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Roteiro - Aula 1

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MAGISTRATURA E MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAIS 
Cleber Masson 
Direito Penal 
Aula 1 
 
 
ROTEIRO DE AULA 
 
 
PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL 
 
1. Introdução 
 
A palavra “princípio” dá ideia de começo, ou seja, aquilo que inaugura a ordem jurídica. Princípios são valores 
fundamentais que inspiram a criação e a aplicação do Direito Penal. 
 
Obs.: O Direito é formado por normas jurídicas, sendo essas subdivididas em: (a) regras; e (b) princípios. As 
regras são rígidas, enquanto os princípios são voláteis, flexíveis. Por exemplo, não cabe flexibilização à regra de 
que, ao crime doloso, somente será cabível a substituição da pena de privativa de liberdade por restritiva de 
direitos quando a pena não ultrapassar a 4 anos, ou quando o crime não for praticado com violência à pessoa 
ou grave ameaça. Por outro lado, os princípios comportam flexibilização, ao serem aplicados no caso concreto. 
 
O que podemos extrair desse conceito “são valores fundamentais que inspiram a criação e a aplicação do 
Direito Penal”? Em primeiro lugar, os princípios se manifestam tanto para orientar no momento da criação do 
Direito Penal (alcançam o trabalho do legislador, no sentido de limitar o poder punitivo do Estado), como 
também alcançam o trabalho do operador do Direito Penal no momento de sua aplicação prática. 
 
Alguns princípios estão previstos expressamente na legislação brasileira, a exemplo da reserva legal e da 
individualização da pena. Mas também existem princípios que, embora não previstos expressamente na nossa 
legislação, são extraídos da globalidade do sistema jurídico, tal como o princípio da insignificância. 
 
Qual o papel dos princípios? Os princípios se destinam a limitar o poder punitivo do Estado. 
 
2. Princípio da Reserva Legal ou da Estrita Legalidade 
 
2.1. Origem 
 
Frase: nullum crimen nulla poena sine lege (não há crime, nem há pena sem lei) 
 
Esse princípio surge no ano de 1215, na Inglaterra. Nesse tempo temos a Magna Carta do rei João sem 
Terra. Posteriormente é desenvolvido pelo alemão Feuerbach, com base na “teoria da coação psicológica”. 
Para essa teoria somente a lei pode intimidar/ameaçar o cidadão com a ameaça de imposição de sanção 
penal. 
 
 
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2.2. Previsão normativa e conceito 
 
Encontra-se no art. 1° do CP, e também no art. 5°, XXXIX, da CF/88. Mais do que um princípio legal, cuida-se 
de cláusula pétrea (direito fundamental), integrante do núcleo imutável da CF. Ou seja, a revogação do art. 
1º do Código Penal não extinguirá o princípio. 
 
Esse princípio estatui que a lei possui exclusividade para criar crimes e cominar penas. A lei é a única fonte 
formal imediata do Direito Penal. 
 
 
2.3. Fundamentos 
 
Encontramos três fundamentos para esse princípio: 
 
a. Fundamento jurídico 
 
Podemos chamar de taxatividade, certeza ou determinação 
 
A lei deve descrever com precisão o conteúdo mínimo da conduta criminosa. 
 
Obs.: Cuidado com a expressão “conteúdo mínimo”, o qual legitima as normas penais em branco, os 
crimes culposos e os tipos penais abertos. 
 
Qual é o efeito automático dessa taxatividade no Direito Penal? É a proibição da analogia in malam 
partem. 
 
b. Fundamento político 
 
Os direitos fundamentais de Primeira Geração (ou Primeira Dimensão) são aqueles instrumentos de 
proteção do ser humano contra o arbítrio do Estado. 
 
Existe uma frase dita pelo alemão Franz von Liszt, dizendo que “O Código Penal é a Magna Carta do 
delinqüente”. Nada mais é do que a chamada função de garantia do direito penal, isto é, o Código 
Penal, antes de prejudicar, servirá para proteger o ser humano do arbítrio do Estado. 
 
c. Fundamento democrático (ou popular) 
 
O STF se utiliza dessa expressão, como “a dimensão democrática do princípio da reserva legal”. A lei cria 
o crime e comina a pena. Quem faz a lei são os legisladores, parlamentares eleitos pelo povo para 
representá-lo e, assim, ditar os rumos do Direito Penal. 
 
2.4. Princípio da reserva e Medidas Provisórias 
 
É possível a utilização de medidas provisórias no Direito Penal? Existem duas posições sobre o assunto. 
 
✓ 1ª posição: Sim, é possível, desde que para favorecer o réu. 
 
Obs.: Essa posição historicamente vem sendo adotada pelo STF. 
Por exemplo, com o advento do estatuto do desarmamento, o prazo para entrega voluntária das 
armas venceu, que tornava atípico o crime de posse e porte de arma de fogo durante o período. Tal 
prazo foi prorrogado posteriormente por medidas provisórias, que criaram hipóteses de atipicidade 
temporária admitidas pela jurisprudência, ainda que não fossem leis no sentido estrito. 
 
 
 
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✓ 2ª posição: Não, pois as medidas provisórias não podem ser utilizadas no Direito Penal. 
 
Essa é uma posição chamada de “constitucionalista”, pois se refere ao art. 62, §1º, I, “b” da CF: 
 
“Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas 
provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. 
§ 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: 
I – relativa a 
b) direito penal, processual penal e processual civil;” 
 
Note que a CF não aceita medida provisória no Direito Penal, não importa se é para favorecer o 
réu ou não. 
 
2.5. Princípio da reserva legal (ou estrita legalidade) e o princípio da legalidade 
 
São sinônimos? 
 
Uma primeira corrente sustenta que esses dois princípios têm igual significado. Outra corrente, por sua vez, 
entende que não, porque a Constituição não faria previsão redundante do mesmo princípio, pelas seguintes 
razões: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2.6. Mandados de criminalização e suas espécies 
 
Também conhecidos como mandados constitucionais de criminalização, são ordens emitidas pela CF ao 
legislador ordinário, no sentido da criminalização de determinados comportamentos. 
 
Obs.: A Constituição manda o legislador criar um crime e cominar a respectiva pena. Trata-se de dever 
imposto ao legislador. Não há discricionariedade do legislador ordinário, embora nem todos tenham sido 
atendidos no Brasil. 
 
Esses mandados de criminalização podem ser: 
 
o Expressos 
 
A ordem está explícita (expressa) no texto constitucional. Exemplo: art. 225, § 3º, da CF: 
Princípio da Reserva Legal Princípio da Legalidade 
 
 Art. 5º, XXXIX, da CF 
 
O princípio da reserva legal reclama lei em sentido 
estrito (lei em sentido formal e material) 
 
Lei em sentido formal: é aquela que tem forma de 
lei, ou seja, foi criada de acordo com o processo 
legislativo estabelecido na CF. 
 
Lei em sentido material: é aquela que trata de 
conteúdo (matéria ou assunto) constitucionalmente 
reservado a lei. Por isso o nome reserva legal vem 
de reserva de lei. 
 
 
Art. 5º, II, da CF 
 
O princípio da legalidade se contenta com a 
chamada lei em sentido amplo (qualquer espécie 
normativa prevista no art. 59 da CF/88 (lei 
delegada; decreto legislativo, resolução, etc.). 
 
Exemplos: Jurisprudência que permitiu o uso de 
decretos para a restrição do rodízio de carros em 
São Paulo, ou para a proibição de fumar em 
locais fechados. 
 
 
 
 
 
 
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“§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, 
pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da 
obrigação de reparar os danos causados.” 
 
Esse mandado de criminalização foi atendido pela Lei 9.605/1998. 
 
o Tácitos 
 
Estão implícitos na CF, ou seja, a ordem não é direta, e sim extraída da interpretação da CF. Como 
exemplo temos o combate à corrupção no poder público, que se extrair dos princípios do LIMPE, do 
art. 37 da CF. 
 
O que são mandados de criminalização por omissão? 
 
Tais institutos ocorrem nas hipóteses em que a CF determina ao legislador a criminalização de um 
comportamento omissivo, a exemplo que se verifica no art. 5º, XLIII: “a lei considerará crimes inafiançáveise insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura , o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o 
terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os 
que, podendo evitá-los, se omitirem”; 
 
3. Princípio da anterioridade 
 
Está previsto no art. 1º do CP e também no art. 5º, XXXIX, da CF. 
 
Art. 1º do CP: Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. 
 
Art. 5º, XXXIX, da CF: - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal; 
 
Os princípios da reserva legal e da anterioridade são inseparáveis entre si. Este complementa aquele. 
 
a) Conceito 
 
A lei penal deve ser anterior ao fato cuja punição se pretende, ou seja, a lei penal apenas poderá ser 
aplicada para os fatos praticados após a sua entrada em vigor. 
 
Qual é o desdobramento lógico (ou efeito automático) desse princípio? É a irretroatividade da lei penal (art. 
5º, XL, da CF). 
 
b) Princípio da anterioridade e vacatio legis 
 
A vacância da lei é o intervalo que medeia a publicação da lei até sua entrada em vigor. 
 
Questão: Para se respeitar o princípio da anterioridade, basta que a lei exista (tenha sido publicada), ou é 
necessário que esteja em vigor? 
 
Publicação da lei Prática do fato descrito como crime Entrada em vigor 
 
 
 
 
 
Obs.: Não há crime quando o fato foi praticado durante o período de vacância da lei. Apenas haverá crime a 
partir do momento da entrada em vigor. 
 
 
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4. Princípio da Alteridade 
 
Criado por Claus Roxin, esse princípio estabelece que não há crime na conduta que prejudica somente quem a 
praticou. Esse princípio vem de “alterius”, que estabelece só se falar em crime da conduta que ultrapassa a 
pessoa do autor. 
 
Stuart Mill: “Nenhuma lei criminal deve ser usada para obrigar as pessoas a atuar em seu próprio benefício; o 
único propósito para o qual o poder público pode exercitar-se com direito sobre qualquer membro da 
comunidade civilizada, contra sua vontade, é para prevenir danos a outros. Seu próprio bem, seja físico ou 
moral, não é uma razão suficiente.” 
 
Exemplos: 
 
A autolesão, ainda que amputação, não é punível pelo Direito Penal (não é crime), a não ser que tenha sido 
praticada para fraudar o serviço militar obrigatório (crime militar) ou para fraudar o serviço de uma seguradora. 
 
Há discussão sobre o art. 28 da Lei de Drogas, mas há entendimento de que não se pune o uso da droga, mas o 
risco à saúde pública, em virtude da guarda e ter em depósito. 
 
“Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, 
drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes 
penas: 
I - advertência sobre os efeitos das drogas; 
II - prestação de serviços à comunidade; 
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.” 
 
Quanto ao uso pretérito da droga, é consenso de que não há crime. 
 
5. Princípio da Lesividade ou da Ofensividade 
 
Não há crime se a conduta não é capaz de causar lesão ou, pelo menos, colocar em perigo de lesão ao bem 
jurídico tutelado pela norma. Esse princípio funciona como fator de legitimação do Direito Penal, e está 
diretamente relacionado com o princípio da exclusiva proteção de bens jurídicos, segundo o qual o Direito 
Penal não deve se ocupar de questões políticas, éticas, morais, religiosas, filosóficas, etc. Segundo o autor 
italiano Francesco Palazzo, esse princípio vai delimitar a atuação do Direito Penal, seja para o legislador ou para 
o aplicador da lei. 
 
Está intimamente ligado ao próximo princípio. 
 
6. Princípio da Exclusiva Proteção de Bens Jurídicos 
 
Exemplo: casal militar foi preso, em sua própria casa, por ser um casal homossexual, solto por decisão 
monocrática do STF, fundamentada no papel do Direito Penal de proteção de bens jurídicos, não se ocupando 
das questões políticas, éticas, morais, religiosas, filosóficas, etc. 
 
Questões: 
 
o O que são bens jurídicos? 
 
Bens jurídicos são valores ou interesses relevantes para a manutenção e o desenvolvimento do 
indivíduo e da sociedade. 
 
o Qualquer bem jurídico pode ser classificado como bem jurídico penal? 
 
 
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Não, apenas os bens jurídicos fundamentais (indispensáveis) interessam ao Direito Penal. 
 
o Quem faz essa escolha dos bens jurídicos mais importantes? 
 
Essa escolha é feita única e exclusivamente pela CF. É o que se convencionou chamar de teoria 
constitucional (ou constitucionalista) do Direito Penal. 
 
6.1. A teoria constitucional do Direito Penal 
 
Para essa teoria, o Direito Penal só é legítimo quando protege valores consagrados na Constituição 
Federal. Em outras palavras, todo crime deve ter seu fundamento de validade na Lei Suprema. Nesse 
contexto, o homicídio é crime porque o art. 5º, caput, da CF assegura a todos o direito à vida. 
 
Claus Roxin “um conceito de bem jurídico vinculante político-criminalmente só pode derivar dos valores 
garantidos na lei fundamental, do nosso Estado de Direito baseado na liberdade do indivíduo, através 
dos quais são marcados os limites da atividade punitiva do Estado”. 
 
6.2. A espiritualização de bens jurídicos no Direito Penal 
 
A espiritualização de bens jurídicos também é chamada de liquefação ou desmaterialização de bens 
jurídicos. É mais uma criação de Claus Roxin. 
 
Para Roxin, o Direito Penal, em sua origem, ocupava-se somente dos crimes de dano (ou lesão) contra 
bens jurídicos individuais. Com a evolução dos tempos, o Direito Penal antecipou sua tutela, assumindo 
um papel preventivo, ou seja, passou a punir os crimes de perigo contra bens supraindividuais ou 
metaindividuais. Exemplo: pune-se o porte ilegal de arma de fogo para evitar roubos, latrocínios, etc. 
 
STF: “A criação de crimes de perigo abstrato não representa, por si só, comportamento inconstitucional 
por parte do legislador penal. A tipificação de condutas que geram perigo abstrato, muitas vezes, acaba 
sendo a melhor alternativa ou a medida mais eficaz para a proteção de bens jurídico-penais 
supraindividuais ou de caráter coletivo, como, por exemplo, o meio ambiente, a saúde etc. [...] 
Portanto, pode o legislador, dentro de suas amplas margens de avaliação e de decisão, definir quais as 
medidas mais adequadas e necessárias para a efetiva proteção de determinado bem jurídico, o que lhe 
permite escolher espécies de tipificação próprias de um direito penal preventivo.” (HC 102.087) 
 
7. Princípio da Proporcionalidade 
 
7.1. Denominação 
 
O nome “proporcionalidade” tem raízes na Alemanha. Alguns autores têm inspiração no direito italiano, e 
utilizam a nomenclatura “razoabilidade”. Nos EUA o nome mais utilizado é “convivência das liberdades 
públicas”. 
 
O princípio da proporcionalidade parte da ideia de que a criação do crime deve ser vantajosa para o interesse 
público, e apresenta uma dupla face: 
 
a) de um lado, é a proibição do excesso (garantismo negativo), pois não se admite a punição exagerada, é dizer, 
além da necessária à proteção do bem jurídico. Vejamos o seguinte julgado: 
 
ARGUIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE. PRECEITO SECUNDÁRIO DO ART. 273, § 1º-B, V, DO 
CP. CRIME DE TER EM DEPÓSITO, PARA VENDA, PRODUTO DESTINADO A FINS TERAPÊUTICOS 
OU MEDICINAIS DE PROCEDÊNCIA IGNORADA. OFENSA AO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE. 
 
 
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1. A intervenção estatal por meio do Direito Penal deve ser sempre guiada pelo princípio da 
proporcionalidade, incumbindo também ao legislador o dever de observar esse princípio como 
proibição de excesso e como proibição de proteção insuficiente. 
2. É viável a fiscalização judicial da constitucionalidade dessa atividade legislativa, 
examinando, como diz o Ministro Gilmar Mendes, se o legislador considerou 
suficientemente os fatos e prognoses e se utilizou de sua margem de ação de formaadequada 
para a proteção suficiente dos bens jurídicos fundamentais. 
3. Em atenção ao princípio constitucional da proporcionalidade e razoabilidade das leis 
restritivas de direitos (CF, art. 5º, LIV), é imprescindível a atuação do Judiciário para corrigir o 
exagero e ajustar a pena cominada à conduta inscrita no art. 273, § 1º-B, do Código Penal. 
4. O crime de ter em depósito, para venda, produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais 
de procedência ignorada é de perigo abstrato e independe da prova da ocorrência de efetivo 
risco para quem quer que seja. E a indispensabilidade do dano concreto à saúde do pretenso 
usuário do produto evidencia ainda mais a falta de harmonia entre o delito e a pena 
abstratamente cominada (de 10 a 15 anos de reclusão) se comparado, por exemplo, com o 
crime de tráfico ilícito de drogas - notoriamente mais grave e cujo bem jurídico também é a 
saúde pública. 
5. A ausência de relevância penal da conduta, a desproporção da pena em ponderação com o 
dano ou perigo de dano à saúde pública decorrente da ação e a inexistência de 
consequência calamitosa do agir convergem para que se conclua pela falta de razoabilidade da 
pena prevista na lei. A restrição da liberdade individual não pode ser excessiva, mas compatível 
e proporcional à ofensa causada pelo comportamento humano criminoso. 
6. Arguição acolhida para declarar inconstitucional o preceito secundário da norma. 
(STJ: AI no HC 239.363/PR, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, CORTE ESPECIAL, julgado em 
26/02/2015, DJe 10/04/2015) 
 
b) de outro lado, esse princípio representa a proibição da proteção insuficiente (ou deficiente) de bens 
jurídicos (garantismo positivo), como garantia da sociedade. 
 
Somando-se ao garantismo negativo, forma-se o garantismo integral, o garantismo binocular, ou o 
conhecido “garantismo penal”. 
 
Questão de concurso: o que é garantismo hiperbólico monocular? 
 
➢ Hiperbólico é algo grande. 
 
➢ Monocular olha apenas para um lado. 
 
Portanto, garantismo hiperbólico monocular é o garantismo exagerado, voltado exclusivamente aos 
interesses do réu, desconsiderando os interesses sociais. 
 
7.2. Espécies de proporcionalidade 
 
a) Proporcionalidade legislativa ou abstrata: é que aquela que diz respeito ao legislador no momento da 
criação do crime e da cominação da pena. 
 
b) Proporcionalidade judicial ou concreta: também chamada de proporcionalidade jurisdicional, fica a cargo do 
magistrado, no momento da dosimetria da pena. 
 
c) Proporcionalidade executória ou administrativa: é a que se manifesta durante o cumprimento da pena, que 
se dirige ao Administrador Público, ao Estado, no momento de execução da pena. Exemplo: A Lei 
8.072/1990 (Lei dos Crimes Hediondos), que vedava a progressão de pena, era desproporcional. 
 
8. Princípio da Confiança 
 
 
 
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Este princípio surgiu na Espanha, especificamente para crimes de trânsito. A ideia é a de que aquele que 
respeita as regras de trânsito tem o direito de confiar que as demais pessoas também as respeitarão. 
 
No Brasil esse princípio foi ampliado para abranger qualquer crime que envolve as regras da sociedade. 
 
9. Princípio da Responsabilidade Penal pelo Fato 
 
Direito Penal do autor x Direito Penal do fato 
 
O direito penal moderno é um direito penal do fato (preocupa-se exclusivamente com o fato típico e ilícito 
praticado pelo agente), em que se considera as características pessoais do agente apenas na dosimetria da 
pena, não havendo incompatibilidade, pois não são utilizadas no reconhecimento do crime. Por exemplo, em 
uma sala desaparece um item valioso, que estava de posse de Fernandinho Beira-Mar e Madre Teresa de 
Calcutá. Nesta hipótese, o Fernandinho não poderia ser condenado por ser um criminoso contumaz, mas 
apenas se comprovado que cometeu o crime. 
 
O direito penal do autor é ultrapassado, pois rotula determinadas pessoas como indesejadas aos interesses da 
sociedade. Um exemplo moderno deste direito penal do autor é o Direito Penal do inimigo, como visto no 
Direito Penal da Alemanha nazista. 
 
10. Princípio da Intervenção Mínima 
 
É também chamado de princípio da necessidade do Direito Penal, que vai fundamentar o chamado “Direito 
Penal mínimo”. 
 
10.1. Origem e conceito atual (direito penal mínimo) 
 
Esse princípio surge em 1789, na França, na época da Revolução Francesa, com a Declaração Universal dos 
Direitos do Homem e do Cidadão, dispondo que a lei deve prever somente as penas estritamente 
necessárias. 
 
E como podemos trazer o princípio da intervenção mínima para a atualidade? No entendimento de que o 
Direito Penal somente deve ser utilizado nas situações estritamente necessárias para proteção do bem 
jurídico, apenas considerando-se legítimo quando não houver outra forma de proteção desse bem jurídico. 
Desse princípio decorre o Direito Penal Mínimo, reservado para os casos realmente necessários. 
 
10.2. Destinatários e finalidade (reforço ao princípio da reserva legal) 
 
O princípio da intervenção mínima tem dois destinatários: 
 
1. O legislador 
 
O princípio se manifesta no momento da criação do crime e da cominação da pena. 
 
2. O aplicador do Direito, como o juiz 
 
O crime já foi criado, a pena já foi cominada, mas é preciso verificar a necessidade de aplicá-los no 
caso concreto. 
 
Prova: Em termos de finalidade, qual a relação entre o princípio da intervenção mínima e o princípio da 
reserva legal? 
 
O princípio da intervenção mínima figura como reforço ou complemento ao princípio da reserva 
legal, no sentido de que o legislador não deve usar seu poder legiferante a seu bel prazer. 
 
 
 
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10.3. Divisões: fragmentariedade e subsidiariedade 
 
Esse princípio se subdivide em outros dois: 
 
Basicamente o princípio da fragmentariedade se manifesta no plano abstrato, enquanto o princípio da 
subsidiariedade se mostra no plano concreto. 
 
10.3.1. Princípio da fragmentariedade ou caráter fragmentário do Direito Penal 
 
O princípio da fragmentariedade é também chamado de “caráter fragmentário do Direito Penal”. 
 
Esse princípio preceitua que o Direito Penal é a última etapa de proteção do bem jurídico, ou seja, 
um crime apenas pode ser criado se os demais ramos do Direito não foram suficientes para a 
proteção do bem jurídico. 
 
 
 
• Nem tudo o que é ilícito, também é ilícito penal; 
 
Exemplo: inadimplemento tributário. 
 
• Todo ilícito penal também é ilícito perante os demais ramos do Direto. 
 
Esse princípio se manifesta no plano abstrato, ou seja, tem como destinatário o legislador. 
 
Exemplo: o crime de peculato necessariamente será ato de improbidade administrativa. 
 
Fragmentariedade às avessas: Em um primeiro momento, o crime era necessário. Mas, ao longo do 
tempo, a relevância penal do fato deixa de existir, a exemplo do que ocorreu com o adultério, 
operando-se a abolitio criminis. 
 
10.3.2. Princípio da subsidiariedade 
 
O Direito Penal é a “ultima ratio” (última razão) ou “extrema ratio”. Funciona como executor de 
reserva. 
 
Na prática, o Direito Penal só pode ser utilizado quando um problema não puder ser solucionado 
pelos demais ramos do Direito. 
 
 
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O princípio da subsidiariedade se manifesta no plano concreto, isto é, ele tem como destinatário o 
aplicador do direito penal (STJ: HC 197.601 - Informativo 479). 
 
PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. FURTO DE ÁGUA VITIMANDO A COMPANHIA DE 
ABASTECIMENTO. RESSARCIMENTO DO PREJUÍZO ANTES DO OFERECIMENTO DA 
DENÚNCIA. COLORIDO MERAMENTE CIVIL DOS FATOS. CARÊNCIA DE JUSTA CAUSA. 
TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. VIABILIDADE. 
1. O Direito Penal deve ser encarado de acordo com a principiologia constitucional. 
Dentre os princípios constitucionais implícitos figura o da subsidiariedade, por meio 
do qual a intervenção penal somente é admissível quando os demais ramos do direito 
não conseguem bem equacionar os conflitossociais. In casu, tendo-se apurado, em 
verdade, apenas um ilícito de colorido meramente contratual, relativamente à 
distribuição da água, com o equacionamento da quaestio no plano civil, não se 
justifica a persecução penal. 
2. Ordem concedida para trancar a ação penal n. 0268968-47.2010.8.19.0001, da 
36.ª Vara Criminal da Comarca da Capital do Rio de Janeiro. 
(HC 197.601/RJ, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, 
julgado em 28/06/2011, DJe 03/08/2011) 
 
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