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1 Organização e desenvolvimento da escola brasileira

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AULA 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
POLÍTICAS EDUCACIONAIS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Aline Chalus Vernick Carissimi 
 
 
 
 
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CONVERSA INICIAL 
 A primeira temática que será tratada na disciplina de Políticas 
Educacionais é a organização e desenvolvimento da escola brasileira, 
considerando as formas de intervenção do Estado na educação escolar: as 
políticas, o planejamento e a legislação da educação. 
 Nesse sentido, iremos discutir o papel do Estado na formulação das 
políticas e, consequentemente, as legislações, no campo educacional, pautados 
na seguinte estrutura: 
• apresentação de uma breve concepção de Estado; 
• o Estado nas concepções dos autores contratualistas e a acepção 
socialista de Estado; 
• a agenda política e seu contexto de produção. 
• o planejamento das políticas e a legislação da educação no contexto do 
direito à educação. 
CONTEXTUALIZANDO 
 A temática tratada nessa parte do material refere-se à compreensão da 
concepção do Estado e suas formas de intervenção na política pública, por meio 
da produção da agenda política, que reflete o planejamento e as legislações, 
considerando o contexto do direito à educação. 
TEMA 1 – O PAPEL DO ESTADO 
O Estado é, na sua essência, a sociedade da forma como sempre existiu, 
no entanto com seus diversos nomes, como afirma “dá essa designação a todas 
as sociedades políticas que, com autoridade superior, fixaram regras de 
convivência de seus membros” (Dallari, 2005, p. 52). 
Dallari (2005) ainda afirma que a situação permanente de convivência 
relacionada à sociedade política aparece pela primeira vez na obra O príncipe, 
de Maquiavel. Também destaca que não existe na cronologia histórica um único 
conceito de Estado e que, de certa maneira, cabe destacar que na história da 
humanidade existiram diferentes tipos de Estado, tais como: antigo, grego, 
romano, medieval e moderno. 
 
 
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Bobbio (2010) alerta para o uso do termo no contexto histórico, 
informando que não faz sentido tentar buscar a origem da definição em um dado 
momento histórico, pois para ele essa noção sempre existiu independentemente 
do tempo histórico, conforme destaca: 
É fora de discussão que a palavra “Estado” se impôs através da 
difusão e pelo prestígio do Príncipe de Maquiavel. A obra começa, 
como se sabe, com estas palavras: “Todos os estados, todos os 
domínios que imperaram e imperam sobre os homens, foram e são ou 
repúblicas ou principados”. Isto não quer dizer que a palavra tenha sido 
introduzida por Maquiavel. Minuciosas e amplas pesquisas sobre o uso 
de “Estado” na linguagem do Quatrocentos e do Quinhentos mostram 
que a passagem do significado corrente do termo status de “situação” 
para “estado” no sentido moderno da palavra, já ocorrera, através do 
isolamento do primeiro termo da expressão clássica status rei publicae. 
O próprio Maquiavel não poderia ter escrito aquela frase exatamente 
no início da obra se a palavra em questão já não fosse de uso corrente. 
(Bobbio, 2010, p.65) 
Nesse sentido, é importante destacar que neste trabalho optamos por 
discutir a definição do Estado e suas demais correlações considerando o recorte 
histórico da modernidade. 
O Estado Moderno se desenvolve pela estruturação de algumas 
características de organização nacional, tais como: delimitação territorial, criação 
de um exército permanente, criação de uma moeda, etc. De acordo com Aranha 
e Martins (2003): 
A partir da Idade Moderna, com a formação das monarquias nacionais, 
o Estado se fortalece e passa a significar a posse de um território em 
que o comando sobre seus habitantes é feito a partir da centralização 
cada vez maior do poder. Apenas o Estado se torna apto para fazer e 
aplicar as leis, recolher impostos, ter exército. A monopolização dos 
serviços essenciais para a garantia da ordem interna e externa exige o 
desenvolvimento do aparato administrativo fundado em uma burocracia 
controladora. (Aranha; Martins, 2003, p. 215) 
O Estado Moderno tem sua organização aprimorada com a ascensão da 
burguesia, nesse caso a burguesia europeia, que em virtude da necessidade de 
defesa da propriedade privada, instituiu, por consequência, um Estado de 
Direito, entendido como Estado Constitucional, uma vez que a organização 
sociopolítica de um país ou nação passa a ser regida pelas leis. 
Para Poulantzas (2000), a Lei Moderna é composta por características 
comuns, mas o direito capitalista ainda é mais específico, vejamos: 
Embora toda lei ou todo o direito apresentem certas características 
comuns, o direito capitalista é específico no que forma um sistema 
axiomatizado, composto de conjunto de normas abstratas, gerais, 
formais e estritamente regulamentadas. (Poulantzas, 2000, p. 84) 
 
Leisos
Realce
 
 
04 
 Nesse contexto, destacamos a importância dos pensadores 
“contratualistas", ou seja, os defensores da ideia do “contrato social” na 
teorização do Estado Moderno e de Direito, uma vez que deixaram grandes 
contribuições para a organização política e jurídica de muitos países, inclusive o 
Brasil. 
 No primeiro tema, apresentamos da concepção de Estado à luz dos 
autores contratualistas. Já no segundo tema, vamos apresentar a concepção de 
Estado sob de Poulantzas, autor socialista. 
 O papel do Estado é importante para a elaboração da agenda política e 
para a efetivação da política, especialmente a fim de analisar o campo 
educacional. Nesse sentido cabe o estudo em torno da compreensão da agenda 
política e de suas fases de elaboração. 
 Além disso, a forma de organização dos sistemas de ensino no Brasil é 
essencial para entender a efetivação das políticas. 
TEMA 2 – O ESTADO NA VISÃO DOS AUTORES CONTRATUALISTAS E NO 
CONTEXTO DO DIREITO 
 As teorias contratualistas de Estado foram aplicadas nas diversas leis que 
garantem os direitos sociais e na Constituição Federal, no caso brasileiro. 
 De acordo com Bobbio, Matteucci e Pasquino (2004), o contratualismo é a 
teoria que abarca a importância e a instituição do contrato social na convivência 
em sociedade, conforme destacam: 
Contratualismo compreende todas aquelas teorias políticas que vêem a 
origem da sociedade e o fundamento do poder político num contrato, 
isto é, num acordo tácito ou expresso entre a maioria dos indivíduos. 
Inicio do estado social e político. (Bobbio; Matteucci; Pasquino, 2004, p. 
274) 
 Thomas Robbes defendeu a ideia de que o Estado tem papel soberano 
de manter a ordem e o controle social. Robbes justificava que o homem é um ser 
primitivo, propenso à barbárie, pois vivia sem regras ou normas e que esse era 
seu estado de natureza. 
 Diante disso, como forma de salvar a própria espécie humana, propõe 
que os homens saiam do estado natureza (primitiva) e estabeleçam um contrato 
de convívio social, ou seja, o contrato social, no qual repassam ao Estado, 
enquanto instituição soberana de ordem social e política, a função de proteger 
seus direitos. 
 
 
05 
 Ainda dando ênfase à ideia do Estado Soberano, Hobbes destacou a 
importância desse Estado em detrimento da convivência em sociedade a partir 
do estado de natureza, pois para ele o governo teria a responsabilidade de impor 
as leis que regulariam a vida em sociedade e nesse sentido o governante não 
deveria ter limites de poder, segundo Dallari (2005): 
Tendo ressaltado, de início, as características e os males do estado de 
natureza, Hobbes chega à conclusão de que, uma vez estabelecida 
uma comunidade, por acordo, por conquista, ou por qualquer outro 
meio, deve ser preservada a todo e qualquer custo por causa da 
segurança que ela dá aos homens. E afirma, então, que mesmo um 
mau governo é melhor que um estado de natureza. Todo governante 
tem obrigações decorrentes de suas funções, mas pode ocorrer que 
não se cumpra. Entretanto, mesmo que o governante faça algo 
moralmente errado, sua vontade não deixa de ser lei e a desobediência 
a ela é injusta. Para cumprir seus objetivos,o poder do governo não 
deve sofrer limitações, pois, uma vez que estas existam, aquele que as 
impõe é que se torna o verdadeiro governante. (Dallari, 2005, p.14) 
John Locke afirmava que todos os homens deveriam usufruir de seus 
bens materiais com plena segurança ao passo que também deveriam obedecer 
às leis formuladas pelo legislativo e que este seria o poder do Estado. Diante 
disso, ele foi um dos grandes defensores do parlamentarismo. 
Também defendeu a teoria de que o contrato social garantiria a 
convivência social entre os homens, aquilo que ele passou a denominar de 
sociedade civil, de acordo com Aranha e Martins (2003): 
Assim como Hobbes e posteriormente Rousseau, Locke também parte 
da concepção pela qual os indivíduos isolados no estado de natureza 
se unem mediante o contrato social para constituir a sociedade civil. 
Segundo essa teoria, apenas o pacto torna legítimo o poder do Estado. 
(Aranha; Martins, 2003, p. 247) 
Jean Jacques Rousseau afirmava que ordem social era um direito 
estabelecido que considera a vontade dos homens e que ela era o fundamento 
da sociedade. Portanto, a soma das vontades individuais valendo-se dos 
interesses comuns era a vontade geral, ou seja, a síntese de todas. 
Dessa maneira, o Estado era um corpo coletivo que operava na execução 
das decisões e também soberano, pois era responsável por instituir as regras de 
uma comunidade com base em um Contrato Social. (Dallari, 2005) 
Para Jean Jacques Rousseau, a ideia da democracia podia ser 
assegurada por meio da igualdade entre os sujeitos e também pelo respeito à 
“vontade” da maioria, considerando a liberdade individual, portanto o estado de 
natureza era o estado de liberdade. 
 
 
06 
No entanto, para o Rousseau o soberano era o próprio povo e assim era o 
povo que instituía a vontade geral, expressada por meio das leis, conforme 
destacam Aranha e Martins (2003): 
Cada associado, mesmo quando se aliena totalmente em favor da 
comunidade, nada perde de fato, porque, na qualidade de povo 
incorporado mantém a soberania. Ou seja, o soberano é, para 
Rousseau, o corpo coletivo que expressa, por meio da lei, a vontade 
geral. A soberania do povo, manifesta pelo legislativo, é inalienável, 
isto é, não pode ser representada. (Aranha; Martins, 2003, p. 250) 
 Na teoria de Rousseau, o governo deveria ser instituído pelo povo, os 
magistrados seriam seus oficiais e constituiriam o governo, no entanto seriam 
subordinados ao poder de decisão do soberano, ou seja, do povo. Nesse 
sentido, eram os executores das leis. 
TEMA 3 – O ESTADO NA VISÃO SOCIALISTA 
Após as breves apresentações das contribuições dos pensadores 
contratualistas na definição da teoria de Estado Moderno, é apresentada na 
sequência a teoria de Poulantzas numa perspectiva socialista de Estado tendo 
como eixo principal a luta de classes. 
Para esse pensador, o Estado capitalista explica as formas e as 
transformações históricas do Estado, enraizadas na relação entre as classes 
dominantes e classes dominadas. Dessa maneira, o autor destaca: “Toda teoria 
política deste século sempre propõe no fundo, abertamente ou não, a mesma 
questão: qual a relação entre o Estado, o poder e as classes sociais?”. 
(Poulantzas, 2000, p. 9) 
Nesse sentido, ele entende que as lutas de classes acontecem dentro da 
organização do Estado, muito embora as dominações políticas e de poder não 
signifiquem o próprio Estado, mas encontram-se instituídas diante de sua 
materialidade, de acordo com Poulantzas (2000): 
O Estado apresenta uma ossatura material própria que não Pode de 
maneira alguma ser reduzida à simples dominação política. O aparelho 
de Estado, essa coisa de especial e por consequência temível, não se 
esgota no poder do Estado. Mas a dominação política está ela própria 
inscrita na materialidade institucional do Estado. Se o Estado não é 
integralmente produzido pelas classes dominantes, não o é também 
por elas monopolizado: o poder do Estado (o da burguesia no caso do 
Estado Capitalista) está inscrito nesta materialidade. Nem todas as 
ações do Estado se reduzem à dominação política, mas nem por isso 
são constitutivamente menos marcadas. (Poulantzas, 2000, p.12) 
 
 
 
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Diante do conceito de Estado, Poulantzas (2000) destaca que a tese 
marxista não apresenta um modelo teórico de Estado, enfatizando que não 
existe nos clássicos marxistas uma teoria geral do Estado, e que um dos méritos 
do marxismo é justamente ter se afastado da procura e da elaboração de teorias 
gerais e abstratas que tentam elucidar os segredos da história, da política, do 
Estado e do poder. E enfatiza: 
Não que haja carências do marxismo nas análises do Estado e do 
Poder, o fato é que as carências não estão onde as procuramos. O que 
custou caro às massas populares em todo o mundo não foi a ausência 
no marxismo de uma teoria geral do Estado e do Poder, mas 
certamente o dogmatismo escatológico e profético que nos deu durante 
muito tempo um sistema teórico semelhante com o nome de “teoria 
marxista-leninista” do Estado. (Poulantzas, 2000, p. 20) 
Poulantzas (2000) ainda destaca a relação entre classes dominantes 
(burguesia) e Estado, este último tem papel de representação e organização 
junto à classe dominante, ou seja, o Estado organiza o interesse político de um 
denominado bloco de poder, que constitui as várias divisões da classe burguesa. 
Diante disso, o papel do Estado seria a constituição da unidade política entre as 
classes dominantes, pois ele é que instaura essas classes como dominantes e 
insere suas concepções nos mais diversos aparelhos, Poulantzas ainda 
continua: 
O Estado pode preencher essa função de organização e unificação da 
burguesia e do bloco de poder, na medida em que detém uma 
autonomia relativa em relação a tal ou qual fração e componente desse 
bloco, em relação a tais ou quais interesses particulares. Autonomia 
constitutiva do Estado capitalista: remete à materialidade desse Estado 
em sua separação relativa das relações de produção, e à 
especificidade das classes e da luta de classes sob o capitalismo que 
essa separação implica. (Poulantzas, 2000, p. 129) 
Ainda sobre o pessoal do Estado, Poulantzas (2000), alerta que o Estado 
reproduz uma ideologia dominante, a qual constitui a base de seus aparelhos e 
da unidade de seu pessoal. 
Nesse caso, a ideologia disseminada é a de um Estado neutro, 
representante da vontade e dos interesses gerais, porém esse tipo de ideologia 
não opera plenamente, pois os subconjuntos ideológicos das classes dominadas 
também estão cristalizados nos aparelhos do Estado, sejam eles: a justiça 
social, a ideia de igualdade entre os sujeitos, estabelecendo assim uma espécie 
de equilíbrio em favor dos fracos e aí as lutas populares se revelam ao pessoal 
do Estado, que as acolhe de acordo com sua origem de classe. No entanto, é 
 
 
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possível perceber a limitação política desse pessoal que pende para as massas 
populares, porém vive nos termos da ideologia dominante. 
TEMA 4 – A CONSTRUÇÃO DA AGENDA POLÍTICA 
Ao pensar a construção da agenda política, tomam-se em conta as 
contribuições dadas por Muller e Surel (2002). Esses autores analisam as 
políticas públicas pautando-se em três vertentes do ciclo de políticas, sendo: 
1. a esfera da política (polity); 
2. a atividade política (polities); 
3. a ação pública (policies). 
 Muller e Surel (2002), citados por Carissimi (2016, p. 34), destacam que 
ao analisar a inscrição de determinado objeto na agenda da política, “um 
problema deve estar integrado de fato às formas e às lógicas de funcionamento 
do aparelho político-administrativo” (2002, p. 66), assim os objetos e temas 
entram nos espaços que exigem decisão política. 
 Para Muller & Surel (2002), o caminho para se chegar até a agenda 
política, esfera da política (polity), passa pelos processos de configuração dos 
atores em “espaço de trocas e espaço dos possíveis” que se estreitam ese 
redefinem pelos “prismas” institucionais e de produção de alternativas e, assim, 
ultrapassam a problematização e os atores envolvidos, o objeto ascende à 
agenda. 
 Dessa maneira, entendemos que as demandas sociais (problematização 
do fator), ao alcançarem o processo/meio dos filtros institucionais, inserem o 
objeto na agenda política e, no entanto, continuam a demandar as ações e 
estratégias na disputa. 
 A disputa pela demanda social e o Estado, pertinente ao objeto trazido 
para agenda, revelam-se nas ações (polities) e na implementação de ações 
(policies), por parte do governo. 
 Para Bobbio, Matteucci e Pasquino (2004), o conceito de governo, sentido 
estatal, pode ser compreendido como um conjunto de sujeitos que 
desempenham o poder político e produzem uma direção política na sociedade e 
o poder de governo, assim, está associado à noção de Estado. 
 Para Poulantzas (2000), o papel do Estado está na representação e 
organização da classe dominante, de forma com que o Estado aparelha o 
interesse político de determinado bloco de poder. 
 
 
09 
 Dessa forma, o Estado constitui-se de divisões de classe, onde também 
se situa o serviço público, constituindo, todavia, uma classe ou um lugar de 
classe dentro da sociedade. 
 Para Bordieu (2012), citado por Carissimi (2016, p. 35), a luta política tem 
como fundamento as determinantes econômicas e sociais que são típicas da 
divisão do trabalho político, realizadas pelos agentes politicamente ativos, 
inseridos em campos de forças e campo de lutas. Isso ocorre de tal forma que 
tudo que é politicamente pensável para uma classe específica determina-se na 
relação entre os interesses que exprimem essa classe e a capacidade de 
expressão de seus interesses. Assim, a participação no jogo político compõe a 
“vida política” vivenciada nas relações. Nesse caso, na relação entre a luta das 
organizações políticas e a luta das classes, há uma relação simbólica, em que 
se disputa o espaço ou a estrutura do campo político. 
 Segundo Przeworski (1989), citado por Carissimi (2016, p. 36), o 
comportamento político das classes pressupõe a identidade coletiva, a 
solidariedade e o comprometimento político, dos quais partidos, igrejas, 
sindicatos, entre outros, impõem às massas determinada visão de sociedade, as 
quais permeiam as relações sociais de conflitos de interesses ideológicos. 
Nesse sentido, os partidos políticos - junto com sindicatos, igrejas, 
escolas – forjam as identidades coletivas e os interesses em nome de ações 
coletivas. No entanto, a relação dos partidos e dos trabalhadores não se faz 
meramente no contexto da ideologia, mas também no interesse de classe, na 
coletividade, na luta por suas reivindicações. Portanto, diante disso é possível 
notar que numa democracia capitalista, as relações políticas, produzem conflitos 
e resultados, os quais são determinados por posições de classe. 
TEMA 5 – O PLANEJAMENTO DA POLÍTICA E A LEGISLAÇÃO DA EDUCAÇÃO 
À LUZ DO DIREITO À EDUCAÇÃO 
O direito à educação, enquanto direito do cidadão e dever de todos, do 
Estado e da família, está previsto na Constituição Federal de 1988 (CF 88), 
reafirmado pelos princípios contidos na Lei de Diretrizes e Bases da Educação 
Nacional n. 9.394/96 (LDB). 
A Constituição de 1988, no art. 205 afirma que: 
a educação direito de todos e dever do estado e da família, será 
promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando o 
 
 
010 
pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da 
cidadania e sua qualificação para o trabalho. (Brasil, 1988, p. 195) 
Já a LDB no art. 4º indica que o dever do Estado para a efetivação do 
direito a educação ocorre mediante a garantia de “padrões mínimos de 
qualidade de ensino, definidos como a variedade e a quantidade mínimas, por 
aluno, de insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino-
aprendizagem”. 
De acordo com Cury (2002, p. 302); 
A função social da educação assume a igualdade como pressuposto 
fundamental do direito à educação, sobretudo nas sociedades 
politicamente democráticas e socialmente desejosas de maior 
igualdade entre as classes sociais e entre os indivíduos que as 
compõem e as expressam. (Cury, 2008 p. 302) 
Nessa perspectiva, os autores Oliveira e Araújo (2003) relatam que a 
qualidade educacional está diretamente relacionada com o direito à educação, e 
creditam a CF 88 os avanços das conquistas sociais e políticos numa 
perspectiva histórica, impondo desde esse momento um redimensionamento do 
papel do Estado, na formulação, no planejamento e na efetivação das políticas 
sociais, especialmente na área educacional. 
Portanto, a educação se perfaz instrumento importante na redução das 
desigualdades sociais, uma vez que possibilita a ampliação de oportunidades 
aos sujeitos, desde que se efetive a qualidade educacional. 
Portanto, cabe destacar que é com base na conceituação da educação, 
como direito social e direito público subjetivo, que são balizados o planejamento 
e a efetivação de políticas públicas, podendo ser instrumentos de redução das 
desigualdades e das discriminações, contribuindo para a ampliação das 
possibilidades concretas de realização de uma educação escolar de qualidade. 
Diante disso, a educação constitui-se em direito dos cidadãos como 
instrumento fundamental de garantia de participação dos sujeitos nas esferas 
sociais da economia e da política. Portanto, é importante ter a clareza da 
trajetória dos direitos como processo social conquistados pelas classes 
trabalhadoras, as quais os conceberam como estratégias de participação na vida 
econômica, social e política, participação esta garantida em grande medida 
pelas legislações, que conforme Cury (2002), se configura na cidadania de um 
país: 
A lei acompanha o desenvolvimento da cidadania em todos os países. 
A sua importância nasce do caráter contraditório que a acompanha; 
 
 
011 
nela sempre reside uma dimensão de luta. Luta por inscrições mais 
democráticas, por efetivações mais realistas, contra 
descaracterizações mutiladoras, por sonhos de justiça. Todo o avanço 
da educação escolar além do ensino primário foi fruto de lutas 
conduzidas por uma concepção democrática da sociedade em que se 
postula ou a igualdade de oportunidades ou mesmo a igualdade de 
condições sociais. (Cury, 2002, p. 247). 
Ainda no campo da constituição do direito à educação, cabe relatar a 
estreita relação entre a história do direito à educação e a luta dos operários por 
leis de protecionistas ainda no século XIX, conforme destaca Marshall (1967): 
A educação das crianças está diretamente relacionada com a 
cidadania, e, quando o Estado garante que todas as crianças serão 
educadas, este tem em mente, sem sombra de dúvida, as exigências 
e a natureza da cidadania. Está tentando estimular o desenvolvimento 
de cidadãos em formação. O direito à educação é um direito social de 
cidadania genuíno porque o objetivo da educação durante a infância é 
moldar o adulto em perspectiva. Basicamente, deveria ser considerado 
não como o direito da criança frequentar a escola, mas como o direito 
do cidadão adulto ter sido educado. (Marshal, 1967, p. 73). 
Porém, atualmente, um dos maiores desafios na seara do direito à 
educação é efetivar a qualidade da educação, além de garantir o acesso e à 
permanência na escola, como forma de também garantir a justiça social. 
Portanto, diante disso, podemos afirmar que boa parte do planejamento promove 
avanço na garantia do direito à educação. 
NA PRÁTICA 
1. De maneira geral, o que é o Estado? 
2. Com base no que foi apresentado, qual é a ideia de Estado defendida pelos 
autores contratualistas? 
3. Considerando o que foi apresentado, qual a ideia de Estado expressa por 
Poulantzas? 
4. Qual o ciclo da agenda política? 
5. Em quais documentos encontra-se legalmente amparado o direito à educação 
na legislação brasileira? Explique alguns pontos que evidenciamesse direito. 
 
 
 
 
012 
REFERÊNCIAS 
ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M.H.P. Filosofando: introdução à filosofia. 3. 
ed. São Paulo: Moderna, 2003. 
BOBBIO, N. Estado, Governo e Sociedade: para uma teoria geral da política. 
16. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2010. 
_____.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de Política. 12. ed. Brasília: 
Editora UNB, 2004. 
BOURDIEU, P. O poder simbólico. 16. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 
2012. 
BRASIL, (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Diário 
Oficial. 
_____. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Brasília: Presidência da 
República, Casa Civil, 1996. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/leis/L9394.htm>. Acesso em: 33 ago. 
2017. 
CARISSIMI, A. C. V. Ação sindical na construção da agenda política: um 
estudo sobre as reivindicações e negociações da APP - Sindicato com os 
governos entre os anos de 2003 e 2015. 203 p. Tese (Doutorado em Educação) 
– Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2016. 
CURY, C. R. J. Direito à educação, direito à igualdade, direito à diferença. 
Cadernos de Pesquisa, n. 116, p. 245-262, julho/2002. 
DALLARI, D. A. Elementos de teoria geral do estado. 25. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2005. 
MARSHALL, T. Cidadania, classe social e status. Rio de Janeiro: Zahar, 1967. 
MULLER, P.; SUREL, Y. Análise das políticas públicas. Pelotas: EDUCAT, 
2002. 
OLIVEIRA, R. de P.; ARAÚJO, G. C de. Qualidade do ensino: uma nova 
dimensão da luta pelo direito à educação. Revista Brasileira de Educação. 2003. 
 
 
013 
PRZEWORSKI, A. Capitalismo e Social Democracia. São Paulo: Companhia 
das Letras, 1989. 
POULANTZAS, N. O Estado, o poder e o socialismo. São Paulo: Paz e Terra, 
2000. 
 
 
 
014 
RESPOSTAS 
1. O Estado é na sua essência a forma como a sociedade se organiza e o 
Estado Moderno se desenvolve a partir da estruturação de algumas 
características de organização nacional, tais como: delimitação territorial, 
criação de um exército permanente, criação de uma moeda, etc. 
2. De acordo com os autores contratualistas, o Estado deve ser soberano, 
buscando manter a ordem e o controle social. Além disso, o Estado era um 
corpo coletivo que operava na execução das decisões e também soberano, 
pois era responsável por instituir as regras de uma comunidade valendo-se de 
um Contrato Social. 
3. Estado compostos por classes, dominantes e dominados, cuja luta de classes 
está circunscrita no seu interior. 
4. Explicar os campos da polity, onde se localiza, o das polities e como se 
configura e o da polices. 
5. Ver Constituição Federal de 1988 e LDB n. 9.394/1996. 
 
	Conversa inicial
	Contextualizando
	TEMA 1 – O PAPEL DO ESTADO
	4. Qual o ciclo da agenda política?

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