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Sumário DIREITO CIVIL ..................................................................................................................................................... 6 1.Teoria Geral Dos Contratos (Artigos 421 Ao 480 Do Cc)................................................... 6 Leitura Dos Artigos 421 A 480 Do Código Civil .......................................................................... 6 Princípios Que Regem A Relação Contratual ............................................................................. 13 Dos Vícios Redibitórios ........................................................................................................................ 20 Da Evicção .................................................................................................................................................. 22 Da Responsabilidade Civil Pré-Contratual ................................................................................... 24 Os Contratos Preliminares .................................................................................................................. 25 Formação Dos Contratos ..................................................................................................................... 27 Fase De Negociações Preliminares Ou De Puntuação ........................................................... 28 Fase De Proposta, Policitação Ou Oblação ................................................................................. 28 2.Direito Das Sucessões – Arts. 1.784 Ao 2.027 Do Cc ........................................................ 30 Leitura Dos Arts. 1.784 Ao 2.027 Do Cc ....................................................................................... 30 Conceitos Básicos E O Entendimento Jurisprudencial .. Erro! Indicador não definido. Princípios Do Direito Sucesório ........................................................................................................ 33 Linha Sucessória – Sucessão Legítima ........................................................................................... 36 Da Primeira Classe De Sucessores .................................................................................................. 38 Da Sucessão Pelos Ascendentes ...................................................................................................... 40 Da Sucessão Do Cônjuge Ou Companheiro............................................................................... 41 Da Sucessão Dos Colaterais ............................................................................................................... 41 Da Sucessão Pelo Entre Público ....................................................................................................... 42 Sucessão Testamentária ....................................................................................................................... 45 Do Testamento ........................................................................................................................................ 45 Modalidades Do Testamento Ordinário ....................................................................................... 46 Do Testamento Público ........................................................................................................................ 46 Do Testamento Cerrado ...................................................................................................................... 48 Do Testamento Particular .................................................................................................................... 49 Das Modalidades Especiais Ou Extraordinárias De Testamento ........................................ 50 Dos Testamentos Marítimo E Aeronáutico .................................................................................. 51 Do Testamento Militar .......................................................................................................................... 52 Do Codicilo ................................................................................................................................................ 53 Da Deserdação ......................................................................................................................................... 53 Da Indignidade ........................................................................................................................................ 55 Da Legitimidade Para Demandar A Exclusão Do Herdeiro Ou Legatário...................... 55 Dos Efeitos Da Exclusão Do Indigno .............................................................................................. 56 Da Reabilitação Do Indigno ............................................................................................................... 56 3.Direito Das Coisas (Arts. 196 Ao 1.276 Do Cc) ..................................................................... 57 Diferença Entre Direitos Reais E Direito Das Coisas................................................................ 57 Da Propriedade ........................................................................................................................................ 58 Principais Características Do Direito De Propriedade ............................................................. 60 Formas De Aquisição Da Propriedade Imóvel ........................................................................... 62 Posse ............................................................................................................................................................ 67 Regras Do Condomínio ........................................................................................................................ 69 A Desapropriação Judicial Privada Por Posse-Trabalho (Art. 1.228, §§ 4.º E 5.º, Do Cc/2002) ...................................................................................................................................................... 74 4.Direito Das Obrigações (Arts. 233 Ao 420 Do Cc) .............................................................. 76 Elementos Constitutivos Da Obrigação ........................................................................................ 76 Espécies De Obrigação Quanto Ao Seu Conteúdo ................................................................. 78 Diferenças Entre Solidariedade E Indivisibilidade ..................................................................... 80 Cessão De Crédito E Débito .............................................................................................................. 81 As Regras Do Pagamento Direto ..................................................................................................... 82 Consequências Do Inadimplemento Relativo E Absoluto..................................................... 88 A Cláusula Penal ...................................................................................................................................... 90 Os Juros Legais ........................................................................................................................................ 92 5.Direito De Família ................................................................................................................................. 93 Casamento ................................................................................................................................................. 93 Capacidade Para O Casamento ........................................................................................................ 93 Relativamente Incapazes ..................................................................................................................... 94 Impedimentos ..........................................................................................................................................94 Causas Suspensivas ................................................................................................................................ 95 Incompetência Da Autoridade .......................................................................................................... 97 Casamento Civil ....................................................................................................................................... 97 Casamento Por Moléstia Grave ........................................................................................................ 98 Casamento Por Procuração ................................................................................................................ 99 Possibilidade De Alteração Do Regime De Bens .................................................................... 100 Espécies De Regime De Bens .......................................................................................................... 101 Comunhão Parcial De Bens .............................................................................................................. 101 Comunhão Universal De Bens ......................................................................................................... 102 Separação Obrigatória ........................................................................................................................ 103 Separação Convencional .................................................................................................................... 104 Participação Final Nos Aquestos .................................................................................................... 104 Dissolução Da Sociedade Conjugal .............................................................................................. 105 Divórcio Administrativo Ou Extrajudicial .................................................................................... 105 União Estável .......................................................................................................................................... 105 Do Casamento Entre Pessoas Do Mesmo Sexo ...................................................................... 106 Adoção Entre Pessoas Do Mesmo Sexo ..................................................................................... 107 Dos Alimentos (Lei 5.478/68) .......................................................................................................... 108 Do Procedimento De Averiguação Oficiosa (Lei 8.560/92) ................................................ 112 Da Adoção Após A Morte ................................................................................................................ 114 Da Responsabilidade Civil Em Caso De Abandono Afetivo ............................................... 116 Da Paternidade Socioafetiva ............................................................................................................ 122 Da Alienação Parental ......................................................................................................................... 123 Da Tomada De Decisão Apoiada ................................................................................................... 127 Da Guarda, Tutela E Curatela .......................................................................................................... 130 6.Responsabilidade Civil (Arts. 185 Ao 188 E 927 Ao 954 Do Cc) ............................... 133 Pressupostos Do Dever De Indenizar .......................................................................................... 133 Responsabilidade Civil Subjetiva .................................................................................................... 135 Responsabilidade Civil Objetiva ..................................................................................................... 136 Excludentes De Responsabilidade ................................................................................................. 138 Dano Moral ............................................................................................................................................. 141 Teoria Da Perda De Uma Chance .................................................................................................. 141 DIREITO CIVIL 1.Teoria Geral dos Contratos (artigos 421 ao 480 do CC) LEITURA DOS ARTIGOS 421 A 480 DO CÓDIGO CIVIL Veremos abaixo os principais artigos comentados para você dar início ao estudo da teoria geral dos contratos. Art. 421. A liberdade contratual será exercida nos limites da função social do contrato. (Redação dada pela Lei nº 13.874, de 2019) Flávio Tartuce afirma que a função social do contrato é uma norma geral de ordem pública, através da qual o contrato necessariamente deve ser interpretado de acordo com o contexto do todo social, não devendo trazer desproporções entre as partes e muito menos desembocar em injustiças sociais. Os contratos também não podem extrapolar os interesses metainidividuais ou aqueles que se relacionam com a dignidade humana.1 Parágrafo único. Nas relações contratuais privadas, prevalecerão o princípio da intervenção mínima e a excepcionalidade da revisão contratual. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) A Lei da Liberdade Econômica alterou o art. 421 do Código Civil. Destacamos o parágrafo único, que acrescenta que devem prevalecer a intervenção mínima e que a revisão do contrato por parte do poder público deve ser feita em caráter excepcional. O que demonstra que as 1 TARTUCE, Flávio. MANUAL DE DIREITO CIVIL. 9° Edição. Método, 2019. relações contratuais devem ser construídas e resolvidas entre as partes, buscando garantir a autonomia para contratar de maneira mais ampla. Art. 421-A. Os contratos civis e empresariais presumem-se paritários e simétricos até a presença de elementos concretos que justifiquem o afastamento dessa presunção, ressalvados os regimes jurídicos previstos em leis especiais, garantido também que: (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) I - as partes negociantes poderão estabelecer parâmetros objetivos para a interpretação das cláusulas negociais e de seus pressupostos de revisão ou de resolução; (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) II - a alocação de riscos definida pelas partes deve ser respeitada e observada; e (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) III - a revisão contratual somente ocorrerá de maneira excepcional e limitada. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) Mais um artigo acrescentado pela Lei da Liberdade Econômica, o qual possibilita a criação de regras de interpretação das disposições contratuais. Ao estabelecer parâmetros objetivos para interpretação de cláusulas negociais e pressupostos de revisão, ou resolução, há a óbvia possibilidade de serem reduzidos os problemas das cláusulas que possam ser ambíguas. Além disso, há um claro instrumento para que as disposições negociadas, bem como seus desdobramentos, fiquem protegidas e evidentes na sua forma de aplicação. Ao estabelecer e desenvolver um negócio, as partes possuem ciência dos riscos presentes. Com a inclusão deste inciso, os riscos assumidos serão respeitados, o que pode prevenir alguma intervenção que provoque alguma mudança brusca ou inviabilize a atividade. Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. Os princípios da probidade e da boa-fé estão ligados não só à interpretação dos contratos, mas também ao interesse social de segurança das relações jurídicas, uma vez que as partes têm o dever de agir com honradez e lealdade na conclusão do contrato e na sua execução. RECURSO ESPECIAL. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. VIOLAÇÃO DO ARTIGO 535 DO CÓDIGO DE PROCESSOCIVIL. AUSÊNCIA. DECLARATÓRIOS PROCRASTINATÓRIOS. MULTA. CABIMENTO. CONTRATO. FASE DE TRATATIVAS. VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA BOA-FÉ. DANOS MATERIAIS. SÚMULA Nº 7/STJ. 1. Não há falar em negativa de prestação jurisdicional se o tribunal de origem motiva adequadamente sua decisão, solucionando a controvérsia com a aplicação do direito que entende cabível à hipótese, apenas não no sentido pretendido pela parte. 2. "No caso, não se pode afastar a aplicação da multa do art. 538 do CPC, pois, considerando-se que a pretensão de rediscussão da lide pela via dos embargos declaratórios, sem a demonstração de quaisquer dos vícios de sua norma de regência, é sabidamente inadequada, o que os torna protelatórios, a merecerem a multa prevista no artigo 538, parágrafo único, do CPC' (EDcl no AgRg no Ag 1.115.325/RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, Quarta Turma, DJe 4/11/2011). 3. A responsabilidade pré-contratual não decorre do fato de a tratativa ter sido rompida e o contrato não ter sido concluído, mas do fato de uma das partes ter gerado à outra, além da expectativa legítima de que o contrato seria concluído, efetivo prejuízo material. 4. As instâncias de origem, soberanas na análise das circunstâncias fáticas da causa, reconheceram que houve o consentimento prévio mútuo, a afronta Jurisprudência Selecionada à boa-fé objetiva com o rompimento ilegítimo das tratativas, o prejuízo e a relação de causalidade entre a ruptura das tratativas e o dano sofrido. A desconstituição do acórdão, como pretendido pela recorrente, ensejaria incursão no acervo fático da causa, o que, como consabido, é vedado nesta instância especial (Súmula nº 7/STJ). 5. Recurso especial não provido. Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas que gerem dúvida quanto à sua interpretação, será adotada a mais favorável ao aderente. (Redação dada pela Medida Provisória nº 881, de 2019) (Vide Lei nº 13. 874, de 2019) De acordo com o Código de Defesa do Consumidor (vide Art. 54) “Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.” Porém, esta regra não exclui a possibilidade de a intenção das partes ser aclarada por outros elementos, pois, nos termos do art. 112 do Código Civil, o fundamental é a intenção consubstanciada nas declarações de vontade. Desse modo, por exemplo, a própria prática que os contratantes estabelecerem para cumprimento do contrato revela o intento delas ao contratar. A interpretação mais favorável ao aderente, é, portanto, uma regra subsidiária. Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio. O dispositivo determina a nulidade de cláusula relativa à natureza do negócio e, portanto, pressupõe a validade do negócio. Isto é, embora determine a nulidade de cláusula essencial para o contrato, o dispositivo permite que o contrato produza efeitos típicos validamente. Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código. O dispositivo é dispensável, visto que ao código Civil cumpre regular apenas os negócios jurídicos mais frequentes, complexos e de maior relevância prática, sem prejuízo de toda variedade de negócios que possam ser criados. Art. 426. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva. Regra geral do direito das sucessões a respeito do patrimônio de terceiros, atente-se! Art. 427. A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso. Para obrigar, a vontade deve ser certa. Exemplos de declarações não sérias são as feitas por brincadeiras, por reserva mental conhecida do destinatário, com caráter puramente potestativo, por mera cortesia e as incompletas. Art. 428. Deixa de ser obrigatória a proposta: I - se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita. Considera-se também presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante; II - se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do proponente; III - se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado; IV - se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a retratação do proponente. Atente-se às hipóteses que a proposta perde a força obrigatória para o proponente! Art. 429. A oferta ao público equivale a proposta quando encerra os requisitos essenciais ao contrato, salvo se o contrário resultar das circunstâncias ou dos usos. Parágrafo único. Pode revogar-se a oferta pela mesma via de sua divulgação, desde que ressalvada esta faculdade na oferta realizada. De acordo com os artigos 30 e 35 do Código de Defesa do Consumidor, a oferta ao público ou a pessoa determinada é a feita por meio de anúncios, circulares, catálogos, aparelhos automáticos, exposição em vitrines, entre outros. Ela obriga o proponente se for suficientemente precisa. Art. 430. Se a aceitação, por circunstância imprevista, chegar tarde ao conhecimento do proponente, este comunicá-lo-á imediatamente ao aceitante, sob pena de responder por perdas e danos. Chegar tarde, no caso acima, significa não apenas fora do prazo eventualmente fixado para a resposta, nem apenas a que ultrapassa o prazo suficiente para chegar ao conhecimento do proponente, mas a que, sendo extemporânea, deixa de ser acatada pelo proponente. Isto é, o proponente deve comunicar imediatamente ao aceitante a recusa de se vincular ao contrato por causa da extemporaneidade da chegada da resposta. Art. 431. A aceitação fora do prazo, com adições, restrições, ou modificações, importará nova proposta. Para que haja o encontro de vontades, a proposta deve ser aceita tal como formulada. Qualquer alteração introduzida pelo aceitante extingue a força vinculante da proposta inicial e passa a representar nova proposta que tem de ser aceita integralmente pelo proponente original. Art. 432. Se o negócio for daqueles em que não seja costume a aceitação expressa, ou o proponente a tiver dispensado, reputar-se-á concluído o contrato, não chegando a tempo a recusa. Os contratos devem ser interpretados segundo os usos e costumes. Por exemplo: Se é hábito de um comerciante adquirir produtos de um distribuidor para revenda, de forma continuada, não poderá alegar ausência de aceitação se, após, longo prazo deixar de recusar os produtos que recebeu com base na prática comercial costumeira. Art. 433. Considera-se inexistente a aceitação, se antes dela ou com ela chegar ao proponente a retratação do aceitante. Este dispositivo é uma exceção à regra, pois, uma vez que o aceitante se arrependa e comunique seu arrependimento ao proponente, fazendo chegar a este a retratação simultaneamente ou anteriormente à própria aceitação, o contrato não estará formado. Art. 434. Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida, exceto: I - no caso do artigo antecedente; II - se o proponente se houver comprometido a esperar resposta; III - se ela não chegar no prazo convencionado. O dispositivo cuida de três exceções ao critério da expedição da aceitação. No caso do inciso I, fala-se é o de retratação do aceitante que a faz chegar ao proponente antes ou no mesmo tempo em que este toma conhecimento da aceitação; O contrato não será considerado formado com o envio da aceitação se o proponente tiver condicionado a proposta ao recebimento da aceitação em determinado prazo e isso não acontecer. Se o proponente houver se comprometido a esperar a resposta estará preso a essa condição desde o momento em que envia a proposta, porém, o contrato somente ter-se-á formado quando da expedição da aceitação, como na regra geral. Art. 435. Reputar-se-á celebrado o contrato no lugar em que foi proposto. Regra geral, a celebração do contrato é realizada no local da proposta. PRINCÍPIOS QUE REGEM A RELAÇÃO CONTRATUAL Alguns já foram citados na teoria geral dos contratos, mas é importante que você conheça cada um deles. I. PRINCÍPIO DA AUTONOMIA PRIVADA O princípio da liberdade das partes, ou autonomia da vontade, consiste na máxima da liberdade contratual entre os contratantes, ou seja, o poder que os contratantes têm de estipular livremente, mediante o acordo de vontades, a regulamentação de seus interesses. Para Flávio Tartuce,2 Entre os autores nacionais, quem observa muito bem o significado do princípio da autonomia privada é Francisco Amaral, sendo interessante transcrever as suas palavras: “A autonomia privada é o poder que os particulares têm de regular, pelo exercício de sua própria vontade, as relações que participam, estabelecendo- lhe o conteúdo e a respectiva disciplina jurídica. Sinônimo de autonomia da vontade para grande parte da doutrina contemporânea, com ela, porém não se confunde, existindo entre ambas sensíveis diferenças. A expressão ‘autonomia da vontade’ tem uma conotação subjetiva, psicológica, enquanto a autonomia privada marca o poder da vontade no direito de um modo objetivo, concreto e real”. Não se pode esquecer que o principal campo de atuação do princípio da autonomia privada é o patrimonial, onde se situam os contratos como ponto central do Direito Privado. Esse princípio traz limitações claras, principalmente relacionadas com a formação e reconhecimento da validade dos negócios jurídicos. A eficácia social pode ser apontada como uma dessas limitações, havendo clara relação entre o preceito aqui estudado e o princípio da função social dos contratos. 2 TARTUCE, Flávio. MANUAL DE DIREITO CIVIL. 9° Edição. Método, 2019. Ainda segundo Tartuce, é interessante deixar claro que a função social não elimina totalmente a autonomia privada ou a liberdade contratual, mas apenas atenua ou reduz o alcance desse princípio. Esse é o teor citado do Enunciado n. 23 do CJF/STJ, aprovado na I Jornada de Direito Civil , um dos mais importantes enunciados entre todos os aprovados nas Jornadas de Direito Civil, que merece mais uma vez transcrição:3 “A função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, não elimina o princípio da autonomia contratual, mas atenua ou reduz o alcance desse princípio, quando presentes interesses metaindividuais ou interesse individual relativo à dignidade da pessoa humana”. II. PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DOS CONTRATOS A palavra função social deve ser visualizada com o sentido de finalidade coletiva, sendo efeito do princípio em questão a mitigação ou relativização da força obrigatória das convenções (pacta sunt servanda). Nesse contexto, o contrato não pode ser mais visto como uma bolha, que isola as partes do meio social. Simbolicamente, a função social funciona como uma agulha, que fura a bolha, trazendo uma interpretação social dos pactos. Não se deve mais interpretar os contratos somente de acordo com aquilo que foi assinado pelas partes, mas sim levando-se em conta a realidade social que os circunda. Na realidade, à luz da personalização e constitucionalização do Direito Civil, pode-se afirmar que a real função do contrato não é a segurança jurídica, mas sim atender aos interesses da pessoa humana.4 III. PRINCÍPIO DA FORÇA OBRIGATÓRIA DO CONTRATO (PACTA SUNT SERVANDIA) A força obrigatória constitui exceção à regra geral da socialidade, secundária à função social do contrato, princípio que impera dentro da nova realidade do direito privado contemporâneo. Certo é, portanto, que o princípio da força obrigatória não tem mais encontrado a predominância e a prevalência que exercia no passado. 3 TARTUCE, Flávio. MANUAL DE DIREITO CIVIL. 9° Edição. Método, 2019. 4 TARTUCE, Flávio. MANUAL DE DIREITO CIVIL. 9° Edição. Método, 2019. De acordo com Tartuce, o princípio em questão está, portanto, mitigado ou relativizado, sobretudo pelos princípios sociais da função social do contrato e da boa-fé objetiva. A par de tudo isso, no momento, não há ainda como concordar com o posicionamento no sentido de que o princípio da força obrigatória do contrato foi definitivamente extinto pela codificação emergente. Isso porque, tal conclusão afasta o mínimo de segurança e certeza que se espera do ordenamento jurídico, principalmente a segurança no direito, ícone também importante, como a própria justiça, objetivo maior buscado pelo Direito e pela ciência que o estuda. IV. PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA Tornou-se comum afirmar que a boa-fé objetiva, conceituada como sendo exigência de conduta leal dos contratantes, está relacionada com os deveres anexos ou laterais de conduta, que são ínsitos a qualquer negócio jurídico, não havendo sequer a necessidade de previsão no instrumento negocial. São considerados deveres anexos, entre outros: Dever de cuidado em relação à outra parte negocial; Dever de respeito; Dever de informar a outra parte sobre o conteúdo do negócio; Dever de agir conforme a confiança depositada; Dever de lealdade e probidade; Dever de colaboração ou cooperação; Dever de agir com honestidade; Dever de agir conforme a razoabilidade, a equidade e a boa razão. Segundo os ensinamentos de Tartuce, além da relação com esses deveres anexos, decorrentes de construção doutrinária, o Código Civil de 2002, em três dos seus dispositivos, apresenta três funções importantes da boa-fé objetiva. 1º Função de interpretação (art. 113 do CC) – eis que os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar da sua celebração. Nesse dispositivo, a boa- fé é consagrada como meio auxiliador do aplicador do direito para a interpretação dos negócios, da maneira mais favorável a quem esteja de boa-fé. Essa função de interpretação, repise-se, também parece estar presente no Novo CPC, no seu art. 489, § 3.º, devendo o julgador ser guiado pela boa-fé das partes ao proferir sua decisão. 2º Função de controle (art. 187 do CC) – uma vez que aquele que contraria a boa-fé objetiva comete abuso de direito (“Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes”). Vale mais uma vez lembrar que, segundo o Enunciado n. 37 do CJF/STJ, aprovado na I Jornada de Direito Civil, a responsabilidade civil que decorre do abuso de direito é objetiva, isto é, não depende de culpa, uma vez que o art. 187 do CC adotou o critério objetivo-finalístico. Dessa forma, a quebra ou desrespeito à boa-fé objetiva conduz ao caminho sem volta da responsabilidade independentemente de culpa, seja pelo Enunciado n. 24 ou pelo Enunciado n. 37, ambos da I Jornada de Direito Civil. Não se olvide que o abuso de direito também pode estar configurado em sede de autonomia privada, pela presença de cláusulas abusivas; ou mesmo no âmbito processual. 3.º) Função de integração (art. 422 do CC) – segundo o qual: “Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé”. Relativamente à aplicação da boa-fé em todas as fases negociais, foram aprovados dois enunciados doutrinários pelo Conselho da Justiça Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça. De acordo com o Enunciado n. 25 do CJF/STJ, da I Jornada de Direito Civil, “o art. 422 do Código Civil não inviabiliza aaplicação, pelo julgador, do princípio da boa-fé nas fases pré e pós-contratual”. Nos termos do Enunciado n. 170 da III Jornada, “A boa-fé objetiva deve ser observada pelas partes na fase de negociações preliminares e após a execução do contrato, quando tal exigência decorrer da natureza do contrato”. Apesar de serem parecidos, os enunciados têm conteúdos diversos, pois o primeiro é dirigido ao juiz, ao aplicador da norma no caso concreto, e o segundo é dirigido às partes do negócio jurídico. V. PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE DOS EFEITOS CONTRATUAIS O contrato gera efeitos inter partes, em regra, máxima que representa muito bem o princípio em questão. Contrapõe-se tal regramento, inerente ao direito obrigacional, à eficácia erga omnes dos direitos reais, regidos pelo princípio da publicidade. De qualquer forma, o princípio da relatividade dos efeitos contratuais, consubstanciado na antiga máxima res inter alios, encontra exceções, na própria codificação privada. Em outras palavras, é possível afirmar que o contrato também gera efeitos perante terceiros. Quatro exemplos de exceções podem ser destacados:5 1ª Exceção – A estipulação em favor de terceiro, tratada entre os arts. 436 a 438 do CC – hipótese em que um terceiro, que não é parte do contrato, é beneficiado por seus efeitos, podendo exigir o seu adimplemento. Exemplo típico é o que ocorre no contrato de seguro de vida, em que consta terceiro como beneficiário. Esse contrato é celebrado entre segurado e seguradora, mas os efeitos atingem um terceiro que consta do instrumento, mas que não o assina. Em suma, na estipulação em favor de terceiro, os efeitos são de dentro para fora do contrato, ou seja, exógenos, tornando-se uma clara exceção à relativização contratual. 2ª Exceção – A promessa de fato de terceiro (arts. 439 e 440 do CC) – figura negocial pela qual determinada pessoa promete que uma determinada conduta seja praticada por outrem, sob pena de responsabilização civil. O art. 440 do CC/2002, entretanto, enuncia que se o terceiro pelo qual o contratante se obrigou comprometer-se pessoalmente, estará o outro exonerado de responsabilidade. No caso, a promessa pessoal substitui a promessa feita por um terceiro, havendo uma cessão da posição contratual, pois o próprio terceiro é quem terá a responsabilidade contratual. O exemplo é o de um promotor de eventos que promete um espetáculo de um cantor famoso. Caso o cantor não compareça ao show, no melhor estilo Tim Maia, responderá aquele que fez a promessa perante o outro contratante. Todavia, se o próprio cantor assumiu pessoalmente o compromisso, não haverá mais a referida promessa de terceiro. Os efeitos são de fora para dentro do contrato, ou endógenos, porque a conduta de um estranho ao contrato repercute para dentro deste. Exceção – O contrato com pessoa a declarar ou com cláusula pro amico eligendo (arts. 467 a 471 do CC) – no momento da conclusão do contrato, pode uma das partes reservar-se à faculdade 5 TARTUCE, Flávio. MANUAL DE DIREITO CIVIL. 9° Edição. Método, 2019. de indicar a pessoa que deve adquirir os direitos e assumir as obrigações dele decorrentes (art. 467 do CC). Tal figura é muito comum no contrato preliminar. 3ª Exceção – A tutela externa do crédito ou eficácia externa da função social do contrato (art. 421 do CC) – repisando, veja-se o teor do Enunciado n. 21 do Conselho da Justiça Federal, aprovado na I Jornada de Direito Civil: “A função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, constitui cláusula geral, a impor a revisão do princípio da relatividade dos efeitos do contrato em relação a terceiros, implicando a tutela externa do crédito”. Ainda para ilustrar, além do art. 608 do CC, poderia ser citado entendimento anterior da jurisprudência superior pelo qual a vítima de evento danoso poderia propor ação direta contra a seguradora, mesmo não havendo relação contratual direta entre as partes (STJ, REsp 228840, 3.ª Turma, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, m.v., DJU 04.09.2000, p. 402; e STJ, REsp 397229/MG, 4.ª Turma, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, ac. un., DJU 12.08.2002). Com maior relevo, a seguinte decisão: “A visão preconizada nestes precedentes abraça o princípio constitucional da solidariedade (art. 3.º, I, da CF/1988), em que se assenta o princípio da função social do contrato, este que ganha enorme força com a vigência do novo Código Civil (art. 421). De fato, a interpretação do contrato de seguro dentro desta perspectiva social autoriza e recomenda que a indenização prevista para reparar os danos causados pelo segurado a terceiro seja por este diretamente reclamada da seguradora. Assim, sem se afrontar a liberdade contratual das partes – as quais quiseram estipular uma cobertura para a hipótese de danos a terceiros –, maximiza-se a eficácia social do contrato com a simplificação dos meios jurídicos pelos quais o prejudicado pode haver a reparação que lhe é devida. Cumpre-se o princípio da solidariedade e garante-se a função social do contrato” (REsp 444.716/BA, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 11.05.2004). Todavia, cumpre anotar que a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça acabou por rever esse seu entendimento anterior, passando a concluir que a vítima não pode ingressar com ação apenas e diretamente contra a seguradora do culpado, mas somente contra ambos. Vejamos os principais trechos de um dos acórdãos publicado no seu Informativo n. 490: “Recurso repetitivo. Seguro de responsabilidade civil. Ajuizamento direto exclusivamente contra a seguradora. A Seção firmou o entendimento de que descabe ação do terceiro prejudicado ajuizada, direta e exclusivamente, em face da seguradora do apontado causador do dano, porque, no seguro de responsabilidade civil facultativo, a obrigação da seguradora de ressarcir os danos sofridos por terceiros pressupõe a responsabilidade civil do segurado, a qual, de regra, não poderá ser reconhecida em demanda na qual este não interveio, sob pena de vulneração do devido processo legal e da ampla defesa. Esse posicionamento fundamenta-se no fato de o seguro de responsabilidade civil facultativa ter por finalidade neutralizar a obrigação do segurado em indenizar danos causados a terceiros nos limites dos valores contratados, após a obrigatória verificação da responsabilidade civil do segurado no sinistro. Em outras palavras, a obrigação da seguradora está sujeita à condição suspensiva que não se implementa pelo simples fato de ter ocorrido o sinistro, mas somente pela verificação da eventual obrigação civil do segurado. Isso porque o seguro de responsabilidade civil facultativo não é espécie de estipulação a favor de terceiro alheio ao negócio, ou seja, quem sofre o prejuízo não é beneficiário do negócio, mas sim o causador do dano. Acrescente-se, ainda, que o ajuizamento direto exclusivamente contra a seguradora ofende os princípios do contraditório e da ampla defesa, pois a ré não teria como defender-se dos fatos expostos na inicial, especialmente da descrição do sinistro. (...)” (STJ, REsp 962.230/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 08.02.2012). O entendimento revisado causa estranheza, eis que, presente a solidariedade, a vítima pode escolher contra quem demandar (art. 275 do CC). Ademais, a nova posição acaba representando um retrocesso em relação ao entendimento anterior na perspectiva da função social do contrato. A demonstrar a discordância da doutrina quanto a essa alteração na jurisprudência do STJ, na VI Jornada de Direito Civil, em 2013, foi aprovado o Enunciado n. 544, que admite a ação proposta diretamente contra a seguradora. É a sua redação: “O seguro de responsabilidade civil facultativo garante dois interesses, o do segurado contra os efeitos patrimoniais da imputação de responsabilidade e o da vítima à indenização, ambos destinatáriosda garantia, com pretensão própria e independente contra a seguradora”. Em suma, o debate parece ainda estar em aberto no Brasil. De toda forma, essa discordância da doutrina não convenceu o STJ que, em 2015, editou a Súmula 529, expressando que, “No seguro de responsabilidade civil facultativo, não cabe o ajuizamento de ação pelo terceiro prejudicado direta e exclusivamente em face da seguradora do apontado causador do dano”. DOS VÍCIOS REDIBITÓRIOS Art. 441. A coisa recebida em virtude de contrato comutativo pode ser enjeitada por vícios ou defeitos ocultos, que a tornem imprópria ao uso a que é destinada, ou lhe diminuam o valor. Parágrafo único. É aplicável a disposição deste artigo às doações onerosas. Art. 442. Em vez de rejeitar a coisa, redibindo o contrato ( art. 441 ), pode o adquirente reclamar abatimento no preço. Art. 443. Se o alienante conhecia o vício ou defeito da coisa, restituirá o que recebeu com perdas e danos; se o não conhecia, tão-somente restituirá o valor recebido, mais as despesas do contrato. Art. 444. A responsabilidade do alienante subsiste ainda que a coisa pereça em poder do alienatário, se perecer por vício oculto, já existente ao tempo da tradição. Art. 445. O adquirente decai do direito de obter a redibição ou abatimento no preço no prazo de trinta dias se a coisa for móvel, e de um ano se for imóvel, contado da entrega efetiva; se já estava na posse, o prazo conta-se da alienação, reduzido à metade. § 1º Quando o vício, por sua natureza, só puder ser conhecido mais tarde, o prazo contar-se-á do momento em que dele tiver ciência, até o prazo máximo de cento e oitenta dias, em se tratando de bens móveis; e de um ano, para os imóveis. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm#art441 § 2º Tratando-se de venda de animais, os prazos de garantia por vícios ocultos serão os estabelecidos em lei especial, ou, na falta desta, pelos usos locais, aplicando-se o disposto no parágrafo antecedente se não houver regras disciplinando a matéria. Art. 446. Não correrão os prazos do artigo antecedente na constância de cláusula de garantia; mas o adquirente deve denunciar o defeito ao alienante nos trinta dias seguintes ao seu descobrimento, sob pena de decadência. Vício Redibitório é um vício oculto em uma coisa, que a torna imprestável para sua utilidade ou que cause uma depreciação em seu apreço financeiro. É uma das manifestações do princípio da segurança jurídica, já que o alienante tem que garantir o uso da coisa, para que sua finalidade seja alcançada, ao adquirente. VÍCIO REDIBITÓRIO ERRO O prazo para reclamação no vício redibitório é de 30 dias para bens móveis e um ano para bens imóveis. Enquanto no erro o prazo é de quatro anos. anos; Enquanto no vício redibitório o defeito está na coisa. No erro a coisa é perfeita e o adquirente é quem a adquire por engano; Por fim, o vício redibitório dá ensejo à rescisão ou revisão contratual. Enquanto o erro é passível de anulação do negócio. O adquirente prejudicado pelo vício redibitório pode fazer uso das ações edilícias, nos termos do art. 442 do CC. Anote-se que a expressão “edilícias” tem origem no Direito Romano, pois a questão foi regulamentada pela aediles curules, por volta do século II a.C., “com o objetivo de evitar fraudes praticadas pelos vendedores no mercado romano. Ressaltemos que os vendedores eram, em geral, estrangeiros (peregrinos) que tinham por hábito dissimular muito bem os defeitos da coisa que vendiam”.64 Assim, poderá o adquirente, por meio dessas ações: DA EVICÇÃO Art. 447. Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção. Subsiste esta garantia ainda que a aquisição se tenha realizado em hasta pública. Art. 448. Podem as partes, por cláusula expressa, reforçar, diminuir ou excluir a responsabilidade pela evicção. Art. 449. Não obstante a cláusula que exclui a garantia contra a evicção, se esta se der, tem direito o evicto a receber o preço que pagou pela coisa evicta, se não soube do risco da evicção, ou, dele informado, não o assumiu. 1. Pleitear abatimento proporcional no preço, por meio de ação quanti minoris ou ação estimatória. Requerer a resolução do contrato (devolvendo a coisa e recebendo de volta a quantia em dinheiro que desembolsou), sem prejuízo de perdas e danos, por meio de ação redibitória. Para pleitear as perdas e danos, deverá comprovar a má-fé do alienante, ou seja, que o mesmo tinha conhecimento dos vícios redibitórios (art. 443 do CC). Todavia, a ação redibitória, com a devolução do valor pago e o ressarcimento das despesas contratuais, cabe mesmo se o alienante não tinha conhecimento do vício. Art. 450. Salvo estipulação em contrário, tem direito o evicto, além da restituição integral do preço ou das quantias que pagou: I - à indenização dos frutos que tiver sido obrigado a restituir; II - à indenização pelas despesas dos contratos e pelos prejuízos que diretamente resultarem da evicção; III - às custas judiciais e aos honorários do advogado por ele constituído. Parágrafo único. O preço, seja a evicção total ou parcial, será o do valor da coisa, na época em que se evenceu, e proporcional ao desfalque sofrido, no caso de evicção parcial. Art. 451. Subsiste para o alienante esta obrigação, ainda que a coisa alienada esteja deteriorada, exceto havendo dolo do adquirente. Art. 452. Se o adquirente tiver auferido vantagens das deteriorações, e não tiver sido condenado a indenizá-las, o valor das vantagens será deduzido da quantia que lhe houver de dar o alienante. Art. 453. As benfeitorias necessárias ou úteis, não abonadas ao que sofreu a evicção, serão pagas pelo alienante. Art. 454. Se as benfeitorias abonadas ao que sofreu a evicção tiverem sido feitas pelo alienante, o valor delas será levado em conta na restituição devida. Art. 455. Se parcial, mas considerável, for a evicção, poderá o evicto optar entre a rescisão do contrato e a restituição da parte do preço correspondente ao desfalque sofrido. Se não for considerável, caberá somente direito a indenização. Art. 457. Não pode o adquirente demandar pela evicção, se sabia que a coisa era alheia ou litigiosa. Tendo em vista as regras constantes da codificação privada material e a interpretação doutrinária e jurisprudencial que vem sendo dada à categoria, a evicção pode ser conceituada como sendo a perda da coisa diante de uma decisão judicial ou de um ato administrativo que a atribui a um terceiro. Quanto aos efeitos da perda, a evicção pode ser total ou parcial (arts. 447 a 457 do CC). De toda a sorte, é interessante deixar claro que o conceito clássico de evicção é que ela decorre de uma sentença judicial. Entretanto, o Superior Tribunal de Justiça tem entendido que a evicção pode estar presente em casos de apreensão administrativa, não decorrendo necessariamente de uma decisão judicial (nesse sentido: STJ, REsp 259.726/RJ, 4.ª Turma, Rel. Min. Jorge Scartezzini, Data da decisão: 03.08.2004, DJ 27.09.2004, p. 361).6 DA RESPONSABILIDADE CIVIL PRÉ-CONTRATUAL Responsabilidade pré-contratual ocorre no momento anterior à formação do contrato, no momento das negociações para a efetivação deste, capaz de gerar direitos e obrigações provenientes do princípio da boa-fé objetiva. Apresenta os seguintes requisitos: o Consentimento às negociações; o Confiança da seriedade das tratativas; o Dano patrimonial; o Relação de causalidade e inobservância ao princípio da boa-fé, vez que a obrigação não se esgota ou limita à obrigação principal, mas, ao mesmo tempo, impõe o respeito aos deveres anexos ou secundários. Assim posto, aquele que consente a outra parte a efetuar despesas e trabalhos acerca das negociações, tem responsabilidade pelo seu rompimento arbitrário ou imprudente,pois gerou confiança na outra parte em relação à efetivação do contrato. Não pode, assim, o indivíduo incorrer em prejuízo por uma atitude arbitrária ou imprudente da outra parte. 6 TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. Editora Método: 2018. Da mesma forma, a parte prejudicada deve demonstrar a legítima confiança da seriedade das tratativas. O indivíduo necessita provar a sua convicção de que o contrato seria realizado. Por fim, deve existir um dano efetivo, pois sem ele não haverá responsabilidade e muito menos o consequente dever de indenizar. OS CONTRATOS PRELIMINARES Os contratos preliminares estão dispostos nos artigos 462 ao 466 da Código Civil, vejamos: Art. 462. O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os requisitos essenciais ao contrato a ser celebrado. O dispositivo exige que o contrato preliminar deve atender aos requisitos necessários ao contrato (que será definitivo). Estes requisitos são: 1. Partes; 2. Objeto; 3. Prazo; 4. Forma. Nesta esteira de raciocínio o artigo seguinte, 463 do mesmo diploma, a norma dispõe da seguinte maneira: Art. 463. Concluído o contrato preliminar, com observância do disposto no artigo antecedente, e desde que dele não conste cláusula de arrependimento, qualquer das partes terá o direito de exigir a celebração do definitivo, assinando prazo à outra para que o efetive. Sem o estabelecimento destes requisitos no pré-contrato, o mesmo torna-se inválido. Se o pré-contrato preencher os requisitos mínimos exigíveis legalmente, de todo modo ele é válido. Parágrafo único. O contrato preliminar deverá ser levado ao registro competente. Como o pré-contrato tem por escopo a realização de um outro contrato, fica a critério das partes a necessidade de convenção de cláusula de arrependimento. Ela inexistindo, garante a qualquer das partes envolvidas a possibilidade de exigir, mediante notificação à outra, prazo para que o contrato definitivo seja realizado, possibilitando o pedido por perdas e danos, caso não realizado no tempo acordado. O parágrafo único, ressalta a necessidade de ser levado o contrato preliminar ao registro competente para ser validado publicamente perante terceiros. O artigo 464 do referido Código, preconiza a possibilidade do juiz, quando esgotado o prazo, e a pedido da parte, conferir definitividade ao contrato preliminar. Art. 464. Esgotado o prazo, poderá o juiz, a pedido do interessado, suprir a vontade da parte inadimplente, conferindo caráter definitivo ao contrato preliminar, salvo se a isto se opuser a natureza da obrigação. Percebe-se que o que a norma deseja é o cumprimento da obrigação pactuada em sede preliminar contratual. Art. 465. Se o estipulante não der execução ao contrato preliminar, poderá a outra parte considerá-lo desfeito, e pedir perdas e danos. Isto posto, se o contrato preliminar preenche todos os requisitos pautados em Lei, e ainda foi levado a registro, ele passa a gerar direitos e obrigações, caso que, o seu descumprimento gera a parte lesada o direito as perdas e danos. E por fim, resta a análise do artigo 466 da Lei em comento estabelece: A cláusula de arrependimento pactuada entre as partes no contrato preliminar, impossibilitou a reclamação por danos morais e materiais à outra parte. Art. 466. Se a promessa de contrato for unilateral, o credor, sob pena de ficar a mesma sem efeito, deverá manifestar-se no prazo nela previsto, ou, inexistindo este, no que lhe for razoavelmente assinado pelo devedor. O dispositivo cuida do negócio unilateral que obriga o promitente a realizar contrato, denominado promessa unilateral ou opção. Na promessa de compra (opção de venda) uma das partes obriga-se a comprar algum bem nas condições que prevê (opção de compra)e a outra obriga-se a vender um determinado bem. O descumprimento da promessa unilateral obriga a parte inadimplente a indenizar em perdas e danos, ou realizar a obrigação específica. FORMAÇÃO DOS CONTRATOS De acordo com Flávio Tartuce,7 o contrato nasce da conjunção de duas ou mais vontades coincidentes, sem prejuízo de outros elementos, o que consubstancia aquilo que se denomina autonomia privada. Sem o mútuo consenso, sem a alteridade, não há contrato. Desse modo, reunindo o que há de melhor na doutrina, é possível identificar quatro fases na formação do contrato civil: o Fase de negociações preliminares ou de pontuação; o Fase de proposta; o policitação ou oblação; o Fase de contrato preliminar; o Fase de contrato definitivo ou de conclusão do contrato. 7 TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. Editora Método: 2018. FASE DE NEGOCIAÇÕES PRELIMINARES OU DE PUNTUAÇÃO Essa é a fase em que ocorrem debates prévios, entendimentos, tratativas ou conversações sobre o contrato preliminar ou definitivo. Cumpre assinalar que a expressão puntuação foi difundida, na doutrina clássica, por Darcy Bessone, estando relacionada a acordos parciais na fase pré-contratual. A origem está no francês pourparlers e no italiano puntuazione (antecontrato, declaração). Essa fase não está prevista no Código Civil de 2002, sendo anterior à formalização da proposta, podendo ser também denominada fase de proposta não formalizada, estando presente, por exemplo, quando houver uma carta de intenções assinada pelas partes, em que elas apenas manifestam a sua vontade de celebrar um contrato no futuro. FASE DE PROPOSTA, POLICITAÇÃO OU OBLAÇÃO A fase de proposta, denominada fase de oferta formalizada, policitação ou oblação, constitui a manifestação da vontade de contratar, por uma das partes, que solicita a concordância da outra. Trata-se de uma declaração unilateral de vontade receptícia, ou seja, que só produz efeitos ao ser recebida pela outra parte. Conforme o art. 427 do CC, a proposta vincula o proponente, gerando o dever de celebrar o contrato definitivo sob pena de responsabilização pelas perdas e danos que o caso concreto demonstrar. Esse caráter receptício é mantido se a promessa for direcionada ao público, conforme enuncia o art. 429 do CC, hipótese em que o oblato é determinável, não determinado. Também nessa hipótese, a proposta vincula aquele que a formulou quando encerrar os requisitos essenciais do contrato, salvo se o contrário resultar das circunstâncias ou dos usos. Em complemento, é possível revogar a oferta ao público, pela mesma via da divulgação, desde que ressalvada esta faculdade na oferta realizada, isto é, desde que respeitado o dever de informar a outra parte (art. 429, parágrafo único, do CC). Como exemplo de hipótese de oferta ao público, cite-se a comum e contemporânea oferta de venda feita pela internet. São partes da proposta: o Policitante, proponente ou solicitante – aquele que formula a proposta, estando a ela vinculado, em regra. o Policitado, oblato ou solicitado – aquele que recebe a proposta e, se a acatar, torna-se aceitante, o que gera o aperfeiçoamento do contrato (choque ou encontro de vontades). O oblato poderá formular uma contraproposta, situação em que os papéis se invertem: o proponente passa a ser oblato e vice-versa. Sobre a manifestação da vontade na proposta e na aceitação, o Código Civil exige que esteja revestida pelas seguintes características: o Proposta (ou oferta, policitação ou oblação) – Deve ser séria, clara, precisa e definitiva – art. 427. o Aceitação – Deve ser pura e simples – art. 431. O art. 428 do CC/2002 desrespeito às hipóteses em que a proposta deixa de ser obrigatória. Vejamos: o Deixa de ser obrigatória a proposta, se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita (art. 428, I). Esse mesmo dispositivo enuncia que deve ser considerada entre presentes a proposta feita portelefone ou outro meio semelhante, podendo nesse dispositivo se enquadrar o contrato eletrônico celebrado entre presentes (v.g., por videoconferência digital ou pelo Skype). A categoria jurídica em questão é denominada pela doutrina como contrato com declaração consecutiva. o Não será obrigatória a proposta se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do proponente (art. 428, II, do CC). Trata-se do contrato com declarações intervaladas. O tempo suficiente é um conceito legal indeterminado denominado como prazo moral, deve ser analisado caso a caso pelo juiz, de acordo com a boa-fé, os usos e costumes do local e das partes (art. 113 do CC). o Não será obrigatória a proposta se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado pelo proponente (art. 428, III, do CC). o Por fim, não obriga a proposta, se antes dela ou juntamente com ela, chegar ao conhecimento da outra parte – o oblato – a retratação do proponente (art. 428, IV, do CC). 2.Direito Das Sucessões – arts. 1.784 ao 2.027 do CC LEITURA DOS ARTS. 1.784 AO 2.027 DO CC Inicialmente, cabe ao aluno a leitura dos arts. 1.784 ao 2.027 do Código Civil para que conheça fielmente a letra de lei, e consiga entender os rumos do assunto. INTRODUÇÃO O evento morte marca o fim da personalidade jurídica da pessoa natural. Devemos lembrar, contudo, que os direitos da personalidade (tais como o respeito à honra e à imagem da pessoa humana) podem ser projetados para além da vida física do indivíduo – em razão do efeito post mortem dos direitos da personalidade. Entretanto, em relação aos bens de titularidade do indivíduo, após a sua morte, o seu patrimônio é transferido de imediato para os seus sucessores, independentemente de qualquer formalidade, como a abertura do testamento ou a instauração do procedimento de inventário. Tal ficção jurídica ocorre pelo denominado Droit de Saisine. O Direito Sucessório está diretamente ligado ao direito de propriedade, possuindo o direto à sucessão aberta, status de norma constitucional fundamental, previsto no Art. 5º, XXX e XXXI, da Constituição Federal de 1988 (CF/88): Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] XXX - é garantido o direito de herança; XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do "de cujus". (CF, 1988.) Observe estes julgados recentes: No CC/1916, o cônjuge viúvo que casasse de novo ou constituísse união estável perdia o direito real de habitação; no CC/2002, não mais existe essa causa de extinção Ementa Oficial Busque estar por dentro do entendimento jurisprudencial, esteja atento às novidades legislativas, aprenda a ler jurisprudências e entendê-las! DIREITO DAS SUCESSÕES. RECURSO ESPECIAL. SUCESSÃO ABERTA NA VIGÊNCIA DO CÓDIGO CIVIL DE 1916. CÔNJUGE SOBREVIVENTE. DIREITO REAL DE HABITAÇÃO. ART. 1.611, § 2º, DO CÓDIGO CIVIL DE 1916. EXTINÇÃO. CONSTITUIÇÃO DE NOVA ENTIDADE FAMILIAR. UNIÃO ESTÁVEL. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. O recurso especial debate a possibilidade de equiparação da união estável ao casamento, para fins de extinção do direito real de habitação assegurado ao cônjuge supérstite. 2. Em sucessões abertas na vigência do Código Civil de 1916, o cônjuge sobrevivente tem direito real de habitação enquanto permanecer viúvo. 3. A atribuição do direto real de habitação consiste em garantia do direito de moradia por meio da limitação do direito de propriedade de terceiros, uma vez que herdeiros e legatários adquirem o patrimônio do acervo hereditário desde a abertura da sucessão, por força do princípio da saisine. 4. Conquanto o marco para extinção fizesse referência ao estado civil, o qual somente se alteraria pela contração de novas núpcias, não se pode perder de vista que apenas o casamento era instituição admitida para a constituição de novas famílias. 5. Após a introdução da união estável no sistema jurídico nacional, especialmente com o reconhecimento da família informal pelo constituinte originário, o direito e a jurisprudência paulatinamente asseguram a equiparação dos institutos quanto aos efeitos jurídicos, especialmente no âmbito sucessório, o que deve ser observado também para os fins de extinção do direito real de habitação. 6. Tendo em vista a novidade do debate nesta Corte Superior, bem como a existência de um provimento jurisdicional que favorecia o recorrido e o induzia a acreditar na legitimidade do direito real de habitação exercido até o presente julgamento, deve o aluguel ser fixado com efeitos prospectivos em relação à apreciação deste recurso especial. 7. Recurso especial provido. (REsp 1617636/DF, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 27/08/2019, DJe 03/09/2019) O indivíduo que recebeu um imóvel gravado com cláusula de inalienabilidade pode transferir esse imóvel por meio de testamento, considerando que a cláusula de inalienabilidade vitalícia dura apenas enquanto o beneficiário estiver vivo. Ementa Oficial RECURSO ESPECIAL. CIVIL. AÇÃO ANULATÓRIA DE TESTAMENTO. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA. CLÁUSULA DE INALIENABILIDADE, INCOMUNICABILIDADE E IMPENHORABILIDADE. VIGÊNCIA DA RESTRIÇÃO. VIDA DO BENEFICIÁRIO. ATO DE DISPOSIÇÃO DE ÚLTIMA VONTADE. VALIDADE. RECURSO PROVIDO. 1. Inexiste afronta ao art. 535 do CPC/1973 quando a Corte local pronuncia, de forma clara e suficiente, sobre as questões deduzidas nos autos, manifestando- se sobre todos os argumentos que, em tese, poderiam infirmar a conclusão adotada pelo Juízo. 2. Conforme a doutrina e a jurisprudência do STJ, a cláusula de inalienabilidade vitalícia tem duração limitada à vida do beneficiário - herdeiro, legatário ou donatário -, não se admitindo o gravame perpétuo, transmitido sucessivamente por direito hereditário. 3. Assim, as cláusulas de inalienabilidade, incomunicabilidade e impenhorabilidade não tornam nulo o testamento que dispõe sobre transmissão causa mortis de bem gravado, haja vista que o ato de disposição somente produz efeitos após a morte do testador, quando então ocorrerá a transmissão da propriedade. 4. Recurso especial provido para julgar improcedente a ação de nulidade de testamento. (REsp 1641549/RJ, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em 13/08/2019, DJe 20/08/2019) PRINCÍPIOS DO DIREITO SUCESÓRIO Princípio da Saisine ou Droit de Saisine Vejamos o conceito e a origem deste princípio, segundo os ensinamentos de Tartuce (2019): “Nas duas formas da sucessão, o regramento fundamental consta do Art. 1.784 do CC, pelo qual aberta a sucessão – o que ocorre com a morte da pessoa –, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários. Trata-se da consagração da máxima droit de saisine. A expressão, segundo Jones Figueirêdo Alves e Mário Luiz Delgado, tem origem na expressão gaulesa le mort saisit le vif, pela qual com a morte, a herança transmite-se imediatamente aos sucessores, independentemente de qualquer ato dos herdeiros. O ato de aceitação da herança, conforme veremos posteriormente, tem natureza confirmatória.” Portanto, a base legal deste instituto está no Art. 1.784 do CC/2002, que assim inaugura o Livro V do Código Civil de 2002, que trata do Direito Sucessório: “Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários”. Princípio da Territorialidade Pelo Princípio da Territorialidade, e nos exatos termos do Art. 1.785 do CC/2002, “a sucessão abre-se no lugar do último domicílio do falecido”. Tal princípio possui extrema relevância, principalmente no campo do Direito Processual, pois, em razão desse princípio, por exemplo, pode- se saber qual será o foro competente para a distribuição da ação de inventário e partilha, de arrolamento de bens ou, ainda, do pedido de alvará judicial, medidas que serão analisadas ainda no módulo de Direito Sucessório. Art. 10. A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens. § 1º A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus. § 2º A lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a capacidade para suceder. (BRASIL, 1942.) Princípio Non ultra vires hereditatis Você se pergunta se os sucessores do autor da herança (de cujus) responderão pelas dívidas deixadas pelo falecido? Este princípio estabelece que o herdeiro não responderá por débitos que ultrapassem o patrimônio da herança. Ou seja, o sucessor, não aceitando a herança por ter percebido que o patrimônio deixado é superado pelas dívidas do monte, não será economicamente penalizado, conforme disposto no Art. 1.792 do CC/2002: Art. 1.792. O herdeiro não responde por encargos superiores às forças da herança; incumbe-lhe, porém, a prova do excesso, salvo se houver inventário que a escuse, demonstrando o valor dos bens herdados. (CC, 2002.) Princípio da Temporariedade Com base na análise do Art. 1.787 do CC/2002, que assim dispõe: “Regula a sucessão e a legitimação para suceder a lei vigente ao tempo da abertura daquela”, podemos extrair o Princípio da Temporariedade da Sucessão. Portanto, a lei aplicável à sucessão será a vigente no momento da abertura da sucessão, ou seja, no momento da morte do autor da herança (Droit de Saisine). Princípio do Respeito à Vontade Manifestada Pelo referido princípio, a vontade do titular originário do patrimônio (de cujus) deverá ser respeitada sempre que tiver sido manifestada, desde que dentro dos limites impostos pela lei. LINHA SUCESSÓRIA – SUCESSÃO LEGÍTIMA Primeiramente, cabe ressaltar que a sucessão legítima se refere ao conjunto de normas disciplinadoras da sucessão patrimonial causa mortis. Sobre as considerações iniciais acerca deste tema, prelecionam Gagliano e Pamplona Filho:8 “A denominada “Sucessão Legítima” traduz o conjunto de regras que disciplina a transferência patrimonial post mortem, sem a incidência de um testamento válido.” Nos termos do Código Civil, “morrendo a pessoa sem testamento, transmite a herança aos herdeiros legítimos; o mesmo ocorrerá quanto aos bens que não forem compreendidos no testamento; e subsiste a sucessão legítima se o testamento caducar, ou for julgado nulo”.9 8 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil: contratos. Volume 4. TOMOS I e II. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. 9 Art. 1.788 do CC. Se as regras da Sucessão Legítima existem para a preservação da parte indisponível da herança — prestigiando-se alguns dos herdeiros —, não se pode negar que o estabelecimento de uma ordem de vocação hereditária tem por finalidade, também, permitir a transmissibilidade do patrimônio do falecido, especialmente para os casos em que ele não manifestou, de forma prévia, a sua vontade sobre o sentido do direcionamento daqueles bens. Por isso, a própria lei cuida de imprimir destinação ao patrimônio, segundo uma suposta vontade presumível do autor da herança.10 Nos exatos termos do Art. 1.829 do atual Código Civil (CC/2002), a sucessão legítima defere- se na seguinte ordem: Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares; II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge; III - ao cônjuge sobrevivente; IV - aos colaterais. 10 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil: contratos. Volume 4. TOMOS I e II. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. Nesse contexto, é muito importante frisarmos que é característica básica do sistema a regra segundo a qual o sucessor mais próximo exclui o mais remoto. Da primeira classe de sucessores Como vimos pela leitura do inciso I do dispositivo anterior, os descendentes estão na primeira classe de sucessores legítimos. Há, contudo, uma questão importante a ser enfrentada: o cônjuge sobrevivente, a depender do regime de bens adotado no casamento, herdará em concorrência com os descendentes. Falecido o autor da herança, esta será deferida ao(s) seu(s) descendente(s), primeira classe sucessória, respeitada a regra segundo a qual o parente mais próximo exclui o mais remoto. A questão, porém, não é mais tão simples, pois é preciso verificar se haverá a concorrência do(a) cônjuge em relação ao descendente, nos termos do referido inciso I do art. 1.829.11 Nos termos desse dispositivo legal, havendo cônjuge sobrevivente (viúva ou viúvo), este NÃO terá direito de concorrer com o descendente, se o regime de bens adotado foi de: 11 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil: contratos. Volume 4. TOMOS I e II. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. COMUNHÃO UNIVERSAL SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA COMUNHÃO PARCIAL SE O AUTOR DA HERANÇA NÃO DEIXOU BENS PARTICULARES Por outro lado, haverá, SIM, direito de concorrer com o descendente, se o regime de bens adotado foi de: Como visto, o cônjuge sobrevivente, na parte do patrimônio em que for meeiro do autor da herança, não concorrerá como herdeiro com os descendentes do de cujus, na hipótese do inciso I do Art. 1.829. Todavia, quando adotado determinado regime de bens em que há um patrimônio que se submente à meação e outro patrimônio particular de cada cônjuge (como, por exemplo, ocorre no regime da comunhão parcial de bens), será o sobrevivente meeiro da parte comum (bens adquiridos na constância do casamento, por exemplo) e será herdeiro necessário sobre PARTICIPAÇÃO FINAL NOS AQUESTOS SEPARAÇÃO CONVENCIONAL COMUNHÃO PARCIAL, SE O AUTOR DA HERANÇA DEIXOU BENS PARTICULARES ATENÇÃO! a parte da qual não possui a meação (bens adquiridos antes do casamento, por exemplo), concorrendo apenas sobre essa parte com os demais descendentes do falecido. Inciso I do Art. 1.829 do CC/2002: Majoritariamente, no que se refere ao regime da comunhão parcial de bens, da separação convencional de bens ou da participação final nos aquestos, há o entendimento de que o cônjuge, além de meeiro, será também herdeiro necessário em concorrência com os descendentes do falecido, apenas se o de cujus deixou bens particulares, restringindo a concorrência apenas a tais bens (particulares). Nesse sentido, assim expressa o enunciado 27 da II Jornada de Direito Civil do CJF: O art. 1.829, inc. I, só assegura ao cônjuge sobrevivente o direito de concorrência com os descendentes do autor da herança quando casados no regime da separação convencional de bens ou, se casados nos regimes da comunhão parcial ou participação final nos aquestos, o falecido possuíssebens particulares, hipóteses em que a concorrência se restringe a tais bens, devendo os bens comuns (meação) ser partilhados exclusivamente entre os descendentes. Da sucessão pelos ascendentes Não havendo herdeiros na primeira classe (descendentes), serão chamados à sucessão os que se encontram na SEGUNDA CLASSE, composta pelos ascendentes, em concorrência com o cônjuge. Ou seja, na sucessão pelos ascendentes, o cônjuge será herdeiro necessário, independentemente do regime de bens adotado no casamento, conforme disposto no inciso II do Art. 1.829 do CC/2002. No mesmo sentido expressa o enunciado 609, aprovado na VII Jornada de Direito Civil do CJF: “O regime de bens no casamento somente interfere na concorrência sucessória do cônjuge com descendentes do falecido”. Da sucessão do cônjuge ou companheiro Sobre a sucessão do cônjuge e do companheiro, esclarece Tartuce: "Faltando descendentes e ascendentes, será deferida a sucessão por inteiro e isoladamente ao cônjuge sobrevivente, que está na terceira classe de herdeiros (arts. 1.829, III, e 1.838 do CC). Como se pode notar, tal direito é reconhecido ao cônjuge independentemente do regime de bens adotado no casamento com o falecido. Com as recentes decisões do STF, publicadas no seu Informativo n. 864, deve-se incluir o convivente em todas essas regras, inclusive se houver uma relação homoafetiva."12 Assim, se o de cujus não deixou descendentes ou ascendentes, herdará o cônjuge e também o companheiro, independentemente do regime de bens adotado no casamento. Outra regra importante está prevista no Art. 1.830 do CC/2002: "Somente é reconhecido direito sucessório ao cônjuge sobrevivente se, ao tempo da morte do outro, não estavam separados judicialmente, nem separados de fato há mais de dois anos, salvo prova, neste caso, de que essa convivência se tornara impossível sem culpa do sobrevivente.”13 Da sucessão dos colaterais São colaterais, nos termos do Artigo 1.592 do CC/2002, aquelas pessoas provenientes do mesmo tronco, sem descenderem umas das outras. Entretanto, para efeitos sucessórios, há uma limitação para que o colateral seja chamado a suceder: 12 TARTUCE, Flavio. Manual de Direito Civil. Volume único. 9. ed. São Paulo: Método, 2019. 13 BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil Brasileiro. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm. Acesso em: 04 abr. 2019. Art. 1.839. Se não houver cônjuge sobrevivente, nas condições estabelecidas no art. 1.830, serão chamados a suceder os colaterais até o quarto grau. Ou seja, apenas herdará o colateral do de cujus até o quarto grau. Contudo, no caso da sucessão pelos irmãos do falecido, há uma importante regra que diferencia os irmãos bilaterais (também conhecidos como germanos) dos irmãos unilaterais: Art. 1.841. Concorrendo à herança do falecido irmãos bilaterais com irmãos unilaterais, cada um destes herdará metade do que cada um daqueles herdar. Art. 1.842. Não concorrendo à herança irmão bilateral, herdarão, em partes iguais, os unilaterais. Da sucessão pelo entre público Assim dispõe o Art. 1.844 do CC/2002: “Não sobrevivendo cônjuge, ou companheiro, nem parente algum sucessível, ou tendo eles renunciado a herança, esta se devolve ao Município ou ao Distrito Federal, se localizada nas respectivas circunscrições, ou à União, quando situada em território federal” Assim, se forem chamados à sucessão irmãos do de cujus, filhos do mesmo pai e da mesma mãe, juntamente com outros que forem irmãos apenas por parte do pai ou da mãe, os irmãos do mesmo pai e da mesma mãe herdarão o dobro do que os irmãos unilaterais (irmãos apenas por parte de pai ou por parte de mãe). Nesse caso, surgirá a herança jacente (quando não há qualquer herdeiro para receber o patrimônio deixado pelo falecido) ou a herança vacante (quando todos os herdeiros renunciarem à herança). NOTÍCIA SELECIONADA Companheira tem direito à totalidade da herança na falta de filhos ou ascendentes Nos casos de ausência de descendentes ou ascendentes, é garantido à companheira o direito de recebimento dos bens deixados pelo companheiro falecido, ressalvada a existência de manifestação de última vontade. Portanto, o direito da companheira sobrevivente prepondera em relação aos parentes colaterais, como irmãos, tios e sobrinhos, em virtude da ordem legal prevista pelo Código Civil. O entendimento foi fixado pela Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) ao negar provimento ao recurso especial de parentes de quarto grau contra acórdão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) que reconheceu à companheira o direito à totalidade da herança do falecido, incluídos os bens adquiridos antes do início da união estável. “Não há mais que se considerar a concorrência do companheiro com os parentes colaterais, os quais somente herdarão na sua ausência. O artigo 1.790, III, do Código Civil de 2002, que inseria os colaterais em terceiro lugar na ordem de vocação hereditária, não subsiste mais no sistema”, apontou o relator do recurso especial, ministro Villas Bôas Cueva. Norma geral e especial Após reconhecer a existência de união estável, o juiz de primeiro grau resolveu a questão do direito sucessório da companheira com base no artigo 1.790, inciso III, do CC/2002, concluindo que ela deveria concorrer com os outros parentes do falecido – irmãos e sobrinhos, especificamente – no processo de sucessão, com direito a um terço da herança. Todavia, o TJMG reconheceu o direito da companheira à sucessão integral com base no artigo 2º, inciso III, da Lei 8.971/94, que prevê ao companheiro o direito à totalidade da herança, na falta de descendentes ou ascendentes. Para o tribunal, a norma especial não foi revogada pela legislação geral – o Código Civil – e teria prevalência sobre ela. Por meio de recurso especial, os parentes do falecido argumentaram violação do artigo 1.790 do Código Civil, ao argumento de que a companheira deveria concorrer com os parentes colaterais até o quarto grau nos direitos hereditários do autor da herança. Para os recorrentes, deveriam ser garantidos à companheira os direitos sucessórios, mas apenas em relação aos bens adquiridos onerosamente na vigência da união estável, na proporção de um terço da herança. Dispositivo inconstitucional O ministro Villas Bôas Cueva lembrou que, em maio de 2017, o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu incidentalmente a inconstitucionalidade do artigo 1.790 do Código Civil, dispositivo que estabelecia a diferenciação dos direitos de cônjuges e companheiros para fins sucessórios. Para o STF – em entendimento também adotado pelo STJ –, deveria ser aplicado em ambos os casos o regime estabelecido pelo artigo 1.829 do CC/2002. De acordo com o artigo 1.829, a sucessão legítima é estabelecida, em ordem, aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente; aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge; ao cônjuge sobrevivente; e aos parentes colaterais. Já de acordo com o artigo 1.839 do Código Civil, incidente por analogia aos companheiros, será deferida a sucessão por inteiro ao cônjuge sobrevivente no caso de ausência de descendentes e ascendentes. “Logo, é possível concluir que o companheiro, assim como o cônjuge, não partilhará herança legítima com os parentes colaterais do autor da herança, salvo se houver disposição de última vontade, como, por exemplo, um testamento”, concluiu o ministro, ainda que por fundamentos diversos, ao manter o acórdão do TJMG. O número deste processo não é divulgado em razão de segredo judicial.14 14 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Companheira tem direito à totalidade da herança na falta de filhos ou ascendentes. 2018. SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA Sucessão
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