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ROMANTISMO NO BRASIL O que foi o Romantismo no Brasil? O impulso do Romantismo surgiu como um contraponto da intensa racionalização e mecanização provenientes da revolução industrial. Ele é marcado por um ambiente intelectual de grande rebeldia, oposição à realidade social e inconformismo às regras que determinavam o fazer artístico, principalmente na literatura. Para explicar o que foi o Romantismo no Brasil, primeiro vamos entender suas origens. Com foco nas emoções e expressão da subjetividade, o Romantismo literário abriu espaço para que o artista criasse livremente, o que também refletia o cenário externo, aquilo que acontecia na esfera social. Originalmente surgido na Alemanha, que estava se formando como nação, o Romantismo teve bases nacionalistas e se mostrou como espaço para a religação à natureza e também à essência humana. Esse contexto foi um marco em comum para o Brasil, que passava justamente pelo processo de independência de Portugal. A melhor forma de conhecer uma escola literária é acompanhando o cenário da época. Com o contexto histórico do Romantismo no Brasil, você percebe que ele foi uma necessidade que caminhou ao encontro da independência do nosso país. Após o grito da independência em 1822, surge uma nova mentalidade no povo brasileiro, que deseja reforçar a nova realidade, negando tudo o que tinha origem na cultura portuguesa. Além disso, o país atravessava um momento marcado por reformas políticas, ânimo de liberdade, necessidade de construção dessa nova nação e, principalmente, destaque para o nacionalismo e valorização da nossa pátria. Semelhante ao contexto histórico do Romantismo europeu, a situação, ao mesmo tempo em que criava uma certa insegurança em relação ao novo modelo, também inspirava com os novos ares. Um marco que aponta para o início do Romantismo no Brasil foi o livro “Suspiros Poéticos e Saudades” de Gonçalves de Magalhães, no ano de 1836. O Romantismo foi para além da literatura, foi um movimento artístico e filosófico que surgiu no final do século XVIII na Europa, indo até o final do século XIX. A maior característica do Romantismo era a visão de mundo que se contrapunha ao racionalismo do período anterior (neoclassicismo). O movimento romântico cultiva uma visão de mundo centrada no indivíduo, e, portanto, os autores voltavam-se para si mesmo, retratando dramas pessoais como tragédias de amor, ideias utópicas, desejos de escapismo e amores platônicos ou impossíveis. O século XIX seria, portanto, marcado pela arte voltada para o lirismo, a subjetividade, a emoção e a valorização do “eu”. No Brasil, o período histórico era marcado por um sentimento nacionalista, em especial pelo fato marcante que foi a Independência, em 1822. Encontramos, pois, elementos que caracterizam o período, presentes nas obras dos autores românticos. É o exemplo da exaltação da Pátria feita por Gonçalves Dias, e do clima nostálgico presente nas poesias de Álvares de Azevedo e Fagundes Varela, sem falar no engajamento nas causas sociais, presente fortemente na obra de Castro Alves, o qual abordou temas polêmicos como a escravidão. Características do Romantismo no Brasil · Subjetividade e individualismo: o indivíduo está em primeiro plano, bem como suas paixões, sentimentos e maneiras de ver o mundo. · Culto à sensibilidade: em reação contrária aos ideais racionalistas do Iluminismo europeu, que privilegiam a razão e a objetividade, os românticos enfatizam a valorização do sentimento como principal expressão humana. · Exaltação da natureza: os elementos da natureza aparecem em conformidade com os estados de espírito do eu lírico. A descrição das paisagens externas remete ao que se passa na interioridade do sujeito. · Idealização: com a exaltação de temas sentimentais, os românticos apresentam descrições idealizadas do amor, do herói e da mulher, exagerando suas características. A mulher é tida como símbolo de pureza, o amor é retratado como o ideal maior e única possibilidade de realização do sujeito. · Fuga da realidade: o que é da ordem do sentimento, da interioridade e da idealização já não corresponde à realidade em si, dando espaço para que o autor romântico aborde temas como a loucura, o delírio e o escape por meio da arte. Romantismo no Brasil - Poesia O Romantismo no Brasil inicia-se no ano de 1836, tendo como marco inicial a obra Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães. Didaticamente, na poesia, dividimos o movimento em três gerações: a primeira, nacionalista; a segunda, conhecida como ‘mal do século’; e a terceira, marcada pelo condoreirismo. Primeira geração do romantismo A primeira geração, fortemente influenciada pela Independência do Brasil, conquistada em 1822, buscava uma poesia que identificasse o país com suas raízes históricas, linguísticas e culturais, assim como o brasileiro buscava sua própria identidade neste novo Brasil, livre de Portugal. O sentimento de nacionalidade, o patriotismo e o desejo de construir uma arte brasileira propriamente dita, com elementos que remetiam ao passado histórico do país, eram muito fortes nas obras desta geração. Marcada pelo indianismo, a poesia da primeira geração tinha temáticas que remetiam à natureza brasileira, exaltando-a e colocando todos os elementos à altura dela, fazendo comparações e metáforas com todas as riquezas naturais. O índio surge como um herói que representa o Brasil e os brasileiros, numa visão de realidade idealizada e subjetiva. Obras e autores da primeira geração Destacam-se nesta primeira geração os poetas Gonçalves Dias, com obras como Canção do Exílio e I-Juca Pirama, e Gonçalves de Magalhães, com a Confederação dos Tamoios. Segunda geração do romantismo A segunda geração surgiu em meados da década de 50 do século XIX e, na contramão da primeira geração, traz uma poesia onde o eu-lírico volta-se mais para si, afastando-se dos acontecimentos políticos e sociais da época. Com inspiração de Lord Byron, poeta britânico, a poesia da segunda geração tinha em suas temáticas o pessimismo, o apego aos vícios e o foco nos sentimentos, que apareciam de forma exagerada e idealizada na poesia. Também temos o gosto pela noite, a melancolia, o sofrimento, temáticas mórbidas e o medo do amor, este sendo um sentimento idealizado, um devaneio onde existem imagens sensuais e eróticas que nunca são vivenciadas e vistas na realidade do eu-lírico, que vive em meio à solidão, sonhos e idealizações. Obras e autores da segunda geração O grande nome desta fase é Álvares de Azevedo, com sua Lira dos Vinte Anos e a prosa Noite da Taverna, que destoa dos tipos de prosa do Romantismo, tendo nesta obra as características da segunda geração poética. Além deste, temos também Casemiro de Abreu, que, ao contrário de Álvares, estava mais encaixado no gosto do público, não entrando em temáticas tão mórbidas. Por último, temos Fagundes Varela, poeta em transição, com algumas poesias que começavam a voltar seu olhar para a sociedade. Terceira geração do romantismo A terceira geração romântica surge em meados de 60 e dura até o fim do Romantismo, em 1880. Com inspiração em Victor Hugo, esta geração traz uma poesia com foco político e social, marcada pelo momento em que as ideias abolicionistas e republicanas vinham à tona e. o desejo de libertar-se da realidade atrasada do Império era forte. É uma fase que já anuncia a mudança para o Realismo, pois tirava o foco do ‘eu’ e colocava este foco no assunto e na realidade social, trazendo postura crítica e uma poesia liberal ao invés da simples exaltação e estagnação das primeiras gerações que trazia uma poesia exagerada e idealizada demais Condodeirismo O nome condodeirismo não vem à toa: seguindo os ideais de liberdade, temos neste nome a figura do condor, ave que dava um alto voo, assim como os poetas o faziam ao sonhar alto e lutar pelos seus ideais libertários. Obras e autores da terceira geração Nesta geração o nome mais famoso é o de Castro Alves, com seu épico O NavioNegreiro. Temos também Joaquim de Sousa Andrade e José Joaquim de Campos Leão. Romantismo no Brasil - Prosa No Brasil, o desenvolvimento da prosa romântica é paralelo ao desenvolvimento da imprensa no país, que foi introduzida em 1808. Antes da vinda da Corte ao Rio de Janeiro, Portugal não permitia o desenvolvimento e a introdução da imprensa aqui no Brasil. A atividade passou a ser desenvolvida somente com a vinda da Corte portuguesa ao Brasil, em 1808, que exigiu o desenvolvimento da colônia para atender ao seu modo de vida. Com o desenvolvimento da imprensa, criou-se um público leitor que impulsionou um grande número de publicações em folhetins, formato que permitiu o surgimento e desenvolvimento da prosa romântica, que, ao lado da poesia, formaram toda a produção literária romântica. É importante colocar que, pelo fato de a produção em prosa ter surgido no Romantismo, o nome romance é comumente associado ao movimento, muitas vezes sendo sinônimo de folhetim e de histórias românticas. No entanto, nem todo o romance é romântico/do Romantismo, uma vez que romance é apenas uma palavra que designa um gênero literário narrativo em prosa que teve vários desdobramentos ao longo do tempo, como o romance realista e o romance naturalista. Tipos de romances · Romance indianista: protagonizado pelo índio romântico, herói da nação e representante do Brasil e dos brasileiros. A exaltação da natureza é característica importante e componente da estrutura espacial da narrativa, uma vez que a valorização da pátria é reforçada pelo enaltecimento das paisagens brasileiras. São exemplos os romances Iracema, O Guarani e Ubirajara, também conhecidos como trilogia indianista, de autoria de José de Alencar. · Romance histórico: narrativa de fundo histórico, geralmente voltada para o período colonial brasileiro e os temas caros à época, como as entradas e bandeiras e a exploração aurífera. Tem por objetivo consolidar literariamente a construção do passado nacional, o que muitas vezes traz à tona um nacionalismo exacerbado. São romances históricos: As minas de prata e Guerra dos mascates, de José de Alencar. · Romance urbano: privilegia a vivência nas capitais e geralmente narra episódios que se passam na alta sociedade e na corte. Os romances urbanos foram, e até hoje são, os mais lidos e funcionaram como crítica dos costumes, ressaltando aspectos negativos da vida burguesa e da vida nas cidades. Narram especialmente intrigas amorosas e disparidades socioeconômicas. São romances urbanos Lucíola, Senhora, Diva e A viuvinha, de José de Alencar, e A moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo. · Romance regionalista: em ambiência rural, promove a exposição dos costumes típicos, com o objetivo de redescobrir o Brasil por meio de culturas específicas de cada região. É um retrato dos costumes de determinado local, expondo influências folclóricas, geográficas e econômicas. São exemplos de romances regionalistas A escrava Isaura, de Bernardo Guimarães, e Inocência, de Visconde de Taunay.