Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
AULA 1 POLÍTICAS EDUCACIONAIS Profª Aline Chalus Vernick Carissimi 02 CONVERSA INICIAL A primeira temática que será tratada na disciplina de Políticas Educacionais é a organização e desenvolvimento da escola brasileira, considerando as formas de intervenção do Estado na educação escolar: as políticas, o planejamento e a legislação da educação. Nesse sentido, iremos discutir o papel do Estado na formulação das políticas e, consequentemente, as legislações, no campo educacional, pautados na seguinte estrutura: • apresentação de uma breve concepção de Estado; • o Estado nas concepções dos autores contratualistas e a acepção socialista de Estado; • a agenda política e seu contexto de produção. • o planejamento das políticas e a legislação da educação no contexto do direito à educação. CONTEXTUALIZANDO A temática tratada nessa parte do material refere-se à compreensão da concepção do Estado e suas formas de intervenção na política pública, por meio da produção da agenda política, que reflete o planejamento e as legislações, considerando o contexto do direito à educação. TEMA 1 – O PAPEL DO ESTADO O Estado é, na sua essência, a sociedade da forma como sempre existiu, no entanto com seus diversos nomes, como afirma “dá essa designação a todas as sociedades políticas que, com autoridade superior, fixaram regras de convivência de seus membros” (Dallari, 2005, p. 52). Dallari (2005) ainda afirma que a situação permanente de convivência relacionada à sociedade política aparece pela primeira vez na obra O príncipe, de Maquiavel. Também destaca que não existe na cronologia histórica um único conceito de Estado e que, de certa maneira, cabe destacar que na história da humanidade existiram diferentes tipos de Estado, tais como: antigo, grego, romano, medieval e moderno. 03 Bobbio (2010) alerta para o uso do termo no contexto histórico, informando que não faz sentido tentar buscar a origem da definição em um dado momento histórico, pois para ele essa noção sempre existiu independentemente do tempo histórico, conforme destaca: É fora de discussão que a palavra “Estado” se impôs através da difusão e pelo prestígio do Príncipe de Maquiavel. A obra começa, como se sabe, com estas palavras: “Todos os estados, todos os domínios que imperaram e imperam sobre os homens, foram e são ou repúblicas ou principados”. Isto não quer dizer que a palavra tenha sido introduzida por Maquiavel. Minuciosas e amplas pesquisas sobre o uso de “Estado” na linguagem do Quatrocentos e do Quinhentos mostram que a passagem do significado corrente do termo status de “situação” para “estado” no sentido moderno da palavra, já ocorrera, através do isolamento do primeiro termo da expressão clássica status rei publicae. O próprio Maquiavel não poderia ter escrito aquela frase exatamente no início da obra se a palavra em questão já não fosse de uso corrente. (Bobbio, 2010, p.65) Nesse sentido, é importante destacar que neste trabalho optamos por discutir a definição do Estado e suas demais correlações considerando o recorte histórico da modernidade. O Estado Moderno se desenvolve pela estruturação de algumas características de organização nacional, tais como: delimitação territorial, criação de um exército permanente, criação de uma moeda, etc. De acordo com Aranha e Martins (2003): A partir da Idade Moderna, com a formação das monarquias nacionais, o Estado se fortalece e passa a significar a posse de um território em que o comando sobre seus habitantes é feito a partir da centralização cada vez maior do poder. Apenas o Estado se torna apto para fazer e aplicar as leis, recolher impostos, ter exército. A monopolização dos serviços essenciais para a garantia da ordem interna e externa exige o desenvolvimento do aparato administrativo fundado em uma burocracia controladora. (Aranha; Martins, 2003, p. 215) O Estado Moderno tem sua organização aprimorada com a ascensão da burguesia, nesse caso a burguesia europeia, que em virtude da necessidade de defesa da propriedade privada, instituiu, por consequência, um Estado de Direito, entendido como Estado Constitucional, uma vez que a organização sociopolítica de um país ou nação passa a ser regida pelas leis. Para Poulantzas (2000), a Lei Moderna é composta por características comuns, mas o direito capitalista ainda é mais específico, vejamos: Embora toda lei ou todo o direito apresentem certas características comuns, o direito capitalista é específico no que forma um sistema axiomatizado, composto de conjunto de normas abstratas, gerais, formais e estritamente regulamentadas. (Poulantzas, 2000, p. 84) Leisos Realce 04 Nesse contexto, destacamos a importância dos pensadores “contratualistas", ou seja, os defensores da ideia do “contrato social” na teorização do Estado Moderno e de Direito, uma vez que deixaram grandes contribuições para a organização política e jurídica de muitos países, inclusive o Brasil. No primeiro tema, apresentamos da concepção de Estado à luz dos autores contratualistas. Já no segundo tema, vamos apresentar a concepção de Estado sob de Poulantzas, autor socialista. O papel do Estado é importante para a elaboração da agenda política e para a efetivação da política, especialmente a fim de analisar o campo educacional. Nesse sentido cabe o estudo em torno da compreensão da agenda política e de suas fases de elaboração. Além disso, a forma de organização dos sistemas de ensino no Brasil é essencial para entender a efetivação das políticas. TEMA 2 – O ESTADO NA VISÃO DOS AUTORES CONTRATUALISTAS E NO CONTEXTO DO DIREITO As teorias contratualistas de Estado foram aplicadas nas diversas leis que garantem os direitos sociais e na Constituição Federal, no caso brasileiro. De acordo com Bobbio, Matteucci e Pasquino (2004), o contratualismo é a teoria que abarca a importância e a instituição do contrato social na convivência em sociedade, conforme destacam: Contratualismo compreende todas aquelas teorias políticas que vêem a origem da sociedade e o fundamento do poder político num contrato, isto é, num acordo tácito ou expresso entre a maioria dos indivíduos. Inicio do estado social e político. (Bobbio; Matteucci; Pasquino, 2004, p. 274) Thomas Robbes defendeu a ideia de que o Estado tem papel soberano de manter a ordem e o controle social. Robbes justificava que o homem é um ser primitivo, propenso à barbárie, pois vivia sem regras ou normas e que esse era seu estado de natureza. Diante disso, como forma de salvar a própria espécie humana, propõe que os homens saiam do estado natureza (primitiva) e estabeleçam um contrato de convívio social, ou seja, o contrato social, no qual repassam ao Estado, enquanto instituição soberana de ordem social e política, a função de proteger seus direitos. 05 Ainda dando ênfase à ideia do Estado Soberano, Hobbes destacou a importância desse Estado em detrimento da convivência em sociedade a partir do estado de natureza, pois para ele o governo teria a responsabilidade de impor as leis que regulariam a vida em sociedade e nesse sentido o governante não deveria ter limites de poder, segundo Dallari (2005): Tendo ressaltado, de início, as características e os males do estado de natureza, Hobbes chega à conclusão de que, uma vez estabelecida uma comunidade, por acordo, por conquista, ou por qualquer outro meio, deve ser preservada a todo e qualquer custo por causa da segurança que ela dá aos homens. E afirma, então, que mesmo um mau governo é melhor que um estado de natureza. Todo governante tem obrigações decorrentes de suas funções, mas pode ocorrer que não se cumpra. Entretanto, mesmo que o governante faça algo moralmente errado, sua vontade não deixa de ser lei e a desobediência a ela é injusta. Para cumprir seus objetivos,o poder do governo não deve sofrer limitações, pois, uma vez que estas existam, aquele que as impõe é que se torna o verdadeiro governante. (Dallari, 2005, p.14) John Locke afirmava que todos os homens deveriam usufruir de seus bens materiais com plena segurança ao passo que também deveriam obedecer às leis formuladas pelo legislativo e que este seria o poder do Estado. Diante disso, ele foi um dos grandes defensores do parlamentarismo. Também defendeu a teoria de que o contrato social garantiria a convivência social entre os homens, aquilo que ele passou a denominar de sociedade civil, de acordo com Aranha e Martins (2003): Assim como Hobbes e posteriormente Rousseau, Locke também parte da concepção pela qual os indivíduos isolados no estado de natureza se unem mediante o contrato social para constituir a sociedade civil. Segundo essa teoria, apenas o pacto torna legítimo o poder do Estado. (Aranha; Martins, 2003, p. 247) Jean Jacques Rousseau afirmava que ordem social era um direito estabelecido que considera a vontade dos homens e que ela era o fundamento da sociedade. Portanto, a soma das vontades individuais valendo-se dos interesses comuns era a vontade geral, ou seja, a síntese de todas. Dessa maneira, o Estado era um corpo coletivo que operava na execução das decisões e também soberano, pois era responsável por instituir as regras de uma comunidade com base em um Contrato Social. (Dallari, 2005) Para Jean Jacques Rousseau, a ideia da democracia podia ser assegurada por meio da igualdade entre os sujeitos e também pelo respeito à “vontade” da maioria, considerando a liberdade individual, portanto o estado de natureza era o estado de liberdade. 06 No entanto, para o Rousseau o soberano era o próprio povo e assim era o povo que instituía a vontade geral, expressada por meio das leis, conforme destacam Aranha e Martins (2003): Cada associado, mesmo quando se aliena totalmente em favor da comunidade, nada perde de fato, porque, na qualidade de povo incorporado mantém a soberania. Ou seja, o soberano é, para Rousseau, o corpo coletivo que expressa, por meio da lei, a vontade geral. A soberania do povo, manifesta pelo legislativo, é inalienável, isto é, não pode ser representada. (Aranha; Martins, 2003, p. 250) Na teoria de Rousseau, o governo deveria ser instituído pelo povo, os magistrados seriam seus oficiais e constituiriam o governo, no entanto seriam subordinados ao poder de decisão do soberano, ou seja, do povo. Nesse sentido, eram os executores das leis. TEMA 3 – O ESTADO NA VISÃO SOCIALISTA Após as breves apresentações das contribuições dos pensadores contratualistas na definição da teoria de Estado Moderno, é apresentada na sequência a teoria de Poulantzas numa perspectiva socialista de Estado tendo como eixo principal a luta de classes. Para esse pensador, o Estado capitalista explica as formas e as transformações históricas do Estado, enraizadas na relação entre as classes dominantes e classes dominadas. Dessa maneira, o autor destaca: “Toda teoria política deste século sempre propõe no fundo, abertamente ou não, a mesma questão: qual a relação entre o Estado, o poder e as classes sociais?”. (Poulantzas, 2000, p. 9) Nesse sentido, ele entende que as lutas de classes acontecem dentro da organização do Estado, muito embora as dominações políticas e de poder não signifiquem o próprio Estado, mas encontram-se instituídas diante de sua materialidade, de acordo com Poulantzas (2000): O Estado apresenta uma ossatura material própria que não Pode de maneira alguma ser reduzida à simples dominação política. O aparelho de Estado, essa coisa de especial e por consequência temível, não se esgota no poder do Estado. Mas a dominação política está ela própria inscrita na materialidade institucional do Estado. Se o Estado não é integralmente produzido pelas classes dominantes, não o é também por elas monopolizado: o poder do Estado (o da burguesia no caso do Estado Capitalista) está inscrito nesta materialidade. Nem todas as ações do Estado se reduzem à dominação política, mas nem por isso são constitutivamente menos marcadas. (Poulantzas, 2000, p.12) 07 Diante do conceito de Estado, Poulantzas (2000) destaca que a tese marxista não apresenta um modelo teórico de Estado, enfatizando que não existe nos clássicos marxistas uma teoria geral do Estado, e que um dos méritos do marxismo é justamente ter se afastado da procura e da elaboração de teorias gerais e abstratas que tentam elucidar os segredos da história, da política, do Estado e do poder. E enfatiza: Não que haja carências do marxismo nas análises do Estado e do Poder, o fato é que as carências não estão onde as procuramos. O que custou caro às massas populares em todo o mundo não foi a ausência no marxismo de uma teoria geral do Estado e do Poder, mas certamente o dogmatismo escatológico e profético que nos deu durante muito tempo um sistema teórico semelhante com o nome de “teoria marxista-leninista” do Estado. (Poulantzas, 2000, p. 20) Poulantzas (2000) ainda destaca a relação entre classes dominantes (burguesia) e Estado, este último tem papel de representação e organização junto à classe dominante, ou seja, o Estado organiza o interesse político de um denominado bloco de poder, que constitui as várias divisões da classe burguesa. Diante disso, o papel do Estado seria a constituição da unidade política entre as classes dominantes, pois ele é que instaura essas classes como dominantes e insere suas concepções nos mais diversos aparelhos, Poulantzas ainda continua: O Estado pode preencher essa função de organização e unificação da burguesia e do bloco de poder, na medida em que detém uma autonomia relativa em relação a tal ou qual fração e componente desse bloco, em relação a tais ou quais interesses particulares. Autonomia constitutiva do Estado capitalista: remete à materialidade desse Estado em sua separação relativa das relações de produção, e à especificidade das classes e da luta de classes sob o capitalismo que essa separação implica. (Poulantzas, 2000, p. 129) Ainda sobre o pessoal do Estado, Poulantzas (2000), alerta que o Estado reproduz uma ideologia dominante, a qual constitui a base de seus aparelhos e da unidade de seu pessoal. Nesse caso, a ideologia disseminada é a de um Estado neutro, representante da vontade e dos interesses gerais, porém esse tipo de ideologia não opera plenamente, pois os subconjuntos ideológicos das classes dominadas também estão cristalizados nos aparelhos do Estado, sejam eles: a justiça social, a ideia de igualdade entre os sujeitos, estabelecendo assim uma espécie de equilíbrio em favor dos fracos e aí as lutas populares se revelam ao pessoal do Estado, que as acolhe de acordo com sua origem de classe. No entanto, é 08 possível perceber a limitação política desse pessoal que pende para as massas populares, porém vive nos termos da ideologia dominante. TEMA 4 – A CONSTRUÇÃO DA AGENDA POLÍTICA Ao pensar a construção da agenda política, tomam-se em conta as contribuições dadas por Muller e Surel (2002). Esses autores analisam as políticas públicas pautando-se em três vertentes do ciclo de políticas, sendo: 1. a esfera da política (polity); 2. a atividade política (polities); 3. a ação pública (policies). Muller e Surel (2002), citados por Carissimi (2016, p. 34), destacam que ao analisar a inscrição de determinado objeto na agenda da política, “um problema deve estar integrado de fato às formas e às lógicas de funcionamento do aparelho político-administrativo” (2002, p. 66), assim os objetos e temas entram nos espaços que exigem decisão política. Para Muller & Surel (2002), o caminho para se chegar até a agenda política, esfera da política (polity), passa pelos processos de configuração dos atores em “espaço de trocas e espaço dos possíveis” que se estreitam ese redefinem pelos “prismas” institucionais e de produção de alternativas e, assim, ultrapassam a problematização e os atores envolvidos, o objeto ascende à agenda. Dessa maneira, entendemos que as demandas sociais (problematização do fator), ao alcançarem o processo/meio dos filtros institucionais, inserem o objeto na agenda política e, no entanto, continuam a demandar as ações e estratégias na disputa. A disputa pela demanda social e o Estado, pertinente ao objeto trazido para agenda, revelam-se nas ações (polities) e na implementação de ações (policies), por parte do governo. Para Bobbio, Matteucci e Pasquino (2004), o conceito de governo, sentido estatal, pode ser compreendido como um conjunto de sujeitos que desempenham o poder político e produzem uma direção política na sociedade e o poder de governo, assim, está associado à noção de Estado. Para Poulantzas (2000), o papel do Estado está na representação e organização da classe dominante, de forma com que o Estado aparelha o interesse político de determinado bloco de poder. 09 Dessa forma, o Estado constitui-se de divisões de classe, onde também se situa o serviço público, constituindo, todavia, uma classe ou um lugar de classe dentro da sociedade. Para Bordieu (2012), citado por Carissimi (2016, p. 35), a luta política tem como fundamento as determinantes econômicas e sociais que são típicas da divisão do trabalho político, realizadas pelos agentes politicamente ativos, inseridos em campos de forças e campo de lutas. Isso ocorre de tal forma que tudo que é politicamente pensável para uma classe específica determina-se na relação entre os interesses que exprimem essa classe e a capacidade de expressão de seus interesses. Assim, a participação no jogo político compõe a “vida política” vivenciada nas relações. Nesse caso, na relação entre a luta das organizações políticas e a luta das classes, há uma relação simbólica, em que se disputa o espaço ou a estrutura do campo político. Segundo Przeworski (1989), citado por Carissimi (2016, p. 36), o comportamento político das classes pressupõe a identidade coletiva, a solidariedade e o comprometimento político, dos quais partidos, igrejas, sindicatos, entre outros, impõem às massas determinada visão de sociedade, as quais permeiam as relações sociais de conflitos de interesses ideológicos. Nesse sentido, os partidos políticos - junto com sindicatos, igrejas, escolas – forjam as identidades coletivas e os interesses em nome de ações coletivas. No entanto, a relação dos partidos e dos trabalhadores não se faz meramente no contexto da ideologia, mas também no interesse de classe, na coletividade, na luta por suas reivindicações. Portanto, diante disso é possível notar que numa democracia capitalista, as relações políticas, produzem conflitos e resultados, os quais são determinados por posições de classe. TEMA 5 – O PLANEJAMENTO DA POLÍTICA E A LEGISLAÇÃO DA EDUCAÇÃO À LUZ DO DIREITO À EDUCAÇÃO O direito à educação, enquanto direito do cidadão e dever de todos, do Estado e da família, está previsto na Constituição Federal de 1988 (CF 88), reafirmado pelos princípios contidos na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n. 9.394/96 (LDB). A Constituição de 1988, no art. 205 afirma que: a educação direito de todos e dever do estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando o 010 pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (Brasil, 1988, p. 195) Já a LDB no art. 4º indica que o dever do Estado para a efetivação do direito a educação ocorre mediante a garantia de “padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos como a variedade e a quantidade mínimas, por aluno, de insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino- aprendizagem”. De acordo com Cury (2002, p. 302); A função social da educação assume a igualdade como pressuposto fundamental do direito à educação, sobretudo nas sociedades politicamente democráticas e socialmente desejosas de maior igualdade entre as classes sociais e entre os indivíduos que as compõem e as expressam. (Cury, 2008 p. 302) Nessa perspectiva, os autores Oliveira e Araújo (2003) relatam que a qualidade educacional está diretamente relacionada com o direito à educação, e creditam a CF 88 os avanços das conquistas sociais e políticos numa perspectiva histórica, impondo desde esse momento um redimensionamento do papel do Estado, na formulação, no planejamento e na efetivação das políticas sociais, especialmente na área educacional. Portanto, a educação se perfaz instrumento importante na redução das desigualdades sociais, uma vez que possibilita a ampliação de oportunidades aos sujeitos, desde que se efetive a qualidade educacional. Portanto, cabe destacar que é com base na conceituação da educação, como direito social e direito público subjetivo, que são balizados o planejamento e a efetivação de políticas públicas, podendo ser instrumentos de redução das desigualdades e das discriminações, contribuindo para a ampliação das possibilidades concretas de realização de uma educação escolar de qualidade. Diante disso, a educação constitui-se em direito dos cidadãos como instrumento fundamental de garantia de participação dos sujeitos nas esferas sociais da economia e da política. Portanto, é importante ter a clareza da trajetória dos direitos como processo social conquistados pelas classes trabalhadoras, as quais os conceberam como estratégias de participação na vida econômica, social e política, participação esta garantida em grande medida pelas legislações, que conforme Cury (2002), se configura na cidadania de um país: A lei acompanha o desenvolvimento da cidadania em todos os países. A sua importância nasce do caráter contraditório que a acompanha; 011 nela sempre reside uma dimensão de luta. Luta por inscrições mais democráticas, por efetivações mais realistas, contra descaracterizações mutiladoras, por sonhos de justiça. Todo o avanço da educação escolar além do ensino primário foi fruto de lutas conduzidas por uma concepção democrática da sociedade em que se postula ou a igualdade de oportunidades ou mesmo a igualdade de condições sociais. (Cury, 2002, p. 247). Ainda no campo da constituição do direito à educação, cabe relatar a estreita relação entre a história do direito à educação e a luta dos operários por leis de protecionistas ainda no século XIX, conforme destaca Marshall (1967): A educação das crianças está diretamente relacionada com a cidadania, e, quando o Estado garante que todas as crianças serão educadas, este tem em mente, sem sombra de dúvida, as exigências e a natureza da cidadania. Está tentando estimular o desenvolvimento de cidadãos em formação. O direito à educação é um direito social de cidadania genuíno porque o objetivo da educação durante a infância é moldar o adulto em perspectiva. Basicamente, deveria ser considerado não como o direito da criança frequentar a escola, mas como o direito do cidadão adulto ter sido educado. (Marshal, 1967, p. 73). Porém, atualmente, um dos maiores desafios na seara do direito à educação é efetivar a qualidade da educação, além de garantir o acesso e à permanência na escola, como forma de também garantir a justiça social. Portanto, diante disso, podemos afirmar que boa parte do planejamento promove avanço na garantia do direito à educação. NA PRÁTICA 1. De maneira geral, o que é o Estado? 2. Com base no que foi apresentado, qual é a ideia de Estado defendida pelos autores contratualistas? 3. Considerando o que foi apresentado, qual a ideia de Estado expressa por Poulantzas? 4. Qual o ciclo da agenda política? 5. Em quais documentos encontra-se legalmente amparado o direito à educação na legislação brasileira? Explique alguns pontos que evidenciamesse direito. 012 REFERÊNCIAS ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M.H.P. Filosofando: introdução à filosofia. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2003. BOBBIO, N. Estado, Governo e Sociedade: para uma teoria geral da política. 16. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2010. _____.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de Política. 12. ed. Brasília: Editora UNB, 2004. BOURDIEU, P. O poder simbólico. 16. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012. BRASIL, (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Diário Oficial. _____. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Brasília: Presidência da República, Casa Civil, 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/leis/L9394.htm>. Acesso em: 33 ago. 2017. CARISSIMI, A. C. V. Ação sindical na construção da agenda política: um estudo sobre as reivindicações e negociações da APP - Sindicato com os governos entre os anos de 2003 e 2015. 203 p. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2016. CURY, C. R. J. Direito à educação, direito à igualdade, direito à diferença. Cadernos de Pesquisa, n. 116, p. 245-262, julho/2002. DALLARI, D. A. Elementos de teoria geral do estado. 25. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. MARSHALL, T. Cidadania, classe social e status. Rio de Janeiro: Zahar, 1967. MULLER, P.; SUREL, Y. Análise das políticas públicas. Pelotas: EDUCAT, 2002. OLIVEIRA, R. de P.; ARAÚJO, G. C de. Qualidade do ensino: uma nova dimensão da luta pelo direito à educação. Revista Brasileira de Educação. 2003. 013 PRZEWORSKI, A. Capitalismo e Social Democracia. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. POULANTZAS, N. O Estado, o poder e o socialismo. São Paulo: Paz e Terra, 2000. 014 RESPOSTAS 1. O Estado é na sua essência a forma como a sociedade se organiza e o Estado Moderno se desenvolve a partir da estruturação de algumas características de organização nacional, tais como: delimitação territorial, criação de um exército permanente, criação de uma moeda, etc. 2. De acordo com os autores contratualistas, o Estado deve ser soberano, buscando manter a ordem e o controle social. Além disso, o Estado era um corpo coletivo que operava na execução das decisões e também soberano, pois era responsável por instituir as regras de uma comunidade valendo-se de um Contrato Social. 3. Estado compostos por classes, dominantes e dominados, cuja luta de classes está circunscrita no seu interior. 4. Explicar os campos da polity, onde se localiza, o das polities e como se configura e o da polices. 5. Ver Constituição Federal de 1988 e LDB n. 9.394/1996. Conversa inicial Contextualizando TEMA 1 – O PAPEL DO ESTADO 4. Qual o ciclo da agenda política?
Compartilhar