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• No ano de 1500, antes da chegada dos espanhóis, um vasto império reunia povos tão diferentes como os das tribos da selva e os das grandes cidades nos planaltos mais eleva- dos, abrangendo grande parte do atual território do Méxi- - co. Esse era o mundo dos astecas. Sua incessante atividade guerreira traduzia um dese- jo de estabelecer relações comerciais vantajosas bem como a necessidade contínua de capturar e sacrificar adversários, cujo sangue fazia com que o Sol pros~eguisse em seu movi- mento. Imbatíveis em guerras de conquista, desconheciam, no entanto, as guerras de extermínio como a que causou sua destruição após o desembarque dos espanhóis em 1519. Utilizando-se de documentos da época - muitos de- "' les registros dos próprios astecas-Jacques Soustelle recons- titui desde o esplendor da corte do imperador na capital México.'.fenochtitlan até o cotidiano de astecas "comuns". jl, li 1 . ' OS ASTECAS ~ · NA VESPERA DA ·CONQUISTA ESPANHOLA • JACQUES SOUSTELLE :~ .- . -o 1 1 rj 1 as audiências judiciárias. Os instrumentos dos templ lavam o dia como, numa comunidade cristã O toas redgu-. ' que os smos. Ao contrário do que se poderia acreditar tratand d · ·i· N , o-se e uma c1v1 1zaçao ·quase completamente privada de ilum· ~ · f · · 1 · N • • maçao art1 ic1a , a noite nao mterromp1a as atividades, Sace d 1 , . r otes que se evantavam vanas vezes para rezar e cantar· J. d 1, · d b • , ovens o 1 s dco eg1os e a1rro que costumavam tomar banho na água ge a a do lago ou das fontes; senhores e comerciantes b Ih . que anqueteavam; mu eres e guerreiros que dançavam à 1 d h . f . uz os are ates; negociantes uruvos que se esgueiravam na la- ?una com suas ca~o~s carregadas de riquezas; feiticeiros que 1am a encontros sm1stros; toda uma vida noturna animava a cidade imersa numa escuridão rompida, de quando em quan- do, pelos fogos avermelhados dos templos e a claridade das tochas resinosas. A noite, temida e atraente ao mesmo tempo, oferecia as horas escuras às visitas mais importantes, aos ritos mais sa- grados, ao segredo dos amores dos guerreiros com as corte- sãs. Freqüentemente, o imperador, nas trevas, levantava-se para oferecer seu sangue e orar. Um observador dotado de sentidos sutis que pudesse dominar, do alto de um dos vul- cões, o conjunto do vale, teria visto palpitar nele, aqui e ali, os fogos acesos, e teria percebido a música das festas, o bater dos pés das danças, a voz dos cantores; e, a intervalos, o to- que dos teponaztli e o planger dos búzios. Assim passava a noite, sem que um olhar humano cessasse de fixar a abóba- da celeste à espera sempre angustiada do amanhã que talvez não chegasse. Depois, vinha a aurora. Acima do rumor da cidade despertada, o som triunfal dos instrumentos sacerdo- tais se elevava para o sol, "príncipe de turquesa, águia que alça vôo". Um novo dia começava. 190 li i 1 ; . CAPÍTULO V DO NASCIMENTO À MOR TE O batismo Quando uma criança vinha ao mundo numa família me- xicana, a parteira responsável servia de sacerdote ·e velava pela observância dos ritos. Era ela que, dirigindo-se ao bebê, desejava-lhe as boas-vindas, saudava-o com os nomes de "pedra preciosa, pluma de quetzal" e o advertia, ao mesmo tempo, da incerteza e das tristezas da vida: "Ei-lo chegado a este mun- do em que seus pais vivem na dor e nas fadigas, onde reinam o calor excessivo, o frio e o vento. . . não sabemos se vive- rás muito tempo entre nós. . . não sabemos a sorte que te está reservada" .1 Todos esses temas tradicionais serão inde- finidamente repetidos durante as cerimônias que se seguirão. ~ 1 A parteira cortava o cordão umbilical do bebê, não sem X-j antes dirigir-lhe longos discursos. Se fosse um menino, ela dizia: "Meu filho amado. . . sabe que tua casa não é aqui onde nasceste, pois és um guerreiro, um passarinho quecholli, e esta casa em que acabas de nascer é apenas um ninho ... Tua mis- são é dar de beber ao sol com o sangue dos inimigos e nutrir a terra de Tlaltecuhtli com o corpo deles. Teu país, tua he- rança, teu pai estão na casa do sol, no céu". E a uma menina ela dizia: "Deves estar na casa como o coração no corpo, não deves sair de casa. . . Deves ser como a cinza do fo- X, gão".2 Assim, desde o primeiro instante, o homem estava li" destinado ao fado de um guerreiro; a mulher, ao de uma cin- derela sentada no lar. { A seguir, a parteira lavava a criança, dirigindo preces a Chalchiuhtlicue, deusa da água: "Quer, deusa, que o cora- ção e a vida desta criança sejam purificados; que a água leve 191 1 1 1 1 { toda mácula, pois esta criança se entrega em tuas mãos , Chalchiuhtlicue, mãe e irmã dos deuses". ' 0 ( Assim que o nascimd enfto e: 1 ~ noti~iado à fa~ília e ao bair- ro, e, no caso das gran es am1 ias, ~te m~smo as outras cid _ des, tinha início um complexo cenmomal de "saudaçõe .~ As mulheres mais velhas da ~amília agrad_eciam soleneme~t~ / à parteira, que lhes respondia com um discurso metafórico ', Bons oradores, geralmente anciãos, iam saudar o recém: \ nascido, e outros anciãos designados para tanto respondiam -~ com longas arengas. 3 / u O gosto dos astecas pela retórica se satisfazia em inter- " mináveis e pomposas dissertações sobre o favor dos deuses e o mistério do destino. A criança era comparada mil vezes a um colar, uma jóia de pedra preciosa, uma pluma rara. Exaltava-se a mãe, "que se igualara à deusa Ciuacoatl Qui- laztli". Elogiava-se o passado ilustre da família. Se o pai era <s-· um dignitário ou um magistrado, lembravam-lhe "suas fun- -:<~ ções, de grande importância e de grande peso, nos estrados '~ dos tribunais e no governo do Estado". "Senhor", diziam- -::-~ lhe, "é de fato tua imagem, teu retrato: tens um rebento, fio- ~ resceste!" De vez em quando - e isso era uma das figuras · ri· obrigatórias do bem falar - o orador se desculpava por es- 1 - tender demais seu discurso: "Tema aborrecer-vos e dar-vos dores de· cabeça e de estômago"; depois, prosseguia com maior ardor. Os que falavam em nome da família agradeciam com igual prolixidade. Enfim, aqueles que tinham vindo saudar o recém-nascido ofereciam presentes: '!,té vinte ou quarenta _ip~nE~IE. dªsse dirige.me, au siroplesmente...alimento e be- bida entre os plebeus. / Durante as festas, o pai mandava buscar um tonalpouh- qui ou adivinho, especialista no estudo dos livros sagrados. Este, que recebia por seu trabalho tecidos, perus e a refeição que lhe ofereciam, inicialmente pedia informações sobre o momento exato do nascimento, a-fim de determinar o signo da criança. Em seguida, consultava o tonalamatl para desco- brir o signo do dia de nascimento e a série de treze dias a que pertencia. ~~ Quando o signo do dia de nascimento era considerado ,.-- bom e afortunado, o adivinho podia dizer: "Teu filho nas- ceu sob um bom signo. Ele será senhor ou senador, rico, va- 192 1 \ ,, L ' . ; t • 1 / 1 1 1 ,,. , \ ) ' li n t:' S G OU ,{4, 0 0 í l (;tuO ~ lente, belicoso, será corajoso e brilhante na ~ue~-ra,.~lcan~a- Ll rá as dignidades entre os que comandam os exercitas . P~d1a- b . b bA •, no di·a seguinte Mas que fazer se o signo se atizar o e e Jª · . do dia de nascimento era funesto? A engenhos1dade do, t?· nalpouhqui exercia-se então para encont~ar, na mes';1a sene de treze dias, um signo melhor, na medida do poss1vel nos quatro dias seguintes. "A criança n~o. nasceu . sob um b,om · " anunciava " mas há nesta sene um signo razoavel signo , , d · · · J " que atenua e corrige a influência ~efasta. o signo prm,cipa . G !mente isso era possível, pois os signos com numeras era , . b superiores a dez sempre eram favoraveis, ~°:1 como os que · h m O número 7.4 Em último caso, decidia-se postergar un ª ' d d. h b. 1 a data do batismo além do penado e quatro ias a 1tua - mente admitido como limite. . o batismo propriamente dito era celebr.ad? não pel~ ad}- vinho1 nem por um saçerdote,..mas..p.el~µar.t;i~a. A ce~imo- nia compreendia duas partes: a lavagem n !_tE-JI§tlCa d~_cnanç~ ~ a determinação do nome. - Começava-se preparando certa quantidade de comida e de bebida para o banquete familiar que se seguiria. Também se confeccionavam um pequeno escudo, um arco e quatro flechas, correspondentes aos quatro pontos cardeais, caso o recém-nascido fosse um menino; e pequenos biiras, uma lan- çadeira, uma arca, se fosse uma menina. Todos os pàrentes e amigos se reuniam na casa da mãe antes do amanhecer. Assim que amanhecia, dispunham-se no meio do pátio interno ou do jardim os objetos simbólicos. A parteira, mu- nida de uma jarra cheia de água, dirigia-se ao recém-nascido e lhe dizia: "Águia, jaguar, bravo guerreiro, tu, meu neti- nho! Eis-te chegado a este mundo, a que te enviaram teu pai e tua mãe, o grande deus e a grande deusa. Tu foste criado e gerado em tua casa, em casa dos deuses supremos, do gran- de deus e da grande deusa que vivem acima dos nove céus. Foi Quetzalcoatl quem te fez esse favor, ele, que está em to- dos os lugares. Agora, reúne-te a tua mãe, a deusa da água, Chalchiuhtlicue, Chalchiuhtlatonac". Com os dedos molha- dos, ela depositava algumas gotas de água na boca da crian- ça: "Torna, recebe, é com esta água que viverás na terra, que crescerás, que florescerás; é por meio dela que recebemos o que nos é necessário para viver na terra. Recebe esta água". 193 Em seguida, ela tocava o peito da criança com ~ Ih d "E' , 1 . , . ' a mao mo a a: 1s a agua ~e ested, eis a p~nss1ma agua que lava e limp- teu coração, que ura to a a suJe1ra. Recebe-a. Que 1 .. ª ~ " D . 1 Ih 1 e a punf1 9ue teu corbaçao ,;Q epo1s, e, a e ançava algumas gotas d~ agua na ca eça: ue esta agua entre em teu cor . ' 1 , l'" po e nele viva, est~ ag~a ~; este, esta _ag~a az~ ,· Por fim, lavava todo o corpo i° ~.~• ~ronunc1an o a. ormula destinada a afas- tar 1os ma es: . n edq~er que ~steJabs, tu, que poderias fazer ma a esta cnança, e1xa-a, vai em ora, afasta-te dei . . d d a, pois agora esta cnança nasce e novo, e novo nossa mã Ch 1 chiuhtlicue a forma e lhe dá à luz". e ª · Depois dos quatro ritos da água, quatro vezes a p · . , . arteira apresentava a cnança ao ceu, invocando o sol e as div· d d . A . , m a- es astrais. ss1m, o numero sagrado regia os gestos t d' · · A ' 1 · f ' 1 b' ra I· d c~o?a1sd. u 1 uEma ormuda tam em invocava a terra, esposa 1vina o so . , agarran o o escudo e as flechas a 0 f1'c1· . , ante implorava aos deuses para que o menino se tornasse um g r~iro corajoso, "para que ele possa ir a seu palácio de Jeel~: c1as onde repousam e se regozijam os bravos que morreram em combate". : ; t..,, · A cerimônia de batismo das meninas era semelhrrite à -: ~ o menino, mas não se apresentava a criança ao sol, deus ✓ , ...., d . .::;_ ~ dos homens e dos guerreiros; depois da lavagem ritual, a par- ,_ teira e os pais se dirigiam, numa cerimônia comovedora, ao . -t. \L berço onde a menina repousaria e invocavam-na, chamando-a ~- t-... de Yoalticitl, "a curandeira noturna". "Tu, que és sua mãe", , 1~ ~ diziam,"recebe-a, ó velha deusa. Não lhe faças mal, vela por ;,_ ~ ela com doçura.»; ~ ~ ~ 1: erminados os ritos, escolhia-se e anunciava-se o nome "' da cnança. Os antigos mexicanos não tinham nome 12atronímico; 1 contudo, certos nomes eram transmitidos mui~ mesma família, do avô ao neto. A data de nascimento tam- bém era levada em consideração: uma criança que nascia du- rante a série de treze dias dominada pelo signo ce miquiztli, sob a influência de Tezcatlipoca, recebia um dos apelidos desse deus.6 Em certas tribos, notadamente entre os mistecas, todos tinham o nome do seu dia de nascimento, seguido em geral de um cognome, por exemplo, "sete-flor-pena de águia" ou 194 "quatro-coelho-guirlanda de flores" .7 A variedad~ dos no- mes próprios mexicanos era enorme. Podemos assinalar no- mes como Acamapichtli ("punhado de caniços"), Chimalpopoca ("escudo fumegante"), ltzcoatl ("serpente de obsidiana"), Xiuhcozcatl ("colar de turquesa"), Quauhcoatl ("serpente-águia"), Ciclalcoacl ("serpente de estrelas"), Tla- cateotl ("homem divino"), Quauhtlatoa ("águia que fala"). As mulheres recebiam nomes graciosos, como Matlalxochicl ("flor verde"), Quiauhxochitl ("flor de chuva"), Miahuaxiuitl ("turquesa-flor de milho"), Atototl ("pássaro d'água"). To- dos os nomes, como os das aldeias, montanhas, etc., podiam ser representados por pictogramas nos manuscritos histó- ricos. 8 A festa acabava com um banquete familiar, após o qual todos os velhos podiam entregar-se às delícias da bebida. '2l 1.(. '-'' infância e a juventude, a educação ~ A i-... Jf ~-~ . . (? Codex Mendoza pro~orciona, numa série de imagens ~J divididas em duas colunas (a esquerda para os meninos à di- ~ ~ reita ~ara_ as me~inas), um quadro das etapas da edu~ação ¼ -=â. das crianças mexicanas. A educação parece ter sido uma das ~ · e;r·incipai~ preocupações dos adultos.dada como muita soli- \...... .s;~tude e ~igor. Esse quadro precisa, ao mesmo tempo, as ra- çoes de alimento destmadas a cada criança: meia broa éle milho por refeição ao~ três a~os, uma broa dos quatro aos cinco anos, uma e meia de seis a doze anos, duas a partir de treze anos. As rações são idênticas para os dois sexos. Entre três e quinze anos, a julgar por esse manuscrito a :ducação do menino era confiada ao_Rªi, a da menina, ~ , mae: trata-se, provªyel7;1~~...dtlamJlias..modestas, pois o~ ...!!EgJgr;!@S ou _fun_c1onanos 1m12ortantes_d.~ erto não tinham ,temR,o pC!!]_cu1dar_?~ eduq ~ão doL filhos. Veremos, ali.G, que o p_apel da familia geralmente cessava bem antes disso. ~s imagens do Mendoza mostram como as crianças se vestiam. Até treze anos, o menino usa às vezes um pequeno manto amarrado no ombro, mas não veste o maxtlatl: só a 195 1 l , . partir dos treze anos, a idade viril, é que ele passa a u . ' . d sar tan gb~· A 1 menma, ~o contr~r~o.' v 1 este esde o início a blusa ha. 1tua e uma saia, que, m1c1a mente curta logo desc , · tornozelos. ' e ate os Nos primeiros anos, a educação dada pelos pais l' . ta aJ,ons conselhos (uma voluta azul, cor da pedra pse _imi- , f' . d . d d l'b' ) rec1osa e 1gura a sam o os a 10s ~e~uenas tarefas do , . ' o · d , - mest1- cahs. ~enmo aprden e a carhregar :gua, madeira, acompa- n a o pai ao merca o e apan a os graos de milho espalh d "· h ~ A . b ~ a os 1 1 no c ª?· mb.e 1 mna o s_erva a mDae tecendo, mas só começa a maneiar o 1 ro aos seis anos. os sete até os catorze a . d d' . . nos, os menmos apren em a pescar e a mg1r os barcos na 1 . fi ~~ ~ na, enquanto as merunas 1am o algodão, varrem a casa mo ~ 1 o milho no metlatl e, por fim, manejam o tear, de tã~ de/~ 't- d . d M . ' 1 b tca \. o manuseio, o ex1co pre-co om iano. Educacã~ essencialment~ P-J=átlca..e. também~ severíssima: ~ \ , chovem castigos sobre a cnança preguiçosa, que os pais ar- --µ ~m com espinhos de agave. ~u- às 9.uais ~brigam2_ respi- ~ v~por acre dJ: uma fogueira onde que1niam pimentas , verme! as. Qs educadores mexicanos parecem ter sido adeptos da linha dura. J .)S.,!llpre Ee acordo com_Q_CQdex.Mendoza,_er_a__aos quinze. anos que...osjQYW.s_p_Qdia.m..enu:ar...para. o calmecac, templo _2u mosteiro q_nde_eram confiados-ª sacerda.t~s, o~ara o co- J~ chamado telpochcalli, "caSí!_ dos jovens". dirigido por ..._mestres escolhidos entre guerreiros experientes. No entan- to, neste ponto, o documento está em desacordo com os textos mais confiáveis. Parece que a educação puramente familiar cessava muito antes. Alguns pais punh.lm-0s filhos no caj- _mecac.asslln__J}~tes apceadia ... m a andac;-em-todo caso, as ____ crianças entra~ m_.n.o-coJigio entre seis eJlQY..e anos.9 Como vimos, duas p_q_ssi!,jlidades ~e apresentavam à fa. mília: o ca!mecac e o .!!Jpochcalli. O calmecac era re~ rva_do -ª prinCÍpÍQ.ílQS filhÕs e filbas .. de_dignitários,Jnas.J.iilllbém ~am , admitidos _o~Jilhos da classe do~ co2.!lerciantes10,e um ,t:e· cho. de Sahagún 11 nos permite supor que filhos de familias plebéias também podiam ser admitidos. Essa suposição é co~- roborada pelo fato de que os grão-sacerdotes eram "escolhi- dos sem que se levasse em conta a família, mas apenas os costumes, as práticas, o conhecimento da doutrina e a pure- 196 ... ~ f"" d. Q o e.. À ~ '.:::> s.. d 'd " 12 Ora os sacerdotes deviam ser obrigato-za e sua v1 a · ' riamente educados no calmecac. H · México vários calmecac, cada um deles depen-av1a em d . . .. d d d d terminado templo. A a mm1straçao e a e uca-ente e e d' d . / " d zes ou das moças depcn 1am o mexicat teo- çao os rapa . . 13 J, / h h tz · "vigário-geral" da IgreJa mexicana. a os te poc · "ª m, b . d . li . espalhavam em quantidade pelos a1rros, e sua a mi-ca i se d ,, · traça"o cabia aos telpochtlatoque, "mestres os rapazes , ou, ms " d ,, no caso das moças, às ichpochtlatoque, mestras as moças , funcionários laicos e não religiosos. 14 De modo geral, a educação "superior" proporcionada no calmecac preparava para.o sacerdócio ou para as altas fun- ções do Estado; ela, e:a s~vera, rigoro~~· O :el~ochcal!i for- mava cidadãos "med1os' - o que, alias, nao 1mped1a que alguns deles tivessem acesso aos postos mais elevados - , da- va a seus alunos muito mais liberdade e os tratava com me- nos dureza do que na escola sacerdotal. Para os pensionistas do calmecac não havia noite de so- no ininterrupta. Eles se levantavam nas trevas e iam ofere- cer, isoladamente, na montanha, incenso aos deuses e tirar sangue das orelhas e das pernas com espinhos de agave. Eram submetidos a jejuns freqüentes e rigorosos. Tinham de tra- balhar duro nas terras dos templos, e o mais ínfimo deslize era castigado com rigor . Nessa educação, dava-se ênfase ao sacrifício e à abnega- ção. "Ouve, meu filho", dizia um pai ao menino que ia en- trar no colégio sacerdotal, "tu não vais ser honrado, nem obedecido, nem estimado. Tu vais ser humilde, desprezado e rebaixado. Todos os dias, cortarás espinhos de agave para fazer penitência e te banharás de noite, mesmo que faça muito - frio. . . Enrijece o corpo com o frio. . . e, quando for tem- , pode jejuar, não rompe o jejum, faze boa cara para o jejum ' e a penitência."15 Era antes de mais nada u e.s~ tocontrole, em ~e se aprendia a ser duro c~mes,mo. Também se aprencfíã''afalar bem, a cumprimentar e fazer reverência"; enfim, os sacerdotes "ensinavam aos jovens todos os cantos que se chamam divinos, que estavam escritos em seus·livros com seus caracteres, bem como a astrologia indí- gena, a interpretação dos sonhos e o cômputo dos anos" .16 197 LJ o Q. As meninas eram destinadas ao remplo_d.esdc a 111 · .-,, . d . ais ten. -~ ª-ªª~ se1a~1.per.lll.íll).eC.CJ:..P_Q.r. etenmnado...temp . D .. 'd o, sep 12ara,.es~ar o çasanl,ffilQ. mg1 as por sacerdotisas ·d · d · 1 · · 1 asas que as outnna,·am, e as v1v1am castamente, exercit . . · ' f . b 1 .d b d avam-se cm con ecc1onar e os teci os or ados tomavam p . f . . ' d. . d , , ane nos ritos e o erec1am mcenso as 1vm ades várias veze · . te. Recebiam o tÍtulo de sacerdotisas.17 s por no,. Bastante diferente e muito menos austera era ·d . . , a v1 a dos outros iovens. O menino que entrava para O relpo , tl · d b .d f wca I era ecerto, su meti o a tare as penosas e pouco br'ilh · ' antes, co- mo varrer a casa, 1Lcam os 01w:o~eJu_1, rupos . . . 1 1 , • . . o- , <..:..art,ll enha ,para .2 co e~io q_u parncma.r:_ de_ trabaJhos de. interesse púb .·_ co: rep! raçao _gas foss.i.s_e_çjlna1s, culü_vo de terras col . li; "Com d , d 1 " d . etiv.ts u o, ao por- o-so ' to os os Jovens iam cam - d . h d , . ar e an- çar numa casa c ama a cmcacalco' ['casa do canto'] d d 1 , e ora- paz ançava com outros a o escentes ate' d · d · • . . · · · · epo1s a me1a- no1te .. . e os que tinham amantes 1am dormir com 1 ,, 1s S d ~ d , f e as . ua e ucaçao ava pouca en ase aos exercícios 1· · . . , . , . re 1g10- s?s, aos JeJuns e as penttenc~as, que tinham muita importân- eta no calmecac. J.udo era...fcit~~pará-los para . d d . 'd d f a guerra, es_ e a ma1s_tenr~ 1 a e ~eqüentavam apenas gÜerreiros ex: penentes, cu!os feitos _admiravam antes de igualá-los. Enquan- to permaneciam solteiros, levavam uma vida coletiva alegrada p~la dan~a_, pelo canto e pela companhia das moças, aS..í!Jili!· mme. ?Íl~1almeme admitidas para des_ell}~ni}ar o papel de f.2.._rtesas JUnta..deles. Os dois sistemas de educação são tão diferentes que, sob certos aspectos, parecem opostos e antagônicos. Sahagún fazendo-se intérprete dos nobres, ex-alunos do calmecac, de: clara que os jovens dos telpochcalli "não levavam uma vida sadia, pois tinham amantes, ousavam pronuciar palavras in- decentes e irônicas, e falavam com soberba e audácia".19 Es- se antagonismo manifestava-se, eclodia com a tolerância da opinião pública em certas circunstâncias, por exemplo, du- rante o mês Atemoztli, quando os jovens dos calmecac e dos telpochcalli se lançavam uns sobre os outros em combates si- mulados. 20 No fundo desse anragaoismo, encontr~sc;_<Ldo_s_deuses __gue presidiam respectivamente_a cada um dos ramos da edu- 198 cação. O deus dos ... mlmecac, qued_~ai:nbdémd odé dos sacer?f~t~ --- - ,, eia é Quetzalcoatl, 1vm a e o auto-sacn 1c10 por excc en , I d, . d , b c:::a:i"'p.e.nitência, dos livros, do caden ard10 ~ as art~sT, sim o 1 _- I d bne11arão e de cultura. O cus os Jovens e ezcat 1-0 e a o,;>= 1. " ,, y I .. . ,. ~chamado de Telpocht 1, rapaz , e aot, guerreiro , velho inimigo de Quctzalcoacl, que ele expulsou out rora do paraíso terrestre d_c Tula com seus ; ncanta11;c 1 ntosQ. I Enviar uma criança ao calmecac e consagra- a a uctza - oatl· enviá-la ao telpochcalli é devotá-la a Tezcatlipoca.21 ~ua; concepções da vida cofccoum-s~ob a_másca.ra dessas personalidades divinas: de um Iado, o 1deals.ac1!~de...r.e.- núncia a si mesmo de a..d.os..asu:o.u:....do..s signos, de co- n 1ec1mento c p,lativo, de castidade; de..outro, o ideal os guerreiros em que a tônica é p_Qilll....de.libe.cadamcnt~ na açlo, no comb~ na vida coletiva, nq_s_prazcres efêmcrQ_s dãjüverltudc. Não é um dos traços menos curiosos da civili- 'üição asteca o fato de que uma sociedade tão ardentemente voltada para a guerra tenha escolhido, para formar sua elite, 0 ensino de Quetzalcoatl e que tenha deixado o de T ezcatli- poca para a classe mais numerosa, porém menos honrada. Um estudo mais detalhado dessa s~iedad~ mostraria, semj \1 dúvµIâ, profundas contradiçç~s_, as quais explicam, por. sua \ vez,, as tensões · as de.que ela..se..libertava ocasionalmente 1 sob um_ arma ritual. E a ori cm dessas contradições deve· ser busca a na superposição e na mistura ctecÜlturas dife- rentes - a dos toltecas, transmitida pelos sedentários do v,t le, e a das tribos nômades, de 9.ue os astecas fizeram par- te -, que concorreram E_ara formar a civilização mexicana, tâl como ela era na época da descoberta. O dualismo que do- mina o pensamento autóctone, no caso o que opõe Quctzal- coatl e Tezcatlipoca, se encontra na própria educação. Como quer que seja, a educação desempenhava seu pa- pel. Ela preparava chefes, sacerdotes, guerreiros, mulheres que conheciam as tarefas futuras. A instrução intelectual pro- priamente dita só tinha um papel importante no calmecac, onde se ensinava tudo o que· dizia respeito à ciência do tem- P? e do país: leitura e escrita dos caracteres pictográficos, adi- vmhação, cronologia, poesia, retórica. De~e-se levar em conta também o fato~ c os cantos ~ prendidos se relacionavam ao passado das cictades, aos rei---·--- 199 nados precedentes, às guerr~, para c,ue assim · ~ 1- . ' - -::i.::.: ' , os Jovens ~am1 1anzassem com sua historia. No telpochcalli, os can se e as danças, a musica, proporcionavam aos futur tos . os guerr . ros apenas uma bagagem mutto reduzida. Quant ei- d • · b O ao resto a e ucaçao mexicana em am os os casos visava f ' , · ormar ca racteresenerg1cos, corpos robustos, espÍritos d d - b '61º O · · evota os ao em pu 1co. esto1c1smo que os astecas soub . ' 1 eram mos trar na mais tem ve provação demonstra que t l d , - alcançara seu objetivo. a e ucaçao .Fofim, ernbaca a sistema fosse diYi_d;do d . · ·d -J · • " e~ 01s ramos . nm ª~. e !.!.lstmtos, note-se que a separarão d . • · b • . :i:..::: os ensinos nao erguia uma arre1ra mtransp_onível diante dos . b d f ,,. h • - Jovens po- ... res ou e am1 ia um1lde, uma vez que as ma1·s 1 f • d l ;a-- . _ a tas un-çoes, como a e t acochcalcat, poâiam ser exercidas 1 b 'd d 1' . por p e-eus sai os o co eg10 popular. E os filhos dos pleb h . d dº . , . eus que se aviam torna o 1gmtanos tinham por sua vez 1, . d 1 . , , acesso ao co eg10 a e 1te. ' - É notável que, naquela época e naquele continente ~I . d' d ' . ' um o~o. m ~ena -ª-.~lliwmDª-.prati~ª-QQ.__ a~ação obri at_Qna para todos e que nenhuma cnança mexicana do sé- cu~o XVI, qualquer que fosse sua origem social, tenha ficado pnvada de escola. Basta comparar esse estado de coisas com o que nos mostram nossa Antiguidade clássica ou nossa Ida- de Média, para se ver com que cuidado a civilização autóc- tone d~ Méxi_co, a despeito de ~uas limit~ões, velava pela formaçao da Juventude e dos cidadãos. '\\ ~},,f - '?C10 ( Cf /' r/ · O casamento, a vida familiar O adolescente podia se casar a partir dos vinte anos, e a maioria dos mexicanos se casava entre os vinte e vinte e dois anos. Só aos altos dignitários era permitido viver por longos anos com concubinas, antes que se casassem oficial- mente, como foi o caso do rei de Texcoco, Nezaualcoyotl.23 O casamento era considerado, antes de mais nada, como as- sunto das famílias, não dos indivíduos - em todo caso, era 200 d.. . 1 E' provável que os jovens pudes-# 0 era 1c10na . . essa a versa fazer algumas sugestões aos pais. sem, pelo menos, . meiro lugar, para passar do celibato Entretanto, em pn d d · d 1 d d isto é ao estado de ver a e1ro a u to, estado e casa o, ' I h 11· b ao . 1.6 -se do calmecac ou do te poc ca i e o ter era preciso I erar . . h . • d mestres Junto dos quais tantos anos a-autonzaçao os ' . 1 f ,,. ª. ºd dos Um banquete oferecido pe a am1 ia per-viam s1 o passa · . • mitia pedir e obter essa autonzaçao. . Convidavam-se os telpochtlatoque ao banquete mais lu- a faml'lia podia oferecer. Preparavam-se tamales, xuoso que dos variados cacau. Os mestres saboreavam os pra-ensopa , . b . . . m seguida fumavam os cach1m os. Feito isso e na eu-tos, e , f . • . d foria que se sucede a uma boa re e1ç~o, o pai . o rapaz'. os ciãos da linha paterna e os conselheiros do bairro traziam ::m grande pompa um machado de pedra polida e, diri?indo- se aos mestres, diziam-lhes: "Senhores, mestres dos Jovens aqui presentes, não ficais tão pesaros~s se vosso irmão_, nos- so filho deseja deixar vossa companhia. Ele agora anseia por contrai; matrimônio. Eis este machado: é o sinal de que este rapaz irá separar-se de vós, conforme nosso costume mexi- cano. Tomai-o e liberai nosso filho". A que um telpochtlato respondia: "Nós ouvimos, todos nós, e os jovens com que vosso filho foi educado, que vós decidistes casá-lo e que ago- ra ele nos deixa para sempre: seja feito como vós quereis". Então, os mestres pegavam o machado, o que significava a liberação do rapaz do colégio e saíam da casa.24 Nem é preciso dizer que tudo estava previsto desde o início, banquete, pedido e resposta, mas o formalismo do po- vo mexicano, o gosto pelos atos e pelas palavras tradicional- m ente estabelecidos se manifestavam mais uma vez nessa õcasião. Segundo Motolinía25, o telpochtlato não se separa- va dos alunos sem lhes dirigir uma homilia, "exortando-os a se conduzirem como bons servidores dos deuses, a não es- quecer o que aprenderam no colégio e, uma vez que iam casar- se e fundar um lar, a trabalhar como homens para alimentar e sustentar a família. . . Dizia-lhes também que, em tempo de guerra, deveriam comportar-se como soldados valentes e corajosos". Quanto às moças, "também não eram deixadas sem conselhos, nem doutrina; ao contrário eram-lhes diri- gidas longas admoestações, sobretudo às filhas dos senhores 201 1 ~ l e dos dignitários". Três pre~eitos, diziam-lhes, deviam orientar a vida acima de tudo: servir aos deuses; manter a honestida- de; amar, servir e respeitar o marido. "Embora infiéis", acres- centa o missionário, "os mexicanos não deixavam de ter bons costumes." Quando os pais do jovem se decidiam a respeito da futu- ra esposa - não sem ter consultado os adivinhos para co- nhecer~m os pressági~s que podiam ser tirados dos signos de nascimento dos noivos-, entravam em cena as cihuatlan- que, anciãs encarregadas de servir de intermediárias entre as famílias. De fato, nenhuma diligência devia ser feita direta- mente. As matronas iam visitar os pais da moça e, "com muita retórica e belo linguajar"26, expunham o objetivo da missão. O costume exigia que a primeira resposta fosse uma recusa polida e humildes desculpas. A moça ainda não estava na idade de se casar, não era digna daquele que a desejava. Todo mundo, aliás, sabia perfeitamente como as coisas se desenrolariam. Sem se comover, as matronas voltavam no dia seguinte ou alguns dias depois, e os pais finalmente con- cordavam: ''..Não sabemos como esse ra12az pode se enganar a tal pomo, pois nossa filha não serve 12ara nada e ~ meio toh. Mas uma vez que vós pareceis fazer tanta questão, será preciso conversarmos todos juntos, com os tios e as tias, os parentes e as parentas da menina, e também que ela própria seja posta a par do assunto. Por isso, voltai amanhã, para re- solvermos a questão". Após um conselho de família e tendo obtido o acordo de todos, levava-se enfim ao conhecimento dos pais do ra- paz o consentimento dos genitores da moça. Faltava apenas marcar o dia das núpcias. Para tanto, consultavam-se mais uma vez os adivinhos, de maneira a colocar o casamento sob um signo favorável, como acatl (cana), ozomatli (macaco), cipactli (monstro marinho), quauhtli (águia), calli (casa). Era preciso, também, preparar os pratos, o cacau, as flores e os cachimbos para a festa de casamento. "Faziam-se tamales du- rante toda a noite e todo o dia, por dois ou três dias, e mal se dormia" por ocasião dos preparativos.27 Pois o casamen- to era coisa importantíssima, desde que a família tivesse al- guns meios e algumas pretensões. Convidavam-se todos os 202 ml·gos os ex-mestres dos noivos, as "persona-parentes, os a , . !idades" do bairro ou da cidade. . . . A . • - de casamento eropnamente dita era realt-cenmoma . - d do ra az ao cairctâ noite. No dia recedente, za a na casa . d 1 "azia-se uma_íe.srança na casa cta noiva. um grande-•-~~~ era servido ao meio-dia, os anciãos 5eoiam octli, as mulhe- res casadas traziam presentes. À tarde, a noiva tomava ba- nho e lavava os cabelos. Os braços e pernas eram enfeitados com plumas vermelhas, e o rosto pintado de amarelo-claro com tecozaiútl. Assim preparada, ela sentava-se perto do fo. gão, num estrado coberto de_ esteiras, e os anciãos ~a fam!lia A o noiv~ apresenta~7m:se d1a_nte ,?ela_ ~ara c~mpnmenta-la erimomosamente. Minha filha , d1Z1am, tu honraste a nós, velhos e velhas, teus parentes. Agora, és uma mulher, não és mais uma criança, começas a ser uma adulta. Coita- da! Vais ter de te separar do teu pai e da tua mãe! Ó filha nossa, desejamos boas-vindas e prosperidade a ti." E a noiva respondia (podemos imaginá-la, comovida e algo trêmula, acostumada pela educação a esconder os senti- mentos e esforçando-se por se manter calma, enfeitada com plumas e flores, pintada, vestida de bordados multicores): "Vosso coração foi bom para mim, as palavras que medis- sestes, as considero preciosas; falastes comigo e destes vos- sos conselhos como verdadeiros pais e mães. Agradeço por todo o bem que me fizestes". À noite, formava-se o cortejo para conduzir a noiva a seu novo lar. Àfrente iam os parentes do rapaz, "muitas an- ciãs honradas e matronas", depois a noiva; uma anciã a car- regava nas costas, ou, se ela era de boa família, ia de liteira, nos ombros de dois carregadores, para sua futura residência. As moças do bairro, seus parentes e amigas ainda solteiras, formando duas filas, acompanhavam-na, levando archotes na mão.28 Em meio a cantos e gritos, entre duas fileiras de curio- sos que exclamavam "Que moça feliz!", a alegre procissão s~rpeava pelas ruas até a casa do noivo. Este, adiantando-se, vmha recebê-la. Trazia na mão um incensório e, quando a ~oça se aproximava da porta, davam-lhe mais outro; os dois JO~ens ofereciam um ao outro incenso em sinal de respeito mutuo, e todos entravam na casa cantando e dançando. 203 O rito do casamento era celebrado p~rto do fogão. Sen- tados um ao lado do outro em duas esteiras, os noivos · • lnI- ciaJmente recebiam presentes. A mãe da moça oferecia f 1. N d ªº uturo genro roupas mascu mas; a mae o rapaz ofereci , noiva uma bata e uma saia. Depois, os cihuatlanque amar~a~ vam um ao outro o m~nto_ do rapaz e a ?~ta da moça: eles estavam casados, e o pnme1ro g~sto era d1v1dir um prato de tamales, de modo que um oferecia ao outro os pãezinhos de milho com suas próprias mãos. Nesse instante, a alegria dos convidados manifestava-se P,?r cantos e danças; depois, todos in~estiam para as provi- soes acumuladas e aqueles a quem a idade permitia se em- briagavam copiosamente. Entrementes, os esposos, tendo se instalado no quarto nupcial, lá permaneciam quatro dias fa. zendo orações, sem consumar o casamento. Durante esse tem- po, só saíam do quarto para acender incensos no altar familiar ao meio-dia e à meia-noite. Para a quarta noite, preparavam- lhes uma cama de esteiras, entre as quais se dispunham plu- (j m~s e um p~d_aço de jade - provaveI_n:iente, símbolos das \ crianças que mam nascer, sempre qualificadas de "ricas plu- mas" e " pedras preciosas". No quinto dia, eles se banhavam no temazcallz: e um sacerdote vinha abençoá-los, aspergindo-os com um pouco de água benta. Nas famílias de dignitários, a cerimônia do quinto dia era quase tão elaborada quanto a das núpcias; os pais aben- ' d I çoavam quatro vezes os recem-casa os com agua e quatro vezes com octli. A moça enfeitava a cabeça com plumas bran- cas, as pernas e os braços com plumas coloridas, efetuava-se nova troca de presentes, e um novo banquete oferecia às duas famílias e aos amigos a oportunidade de divertirem-se, dan- çar, cantar e beber. Entre os plebeus, os festejos eram mais discretos e menos onerosos, mas a ordem geral era idêntica à que acabamos de descrever. e_<:!~, pcl_o menos, o_ideal que os mexicanos p,i:o_cura· v~p realiza!. J:-J:a prática, sucedia qu.e um_ jQvem casal g__e na· "°-lorados nã0' pedia a autorizaªº dos_12ais ~ unia s~: ,_tamente. Na maior parte das vezes, ao que parece, tratava-se de plebeus que não queriam esperar acumular tudo o que era necessário para os presentes, os banquetes, etc. "Ao ca· bode algum tempo, tendo economizado o que era preciso 204 para convidar as famílias, o rapaz ia ao encontro dos pais de sua mulher e lhes dizia: 'Reconhe~o meu erro. . . ~rra- nos unir sem O vosso consentimento. . . Deveis ter fic:d~:urpresos por não ver mais vossa fil_ha [sic]. Contudo, foi de comum acordo que decidimo~ morar Juntos co?1o gente casada, e agora queremos tentar v1verf~~mod convemf~lhtra- balhar em benefício próprio e em b~ne 1c10 , e noss?s 1 _os: perdoai-nos e dai-nos vosso consenumen_to. Os pais aquies- ciam "e procediam às solenidades e festejos que seus po,~res . . . "29 (J/)14-1/AtvfE /.7í0 aos PD~:-JR J me10s perm1t1am . . . Dç; '> Era nessas condições e por meio desses ntos que ov o- · mem desposava a mulher principal, e só podia celebrar ess..e casamento com uma {mica mulher. I2davia.-além-dela,_p,.,o- dia ter quantas esposas secundárias lhe conviesse. O sistema s:J:: ~ matrimonial dos mexicanos apresenta-se como um compro- . i misso entre a monogamia e a poligamia: uma só esposa " le- <.t;: gítima" ( esta a expressão geralmente empregada pelos. cr~- ~ nistas), com a qual ele se casou celebrando ~odas ~s _c~nmo-i nias, mas um número indefinido de concubinas of1cia1s, que <:s:.. tinham seu lugar no lar e cujo estatuto não era absolutamente objeto de zombaria ou desprezo. . O historiador Oviedo relata uma conversa que diz ter mantido com o espanhol Juan Cano, terceiro marido de do- na Isabel Montezuma, filha do imperador Motecuhzoma II. "Pergunta - Fui informado de que Montezuma teve cento e cinqüenta filhos e filhas. . . Como o sénhor pode ter dona Isabel, sua esposa, como filha legítima de Montezuma e co- mo fazia seu sogro para distinguir entre os filhos legítimos ou bastardos, e entre as mulheres legítimas e as concubinas? Resposta de don Juan Cano - O costume observado pe- los mexicanos para legitimar uma esposa era o seguinte ... Pegava-se a aba da bata da noiva e amarrava-se essa aba com o manto de algodão que o noivo vestia. . . Os que se casam sem essa cerimônia não são considerados casados, e os filhos nascidos dessas uniões não são legítimos e não têm direito à herança." 3º "O rei [de Texcoco] tinha tantas mulheres quantas qui- sesse e de todos os tipos de linhagens, altas ou baixas, mas 205 só uma legítima entre todas elas" escrev . P 3 ' e o cron1st . d na ornar. 1 Todas os textos são unân · ª 1n íge- ponto. Ixtlilxochitl, por exemplo diz q imes quanto a esse b " ' ue o costum d ~ eranos era ter uma mulher legítima de e os so- - " ·2 o quem pudes --l cer seu sucessor .~ conquistador anô • se nas- " , d ' , . mmo tamb ' d' - que os m 10s tem muitas mulheres tant em 12 - 1· ' as quantas d 1 a 1mentar, como os mouros ... No entant h , po em - ' . d . o, a uma ~ ta acima as outras e cuios filhos têm d' · , h que es-) d . d 1re1to a era _ _l°"\ etnmento e seus irmãos consangüíne ,, 33 M ~ça, em ~ margo precisa que a mulher legítima dav~s ·d ~noz Ca- "(: binas do marido e que era ela quem or ens as concu- i :-~ a que o marido escolhia "para dorm1·arrumavla e enfeitava - ~ , , . , r com e e" 34 Nao ha duvida de que as tribos semibárb .. . aras vmdas d , /) norte praticassem a monogamia como . 0 ~ ,, d d ' d ' ' mostra a hte _:;-~ e 1ca a a sua história. A poligamia deve ter ' rat~ra '-'-~- em d , · ermanec1do ':,t ' _,...l uso entre os se entanos o va e central ( I 0 \J--.. • d ' ex-to tecas ten õ- "' ~ s~ im,ereg?-_a oca a vez mais nos costumes à medid; ':: CJ:7, mvel ctev1aa melhorava, sobretudo emre a elas d' _que...2,_ - \\.li b ---- ' se 1noeme ,r:,/, ~ \'-- e os so eranos. Estes contavam as es osas secund ' · , t> qv 'Ih ( · anas as cen- :) v .,,ntenas ou m1 ares mais de duas mil no caso T -01 ~ 1 , o rei e ex- coco, ezaua p1I1e~), tendo se estabelecido o costume_di v) o selar os acordos entre cidades com a troca de m Ih e. , d. u eres per- tencentes as1versas dinastias. As exp_ressoes "le?1t1m1daderr ou "ilegitimidade" empre- gadas ~~po1~ da conqmsta espanhola sob a influência das idéias e~rope1as nao nos devem confundir: nenhum estigma se pren- dia ao esta~ut? ~as esposas secundárias, nem ao de seus fi- lh~s. _A pnnc1p10, sem dúvida, apenas os filhos da mulher pnnc1pal sucediam ao pai; contudo, a literatura abunda em exemplos que contrariam esse preceito: já bastaria o mais ilus- tre ~e todos e!es, o do imperador Itzcoad, filho de uma con- cubina de ongem humílima. Em todo caso os filhos das esposa~ secu?dárias sempre eram considerado; pi/li e tinham ac~sso as mais altas funções, se delas fossem dignos. Cometer- se-1a um erro cabal considerá-los "filhos naturais" "bastar- d " d ' os , co~ to a a conotação que nosso mundo dá ou dava a essa designação. . _Conqu~anto'. teoricamente, a família poligâmica fosse ad- n mitida e nao cnasse problemas, na realidade o ciúme entre ~ as mulheres do mesmo marido e a rivalidade entre os filhos J tJT r,1~A E,rv TfZ f r~ F~ .pD.:;A '.>206 causavam terríveis distúrbios. As concubinas às vezes tenta- vam, por meio da intrig~, se_mear a d_iscórdia entre ? marido e os filhos da mulher pnnc1pal. Assim, uma favonta do rei Nezaualcoyotl conseguiu atrair a desgraça sobre o jovem prín- cipe Tetzauhpiltzin~li, "o menino mar~vil?oso::- Este, filho do rei e de sua mulher pnnc1pal, gozava de todos os dons que a natureza pode dotar a um príncipe ilus- tre. Ele tinha uma excelente índole e, sem dar grande traba- lho aos preceptores e mestres, revelou-se perfeito em todas as coisas: filósofo de valor, poeta e soldado de primeira or- dem e, inclusive, versado em quase todas as artes mecâni- cas . . . Um príncipe, filho do rei e de uma concubina, cin- zelou uma pedra preciosa em forma de passarinho, tão na- tural que parecia vivo, e quis oferecê-la ao rei, seu pai. Este alegrou-se de ver a jóia e quis dá-la ao filho Tetzauhpiltzin- tli, pois o amava infinitamente". Quem poderia acreditar que essa amável cena familiar pudesse degenerar em drama? Pois foi o que aconteceu. O filho da concubina, seguindo os conselhos da mãe, disse ao rei "que o príncipe lhe dera uma má resposta, o que o fazia suspeitar de que tinha a intenção de rebelar-se contra o pai; que ele declarara não se interessar pelas artes mecânicas, às quais se aplicava o príncipe que cinzelara a jóia, e sim pelas questões militares, e que pretendia chegar a dominar o mundo e, se possível, a ser mais que seu pai; e que, dizendo isso, mostrara-lhe um depósito cheio de armas". Abaladíssimo com essas nodcias, o rei mandou um fun- cionário de confiança visitar o filho. O mensageiro consta- tou que, de fato, o palácio que lhe era reservado estava ornado com armas de todas as partes. De comum acordo com osso- beranos de México e Tlacopán, seus aliados, Nezaualcoyotl pediu-lhes para visitar o filho e repreendê-lo, a fim de pô-lo de novo no bom caminho. No entanto, os outros dois mo- narcas, que provavelmente não viam com maus olhos o en- fraquecimento da dinastia do vizinho, "foram até o palácio do príncipe com o pretexto de visitá-lo e ver as dependên- cias que ele estava construindo, e certos oficiais que os acom- panhavam, simulando pôr em seu pescoço uma guirlanda de flores, estrangularam-no. . . Quando o rei ficou sabendo da morte do príncipe, que ele amava com ternura, pôs-se a chorar 207 amargamente, lamentando a dureza dos d . . h l b , . . 01s reis. . E b n ou-se pe os osques vanos dias tri'ste n· · m re- . f 1· ºd d , e a ito eh sua tn e ic1 a e, pois não tinha outro filho l ', . orando suceder-lhe à freme do reino embo . e_gitimo para b. . . , ra tivesse tido d cu mas sessenta filhos e cmqüema e f'lh as con-d sete i as A . . os rapazes se tornaram soldados célebres · n:1ª10na d h , e as moças t1nh se casa o com sen ores da corte ou e M, . am- , A d l , m exico e em TI pan. to os e e dera muitas terras aldeias d , . aco- p l. , ' e om1nios" 36 arece, a ias, que a família real de T • frentando um destino trágico Na'o f excoco acabou en- l . . ora o sucessor de N zaua coyotl, o rei Nezaualpilli, também levado d e- ~orte do próprio filho? O filho mais velho' H a or e_nar a llJ "ai , d ' uexotzmcat- \-.. zm, em as outras graças e dons naturais que o dº . . , ::i . · f'l' f 1stmgu1am ;-:. era um eminente t oso o e poeta. Assim con1po's , .' ~ :r d'· "d ' d ' umasat1- "' .../ ra m~1 a a ª?1ª_de Tula, ~ue era a concubina favorita de i::-. - seu pai. Ela propna era muito hábil na arte da poes· . d · ta, por- ta~to, os 01s_trocaram_ respostas, e o príncipe tornou-se sus- peito d_e corteJar a favorita. O episódio foi levado aos tribunais e _cons1de:ado, se~undo os preceitos da lei, um caso de trai- çao ao rei; a punição ~ar~ ~ai crime era a pena de morte e, embora o pai amasse mfm1tamente o príncipe, foi preciso executar a sentença" .37 ~ Observe-se, de passagem, que esse drama palaciano foi ~~a::;, uma das causas remotas da queOaclo 1mpéno mexicano. De ~~ ~ fato,_tendo ~ herdeiro designado de Nezaualp11li morndo nes- ..., :_r:... -;:: sas c1rcunstanc1as, a sucessao ao t1'mn,de Texcoco foi feroz- ~~~~ mente disputada por vários irmãos consangüíneo~um deles, ~ Jxtl1~a~c_httl1.J:!!1IU·Se~ p..o.r..d-ê_P-~1.9, 3,_QS espanhóis, com seus · parti anos e suas tropas . . A "dama _de Tula", que provocou, não se sabe ao certo , ~e mvol~n_tanamente, a morte trágica de Huexotzincatzin, e O prototipo da favorita de um grão-senhor mexicano. Tão c~lta quan~o b~la - embora fosse apenas filha de um nego- ciante - , nvahzava com o rei e os grandes em conhecimen- tos : em arte poética. Ela vivia com uma espécie de corte particular num palácio construído para si e " mantinha o rei submetido à sua vontade" _38 Mul~eres principais ou secundárias, todas elas, ao que parece, unham muitos filhos, e as famílias poligâmicas che- gavam a ser numerosíssimas. Nezaualpilli tinha cento e qua- 208 renta e quatro filhos, onze dos quais c~m a mul_he~ princi- pal.39 A Crónica Mexicayotl enumera vrnte e dois filhos de Axayacatl, vinte de ~uit~ol,_ ~e~enov~ de ~otecuhzoma. O ciuacoatl Tlacaeleltzm, d1gmtano do 1mpeno sob Motecuh- zoma I, casou-se primeiro com uma m?ça nobre de Ameca- meca, com quem teve cinco filhos; depois, co~ doze mulher~s secundárias, que lhe deram, cada uma, um filho ~u uma f~ - lha _ contudo, acrescenta o texto, "outros mex1can?s di- zem que Tlacaeleltzin, o velho, um ciuacoatl, gerou oitenta e três filhos". 40 . . Evidentemente, apenas os dignitárias e os.ncQS_Rodiam arcar com as des esas ue tais famílias acarretavam. Embo- ~ ra 1m1ta a as c asses s':Periores, a p_9ligamia-contri!?uía ~ara Ll ;i&elerar a evolução demQgráfica e contrabalançar os efeitos das freqüentes guerras. Muitos homens morr!am no campo de batalha ou sacrificados antes de terem pochctô casar-seou de terem engendrado vános hlhos. Naslistas--de-nomes-qcre- certas crorucas fornecem, a menção "morfoem-combate-Gon- tra Uexotzinco", "morto em combate em Kflíxéõ', reapa- rece, sem cessar, como um leitmottv fúnebre. 41 As viúvãs 12odiaro cootmua.r-.sós,..depois..tomau...casar (acontecia que uma esposa se casava com um escravo do marido e dêiê fazia seu 1meQcl!!nte42)_ou tornªrel!.l·Se esposas secundárias de um do~_i.anãos do..fale<údo. 43 · O homem era o chefe inconteste da família, e esta vivia num ambi~te ni_tidam~e p,.atriarcal. O marido devia tra- tar igualmente bem todas as mulheres, mas sucedia que um mau marido fizesse uma delas, em particular a principal, so- frer toda sorte de afrontas. A opinião pública condenava com severidade tal atitude. O soberano de Tlatelolco, Moquiuix- tli, casara-se com uma irmã do imperador mexicano Axaya- catl, a princesa Chalchiuhnenetzin. Ora, esta, além de ter mau hálito, "era magricela, não tinha carne e, por isso, o marido não queria vê-la. Todos os presentes que o irmão Axayacatl mandava para ela, o soberano os dava para as mulheres se- cundárias. A princesa Chalchiuhnenetzin sofria muito: era obrigada a dormir num canto, contra a parede, ao lado do metlatl, e só tinha para se cobrir um manto grosseiro em far- rapos. O rei Moquiuixtli não queria dormir com ela e passa· va as noites unicamente com as concubinas, belíssimas mu- 209 \,(. lheres, pois a nobre Chalchiuhnenetzin não era cheia, mas muito magra, não tinha carnes, e o peito era só ossos. Por- tanto, Moquiuixtli não a amava e a maltratava. Tudo isso acabou por \'ir à tona. O imperador Axayacatl sentiu uma grande cólera, e foi_ assim que começou a guerra [entre Mé- xico e Tlatelolco ]. E por isso que se diz que Tlatelolco pere- ceu por causa das concubinas". 44 Todavia, não se deve representar a mulher mexicana co- mo urna espécie de perpétua menor. No âmbito de uma so- c~ed,1de dominada pelo hom_em, el~ nã? er~, se~n embargo, tao apagada quanto se poderia crer a pnme1ra vista. Na An- tiguidade, mulheres tinham exercido o poder supremo, em T ula, por exemplo4\ e parece inclusive que uma mulher Ilancueitl, se acha na origem dopoder monárquico em Mé~ xico.46 As mulheres, pelo menos no início, transmitiam 0 sangue dinástico: Ilancueitl transplantou para México a li- nhagem tolteca de Colhuacán, o que permitiu que a dinastia asteca reivindicasse a prestigiosa linhagem de Quetzakoat!Y Numa época mais recente, pode-se ver um plebeu da ori- gem mais humilde tornar-se tlatoani de uma província por ter se casado com uma filha do imperador Itzcoatl.48 É bem possível que, com o passar do tempo, o poder masculino te- nha se fortalecido e que se haja tendido a encerrar cada vez mais a mulher entre as quatro paredes da casa. Entretanto, ela conserva~s_ws bens.. podiaJazer.negócio.s, confiando as J.D ec~ad_arias a_v_ende~eumbul.ê_ntes49 ~eu:eLalgumas __ 1 ~ Àr,, prof1ssoes - sacerdot1sª, parteira,surandeira -, em g_ue des- 1(:::;.,v fr_utaya de gra,~de_indep~nd_ên_çia. As auianiníe, que os_cr:.~ lf 1 ~ nistas espanho1s tendem a apresentar como prostitutas, ao mesmo temp~ q_ue pr~isavam que "elas davam o corpo por nada";o, exerciam uma profissão não só rêconhecida, c6mo estima~ : nas _cerimônj~r~igios~s, tinham o lugar reservi"- do ~o lado dos jovens guerreiros de que eram comp.w.fiei:- ras.01 ~erto antagonismo entre os dois sexos transparece em determinados costumes. Às vezes, eram os garotos ou os ra- pazes que atacavam as mulheres na rua a "travesseiradas" - recebendo, de vez em quando, um bom corretivo; - às vezes, eram a~ moças que cobriam de zombarias e injúrias mordazes os Jovens guerreiros indelicados. 210 Durante as festas do mês Ue-y Tozoztli, as moças desfila- vam em cortejo, de rosto pintado, braços e pernas enfeita- dos com plumas, empunhando espigas de milho consagradas, e, se um rapaz se arriscava a dirigir-lhes a palavra, zomba- vam dele, gritando: "Vede só! Um deles tem cabelos com- pridos [isto é, um jovem que ainda não combatera] e fala! Mas será que tu falas mesmo? Seria melhor se fizesses o que é preciso para poder cortar os cachos compridos, cabeludo! Não serás tu uma mulher como eu?" Então, os rapazes ten- tavam salvar a reputação, respondendo com uma grosseria afetada: "Vai cobrir teu ventre de lama! Vai te arrastar na poeira!" Contudo, entre si, os rapazes diziam perplexos: "As palavras das mulheres são sangrentas, cruéis, rasgam o nos- so coração. Vamos embora, oferecer-nos como guerreiros. Quem sabe, meus amigos, obteremos uma recompensa".;2 f As anciãs, que haviam passado da idade de submissão ao marido, não raro viúvas, cercadas de respeito, até autoriza- das, como os anciãos, a tomar de vez em quando algumas taças de octli, gozavam de grande independência. Através dos textos, vêmo-las indo assistir às filhas ou às parentas e devo- tas, assíduas às inúmeras cerimônias, em que representam um papel importante. ,§las não têm 12,êP,as naJíngua~ falam _ _Re=._ ; los coto':loj,. Matronas, casame~~eiras, f :eqüentam as casas ; • em que sao celebradas festas familiares, nao poupam discur- s?s ,e tomam ~ugar à mesa. ~,m país em que..a.,yelhice. p_or ,. s1 so se dava direitos, a.mulheLid.osa..faz.ia..par.te-daqueles cu- _J / ja oeinião er_a solicitada e ouvida, neI1Lque fosse apenas no bai!;.t:_o. Durante a vid~ de esposa e de mãe, entre vinte e cinqüenta anos, podemos dizer, a mexicana tinha muito o que fazer, pelo menos nas classes menos abastadas. As favoritas do so- ~erano podiam cultivar a poesia, mas a plebéia em geral não ficava à toa, com a~ c:ianças, a cozinha, a tecelagem, as inú- meras tarefas domesticas. No campo, ela também participa- va dos trabalhos agrícolas e, na cidade se encarregava da criação das aves. ' É difícil dizer se o adultério era muito difundido. O ri- gor _extremo ~a repressão, a freqüência das referências feitas na lit~ratura a execução dos culpados parecem indicar - co- mo vimos no que concerne a embriaguez - que a sociedade 211 ~I Y: f-1 fl n t fl ) ., _,,, 1 (,, ,a / 1 tinha consciência de um grave perigo e que . 1 , · reagia c . ~ enc1a contra ele. O adultério acarretava a om v10-. ...._ - morte para o d . parceiros - matavam-nos esmagando-lhe 6- s 01s :i - :,-.----- saca eça a d . uas, mas a muiher era antes estrangiilad 53 N _ pe ra- mais altos dignitários escapavam desse cas~go ~7 _mesmo ~s - severa que fosse, exigia, porém que se com. e1, por mais O . 1 , provasse o . me. s1mp es testemunho do marido era con ·d d cn- fi · . s1 era O i n 1c1ente: era preciso que testemunhas imparciais f. su- f . N d 'd con irmasse as a irmaçoes o trai o. E o marido que matava a mui m mesi:no que a surpreendesse em flagrante delito t b , h~r, . 1 ·4 , am em tn carna na pena capita . ' · O exemplo talvez mais célebre e O mais dra , . d , · d hº , . d , . manco a ui ten~ . a IStona o Mex1co antigo também nos é dado el - familia real de T excoco. O rei Nezaualpilli contav p ª d ,. . aentreas esposas secun anas uma filha do imperador astec A 1 E · b a xaya- cat . ssa pnncesa, em ora ainda fosse quase uma · " N • • dº b , . cnança era tao v1c10sa e 1a olica que, vendo-se só em seus apo~ s~ntos e ce_rcada de pessoas que a serviam e respeitavam de- ~1do ao bnlho do seu nome [Ixtlilxochitl diz, aliás, que ela tinha n_ada menos de dois mil servidores], passou a entregar- se a mil excessos. "Ch:go~ a tal pon_to q~e, se via um rapaz elegante e de boa aparenc1a, que sausfaz1a seus gostos e suas inclinações dava em segredo ordens para que ele gozasse de seus favo~ res. Quando saciava seus desejos, mandava matá-lo e escul- pir uma estátua à imagem dele. Enfeitava a estátua com ricas roupas, jóias de ouro e pedrarias, e colocava-a no salão onde costumava ficar. Havia tantas estátuas, que elas preenchiam quase todo o perímetro da sala. "Quando ia vê-la, o rei perguntava o que significavam aquel~s estát~as, e ela respondia que eram seus deuses. Ele acreditava, ciente de como a nação mexicana era religiosa e apegada a suas divindades falsas." . Contudo, um incidente deveria desvendar o segredo da prmcesa asteca. De fato, ela cometeu a imprudência de pre- sentear um de seus amantes - ainda em vida - com uma jóia que o 1:1arido lhe dera. Suspeitoso, Nezaualpilli apare- c~u uma no1t~ na residência da moça. "As matronas e os ser- vidores lhe disseram que ela estava dormindo na esperança de que o rei fosse embora, como das outras v:zes. Mas, des- 212 ·â f . d ele entrou no quarto para despertá-la. Encontrou con 1a o, b " ta'tua deitada na cama com uma peruca na ca eça. uma es . ' . • 1 d a] Enquanto isso, a princesa d1vert1a-se com tres ga antes e - ta linhagem. Os quatro foram cond~nad~s à morte e e~~cutados, bem m o grande número de cumphces do adulteno e dos assas- co 1 'd E . ·natos diante de uma enorme mu t1 ão. sses acontec1men- s1 , l N d' · tos contribuíam para estremecer as re açoes entre a masua de Texcoco e a família imperial de México, que, embora dis- simulasse seu rancor, não perdoou ao rei aliado o castigo in- fligido à princesa asteca. 55 / Fala-se pouco de divórcio no México antigo. O abando- no do domicílio conjugal, seja pela mulher, seja pelo mari- do. constituía uma causa de dissolução do casamento. Os tribunais podiam autorizar um homem a repudiar a mulher, se provasse que ela era estéril ou descuidava de maneira afron- tosa de suas tarefas de dona de casa. Por sua vez, a mulher podia queixar-se do marido e obter um julgamento favorá- vel, se ele fosse acusado, por exemplo, de ter-lhe batido, de não lhe fornecer o que necessitava ou de deixar os filhos ao abandono. Nesse caso, o tribunal lhe confiava a guarda das crianças, e os bens do casamento desfeito eram divididos en- tre os ex-cônjuges. A mulher divorciada era livre para se ca- sar de novo.56 Fosse ou não agitado por vicissitudes, o casamento assi- nalava a entrada do mexicano na companhia dos adultos. "As- sim que [os jovens] se casavam, eram inscritos no registro público com outros casais. . . e, embora o país fosse povoa- díssimo e transbordante de gente, todos eram levados em con-ta. "57 O homem casado tinha direito a uma parcela das terras pertencentes a seu calpull~ às eventuais distribuições de víver~s ou de roupas. Era um cidadão de pleno direito, e a consideração de que desfrutava em seu bairro se media, em g~ande parte, pela dignidade da sua vida em família e pe- lo cmdado que dava à educação dos filhos. . _Sob a aparência do formalismo que cobria as relações fa- m1!tares, não há dúvida de que os mexicanos amassem ter- ~amente ~s filhos. "Nopiltze, nocuzque, noquetzale", "Meu filho quendo, minha jóia, minha pluma preciosa" - é nes- ses termos que um pai se dirige ao filho.58 Quando uma mu- 213 1, 'I 1 11 1 1 ' lher ficava grávida, a notícia dava lugar, em ambas as famíli a grandes demonstrações de alegria e a festejos, para os q/~• 'd d , . d ais eram conv1 a os os parentes e os notave1s o bairro ou d aldeia. ª Depois de um banquete, enquanto os convivas fumava cachimbo, um ancião tomava a palavra em nome do futu; p~i. ~ dirigia-se aos notáveis:, "~arentes e ~enhores, quer~ dmgir-vos algumas palavras rust1cas e grosseiras, pois eis-vos reunidos pela vontade de nosso deus Y oalli Eecatl (' 0 vemo noturno', Tezcatlipoca], que está em todas as partes. Foi ele que vos deu vida até agora, a vós, que sois nossa sombra e nossa proteção, vós, que sois como o pochot4 que dá muita sombra, e o ahuehuet~ que abriga os animais sob seus ramos. Do mesmo modo, vos, senhores, sois os protetores e O sus- tentáculo dos humildes e dos pequenos, que habitam nas mon- tanhas e nas estepes. Vós protegeis os pobres soldados e a gente guerreira, que vos consideram seus bens e seus consola- dores. Sem dúvida, sofreis pesares e preocupações, e nós vos causam~s dor e.:mbaraç~·~· . Ouvi, senhores 9ue estais aqui, todos vos, anc1aos e anc1as, cabeças encanec1das: sabei que nosso deus houve por bem, em sua misericórdia, dar a ,;,;,; [o nome da mulher grávida], casada recentemente, uma pe- dra preciosa, uma rica pluma". O orador entregava-se ainda a longas explanações, recor- dando os antepassados mortos, "que estão repousando nas c~vernas, nas águas, no mundo subterrâneo". Depois, suces- sivamente, tomavam a palavra: um segundo orador em no- me dos parentes; um dos notáveis, que se dirigia particu- larmente à moça, comparando-a a uma peça de jade e à safi- ra e lemb~a~do-lhe que a vida que ela trazia em si provinha do casal d1V1no Ometecuhtli-Omeciuatl; em seguida o pai e a mãe da mulher; e, por fim, esta, que agradecia aos presen- tes e se perguntava se era merecedora da felicidade de ter um filho. Encontramos em suas palavras, sob as fórmulas con- vencionais, aquele quê de incerteza, de angústia diante do futuro que tanta vez ressoa na alma asteca.59 A mulher casada era colocada sob a proteção das deusas da g~ração e da saúde, de T eteo lnnan, a mãe dos deuses, pa- droeira das parteiras, que também era chamada Temazcalte- ci, "a avó do banho de vapor", e de Ayopechtli ou Ayo- 214 h ti divindade feminina menor dos partos. Conhecemos pec ca , . f , 1 , . 0 texto de uma prece, verdadeira ormu a magica, que se can- tava para invocar esta última: "Lá, na morada de Ayopechcatl, a jóia nasceu, uma crian- ça veio ao mundo. Lá na morada de Ayopechcatl, a jóia nasceu, uma criança veio a~ mundo. É lá, na casa dela, que nascem as crianças. Vem, vem aqui, recém-nascido, vem a.qui! Vem, vem aqui, criança-jóia, vem aqu1!"6º Ao menos nas famílias das classes superiores, a moça re- cebia, bem antes do nascimento da criança, cuidados extre- mos. Escolhia-se com grande cerimônia uma parteira, con- tratada pelos velhos paren,tes, para cuidar da futura mãe. As- sim que esta aceitava, não sem antes objetar que não era mais que "uma velha infeliz, tola e sem inteligência", a parteira ia à casa da cliente e acendia o fogo para preparar o banho de vapor. Entrava com a mulher no temazcall~ atentando para que o banho não ficasse quente demais, e apalpava o abdômen da cliente para assegurar-se da posição da criança. Em seguida fazia as recomendações: a mulher devia abster- se de mascar tzictl~ pois isso poderia causar o inchaço do palato e das gengivas da criança, o que a impediria de se ali- mentar; não devia ter acessos de cólera, nem ficar com me- do, e as pessoas da família eram lembradas de que deviam lhe dar tudo o que ela desejasse. Se ela olhasse para objetos vermelhos, a criança nasceria "de través". Se ela saía de noi- te, devia pôr um pouco de cinza na bata ou no cinto, caso contrário corria o risco de ser assustada por fantasmas. Se olhava para o céu durante um eclipse, a criança nasceria com lábio leporino, a menos que a mãe tivesse tomado a precau- ção de usar, sob as roupas, colada à pele, uma faca de obsi- diana. Dizia-se também que, se o pai, saindo de noite, visse um fantasma, a criança teria uma doença cardíaca.61 Em su- ma, durante todo o período que precedia o parto, uma rede de proibições e de preceitos tradicionais encerrava a mãe e o próprio pai, com o intuito, pensava-se, de proteger a criança. O próprio parto era realizado sob a orientação exclusi- va da parteira, que assumia a direção da casa, preparava a 215 \ 1 ,1 1 . 1 1 1 1' 11 :: , comida e os banhos, massageava o ventre da paciente. Se 0 parto demorava, faziam a mulher tomar_ u1!1a tisana de ciua- patli 61 (Montanoa tomentosa}, planta cuia mfusão provoca- va fortes contrações. Se essa medicação não fizesse efeito, recorria-se então ao último meio, uma bebida composta de água em que se dissolvia um fragmento de rabo de tlaquat- zin (gambá). Atribuía-se a essa bebida a propriedade de pro- vocar um parto imediato e até brutal.63 Se os banhos, as massagens, os medicamentos não des- sem resultado, a parteira se trancava num _cômodo com a pa- ciente. Ela invocava as deusas, em particular Ciuacoatl e Quilaztli. Quando percebia que a criança morrera no ven- tre da mãe, armava-se de uma faca de sílex e cortava o feto em pedaços.64 A mulher que morria de parto era associada expressa- mente a um guerreiro morto em combate ou no sacrifício. "Depois da morte, lavavam-lhe todo o corpo, ensaboavam- lhe a cabeça e os cabelos e vestiam-na com as melhores rou- pas que ela tinha. E o marido carregava-a nas costas até o lugar em que iam enterrá-la. Os cabelos da morta eram sol- tos. Todas as parteiras e as anciãs se reuniam para acompa- nhar o corpo; elas iam munidas de escudos e gládios, dando gritos como os dos soldados no momento do ataque. Os jo- '.I vens chamados "telpopochtin" [ trata-se dos alunos dos telpoch- 11 callij iam ao encontro delas e lutavam para roubar-lhes o ; : corpo da mulher ... 1 , 1 ~ 11 "A defunta era enterrada ao pôr-do-sol. .. no pátio do 11 1 1 lJ templo consagrado às deusas chamadas 'mulheres celestes' ou 'ciuapipiltin' ['princesas']. . . e o marido e os amigos guar- davam-na quatro noites seguidas para impedir que alguém roubasse o corpo. Os jovens guerreiros velavam para se apo- derar daquele corpo, pois consideravam-no uma coisa santa ou divina, e se, batendo-se com as parteiras, conseguiam lo- grar seu objetivo, imediatamente e em presença dessas pró- prias mulheres, cortavam-lhe o dedo mediano da mão esquer- da. Se conseguissem roubar o corpo à noite, cortavam-lhe o mesmo dedo e os cabelos e conservavam-nos como relí- quia~. A razão pela qual os guerreiros se esforçavam por con- segu_rr o dedo e os cabelos da defuma era a seguinte: quando partiam para a guerra, colocavam os cabelos ou o dedo em 216 di . ue assim seriam bravos e corajosos ... cudo e z1am q , , f seu es I b l e aquele dedo lhes davam orças e cega- que aque es ca e o~ . . ,b os olhos dos inimigos. _ . ,:;7" vam . . a mulher [morta de parto] nao 1a ara o "Dizia-se ue - . mas ara o pa acio o so e ue o ornava un- in erno, p a sua ravura ... As mulheres mortas na guer- to e s1 evi o d , . , d primeiro pano-;âo chama as moau uet ue -raou urante o · 1 as en re os mortos em uerra. mu eres va en T d - ara iunto O sos1 em na parte oc1 ental do o as vao P 'd d , · l , p · os anciãos chamavam o oc1 ente e ctuat am-ceu. or isso, · d d , a' ['o lado das mulheres'). .. As mulheres, fartm . o o ze- p · f teJ·avam o sol descendo com ele ate o ocidente, e mte, es , . . t e · m no num leito fetto de plumas de quetza . am1-carregava - . nhavam à frente dele, dando gritos de alegria, combatendo, festejando-o. Elas abandona:am-~o n~ lugar em q~e ~.!~l P õe e ali os do mundo mfenor vmham recebe-lo. se ' ' ' " lh l " A sorte reservada no alem a essas mu eres va entes ' pois O equivalente, a cópia, da dos guerreiros mortos em ~~mba~e ou na p~dra_ dos sacrifíci?s·. Eles acompan~am o sol do nascer ao meio-dia; elas, do zemte ao ocaso. Tmham-se tornado deusas, por isso chamavam-nas também de '_'ciuate- teo ': "mulheres divinas". Seu sofrimento e sua morte unham- lhes valido a apoteose. Divindades temíveis do crepúsculo, elas apar~ciam certas noites nas encruzilhadas_ e vi~ii_navam de paralisia os que as encontravam. 66 Elas se 1dent1f icavam ao mesmo tempo com as deusas do oeste, do paraíso ociden- tal Tamoanchán, e com os monstros do fim do mundo. A doença, a velhice As noções e práticas relativas à doença e à medicina en- tre os antigos mexicanos se apresentam como uma mistura inextricável de religião, magia e ciência. De religião, pois considera-se que certas divindades enviam doenças, outras curam-nas; de magia, porque se atribui na maioria das vezes a doença à magia negra de algum feiticeiro, e é por uma ação mágica que se procura curá-la; de ciência, enfim, porque o 217 conhecimento das . o uso da san ria e ropnedades das plantas ou d . teca, em cert~s caso;subanhf?~ proporcionam à ;:d~I?erais, na N , ma 1s1onom · · 1cina as d . ·. o entanto, não há d' 'd d ia curiosamente m d . O1s p · · uv1 a e que d A O er- ' . nme1ros eram dom· . , . os tres aspecto magico O 'd' t, . . mantes, pnnc1palm s, os m . . me ico ,ticitlj, homem o ente o aspecto ais nada um feiticeiro, mas u _u_ m~lher, era antes de e aprovado pela sociedade m fe1t1ce1ro bom, admitid olhados, o bruxo , que condenava o lançador de m o • aus- Entre os índios nah • . ça é atribuída a quatro uacaautuais d~ S1erra de Orizaba, a doen- g d sas: a Introdu N • ra, e um corpo estranh . çao, por magia ne- f · o no orgamsm d d nmentos ou a morte . fl' 'd o o oeme· os so-• d l m 1g1 os ao "t " d , up o animal ou naualli . . o~em O doente, seu malfeitor; a "perda" do 't%:/m mimigo ou ~m feiticeiro mo tempo a alma o so . t,l ter~o que designa ao mes- . , pro v1ta e o sign b 1 o paciente, portanto sua O so . 0 qua nasceu "ares"' em espanhol , " . s~rte ou seu desuno; enfim, os Z~ngolica,_ el~i9atl c~co~;;;:e,' ,::e;ªfeu~~e~~:. 1, d~ ~ie~ra _de ~;e:~~: ~ 1~;::~:;is que erram em torno dos h~:a::~c:~~ . Essa~ noções procedem diretamente das que eram admi- tidas na epoc~ pré-hispânica. A crença de que a doença é pro- v?cada_ ~el~ Introdução m_ágica de um corpo estranho era dif~?~1d1ss1ma: ~ curandeiras eram cham;_idas "tetlacuicuili- ~ue , as que retiram pedras [ do corpo]", "tetlanocuilanque': as que_ extraem vermes dos dentes", "teixocuilanque': "as que reuram vermes dos olhos".68 Embora o "nahualismo" no sentido atual seja, provavel- mente, um fenômeno relativamente recente, englobava-se ou- trora sob o nome de "tona/Li" o "gênio" particular de cada um, sua boa sorte e sua "estrela", no sentido de sorte prede- terminada.69 Quanto aos "ares" nefastos, sua origem era atribuída antigamente a Tlaloc e aos Tlaloque, deuses das montanhas: "Eles [ os índios] imaginavam que certas doen- ças, que parecem ser enfermidades causadas pelo frio, vinham das montanhas, ou que essas montanhas tinham o poder de curá-las. Os acometidos por essas doenças faziam a promes- sa de dar uma festa ou uma oferenda à montanha que ficasse nas proximidades ou pela qual sentissem uma devoção par- 218 . A ueles que se viam perto da morte, afogados nos ucular. q faziam promessas semelhantes. As doenças . s ou no mar, d no i'ndios a fazer tais promessas eram a gota as ue levavam os d q N d és ou de qualquer outra parte o corpo, a pa- maos ou os p , . h . • d membro ou de todo o corpo, o me amemo ral!Sla e um f' d de outra parte do corpo, a atro 1a e um mem-do pescoço ou ' . d . 1 · ·dez geral As vmmas e tais ma es prome-bro ou a ng1 · · · . confeccionar imagens do deus do vento, da deusa da uam h "70 ' a e do deus da e uva . agu A 'buía-se também a Tlaloc as doenças da pele, as úlce- m 1 N 1· . d 1 ra e a hidropisia.7 1 As convu soes e a para ISla as ras, a ep . d e· . ·1 . d · as eram consideradas provementes as mapip1 un, e cnanç N • que já falamos. "Essas d~usas vao Juntas no ar e aparecem ando deseJ· am aos que vivem na terra, e acometem de doen-qu d a1· . d ;,,s os rapazes e as moças, provocan o a par 1S1a e entran o ç ,, 1 " ,, ' no corpo humano. 72 A crença atua . nos ares pertence a mesma tradição, só que despersonalizada. Enfim, outras divindades também podiam causar doen- ças: as que presidiam o amor carnal, Tlazolteotl e suas com- panheiras. Acreditava-se que o homem ou a mulher que se entregavam aos amores ilícitos difundiam à sua volta, como por um malefício permanente, o que se chamava "tlazolmi- quiztli'~ "a morte [causada pelo] amor" e que, assim, os fi. lhos ou os pais eram acometidos de melancolia e de defi- nhamento. Era como uma mácula ao mesmo tempo moral e física, de que só se podia curar pelo banho de vapor, rito de purificação, e com a invocação das Tlazolteteo, deusas do amor e do desejo.73 ....._ O deus da juventude, da música e das flores, Xochipilli, também chamado Macuilxochitl, punia os que não respeita- · nvam as proibições; por exemplo, os homens e as mulheres r9ue ma~t_inham relações sexuais durante os períodos de je- Jum, afligmdo-os com doenças venéreas, hemorróidas e doen~ ças da pele. Xipe Totec era considerado o responsável pelas oftalmias.74 -Se al~1ms de~ses causavam doenças, outros, ou os mes- mo~, podiam cura-las. Os Tlaloque e Xochipilli responden- do as pr 'f' · ' _eces e ª?s sacn 1c1os, eram capazes de tirar as doenças que haviam enviado. O deus do fogo, bem como a deusa Ciua- coatl, protetora dos que tomavam banhos de vapor, ajudava 219 as parturientes.75 Outra deusa, Tzapotlatenán cu ' ceras ou erupções do couro cabeludo . . , rav~ as ui- um d d , cieiros, rouquidão eus menor, e rosto preto, lxtlilton curava . , e ças· "Havia l . . ' as cnan- d · ei:n seu temp o recipientes de cerâmica f h ?s,_ que, continham o que se chamava de sua 'á u~ ec ª: fitlilauhJ. Quando uma criança ficava doente 1!vav preta ao templo de lxtl'l b · • am-na b b ' i ton, a nam uma das jarras, davam-lhe de e er ª agua preta e a criança ficava boa".76 . . Quan~o ~m í?dio ficava doente, a primeira medida con- sistia em distinguir a c:,usa do ~eu mal. Esse diagnóstico não ~ baseava na ob,se~a~ao dos sintomas, mas na adivinhação. ara tanto, o medico JO~ava g:ãos de milho num pedaço de bano, ou num vaso cheio de agua, e tirava suas conclusões ~seando-se na maneira como os grãos caíam, agrupados ou dispersos, ou como flutuavam na água ou, ao contrário iam ao fundo. ' Par~ saber se uma criança doente perdera seu tonall~ a curandeira_ a segurava ac_ima de um recipiente cheio de água ~ olhava a imagem da criança refletida no líquido, enquanto in~ocava a deusa desta: "Tlacuel, tia xihuallauh, nonan chal- c~tuhe, ch'!'~chi~~tl~ ycue, chalchiuhtli ihuipil, xoxouhqui ycue, xoxouh~ut ihuipz~ tztaccihuatl" ("Ouve, vem, minha mãe, pe- dra de iade, tu, que tens uma saia de jade, tu, que tens uma blusa de jade, saia verde, blusa verde, mulher branca"). Ca- so o rosto da criança aparecesse obscurecido no espelho d'água, como que coberto de sombra, isso significava que seu tonalli lhe fora roubado.77 Em outros casos, o ticitl recorria à planta sagrada cha- mada "ololiuhqui"78, cuja semente provocava uma espécie de embriaguez e visões. Às vezes, o médico,o paciente ou uma terceira pessoa absorviam peyotl ou tabaco. Acreditava-se que as alucinações causadas por essas plantas traziam revelações sobre a causa da doença, isto é, sobre a magia que a origina- ra e sobre a identidade do feiticeiro. A denúncia feita por esses oráculos contra um indivíduo era tida como indiscutÍ- vel: daí decorriam rancores e ódios irreparáveis entre as fa- mílias dos doentes e os pretensos feiticeiros.79 Também eram utilizados, enfim, outros procedimentos de diagnóstico: a adivinhação pelas cordinhas, especialidade das mecatlapouhque ("adivinhadeiras pelas cordinhas"80), e 220 " edida do braço", rito em que o curandeiro, tendo unta- a m d' " b d d . d mãos de fumo, "me ta o raço esquer o o paciente o as N d' . s1 com a palma da sua _mao 1re1ta. Uma vez determinadas a natureza e a causa da doença, · ha início o tratamento propriamente dito. Se fosse uma tdm nça enviada por um deus, procurava-se aplacá-la fazendo- oe , d , . lhe oferendas. Nos outros casos, os meto os terapeuucos com- ortavam, numa proporção variável, operações mágicas: in- p 'Nd N" N"d vocações, insuflações, apos1çao as maos, ext~açao e pe- dras vermes, pedaços de papel que se pretendia terem sido , . d . 82 d' N b introduzidos no organismo o paciente , e me 1caçoes a- seadas em conhecimentos positivos: sangrias, banhos, pur- gações, curativos, emplastros, administração de extratos ou de infusões de plantas. O fumo e o incenso vegetal (copalli) desempenhavam um papel importante em todas as práticas. O curandeiro dirigia-se ao fumo, que era esmagado e pilado, chamando-o de "aque- le que foi golpeado nove vezes". Os dedos do curandeiro eram designados pela expressão "os cinco tonalli''B3, e de modo geral a linguagem empregada nessas fórmulas mágicas era bas- tante metafórica e obscura. Eis, por exemplo, como se tratavam as dores de cabeça. O ticitl massageava a cabeça do doente com força e dizia: "Vós, cinco tona/li que olhais todos para o mesmo lado, e vós, deusas Quato, Caxoch, quem é o ser poderoso e vene- rável que destrói nosso maceualli? Sou eu que falo, eu, o sa- cerdote, eu, o senhor dos encantamentos. Nós o encontra- remos à beira da água divina [do mar], nós o jogaremos na água divina". Pronunciando essas palavras, ele apertava entre as mãos as têmporas do doente e soprava-lhe a cabeça. Depois invo- cava a água nestes termos: "Ouve, minha mãe, tu, que tens uma saia de jade. Vem aqui, salva a vida a esse maceuall~ servidor do nosso deus". Dizendo isso, derramava água na cabeça e no rosto do paciente. Se essa medicação não desse resultado e a cabeça inchasse, o curandeiro aplicava fumo misturado com uma raiz chamada "chalalatli". Ao mesmo tempo, pronunciava esse encantamento: 221 I "Eu, o sacerdote, eu, o senhor dos encantamentos [per- gunto], onde se encontra aquele que está destruindo e b r · · d ssa ca- eça enremça a. Vem, tu que foste golpeado nove vezes, es_n~agado nove veze~ ~ o fumo], vamos curar essa cabeça en- feitiçada com ~ med1cma vermelha [a raiz chalalatlrj Cha- 1:10 o vento frio para que ele cure essa cabeça enfeitiçada. O v~~to, eu te pergunto: trazes o remédio para esta cabe enfe1t1çada?"84 ça . Quando um doente sofria do peito, davam-lhe de beber mi_~?.:~ de milho mis~urado com casca de quanenepilli ("mara- CUJa . ~), e o curandeiro apunha-lhe as mãos dizendo: "Vin- de, cinco tonaliz: Eu, o sacerdote, eu, o senhor dos encanta- men~o~, procuro a dor verde, a dor fulva. Onde ela se esconde? MedJCrna encantada, eu te digo, eu, o senhor dos encanta- mentos: quero curar esta carne doente. Tu entrarás nas sete c~~ernas [os pulmões]. Não toques o coração amarelo, me- dicina encantada: expulso daqui a dor verde, a dor fulva. Vin- de, nove ventos, expulsai a dor verde, a dor fulva". 86 !unto com as invocações e gestos mágicos, os médicos mexica?os empregavam uma terapêutica baseada em certo conhecimento do corpo humano (sem dúvida, bastante di- fundida n_um país em que os sacrifícios eram freqüentes) e das propnedades das plantas ou dos minerais. Eles reduziam as fraturas e colocavam talas nos membros quebrados.87 San- gravam habilmente os pacientes com lancetas de obsidiana. 88 Colocavam emplastros emolientes nos abscessos e obsidia- na pilada bem fino nos ferimentos: "Moída como farinha, essa pedra, espalhada nas cicatrizes recentes ou nos ferimen- ros, cura-os rapidamente"89• A farmacopéia mexicana compreendia certos minerais, a carne de alguns animais e, sobretudo, uma vasta quantida- de de plantas. O padre Sahagún chega a garantir as "virtu- des" de certas pedras: "Há também pedras chamadas 'eztetl: 'pedras de sangue', que têm a virtude de deter os sangramentos de nariz", escreve ele. "Eu mesmo experimentei a virtude dessa pedra, pois tenho um pedaço grande como o punho, ou pouco menor, e, neste ano de 1576, durante a epidemia, salvei a vida de muita gente que perdia sangue e vida pelas narinas. Baseava segurá-la na mão e conservá-la alguns ins- 222 ·-..ci ;, a que a hemorragia logo cessasse, e os pacientes sa-cantes par . d dessa doença da qual morreu e ato a morre tanta gente ravam ' , h d f N va Espanha. Há inumeras testemun as esses atos neste na o l 1 •~o burgo de Santiago Tlate o co • " . O mesmo cronista relata que certa pedra chamada qm- d h ")"'b ht ocuitlatl" ("ouro e c uva e oa para os que se as-a11 e b' , sustam com uma trovoada. . . e ,tam em para os que tem Jor interno [febre]. Essa pedra e encontrada nas paragens ca h . . d de ]alapa, Itztepec e Tlatlau qu1tepec, e o~ nativos essas re- giões dizem que, quando começa a troveiar e a chover nas montanhas, essas pedras caem das nuvens, penetram na ter- ra e põem-se a crescer a cada ano, e os índios procuram-nas . .. d "91 cavam a terra e extraem as pe ras . É verdade que eram atribuídas propriedades fantásti cas a Pedras a animais (por exemplo, como vimos, ao rabo de ' b' , gambá), ou a plantas. No entanto, tam e~ e ~erto que os índios, com o correr do tempo e por expenenc1a, souberam acumular uma soma considerável de conhecimentos acerca das plantas de seu país. Desse ponto de vista, se co~parar- mos sua medicina com a que grassava na Europa ocidental na mesma época, podemos nos perguntar se a dos astecas não era a mais científica delas. Sem dúvida, à parte o aparato má- gico de que se cercava o ticitl mexicano, o uso das plantas medicinais pelos astecas era um método mais científico que as prescrições do Diafoirus'} europeu daquela época. Os conquistadores não deixaram de se impressionar com a eficácia de certos medicamentos indígenas. Em 1570, o rei da Espanha, Felipe II, enviou ao México seu médico, Fran- cisco Hernández, que, em sete anos de trabalho exaustivo, com um dispêndio de sessenta mil ducados, enorme para a época, reuniu uma quantidade considerável de informações sobre as plantas medicinais do país e recolheu um magnífico herbário. Infelizmente, ele morreu antes da publicação de sua obra, e uma parte dos manuscritos foi destruída em 1671 no incêndio do Escorial. Apesar disso, amplos extratos de seus trabalhos foram publicados no México e na Itália, pro- porcionando uma idéia da extraordinária riqueza da mate- ,. Os Diafoims, pai e filho, eram dois médicos grotescos, personagens da peç11 O doente imaginário, de Moliere (N. do T.). 223 rza rned· • ica mex1ca d ' cerca de mil d na o seculo XVI: He , e uzentas pi rnandez . Sahagún cansa r antas empregadas na en~rnerara livro às ervas I g a grande pane de seu d ' . terapeutica.92 d e p antas m d. · . ec1rn0 · emonstram ue ' . e 1cma1s, e as pes ui Pnrneiro viam definidd em' ep1:1_vanos casos, os curanc1irsoas rnodernas d d incament s astec h es as plantas qu ·1 · e, com presteza as a- d . ' . e ut1 izava , as prop . d 1 uret1cos, sedat. . , m ~orno purgativos . :1~ a- p d . ivos, ant1term1cos et , vom1ton os o em-se citar b ' l ' c. , sa "Ih o a samo-do-pe . parn a, o iztacpatli (P l . ru, a raiz de jalapa 1 co
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