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Texto complementar para atividade de tutoria História da Educação O DOMINIO DA RELIGIÃO SOBRE A VIDA Lucien Febvre O autor do trecho que se segue, Lucian Febvre, é um dos maiores nomes da historiografia européia desde século. Profundo conhecedor do século XVI, Febvre é autor de uma das mais instigantes biografias de Lutero. Em outro livro, O Problema da Descrença no Século XVI, faz uma abordagem da importância da religião sobre a vida dos europeus. O trecho que selecionarmos é deste último livro. . Enquanto você lê o texto, procure refletir sobre as seguintes questões: 1. O que o autor pretende dizer com: "o clima de nossas sociedades ocidentais sempre foi, profundamente, um clima cristão?” 2. Este "clima de cristianismo" que o autor aborda, poderia ser relacionado com a Reforma? Como? O cristianismo é hoje uma profissão de fé entre várias outras: a mais importante de todas aos nossos olhos de ocidentais - somente aos nossos olhos, porém. Chegamos a defini-lo naturalmente como um conjunto de dogmas e de crenças bem determinadas, associadas a práticas e a rituais definidos há muito tempo. No que temos plenamente razão. Porque, queiramos ou não, o clima de nossas sociedades ocidentais sempre foi, profundamente, um clima cristão. Antigamente, no século XVI, com mais fortes razões ainda, o cristianismo era próprio ar respirado por toda a região que convencionamos designar por Europa e que constituída a Cristandade. Uma atmosfera em que o homem vivia sua vida, toda a sua vida – e não unicamente sua vida intelectual; também sua vida privada em seus múltiplos comportamentos, sua vida pública em suas diversas ocupações, sua vida profissional onde quer que se enquadrasse. Tudo isto, automaticamente, sob qualquer condição, total e independente de toda vontade expressa de se crente, de ser católico, de aceitar ou de praticar sua religião... Atualmente se escolhe. Ser cristão ou não. No século XVI não havia escolha. Era-se cristão de fato. Podia-se divagar em pensamento longe de Cristo: jogos de imaginação, sem suporte vivo de realidade. Todavia, não se podia sequer dispensar a prática. Mesmo não querendo, mesmo não entendendo claramente, todos, desde o nascimento, se encontravam imersos num banho de cristianismo, do qual não se escaparia nem na hora da morte: já que esta morte era necessariamente, socialmente, cristã, devido aos ritos a que ninguém podia subtrair-se, ainda que estivesse revoltado em face da morte, ainda que tivesse feito gracejos e mostrasse brincalhão nos últimos momentos. Do nascimento até a morte, estabelecia-se uma imensa cadeia de cerimônias, de tradições, de costumes e práticas que, sendo todas cristãs ou cristianizadas, amarravam o homem, mesmo contra sua vontade, escravizando-o apesar de suas pretensões de tornar-se livre. E, acima de tudo, cercavam sua vida privada. (FEBVRE, Lucien. O Domínio da Religião sobre a Vida. IN: MOTA, Carlos Guilherme (org.) FEBVRE. São Paulo, Ática, 1978, pag.38) Discuta em seu grupo o texto abordado e responda as duas questões acima:
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