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EEEFM “DOMINGOS JOSÉ MARTINS” GEDSON ALVES DE SOUZA PESQUIISA DE LITERATURA Marataízes 2018 Prosa Modernista Antes de falarmos sobre a Prosa Modernista, precisamos compreender o que é prosa. Prosa é o estilo natural de falar e escrever, com ausência de musicalidade, rima, ritmo e outras particularidades da estrutura poética. Consiste na conversa cotidiana usada pelas pessoas para se expressarem racionalmente. O texto em prosa é objetivo e pouco ambíguo, apresentando, por norma, uma análise e narração sobre determinado assunto, por exemplo. Existem dois principais tipos de prosa: narrativa e demonstrativa. A prosa narrativa é a história ficcional, como os contos, as crônicas, as novelas e os romances, por exemplo, conjunto este que forma a chamada "prosa literária". Já a prosa demonstrativa ou não-literária se refere ao discurso que seja mais didático, como ensaios, cartas, diálogos, tratados, textos jornalísticos e técnicos. Modernismo O Modernismo no Brasil teve como marco inicial a Semana de Arte Moderna, em 1922, momento marcado pela efervescência de novas ideias e modelos. O Modernismo surge num momento de insatisfação política no Brasil. Isso, em decorrência do aumento da inflação que fazia aumentar a crise e propulsionava greves e protestos. A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) também trouxe reflexos para a sociedade brasileira. Assim, numa tentativa de reestruturar o país politicamente, também o campo das artes - estimulado pelas Vanguardas Europeias - encontra a motivação para romper com o tradicionalismo. Foi a “Semana de arte moderna” que marcou essa tentativa de mudança artística. Este período literário dividiu-se em três fases das quais falaremos agora. Primeira fase do Modernismo- geração de 20 A primeira fase do Modernismo no Brasil estende-se de 1922 a 1930 – fim da República Velha – época em que as oligarquias ligadas aos grandes proprietários rurais detinham o poder político. Economicamente, o mundo encaminhava-se para um colapso, concretizado com a quebra da bolsa de Nova York, em 1929. O Brasil, que dependia em grande parte das exportações de café, sofreu duro golpe com a quebra da bolsa e entrou num período de grande instabilidade econômica. É o período mais radical do movimento modernista, justamente em consequência da necessidade de definições e do rompimento com todas as estruturas do passado. Ao mesmo tempo em que se procura o moderno, o original e o polêmico, o nacionalismo manifesta em suas múltiplas facetas: volta às origens, valorização do índio e busca de uma “língua brasileira” (a língua falada pelas ruas), numa tentativa de repensar a história e a literatura do Brasil. Características literárias: A primeira fase do Modernismo, marcada pelo signo da transformação, ficou conhecida como a fase “heroica”, pela postura de rompimento com o passado, vista por muitos como anárquica. Dentre as principais características literárias observadas nos textos dessa geração, destacam-se: · Negação do passado. · Eleição do moderno como um valor em si mesmo. · Valorização do cotidiano. · Nacionalismo. · Redescoberta da realidade brasileira. · Desejo de liberdade no uso das estruturas da língua. · Predominância da poesia sobre a prosa. Mesmo com a poesia tendo maior destaque neste período também havia prosa, e dois livros se destacaram nessa época: · – Memórias Sentimentais de João Miramar, de Oswald de Andrade. Com capítulos curtos e rápidos, era uma arte que “acontece aqui e agora”, sem seguir os padrões impostos anteriormente. · – Macunaíma, de Mário de Andrade. Livro que retrata o nacionalismo através do índio. Porém, o índio como anti-herói, feio e preguiçoso. Principais autores e obras (Prosa) Mário de Andrade - Foi um pesquisador que se interessou pelas mais variadas manifestações artísticas. Professor de piano estudou e escreveu sobre folclore, música, pintura e literatura, sendo um dos mais dinâmicos batalhadores pela renovação da arte brasileira. De toda sua obra destacam-se na prosa: Primeiro andar; Amar, Verbo intransitivo; Macunaíma; Belazarte; Contos Novos; A escrava que não é Isaura; Aspectos da literatura brasileira; O empalhador de passarinho. Oswald de Andrade - A poesia de Oswald de Andrade é um exemplo de renovação na linguagem literária. Fugindo aos modelos literários da época, ele construiu uma poesia original, com muito humor e ironia, numa linguagem coloquial que surpreende pela maestria com que o autor soube utilizar as potencialidades da língua portuguesa. A poesia de Oswald de Andrade repudia o purismo, a linguagem quotidiana está incorporada às suas poesias, não gostava de obedecer e copiar os padrões tradicionalistas. Suas principais obras em prosa são: Memórias sentimentais de João Miramar; Serafim do exílio; Estrela de absinto; Marco Zero I - A revolução melancólica; Marco zero II - Chão. Manuel Bandeira - Sua linguagem coloquial e irônica atinge maior grau em Libertinagem. A ânsia de libertação e ausência dolorosa de figuras familiares estão presentes em "Vou-me embora pra Pasárgada", "Poema de Finados", "Evocação de Recife", "Profundamente". Nas outra obras, apareceram o desenvolvimento das linhas temáticas como saudade da infância, a presença da morte, a fugacidade da vida e do amor. Suas prosas que mais se destacaram foram: Crônicas da província do Brasil; Itinerário de Pasárgada; Andorinha, andorinha; Os reis vagabundos e mais 50 crônicas. Antônio de Alcântara Machado - não participou da Semana de 22, mas foi um dos mais ativos escritores do movimento modernista tendo colaborado nas revistas Terra Roxa, Outras Terras, Revista de Antropofagia e RevistaNova. Antônio de Alcântara Machado, ao se interessar por essa vida quotidiana tão ausente de nossa literatura, realizava uma das aspirações do Modernismo, que era o desejo de representar a nova realidade social e urbana do começo do século XX. Deixou um romance inacabado (Ana Maria), crônicas (Pathé Baby e Cavaquinho e Saxofone) e contos (Brás, Bexiga e Barra Funda e Laranja da China) que foram reunidos no livro Novelas paulistanas. Segunda fase do modernismo – geração de 30 A semana de 22 deixou como legado para os próximos escritores a possibilidade de maiores experimentações estéticas, além de um olhar mais voltado para as coisas autenticamente brasileiras. A geração seguinte, no entanto, não se restringiu aos limites desse legado. Foi além: soube usar e transformar as conquistas literárias e estéticas de até então, tornando-se capaz de representar o local, mas de maneira a revelar também o humano, o universal. A segunda geração moderna é reconhecida pelo amadurecimento e pelo aprofundamento literário das novidades estéticas desenvolvidas a partir da Semana de Arte Moderna. Na poesia, os autores tratam da guerra, da vida, da morte, da sensação de estar no mundo. A literatura desse período é marcada por fatos históricos que abalaram as estruturas de quem viveu nessa época. Segundo o professor de literatura João Luiz Lafetá, se os autores da Semana de Arte Moderna foram responsáveis pela revolução na literatura, a geração de 1930 é representada pelos autores que vivem na revolução. Menos preocupados em romper a tradição literária e mais seguros da liberdade proporcionada pelo novo estilo, os autores desse período deram o tom da participação, ou seja, mostraram-se interessados na vida contemporânea e escreveram sobre o sentimento de participar da sociedade. Na década de 1930, literatura passa a incorporar, direta ou indiretamente, eventos sociais do Brasil e do mundo. Drummond, Cecília Meireles, Jorge de Lima continuaram a luta pelo ideal de liberdade estética do primeiro momento. Contudo , não se percebe mais na produção deles a brincadeira pura e simples de Oswald de Andrade, por exemplo. Se com os primeiros modernistas a forma e a expressão ganharam destaque, com a segunda geração, temas políticos, existenciais ou religiosos vêm à tona, no desejo de expressar e discutir as angustias do ser humano. Características literárias: · Aprofundamento das conquistasda geração de 1922; ( os poetas da geração de 30 tem outras preocupações além da forma); · Conquista de novas temáticas em decorrência dos horrores vividos pela sociedade; (temas existenciais, políticos, religiosos: a guerra, o medo, a infância, o envelhecimento, as bombas, o horror); · Sentimento de estar no mundo;(o mais forte sentimento da segunda geração é o de viver, de estar no mundo); · Influência do realismo e romantismo; · Nacionalismo, universalismo e regionalismo; · Realidade social, cultural e econômica; · Valorização da cultura brasileira; · Influência da psicanálise de Freud; · Temática cotidiana e linguagem coloquial; · Uso de versos livres e brancos. Principais autores e obras (Prosa) Graciliano Ramos O nordestino Graciliano Ramos (1892-1953) foi preso em 1936 e acusado de ser comunista. Essa experiência em várias prisões embasou um de seus romances mais famosos: Memórias do Cárcere. O livro relata as injustiças do Estado Novo e a realidade brasileira do cárcere. Retratou o universo do sertanejo nordestino desde o fazendeiro até o caboclo comum. Conseguia fazer a análise psicológica e sociológica em sua obra, em personagens que relatam o coletivo. Além de romances, Graciliano Ramos também escreveu contos. Entre seus romances mais conhecidos está "Vidas Secas", em estilo machadiano, com linguagem rigorosa, enxuta e minuciosamente trabalhada. Principais obras: São Bernardo, Vidas Secas, Memórias do Cárcere, Angústia. Rachel de Queiros Primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras, a cearense Rachel de Queiroz (1910-2003) foi colaboradora do jornal O Ceará, nele, publicou diversos poemas e crônicas. Militante do Partido Comunista Brasileiro, foi presa em 1937, sete anos depois da publicação de um de seus livros mais conhecidos, O Quinze. Entre suas características estão: uso do discurso direto, prosa enxuta e intensa preocupação social. Escreveu também: Caminho de Pedras, As Três Marias e Memorial de Maria Moura. José Lins do Rego O paraibano José Lins do Rego (1901-1957) foi eleito para a Academia Paraibana de Letras e para a Academias Brasileira de Letras, em 1955. Nessa fase, seus romances regionalistas foram essenciais para consolidar o chamado romance de 30. Destacam-se em sua obra: Menino de Engenho, Doidinho, Banguê, Fogo Morto e Usina, todos com a temática da cana-de-açúcar. Pedra Bonita e Os Cangaceiros, retratam o ciclo do cangaço, da seca e misticismo. Principais obras: Fogo Morto, Usina, Menino do Engenho. Jorge Amado O baiano Jorge Amado (1912-2001) é um dos escritores mais populares do Brasil. Ficou conhecido a partir de 1931, com o romance "O País do Carnaval" e, em seguida, "Cacau e Suor". Foi eleito em 1959 pela Academia Brasileira de Letras e entre suas obras mais conhecidas está Tieta do Agreste. Principais obras: Jubiabá, Mar Morto, Capitães de areia, Terras do sem-fim, Gabriela, cravo e canela, Os velhos marinheiros, Dona flor e seus dois maridos, Tenda dos milagres, Tieta do Agreste. Érico Veríssimo O gaúcho Érico Veríssimo (1905-1975) começou a trabalhar na Revista do Globo como secretário a partir de 1930. Entrou no jornalismo literário sob a influência de Augusto Meyer. Entre suas obras de destaque estão: "Fantoches" e "Clarissa". Sua obra prima é a trilogia "O Tempo e o Vento", onde narra a formação socioeconômica e política do Rio Grande do Sul, da origem, no século XVIII, até 1946. Dionélio Machado Também gaúcho, Dionélio Machado (1895-1985) atuou como jornalista no jornal Correio do Povo. Escritor e psiquiatra, ele recebeu o prêmio Jabuti em 1981. Suas obras são marcadas pelo intimismo, problemas sociais e as relações humanas. Escreveu "Os Ratos", "O Loco do Cati", "Desolação" e "Deuses Econômicos". Terceira fase do modernismo – geração de 45 A terceira geração modernista teve início com a publicação de Rosa extinta, de Domingos Carvalho da Silva, O engenheiro, de João Cabral de Melo Neto, Predestinação, de Geraldo Vidigal, Ode e elegia, de Ledo Ivo. A geração, que realizou a sua produção após o fim da Segunda Guerra Mundial, viu uma renovação do movimento modernista e dedicou-se à pesquisa e à experimentação estética, embora não tivesse proposto um novo movimento literário. A geração de 1945 ficou marcada pelo desejo de conciliar modernidade e tradição. Proclamava arte livre, o amor pelos ideais e a necessidade de sentir e criar. Nas artes visuais, a descrição da realidade cedeu lugar à composição abstrata. Na literatura, a pesquisa sobre a linguagem literária tornou-se um ponto importante para o trabalho de escritores que, a exemplo do que já acontecera na geração anterior, usavam o texto literário para denunciar as injustiças sociais. Havia a preocupação com o aspecto formal do texto, o que dividiu o grupo: de um lado, os autores que seguiam a estética do Parnasianismo; de outro, os que e dedicavam a uma linguagem racional, objetiva e sintética. Além de marcar o início de uma nova geração modernista, 1945 marca também o ano da deposição de Getúlio Vargas – o início de uma era de democratização que se estenderia até 1964, o ano do Golpe Militar. Nesse contexto, houve uma renovação do gosto pela arte regional e popular, o que foi compreendido como um caráter revolucionário. As artes oscilavam entre o resgate do passado e a busca do novo. Literariamente, a geração de 1945 representou um retorno às conquistas de 1922: propunha-se a volta ao passado, a revalorização da rima, da métrica, do vocabulário requintado e das referências mitológicas. Paradoxalmente, havia um desejo de renovar a literatura internacional lida no Brasil; o grupo foi, então, influenciado pela leitura de escritores como Fernando Pessoa, T.S. Elliot, Paul Valèry e Garcia Lorca. Esta geração combinava o nacionalismo característico da geração de 22 e o universalismo da geração de 30. Características literárias · Exatidão na forma e na palavra sugestiva · Participação social · Interesse por explorações · Academicismo; · Passadismo e retorno ao passado; · Oposição à liberdade formal; · Experimentações artísticas (ficção experimental); · Realismo fantástico (contos fantásticos); · Retorno à forma poética (valorização da métrica e da rima); · Influência do Parnasianismo e Simbolismo; · Inovações linguísticas e metalinguagem; · Regionalismo universal; · Temática social e humana; · Linguagem mais objetiva. Principais autores e obras (Prosa) Guimarães Rosa João Guimarães Rosa - Pelas inovações operadas na linguagem literária, Guimarães Rosa impôs-se como um verdadeiro marco na evolução de nossa literatura. Na elaboração de seu estilo, ele utilizou-se de vários processos: exploração de palavras; aproveitamento do linguajar regionalista cheio de arcaísmos (palavras antigas), adaptação de termos e expressões extraídos de várias línguas modernas, além de recorrer ao grego e latim. Mas seu valor não estava apenas na experimentação formal, a riqueza da sua linguagem expressava também uma profunda visão da existência humana; Guimarães Rosa conseguiu superar o que era simplesmente regional e atingiu o universal, através da profunda percepção dos problemas vitais que existem no interior do homem de qualquer região. Sua obra aborda temas que envolvem indagações sobre o destino, significado da vida e da morte, existência ou não de Deus. Extraindo do regional matéria para elaboração de uma obra que questiona o próprio sentido da vida, Guimarães Rosa revigorou a literatura regionalista brasileira. Principais obras - Grande Sertão: Veredas; Livros de contos: Primeiras estórias; Tutaméia; Estas estórias; Noites do sertão; contos e textos avulsos reunidos em Ave, a palavra. Clarice Lispector O que é percebido em Clarice Lispector é uma inquietante tentativa em explorar as camadas mais profundas da consciência humana em busca do significado da existência. O seu aprofundamento na análise psicológica realiza-se através de uma linguagem aparentemente simples, mas que revela uma constante preocupação em tentar captar a verdade que seesconde atrás das simples aparências das palavras. Como Guimarães Rosa, Clarice Lispector "recriou" a linguagem, propôs uma visão temática e expressional, polêmica na época mas inovadora para a ficção do Brasil, ou seja, o gênero romance deixa seu modelo tradicional, em que estão o Brasil regional e o realismo cru, para ganhar nova dimensão e outra finalidade, como a de registrar a problematização estética da linguagem, discutindo assim, os próprios limites do gênero. Principais obras: Romances - Perto do coração selvagem; O lustre; A cidade sitiada; A hora da estrela; A paixão segundo G.H. Água viva; contos - Alguns contos; Laços de família; Imitação da rosa; além de crônicas, poesias e livros infantis. João Cabral de Melo Neto João Cabral de Melo Neto foi um poeta que distinguiu pela elaboração de uma linguagem própria, seca, objetiva, e trilhou se caminho de uma forma bem pessoal. A preocupação com a construção da poesia, encarada como fruto do trabalho paciente e lúcido do poeta, ele abordou em suas poesias elementos concretos da realidade, sempre guiados pela lógica e pelo raciocínio. Seus poemas não abordam a análise e exposição do "eu" (poética "antilírica") e voltam para o universo dos objetos, fatos sociais e paisagens. Podemos observar também o rigor estético, rimas toantes e surrealismo em suas obras, João Cabral de Melo Neto inaugurou uma forma diferente de fazer poesia no Brasil. Principais obras: Pedra do sono; O engenheiro; O cão sem plumas; Morte e vida Severina; Uma faca só lâmina; A educação pela pedra; poesia crítica. Ariano Suassuna Ariano Suassuna (1927-2014) Defensor da cultura popular brasileira, Suassuna escreveu romances, peças de teatro e poesias dos quais se destacam: "Os homens de barro" (1949), "Auto de João da Cruz" (1950), "O Rico Avarento" (1954) e "O Auto da Compadecida" (1955). Lygia Fagundes Telles Lygia Fagundes Telles escreveu romances, contos e poesias sendo uma de suas marcas a exploração psicológica das personagens em sua obra: "Ciranda de Pedra" (1954), "Verão no Aquário" (1964), "Antes do Baile Verde" (1970), "As Meninas" (1973)
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