião. 
Esse direito é reafirmado quando se expressa que a vontade do povo é o fundamento da 
autoridade, desde que seja em eleições honestas. 
2.2 Dimensão econômica e social (direitos econômicos e sociais)
Faz parte da dimensão econômica e social o direito à educação, que deve ser gratuita no 
ensino básico e generalizada no ensino técnico e profissional. Educação é um direito social 
pela necessidade da manutenção de um sistema de educação pública para atendimento da 
etapa de educação básica. 
Outro aspecto que devemos refletir são os objetivos da educação, que deve levar o que 
menciona o item 2 do artigo 26 da Declaração:
A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade 
humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades 
fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre 
todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações 
Unidas em prol da manutenção da paz (ONU, 1948, p. 14).
Temos aqui até uma justificativa para o conteúdo que estudamos no momento: ética, 
cidadania e sustentabilidade. Não porque é uma imposição, mas por ser uma necessidade 
para que as pessoas possam realmente aprender a expandir sua personalidade. Esse é, no 
fundo, o objetivo da educação. 
Diante disso, cabe aos pais a responsabilidade de escolher o tipo de educação a ser dada 
aos filhos, que não pode ser resultante de uma imposição do Estado, de um grupo, ou de uma 
religião. A responsabilidade é dos pais. O art. 6º da Constituição Federal nos dá o repertório 
dos direitos sociais: “São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a 
moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e 
à infância, a assistência aos desamparados [...]” (BRASIL, 1988).
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Têm-se ainda os direitos à propriedade de assumir negócios em seu país diretamente ou 
por representantes, direito ao trabalho e à proteção contra o desemprego, a fundar sindicatos 
e se filiar a eles, ao repouso e lazer, assim como a férias remuneradas. O direito de assumir 
os negócios de seu país defende a democracia como a forma por excelência de organização 
social.
Também devemos refletir sobre o direito ao trabalho, pois por meio dele a pessoa 
consegue seu sustento. Quando faltar trabalho, a declaração conclama por uma 
proteção. Por exemplo, no Brasil, o seguro desemprego é uma forma de cumprir um 
direito. Podemos levantar críticas contra um ou outro modo de fazer esse pagamento, 
mas ele tem sua fundamentação na própria Declaração Universal dos Direitos Humanos.
O direito ao repouso e lazer pregado na Declaração nos chama a atenção para um fato 
importante, especialmente quando se viu e se vê em muitos lugares do mundo as pessoas 
sem esse direito, o que não é novo; se considerarmos a história dos povos, observaremos que 
o repouso sempre foi uma medida protegida e considerada importante. 
Em alguns períodos da história, se dava esse repouso à própria terra que se cultivava, 
como no Antigo Egito e em Israel. A Declaração afirma, ainda, que deve haver “[...] a 
limitação razoável das horas de trabalho [...]” (ONU, 1948, p. 13), esta não pode ser fonte de 
esgotamento físico e mental. Não é sem razão que hoje, como em nenhuma outra época de 
nossa história, o estresse é uma constante na vida dos trabalhadores e precisa ter a devida 
atenção e o devido cuidado por quem o regula. Por isso, trabalhadores de algumas profissões 
– como caminhoneiros e professores do ensino básico – têm direito à aposentadoria antes 
do tempo previsto para trabalhadores regulares. Essa redução é de, geralmente, cinco anos.
O artigo 25 da Declaração é altamente complexo, pois chama a atenção para a 
garantia de um nível de vida, tanto para si como para a família. Dentro disso estão: saúde, 
bem-estar, alimentação, vestuário, alojamento, assistência médica, serviços sociais na 
doença, invalidez, viuvez, velhice e em casos de perdas de meios de subsistência. Esse 
artigo analisado nos dá a clara ideia do que se vê no Brasil. Apesar de este direito 
estar instituído a partir da Constituição de 1988, ainda falta a ser feito para que seja 
garantido e assegurado.
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2.3 Dimensão cultural e ambiental (direitos culturais e ambientais)
Assim como é o direito à participação livre na cultura da comunidade, a Declaração 
ainda propõe os efetivos direitos de liberdade. A questão ambiental ainda não tem a ênfase 
merecida, mas não se pode esquecer que surgiram outros documentos da própria ONU e 
tratados que nos chamam a atenção para essa realidade, por exemplo: a Rio-92, o Protocolo 
de Kyoto, entre outros.
Diante de um quadro de direitos propostos pela Declaração, destacamos o artigo 29 
como um dever para com a comunidade, onde as pessoas podem serlivres e ter pleno 
desenvolvimento. A lei, como sabemos, é impositiva e limitadora da ação, pois, se deixasse 
de ser uma forma reguladora, não haveria a possibilidade de garantir direitos e liberdades, 
porém, mesmo esses limitadores não são contrários ao que afirma a Declaração. 
A Declaração Universal dos Direitos Humanos defende o ser humano e lhe propõe a vida 
em sociedade. Se quisermos liberdade e direitos, devemos também fazer com que estes sejam 
respeitados por todos. A luta e a constante vigilância da execução desses direitos é tarefa ao 
mesmo tempo individual (de cada um) e coletiva (de todos que vivem em sociedade). 
Ninguém tem mais ou menos obrigação, mas aqueles em situação de maior 
vulnerabilidade têm a seu favor a Declaração como forma de garantia de seu espaço 
vital. É importante chamar a atenção para esse fato, pois muito se tem visto de que 
cabe aos outros fazer com que os direitos sejam cumpridos. Aqui, o que precisamos 
entender e colocar em prática é que a exigência que se coloca é de uma vigilância na 
execução dessa declaração como compromisso de todos.
A Declaração de Viena nos traz aspectos não tratados na Declaração de 1948, por 
não serem temas recorrentes até o momento. Se em algum aspecto eles apareciam, não 
era da mesma forma como aparecem em nosso contexto. Entre os temas que para nós 
são importantes e não o eram, podemos citar: a violência contra a mulher, a violência e o 
extermínio de povos indígenas, a dominação colonial etc. Por isso, a Declaração de Viena, 
em seu artigo 5, vem elencar e chamar a atenção para fatos importantes a serem cuidados e 
observados:
Todos os direitos humanos são universais, indivisíveis interdependentes e inter-
relacionados. A comunidade internacional deve tratar os direitos humanos de 
forma global, justa e equitativa, em pé de igualdade e com a mesma ênfase. Embora 
particularidades nacionais e regionais devam ser levadas em consideração, assim como 
diversos contextos históricos, culturais e religiosos, é dever dos Estados promover e 
proteger todos os direitos humanos e liberdades fundamentais, sejam quais forem 
seus sistemas políticos, econômicos e culturais. (ONU, 1993, p. 4).
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Embora possamos, para efeito didático, classificar os direitos humanos de acordo com 
o aspecto da dignidade humana que eles protegem, eles são interdependentes e inter-
relacionados. Dizer que há o direito de liberdade de expressão ou de participação política 
sem a garantia do direito à educação que deve preparar o futuro cidadão para expressar as 
suas ideias livremente, é algo inócuo, inútil. Para que haja participação política e liberdade de 
expressão, as pessoas devem capacitar-se para tal e como fazê-lo a não ser pelos direitos à 
educação e à liberdade de expressão, tendo em vista que ajuda na escolha dos representantes? 
Nesse sentido, os meios de comunicação têm um papel muito importante, quando visam à 
informação e ao esclarecimento das pessoas. Portanto, os direitos humanos precisam ser 
garantidos em todas as suas dimensões.
Outro aspecto a se destacar é o que se refere aos benefícios advindos do progresso, como 
um direito de todos (artigo 11 da Declaração de Viena) que, sem dúvida, traz novidades em 
relação à Declaração dos Direitos Humanos de 1948, até mesmo porque o progresso que a 
humanidade tem no final do século XX e início desse século XXI é algo até então inimaginável. 
Além da questão da pobreza extrema, que gera uma situação de grande desigualdade (artigo 
14 da Declaração de Viena) e terrorismo (artigo 17). 
Os Direitos Humanos das mulheres e das crianças do sexo feminino constituem 
uma parte inalienável, integral e indivisível dos Direitos Humanos universais. [...] A 
violência baseada no sexo da pessoa e todas as formas de assédio e exploração sexual, 
nomeadamente as que resultam de preconceitos culturais e do tráfico internacional, 
são incompatíveis com a dignidade e o valor da pessoa humana e devem ser eliminadas 
(ONU, 1993, p. 5).
E assim segue a Declaração de 1993 preocupada com a efetivação e a reafirmação do 
papel dos Estados na implantação dos direitos expressos na primeira Declaração (1948), 
inclusive solicitando: 
À assembleia Geral que, ao analisar o relatório da Conferência por ocasião da sua 
quadragésima oitava sessão, comece por considerar, com caráter prioritário, a questão 
da criação de um Alto Comissariado para os Direitos Humanos para a promoção e 
proteção de todos os Direitos Humanos (ONU, 1993, p. 12).
O documento também reafirma a questão dos trabalhadores imigrantes, e não podemos 
esquecer, nesse sentido, que o Brasil, como um país que recebe muitos imigrantes, tem ou 
deve ter um cuidado especial em relação a essas pessoas. 
Assim, o que se vê é que a partir da Declaração de 1948 surgem outros documentos, não 
só por parte da Organização das Nações Unidas, mas de países que afirmam a necessidade 
de se implantar uma política que atenda às pessoas em suas necessidades fundamentais e 
em direitos básicos. 
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3 As lutas por reconhecimento como reivindicação de 
direitos
A tarefa de efetivar os direitos humanos é difícil, não se dá de forma universal e, às vezes, 
até mesmo a implantação em locais menores é difícil de ser realizada. A busca para que os 
direitos humanos ocorram exige cada vez mais das pessoas o entendimento do que vem a ser 
um efetivo direito.
Por exemplo: Por que não se reconhece o Estado palestino no mesmo sentido que 
se reconheceu o Estado de Israel? Argumentos não nos faltam para justificar que esse 
Estado exista e o mesmo para que não exista. Mas, se é um direito das pessoas terem 
reconhecidas sua origem, sua nacionalidade, seu solo, por que tanta dificuldade?
Em pleno século 21, ainda ouvimos falar de escravidão no Brasil:
De acordo com o relatório da OIT de 2001, o trabalho forçado no mundo tem duas 
características em comum: o uso da coação e a negação da liberdade. No Brasil, o 
trabalho escravo resulta da soma do trabalho degradante com a privação de liberdade. 
Além de o trabalhador ficar atrelado a uma dívida, tem seus documentos retidos e, 
nas áreas rurais, normalmente fica em local geograficamente isolado. Nota-se que 
o conceito de trabalho escravo é universal e todo mundo sabe o que é escravidão 
(CAMARGO, 2016).
O período atual deveria ser um momento de realização, de encontro entre pessoas para 
que todos possam dispor dos bens produzidos e, com isso, alcançarem benefícios comuns 
e o respeito a lugares, pessoas, crenças etc. Tudo isso para que tenham um motivo para 
estarem juntas e viverem juntas por opção e não por obrigação (medo ou prisão). Assim 
posto, devemos reconhecer que, apesar de mais de seis décadas da Declaração dos Direitos 
Humanos, em muitos lugares do mundo, se não em todos, percebe-se o desrespeito a algum 
dos direitos humanos.
Segundo Daero (2013): 
Segundo o estudo Human Right Risk Atlas de 2014, da Maplecroft, o número 
de países que apresentam ‘risco extremo’ aos direitos humanos cresceu 70% 
nos últimos seis anos. Houve um salto de 20 países em 2008 para 34 agora. [...] 
China, Índia, Rússia e México aparecem com países ‘de extremo risco’. O Brasil aparece 
como ‘de alto risco’.
http://maplecroft.com/portfolio/new-analysis/2013/12/04/70-increase-countries-identified-extreme-risk-human-rights-2008-bhuman-rights-risk-atlas-2014b/
http://www.exame.com.br/topicos/china
http://www.exame.com.br/topicos/india
http://www.exame.com.br/topicos/russia
http://www.exame.com.br/topicos/mexico
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O governo brasileiro também apresenta uma posição oficial sobre o tema:
O poder público, nas suas três esferas, tem por obrigação assegurar, prevenir, proteger, 
reparar e promover políticas públicas que busquem sempre a afirmação dos Direitos 
Humanos paratoda Sociedade. O Estado, verdadeiramente democrático, pressupõe a 
prevalência de ações e iniciativas coercitivas a todas as modalidades de preconceito, 
discriminação, intolerância ou violência motivada por aspectos de origem, raça, sexo, 
cor, idade, crença religiosa, condição social ou orientação sexual (BRASIL, 2007, p. 4 
apud BRASIL, 2012, p. 7).
No site da Secretaria Especial de Direitos Humanos, cujo endereço está disponível na 
Midiateca, podemos verificar uma série de dados, com relatório de diversos anos e ações 
sobre o assunto. Esses dados são apresentados por temas: crianças e adolescentes, pessoa 
com deficiência, pessoa idosa, LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e 
Transgêneros), adoção e sequestro internacional, mortos e desaparecidos políticos, combate 
às violações, combate ao trabalho escravo e direitos para todos.
Há no Balanço Semestral do Disque Direitos Humanos, implantado pelo Governo Federal, 
dados recebidos pelo Disque 100, que devem nos preocupar:
No primeiro semestre de 2015 foram registradas 66.518 denúncias, 63,2% são 
relacionadas a violações de direitos humanos de crianças e adolescentes (42.114); 
24,2% de pessoas idosas (16.014); 7,3% de pessoas com deficiência (4.863); 0,8% de 
denúncias de violações cometidas contra a população LGBT (532); 0,5% de população 
em situação de rua (334); 2,6% de pessoas em restrição de liberdade (1.745); e 1,4% 
de denúncias de outras populações, tais como: quilombolas, indígenas, ciganos, 
violência contra comunicadores, conflitos agrários e fundiários, fundiários urbanos, 
intolerância religiosa, entre outros (916) (BRASIL, 2015, p. 11).
Nesse relatório, há o registro de toda vez que alguém faz alguma denúncia. Mas, e quanto 
ao que não é denunciado? As pessoas não realizam a denúncia por diferentes motivos, às 
vezes não sabem o que fazer ou não têm os meios de chegar até os canais adequados, há 
também aquelas que são desrespeitadas por seus próprios familiares (idosos, crianças e 
mulheres) e não têm condições de solicitar ajuda.
Por que mesmo depois de tanto tempo da Declaração Universal dos Direitos Humanos 
isso ainda ocorre? Não há como apontar somente uma causa específica, podemos apontar 
algumas, como: a desigualdade originada pelas classes sociais, as ideologias políticas dos 
Estados, a economia capitalista, grandes conglomerados que hegemonizam o poder econômico, 
político e ideológico, o uso do Estado para garantia de privilégios em vez da garantia de todos, entre 
outros.
Devemos ter claro que determinados problemas humanos não podem ser resolvidos 
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com a ciência, com pesquisas. Problemas científicos são próprios de nosso ser enquanto 
homens e mulheres, e podem e devem ser resolvidos pela ciência. Mas ninguém consegue 
resolver um problema de nossa humanidade como se resolve um problema de matemática. 
As situações humanas são fundamentais para nossa vida, para a democracia, a sociedade e a 
defesa de nossa humanidade.
Nesse sentido, é fundamental termos uma formação filosófica, ética, antropológica, 
isto é, de conhecimentos acerca da humanidade, pois essas ciências buscam resolver ou nos 
aproximar de verdades complexas e de difícil solução. Para Singer (2015, p. 191): 
Sabe-se que as sociedades capitalistas contemporâneas se dividem em duas classes 
sociais: a primeira é a classe proprietária ou capitalista, composta por pessoas com 
posses econômicas suficientes para assegurar a satisfação de suas necessidades e 
das de seus dependentes, sem que tenham necessidade de exercer alguma atividade 
remunerada. A outra classe social é a trabalhadora, composta pelos demais, que por 
não terem tais posses subsistem com os ganhos do exercício de atividade remunerada. 
A ótica de Singer, que não nos cabe julgar se é certa ou errada, é uma maneira de ver os 
fatos, por meio de uma visão social em que também se uniformizam os grupos sociais: para 
o autor, as pessoas ou são capitalistas ou são trabalhadores. Qual o problema que se pode 
constatar aqui? Parece que as classes capitalistas não são trabalhadoras e que o conceito de 
trabalhador é o de assalariado. 
Trabalho deve ser entendido por nós como toda a ação que modifica alguma situação 
e que gera determinado resultado. Nesse sentido, vamos considerar trabalho como tudo 
o que se faz dentro da sociedade. Por isso, poderíamos pensar em duas classes dentro da 
sociedade, se assim desejarmos pensar, mas não como Singer faz. A classe capitalista pode 
ser encarada como a investidora, que, pelo seu investimento, busca obter ganhos, os quais, 
em sua maioria, têm intuito de obter estabilidade econômica. Em geral, os assalariados não 
conseguem, na maioria das situações, obter essa estabilidade e possibilidade de sustentação 
afirmada por Singer (2015).
O que deseja a Declaração Universal dos Direitos Humanos é proteger as classes mais 
desfavorecidas para que tenham, assim como as demais, a possibilidade de se desenvolver 
com plenitude e ter uma vida com dignidade, que não envolva somente uma questão 
econômica, mas também liberdade, educação, moradia, proteção no desemprego, saúde etc.
4 Direitos humanos no Brasil
Em seu livro, “Direitos humanos no Brasil”, Marco Mondaini (2009) apresenta um 
transcorrer histórico entre o Brasil Colônia e o atual para entender o caminho que percorremos 
até chegar no país onde vivemos hoje. Cada capítulo do livro traz um momento forte de nossa 
história, que o autor divide por etapas. 
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• A primeira, que vai de 1930 a 1964, proclama os direitos humanos na República Nova: 
enfocando especialmente os direitos sociais entre a ditadura e a democracia. Veja 
que a primeira etapa tem início em um período em que ainda não existia a Declaração 
Universal dos Direitos Humanos, criada somente em 1948.
• A segunda parte envolve o período da ditadura no Brasil e a luta pelos direitos civis e 
políticos entre os anos de 1964 a 1985, quando reiniciamos um período democrático 
na história do Brasil. 
• E, por fim, o período mais contemporâneo, dos anos de 1985 a 2002, denominado 
Nova República, com a universalização dos direitos e a conquista da democracia. 
Trata-se de um período em que novos direitos são garantidos à população brasileira, 
por meio da nova Constituição de 1988, um marco na história da democratização 
brasileira.
Para quem deseja passar pela história da democratização no Brasil, este livro tem uma 
fonte riquíssima de dados, traz textos, discursos e canções que marcaram essa época de nossa 
vida social e política.
MONDAINI, Marco. Direitos humanos no Brasil. São Paulo: Contexto, 2009.
Por fim, vale citar a Constituição Federal brasileira em seu artigo 3º:
Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e 
regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e 
quaisquer outras formas de discriminação (BRASIL, 1988).
O que está contido nesse artigo é o que vem se reafirmando na Declaração Universal dos 
Direitos Humanos. O Brasil, como membro da ONU e signatário da Declaração, deve fazer 
constar em sua legislação os mesmos princípios do documento de 1948. Os estudos jurídicos 
e a Declaração Universal dos Direitos Humanos caminham lado a lado, uma vez que a última 
é fonte inspiradora para as boas relações sociais.
Assim posto, cabe darmo-nos conta que se deve buscar a unidade do Brasil, em que ser 
cidadão não é apenas termos uma constituição, uma declaração escrita, mas que os direitos 
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assegurados por ela sejam reconhecidos e cumpridos. 
Cabe a cada um e a todos buscar uma transformaçãoda realidade, por meio da participação 
nos diferentes âmbitos sociais, seja na família, na escola, no trabalho, na política. Para isso, 
precisa-se sem dúvida de um amadurecimento da população, pois, como diz Mondaini (2009), 
ainda vivemos em uma democracia recente. Democracia não se aprende somente na teoria, 
mas especialmente por meio da vivência prática.
Referências 
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Humanos, 2015. Disponível em: <http://www.sdh.gov.br/assuntos/bibliotecavirtual/
balancodisque100>. Acesso em: 15 nov. 2015. 
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DF, 5 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/
ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 16 jan. 2016.
______. Relatório sobre violência homofóbica no Brasil: ano de 2011. Brasília, DF: Secretaria 
de Direitos Humanos, 2012.
CAMARGO, Orson. Trabalho escravo na atualidade. Brasil Escola. Disponível em: <http://www.
brasilescola.com/sociologia/escravidao-nos-dias-de-hoje.htm>. Acesso em: 6 set. 2015.
DAERO, Guilherme. Os 10 piores países para os direitos humanos. Exame.com. 8 dez. 2013. 
Disponível em: <http://exame.abril.com.br/mundo/noticias/os-10-piores-paises-para-os-
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MONDAINI, Marco. Direitos Humanos no Brasil. São Paulo: Contexto, 2009.
ONU. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em: <http://www.dudh.org.br/
wp-content/uploads/2014/12/dudh.pdf>. Acesso em: 16 jan. 2016.
______. Declaração e Programa de Ação de Viena – Conferência Mundial sobre Direitos 
Humanos. Disponível em: < http://www.cedin.com.br/wp-content/uploads/2014/05/
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SINGER, Paul. A cidadania para todos. In: PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (Orgs.). História 
da cidadania. São Paulo: Contexto, 2015.
http://exame.abril.com.br/mundo/noticias/os-10-piores-paises-para-os-direitos-humanos
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Ética, Cidadania e Sustentabilidade
Aula 04
Ética e moral na cultura brasileira
Objetivos Específicos
• Relacionar ética e moral nas questões étnico-raciais, sociais e culturais.
Temas
Introdução
1 Cultura e formas de compreender a realidade
2 Moral e ética na cultura brasileira
3 As tensões étnico-raciais no Brasil
4 Discriminação social e cultural: questões migratórias
Considerações finais
Referências
José Antônio Fracalossi Meister 
Professor Autor
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Introdução
Pensar a realidade de um país como o Brasil envolve muitos aspectos e, por isso, é sempre 
difícil analisá-lo culturalmente. Porém, existem características comuns que nos identificam 
como brasileiros e demonstram a nossa unidade enquanto nação1 e país.
O que nos identifica como brasileiros? O que nos torna uma nação? 
Existe uma realidade brasileira que denominamos de formal, que é estabelecida pela 
classe dominante, pelas leis, normas e por quem mantém uma determinada ordem na 
sociedade. No entanto, existe também uma realidade informal, que é vivida e que, muitas 
vezes, se contradiz, colidindo entre o que se diz e o que realmente se faz. 
Esse é o nosso grande objetivo nesta aula: compreender o que realmente ocorre no 
Brasil no âmbito formal e que nos faz ser um país diferente em nossa vivência. Por isso, 
abordaremos três grandes aspectos: a moral, a ética e a cultura brasileira. 
Além disso, compreenderemos as tensões étnico-raciais, que envolvem as matrizes 
culturais formadoras do Brasil (culturas africana e indígena) e as questões migratórias que, 
consequentemente, alimentam a discriminação sociocultural.
Segundo Roberto DaMatta (1993, p. 12): “O Brasil com B maiúsculo é algo muito 
mais complexo. É o país, cultura, local geográfico, fronteira e território reconhecidos 
internacionalmente, e também a casa, pedaço de chão calçado com o calor de nossos corpos, 
lar, memória e consciência de um lugar com o qual se tem uma ligação especial, única, 
totalmente sagrada”.
É esse Brasil que desejamos descortinar em nossos estudos. A dificuldade é conseguirmos 
realmente perceber tudo o que envolve essa realidade, pois, como sabemos, tudo o que 
envolve cultura, envolve múltiplas interpretações.
1 Cultura e formas de compreender a realidade
A história que normalmente estamos acostumados a conhecer parte de uma determinada 
ótica, geralmente a ótica dos vencedores, mesmo porque os perdedores ou morreram, foram 
silenciados ou, muitas vezes, não têm a devida atenção ou voz. O que ocorre no Brasil e em 
muitos países do mundo é que a forma predominante de se fazer entender a realidade passa 
a ser divulgada como única e verdadeira. 
1 Devemos ter cuidado para não confundirmos país com nação. País envolve território, culturas, forma de governo etc. Já a nação envolve 
a população, o povo que constitui esse país. Assim, nação será um grupo de pessoas que fala o mesmo idioma (ou ao menos o idioma 
reconhecido como sendo pátrio), que tem os mesmos costumes, embora podendo diferenciar-se em algumas particularidades de região para 
região, mas que se possa afirmar como sendo um povo. População constitui o conjunto de pessoas que vivem nesse país de modo permanente.
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Vamos para um exemplo bem prático. Todos nós estudamos geografia, seja no ensino 
médio, seja no ensino fundamental, e estamos acostumados a visualizar os mapas do mundo 
colocando Europa, Canadá, Estados Unidos, Rússia na parte de cima do mapa. A questão é: 
por que o mapa deve ser desse modo? Não se poderia fazer o inverso, com a América do Sul, 
a África e a Ásia na parte de cima? 
Poderia se dizer: “estão loucos”! Mas não, o que devemos nos dar conta é que a forma 
como sempre vimos o mapa foi a forma desenhada pela Europa dominante, colocando-se 
na parte superior. Ou seja, tudo depende da maneira de se enxergar e interpretar o mundo.
Figura 1 – Formas de entender a realidade
Colocamos desta forma para que possamos, já de início, perceber que a ordem existente 
em nossa sociedade não precisa continuar do modo que é. Ela pode ser mudada e invertida, 
pois quem escreve e faz a história é um determinado grupo, geralmente dominante. E se 
a história fosse escrita pelos perdedores ou pelos desfavorecidos? Talvez, teríamos uma 
maneira diferente de entender muito mais as realidades as quais estamos acostumados a 
presenciar e aceitar. De acordo com Boff (1992, p. 9): 
Estamos habituados a ouvir a versão da conquista da América Latina da perspectiva 
do poder dominante. Falam os vencedores. Eles têm seus Camões que cantam suas 
aventuras. Têm seus artistas que consignam em pinturas o seu protagonismo, seus 
escultores que eternizam seus gestos triunfais.
Esse modo de pensar gera uma série de dilemas, pois, a partir dele, constatamos que 
muito da realidade vivida por nós pode ser alterada. Os dilemas nos incitam a pensar na ética, 
pois ela surge no contexto social para auxiliar na resolução dos conflitos que o convívio, o 
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entendimento e os valores que são propostos como corretos em uma sociedade passam a 
ditar o modo de vida das pessoas. 
Quando nos defrontamos com a ética, temos certeza que é por causa de determinados 
dilemas. A partir deles, iniciamos uma busca entre situações que não sabemos ao certo o 
que são e o que devem ser, e o que desejamos buscar. Os dilemas surgem porque não temos 
certeza de nosso curso de ação e isso nos desestabiliza, nos levando a buscar soluções. Muitas 
incógnitas surgem porque nem sempre sabemos como resolver os problemas surgidos em 
nosso convívio diário.
Diante de um dilema moral, a definição corrente de moralidadecomo escolha entre 
o bem e o mal (maniqueísmo) conduz muitos a uma conclusão precipitada. “se 
estou fazendo a coisa certa, isso significa que quem se opõe a mim está fazendo a 
coisa errada...”. Ora, as duas coisas podem estar certas! Isso põe em xeque a visão 
convencional.
Optar entre o bem e o mal, segundo o odo maniqueísta da tolerância zero ou segundo 
o modo situacional da análise de riscos, exige grande lucidez. [...];
Temos diante de nós escolhas que não são fáceis, sobretudo porque não existem 
respostas padronizadas. A maior parte dos códigos de conduta moral, aliás, segue 
a cartilha de contrastar o certo e o errado, o aceitável e o inaceitável, as virtudes e 
os vícios. Ora, as escolhas entre o bem e o bem são igualmente prementes e exigem 
maturidade e discernimento. (SOUR, 2014, p.120).
Do resultado da construção de uma sociedade, surge o que chamamos de cultura, que é 
tudo o que envolve a ação das pessoas dentro de um determinado lugar e tempo. A música, 
o jeito de se vestir, o que se come, o que se fala, como se fala. Tudo o que as pessoas fazem 
dentro de uma realidade. Por isso, cultura é sempre um conceito muito concreto, pois é a 
vida materializada.
E, como brasileiros, temos uma cultura que não é uniforme ou igual para todos, 
mas, como uma nação e um país, temos traços culturais característicos, oriundos das 
pessoas que constituem nosso país, nosso modo de ser e que nos dá o direito de dizer que 
somos brasileiros.
2 Moral e ética na cultura brasileira
A partir do entendimento de cultura e sobre as possibilidades de se entender e escrever 
as realidades por nós vivenciadas, não se pode deixar relacionar tais conceitos à moral. 
Cultura e moral são formas vividas pelas pessoas para dentro de uma determinada realidade 
e lugar. Por que então termos dois conceitos? A diferença está na função ou no modo como 
cada termo é usado e se insere na realidade, isto é, a funcionalidade de cada um dentro do 
que uma sociedade precisa para se estruturar como tal. 
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Vamos entender moral como ações que realizamos e são avaliadas a partir do modo 
como o Brasil se constrói. DaMatta (1993) nos chama a atenção para muitos aspectos da 
realidade socialmente construída em nosso contexto. Por exemplo, a relação entre a lei que 
pretende ser universal e não pode pactuar com privilégios, mas que, ao mesmo tempo, no 
Brasil, se transporta para o “não pode”, isto é, ela é “[…] formal, capaz de tirar todos os 
prazeres e desmanchar todos os projetos e iniciativas. […] E vai além, devido a esse contexto 
é que surge o ‘jeitinho’” (DAMATTA, 1993, p. 98), como o modo pelo qual tentamos nos 
arranjar dentro dessa forma de constituir-se socialmente. 
Assim, o jeitinho vem a ser uma forma de resolver os problemas de modo pacífico diante 
da realidade que se apresenta como “não pode”, e a realidade da pessoa que quer agir. 
E, nesse momento, aparece a malandragem, prática de muitos para resolver problemas ou 
situações que se apresentam: “[...] antes de ser um acidente ou mero aspecto da vida social 
brasileira, coisa sem consequência, a malandragem é um modo possível de ser. Algo muito 
sério, contendo suas regras, espaços e paradoxos” (DAMATTA, 1993, p. 105).
O que nos cabe perguntar é: esse modo de agir deve ser a regra ou deveríamos 
adotar outros modos? Dentro dos arranjos pelos quais a sociedade passa o jeitinho 
foi uma forma de agir (não se sabe se a melhor), e um modo de ajeitar-se dentro 
do contexto.
Figura 2 – Brasil de multiculturas 
Muito já se ouviu falar que o Brasil é o país do futebol e do carnaval. Isso não deixa 
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de ser verdade, mas, ao mesmo tempo, não se pode reduzir o país e sua cultura a apenas 
esses dois aspectos. Porém, somos também um povo trabalhador que construiu uma 
nação multicultural.
Na realidade atual, os padrões sociais são estabelecidos pelas forças da mídia, da 
religião, de quem detém o poder, seja na escola, seja na família. Eles podem ser propostos 
pacificamente e assimilados pelas pessoas, ou por meio de coação e violência, com a 
imposição de um grupo sobre outro(s). Por exemplo: patrões sobre empregados, chefes do 
tráfico de drogas sobre a população de uma região e assim por diante. No entanto, também 
podem ser apresentados de forma mais discreta e passar a ser visto como correto. É diante 
disso que devemos estar sempre atentos, para não servirmos de “massa de manobra” para 
os mais diferentes interesses a partir de imposições – as quais podem passar como normais, 
quando, na verdade, são manipulações. 
Mesmo em tempos iguais, mas em contextos variados, podemos perceber que a cultura 
e a própria ética podem ser diferentes. Ser cidadão no Brasil é diferente de ser cidadão 
na Turquia, no Egito, no Afeganistão. Da mesma forma, a cultura desses lugares também 
é muito diferente. Comparando esses países com os Estados Unidos, França, Itália ou 
Inglaterra, temos contextos culturais e éticos diferentes, embora em alguns aspectos possam 
se assemelhar, considerando que a globalização também provoca uniformidades, como na 
música (artistas famosos internacionalmente, como Madonna, Rihanna, The Rolling Stones 
etc.), nas vestimentas (uso de jeans e marcas conhecidas mundialmente como Adidas, Nike 
etc.), nos hábitos alimentares (redes de fastfood, como o McDonald’s estão presentes em 
diferentes lugares do globo). 
A cultura difere de lugar para lugar, embora alguns conceitos sejam universais e 
tenham validade para todos os povos e as pessoas, as diferenças consistem na forma 
como os princípios culturais são vividos e executados.
O desafio da vivência moral e cultural é realmente o seu exercício, isto é, que as pessoas 
consigam praticar e exigir que as autoridades responsáveis, em todos os seus âmbitos, o 
façam também, seja nas empresas, nas famílias, nas ruas, nos municípios, no seu estado e 
no país. A partir dessa compreensão, percebemos que ainda há muito a se fazer no Brasil, 
embora já tenhamos evoluído bastante.
2.1 Culturas indígena e africana no Brasil
O objetivo desta aula é chamar a atenção para a vivência cultural e moral na sociedade 
brasileira, em especial, no que tange grupos culturais específicos, como os indígenas e 
os afrodescendentes. São percebidos alguns avanços no trato com culturas diferentes na 
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realidade brasileira, mas ainda há muito a se fazer, pois os conflitos de interesses que envolvem 
reconhecimento e respeito às diferenças ainda são um grande desafio a ser trilhado pelas 
pessoas em nosso contexto cultural. 
No tocante aos povos indígenas, ainda temos sérios problemas quanto às disputas por 
terras, pois seu modo de vida é contrastante com o modo de vida capitalista, que usa a posse 
e exploração da terra ao máximo.
O desrespeito com os indígenas se agravou no decorrer do tempo. Primeiro, foram 
considerados como não humanos, pois viviam conforme a natureza. O que trouxe a discussão 
sobre poderem ser considerados donos ou não das terras que habitavam, pois, segundo 
Kaufmann (2013, p. 23):
[...] se caso, o fossem, ninguém teria o direito de subtraí-la. Uma discussão bastante 
citada a esse propósito e a que versa sobre o conceito de dominium em Domingo 
Soto (1494-1560). Sob a influência de Jean Gerson, ele define a propriedade da 
seguinte forma:
A propriedade (dominium), por isto, é uma faculdade (facultas) própria a qualquer 
um, expressando o direito (ius) que uma pessoa tem de poder utilizar-se (usurpare) de 
uma coisa qualquer para sua própria comodidade e para qualquer finalidade por meio 
da lei (quocumqueusu lege permesso).
Embora o contexto que se expressa seja de domínio, torna-se importante perceber que 
há uma distinção entre os fatos, pois a propriedade é uma “faculdade de dispor da coisa”. Se 
no caso os índios dispõemda terra, nos parece lógico e certo que seriam eles os donos dessas 
terras, mas, para a concepção europeia dominadora da época da colonização brasileira, essa 
não era a compreensão, especialmente no período da expansão comercial e econômica do 
mundo a partir do século XIV.
Quanto aos africanos, a situação é diferente, pois chegam a nossas terras na condição de 
escravos para exploração da sua mão de obra. Isso causou um impacto muito grande em seu 
modo de viver e de como eram vistos na época em que aqui chegaram, o que tem reflexo até 
hoje no modo como a sociedade encara seus descendentes. 
Assim, foram classificados como sem direitos e, hoje, quando se busca o restabelecimento 
de direitos para esse grupo étnico, o preconceito surge de forma até raivosa. Não é sem razão 
que no Brasil surgiu a necessidade de se aprovar o Estatuto da Igualdade Racial (Lei nº 
12.288 de 20/07/2010), para que se conseguisse estancar o modo preconceituoso como são 
vistos. E assim expressa a lei em seu primeiro artigo: “Esta Lei institui o Estatuto da Igualdade 
Racial, destinado a garantir à população negra a efetivação da igualdade de oportunidades, a 
defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e às 
demais formas de intolerância étnica” (BRASIL, 2010).
Embora a lei tenha surgido para chamar a atenção de uma realidade vivida, devemos 
compreender que a aplicação de uma lei nesses teores ocorre porque se percebe socialmente 
a existência de desrespeito em relação ao trato e às relações entre as pessoas de etnias 
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diferentes, em especial indígena e negra. É importante compreender que chamar alguém ou 
reconhecer alguém como negro não é discriminação, mas adjetivar as pessoas que assim o 
são declaradas de forma discriminatória passa a ser crime.
3 As tensões étnico-raciais no Brasil
A reflexão sobre ética e cultura é fundamental para uma sociedade que busca encontrar 
sua identidade, pois são dois aspectos da vivência em sociedade que caracterizam os modos 
de ser de uma nação ou de um povo. Os dois conceitos são históricos, ou seja, eles dependem 
do lugar e do tempo em que forem utilizados. Por exemplo, pertencer a uma cultura na Roma 
Antiga é diferente de ser cidadão no Brasil de hoje, o mesmo vale em relação à ética.
A realidade do mundo hoje é outra, por um lado temos problemas globais – 
como a situação dos refugiados africanos, sírios etc. –, e, por outro, temos problemas 
localizados, como a pobreza, a qual, no Brasil, é também ligada a questão racial (a maioria 
da população pobre ou carente é negra). Exige-se cada vez mais que as realidades locais 
sejam respeitadas, mas também que os problemas universais ou globais sejam tratados 
com o devido cuidado por todos.
Segundo Boff (2006), é necessário aprender a conviver novamente. Antigamente, os 
povos viviam recolhidos em sua comunidade e, nos dias de hoje, todos vivem uma relação 
de interdependência. Viver pacificamente depende do acolhimento e respeito às diferenças. 
DaMatta (1993, p. 39) nos fala sobre as diversas realidades que encontramos no Brasil. 
Segundo ele, vivemos uma ilusão a respeito das relações raciais: “A palavra ‘mulato’, que vem 
de mulo, o animal ambíguo e híbrido por excelência; aquele que é incapaz de reproduzir-se 
enquanto tal, pois é o resultado de um cruzamento entre tipos genéticos altamente deferentes”.
Percebamos que até mesmo na palavra usada já se tem um grau de preconceito e que 
isso continua a ser reproduzido em muitas das classificações. Hoje, a palavra pardo tem 
substituído o termo mulato, mas essa expressão, ainda não entendida e refletida, passa a ser 
usada por muitos como sendo sinal de aceitação incondicional. 
De acordo com Gomes (2015, p. 420), “com a chegada dos portugueses e demais 
europeus às costas do Brasil, os povos autóctones americanos somavam uns cinco milhões 
de indivíduos, divididos em uns seiscentos povos com culturas e falantes de línguas próprias”. 
A citação de Gomes nos chama a atenção para fatos importantes da realidade brasileira. 
Aqui, os índios estavam localizados antes de qualquer um, com sua cultura e modo de vida 
próprios. A chegada de outros povos fez com que praticamente fossem dizimados. 
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O primeiro e grande conflito que se prolonga até hoje é a luta pela terra. Povos são 
deslocados (exemplo do Xingu, onde grupos de índios deslocados para um determinado lugar 
para terem ali a possibilidade de viverem conforme seu modo cultural de ser2), e ameaçados, 
como os ianomâmis em Roraima. 
Cerca de 35 mil ianomâmis vivem hoje na floresta Amazônica, entre o Brasil e a Venezuela. 
No Brasil, são 19.338 (dados do DSEI Yanomami – Sesai, 2011) que habitam os estados 
de Roraima e Amazonas. Em 1992, o governo brasileiro demarcou uma área para esses 
indígenas, a Reserva Ianomâmi, com 96.650 km2 (BRITANNICA ESCOLA, 2016).
Exemplos não nos faltam quando nos referirmos a conflitos entre os povos indígenas e os 
ocupantes próximos de suas terras. Felizmente, aos poucos, o Governo Federal vai delimitando 
essas terras, mas isso também não tem sido suficiente para que a sua exploração não ocorra. Em 
muitos lugares onde esses povos habitam se descobrem riquezas minerais, árvores centenárias e 
isso tudo tem despertado a ganância de exploradores que subvertem muitas vezes as lideranças 
desses povos para explorar suas áreas de modo desordenado e irregular.
Se não bastasse a realidade dos indígenas dentro da cultura brasileira, temos outros 
tantos problemas que nos são próprios. Vamos pensar, agora, na realidade dos grupos 
afrodescendentes, herdeiros, em sua maioria, dos que foram forçados a vir para o Brasil 
como escravos e que aqui chegando tiveram que assimilar outra cultura. A imposição dos 
dominadores escravocratas os descaracterizou e até hoje seus descendentes ainda sofrem 
preconceito por conta da cor de sua pele. 
A chegada dos escravos na América provocou profundas mudanças e transformações 
nos continentes africano, americano e europeu. De acordo com Gomes (2015, p. 447), “As 
colonizações nas Américas produziram encontros desiguais, fundamentalmente experiências 
históricas, envolvendo trocas culturais, dominação, conflitos, protestos e confrontos que 
uniram, inventando, Europas, Américas e Áfricas”. 
Figura 3 – A crueldade da escravidão
2 O parque Indígena do Xingu (PIX), criado em 1961 pelo Governo Federal, está localizado no Estado do Mato Grosso e é composto por 
2.642.003 hectares de terra. É composto por vários povos indígenas, cada um com sua cultura e língua própria. Para que não houvesse tanta 
discrepância entre os grupos, estes foram reunidos por cultura semelhante em três grandes regiões da área.
http://escola.britannica.com.br/article/483528/Roraima
http://escola.britannica.com.br/article/483057/Amazonas
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A realidade dos africanos que aqui chegaram é diferente da realidade dos indígenas que 
viviam nas terras brasileiras. Os indígenas conheciam o terreno, tinham a possibilidade de “fugir” 
e um tipo de cultura que não os levava a trabalhar no modelo europeu para conseguir seu 
sustento. Já os africanos nada conheciam, tinham línguas e costumes diferentes e, assim como 
os indígenas, tinham que, em primeiro lugar, aceitar a cultura europeia e a religião católica.
A imposição cultural sobre os africanos fez com que eles tivessem de buscar modos 
diferentes ou disfarçados de viverem sua cultura. Um exemplo claro é a religião: os santos 
cultuados pelos europeus receberam nomes africanos, conforme suas características. 
No Brasil, receberam o nome de religiões afro-brasileiras, pois a forma como são 
cultuadas aqui não é encontrada na África. Destacam-se dentre elas: a Umbanda e o 
Candomblé, as quais têm estruturas específicas e particulares.

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