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ESTUDO TÉCNICO SETORIAL DA CERÂMICA VERMELHA Estudo Desenvolvido no Âmbito do Convênio 076/2010 - ABDI | MDIC Subsídios para a Elaboração do Plano de Desenvolvimento Sustentável da Cadeia Produtiva de Cerâmica Vermelha ESTUDO TÉCNICO SETORIAL DA CERÂMICA VERMELHA Estudo Desenvolvido no Âmbito do Convênio 076/2010 - ABDI | MDIC Subsídios para a Elaboração do Plano de Desenvolvimento Sustentável da Cadeia Produtiva de Cerâmica Vermelha 2 ESTUDO TÉCNICO SETORIAL DA CERÂMICA VERMELHA Estudo Desenvolvido no Âmbito do Convênio 076/2010 - ABDI | MDIC Subsídios para a Elaboração do Plano de Desenvolvimento Sustentável da Cadeia Produtiva de Cerâmica Vermelha ESTUDO TÉCNICO SETORIAL DA CERÂMICA VERMELHA Estudo Desenvolvido no Âmbito do Convênio 076/2010 - ABDI | MDIC Subsídios para a Elaboração do Plano de Desenvolvimento Sustentável da Cadeia Produtiva de Cerâmica Vermelha ESTUDO TÉCNICO SETORIAL DA CERÂMICA VERMELHA Estudo Desenvolvido no Âmbito do Convênio 076/2010 - ABDI | MDIC Subsídios para a Elaboração do Plano de Desenvolvimento Sustentável da Cadeia Produtiva de Cerâmica Vermelha ESTUDO TÉCNICO SETORIAL DA CERÂMICA VERMELHA Estudo Desenvolvido no Âmbito do Convênio 076/2010 - ABDI | MDIC Subsídios para a Elaboração do Plano de Desenvolvimento Sustentável da Cadeia Produtiva de Cerâmica Vermelha ESTUDO TÉCNICO SETORIAL DA CERÂMICA VERMELHA Estudo Desenvolvido no Âmbito do Convênio 076/2010 - ABDI | MDIC Subsídios para a Elaboração do Plano de Desenvolvimento Sustentável da Cadeia Produtiva de Cerâmica Vermelha ESTUDO TÉCNICO SETORIAL DA CERÂMICA VERMELHA República Federativa do Brasil Dilma Rousseff Presidenta Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Armando Monteiro Ministro Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial - ABDI Alessandro Teixeira Presidente Maria Luisa Campos Machado Leal Diretora de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação Miguel Antônio Cedraz Nery Diretor de Desenvolvimento Produtivo Charles Capella de Abreu Chefe de Gabinete Carla Maria Naves Ferreira Gerente de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação Cynthia Araújo Nascimento Mattos Coordenadora de Promoção da Inovação Supervisão Coordenação Geral Maria Luisa Campos Machado Leal Diretora de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação Equipe Técnica ABDI Cynthia Araújo Nascimento Mattos Coordenadora de Promoção da Inovação Claudionel de Campos Leite Líder do Projeto Willian Cecilio de Souza Assistente de Projetos Equipe Técnica MDIC Marcos Otávio Bezerra Prates Diretor do Departamento das Indústria Intensivas em Mão de Obra e Recursos Naturais Talita Tormin Saito Coordenadora-Geral das Indústrias Inten- sivas em Mão de Obra Gabriela Maretto Figueiredo Coordenadora-Geral de Arranjos Produti- vos Locais Equipe Técnica Inventta Daniel Daher Saad - Diretor Ana Carolina Calçado - Coordenadora Renato Silva - Analista Rafael Martins de Oliveira - Analista Vinicius Muraro da Silva - Analista Coordenação de Comunicação Bruna de Castro Coordenadora de Comunicação Preparação de Texto Hamilton Fernandes / Tikinet Revisão de Texto Ariane Lesnyak / Tikinet Projeto Gráfico e Diagramação Rodrigo Martins / Tikinet ©2016 – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial – ABDI Qualquer parte desta obra pode ser reproduzida, desde que citada a fonte. ABDI Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial SCN Quadra 1, Bloco D, Ed. Vega Luxury Design Offices, Torre Empresarial A Asa Norte, Brasília – DF CEP 70.711-040 – Tel.: (61) 3962 8700 www.abdi.com.br SUMÁRIO 6 Configuração da cadeia produtiva da cerâmica vermelha e caracterização do segmento produtivo de cerâmica vermelha 87 Cenários macroeconômicos, histórico e perspectivas de evolução da cadeia produtiva de cerâmica vermelha na economia brasileira no longo prazo 126 Benchmarking de experiências internacionais de organização da Cadeia Produtiva de Cerâmica Vermelha que podem servir de referência para o Brasil 156 Aspectos institucionais, tributários e tecnológicos da indústria de cerâmica vermelha no Brasil 200 Mapeamento, identificação e caracterização das aglomerações produtivas de cerâmica vermelha no país; subsídios para elaboração do Plano de Gerenciamento de Resíduos e do Plano de Eficiência Energética para APLs; e Desafios horizontais para atuação em Arranjos Produtivos Locais de cerâmica vermelha 249 Análise da competitividade da cadeia produtiva da cerâmica vermelha nacional e agendas estratégicas para incremento de sua competitividade CONFIGURAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DA CERÂMICA VERMELHA E CARACTERIZAÇÃO DO SEGMENTO PRODUTIVO DE CERÂMICA VERMELHA Relatório Técnico 1 LISTA DE FIGURAS 12 Figura 1 – Cerâmica vermelha na classificação do setor cerâmico 14 Figura 2 – Cadeia produtiva da cerâmica vermelha 15 Figura 3 – Estimativa do custo de produção nos elos da cadeia produtiva 17 Figura 4 – Produção por tipo de produto 21 Figura 5 – Reservas de argila no Brasil 21 Figura 6 – Regiões produtoras de minerais industriais cerâmicos 24 Figura 7 – Dados da cadeia de cerâmica vermelha em 2010 27 Figura 8 – Polos de cerâmica vermelha 33 Figura 9 – Produtos de cerâmica vermelha 38 Figura 10 – Comparação entre o bloco cerâmico e o bloco de concreto 40 Figura 11 – Processo produtivo da cerâmica vermelha 60 Figura 12 – Distribuição das lojas de materiais de construção pelo Brasil 63 Figura 13 – Instituições de capacitação e treinamento 64 Figura 14 – Desafios da capacitação e treinamento 66 Figura 15 – Prospecção de grupos de pesquisa atuantes em cerâmica vermelha 67 Figura 16 – Focos de pesquisa 69 Figura 17 – Disponibilidade de máquinas e equipamentos 70 Figura 18 – Disponibilidade de serviços de P&D LISTA DE GRÁFICOS 18 Gráfico 1 – Distribuição dos tipos de produto por região (%) 22 Gráfico 2 – Produção de cerâmica vermelha por estado em 2011 25 Gráfico 3 – Número de empresas por região em 2011 27 Gráfico 4 – Produção brasileira de cerâmica vermelha por região 28 Gráfico 5 – Concentração das empresas em polos em 2012 29 Gráfico 6 – Histórico da produção de cerâmica vermelha no Brasil a partir de 2001 (em bilhões de peças) 30 Gráfico 7 – Previsão de produção de cerâmica vermelha (em bilhões de peças) 31 Gráfico 8 – Previsão da produção de argila para cerâmica vermelha (em milhões de toneladas) 34 Gráfico 9 – Evolução do consumo per capita de cerâmica vermelha no Brasil 36 Gráfico 10 – Projeção do consumo total (109 peças) entre 2011 e 2022 36 Gráfico 11 – Projeção do consumo de cerâmica vermelha per capita (peças/hab.) com base no PIB entre 2011 e 2022 38 Gráfico 12 – Comparação: bloco cerâmico versus bloco de concreto – número de reclamações sobre qualidade e padronização/normalização de produtos 42 Gráfico 13 – Produção e produtividade por região brasileira em 2012 45 Gráfico 14 – Perfil de distribuição dos combustíveis no setor de cerâmica vermelha (em 103 tep) 49 Gráfico 15 – Perfil dos fornos no Brasil em 2011 51 Gráfico 16 – Percentual de olarias em relação ao total de empresas por estado em 2011 53 Gráfico 17 – Empresas qualificadas no PSQ e estimativa até 2022 57 Gráfico 18 – Fonte de recursos para investimentos do setor de cerâmica vermelha no Espírito Santo 57 Gráfico 19 – Objetivos dos investimentos dos ceramistas do Espírito Santo 58 Gráfico 20 – Distribuição dos cursos de qualificação para os profissionais do setor de cerâmica entre os estados em 2013 59 Gráfico 21 – Quantidade de cursos de qualificação para os profissionais do setor de cerâmica em 2013 60 Gráfico 22 – Tempo de existência das lojas (em %) (Dados de 2011) 67 Gráfico 23 – Nível de cooperação com instituições de ensino e pesquisa no Espírito Santo LISTA DE TABELAS 15 Tabela 1 – Agentes econômicos da cadeia 17 Tabela 2 – Produção por tipo de produto segundo classificação do IBGE (2010) 19 Tabela 3 – Preço de mercado por tipo de produto 23 Tabela 4 – Dados dos principais polos brasileiros produtores de cerâmica 25 Tabela 5 – Dados do segmentode cerâmica vermelha 25 Tabela 6 – Número de empresas em 2011 por estado 32 Tabela 7 – Previsão dos investimentos 35 Tabela 8 – Projeção de crescimento do PIB 44 Tabela 9 – Consumo total de energia para fabricação de cerâmica vermelha (em 103 tep) 47 Tabela 10 – Comparação dos dois principais grupos de forno 52 Tabela 11 – Número de olarias por região em 2011 61 Tabela 12 – Dados do segmento de cerâmica vermelha 62 Tabela 13 – Perspectivas da demanda de recursos humanos em segmentos de transformação associados a atividades de mineração (2010-2030) 63 Tabela 14 – Perspectivas da demanda de profissionais de nível superior e de nível médio em segmentos de transformação associados a atividades de mineração (2010-2030) SUMÁRIO 12 Introdução 13 Análise da cadeia produtiva de cerâmica vermelha 16 Situação atual da produção de cerâmica vermelha no Brasil 24 Parque industrial/estrutura de mercado 29 Produção e investimentos 33 Consumo 39 Processo produtivo 44 Eficiência energética e resíduos 51 Perfil empresarial 61 Recursos humanos 65 Tecnologia 72 Referências 76 Anexo 1 83 Anexo 2 12 Relatório 1 INTRODUÇÃO O setor cerâmico compreende todos os materiais inorgânicos, não metálicos, obtidos geralmen- te após tratamento térmico em temperaturas elevadas. É amplo e heterogêneo, o que induz a dividi-lo em subsetores ou segmentos em razão de diversos fatores, como matérias-primas, propriedades e áreas de utilização. Dessa forma, em geral, é adotada a classificação apresentada na Figura 1. Como podemos observar na figura a seguir, um dos segmentos do setor cerâmico é o de cerâmica vermelha, que compreende os materiais com coloração avermelhada empregados na construção civil (tijolos, blocos, telhas, elementos vazados, lajes, tubos cerâmicos e argilas expandidas) e também utensílios de uso doméstico e de adorno. A figura apresenta a estrutura desse setor: Figura 1 – Cerâmica vermelha na classificação do setor cerâmico Fonte: Adaptado do site da ABC. Elaboração Inventta Cerâmica Vermelha Abrasivos Cerâmica Branca Cerâmica de Alta Tecnologia/Cerâmica Avançada Fritas e Corantes Isolantes Térmicos Materiais de Revestimento (Placas Cerâmicas) Materiais Refratários Vidro, Cimento e Cal SETOR CERÂMICO Subsídios para a elaboração do plano de desenvolvimento sustentável da cadeia produtiva de cerâmica vermelhaRelatório 1 Para transformar a matéria-prima bruta em produtos como tijolos, telhas, pisos e revestimentos ou louças existe uma cadeia produtiva composta por diversos agentes econômicos. Esses agen- tes, como podemos observar na figura a seguir, podem ser divididos em quatro categorias de acordo com as atividades desempenhadas, de acordo com o Sebrae (2004b). São elas: » empresas relacionadas ao segmento de mineração; » empresas envolvidas no processo produtivo; » empresas de distribuição dos produtos derivados da cerâmica; » empresas responsáveis pelos canais de venda ao consumidor. O primeiro estágio reúne as empresas relacionadas ao segmento de mineração. Nessa etapa ocorre a extração das matérias-primas brutas e o tratamento desses insumos. Esse processo é de grande importância, pois garante a qualidade do produto da matéria-prima que será utilizada durante o processo. Até poucos anos atrás, era comum as empresas cerâmicas possuírem jazi- das e reservas; hoje é possível encontrar empresas que tercerizam essa parte do processso. As empresas fornecedoras normalmente são de pequeno porte, e estão presentes em todo o país, principalmente nos arredores de polos de consumo de cerâmica. Já o segundo estágio inclui as empresas envolvidas no processo produtivo da cerâmica. Nele estão as empresas envolvidas no processo produtivo em si, que produzem as peças e inspecionam o material para o consumo. Essas empresas costumam estar localizadas próximas às jazidas, já que algumas grandes empresas dessa etapa internalizam os procedimentos que ocorrem na etapa anterior – pro- cesso de mineração. Contudo, o setor não é caracterizado apenas por empresas de grande porte, mas por uma grande diversidade, dispondo de empresas com os mais diversos graus de capitalização, ANÁLISE DA CADEIA PRODUTIVA DE CERÂMICA VERMELHA 14 Relatório 1 tecnologia e porte, que se diferenciam tanto pelos produtos obtidos como também pelos mercados nos quais estão inseridos. Um dos segmentos de produção é composto por empresas mais simples, cujo ramo de atividade está relacionado com a cerâmica estrutural de cor avermelhada que produz tijolos, telhas, blocos cerâmicos, manilhas e pisos cerâmicos rústicos. Figura 2 – Cadeia produtiva da cerâmica vermelha Fonte: Elaboração Inventta A terceira etapa é caracterizada pela presença de empresas atacadistas envolvidas na distribui- ção dos produtos derivados da cerâmica para o pequeno varejo e grandes redes. Existem casos em que o próprio fabricante tem um sistema de distribuição. O último estágio corresponde aos canais de venda ao consumidor, representados pelo grande e pequeno varejo. O grande varejo é composto pelos home centers, grandes redes de lojas e grandes lojas de materiais de construção; o pequeno varejo é composto por olarias, lojas da fábrica, lojas de utilidades do lar e pequenas lojas de material de construção de bairros. Na figura a seguir podemos observar quais as características das empresas que compõem cada categoria citada anteriormente. Subsídios para a elaboração do plano de desenvolvimento sustentável da cadeia produtiva de cerâmica vermelha Tabela 1 – Agentes econômicos da cadeia Pequenas e Médias Empresas Grandes Empresas Segmento de Mineração Pequenos extratores próprios de jazidas de cerâmicas tradicionais e extratores terceirizados da cerâmica técnica e avançada Grandes empresas mineradoras e beneficiadoras ligadas aos fabricantes de produtos da cerâmica técnica e avançada Processo Produtivo Pequenas e médias empresas fabricantes de produtos derivados da cerâmica vermelha e da branca, especialmente olarias Fabricantes de produtos derivados da cerâmica branca, especialmente louças (Schmidt) e pisos e revestimentos (Incepa) Comércio Atacadista Distribuidores que trabalham regionalmente, fornecendo produtos principalmente para o pequeno varejo Distribuidores que trabalham em um raio de atuação maior, fornecendo produtos tanto para o pequeno quanto para grandes varejistas Comércio Varejista Olarias, pequenas lojas da fábrica, lojas de utilidades do lar e pequenas lojas de material de construção de bairros Home centers, grandes redes de lojas e grandes lojas de materiais de construção Fonte: Sebrae (2004) Segundo dados de 2004 do Sebrae, é possível observar que, ao longo da cadeia produtiva, ocor- re uma agregação de valor de 10 a 12 vezes. A sequência de valor para cada estágio da cadeia, ou seja, o custo médio do processo para a produção de um milheiro de tijolos é apresentada na figura a seguir: Figura 3 – Estimativa do custo de produção nos elos da cadeia produtiva R$10,00 o milheiro R$70,00 o milheiro R$100,00 a R$120,00 o milheiro Custo de aquisição da argila, incluindo o frete Custo de produção de 1 milheiro de tijolos Preço de venda de 1 milheiro de tijolos, incluindo a entrega Fonte: Sebrae (2004) A distribuição dos custos varia de acordo com o tamanho da empresa, tipo de produto, distância do mercado consumidor e da jazida de argila, entre outros. Estima-se que para as empresas me- nores, maioria no mercado de cerâmica vermelha, a proporção dos custos com mão de obra seja maior, enquanto a proporção dos custos com energia seja menor, por causa do menor grau de automação. Os impostos para essas empresas também são significativamente menores. 16 Relatório 1 Existe certa divergência nos dados sobre o setor de cerâmica no Brasil. As duas princi- pais associações do setor, a Anicer (Associação Nacional da Indústria Cerâmica) e a ABC (Associação Brasileira de Cerâmica), divergem quanto ao número de empresasexistentes, empregos gerados e faturamento do setor. Segundo dados da Anicer, em 2008 existiam cerca de 5.500 empresas, entre cerâmicas e olarias, sendo responsáveis por mais de 400 mil empregos diretos, 1,25 milhões indiretos e gerando um faturamento anual de R$ 6 bilhões, o que corresponde a algo em torno de 4,8% do faturamento da indústria da construção ci- vil. Já a ABC considerava que existam 11.000 empresas de pequeno porte distribuídas pelo país, empregando cerca de 300 mil pessoas, e gerando um faturamento da ordem de R$ 2,8 bilhões (Sebrae, 2008). O motivo dessa diferença nos dados deve-se ao alto índice de in- formalidade existente em toda cadeia de construção civil do país, o que dificulta uma maior precisão nos dados do setor. Essa dificuldade de informação sobre o setor ainda persiste. Consulta recente ao site da ABC1 verificou que a instituição se abstém de se posicionar sobre os dados do setor de cerâmica vermelha, remetendo para a Anicer a fonte ou referência adequada para esses dados. Assim, na mesma data foi consultado o site da Anicer2, onde puderam ser identificadas cerca de 6.903 em- presas, entre cerâmicas e olarias, sendo responsáveis por quase 300 mil empregos diretos, 900 mil indiretos, com um faturamento anual de R$ 18 bilhões e uma representatividade em torno de 4,8% da construção civil. Segundo dados do Ministério de Minas e Energia (MME) (2011a), estima-se que a produção de cerâmica vermelha foi de 84,8 bilhões de peças, sendo que 70% dessa produção corresponde a blocos e tijolos, e 30% a telhas. 1 Consulta efetuada em 08/10/2015 no www.abceram.org.br 2 Consulta efetuada em 08/10/2015 no portal.anicer.com.br/setor/ SITUAÇÃO ATUAL DA PRODUÇÃO DE CERÂMICA VERMELHA NO BRASIL Subsídios para a elaboração do plano de desenvolvimento sustentável da cadeia produtiva de cerâmica vermelha Figura 4 – Produção por tipo de produto Fonte: MME (2011a) A seguir, podemos observar os dados de produção por tipo de produto em 2010, segundo o IBGE. As informações podem ser consideradas limitadas pelo baixo número de empresas res- pondentes em relação ao total de empresas do setor existentes no país. Como podemos obser- var, os tijolos são os itens que têm a produção com maior valor nesse setor, correspondendo a aproximadamente 63% do valor gerado no setor em 2010. Tabela 2 – Produção por tipo de produto segundo classificação do IBGE (2010) Classes de atividades e descrição dos produtos Unidade de medida Número de informações Produção Quantidade Valor (em R$ 1.000,00) Tijolos perfurados, tapa-vigas e outros tijolos de cerâmica para construção, exceto refratários mil 912 5.226.646 1.385.392 Telhas de cerâmica mil 447 2.230.687 744.855 Tubos, canos, calhas ou outros acessórios para canalização de cerâmica kg 15 12.049.110 66.835 Fonte: IBGE (2010) No gráfico a seguir é apresentada a distribuição dos tipos de produtos por região. Apesar de todas as regiões apresentarem produção mais expressiva de tijolos e blocos, regiões como a Centro-Oeste têm se destacado pela produção de telhas. 18 Relatório 1 Gráfico 1 – Distribuição dos tipos de produto por região (%) Fonte: INT (2012) Em relação aos preços praticados, temos na tabela a seguir o preço dos principais produtos de cerâmica na cidade de São Paulo, capital do estado com maior produção de cerâmica vermelha. O preço do tijolo cerâmico varia de R$ 0,30 a R$ 0,78 a unidade, dependendo do tamanho e número de furos, enquanto a telha varia de R$ 0,85 a R$ 3,45. O bloco cerâmico tipo tijolo tem preço médio de R$ 0,65, enquanto o bloco estrutural tem preço de R$ 1,88. O tubo de cerâmica varia de R$ 7,96 a R$ 124,11 o metro, de acordo com seu diâmetro. Quando comparados os bens metálicos ou energéticos, as rochas e minerais industriais usual- mente não sofrem grandes oscilações de preços. Os fatores, segundo o MME (2011b), que mais influenciam a variação dos seus preços têm diversas origens, podendo ser de natureza tecnológi- ca (descoberta de novas tecnologias), desempenho econômico do país (aumento do PIB do país produtor, investimentos em construção e obras públicas) e razões de mercado (aparecimento no mercado de substitutos ou similares e variações do preço de energia). Subsídios para a elaboração do plano de desenvolvimento sustentável da cadeia produtiva de cerâmica vermelha Tabela 3 – Preço de mercado por tipo de produto Insumo UN Preço Mediano (R$) Média dos Preços (R$) TIJOLO CERÂMICO FURADO 10 × 20 × 20 cm UN 0,65 0,54 TIJOLO CERÂMICO FURADO (3 FUROS) 10 × 15 × 30 cm 0,37 TIJOLO CERÂMICO FURADO (4 FUROS) 10 × 10 × 20 cm 0,57 TIJOLO CERÂMICO FURADO (6 FUROS) 10 × 10 × 20 cm 0,54 TIJOLO CERÂMICO FURADO (6 FUROS) 10 × 15 × 20 cm 0,57 TIJOLO CERÂMICO FURADO (8 FUROS) 10 × 18 × 18 cm 0,73 TIJOLO CERÂMICO FURADO (8 FUROS) 10 × 20 × 20 cm 0,65 TIJOLO CERÂMICO FURADO (8 FUROS) 10 × 20 × 30 cm 0,78 TIJOLO CERÂMICO MACIÇO APARENTE (2 FUROS) 6,5 × 10 × 20 cm 0,44 TIJOLO CERÂMICO MACIÇO APARENTE 5,5 × 11 × 23 cm 0,57 TIJOLO CERÂMICO MACIÇO APARENTE 6 × 12 × 24 cm 0,58 TIJOLO CERÂMICO MACIÇO 5 × 10 × 20 cm 0,3 TIJOLO CERÂMICO MACIÇO 5 × 10 × 20 cm 0,3 TELHA CERÂMICA TIPO CANAL COMP = 50 cm / 26 UN/m2 UN 1,15 1,53 TELHA CERÂMICA TIPO CAPANAL – 17 UN/m2 0,96 TELHA CERÂMICA TIPO COLONIAL COMP = 46,0 A 50,0 cm – 25 A 27 UN/m2 1,7 TELHA CERÂMICA TIPO COLONIAL COMP = 46,0 A 50,0CM – 25 A 27 UN/m2 1,7 TELHA CERÂMICA TIPO COLONIAL COMP = 56 cm – 16 UN/m2 3,45 TELHA CERÂMICA TIPO COLONIAL 2A QUAL COMP = 46 A 50,0 cm – 25 A 27 UN/m2 0,85 TELHA CERÂMICA TIPO DUPLANA 2,06 TELHA CERÂMICA TIPO FRANCESA – 16 UN/m2 1,75 TELHA CERÂMICA TIPO PAULISTA – 26 UN/m2 0,98 TELHA CERÂMICA TIPO PAULISTINHA (TRAPEZOIDAL) – 26 UN/m2 0,98 TELHA CERÂMICA TIPO PLAN COMP = 46 A 50,0 cm – 26 A 33 UN/m2 1,66 TELHA CERÂMICA TIPO ROMANA COMP = 41 cm – 18 UN/m2 1,15 BLOCO CERÂMICO (TIJOLO) FURADO 9 × 19 × 19 cm UN 0,65 1,27 BLOCO ESTRUTURAL CERÂMICO – 14 × 19 × 29 cm – FBK > OU = 4,5 mpa – NBR 15270 1,88 TUBO DE CERÂMICA ESG EB-5 PB DN 100 M 8,2 40,3 TUBO DE CERÂMICA ESG EB-5 PB DN 150 11,37 TUBO DE CERÂMICA ESG EB-5 PB DN 200 19,05 TUBO DE CERÂMICA ESG EB-5 PB DN 250 32,75 TUBO DE CERÂMICA ESG EB-5 PB DN 300 49,52 TUBO DE CERÂMICA ESG EB-5 PB DN 350 67,45 TUBO DE CERÂMICA ESG EB-5 PB DN 375 74,28 TUBO DE CERÂMICA ESG EB-5 PB DN 400 88,03 TUBO DE CERÂMICA ESG EB-5 PB DN 450 124,11 TUBO DE CERÂMICA ESG EB-5 PB DN 75 7,96 TUBO CERÂMICO PERFURADO DN 100 mm – PARA DRENAGEM 8,65 TUBO CERÂMICO PERFURADO DN 150 mm – PARA DRENAGEM 11,9 TUBO CERÂMICO PERFURADO DN 200 mm – PARA DRENAGEM 20,63 Fonte: Caixa Econômica Federal e IBGE (2012) 20 Relatório 1 O setor de cerâmica vermelha para construção utiliza basicamente como matéria-prima a argila. Segundo o Sebrae (2008), as matérias-primas provêm de depósitos dos seguintes tipos: » argilas residuais: permanecem na zona de intemperismo (argila de inundação); » argilas sedimentares: que se deslocam da zona de intemperismo para a de acúmulo; » argilas diagenéticas: alteradas química e mineralogicamente, após soterramento. A preparação da massa que será usada para produção de peças de cerâmica vermelha é feita pela mistura de dois tipos de argila: uma magra (rica em quartzo e menos plástica, podendo ser carac- terizada também como um material redutor de plasticidade) e outra gorda (de alta plasticidade, granulometria fina e composta essencialmente de argilominerais). Esse processo de produção busca produzir uma argila com duas características que são essenciais para a produção de uma peça de qualidade: a plasticidade e a fusibilidade. Essas duas características propiciam trabalha- bilidade e resistência mecânica durante a queima da cerâmica (BNB, 2012). Ainda segundo o relatório do Sebrae (2008), os fornecedores de matéria-prima podem ser agru- pados em duas categorias: » pequenas e médias empresas de capital nacional que se utilizam de técnicas rudimentares de exploração, com produção local. » grandesmineradoras (em geral associadas a multinacionais ou ao setor de revestimento), mais organizadas e com oferta de produtos de melhor qualidade, com produção regional. Segundo dados do MME (2011a), atualmente a argila é o produto com a 4ª maior produção da mineração no país. A partir da produção estimada de 84,8 bilhões de peças cerâmicas, em 2010, e considerando a massa média de 2,0 kg/peça, pode-se estimar que foram utilizadas, em 2010, 170 milhões de toneladas de argila no país. Mais de 70% das reservas medidas estão concentradas em quatro estados brasileiros. Neles também estão localizados os mais importantes polos de cerâmica vermelha. Apesar do grande potencial mineral, é difícil fazer uma estimativa mais precisa das reservas de argila para cerâmica vermelha, uma vez que os depósitos e as jazidas, em geral, são pouco avaliados. Subsídios para a elaboração do plano de desenvolvimento sustentável da cadeia produtiva de cerâmica vermelha Figura 5 – Reservas de argila no Brasil Fonte: Motta et al. (2000b) No caso da argila vermelha, a partir de uma visão nacional, baseada em um estudo de Tanno et al. (2004), identificam-se as regiões Sudeste, Sul e Nordeste como principais produtoras. Figura 6 – Regiões produtoras de minerais industriais cerâmicos Fonte: Tanno et al. (2000) 22 Relatório 1 As principais regiões brasileiras produtoras de cerâmica vermelha são São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, que corresponderam a mais de 44% da produção nacional em 2012 (INT, 2012). São Paulo, que é o mais importante centro econômico do país, destaca-se como maior produtor, tendo sido responsável por aproximadamente 21% da produção nacional. Gráfico 2 – Produção de cerâmica vermelha por estado em 2011 Fonte: INT (2012). Elaboração Inventta O estado de São Paulo tem a maior produção e número de empresas cerâmicas e trabalha- dores. Contudo, essa diferença não é muito grande em relação a Minas Gerais e Rio Grande do Sul, como é possível observar na tabela a seguir. Desse modo, o estado paulista tem a maior produtividade do país, produzindo 975 (milheiros/empresa-mês), enquanto Minas Gerais produz 576 (milheiros/empresa-mês) e o Rio Grande do Sul 700 (milheiros/empresa- -mês). Além disso, nos três estados há predominância na produção de blocos estruturais com relação à produção de telhas. Analisando o estado de São Paulo, o que mais se destaca no país, temos como principais polos o de Itu e região (ACEVIR) e o de Tietê e Barra Bonita (ACEIBB). No polo de Itu existem 67 empresas cerâmicas, que empregam 3.000 trabalhadores e produzem 65.000 (milheiros/mês) – média de 970 (milheiros/empresa-mês). Já o polo de Tietê e Barra Bonita tem 60 empresas, que empregam 2.000 pessoas e têm produção total de 15.000 (milheiros/ mês), produzindo em média 250 (milheiros/empresa-mês). Subsídios para a elaboração do plano de desenvolvimento sustentável da cadeia produtiva de cerâmica vermelha Tabela 4 – Dados dos principais polos brasileiros produtores de cerâmica SP MG RS Total Estado Polo de Itu e região (ACEVIR) Tietê e Barra Bonita (ACEIBB) Total Estado Total Estado Empresas 750 67 60 740 708 Trabalhadores 36.000 3.000 2.000 28.000 25.000 Produção (milheiros/mês) 731.000 65.000 15.000 426.000 356.000 Média (milheiros/empresa- mês) 975 970 250 576 700 Blocos estruturais (%) 92,6 54 Não disponível 85 60 Telhas (%) 7,4 46 95 15 30 Fonte: INT (2012). Elaboração Inventta A comercialização dos produtos cerâmicos tem um forte limitador, que são os custos logísticos envolvidos no transporte dos produtos finais até as regiões de consumo. Como o valor dos pro- dutos é relativamente baixo, os custos de transporte se tornam bastante representativos. Os fabricantes de cerâmicas têm capacidade de atuação de no máximo 700 km, dependendo do tipo de produto que fornecem. Os produtores de alguns tipos de telhas especiais são os que conseguem atingir essa distância; já os produtores de telhas comuns não conseguem ter um alcance maior do que 500 km. Os produtores dos outros tipos de produtos de cerâmica têm um raio de atuação de no máximo 250 km. Essa limitação deve-se aos altos custos de transporte, que inviabilizam as entregas. 24 Relatório 1 Segundo dados do MME (2011a), em 2010 a indústria cerâmica registrou 293 mil empregados diretos, a existência de, aproximadamente, 7.400 empresas e faturamento do setor de R$ 18 bilhões. A produtividade média estimada foi de 24,1 mil peças/operário/mês, com variações regionais. Figura 7 – Dados da cadeia de cerâmica vermelha em 2010 Fonte: Anicer apud MME (2011a) Os dados apresentados na Tabela 5 sugerem o aumento da utilização de tecnologia pelo setor, o que gerou uma elevação da produtividade, apesar da diminuição dos empregos diretos. A regu- lamentação e fiscalização do estado quanto à sáude do trabalhador e passivo ambiental também afetam as atividades do setor. PARQUE INDUSTRIAL/ ESTRUTURA DE MERCADO Subsídios para a elaboração do plano de desenvolvimento sustentável da cadeia produtiva de cerâmica vermelha Tabela 5 – Dados do segmento de cerâmica vermelha Dado 2006 2007 2008 2009 2010 Faturamento – R$ Bilhões 6,2 6,5 6,8 7,0 18,0 Nº de empresas 5500 5500 5500 7400 7400 Empregos diretos (mil) 400 400 400 293 293 Produtividade (mil peças/operário/mês) 14,0 14,6 15,8 15,8 24,1 Fonte: Anicer apud MME (2011a) A distribuição de empresas do setor por região é apresentada no Gráfico 3. Sul e Sudeste são as regiões que têm o maior parque industrial, espaço territorial no qual se agrupa uma série de ativi- dades industriais ou empresariais relacionada ao setor de cerâmica vermelha. Gráfico 3 – Número de empresas por região em 2011 Fonte: INT (2012). Elaboração Inventta Tabela 6 – Número de empresas em 2011 por estado Estado RS SC PR SP RJ MG ES BA SE AL PE PB RN CE Empresas em 2011 708 625 620 750 220 740 110 338 100 55 180 100 186 400 Estado PI MA PA TO AM AC AP RO RR GO DF MS MT Empresas em 2011 60 150 570 60 100 21 40 80 13 350 16 120 150 Fonte: INT (2012). Elaboração Inventta 26 Relatório 1 Comparativamente aos dados que constam no estudo do INT (2012), a região Nordeste apre- sentou um aumento da participação relativa no número de empresas (15,7%), com queda das regiões Sudeste (41,7%) e Sul (30,2%). Apesar de as instituições estarem difundidas por todo o país, o estado de São Paulo possui a maior parcela (21%), seguido por Minas Gerais (12%), Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná (estes últimos com cerca de 9% cada). Dez estados são responsáveis por 80% das instituições. A respeito da tipologia das unidades de transformação, percebe-se uma variedade considerável de tipos de equipamento utilizados pelas indústrias de cerâmica vermelha, que tem relação com o tamanho da empresa e tipo de produto. Informações sobre os tipos de equipamento utilizados foram retiradas de Schwob (2007). Os fornos mais empregados pelas indústrias do setor de ce- râmica vermelha no Brasil são: » intermitentes: 70% (abóbada, plataforma, chama reversível – circulares e paulistinha, cam- panha e caieira); » semicontínuos : 28% (Hoffman e pequena parcela do tipo Federico); » contínuos: 2% (túnel). Os fornos intermitentes são utilizados por pequenos fabricantes, em razão do menor custo ini- cial. Para médias empresas, ocorre o predomínio de fornos semicontínuos e parcela de fornos intermitentes de maior capacidade ou maior quantidade de fornos por empresa. Nos últimos anos, vêm sendo desenvolvidos no Brasil os fornos túnel de pequena capacidade e baixo custo de construção, adequados à maioria das plantas de produção no país e às capacidades de aqui- sição das empresas. A distribuição da produção de cerâmica por regiões, segundo dados da Anicer de 2008 apresentados na tabela do gráfico a seguir, se assemelha à distribuição das empresas e instituições, o que reafirma a relevância das regiões Sudeste, Sul e Nordeste no Parque Industrial de Cerâmica. No Gráfico 4 é apresentada uma visão da distribuiçãoda produção brasileira de cerâmica vermelha por região, elaborado pelo Instituto Nacional de Tecnologia (INT, 2012) a partir de um levantamento de visitas a empresas, associações, sindicatos, secretarias estaduais e municipais. Atualmente, no Brasil existem diversos polos de produção de cerâmica vermelha, regiões onde se concentram grande número de empresas. Esses polos produtores são aglomerações de em- preendimentos voltados à cadeia produtiva de cerâmica vermelha e de atividades correlatas com potencialidade de se organizar na forma de Arranjo Produtivo Local (APL). Na figura a seguir são apresentadas as localizações dos principais polos produtivos de cerâmica vermelha no Brasil. Subsídios para a elaboração do plano de desenvolvimento sustentável da cadeia produtiva de cerâmica vermelha Figura 8 – Polos de cerâmica vermelha Fonte: INT (2012). Elaboração própria A partir da análise do dados do número total de empresas e do número de empresas concentra- das nos polos produtivos, foi elaborado o Gráfico 5. Consideramos uma escala de 0 a 1, sendo 0 ocorrendo quando as empresas do estado não se encontram em polos e 1 quando todas as empresas do estado se encontram dentro dos polos de cerâmica. Segundo a análise realizada, as empresas estão mais concentradas em polos nos estados do RN e RJ. Gráfico 4 – Produção brasileira de cerâmica vermelha por região Regiões Produção (mil milheiros/mês) Sudeste 1.427 Sul 857 Nordeste 780 Centro-Oeste 220 Norte 165 Fonte: INT (2012). Elaboração Inventta 28 Relatório 1 Gráfico 5 – Concentração das empresas em polos em 2012 Fonte: INT (2012). Elaboração Inventta Subsídios para a elaboração do plano de desenvolvimento sustentável da cadeia produtiva de cerâmica vermelha No gráfico a seguir é possível observar a evolução da produção de cerâmica vermelha no Brasil a partir de 2001. Para a estimativa de produção nesse período, foram utilizados dados de con- sumo disponibilizados no Anuário MME (2011a) e pelo Sebrae (2008). No caso dos minerais não metálicos, o mercado internacional pouco afeta a dinâmica da produção e do consumo. O desempenho dessa classe de bens minerais depende muito mais do esforço e dos movimentos internos de oferta e demanda. Podemos observar que, no intervalo entre 2001 e 2005, houve uma elevação muito grande na produção de cerâmica vermelha. Esse crescimento está relacionado com o aquecimento do setor de construção civil no período, em decorrência do programa Bolsa Família do Governo Federal e do aquecimento da economia. Nos anos após 2005, o mercado continua a se expandir, porém a uma taxa menor. Gráfico 6 – Histórico da produção de cerâmica vermelha no Brasil a partir de 2001 (em bilhões de peças) Fonte: Adaptado de Sebrae (2008) e MME (2011a) PRODUÇÃO E INVESTIMENTOS 30 Relatório 1 No Plano Nacional de Mineração 2030, elaborado pelo MME, a previsão é de que a produção de cerâmica vermelha, com base em 2008, deverá crescer de três a cinco vezes até 2030. Dada a dificuldade de obtenção de informações do setor, os valores projetados para a demanda se- guem as taxas de crescimento aplicadas ao cimento, por ser um bem usado na construção civil. Segundo o MME (2011b), há uma expectativa de crescimento médio de 5,6% ao ano até 2022, pois se considera o esperado crescimento em infraestrutura, saneamento e habitações. De 2022 a 2030, a taxa utilizada é mais moderada, de 4,6% ao ano. O cenário considerado por esse rela- tório para fazer essas estimativas cogita que o PIB nacional crescerá em média 5,1% ao ano e a economia mundial 3,8% ao ano. Gráfico 7 – Previsão de produção de cerâmica vermelha (em bilhões de peças) Fonte: Elaboração Inventta a partir de dados do MME (2011b) A seguir estão apresentados os dados de evolução da produção de argila para cerâmica verme- lha, para a qual foram utilizadas as mesmas premissas apresentadas anteriormente para as peças de cerâmica. Essa estimativa foi realizada em um estudo do MME (2009b), realizado considerando-se o com- portamento do PIB brasileiro entre 2010 e 2030. Uma grande característica dos investimentos realizados em pesquisa mineral em argila para cerâmica vermelha é o fato de eles serem rea- lizados como parte do processo de legalização das empresas de cerâmica, visando atender às exigências do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). Subsídios para a elaboração do plano de desenvolvimento sustentável da cadeia produtiva de cerâmica vermelha Gráfico 8 – Previsão da produção de argila para cerâmica vermelha (em milhões de toneladas) 140 205 300 430 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 2008 2015 2022 2030 Fonte: MME (2011b) Por fim, espera-se uma produção no país de 304 a 740 milhões de toneladas de argila até 2030. Segundo o MME (2009b), os custos de investimentos para novas unidades (greenfield projects) é de aproximadamente R$ 1,2 milhão, o que corresponde, dependendo da escala de produção da empresa, de R$ 12,50 a R$ 25,00 por tonelada de argila (capacidade produtiva anual). Já para os investimentos do tipo brownfield projects, que buscam expandir a capacidade produtiva, os investimentos são de aproximadamente R$ 600 mil, o que equivale ao aporte de R$ 6,25 a R$ 12,50 por tonelada de argila – levando em conta a transformação de uma mina cativa (produção anual de até 23 mil toneladas) para uma mina de pequeno e médio porte. Até 2030, o MME prevê investimentos em pesquisa mineral, mineração e transformação mineral (metalurgia e não metálicos), quase todos originários da iniciativa privada, em torno de US$ 270 bilhões, além de ser esperado mais 30% sobre esse valor para investimentos em infraestrutura e logística, alcançando US$ 350 bilhões (MME, 2011b). Esses investimentos objetivam aumentar a capacidade de produção nos próximos 20 anos, de modo a atender à demanda projetada. Os investimentos destinados exclusivamente à pesquisa mineral, relacionados à expansão das re- servas, ou melhor aproveitamento das já existentes, estão estimados em US$ 10,5 bilhões. No entanto, para os minerais não metálicos, grupo do qual a cerâmica vermelha faz parte, estima-se que estarão destinados apenas 2,98% desse valor. Não foi apresentado no estudo do MME um valor representativo para investimentos na pesquisa mineral de argilas para cerâmica vermelha. As atividades de pesquisa mineral são realizadas por empresas privadas de grande porte, de pe- queno porte e empresas estatais. 32 Relatório 1 Ainda segundo o MME, desde 1990, as grandes empresas vêm reduzindo os investimentos na etapa de pesquisa mineral, etapa na qual cada vez mais se destacam as pequenas empresas. Para o Ministério, existem três fatores que impedem que haja um conhecimento geológico maior do território brasileiro. São eles: » ausência, insuficiência ou descontinuidade de investimentos governamentais por cerca de três décadas; » dificuldade logística para o mapeamento na Amazônia e na Plataforma Continental; » escassez de recursos humanos capacitados para essa atividade. O aumento de investimento apresentado pela CPRM (Serviço Geológico do Brasil), a partir de 2004, parece não ter afetado o setor de cerâmica vermelha (MME, 2011b). O relatório também mostra uma estimativa de investimentos futuros para esse setor, como pode ser visto na Tabela 7. Para a mineração de argilas para cerâmica vermelha, referente à lavra e ao beneficiamen- to, está previsto o investimento de US$ 958 milhões de 2010 a 2030, o que representa 1,1% do total previsto para investimento em mineração no Brasil, enquanto no mesmo período está previsto o investimento de aproximadamente US$ 13 bilhões na transformação mineral desse produto, 7,7% do investimento total na área. Da classe dos minerais não metálicos, os investi- mentos em argilas para cerâmica se sobressaem, juntamente com fosfato, o potássio, as rochas britadas e ornamentais, as areias, o caulim e a água mineral. Tabela 7 – Previsão dos investimentos Etapa Custo (US$/t)* Investimentos(US$ milhões) 2010-2015 2016-2022 2023-2030 2010-2030 Mineração – argila cerâmica vermelha 2,75 215 314 429 958 Transformação mineral – cerâmica vermelha 90.270 2.934 4.297 5.867 13.098 (*) Custo por capacidade instalada adicionada Fonte: MME (2011b) Subsídios para a elaboração do plano de desenvolvimento sustentável da cadeia produtiva de cerâmica vermelha O setor de cerâmica vermelha no Brasil gera como produtos principais blocos, tijolos, telhas, ele- mentos vazados, lajes, lajotas, ladrilhos vermelhos, tubos e agregados leves. A diversidade de produtos é muito grande pelas próprias exigências do mercado consumidor que, muitas vezes, demanda uma variedade de dimensões que acabam afetando a padronização. Os produtos mais comuns, considerando a grande variedade existente, são: Figura 9 – Produtos de cerâmica vermelha3 Fonte: Elaboração Inventta 3 No Anexo 1 é possível encontrar mais informações sobre cada tipo de produto fabricado a partir da cerâmica vermelha // CONSUMO 34 Relatório 1 No período mais recente, entre 2009 e 2010, houve um crescimento de 14,2% no consumo, e o faturamento do setor apresentou uma variação de 48,8%. Outro fato de destaque surge quan- do analisamos o histórico de consumo da cerâmica vermelha. Em 2005, ocorreu um expressivo aumento relacionado às políticas de incentivo do governo para as atividades da construção civil (Programa Minha Casa Minha Vida, principalmente). Veja no Gráfico 9 a evolução histórica do consumo de cerâmica vermelha no Brasil. Gráfico 9 – Evolução do consumo per capita de cerâmica vermelha no Brasil Fonte: MME (2011a) Segundo projeções do MME (Tabela 8), foi estimado o PIB brasileiro até 2030 segundo três cenários distintos: cenário frágil, com crescimento médio de 2,3% a.a.; cenário vigoroso, com crescimento médio de 4,6% a.a.; e cenário inovador, com crescimento de 6,9% a.a. Este último cenário é o que mais se aproxima do crescimento considerado para o PIB do setor de construção civil, de 6% a.a. no período de 2011-2022. A seguir, a descrição dos três distintos cenários para o PIB, conforme mostrado pelo MME (2011b): Subsídios para a elaboração do plano de desenvolvimento sustentável da cadeia produtiva de cerâmica vermelha Tabela 8 – Projeção de crescimento do PIB CENÁRIO CARACTERIZAÇÃO Projeção do Crescimento do PIB (% a.a.) Frágil Instabilidade e Retrocesso: Considera uma possível reversão dos atuais condicionamentos sociopolíticos e a desestabilização do atual contexto fiscal e monetário. O país deverá regredir no processo de estabilização de sua economia, concomitantemente a retrocessos no plano externo, com deterioração do atual contexto de integração competitiva à economia internacional. Médio - Período 2010 a 2030 2,3 2010 a 2015 2,8 2015 a 2020 2,5 2020 a 2030 2,0 Vigoroso Estabilidade e Reformas: Pressupõe a manutenção e o aperfeiçoamento das atuais condições de estabilidade e de aprofundamento das reformas político- institucionais, especialmente nos campos da gestão pública (reforma administrativa), fiscal (reforma tributária) e da previdência social (reforma previdenciária), além das concessões de serviços de infraestrutura (saneamento, energia, portos e transporte rodoviário, fluvial e marítimo). Médio - Período 2010 a 2030 4,6 2010 a 2015 4,0 2015 a 2020 4,5 2020 a 2030 5,0 Inovador Estabilidade, Reformas e Inovação Admite um condicionamento ainda mais virtuoso, no qual – além do aperfeiçoamento da estabilização e do aprofundamento das reformas institucionais – o país empreende uma vigorosa mobilização nacional pela inovação, contando com uma ampla participação de instituições públicas, entidades não governamentais, empresas e da sociedade como um todo. Admite- se que tal processo de mobilização concentre-se em planos e programas direcionados a uma ampla geração e difusão de informação, conhecimento e aprendizado, como estímulo a projetos específicos de pesquisa, desenvolvimento e inovação. Médio - Período 2010 a 2030 6,6 2010 a 2015 5,0 2015 a 2020 6,5 2020 a 2030 8,0 Fonte: MME (2011b) De acordo com os cenários descritos e os dados referentes ao consumo de cerâmicas vermelhas em 2010, projeta-se que o crescimento no consumo total medido em unidades atingiria mais de 170 bilhões em 2022. Já o consumo per capita irá variar na faixa de 600 peças/habitantes no cenário mais frágil e 900 peças/habitantes no cenário mais inovador; se o crescimento for de 6% a.a., irá chegar a 894 peças/habitantes, conforme mostra o Gráfico 10. 36 Relatório 1 Gráfico 10 – Projeção do consumo total (109 peças) entre 2011 e 2022 Fonte: Elaboração Inventta a partir de dados do MME (2011b) Gráfico 11 – Projeção do consumo de cerâmica vermelha per capita (peças/hab.) com base no PIB entre 2011 e 2022 Fonte: Elaboração Inventta a partir de dados de MME (2011b) Embora a demanda esteja aquecida, com previsão de crescimento de até 20% somente neste ano, os produtores de cerâmica vermelha de todo o país veem com preocupação a crescente Subsídios para a elaboração do plano de desenvolvimento sustentável da cadeia produtiva de cerâmica vermelha substituição dos tradicionais tijolos, blocos e telhas cerâmicas por produtos feitos com outros materiais, como plástico, metal e concreto, por exemplo. O problema já é detectado pelo setor há mais de 50 anos, com a entrada da telha de amianto no mercado, mas a situação hoje é con- siderada crítica pelos produtores, já que o setor opera a capacidade máxima e não consegue dar conta de toda a demanda. Essa questão, inclusive, foi foco dos debates do 39º Encontro Nacional do setor promovido pela Associação Nacional da Indústria de Cerâmica Vermelha (Anicer), ocorrido em 2010 (LIMA, 2012). Luis Lima, presidente da Anicer, ressalta que o setor sempre deteve historicamente a maior parcela do mercado. “Sempre tivemos uma parcela de até 90% do mercado de coberturas e alvenarias do país e conseguíamos atender à demanda. Hoje, no entanto, trabalhamos com capacidade produtiva máxima, atendendo cerca de 60% do mercado, porque não consegui- mos atender a este aumento do consumo”, acrescentando que “ao deixar de atender parte da demanda, o espaço ficou livre para ser atendido pela concorrência, com produtos que, se no início eram considerados apenas de oportunidade, hoje já se consolidaram no mercado”. Entre esses materiais que se consolidaram no mercado para a alvenaria estrutural estão os produtos à base de concreto e os sistemas do tipo drywall. O que pode ser observado atualmente é que os novos materiais concorrentes dos produtos tradicionais de cerâmica vermelha apresentam possibilidades de uso que propiciam um me- lhor aproveitamento do material. Isso ocorre porque há uma redução das perdas envolvidas na produção, transporte e nas obras em si – as novas técnicas e produtos acabam redefinindo e modificando os métodos da construção civil. Um exemplo dado por Schwob (2007) é a cerâmica “rolada”, técnica que envolve a produção de blocos estruturais de grande porte (maior que 15 kg/unidade) e com alta precisão dimensional (blocos com superfície de assentamento retificado, com precisão de cerca de 0,5 mm), e uso de argamassa com espessuras de até 3 mm, permitindo modularidade, rapidez, isolação termoacústica (blocos vazados), precisão construtiva e minimi- zação de perdas e de custos. Portanto, um mercado em crescente expansão, somado a uma defasagem na produtividade das empresas do setor de cerâmica vermelha, tem contribuído para uma maior atratividade dos pro- dutos substitutos. Além disso, diferenciais que contribuem para acelerar o processo de constru- ção tem contribuído ainda mais para aumentar o consumo dos blocos de concreto, principal con- corrente dos blocos de cerâmica vermelha. Veja no Gráfico 12 a comparação entre os principais aspectos dos blocos cerâmicos e dos blocos de concreto. 38 Relatório 1 Uma análise mais específica demonstra que para as construtoras, principal comprador dosblo- cos de cerâmica vermelha, as características dos blocos de concreto são mais atrativas para suas necessidades. Veja a comparação na figura a seguir. Figura 10 – Comparação entre o bloco cerâmico e o bloco de concreto Custo Aspectos de Decisão de Compra Bloco Cerâmico Bloco de Concreto Acústico unitário na obra Resistência Logística da construção (peso) Perda Padronização e normalização Conforto térmico Permeabilidade Mudanças climáticas Saúde Humana Qualidade do Ecossistema Recursos Retirada de água + - - - - - - - - -- - - - + + + + + + + + + + + + + Compradores Legenda: Todos Construtoras Cons. Final e Varejo Baixa sensibilidade 61,2% das vendas do setor Fonte: Anicer (2011) Gráfico 12 – Comparação: bloco cerâmico versus bloco de concreto – número de reclamações sobre qualidade e padronização/normalização de produtos Fonte: Fiesp (2004) apud Sebrae (2008) » O bloco de concreto tem apresentado melhor qualidade para a construção, além de ser um produto mais padronizado, sendo um diferencial em comparação aos blocos cerâmicos. » A produção de blocos de concreto é re- alizada por empresas maiores, com melhor organização. » Com um parque industrial pulverizado, o setor de cerâmica vermelha tem tido dificuldades de se movimentar diante da ameaça de substituição. Subsídios para a elaboração do plano de desenvolvimento sustentável da cadeia produtiva de cerâmica vermelha Para a fabricação dos produtos de cerâmica vermelha, as etapas do processo produtivo são bem determinadas e seguem a sequência apresentada na Figura 11. O modo tradicional de preparação da massa e moldagem na indústria brasileira inclui a transferência da massa argilosa estocada no setor de armazenamento por esteiras transportadoras, preparação da massa no caixão alimentador, destorroamento, desintegração, laminação, refinação, extrusão, procedida na maromba e corte. Em resumo, existem três formas básicas de preparo de massa, que resultam em produtos bas- tante diferentes: » forma tradicional via úmida: laminação de argila plástica, sem moagem, voltada para pro- dutos mais simples, de limitado valor agregado; » via seca: moagem de argila dura, em pó, com até 6% de umidade; incorpora a matéria plás- tica em processo de hidratação, mistura e laminação; » via semiúmida: moagem conjunta das massas de argila plástica e dura, até 12%-14% de umidade, sem necessidade de laminação, mas demanda hidratação contínua e aquecimento da massa na moagem. Os processos por via seca ou semiúmida tendem a ser a solução futura para a melhoria da qua- lidade dos processos de cerâmica vermelha, pela possibilidade de reformular a estrutura física da matéria processada. Verifica-se que todo o arranjo de equipamentos de preparo da massa depende dos tipos de argila disponível e da qualidade desejada no produto final. PROCESSO PRODUTIVO 40 Relatório 1 A etapa de extrusão, presente nos processos tradicionais de laminação e via semiúmida, consis- te da passagem da massa argilosa por um perfil de extrusão com a forma desejada, conforme a seção transversal da peça. Figura 11 – Processo produtivo da cerâmica vermelha Fonte: Adaptado de Sebrae (2004) Subsídios para a elaboração do plano de desenvolvimento sustentável da cadeia produtiva de cerâmica vermelha A moagem é um processo de redução da granulometria da matéria-prima através de moinhos, com o objetivo de aumentar a qualidade do produto final. Trata-se de uma etapa do processo via seca ou semiúmida, ainda pouco empregado no Brasil, com uso mais frequente na produção de telhas de alta qualidade e blocos estruturais, casos em que a estética superficial do produto final é mais exigida. A secagem pode ser natural, procedida de forma lenta, sob a ação do tempo (radiação solar e circulação eólica natural/artificial) ou com as peças dispostas em posição horizontal em prate- leiras cobertas, estabelecendo-se um processo natural mais controlado, porém ainda lento. Para aumentar a produção, reduzir as perdas e melhorar a qualidade, é preciso adotar processos de secagem artificial. Os secadores podem ser dos tipos contínuo, semicontínuo e estático. Seca- dores estáticos costumam ser de pequeno ou médio porte e são mais aplicados na fabricação de telhas, peças especiais ou de grande porte. São também indicados para peças de produção em pequena escala, produtos com espessura irregular, de grande proporções ou que envolvem argila de alta contração. Secadores contínuos são equipamentos de maior porte, nos quais os produtos ficam em movimento; envolvem alta complexidade de ajuste operacional, consideran- do-se a dificuldade de regulagem adequada dos pontos da curva de secagem (temperatura e umidade). No Gráfico 13 é apresentada a produtividade das empresas por região. A produção e produtivi- dade das empresas da região Sudeste se destacam pelo maior grau de modernização/automati- zação de suas fábricas. De acordo com as informações divulgadas em um estudo sobre a APL de ITU (ITU, 2007), a pro- dutividade brasileira da indústria de cerâmica vermelha atinge aproximadamente 12 mil peças/ operário/mês. A grande defasagem tecnológica ligada a equipamentos antigos, baixo nível de automação e pouca capacitação dos operários contribui muito para esse baixo valor na produti- vidade. Já nos países europeus, o processo de desenvolvimento tecnológico das últimas quatro décadas refletiu uma mudança no perfil de custos de produção de alguns insumos importantes da indústria de cerâmica vermelha. A grande modernização – equipamentos automáticos e uma maior capacitação dos operários – fez o valor da produtividade atingir 200 mil peças/operário/ mês. Um valor dezesseis vezes maior que o encontrado no Brasil. Dessa forma, pode-se notar que, como consequência de um parque industrial bastante atrasado, o setor de cerâmica vermelha brasileiro tem como resultado um baixo valor de produtividade. Isso gera uma produção que não consegue atender à demanda e abre espaço para a concorrên- cia dos materiais substitutos conforme citado anteriormente. 42 Relatório 1 Gráfico 13 – Produção e produtividade por região brasileira em 2012 1.600 1.400 1.200 1.000 800 600 400 200 - Sul Sudeste Nordeste Centro-Oeste Norte Produção de Peças (mil milheiros/mês) 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 Sul Sudeste Nordeste Centro-Oeste Norte Produtividade Média das Empresas (mil.milheiros/mês.empresa) Fonte: Elaboração Inventta a partir de dados do INT (2012) Quando comparamos as regiões do Brasil, a Sudeste se destaca por uma produtividade bastante superior às demais. Cabe destacar também o posicionamento do Nordeste com uma produtividade intermediária. Em seguida, estão as outras regiões. Subsídios para a elaboração do plano de desenvolvimento sustentável da cadeia produtiva de cerâmica vermelha As argilas de queima vermelha ou argilas comuns são as que mais se destacam entre as substân- cias minerais, por causa do volume de produção e do maior consumo, sendo especialmente utili- zadas na produção de cerâmica vermelha e de revestimento. Por se tratar de matérias-primas de baixo valor unitário, os produtores consideram inviável o transporte a grandes distâncias, condi- cionando a instalação de unidades industriais cerâmicas o mais próximo possível das jazidas. As reservas de argila para cerâmica vermelha são de grande porte e distribuem-se por praticamente todas as regiões do país, sendo que essa matéria-prima representa entre 40% e 50% das subs- tâncias minerais produzidas no Brasil. De forma geral, a localização das cerâmicas é determinada por dois fatores principais: a proximidade das jazidas (em razão do volume de matéria-prima processada e da necessidade de transporte desse grande volume e peso) e a proximidade dos mercados consumidores. O setor de Cerâmica Vermelha para Construção (CVPC) utiliza como matéria-prima basicamente a argila comum; a massa resultante pode ser denominada simples ou natural,sendo composta por matéria orgânica, impurezas e minerais de ferro, que permitem sua sinterização a baixas temperaturas (entre 900 e 1.100 °C). Os fornecedores de matéria-prima podem ser agrupados em duas categorias: » pequenas e médias empresas de capital nacional que se utilizam de técnicas rudimentares de exploração; » grandes mineradoras (em geral, associadas a multinacionais ou ao setor de revestimento), mais organizadas e com oferta de produtos de melhor qualidade. A produção, como citado anteriormente, é regional ou até local (no caso de MPEs), devido à localização das jazidas e dos compradores. Há pouca variedade de subprodutos gerados no processo de produção da cerâmica vermelha. O principal deles consiste em peças quebradas e/ou trincadas após o processo de queima. Segun- do estudo do MME, “as perdas no pós-queima podem variar de 5% (nas cerâmicas mais estrutu- radas e com tecnologia mais moderna) a 20% (nas cerâmicas mais desorganizadas e defasadas tecnologicamente)” (MME, 2009a). Atualmente, esses subprodutos são, na maior partes das vezes, reaproveitados de diversas for- mas. Uma opção que vem sendo explorada pelas empresas é a geração do denominado “chamo- te”. As peças quebradas são trituradas até formarem um pó. Esse pó é misturado com as argilas para novamente passar pelo processamento e conformação do produto. Outras opções que também estão sendo praticadas são: cascalhamento de estradas, produção de saibro para as quadras de tênis, mistura com cimento, utilização em pavimentação, entre outras. Portanto, a geração de subprodutos não parece ser um dos pontos críticos do setor, uma vez que não se trata de um resíduo perigoso e para grande parte dele está sendo dado algum tipo de destinação ou reaproveitamento. 44 Relatório 1 De acordo com as informações publicadas pelo MME para os setores de mineração e transfor- mação mineral no ano de 2010, o consumo total de energia para fabricação de cerâmica verme- lha está descrito na tabela a seguir: Tabela 9 – Consumo total de energia para fabricação de cerâmica vermelha (em 103 tep) 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2007 2008 2010 Cerâmicas 1.542 2.088 2.511 2.479 2.331 2.521 3.068 3.412 4.157 4.107 4.527 Fonte: MME (2011a) O setor de cerâmica vermelha é um grande consumidor de energia, além de causar grande im- pacto ambiental por causa do uso intensivo de lenha. Os principais tipos de lenha usados são a lenha nativa e os resíduos de madeira (cavaco, serragem, briquetes e outros resíduos). Contudo, já existem movimentos incentivando o uso de madeira de reflorestamento, para um consumo energético mais sustentável (MME, 2011a). Segundo o balanço energético referente a 2010, realizado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) para o setor de cerâmica, a lenha foi responsável por cerca de 50% da energia utilizada, seguida pelo gás natural, com 25%. Apesar de a pesquisa ter mostrado que, ao longo de 10 anos, o consumo de energia para este setor aumentou cerca de 50%, essa proporção de utilização das principais fontes de energia permanece relativamente constante. Ademais, pode ser percebida uma tendência de diminuição da utilização de óleo combustível. EFICIÊNCIA ENERGÉTICA E RESÍDUOS Subsídios para a elaboração do plano de desenvolvimento sustentável da cadeia produtiva de cerâmica vermelha Gráfico 14 – Perfil de distribuição dos combustíveis no setor de cerâmica vermelha (em 103 tep) *tep = toneladas equivalentes de petróleo, onde 01 tep = 41,87 x 1 bilhão J = 10 x 10 bilhões cal = 11,63 MWh Fonte: EPE (2011) Segundo relatório do Sebrae (2008), a lenha apresenta baixo rendimento energético, o que afeta a qualidade e os padrões técnicos dos produtos, resultando em até 30% de perda. A alternativa seria a análise por parte dos produtores para o uso de outras fontes de energia que não a lenha, minimizando aspectos ambientais e proporcionando menor perda produtiva pelo fato de outras fontes apresentarem maior poder energético. Por causa da representatividade dos volumes de consumo de lenha, a atividade cerâmica deve também dar atenção especial aos problemas am- bientais causados por sua queima, devido à produção de cinzas, óxidos de enxofre, dióxido de carbono e óxidos de nitrogênio, que causam a chuva ácida e danos à camada de ozônio. Os dados demonstram que ocorre o predomínio da lenha como principal combustível no setor. E, ao longo dos últimos anos, houve um pequeno aumento no consumo desse tipo de combustível. Entretanto, também é possível notar que as outras opções correspondem a praticamente metade do consumo energético. Algumas opções de combustíveis alternativos já estão sendo testadas em menor escala, buscando aproveitar resíduos do agronegócio de determinadas regiões. São exemplos de alguns desses combustíveis: 46 Relatório 1 » Bagaço de cana » Casca de amendoim » Casca de mamona » Palha de arroz » Palha de algodão » Palha de soja » Bambu » Capim-elefante » Serragem » Carvão mineral » Carvão vegetal » Resíduo da construção civil » Corte de árvores (prefeituras) » Açaí, dendê, caju e cacau » Cavaco » Casca de castanha de caju Como mostrado por Schwob (2007), os fornos mais empregados pelas indústrias do setor de cerâmica vermelha no Brasil são os fornos intermitentes, os semicontínuos e os contínuos. A seguir, apresentaremos os principais tipos de forno utilizados no Brasil e algumas de suas carac- terísticas. FORNOS INTERMITENTES Os fornos do tipo intermitentes são aqueles em que os blocos a serem aquecidos são colocados em uma determinada posição e permanecem estáticos até alcançar uma determinada tempe- ratura, sendo então resfriados até a temperatura ambiente e retirados da maneira como foram Subsídios para a elaboração do plano de desenvolvimento sustentável da cadeia produtiva de cerâmica vermelha colocados. Nesse tipo de forno, o processo ocorre por batelada. Esses fornos são característicos das firmas pequenas, que produzem de 100 a 500 milheiros/mês ou 200 a 1,00 t/mês. Os princi- pais tipos são: abóbada, plataforma, chama reversível, circulares, paulistinha, campanha e caieira. FORNOS SEMICONTÍNUOS Com 28% de participação na indústria de cerâmica vermelha no Brasil, o forno semicontínuo apresenta rendimento térmico razoável, sendo bastante econômico em termos operacionais, com boa produtividade e fácil operação, porém com alto custo de construção. Por isso, nos últi- mos vinte anos, a indústria brasileira não mais construiu fornos desse tipo. Diferentemente dos fornos contínuos, esse tipo de forno está mais presente em empresas de médio e grande porte, com produção entre 500 e 1.500 milheiros/mês ou 1.000 e 3.000 t/mês. Os principais tipos são o Hoffman e o Frederico. FORNOS CONTÍNUOS Os fornos do tipo contínuo são aqueles em que a queima é realizada sem interrupção para carregamento ou descarga dos blocos cerâmicos. Neles, enquanto um lote está saindo, outro está entrando. Esses fornos são usados em apenas 2% das empresas de cerâmica vermelha. O principal tipo é o túnel. Os fornos intermitentes e os semicontínuos podem ser agrupados em uma mesma categoria devido às suas similaridades. Dessa forma, podemos comparar as vantagens e desvantagens dos dois principais grandes grupos de forno: intermitentes e contínuos. Tabela 10 – Comparação dos dois principais grupos de forno Vantagens Desvantagens Intermitente - Concepção simples; - Rápida e fácil construção; - Ciclo de queima rápido; - Baixo custo de construção; - Baixo nível de qualificação e mão de obra. - Inexistência de controle de gases; - Aquecimento irregular; - Difícil reaproveitamento dos gases de exaustão; - Grandes perdas de produtos e alto consumo de combustível; - Baixa produtividade, longo tempo para pré- aquecimento; - Interrupções para carga e descarga dos blocos. Contínuo - Controle maior sobre a atmosfera do forno; - Aquecimento e queima uniforme; - Reaproveitamento dos gases utilizados na queima; - Menorconsumo de combustível; - Maior capacidade de produção; - Pequena perda de rejeitos; - Baixo custo de mão de obra. - Elevado custo para a sua construção; - Eficiência maior com combustíveis mais nobres (óleo e gás); - Exigência de mão de obra qualificada para operação e controle do equipamento. Fonte: Elaboração Inventta 48 Relatório 1 Quanto à eficiência energética de cada forno, os mais eficientes são os fornos mais modernos. Assim, os fornos contínuos são aqueles com maior eficiência energética, seguidos pelos fornos semicontínuos. Os fornos intermitentes são os menos eficientes. A partir dessa classificação dos fornos e dos dados mostrados no Gráfico 15 sobre cada região produtora de cerâmica vermelha, pode-se identificar que a região Sudeste tem a mais alta inci- dência de fornos mais modernos. Já as regiões Nordeste e Sul têm uma situação intermediária, enquanto as regiões Centro-Oeste e Norte têm uma quantidade muito baixa de fornos mais modernos e eficientes. Embora haja uma variação regional na incidência desses fornos mais modernos e eficientes, no cenário brasileiro predominam os fornos de baixa eficiência do tipo intermitente. Alguns dados estabelecidos para determinadas regiões do Brasil indicam que a distribuição de fornos segue de forma qualitativa o mapa mostrado na figura do Gráfico 15. Como a lenha é o principal combustível utilizado no segmento de cerâmica vermelha, o con- sumo de energia nesse setor tem grande impacto ecológico. A queima desse combustível gera emissões de efluentes gasosos (CO2, H2O) e os particulados. Em relação à emissão de CO2, se- gundo o MME (2009a), utilizando uma estimativa do consumo específico de energia de 485 mil kcal/t, obtemos o valor de 185 kg CO2/t de peças (370 kg CO2/mil peças). Assim, considerando a produção de aproximadamente 85 bilhões de peças produzidas em 2009, as emissões de CO2 geradas correspondem a 31 milhões de toneladas. De maneira geral, as olarias não têm dispositivo de controle das emissões atmosféricas. Os gases são lançados sem tratamento à atmosfera, onde sofrem dispersão. As chaminés normalmente atingem uma altura variando entre 8 e 12 metros e são dimensionadas para controlar o processo de queima, dificultando inclusive a ampliação de sua altura. O que ocorre mais frequentemente, por parte dos órgãos fiscalizadores, é a proibição da queima de carvão por essas atividades em áreas onde há maior concentração populacional. Subsídios para a elaboração do plano de desenvolvimento sustentável da cadeia produtiva de cerâmica vermelha Gráfico 15 – Perfil dos fornos no Brasil em 2011 Su de ste - R J - Se rra na Su de ste - R J - It ab or aí No rd es te - B A - E sta do Su l - R S - Es ta do Su l - SC - M or ro d a F um aç a No rd es te - P E - Es ta do No rd es te - P I - Es ta do Ce nt ro -O es te - G O - E sta do Su l - P R - M éd io Iv aí Su l - P R - R eg ião Le ste No rte - T O - E sta do No rd es te - R N - E sta do Sudeste: maior incidência de fornos e�cientes Sul e Nordeste: média incidência de fornos e�cientes Centro-Oeste e Norte: menor incidência de fornos e�cientes 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Forno de Baixa E�ciência Forno de Média E�ciência Forno de Alta E�ciência Fonte: INT (2012) Entretanto, embora ainda haja pouca conscientização para que ocorram maiores intervenções buscando a redução de emissões, as empresas começam a se interessar pelo tema. Esse interes- se ocorre porque algumas empresas do setor (aproximadamente 50) já estão obtendo retorno financeiro com a venda de créditos de carbono. Um exemplo de empresa que está usufruindo dos créditos de carbono é mostrado pela Agência Sebrae (2012). Na reportagem é mostrada uma empresa localizada em Ituiutaba, a 700 km de Belo Horizonte. Essa empresa trocou o uso de lenha nativa sem manejo florestal por biomassas de origem renováveis, como serragem, cavaco e resíduos de madeira. Desse modo, ela conse- gue, por meio de uma empresa terceirizada que atua no mercado de crédito de carbono, a Social Carbon, vender créditos de carbono dentro e fora do país. Dessa forma, a substituição das fontes energéticas atuais (lenha) por fontes alternativas como a biomassa tem contribuído para reduzir as emissões e essa mudança é muito incentivada pelo mercado de crédito de carbono. Algumas empresas já estão se tornando modelo para o setor e atraindo a atenção de outros empresários para essa iniciativa. Na indústria cerâmica, o chamote é o principal rejeito gerado. Após a etapa de queima, o material cerâmico descartado é submetido a um trituramento. Algumas indústrias cerâmicas de menor porte em Campos (RJ), por exemplo, chegam a apresentar 10% de perda da produção somente na etapa da queima. Conforme já salientamos anteriormente, estima-se que as perdas no pós- -queima podem variar de 5% (nas cerâmicas mais estruturadas e com tecnologia mais moderna) 50 Relatório 1 a 20% (nas cerâmicas mais desorganizadas e defasadas tecnologicamente). Esse subproduto, como já citado, é utilizado principalmente para o cascalhamento de estradas, produção de saibro para quadras de tênis, mistura com cimento e uso em pavimentação. Subsídios para a elaboração do plano de desenvolvimento sustentável da cadeia produtiva de cerâmica vermelha A indústria cerâmica apresenta uma estrutura empresarial bastante heterogênea, composta por (a) pequenos empreendimentos familiares, como as olarias; (b) cerâmicas de pequeno e médio porte, que possuem deficiências de mecanização e gestão; e (c) empreendimentos de grande porte, possuidores de tecnologia moderna. Nas regiões Norte e Centro-Oeste predominam as empresas pequenas, chamadas olarias, fre- quentemente familiares, com baixo nível de estruturação. No gráfico a seguir é apresentada a proporção de olarias em relação ao total de empresas, em percentual, por região. Gráfico 16 – Percentual de olarias em relação ao total de empresas por estado em 2011 Fonte: Elaboração Inventta a partir de INT (2012). PERFIL EMPRESARIAL 52 Relatório 1 Tabela 11 – Número de olarias por região em 2011 Região Olarias Não olarias Total Proporção (Olarias/Total) Sul 611 1.342 1.953 31,29% Sudeste 449 1.358 1.807 24,85% Nordeste 605 964 1.569 38,56% Norte 682 251 933 73,10% Centro-Oeste 331 305 636 52,04% Fonte: Elaboração Inventta a partir de dados do INT (2012) A mineração de argila tem a predominância de minas de pequeno porte, apresentando baixo valor unitário, o que faz que a mineração opere de modo cativo para a sua própria cerâmica ou abasteça mercados locais. É uma atividade que gera significativos impactos ambientais e que conta com poucos funcionários por mina. O diesel é o principal combustível utilizado nos equi- pamentos de extração de argila. Nas olarias, prepondera a fabricação de tijolos maciços por meio de métodos e processos consi- derados rudimentares. É comum o uso de métodos manuais de preparação da mistura de argila e fabricação das peças, secagem ao sol e queima em forno de lenha. De maneira geral, a renda do segmento tende a permanecer nos locais de produção, com impacto econômico e social sig- nificativo (MME, 2011a). As empresas predominantemente com origem e administração familiar têm muitas vezes uma estrutura de gerenciamento pouco dinâmica e profissional, além de estruturas empresariais ar- caicas. Outros problemas recorrentes são o baixo percentual de reinvestimento, a baixa veloci- dade de atualização, modernização restrita e pouca incorporação de inovações. Conforme ob- servado por Schwob (2007), esses problemas evidenciam um processo de avanço tecnológico lento e defasado em relação a outros segmentos do setor da construção civil, assim como a manutenção, em diversos casos, dos mesmos métodos de administração de décadas passadas. As dificuldades de se colocar em prática um modelo adequado de gestão têm levado muitas empresas a se aproximarem da informalidade.Dado o aumento da concorrência no mercado de cerâmica, e uma vez que existem muitas em- presas concorrendo entre si, tornou-se cada vez mais necessário que as empresas do setor ob- tenham certificações e se adequem a normas de qualidade para que possam ter uma melhor posição no mercado. Segundo o Programa Setorial de Qualidade (PSQ)4, um produto com a qualidade certificada permite: » modulação na construção; » redução de perdas no processo produtivo; 4 “O Programa Setorial da Qualidade (PSQ) foi adotado no setor de cerâmica vermelha, com o apoio do Inmetro que, através da revisão de normas técnicas de produtos, visa incrementar seu processo certificação e assim aumen- tar o nível de qualidade da produção e de competitividade das empresas do segmento” (Schwob, 2007). Subsídios para a elaboração do plano de desenvolvimento sustentável da cadeia produtiva de cerâmica vermelha » maior eficiência energética; » maior durabilidade do produto e das construções; » melhor aproveitamento da mão de obra; » redução do volume de transporte para redistribuição de material. De acordo com o MME (2011a), em 2010 o segmento de cerâmica teve um aumento de 70% de empresas qualificadas no PSQ de blocos cerâmicos e de 57% de empresas qualificadas de telhas cerâmicas – hoje existem 55 empresas certificadas pelo Organismo de Certificação do Produto (OCP) do Centro Cerâmico do Brasil. Entretanto, é um número baixo comparado ao cenário de 6.900 empresas existentes no Brasil. Segundo Luis Lima, atual presidente da Anicer, de 2009 a 2011, houve um aumento de 107% nas qualificações, totalizando 106 cerâmicas no Programa Setorial de Qualidade. Seguindo esse ritmo de crescimento, espera-se que o setor estará totalmente qualificado em aproximadamente 11 anos, segundo Luis Lima, em palestra no 41º Encontro Nacional de Cerâ- mica Vermelha. Para o fim do ano de 2013, estimou-se que 220 empresas estariam certificadas, o que significaria um crescimento de mais de 3 vezes desde 2009. Contudo, é importante res- saltar que esse ritmo é lento devido à força da concorrência, tanto interna quanto de produtos substitutos. Gráfico 17 – Empresas qualificadas no PSQ e estimativa até 2022 Fonte: Lima (2012). Elaboração Inventta Há uma concentração de mão de obra especializada na construção de fornos, na manutenção de equipamentos e na queima de produtos, além de certa especialização de oficinas e comércio de revenda de peças e equipamentos. Problemas ligados à exploração das jazidas, assim como 54 Relatório 1 outros ligados à instabilidade do mercado, à gestão organizacional e tecnológica, sazonalidade e acesso a capital de giro contribuem para os gargalos apresentados por esse segmento. A indústria apresenta facilidade de entrada para novos concorrentes por causa da baixa relação “custo de implantação e alto valor relativo dos produtos finais”. Outros fatores que afetam as atividades do setor são decorrentes dos controles e regulamentações do Estado e de organizações não governamentais (ONGs), cada vez mais exigentes quanto à saúde dos trabalhadores e ao passivo ambiental (BNB, 2010). O fato de haver informações divergentes liga-se a um grande problema que permeia toda a ca- deia da construção civil no Brasil, qual seja o índice de informalidade. Um estudo realizado pela UNC (União Nacional da Construção), em agosto de 2006, revelou que dos R$ 37,85 bilhões do valor adicionado ao PIB nacional, 22,5% vieram da atividade informal. A despeito dessas inconsistências, dada a existência de várias empresas pulverizadas no merca- do nacional, a principal convergência em relação às empresas que produzem cerâmica vermelha é o fato de serem, na maioria, de micro, pequeno e médio portes – as quais, segundo dados do Sebrae, utilizam processos produtivos tradicionais. Retomando a abordagem sobre a questão da qualidade, a organização responsável pela certifica- ção no Brasil de produtos cerâmicos e de sistemas de gestão da qualidade é o Centro Cerâmico Brasileiro (CCB), um organismo de avaliação da conformidade que está vinculado à coordenação geral de acreditação do Inmetro. Essa certificação analisa se os produtos cerâmicos estão em conformidade com a norma NBR 13582 (Paschoal, 2003). Seu escopo de atuação abrange a certificação de: » placas cerâmicas para revestimento; » telhas cerâmicas; » blocos cerâmicos; » telhas de concreto; » argamassa de reajuntamento; » porcelanato e pastilhas de porcelana. Segundo site do CCB, o procedimento de obtenção de uma certificação se inicia quando uma empresa solicita a certificação ao órgão por meio do envio de um formulário de solicitação, contendo informações sobre a empresa, seus processos de fabricação, catálogo, memoriais des- critivos e normas técnicas aplicáveis. A partir desse documento, o CCB avalia a viabilidade de se emitir uma certificação e envia à empresa uma proposta técnica comercial. Subsídios para a elaboração do plano de desenvolvimento sustentável da cadeia produtiva de cerâmica vermelha Caso aceite a proposta e deseje continuar com o processo, a empresa então passará por uma au- ditoria na unidade fabril e realização de testes dentro da fábrica e em laboratório cadastrados de amostras dos produtos fabricados. Segundo Paschoal (2003), essa certificação ocorre segundo o modelo n° 05 da International Organizations for Standardization (ISO), verificando, no mínimo, os seguintes pontos (Paschoal, 2003): » controle do processo dos produtos; » calibração dos equipamentos utilizados no processo produtivo; » inspeção de processo e inspeção final; » registros da qualidade referentes aos ensaios de rotina; » meios utilizados no tratamento de não conformidades de produtos. A partir dos resultados dessas duas etapas são realizados relatórios para a avaliação da Comissão de Certificação, que emitirá um parecer recomendando ou não a concessão do certificado. Após emitida a certificação, o CCB passa então a acompanhar o estabelecimento do sistema de gestão da qualidade na empresa. Segundo as normas nacionais que organizam o sistema de cer- tificação ISO (ABNT, 2005), a gestão da qualidade refere-se ao “sistema de gestão para dirigir e controlar uma organização no que diz respeito à qualidade” e tem como objetivo central auxiliar as organizações a aumentar a satisfação do cliente. Segundo a norma ISO, existem oito princí- pios que devem ser usados pela alta direção para melhorar o desempenho da empresa. São eles: FOCO NO CLIENTE Entender as necessidades atuais e futuras dos clientes, seus requisistos e exceder suas expectativas. LIDERANÇA Líderes devem manter um ambiente interno que envolva as pessoas para atingir os objetivos da organização. ENVOLVIMENTO DE PESSOAS Envolver as pessoas de modo que as suas habilidades sejam usadas para o benefício da organização. ABORDAGEM DE PROCESSOS Gerenciar atividades e recursos relacionados como um processo. ABORDAGEM SISTÊMICA PARA A GESTÃO Identificar, entender e gerenciar processos inter-relacionados como um sistema, buscando aumentar a eficiência e eficácia da organização na busca de seus objetivos. MELHORIA CONTÍNUA Tornar a melhoria contínua do desempenho global da organização um objetivo permanente. ABORDAGEM FACTUAL PARA A TOMADA DE DECISÃO Uso de dados e análises na tomada de decisões. BENEFÍCIOS MÚTUOS NAS RELAÇÕES COM OS FORNECEDORES Manter uma boa relação com os fornecedores; uma relações de benefícios mútuos aumenta a habilidade de ambos em agregar valor. Fonte: Adaptado de ABNT (2005). Elaboração Inventta 56 Relatório 1 É válido salientar que a introdução de um sistema de qualidade incentiva as organizações a ana- lisar os requisitos do cliente, visando definir processos que gerem um produto que seja aceitável por ele, além de aumentar sua satisfação, uma vez que passará a ter uma estrutura para a me- lhoria contínua (ABNT, 2005). Para o CCB, os principais benefícios que uma empresa obtém ao requerer a certificação de seus produtos são:
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